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O direito administrativo é um ramo de direito público (disciplina relações em que um dos sujeitos está, perante outro,
numa posição de supremacia – jus imperium). No direito administrativo está posição de supremacia justifica-se pelo
reconhecimento de que os interesses privados devem ceder perante os interesses coletivos. As normas que o
constituem visam regular a organização e a atividade das entidades que fazem parte da administração pública e
disciplinar juridicamente certo tipo de relações que se estabelecem entre esta e outros sujeitos de direito.
Administrar significa gerir recursos escassos tomando decisões racionais com vista à satisfação de um conjunto de
necessidades. Administração pública tem em vista toda uma gama de interesses coletivos, interesses estes que se
referem a uma generalidade de pessoas, a um público, de cuja satisfação.
Administração privada e administração pública distinguem-se quanto ao objeto sobre que incidem, quanto ao fim que
prosseguem e quanto aos meios que empregam.
Objeto – Ad. Pública visa satisfazer necessidades coletivas e Ad. Privada visa a satisfação de necessidades individuais, ou
de um grupo não afetando a coletividade como um todo (administração de uma empresa familiar).
Fim – Ad. Pública, por força da constituição e da lei, à prossecução de um interesse público e Ad. Privada prosseguir
finalidades de caracter pessoal ou particular.
Meios – Ad. Pública está habilitada a utilizar determinados meios de autoridade, como o regulamento e o ato
administrativo que se impõe aos destinatários independentemente do seu consentimento. Ad. Privada, cada pessoa
lança mão dos mecanismos jurídicos que melhor se afeiçoam à posição de igualdade entre as partes.
Em sentido orgânico – sistema complexo de órgãos hierarquizados. Em causa estão o estado, cujo órgão superior é o
Governo, e as demais pessoas coletivas públicas, que se acham agrupadas em vários setores. Aparelho administrativo,
formado por pessoas coletivas públicas, fazem parte as administrações estaduais (a direta e a indireta), as
administrações autónomas (a territorial e a não territorial ou corporativa) e a administração independente. A
administração pública não se esgota no Estado, abrange também, organismos dotados de personalidade jurídica
própria, mas que atuam por conta do estado, prosseguindo atribuições deste, ao abrigo da devolução de poderes. A
noção orgânica da administração pública recobre duas realidades distintas: pessoas coletivas públicas e serviços
públicos e os indivíduos (funcionários) que atuam ao serviço da organização administrativa.
Em sentido material – Atividade de administrar enquanto tarefa do estado. Compete ao Governo, no exercício de
funções administrativas “praticar todos os atos e tomar todas as providencias necessárias à promoção do
desenvolvimento económico-social e à satisfação de necessidades coletivas art.199 CRP. A administração pode impor
coercivamente as suas decisões, caso os destinatários respetivos relutem ou recusem acatá-las voluntariamente –
privilégio da execução prévia, não é necessário recorrer previamente aos tribunais, são os particulares que podem
contestar judicialmente os atos administrativos já praticados, sem que esta contestação tenha efeitos suspensivos na
executoriedade própria do ato.
Em sentido formal – formas típicas de atuação da administração pública, ou seja, quais os modos pelos quais ela
desenvolve a sua atividade jurídica de autoridade, nomeadamente, regulamento, ato administrativo e contrato. Ações
materiais da Administração – ações materiais de exercício (projetam os seus efeitos para o exterior dos órgãos que as
concretizam afetando interesses dos particulares – pavimentação de uma rua); ações materiais de execução
(cumprimento de injunções da própria administração, do poder judicial ou de um ato legislativo – cumprimento de uma
sentença de despejo).
A administração pública analisa-se num conjunto de órgãos, ligados por determinadas relações funcionais (sentido
orgânico), que, com caracter de permanência, desempenham tarefas destinadas à satisfação de necessidades coletivas
(sentido material), e que exteriorizam a sua vontade através de atos dotados de características formais e substantivas
próprias (sentido formal).
A administração e as demais funções do Estado
Compreender verdadeiramente a administração pública, supõe que a situemos no quadro das funções do estado.
