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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA


MATEUS GOUVEIA SANTOS

Pró-Reitoria Acadêmica
Escola de Humanidades
Curso de Relações Internacionais
Trabalho de Conclusão de Curso

CHINA: A TRANSFORMAÇÃO DE UM GIGANTE E OS IMPACTOS PARA A


AMÉRICA LATINA E O BRASIL NO PERÍODO ENTRE 1978 E 2018

CHINA: A TRANSFORMAÇÃO DE UM GIGANTE E OS


IMPACTOS PARA A AMÉRICA LATINA E O BRASIL NO
PERÍODO ENTRE 1978 E 2018

Monografia apresentada ao curso de graduação em


Relações Internacionais da Universidade Católica de
Brasília, como requisito parcial para obtenção do título
de Bacharel em Relações Internacionais.
Autor:Prof.
Orientador: Mateus
MSc. JoséGouveia Santos
Romero Pereira Júnior
Orientador: Prof. MSc. José Romero Pereira Júnior

Brasília
Brasília - DF
2019

2019
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FOLHA DE APROVAÇÃO
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“Deixem a China dormir, porque, quando


ela acordar, o mundo tremerá”

(Napoleão Bonaparte, 1816)


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RESUMO

Referência: SANTOS, Mateus Gouveia. China: A Transformação de um Gigante e os


Impactos para a América Latina e o Brasil. 2019. Monografia (Relações Internacionais).
Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2019.

Este trabalho tem como objetivo analisar em que medida as transformações realizadas na China
impactam a América Latina e o Brasil, de forma a expor os fatores que levaram a China a um
crescimento econômico resultante de sua crescente abertura ao comércio internacional e sua
adesão à Organização Mundial do Comércio – OMC, ocorrida em 2001. São inegáveis as
transformações realizadas na China, desde 1978, que resultaram em sua elevação à posição de
potência mundial, tendo sido consideradas as mudanças ocorridas naquela país como um dos
temas mais importantes das relações internacionais nas últimas décadas. Pretende-se, então,
demonstrar os possíveis efeitos das relações comerciais com a América Latina e também com
o Brasil, buscando identificar os principais desafios e apresentar os resultados obtidos através
da análise dos dados econômicos apresentados, especialmente entre 1978 e 2018. Como tal,
pode-se citar que tanto os demais países da América Latina como o Brasil tiveram um grande
avanço nas relações comerciais com a China, porém ainda de forma desigual, na medida em
que os chineses importam matérias primas e recursos naturais, como minério de ferro, enquanto
exportam aos latino americanos produtos de alto valor agregado e tecnologia.

Palavras-chave: China, Brasil, América Latina, Crescimento Econômico, Relações Comerciais.


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ABSTRACT

Reference: SANTOS, Mateus Gouveia. China: A Transformação de um Gigante e os


Impactos para a América Latina e o Brasil. 2019. Monografia (Relações Internacionais).
Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2019.

This academic work seeks to analyze how the changes occurred in China impacts Latin America
and Brazil in order to expose the factors that led China to an economic growth resulting from
its growing openness to the international market and its accession to the World Trade
Organization – WTO, in 2001. It is undeniable that the changes that have taken place in China
since 1978 have resulted in its elevation to the position of world power, considering the changes
that have taken place in that country as one of the most important issues in international
relations in recent decades. By that, it intends to demonstrate the possible effects of trade
relations with Latin America and Brazil, seeking to identify the main challenges and to present
the results obtained from the analysis of the presented data, especially between 1978 and 2018.
It also mentions that other Latin American countries had a great advance in their commerce
with China, just like Brazil, but still unevenly since the Chinese import raw materials and
natural resources and export high value-added products and technology to Latin America.

KEYWORDS: China, Brazil, Latin America, Economic Growth, Business Relationships.


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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Dinastias Chinesas (2200 A.C. – 1911) ............................................................................... 15


Quadro 2: População total chinesa e taxa média anual de crescimento (2000 – 2018) ......................... 18
Quadro 3: Participação na economia mundial, por país (1980 – 2018) ................................................ 22
Quadro 4: Exportações Brasileiras à China, em reais (2000-2018) ...................................................... 35
Quadro 5: Relações Comerciais entre Brasil e China (Imp x Exp., 2001 – 2015) ................................ 36

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Participação na economia mundial, por país (1980 – 2018) ................................................ 22


Gráfico 2: Exportações Brasileiras à China, em bilhões de reais (1998 – 2018) .................................. 36
Gráfico 3: Exportações de bens da China para o Brasil - % do valor total (2001 – 2015).................... 37
Gráfico 4: Exportações de bens do Brasil para a China - % do valor total (2001 – 2015).................... 38
Gráfico 5: Taxas Anuais de Crescimento da China (1999 – 2017) ....................................................... 38
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SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................................................ 4
ABSTRACT ............................................................................................................................................ 5
LISTA DE QUADROS ........................................................................................................................... 6
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 8
1 ASPECTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS..................................................................................... 11
1.1 A CHINA ANTIGA E A CHINA IMPERIAL ..................................................................... 12
1.2 A CHINA NACIONALISTA................................................................................................ 14
1.3 A CHINA COMUNISTA...................................................................................................... 15
2 A CHINA E SEU CRESCIMENTO ECONÔMICO ACELERADO ................................................ 19
2.1 BREVE HISTÓRICO DO COMÉRCIO EXTERIOR CHINÊS........................................... 20
2.2 O GRANDE SALTO ECONÔMICO CHINÊS .................................................................... 23
2.3 PROCESSO DE ADESÃO À ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO ................ 27
3 O CRESCIMENTO CHINÊS E A AMÉRICA LATINA .................................................................. 29
3.1 A CHINA APÓS O INGRESSO NA OMC E SUAS RELAÇÕES COM A AMÉRICA
LATINA ............................................................................................................................................ 29
3.2 BREVE HISTÓRICO DAS RELAÇÕES BRASIL-CHINA ................................................ 32
3.3 AS RELAÇÕES ENTRE CHINA E BRASIL APÓS 2001 .................................................. 34
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 40
5 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 44
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INTRODUÇÃO

