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Direito Administrativo

O direito administrativo é um ramo de direito público (disciplina relações em que um dos sujeitos está, perante outro,
numa posição de supremacia – jus imperium). No direito administrativo está posição de supremacia justifica-se pelo
reconhecimento de que os interesses privados devem ceder perante os interesses coletivos. As normas que o
constituem visam regular a organização e a atividade das entidades que fazem parte da administração pública e
disciplinar juridicamente certo tipo de relações que se estabelecem entre esta e outros sujeitos de direito.

Administrar significa gerir recursos escassos tomando decisões racionais com vista à satisfação de um conjunto de
necessidades. Administração pública tem em vista toda uma gama de interesses coletivos, interesses estes que se
referem a uma generalidade de pessoas, a um público, de cuja satisfação.

Administração privada e administração pública distinguem-se quanto ao objeto sobre que incidem, quanto ao fim que
prosseguem e quanto aos meios que empregam.
Objeto – Ad. Pública visa satisfazer necessidades coletivas e Ad. Privada visa a satisfação de necessidades individuais, ou
de um grupo não afetando a coletividade como um todo (administração de uma empresa familiar).
Fim – Ad. Pública, por força da constituição e da lei, à prossecução de um interesse público e Ad. Privada prosseguir
finalidades de caracter pessoal ou particular.
Meios – Ad. Pública está habilitada a utilizar determinados meios de autoridade, como o regulamento e o ato
administrativo que se impõe aos destinatários independentemente do seu consentimento. Ad. Privada, cada pessoa
lança mão dos mecanismos jurídicos que melhor se afeiçoam à posição de igualdade entre as partes.

Várias aceções da expressão “Administração Pública”

Em sentido orgânico – sistema complexo de órgãos hierarquizados. Em causa estão o estado, cujo órgão superior é o
Governo, e as demais pessoas coletivas públicas, que se acham agrupadas em vários setores. Aparelho administrativo,
formado por pessoas coletivas públicas, fazem parte as administrações estaduais (a direta e a indireta), as
administrações autónomas (a territorial e a não territorial ou corporativa) e a administração independente. A
administração pública não se esgota no Estado, abrange também, organismos dotados de personalidade jurídica
própria, mas que atuam por conta do estado, prosseguindo atribuições deste, ao abrigo da devolução de poderes. A
noção orgânica da administração pública recobre duas realidades distintas: pessoas coletivas públicas e serviços
públicos e os indivíduos (funcionários) que atuam ao serviço da organização administrativa.

Em sentido material – Atividade de administrar enquanto tarefa do estado. Compete ao Governo, no exercício de
funções administrativas “praticar todos os atos e tomar todas as providencias necessárias à promoção do
desenvolvimento económico-social e à satisfação de necessidades coletivas art.199 CRP. A administração pode impor
coercivamente as suas decisões, caso os destinatários respetivos relutem ou recusem acatá-las voluntariamente –
privilégio da execução prévia, não é necessário recorrer previamente aos tribunais, são os particulares que podem
contestar judicialmente os atos administrativos já praticados, sem que esta contestação tenha efeitos suspensivos na
executoriedade própria do ato.

Em sentido formal – formas típicas de atuação da administração pública, ou seja, quais os modos pelos quais ela
desenvolve a sua atividade jurídica de autoridade, nomeadamente, regulamento, ato administrativo e contrato. Ações
materiais da Administração – ações materiais de exercício (projetam os seus efeitos para o exterior dos órgãos que as
concretizam afetando interesses dos particulares – pavimentação de uma rua); ações materiais de execução
(cumprimento de injunções da própria administração, do poder judicial ou de um ato legislativo – cumprimento de uma
sentença de despejo).

A administração pública analisa-se num conjunto de órgãos, ligados por determinadas relações funcionais (sentido
orgânico), que, com caracter de permanência, desempenham tarefas destinadas à satisfação de necessidades coletivas
(sentido material), e que exteriorizam a sua vontade através de atos dotados de características formais e substantivas
próprias (sentido formal).
A administração e as demais funções do Estado

Compreender verdadeiramente a administração pública, supõe que a situemos no quadro das funções do estado.

Política e administração pública – compete à política definir o interesse geral da coletividade, interesse esse que a
administração pública está incumbida de satisfazer e concretizar. A administração pública na sua ação quotidiana, está
duplamente subordinada às opções e diretrizes dos órgãos políticos e aos comandos do legislador (princípio da
legalidade). São os órgãos superior do estado que desempenham a função política, ficando, a administração pública
confiada a órgãos secundários, bem como a entidades e organismos não estaduais, ainda que sujeita, à direção e
controlo daqueles órgãos superiores, nomeadamente do Governo.

Legislação e administração pública – à semelhança da função política, também a lei assume determinadas opções e
objetivos que a administração pública se encarrega de pôr em prática. Segundo Freitas do Amaral – “a administração
pública é uma atividade totalmente subordinada à lei: a lei é o fundamento, o critério e o limite de toda a atividade
administrativa. Uma vez que, há atos da administração que se equiparam às leis (caso dos regulamentos autónomos)
concluiu-se zonas de interseção entre ambos.

Justiça e administração pública – à justiça cabe julgar, aplicando o direito a casos concretos, à administração cabe gerir
recursos escassos com vista à satisfação de interesses coletivos. Daí que a justiça seja “cega”, desinteressada. Em
contrapartida, a administração defende e prossegue os interesses postos por lei a seu cargo, atua como parte
interessada. A administração é uma estrutura hierarquizada de órgãos e agentes, marcada pelos laços de dependência e
pelo dever de obediência dos subalternos perante os superiores.

Evolução Histórica da Administração Pública

Época medieva (séc.V a XV) – trata-se de um período histórico ligado ao feudalismo ou regime senhorial, que consistia
em laços de servidão pessoal entre vassalos e seus senhores. A descentralização, escassa institucionalização e ausência
na gestão de coisas públicas são os traços distintivos das sociedades medievais. Não havendo uma administração
pública em sentido verdadeiro e próprio não podia falar-se em direito administrativo, havia sim um direito comum que
tinha como fonte principal o costume.

