Você está na página 1de 19

Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

A Teoria Burocrática na Administração Pública

Cecília Dinis Código: 708205484

Curso de Licenciatura em Administração Pública

Cadeira: Reforma do Sector Publico

Turma: D

Maputo, Maio 2023

i
ii
Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

A Teoria Burocrática na Administração Pública

Trabalho de Carácter Avaliativo da Cadeira de


Reforma do Sector Publico a ser entregue no
Instituto de Educação à Distância-Maputo

Tutora: Andre Fernando Vahala

Cecília Dinis Código: 708205484

Maputo, Maio 2023

i
Índice
1. Introdução......................................................................................................................1

1.1. Objectivos do Trabalho...............................................................................................2

1.1.1. Objectivo Geral....................................................................................................... 2

1.1.2. Objectivos Específicos.............................................................................................2

1.2. Metodologias..............................................................................................................2

2. Revisão Literária.............................................................................................................3

2.1. História da Teoria da Burocracia na Administração Pública.......................................3

2.1.1. Conceito de Administração Pública.........................................................................4

2.1.2. Burocracia - Conceitos, Funções.............................................................................5

2.1.3. Características da Teoria da Burocracia na Administração Pública.........................7

2.2. Vantagens da Burocracia na Administração Pública...................................................9

2.2.1. Características das Organizações Burocráticas.....................................................10

3. Considerações Finais....................................................................................................13

4. Referências Bibliográficas............................................................................................ 14

i
1. Introdução

O modelo administrativo público burocrático surgiu na década de 30, com o objectivo


de combater a corrupção e o nepotismo consequentes do modelo patrimonialista que
predominava na administração pública. Segundo Motta e Vasconcelos (2009, p.11):

A burocracia é uma solução organizacional que tenta evitar a arbitrariedade, o confronto


entre indivíduos e grupos e abuso de poder. Seu objectivo é o de organizar a actividade
humana de modo estável para a consecução de fins organizacionais explícitos. A utilização de
regras e a rotinização do trabalho humano fornecem segurança, pois estabelecem etapas e
procedimentos a serem seguidos, tentando assim minimizar incertezas e riscos.

Foi diante dessa realidade que começou a se difundir os princípios burocráticos nos
serviços públicos, tais como a impessoalidade, profissionalismo, legitimidade das normas, o
formalismo, a meritocracia, padronização das rotinas e atendimentos, entre outros. Eram
estes elementos essenciais para o enfrentamento de uma cultura que possuía suas raízes
arraigadas no clientelismo, onde pode se observar a confusão existente no discernimento
entre o bem público e o privado, sendo o primeiro na maioria das vezes objecto de trocas de
interesses entre quem detinha o poder e aquele que necessitava da acção do Estado.
Percebe-se a importância que os princípios burocráticos tiveram na administração pública a
partir do momento que alguns deles foram agregados, segundo Moraes (2009, p.323) relata
que:

A constituição, inovando em relação às anteriores, regulamenta, no Título III, um capítulo


específico para a organização da administração pública, pormenorizando-a enquanto
estrutura governamental e enquanto função, e determinando no artigo 37 que a
administração pública directa e indirecta de qualquer dos Poderes da União, Estados, do
Distrito e dos Municípios obedeça, além de diversos preceitos expressos, aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

De frisar que a Burocracia foi um instrumento de grande impacto no processo de


evolução da administração pública, foram dela os primeiros passos em busca da tão
almejada excelência do serviço público no que se refere a sua organização, processo e
resultado final que é o atendimento das necessidades da coletividade.