A China é uma nação sem precedentes, um país cheio de peculiaridades. Suas invenções
e avanços tecnológicos passam pela criação do papel, da bússola, da pólvora, do macarrão e até
do álcool (SUKUP, 2002). De dimensões continentais, é o terceiro maior país do planeta,
ficando atrás apenas da Rússia e Canadá. Segundo a Câmara de Comércio e Indústria Brasil
China (2011), seu território, de aproximadamente 9,6 milhões de quilômetros quadrados, faz
divisa com 14 países – Vietnã, Laos, Mianmar, Índia, Nepal, Paquistão, Butão, Afeganistão,
Tadjiquistão, Quirguistão, Cazaquistão, Rússia, Mongólia e Coreia do Norte.
Possuindo uma importante diversidade cultural, é uma nação milenar. Além disso, é o
país mais populoso do mundo, com aproximadamente 1,4 bilhão de habitantes (IBGE, 2018),
o que representa mais de 20% da população global. Essa proporção é a mesma de cinco séculos
atrás, quando o país era habitado por aproximadamente cem milhões de pessoas. Naquele
tempo, era mais desenvolvida que a Europa e no século XIX seu PIB foi calculado em
aproximadamente seis vezes superior ao da Grã-Bretanha, que saía da Idade Média, como toda
a Europa (MADDISON, 1997). Em 2018, segundo Levy (2019), o PIB chinês cresceu 6,6%,
enquanto a Alemanha, país líder da União Europeia, cresceu apenas 1,5%.
A história de sua transformação é considerada um fenômeno econômico mundial, não
só pelo ineditismo de um país extremamente fechado, tanto quanto ao seu comércio com o resto
do mundo como na absorção de outras culturas, representando o fim da Revolução Cultural.
Iniciado por Deng Xiaoping, em 1978, passando pelo ingresso chinês na Organização Mundial
do Comércio – OMC, o crescimento acelerado chinês propiciou a chegada da globalização e a
liberalização econômica sob um modelo comunista chinês.
O objetivo geral deste trabalho é, de forma ampla, analisar os impactos do crescimento
econômico chinês, principalmente na indústria, desde 1978, e, mais detalhadamente, na
América Latina e em especial no Brasil, até 2018, buscando focar principalmente nos aspectos
econômicos voltados para o comércio entre os referidos países. Este objetivo geral se decompõe
nos seguintes objetivos específicos: (i) demonstrar como se deu a transformação econômica na
China; (ii) apresentar as bases das relações entre a China e a América Latina, assim como os
impactos do crescimento econômico chinês para a América Latina; e (iii) apresentar as relações
entre a China e o Brasil após a implementação das medidas econômicas chinesas e os desafios
que o crescimento econômico chinês significa para o Brasil.
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Para alcançar os objetivos, geral e específicos, deste trabalho, é necessário descrever as