Época moderna e o Estado-de-Polícia (séc.XV a XVIII) – a partir do final da idade média, diversos fatores foram
desimpedindo o caminho para o aparecimento dos Estados modernos. Fatores de ordem religiosa, tratados de paz de
Westefália 1648 puseram termo à guerra religiosa dos Trinta Anos, simbolizando a derrota do império e do Papado,
forjou-se uma nova ordem política na Europa ocidental, assente na emergência de entidades soberanas e
independentes, juridicamente iguais entre si. Fatores de ordem espiritual, recuperação da cultura clássica, do culto do
espírito científico e matemático. Fatores de ordem económica, uma vez que o incremento das trocas comerciais foi
aproximando as populações, fortalecendo o sentimento de pertença a cada comunidade ou reino, com a consequente
sedimentação das identidades nacionais (europeias). Fatores de ordem militar, uma vez que as guerras, sobretudo
religiosas, reclamaram a criação de exércitos regulares e a institucionalização de administrações vocacionadas para
acudir às necessidades especificas geradas.
A partir de meados do séc.XVII até aos finais do séc.XIX, a organização política das sociedades europeias evoluiu para
uma forma que ficaria conhecida como estado-de-polícia, inspirado no movimento do Iluminismo (procurava explicar e
dominar pela razão a problemática total do homem). A centralização de poderes no representante máximo da
comunidade, o monarca, converte o estado-de-polícia num estado absoluto. Mais do que assegurar as necessidades
coletivas, interessava ao monarca proceder ao desenvolvimento e engrandecimento do país numa lógica de competição
com o “clube” das “nações cultas e polidas”. Tal conduziu ao desenvolvimento da administração pública estadual que
gozava de uma ampla liberdade de atuação, sem subordinação ao direito (público), razão pela qual, ainda não poderá
falar-se em direito administrativo nesta época.

Época liberal (séc.XVIII até às guerras mundiais da primeira metade do séc.XX) – Os ideias da liberdade e da
democracia são alcandorados a valores supremos da comunidade política. Em nome deles se contestou a opressão a
que estavam sujeitos os cidadãos e se pôs em causa a legitimidade monárquica, abrindo caminho para o aparecimento
das primeiras repúblicas. A época liberal foi tornando-se realidade ao compasso da assimilação de dois princípios que
representaram um verdadeiro ato de nascimento para o direito administrativo – princípio da separação de poderes
(repousa numa distinção material das varias funções do Estado – para cada função deveria existir um órgão próprio,
poder legislativo ao parlamento, judicial aos tribunais e executivo ao governo) e princípio da legalidade da
administração (subordinação da administração à lei, lei geral e abstrata que constituía a expressão da vontade da
sociedade representada no Parlamento, que ao mesmo tempo que legitimava politicamente a atuação da
administração, garantia o direito dos cidadãos, sinonimo de principio do estado de direito). Este direito não é fruto de
leis do parlamento, não foi criado por via legislativa, surge em frança da atuação de um órgão de um estado - conselho
de estado. Junto deste órgão os cidadãos formulavam queixas relativamente a atuação dos poderes públicos
(convertido o conselho quase como um tribunal), este concelho deu origem a um novo ramo de direito, surge pelas
decisões do conselho de estado – origem jurisprudencial. A administração entra uma administração de autoridade. O
estado e sociedade eram realidades distintas, raramente se intersetavam. O estado era escassamente intervencionista
nos domínios económico e social.

Época do estado de direito social e tendências atuais de transformação (da segunda metade do séc.XX em diante) –
acontecimentos marcantes da primeira metade do séc.XX, as duas guerras mundiais (1914-18 e 1939-45), e a grande
depressão americana (1929-32). A primeira guerra mundial e os anos subsequentes ao seu termino pretextaram um
cada vez maior intervencionismo do estado na sociedade e economia, o que causou um forte impacto na administração
pública. O estado intervencionista assumiu-se como produtor de bens e prestador de serviços, o que lhe valeu o epíteto
de “Estado Providencia” ou Estado de bem-estar. A nova administração de prestação vai sobressaindo a par da
tradicional administração de autoridade. Para além do intervencionismo económico o estado tinha também uma ampla
ação cultural e social, tudo na tentativa de construção de uma sociedade mais justa e solidária, pressupor a dispensa de
um tratamento de favor às camadas mais desvalidas da população. Tal discriminação positiva tem subjacente uma nova
compreensão do princípio de igualdade (proibição de discriminação como numa obrigação de diferenciação).

Tendências de transformação da administração pública:


Privatização – tendência estrutural que se manifesta de várias formas:
1. Privatização da regulação de certas atividades - sempre que uma entidade publica reduz ou cessa o seu papel
regulador – desregulação pura e simples ou realiza uma transferência para determinadas entidades privadas do
poder de criação de normas regradoras da respetiva atividade – autorregulação.
2. Privatização do direito regulador da Administração - subordinação da atividade das entidades públicas ao
direito privado, adaptando-se às exigências públicas, de respeito pelos direitos e interesses dos particulares e
princípios gerais.
3. Exercício de funções públicas por entidades privadas - desempenho de tarefas publicas por entidades privadas
já existentes ou criadas por pessoas coletivas, que são instrumentalizadas para prossecução de fins de
interesses públicos.
4. Privatização dos critérios substantivos de decisão administrativa - a administração rege-se por critérios
materiais afeiçoados à logica dos agentes económicos privados, decisões administrativas próprias do direito
privado.

Regulação - adoção de um conjunto de regras que se harmonizam com vista a assegurar o funcionamento equilibrado
e racional de um sistema. Surge como intervenção no sentido de condicionamento e disciplina.

Informatização – o desenvolvimento tecnológico, sobretudo na área da informática, não poderia deixar de se


repercutir no funcionamento da Administração Pública. A informatização administrativa proporcionou o aparecimento
do “computador-funcionário” programado para a adoção de atos administrativos informáticos. Multiplicam-se os
setores em que a armazenagem, a gestão e a utilização de dados se informatizaram, falando-se de uma administração
eletrónica (coletâneas de legislação publicadas eletronicamente). Tem como vantagens a redução de custos, uma
maior eficiência e uma rapidez no acesso à informação e tem como desvantagens a despersonalização que se
estabelece nas relações entre os cidadãos e os serviços administrativos e a exclusão de certas camadas da população
que não tem acesso aos meios eletrónicos, criando-se um fator de desigualdade e discriminação (art.14 n5 CPA).

