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A GESTÃO ESTRATÉGICA EM ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS.

Flávia Guedes de Souza

RESUMO

A busca da população por melhores serviços tem aumentado cada vez mais, tornando as
pessoas mais exigentes em relação a sua qualidade, por isso surge a necessidade de um modelo
de gestão que propicie alcançar tais objetivos com maior eficiência, acompanhando as
mudanças tecnológicas, alterações de Leis e até a remodelagem na estrutura da organização.
Sendo assim, este estudo busca investigar se algumas práticas já encontradas na administração
de empresas privadas podem ser incorporadas no setor público, para melhorar os serviços
prestados aos cidadãos, bem como, sua eficiência e eficácia, levando em conta que as
organizações públicas possuem características próprias que diferem das organizações do setor
privado. Consoante a isso, esta pesquisa, visa entender ainda os principais desafios encontrados
para implantação da Gestão Estratégica no setor público. Os principais resultados apontaram
que apesar da dificuldade para implantação, devido principalmente a parte burocrática existente
no setor público, é possível que algumas ferramentas e técnicas de Gestão Estratégica utilizadas
no setor privado sejam aplicadas no setor público.

Palavras chave: Gestão estratégica, Gestão Pública; Organização; Eficiência.

ABSTRACT

The population's search for better services has increased more and more, making people more
demanding in relation to their quality, which is why there is a need for a management model that
allows achieving these objectives with greater efficiency, accompanying technological changes,
changes in Laws and even the remodeling of the structure of the organization. Therefore, this
study seeks to investigate whether some practices already found in the administration of private
companies can be incorporated into the public sector, to improve the services provided to
citizens, as well as their efficiency and effectiveness, taking into account that public
organizations have their own characteristics. That differ from private sector organizations.
Accordingly, this research also aims to understand the main challenges encountered for the
implementation of Strategic Management in the public sector. The main results showed that
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despite the difficulty of implementation, mainly due to the existing bureaucratic part in the
public sector, it is possible that some tools and techniques of Strategic Management used in the
private sector are applied in the public sector.

Keywords: Strategic Management, Public Management; Organization; Efficiency.

1. INTRODUÇÃO

O quadro mundial que a sociedade tem vivido, traz ao seu lado mudanças que transformam tanto
a realidade da classe empresarial, quanto os processos de comunicação das organizações.
(FERREIRA, 2005). Ferreira acredita ainda que:

A sociedade é a principal responsável pela sua própria organização e pela provisão de


suas necessidades. Assim, há um crescente deslocamento de tarefas públicas para a
esfera privada, o que vem exigindo das empresas públicas um maior diálogo e
comunicação com a sociedade.

Nos últimos anos tem se verificado profundas transformações burocráticas dentro do


setor público. Medidas para melhorar a eficiência de organizações públicas vêm sendo
implementadas constantemente, tais como: privatização, introdução de medidas de desempenho,
administração gerencial baseada no setor privado, ênfase na qualidade e em serviços públicos
orientados para o cidadão, aparentam ter-se tornado a ordem do dia em muitos países ao redor
do mundo (DUNLEAVY, 1994).
Hoje o que se pode ver é uma administração pública focada no atendimento às reais
necessidades do cidadão e nos resultados esperados da instituição. Há ainda a busca pela
efetividade, através do controle e gerenciamento de dados, fazendo com que a gestão pública
traga para si características encontradas principalmente no setor privado.
Neste sentido, o principal objetivo deste estudo é entender quais são os desafios
encontrados para implantar a gestão estratégica no setor público, trazendo definições, conceitos
e comparações de como este tipo de gestão acontece no setor público e no setor privado.
Através da Gestão Estratégica é possível levantar informações importantes sobre
recursos disponíveis, oportunidades e ameaças acerca da organização e assim pensar em ações
estratégicas para alcançar seus objetivos.
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2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.1 CONCEITOS DE GESTÃO PÚBLICA

A teoria administrativista costuma conceituar a Administração Pública a partir de


seus preceitos formal, material e operacional, amparando-se nas ideias do aparelhamento
estatal, da atividade pública e da necessidade de seu desempenho ininterrupto. Baseando-
se nesses critérios Meirelles (2003, p.66), assim a conceitua:

Em sentido formal, é o conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do


Governo; em sentido material, é o conjunto das funções necessárias aos serviços
públicos em geral; em acepção operacional, é o desempenho perene e sistemático, legal
e técnico, dos serviços próprios do Estado ou por ele assumidos em benefício da
coletividade. Numa visão global, a Administração é, pois, todo o aparelhamento do
Estado preordenado à realização de serviços, visando à satisfação das necessidades
coletivas. A Administração não pratica atos de governo; pratica, tão-somente, atos de
execução, com maior ou menor autonomia funcional, segundo a competência do órgão
e de seus agentes. São os chamados atos administrativos, que, por sua variedade e
importância, merecem estudo em capítulo especial.

“Em sentido lato, administrar é gerir interesse segundo a lei, a moral e a finalidade dos
bens entregues à guarda e conservação alheias.” (MEIRELLES 2001, apud MELLO, 2003
p.12). Administração Pública, deste modo, é a gestão de bens e interesses caracterizados da
comunidade no campo federal, estadual ou municipal, segundo os princípios do Direito e da
Moral, ter em vista o bem comum, sendo obrigação de o administrador providenciar a
publicidade dos atos referentes a essa gestão, sob pena de incidir em improbidade
administrativa.
O desempenho do gestor público na gestão de bens comunitários possui tamanho
prestígio que lhe são conferidos não só poderes, mas deveres. Para Meirelles (2003), este possui
o poder-dever de agir, o dever de eficiência, o dever de probidade e o dever de apresentar
contas.
Para isso, obriga-se a ressaltar princípios jurídicos atribuídos à Administração, tanto explícitos
quanto implícitos, sob pena de praticar ato de improbidade administrativa, a teor do art. 11 da
Lei nº 8.429, de 02/06/1992. Assim sendo, a Constituição da República Federativa do Brasil de
1988 indica no caput de seu art. 37 como essenciais à Administração Pública os princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, chamados princípios
explícitos.
Como destacado, há vários princípios dispersos pela CRFB/88, como os do devido
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processo legal (art. 5º, LV), economicidade (art. 70), motivação (art. 93, X), entre outros,
chamados princípios implícitos, os quais derivam do próprio sistema constitucional.
O conceito de Serviço Público não é pacífico no entendimento doutrinário, para
demonstrar buscaremos as teses de alguns autores, para que possamos explanar essa questão.
De acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello, (2004, apud SARTURI, 2014),
Serviço Público é:

Toda atividade de oferecimento de utilidade ou comodidade material destinada à


satisfação da coletividade em geral, mas fruível singularmente pelos administrados,
que o Estado assume como pertinente a seus deveres e presta por si mesmo ou por
quem lhe faça às vezes, sob um regime de Direito Público – portanto consagrador de
prerrogativas de supremacia e de restrições especiais - instituído em favor dos
interesses definidos como públicos no sistema normativo.

No entendimento de Meirelles (2003 p.131), o Serviço Público é conceituado como:

Todo aquele prestado pela Administração ou por seus delegados, sob normas e
controles estatais, para satisfazer necessidades essenciais ou secundárias da
coletividade ou simples conveniências do Estado.

Para Moreira Neto (2000), o Serviço Público pode ser conceituado como sendo:

Atividade da Administração Pública que tem por fim assegurar de modo permanente,
contínuo e geral, a satisfação de necessidades essenciais ou secundárias da sociedade,
assim por leis consideradas, e sob as condições impostas unilateralmente pela própria
Administração". Conceito "contemporâneo" de Serviço Público: “as atividades pelas
quais o Estado, direta ou indiretamente, promove ou assegura a satisfação de interesses
públicos, assim por lei considerada, sob regime jurídico próprio a elas aplicável, ainda
que não necessariamente de direito público”.

Marçal Justen Filho (2005), por sua vez, define Serviço Público como sendo:

Uma atividade pública administrativa de satisfação concreta de necessidades


individuais ou transindividuais, materiais ou imateriais, vinculadas diretamente a um
direito fundamental, destinada a pessoas indeterminadas e executada sob regime de
direito público.

