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Direito Administrativo I 
 
Duarte Canau 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Índice: 
 
1. A Administração Pública …………………………………..……………………………………………………2 
2. Organização Administrativa …………………………………………………………………………………...7 
3. Administração Central…………………………………………………………………………………………..13 
4. Competência e Hierarquia……………………………………………………………………………………. 17 
5. Superintendência e Tutela……………………………………………………………………………………. 24 
6. Administração Indireta……………………………………………………………………………………... ...29 
6.1. Institutos Públicos …………………………………………………………………………………………………....30 
6.2.Setor Público Empresarial ….……………………………………………………………………………………….32 
7. Administração Autónoma...…………………………………………………………………………………..37 
8. Delegação  de  Poderes 
...………………………………………………………………………………………….43 
9. Administração Independente ...……………………………………………………………………………..46 
10. Relações jurídicas administrativas entre a Administração Pública e os particulares ……….. 49 
11. Reconhecimento dos direitos subjetivos dos particulares perante a Administração…...​ 5​6 
12. Pretensa distinção entre direitos e interesses legalmente protegidos…………………………. 65 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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1. A
​ Administração Pública 
 
Noção de Administração Pública: 
Administração  Pública  ​→  ​conjunto  das  normas,  lei  e funções desempenhadas para organizar a 
administração  do  Estado  em  todas  as  suas  instâncias  e  tem  como  principal  objectivo  o  interesse 
público.  
A  Administração  pode  assumir  duas  vertentes:  a  primeira  é  a  ideia  de  servir  e  executar e a segunda 
envolve  a  ideia  de  direcção  ou  gestão.  Nas  duas  visões  há  a  presença  da  relação  de  subordinação  e 
hierarquia.  Administrar  significa  não  só  prestar  serviços  e  executá-los,  como  também  governar  e 
exercer  a  vontade  com  o  objectivo  de  obter  um  resultado  útil  à  colectividade.  Significa  também 
planear  e  elaborar  acções  no  sentido  de  enfrentar  os problemas vividos diariamente pela sociedade, 
ou  seja,  elaborar  políticas  públicas  que  possam  orientar  as  ações  governamentais.Entende-se  então 
que, Administração Pública é a actividade do Estado. 
 
A Evolução Da Administração Pública:  
A  evolução  constitucional  do  Estado  Moderno  passou  por  três  diferentes  paradigmas 
constitucionais,  que  se  distanciam  em  diversos  aspectos,  em virtude do momento histórico e social 
vivenciado por cada um desses. 
 
No  que  diz  respeito  à  relação  destes  Estados  com a sociedade civil verifica-se no Estado Liberal, em 
virtude  da  forma  de  seu  surgimento,  em  oposição  da  nova  classe  burguesa  ao  antigo  regime 
opressor,  uma  ampliação  da  participação  da  sociedade,  com  a  consolidação  dos  direitos 
fundamentais. 
 
Ao  Estado  competia  apenas  a  manutenção  da ordem interna e da soberania, que fica sobre a alçada 
da  sociedade  de  todos  os  demais  aspectos,  em  especial  daqueles  relacionados  com  a  economia. 
Tinha-se  como  principal  objectivo  a  proteção  da  liberdade  e  da  propriedade  dos  cidadãos, 
submetendo  a  actuação  do  Estado  e  da  Administração  Pública  a  uma  limitação  das  suas  funções, 
ficando a AP com a função de aplicar as leis. 
 
A  Constituição da época visou à institucionalização de uma ordem jurídica que restringisse o poder 
Estatal  às  funções  da  garantia  da  ordem  social,  da  defesa  externa e da administração da justiça, mas 
em  contrapartida  consagrou  princípios  como  a  igualdade  formal,  a  separação  de  poderes,  a 
protecção da propriedade privada e a legalidade. 
 

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Diferentemente,  no  Estado  Social,  o  Estado  e  a  Administração  Pública  ganham  uma  maior 
importância  no  seu  papel,  com  a  aproximação  da  sociedade.  Altera-se  a  regulação  estatal  sobre  a 
economia,  com  uma  maior intervenção, bem como os direitos fundamentais, que ganham aspectos 
sociais. 
 
A  Administração  Pública  aumenta  as  suas  atribuições,  com  o  controlo  estatal  sobre  o  sistema 
financeiro  e  de  trabalho,  aumentando,  desta  forma,  as  actividades  assumidas  pelo  Estado.  Em 
oposição, o papel do indivíduo é diminuído, através das intervenções do mesmo. 
 
No  Estado  Liberal(surgiu  nos  fins  do  séc.  XVIII-XIX),  há  a  consolidação  dos  direitos 
fundamentais,  a  partir  da  salvaguarda  dos  direitos  pessoais, sobretudo com a proteção da liberdade 
e  da  propriedade  dos cidadãos. Estes são denominados direitos de primeira geração, ou negativos, já 
que  visam,  sobretudo,  limitar  a  actuação  Estatal  sobre  a  vida  particular,  permitindo  uma  maior 
autonomia  individual,  especialmente  na  área  económica.  Destes  direitos  fazem  parte  os  direitos 
civis ou políticos, relacionados com a vida, liberdade, propriedade e igualdade formal. 
 
Pelo  contrário,  no  Estado  Social  aumentam-se  os  direitos  fundamentais,  que  ganham  aspectos 
sociais.  Estes  são  chamados  de  direitos  de  segunda  geração,  direitos  coletivos  e  sociais.  Possuem 
uma  dimensão  positiva,  visam  impulsionar  o  Estado  a  efetivar  o  bem-estar  social,  e  relacionam-se 
com o trabalho, a habitação, a saúde, a educação e o lazer. 
 
Por  fim,  no  Estado  Democrático  de  Direito  dá-se  a  consolidação  da  participação  dos  cidadãos  na 
vida  política,  jurídica  e  social,  com  a  concretização dos direitos difusos e pessoais homogéneos. São 
estes  designados  por  direitos  de  terceira  geração,  relacionados  ao  direito  à  paz, à autodeterminação 
dos  povos,  ao  meio  ambiente,  à  conservação  do  património  histórico,  cultural  e  comunicação, 
também  podem  ser  designados  como  direitos de solidariedade e fraternidade, visto que se destinam 
à colectividade. 
 
Assim,  a  partir  do Estado Democrático de Direito o ordenamento jurídico ganha novos contornos, 
com  o  reforço  da  ideia  de segurança jurídica aliada à ideia de justiça, ou seja, na aplicação do direito 
ao  caso  concreto  deve-se  interpretar  o  direito  tendo  em  consideração  não  só  as  leis  existentes,  mas 
também  os  princípios  constitucionais, para assim encontrar a norma adequada, que traga justiça ao 
caso  concreto.  Desta  forma,  devem  ser  consideradas  não  só as regras estabelecidas, mas, sobretudo, 
os princípios constitucionais, que serão aplicáveis aos indivíduos e ao Estado. 
 
O  ​Prof.  VASCO  PEREIRA  DA  SILVA  entende  que  o  modelo  de  administração  pública  do 
Estado  liberal  caracterizava-se  por  fazer  do  acto  administrativo o seu modo quase exclusivo de agir, 

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quanto  a  organização  administrativa  por  apresentar  uma  estrutura  concentrada  e  centralizada  e 
relativamente à fiscalização desta actividade, pelo sistema da justiça delegada. 
 
O  Prof.  VASCO  PEREIRA  DA  SILVA  entende  também  que  a  organização  administrativa  do 
Estado  liberal  pode  ser  caracterizada  pela  concentração  e  centralização,  pois  o  Estado  liberal  vai 
herdar  do  seu  antecessor  a  organização  centralizada  do  poder.  A  razão  de  ser  deste  modelo 
prende-se  ao  facto  do  liberalismo  pretender  dar  respostas  a  algumas  exigências  políticas,  como  a 
burguesia que precisava de uma estrutura racional e centralizada para eliminar as disparidades locais 
e  conseguir  formação  de  um  mercado  nacional,  bem  como  eliminar  os  entraves  feudais  e  também 
precisava  de  uma  administração  robusta  e  energética que procedesse a criação das infra estruturas e 
serviços  necessários  para  potenciar  a  actividade económica e que permitisse a instauração da ordem 
política  e  económica  do  liberalismo.  O  liberalismo  procurou  criar  uma  estrutura  administrativa 
racional  e  eficiente,  que  lhe  permitisse  a  realização do seu programa político, neste modelo o poder 
público  é  organizado  como  um  corpo  unitário,  igualmente  difundido  pelo  centro  e  pela  periferia, 
distribuído  por  matérias  ou  grupos  de  matérias,  a  administração  adquiriu  assim  uma  estrutura 
unificada  e  hierarquizada,  em  que  as  competências  dos  diversos  órgãos  se  encontram encadeadas à 
semelhança de uma pirâmide. 
 
O  Estado  Liberal  vai  procurar,  através  do  seu  modelo  de  justiça  delegada, conciliar os interesses da 
administração  com  a  protecção  dos  particulares,  a  ideia  de  controlo  da  administração  por  uma 
entidade  independente, mas com poderes limitados, correspondia ao ambiente de direito do Estado 
liberal.   
 
Por  um  lado  assegurava-se  a  primazia  da  administração,  através  da  sua  fiscalização  por  um  órgão 
que  apesar  de  exercer  uma  função  jurisdicional,  integrava-se  no  poder  administrativo  e  cujos 
poderes  de  fiscalização  limitavam-se  à  anulação  dos  actos  administrativos,  por  outro  lado, 
garantia-se  a protecção dos direitos individuais, a qual era realizada sobretudo através da lei e não de 
meios jurisdicionais. 
 
Para  os  liberais  a  administração  devia  submeter-se  ao  princípio  da  legalidade,  entendendo-se  que a 
melhor  defesa  dos  direitos  dos  cidadãos  era  a  que  provinha  da  lei,  enquanto  manifestação  da 
vontade geral. 
 
Tarefas da Administração Pública:  
 
Toda  a  administração  pública  envolve  implementação  de  tarefas:  a administração pública, visando 
a  satisfação  de  necessidades  coletivas,  desenvolve  uma  multiplicidade  de  tarefas  que,  assumindo 

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natureza  instrumental,  procura  alcançar  esse  prepósito.  Neste  domínio  integram-se,  sem  prejuízo 
do seu cruzamento ou cumulação, as seguintes principais tarefas da administração pública: 
 
1 - Recolha e tratamento de informações; 
 
Quem  tem  a  informações  tem  o  poder efetivo de decisão. A multiplicação de fontes de informação 
fez  aumentar  o  protagonismo  das  estruturas  administrativas.  Neste  domínio,  a  administração 
pública  tem uma vantagem face ao parlamento e aos tribunais, ampliada pela reserva constitucional 
de iniciativa legislativa da proposta de lei o orçamento de estado. 
 
2 Previsão e antecipação de riscos; 
 
Nas  últimas  décadas,  por  efeito  do  progresso científico e tecnológico, assistiu-se a uma evolução da 
“sociedade  técnica  de  massas”  para  uma  “sociedade  de  risco”:  o  risco  pressupõe  técnica  e  a técnica 
gera  risco.  A  administração  pública  mostra-se  permeável  às  temáticas  a  prevenção  e  minimização 
dos  riscos  públicos,  submetendo  a  regulação  e  a  controlo  diversos  domínios  de  atividade.  A 
moderna  sociedade  mostra  uma  patológica  preocupação  em  áreas  referentes  à  segurança,  ao 
ambiente,  urbanismo,  e  em  geral,  à  sustentabilidade  e  a  tudo  aquilo  que  possa  colocar  em  causa  o 
bem-estar. 
 
Neste  sentido,  a  Administração  pública  tem  de  prever,  antecipar  e  prevenir  riscos,  tanto  das 
gerações  presentes  como  até  das  gerações  futuras,  informando,  orientando  e  influenciando 
condutas  dos  cidadãos.  A  administração  pública  desenvolve  uma  atividade  prospectiva,  traçando 
cenários de previsão evolutiva da realidade, antecipar riscos e procura minorá-los ou reduzir a zero o 
perigo da sua verificação, planejando e organizando meios de ação​. 
 
3- Regulação ordenadora 
 
A  administração  desenvolve  uma  tarefa  decisória  que  se  traduz  na  regulação  ordenadora  e 
conformadora  de  tais  situações  (regulação  primária)  ou  de  anteriores  decisões  jurídicas  versando 
sobre tais situações (regulação secundária). 
 
- Resolve situações concretas através da aplicação de critérios normativos de decisão; 
 
- Elabora normas; 
 
- Prepara decisões do poder político, do poder legislativo e até do próprio poder judicial; 
 

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4 - Execução de anteriores decisões 
 
A  administração  pública  configura-se  sempre  como  expressão  executiva  da  vontade  do  legislador: 
administrar  era  executar  a  vontade  geral,  isto  é,  a  lei  proveniente  do  parlamento-  tratava-se  de  um 
modelo ideal de administração serva da lei. Importa também atender que hoje: 
 
-  a administração pública pode executar diretamente da CRP, atos de direito internacional público, 
direito da união europeia, do poder judicial e do próprio poder político; 
 
-  a  execução  de  tais  atos  confere  à  administração  pública  um  papel  ativo  na  determinação 
interpretativa  do  seu  sentido,  na  concretização  de  uma  normatividade  principialista,  de  conceitos 
indeterminados,  de  cláusulas  gerais,  além  da  resolução  de  eventuais  antinomias  e  integração  de 
lacunas; 
 
-  a  execução  administrativa  de  anteriores  decisões  nem  sempre  se  faz  através  da  emanação  de  atos 
jurídicos,  podendo  também  ser  feita  através  de  uma  atividade  material  ou  prestacional  de  bens  e 
serviços, tendentes à satisfação concreta de necessidades coletivas; 
 
5- Controlo da atuação 
 
A  administração  pública  desenvolve  uma  tarefa  de  controlo, fiscalizando, por iniciativa própria ou 
a  pedido  de  terceiro,  averiguando,  ajuizando  a  validade,  da  conveniência  ou  da  oportunidade  das 
ações ou omissões, resultantes: 
 
- da sua própria conduta; 
 
- da conduta de privados que exercem funções públicas; 
 
-  da  conduta  de  particulares,  que  sem exercerem funções públicas, desenvolvem atividades do setor 
privado  ou  do setor corporativo e social com relevância ou utilidade pública que, à luz do princípio 
da proporcionalidade, justifique essa intervenção de controlo administrativo; 

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2. Organização Administrativa 
 
A  atual  Constituição  da  República  Portuguesa  consagra  inúmeros  princípios  fundamentais  de 
um  Estado  de  Direito  como  aquele  em  que  vivemos.  Muitos  destes  princípios  têm  grande 
relevância  ao  nível  do  Direito  Administrativo  uma  vez  que  muitos  deles  são  especificamente 
direcionados  para  a  Administração  Pública.  Assim,  podemos  distinguir  duas  vertentes  dos 
princípios gerais da organização administrativa.  
 
1)  princípios  da  Administração  Pública  em  sentido  orgânico  ou  subjetivo,  que  permitem 
delinear a forma como devem decorrer as relações entre os sujeitos administrativos.  
 
2)  ​princípios  da  Administração  Pública  em  sentido  material  ou  substantivo,  que 
estabelecem  a  forma  como  deve  actuar  a  Administração  Pública  no  exercício  da  função 
administrativa. 
 
  Estes  princípios  gerais  da  Administração Pública estabelecem, por um lado, o modo como deve 
decorrer  a  fiscalização  da  constitucionalidade,  por  parte  dos  tribunais  competentes  para  este 
efeito,  dos  atos  praticados  pela  Administração  Pública  que,  sob  pena  de  inconstitucionalidade, 
devem  seguir as regras fundamentais estabelecidas na CRP. Por outro lado, é de referir que estes 
princípios  não  têm  o  intuito  de  fundamentar  o  exercício  de  uma  competência  regulamentar 
consagrada  na  CRP,  pelo  que  é  necessário  respeitar  a  densificação  dos  conceitos  associados  aos 
vários princípios como forma de reserva de lei. 
 
➥Princípios gerais da Administração Pública em sentido orgânico ou subjetivo: 
 
Neste âmbito podemos elencar a existência dos seguintes princípios: 
 
-   ​princípio  da  subsidiariedade  do  Estado:  É  de  referir  que  aquilo  que  pode  ser  feito 
pelas  entidades  menores  ou  mais  próximas  não  deverá  ser  feito  pelas  entidades públicas 
mais  elevadas  e  distantes,  mas  se  as  entidades  públicas  menores  não  o puderem fazer ou 
fizerem de forma ineficiente tal deverá ser realizado pelas entidades mais elevadas.  
 
-   princípio  da  descentralização  do  Estado:  É  necessário  que  exista  uma  estrutura 
estadual  caracterizada  pela  existência  de  uma  pluralidade  de  entidades  que  assegurem  a 
realização  de  determinadas  funções  de  forma  a  que  o  Estado  não  concentre  em  si todos 
os poderes. Assim, existem diferentes centros de decisão e de imputação de efeitos 
jurídicos  que  garantem  também  o  proteção  do  princípio  da  separação  de  poderes.  É  neste 
sentido  que  é  possível  fazer  a  distinção  entre as funções políticas, legislativas e a administrativas 

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e  o  Estado  em  si.  Quer  isto  dizer  que,  a  descentralização  se  preocupa  com  existência  de  outras 
pessoas  coletivas  públicas,  para  além  do  Estado, que prossigam também elas interesses públicos. 
Todavia,  a  descentralização  tem  de  atender aos preceitos constitucionais pelo que não é possível 
atribuir  a  outras  entidades  competências  que  sejam  do  Estado  ou  de  órgãos  de  soberania, 
previstas  como  tal  pela  CRP.  Podemos  apontar  as  autarquias  locais  como  um  dos  exemplos  de 
descentralização de base territorial constitucionalmente previsto.  
 
- princípio da desconcentração:​Este princípio aponta para a necessidade de, no seio de  
cada  pessoa  coletiva  pública,  ocorrer  a  entrega de poderes e competências aos vários órgãos com 
posições  hierárquicas  distintas,  de  forma  a  que  o  poder  de  prosseguir  certas  atribuições  não  se 
concentre apenas nos órgãos de topo.  
 
-  princípio  da  unidade:  ​Este  princípio  limita  o  pluralismo  decorrente  do  princípio  da 
descentralização  de  poderes.  Tal  fica  a  dever-se  ao  facto  de  o  Governo  ser  o  órgão  superior  da 
Administração  Pública  e ter responsabilidade política perante a Assembleia da República, o que 
contribui  para  que  o  Governo,  no  âmbito  da  sua  função  administrativa,  possa  intervir  na 
maioria dos centros de decisão do Estado.  
 
-  princípio  da  participação  dos  interessados  na  gestão  das  estruturas  administrativas: Este 
princípio  reforça  a  ideia  de  democracia  no  Estado  português  e  do  modelo  organizativo  da 
Administração  Pública, permitindo a participação dos cidadãos na escolha de titulares de órgãos 
eletivos o que consequentemente terá efeitos na organização da Administração Pública.  
 
-  princípio da aproximação dos serviços às populações: ​A Administração Pública distingue-se 
em  Administração  central  e  Administração  periférica.  Esta  última  organiza-se  num  sentido 
periférico  ou  local  de  forma a impedir que os serviços públicos e as decisões que destes emergem 
estejam distantes daquelas que são as reais necessidades dos cidadãos. Assim, os cidadãos têm um 
acesso mais fácil aos centros de decisão.   
 
-  princípio  da  a  desburocratização:  Este  princípio  visa  incrementar  a  eficácia  na  resolução  de 
problemas  através  da  simplificação  e  racionalização  das  estruturas  deficitárias  existentes.  Aqui 
visa-se  evitar  a  duplicação  de  estruturas  organizativas  e de procedimentos sobrepostos de forma 
bem  como  formalidades  inúteis  com  vista  a  permitir  um  melhor fluxo intercomunicativo entre 
os cidadãos e o Estado.  
 
  Em  suma,  este  primeiro  grupo  de  princípios,  que  caracterizam  a  Administração  Pública  em 
sentido  orgânico  ou  subjectivo  demonstram  como  devem  decorrer  as  relações  entre  os  sujeitos 
administrativos  de  forma  a  garantir  uma  melhor  prossecução  dos  interesses  públicos.  Para  que 

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tal  ocorra,  é  necessário  transformar  a  Administração  Pública  num  ente  organizado  e 
desburocratizado,  cujos  poderes  devem  estar  desconcentrados  pelos  vários  sujeitos 
administrativos  de  forma  a  conseguir  aproximar  o  máximo  possível  os  serviços  ás  populações  e 
alcançar uma maior rapidez e eficácia na resolução de problemas.  
 
​➥Princípios gerais da Administração Pública em sentido material ou substantivo: 
 
Cabe  agora  analisar  princípios  distintos  dos  anteriormente  referidos.  Neste  plano,  são 
apresentados  princípios  que  devem  reger  a  actuação  da  Administração  Pública  no  exercício  da 
sua função administrativas. 
 
  Estes  princípios,  compreendidos  entre  os  artigos  3º  e  19º  do  Código  de  Procedimento 
Administrativo, são 
 
- Princípio  da  Prossecução  do  Interesse  Público  e  da  protecção  dos  direitos  e 
interesses dos cidadãos  
Este  princípio  está  consagrado  no  artigo  4º  do  Código  de  Procedimento  Administrativo  e  no 
artigo 266º nº1 da Constituição da República Portuguesa.  
O  conceito  de  “interesse  público”  é  um  conceito  vago  e  indeterminado  pelo  que  carece  de 
alguma  determinação.  Assim,  é  necessário  observar  a  norma  de  competência  para  tentar  dela 
extrair  o  sentido  que  o  legislador  pretendeu  dar  a  esta  norma.  Desde  logo  sabemos  que  o  que 
está  aqui  em  causa  é  o  fim  do  interesse  público  em  concreto,  resultante  da  lei  que  a 
Administração  tem  de  o  prosseguir,  e  não  em  abstrato.  O  facto  deste  conceito  ser 
indeterminado  significa  que  a  Administração  goza  de  uma  amplos  poderes  de decisão quanto á 
estipulação do interesse da sua actuação. 
 
O  Professor  ​Diogo  Freitas  do  Amaral  ​procurou  definir  o  conceito  de  “interesse  público” 
apontando-o  como  sendo  um  interesse  coletivo  e  geral  de  uma  determinada  comunidade  que 
representa o bem comum.  
A  Administração  só  pode  prosseguir  os  interesses  públicos  definidos  por lei no exercício da sua 
competência  que  estiver  em causa ( a Administração Pública não pode escolher os interesses que 
pretende  seguir  visto  que  estes  são  constitucionalmente  previstos)  .  Uma  actuação 
administrativa  que  prossiga  interesses  privados  ou  interesses  públicos  alheios  à  finalidade 
normativa  do  poder  exercido  é  ilegal  pelo  que  gera  um  vício  de  invalidade  e  pode  um  tribunal 
anular  um  destes  actos  da  Administração.  O  fundamento  da anulação não pode ser o facto de o 
ato administrativo não prosseguir da melhor maneira o interesse público legalmente definido. 
 

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Além  deste  conceito,  o  legislador  acrescentou  ainda  os  conceitos  de  “proteção  dos  direitos  e 
interesses  dos  cidadãos”.  Este  é  um  acréscimo  relevante  uma  vez  que  significa  que  se  a 
Administração,  no  quadro  da  sua actuação, violar diretamente o interesses dos particulares, está 
a desrespeitar uma vinculação constitucional e legislativa.  
 
Quanto  a  este  assunto,  o  ​Professor  Marcelo  Rebelo  de  Sousa  afirma  que  este  princípio  não 
tem  como  objetivo  impedir  toda  e  qualquer  afectação  administrativa  das  posições  jurídicas dos 
particulares.  O  Professor  refere  que  “Pode  mesmo  afirmar-se  que  ,  sem  agressão  de  posições 
jurídicas  subjectivas  dos  particulares,  e  mesmo  dos  seus  direitos  fundamentais,  não  existe 
administração pública”. Assim, aquilo que é proibido é a sua violação.  
 
- Princípio da boa administração  
  Este  princípio  está  previsto  no  artigo  5ª  do  Código  de  Procedimento  Administrativo  e  teve  a 
sua  primeira consagração em Portugal, enquanto princípio constitucional europeu, por força da 
Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.  
Para  se  alcançar  uma  boa  administração  é  necessário  atender  a  critérios  de  eficiência, 
economicidade  e  celeridade.  Quer  isto  dizer  que,  com  a  utilização  destes  critérios  a 
Administração  Pública  conseguirá  alcançar  uma optimização dos meios disponíveis (eficiência); 
se  quando  fizer  as  suas  escolhas  utilizar  os  meios  mais  económicos  para  alcançar  os  resultados 
pretendidos  (economicidade);  e  as  suas  decisões  devem  ser  tomadas  num  prazo  relativamente 
curto (celeridade).  
O  Professor  Vasco  Pereira  da  Silva  ​considera  que  devemos  ler  esta  norma  num  sentido 
amplo,  de  acordo  com  a  Carta  dos  Direitos Fundamentais da União Europeia, mas que mesmo 
assim esta norma deixa muito a desejar quanto ao seu conteúdo.  
 
Quanto  ao  5º.2  do  Código  de  Procedimento  Administrativo  é  de  referir  que  esta  não  é  uma 
norma da atividade administrativa mas sim da organização administrativa. 
 