Política e administração pública – compete à política definir o interesse geral da coletividade, interesse esse que a
administração pública está incumbida de satisfazer e concretizar. A administração pública na sua ação quotidiana, está
duplamente subordinada às opções e diretrizes dos órgãos políticos e aos comandos do legislador (princípio da
legalidade). São os órgãos superior do estado que desempenham a função política, ficando, a administração pública
confiada a órgãos secundários, bem como a entidades e organismos não estaduais, ainda que sujeita, à direção e
controlo daqueles órgãos superiores, nomeadamente do Governo.
Legislação e administração pública – à semelhança da função política, também a lei assume determinadas opções e
objetivos que a administração pública se encarrega de pôr em prática. Segundo Freitas do Amaral – “a administração
pública é uma atividade totalmente subordinada à lei: a lei é o fundamento, o critério e o limite de toda a atividade
administrativa. Uma vez que, há atos da administração que se equiparam às leis (caso dos regulamentos autónomos)
concluiu-se zonas de interseção entre ambos.
Justiça e administração pública – à justiça cabe julgar, aplicando o direito a casos concretos, à administração cabe gerir
recursos escassos com vista à satisfação de interesses coletivos. Daí que a justiça seja “cega”, desinteressada. Em
contrapartida, a administração defende e prossegue os interesses postos por lei a seu cargo, atua como parte
interessada. A administração é uma estrutura hierarquizada de órgãos e agentes, marcada pelos laços de dependência e
pelo dever de obediência dos subalternos perante os superiores.
Época medieva (séc.V a XV) – trata-se de um período histórico ligado ao feudalismo ou regime senhorial, que consistia
em laços de servidão pessoal entre vassalos e seus senhores. A descentralização, escassa institucionalização e ausência
na gestão de coisas públicas são os traços distintivos das sociedades medievais. Não havendo uma administração
pública em sentido verdadeiro e próprio não podia falar-se em direito administrativo, havia sim um direito comum que
tinha como fonte principal o costume.
Época moderna e o Estado-de-Polícia (séc.XV a XVIII) – a partir do final da idade média, diversos fatores foram
desimpedindo o caminho para o aparecimento dos Estados modernos. Fatores de ordem religiosa, tratados de paz de
Westefália 1648 puseram termo à guerra religiosa dos Trinta Anos, simbolizando a derrota do império e do Papado,
forjou-se uma nova ordem política na Europa ocidental, assente na emergência de entidades soberanas e
independentes, juridicamente iguais entre si. Fatores de ordem espiritual, recuperação da cultura clássica, do culto do
espírito científico e matemático. Fatores de ordem económica, uma vez que o incremento das trocas comerciais foi
aproximando as populações, fortalecendo o sentimento de pertença a cada comunidade ou reino, com a consequente
sedimentação das identidades nacionais (europeias). Fatores de ordem militar, uma vez que as guerras, sobretudo
religiosas, reclamaram a criação de exércitos regulares e a institucionalização de administrações vocacionadas para
acudir às necessidades especificas geradas.
A partir de meados do séc.XVII até aos finais do séc.XIX, a organização política das sociedades europeias evoluiu para
uma forma que ficaria conhecida como estado-de-polícia, inspirado no movimento do Iluminismo (procurava explicar e
dominar pela razão a problemática total do homem). A centralização de poderes no representante máximo da
comunidade, o monarca, converte o estado-de-polícia num estado absoluto. Mais do que assegurar as necessidades
coletivas, interessava ao monarca proceder ao desenvolvimento e engrandecimento do país numa lógica de competição
com o “clube” das “nações cultas e polidas”. Tal conduziu ao desenvolvimento da administração pública estadual que
gozava de uma ampla liberdade de atuação, sem subordinação ao direito (público), razão pela qual, ainda não poderá
falar-se em direito administrativo nesta época.