Vistos os preceitos doutrinários do conceito de Serviço Público, pode se dizer


que é toda atividade desenvolvida pela Administração Pública, sob normas estatais, com
o propósito de atender as necessidades principais ou secundárias da comunidade.
De acordo a visão de Lima (2006) entender a abrangência da administração
pública, mostra-se essencial por seus resultados se relacionarem diretamente com a vida
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de todos os cidadãos.
Pode-se ponderar Administração Pública, como sendo atividades essenciais de
gestão realizadas pelo poder executivo, (em caso de prefeituras, através do prefeito)
onde através do poder outorgado ao Estado, administra os bens públicos, de forma
mediata e constante, para que se busque a satisfação das necessidades públicas e assim
conseguir o bem de todos. Segundo Bezerra e Cavalcanti (2011, p.02):

Por administração pública entende-se a atividade concreta do Estado dirigida à


consecução das necessidades coletivas de modo direto e imediato, ou seja, o conjunto
das funções necessárias aos serviços públicos em geral, a própria atividade
administrativa. A natureza da administração Pública é a de um encargo de defesa, 6
conservação e aprimoramento dos bens, serviços e interesses da coletividade, tanto
para atos de alienação, oneração, destruição e renúncia de tais bens e interesses há
sempre necessidade de consentimento especial do titular – o povo

Toda e qualquer ação de gestão na máquina pública para ter força ativa necessita vir
expresso em lei.
Após verificar-se a necessidade de uma nova administração que trouxesse eficiência,
eficácia, transparência, que tivesse foco no planejamento estratégico das ações, permitindo a
participação da sociedade em debates públicos de maneira democrática, surgiu a chamada
gestão pública.
A gestão pública existe e deve agir, tendo como principal objetivo o bem comum da
comunidade administrada, o que nos leva ao conceito de Gestão Pública, sendo este um termo
mais recente, utilizado para apontar a utilização de novas práticas na administração do setor
público.
Para Martins, (2005) Gestão Pública é:

O termo que designa um campo de conhecimento (ou que integra um campo de


conhecimento) e de trabalho relacionados às organizações cuja missão seja de interesse
público ou afete este. Abrange áreas como Recursos Humanos, Finanças Públicas e
Políticas Públicas, entre outras.

Martins ressalta ainda que uma organização pode ser privada ou pública, porém, com
interesses que abrangem toda comunidade:

(…) pode haver “gestão publica” em organizações públicas e privadas, embora seja
bastante incomum uma preocupação real com a coletividade por parte de entes
privados. Um exemplo são as Organizações não Governamentais (ONGs), que embora
sejam juridicamente entidades privadas, muitas vezes objetivam o bem público ao
cuidarem de animais, do meio ambiente, estimularem atividades artísticas. (MARTINS,
2005)
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Assim, é possível compreender que um dos objetivos da gestão pública é alcançar


resultados satisfatórios com relação aos serviços prestados a população e para que isso aconteça,
consequentemente acontece uma aproximação à gestão privada, pois surge a necessidade de
perseguir um dos maiores objetivos da administração de forma geral: a eficiência.
Ao falar em Gestão Pública, é preciso entender que o movimento de transformação da
sociedade é inevitável e que para o bom gerenciamento de instituições públicas, é necessário
investir em novas metodologias sim, mas sem deixar de lado a importância de se investir
também no capital humano, ou seja, proporcionar alternativas e novas maneiras de agregar o
conhecimento individual ao conhecimento de todo grupo, para que desta forma criem-se valores
que não são palpáveis e também não se comercializem.

2.2 Mudanças Organizacionais

Mudar significa sair de uma posição em que se encontra, para uma nova. É de extrema
importância que a organização saiba em que posição se encontra e, principalmente, para onde
quer ir.

Mudança é um processo de passar do velho para o novo, isto é, abandonar atitudes,


comportamentos, as maneiras de se fazer um trabalho atual e estabelecer novas atitudes
novos comportamentos e procedimentos de trabalho que alcancem os resultados
esperados dos negócios (BORTOLOTTI, SOUSA e ANDRADE 2010).

