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O DIREITO CHINÊS
中国法律
HISTÓRIA DO DIREITO
Turma 1º Direito PL 2021/2022
Profº Dr. º Thiago Rodrigues Pereira
ÍNDICE DE FIGURAS
SUMÁRIO........................................................................................................................3
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 4
8. O CONSTITUCIONALISMO CHINÊS..............................................................13
12. CONCLUSÃO......................................................................................................13
“Se queres conhecer o passado, examina o presente que é o resultado; se queres conhecer o futuro,
examina o presente que é a causa”
Confúcio
Uma das civilizações mais antigas do mundo, a República Popular da China (RPC)
abriga atualmente em seu território quase um quinto da população mundial, tem uma
das economias de mais rápido crescimento, e abriga uma vasta história composta por
várias fases distintas, desde as dinastias monárquicas antigas até ao atual regime de
governo de república socialista, com forte atuação do comunismo e autoritarismo.
As tradições legais do direito chinês estão entre as mais antigas do mundo, onde a ideia
de moralidade e coerção através da aplicabilidade da lei são extremamente relevantes.
Devido à sua extensão territorial e desigualdades social e económica, era muito explícita
a disparidade entre as classes sociais, presentes até mesmo no ordenamento jurídico, que
se dividiu, durante muitos anos, entre “costumes” (dedicados aos nobres”, e “punição”
(dedicados aos pobres).
O confucionismo veio trazer uma face mais pedagógica às normas impostas, sendo sua
atuação por meio da educação moral, e deixando a punição apenas para os indivíduos
infratores do bom comportamento.
A partir do século XIX o direito chinês passa a integrar em seu ordenamento os temas
relevantes do sistema jurídico ocidental, com influência predominante do direito
alemão.
O fim da Guerra Civil Chinesa trouxe à China várias transformações ao seu Direito
enquanto código de regras normativas onde várias constituições foram formuladas, ao
passo que ocorriam inúmeros conflitos internos que impediam o direito nacional de
equilibrar-se e reformular-se eficazmente.
O Legalismo na China tem caráter basilar em sua estrutura jurídica e governamental
uma vez que esta filosofia reforça o poder da lei e delega três princípios: da Lei (as leis
devem ser claras e para todos), da Arte (também chamada de técnica, é a habilidade de o
governante saber utilizar a técnica certa para manter o governo) e da Força (no sentido
de ser a posição do governante.
Somente em finais do século XX é que o direito positivado iniciou seu percurso da
normativa chinesa, com a edição de regras gerais e escritas instituindo a forte atuação
Priscilla Andrade | O Direito Chinês
do Estado até mesmo sobre os recursos naturais do país, e enaltecendo a cultura popular,
sua língua (tanto a falada como a escrita), e a conservação dos costumes e tradições
presente no país.
Campos em seu livro “Glossas Abertas de Filosofia do Direito” alerta para o fato de o
legalismo ser o meio mais fácil e imediato de interligar o sistema jurídico e o Estado
(2013:315).
Vários foram os fatores que contribuíram, desde há muito, para que a China alcançasse
o proeminente lugar econômico político na atualidade mundial, como por exemplo a
ausência do feudalismo naquela sociedade, permitindo que as colheitas chinesas que
eram comercializadas o pudessem ser com distâncias mais longas, ao contrário do que
acontecia na Europa – onde o servo deveria estar presente, em todo o tempo, em suas
terras e já na China o camponês tinha liberdade para comprar e vender o que produzia.
O Direito, sendo uma construção histórico-social de cada Estado, possui em sua base os
preceitos e princípios que definem a sociedade sobre a qual se constitui. A China, dentro
deste aspeto, tem direitos que, embora sejam de classificação positivista e democrática,
ficam muito aquém do real significado destas palavras, embutindo significados próprios
ao vocabulário jurídico.
É neste intuito que o presente trabalho se configura, ao apresentar a China enquanto
estrutura social permeada por direitos e deveres, como forma sendo socialmente
construídos e em que hoje se configuram.
A China, até o século XX, era um país que embora possuísse grandiosidade territorial,
não tinha muita relevância na economia e comércio mundial – tal papel ficava à cargo
dos Estados Unidos.
Há cerca de 20 anos atrás, Xangai (atual núcleo financeiro global) era ainda uma capital
com caráter de Terceiro Mundo, com grande escassez de produtos e pouco poder de
compra oriundo de sua população. Esta mesmo população, hoje, perfaz-se em 200
milhões de consumidores que detêm o mesmo poder de compra dos ocidentais –
crescimento este surpreendente dado a velocidade do desenvolvimento nunca antes
presenciado em tão pouco tempo.