  
 
  
 
Princípio da Justiça e da razoabilidade  
Este princípio está previsto no artigo 8º do Código de Procedimento Administrativo. 
Quanto  à  ​justiça​,  procura-se  tratar  de forma justa todos aqueles que estabelecerem relações com 
a  Administração  Pública,  devendo  cada  um  ter  aquilo  que  lhe  é  devido.  A  Administração 
Pública  deve  procurar  garantir  a  equidade  do  caso  concreto.  Assim,  não  basta  que  a 
Administração  Pública  tenha  uma  atuação  que  chegue  a  uma  solução  com  um  conteúdo  justo 

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(dimensão  material  da  justiça),  é  também  necessário  ter  em  conta  os  modos  como  se  decide  e 
verificar  se  foram cumpridos os procedimentos justos para se obter uma decisão justa (dimensão 
formal  da  justiça).  Para  tal,  é  necessário  agregar  a  justiça  à  imparcialidade,  à  equidade  e  à 
razoabilidade. 
Quanto  à  ​razoabilidade​,  é  apresentado  um  critério  valorativo  que  não  é  estritamente  jurídico  e 
que  por  isso  introduz  uma  dimensão  lógica  á  atuação  administrativa  através  da  referência  a 
valores extrajurídicos e da impossibilidade das decisões administrativas colocarem em causa estes 
valores de natureza extrajurídica. 
 
​Princípio da imparcialidade: 
 
Este princípio está previsto no artigo 9º do Código de Procedimento Administrativo. 
A  ​imparcialidade  exige  isenção  e  equidistância  entre  quem  decide  e  o  objeto/destinatário  da 
decisão  até  porque  só  assim  é  possível  garantir  a  prossecução  do  interesse  público  que  deve  ser 
feita  sem  atender  aos  interesses  particulares  de  quem  decide.  A  actuação  da  Administração 
Pública  deve  pautar-se  por  critérios  objectivos  e  não  subjectivos,  pelo  que  não  deve  decidir  em 
situações  nas  quais  os  seus  órgãos  ou  agentes  tiverem  algum  interesse  na  causa,  sob  pena  de 
ilegalidade.  A  imparcialidade  garante-se  através  de  medidas  que  passam,  por  exemplo,  pelo 
órgão  que  tem  interesse  na  causa  se  declarar  impedido  de  decidir,  para  que  outro  órgão tome a 
decisão  mais  adequada  e  de  forma  objetiva  atendendo a critérios imparciais. Se um órgão não se 
declarar impedido voluntariamente, pode outro interveniente pedir a sua suspensão.  
Este princípio é constituído por duas vertentes, uma positiva e uma negativa.  
- vertente  positiva:  a  imparcialidade  determina parâmetros racionais, objetivos, lógicos e 
transparentes  que  devem  ser  ponderados  na  tomada  da  decisão  com  vista  a  excluir 
interesses subjetivos.  
- vertente  negativa:  a  imparcialidade  corresponde  á  neutralidade  administrativa face aos 
interesses  de  particulares  que  não  são  tidos  em  conta,  com  vista  a  salvaguardar  o 
interesse  público,  a  independência  e  a  isenção  do  decisor  através  de  um  conjunto  de 
impedimentos,  incompatibilidades,  escusas  e  suspeições  dos  titulares  das  estruturas 
administrativas intervenientes. 
Princípio da participação: 
Este  princípio  está  previsto  no  artigo  12º  do  Código  de  Procedimento  Administrativo  e  no 
art.267º/1 da Constituição da República Portuguesa.  
Os  órgãos  administrativos  e  a  sua  estrutura  devem  visar  a  participação  dos  interessados, 
tentando  sempre  que  possível  ouvir  as  suas  opiniões  acerca  de  medidas  que  os  afetaram 
indiretamente  ou  diretamente.  Tal  como  refere  o  ​Professor  Freitas  do  Amaral  ​“(…)  os 
cidadãos  não  devem  intervir  na  vida  da  Administração  apenas  através  da  eleição  dos  respetivos 
órgãos”,  ou  seja,  os  cidadãos  não  devem  incidir  a  sua  participação  apenas  num  acontecimento, 

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como  a  eleição  de  órgãos,  mas  sim  em  todas  as  vertentes  da  Administração  Pública.  Neste 
sentido,  o  Professor  distingue  dois  pontos  de  vista:  Por  um  lado,  do  ponto  de  vista  estrutural, 
toda  a  organização  deve  estar  estruturada  de  modo  a  que  os  particulares  possam  intervir  e  até 
tomar  medidas  nalguns  casos;  Por  outro  lado,  do  ponto  de  vista  funcional  extrai-se  a 
“necessidade  de  colaboração  com  os  particulares”  prevista  no  artigo  11º/1  do  Código  de 
Procedimento Administrativo.  
 
Princípio da decisão:  
Este princípio está previsto no artigo 13º do Código de Procedimento Administrativo. 
A  Administração  Pública  tem  como  uma  das  suas  funções  decidir  sobre  os  assuntos  que são da 
sua  competência  que  lhe  sejam  apresentados.  É  necessário  que  haja  uma  celeridade  na actuação 
da  Administração  prevista  no  artigo  5º  do  Código  de  Procedimento  Administrativo,  como 
abordado  anteriormente.  Quer  isto  dizer  que  a  actuação  da  Administração  não  deve 
circunscrever-se  apenas  a  dar  uma  resposta  ao  assunto  que  lhe  for  colocado,  mas  também  de 
fazê-lo  num  prazo  razoável.  É  neste  âmbito que se estabelece o prazo máximo de três meses para 
que a Administração dê uma resposta ao particular, caso tal não se verifique, o particular pode ir 
a  Tribunal  exigir  que  a  Administração  lhe  dê  essa  resposta  como  forma  de  reagir  contra  as 
omissões  que  possam  advir  das  actuações  administrativas.  Caso  hajam razões ponderosas, como 
dificuldade  em  decidir  a  questão,  a  Administração  pode  pedir  a  prorrogação  do  prazo.  Sempre 
que  as  questões  forem  de  simples  resolução,  a  Administração  deve  responder  o  mais  breve  que 
lhe for possível. 
 
Caso  se  trate  de  um pedido ao qual Administração já respondeu anteriormente, com os mesmos 
sujeitos  e  a  mesma  causa  do  pedido/objeto,  esta  não  é  obrigada  a  responder dentro do decorrer 
do  prazo  de  dois  anos.  Tal  justifica-se  pelo  facto  de  que  só  há  dever  de  decisão  quando  não  há 
decisão  pelo  que,  uma  vez  tomada  a  decisão,  o  dever  de  dar  resposta  ao  particular  desaparece. 
Todavia, este dever emerge de novo quando hajam passados dois anos. 

3. Administração Central 
O  Estado,  na  acepção  administrativa,  é  a  pessoa  colectiva  pública  que,  no  seio  da  comunidade 
nacional  desempenha,  sob  a  direcção  do  Governo,  a  actividade  administrativa.  Por  outras 
palavras,  o  Estado,  entendido  em  sentido  estrito  e  na  acepção  administrativa,  corresponde  à 
administração directa do Estado; 
 
Administração  Direta​→  conjunto  de  órgãos, serviços e agentes integrados na pessoa colectiva 
Estado  que,  de  modo  directo  e  imediato  e  sob  dependência  hierárquica  do  Governo, 
desenvolvem uma actividade tendente à satisfação das necessidades colectivas. 
 
A administração direta decompõe-se em:  

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- administração  direta  central:  integra  os  órgãos  e  serviços  do  Estado  que  exercem 
competência extensiva a todo o território nacional; 
- administração  direta  local/periférica:  integra  os  órgãos  e  serviços,  instalados  em 
diversos  pontos  do  território  nacional  e  com  competência  limitada  a  certas  áreas 
(circunscrições administrativas). 
 
Características do Estado e da administração direta: 
 
Importa  referir  as  principais  características específicas do Estado e da sua administração directa. 
De acordo com a síntese de F
​ REITAS DO AMARAL​, são as seguintes: 
- Unicidade 
- Carácter originário 
- Territorialidade 
- Multiplicidade de atribuições 
- Pluralismo de órgãos e serviços 
- Organização em ministérios 
- Personalidade jurídica una 
- Instrumentalidade 
- Estrutura hierárquica 
- Supremacia 
  
Atribuições do Estado: 
Sendo  uma  pessoa  colectiva  pública,  o  Estado  tem  ​atribuições​,  isto  é,  fins/objectivos  que  se 
reportam  à  vontade  deste  (​ex:  típico  para  identificar  atribuições  são  os  Ministérios,  como  o 
Ministério  da  Educação  terá  como  atribuição  os  planos  gerais  da  Educação,  que  serão  por  sua 
vez  de  sua  competência).  As  atribuições  têm de resultar sempre expressamente da lei, estando as 
atribuições do Estado definidas por forma dispersa na legislação. 
 
Tendo em conta o seu número e a sua variedade, é possível agrupá-las segundo diversos critérios. 
Atenderemos à classificação de ​Bernard Gournay​. Este autor agrupou as atribuições do Estado 
em três categorias: atribuições principais, atribuições auxiliares e atribuições de comando: 
 
As ​atribuições principais​do Estado integram: 
- Atribuições de soberania 
- Atribuições económicas 
- Atribuições sociais 
- Atribuições educativas e culturais 
- As atribuições auxiliares incluem: 

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- Gestão do pessoal 
- Gestão do material 
- Gestão financeira 
- Funções jurídicas e de contencioso 
- Funções de arquivo e documentação 
-  
As  atribuições  de  comando  destinam-se  a  preparar  e  a  acompanhar  as  tomadas  de  decisão  pela 
chefia, incluindo: 
- Estudos e planeamento 
- Previsão 
- Organização 
- Controlo 
- Relações públicas. 
-  
Esta  esquematização  tem  um  mérito,  essencialmente,  didáctico,  fornecendo  uma  visão  ampla  e 
geral  das  atribuições  do  Estado  moderno.  Importa  agora  determinar,  em  concreto,  quais  são  as 
atribuições  do  Estado,  sendo  na  Constituição  que  vêm  enumeradas  as  mais  importantes 
atribuições  do  Estado,  com  destaque  para  a  Parte  I  e  II.  Acrescem  a estas atribuições, as fixadas 
pela  lei  ordinária,  nomeadamente,  pelas  leis orgânicas e regulamentos dos diferentes ministérios 
e  das  direcções-gerais  dos  ministérios,  e  organismos  equiparados,  que  integram a administração 
central do Estado. 
 
Órgãos do Estado: 
Para  cumprir  as  atribuições  que  lhe  são  conferidas  pela  Constituição  e  pela  lei  ordinária,  o 
Estado carece de órgãos, aos quais compete tomar decisões em nome da pessoa colectiva. 
 
  
 
- Órgãos da administração direta central 
 
A  Constituição  fixa,  no  artigo  110º/1,  que  os  principais  órgãos  centrais  do  Estado  são  o 
Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais. 
Destes,  o  principal  órgão  permanente  e  directo  do  Estado,  com  carácter  administrativo,  é  o 
Governo (art. 182º da CRP). 
Na  administração  central,  são  igualmente  órgãos  do  Estado,  colocados  sob  a  direcção  do 
Governo: 
 

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Os  directores-gerais,  directores  de  serviços  e  chefes  de  divisão  ou  de  repartição  dos  ministérios, 
bem como os respectivos secretários-gerais; 
- O chefe do Estado-Maior da Armada, do Exército e da Força Aérea; 
- O  Comandante-Geral  da  Guarda  Nacional  Republicana,  bem  como  os  directores  da 
Polícia  Judiciária,  da  Polícia  de  Segurança  Pública,  do  Serviço  de  Estrangeiros  e 
Fronteiras e de outros organismos de natureza análoga; 
- O Procurador-Geral da República (art. 220º da CRP) e seus adjuntos; 
- Os inspectores-gerais e seus adjuntos; 
- Os  dirigentes  de  gabinetes,  centros  e  institutos  não  personalizados,  incluídos  na 
administração central do Estado; 
-  
As  numerosas  comissões  existentes,  com  carácter  permanente  ou  temporário,  quer em cada um 
dos  ministérios  per  si,  quer  abrangendo  dois  ou  mais  ministérios  para  fins  de  coordenação 
(comissões interministeriais). 
Pertencem  ainda  à  administração  central  directa,  e  são  portanto  órgãos  do  Estado, embora sem 
dependerem do Governo por serem órgãos independentes: 
- O Provedor de Justiça (art. 23 da CRP); 
- O Conselho Económico e Social (art. 92º da CRP); 
- A Comissão Nacional de Eleições (lei n.º 71/78, de 27 de dezembro); 
- A Entidade Reguladora da Comunicação Social (lei n.º 53/2005, de 08 de Novembro); 
 
- Governo 
 
O  Governo  é,  do  ponto  de  vista  administrativo,  o  ​órgão  principal  da  administração  central  do 
Estado,  incumbido  do  Poder  executivo​.  Interessa-nos,  pois,  estudar  aqui  o  Governo  enquanto 
órgão administrativo, mas não enquanto órgão político e legislativo. 
 
O  artigo  182º  da  CRP  declara  que  “o Governo é o órgão de condução da política geral do país e 
o  órgão  superior  da  administração  pública”.  São,  precisamente,  estas  as  duas  funções  essenciais 
do  Governo:  como  órgão  político,  cabe-lhe  a  condução  da  política  geral  do  país;  como  órgão 
administrativo, trata-se do órgão superior da administração pública portuguesa. 
 
Esta  competência  administrativa  é  desenvolvida  no  artigo  199º  da  CRP.  Deste  artigo  (e  na 
síntese  de  ​FREITAS  DO  AMARAL​)  decorrem  as  três  principais  funções  administrativas  do 
Governo: 
 
- Garantir a execução de leis (199º c e f CRP); 
- Assegurar o funcionamento da Administração Pública ( art. 199º a, b, d ,e CRP); 

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- Promover a satisfação das necessidades colectivas (199º.g CRP); 
 
Pelas  tarefas  que  estão  cometidas  ao  Governo,  pelo  que  lhe  compete  fazer  por  si  próprio  ou 
mandar  fazer  a  outros,  por  ser  o  órgão  superior  das  hierarquias  da  administração  do  Estado,  e 
ainda  por  lhe  caber fiscalizar ou orientar as demais entidades públicas que, para além do Estado, 
fazem parte da Administração, o Governo é o principal órgão da Administração Pública. 
 
Como  já  se  referiu,  o  Governo  não  só  dirige  a  administração  directa  do  Estado,  como 
superintende  na  administração  indirecta e tutela esta última e a administração autónoma, isto é, 
controla  as  entidades  públicas  que  fazem  parte  da  Administração  mas  que  não  pertencem  ao 
Estado. 
 
Todas  estas  funções  do  Governo  traduzem-se  juridicamente  na  prática  de  actos  e  no 
desempenho  de  actividades  da  mais  diversa  natureza.  Para  se  desincumbir  das  tarefas 
administrativas  que  acabam  de  ser  indicadas  como  tarefas  próprias  do  Governo,  este  elabora 
normas  jurídicas-  regulamentos-,  pratica  actos  jurídicos  sobre  casos  concretos-  actos 
administrativos-,  celebra  contratos  de  vários  tipos-  contratos  administrativos,  e  exerce,  de  um 
modo  geral,  determinados  poderes  funcionais,  como  por  exemplo  poderes  de  vigilância,  de 
fiscalização, de superintendência, de tutela, etc. 
 
Esta  competência  do  Governo  tanto  pode  ser  exercida  colegialmente  (pelo  Conselho  de 
Ministros), como individualmente (por um membro do Governo). 
 
Órgãos da administração direta local: 
 
Administração  local  →  conjunto de órgãos e serviços do Estado que dispõem de competência 
limitada  a  uma  área  territorial  restrita  e  funcionam  sob  a  direcção  dos  correspondentes  órgãos 
centrais; 
 
Os  órgãos  locais  do  Estado  são  os  centros  de  decisão  dispersos  pelo  território  nacional 
habilitados  por  lei  a  resolver  assuntos  administrativos  em  nome do Estado, nomeadamente face 
a  outras  entidades  públicas  e  aos  particulares  em  geral.  São  órgãos  da  pessoa  colectiva  Estado 
que,  na  dependência  hierárquica  do  Governo,  exercem  uma  competência  limitada  a  uma  certa 
circunscrição  administrativa.  Os  serviços  locais  do  Estado  são,  por  seu  turno,  os  serviços 
públicos encarregados de preparar e executar as decisões dos diferentes órgãos locais do Estado. 
 
Estes  órgãos  e  serviços  repartem-se  pelas  circunscrições  administrativas,  isto  é,  as  zonas 
existentes  no  país  para  efeitos  de  administração  local:  para efeitos de administração geral, existe 

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a  divisão  em  distritos  e  concelhos;  para  efeitos  de  administração  especial,  existem  outras 
divisões. 
 
O  Governador  Civil  é  o  principal  órgão  da  administração  local  do  Estado:  é  o  magistrado 
administrativo  que  representa  o  Governo  na  circunscrição  distrital.  As  suas  funções  estão 
definidas  no  artigo  291º/3  da  CRP:  representação do Governo e exercício dos poderes de tutela 
na área do distrito. 

4. Competência e Hierarquia 
Competência 
Para exercer a função administrativa há algo essencial, as denominadas normas de competência; 
 
Função e sentido das normas de competência: 
As  ​normas  de  competência  no  âmbito  da  administração  pública  têm  como  objetivo  o 
estabelecimento  das  condições  de  prossecução  do  interesse  público  e  configuram  as  regras 
essenciais  para  a  validade  das  decisões  que  autorizam,  pois  fora  do  campo  dos  poderes 
conferidos  pelas  normas  de  competência  não  podemos  considerar  a  atuação  do  poder 
administrativo como válido o mesmo acontece relativamente às decisões administrativas. 
 
Podemos  dizer,  que  as  normas  de  competência  gozam  de  uma  posição  hierárquica  superior 
relativamente  a  todas  as  outras  decisões  (normativas  ou  não),  resultantes  dos  poderes  que  elas 
conferem:  a  estrutura  administrativa  habilitada  por  uma  norma  de  competência,  em  situação 
alguma  goza,  ao  abrigo dessa mesma norma, de uma competência dispositiva ou modificativa da 
respectiva norma de competência.  
 
A  norma  de  competência  exerce  uma  função  hétero  vinculativa  relativamente  há  entidade  que 
recebeu  os  poderes  provenientes  da  norma;  a  norma  de  competência  pode  em  certos  casos, 
conceder  o  intermedio  da  vontade  da  estrutura  decisória  que  recebe  poderes,  para  que  tendo 
sempre  em  conta  os  termos  da  habilitação  atribuída,  estabeleça  as  regras  para  o  exercício  da 
competência,  porém  terá de ser a norma de competência a explicar o fundamento habilitador da 
intervenção  da  vontade  da  estrutura  decisória  no  ajustamento  dos  poderes  que  lhe  foram 
confiados;   
 
Tipologia das normas de competência: 
  Antes  de  procedermos  à  distinção  das  normas  de  competência,  devemos  realçar  três 
realidades  que  resultam  da  complexidade  das  normas  de competência, em primeiro lugar temos 
as  normas  que  conferem  competências  ou  normas  de  ação  (regras  ou  princípios  jurídicos  que 
conferem  poderes  de  intervenção decisória à administração pública); em segundo lugar temos as 
normas  que  disciplinam  o  exercício  da  competência  (regras  e  princípios  jurídicos  que 

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estabelecem  os  termos  de  como  os  poderes  confiados  à  Administração  pública que se traduzem 
por  meio  de  prática  de  atos  jurídicos  e  de  atos  materiais);  a  terceira  e  última  realidade  a  referir 
são  as  normas  que  regulam  as  normas  de  competência  que  constituem  um  género  de  normas 
sobre normas, que têm por objetivo regular as normas de competência; 
 
  As  normas  que  conferem  competência  são  suscetíveis  de  compreender  4  níveis  de 
configuradores de poderes da administração pública 
i)  normas  de  tarefas  ou  incumbências públicas​: definem os limites das necessidades coletivas 
inseridas  na  competência  do  poder  público,  por  oposição  à  esfera  da  sociedade  civil, 
verificando-se  que  quando  o  poder administrativo ultrapassa a linha constitucional da fronteira 
entre  o  “hemisfério  publico”  e  o  “hemisfério  privado”  constitui,  desde  que  se  encontre  para 
além  da  margem  constitucional  de  liberdade  conformadora  do  legislador,  uma  violação  da 
reserva da sociedade civil ou reserva dos direitos fundamentais;  
 
ii)  normas  de  divisão  ou  separação  de  funções:   normas  que,  segundo  as  funções de natureza 
pública,  procedem  à  divisão  das necessidades coletivas pelos diversos poderes do estado, quando 
ocorre  uma  violação  destas  normas  por  uma  decisão administrativa considera-se que a norma se 
encontra ferida de usurpação de poderes;  
iii)  normas  de  atribuições:    são  as  que  procedem  à  distribuição  da  parcela  de  interesses 
públicos  a  cargo  das  diversas  pessoas  coletivas  que  integram  a  administração  pública,  porém 
quando  se  refere  ao Estado a distribuição das atribuições faz-se por ministérios, tornando-se tais 
interesses  públicos  parte  integrante  dos  fins  específicos  das  competências  das  entidades  ou 
ministérios.  
 
No  ​caso  ​de  uma  entidade  ou  ministério  exercer  atribuições  da  competência  de  outra  entidade 
ou  ministério,  as  decisões  administrativas  tomadas,  verificam-se  “feridas”  por  incompetência 
absoluta; em quarto e último lugar, encontramos as normas de competência em sentido próprio, 
que  se identificam como sendo as que repartem pelas estruturas orgânicas os poderes necessários 
com  vista  à  prossecução  dos  fins  próprios  da entidade pública em que se encontram integrados, 
no  caso  de  uma  estrutura  orgânica  agir  no  âmbito  dos  poderes atribuídos a outra estrutura que 
faça  parte  da  mesma  entidade  pública,  sem  ter  habilitações  para  tal,  as  decisões  administrativas 
sofrem de uma incompetência relativa; 
 
As  ​normas  de  competência  em  sentido  próprio  ​são  suscetíveis  de,  tendo  em conta a natureza 
dos poderes que conferem, admitir duas situações:  
- as  normas  de  competência  potestativa,  conferem  poderes  para  a  Administração  pública 
inserir  do  modo  automático  e  unilateral,  alterações  na  ordem  jurídica,  constituindo, 
modificando ou extinguindo posições jurídicas;  

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- normas  de  competência  não  potestativa  concedem  poderes  cuja  mudança  a  executar  na 
ordem  jurídica  não  resultam  da  intervenção  unilateral  da  administração  pública,  é 
necessário  a  cooperação  de  outros  sujeitos  (exemplo,  normas  de  competência  para 
negociação,  celebração  e  execução  de  contratos,  normas  de  competência  para  a 
nomeação de um titular para um determinado órgão); 
 
As  normas  que  disciplinam  o  exercício  de  competências,  são  suscetíveis  de  comportar  5 
subtipos: 
 
1)  normas  que  estabelecem  os  princípios  gerais  de  direito  a  que  obedece  o  exercício  da 
competência  da  administração  pública,  devendo-se  fazer  referencias  ao  seguintes  princípios: 
princípio  da  legalidade da competência- a competência das estruturas administrativas têm como 
fundamento  a  constituição,  a  lei, ou os princípios gerais de direito; princípio irrenunciabilidade 
da  competência-  a  estrutura  administrativa  não  pode  renunciar  aos  poderes  que  lhe  foram 
atribuídos;  princípio  da  inalienabilidade  da  competência-  os  poderes  atribuídos  a  estrutura 
administrativa  não  são  suscetíveis  de  se  constituírem  como  objeto  de  um  negócio  jurídico, 
encontra-se  deste  modo  vedada  a  sua  transmissão  a  terceiros;  princípio  inconsumibilidade  da 
competência-  os  poderes conferidos após a sua execução não se extinguem; princípio do respeito 
pelos  limites  materiais  (os  poderes  entre  as  estruturas  administrativas  distribuem-se  em  função 
de  matérias,  o  que  não  significa  que  não  possa  ocorrer  que  para  uma  decisão  final  não 
contribuam  uma  pluralidade  de  estruturas,  sendo  admissível  que  numa determinada matéria se 
encontre  no  domínio  do  poder  de  decisão  de  mais  do  um  órgão/estrutura),  territorial  (  a 
competência  pode  ser  repartida  em  função  do  território,  originando  espaços  de  ação  decisória 
exclusivos  de  determinado  órgãos,  por  exemplo  a  câmara  municipal  do  Porto não pode efetuar 
atos  relativos  a  situações  circunscritas  no  território  do  município  de  Braga),  hierárquicos,  e 
temporal  (  as  normas  que  definem  o  intervalo  temporal  do  exercício  da  competência  permite 
identificar  dois  princípios:  1  regra  geral  o  exercício  de  competência  é  em  relação  ao  presente 
salvo  se  a  lei  habilitar  a  prática  de  atos  retroativos;  2  o  exercício  da  competência  relativo  a  um 
momento  futuro  fora  do  alcance  temporal  dos  poderes  do  decisor  pode  geral  uma 
incompetência em razão do tempo) da competência. 
 