1
1.1. Objectivos do Trabalho

O sucesso de qualquer trabalho de pesquisa depende em parte da clareza na


definição dos objectivos que se pretendem alcançar. Para o presente trabalho definem-se os
seguintes objectivos:

1.1.1. Objectivo Geral


 O objectivo geral deste trabalho de pesquisa é analisar a teoria burocrática na
administração pública.
1.1.2. Objectivos Específicos

Como objectivos específicos cabem destacar dois principais a serem tratados no


presente trabalho de pesquisa:

 Caracterizar a administração burocrática;


 Descrever as características das organizações burocrática.
1.2. Metodologias

O presente estudo configura-se em uma pesquisa teórico-metodológica (pesquisa


acadêmico-científica composta por preparação, estudo, desenvolvimento e apresentação,
buscando gerar e/ou actualizar conhecimento), no campo dialético (os factos considerados
no contexto social, gerando contradições e requerendo soluções), de natureza aplicada
(objectiva gerar conhecimentos para aplicações práticas, dirigidos à solução de problemas
específicos) e (material colectado analisado de maneira descritiva, não buscando gerar
números ou dados estatísticos), conforme orienta Henrique (2009).

Com relação aos procedimentos técnicos, o estudo assume características de


pesquisa bibliográfica e documental. Segundo Gil (2010 citado em Carvalho & Severino,
2011, p.2) a pesquisa bibliográfica “é elaborada com base em material já publicado com o
objectivo de analisar posições diversas em relação a determinado assunto”. A pesquisa
documental, nas palavras de Camargo (2008) “é aquela realizada a partir de documentos,
contemporâneos ou retrospectivos, considerados cientificamente autênticos”.

2
2. Revisão Literária
2.1. História da Teoria da Burocracia na Administração Pública

Segundo Motta e Pereira (1984) o início da administração pública burocrática data da


Antiguidade, no pré-capitalismo, numa época quando o homem passou a criar e registrar
seus primeiros sinais de formalizações das relações entre o Estado e as pessoas. Porém, o
modelo de burocracia moderna presente nas sociedades teve sua genealogia nas
transformações religiosas após o Renascimento.

Seu surgimento se deu como forma de dominação estatal na antiga Mesopotâmia, Índia,
Rússia, China e antigo Egito. Emergindo como mediação dos interesses particulares e gerais,
pode ser caracterizada no modo de produção asiático, coordenando os esforços da sociedade,
determinando maior divisão de trabalho, separando mais rigidamente a agricultura e o
artesanato (Cruz, 2006 p. 03).

Conforme Cruz (2006) sugere, poucos representantes da sociedade àquela época


tinham o direito de apropriação. “No Egipto, na antiga Mesopotâmia e na China, a água era
controlada por funcionários do Estado que exerciam dominação sobre os camponeses, que
eram incapazes de se organizarem. Sua ideologia se mostra na divisão dos funcionários
como portadores de símbolos, e não pelo conhecimento técnico e utilitário real” (Cruz, 2006
p. 03).

Silva (2008) afirma que administração pública burocrática se originou na Europa no


início do século XX, como alternativa às teorias conhecidas, visto que ela buscava a
racionalidade técnica necessária para arquitetar e implementar um sistema administrativo
fundamentado no estudo exato dos tipos dos relacionamentos humanos necessários para
aumentar a produtividade.

Para Chiavenato, (2003) o início da administração pública burocrática ocorreu


durante a Era da Primeira Revolução Industrial, sendo o modelo ideal para as grandes
organizações que funcionavam em um ambiente estável e de pouca mudança. Ele ainda
ressalta que as burocracias eram encontradas em organizações industriais, políticas,
religiosas, educacionais, militares, etc.

Chiavenato (2003) ainda ressalta que origem da burocracia ocorreu em decorrência


de quatro aspectos:
3
“A fragilidade e a parcialidade da Teoria Clássica e da Teoria das Relações Humanas, ambas
oponentes e contraditórias, mas sem possibilitarem uma abordagem global e integrada dos
problemas organizacionais”; “A necessidade de um modelo de organização racional capaz de
caracterizar todas as variáveis envolvidas”; “O crescente tamanho e complexidade das
empresas passaram a exigir modelos organizacionais mais bem definidos”; “O ressurgimento
da Sociologia da Burocracia, a partir da descoberta dos trabalhos de Max Weber, seu criador.”
(Chiavenato, 2003 p. 258).

