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A administração pública tem como objetivo trabalhar a favor do interesse público, e dos
direitos e interesses dos cidadãos que administra. Na maior parte das vezes, a administração
pública está organizada de forma a reduzir processos burocráticos.
A FUNÇÃO ADMINISTRATIVA
O princípio da indisponibilidade do interesse público pelo titular de competência
administrativa determina a subordinação da atividade administrativa aos princípios jurídicos que
vinculam à concretização do interesse público. Isto quer dizer que os órgãos e entidades estatais
são meros instrumentos da realização da função administrativa, cujo exercício é destinado ao
benefício social. Assim sendo, como a Administração não titulariza os interesses públicos
primários, podemos afirmar que tais interesses são indisponíveis pelos pessoais estatais
cabendo as mesmas, na sua gestão, protegê-los.
Importa registrar que o conceito de função administrativa tem sido matéria de grande
dificuldade para os doutrinadores, tendo em vista a extensão e a heterogeneidade do tema. Para
o autor Marçal Justen Filho “a função administrativa compreende atividades de fornecimento de
utilidades materiais de interesse coletivo (coleta de lixo, por exemplo), mas também abrange
atuação de cunho jurídico, imaterial (regulamentação de poluição sonora, por exemplo). Como
se não bastasse, compreende a decisão de litígios, inclusive entre particulares (disputas quanto
a competição desleal, levada à apreciação do CADE)”[26].
Elucidando melhor essa idéia defende esse doutrinador que “a função administrativa é
o conjunto de poderes jurídicos destinados a promover a satisfação de interesses essenciais,
relacionados com a promoção de direitos fundamentais, cujo desempenho exige uma
organização estatal e permanente e que se faz sob o regime jurídico infralegal e submetido ao
controle jurisdicional”[27]. José dos Santos Carvalho Filho também entende que não constitui
matéria muito fácil delinear os contornos do que se considera função administrativa. Os
doutrinadores têm divergido sobre o tema. No entanto, os autores se têm validado de critérios de
três ordens para a identificação da função administrativa: 1) subjetivo (ou orgânico), que dá
realce ao sujeito ou agente da função; 2) objetivo material, pelo qual se examina o conteúdo da
atividade; e 3) objetivo formal, que explica a função pelo regime jurídico em que se situa a sua
disciplina.
Sustenta o citado jurista que nenhum critério é suficiente, se tomado isoladamente. Devem eles
combinar-se para suscitar o preciso contorno da função administrativa. A função administrativa,
na prática, tem sido considerada de caráter residual, sendo, pois, aquela que não representa a
formulação da regra legal nem a composição de lides in concreto. Mais tecnicamente pode dizer-
se que função administrativa é aquela exercida pelo Estado ou por seus delegados,
subjacentemente à ordem constitucional e legal, sob regime de direito público, com vistas a
alcançar os fins colimados pela ordem jurídica[28].
“Enquanto o ponto central da função legislativa consiste na criação do direito novo ( ius novum) e
o da função jurisdicional descansa na composição de litígios, na função administrativa o grande
alvo é, de fato, a gestão dos interesses coletivos na sua mais variada dimensão, consequência
das numerosas tarefas a que se deve propor o Estado moderno”. Desse modo conclui o autor
que “constituem função materialmente administrativa atividades desenvolvidas no Poder
Judiciário, de que são exemplos decisões em processos de jurisdição voluntária e o poder de
polícia do juiz nas audiências, ou no Poder Legislativo, como as denominadas ‘leis de efeitos
concretos’, atos legislativos que, ao invés de traçarem normas gerais e abstratas, interferem na
órbita jurídica de pessoas determinadas, como, por exemplo, a lei que concede pensão vitalícia à
viúva de ex-presidente. Em relação a elas a idéia é sempre residual: onde não há criação de
direito novo ou solução de conflitos de interesses na via própria (judicial), a função exercida, sob
o aspecto material, é a administrativa”.
Celso Antônio Bandeira de Mello nos ensina que “função administrativa é a função que o Estado,
ou quem lhe faça às vezes, exerce na intimidade de uma estrutura e regime hierárquico e que no
sistema constitucional brasileiro se caracteriza pelo fato de ser desempenhada mediante
comportamento infralegais ou, excepcionalmente, infraconstitucionais, submissos todos
a controle de legalidade pelo Poder Judiciário ”[29].
Contudo quem melhor discorreu sobre o tema foi Hely Lopes Meirelles ao definir que “a natureza
da administração pública é a de um múnus público para quem a exerce, isto é, a de um encargo
de defesa, conservação e aprimoramento dos bens, serviços e interesses da coletividade. Como
tal, impõe-se ao administrador público a obrigação de cumprir fielmente os preceitos do Direito e
da Moral administrativa que regem a sua atuação. Ao ser investido em função ou cargo público,
todo agente do poder assume para com a coletividade o compromisso de bem servi-la, porque
outro não é o desejo do povo, como legítimo destinatário dos bens, serviços e interesses
administrados pelo Estado”[30].
Neste sentido o nosso ilustre jurista enfatiza que os fins da administração pública se resumem
num único objetivo: o bem comum da coletividade administrada. Toda atividade do administrador
público deve ser orientada para esse objetivo. Se dele o administrador se afasta ou desvia, trai o
mandato de que está investido, porque a comunidade não institui a Administração senão como
meio de atingir o bem-estar social. Ilícito e imoral será todo o ato administrativo que não for
praticado no interesse da coletividade[31].
Assim, a defesa do interesse público corresponde ao próprio fim do Estado. O Estado tem o
dever de defender os interesses da coletividade a fim de favorecer o bem-estar social.
Portanto, negar a existência dos princípios da supremacia do interesse público sobre o privado e
da indisponibilidade do interesse público é negar o papel do Estado que tem com uma das suas
funções a preservação de tais princípios.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios. 9ª ed. Editora Malheiros. São Paulo, 2009.
26] FILHO, Marçal Justen Filho. Curso de Direito Administrativo. Editora Saraiva. São Paulo,
2005. p. 28.
[27] FILHO, Marçal Justen Filho. Curso de Direito Administrativo . Editora Saraiva. São Paulo,
2005. p. 28.
[28] FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. 15º edição. Editora
Lúmen Júris. Rio de Janeiro, 2006, pag.54
[29] MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo . 19º edição. Editora
Malheiros. São Paulo, 2005, pag. 36