  2)  normas  que  fixam  pressupostos  ao  exercício  da  competência  ​definindo  requisitos  na 
previsão  da  norma,  para  que  esta  possa  ser  exercida  provocam,  caso  ocorra  uma  ausência  de 
pressuposto  ou  agindo  o  decisor  como  se  não  existe-se  qualquer  pressuposto,  uma  decisão 
viciada por erro sobre os pressupostos da competência ou até viciada de incompetência; 
 
3  )  normas  que  disciplinam  os  fins  do  exercício  da  competência  fazendo  corresponder  a 
motivação  principalmente  motivante  das  decisões  ao  fim  que  levou  a  atribuir essa competência 

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ao  respetivo  decisor,  determina-se  que  se  esse  motivo  principalmente  determinante  não 
corresponder ao fim visado pela norma de competência em causa existirá uma situação de desvio 
de  poder  (por  ​exemplo  se  nos  termos  legais  a  instauração  de  multas  pelo  estacionamento  de 
viaturas  num  local  explorado  por  uma  entidade  pública,  tem  como  intenção  sancionar  o  não 
cumprimento  das  regras  de  trânsito,  a  sua  utilização  não  pode  ter  como  principal  motivo 
angariar receitas para a entidade pública); 
 
4  )normas  que  estabelecem  limites  materiais  ao  exercício  da  competência​:  colocando 
condições  relativas  ao  objeto  da  decisão  a  adotar  ao  abrigo  da  competência  em  causa  que  caso 
não  sejam  respeitados  terão  como  consequência  a  violação  da  lei  (por  ​exemplo  se  uma  lei 
determinar  que  as  bolas  de  estudar  a  conceder  têm  o  valor  máximo  de  400  euros  a 
Administração Pública não pode atribuir um valor superior ao estabelecido) 
 
5  )  ​normas  que  prescrevem  o  procedimento  e  forma  de  exercício  da  competência​.  Se  não 
foram  tido  em  conta  e  claro  respeitadas  originaram  vícios  de  forma;  (​exemplo,  se  a  lei 
determinada  que  a  permissão  da  câmara  municipal  para  a  instalação  de  um  elevador  num 
determinado  prédio  depende  do  parecer  favorável  dos  bombeiros  a  ausência  da  consulta  ao 
bombeiros origina um vicio de forma para uma eventual permissão); 
 
As  normas  que  regulam  as  normas  de  competência,  são  suscetíveis  de  conceder  poderes 
adicionais  à  administração  pública  sobre  os próprios preceitos definidores da sua competência e 
sobre as normas reguladoras do seu exercício; compreende o seguinte quadro tipológico: 
 
  a)​Normas  que  regulam  a  produção  de  normas  de  competência  (por  ​exemplo  normas 
constitucionais  que  definem  a  competência  legislativa da assembleia da república, do governo, e 
das  regiões  autónomas  respeitantes  a  matérias  administrativas  e  à  atribuição  de  competência 
decisória da administração pública); 
 
  b)​Normas  que  regulam  as  relações  entre  as  diversas  fontes  responsáveis  pela  revelação 
das  normas  de  competência  (artigo  112/2  1º  parte  CRP  -princípio  da  paridade 
hierárquico-normativo entre lei e decreto lei; artigo 3/3 CRP todos os atos devem ser conformes 
a constituição da república portuguesa) 
 
​ c)Normas que regulam conflitos de normas de competência, num triplo sentido:  
→  1  ​resolução  de  conflitos  materiais  (contradição  de  normas  de  competência,  a norma X diz 
que  a  competência  pertence  a  A  e  a  norma  Y  diz  que  a  competência  pertence  a  B por exemplo; 
ou  então  colisões  de  princípios  a  aplicar  pela  autoridade  administrativa,  por  exemplo  garantia 

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do  exercício  de  greve  dos  professores  em  dia  de  exames  e  assegurar  que  os  alunos  realizariam  a 
prova nesse mesmo dia); 
→ 2 resolução de conflitos temporais entre normas de competência;  
→  ​3  resolução  de  conflitos  espaciais  entre  as normas de competência envolvendo situações 
jurídicas  internas  (​exemplo  de  conflitos  de  competências  entre  o  estado  e as autarquias locais) 
ou  ​situações  jurídicas  transnacionais  (​exemplo​,  declaração  e nulidade de um título académico 
estrangeiro  obtido  por  um  estrangeiro  que  pretende  servir-se  dele  para  escrever  uma  atividade 
em Portugal;) 
 
​ d)Normas que determinem critério de interpretação de normas de competência; 
 
e)Normas que incidem sobre a integração de lacunas de normas de competência; 
 
2. Hierarquia  
Numa  abordagem  direta  e  simplificada,  ​João  Caupers  esclarece  o  conceito  de  como  sendo  a 
hierarquia  administrativa  relação  interorgânica,  sendo  que  as relações interorgânicas são as 
que se estabelecem no âmbito de uma pessoa coletiva. 
 
  A  hierarquia  administrativa  representa  este  tipo  de  relacionamento  que  caracteriza  a 
burocracia,  de  acordo  com  o  modelo  concebido  por  ​Max  Weber​.  Como  explica  o  professor 
Freitas do Amaral​,  
- hierarquia→  ​modelo  de  organização  administrativa  vertical,  constituído  por  dois  ou 
mais  órgãos  e  agentes  com  atribuições  comuns,  ligados  por  um  vínculo  jurídico  que 
confere ao superior o poder de direcção e impõe ao subalterno o dever de obediência; 
 
Antes de mais é necessário fazer uma distinção entre: 
-   ​hierarquia  interna  (dos  agentes):  existência  de  serviços  que  orientam  órgãos  no 
exercício administrativo, estando em causa o desempenho continuado de tarefas; 
-   hierarquia  externa  (a  dos  órgãos):  ​distribuição  de  competências  entre  órgãos  da 
mesma  pessoa  coletiva,  em  que  os  subalternos  são  também  órgãos  com  competência 
externa,  projetando-se  na  esfera  jurídica  de  outros  sujeitos  de  Direito.  A hierarquia que 
interessa  ao  Direito  Administrativo  é  a  hierarquia  externa,  refletindo  a  repartição 
vertical de competências entre órgãos. 
 
  Outro  conceito  importante  a  reter  é  o  da  ​relação  hierárquica​,  que  corresponde  ao  vínculo 
jurídico  típico  de  supremacia  e  subordinação,  estabelecido  entre  o  superior  hierárquico  e  o 
subalterno,  sendo  que  o  superior  hierárquico  tem  sobretudo  o  poder  de  direção  e  o subalterno 

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tem  sobretudo  o  dever  de  obediência  e  é  necessário  que  estes  dois ou mais agentes atuem para a 
prossecução de atribuições comuns.  
 
  O  professor  ​Paulo  Otero  defende  que  na  hierarquia  pode  haver  casos  de  competência 
comum entre o superior e o subalterno.  
 
  Vários  autores  enumeram  poderes  jurídicos  típicos  do  superior  hierárquico,  sendo  estes  o 
poder  de  direção,  que  consiste  na  faculdade  de dar ordens e instruções ao subordinado, o poder 
de  supervisão,  que  se  traduz  na  faculdade  de  confirmar,  revogar,  suspender,  modificar  ou 
substituir  os  atos  do  subordinado,  e  o  poder  disciplinar,  que  se  concretiza  através  da  aplicação 
de  sanções  disciplinares.  Para  além  destes,  o  superior detém ainda poderes eventuais, como o de 
inspeção  que  consiste  na  fiscalização  da  atuação  do  subalterno,  de  substituição,  em  caso  de 
omissão  contrária  à  legalidade,  de  decisão  de  recursos  hierárquicos  (impugnação  dos  atos)  e  de 
decisão de conflitos de competência entre subalternos. 
 
Seguidamente enumeram-se os deveres do subordinado​, que consistem no dever de obediência, 
ou  seja,  o  dever  de  acatar  e  cumprir  as  ordens  e  instruções  do  legítimo  superior  hierárquico 
relativas  à  matéria  de  serviço  e  que  revistam  a  forma  legal.  Na  visão  do  professor  ​Freitas  do 
Amara​l,  o  d​ever  de  obediência  traduz-se  “na  obrigação  de  o  subalterno  cumprir  as  ordens  e 
instruções  dos  seus  legítimos  superiores  hierárquicos,  dadas em objecto de serviço e sob a forma 
legal”.  Outros  deveres  eventuais  consistem  nos  da  imparcialidade,  isenção, zelo, lealdade, sigilo, 
correção, assiduidade e pontualidade. 
 
Com  isto,  surge  principalmente  uma  grande  questão  geradora  de  controvérsia  e  divergência 
doutrinária.  ​O  subalterno  deve  obedecer  a  ordens  ilegais  do  seus  superior  hierárquico?  ​No 
fundo o que está aqui em causa é saber o que prevalece: A hierarquia administrativa ou a lei. 
 
Para  analisar  esta  questão,  um  dos  pontos  a  ter  em  conta  é que o subalterno é responsável pelas 
suas  decisões  e  a  lei  confere-lhe  competência  para  examinar  a  legalidade  de  todos  os  comandos 
hierárquicos.  Outro  ponto  a  ter  presente  é  que  atualmente  vigora  o  princípio  de  Estado  de 
Direito  Democrático,  em  que  a  Administração  Pública  está  submetida  à  lei  (art.266º  nº2  da 
CRP), admitindo-se exceções ao princípio da legalidade. 
 
Assim,  por  um  lado  temos  a  ​Corrente  Hierárquica​,  seguida  por  Otto  Mayer  e  Marcello 
Caetano.  Nesta  corrente  é  defendido  que  não  compete  ao  subalterno  interpretar  e  questionar 
da  legalidade  das  ordens  do  superior  hierárquico,  existindo  assim,  sempre  dever  de  obediência 
do  subalterno  aos  comandos  dos  seus  superiores.  O  máximo  admitido  aqui  será  a  situação  em 

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que  o  subalterno  levante  dúvidas  quanto  à  ordem dada, pelo que, se o seu superior a confirmar, 
o subalterno terá de a cumprir. 
 
Por  outro  lado,  temos  a  ​Corrente  Legalista​,  seguida  por  Santi  Romano  e  João  Tello  de 
Magalhães  Collaço​.  Aqui  são  admitidas  excepções  a  este  dever  de  obediência  do  subalterno 
(art.271º/2  e  3  CRP).  ​Freitas  do  Amaral  segue  também  esta  corrente,  adotando  uma  versão 
mais  moderada.  Aqui  defende-se  que  a  lei  está  acima  do  superior, e assim, se for posta em causa 
alguma  ilegalidade,  não  é obrigatória a obediência. Numa visão mais restritiva, o subalterno não 
tem  o  dever  de  obedecer  se  a  ordem  implicar  a  prática  de  um  ato  criminoso  (art.  271º  nº3  da 
CRP) ou ordens que provenham de um ato nulo (art. 134º nº1 do CPA). 
A  opinião  do  Prof.  Vasco  Pereira  da  Silva  é  a  de  que cessa o dever de obediência sempre que 
estejam  em  causa  direitos  fundamentais  ou  a dignidade da pessoa humana (artigo 133º alínea d) 
do CPA). 
 
João  Caupers  levanta  também  o  problema  da  situação  em  que  o  subalterno  recebe  ordens 
contrárias à lei do seu superior hierárquico. 
  Considerando  também  este  problema  complexo,  refere  que  para  além  de  se  encontrar  nos 
artigos  acima  referidos  da  Constituição,  há ainda que recorrer ao art. 5º do Estatuto Disciplinar 
dos  Trabalhadores  Que  Exercem  Funções  Públicas,  aprovado  pela  Lei  nº  58/2008,  de  9  de 
Setembro).  Com  isto  podemos  retirar  traços  essenciais  do  regime  jurídico  presente  nestes 
normativos,  considerando  em  primeiro  lugar,  que o dever de obedência cessa se o cumprimento 
da  ordem  implicar  a  prática  de  um  crime  pelo  subordinado,  como  já  anteriormente  referido,  e 
que,  se  a  ordem  recebida  foi  ilegal  mas  não  implicar  a  prática  de  um  crime,  pode  reclamar  ou 
usar  o  direito  de  respeitosa  representação,  que  consiste  no  pedido  dirigido  ao  superior 
hierárquico que confirme por escrito a ordem supostamente ilegal. 
No  ​caso  de  a  demora  na  execução  não  lesar  o  interesse  público,  o  subordinado  aguardará  a sua 
confirmação,  somente  a  executando  após  receber  esta.  Se  a  demora  prejudicar  o  interesse 
público,  o  subordinado  comunicará  ao  supperior  hierárquico  os  termos  exatos  da  ordem  e  do 
pedido  de  confirmação,  mencionando  a  não  satisfação  deste,  e  cumprirá  a  ordem.  Quando  a 
ordem  seja  dada  para  cumprimento  imediato,  o  subordinado  executá-la-á,  procedendo  então  à 
comunicação  referida  na  hipótese  anterior.  Procedendo  como  antecede,  fica  excluída  a 
responsabilidade do subordinado pelos prejuízos causados pelo cumprimento da ordem. 
 
A  lei  não  concede  ao  subordinado  qualquer  poder  de  controlo  da  legalidade  das  ordens 
recebidas do superior hierárquico, contudo, pode ser defendido que o trabalhador deve verificar 
a  legalidade  da  ordem  e  se  a  julgar  ilegal,  não  a  deve  cumprir.  Este  entendimento  contraria  a 
norma  legal,  na  medida  em  que  esta  apenas  atribui  ao  subordinado  a  faculdade  de  reclamar  do 
superior  a  confirmação  por  escrito  da  ordem  recebida,  não  lhe  conferindo  qualquer  poder  de 

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optar  entre  o  incumprimento  e  a  reclamação.  Assim  verfica-se  a  diferença  essencial  entre  o 
regime  da  ordem  supostamente  ilegal  e  o  regime  da  ordem  que  envolva  a  prática  de  um  crime. 
Nesta última hipótese o subordinado não deve obedecer. 
 
5.​Superintendência e Tutela 
 
Definição do conceito de tutela: 
Segundo ​Diogo Freitas do Amaral​, a tutela administrativa traduz-se “no conjunto dos poderes 
de  intervenção  de  uma  pessoa  coletiva  pública  na  gestão  de  outra  pessoa  coletiva,  a  fim  de 
assegurar a legalidade ou o mérito da sua atuação”. 
 
Desta definição é possível retirar um conjunto de características da tutela administrativa: 
 
- Existência  de  duas  pessoas  coletivas  distintas:  a  pessoa  coletiva  tutelar  e  a  pessoa 
coletiva tutelada; 
Destas  pessoas  coletivas,  uma  delas  é  necessariamente  uma  pessoa  coletiva  pública  –  ou  seja,  a 
tutelar-,  a  pessoa  tutelada  poderá  ser  pública  ou  privada,  sendo  que,  na  maior  parte dos casos é 
pública. 
 
- Os poderes de tutela são ​poderes de intervenção na gestão​de uma pessoa coletiva; 
 
A  tutela  visa  assegurar  que  a  entidade  tutelada  cumpre  as  leis  em  vigor  e  garantir  que  sejam 
adotadas soluções convenientes e oportunas para a prossecução do interesse público. 
 
Já  ​Marcello  Caetano  considerava  que  o  objetivo  da  tutela  era coordenar os interesses próprios 
da  entidade  tutelada  com  os  interesses  mais  amplos  representados pelo órgão tutelar. Contudo, 
considera-se  que  esta  ideia  vai um pouco além, uma vez que abre caminhos excessivos relativos à 
intervenção estadual na vida das entidades descentralizadas. 
 
Por  sua  vez,  o  ​professor  Marcelo  Rebelo  de  Sousa  ​define  tutela  administrativa  como  sendo  o 
“poder  detido  pelo  Estado-Administração,  consistente  no  controlo  da  gestão  de  outra  pessoa 
coletiva  integrada  na  Administração  Pública,  seja  ela  pública,  seja  privada,  e  visando 
salvaguardar a legalidade ou o mérito da sua atuação”. 
 
Tipos de tutela: 
As  principais  espécies  de  tutela  administrativa  distinguem-se  quanto  ao  fim  e  quanto  ao 
conteúdo. 
Ora, quanto ao fim a tutela divide-se em tutela de legalidade e tutela de mérito. 

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- Tutela de legalidade:​visa controlar a legalidade das decisões da entidade tutelada; 
Esta apura se a decisão da entidade tutelada é ou não conforme à lei. 
 
- Tutela  de  mérito:  visa  controlar  o  mérito  das  decisões  administrativas  da  entidade 
tutelada. 
Esta  questiona  se  a  dita  decisão,  independentemente  de  ser  ou  não  legal,  é  uma  decisão 
conveniente  ou  inconveniente,  oportuna  ou  inoportuna,  correta ou incorreta do ponto de vista 
administrativo, técnico, financeiro, etc. 
Note-se  que  tanto  a  tutela  de  legalidade  como  a  tutela  de  mérito  são  criação  do  bloco  de 
legalidade  não  incluindo  os  regulamentos  administrativos,  os  contratos  de  administração  e  os 
atos administrativos. 
 
Exemplos  entidades  sujeitas  a  estes  dois  tipos  de  tutela  são  aquelas  que  pertencem  à 
Administração  indiretamente  dependente  da  Administração  central,  e  ainda  as  Universidades 
públicas. 
 
Por  seu  turno,  apenas  estão  sujeitas  a  tutela  de  legalidade, por exemplo, as autarquias locais e as 
várias instituições particulares de interesse público. 
 
Por  outro  lado,  quanto  ao  conteúdo,  a  tutela  administrativa  subdivide-se  em  mais  cinco 
categorias, ou faculdade, como lhes chama o P​ rofessor Marcelo Rebelo de Sousa: 
 
- Tutela  integrativa:  consiste  no  poder  de  autorizar  ou  aprovar  os  atos  das  entidades 
tuteladas; 
- Tutela integrativa a
​ priori:​consiste em autorizar a prática de atos: 
 
Ou  seja,  estando  um  ato sujeito a autorização, a entidade tutelada não pode praticar esse mesmo 
ato sem que lhe seja dada autorização pela entidade tutelar. 
 
Aqui o exercício da tutela é a condição do exercício da competência da entidade tutelada. 
 
Estamos perante uma condição de validade, sendo que a sua inobservância gera invalidade. 
 
Tutela integrativa a
​ posteriori:​consiste no poder de aprovar atos da entidade tutelada. 
 
Isto  é,  a  entidade  tutelada  pode  praticar  o  ato  antes  de  obter  a  aprovação,  mas  não  pode 
executá-lo sem que este seja aprovado. 

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Neste  caso,  o  exercício  da  tutela  é  a  condição  da  executoriedade  do  ato  praticado pela entidade 
tutelada. 
 
Fala-se em condição de eficácia, logo a sua inobservância gera ineficácia. 
 
Neste  tipo  de  tutela,  a  regra  geral  é  de  que  a  entidade  tutelada  pratica  o  ato  para  que  é 
competente,  envia-o  para  aprovação  à  entidade  tutelar,  e  aguarda  a  sua  aprovação  ou  recusa  de 
aprovação. 
Outra  hipótese  é:  a  entidade  tutelada  depois  de  praticar  o  ato,  apenas  tem  de  comunicar  à 
entidade tutelar que o fez, sendo que a última tem o poder de se opor a tal execução – veto. 
 
Assim,  tanto  a  autorização  como  a aprovação podes sem expressas ou tácitas, totais ou parciais e 
puras,  condicionais  ou  a  termo.  Contudo,  nunca  podem  modificar  o  ato  sujeito  a  apreciação 
pela  entidade  tutelar,  ou  seja,  esse  ato  nunca  pode  ser  modificado  pela  entidade tutelar, através 
da  autorização  ou  da  aprovação.  Pois,  a  entidade  tutelar  apenas  pode  autorizar  ou  recusar  a 
autorização  desse  ato.  Uma  vez  que  para  modificar  o  ato,  a  entidade  tutelar  teria  de  ter 
competência  para  se  substituir  à  entidade  tutelada  e  não  tem,  isto  porque,  nesta  tutela 
integrativa não pode haver poder de substituição. 
 
Para  além  do  mais,  uma  vez  que  a  entidade  tutelada  tem autonomia, pelo pressuposto da tutela 
administrativa, é óbvio que o ato definitivo principal é sempre o ato desta. 
 
- Tutela  inspectiva:  poder  de  fiscalização  dos  órgãos,  serviços,  documentos  e  contas  da 
entidade  tutelada,  isto  é,  consiste  no  poder  de  fiscalização  da  organização  e 
funcionamento  da  entidade  tutelada.  Chamam-se  a  estes  serviços  da  administração 
pública, serviços inspectivos. 
- Tutela  sancionatória:  ​traduz-se  no  poder  de  aplicar  sanções  por  irregularidades  que 
tenham sido detectadas, no exercício da tutela inspectiva, na entidade tutelada. 
- Tutela  revogatória:  funda-se  no  poder  de  revogar  os  atos  administrativos  praticados 
pela entidade tutelada. Este tipo de tutela, contudo, é excecional. 
- Tutela  substitutiva:  é  o  poder  da  entidade  tutelar  de  suprir  as  omissões  da  entidade 
tutelada,  praticando, em vez dela e por conta dela, os atos que forem legalmente devidos. 
Isto  traduz-se  na  hipótese  de  os  órgãos  competentes  da  pessoa  tutelada  não  praticarem 
atos  que  lhes  sejam  juridicamente  obrigatórios.  Assim,  se  houver  tutela  substitutiva,  o 
órgão  tutelar  pode  substituir-se  aos  órgãos  da  entidade  tutelada  e  praticar  os  atos 
legalmente devidos. 
  

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Regime jurídico da tutela administrativa: 
Antes de mais, o princípio geral de relevância da tutela administrativa é que esta não se presume, 
isto  é,  a  tutela  administrativa  só  existe  quando a lei expressamente a prevê e nos precisos termos 
em  que a estabelecer. Ou seja, a tutela só existe nas modalidades que a lei consagrar, e nos termos 
e dentro dos limites que a lei impuser. 
 
Por  outro  lado,  mas  não  menos  relevante,  a  entidade  tutelada  tem legitimidade para impugnar, 
quer  administrativa  quer  contenciosamente,  os atos pelos quais a entidade tutelar exerça os seus 
poderes  de  tutela.  Por  isso,  se  a  entidade  tutelar  exercer  um  poder  de  tutela  em  termos 
prejudiciais  à  entidade  tutelada,  tem  esta  o  direito  de  impugnar  esses  mesmo  atos  juntos  dos 
tribunais administrativos. 
 
O  regime  jurídico  da  tutela  administrativa  das  autarquias  locais  e  entidades  equiparadas 
encontra-se regulado pela Lei nº 27/96, de 01 de agosto. 
 
Natureza jurídica da tutela administrativa: 
 
Surgem três teses que tentam determinar a natureza jurídica da tutela administrativa: 
 
- Tese  da  analogia  com  a  tutela  civil:  para  os  defensores  desta  tese,  a  tutela 
administrativa  seria  uma  figura  semelhante  à  tutela  civil,  em  que  o  objetivo  é prover ao 
suprimento  das  diversas  incapacidades.  Ou  seja,  também  no  Direito  Administrativo,  o 
legislador  terá  sentido a necessidade de criar um mecanismo apto a prevenir ou remediar 
as  deficiências  que  têm  lugar  na  atuação  das  entidades  públicas  menores  ou 
subordinadas.  Assim,  a  tutela  administrativa,  à  semelhança  da  tutela  civil,  cisaria suprir 
essas deficiências orgânicas ou funcionais das entidades tuteladas. 
  
- Tese  da  hierarquia  enfraquecida:  esta  tese  foi  defendida  por  ​Marcello  Caetano, 
segundo  a  qual,  a  tutela  administrativa  é  como  que  uma  hierarquia  enfraquecida.  Ou 
seja,  no  fundo,  os  poderes  tutelares  que  são  poderes  hierárquicos  enfraquecidos,  pois 
exercem-se  não  sobre  entidades  dependentes,  mas  sim  autónomas,  o  que  segundo 
Marcello Caetano​, eram poderes hierárquicos «quebrados pela autonomia». 
  
- Tese  do  poder  de  controlo:  esta  é  a  tesa  que  atualmente  parece  mais  adequada. 
Segundo  o  ponto  de  vista  desta  tese,  a  tutela  administrativa  não  tem  qualquer  analogia 
relevante  à  tutela  civil,  nem  com  a  hierarquia,  enfraquecida,  sendo  que  constitui  uma 
figura  sui  generis.  Corresponde,  assim,  a  uma  ideia  de  um  poder  de  controlo  exercido 

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por  um  órgão  da  Administração  sobre certas pessoas coletivas sujeitas à sua intervenção, 
para assegurar o respeito de determinados valores considerados essenciais. 
 
Superintendência: 
 
A  superintendência  é  entendida  como  o  poder  conferido  ao  Estado  ou  a  outra  pessoa colectiva 
de  fins  múltiplos,  como  as  autarquias.  Este  poder  é  normalmente  exercido  entre  2  pessoas 
coletivas  públicas  encontrando  se  uma,  nalguma  medida,  na  dependência  da  outra  regra  geral 
por  ser  criação  de  outra dede definir objetivos e guiar a atuação das pessoas coletivas públicas de 
fins  singulares  colocadas  por  lei  na  sua  dependência  como  os  institutos  públicos  e  as  empresas 
públicas. 
 
Segundo  a  definição  aceite  por  ​Freitas de Amaral​, a superintendência trata-se um espécie com 
natureza  própria  e  com  autonomia  que  se  diferencia  dos  institutos  da  tutela  e  da  hierarquia, 
ainda que semelhante a estes últimos.  
Da  tutela,  na  medida  em  que  não  controla e fiscaliza , mas permite uma definição de objetivos e 
de rumos; 
Da  hierarquia  na  medida  em  que  carece  de  consagração  na  lei  e  não  se  rege  por  poderes 
presumidos, típicos do superior hierárquico.  
 
Nada  impede  porém,  que  2  entidades  estejam  simultaneamente  conectadas  por 
superintendência  e  tutela  ,  nomeadamente as que estão inseridas na administração instrumental 
do Estado (ver acórdão 11199/02).  
 