No final do século XIX, o sociólogo alemão Max Weber criou princípios para distinguir
os diferentes níveis hierárquicos atribuídos à autoridade do poder de decisão e controle
sobre recursos de forma mais eficiente. Segundo Weber (1999) a decadência do Império
Romano da Antiguidade foi parcialmente condicionada pela burocratização do seu aparato
militar e administrativo, a qual somente podia ser implementada mediante a introdução
simultânea de um método de distribuição dos gravames estatais que conduziu a uma
crescente importância relativa da economia não monetária.

O interesse de Weber era encontrar um sistema ou estrutura de organização que pudesse


melhorar a maneira como as organizações operavam isto é, aumentar o valor que criavam e
torná-las mais eficientes (Jones, 2010 p.109).

2.1.1. Conceito de Administração Pública

A administração pública pode ser compreendida como um conjunto de acções


desenvolvidas visando atender as necessidades da sociedade, respondendo aos anseios dos
cidadãos que a constituem. Esta é considerada como ocupação daqueles que actuam em
nome do povo, da sociedade, que delega de forma legal, e cujas acções têm consequências
para os indivíduos e grupos sociais. Meirelles define administração pública (2008, p. 65):

Em sentindo formal, é o conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do


Governo; em sentido material, é o conjunto das funções necessárias aos serviços públicos em
geral; em acepção operacional, é o desempenho perene e sistemático, legal e técnico, dos
serviços próprios do Estado ou por ele assumidos em benefício da colectividade.

De acordo com os conceitos citados sobre administração pública percebe-se a


complexidade da mesma, onde suas ações são responsáveis pelo bem-estar de toda uma
sociedade. Actualmente em Moçambique a administração pública tem como referência a
gestão privada, tendo como preocupação central na aplicação do seu paradigma, o respeito

4
às diferenças latente entre elas, pois, enquanto a privada busca o lucro, o interesse
individual a pública visa atender a coletividade, o bem comum.

Vicente Paulo (2008, p. 19) descreve o tipo de administração moçambicano:

O Moçambique adota o critério formal de Administração Pública. Portanto, somente é


Administração Pública, juridicamente, aquilo que nosso Direito assim considera, não importa
a atividade que exerça. A administração Pública, segundo nosso ordenamento, é integrada
exclusivamente: (a) pelos órgãos integrantes da denominada Administração Direta (são os
órgãos integrantes da estrutura de uma pessoa política que exercem sua função

administrativa); e (b) pelas entidades da administração Indireta.

A administração pública moçambicana não tem autonomia para tomar decisões por si
mesmo, ela executa as ações praticadas pelas suas entidades, órgãos e seus agentes.
Meirelles (2008, p. 66) define “Entidade como a pessoa jurídica, pública ou privada; órgão é
o elemento despersonalizado incumbido da realização das atividades da entidade a que
pertence, através de seus agentes, estes que são pessoas físicas investidas em cargo e
funções”.

A administração pública moçambicana é classificada como dirceta e indirecta. A


primeira é compreendida como a estrutura de serviços da presidência da república e dos
ministérios onde se observa a centralização nas atividades administrativas; enquanto a
segunda é formada por pessoas jurídicas, este tem como característica principal a
descentralização nas suas atividades, sendo ainda composta pelas autarquias, fundações
públicas, empresas públicas e sociedade de economia mista. Vicente Paulo (2008, p. 38)
“define autarquias como entidades administrativas autônomas, criadas por lei específica,
com personalidade jurídica de direito público, patrimônio próprio e atribuições estatais
determinadas”.

2.1.2. Burocracia - Conceitos, Funções

A burocracia tem sua origem em decorrência da existência das administrações.


Segundo Motta e Vasconcelos (2008) a mesma é um fenómeno antigo existente no Egito e
em Roma, um exemplo desta administração é a Igreja Católica Romana do século XIII. Max
Weber, sociólogo alemão na década de 20 foi o pioneiro nos estudos sobre a

5
burocracia, ele entendia que esta era uma forma de organização que tinha suas raízes
fincadas na racionalidade das leis. Maximiano (2004, p. 60) relata que:

Weber não tentou definir as organizações, nem estabelecer padrões de administração que
elas devessem seguir. O tipo ideal não é o modelo prescritivo, mas uma abstração descritiva.
É um esquema que procura sintetizar os pontos comuns á maioria das organizações formais
modernas. Weber descreveu as organizações burocráticas como máquinas totalmente
impessoais, que funcionam de acordo com regras que ele chamou de racionais- regras que
dependem da lógica e não de interesses pessoais.