Internacionalização – com o fenómeno da globalização tornam-se quase evanescentes as fronteiras entre os Estados,
favorecendo a emergência de um direito administrativo global. Relacionamento entre vários sujeitos de direito
(estados, organizações internacionais, associações públicas e privadas) atuam nas redes administrativas internacionais.
No plano das manifestações do poder administrativo, ganha uma importância crescente o ato administrativo
transnacional (enquanto decisão de um estado, quer em razão dos seus efeitos, quer por força dos seus destinatários,
quer ainda pelo local da sua partida, deixa de confinar-se a um determinado espaço nacional). A internacionalização
do direito administrativo é, sobretudo, uma europeização, que decorre de uma cada vez maios integração das
administrações nacionais e destas com a administração supranacional. O direito europeu foi insuflando no direito
administrativo desenvolvendo-se um direito administrativo europeu (conjunto de normas reguladoras da cooperação
administrativa entre a União e os Estados membros). As normas emanadas das instituições da União prevalecem sobre
as normas internas (art.8 n4 CRP), imposição normativa e reguladora deste direito cada vez maior.

Sistemas Administrativos

Sistemas administrativos: o tradicional que vigorou na Europa até ao séc.XVII e XVIII e o moderno que se desdobra em
dois modelos distintos: o sistema de tipo francês ou administração executiva e o sistema de tipo britânico ou de
administração judiciária.

Sistema tradicional – O rei era o supremo administrativo e o supremo juiz, exercendo uma função administrativa e
uma função judicial. Tornou-se então necessária uma separação de poderes. A administração pública não estava
subordinada ao princípio da legalidade. À época não havia ainda um verdadeiro Estado de Direito.

Sistema moderno – assentam na separação de poderes e no Estado de Direito:


Sistema administrativo de tipo francês ou administração executiva – todos os países (continentais) da Europa
Ocidental. Fortemente centralizado e hierarquizado. O princípio da hierarquia assume um papel fulcral na
administração central. Nos órgãos administrativos prevalecem relações de supra-infra ordenação.
A administração encontra-se subordinada a um direito substantivo especial – o direito administrativo – que lhe
reconhece determinados poderes de autoridade para a prática de atos jurídicos unilaterais imperativos.
As relações entre os órgãos e agentes administrativos e os particulares não são paritárias. Aqueles exercem funções
de interesse público, pelo que necessitam de estar investidos de certos poderes de autoridade que lhes permitam
impor as suas decisões.
Sujeição da Administração aos tribunais administrativos, foram criados tribunais administrativos com o propósito de
libertar o poder executivo das “peias judiciais”. Inicialmente os tribunais administrativos não eram verdadeiros
tribunais, mas órgãos da própria administração, encarregados de sindicar a legalidade dos respetivos atos. Atualmente
os tribunais administrativos constituem uma ordem jurisdicional própria, dotada de autonomia em relação aos
tribunais judiciais (comuns), e à qual se encontra sujeita a administração quando atua sob égide do direito
administrativo. A autonomia manifesta-se na existência de um órgão de governo próprio – o Conselho Superior dos
Tribunais Administrativos Fiscais (art.217 n2 CRP).
Privilégio de execução prévia ou privilégio de execução administrativa, representa uma autêntica “autotutela
executiva”, permite à Administração executar as suas decisões por autoridade própria, sempre que um particular não
cumpra voluntariamente um dever estabelecido por esta, esta pode impô-lo coativamente.
Garantias jurídicas dos particulares, compete aos tribunais administrativos e não aos tribunais comuns.

Neste sistema o Estado e demais entes públicos são responsáveis pelos atos dos seus funcionários que violem direitos,
liberdades e garantias dos cidadãos, ficando obrigados a ressarcir as vítimas mediante o pagamento de uma
indemnização (art.22 CRP).

Sistema administrativo de tipo britânico ou de administração judiciária – vigora na generalidade dos países anglo-
saxónicos, influenciando, os países da América Latina, sobretudo o Brasil.
A organização administrativa é marcadamente descentralizada, inexistência da entidade estado enquanto pessoa
coletiva, em Inglaterra as autarquias locais terem sempre gozado de uma ampla autonomia converteu-as em
entidades independentes (não meros instrumentos ou órgãos subordinados) do governo central, atuando como
autênticos governos locais.
Subordinação da Administração ao direito comum, provém dos costumes imemoriais do Parlamento ou é firmado
pelos precedentes judiciais. Todos estão submetidos a esse direito comum, pelo que só excecionalmente gozam de
poderes de autoridade ou de decisão unilateral.
Sujeição da Administração aos tribunais comuns, vigorando uma só medida de direitos para todos. Os litígios opondo
autoridades administrativas e particulares recaem na jurisdição normal desses tribunais, aí sendo apreciados de modo
idêntico ao dos conflitos entre particulares. Não encontramos tribunais especiais incumbidos de sindicar a legalidade
dos atos administrativos.
Execução judicial das decisões administrativas, a Administração não goza de privilégio de execução prévia estando-
lhe vedada a execução das suas decisões por autoridade própria. Deste modo, sempre que os particulares não acatem
voluntariamente um ato administrativo desfavorável, a Administração não pode impô-lo coativamente.
No que toca às garantias jurídicas dos particulares contra ilegalidades e abusos da Administração Pública, compete
aos tribunais comuns.

Confronto entre ambos:


Atualmente não são toa nítidas as diferenças entre os sistemas. No nosso sistema (Francês) houve um movimento de
descentralização, com o aparecimento das administrações autónomas, quer as territoriais quer as institucionais. Foi-se
tornando uma relação mais paritária entre a administração pública e os particulares, e houve um alargamento dos
poderes de fiscalização dos tribunais perante a administração.
Quanto ao sistema inglês, foi-se centralizando porque foi ocorrendo uma transferência de atribuições e competências
dos municípios para o poder central (perda de autonomia), criaram-se ministérios, surgiu um direito administrativo
legislado (leis administrativas) pelo intervencionismo do Estado na sociedade. Passou a haver órgãos da administração
com poderes de autoridade, com privilégio de execução prévia.

Diferenças fundamentais – direito regulador da atividade administrativa (direito administrativo (francês), direito
comum (britânico); controlo jurisdicional (dualidade de jurisdições (francês) e tribunais comuns (britânico); execução
das decisões (autoridade própria (francês) e previa intervenção do tribunal (britânico).
Aspetos fundamentais – princípio da separação de poderes e princípio da legalidade administrativa/estado de direito.