Época liberal (séc.XVIII até às guerras mundiais da primeira metade do séc.XX) – Os ideias da liberdade e da
democracia são alcandorados a valores supremos da comunidade política. Em nome deles se contestou a opressão a
que estavam sujeitos os cidadãos e se pôs em causa a legitimidade monárquica, abrindo caminho para o aparecimento
das primeiras repúblicas. A época liberal foi tornando-se realidade ao compasso da assimilação de dois princípios que
representaram um verdadeiro ato de nascimento para o direito administrativo – princípio da separação de poderes
(repousa numa distinção material das varias funções do Estado – para cada função deveria existir um órgão próprio,
poder legislativo ao parlamento, judicial aos tribunais e executivo ao governo) e princípio da legalidade da
administração (subordinação da administração à lei, lei geral e abstrata que constituía a expressão da vontade da
sociedade representada no Parlamento, que ao mesmo tempo que legitimava politicamente a atuação da
administração, garantia o direito dos cidadãos, sinonimo de principio do estado de direito). Este direito não é fruto de
leis do parlamento, não foi criado por via legislativa, surge em frança da atuação de um órgão de um estado - conselho
de estado. Junto deste órgão os cidadãos formulavam queixas relativamente a atuação dos poderes públicos
(convertido o conselho quase como um tribunal), este concelho deu origem a um novo ramo de direito, surge pelas
decisões do conselho de estado – origem jurisprudencial. A administração entra uma administração de autoridade. O
estado e sociedade eram realidades distintas, raramente se intersetavam. O estado era escassamente intervencionista
nos domínios económico e social.
Época do estado de direito social e tendências atuais de transformação (da segunda metade do séc.XX em diante) –
acontecimentos marcantes da primeira metade do séc.XX, as duas guerras mundiais (1914-18 e 1939-45), e a grande
depressão americana (1929-32). A primeira guerra mundial e os anos subsequentes ao seu termino pretextaram um
cada vez maior intervencionismo do estado na sociedade e economia, o que causou um forte impacto na administração
pública. O estado intervencionista assumiu-se como produtor de bens e prestador de serviços, o que lhe valeu o epíteto
de “Estado Providencia” ou Estado de bem-estar. A nova administração de prestação vai sobressaindo a par da
tradicional administração de autoridade. Para além do intervencionismo económico o estado tinha também uma ampla
ação cultural e social, tudo na tentativa de construção de uma sociedade mais justa e solidária, pressupor a dispensa de
um tratamento de favor às camadas mais desvalidas da população. Tal discriminação positiva tem subjacente uma nova
compreensão do princípio de igualdade (proibição de discriminação como numa obrigação de diferenciação).
Regulação - adoção de um conjunto de regras que se harmonizam com vista a assegurar o funcionamento equilibrado
e racional de um sistema. Surge como intervenção no sentido de condicionamento e disciplina.
Internacionalização – com o fenómeno da globalização tornam-se quase evanescentes as fronteiras entre os Estados,
favorecendo a emergência de um direito administrativo global. Relacionamento entre vários sujeitos de direito
(estados, organizações internacionais, associações públicas e privadas) atuam nas redes administrativas internacionais.
No plano das manifestações do poder administrativo, ganha uma importância crescente o ato administrativo
transnacional (enquanto decisão de um estado, quer em razão dos seus efeitos, quer por força dos seus destinatários,
quer ainda pelo local da sua partida, deixa de confinar-se a um determinado espaço nacional). A internacionalização
do direito administrativo é, sobretudo, uma europeização, que decorre de uma cada vez maios integração das
administrações nacionais e destas com a administração supranacional. O direito europeu foi insuflando no direito
administrativo desenvolvendo-se um direito administrativo europeu (conjunto de normas reguladoras da cooperação
administrativa entre a União e os Estados membros). As normas emanadas das instituições da União prevalecem sobre
as normas internas (art.8 n4 CRP), imposição normativa e reguladora deste direito cada vez maior.
Sistemas Administrativos
Sistemas administrativos: o tradicional que vigorou na Europa até ao séc.XVII e XVIII e o moderno que se desdobra em
dois modelos distintos: o sistema de tipo francês ou administração executiva e o sistema de tipo britânico ou de
administração judiciária.
Sistema tradicional – O rei era o supremo administrativo e o supremo juiz, exercendo uma função administrativa e
uma função judicial. Tornou-se então necessária uma separação de poderes. A administração pública não estava
subordinada ao princípio da legalidade. À época não havia ainda um verdadeiro Estado de Direito.
Neste sistema o Estado e demais entes públicos são responsáveis pelos atos dos seus funcionários que violem direitos,
liberdades e garantias dos cidadãos, ficando obrigados a ressarcir as vítimas mediante o pagamento de uma
indemnização (art.22 CRP).