Revela-se  um  mecanismos  mais  activo  e  intenso,  a  superintendência  consubstancia-se  com  os 
poderes  determinados  legalmente,  sendo  assim,  temos  por  conclusão  que  a  Administração  não 
poderá  exceder  os  limites  legais  ,  estando  esta  submetida  ao  princípio  da  legalidade  da 
administração  constante  no  artigo  3º  do  Código  do  Procedimento  Administrativo:  “Os  órgãos 
da  administração  pública  devem  atuar  em  obediência  à  lei  e  ao  direito,  dentro  dos  limites  dos 
poderes que lhes forem conferidos e em conformidade com os respetivos fins.” 
 
A  administração  traduz-se  sobretudo  num  poder  de  orientação.  É  destinada  à  administração 
indireta  e  por  essa  razão  distingue-se  igualmente  da  direção  que  incide  sobre  a  administração 
direta,  assim  expresso  no  artigo  199º,  alínea  “d”  da  Constituição  da  República  Portuguesa.  O 
Governo  é  o  órgão  de  condução  da  política  geral  do  país  e  o  órgão  superior  da  Administração 
Pública.”  
Os  instrumentos típicos da Superintendência são as Directivas e as Recomendações, sendo que a 
primeira  impõe  objectivos  mas  deixa  a  liberdade  necessária  e  mais  adequada  à  pessoa  colectiva 

28
quanto  aos  meios que usará para atingir esses mesmos fins, e a segunda serão opiniões facultadas 
à  pessoa  colectiva  em  questão  sendo  que  têm  um  ponto  fulcral  pelo  qual  a  pessoa  colectiva 
pública  se deverá guiar, ou seja, pelas palavras do ​Prof. João Caupers será "um convite para agir 
num  certo  sentido".  Estas  dentro  da  superintendência  não  podem  ser  impugnadas 
contenciosamente. 
 
6. Administração Indireta  
Para  começar,  o  que  é  a  Administração  Indireta  do  Estado? Como temos vindo a estudar ao longo 
do  semestre,  a  Administração  Pública  (AP)  têm  como fim último a satisfação do interesse público. 
Sabemos  também,  que  o  Estado  não  é  a  única  pessoa  que,  atualmente,  prossegue  o  interesse 
público.  São  precisamente  estas  pessoas,  que  não  o  Estado,  mas  por  este  criadas,  que  também 
prosseguem as atribuições do Estado e o coadjuvar na realização destas.  
 
Nas  palavras  de  ​Freitas  do  Amaral​,  ​de  um  ponto  de  vista  subjetivo, a ​Administração Indireta 
do  Estado define-se como “o conjunto das entidades públicas que desenvolvem, com personalidade 
jurídica  própria  e  autonomia  administrativa,  ou  administrativa  e  financeira,  uma  atividade 
administrativa  destinada  à  realização  de  fins  do  Estado”.  Segundo  o  mesmo  autor,  esta  seria,  do 
ponto  de  vista  material,  definida  como  “uma  atividade  administrativa  do  Estado,  realizada,  para  a 
prossecução  dos  fins  deste,  por  entidades  públicas  dotadas  de  personalidade  jurídica  própria  e  de 
autonomia administrativa ou financeira”. 

29
6.1. Institutos Públicos 
Os  institutos  públicos  inserem-se  na  administração  indireta  do  Estado,  em  que  existe  não  existe 
apenas  uma  pessoa  coletiva, mas sim várias. Deste modo, esta situação verifica-se devido ao facto de 
o  Estado  (sozinho)  deixar  de  ter  capacidade  para  satisfazer  as  necessidades  de interesse público. De 
igual  modo,  o  Estado  cria  estas  pessoas  coletivas,  que  prosseguem  fins  do  Estado,  em  que  este 
define as atribuições a cada uma delas. 
 
Segundo  o  ​professor  Freitas  do  Amaral​,  entende-se  por  instituto  público  "uma  pessoa  coletiva 
pública,  de  tipo  institucional,  criada  para  assegurar  o  desempenho  de  determinadas  funções 
administrativas  de  caráter  não  empresarial,  pertencentes  ao  Estado  ou  a  outra  pessoa  coletiva 
pública". 
 
Assim, sistematizando esta definiçāo: 
 
- Pessoa coletiva:​caracteriza-se, assim, por ser sempre dotado de personalidade jurídica 
 
- De  tipo  institucional:  o  substrato  é  uma  instituição,  nāo  uma  associação:  assenta  sobre 
uma organização de caráter material e não sobre um agrupamento de pessoas. 
  
- Criada para assegurar o desempenho de ​funções administrativas determinadas​1 
 
- De  caráter  nāo  empresarial:  as  funções  dos  institutos  públicos  hão-de  ser  de caráter não 
empresarial, distinguindo-se deste modo das desempenhadas por empresas públicas. 
- Inserida  na  administração  indireta:  a  administração  desempenhada  pelo  instituto 
público  tem  caráter  indireto,  isto  é,  as  funções  que  lhe  sāo  cometidas  não  lhe  pertencem 
como  funções  próprias,  antes  devem  considerar-se  como  funções  que  de  raíz  pertencem  a 
outra entidade pública (Estado, autarquias locais, regiões autónomas);  
 
Outro  aspecto  também  relevante  é  o  facto  de  desempenhar  funções  determinadas,  ou  seja,  as  suas 
atribuições  nāo  podem  abranger  uma  multiplicidade  genérica  de  fins.  Os  institutos  públicos  só 
podem  tratar  das  matérias  que  especificamente  lhes  sejam  cometidas  por  lei  -  são  entidades de fins 
singulares e têm vocação especial. 
 
No  Direito  Português,  os  institutos  públicos  não  são  regulados  por  nenhuma  lei  genérica  que  de 
forma  sistemática  e  unitária  estabeleça  o  seu  estatuto  jurídico.  Os  aspetos  essenciais  do  regime 

1
A missão de qualquer instituto público é assegurar o desempenho de funções administrativas, o mesmo é dizer, o 
desempenho de uma atividade pública administrativa. Deste modo, não há institutos públicos para o exercício de 
funções privadas, nem para o desempenho de funções públicas não administrativas. 

30
jurídico  têm  de  ser  retirados  particularmente  dos  diplomas  que  aprovam  as  leis  orgânicas  de  cada 
um desses institutos. 
 
Existem três espécies de institutos públicos a considerar: 
 
- Serviços  personalizados:  serviços  públicos  de  caráter  administrativo,  a  que  a  lei  atribui 
personalidade  jurídica  e  autonomia  administrativa  e  financeira,  para  poderem  funcionar 
como  se  fossem  verdadeiras  instituições  independentes,  embora  nāo  o  sejam  (ex: 
Laboratório Nacional de Engenharia Civil) 
  
- Fundações públicas: ​fundações que revestem natureza de pessoa coletiva pública. Trata-se 
de  patrimónios  que  sāo afetados à prossecuçāo de fins públicos especiais (ex:serviços sociais 
dos vários ministérios) 
  
- Estabelecimentos  públicos:  institutos  públicos  de  caráter  cultural  ou  social,  organizados 
como  serviços  abertos  ao  público,  e  destinados  a  efetuar  prestações  à  generalidade  dos 
cidadãos que delas careçam (ex:universidade públicas e hospitais do Estado) 
 
  Porém,  nāo  obstante o ​professor Freitas do Amaral dar o exemplo das universidades públicas, a 
título  pessoal  nāo  concordo  com  este  exemplo,  uma  vez que não está ao mesmo nível dos hospitais 
ao  nível  da  necessidade  (carecer  de  algo)  sendo  que  se  alguém  precisa  de  um  bem  (fundamental, 
como  um  hospital  e  nāo  uma  universidade),  nāo  deveria  até de  ter de pagar uma contra-prestaçāo, 
daí  não  me  opôr,  ao  contrário  de  muitos  dos  meus  "conterrâneos"  académicos,  ao  pagamento  de 
propinas numa universidade pública. 
 
No  entanto,  quanto  à  natureza  das  universidades  públicas,  nem  todos  os  autores  concordam  com 
esta  classificação.  Defendem  alguns  que  as  universidades  integram  a  administração  autónoma  e  , 
como  tal,  estão  sujeitas  apenas  ao  poder  da  tutela  do  Estado.  O  argumento  é,  precisamente,  o  de 
que  nāo  se  afigura  correta  a  sujeição  das  universidades  a  um  poder  tão  forte  como  o  de 
superintendência.  
 
Do  conjunto  variado  e  multifacetado  das  respetivas  leis  orgânicas  ,  é  possível  extrair  os  seguintes 
traços específicos: 
 
- São pessoas coletivas públicas; 
- Beneficiam, em maior ou menor grau, de autonomia administrativa; 
- Podem dispor, e normalmente dispõem, de autonomia financeira; 
- São, em regra, criados, modificados e extintos mediante decreto-lei; 

31
- Possuem  orgāos  próprios,  dos  quais  o  principal  é,  regra  geral,  uma  comissão  ou  junta 
autónoma ou conselho administrativo; 
- Os presidentes respectivos são simultaneamente órgão dirigente do instituto público 
- Os seus serviços administrativos podem ser centrais ou locai; 
- Estão  sujeitos  a  uma  intervenção  bastante  intensa  do  Governo,  traduzia  em  poderes  de 
superintendência e tutela administrativa; 
- O regime jurídico do seu funcionamento é, regra geral, um regime de Direito Público; 
 
Existem diferentes opiniões a respeito da natureza dos institutos públicos: 
 
O  instituto  público  como  substrato  institucional  autónomo-  para  esta  conceção,  os  institutos 
públicos  sāo  entidades  juridicamente  distintas  do  Estado,  criadas  pela  ordem  jurídica  com  base 
num  serviço,  patrimônio  ou  estabelecimento.  Os  seus  órgãos  dirigentes  são,  em  princípio,  órgãos 
do  instituto  público e não órgãos do Estado; o seu pessoal é também privativo do instituto público, 
não é funcionalismo do Estado. 
  
O  instituto  público  como  órgãos  com  personalidade  jurídica-  segundo  estes  autores,  os  institutos 
públicos  são  órgãos  personalizados  (  do  Estado,  município,  freguesia);  órgãos  com  personalidade 
jurídica  apenas  para  efeitos  de  direito  privado,  nomeadamente  patrimoniais.  Na  mesma  linha  de 
análise,  os seus órgãos são órgãos do Estado, o seu pessoal e as suas finanças são também estaduais, o 
seu património é um património do Estado, ainda que autônomo. . 
  
Relativamente  a  esta  distinção,  o  ​professor  Freitas  do  Amaral  ​dá  preferência  à  primeira 
orientação,  embora  não  tenha  dificuldade em aceitar a segunda tese, reconhece que, na esmagadora 
maioria  dos  casos,  a  lei  não  personaliza  órgãos,  mas  substratos  autónomos  do  tipo  do  serviço, 
fundaçāo  ou  estabelecimento,  a  que  reconhece,  até  certo  ponto,  a  titularidade  de  interesses 
públicos próprios, eventualmente oponíveis ao Estado em juízo. 
 
Setor Público Empresarial 
 
O  Principal  Objetivo  do  Setor  Público  Empresarial  é  satisfazer  as  necessidades  da  coletividade, 
porém  deve  ser  sempre  assegurado  que  o  seu  desenvolvimento  segue  parâmetros  de  qualidade, 
eficiência  e  eficácia,  contribuído  para  um  equilíbrio  económico.  O  seu  regime  foi  alterado  pelo 
Decreto-Lei nº 133/2013 de 3 de Outubro. As principais alterações são: 
 
1. Alargamento do âmbito setorial de aplicação deste regime jurídico; 
2. Clarificação e alargamento do âmbito subjectivo de aplicação do regime jurídico; 
3. A função acionista ao serviço do controlo financeiro e da monitorização; 

32
4. Unidade técnica de acompanhamento e monitorização do setor público empresarial ; 
5.  Contenção  da  despesa  e  controlo  do  endividamento  Este  setor  é  constituído  por  Empresas 
Públicas e por Empresas Participadas; 
 
No  artigo  5º,  do  Decreto-Lei  anteriormente  referido,  é  nos  dito  o  que  são  empresas  públicas. 
Segundo  o  Professor  Freitas  do  Amaral,  as  empresas  públicas  são  unidades  de  produção,  isto 
significa que se dedicam à produção de determinados bens ou serviços, destinados a ser vendidos no 
mercado  mediante  um  preço.  Estas empresas prosseguem fins lucrativos, porém isto não quer dizer 
que  na  prática  dêem  sempre  lucro,  quando  não  dão  lucro  são  consideradas  deficitárias.  Com  isto 
dir-se-á  que elas podem não dar lucro, mas o seu objetivo principal tem de ser dar lucro. Dar ou não 
lucro  não  tem  haver  com  a  finalidade  desta,  mas  com  a  boa ou má administração. O lucro público 
pode  ser  aplicado  no  autofinanciamento  da  própria  empresa,  ou  na  retribuição  ao  Estado  dos 
contributos  que  ele  tenha  dado  inicialmente,  ou  noutra  qualquer  finalidade  determinada  por  lei. 
Existem  três  aspetos  as  caracterizam,  estes  são  o facto de a empresa pública ser uma pessoa coletiva, 
da  sua  direção  ser  sempre  pública,  ou  seja  os  órgãos  dirigentes  da  empresa  pública  são  sempre 
órgãos  públicos  e  a  empresa  pública  tem,  por  definição,  capitais  públicos,  ou  seja o património da 
empresa é público, bem como o seu financiamento. 
 
 
Os  principais  motivos  para  a  criação  de empresas públicas são primeiro o Estado sentir necessidade 
de  intervir  nos  setores  chave  da  economia,  por  uma  questão  de  modernização  e  eficiência  da 
Administração,  por  vezes  o  Estado  cria  empresas  públicas  ou  chama  empresas  anteriormente 
privadas  para  o  setor  público,  para,  no  fundo,  melhorar  a  eficiência  da  Administração,  execução 
um  programa  ideológico,  o  desejo  de  prestar  ao  público  bens  ou  serviços  em  condições 
especialmente  favoráveis  e  a  vontade  de  incentivar  o  desenvolvimento  de  determinada  região.  As 
Empresas  Participadas  (Artigo 7 do Decreto-Lei 133/2013 de 3 de Outubro) são empresas Privadas 
onde  o  Estado  tem  alguma  participação  ou  é  acionista.  O Estado tem participação nessas empresas 
para  continuar  a  ter  uma  influência  sobre  as  mesmas,  uma  vez  que  estas  visam  à  prossecução  de 
necessidades  coletivas.  Para  concluir é importante referir que o Setor Público Empresarial funciona 
seguindo  uma  lógica  de  mercado,  procurando  sempre  obter  lucro  mesmo que não o consiga. Estas 
Empresas visam a maior eficácia, economia e eficiência dos recursos humanos e financeiros que têm 
seu dispor, para o exercício das suas atribuições. 
 
Importa, primeiramente, referir que a expressão Administração Pública comporta dois sentidos: 
 
- orgânico  ​(pelo  professor  ​Freitas  do  Amaral​,  é  o  sistema  de órgãos, serviços e agentes do 
Estado,  bem  como  as  demais  pessoas  coletivas  públicas,  que  asseguram  em  nome  da 

33
coletividade  a  satisfação  regular  e  contínua  das  necessidades coletivas de segurança, cultura 
e bem-estar);  
-   material  (atividade  típica  dos  organismos  e  indivíduos  que,  sob  a  direção  ou  fiscalização 
do  poder  político,  desempenham  em  nome  da  coletividade,  a  tarefa  de  prover  à  satisfação 
regular  e  contínua das necessidades coletivas de segurança, cultura e bem-estar económico e 
social,  nos  termos  estabelecidos  pela  legislação  aplicável  e  sob  o  controlo  dos  tribunais 
competentes); 
 
Posto isto, adotando a definição proposta por ​Freitas do Amaral​, ​Empresas Públicas :​ 
 
- organizações  económicas  de  fim  lucrativo,  criadas  e  controladas  por  entidades  jurídicas 
públicas.  Sendo  estas  um  dos  “ramos”  da  administração  indireta,  também  elas  são dotadas 
de  personalidade  jurídica  própria  e  autonomia  decisória,  patrimonial,  financeira  e  de 
gestão. 
 
Poder-se-ia  colocar  a  questão  de  saber  se  estas  são  ou  não  verdadeiras  empresas.  Freitas  do 
Amaral  ​responde  que,  tendo  o  objetivo  e,  até,  a  obrigação  de  dar  lucro,  elas  são,  sem  dúvida, 
verdadeiras  empresas.  O  facto  de  estarem  sujeitas  ao  controlo  legal  e  estatutário  da  Administração 
Pública faz delas empresas públicas. 
 
Freitas  do  Amaral​,  no  seu  manual  de  Direito  Administrativo,  afere  alguns  dos  motivos  que 
incentivam  a  criação  de  EP’s.  Distinguem-se  motivos  políticos  e  económicos  de  administrativos  e 
financeiros. São eles: 
 
- Domínio  de  posições  chave  na  economia  (nascem  da  necessidade  de  intervenção  na 
economia); 
- Modernização e eficiência da Administração (transformação de velhos serviços); 
- Aplicação de uma sanção política; 
- Execução de um programa ideológico (programas, por exemplo, de natureza socializante); 
- Necessidade de monopólio; 
- Outros  (desejo  de  prestar  bens  ou  serviços  em  condições  favoráveis  à  população,  por 
exemplo). 
  
 
Espécies de Empresas Públicas (também, segundo Freitas do Amaral): 
 
- Quanto à ​titularidade​, existem EP’s estaduais, regionais e municipais; 

34
- Quanto  à  ​natureza  jurídica​,  há  EP’s  com  personalidade  jurídica  e  sem  personalidade 
jurídica; 
- Quanto à​ forma​, podem-se distinguir EP’s sob forma pública e sob forma privada; 
- Quanto  ao  ​objeto​,  as  EP’s  distinguem-se  consoante  tenham  ou  não  por  objecto  a 
prossecução de um serviço público ou de um interesse económico geral. 
  
 
O  principal  objetivo  das  Empresas  Públicas  é  o  de  contribuir  para  o  equilíbrio 
económico-financeiro  do  setor  público  e  para  a  obtenção  de  níveis  adequados  de  satisfação  das 
necessidades  coletivas.  O  enquadramento  geral  da  atuação  das  EP’s  é  retirado  do  art.15º  do  DL 
133/2013, de epígrafe “Neutralidade competitiva”. 
 
Entidades Públicas Empresariais: 
Estas  estão  reguladas  no  capítulo  IV  do  DL  133/2013,  sendo  a  noção  dada  são  entidades públicas 
empresariais  as  pessoas  coletivas  de  direito  público,  com  natureza  empresarial,  criadas  pelo  Estado 
para  prossecução  dos  seus  fins,  as  quais  se  regem  pelas  disposições  do  presente  capítulo  e, 
subsidiariamente, pelas restantes normas do presente decreto-lei (Artigo 56.º). 
 
A  criação  das  EPE’s  está  regulada  no  art.57º  (1-  as  entidades  públicas  empresariais  são  criadas  por 
decreto-lei, o qual aprova também os respetivos estatutos). 
 
A extinção EPE’s faz-se mediante Decreto-Lei (art.35º/1). 
 
A  lei  não  distingue,  aquando  da  regulamentação  dos  órgãos  de  Empresas  Públicas,  as  de  forma 
jurídica  privada  das  de  forma  jurídica  pública.  O  DL  133/2013  remete  para  o  Código  das 
Sociedades  comerciais  (no  seu  art.60º/1),  sendo  este  código  que  também  regula  as  empresas  de 
forma  jurídica  privada  (as  sociedades).  Ainda  assim,  temos  na  secção  IV  do  capítulo  I  regras 
específicas de Direito Administrativo. Assim podemos resumir: 
 
- 30º é relativo à existência de um modelo de governo societário e à separação de funções; 
- 31º prescreve sobre a estrutura de administração e de fiscalização; 
- 32º é relativo ao órgão de administração; 
- Por fim, o art. 33º prevê o órgão de fiscalização. 
  
O Artigo 60.º do decreto-Lei prevê, para os órgãos das EPE’s: 
 
1  -  A  administração  e  fiscalização  das  entidades  públicas  empresariais devem estruturar-se segundo 
as modalidades e com as designações previstas para as sociedades anónimas. 

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2  -  Os  órgãos  de  administração  e  fiscalização  têm  as  competências  genéricas  previstas  na  lei 
comercial, sem prejuízo do disposto no presente decreto-lei. 
 
3  -  Os estatutos podem prever a existência de outros órgãos, deliberativos ou consultivos, definindo 
as respetivas competências. 
 
4  -  Os  estatutos  regulam,  com  observância das normas legais aplicáveis, a competência e o modo de 
designação dos membros dos órgãos a que se referem os números anteriores. 
 
Dizem-nos  os  professores  Diogo  Freitas  do  Amaral  ​e  ​Vasco  Silva  Pereira  que  chamar  à 
atuação  do  Governo  sobre  as  EPE’s  (neste  caso)  supervisão  é  excessivo. O Governo tem antes uma 
função de superintendência. Esta função confere os seguintes poderes: 
 
- Poder de dar orientações genéricas acerca do modo de exercício das atribuições do Estado; 
- Poder  de  nomear  e  demitir  os  órgãos  da  PCP,  demitir  os  membros  do  conselho  de 
administração; 
- Poder  de  exercer  tutela  em  sentido  restrito  (poder  de  controlar  atos  concretos,  poder  de 
ratificação  de atos, poder de autorizar). No quadro desta tutela o Governo pode ter poderes 
sancionatórios; 
-  
Assim,  tendo  em  conta  os  poderes  que  o  Estado  pode  exercer  sobre  a  Administração  Indireta, 
particularmente,  sobre  as  Empresas  Públicas  de  forma  jurídica  pública,  este  apena  pode  atuar  em 
situações mais graves (segundo Vasco Pereira da Silva). 
 
Continuando  a  análise  do  Decreto-Lei  133/2013,  do  art.  14º  (de  epígrafe  Direito  Aplicável)  é 
possível  retirar  que,  apesar  de  serem  administradas  por  uma  direção pública e sempre sujeitas a um 
apertado  controlo público, aplicam, em princípio, na sua atividade, direito privado. Contudo o art. 
22º  prevê  os  casos  em  que  as  EP’s  podem  exercer  poderes  e  prerrogativas  do  Estado.  São  eles  a 
expropriação  por  utilidade  pública;  a  utilização,  proteção  e  gestão  das  infraestruturas  afetas  ao 
serviço  público;  o  licenciamento  e  concessão,  nos  termos  da  legislação  aplicável,  da  utilização  do 
domínio  público,  da  ocupação  ou  do  exercício  de  qualquer  atividade  nos  terrenos,  edificações  e 
outras infraestruturas que lhe estejam afetas. 
 
Conclui-se  que  a  regra  geral  é  a  da  gestão  privada,  sendo  a  gestão  pública  apenas  aplicável  em 
situações excepcionais e na prossecução do interesse público. 
 
Principais corolários da gestão privada: 

36
 
- Contabilidade; 
- Fiscalização das contas (art. 26º); 
- Regime jurídico pessoal (arts. 17º e 18º); 
- Segurança Social; 
- Impostos do pessoal e da empresa; 
- Registo comercial (art. 61º); 
- Contencioso (art. 23º); 
- Execução por dívidas (art. 35º/2); 
 
7. Administração Autónoma 
 
Administração  autónoma​→  aquela  que  prossegue  interesses  públicos  próprios  das pessoas que 
a  constituem  e  por  isso  se  dirige  a  si  mesma,  definindo  com  independência  a  orientação  das  suas 
atividades, sem sujeição à hierarquia ou a superintendência do Governo; 
 
  A  administração  autónoma  é  composta  por  pessoas  coletivas  públicas  independentes  do  Estado, 
ou  seja,  não  são  subordinadas  ou  controladas  por  este.  Existe  apenas  a  exceção  da  tutela  exercida 
pelo Governo sobre elas (Art.199° alínea d) C.R.P.), que se trata apenas de um poder de fiscalização 
e  não  de  controlo  no  sentido  próprio.  Os  seus órgãos realizam as suas funções com independência, 
sem  ter  de  obedecer  a  ordens  provenientes  da  administração  central.  Os  interesses  que  refere  a 
definição  são  os  interesses  próprios  das  pessoas  que  a  constituem  (ao invés da administração direta 
periférica,  cujos  interesses  são  as  atribuições  da  administração  direta  central),  ou  seja,  a  população 
da circunscrição territorial no caso das autarquias locais, e os seus associados no caso das associações 
públicas.  Portanto,  existe  sempre  um  substrato  humano,  ao  contrário  da  restante  administração, 
onde existem substratos materiais. 
 
Dentro da administração autónoma, podemos encontrar vários tipos de entidades, entre elas: 
- Associações Públicas; 
- Autarquias Locais; 
- As regiões autónomas dos Açores e da Madeira; 
 
  Podemos  notar  que  embora  exista  sempre  um  substrato  humano,  existe  grande  heterogeneidade 
entre  estas  várias  entidades.  Assim,  dividem-se  entre  entidades  de  administração  autónoma  não 
territorial,  onde  se  enquadram  as  associações  públicas,  e  entidades  de  administração  autónoma 
territorial,  onde  se  encontram  as  autarquias  locais  e  as  regiões  autónomas.  Nas  associações  o 
elemento  que  junta  os  seus membros é a prossecução de um fim comum, a que o Estado reconhece 
ser  de  interesse  público,  nas  autarquias  locais  e  nas  R.A.  é  o  elemento  territorial que as junta, uma 

37
vez  que  a  sua  proximidade  (uso  dos  mesmos  espaços,  proximidade  de  residências)  leva  a  que  haja 
cooperação  para  fazer  face  às  necessidades  comuns  a  todos,  que  dependem  de  circunscrição 
territorial  para  circunscrição  territorial. As regiões autónomas são um caso particular, uma vez que, 
embora  partilhem  com  as  autarquias  locais  o  caráter  territorial  da  administração,  estas  são  alvo  de 
uma  descentralização  política  e  administrativa,  enquanto  que  as  autarquias  locais  têm  apenas uma 
descentralização  administrativa  do  poder,  sendo  assim  mais  limitadas  pelo  poder  central,  como 
veremos adiante. 
 