Na área de mudança organizacional a literatura é dilatada, pois tem impacto direto nos
resultados que almeja e na vida organizacional, já que se trata de um campo que está surgindo
na vida organizacional.
Segundo Wood Jr.(2004), “define-se mudança organizacional como qualquer
transformação de natureza estrutural, estratégica, cultural, tecnológica, humana ou de outro
componente, capaz de gerar impacto em partes ou no conjunto da organização.”
Herzog apud Wood Jr., (2004) considera que a chave para enfrentar com sucesso o
processo de mudança é o gerenciamento das pessoas, conservando o alto nível de motivação e
evitando decepções.
O grande desafio não são as mudanças tecnológicas, mas mudar pessoas, a cultura
organizacional e recuperar valores para auferir vantagem competitiva, através de estratégias que
alcancem os objetivos da organização e das pessoas que nela trabalham.
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2.2.1 Organização Privada e Organização Pública


Existem múltiplas e importantes diferenças entre empresas do setor público e setor
privado. Abaixo algumas distinções nestes dois setores:
 Públicas: É Prestador de serviço, Comportamento burocrático, Sem muita eficiência
com relação ao empreendedorismo, Falta de liberdade.
 Privadas: Grandes habilidades na produção, Internamente eficientes, Extremamente
empreendedoras e ativas, Envolvidas na obtenção do lucro com determinação.
A ineficiência do setor público está relacionada entre os vários fatores principalmente
ao fato de que as organizações públicas são pouco vulneráveis às forças de mercado, não sendo
este um incentivador de métodos produtivos que levem à eficiência uma vez que o mercado
fornece informações ao setor produtivo que motiva o esforço em busca da eficiência (OSÓRIO,
1998).
Uma característica própria do setor público é que a há uma forte oposição às mudanças
e, é marcada por uma estrutura altamente burocratizada, com muitos órgãos de decisão (SILVA,
1993 apud TAIT e PACHECO, 2010).
Para Bortolotti, Sousa e Andrade (2010), outro fator marcante entre as organizações têm
relação com os recursos humanos. No setor público existem os concursos públicos, plano de
carreira e até mesmo alguns cargos de confiança que mudam a cada gestão, enquanto na
organização privada, a estabilidade de funcionários ocorre de acordo com a vontade dos
administradores, pois são quem decidem se eles ficam ou não, havendo predominância de
competitividade entre as pessoas.
Entretanto, Ansoff (1990), assegura atualmente que se está descobrindo uma estrutura
burocrática nas organizações privadas, e as públicas estão cada vez mais procurando a
eficiência. A diferença entre os tipos de organização é concentrada, a organização privada tem
como medida de eficiência o lucro e a pública a eficiência de seus serviços prestados à
população (TAIT e PACHECO, 2010).

2.3 A GESTÃO ESTRATÉGICA NAS ORGANIZAÇÕES

Segundo Porter (1986) estratégia pode ser definida como a “criação de uma proposição
de valor única, com atividades ajustadas nas áreas de marketing, produção, logística e
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distribuição. Tudo alinhado com a proposição de valor única”. Para ele, estratégia é sinônimo de
escolha e consiste em não satisfazer todas as necessidades apresentadas, mas sim em escolher
quais necessidades satisfazer e de que forma, traçando objetivos e formas de alcançá-los.
Já Mintzberg et al. (2006, p. 29) define que:

Estratégia é o padrão ou plano que integra as principais metas, políticas e sequências de


ação da organização em um todo coeso. Uma estratégia bem formulada ajuda a
organizar e colocar os recursos de uma organização em uma postura única e viável,
baseada em suas competências e deficiências internas relativas, mudanças antecipadas
no ambiente e movimentos contingentes por parte dos oponentes inteligentes.

O objetivo da gestão estratégica é basicamente criar meios de atingir o sucesso da