Sistema administrativo de tipo britânico ou de administração judiciária – vigora na generalidade dos países anglo-
saxónicos, influenciando, os países da América Latina, sobretudo o Brasil.
A organização administrativa é marcadamente descentralizada, inexistência da entidade estado enquanto pessoa
coletiva, em Inglaterra as autarquias locais terem sempre gozado de uma ampla autonomia converteu-as em
entidades independentes (não meros instrumentos ou órgãos subordinados) do governo central, atuando como
autênticos governos locais.
Subordinação da Administração ao direito comum, provém dos costumes imemoriais do Parlamento ou é firmado
pelos precedentes judiciais. Todos estão submetidos a esse direito comum, pelo que só excecionalmente gozam de
poderes de autoridade ou de decisão unilateral.
Sujeição da Administração aos tribunais comuns, vigorando uma só medida de direitos para todos. Os litígios opondo
autoridades administrativas e particulares recaem na jurisdição normal desses tribunais, aí sendo apreciados de modo
idêntico ao dos conflitos entre particulares. Não encontramos tribunais especiais incumbidos de sindicar a legalidade
dos atos administrativos.
Execução judicial das decisões administrativas, a Administração não goza de privilégio de execução prévia estando-
lhe vedada a execução das suas decisões por autoridade própria. Deste modo, sempre que os particulares não acatem
voluntariamente um ato administrativo desfavorável, a Administração não pode impô-lo coativamente.
No que toca às garantias jurídicas dos particulares contra ilegalidades e abusos da Administração Pública, compete
aos tribunais comuns.
Diferenças fundamentais – direito regulador da atividade administrativa (direito administrativo (francês), direito
comum (britânico); controlo jurisdicional (dualidade de jurisdições (francês) e tribunais comuns (britânico); execução
das decisões (autoridade própria (francês) e previa intervenção do tribunal (britânico).
Aspetos fundamentais – princípio da separação de poderes e princípio da legalidade administrativa/estado de direito.
A Organização Administrativa
Na administração pública, o serviço administrativo constitui a unidade fundamental da organização. Os serviços são
meros instrumentos das entidades (sujeitos de direito) que participam na vida jurídica.
Estrutura, é constituída por pessoas coletivas publicas (ou de direito público), as quais dispõem órgãos que as
representam e através de cujos titulares exprimem a sua vontade.
Personalidade, é um atributo que permite adquirir direitos ou contrair obrigações. Compete ao direito (rectius, ao
legislador) atribui-la.
Atendendo à sua função ou aos fins que está adstrita, podemos distinguir a vontade individual da vontade coletiva. A
última caberá falar sempre que alguém atua em nome alheio ou tem de afeiçoar a sua conduta aos interesses de
outrem (vontade funcional). A vontade coletiva reconduz-se “ao que deve ser querido para realizar eficaz e
perfeitamente um dado interesse coletivo. Pessoa coletiva (centro de interesses coletivos organizados de feição a que
se forme uma vontade coletiva).
A função administrativa não é hoje exclusivamente exercida por pessoas coletivas d direito público, é levada a cabo
por pessoas coletivas de direito privado, que atuam sob égide de regimes especiais de direito público.
Estados e entes públicos menores – ao contrário dos entes públicos menores, o estado não é um ente exclusivamente
administrativo. Eles dependem do estado (através do seu órgão principal: o governo), que sobre eles exerce os
poderes de superintendência e tutela administrativa. Entes públicos independentes (a nomeação e exoneração dos
seus órgãos processa-se com independência em relação ao Estado); os dependentes (não gozam de autodeterminação
no que diz respeito à escolha dos fins a prosseguir).
Os órgãos podem ser singulares ou colegiais (quanto a nr de titulares); representativos ou não representativos
(titulares sejam eleitos ou não); centrais (se tiverem competência sobre todo o território nacional) ou locais (se a
competência estiver confinada a uma determinada circunstância administrativa).
Relevante é a distinção entre órgãos primários (dispõem de competências próprias), secundários (atuam ao abrigo de
uma competência delegada) ou vicários (atuam em substituição de outros órgãos).