A Organização Administrativa

Na administração pública, o serviço administrativo constitui a unidade fundamental da organização. Os serviços são
meros instrumentos das entidades (sujeitos de direito) que participam na vida jurídica.
Estrutura, é constituída por pessoas coletivas publicas (ou de direito público), as quais dispõem órgãos que as
representam e através de cujos titulares exprimem a sua vontade.
Personalidade, é um atributo que permite adquirir direitos ou contrair obrigações. Compete ao direito (rectius, ao
legislador) atribui-la.
Atendendo à sua função ou aos fins que está adstrita, podemos distinguir a vontade individual da vontade coletiva. A
última caberá falar sempre que alguém atua em nome alheio ou tem de afeiçoar a sua conduta aos interesses de
outrem (vontade funcional). A vontade coletiva reconduz-se “ao que deve ser querido para realizar eficaz e
perfeitamente um dado interesse coletivo. Pessoa coletiva (centro de interesses coletivos organizados de feição a que
se forme uma vontade coletiva).

A função administrativa não é hoje exclusivamente exercida por pessoas coletivas d direito público, é levada a cabo
por pessoas coletivas de direito privado, que atuam sob égide de regimes especiais de direito público.

Classificação das pessoas coletivas públicas:


Distinção entre pessoas coletivas públicas de população e território ou de fins múltiplos também designadas pessoas
coletivas públicas por natureza ou primárias (Estado, regiões autónomas e autarquias locais) e pessoas coletivas
públicas funcionais ou derivadas (Institutos Públicos, Empresas Públicas, Associações públicas, etc.).
As primeiras ficam a dever ao facto de disporem de um substrato populacional ou de base territorial – têm carater
originário. As segundas têm em comum a circunstância de o território não fazer parte da sua definição, de
apresentarem uma natureza atípica e de as respetivas atribuições serem especiais.

Estados e entes públicos menores – ao contrário dos entes públicos menores, o estado não é um ente exclusivamente
administrativo. Eles dependem do estado (através do seu órgão principal: o governo), que sobre eles exerce os
poderes de superintendência e tutela administrativa. Entes públicos independentes (a nomeação e exoneração dos
seus órgãos processa-se com independência em relação ao Estado); os dependentes (não gozam de autodeterminação
no que diz respeito à escolha dos fins a prosseguir).

Criação e regime jurídico das pessoas coletivas públicas:


São criadas por iniciativa publica, em regra através de diploma legislativo, ficando vinculadas à prossecução de
interesses que hajam sido qualificados como público-administrativos e sendo titulares de direitos e deveres públicos.
Não gozam de direito de autodissolução; são titulares de poderes de autoridade e de deveres públicos (capacidade de
direito público); prosseguir atividades de gestão privada (capacidade de direito privado); autonomia administrativa e
financeira, podem celebrar contratos administrativos e gozam de isenções fiscais. Sendo de base territorial podem ser
titulares de bens públicos.

Atribuições ou fins (interesses) das pessoas coletivas públicas:


Afora o Estado, as pessoas coletivas existem especificamente para a prossecução dos fins cuja delimitação justificou
que lhes fosse outorgada personalidade jurídica – princípio da especialidade das pessoas coletivas. Caso se desviem
dos fins que lhes foram impostos, os seus órgãos excederão os seus poderes, uma atuação ultra vires.

Órgãos administrativos, titulares e trabalhadores da Administração Pública:


Órgão administrativo – centro institucionalizado de poderes funcionais (competências) consultivos, decisórios ou de
fiscalização, exercitáveis pelo individuo ou pelo colégio de indivíduos que dele façam parte, com o propósito de
exprimir uma vontade.
O seu titular ou membro é a pessoa física que o representa. A representação de um órgão só é possível mediante um
ato formal que opera a transformação institucional de um individuo ou indivíduos em titulares desse órgão. Esse ato
de ligação da pessoa ao órgão designa-se investidura.
Os trabalhadores da Administração Pública não têm poderes decisórios, limitando-se a executar tarefas materiais de
exercício ou a preparar, publicitar ou executar decisões dos órgãos.

Os órgãos podem ser singulares ou colegiais (quanto a nr de titulares); representativos ou não representativos
(titulares sejam eleitos ou não); centrais (se tiverem competência sobre todo o território nacional) ou locais (se a
competência estiver confinada a uma determinada circunstância administrativa).
Relevante é a distinção entre órgãos primários (dispõem de competências próprias), secundários (atuam ao abrigo de
uma competência delegada) ou vicários (atuam em substituição de outros órgãos).
Órgãos ativos (tomam decisões ou as executam), consultivos (dão pareceres ou esclarecem os órgãos ativos antes da
tomada de decisões), de controlo (compete fiscalizar a regularidade do funcionamento de outros órgãos).

Competências e legitimação:
Poderes (competências), finalidades (atribuições). Quando um órgão administrativo se apresta para atuar confronta-se
com um duplo constrangimento: por um lado, está limitado pela sua própria competência, estando-lhe vedado invadir
a esfera de competências de outros órgãos da mesma pessoa coletiva; por outro, encontra-se impedido de praticar
atos que não se enquadrem nas atribuições da pessoa coletiva em que se integre.

Na generalidade das pessoas coletivas, os órgãos administrativos têm competências diferentes para prosseguir as
mesmas atribuições. Quando um órgão pratica um ato estranho as atribuições da pessoa coletiva em nome da qual
atua esse ato é nulo, ao passo que quando atua fora da sua esfera de competências o ato em causa, e por via de regra,
é anulável.

Princípio da legalidade – só existe competências nos casos em que a lei a preveja de modo expresso. Ela é
imodificável, nem a administração nem os particulares podem alterar o conteúdo ou a repartição de competências
constantes da lei. A competência é irrenunciável e inaliável, os órgãos administrativos dela não podem abdicar e
apenas estão autorizados a transferir o respetivo exercício nos casos de delegação legalmente previstos.
Base legal, imodificabilidade, irrenunciabilidade e inalienabilidade (art.36 e ss do CPA).

Legitimação – qualificação específica de um órgão para exercer um poder ou faculdade (competência) numa situação
concreta.
Fatores que podem impedir a atuação dos órgãos administrativos – um órgão só pode exercer a sua competência
após haver obtido, na parte de outro órgão, uma autorização constitutiva da legitimação, que se destina a controlar
preventivamente a legalidade ou mérito do ato em vias de ser praticado.
Um órgão administrativo está vedado quando falte a investidura do seu titular ou quando este se encontre
impossibilitado de intervir no procedimento por força da verificação de um impedimento – art.69 ss CPA (princípio da
imparcialidade subjetiva).
Falta de quorum nas reuniões dos órgãos colegiais, estes só poderão deliberar se naquelas estiver presente a maioria
do número legal dos seus membros com direito a voto (art.29 CPA).