A China é o terceiro maior país do mundo, tem por capital Pequim e o mandarim padrão
como língua oficial. Com uma população atual de cerca 1.397.000.000 (um bilhão,
trezentas e noventa e sete milhões de pessoas), constitui um grande peso demográfico.
Possui um mercado interno com forte expansão, uma modela subvalorizada (o
Renminbi), um ótimo nível de instrução, mantém um grane ritmo de construções de
infraestruturas e possui até mesmo um comboio de alta velocidade sendo considerado o
mais rápido do mundo – o Maglev, percorrendo uma distância de 30 quilómetros em
apenas 7 minutos.
Por todos estes – e vários outros motivos – é que a China é chamada atualmente e
informalmente de “Novo Mundo”,
Há cerca de seis anos atrás, foi adotado pelo governo chinês o plano MIC 2025 (Made
in China 2025), que pretende fazer da China uma potência global nas indústrias de alta
tecnologia, e para isso foram criados planos de desenvolvimento de setores
fundamentais, alinhando os interesses comerciais com os interesses nacionais.
Os cinco mil anos de história que este país possui lhe inferem experiências internas que
reforçam o sentido de identidade nacional, tanto para o seu governo quanto para os seus
cidadãos, compondo assim uma civilização original, com forte tendência para
emigração.
Sua população urbana ultrapassa os 520 milhões de pessoas, mas possui também uma
forte presença rural que sozinha ultrapassa o número de habitantes dos Estados Unidos e
da Europa juntos.
Por todos estes fatores faz-se necessário que o seu sistema jurídico atente para os
interesses internos, e que tal seja eficaz enquanto agente influenciador no
comportamento humano e social de seus cidadãos.
A história da formação da China remonta a trinta séculos antes da nossa era. O vale do
rio Amarelo (Figura 1) foi o local escolhido para alguns povos chineses oriundos da
Mongólia. Apesar de sua cor amarelada, este vale possui terras férteis, bons pastos e
grande presença de minerais, o que ajudou a disseminar a cultura de arroz, painço,
hortaliças e frutas.
Fonte: https://dinoanimals.pl/zwierzeta/huang-he-rzeka-zolta/
Desta forma foram sendo constituídos vilarejos ao seu redor, dando origem às primeiras
civilizações ali presentes.
Esta fase foi marcada pela crença do reinado de reis-deuses, que chegavam à viver
milhares de anos e que usavam de suas capacidades sobre-humanas para governar,
sendo estes:
O Deus Soberano (reinou 18.000 anos), o Deus Terreno (reinou 11.000 anos) e o Deus
Humano (governou 45.600 anos), sucedidos pelos Cinco Imperadores dos quais fazia
parte o imperador Yu, fundados de Dinastia Xia.
A Dinastia Shang, segundo a tradição, teria durado de 1766 a.C. até 1122 a.C. com uma
sociedade organizada e estratificada. Esta dinastia era responsável pela administração
daquela sociedade e tinha uma relação especial com os clãs devido aos laços por
parentesco ou matrimónio.
A escrita era muito vasta, com cerca de três mil grafemas e muito do que se sabe sobre
eles foi recolhido através de inscrições gravadas em ossos de bovinos e tartarugas, que
também eram utilizadas na altura para fins medicinais.
A população era livre, porém obrigada a servir em empreitadas militares, executar
trabalhos agrícolas e a trabalhar nas variadas construções que arquitetavam.
Priscilla Andrade | O Direito Chinês
Figura 2 - Dinastia Shang no vale do Rio Amarelo
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_China
Segundo a tradição chinesa, esta dinastia dizimou a dinastia Shang e passou a governar
invocando o “Mandato do Céu” – legitimando suas ações na crença de que seu rei era
uma escolha dos deuses.
A estrutura social era dividida pelos Fengjian (sistema feudal onde as pessoas
escolhidas pelo rei utilizavam-se da terra e pagavam-lhe um tributo, fornecendo-lhe
também cidadãos para lutar nas guerras).
Após uma consolidação da sua política, haviam sete reinos existentes – Qin, Qi, Zhao,
Han, Wei, Chu e Yan, que acabaram por guerrear entre si, configurando-se no período
dos Reinos Combatentes. A origem para este desacordo é que vários reinos reclamavam
o direito ao poder, coisa que os Zhou não aceitaram.