organização através de metas estabelecidas visando melhorias na imagem, lucro, atendimento,
entre outros aspectos. Isso se torna possível através do gerenciamento da equipe, dos recursos e
das análises diárias que devem partir de um gestor capacitado e com visão.
A gestão estratégica tornou-se uma das áreas de destaque do campo da gestão, tal
importância está no fato de que ela é composta por um conjunto de ações que permitem aos
gestores mantê-la integrada ao seu meio envolvente e no curso correto de desenvolvimento,
possibilitando atingir seus objetivos e sua missão (DESS; LUMPKIN; EISNER, 2007).
Segundo Bracker (1980), gestão estratégica é a aplicação direta na organização dos
conceitos de estratégia empresarial que são desenvolvidos na academia. Ou seja, através de
análise dos ambientes interno e externo é possível maximizar a utilização de seus recursos a fim
de atingir seus objetivos.
Sendo assim, a maior importância da gestão estratégica é que ela proporciona as
organizações um modelo de desenvolvimento de habilidades para que as mudanças possam ser
antecipadas, ajudando a aprimorar a capacidade de tratar incertezas futuras, definindo
procedimentos a serem adotados.
No setor privado a gestão estratégica pode ser vista mais facilmente, pode se observar
que sua proposta consiste em elaborar um conjunto de ações ou reações, de acordo com as
tendências do meio em que a instituição está inserida, com a intenção de avançar rumo a seus 9
objetivos estratégicos, mantendo principalmente sua condição competitiva, buscando identificar
como posicionar-se em comparação aos seus concorrentes, reconhecendo oportunidades e
ameaças internas ou externas, visando a obtenção de lucros.
Trata-se de um processo de gerenciamento baseado no planejamento, na execução e no
acompanhamento da estratégia.
Nessas empresas o que dificulta a gestão estratégica é quando a gestão centraliza-se nas
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mãos dos fundadores, prejudicando e pondo em risco até mesmo a sobrevivência do local ou
ainda a resistência que ocorre no processo de sucessão ou troca de gestores e a falta de
profissionais capacitados e preparados para gerir, principalmente em locais de grande porte.
Para tentar diminuir estes problemas as empresas devem focar no planejamento estratégico e em
um projeto empresarial que tenha objetivos claros definidos e meios para alcançá-los.
Já no setor público a gestão estratégica encontra um pouco mais de dificuldades, pois,
depende “que o tema esteja alinhado com o projeto de governo, que haja verbas orçadas para tal
finalidade e que o gestor queira realmente que isso aconteça”. (CAVALCANTE, 2014).
Mesmo que estes impasses sejam superados, ainda há que se atentar ao momento
político, o interesse do grupo em fazer com que as coisas aconteçam e a disposição para
mudanças. Finalmente, após tantos pontos a serem observados e superados, a gestão estratégica
no setor público, segundo Nogueira, (2015):

Tem de estabelecer prioridades, relacionar-se com o ambiente, inteirar-se com o


cenário social, diagnosticar suas limitações, explorar seus pontos fortes, desenvolver-se
cultura e educacionalmente, "cacifar" a negociação, obter recursos e gastá-los de forma
eficiente e planejar o seu futuro e o da própria sociedade.

Porém ao levar em conta o que a lei exige, a cultura, os componentes e todo processo de
elaborar, discutir e definir metas do planejamento no setor público é possível perceber
diferenças significativas entre os dois setores, tornando a abordagem estratégica no setor público
diferente do modelo de administração do setor privado.
Assim, cada setor apresenta suas especificidades que devem ser observadas e respeitadas.

3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, fundamentada no que já foi publicado


em livros, artigos científicos, revistas e monografias, mas sempre buscando a veracidade dos
fatos apresentados dando credibilidade a pesquisa.
Segundo Lima e Mioto (2007) ao dissertar sobre a metodologia de uma pesquisa busca-se
“apresentar o ‘caminho do pensamento’ e a ‘prática exercida’ na apreensão da realidade, e que
se encontram intrinsecamente constituídos pela visão social de mundo veiculada pela teoria da
qual o pesquisador se vale”.
Sendo assim, este trabalho se enquadra na tipologia de pesquisa conhecida como descritiva,
por meio da pesquisa bibliográfica, que proporciona um vasto campo de informações,
facilitando o emprego de dados existentes em inúmeras publicações, auxiliando,ainda, na
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construção ou na melhor definição do quadro conceitual que envolve o objeto de estudo


proposto (GIL, 1994).
Nesta pesquisa de natureza qualitativa houve também o levantamento da literatura existente
sobre os temas Gestão Pública e Balanced Scorecard – BSC, buscando seu significado e tendo
como base a percepção desta ferramenta dentro do seu contexto, mantendo-se, aberto para
perceber a individualidade e os múltiplos significados.