Sistemas de organização administrativa e relações funcionais interorgânicas:


A administração Pública portuguesa configura uma realidade centralizada. Talvez por isso, desde cedo, tenham
despontado tendências de descentração, que hoje claramente preponderam.
Tais tendências manifestam-se, no que diz respeito à organização administrativa de uma determinada pessoa
coletiva pública (sistemas de concentração e desconcentração – relações funcionais interorgânicas hierarquia e
delegação de poderes) e às relações entre o Estado e as demais pessoas coletivas públicas (fenómenos de
centralização e descentralização – relações funcionais interorgânicas - devolução de poderes – superintendência).

Concentração e desconcentração; Relações funcionais interorgânicas subjacentes - Hierarquia e delegação de


poderes:
Administração concentrada – decisões cabem em exclusivo ao superior hierárquico, reservando-se para os
subalternos as tarefas, instrumentais, de informação e de execução das decisões que aquele tome.
Administração desconcentrada – o poder de decidir é partilhado pelo superior e por um ou vários órgãos subalternos,
que ficam sujeitos à direção e supervisão daquele. A desconcentração liberta os superiores hierárquicos de tarefas que
(numa administração concentrada), lhe seriam cometidas em exclusivo.

Hierarquia administrativa – relação (exclusiva dos entes públicos) própria de um modelo de organização
administrativa vertical (de supra-infra ordenação), que liga dois ou mais órgãos com atribuições comuns através de um
vínculo jurídico consubstanciado no poder de direção (a cargo do superior hierárquico) e dever de obediência
(impende sobre o subalterno). A par do modelo de organização vertical, existem modelos horizontais que repousam
na colegialidade, no trabalho de equipa. Em Portugal, boa parte dos serviços públicos assenta no modelo vertical
hierárquico.

Poder de direção é o principal poder do superior, mas não o único (estes existem sempre – poderes nucleares):
Poder de direção – competência do superior hierárquico que se traduz na faculdade de dar ordens (comando através
do qual o superior impõe a adoção de uma determinada conduta aos subalternos) e expedir instruções (diretriz de
comportamentos para casos futuros, sendo transmitida por forma escrita – circular) ao subalterno, com o objetivo de
assegurar o bom funcionamento do serviço ou uma adequada interpretação da lei. Não carece de consagração legal
expressa e só existe e existe sempre na relação hierárquica. Ao subalterno cabe um dever de obediência às ordens e
instruções dos seus legítimos superiores hierárquicos, comandos estes emanados em matéria de serviço e sob forma
legal (art.271 n2 CRP).

Cessa o dever de obediência sempre que o incumprimento da ordem ou instrução implique a prática de um crime
(art.271 n3 CRP). Nestas situações o dever de obediência subsiste, mesmo que o subalterno se confronte com ordens
e instruções ilegais, neste caso o subalterno deverá reclamar ou exigir a confirmação da ordem por escrito, fazendo
expressa a menção de que a considera ilegal. Caso o interesse púbico exija uma execução imediata do comando do
superior hierárquico, a reclamação do subalterno pode ser feita à posteriori.

Poder de supervisão – consiste na faculdade de o superior revogar ou suspender os atos administrativos praticados
pelo subalterno. Este poder pode ser exercício “ex officio”, isto é, por iniciativa do superior, se decidir avocar (chamar
para si) a resolução do caso, ou a pedido do interessado através da interposição de um recurso hierárquico.

Poder disciplinar – faculdade de o superior hierárquico punir o subalterno com a cominação de sanções legalmente
previstas, na sequência da prática de infrações disciplinares por parte do subalterno.
Poderes não nucleares, existem normalmente, mas não integram obrigatoriamente a respetiva competência:
Poder de inspeção – faculdade de o superior fiscalizar o comportamento dos subalternos e o bom funcionamento dos
serviços que estão sob sua alçada.

Poder de decidir recursos hierárquicos – os atos do subalterno são suscetíveis de impugnação perante o superior,
esse recurso chama-se recurso hierárquico. Compete ao superior reapreciar os casos que, em momento prévio tenham
sido decididos pelos subalternos (art.197 CPA).

Poder de decidir conflitos de competência – faculdade de o superior hierárquico decidir a qual dos seus subalternos
pertence a competência atribuída por lei, se entre eles, suscitar um conflito (positivo ou negativo), art.51 n2 CPA.

As relações hierárquicas são típicas da administração direta do estado – art.199 d CRP.

Existem várias espécies de desconcentração. Elas poderão identificar-se de acordo com critérios dos níveis
(desconcentração a nível central e local, conforme tenha lugar no âmbito dos serviços da administração central ou no
âmbito dos serviços da administração local do estado), dos graus (desconcentração absoluta quando seja de tal
extensão e amplitude que os órgãos subalternos visados se convertem em órgãos independentes, cessando a relação
hierárquica ou relativa quando sendo de menor intensidade, os subalternos conservam essa sua natureza,
permanecendo subordinados aos poderes do superior hierárquico) e das formas (desconcentração originária,
repartição legal de competências entre superiores e subalternos e desconcentração derivada, pressupõe um ato
especifico do superior destinado a operar, em concreto, a desconcentração de competências – reconduz à delegação
de poderes).

Delegação de poderes – importante instrumento de desconcentração administrativa (art.44 ss CPA). É constitutiva de


uma relação especial de competência entre órgãos administrativos. A delegação de poderes (competências) como o
ato (administrativo) por intermédio do qual um órgão (o delegante), com base numa lei de habilitação, permite que a
sua competência decisória em determinada matéria seja exercida por outro órgão (o delegado) da mesma ou de outra
pessoa coletiva. Nesta última hipótese, prevista no art.44 n1 CPA, a delegação será, simultaneamente, de
competências e de atribuições.
Para haver delegação é necessária uma lei que especificamente a preveja (lei de habilitação). Casos de delegação
art.36 CPA e art.111 n2 CRP. A habilitação para a prática da delegação de poderes pode ser genérica – no art.44 n3 e
4, a lei admite, em termos gerais, que atos de administração ordinária (atos preparatórios ou de mera execução)
possam ser praticados pelos imediatos inferiores hierárquicos, pelos adjuntos ou substitutos, ou pelos presidentes de
órgãos colegiais, sob delegação, respetivamente, do superior, do órgão principal ou do órgão colegial, ou especifica – a
lei tem de prever expressamente as competências suscetíveis de delegação, os órgãos que dela podem ser
beneficiários, bem como a possibilidade de subdelegação.