Em estudos anteriores sob as formas de dominação, Max Weber relata que existem
três formas de autoridade, são elas, a Tradicional, Carismática e Racional- Legal. As mesmas
são entendidas por Motta e Vasconcelos (2008, p.4) da seguinte maneira:

Autoridade Tradicional - Esta é baseada nos costumes e tradições de uma cultura. A


autoridade dos patriarcas e anciãos nas sociedades antigas e poder feudal, por exemplo,
baseiam-se nesse tipo de legitimação, garantida pela tradição religiosa, pelas crenças e pelos
costumes sociais.

Autoridade Carismática - Esta é baseada nas características pessoais de um indivíduo. Os


profetas, heróis, guerreiros e líderes são normalmente reconhecidos pelos seus feitos e
qualidades pessoais, exemplificando esse tipo de autoridade.

Autoridade Racional-Legal - O terceiro tipo citado por Weber é a autoridade racional-legal.


Refere-se à autoridade baseada nas regras e normas estabelecidas por regulamento
reconhecido e aceito por todos os membros de dada comunidade. O estabelecimento jurídico
estabelece competências, direitos e deveres atribuídos a cada função e a autoridade se impõe
pela obediência a esses princípios. O exercício da função e da autoridade é assim limitado
pela regra.

A teoria da administração pública na burocracia tem como base a autoridade


racional-legal. Esta afirma a importância do estabelecimento de regras e normas a serem
seguidas, principalmente em sociedade de massa, onde são muitos os números de
indivíduos para se orientar e fiscalizar, sendo necessário tratamento igual para todos, tanto
no que se refere aos seus deveres quanto aos seus direitos, neste âmbito observa-se o
princípio da formalidade e da impessoalidade. Chiavenato (2008, p. 34) ressalta ainda que:

“O modelo burocrático de organização surgiu como uma reação contra a crueldade, o


nepotismo e os julgamentos tendenciosos e parcialistas, tipos das práticas administrativas
6
desumanas e injustas do início da Revolução Industrial. Basicamente a burocracia foi uma
invenção social aperfeiçoada no decorrer da Revolução Industrial, embora tenha suas raízes
na Antiguidade Histórica, com a finalidade de organizar detalhadamente e de dirigir
rigidamente as actividades das empresas com maior eficiência possível”.

A teoria burocrática começou a ser introduzida na administração por volta dos anos
40 quando foi traduzida para o inglês. De acordo com Chiavenato (2008) alguns aspectos
foram de fundamental importância para o desenvolvimento desta teoria na
administração, são eles:

a) A fragilidade e parcialidade tanto da Teoria Clássica como da Teoria das Relações


Humanas, ambas oponentes e contraditórias entre si, mas sem possibilitarem uma
abordagem global, integrada e envolvente dos problemas organizacionais. Ambas
revelam dois pontos de vista extremistas e incompletos sobre a organização,
gerando a necessidade de um enfoque mais amplo e completo, tanto da estrutura
como dos participantes da organização.
b) Tornou-se necessário um modelo de organização racional capaz de caracterizar
todas as variáveis envolvidas, bem como o comportamento dos membros delas
participantes, e aplicáveis não somente à fábrica, mas a todas as formas de
organização humana e principalmente às empresas.
c) O crescente tamanho e complexidade das empresas passaram a exigir modelos
organizacionais mais bem definidos. Alguns historiadores verificaram que a indústria
em grande escala depende da sua organização, da Administração e do grande
número de pessoas com diferentes habilidades.

A teoria da burocracia busca alcançar os objectivos da organização com excelência.