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA

O ponto central deste artigo e um dos temas mais importantes é a prática estratégica de
organizações públicas e privadas. Uma vez que estas apresentam características diferentes, buscamos
identificar, por meio de pesquisa bibliográfica o significado de estratégia e suas práticas, bem como ela é
aplicada em cada setor e as dificuldades encontradas para aplicação de tais práticas, comuns no setor
privado no setor público.
Após conceituar o que é gestão estratégica, levantando também os elementos próprios da
administração pública, pois é notória sua ligação e importância, já que a administração pública, ao longo
do tempo aperfeiçoou os serviços oferecidos pelo Estado à população, adaptando-se a novas situações
em busca do melhor para a sociedade e a partir da necessidade de um novo modelo de administração
abriu espaço para a gestão pública, seguimos para a aplicabilidade da gestão estratégica nos dois setores.
Não é difícil perceber que a administração aplicada em uma empresa privada é diferente daquela
aplicada às instituições públicas, a começar pelos objetivos de cada uma. Enquanto o setor privado visa a
obtenção de lucros, o público preocupa-se em atender os interesses da população, diferente de empresas
que concorrem entre si, visa somente o cumprimento de suas atribuições de acordo com o que é
estabelecido pelas políticas vigentes.
De forma geral, podemos dizer que no setor privado é possível fazer tudo que a lei não proíbe,
enquanto que no setor público só é possível fazer o que a lei permite, limitando e restringindo as ações
do gestor público, não tendo liberdade para exercer suas funções e assim, não administrando com a
mesma flexibilidade e agilidade do setor privado.
Ao fazer seu planejamento estratégico as organizações buscam sistematizar processos e
ações para poder definir os caminhos que seguirão até alcançar seus objetivos, enquanto no
setor público o planejamento ainda funciona apenas como um instrumento de controle da
sociedade sobre o Estado.
Existem ainda, muitas barreiras no setor público, e que dificilmente podem ser quebradas,
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mas que distanciam a gestão estratégica e seu planejamento do setor privado. Para Nogueira,
(2015) as principais são:

(…) estrutura pública burocratizada com processo decisório lento e confuso, amplo e
detalhado arcabouço legal determinante do que pode e deve ser feito pelos entes
federativos, forte aparato de controle público e social das ações dos dirigentes públicos
exercidos principalmente pelo Poder Legislativo e Tribunal de Contas, interesse
político que se sobrepõe aos objetivos estratégicos da administração, (...) incapacidade
técnica dos órgãos públicos, falta de controle dos gastos efetivamente realizados pelos
ordenadores de despesas, o incrementalismo e as especificidades dos serviços e bens
públicos.

Apesar de não serem fatores que possam invalidar a utilização da Gestão estratégica e
consequentemente do planejamento estratégico no setor público, estes podem dificultar sua
aplicação. Com relação aos objetivos Fernandes e Berton (2005, p.15) citam que existem vários
a serem alcançados pela gestão pública, como:

Assumir o controle sobre o destino; enxergar as oportunidades; transformar ameaças


em oportunidades; definir novos rumos para a organização; introduzir a disciplina de
pensar em longo prazo; desenvolver um processo educacional e incentivar a interação e
a negociação; mobilizar recursos para o objetivo comum; promover a mudança; e
vender ideias.

Estes objetivos podem ser alcançados utilizando ferramentas de gestão que já são
utilizadas pelas organizações privadas, desde que adaptadas para atender as exigências do setor
público e suas especificidades, vale ressaltar que a administração pública já tem buscado novas
técnicas de gestão que aumentem a eficiência e a eficácia da máquina pública.
Seguindo esta linha, temos a seguinte questão: é possível então que algumas práticas
dentro da Gestão Estratégica, já encontradas no setor privado sejam aplicadas no setor público
para garantir a melhoria dos serviços prestados aos cidadãos?
E a resposta é sim, pois mesmo que existam diferentes propósitos, nas instituições
privadas a gestão estratégica planeja e busca a lucratividade, juntamente a vantagem competitiva
e as públicas visam melhorar a qualidade dos serviços prestados de acordo com a legislação e as
necessidades da sociedade, ambas podem e devem utilizar o planejamento estratégico, onde é
possível fazer a análise das forças macroambientais (ambiente externo), para buscar entender a
visão, missão e valores de sua organização, para em seguida formular estratégias, traçar planos
de ação e finalmente obter o controle de resultados, possibilitando assim, analisar a eficiência,
eficácia e se os objetivos foram alcançados.
É possível utilizar ainda ferramentas criadas com ênfase para o setor privado, mas que
auxiliam na Gestão estratégica no setor público, como o Balanced Scorecard:
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O Balanced Scorecard dá ênfase à medição da atuação organizacional, tendo foco na