Espécies de delegação:
Extensão – delegação ampla ou restrita consoante delegante decida delegar uma grande parte ou apenas uma
pequena parcela das suas competências. A delegação total deverá ter-se por excluída porque tal representaria uma
renúncia ao cargo por parte do delegante, quer porque há competências indelegáveis, quer for força da lei ou ex
rerum natura (ex o poder disciplinar que o superior não poderá delegar ao subalterno – art.45 CPA.
Objeto – especifica ou genérica, conforme vise a prática de um ato isolado ou se destine à prática de uma pluralidade
de atos.
Delegação hierárquica – efetua-se entre o superior entre o superior hierárquico e o seu subalterno. Cabe sempre
recurso hierárquico para o superior (delegante). No caso de uma delegação não hierárquica, oderá a lei admitir um
recurso hierárquico impróprio, hoje, recurso administrativo especial (art.199 n2 CPA). Delegação não hierárquica –
concretiza-se entre órgãos administrativos, independentemente de qualquer vínculo hierárquico.
Delegação propriamente dita (1 grau) subdelegação de poderes (art.46 CPA).

Traços fundamentais do regime jurídico da delegação de poderes – consta nos art.44 a 55 CPA. Sob pena de invalidade
do ato de delegação, deve o órgão delegante especificar os poderes que são delegados (ou subdelegados) ou quais os
atos que o delegado (ou subdelegado) pode praticar (art.47 n1 CPA). Sob pena de ineficácia, os atos de delegação
estão sujeitos a publicação no DR, ou tratando-se da administração local, no boletim da autarquia (art.47 n2 CPA).
Poderes do delegante – faculdade de avocação (art.49 n2 CPA). O delegado deixa de poder decidir certos casos
concretos cuja resolução passa a ser de novo, exclusivamente, do delegante. Em cada momento há um só órgão
competente, ficando excluída a simultaneidade de competências.

Existe ainda a faculdade de o delegante, com base em ilegalidade ou inconveniência, anular, revogar ou substituir os
atos praticados pelo delegado (ou subdelegado), ao abrigo da delegação (subdelegação). Está autorizado a emitir
diretivas ou instruções vinculativas para o delegado (art.49 n1 CPA).
A falta de menção da delegação no ato praticado ao seu abrigo não afeta a respetiva validade, se os interessados não
possam ser prejudicados no exercício dos seus direitos em virtude do desconhecimento da existência da delegação ou
subdelegação (art.48 n1 e 2 CPA).
Ver art.50 CPA.

Natureza jurídica da delegação:


Tese da transmissão ou da alienação da competência – delegação de poderes consubstancia uma transmissão ou
alienação da competência do delegante para o delegado. Não se adequa, pois, implicaria que os poderes objeto da
delegação passassem integralmente para o delegado o que era incompatível com os sobreditos poderes de avocação
de certos casos concretos.
Tese da autorização constitutiva – lei de habilitação atribui, diretamente, competência ao delegado sobre as matérias
em que admite a delegação. Não se adequa com os poderes de orientação, anulação e revogação, tais poderes que
demonstram que o delegado não pratica atos administrativos no exercício de uma competência própria.
Tese da transferência de exercício – a delegação de poderes desencadeia, materialmente, uma transferência de
certos poderes funcionais do delegante para o delegado. É esta tese doutrinal que melhor se adequa à natureza
jurídica da delegação de poderes. O delegado exerce essa competência em nome próprio, razão por que a delegação
de poderes significa o exercício em nome próprio de uma competência alheia (transferência do exercício e não da
titularidade da competência).

Atos que não tenham sido objeto de delegação estão feridos de incompetência.

Centralização e descentralização; Tutela administrativa

Aqui estão em jogo várias pessoas coletivas públicas em simultâneo.


Sistema centralizado – aquele em que a lei confere ao Estado a totalidade das atribuições administrativas.
Sistema descentralizado – aquele em que a função administrativa é confiada a várias pessoas coletivas públicas
territoriais, nomeadamente, o estado e as autarquias locais. Este sistema pode ser centralizado em termos político-
administrativos, bastando, por ex, que os órgãos das autarquias locais sejam nomeados e exonerados pelos órgãos do
Estado.

Freitas do Amaral defende que é possível a conjetura das quatro combinações. Descentralização com desconcentração
corresponde, nos termos dos art.6 e 267 n2 CRP, ao modelo constitucional de organização da Administração Pública
portuguesa.

A centralização, vocacionada para assegurar a unidade do Estado e para garantir uma melhor coordenação no
exercício da função administrativa, tem como inconveniente de favorecer o crescimento desmesurado do poder
central e de potenciar a ineficácia da ação administrativa, descurando a vida local autónoma e a autodeterminação das
populações.

A descentralização constitui um entrave ao absolutismo do poder central, criando um modelo pluralista de


Administração Pública e permitindo aos cidadãos participar na tomada de decisões em assuntos que contendam com
os seus interesses. A descentralização tem de estar sujeita a certos limites no que toca ao modo como são exercidos os
poderes que tenham sido transferidos – tutela administrativa.

Tutela administrativa – poder (de controlo) conferido a uma pessoa coletiva pública de intervir na gestão de outra
pessoa coletiva, com o propósito de coordenar os interesses próprios da entidade tutelada com os interesses cuja
prossecução está encarregue ao órgão tutelar. Tal intervenção reconduz-se a um controlo de legalidade ou do mérito
da atuação da entidade tutelada.

Fim – pode ser de legalidade (órgão tutelar indaga se as decisões da entidade tutelada são ou não conformes a lei) ou
de mérito (tal indagação se destine a apurar se determina decisão, independentemente, da sua legalidade, é ou não a
mais conveniente em termos administrativos, financeiros, etc.). A tutela do Governo sobre as autarquias locais é uma
tutela de legalidade (art.242 n1 CRP), sobre os institutos públicos e empresas públicas poderá haver tutela de mérito.
Conteúdo – a tutela pode ser corretiva ou integrativa (incide sobre atos projetados – tutela corretiva a priori, ou
sobre decisões – tutela corretiva a posteriori) dos órgãos tutelados, concretizando-se na autorização ou não de tais
projetos e na aprovação ou não dessas resoluções já tomadas. Em ambas as hipóteses trata-se de corrigir ou de evitar
os inconvenientes, para o interesse geral, que possam advir da atuação dos órgãos tutelados);
Tutela inspetiva (poder de fiscalizar o funcionamento da pessoa coletiva tutelada. Se detetadas irregularidades, a
tutela inspetiva pode estar na antecâmara da tutela sancionatória, pois haverá a necessidade de atuar sanções).
Tutela sancionatória (poder de aplicar sanções por irregularidades cuja existência tenha sido detetada na organização
e no funcionamento da pessoa coletiva tutelada. Essas sanções podem ser cometidas quer à pessoa coletiva quer aos
seus órgãos e agentes).
Tutela revogatória (poder – excecional – de revogar os atos administrativos praticados pela entidade tutelada).
Tutela substitutiva ou supletiva – poder de o órgão tutelar suprir as omissões do órgão tutelado, praticando em vez
dele e por conta dele os atos legalmente impostos.