Segundo Motta e Vasconcelos (2006, p. 130):

A burocracia é um sistema que busca organizar, de forma estável e duradoura, a cooperação


de um grande número de indivíduos, cada qual detendo uma função especializada. Separa-se
a esfera pessoal, privada e familiar da esfera do trabalho, visto como esfera pública de
atuação do indivíduo, normalmente. Nas sociedades tradicionais, normalmente a esfera
familiar e a esfera do trabalho se confundiam, dado caráter pessoal das relações. Na
sociedade industrial, há uma ruptura nesses padrões.

2.1.3. Características da Teoria da Burocracia na Administração Pública

Conforme Weber (citado por Chiavenato, 2003) a burocracia na Administração


Pública explica detalhadamente como as coisas deverão ser feitas para alcançar a eficiência,
7
e tem as seguintes características; o caráter legal das normas, caráter formal das
comunicações, caráter racional e divisão do trabalho, impessoalidade nas relações,
hierarquia da autoridade, rotinas e procedimentos padronizados, competência técnica e
meritocracia, competência técnica e meritocracia, especialização da administração,
profissionalização dos participantes e completa previsibilidade do funcionamento.

O Caráter Legal das Normas e Regulamentos - É no qual a administração é conectada


através de normas e regulamentos especificados por escrito, no qual, prevê exaustivamente
todas as ocorrências possíveis. Em outros termos, é uma organização baseada em uma
espécie de legislação própria, um livro de normas e condutas como a Constituição para o
Estado, os estatutos para a empresa privada, etc. que define antecipadamente como a
organização burocrática deverá funcionar (Chiavenato, 2003 p. 262).

Essas normas e regulamentos são escritos e também são exaustivos porque abrangem todas
as áreas da organização, preveem todas as ocorrências e as enquadram dentro de um
esquema definido capaz de regular tudo o que ocorre dentro da organização (Chiavenato,
2003 p. 262-263).

Quanto ao Caráter Formal Das Comunicações - A administração é atada por


comunicações escritas. Suas regras, decisões e ações administrativas são elaboradas e
lavradas por escrito.

Daí o carácter formal da burocracia: todas as acções e procedimentos são feitos para
proporcionar comprovação e documentação adequadas, bem como assegurar a interpretação
unívoca das comunicações (Chiavenato, 2003 p. 263).

Chiavenato (2003) ainda explica que certos tipos de comunicações são repetitivos e
continuo, portanto, a burocracia emprega rotinas e formulários na tentativa de facilitar as
comunicações e para conservar o preenchimento de sua formalização. Desta forma a
burocracia é uma estrutura social formalmente organizada.

A burocracia no Caráter Racional e Divisão do Trabalho - Possui um aspecto


totalmente racional por ser uma organização que evidencia uma divisão de trabalho
sistemática, que atende a uma racionalidade, que é adequada aos objetivos a serem
atingidos: a eficiência da organização.

8
Há uma divisão sistemática do trabalho e do poder, estabelecendo as atribuições de cada
participante. Cada participante tem um cargo específico, funções específicas e uma esfera de
competência e responsabilidade (Chiavenato, 2003 p. 263).

A burocracia possui Impessoalidade nas Relações - Ou seja, um caráter impessoal


por conta da distribuição das atividades que é feita de forma impessoal, isto é, em termos de
cargos e funções e não de pessoas envolvidas.

Conforme Chiavenato (2003) a administração burocrática considera pessoas como


ocupantes de cargos e de funções, o poder de cada pessoa deriva do cargo que ela ocupa, o
mesmo acontece na relação entre subalterno e chefia, a obediência é em consideração ao
cargo de maior nível e não a pessoa em si, desta forma a burocracia garante a continuidade,
pois pessoas vêm e vão, porém, os cargos e funções permanecem ao longo do tempo. Desta
forma, a burocracia é uma estrutura social impessoalmente organizada.

A burocracia é uma organização que estabelece a Hierarquia da Autoridade - Ou


seja, os cargos são estabelecidos de acordo com o princípio da hierarquia.