  
 
- ASSOCIAÇÕES PÚBLICAS: 
 
  Dentro  do  quadro  associativo,  existem  algumas  associações  que  são  criadas  ou  reconhecidas  pelo 
Estado  para  prosseguirem,  de  forma  autónoma,  interesses  públicos.  Tratam-se  de pessoas coletivas 
públicas  de  natureza  associativa.  Esta  figura  distingue-se  das  empresas  públicas  e  dos  institutos 
públicos  uma  vez  que  estes  assentam  sobre  uma  instituição,  enquanto  que as associações assentam 
sobre  o  associativismo,  no  sentido  de  serem  constituídas  por uma pluralidade de indivíduos juntos 
por  um  interesse  comum,  que  o  Estado  reconhece  ser  benéfico  para  todos.  Diferenciam-se  ainda 
pelo  facto  de os institutos e as empresas públicas prosseguirem interesses do Estado, ao passo que as 
associações prosseguem os seus próprios interesses, sem intromissão da administração central. 
 
  Estas associações são de extrema importância, visto que transferem tarefas que caberiam ao 
Estado  regular  para  associações  de  particulares,  aproximando  a  administração  do  cidadão,  que 
ganha  uma  maior  voz  de  expressão  nos  domínios  do  seu  interesse.  Segundo  o  artigo  267°/  n°1  da 
C.R.P.,  as  associações  públicas  surgem  de  modo  a  desburocratizar  a  Administração  Pública,  para 
aproximar  os  serviços  das  populações  e  para  permitir  que  estas  interfiram na gestão desses mesmos 
serviços.  Por  exemplo,  a  criação  de  ordens  como  a  Ordem  dos  Médicos  fez  com  que  os  médicos 
tomassem  melhor  partido  na  regulação  da  sua  atividade  profissional.  Os  interesses  destes 
profissionais  são  melhor  defendidos  nas  mãos  de  quem  executa  a  profissão,  existindo  assim  uma 
participação pelos interessados na gestão do setor. 
 
Para serem consideradas associações públicas, estas devem preencher três requisitos: 
-Qualidade de pessoa colectiva de direito público; 
-Devem ter natureza associativa; 
-Devem ainda possuir personalidade jurídica; 
 
Existem  três  tipos  de  associações públicas: as de entidades públicas, as de entidades privadas e ainda 
as de caráter misto. 

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→ ASSOCIAÇÕES PÚBLICAS DE ENTIDADES PÚBLICAS 
 
Tratam-se  de  associações  cujos  membros  são  provenientes  de  entidades públicas menores. As áreas 
metropolitanas,  as  comunidades  intermunicipais  e  as  associações  de  autarquias  locais  de  fins 
específicos são as figuras mais típicas deste tipo de associações. 
 
As  áreas  metropolitanas  são  associações  de  municípios  que  prosseguem,  para  além  das  suas 
atribuições  próprias,  atribuições  cometidas  pela  administração  central  a  esta.  Estas  associações 
encontram-se  limitadas  em  termos  de  adesão,  uma  vez  que  a  lei  enumera  taxativamente  os 
municípios  que podem fazer parte destas, bem como tem de autorizar a criação de novas áreas deste 
tipo. 
 
As  comunidades  intermunicipais  também  limitam  a  liberdade  associativa  dos  municípios,  pelo 
facto de a lei fixar a área territorial dessas comunidades, ou seja, os municípios que dela podem fazer 
parte.  Deste  modo,  um  município  do  Algarve  não  poderia  juntar-se  a  uma  comunidade 
intermunicipal  da  zona  do  Oeste.  Contudo,  isto  não  significa  que  todos  os municípios tenham de 
fazer  parte  de  tal  comunidade.  Existe  um  direito  potestativo  de  adesão,  em  nome  da  cooperação 
entre  as  autarquias,  ou  seja,  um  município  tem a liberdade de entrar na comunidade mesmo com a 
oposição dos restantes. 
 
Por fim, as associações de autarquias locais de fins específicos já são dotadas de uma maior liberdade 
de  associação,  uma  vez  que  existe  livre  constituição  e  adesão  nas  mesmas.  Esta autonomia torna-se 
vital  para  que  as  autarquias  consigam  estabelecer  amplos  graus  de  cooperação  entre  si,  para  que 
ambas atinjam objetivos comuns. 
 
→ ASSOCIAÇÕES PÚBLICAS DE ENTIDADES PRIVADAS 
 
Aqui  já  lidamos  com associações de caráter mais corporativo, pelo que os melhores exemplos destas 
são  as  ordens  e  as  câmaras  profissionais.  Neste  tipo  de  associações,  são  os privados que se juntam e 
se  associam,  em virtude de um objetivo, que o Estado reconhece ser do interesse público geral e que 
deve ser a própria associação a prossegui-lo. 
 
As  ordens  profissionais  referidas  em  cima  regulam  a  profissão  em  causa,  representam-na  no 
exterior,  têm  poderes  disciplinares  perante  os  seus membros e ainda colocam requisitos de adesão a 
tal  atividade  profissional.  Vemos  então  que  estas  ordens  são  dotadas  de  amplos  poderes  de 
regulação  profissional,  da  mesma  maneira  que  o  Estado  regula  outros setores profissionais. Aqui o 
que acontece é que a atuação do Estado é feita por outra pessoa coletiva pública independente. 

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No  entanto,  existem  aqui  alguns  sacrifícios  em  termos  de  liberdades, nomeadamente, na liberdade 
de  associação  e  na  liberdade  de  profissão,  uma vez que a ordem é de filiação obrigatória, ou seja, ou 
o trabalhador entra na ordem ou está proibido de exercer a profissão em questão. 
 
→ ASSOCIAÇÕES PÚBLICAS DE CARÁTER MISTO 
 
  
 
Estas  associações  consideram-se  de  caráter  misto,  uma  vez  que  são  constituídas  tanto  por privados 
como  por  pessoas  coletivas  públicas.  Existe  nesta  modalidade  de  associações  públicas  um  objetivo 
de  cooperação  entre  o  setor  público  e  várias  entidades  privadas,  de  modo  a que conjuguem ambos 
os  seus  interesses  para  a  prosperidade  de  todos.  É  o  que  acontece  no  turismo  com  as  Entidades 
Regionais  de  Turismo,  que  são  constituídas  por  representantes  do  Estado  juntamente  com 
representantes  de  entidades privadas, que têm igual interesse em desenvolver a atividade turística de 
cada área regional. 
 
➜REGIME JURÍDICO DAS ASSOCIAÇÕES PÚBLICAS 
 
Na  ausência  de  um  regime  próprio  para  todas  as  associações  públicas,  as  regras  aplicáveis 
encontram-se  espalhadas  por vários diplomas avulsos, como a LAPP (Lei 2/2013, de 10 de janeiro), 
respeitante  à  criação  e  regulação  de  associações  públicas  profissionais.  Porém,  todas  as  associações 
públicas,  como  pessoas  colectivas  de  direito  público,  estão  sujeitas,  tal  como  a  restante 
administração  pública,  à  Constituição.  Por  ​exemplo​,  os  seus  atos  devem  ser  conformes  a 
Constituição  (Art.  3°/  n°3  C.R.P.),  está  vinculada  ao  princípio  da  responsabilidade  civil  dos 
poderes  públicos  (Art.  22°  C.R.P.)  e  ao  regime  de  direitos,  liberdades  e  garantias  (Art.  18°/  n°1 
C.R.P.), entre outras vinculações. 
Estas  associações  estão  também  sujeitas  a  regras  de  direito  privado  e  ao regime associativo presente 
nos  artigos  157°  e  seguintes  do  Código  Civil,  uma  vez  que  ainda  se  tratam  de  associações.  A 
Constituição  consagra  ainda  algumas  limitações  às associações públicas, presentes no artigo 267°/4 
C.R.P.: 
 
- São apenas constituídas para satisfazer necessidades específicas; 
- Não podem substituir as associações sindicais nas suas funções; 
- A sua estrutura de poder tem de ter natureza democrática; 
- A sua organização interna deve respeitar os direitos dos seus membros; 
 
AUTARQUIAS LOCAIS 

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  As  autarquias locais também são pessoas coletivas públicas, de caráter territorial, visto que incidem 
sobre  uma  fração  do  território.  Estas  visam  defender  os  interesses  de  um  agregado  populacional, 
residente  nesta  mesma fração. Segundo o artigo 235°/ n°2 da C.R.P., são um verdadeiro imperativo 
constitucional. São compostas por quatro elementos: 
- Território; 
- População; 
- Interesses comuns e próprios (justificando a sua separação do Estado); 
- Órgãos representativos; 
A  existência  destas  entidades  concretiza  o  conceito  de  descentralização  administrativa,  no  sentido 
em que existem pessoas coletivas a intervir na vida pública para além do Estado, tendo voz acerca de 
uma  parte  importante  dos  assuntos  públicos.  Esta  autonomia  inclui  finanças  e  patrimónios 
próprios, ainda que esteja submetida a um regime estabelecido por lei. 
 
Contudo,  ​Freitas  do  Amaral  considera  que  as  autarquias  locais não podem ser consideradas um 
verdadeiro  poder  local,  devido  à  falta  de  competências  e  de  meios  financeiros,  tal  como  a 
subordinação  a  políticas  públicas  nacionais,  ainda  que  com  especificidades  regionais  e  com  o 
direito  de  participação  na  elaboração  das  mesmas.  O  professor  universitário  chega ainda a referir o 
poder local, expressão usada na Constituição, como sendo algo a atingir e não algo já adquirido. 
 
→ FREGUESIAS 
 
As  freguesias  são  autarquias  locais  intermunicipais  que  visam,  tal  como  os  municípios,  a 
prossecução dos interesses próprios da população que nelas reside. 
Entre  as  atribuições  das  freguesias  podemos  encontrar  a  realização  do  recenseamento,  a 
administração  de  bens  próprios  e  atribuições  a nível da assistência social e da saúde pública (Art. 7° 
LAL). 
A  freguesia  é  composta  pela  Assembleia  de  Freguesia  (órgão  representativo)  e  a  Junta de Freguesia 
(órgão  executivo).  A  Assembleia  de  Freguesia  elege  e  fiscaliza  a  Junta,  entre  outras  funções 
presentes  no  Art.  9°  e  10°  da  LAL.  A  Junta  de  Freguesia,  por  seu  lado  tem  funções  executivas,  de 
gestão das finanças locais e de colaboração com o município, como refere o Art. 16° e 19° da mesma 
lei. 
 
→ MUNICÍPIOS 
 
Do  mesmo  modo  que  as  freguesias,  os  municípios  são  também  pessoas  coletivas  públicas  de  cariz 
territorial.  No  entanto,  diferenciam-se  destas  no  sentido  em  que  prosseguem  interesses  de  uma 
circunscrição  territorial  maior,  que  envolve  várias  freguesias.  É  nos  municípios  que 

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verdadeiramente  se  defendem  os  interesses  locais,  numa  dimensão  muito  maior  à  das  autarquias 
locais tratadas no ponto anterior. 
Em  relação  às  suas  atribuições,  foi  adotado  um  sistema  misto  da  sua  definição,  ou  seja,  é  definida 
uma  cláusula  geral  das  suas  atribuições,  presente  no  n°1 do artigo 23° da Lei das Autarquias Locais 
(Lei 75/2013, de 12 de setembro): 
 
  
 
- Artigo 23.º Atribuições do município; 
De  seguida,  é  elaborada  uma  lista  exemplificativa  das atribuições, que não impedem a existência de 
outras que se enquadrem na cláusula geral, como menciona o segundo número deste artigo: 
 
Assim,  em  nome  da  autonomia  local  e dos interesses locais, o município tem uma grande liberdade 
de manobra nas suas atribuições, não estando limitado por uma listagem taxativa de atribuições. 
 
Em  termos  de  organização,  as  autarquias  locais  são  compostas  por  uma  Assembleia  Municipal,  a 
Câmara  Municipal  e o Presidente da Câmara. A assembleia é composta pelos presidentes das juntas 
de  freguesias  do  concelho  e  por  membros  eleitos, tendo funções de orientação geral, de fiscalização 
da  Câmara  Municipal  e  de  fixação  de  taxas e impostos, entre outras (Art. 25° LAL), tratando-se do 
órgão  representativo  do  município.  Por  sua  vez,  a  Câmara  Municipal  é  o  órgão executivo colegial, 
do  qual  fazem  parte  o  Presidente  da  Câmara  e  os  vereadores.  A  este  órgão  compete  executar  as 
deliberações  da  assembleia,  gerir  as  finanças  locais  e  tomar  decisões  acerca  de  atos  e  contratos 
administrativos  (Art. 33° LAL). Por fim, o Presidente da Câmara, como refere o artigo 35° da LAL, 
tem  uma  função  presidencial,  presidindo  às  reuniões  da  Câmara  e  representando  o  município, 
cabe-lhe  executar  as  deliberações  da  Câmara,  dirigir  os  serviços  municipais,  entre  outras  funções 
presentes na disposição. 
 
REGIÕES AUTÓNOMAS: 
 
As  Regiões  Autónomas,  por  sua  vez  já  são  alvo  de  um  tipo  de  descentralização  mais  profunda. 
Cada  uma  delas  tem  um  estatuto  político-administrativo próprio e órgãos de governo próprio. São 
ainda dotadas de poder legislativo, o que as torna completamente diferentes das autarquias locais. 
 
Como  refere  o  artigo  225°/  n°1  da  Constituição,  as  características  geográficas  sociais e culturais da 
população  dessas  regiões  levaram  a  uma  maior autonomia do que têm as autarquias, que passa pela 
descentralização  administrativa  e  pela  descentralização  política.  Existe  um  forte  limite  a  esta  larga 
autonomia  concedida,  nomeadamente  o  respeito  pela  integridade  da  soberania  do  Estado 
português e a obediência à Constituição (Art. 225°/ n°3 C.R.P.). 

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O  sistema  de  governo  presente  nas  R.A.  é  composto  pela  Assembleia  Legislativa,  o  Governo 
Regional  e  o Representante da República. A Assembleia Legislativa é eleita de modo semelhante ao 
da  Assembleia da República, mas apenas com os residentes dos respectivos arquipélagos (Art. 231°/ 
n°2  C.R.P.).  Compete  a  esta  elaborar  e  apresentar  projetos  de  decretos  legislativos  regionais.  O 
Governo  Regional  é  nomeado  pelo  Representante  da República, responsável perante a assembleia. 
Cabe  a  este  executar  os  atos  legislativos  no  território  da  região.  Por  fim,  o  Representante  da 
República  é  nomeado  e  exonerado  pelo Presidente da República, ouvido o Governo (Art. 230°/1), 
e exerce apenas competências políticas, não tendo quaisquer competências administrativas. 
 
Em  relação  às  suas  relações  com  o  Estado,  as  R.A.  não  estão  sujeitas  à  tutela  das  autarquias  locais. 
No  entanto,  são  controladas  através  das  leis  que  emanam  dos  órgãos de soberania, nomeadamente 
em  matérias  de  reserva,  que  são  de  aplicação  nacional e vedadas às regiões autónomas, sendo assim, 
obrigatórias para os arquipélagos. 

8. Delegação de Poderes 

A delegação de poderes está integrada na problemática da concentração ou desconcentração dos 


sistemas de organização administrativa. Esta concentração ou desconcentração tem como pano de 
fundo a organização vertical dos serviços públicos, consistindo basicamente na ausência ou 
existência de distribuição vertical de competência entre os diversos graus ou escalões de hierarquia 
(Freitas do Amaral). 
 
Do  artigo  267º  da  Constituição  da  República  Portuguesa,  pode-se  aferir  a  estrutura  da  nossa 
Administração, admitindo tanto a descentralização e a desconcentração, traduzindo-se isto no facto 
de  que  à  multiplicidade  de  pessoas  coletivas  públicas  existentes  (descentralização)  acrescenta-se, 
dentro  de  cada  uma  delas,  a  repartição  de  competências  entre  órgãos  superiores  e  subalternos 
(conforme ​Freitas do Amaral, Marcelo Rebelo de Sousa e André Salgado Matos​). 
 
Freitas  do  Amaral  propõe  várias  “espécies  de  desconcentração”  e, tal como ​Marcelo Rebelo de 
Sousa  e  André  Salgado  Matos​,  integra  na  desconcentração  derivada  a  delegação  de  poderes.  A 
desconcentração  derivada  carece  de  permissão  legal  expressa  e  só  se  efetiva  mediante  um  ato 
especifico praticado para o efeito pelo superior. 
 
A  delegação  de  poderes  vem  regulada  no  capítulo  IV,  parte  II  do  Código  do  Procedimento 
Administrativo  (CPA),  estando  a  noção  de  delegação  de  poderes  patente  no artigo 44º do mesmo. 
Assim,  delegação  de  poderes  é  o  ato  pelo qual um órgão Administrativo normalmente competente 
para  decidir  em  determinada  matéria,  permite,  de  acordo  com  a  lei,  que  outro  órgão  ou  agente 
pratique os atos administrativos relativos a essa mesma matéria. 

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Os requisitos da delegação estão patentes no art. 47º, sendo eles: 
 
- Especificação dos poderes delegados ou dos atos que o delegado pode praticar; 
- Existência  de  norma  atributiva,  tanto  do  poder  do  delegado  como  a  que  habilita o órgão a 
delegar; 
- Sujeição à publicação nos termos do art. 159º do CPA 
- Este  art.  47º  tem,  sempre,  de  ser  aplicado  conforme  com  o  art.  111º/2  da  CRP  (remissão 
para  os  dois  primeiros  requisitos  especificados),  só  pode  haver  delegação  de  poderes  com 
base na lei. 
 
Freitas  do  Amaral  refere  ainda  que  é  necessário,  para  que  possa  haver  delegação  de  poderes,  a 
existência  de  dois  órgãos  (porque  a  delegação  pode  ser  entre  órgãos  da  mesma  pessoa  coletiva 
pública ou, até mesmo, entre órgãos de diferentes pcp’s) ou a existência de um órgão (o delegante) e 
um agente (o delegado). 
 
Figuras  afins  da  delegação  de  poderes  (que  apesar  de  próximas,  não  se  devem  confundir  com  a 
mesma): 
 
- Transferência  legal  de  competências  ​(forma  de  desconcentração  originária,  ou  seja, 
decorre imediatamente da lei); 
- Concessão  (difere  da  delegação  de  poderes  na  medida  em  que  o  destinatário  é  um  ente 
privado); 
- Delegação  de  serviços  públicos  ​(transfere  para  entidades  particulares  a  gestão  de  um 
serviço público); 
- Substituição  (lei  permite  que  uma  entidade  exerça  poderes  ou  pratique  atos  que 
pertencem à esfera jurídica própria de outra entidade); 
- Suplência  (órgão  administrativo  não  pode  exercer  o  seu  cargo,  sendo  as  duas  funções 
asseguradas por um suplente); 
- Delegação  de  assinatura  (por  vezes  a  lei  permite  que  um  certo  órgão  administrativo 
incumba  um  subalterno  a  assinar  correspondência  em  seu  nome,  mantendo  o  superior  a 
capacidade decisória); 
- Delegação  tácita  (lei  determina  que determinada competência seja delegada e, enquanto o 
órgão superior nada disser, essa competência está, de facto, delegada). 
 
Freitas  do  Amaral  fala  em  habilitação  genérica (que está presente no art. 44º/2 CPA, falando-se, 
aqui,  na  delegação  de  alguns  poderes)  e  habilitação  específica,  estando  ambos  os  casos  limitados 
pelo  art.  45º  que  tem  por  epígrafe  “Poderes  indelegáveis”.  Ainda  neste  tópico,  o  art.44º  /3 

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(habilitação  específica)  fala  em  atos  de  administração  ordinária,  sendo  estes  todos  os  atos 
administrativos  não  definitivos  bem como os atos definitivos vinculados ou cuja discricionariedade 
não tenha alcance na orientação da entidade pública a que o órgão em questão pertencer. 
 
Espécies de delegação: 
 
- Ampla  ou  restrita  (conforme  se  trate  da  delegação  de  grande  parte  dos  seus  poderes  ou 
apenas  uma  pequena  parcela  deles,  sendo  que,  pelo  art.45º/a,  nunca  se  pode  tratar  da 
delegação global dos poderes do órgão); 
- Específica  ou  genérica  (conforme  se trate da delegação de poderes para um ato isolado ou 
uma pluralidade de atos); 
- Delegação  hierárquica  ou  não  hierárquica  (a  segunda  ocorre  quando  o  órgão  delega 
poderes noutro que não depende, hierarquicamente, de si); 
 
Pode  ainda  falar-se  em  delegação  de  primeiro  grau,  por  oposição  a  subdelegação  de  poderes,  mas 
penso  que,  estando  a subdelegação adstrita ao mesmo regime que a delegação, esta (a subdelegação) 
não deve se considerada uma espécie de delegação. 
 
O  regime  jurídico  da  delegação  de  poderes  está,  como  já  foi  referido,  no capítulo IV da parte II do 
CPA,  nos  seus  artigos  44º  e  seguintes.  Neste  capítulo  encontra-se  não  só  a  noção  de  delegação  de 
poderes  como  toda as necessárias disposições para a aplicação desta figura jurídica. Por exemplo, no 
art.  47º  têm-se  os  requisitos  do  ato  de  delegação  e  no  art.  48º  a  obrigatoriedade  de  menção  da 
qualidade  de  delegado,  traduzindo  o  nº2  do  mesmo  artigo  mera  irregularidade.  Nos  últimos  dois 
artigos  do  capítulo  em  questão  (art.  49º  e  50º)  têm-se  enumerados  os  poderes  de  quem  delega 
poderes e as formas de extinção da figura da delegação, respetivamente. 
 
A  natureza  jurídica da delegação de poderes levanta divergência doutrinária, existindo diversas teses 
que a tentam explicar. São elas: 
 
- Tese a alienação​(poderes passam para a esfera de competência do delegado); 
- Tese  da  autorização  (competências  do  delegante  não  são  alienadas  nem  transmitida,  a lei 
da  habilitação  confere  competências  condicionais  ao  delegado,  o  delegante  permite  ao 
delegado o exercício das suas competências); 
- Tese  da  transferência  de  exercício  (tendo  em  conta  que  o  delegante  não  fica  alheio  à 
competência  que  delegou  e  que  a  competência  do  delegado  vem  da  delegação  e  não  da  lei 
de  habilitação,  a  delegação  constitui  a  transferência,  não  da  titularidade  dos  poderes,  mas 
sim a transferência do exercício dos mesmos). 
 

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Esta  última  é  a  tese  defendida  pelo  professor  Freitas  do  Amaral​,  tendo  esta  algumas 
consequências  que  importa  referir.  Primeiramente,  o  delegado  não  pode  requerer  delegação  de 
poderes  em  seu  favor.  A  prática  de  atos  que  não  foram  objeto  de  delegação  resulta  em  vício  de 
competência  e  não  num  simples  vício  de  forma,  sendo  que  quando  o  ato  praticado  fora  da 
delegação  seja  praticado  por  um  agente,  este  é  considerado  inexistente.  Por  sua  vez,  Paulo  Otero 
dirige  algumas  críticas  a  esta  tese,  sendo  de  assinalar que, se toda a competência resulta da lei, não é 
admissível  que  um  órgão  Administrativo  exerça  poderes  que  lhe  são confiados por ato de natureza 
administrativa.  ​Freitas  do  Amaral  contrapõem  remetendo  para  o  princípio  da  legalidade  da 
competência.  Serve  este  exemplo  apenas  para  exemplificar  a  forte  divergência  doutrinária  que  a 
natureza da delegação de poderes origina. 
 
9. Administração Independente 
 
Falar  em  administração  independente  do  Estado  é  falar  de uma realidade completamente diferente 
da  administração  central,  quer  direta  quer  indireta,  e  da  administração  autónoma  do  Estado. 
Dentro  da  doutrina  de  Direito  Administrativo,  são  raros  os  autores  que  teorizam  a  administração 
independente,  talvez  por  ser  uma  realidade  simples  de  compreender  através  das  normas 
constitucionais e através da lei. 
 
A  grande  particularidade  da  administração  independente  é  simples  de  compreender.  Se  olharmos 
para  a  competência  administrativa  do  Governo  presente  no  artigo  199.º  da  CRP,  mais 
concretamente  a  alínea  d),  compreendemos  que  compete  ao  Governo,  no  exercício  de  funções 
administrativas,  exercer  o  poder  de  direção  sobre a administração direta do Estado, exercer poderes 
de  superintendência  e  tutela  (de  legalidade  e  de  mérito)  sobre  a  administração  indireta,  e  exercer 
poderes  de  tutela  (de  legalidade)  sobre  a  administração  autónoma.  O  caráter  de  independência  da 
administração  independente  está  bem  patente  nesta  norma,  uma vez que «a contrario» se entende 
que  nenhum  poder  administrativo  governamental  é  aplicado  às  entidades  independentes.  As 
entidades independentes são realidades alheias à pessoa coletiva Estado. 