Em Portugal face ao disposto na nossa constituição (art.242 n1 CRP) a tutela inspetiva teria cabimento, pois, em bom
rigor, só ela se destina a verificar se a atuação das autarquias é legal ou ilegal. A operação da legalidade não é
exclusiva da tutela inspetiva, podendo também ser efetuada pela tutela corretiva. Quanto às demais formas de tutela
dificilmente se compatibilizam com a CRP.

Os poderes de tutela administrativa não se presumem. Os atos de uma determinada pessoa coletiva só estão sujeitos
a tutela nos casos e nos termos que a lei, expressamente, previr. É sobre a administração autónoma que ela assume
maior relevância, dado ser o único tipo de relação funcional que a liga ao Governo (art.199 d CRP).

Devolução de poderes; Superintendência:


Quer o Estado quer as pessoas coletivas de fins múltiplos (Regiões Autónomas e Autarquias Locais) estão incumbidas
da prossecução de certos interesses públicos. Ou todos esses interesses são postos por lei a seu cargo (sistema de
integração) ou alguns deles são transferidos para pessoas coletivas públicas de fins singulares (sistema de devolução
de poderes).
Devolução de poderes – sistema por meio do qual alguns interesses públicos do Estado ou de pessoas coletivas de
população e território são cometidos por lei a pessoas coletivas públicas de fins singulares – os organismos
dependentes (institutos públicos, empresas públicas, etc.). O Estado passa a efetuar uma administração indireta, uma
vez que a lei devolve atribuições suas a outras pessoas coletivas, que as prosseguem através de órgãos próprios. As
entidades que atuam por devolução de poderes do Estado além de estarem sujeitas à tutela administrativa, estão sob
alçada de outro poder do Estado, a superintendência (art.199 d CRP).

Superintendência – poder de orientação conferido ao Estado ou a outra pessoa coletiva de fins múltiplos, que se
traduz na possibilidade de emissão de diretrizes ou diretiva destinadas a fixar os objetivos estratégicos e a guiar a
atuação das pessoas coletivas de fins singulares que a lei coloca na dependência daquelas. À semelhança da tutela,
não se presume, só podendo ser exercida quando prevista, expressamente, na lei.

Setores da organização administrativa portuguesa:


A Administração Pública portuguesa é complexa e multifacetada. Administração estadual (direta ou indireta);
administração autónoma e administração independente.

Administração estadual direta:


Integram as entidades que prosseguem a satisfação de interesses públicos de carater nacional. Trata-se da atividade
administrativa exercida diretamente por serviços e órgãos que fazem parte da pessoa coletiva Estado. Estes estão
estruturados sob forma de pirâmide, uma relação hierárquica (art.199 d CRP) no topo está o Governo – órgão superior
da Administração Pública (art.182 CRP). Na sua dependência direta, através dos vários Ministérios, encontramos
serviços centrais, cuja competência se estende a todo o território nacional e serviços locais, com uma competência que
se confina a uma determinada circunscrição administrativa. É a divisão do território em circunscrições que permite
delimitar a área de competência dos serviços locais do Estado.

Traços específicos:
Pluralidade de órgãos e serviços do Estado; estes órgãos e serviços encontram-se organizados em ministérios, que são
departamentos do Estado delimitados por assuntos ou matérias, cada qual dotado de atribuições distintas definidas
pelas respetivas leis orgânicas. No entanto, o Estado conserva uma personalidade jurídica una, pelo que cada órgão
estadual, na sua atuação concreta, vincula o Estado. Carater instrumental da administração direta do Estado, no
sentido em que serve de instrumento à realização dos fins do Estado. Não se trata de uma administração autónoma ou
independente por apresentar uma estrutura hierarquizada e por decorrência da Constituição se submete aí poder de
direção do Governo (art.199 d CRP). Disto resulta a supremacia do Estado-administração.

Administração estadual indireta:


A par das finalidades que o Estado prossegue através da sua administração direta, há outras cuja realização a lei atribui
a pessoas coletivas distintas do Estado (Banco Portugal, Hospitais e Universidades Públicas, etc.), mas que atuam por
conta deste e sob a sua orientação e controlo, efetuando o Estado uma administração indireta. Aqui estão em causa
serviços que tem personalidade jurídica própria e que, consequentemente, passam a ser sujeitos de direito distintos
do Estado (Banco de Portugal que exerce a função de supervisão do sistema bancário privado, que é uma função do
Estado, mas que este não exerce através do Ministério das Finanças).
Atividade administrativa destinada à realização de fins do Estado, mas cometidas a certas entidades dotadas de
autonomia jurídica, administrativa ou administrativa e financeira.
Estes centros autónomos de decisão e gestão dispõem de pessoal, orçamento e património próprios, encontrando-se,
por isso, desinseridos da pessoa coletiva Estado.
As entidades que fazem arte da administração indireta do Estado exercem a sua atividade em nome próprio (embora,
por conta do Estado); praticam os seus próprios atos administrativos (capacidade de administração própria); têm
património e pessoal próprios e pelas dividas desses organismos respondem, primária e diretamente, os respetivos
patrimónios, havendo uma responsabilidade subsidiária apenas e situações-limite (de iminente rutura financeira).
Embora se tratem de pessoas coletivas diferentes do Estado, cabe a este criar (ou extinguir), em regra através de ato
legislativo, tais entidades, como lhe cabe assegurar o financiamento desses organismos.

Entidades (para-estaduais) que pertencem ao setor da administração indireta do Estado – institutos públicos e as
entidades empresariais (empresas públicas e empresas participadas) integrantes do setor público administrativo (SPA)
e do setor público empresarial (SPE).

Institutos públicos – pessoas coletivas públicas de carater institucional, criadas pelo Estado através do Governo, para
assegurar o exercício de certas (específicas) funções administrativas estaduais, que não se revistam de natureza
empresarial. Qualquer pessoa coletiva de fins múltiplos, e não apenas o Estado, pode exercer uma administração
indireta através de institutos públicos que tenham sido criados por devolução de poderes.
Diferenças do ponto de vista organizativo: serviços personalizados (espécie de departamentos ministérios, a lei
outorga personalidade jurídica e autonomia); estabelecimentos públicos (caracter cultural e social, prestadores de
determinados serviços à comunidade e, normalmente, abertos ao público, centros de investigação científica, que não
estejam organizados em moldes empresariais); fundações públicas de direito público.