transformações realizadas na China, contextualizando as relações chinesas com a América
Latina, e ainda, compreender de que forma Brasil e China construíram uma cooperação que
permitisse estreitar as relações entre os dois países. Para análise dos impactos das
transformações ocorridas na América Latina e Brasil, o marco temporal utilizado foi a entrada
da China na OMC, em 2001, porém, antes foi necessário discorrer sobre a História chinesa de
forma a delimitar o prazo de estudo deste trabalho.
O marco teórico apresentado neste trabalho diz respeito às questões históricas, sociais,
políticas e sobretudo econômicas da China, tendo como pano de fundo um crescimento
exorbitante e sustentável, iniciado em 1978. Tais questões passam por seu posicionamento
internacional, suas relações comerciais e os impactos que sua ascensão causaram e causam nos
países da América Latina, e, em especial, no Brasil.
Este trabalho se desenvolve em três capítulos, a saber. O primeiro capítulo deste trabalho
traz aspectos históricos e culturais daquele país de tradições milenares, apresentando suas
origens e as dinastias que se mantiveram no poder, além de características gerais de sua
população, níveis educacionais e sua interação com os países vizinhos.
O segundo capítulo apresenta, de forma detalhada, as origens do crescimento acelerado
da China, desde 1978, demonstrando de que forma este desenvolvimento afetou a população
chinesa. Apresenta, ainda, a saga em que se transformou os pedidos de adesão da China à OMC,
até o seu efetivo ingresso como membro daquela Organização, em 2001.
O terceiro capítulo foca as principais relações entre a China e a América Latina, e
também com o Brasil detalhando as experiências históricas que proporcionam mútuo
aprendizado. Busca-se demonstrar os impactos do crescimento chinês para a região, a partir de
2001. De forma especial, apresenta a China como parceira comercial do Brasil, sob o enfoque
do desenvolvimento econômico chinês, buscando identificar riscos e oportunidades.
Dessa forma, o presente trabalho busca apresentar, de forma mais aprofundada, uma
análise das questões fartamente apresentadas pela literatura, buscando associar a relevância da
pesquisa com a importância que as relações de comércio entre China e Brasil vem apresentando.
Pode-se afirmar que este trabalho científico utiliza a pesquisa classificada como
descritiva, já que pretende apresentar os fatos e fenômenos, além de descrever características
de uma determinada realidade, conforme assevera Triviños (1987). Este tipo de pesquisa
também apresenta como característica a busca pela descrição, classificação e interpretação dos
fenômenos, que são as atividades pretendidas com este trabalho.
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Para desenvolver este trabalho, foram utilizadas como fontes consultas a livros, teses,
dissertações e publicações científicas. Como fontes auxiliares, pode-se citar sítios eletrônicos,
publicações oficiais do governo chinês, do governo brasileiro e de organismos internacionais,
sobretudo da América do Sul. Tais fontes possibilitam a pesquisa de dados históricos, sociais,
econômicos e, em última instância, de relações internacionais, devidamente atualizados e
capazes de proporcionar uma série histórica.
O método de análise dos argumentos presentes neste estudo foi o método dedutivo,
considerando que é um processo de análise da informação que utiliza a dedução a partir de um
raciocínio lógico para se obter uma conclusão a respeito de um determinado assunto. Neste
caso, as conclusões devem ser necessariamente verdadeiras se todas as premissas também o
forem, e se houver uma estrutura de pensamento lógico.
O método dedutivo apresenta uma linha de raciocínio por dedução, partindo de
enunciados universais na busca de conhecimentos específicos, particulares, “tendo do ponto de
partida um princípio tido como verdadeiro a priori. O seu objetivo é a tese ou conclusão, que é
aquilo que se pretende provar” (OLIVEIRA, 2002, p. 62). Dessa forma, entende-se que as
conclusões desta pesquisa são verdadeiras, assumindo que suas premissas também o são.
Por fim, enfatiza-se que a elaboração deste trabalho seguiu as normas da Associação
Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
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1 ASPECTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS

Com o intuito de entender o que se passou na China, referente ao longo período de


desenvolvimento, é importante explorar alguns de seus aspectos culturais e sociais. Dessa
forma, este capítulo busca apresentar, de maneira didática e resumida, fatos da História e da
cultura chinesa que buscam embasar a análise econômica.
A cultura chinesa é um assunto riquíssimo, considerando que sua história data de
aproximadamente 4000 anos e é considerada uma das civilizações mais antigas do planeta. Sua
história está dividida em 4 principais fases, também chamadas pelos estudiosos de “Eras”, que
são: China Antiga, China Imperial, China Nacionalista e China Comunista (CÂMARA
BRASIL-CHINA, 2019).
A pesquisa busca abordar cada um destes períodos, de modo apresentar brevemente as
características da China antiga e enfatizando a história moderna, bem como explicitar eventos
relevantes ocorridos em cada período citado, de modo a conhecer um pouco da história chinesa,
suas tradições e peculiaridades que contribuíram para que as reformas governamentais
implementadas a partir de 1978 resultassem na formação de uma das maiores economias
mundiais. Lyrio (2010) afirma que:

“O processo chinês de modernização econômica parece ter adquirido massa crítica e


velocidade suficientes para que o país possa explorar ao menos de forma parcial suas
largas potencialidades de desenvolvimento e de projeção internacional, e somente
uma crise política e institucional das proporções das disputas intestinas de poder que
afligiram o final da dinastia Qing (1644-1912) e as duas primeiras décadas do período
republicano tenderia a interromper a ascensão chinesa”.

Corroborando com essa visão, Visentini (2015) pondera que analisar sua trajetória
histórica e suas condições geográficas é a melhor maneira de se entender a China, considerando
que essas qualidades garantiram sua surpreendente ascensão econômica.
O capítulo está didaticamente dividido em três grandes períodos, a saber: (i) uma
retrospectiva da China Antiga até a fundação da República da China; (ii) da República Popular
da China às reformas implementadas por Deng Xiaoping; e (iii) a entrada da China na OMC,
no governo de Jiang Zemin, passando pelo governo de Hu Jintao, até o atual líder Xi Jinping.
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1.1 A CHINA ANTIGA E A CHINA IMPERIAL