contabilidade financeira, ou seja, o BSC mede o desempenho da organização nos
indicadores financeiros, indicadores de satisfação de clientes, indicadores de processos
internos, e indicadores de aprendizado e crescimento. A importância do BSC na gestão
pública se dá na forma de estabelecimento de foco, prioridade, eficácia e eficiência dos
programas da gestão municipal. (CORRÊA, 2016)

O BSC pode ser definido como um conjunto de elementos que, ao mesmo tempo, deixam a
estratégia mais clara para a organização, possibilitando sua gestão e auxiliando no combate a
uma dificuldade semelhante nos dois setores, que é a execução da estratégia, que ocorre muitas
vezes devido a falta de clareza e dos objetivos e a qualificação dos gestores para orientar os
demais.
Além do BSC e do planejamento estratégico em si, existem outros métodos que podem ser
utilizados em ambos setores, como a análise SWOT, que faz um balanço dos pontos fracos e
pontos fortes e até mesmo matrizes criadas com o intuito de auxiliar no estabelecimento das
principais metas a serem alcançadas.
Diante de tantas possibilidades e mudanças existentes o setor público, mesmo que com
algumas limitações impostas pelas políticas e legislação, é possível aprimorar e aplicar
ferramentas, que já trazem melhorias no setor privado, através da gestão estratégica. Para isso,
é necessário que o gestor conheça bem sua equipe, tenha objetivos e metas bem estabelecidas,
faça análise do ambiente, da população, das ideias e necessidades da sociedade e enfim, faça o
balanço e planejamento do que precisa ser modificado para melhor atender as necessidades
encontradas em seu local de trabalho.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todas as mudanças que tem ocorrido na sociedade determinam também grandes impactos
nos processos de gestão, tornando necessária a criação de novas estratégias para adaptar-se a
elas, sejam no setor público ou privado.
Apesar de as organizações públicas possuírem alvos distintos das organizações privadas,
para o setor público, a eficiência está agregada ao atendimento das necessidades da sociedade
e, para o setor privado, a eficiência está vinculada a aspectos ligados à lucratividade dos
empreendimentos, (FERREIRA, 2005), as estratégias utilizadas para atingir os objetivos
tendem a ser cada vez mais parecidas, por isso, este estudo buscou mostrar a necessidade da
gestão estratégica no setor público ser mais considerada, incluída e, logo melhor aproveitada
neste setor, com base no que já pode ser visto na iniciativa privada.
Através da gestão estratégica é possível gerenciar a equipe e recursos para alcançar suas
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metas, por isso, a gestão deve ter foco e conhecer plenamente tudo que a cerca.
Ainda há um grande desafio para a implantação de ferramentas no setor público, já utilizadas
no setor privado, principalmente pela existência de critérios burocráticos que acabam tornando
o setor público limitado e muitas vezes até inflexível.
Torna-se cada vez mais fundamental o bom trabalho em equipe, o chamado capital
humano, formado por líderes, gestores e servidores comprometidos com todo processo,
dispostos a buscar e enfrentar as mudanças, sempre com uma visão de todo o ambiente interno
e externo.
A modernização da gestão pública, que almeja bons resultados, e o cumprimento dos
princípios de eficácia e eficiência, pedem um modelo de gestão em que se tenha gerenciamento
e clareza das atividades a serem desenvolvidas no setor público. Neste panorama, cabe lembrar
o papel do gestor público e do conhecimento de seu público, bem como suas necessidades, pois
é ele quem deve interceder às relações dentro das organizações, desenvolvendo suas atividades
de forma maleável, sendo de suma importância um entendimento produtivo e a clareza dos
objetivos a serem alcançados.
Sendo assim, mesmo diante das diferenças, a gestão estratégica, combinada ao
planejamento deve ser utilizada, seja no setor público ou privado, em qualquer organização que
almeja melhorias e sucesso.
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