Órgãos ativos (tomam decisões ou as executam), consultivos (dão pareceres ou esclarecem os órgãos ativos antes da
tomada de decisões), de controlo (compete fiscalizar a regularidade do funcionamento de outros órgãos).
Competências e legitimação:
Poderes (competências), finalidades (atribuições). Quando um órgão administrativo se apresta para atuar confronta-se
com um duplo constrangimento: por um lado, está limitado pela sua própria competência, estando-lhe vedado invadir
a esfera de competências de outros órgãos da mesma pessoa coletiva; por outro, encontra-se impedido de praticar
atos que não se enquadrem nas atribuições da pessoa coletiva em que se integre.
Na generalidade das pessoas coletivas, os órgãos administrativos têm competências diferentes para prosseguir as
mesmas atribuições. Quando um órgão pratica um ato estranho as atribuições da pessoa coletiva em nome da qual
atua esse ato é nulo, ao passo que quando atua fora da sua esfera de competências o ato em causa, e por via de regra,
é anulável.
Princípio da legalidade – só existe competências nos casos em que a lei a preveja de modo expresso. Ela é
imodificável, nem a administração nem os particulares podem alterar o conteúdo ou a repartição de competências
constantes da lei. A competência é irrenunciável e inaliável, os órgãos administrativos dela não podem abdicar e
apenas estão autorizados a transferir o respetivo exercício nos casos de delegação legalmente previstos.
Base legal, imodificabilidade, irrenunciabilidade e inalienabilidade (art.36 e ss do CPA).
Legitimação – qualificação específica de um órgão para exercer um poder ou faculdade (competência) numa situação
concreta.
Fatores que podem impedir a atuação dos órgãos administrativos – um órgão só pode exercer a sua competência
após haver obtido, na parte de outro órgão, uma autorização constitutiva da legitimação, que se destina a controlar
preventivamente a legalidade ou mérito do ato em vias de ser praticado.
Um órgão administrativo está vedado quando falte a investidura do seu titular ou quando este se encontre
impossibilitado de intervir no procedimento por força da verificação de um impedimento – art.69 ss CPA (princípio da
imparcialidade subjetiva).
Falta de quorum nas reuniões dos órgãos colegiais, estes só poderão deliberar se naquelas estiver presente a maioria
do número legal dos seus membros com direito a voto (art.29 CPA).
Hierarquia administrativa – relação (exclusiva dos entes públicos) própria de um modelo de organização
administrativa vertical (de supra-infra ordenação), que liga dois ou mais órgãos com atribuições comuns através de um
vínculo jurídico consubstanciado no poder de direção (a cargo do superior hierárquico) e dever de obediência
(impende sobre o subalterno). A par do modelo de organização vertical, existem modelos horizontais que repousam
na colegialidade, no trabalho de equipa. Em Portugal, boa parte dos serviços públicos assenta no modelo vertical
hierárquico.
Poder de direção é o principal poder do superior, mas não o único (estes existem sempre – poderes nucleares):
Poder de direção – competência do superior hierárquico que se traduz na faculdade de dar ordens (comando através
do qual o superior impõe a adoção de uma determinada conduta aos subalternos) e expedir instruções (diretriz de
comportamentos para casos futuros, sendo transmitida por forma escrita – circular) ao subalterno, com o objetivo de
assegurar o bom funcionamento do serviço ou uma adequada interpretação da lei. Não carece de consagração legal
expressa e só existe e existe sempre na relação hierárquica. Ao subalterno cabe um dever de obediência às ordens e
instruções dos seus legítimos superiores hierárquicos, comandos estes emanados em matéria de serviço e sob forma
legal (art.271 n2 CRP).
Cessa o dever de obediência sempre que o incumprimento da ordem ou instrução implique a prática de um crime
(art.271 n3 CRP). Nestas situações o dever de obediência subsiste, mesmo que o subalterno se confronte com ordens
e instruções ilegais, neste caso o subalterno deverá reclamar ou exigir a confirmação da ordem por escrito, fazendo
expressa a menção de que a considera ilegal. Caso o interesse púbico exija uma execução imediata do comando do
superior hierárquico, a reclamação do subalterno pode ser feita à posteriori.