Priscilla Andrade | O Direito Chinês
Foi nesta época que surgiram fortes correntes filosóficas como o confucionismo e o
legalismo, e o uso do ferro substituiu o bronze.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerras_de_unifica%C3%A7%C3%A3o_da_China#/media/
Ficheiro:EN-WarringStatesAll260BCE.jpg
Fonte: https://www.outlookindia.com/outlooktraveller/explore/story/69476/your-guide-to-the-terracotta-
army-museum-in-xian
A Dinastia Han adotou a filosofia de Confúcio, tendo sido esta a base ideológica de todo
o império chinês, até a sua queda. O imperador reformulou as terras através da expulsão
de alguns povos, o que lhes permitiu iniciar o comércio da Rota da Seda. Realizando
comércio até mesmo com os romanos. Durou cerca de 400 anos e chegou mesmo a ter
uma vasta população de mais de cinquenta milhões de pessoas.
Já no seu declínio, algumas revoltas ocorreram as quais se estenderam por 75 anos,
culminando com sua queda, o que deu origem ao posterior três reinos da China.
4.1 CONFÚCIO
4.2 MÊNCIO
4.3 BUDISMO
O indivíduo tem em sua essência, o fator da associação em sua conduta, fator este que
fora alterando-se conforme a humanidade foi construindo e desconstruindo estruturas
sociais que necessitam que sua intervenção fosse condizente com a particularidade da
transformação vivida.
Os ideais filosóficos, políticos e socioculturais tornaram necessários que as regras
consuetudinárias passassem a um caráter mais inclusivo, onde a vida humana pudesse
Priscilla Andrade | O Direito Chinês
ser tutelada – ainda que este entendimento hoje seja diferente de há milénios atrás-, o
certo é que o sere humano busca estabelecer-se de forma saudável entre os seus pares.
É nesta dinâmica de proteção aos valores éticos e morais que nasce o jusnaturalismo,
que incidiu sobre as sociedades a necessidade de alterar formas de governo e regimes
políticos, bem como o ceder às reivindicações proferidas por cada interveniente que
destas apropriaram-se para fazer valores seus direitos.
Filósofos desde a Antiguidade, até a Contemporaneidade postulam e formulam que os
pressupostos deste Direito Natural são essenciais à vida, ao entendimento concreto do
valor de justiça e equidade.
O indivíduo, cedendo às suas necessidades, reverte uma parte de seus direitos em favor
do Estado, para deste obter uma retoma enquanto direitos civis, os quais possam
garantir e perpetuar a sua existência em melhores condições. Esta cedência sofre um
revés quando, na formação do Estado de Direito, este mesmo indivíduo vai inferir na
escolha dos agentes intervenientes deste estado, podendo mesmo outorgar-lhe ou retirar-
lhe o poder, face ao sufrágio universal amplamente usual em nossos dias.
Este sistema de direitos humanos contemplados em quase todos os ordenamentos
jurídicos deve-se ao fato de o Direito Natural, enquanto antecessor ao Direito Positivo,
ter-lhe dado as premissas para a compreensão de valores inerentes à vida humana: senso
de justiça, ética, equidade, moralidade.
Desde o conceito de equidade e justiça serem moralmente boas, presentes na “Ética
Nicomaqueia” (ARISTÓTELES, 1966, pág. 84), até o conceito de “estar a serviços de
valores” (RADBRUCK, 2010, pág. 47), o Direito Natural veio delegar ao indivíduo
uma ferramenta de bem-estar (na medida dos possíveis, sendo este mediado pela
autoridade vigente naquela sociedade) e de equiparação de direitos naturais e sociais,
intrínsecos à condição humana.
O próprio direito positivado (tão antagónico ao natural), vê em sua essência princípios
deste Direito Natural, que teve um caráter pedagógico ao formular conceitos basilares
para nossas normas mais imprescindíveis em nossa sociedade.
A sociedade atual tem problemas fundamentais, que exigem soluções também
8. O CONSTITUCIONALISMO CHINÊS
12. CONCLUSÃO
13.REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS
AQUINO, Tomás de. Suma contra os gentios. Livros II e II. Porto Alegre: Editora
Sulina, 1990. 167 págs. Disponível em:
http://obrascatolicas.com/livros/Apologetica/Suma%20Contra%20os%20Gentios
%20Volume%20I%20Livro%201.pdf
CÍCERO, Marco Túlio. Dos Deveres. Coleção Clássicos Filosofia. São Paulo: Martins
Fontes, 1999. 217 págs. Disponível em: https://docero.com.br/doc/enec00
CUNHA, Paulo Ferreira da. Do Direito Natural ao Direito Fraterno. Revista de Estudos
Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito, pg. 78-86, edição janeiro-junho
2009. Universidade do Porto. Disponível em:
http://revistas.unisinos.br/index.php/RECHTD/article/view/5138/2390
CUNHA, Paulo Ferreira da. Repensar o Direito Natural. Revista Humanística e
Teologia. 32:2 (2011), 105-117 págs.