Também as empresas públicas integram administração estadual indireta. Do setor público empresarial (setor
empresarial do Estado) fazem parte as empresas públicas e as empresas participadas – entidades públicas
empresariais (EPEs). Estamos perante pessoas coletivas de direito público, mas sujeitas a regimes jurídicos de direito
privado. Nascem do propósito do Estado intervir em setores-chave da economia e com o objetivo de alcançar uma
maior eficiência da Administração. Estão sujeitas, em grau variável, à superintendência e tutela do Governo.

Existe ainda administração indireta privada constituída por pessoas coletivas administrativas de direito privado
(sociedades, associações, fundações e cooperativas).
Administração Autónoma:
Visa prosseguir interesses públicos próprios das pessoas que a integram. Estas atuam com independência, orientando
a sua atividade (tarefas próprias) sem estarem sujeitas à hierarquia ou à superintendência do Governo (ideia de auto-
administração). Exercem autonomamente, ficando apenas sujeitas a um poder de fiscalização e controlo (tutela de
legalidade) por parte do Governo.
Pressupõe a existência de uma coletividade (agrupamento homogéneo), territorial ou não territorial, com
características próprias dentro do todo nacional. Os administrados são simultaneamente autores e destinatários das
decisões administrativas (administração pelos administrados ou autogoverno), têm uma responsabilidade própria,
estão, no entanto, sujeitos a um controlo de legalidade. Substrato pessoal próprio, tarefas próprias, autogoverno e
responsabilidade própria – elementos essenciais.
Vertentes principais:
Personalidade jurídica (autonomia).
Autonomia estatuária – determinada pessoa coletiva dotar da sua própria “constituição”, elaborando, nos termos da
lei, estatutos, nos quais surgirá regulada a sua organização.
Autonomia regulamentar (normativa) – possibilidade de adotar regulamentos autónomos
Autonomia administrativa – poder conferido a determinado organismo de praticar atos administrativos definitivos,
insuscetíveis de controlo hierárquico e impugnáveis contenciosamente.
Autonomia disciplinar – capacidade de definir e julgar as infrações às leis e regulamentos e aplicar as devidas sanções
Autonomia financeira – garantia que os rendimentos da pessoa coletiva constituem receitas próprias

No direito português existem diversas entidades que levam a cabo uma administração autónoma: administração
autónoma territorial e administração autónoma não territorial (corporativa ou funcional) – são organizações de
pessoas.

Administração autónoma territorial:


Território faz parte da definição de substrato das respetivas entidades (Regiões autónomas e autarquias locais). Destas
faziam parte as regiões administrativas caso tivessem sido institucionalizadas (art.236 n1 e 255 CRP).
Exibe um caracter de universalidade, visto que se dirige a todos os membros da coletividade territorial. Têm fins
múltiplos ou generalidade de atribuições, cabendo falar-se numa administração multifuncional ou polivalente. É
constitucionalmente necessária, visto estar prevista e regulada na Lei Fundamental (art.255 n1 e 3 CRP). São pessoas
coletivas públicas de população e território, distintas do Estado, que visam prosseguir os interesses próprios das
respetivas populações, dispondo, de um vasto leque de competências, constantes no art.227 CRP.
As autarquias locais (freguesias e municípios) partilham destas mesmas características (art.235 n2 CRP). A organização
das autarquias locais assenta na coexistência entre órgãos deliberativos e executivos, rectius, entre uma assembleia
eleita, dotada de poderes deliberativos, e um órgão executivo colegial perante ela responsável (art.239 n1 CRP). São
órgãos representativos da freguesia a assembleia de freguesia e a junta de freguesia (art.244 CRP) e, do município, a
assembleia municipal e a camara municipal (art.250 CRP). Apesar de nem a constituição nem a lei das autarquias o
considerarem, o presidente da camara municipal é considerado também um órgão autónomo do município.

Administração autónoma não territorial:


Território não releva para a definição do substrato das entidades (pessoas coletivas públicas) que a desenvolvem. Não
tem caracter de universalidade, abrange apenas os grupos de pessoas ligadas por determinadas afinidades. Não tem
fins múltiplos, mas sim atribuições especificas. É, em regra, facultativa, a existência das entidades que a integram
depende da decisão legislativa e dos próprios interessados. Atipicidade constitucional e apresenta uma grande
variedade organizativa. É assegurada pelas associações públicas (pessoas c p, de natureza associativa, criadas pela
necessidade de assegurar a prossecução autónoma de certos interesses públicos pertencentes aos seus membros, e
tem órgãos próprios com capacidade de autogoverno, apenas controlados pela tutela estadual) – art.267 n4 CRP. A
sua legislação inscreve-se no âmbito da reserva relativa da AR (art.165 n1 CRP). Não pode haver associações públicas
com o mesmo âmbito de jurisdição (princípio da unidade). Associações e ordens profissionais – possuem autonomia e
gozam de poderes regulamentares e disciplinares, no caso de infrações graves as sanções disciplinares podem ir ate à
suspensão ou expulsão da associação profissional em causa, estão ainda sujeitas a uma tutela de legalidade idêntica à
que o Governo exerce sobre a administração autónoma territorial.
Administração Independente:
Constituída por organismos criados pelo Estado, com vista à realização de competências que lhe competem (tal como
na administração estadual indireta), mas que lhe não estão subordinadas nem sujeitas ao seu controlo (tal como na
administração autónoma).
Características principais dos órgãos independentes no ordenamento jurídico-administrativo português:
Segundo Freitas do Amaral, são eleitos pela AR e integram titulares designados por entidades privadas; os membros
designados pelo Governo não o representam nem estão sujeitos às suas instruções; não devem obediência a outros
órgãos; titulares são inamovíveis e irresponsáveis; os seus titulares não podem ser dissolvidos nem demitidos; as
tomadas de decisões são públicas e as suas funções são, por norma, deliberativas.
Por seu turno, Vieira de Andrade, afirma que as autoridades administrativas independentes são entidades associadas
ao Parlamento, com poderes de fiscalização da legalidade administrativa e de garantia dos direitos dos cidadãos.

Num sentido mais amplo, integram a administração independente as demais entidades reguladoras previstas no
art.267 n3 CRP.

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