Poder de supervisão – consiste na faculdade de o superior revogar ou suspender os atos administrativos praticados
pelo subalterno. Este poder pode ser exercício “ex officio”, isto é, por iniciativa do superior, se decidir avocar (chamar
para si) a resolução do caso, ou a pedido do interessado através da interposição de um recurso hierárquico.
Poder disciplinar – faculdade de o superior hierárquico punir o subalterno com a cominação de sanções legalmente
previstas, na sequência da prática de infrações disciplinares por parte do subalterno.
Poderes não nucleares, existem normalmente, mas não integram obrigatoriamente a respetiva competência:
Poder de inspeção – faculdade de o superior fiscalizar o comportamento dos subalternos e o bom funcionamento dos
serviços que estão sob sua alçada.
Poder de decidir recursos hierárquicos – os atos do subalterno são suscetíveis de impugnação perante o superior,
esse recurso chama-se recurso hierárquico. Compete ao superior reapreciar os casos que, em momento prévio tenham
sido decididos pelos subalternos (art.197 CPA).
Poder de decidir conflitos de competência – faculdade de o superior hierárquico decidir a qual dos seus subalternos
pertence a competência atribuída por lei, se entre eles, suscitar um conflito (positivo ou negativo), art.51 n2 CPA.
Existem várias espécies de desconcentração. Elas poderão identificar-se de acordo com critérios dos níveis
(desconcentração a nível central e local, conforme tenha lugar no âmbito dos serviços da administração central ou no
âmbito dos serviços da administração local do estado), dos graus (desconcentração absoluta quando seja de tal
extensão e amplitude que os órgãos subalternos visados se convertem em órgãos independentes, cessando a relação
hierárquica ou relativa quando sendo de menor intensidade, os subalternos conservam essa sua natureza,
permanecendo subordinados aos poderes do superior hierárquico) e das formas (desconcentração originária,
repartição legal de competências entre superiores e subalternos e desconcentração derivada, pressupõe um ato
especifico do superior destinado a operar, em concreto, a desconcentração de competências – reconduz à delegação
de poderes).
Espécies de delegação:
Extensão – delegação ampla ou restrita consoante delegante decida delegar uma grande parte ou apenas uma
pequena parcela das suas competências. A delegação total deverá ter-se por excluída porque tal representaria uma
renúncia ao cargo por parte do delegante, quer porque há competências indelegáveis, quer for força da lei ou ex
rerum natura (ex o poder disciplinar que o superior não poderá delegar ao subalterno – art.45 CPA.
Objeto – especifica ou genérica, conforme vise a prática de um ato isolado ou se destine à prática de uma pluralidade
de atos.
Delegação hierárquica – efetua-se entre o superior entre o superior hierárquico e o seu subalterno. Cabe sempre
recurso hierárquico para o superior (delegante). No caso de uma delegação não hierárquica, oderá a lei admitir um
recurso hierárquico impróprio, hoje, recurso administrativo especial (art.199 n2 CPA). Delegação não hierárquica –
concretiza-se entre órgãos administrativos, independentemente de qualquer vínculo hierárquico.
Delegação propriamente dita (1 grau) subdelegação de poderes (art.46 CPA).
Traços fundamentais do regime jurídico da delegação de poderes – consta nos art.44 a 55 CPA. Sob pena de invalidade
do ato de delegação, deve o órgão delegante especificar os poderes que são delegados (ou subdelegados) ou quais os
atos que o delegado (ou subdelegado) pode praticar (art.47 n1 CPA). Sob pena de ineficácia, os atos de delegação
estão sujeitos a publicação no DR, ou tratando-se da administração local, no boletim da autarquia (art.47 n2 CPA).
Poderes do delegante – faculdade de avocação (art.49 n2 CPA). O delegado deixa de poder decidir certos casos
concretos cuja resolução passa a ser de novo, exclusivamente, do delegante. Em cada momento há um só órgão
competente, ficando excluída a simultaneidade de competências.
Existe ainda a faculdade de o delegante, com base em ilegalidade ou inconveniência, anular, revogar ou substituir os
atos praticados pelo delegado (ou subdelegado), ao abrigo da delegação (subdelegação). Está autorizado a emitir
diretivas ou instruções vinculativas para o delegado (art.49 n1 CPA).