Segundo a Câmara Brasil-China (2019), a Era da China Antiga é conhecida como o


processo de ocupação e formação do povo chinês e é marcada por três dinastias. A primeira
delas, Dinastia Xia, teve seu período entre 2200 A.C. e 1750 A.C. A Dinastia Xia ocupava o
Vale do Rio Amarelo e foram os responsáveis pela introdução da agricultura, da medicina, do
comércio e do casamento, nos costumes chineses.
A Dinastia Shang esteve no poder entre 1750 A.C. e 1040 A.C. Foi neste período que
foram usadas pela primeira vez peças em bronze. Foi responsável por dividir a sociedade em
nobres e camponeses, e era monárquica. “Os estudos sobre objetos desenterrados comprovam
que, durante a Dinastia Shang, já se formou o Estado, e a propriedade privada já era estruturada”
(COUTO, 2008, p. 18). Sofrendo pressões dos povos vizinhos, foi substituída pela Dinastia
Zhou, no poder entre 1100 A.C. e 771 A.C.
A Dinastia Zhou é considerada a fundadora da civilização chinesa e foi responsável
pelas primeiras armas em ferro. Foi também responsável pelos principais pensamentos
filosóficos chineses: confucionismo e taoísmo.
Já a Era da China Imperial, datada de 221 A.C. a 1644 D.C., foi composta por três
distintos períodos: Primeira Era Imperial, Segunda Era Imperial e Terceira Era Imperial. A
Primeira Era Imperial foi marcada por importantes Dinastias que consolidaram a China como
hoje é conhecida, tanto em termos de território geográfico, como em relação aos seus aspectos
culturais e religiosos.
Durante o período, duas Dinastias foram responsáveis por moldar aspectos chineses que
prevalecem até os dias atuais, a Dinastia Qin (221 A.C.–206 A.C.), responsável pela formação
de grande parte do atual território e ter iniciado as bases do Império, com a centralização do
poder político e administrativo e a Primeira Dinastia Han (206 A.C.–220 D.C.), que adotou uma
política expansionista e datam ainda dessa época, a invenção do papel e da porcelana e um
desenvolvimento intenso da Literatura e das Artes. Kissinger (2011) afirma que foi neste
período que a China adotou o confucionismo como doutrina oficial do Estado.
No período seguinte, entre os anos de 220 a 589, a China passou por diversas divisões
internas, com ataques ao seu território por parte dos tibetanos, dos turcos e dos mongóis. Neste
período, foram muito difundidos o budismo e o taoísmo. Ainda em meio aos ataques, no século
III, deu-se o início da construção da Muralha da China, um dos principais símbolos do país,
construído para defesa do território contra invasões estrangeiras. A Muralha viria a ser
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reformada entre os séculos XV e XVI. Bueno (2007) afirma que os excessivos conflitos, com
disputas por territórios incitaram um período cataclísmico para a história chinesa.
A Segunda Era Imperial foi responsável pela reunificação territorial e organização
política. Entre 589 e 618, com a Dinastia Sui, foram instituídos um sistema de pagamento de
impostos e trabalho compulsório. Devido a questões militares, ascendeu ao poder a Dinastia
Tang, quando, durante ela, houve uma popularização da escrita, resultando em um
desenvolvimento cultural do povo.
Após da queda da Dinastia Tang, a China novamente passou por anos de divisão interna,
sendo reunida apenas pela Dinastia Song, que ficou no poder entre 960 e 1279. Esta, também
conhecida como Sung, levou ao crescimento econômico e desenvolvimento cultural. Em
meados do século XIII, a China foi invadida pelo povo mongol, derrotando a Dinastia Song,
mas preservando a estrutura hierárquica. Este período – entre 1279 e 1368, foi marcado pela
ampliação do Grande Canal1, permitindo os primeiros contatos com os povos ocidentais,
abrindo espaço para surgimento de novas tecnologias e orientação religiosa. Nesta época, a
China liderava o mundo em tecnologia náutica, conforme Kissinger (2011).
Entre 1368 e 1644 a Dinastia Ming depôs o governo Mongol e incentivou o isolamento
político e cultural, de forma a preservar a unidade do povo, levando à ideia de que os valores
estrangeiros eram secundários. Na contramão desse isolamento, durante o período, houve um
grande desenvolvimento da atividade marítima, levando as embarcações chinesas até a Arábia.
Houve ainda a expansão do território para a Manchúria, Mongólia e Indochina.
O período entrou em decadência com a chegada dos europeus, em 1516 e encerrando-
se em 1644, com a chegada da Dinastia Qing (1644-1911), que marcou a história chinesa por
grande crescimento populacional e com o contato com países ocidentais. “Um período de paz
de 150 anos traz consigo um relativo bem-estar, especialmente um desenvolvimento dos
comércios da seda, porcelana, chá e mais tarde do ópio” (ZIERER, s.d.,p. 72)
Como enxergavam o mundo ocidental como culturalmente inferiores, o contato era
aceitável apenas por motivos comerciais. Ao final do século XVIII, a China se encontrava no
auge de sua grandeza, chamando a atenção dos impérios ocidentais:

Contudo, o ponto alto da dinastia Qing também se tornou o ponto crítico de seu
destino. Pois a riqueza e a extensão da China atraíram a atenção de impérios ocidentais
e das companhias comerciais operando completamente fora dos limites e instrumentos

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O Grande Canal, conhecido como Grande Canal Jung-Han, é uma séria de hidrovias no leste e no norte da
China, ligando o Rio Amarelo ao Rio Yangtze. Possui 1.784 km e é a hidrovia artificial mais longa e mais antiga
do planeta. No seu auge, chegou a possuir mais de 2.000 km de extensão, ligando cinco das principais bacias
hidrográficas da China.
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conceituais da tradicional ordem mundial chinesa. Pela primeira vez na história, a