Cada cargo inferior deve estar sob o controle e supervisão de um posto superior. Nenhum
cargo fica sem controlo ou supervisão. Daí a necessidade da hierarquia da autoridade para
definir as chefias nos vários escalões de autoridade (Chiavenato, 2003 p. 258).

Conforme Weber citado por Chiavenato (2003) “A burocracia é uma administração


que fixa as regras e normas técnicas para o desempenho de cada cargo. O ocupante de um
cargo - o funcionário - não faz o que deseja, mas o que a burocracia impõe que ele faça”,
está característica da burocracia da se o nome de rotinas e procedimentos padronizados.

As regras e normas técnicas regulam a conduta do ocupante de cada cargo, cujas actividades
são executadas de acordo com as rotinas e procedimentos.

A disciplina no trabalho e o desempenho no cargo são assegurados por um conjunto de regras


e normas que ajustam o funcionário às exigências do cargo e às exigências da administração:
a máxima produtividade (Chiavenato, 2003 p. 258-259).

2.2. Vantagens da Burocracia na Administração Pública

A Conforme Weber (1999, p. 212) a razão decisiva do avanço da administraação


burocrática sempre foi sua superioridade totalmente técnica sobre qualquer outro modelo.

9
A relação entre um mecanismo burocrático plenamente desenvolvido e os outros modelos é
análoga à relação entre uma máquina e os métodos não mecânicos de produção de bens.
Sendo suas vantagens; “precisão, rapidez, univocidade, conhecimento da documentação,
continuidade, discrição, uniformidade, subordinação rigorosa, diminuição de atritos e custos
materiais e pessoais” (Weber, 1999 p. 212) isto faz com que a administração rigorosamente
burocrática atinja a excelência quando executado por funcionários treinados.

Chiavenato (2003 p. 266) explica cada uma dessas vantagens que serviu para
alavancar o modelo burocrático de Weber:

Racionalidade - Em relação ao alcance dos objetivos da organização. Precisão - Na definição


do cargo e na operação, pelo conhecimento exato dos deveres. Rapidez - Nas decisões, pois
cada um conhece o que deve ser feito e por quem, e as ordens e papéis tramitam através de
canais pré-estabelecidos. Univocidade - De interpretação garantida pela regulamentação
específica e escrita. Por outro lado, a informação é discreta, pois é fornecido apenas a quem
deve recebê-la. Continuidade - Da administração por meio da substituição do pessoal que é
afastado. Além disso, os critérios de seleção e escolha do pessoal baseiam-se na capacidade e
na competência técnica. Uniformidade - De rotinas e procedimentos que favorece a
padronização, a redução de custos e erros, pois as rotinas são definidas por escrito. Redução
do atrito - Entre as pessoas, pois cada funcionário conhece o que é exigido dele e quais os
limites entre suas responsabilidades e as dos outros. Constância - Pois os mesmos tipos de
decisão devem ser tomadas nas mesmas circunstâncias.

Segundo Jones (2010) toda administração possui algumas características de


burocracia, ele ainda afirma que a vantagem da burocracia é que ela expõe as regras
fundamentais para projetar uma hierarquia organizacional que controla de maneira eficiente
as interações entre os níveis organizacionais.

2.2.1. Características das Organizações Burocráticas

A teoria burocrática na administração pública, que é foco do presente trabalho de


pesquisa tem como o seu principal teórico Marx Weber que trouxe importantes
contribuições para o estudo das organizações, tais como a implementação de normas,
procedimentos e rotinas de trabalho, eliminando o improviso dentro das organizações. Por
outro lado, algumas críticas foram feitas a esta teoria quando há o excesso da burocracia,
que tende à ineficiência organizacional. Para Mota e Vasconcelos (2017):

10
A burocracia é um fenômeno antigo. Como vimos, ela existia no antigo Egito e em Roma,
consolidando-se desde o reinado de Diocleciano. A partir do século XIII, a Igreja Católica
romana consolidou-se como organização burocrática e, na China, encontramos a
predominância de estruturas burocráticas desde a época Shi-Hoang-Ti (século XIV) ” (Mota;
Vasconcelos, 2017, p. 9).