A falta de menção da delegação no ato praticado ao seu abrigo não afeta a respetiva validade, se os interessados não
possam ser prejudicados no exercício dos seus direitos em virtude do desconhecimento da existência da delegação ou
subdelegação (art.48 n1 e 2 CPA).
Ver art.50 CPA.
Atos que não tenham sido objeto de delegação estão feridos de incompetência.
Freitas do Amaral defende que é possível a conjetura das quatro combinações. Descentralização com desconcentração
corresponde, nos termos dos art.6 e 267 n2 CRP, ao modelo constitucional de organização da Administração Pública
portuguesa.
A centralização, vocacionada para assegurar a unidade do Estado e para garantir uma melhor coordenação no
exercício da função administrativa, tem como inconveniente de favorecer o crescimento desmesurado do poder
central e de potenciar a ineficácia da ação administrativa, descurando a vida local autónoma e a autodeterminação das
populações.
Tutela administrativa – poder (de controlo) conferido a uma pessoa coletiva pública de intervir na gestão de outra
pessoa coletiva, com o propósito de coordenar os interesses próprios da entidade tutelada com os interesses cuja
prossecução está encarregue ao órgão tutelar. Tal intervenção reconduz-se a um controlo de legalidade ou do mérito
da atuação da entidade tutelada.
Fim – pode ser de legalidade (órgão tutelar indaga se as decisões da entidade tutelada são ou não conformes a lei) ou
de mérito (tal indagação se destine a apurar se determina decisão, independentemente, da sua legalidade, é ou não a
mais conveniente em termos administrativos, financeiros, etc.). A tutela do Governo sobre as autarquias locais é uma
tutela de legalidade (art.242 n1 CRP), sobre os institutos públicos e empresas públicas poderá haver tutela de mérito.
Conteúdo – a tutela pode ser corretiva ou integrativa (incide sobre atos projetados – tutela corretiva a priori, ou
sobre decisões – tutela corretiva a posteriori) dos órgãos tutelados, concretizando-se na autorização ou não de tais
projetos e na aprovação ou não dessas resoluções já tomadas. Em ambas as hipóteses trata-se de corrigir ou de evitar
os inconvenientes, para o interesse geral, que possam advir da atuação dos órgãos tutelados);
Tutela inspetiva (poder de fiscalizar o funcionamento da pessoa coletiva tutelada. Se detetadas irregularidades, a
tutela inspetiva pode estar na antecâmara da tutela sancionatória, pois haverá a necessidade de atuar sanções).
Tutela sancionatória (poder de aplicar sanções por irregularidades cuja existência tenha sido detetada na organização
e no funcionamento da pessoa coletiva tutelada. Essas sanções podem ser cometidas quer à pessoa coletiva quer aos
seus órgãos e agentes).
Tutela revogatória (poder – excecional – de revogar os atos administrativos praticados pela entidade tutelada).
Tutela substitutiva ou supletiva – poder de o órgão tutelar suprir as omissões do órgão tutelado, praticando em vez
dele e por conta dele os atos legalmente impostos.
Em Portugal face ao disposto na nossa constituição (art.242 n1 CRP) a tutela inspetiva teria cabimento, pois, em bom
rigor, só ela se destina a verificar se a atuação das autarquias é legal ou ilegal. A operação da legalidade não é
exclusiva da tutela inspetiva, podendo também ser efetuada pela tutela corretiva. Quanto às demais formas de tutela
dificilmente se compatibilizam com a CRP.
Os poderes de tutela administrativa não se presumem. Os atos de uma determinada pessoa coletiva só estão sujeitos
a tutela nos casos e nos termos que a lei, expressamente, previr. É sobre a administração autónoma que ela assume
maior relevância, dado ser o único tipo de relação funcional que a liga ao Governo (art.199 d CRP).
Superintendência – poder de orientação conferido ao Estado ou a outra pessoa coletiva de fins múltiplos, que se
traduz na possibilidade de emissão de diretrizes ou diretiva destinadas a fixar os objetivos estratégicos e a guiar a
atuação das pessoas coletivas de fins singulares que a lei coloca na dependência daquelas. À semelhança da tutela,
não se presume, só podendo ser exercida quando prevista, expressamente, na lei.