Apesar  de  a  Constituição  da  República  Portuguesa  ser  muito  breve  no  que  concerne  a 
administração  independente,  o  seu  único  preceito  relativo  a  entidades  independentes  é  muito 
direto  e  sintético.  Refere  o  nº3  do  artigo  267.º  da  CRP  que  "a  lei  pode  criar  entidades 
administrativas  independentes.".  É  imperativo  que  seja  a  lei  a  criar  tais  entidades  o  que,  por 
conseguinte,  faz  com  que  seja  uma  matéria  que  integra  a  competência  legislativa  genérica  da 
Assembleia  da  República,  através  da  alínea c) do artigo 161.º da CRP. A única ligação ou elemento 
identificador  do  poder  estatal  em  relação  às  entidades  administrativas  que  compõem  a 
administração  independente  é,  precisamente,  o facto de serem criadas unicamente por Lei e, de um 
modo geral, por prosseguirem um interesse público. 
 

46
Segundo  as  anotações  do  Prof.  Gomes  Canotilho  e  do  Prof.  Vital  Moreira  ao  artigo  267.º,  nº 3 da 
CRP,  esclarecem  que  a  independência  das  entidades  administrativas  independentes,  do  ponto  de 
vista  orgânico,  avalia-se  pela  composição,  modo  de  designação  dos  titulares  dos  seus  orgãos, regras 
relativas  ao  mandato  e  regime  de  incompatibilidades  (os  seus  titulares  não  podem  ser  destituídos 
pelo  Governo  antes  de  terminarem  o  mandato).  Já  de  um  ponto  de  vista  funcional,  a 
independência  caracteriza-se  pelo  facto  de  elas  desenvolverem  a  sua  atividade  sem  sujeição  a 
quaisquer  ordens  ou  instruções  e  sem  qualquer  censura  ou  contrato,  por  parte  do  governo  ou  de 
outra autoridade (salvo os Tribunais).  
 
Para  entendermos  bem  o  que  são  estas entidades, é necessário termos presente a Lei nº 67/2013, de 
28  de  agosto  que  aprova a Lei-quadro das entidades administrativas independentes com funções de 
regulação  da  atividade  económica  dos  setores  privado,  público  e  cooperativo.  De  um  modo 
genérico, estas entidades independentes têm o nome de Entidades Reguladoras. 
 
Segundo  o  artigo  3.º,  nº  3  da  Lei  nº  67/2013  (atenção  que  não  é o artigo 3.º do diploma anexado), 
são reconhecidas como entidades reguladoras as seguintes: 
 
Instituto de Seguros de Portugal; 
Comissão de Mercado de Valores Mobiliários; 
Autoridade da Concorrência; 
Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos; 
Autoridade Nacional de Comunicações, redenominado pelo artigo 4.º, nº 3; 
Instituto Nacional de Aviação Civil, redenominado pelo artigo 4.º, nº 3; 
Instituto da Mobilidade e dos Transportes, reestruturado pelo artigo 4.º, nº1; 
Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos; 
Entidade Reguladora da Saúde. 
Há  uma  importante  exceção  no  nº  4  do  artigo  3.º  que  esclarece  que  o  Banco  de  Portugal  e  a 
Entidade  Reguladora  para  a  Comunicação  Social  não  se  regem  pela  Lei-quadro  das  entidades 
reguladoras  uma  vez  que  a  própria  lei  estabelece  que  se  regem  por  legislação própria - artigo 3.º, nº 
4, parte final. 
 
Tendo  agora  presente  a  Lei-quadro  das  Entidades  Reguladoras  (anexo  da  Lei  nº  67/2013),  é 
possível  observar  uma  definição  do  que  é  uma  entidade  reguladora. Nos termos do artigo 3.º, nº 1, 
as  entidades  reguladoras  são  pessoas  coletivas  de  direito  público,  com  natureza  de  entidades 
administrativas  independentes  (artigo  267.º,  nº 3 da CRP) que, possuem atribuições em matéria de 
regulação  da  atividade  económica,  de  defesa dos serviços de interesse geral, de proteção dos direitos 
e  interesses  dos  consumidores  e  de  promoção  e  defesa  da  concorrência.  O  nº  2  do  referido  artigo 

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esclarece  o  âmbito  da  independência  destas  entidades,  que  para  prosseguirem  as  suas  atribuições 
devem dispor de: 
 
- autonomia administrativa e financeira; 
- autonomia de gestão; 
- independência orgânica, funcional e técnica; 
- orgãos, serviços, pessoal e património próprio; 
- poderes  de  regulação,  de  regulamentação,  de  supervisão,  de  fiscalização  e  de  sanção  de 
infrações; 
- proteger os direitos e interesses dos consumidores; 
 
O  artigo  5.º  tem  especial  relevância  pois  esclarece  quais  os  regimes  jurídicos  aplicáveis  a  estas 
entidades  para  que  estas  atuem  dentro  da  legalidade,  uma  vez  que  não  deixam  de  ser  entidades 
administrativas  sob  a  forma  pública  que  estão sujeitas à juridicidade e legalidade (artigo 266.º, nº 2, 
primeira  parte).  Para  além  de  se  regerem  pela  Lei-quadro  em  análise, regem-se ainda pela legislação 
setorial  aplicável  e  pelos  respetivos  estatutos  e  regulamentos  internos  (nº  1  do  artigo  5.º).  O  nº  2 
esclarece  que,  no  âmbito  do  exercício  de  poderes  públicos,  é  ainda  aplicado  a  estas  entidades 
independentes  o  Código  do  Procedimento  Administrativo  (CPA),  e  as  leis  de  contencioso 
administrativo.  Por  fim,  o  nº  3  ainda  refere  que  faz  parte  do  regime  jurídico  destas  entidades  a 
aplicação do: 
 
- regime da contratação pública; 
- regime da responsabilidade civil do Estado; 
- os  deveres  de  informação  decorrentes  do Sistema de Informação da Organização do Estado 
(SIOE); 
- regime de jurisdição e controlo financeiro do Tribunal de Contas; 
- regime de inspeção e auditoria dos serviços do Estado. 
-  
  O  processo  de  criação  e  a  especificidade  da  sua  criação  estão,  respetivamente,  presentes  no  artigo 
6.º  e  7.º  da  Lei-quadro.  Não  obstante  serem  entidades  administrativas  independentes,  todas  elas 
estão  subordinadas  a  um  Ministério  responsável  como  nos  diz  o  artigo  9.º.  Refere  o  nº 1 do artigo 
9.º  que  cada  entidade  reguladora está adstrita a um ministério em cuja lei orgânica deve ser referida. 
A  título  de  exemplo  podemos  observar  a  Lei  Orgânica  do  Ministério  da  Saúde  aprovada  pelo 
Decreto-Lei  nº  124/2011,  de  29  de  dezembro,  que  esclarece  no  seu  artigo  6.º  que  a  Entidade 
Reguladora  da  Saúde  (ERS)  é  a  entidade  administrativa  independete  de supervisão e regulação, no 
âmbito do Ministério da Saúde, regulada pelo Decreto-Lei nº 126/2014, de 22 de agosto.  
 

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O  Título  III  da  Lei-quadro  das  entidades  reguladoras  prevê  o  modo  geral  de  organização,  dos 
serviços  e  da  gestão  das  entidades  reguladoras.  Estas  entidades  devem  ser  organizadas  por  orgãos 
obrigatórios  como  é  o  caso  do  Conselho  de  administração  e  da  Comissão  de  fiscalização  ou  Fiscal 
único (artigo 15.º, nº 1).  
 
O  Capítulo  IV  da  Lei-quadro  dedica-se  aos  poderes  e  procedimentos,  isto  é,  aos  poderes 
administrativos  que  são  conferidos  a  estas  entidades  para  conseguirem  prosseguir  as  suas 
atribuições  da  melhor  forma  possível.  O  artigo  40.º,  nº  1,  esclarece  o  que  compete  às  entidades 
reguladoras  no  exercício  dos  seus poderes de regulação, de supervisão, de fiscalização e de sanção de 
infrações;  o  nº  2  estabelece  os  poderes  de  regulamentação  das  entidades  reguladoras;  o  nº  3 
estabelece os poderes em matéria de inspeção e auditoria, de fiscalização e de aplicação de sanções; e, 
o  nº  4  confere  poderes  de  mediação.  Note-se  que  todos  os  poderes  conferidos  por  lei  às  entidades 
reguladoras  têm  sempre  como  limite  de  atuação  o  previsto  nos  próprios  estatutos  das  entidades 
reguladoras  em  causa,  assim  como  estabelecem  as  partes  iniciais  do  nº  1,  nº  2,  nº  3  e nº 4 do artigo 
40.º. 
 
10. Relações jurídicas administrativas entre a Administração Pública e os particulares 
 
Consagra  o  art.  266º/1  CRP  que  "A  Administração  Pública  visa  a  prossecução  do  interesse 
público,  no  respeito  pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos". Ora, desde logo 
podemos  concluir  que  incumbe  à  Administração  Pública  a  satisfação de necessidades colectivas de 
modo  a  prosseguir  o  interesse  público,  isto  é,  o  interesse  da  comunidade  (o  «bem comum»). Essa 
tarefa  de  prossecução  do  interesse  público  cabe  a  um  conjunto  de  órgãos,  serviços  e  agentes 
públicos devidamente regulado e organizado. 
 
De  um  modo  bastante  consensual,  a  actual  doutrina  administrativa  (neste  sentido, cfr. ​FREITAS 
DO AMARAL, JOÃO CAUPERS e REBELO DE SOUSA / SALGADO DE MATOS​) encara 
«administração pública» como uma expressão polissêmica​, que pode ser apresentada em diversos 
sentidos,  nomeadamente  em  sentido  orgânico,  quando  nos  referimos  à  Administração  Pública 
enquanto  organização  ou  conjunto  de  órgãos,  serviços  e  agentes  públicos;  ou  em sentido material, 
quando  utilizada  em  sentido  de  actividade  ou  de  operações  realizadas  pelos  órgãos,  serviços  e 
agentes públicos com vista à satisfação regular de necessidades colectivas. 
 
Interessa-nos  agora,  porém,  um  terceiro  sentido  do  conceito  de  administração  pública,  que  é  o 
sentido  forma​l:  a  Administração  Pública enquanto poder público. Dizem ​REBELO DE SOUSA 
e  SALGADO  DE  MATOS:  "Na  doutrina  portuguesa, o sentido formal de administração pública 
exprime  usualmente  os  modos  de  actuação  da administração pública em sentido orgânico, quando 
exerce  a  administração  pública  em  sentido  material  e  usa  poderes  que  lhe  dão supremacia sobre os 

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cidadãos".  Ou  seja,  estamos  perante  uma  administração  pública  enquanto  autoridade  e  que,  tal 
como  refere  ​MARCELLO  CAETANO​,  "deixa  de  se  caracterizar  como  função  para  se  afirmar 
como poder".  
 
Assim,  podemos  entender  a  Administração  Pública  enquanto  poder  administrativo:  "sistema  de 
órgãos  do  Estado  e  das  entidades  públicas  menores  que  se  caracteriza  pela  faculdade  de,  com  base 
nas  leis  e  sob  o  controlo  dos  tribunais  competentes,  estabelecer  normas  jurídicas  e  tomar decisões, 
em  termos  obrigatórios  para  os  respetivos  destinatários,  estando-lhe  confiado  o monopólio do uso 
legítimo  da  força  pública  (militar  ou  policial),  a  fim  de  assegurar  a execução coerciva quer das suas 
próprias  normas  e  decisões,  quer  das  normas  e  decisões  dos  outros  poderes  do  Estado  (leis  e 
sentenças)" ( ​FREITAS DO AMARAL​). 
 
- Conceito de relação jurídica administrativa: 
 
O  art.  212º/3  CRP  estatui  que  "Compete  aos  tribunais  administrativos  e  fiscais  o  julgamento  das 
acções  e  recursos  contenciosos  que  tenham  por  objecto  dirimir  os  litígios  emergentes  das  relações 
jurídicas  administrativas  e  fiscais".  Surge-nos,  deste  modo,  o  conceito  de  relação  jurídica 
administrativa como modo de definir o âmbito da justiça administrativa, segundo a Constituição. 
 
Ao  longo  dos  tempos,  tem  havido  uma  evolução  da  doutrina  de  Direito  Administrativo 
relativamente  a  este  conceito.  De  facto,  como  nos  aponta  ​JOÃO  CAUPERS​:  "As  explicações 
tradicionais  do  direito  administrativo  português  não  continham,  em  regra,  qualquer  referência  à 
existência  de  relações  jurídico-administrativas".  Ora,  na  época  do  Estado  Liberal  (séc.  XIX), 
estávamos  perante  um  Estado  mínimo  e  uma  Administração  fundamentalmente  autoritária  e 
agressiva,  sendo  o  particular  considerado  um  "objecto"  do  poder  soberano,  destituído  de  direitos 
subjectivos.  A  Administração  Pública  modificava  unilateralmente  as  esferas  dos  particulares, 
sujeitos  à  sua  actuação,  através  do  acto  administrativo,  que  era  considerado  a  figura  central  do 
Direito Administrativo nesta época. 
 
Porém,  ao  longo  do  século  XX,  a  Administração  Pública evolui de uma Administração autoritária 
para  uma  Administração  prestadora  de  serviços  aos  particulares.  A  actual  Constituição  da 
República  Portuguesa  afasta  ainda  a  hipótese  de  o  indivíduo,  enquanto  sujeito  de  Direito,  ser 
tratado  como  mero  objecto  dos  poderes  públicos;  este  torna-se  verdadeira  parte  do  procedimento 
administrativo,  com  direitos  e  garantias  face  à  Administração  e  aos  restantes  poderes  públicos, 
como  consagrado  nos  arts.  20º/1,  48º  e  268º  CRP.  Deste  modo,  face  aos  inúmeros  problemas  do 
Direito  Administrativo  moderno,  a  dogmática  do  acto  administrativo  deixa  de  ser  suficiente  e  a 
base fundamental da dogmática deste ramo do Direito passa a ser a relação jurídica administrativa. 
 

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Como  refere  ​VASCO  PEREIRA  DA  SILVA​:  "A  relação  jurídica  apresenta,  assim,  a  vantagem 
dogmática  de  possuir  um  âmbito  de  aplicação  muito maior do que o do acto administrativo, capaz 
de  englobar  todas  as  decisões  unilaterais  (individuais  e  concretas)  da Administração - e permitindo 
ainda  o  enquadramento  teórico  dos  direitos  e  deveres  dos  sujeitos  jurídicos,  anteriores  ou 
posteriores  a  esses  actos  -,  assim  como  de  abranger  também  todas  as  demais  situações  em  que 
estejam  estabelecidas  ligações  jurídicas  entre  as  autoridades  administrativas  e  os  particulares".  Este 
autor  defende  ainda  esta  dogmática  da  relação  jurídica  visto  que,  de  acordo  com  esta,  "o  privado 
encontra-se  perante  a  Administração,  não  como  objecto  de  um  poder administrativo - um simples 
"administrado"  -,  mas  como  um  autónomo  sujeito  jurídico,  que  ocupa  no  mundo  do  direito  uma 
posição igual à Administração". 
 
No  mesmo  sentido  de  JOÃO  CAUPERS​,  não  concordamos  inteiramente  com  a afirmação supra 
transcrita,  isto  porque  a  Administração  Pública,  no  seu  sentido  formal,  consiste  num  poder 
público,  dotado  de  autoridade  e,  como  tal,  não  podemos  considerar  que  esta  esteja,  de  um  modo 
geral,  numa  situação  de paridade com os cidadãos. Tal não significa, porém, que não possam existir 
relações  tendencialmente  paritárias  entre  Administração Pública e particulares, dado o aumento de 
direitos dos cidadãos face à Administração e de deveres desta para com os privados.  
 
Relativamente à definição do conceito de relação jurídica administrativa, existem várias na doutrina 
administrativa  portuguesa.  Para  ​FREITAS  DO  AMARAL​,  trata-se  de  "toda  a  relação  entre 
sujeitos  de  direito,  públicos  ou  privados,  que  atuem  no  exercício  de  poderes  ou  deveres  públicos, 
conferidos  por  normas de direito administrativo". Já ​VIEIRA DE ANDRADE​, por sua vez, segue 
um  critério  estatutário,  definindo  a  relação  jurídica  de  Direito  Administrativo  como  uma  relação 
jurídica  de  direito  público,  na  qual  "um  dos  sujeitos,  pelo  menos,  seja  uma  entidade  pública  ou 
uma  entidade  particular  no  exercício  de  um  poder  público  ou  de  um  dever  público,  conferido  ou 
imposto com vista à realização de um interesse público legalmente definido". 
 
O Poder Administrativo 
 
Tal  como  foi  supra  mencionado,  a  Administração  Pública  pode  ser  entendida  como  poder 
administrativo,  isto  é,  como  um  sistema  de  órgãos  e  de  agentes  públicos  que  atuam  com  poderes 
exorbitantes  ou  de  autoridade,  criando  situações  jurídicas  passivas  ou  de  desvantagem  do  lado dos 
particulares,  como  deveres,  sujeições  ou  ônus  (​Exemplo:  a  Administração  unilateralmente 
determina o montante de imposto devido por cada contribuinte).  
 
  
 

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É,  no  entanto, importante referir que este poder administrativo não é arbitrário, pois é pautado por 
diversos  princípios  que  deve  seguir  ao  satisfazer  as  necessidades  da  colectividade.  Por  força  do  art. 
266º/2  CRP,  "Os  órgãos  e  agentes  estão  subordinados  à  Constituição  e  à  lei  e  devem  actuar,  no 
exercício  das  suas  funções,  com  respeito  pelos  princípios  da  igualdade,  da  proporcionalidade,  da 
justiça,  da  imparcialidade  e  da  boa  fé".  O  nº1  do  mesmo  artigo  refere  ainda  o  princípio  da 
prossecução  do  interesse  público,  o  qual  constitui,  segundo  ​JOÃO  CAUPERS​,  "o  verdadeiro  fio 
condutor da actividade administrativa pública". 
 
Assim,  concluímos  que  a  Administração  Pública  dispõe  de  poderes  públicos  de  índole  geral,  que 
são  verdadeiros  poderes-deveres ou poderes funcionais (neste sentido, ​VIEIRA DE ANDRADE​), 
pois  são  de  exercício  vinculado  e  imprescritíveis,  dado  protegerem  interesses  de  terceiros  ou,  neste 
caso,  da  coletividade  -  interesse  público.  Mais  ainda,  tratam-se  de  poderes  que  devem obediência à 
lei  -  princípio  da  legalidade  -  e,  portanto,  a  Administração  Pública  apenas  pode  actuar  dentro  dos 
limites  da  lei, não obstante a possibilidade de o legislador conferir alguma margem de livre actuação 
e de decisão, isto é, de discricionariedade à Administração. 
 
De  qualquer  modo,  são  diversas  as  manifestações  do poder administrativo, sendo que actualmente 
FREITAS  DO  AMARAL  ​aponta  como  principais cinco manifestações: o poder regulamentar, o 
poder  de  decisão  unilateral,  o  poder  de  execução  coerciva,  o  conjunto  de  poderes  especiais  do 
contraente  público  nos contratos administrativos e o conjunto de poderes especiais das autoridades 
de polícia. 
 
O Poder Regulamentar 
 
No  nosso  sistema  administrativo,  a  Administração  Pública  tem  faculdade  regulamentária,  ou  seja, 
poder  de  fazer regulamentos, por força dos arts. 199º-c), 227º/1-d) e 241º CRP. Tratando-se de um 
poder  público,  a  Administração  "goza  da  prerrogativa  de  definir  unilateral  e  previamente,  em 
termos  genéricos  e  abstratos,  em  que  sentido  é  que  vai  interpretar  e  aplicar  as  leis  em  vigor"  ( 
FREITAS DO AMARAL​). 
 
Os  regulamentos  têm  eficácia  externa  vinculativa  e,  como  tal,  constituem  fontes  de  direito.  Em 
todo  o  caso,  como  dizem  ​REBELO  DE  SOUSA  e  SALGADO  DE  MATOS​,  "não  incorporam 
decisões  essenciais  para  a  colectividade  política,  o  que  os  aparta  da  lei;  e  estão  sujeitos ao princípio 
da  legalidade,  o  que  significa  que  têm  que  se  fundamentar  numa  lei  habilitante  e  que  têm  como 
limites a Constituição, o direito internacional e comunitário e a lei, que não podem contrariar".  
 
 
 

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- O
​ Poder de Decisão Unilateral 
 
Nesta  situação,  a  Administração  tem  o  poder  de  definir  unilateralmente  (isto  é,  por  exclusiva 
autoridade  sua  e  sem  necessidade  de  autorização  ou  acordo  com o interessado) o direito aplicável a 
um  caso  concreto,  sendo  essa  definição  unilateral  obrigatória  para  os  particulares.  Como  refere 
MARCELLO  CAETANO​,  a  Administração  Pública  tem  "a  possibilidade  de  traçar  a  sua  própria 
conduta ou a conduta alheia independentemente do recurso aos tribunais".  
 
Contudo,  ​JOÃO  CAUPERS​,  seguindo  a  perspectiva  de  ​PEDRO  MACHETE​,  considera  que  a 
Administração  Pública  de  hoje  é  cada  vez  menos  caracterizada  pela  decisão unilateral e autoritária, 
substituindo-se  pela  decisão  negociada  com  os  cidadãos  afectados  (cfr.  art.  100º  CPA,  relativo  à 
possibilidade  de  audiência  dos interessados). Trata-se, portanto, de uma administração participada, 
concertada ou contratualizada, segundo estes autores. 
 
FREITAS  DO  AMARAL​,  por  sua  vez,  não  nega  a  existência  de  garantias  administrativas 
impugnatórias  dos  particulares  face  à  Administração  (arts.  121º  e ss., 184º e ss. CPA). Porém, estas 
garantias  só  são  exercidas depois da decisão unilateral já existir, não cabendo à Administração ter de 
ir  a  tribunal  para  legitimar  a  sua  decisão;  é,  pois,  ao  particular  que  incumbe  o  ónus de impugnar a 
decisão. 
 
- O Poder de Execução Coerciva 
 
Originalmente  designado  privilégio  de  execução  prévia  por  ​MARCELLO  CAETANO​,  consiste 
no  "poder  conferido  à  Administração  Pública  de,  uma  vez  definido  o  direito  aplicável  ao  caso, 
impor  as  consequências  de  tal  definição  aos  seus  destinatários,  mesmo  contra  a  oposição  destes  e 
sem  a  prévia  intervenção  de  um  tribunal  (execução  coerciva  por  via  administrativa)"  (  ​JOÃO 
CAUPERS​). 
  
A  expressão  «privilégio  de  execução  prévia»  tem  sido criticada por alguns autores, nomeadamente 
por  ​VASCO  PEREIRA  DA  SILV​A  e  por  ​FREITAS  DO  AMARAL​,  sendo  que  este  último 
prefere  adotar  o  termo  poder  de  execução  coerciva,  visto  que  se  trata  de  um  poder  e  não  de  um 
«privilégio», por ser atribuído legalmente a quase todas as entidades públicas. 
  
A  Administração  Pública  decide  unilateralmente  o  direito  aplicável  a  um  caso  concreto  e,  a  partir 
desse  momento,  pode  exigir  do  particular  que  cumpra  o  dever  ou  encargo  que  lhe foi eficazmente 
definido,  tendo o direito de executar coletivamente (sem recurso prévio aos tribunais) a decisão que 
ela  própria  efectuou  em  caso  de  incumprimento  da  parte  do  particular.  Não  obstante,  a 

53
Administração  só  pode  exercer  este  poder  "segundo  as  formas e termos expressamente previstos na 
lei", à luz do art. 176º/1 CPA - princípio da tipificação das medidas de execução. 
- Conjunto  de  Poderes  Especiais  do  Contraente  Público  nos  Contratos 
Administrativos 
  
Para  SÉRVULO CORREIA​, o contrato administrativo consiste num "processo próprio de agir da 
Administração  que  cria,  modifica  ou  extingue  relações  jurídicas,  disciplinadas  em  termos 
específicos  do  sujeito  administrativo,  entre  pessoas  colectivas  da  Administração  ou  entre  a 
Administração  e  os  particulares".  O  artigo  1º/6  CCP  define  o  contrato  administrativo  como 
"acordo  de  vontades,  independentemente  da  sua  forma ou designação, celebrado entre contraentes 
públicos e co-contratantes ou somente entre contraentes públicos". 
  
De  facto,  existem  situações  em que não é conveniente a actuação da Administração Pública por via 
do  acto  administrativo,  enquanto decisão unilateral e autoritária. Por vezes, é necessário um acordo 
entre  os  interessados  e,  assim,  a  Administração  exerce  o  seu  poder  administrativo  no  âmbito  da 
figura do contrato. 
  
O  contrato  administrativo  apresenta,  no  entanto,  um  regime  diferente  dos  contratos  em  direito 
privado.  Em  primeiro  lugar,  a  Administração  Pública,  de  modo  a  prosseguir  o  interesse  público, 
dispõe  de  direitos  e  poderes  que  as  partes  em  contratos  privados  não  dispõem  (exemplo:  poder de 
rescindir  o  contrato  por  conveniência do interesse público). No entanto, a Administração também 
fica  sujeita  a  restrições  e  deveres  especiais  não  existentes  nos  contratos  entre  privados  (exemplo: 
dever  de  fazer  preceder  a  celebração  do  contrato  de  um  procedimento  administrativo  tendente  à 
escolha do co-contratante). 
  