O conceito de burocracia está associado ao pensamento de um sistema rígido que


prioriza a obediência das normas e regras nas organizações. “Burocracia é um sistema que
busca organizar, de forma estável e duradoura, a cooperação de um grande número de
indivíduos, cada qual detendo uma função especializada” (Mota e Vasconcelos, 2017, p.
130). Entende-se, que a burocracia é produto do Estado moderno na qual a sociedade é
conduzida através de uma relação de poder presente nas concepções de autoridade e
subordinação e isso refletiu nas organizações, principalmente, no sector público.

No que diz respeito às organizações Chiavenato (2010) cita que a burocracia


apresenta as seguintes características: a) caráter legal das normas e regulamentos; b) caráter
formal das comunicações; c) caráter racional e divisão do trabalho; d) impessoalidade nas
relações; e) hierarquia de autoridade; f) rotinas e procedimentos padronizados; g)
competência técnica e meritocracia; g) especialização da administração; h) profissionalização
dos participantes; i) o administrador profissional tende a controlar cada vez mais as
burocracias. Percebe-se, que a teoria burocrática e suas características possui um caráter de
controlo do comportamento das pessoas nas organizações, tendo em vista, à obediência a
legalidade das normas e regulamentos, sendo também reforçada pelo sentido de
subordinação através das hierarquias de autoridade.

Vale destacar, que algumas características da teoria burocrática são de extrema


importância para as organizações modernas. Neste sentido, conceitos como hierarquia de
autoridade, rotinas e procedimentos padronizados e meritocracia estão fortemente sendo
empregadas em muitas organizações na atualidade.

Percebe-se, que nos processos de gestão de pessoas no setor público o conceito de


meritocracia, obediência e legalidade das normas e regulamentos ainda são evidenciados
nas práticas administrativas.

11
O sucesso da burocracia sobre as outras formas de organização se deve, para Weber,
às vantagens que ela oferece, tais como: racionalidade no alcance dos objetivos, definição
dos cargos, rapidez e constância nas decisões, univocidade na interpretação das
comunicações e uniformidade nas rotinas e procedimentos (Chiavenato, 2010, p. 84).

A padronização de procedimentos e a sua obediência é uma característica muito


presente nas organizações através das relações formais. Nota-se, que os procedimentos
administrativos são elementos característicos da burocracia. Os desvios cometidos são
controlados através da coerção imposta aos funcionários.

A burocracia é uma organização que fixa as regras e normas técnicas para o desempenho de
cada cargo. O ocupante de um cargo – funcionário – não faz o que deseja, mas o que a
burocracia impõe que ele faça. As regras e normas técnicas regulam a conduta do ocupante
de cada cargo, cujas atividades são executadas de acordo com as rotinas e procedimentos.
(Chiavenato, 2014, p. 264).

Outro ponto relevante e característico da burocracia proposta por Marx Weber


através do conceito de poder e subordinação está relacionado à autoridade. “O tipo de
autoridade característica do Estado moderno e da burocracia, no entanto, é o racional-legal”
(Mota e Vasconcelos, 2017, p. 6).

O poder e a obediência das pessoas dentro de uma estrutura organizacional estão


diretamente ligados ao cargo que exercem. Neste sentido, a teoria burocrática defende que
a subordinação e o poder das pessoas são processos naturais das relações exercidas nas
organizações.

Ressalta-se, que a teoria burocrática, fortemente, influenciada pelo modelo


weberiano teve grandes contribuições para as organizações modernas. Entretanto, as
disfunções não previstas pelo modelo geraram algumas críticas. Assim, é oportuno
entendermos quais foram os principais problemas decorrentes do excesso da burocracia que
impactam na modernização e melhoria dos processos nas organizações, principalmente, na
gestão de pessoas no sector público.

12
3. Considerações Finais

De modo geral o conceito de burocracia foi reduzido a burocráticas não


considerando o modelo administrativo burocrático como algo eficiente e eficaz e sim
como algo moroso. Há um preconceito impregnado pela sociedade a burocracia que para ser
desfeito, só será possível através de processos de debates, fóruns e discussões que
possibilitem esclarecimentos sobre a origem, conceituação e estruturação da mesma e a
contribuição que ela teve no processo de modernização da administração pública
moçambicana visando à prestação de um serviço público de excelência a toda sociedade.