China se defrontou com “bárbaros” que não almejavam tirar o lugar da dinastia
chinesa e reivindicar o Mandato Celestial para si mesmos; em vez disso, propunham
substituir o sistema sinocêntrico por uma visão inteiramente nova de ordem mundial
– com livre comércio, não o tributo, embaixadores residentes na capital chinesa e um
sistema de intercâmbio diplomático que não aludisse aos chefes de Estado não
chineses como “honoráveis bárbaros” prestando vassalagem ao seu imperador em
Pequim. (KISSINGER, 2011, p. 49)

Em 1839, os ingleses declararam guerra à China pela destruição de um carregamento de


ópio, que ficou conhecida como a Guerra do Ópio, e é considerado o ponto alto da interferência
estrangeira na China. Foi encerrada com a derrota chinesa e a abertura dos portos de Xangai e
Cantão ao comércio inglês e a cessão de Hong Kong e Macau aos britânicos. Em 1860, cedeu
ainda o Vietnam aos franceses e a Ilha de Formosa e a Península da Coreia aos japoneses.

1.2 A CHINA NACIONALISTA

O século XIX, considerado por Kissinger (2011) como o “século de humilhação”


terminou com muita instabilidade política. A Revolução de 1911 derrubou a Dinastia Qing e
levou à proclamação da República da China, em 1912, conhecido como o primeiro governo
nacional chinês. Foi estabelecido em Nanquim e teve Sun Yat-Sen como o primeiro presidente
provisório. Mais tarde foi formado o primeiro parlamento, mas com poder limitado pelas ações
dos generais que controlavam as províncias centrais e as do norte chinês, foi considerado um
governo de curta duração. Kissinger (2011) afirma, porém, que a República Chinesa nunca teve
a oportunidade de praticar as virtudes democráticas.
Em 1921, baseado na Revolução Russa, foi fundado o Partido Comunista Chinês, e, com
apelo popular, foi visto como uma ameaça, segundo Kissinger (2011), o novo partido dirigia
uma espécie de governo paralelo, tendo seus membros sido perseguidos pelas autoridades. Em
meio aos protestos, o Japão invadiu a China, em 1931. Após episódios de guerras civis e
revoluções, em 1934, os comunistas iniciaram a “Longa Marcha”, sob a um novo líder chamado
Mao Tsé-tung, em um período bastante conturbado e que iria influenciar sobremaneira o futuro
da China.
Entretanto, entre 1911 e 1941 houve uma efervescente cooperação entre a Alemanha e
a China, primordial para sua modernização industrial e bélica, antes da guerra com o Japão.
Essa aliança nasceu da urgência da China em modernizar suas forças armadas e a indústria
bélica chinesa. Por outro lado, a Alemanha buscava obter uma oferta de matéria-prima. Essa
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cooperação se manteve a partir da ocupação nazista na Alemanha, em 1933, mas seus efeitos
foram sentidos realmente a partir de 1936. O mais importante projeto originado dessa
cooperação ficou conhecido como Plano Trienal de 1936, que tinha como objetivo criar um
polo de desenvolvimento industrial chinês, de modo a resistir às investidas japonesas. O Plano
trazia ideias como o desenvolvimento de usinas elétricas e a fabricação de produtos químicos,
com o fornecimento da matéria prima à Alemanha em troca de conhecimento e equipamentos
alemães que viabilizariam os empreendimentos chineses. Datam dessa época o surgimento de
uma classe profissional treinada para executar os projetos chineses, com um grande número de
estudantes chineses estudando no Japão, na Europa e nos Estados Unidos, com o objetivo de
voltar e fundar escolas e universidades. Foi um período marcado por um grande crescimento da
ciência moderna na China. Embora tenha havido certo desenvolvimento neste período, este foi
ofuscado por constantes conflitos com o governo nacionalista de Nanquim.
De forma resumida, o Quadro 1 apresenta as dinastias chinesas e seus períodos no poder.

Quadro 1: Dinastias Chinesas (2200 A.C. – 1911)


DINASTIA PERÍODO
XIA 2200 A.C. a 1750 A.C.
SHANG 1750 A.C. a 1040 A.C.
ZHOU 1100 A.C. a 771 A.C.
QIN 221 A.C. a 206 A.C.
HAN 206 A.C. a 220 D.C.
SUI 589 a 618
TANG 618 a 907
SONG 960 a 1279
MONGOL 1279 a 1368
MING 1368 a 1644
QING 1644 a 1911
Fonte: Câmara Brasil-China, 2019. Elaboração própria