- Conjunto dos Poderes Especiais das Autoridades de Polícia 
  
As  autoridades  policiais  (PSP,  GNR,  SEF,  ASAE,  etc.)  têm  como  principais  funções  a  defesa  da 
legalidade  democrática,  manter  a  ordem  pública,  assegurar  o  normal  exercício  dos  direitos 
fundamentais  dos  cidadãos  e  proceder  à  prevenção  e  investigação  criminal,  como  consagram  os 
arts.  199º-f),  219º/1  e  272º  CRP.  Segundo  ​JOÃO  RAPOSO​,  estes  poderes  policiais,  em  algumas 
circunstâncias,  "compreendem  a  coacção  directa  (isto  é,  o  emprego  da  força  física)  contra  os 
prevaricadores". 
  
Tratam-se,  segundo  FREITAS  DO  AMARAL,  da  "demonstração  mais  evidente,  mais  forte  e 
mais  perigosa  de  que  a  Administração  é,  na  realidade,  um  verdadeiro  Poder".  Isto  porque  os 
poderes de polícia são, em primeiro lugar, de natureza unilateral, insusceptíveis de negociação ou de 
compromisso.  Além  disso,  muitas  vezes,  o  exercício  destes  poderes  não  está  sujeito  a  regras 

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procedimentais  dada  a  urgência  do  seu  exercício  e  à  natureza  humanamente  exigente  das 
actividades  e  operações  realizadas  e,  portanto,  são  também  poderes  insusceptíveis  de  serem 
concedidos a particulares.  
  
Garantias Administrativas dos Particulares: 
 
O  Direito  Administrativo  faculta  aos  particulares  meios  jurídicos  de  defesa  contra  abusos  da 
Administração  Pública,  ou  seja,  garantias.  Dentro  das  garantias,  destacam-se  as  garantias 
administrativas,  que  se  efetivam  através  da  actuação  e  da  decisão  dos  órgãos  da  Administração 
Pública.  A  ideia  subjacente  é  a  de,  existindo  certos  controlos  criados  por  lei  para  defesa  da 
legalidade  e  da  boa  administração,  a  lei  permitir  que  esses controlos se coloquem simultaneamente 
ao serviço dos direitos subjectivos ou dos interesses legítimos dos particulares.  
 
Para  além  destas,  existem  garantias  contenciosas  ou  de  contencioso  administrativo,  que  consistem 
em  garantias  dos  particulares  que  se  efetivam  através  dos  tribunais.  Este  tipo  de  garantias  não  será 
alvo  de  análise  no  presente  trabalho  dada  a  ampla  e  diversificada  lista  de  espécies  de  espécies  de 
contencioso  que  existem  em  consequência  de  duas  reformas  importantes  do  contencioso 
administrativo, operadas em 2002-2004 (​ FREITAS DO AMARAL​). 
 
- Garantias petitórias 
 
As  garantias  petitórias  têm  por  base  um  pedido,  não  pressupondo  a  prévia  prática  de  um  acto 
administrativo.  Teremos  em  consideração  cinco  tipos  de  garantias  de  tipo  petitório, 
nomeadamente: 
 
- direito  de  petição  -  faculdade  de  solicitar  aos  órgãos  da  Administração  Pública 
providências  que  se  consideram  necessárias,  como  tomada  de  decisões  ou  prestação  de 
informações  (exemplo:  direito  de  os  cidadãos  serem  esclarecidos  sobre  actos  do  Estado  e 
demais entidades públicas - art. 48º/2 CRP);  
 
- direito  de  representação  ​-  faculdade  de  alertar  um  órgão  da  Administração  Pública 
responsável  por  uma  determinada  decisão  administrativa  para  as  consequências  prováveis 
da  mesma  (exemplo:  direito  que  funcionários  podem  exercer  quando  duvidam  da 
autenticidade de uma ordem dos seus superiores hierárquicos); 
  
- direito  de  denúncia  -  faculdade  de  chamar  a  atenção  de  um  órgão  da  Administração 
Pública  para  um  facto  ou  situação  que  esta  tenha  a  obrigação  de  averiguar  (exemplo: 

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quando  se  tem  conhecimento  de  um  crime  e  se  faz  a  respectiva  denúncia  à  PJ  ou  ao 
Ministério Público); 
- direito  de  queixa  -  faculdade  de  denunciar  o  comportamento  de  um  funcionário  ou 
agente  da  Administração  Pública,  com  o  objectivo  que  se  proceda  ao  apuramento  da 
responsabilidade  disciplinar  deste  (exemplo:  queixa  de  um  funcionário  público, 
desencadeando-se um processo disciplinar); 
  
- direito  de  oposição  administrativa  -  faculdade  de  contestar  decisões  que  um  órgão  da 
Administração  Pública  projecta  tomar,  seja  por  sua  iniciativa,  seja  dando  satisfação  a 
pedidos  que  lhe  tenham  sido dirigidos por particulares (exemplo: direito de certas pessoas e 
entidades  deduzirem  oposição  a  um  projecto  da  Administração  de  construção  numa  dada 
área). 
  
Garantias impugnatórias: 
 
Diferentemente  das  garantias  petitórias,  as  garantias  impugnatórias  pressupõem  sempre  um  acto 
administrativo  prévio  que  se  pretende  atacar  com  certos  fundamentos,  visando  a  sua  revogação, 
anulação  administrativa  ou  modificação  (art.  184º CPA). Existem quatro tipos de garantias de tipo 
impugnatório (cfr. arts. 191º a 199º CPA): 
 
- reclamação  ​-  pedido  de  reapreciação  do  acto  administrativo  dirigido  ao  seu  autor  (art. 
191º/1 CPA); 
- recurso  hierárquico  ​-  pedido  de  reapreciação  do  acto  administrativo  dirigido  ao superior 
hierárquico do seu autor (art. 193º/1 CPA); 
- recurso  hierárquico  impróprio  -  pedido  de  reapreciação  de  um  acto  administrativo 
dirigido  a  um  órgão  da  mesma  entidade  pública  a  que pertence o autor do acto recorrido e 
que exerce sobre este um poder de supervisão (art. 199º/1, alíneas a) e b), CPA); 
- recurso  tutelar  -  pedido  de  reapreciação  de  um  acto  administrativo  praticado  por  um 
órgão  de  uma  entidade  pública  dirigido  a  um  órgão  de  outra  entidade  pública,  que  exerce 
sobre aquela um poder de superintendência ou de tutela (art. 199º/1, alínea c), CPA). 
  
A queixa ao «Provedor de Justiça» 
 
A  figura  do  Provedor  de  Justiça  surgiu  na  nossa  ordem  jurídica  após  o  25  de  Abril  de  1974. 
Consagra  o  art.  23º/1  CRP:  "Os  cidadãos  podem  apresentar  queixas  por  acções  ou  omissões  dos 
poderes  públicos  ao  Provedor de Justiça, que as apreciará sem poder decisório, dirigindo aos órgãos 
competentes  as  recomendações  necessárias  para  prevenir  e  reparar  injustiças".  O  nº3  do  mesmo 
artigo qualifica-o ainda como órgão independente. 

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A  característica  mais  relevante da sua intervenção é a falta de poder decisório: o Provedor de Justiça 
não  dispõe  de  competência  para  revogar  nem  para  modificar  actos  administrativos  (art.  22º/1  da 
Lei  nº  9/91),  nem  pode substituir-se às autoridades competentes para praticar em vez delas os actos 
que considere legalmente devidos. 
 
Como  observa  ​JOÃO  CAUPERS​,  "a  «grande  arma»  do  Provedor  de  Justiça  é  a  persuasão".  Este 
estuda  cada  caso  concreto  e,  se  entender  que  o  particular  tem  razão  na  queixa,  dirige 
recomendações  às  autoridades  competentes.  Pode  ainda,  segundo  ​FREITAS  DO  AMARAL​, 
usando  a  teoria  dos  poderes  implícitos,  dialogar  com  as  autoridades  postas  em  causa  e 
«pressioná-las» para que cumpram a lei ou que corrijam os seus erros ou omissões. 
 
A  grande  vantagem  do  Provedor  de  Justiça  é  tratar-se  de um órgão do Estado com ​auctoritas e que 
goza  de  grande  prestígio  e  independência  que  fazem  com  que  a  Administração  Pública  tenda  a 
seguir  as  suas  recomendações.  Trata-se  de  um  órgão  da  administração  central  do  Estado  com 
caráter de órgão independente ( F
​ REITAS DO AMARAL​). 
 
11. Reconhecimento dos direitos subjetivos dos particulares perante a Administração 
 
O reconhecimento dos direitos subjetivos dos particulares perante a Administração: 
 
O direito subjetivo – construção no direito civil: 
 
O  direito  subjetivo  é  um  conceito  que  começa  por  ser  discutido  no  coração  do  direito  privado. O 
Prof.  António  Menezes  Cordeiro ​começa por abordar este conceito como uma situação jurídica 
compreensiva  que  reflete  os  valores,  as  opções  ideológicas  e  os  fundamentos histórico-culturais do 
próprio Direito. 
 
Savigny  começou  por  construir  o  direito  subjetivo  como  um  poder  da  vontade  reconhecido  ao 
sujeito  titular  do  direito,  neste  sentido  a  vontade  era  o  fator  central  para a existência de um direito 
subjetivo.  Esta  construção  foi  da  maior  importância,  Savigny  fez  emergir  um  vetor 
significativo-ideológico  que  vem  proteger as conceções liberais e favorecer esta dimensão ideológica 
do Direito. 
Posteriormente,  ​Jhering  vem  realizar  uma  construção  do  direito  subjetivo  como  um  rol  de 
expedientes  técnicos,  retirando  ao  direito subjetivo a sua dimensão ideológica, para dar lugar a uma 
construção técnica do conceito. 

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A  crítica  de  ​Jhering  a  Savigny  é  certeira,  o  autor  sublinha  que  há  direitos  subjetivos 
independentemente  da  vontade  dos  sujeitos  (menores  e  os  dementes),  todavia,  a  retirada  da 
dimensão  significativo-ideológica  não  é  positiva  para  uma  construção  do  direito  subjetivo,  e  terá 
repercussões no domínio das relações jurídico-administrativas. 
 
É  conhecida  ainda  a  terceira  via  de  Regelsberger,  todavia,  como  sublinha  o  prof.  ​Menezes 
Cordeiro​,  a  sua  construção  é  uma  síntese  das  teses  de  Savigny  e  Jhering​, não existindo um salto 
qualitativo. Neste sentido o autor sujeita-se às críticas feitas tanto a S
​ avigny,​como a ​Jhering. 
 
Quanto  à  construção  do  conceito,  são  ainda  conhecidas  as  teses  negativistas,  protecionistas  e 
neo-empíricas. 
 
Definindo  muito  resumidamente  cada  uma  destas  teses,  sabemos  que  as  teses  negativistas  tentam 
proscrever  os  direitos  subjetivos,  substituindo-os  por  outras  figuras.  Em  segundo  lugar  as  teses 
protecionistas  reduzem  o  direito  subjetivo  à  tutela  proporcionada  pelo  direito.  E  por  último,  as 
teses neo-empíricas pretendem reconhecer a impossibilidade de uma definição capaz do conceito de 
direito subjetivo, procedendo apenas à descrição das figuras que são suscetíveis de o integrar. 
 
Estas  ditas  escolas  externas,  todavia,  ignoram,  mais  uma  vez,  a  autonomia  ôntica  do  direito 
subjetivo,  ignoram  a  sua  existencialidade  como  fenómeno  cultural  sedimentado  pela história, bem 
como o seu significado ideológico. 
 
  
Por  fim,  a  escola  jurídico  formal,  seguida  pelo  ​Prof.  António  Menezes  Cordeiro  realiza  uma 
síntese precisa e mais ampla do conceito de direito subjetivo. 
 
Esta  escola  enquadra  o  direito  subjetivo  como  um  conceito  que  não  se  pode  resumir  a  um  mero 
expediente  técnico,  em  seu  lugar,  este  é  preenchido  por  um  esforço  intelectual  de  pensadores 
jusracionalistas  e  liberais  que  deixaram  marcas  permanentes  na  nossa  cultura  jurídica.  Neste 
sentido, o direito subjetivo implica valorações fundamentais do sistema. 
 
O  direito  subjetivo,  nesta  corrente,  assume  um  peso  significativo-ideológico  que  lhe  é  conferido 
pela  história,  sendo  um  fator  central  para  a  sua  vitalidade  no  seio  do  Direito.  O  direito  subjetivo 
será  a  liberdade  concreta  de  desfrutar de vantagens precisas, relacionadas com a afetação de bens na 
disponibilidade  do  sujeito, todavia, independentemente de todas as ponderações e dimensões que o 
conceito possa ter, este estará sempre subordinado ao direito objetivo. 
 

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Com  base  em  todas  estas  dimensões  do  conceito,  a  definição  seguida  para  direito  subjetivo  que  é 
maioritariamente  reconhecida  é  a  do  ​Prof.  António  Menezes  Cordeiro​,  neste  sentido,  o  direito 
subjetivo  será  uma  permissão  normativa  específica  de  aproveitamento  de  um  bem,  refletindo  não 
só  o  seu  pendor  técnico,  como  as  suas  caraterísticas  significativo-ideológicas,  fruto  da  história e da 
cultura do Direito. 
 
  O  direito  subjetivo  perante  a  Administração  –  a  rejeição  do  conceito  em  face  da 
Administração: 
 
Estamos  já  cientes  da  evolução  que se deu no que toca ao Direito administrativo, desde a revolução 
francesa  e  o  seu  “pecado  original”  no  que  toca  ao  anúncio  do  princípio  da  separação  de  poderes 
que,  todavia,  choca  com  a  realidade  de  um  contencioso  administrativo  doméstico,  em  que  a 
Administração julga a sua própria atuação e não se submete à justiça. 
 
Mas  onde  entra  o  direito  subjetivo  quando  falamos  nos modelos de Administração liberal em que, 
por  um  lado,  falamos  no  anúncio  do  reconhecimento  de  direitos,  liberdades  e  garantias  básicas de 
cada  cidadão mas, por outro lado assistimos a uma Administração que, nas palavras do prof. Paulo 
Otero,​é mais absoluta que a administração do Estado absoluto? 
 
A  promiscuidade  entre  Administração  e  justiça  é  de  facto  o  pecado  original  do  contencioso 
administrativo  sendo  igualmente  uma  importação  direta  do  Antigo  regime,  no  entanto  no  meio 
destas considerações temos que inserir o conceito de direito subjetivo. 
 
Neste  contexto,  antes  demais,  temos  que  realçar  que  a  crença  dos  liberais  na  lei  conduziu  a  uma 
desvalorização  do  direito  subjetivo  para  a  dogmática  jurídico-administrativa  do  Estado  de  Direito. 
Neste  sentido,  Henke  ​determinava  que  todos  os  direitos  subjetivos  materialmente determinados e 
pessoais entre o Estado e o cidadão tinham de desaparecer. 
 
O  direito  subjetivo  na  época  liberal  só  poderia  ser  entendido no espaço de relação dos particulares. 
A  existência  de  um  direito  que  fosse  oponível  à  Administração  não  era  concebível  e  isto  é  uma 
orientação  que  serve  para  a  Administração  do  Antigo  regime,  bem  como para a Administração do 
Estado liberal. 
 
Otto  Mayer  a  certa  altura  escreveu  sobre  a  figura  dos  direitos  dos  particulares  face  à 
Administração,  o  autor  entende  que  seria  impensável  que  a  Administração  pública  que  realiza  o 
interesse público tenha que respeitar os interesses dos particulares. 
 

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Apesar  da  rejeição  de  direitos  oponíveis  à  Administração,  ​Otto  Mayer  constrói  uma  noção  de 
direito  públicos  individuais,  sendo  uma  figura  próxima  dos  direitos  subjetivos,  é  um  direito  que  é 
conferido ao indivíduo pelas instituições do poder público. 
 
Otto  Mayer  rejeita  a  existência  de  um  direito  dos  particulares  em  face  do  Estado,  porque  é  o 
Estado  o  detentor  de  todos  os  poderes,  neste  sentido,  o  Estado  concede  aos  particulares  os  seus 
direitos subjetivos até onde este entender que existem.  
 
A  construção  de  Otto  Mayer assenta no facto de que o Estado apenas reconhece direitos no plano 
da liberdade natural, e nunca no plano da liberdade em face do Estado. 
 
Na  ótica  de  Otto  Mayer  não  é  possível  reconhecer  os  direitos  subjetivos  como  poderes  do 
particular,  entende  antes  como  um  poder  que  por  natureza  não  pertence  ao  particular,  sendo 
apenas  um  derivado  do  Estado,  ou  seja,  sem  concessão  do  Estado  o  particular  não  tem  direitos 
subjetivos. Assim sendo, entre Estado e particular há uma constante relação jurídica de sujeição. 
 
O  Prof.  Marcello  Caetano​,  como  sabemos,  é  o  grande  ideólogo  do  direito  administrativo  do 
Estado  Novo.  Enquanto  regime  autoritário,  facilmente  reconhecemos  que  o  direito  subjetivo  do 
particular contra o Estado seria sempre um problema. 
 
Esta  caraterística  é,  segundo  o  ​Prof.  Menezes  Cordeiro​,  a  razão  central  pela  qual  não  podemos 
retirar  ao  direito  subjetivo  a  sua  dimensão  significativo-ideológica,  isto  porque  o  direito  subjetivo 
em  última  análise é o conceito central para que seja reconhecida a real dignidade da pessoa humana, 
no  sentido  em  que  esta  detém  um  direito  que  não  pode  ser  prejudicado  por  nenhuma  atuação 
externa  e  esta  dimensão  do  conceito  é  reconhecida  pela  generalidade  da doutrina após a 2ª Grande 
Guerra. 
 
  
 
A  figura  do  direito  subjetivo  público  que  o  ​Prof.  Marcello  Caetano  desenvolve  trata-se  de  um 
direito  conferido  a  uma  pessoa  para  prosseguir  aqueles seus interesses que sejam igualmente os fins 
do  Estado  ou  que  ainda  tenha direta relação com o respectivo desempenho, ou seja, para a corrente 
defendida  pelo  ​Prof.  Marcello  Caetano  o  particular  aparentemente  podia  ser titular de posições 
jurídicas  em  face  da Administração, mas o conteúdo destes pretensos direitos subjetivos em nada se 
iriam distinguir das normas jurídicas objetivas. 
 
Em  suma,  com  uma  breve  apresentação  comparámos  a  forma  como  o  direito  administrativo 
encarava o particular desde o Estado absoluto, passando pelo Estado liberal e concluindo no Estado 

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Novo,  verificamos  que  em  todos  eles  o  particular  não  detém  direitos  subjetivos  que  possam  ser 
oponíveis à Administração. 
 
De  facto,  existe  uma  enorme  contrariedade  entre  aquilo  que  é  teorizado  e  afirmado  pelo  Direito 
constitucional  e  entre  aquilo  que  é  efetivamente  aplicado  no  Direito  administrativo,  o  cidadão 
paulatinamente  vê  direitos  reconhecidos,  todavia, não tem condições para se opôr à Administração 
pública  através  de  direitos  subjetivos,  portanto,  assistimos  a  um  fenómento  curioso  no  seio  do 
Estado  que  é  sublinhado  de  forma  certeira  por  Otto  Mayer​,  “o  Direito  constitucional  passa,  o 
Direito administrativo permanece”. 
 
  
O direito subjetivo na ótica da Administração prestadora: 
 
Com  a  transição  para  o  Estado  social  (no  caso  português  o  Estado  autoritário  dá  lugar  ao  Estado 
social),  este  chama  a  si  novas  funções  económicas  e  sociais.  Neste  sentido,  existiu  uma 
transformação  da  Administração  pública  que  realiza,  daqui  em  diante,  tarefas  de  natureza 
prestadora. 
 
Com  o  desaparecimento  desta  ideia  de  uma  Administração  agressiva,  o  relacionamento  entre 
particular  e  Administração  deixa  de  ser  conflitual,  para  dar  lugar  a  um  relacionamento  de 
colaboração. 
 
Esta  alteração  de  relacionamento  implica  o  reconhecimento  de  direitos  subjetivos  dos  particulares 
perante  os  poderes  públicos,  pois  sem  estes  direitos,  como  refere  ​Maurer​,  o  particular  seria  um 
mero  súbdito  e  objeto  da  atividade  estadual.  Neste  sentido,  é  necessário  reconhecer  os  direitos 
subjetivos  dos particulares também perante a Administração, e não somente os direitos políticos ou 
do  domínio  das  relações  inter-privadas,  ou  seja,  deve  ser  reconhecido  ao  particular  a sua qualidade 
de  sujeito  de direito. Neste sentido, segundo o ​Prof. Vasco Pereira da Silva estamos perante um 
novo  relacionamento  entre  particulares  e  Administração  que  de  uma  sujeição  passa  a  ser  uma 
verdadeira relação jurídica. 
 
No  entanto,  as  transformações  substantivas  necessitam,  por  outro  lado,  de  uma  correspondência 
processual, isto é, o direito subjetivo não pode ter verdadeira afirmação enquanto direito oponível à 
Administração  se  não  existir  um tribunal que efetivamente assegure a existência e a relevância deste 
direito  do  particular  perante  a  Administração,  neste  sentido o contencioso administrativo terá que 
fortalecer  o  salto  substantivo  que  foi  dado  no  sentido  do  reconhecimento  das  posições  dos 
particulares. 
 

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Neste  sentido,  ao  nível  do  contencioso  administrativo  verificamos  uma  profunda  alteração  que 
procurou  ultrapassar  o  “pecado  original”  do  período  clássico  que  se  revelava  como um dos fatores 
que  limitava  o reconhecimento de direitos subjetivos aos particulares, neste sentido assistimos a um 
processo  que  o  ​Prof.  Vasco  Pereira  da  Silva  denomina  como  o  milagre  da  autolimitação  da 
Administração,  isto  porque  paulatinamente  as  instituições  que  deveriam  fiscalizar  a  atividade  da 
Administração  foram  se  transformando  em  verdadeiros  tribunais  e,  desta forma, procurou separar 
definitivamente  a  Administração  do  contencioso  administrativo,  dando  lugar  a  uma  plena 
fiscalização  dos  atos  da  Administração  e,  por  reflexo,  assegurar  aos  particulares  o  recurso  a  estes 
tribunais quando a Administração atue de forma danosa para os seus direitos. 
 
No  entanto,  é  necessário  sublinhar  que  esta  rutura  com  a  promiscuidade  entre  Administração  e 
justiça  não  foi  repentina,  esta  resultou  de  um  processo  moroso  e  demorado  que  se  foi 
paulatinamente  afirmando,  daí  a  expressão  de  “milagre  da  autolimitação  da Administração”, neste 
sentido,  não  estamos  perante  um  fenómeno  de  ruptura  repentina  como  é  comum  identificarmos 
no  Direito  Constitucional,  mas  antes  num  fenómeno  lento  que  se  afirmou  com  o  contencioso 
administrativo  a  subjetivar  a  sua  atuação  e  dedicando-se  a  fins  privados,  visando  a  proteção  dos 
particulares e afirmando-se aqui um verdadeiro direito de tutela do particular. 
 
O papel do contencioso administrativo no reconhecimento dos direitos subjetivos: 
 
O  reconhecimento  do  particular  ser  titular  de  direitos  subjetivos  perante  as  autoridades públicas é 
um  reflexo  da dignidade da pessoa humana que lhe é constitucionalmente garantida, sendo este um 
princípio  central  do  Estado  de  direito.  Neste  sentido,  aqui  reflete-se  a  importância  da  carga 
significativa-ideológica  que  o  direito  subjetivo  contém  e  que  foi  particularmente  enunciada  por 
Savigny.  Sem  esta  dimensão  o  direito  subjetivo  estaria  limitado  a  um  conceito  técnico-jurídico 
demasiado  restrito  para  aquela  que é a sua verdadeira amplitude jurídica. Isto reflete consequências 
práticas  no  direito  administrativo,  principalmente  em  matérias  de  contencioso  administrativo e de 
procedimento.  
 
Desta  forma,  o  Prof.  Vasco  Pereira  da  Silva  ​realça  que  a  atribuição  de  direitos  subjetivos  deve 
ter  (tem  de  ter)  a  atribuição  ao  particular  da possibilidade de atuação no procedimento para defesa 
preventiva  dos  seus  direitos  perante  a  Administração  pública.  Neste  sentido,  o  contencioso 
administrativo  é  o  processo  adequado  para  conciliar  o  interesse  público  que a Administração deve 
prosseguir com os direitos dos indivíduos. 
 
Nesta  dimensão  do  contencioso  administrativo,  o  reconhecimento  da  titularidade  de  direitos 
subjetivos  aos  indivíduos,  nas  suas  relações  com  a  Administração,  implica  a  existência  de  um 
processo  administrativo  que  assegure  a  tutela  efetiva  e  integral  desses  direitos,  ou  seja,  o  direito 

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subjetivo  público  dá  a  possibilidade  da  sua  imposição  jurisdicional,  o  que  pressupõe  a ideia de um 
órgão  administrativo  e de um cidadão que, de forma igual, se encontram limitados por um tribunal 
no qual deverão defender as suas posições jurídicas. 
 
Em  suma,  os  direitos  subjetivos  públicos  não  são  uma  mera  posição teórica, mas sim uma situação 
jurídica com consequências decisivas para todo o domínio jurídico-administrativo. 
 
D
​ istinção entre direito subjetivo e interesses juridicamente protegidos 
 
Na  Constituição de 1976 encontramos no artigo 266º nº1 que a Administração deverá prosseguir o 
interesse  público,  devendo  respeitar  sempre  os  direitos  e  interesses  dos  cidadãos.  Esta  norma 
representa  um  reconhecimento  do  limite  da  Administração  no  que  toca  à  sua  atuação,  neste 
sentido,  segundo o ​Prof. João Caupers​, com o alargamento da intervenção pública na sociedade o 
legislador  sentiu  a  necessidade  de  equilibrar  a  atuação  administrativa,  pois  neste  contexto  o 
princípio  da  legalidade  já  se  afiguravam  como  insuficiente,  surgindo  a  necessidade  de  conciliar  as 
exigências do interesse público com as garantias dos particulares ​(Prof. Freitas do Amaral)​.  
 