Com isto, é importante ressaltar a importância de alguns princípios burocráticos,


como forma de se obter ordem e controle na execução das actividades típicas do Estado, no
entanto, o que pôde se perceber é que na área de gestão de pessoas persiste uma
orientação ainda muito rígida e de pouca flexibilidade. Isso se explica pelo facto de a
Administração Pública conter especificidades que não são encontradas no sector privado, o
que dificulta na maior parte das vezes um maior foco nos resultados.

No entanto, diante de o país encontrar-se em um período em que cada vez mais se


busca pela qualidade dos serviços públicos, é relevante o desenvolvimento de futuras
pesquisas no sentido de verificar as possibilidades de adaptação, analisando como as
instituições públicas estão utilizando algumas práticas de gestão de pessoas adotadas pelas
empresas privadas, tendo em vista que algumas delas não são condizentes com o modelo
burocrático, ainda presente nas organizações públicas. Mas também e, principalmente, a
administração pública deveria desenvolver suas próprias estratégias e práticas,
considerando sua especifidade e a natureza de sua atuação, mais social do que lucrativa. No
entanto, é relevante o desenvolvimento de futuras pesquisas no sentido de verificar
possibilidades de adaptação de algumas práticas de gestão de pessoas adotadas pelas
empresas privadas, tendo em vista que algumas delas não são condizentes com o modelo
burocrático, ainda presente nas organizações públicas.

13
4. Referências Bibliográficas

Chiavenato, Idalberto. (2003). Introdução à Teoria Geral da Administração: uma visão


abrangente da moderna administração das organizações. (7ª ed). Rio de
Janeiro:Elsevier.

Chiavenato, I. (2008). Administração geral e pública. (2ª.ed). Revista e Atualizada, Rio de


Janeiro: Elsevier.

Chiavenato, Idalberto. (2010). Introdução à teoria geral da administração. São Paulo:


Manole.

Chiavenato, Idalberto. (2014). Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas
organizações. (4ª. ed.). Barueri, SP: Manole.

Cruz, Jane Alisson Westarb. (2006). A burocracia fora do senso comum. Rev. Perspec.
Paraná/PR; Contemp. Campo Mourão, v.1, n.1, jan/jul.

Jones, Gareth R. (2010). Teoria das Organizações. (6ª ed). São Paulo: Person.

Maximiano, A. C. A. (2004). Introdução à administração. (6ª ed)., Revista e ampliada, São


Paulo, Ed. Atlas.

Meirelles, H.L. (2008). Direito administrativo moçambicano. (34ª ed). Ed. Malheiros, São
Paulo.

Moraes, A. (2009). Direito constitucional. (24ª ed)., São Paulo, Editora Atlas S.A.

Motta, F. C. P.; Vasconcelos, I. F. G. (2009). Teoria geral da administração. (3ª ed)., Revista,
São Paulo: Cengage Learning.

Motta, Fernando C. P.; Pereira, Luiz C. B. (1984). Introdução à organização burocrática. (4ª
ed). São Paulo: Brasiliense.

Motta, Fernando. Vasconcelos, Isabella F. (2017). Gouveia de. Teoria Geral da Administração.
(3ª. ed). São Paulo: Cengage Learning.

Motta, F. C. P.; Vasconcelos, I. F. G. (2009). Teoria geral da administração. (3ª ed).,


Revista, São Paulo: Cengage Learning.
14
Paulo, V.; Alexandrino, M. (2008). Direito administrativo descomplicado. ( 16ª ed). Revista
e atualizada, Ed. Método, São Paulo.

Silva, Reinaldo O. (2008). Teoria da Administração. (1ª Ed). São Paulo: Person, 2008.

Weber, Marx. (1999). Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva.


tradução de Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa; Revisão técnica de Gabriel Cohn -
Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado
de São Paulo.

15

Você também pode gostar