1.3 A CHINA COMUNISTA

Com o final da guerra civil, em 1949, com o PCC de Mao Tsé-tung vitorioso, foi
proclamada a República Popular da China, sendo decretada uma reforma agrária, a
nacionalização de instituições financeiras e comerciais e a manutenção da indústria no setor
privado. Neste ano, segundo o Departamento Econômico e Comercial da Embaixada da China
no Brasil (2019), a China possuía uma população de 541.670.000 habitantes, mas com a
estabilidade social e a melhoria das condições higiênicas, em 1969 atingiria a marca de
806.710.000 habitantes.
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Em 1954, foi aprovada a primeira constituição do regime, definindo-a como um estado


socialista, porém, em 1960, a China rompeu relações com a União Soviética. Devillers (1975)
afirma que as divergências entre a China e os russos foram conhecidas da política estrangeira,
por meio das críticas veladas de Kruchov a Mao Tsé Tung, ao declarar que a edificação
socialista na China ultrapassava etapas. Em 1960, Kruchov retirou todos os peritos soviéticos
da China, impactando sobremaneira na economia chinesa. O resultado foi a ruptura do Partido
Comunista Chinês com o Partido Comunista da União Soviética.
Em 1966, foi lançada a conhecida Revolução Cultural, que controlou a cultura, a política
e a ideologia do povo chinês até a morte de Mao Tsé-tung, em 1976. A Revolução Cultural foi
um movimento com o objetivo de acabar com quaisquer instituições, cultura ou mentalidade
que contradissesse sua ideologia, dita revolucionária. Tudo que remetia à China feudal, estava
condenado – movimentos artísticos, culturais, Universidades e até religiões.

Nesse momento de emergência nacional potencial, Mao escolheu esmagar o Estado


chinês e o Partido Comunista. Ele lançou o que esperava viesse a se provar um ataque
final aos teimosos resquícios da cultura chinesa tradicional – de cujo entulho, ele
profetizou, surgiria uma nova geração ideologicamente pura mais bem-equipada para
salvaguardar a causa revolucionária contra os inimigos domésticos e estrangeiros. Ele
impeliu a China a uma década de frenesi ideológico, sectarismo político feroz e quase
guerra civil, que ficou conhecida como a Grande Revolução Cultural Proletária.
(KISSINGER, 2011, p. 196)

A década de 1970 foi marcada também pela introdução do controle de natalidade,


objetivando proporcionar o nível de desenvolvimento coordenado da população, da economia,
da sociedade, seus recursos e meio ambiente, o que possibilitou a diminuição da taxa de
crescimento populacional gradual. Em 1969, a taxa de natalidade era de 34,11 por mil, passando
para 16,03 por mil em 1998, segundo o Departamento Econômico e Comercial da Embaixada
da República Popular da China no Brasil (2019).
A Revolução Cultural trouxe atrasos para o desenvolvimento tecnológico da China, mas
anos de 1980, após a morte de Mao, Deng Xiaoping já figurava como importante liderança
política, tendo introduzido importantes reformas, buscando legitimar sua posição política.
Sobre a importância do período da Revolução Cultural para o crescimento chinês que viria a
seguir, Kissinger (2011) afirma que Mao destruiu a China tradicional e deixou entulhos como
blocos de construção para uma modernização completa.
A partir de 1978 China passou por uma grande abertura diplomática e ainda de
liberdades individuais, com a promulgação de uma nova constituição em 1982.
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Vizentini e Rodrigues (2000) apontam que Deng Xiaoping defendia reformas


sistematizadas em quatro grandes grupos: (i) indústria, concentrando o desenvolvimento em
setores como a indústria pesada, por meio da inclusão de novas tecnologias; (ii) agricultura,
com a mecanização das atividades agrícolas e o fim do monopólio coletivo; (iii) defesa, com
ações de profissionalização e reorganização das Forças Armadas; e (iv) cultura, com intensas
ações de fortalecimento da educação formal e reordenamento de alguns valores sociais.
Foi, então, a partir de 1978, que se deu o início do desenvolvimento da produção
industrial e do comércio chinês, com a criação das Zonas Econômicas Especiais – ZEEs, com
políticas orientadas para o livre comércio e com regras mais flexíveis, com o objetivo de atrair
investimentos e tecnologias estrangeiras. Como consequência, porém, a diferença de renda per
capita entre as províncias ampliou-se, com a desigualdade entre a mais rica e a mais pobre
passando de 7,3 vezes em 1990 para 13 vezes em 2003. Este número é o mais elevado quando
comparado internacionalmente (HORTA, 2009; ZHU & WAN, 2012).
Porém, segundo Spence (1990), diversos protestos ocorreram em decorrência e de uma
tripla vulnerabilidade: inflação alta, crise fiscal do Estado e elevado déficit externo, após o
início da abertura do mercado chinês. O autor relata manifestações contra o desemprego, a
corrupção no Partido Comunista e desigualdades sociais crescentes, o que levou à insatisfação
da população. Era final dos anos 1980.
Em 1989, ocorreu o “Massacre na Praça da Paz Celestial”, que consistiu em uma série
de manifestações pacíficas realizadas por universitários chineses, que reivindicavam a
democratização do Partido Comunista Chinês e o combate à corrupção, e foram severamente
reprimidos com o uso de tanques, e caminhões militares com 40 mil soldados. Nunca se
conheceu o número exato de mortos, mas as estimativas giram entre 300 e 1000 pessoas.
Superada a crise da Praça da Paz Celestial, o processo de crescimento econômico foi retomado,
em um ambiente relativamente estável, com a ascensão de lideranças de formação mais técnica,
que não chegaram a participar da Longa Marcha ou a atuar nos primeiros anos da Revolução
Comunista (LYRIO, 2010).
Os anos 90 foram marcados por reformas importantes para a economia chinesa, com
privatizações, investimentos estrangeiros e a abertura do mercado. Em 1997 houve a
reincorporação de Hong Kong ao território chinês, devolvido pelos britânicos após mais de cem
anos. Em 1999 foi a vez dos portugueses devolverem Macau. Estes episódios marcaram o fim
da colonização ocidental e simbolizam o patamar atingido pela China perante o mundo.
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2018), a China dos
dias atuais possui sua capital em Pequim, tem como idioma o Mandarim e seu território mede
18