Traços específicos:
Pluralidade de órgãos e serviços do Estado; estes órgãos e serviços encontram-se organizados em ministérios, que são
departamentos do Estado delimitados por assuntos ou matérias, cada qual dotado de atribuições distintas definidas
pelas respetivas leis orgânicas. No entanto, o Estado conserva uma personalidade jurídica una, pelo que cada órgão
estadual, na sua atuação concreta, vincula o Estado. Carater instrumental da administração direta do Estado, no
sentido em que serve de instrumento à realização dos fins do Estado. Não se trata de uma administração autónoma ou
independente por apresentar uma estrutura hierarquizada e por decorrência da Constituição se submete aí poder de
direção do Governo (art.199 d CRP). Disto resulta a supremacia do Estado-administração.
Entidades (para-estaduais) que pertencem ao setor da administração indireta do Estado – institutos públicos e as
entidades empresariais (empresas públicas e empresas participadas) integrantes do setor público administrativo (SPA)
e do setor público empresarial (SPE).
Institutos públicos – pessoas coletivas públicas de carater institucional, criadas pelo Estado através do Governo, para
assegurar o exercício de certas (específicas) funções administrativas estaduais, que não se revistam de natureza
empresarial. Qualquer pessoa coletiva de fins múltiplos, e não apenas o Estado, pode exercer uma administração
indireta através de institutos públicos que tenham sido criados por devolução de poderes.
Diferenças do ponto de vista organizativo: serviços personalizados (espécie de departamentos ministérios, a lei
outorga personalidade jurídica e autonomia); estabelecimentos públicos (caracter cultural e social, prestadores de
determinados serviços à comunidade e, normalmente, abertos ao público, centros de investigação científica, que não
estejam organizados em moldes empresariais); fundações públicas de direito público.
Também as empresas públicas integram administração estadual indireta. Do setor público empresarial (setor
empresarial do Estado) fazem parte as empresas públicas e as empresas participadas – entidades públicas
empresariais (EPEs). Estamos perante pessoas coletivas de direito público, mas sujeitas a regimes jurídicos de direito
privado. Nascem do propósito do Estado intervir em setores-chave da economia e com o objetivo de alcançar uma
maior eficiência da Administração. Estão sujeitas, em grau variável, à superintendência e tutela do Governo.
Existe ainda administração indireta privada constituída por pessoas coletivas administrativas de direito privado
(sociedades, associações, fundações e cooperativas).
Administração Autónoma:
Visa prosseguir interesses públicos próprios das pessoas que a integram. Estas atuam com independência, orientando
a sua atividade (tarefas próprias) sem estarem sujeitas à hierarquia ou à superintendência do Governo (ideia de auto-
administração). Exercem autonomamente, ficando apenas sujeitas a um poder de fiscalização e controlo (tutela de
legalidade) por parte do Governo.
Pressupõe a existência de uma coletividade (agrupamento homogéneo), territorial ou não territorial, com
características próprias dentro do todo nacional. Os administrados são simultaneamente autores e destinatários das
decisões administrativas (administração pelos administrados ou autogoverno), têm uma responsabilidade própria,
estão, no entanto, sujeitos a um controlo de legalidade. Substrato pessoal próprio, tarefas próprias, autogoverno e
responsabilidade própria – elementos essenciais.
Vertentes principais:
Personalidade jurídica (autonomia).
Autonomia estatuária – determinada pessoa coletiva dotar da sua própria “constituição”, elaborando, nos termos da
lei, estatutos, nos quais surgirá regulada a sua organização.
Autonomia regulamentar (normativa) – possibilidade de adotar regulamentos autónomos
Autonomia administrativa – poder conferido a determinado organismo de praticar atos administrativos definitivos,
insuscetíveis de controlo hierárquico e impugnáveis contenciosamente.
Autonomia disciplinar – capacidade de definir e julgar as infrações às leis e regulamentos e aplicar as devidas sanções
Autonomia financeira – garantia que os rendimentos da pessoa coletiva constituem receitas próprias
No direito português existem diversas entidades que levam a cabo uma administração autónoma: administração
autónoma territorial e administração autónoma não territorial (corporativa ou funcional) – são organizações de
pessoas.
Num sentido mais amplo, integram a administração independente as demais entidades reguladoras previstas no
art.267 n3 CRP.