A  questão  central  que  é  discutida  na  doutrina  é  se  os  “direitos”  aqui  referidos  são  uma  dimensão 
distinta dos interesses legalmente protegidos dos cidadãos. 
 
Neste  sentido,  podemos  realizar  a  divisão  entre  dois  entendimentos,  em  primeiro  lugar  temos  a 
parte  da  doutrina  que  não  realiza  uma  distinção  material  entre  ambos  os  conceitos  e,  por  outro 
lado,  temos  a  parte  da  doutrina  que  influenciada  pelo  entendimento  italiano  de  ambos  os 
conceitos, realiza uma distinção material entre ambos. 
 
O  Prof.  Vasco  Pereira  da  Silva  insere-se  na  parte  da  doutrina  que  não  realiza  uma  distinção 
material  entre  direitos  e  interesses  legalmente  protegidos,  neste  sentido  o  Professor  entende  que 
ambos  têm  a mesma consagração, logo a ambos corresponde o mesmo regime jurídico, são posições 
jurídico-subjetivas  dos  privados  constitucionalmente  reconhecidas.  Em  suma,  o  Prof.  Vasco 
Pereira  da  Silva  considera  que  o  que  pode  variar  é  a  maior  ou  menor  amplitude  do  dever que a 
Administração está obrigada relativamente ao particular, não se distinguindo materialmente. 
 
Do  outro  lado,  o  ​Prof.  Diogo  Freitas do Amaral ​considera que há uma distinção material entre 
ambos  os  conceitos  que  de  resto  significa  no  ordenamento  jurídico  italiano  uma  distinção 
jurisdicional  no  que  toca  à  responsabilidade  civil  dependendo  se  violação  de direitos (seguiria para 
os  tribunais judiciais) ou da violação de interesses (seguiria para os tribunais administrativos). Neste 
sentido,  o  ​Prof.  Diogo  Freitas  do  Amaral  entende  que o direito subjetivo tem proteção direta e 
imediata,  de  tal  modo  que  o  particular  pode  exigir  à  Administração  um  ou  mais comportamentos 

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que  satisfaçam  plenamente  o  interesse  privado,  logo  tem  direito  a  uma  decisão  final  favorável, 
enquanto  que  os  interesses  legalmente  protegidos  dos  cidadãos  apenas  geram  nos  indivíduos  um 
direito  à  legalidade  das  decisões  que  versem  sobre  um  interesse  próprio,  isto  é,  o  que  o  particular 
poderá fazer é apenas remover um obstáculo ilegal à satisfação do seu interesse. 
 
- Tipos de direitos subjetivos: 
 
  Por  fim,  cabe  a  apresentar  um  conjunto de tipos de direitos subjetivos através de uma classificação 
proposta pelo ​Prof. Paulo Otero. 
 
O  ​Prof.  Paulo  Otero  ​classifica  os  direitos  subjetivos  atendendo  ao  seu  objeto  de  relacionamento 
com  a  conduta  administrativa,  neste  sentido,  os  direitos  subjetivos  dos  particulares  face  à 
Administração seriam: direitos subjetivos substantivos, direitos subjetivos procedimentais e direitos 
subjetivos processuais. 
 
Os  direitos  subjetivos  substantivos  são  os  que  o  particular  goza  à  luz  do  direito  material regulador 
da  conduta  administrativa,  sendo  posições  jurídicas  de  vantagem  traduzidas  em  atos  de  satisfação 
de  pretensões  nele  alicerçadas,  como  é  o  caso  do  direito  ao subsídio de desemprego ou de utilizar o 
domínio público. 
 
Em  segundo  lugar,  os  direitos  subjetivos  procedimentais  dizem  respeito  a  posições  jurídicas  de 
vantagem  que  são  conferidas  aos  particulares  no  âmbito  de  sucessivas  fases de tramitação decisória 
no  âmbito  do  procedimento  interno  da Administração, visando a defesa das suas posições jurídicas 
materiais,  como  é  o  caso  do  direito  de  audiência  prévia  e  o  direito  de informação de processos que 
lhe digam respeito. 
 
Os  direitos  subjetivos  processuais  são  posições  jurídicas  tituladas  pelos particulares e cujo exercício 
é  feito  junto  dos  tribunais  da  Administração  pública,  nos  termos  das  leis  processuais,  tais  como  o 
direito à impugnação judicial dos atos administrativos lesivos. 
 
Por  fim,  o  Prof.  Paulo  Otero  propõe  uma  classificação  quanto  à  respetiva  força  jurídica  e  os 
meios de tutela dentro do ordenamento vigente, neste sentido os direitos subjetivos dos particulares 
perante  a Administração podem ser direitos fundamentais, e neste sentido, correspondem a direitos 
subjetivos  reconhecidos e garantidos por normas da Constituição, e, em segundo lugar, poderão ser 
direitos  subjetivos  em  sentido  estrito,  neste  sentido  correspondem  a  todos os direitos provenientes 
de normas sem valor, natureza ou qualificação constitucional. 
 

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No  que  toca  aos  direitos  subjetivos  em  sentido  estrito,  o  Prof.  Paulo  Otero  divide  estes  em  duas 
categorias.  A  primeira  seriam  direitos  subjetivos  perfeitos  que  são  conferidos  em  termos  plenos  e 
não  podem  ser  condicionados  ou  enfraquecidos  por  via  de  uma  atuação administrativa preventiva 
ou  condicionante,  e  por  último,  os  direitos  subjetivos  imperfeitos  que  correspondem  a  direitos 
enfraquecidos,  condicionados  ou  comprimidos  por  efeito  de  uma  sujeição  normativa  a 
intervenções administrativas preventivas, condicionantes ou sucessivas. 
 
12. Pretensa distinção entre direitos e interesses legalmente protegidos 
 
Classificação de direitos e interesses legalmente protegidos: 
 
O  ponto  de  partida  deste  trabalho  é  o  artigo  266º  nº1  CRP,  aqui  a  Constituição  de  forma 
incontestada  coloca  como  limite  da  prossecução  do  interesse  público  pela  Administração  pública 
os direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos. 
 
Em  publicação  anterior,  já  havia  defendido  que  a  Constituição  aqui  reconhece  que  o  particular 
detém  direitos  subjetivos  que são oponíveis à Administração, o que representou uma consequência 
necessária  do  surgimento  do  Estado  social  de  Direito,  todavia,  a  dúvida  é  se  existe  ou  não  uma 
distinção  material  entre  os  direitos  e  os  interesses  legalmente  protegidos  dos  cidadãos.  Antes  de 
apresentar  as  várias  posições  discutidas  em  sede  doutrinária  cabe  esclarecer  o  que  está  em  causa 
perante estes dois conceitos jurídicos. 
 
O  prof.  Paulo  Otero  ​qualifica  os  direitos  e  interesses  dos  particulares  como  posições  jurídicas 
ativas,  e  esta  concepção  resulta  de  uma  situação  de  vantagem  ou  favorável  de  uma  pessoa  para  a 
satisfação  dos  respetivos  interesses  do  particular,  o  que  leva  a  pressupor  a  existência  de  poderes  na 
esfera do particular. 
 
Cabe  ainda  atender  às  diversas  classificações  que  existem  no  seio  de  cada  um  dos  conceitos,  neste 
sentido,  o  ​prof.  Paulo  Oter​o  primeiramente  classifica  os  direitos  subjetivos  atendendo  ao  seu 
objeto  no  relacionamento  com  a  conduta  administrativa,  no  seio  desta  classificação  temos  o 
seguinte:  primeiramente,  direitos  subjetivos  substantivos,  que  correspondem  aos  direitos  que  o 
particular  goza  à  luz  do  direito  material  regulador  da  conduta  administrativa,  que  se 
consubstanciam  em  posições  jurídicas  de  vantagem  traduzidas  em  atos  de  satisfação  de  pretensões 
nele  alicerçadas.  Em  segundo  lugar,  temos  direitos  subjetivos  procedimentais  que  dizem  respeito a 
posições  jurídicas  de  vantagem que são conferidas aos particulares no âmbito das sucessivas fases de 
tramitação  decisória  no  âmbito  do  procedimento  interno  da  Administração  pública,  visando  a 
defesa  das  respetivas  posições  jurídicas  materiais  dos  particulares.  Por  fim,  teremos  os  direitos 
subjetivos  processuais  que  correspondem  a  posições  jurídicas  tituladas  pelos  particulares  e  cujo 

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exercício  é  feito  junto  dos  tribunais contra a Administração pública, nos termos das respectivas leis 
processuais. 
 
O  ​prof.  Paulo  Otero  classifica  ainda  os  direitos  subjetivos  conforme  a  sua  correspondente  força 
jurídica  e  os  meios  de  tutela  dentro  do  ordenamento  vigente,  neste  sentido  os  direitos  subjetivos 
dos  particulares  poderão  ser  direitos  fundamentais,  que  correspondem  a  todos  os  direitos 
subjetivos  reconhecidos  e  garantidos  por  normas  constitucionais  e,  por  outro  lado,  poderemos ter 
direitos  subjetivos em sentido estrito, que correspondem a todos os direitos subjetivos provenientes 
de normas sem valor, qualificação ou natureza constitucional. 
 
No  que  toca  aos  interesses  legalmente  protegidos  o  prof.  Paulo  Otero  realiza  igualmente  várias 
distinções,  nomeadamente,  quanto  à  titularidade  e  ao  fim  subjacente  à  instituição  normativa  de 
interesses.  
 
Quanto  à  titularidade,  o  prof.  ​Paulo  Otero  classifica,  em  primeiro  lugar,  os  interesses  individuais 
que  são  sempre  passíveis  de  subjetivação  ou  apropriação  individual  da  respetiva  titularidade, 
podendo  ter  duas  configurações,  por  um  lado,  podem  emergir  direta  e  imediatamente  visando 
proteger  interesses  de  determinadas  pessoas,  sendo  interesses  legítimos  ou  diretamente  protegidos, 
por  outro  lado,  podem resultar de atos que só reflexa ou indiretamente visam a proteção de direitos 
individuais,  pois  no  imediato  eles  visam  proteger  um  interesse  geral,  sendo  reconhecidos  como 
interesses  reflexamente  protegidos.  Em  segundo  lugar,  poderemos  ter  interesses  difusos,  que 
representam  a  subjetivação  não  individualizada  ou  não  individualizável  de  interesses  públicos  que 
são  passíveis  de  satisfação  coletiva,  através  de  bens  indivisíveis  ou  insuscetíveis  de  apropriação 
individual,  encontrando-se  na  circunstância  de  se  tratar  de  um  interesse  de  todos,  neste  sentido 
poderemos  estar  perante  interesses  difusos  concretos  (defesa  do  direito  do  ambiente)  ou interesses 
difusos abstratos (defesa da legalidade da atuação administrativa). 
 
No  que  toca  à  distinção  de  interesses  legalmente  protegidos  quanto ao critério do fim subjacente à 
instituição  normativa,  o  ​prof.  Paulo  Otero  ​distingue entre interesses de legalidade, que conferem 
ao  respectivo  titular  um  poder  de  exigir  o  cumprimento  pela  Administração  pública  da 
normatividade  vinculativa,  habilitando  os  seus  titulares  a  aceder  o  tribunal,  por  outro  lado 
poderemos  ainda  ter  interesses  de  mérito,  isto  é,  traduzem  um  reflexo  subjetivo  da  exigência  da 
conveniência  e  oportunidade  da  atuação  administrativa  discricionária, envolvendo a sintonia entre 
interesse  individual  e  coletivo  com  uma  melhor  prossecução  do  interesse  público  ou  dever  de  boa 
administração,  encontrando  a sua garantia no acesso dos titulares a mecanismos políticos, graciosos 
ou arbitrais de controlo. 
 
 

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Conceções atuais: 
 
- Teoria da construção trinitária 
 
O  prof.  Freitas  do  Amaral​,  bem  como  o  prof.  João  Caupers​,  influenciados  pela  construção 
italiana  de  ambos  os  conceitos,  consideram  que  há  uma  distinção  entre  direitos  e  interesses 
legalmente protegidos dos cidadãos. 
 
O  prof.  Freitas  do  Amaral  admite  que em ambos existe um interesse privado reconhecido na lei, 
todavia,  quando  nos  referimos  a  direitos  subjetivos  estamos  perante  uma  proteção  direta  e 
imediata,  de  tal  modo  que  o  particular  pode  exigir  à  Administração  pública  um  ou  mais 
comportamentos  que  satisfaçam  plenamente  o  interesse  privado,  e  assim  obter  a  plena  realização 
em  juízo,  em  caso  de  violação  ou  não  cumprimento,  por  outro  lado,  os  interesses  protegidos  têm 
uma  proteção  indireta,  resultam  de  um  interesse  público,  o  particular  não  pode  exigir  à 
Administração  que  esta  satisfaça  o  seu  interesse,  mas  apenas  que  não  o  prejudique  ilegalmente,  e, 
em  caso  de  ilegalidade,  o  particular  não  pode  realizar  plenamente  o  seu  interesse  em  tribunal,  mas 
somente  eliminar  os  atos  ilegais  que  o  tenham  prejudicado.  Em  suma,  para  o  prof.  ​Freitas  do 
Amaral​,  quando  estamos  perante  um direito subjetivo há um direito de satisfação de um interesse 
próprio,  ou  seja,  tem  direito  a  uma  decisão  final favorável, enquanto que, quando estamos perante 
interesses  legalmente  protegidos,  o  particular  apenas  tem  direito  à  legalidade  das  decisões  que 
versem  sobre  um  interesse  próprio,  o  que  se  pode  fazer  é  remover  um  obstáculo  ilegal  à  satisfação 
do seu interesse. 
 
O  prof.  João  Caupers  subscreve  o  entendimento  do  prof.  Freitas  do  Amaral  e  sublinha  que  não 
estamos  perante  um  problema  de  quantidade  do  objeto  ou  do  conteúdo  da  posição  jurídica  ativa, 
mas  sim  de  qualidade.  Neste  sentido  não  estamos  perante  uma  distinção  formal,  mas  sim  perante 
realidades  que  serão  qualitativamente  diversas,  pois  uma  visa  um  benefício  imediato  (direito 
subjetivo),  enquanto  que  outra  apenas  se  pode  obter  de  forma  indireta,  e  eventualmente  após  a 
reposição da legalidade ofendida (interesses legalmente protegidos). 
 
A  distinção  do  prof.  ​Freitas  do  Amaral  e  do  ​prof.  João  Caupers  é  influenciada, como já tinha 
referido  pelo  entendimento  de  ambos  os  conceitos  em  Itália,  de  facto  o  ordenamento  jurídico 
italiano  vai mais longe pois perante violações de direitos subjetivos pela Administração, os tribunais 
competente  para  conhecer  a  situação  serão  os  tribunais  judiciais,  por  outro  lado,  a  violação  de 
interesses  pela  Administração  o  tribunal  competente  para  conhecer  esta  violação  será  o  tribunal 
administrativo.  Esta  distinção  traçou  além  de  uma  distinção  substantiva  uma  clara  diferença 
processual, o que traz consequências para o entendimento de ambos no seio da doutrina. 
 

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4. Teoria da norma de proteção: 
 
→  ​primeiro  lugar​,  cabe  esclarecer  três  momentos  da  evolução  da  teoria  da  norma  de  proteção. 
Esta  teoria  começou  com  Buehler,  segundo  a  qual  teorizou  três  condições  de  existência  de  um 
direito  subjetivo  público,  sendo  elas:  a  existência  de  uma  norma  jurídica  vinculativa,  de  seguida, 
uma  intenção  legislativa  contida  na  norma  de  proteção  de  interesses  individuais,  por  último,  a 
consagração  de  meios de tutela jurisdicional para a proteção desses interesses individuais legalmente 
protegidos. 
 
→  ​segundo  momento​,  Bachof  ​reformolou  a  noção  de  direito  subjetivo  público  devido  à 
necessidade  de  adequar  a  teoria  da  norma  de  proteção  ao  Estado  social  de  Direito,  o  que  por 
consequência  trouxe  um  alargamento  do  âmbito  de  aplicação  da  proteção  jurídica  subjetiva, desta 
forma  Bachof  vem  reformular  as  condições  jurídicas  de  existência de um direito subjetivo público, 
neste  sentido,  Bachof  desloca  a  condição  de  norma  vinculativa  para  as  vinculações  legais, 
considerando  que  existe  um  direito  subjetivo  na  medida  dessas  vinculações  jurídicas,  ou  seja,  o 
conteúdo  do  direito  é  igual  ao  conteúdo  do  dever  a  que  a  entidade  pública  está  obrigada.  Bachof 
procede  ao  alargamento  do  direito  subjetivo  a  todos  os  casos  em  que  uma  qualquer  vinculação 
jurídica  proteja  simultaneamente  interesses  públicos  e  privados,  o  que  engloba  na  categoria  dos 
direitos  os  interesses  que  o  ​Prof.  Freitas  do  Amaral  e  o Prof. João Caupers consideram como 
interesses  legítimos,  todavia,  ​Bachof  entende  que  nos  modernos  Estados  de  direito  existe  uma 
presunção  a favor do direito subjetivo, isto porque face à ordem constitucional todas as vinculações 
que  resultam  de  normas  e  conferem situações de vantagem objetiva e intencionalmente concedidas 
aos particulares transformaram-se em direitos subjetivos. 
 
Bachof ​sublinha ainda que a proteção jurisdicional deve passar a ser vista como consequência e não 
como  um  direito  subjetivo,  uma  vez  que  as  constituições  dos  modernos  Estados  de  direito 
consagram  o  princípio  da  proteção  plena  e  efetiva  dos  particulares,  em  particular,  a  Constituição 
Portuguesa consagra no artigo 268º nº4. 
 
→    terceiro  momento  verificamos  com  Bauer  um  renascimento  da  teoria  da  norma  de  proteção 
decorrente  da  reformulação  conceitual  da  doutrina  dos  direitos  fundamentais.  Esta  nova 
preocupação  decorre  da  reafirmação  dos  direitos  fundamentais  como  direitos  subjetivos  e  da 
adoção de concepções unitárias acerca de todas as posições subjetivas públicas de vantagem. 
 
Esta  preocupação  surge  num  contexto  especial,  porque  os  direitos  fundamentais  são  utilizados 
como  critério  de  interpretação  e  integração  de  lacunas  de  normas  jurídicas  ordinárias,  de  forma  a 
determinar  que  interesses  estas  visam  proteger,  bem  como  fundamentar  os  direitos  subjetivos  dos 
particulares  perante  a  Administração.  Neste  sentido  se  encararmos  os  direitos fundamentais como 

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direitos  subjetivos  e,  enquanto  criadores  de  um  estatuto  constitucional  dos  cidadãos,  chegamos  a 
um  reconhecimento  de  novos  direitos  subjetivos  públicos  dos  particulares,  tais  como  o  direito  ao 
ambiente, consumo, urbanismo e a saúde. 
 
- A inutilidade da distinção entre ambos os conceitos: 
 
O  prof.  Vasco  Pereira  da  Silva,  ao  contrário  dos  entendimentos  anteriores,  entende  que  não  há 
qualquer  utilidade  em  consagrar  uma  distinção  entre  direitos  e  interesses  legalmente  protegidos,  e 
isto surge como consequência do entendimento da teoria da norma de proteção. 
 
Esta  distinção  para  o  ​prof.  Vasco  Pereira  da  Silva  assenta  mais  do  que  em  caraterísticas 
materiais  distintas,  assenta  sobretudo  numa  distinção  de  ordem  formal,  que  decorre  da  utilização 
da  ordem jurídica de diferentes técnicas de atribuição de posições de vantagem, ainda que levando a 
resultados  idênticos.  Neste  sentido,  a  lei  pode  atribuir  um  direito  subjetivo  através  de  uma  norma 
jurídica  que  qualifica  como  tal  essa  posição  de  vantagem,  aqui  a  doutrina  administrativa  clássica 
não  tem  dificuldade  em  qualificar  a  posição  do  particular  perante  a  Administração  como  um 
direito  subjetivo,  por  outro  lado,  a  lei  pode  estabelecer um dever da Administração no interesse do 
particular,  o  qual,  no  âmbito  de  uma  relação  jurídica  é  correlato  da  posição  de  vantagem  do 
particular,  neste  caso,  não  obstante  a  técnica  legislativa  utilizada,  o  particular  goza  igualmente  de 
uma posição jurídica de vantagem, cujo conteúdo é delimitado de forma negativa pela norma. 
 
O ​Prof. Vasco Pereira da Silva chama a atenção que no direito privado não há dúvidas quanto a 
estas  distinções,  pois  apesar  da  técnica  legislativa  utilizada,  tanto  nos  casos  em  que  a  lei  qualifica 
diretamente  uma  posição como um direito subjetivo, o mesmo se reflete, nos casos em que a lei cria 
um  dever  jurídico  estabelecido  no  interesse  de  outrem  como  um  direito  subjetivo,  por outro lado, 
em direito público não se tem seguido este entendimento. 
 
Além  das  situações  referidas,  a  ordem  jurídica  pode  ainda  atribuir  um  direito  subjetivo  mediante 
disposição  constitucional  consagradora  de  um  estatuto,  que atribui aos particulares a possibilidade 
de  fruição  individual  de  um  bem jurídico, livre de agressões ilegais de entidades públicas e privadas, 
desta  forma  visa  estabelecer  deveres  ou  tarefas  aos  poderes  públicos  que  são  necessários  para  a  sua 
concretização  (caso  dos  direitos  fundamentais).  Nestes  casos,  não  obstante  a  técnica  legislativa 
utilizada  estamos  perante  um direito subjetivo dos particulares, tendo como conteúdo um dever de 
abstenção,  quer  eventuais  deveres  de  atuação  das  autoridades  públicas  no  âmbito  de  relações 
jurídicas  concretas.  Neste  sentido,  o  ​Prof.  Vasco  Pereira  da  Silv​a  encara  os  direitos  difusos  (3ª 
categoria  da  teoria  da  construção  trinitária)  como  direitos  subjetivos  públicos  decorrentes  da 
Constituição. 
 

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O  prof.  ​Vasco  Pereira  da  Silva  entende  que  no  atual  entendimento  do  Estado  de  direito  o 
indivíduo  obtém  um  estatuto  de  sujeito  jurídico  que  não  é  mais  compatível  com  esta  pretensa 
distinção,  desde  logo  porque  é  uma  imposição  constitucional  que  deriva  do  artigo  266º  nº1  da 
CRP. 
 
Em  suma,  independentemente  da  técnica  legislativa  utilizada,  estamos  perante  situações  jurídicas 
substantivas  de  vantagem,  destinadas  à  satisfação  de  interesses  individuais,  possuindo  idêntica 
natureza  ainda  que  podendo  apresentar  conteúdos  diferenciados,  sendo  por  isso  configurados 
como  direitos  subjetivos.  Neste  sentido,  o  prof.  Vasco  Pereira  da  Silva  entende  que  devemos 
proceder  a  um  tratamento  unificado  dessas posições substantivas de vantagem no conceito-quadro 
“direito subjetivo”, o que não obsta a que este possa diferenciar espécies e conteúdos. 
 
- A “unidade” e a “variação” do direito subjetivo: 
 
Ainda  que  provocador,  o  título  acaba  por  ir  ao  encontro  do  entendimento  do  ​Prof.  Vasco 
Pereira  da  Silva, pois no seio do seu entendimento verificamos que existe um entendimento uno 
no  que  toca  aos  direitos  e  interesses  legalmente  protegidos,  que  resulta  da  teoria  da  norma  de 
proteção,  aceitando  o  seu  alargamento  aos  direitos  fundamentais,  conforme  Bauer  veio  a  teorizar. 
Neste  sentido,  o  particular  é  titular  de  direitos  subjetivos  em  face  da  Administração  sempre  que 
uma  norma  não  vise  apenas  o  interesse  público,  mas  também  a  proteção  dos  interesses  dos 
particulares,  seja  resultado  de  uma  situação  de  vantagem  objetiva  e  de  forma  intencional,  ou  por 
outro  lado,  que  resulte  de  um  benefício  de  facto  decorrente  de  um  direito  fundamental.  Este 
entendimento  é  resultado  não  só  do  artigo  266º  nº1  da  CRP,  bem  como  do  artigo  268º nº3, nº4 e 
nº5  da  CRP. Neste sentido, direitos e interesses legalmente protegidos são dois conceitos que visam 
designar  a  posição  jurídico-subjetiva  dos  privados  perante  a  Administração  pública,  às  quais  irá 
corresponder o mesmo regime jurídico. 
 
Chegados  aqui  cabe  ainda desmistificar a “variação” que a teoria da norma de proteção reconhece a 
ambos  os  conceitos  aqui  tratados,  para  o  Prof.  Vasco  Pereira  da  Silva  o  que  pode  variar  é  o 
conteúdo  do  direito, diretamente atribuído pela lei, ou resultante da maior ou menor amplitude do 
dever  a  que  a  Administração  pública  está  obrigada  em face do particular, neste sentido, a diferença 
não  está  na  existência  ou  não  de  um  direito,  mas  sim  na  menor  ou  maior  amplitude  do  seu 
conteúdo.  Os  direitos  podem  ainda  corresponder  a  diferentes  categorias,  o  que  irá  depender  da 
relação jurídico-administrativa em causa. 
 
  
 
 

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