9.596.960 km2. Em 2018, sua população era de 1.415.045.928 habitantes. Com o


desenvolvimento milenar, cada etnia formou seus próprios costumes. Aspectos curiosos são
relatados pelo Departamento Econômico e Comercial da Embaixada da República Popular da
China no Brasil (2019): os chineses do sul preferem comer pratos à base de arroz, verduras,
legumes, carnes, peixes e ovos. Já os do norte preferem alimentos baseados no trigo. Os
mongóis preferem carne bovina e de carneiro e tomam chá com leite. Os tibetanos tomam um
chá preparado com manteiga e vinho. Outras etnias preferem alimentos bem distintos.
É comum se festejar aniversário, mas o ritual ocorre com mais frequência nas cidades e
é mais raro no campo. Além disso, crianças e idosos comemoram mais que os jovens e adultos.
No dia do aniversário, come-se talharins, significando vida longa. Nas cidades, é comum
comemorar com bolo, ao estilo ocidental.
Os recém-casados costumam oferecer caramelos, significando a vida doce, e recebem
presentes. Na China, a idade estabelecida por lei para se casar é de 22 anos completos para o
homem e 20 para a mulher.
A população chinesa é uma curiosidade a parte, contando com aproximadamente 22%
da população mundial (IBGE, 2019), é o país mais populoso do planeta. Porém, apesar de serem
números exagerados, uma análise dos dados das duas últimas duas décadas, é possível notar
uma taxa de crescimento decrescente, a cada ano. O Quadro 2 apresenta a população total
chinesa no período entre 2000 e 2018, e a taxa de crescimento, que se apresenta ainda positiva,
mas com crescimento decrescente a cada ano.

Quadro 2: População total chinesa e taxa média anual de crescimento (2000 – 2018)
19

TAXA MÉDIA ANUAL


ANO POPULAÇÃO TOTAL
DE CRESCIMENTO
2000 1.283.198.970 -
2001 1.290.937.649 0,603%
2002 1.298.646.577 0,597%
2003 1.306.343.911 0,593%
2004 1.314.007.478 0,587%
2005 1.321.623.490 0,580%
2006 1.329.209.094 0,574%
2007 1.336.800.506 0,571%
2008 1.344.415.227 0,570%
2009 1.352.068.091 0,569%
2010 1.359.755.102 0,569%
2011 1.367.480.264 0,568%
2012 1.375.198.619 0,564%
2013 1.382.793.212 0,552%
2014 1.390.110.388 0,529%
2015 1.397.028.553 0,498%
2016 1.403.500.365 0,463%
2017 1.409.517.397 0,429%
2018 1.415.045.928 0,392%
Fonte: IBGE, 2019. Elaboração própria

A formação do estado chinês, sua história, sua população e sua geografia foram
primordiais para o crescimento econômico exagerado e sustentável que a China vem
experimentando desde as medidas adotadas em 1978. Este crescimento é o assunto a ser
detalhado do próximo capítulo.

2 A CHINA E SEU CRESCIMENTO ECONÔMICO ACELERADO


20

É consenso entre os estudiosos que o crescimento econômico chinês, com o incremento


das medidas reformistas adotadas a partir de 1978, aponta para patamares e índices fora do
padrão mundial, não só pelos números impressionantes de crescimento, mas pela consistência
mantida por um período tão longo.
Cunha (2008) compara o modelo de crescimento chinês com modelos anteriormente
desenvolvidos, em especial no Japão, Coreia e Taiwan, porém, com suas especificidades,
especialmente no que tange às suas relações comerciais com o resto do mundo, já que é possível
afirmar que a China se encontra em condição de potência econômica global. Esta condição é
ainda relatada pelos autores como uma conquista decorrente de seu ingresso na Organização
Mundial do Comércio, que lhe abriu novas e bem aproveitadas oportunidades.
Este segundo capítulo apresenta um breve histórico do comércio exterior da China, o
grande salto econômico dado pelo país, até seu efetivo ingresso na Organização Mundial do
Comércio – OMC.

2.1 BREVE HISTÓRICO DO COMÉRCIO EXTERIOR CHINÊS

Sukup (2002) afirma que já em 1557, com a chegada dos portugueses a Macau, existiram
relações comerciais pacíficas com os chineses, assim como trocas de experiências culturais e
científicas. A fundação de Hong Kong, porém, foi consequência da primeira Guerra do Ópio,
ocorrida entre 1840 e 1840, de modo a permitir o narcotráfico necessário ao pagamento às
importações de chá, seda e porcelana da China. Estes eram os principais produtos negociados
entre os chineses e os britânicos. A China, por outro lado, se apropriou do milho, que ocupa
atualmente grandes extensões do território chinês.
Conforme Sukup (2002), em 1793, durante a revolução industrial, o imperador Qian
Long escreveu ao rei Jorge III que "o nosso Império Celestial possui todas as coisas em
abundância prolífica e não carece de nenhum produto de dentro de suas fronteiras. Não tem por
isso nenhuma necessidade de importar produtos manufaturados". Nesta época, a China era
autossuficiente e uma potência militar. Até o final do século XIX, o país se manteve fechado,
se mantendo longe de contatos estrangeiros.
Sukup (2002) ainda afirma que, entre 1895 e 1913, a rede ferroviária foi ampliada de
200 para 6.000 milhas, fazendo com que seu comércio exterior avançasse significativamente,
mas, ainda assim, a participação dos chineses no comércio mundial passou de 1,5%, em 1898
para apenas 1,9% em 1921. Neste mesmo período, a participação da Índia aumentou de 3 para
21

3,5% e a do Japão de 1 para 1,6%. Devido ao colonialismo britânico, em 1950 a Índia tinha
aproximadamente quatro vezes mais estradas de ferro que o território chinês.
Assim, a abertura terminou por levar ao colapso a civilização chinesa, com os europeus
que arrasaram as fortalezas de Cantão e seguiram a Pequim. Conforme opina Sukup (2002), a
China poderia ter se aberto como o Japão, que após mais de dois séculos, abriram-se à cultura
ocidental sem abandonar a sua própria. Porém, os chineses atravessavam uma profunda crise,
com seus recursos naturais que pareciam ter chegado ao seu limite, desencadeando o fim do
Império, as guerras civis dos anos 20 a 40, a queda de Chiang Kai-Shek e a revolução vitoriosa
em 1949, que manteve o país ainda fechado ao mundo.
Somente a partir de 1979, após a morte de Mao Tsé-tung, e sob a liderança de Deng
Xiaoping, a economia chinesa abriu-se e se mostrou a dona de uma das maiores taxas de
crescimento do mundo, por volta dos 10% por ano (NONNEMBERG, 2010). No país foram
observadas melhorias no nível de vida, principalmente no meio rural. Mudanças como relativa
abundância de alimentos e acesso à objetos de consumo como bicicletas e aparelhos de televisão
pelos chineses camponeses foram conquistas daquele país, assim como a eletrificação, que
atualmente chega 99% da população. A fome, presente na China nos primeiros anos da
República, parece ter desaparecido com a abertura comercial. Data do final da década de 1970
a fase conhecida pela modernização chinesa, ocorrida após o período da Revolução Cultural –
entre 1966 e 1976. Era o início da construção de um sistema de “Socialismo de Mercado”, que
buscou modernizar a Agricultura, a Indústria, a Cultura e a Defesa, passando a serem estas as
principais linhas que conduziriam a China ao crescimento e desenvolvimento. Esse conjunto de
ideias é chamado de Quatro Modernizações por Jabbour (2010), e é parte de uma grande
política de Estado iniciada em 1978.
Porém, o progresso comercial e a estrutura política estatal com o Partido Comunista
desencadearam uma séria crise política, fazendo estudantes e intelectuais reivindicarem uma
"quinta modernização", a da política, após as já consagradas - agricultura, indústria e comércio,
ciência e tecnologia e a área militar. Mesmo com o massacre da Praça da Paz Celestial em 1989,
e as consequentes sanções ocidentais, os investimentos externos no país cresceram de apenas 4
bilhões de dólares por ano, no início dos anos 90, para algo em torno de 40 bilhões durante o
resto da década. Os motivos desse crescimento são encontrados nas reformas e também na
localização geográfica chinesa - o colapso do comunismo e o surgimento da Ásia oriental como
o maior centro de produção industrial no mundo, fazendo a participação da China no mercado
mundial sair de 0,8 para 3,6%, entre 1985 e 1995. Em 1995, o comércio chinês já respondia por
cerca de 3% das exportações mundiais (SUKUP, 2002).
22

O Quadro 3 apresenta a participação percentual das principais economias na renda


mundial, no período entre 1980 e 2018. Nesta abordagem, é impressionante o crescimento
chinês, demonstrando que o país realmente passou de coadjuvante a um dos principais países
da economia mundial.

Quadro 3: Participação na economia mundial, por país (1980 – 2018)


TAXAS DE CRESCIMENTO
PAÍS
1980 2000 2013 2018
ESTADOS UNIDOS 24,7 23,5 18,6 17,7
CHINA 2,2 7,1 15,6 19,0
ÍNDIA 2,5 3,7 5,8 6,5
JAPÃO 8,8 7,7 5,5 4,7
ALEMANHA 6,7 5,1 3,7 3,2
RÚSSIA Nd 2,6 3,0 2,9
BRASIL 3,9 2,9 2,8 2,8
REINO UNIDO 4,0 3,5 2,7 2,4
FRANÇA 4,8 3,6 2,6 2,3
MÉXICO 3,0 2,5 2,1 2,0
Fonte: IBGE, 2019. Elaboração própria

O Gráfico 1 demonstra bem o crescimento da participação chinesa na economia


mundial, nos anos de 1980, 2000, 2013 e 2018. Enquanto as taxas de participação americanas
diminuem e dos outros países se mantém basicamente inalteradas, as taxas chinesas aumentam
vertiginosamente, inclusive passando da participação americana.

Gráfico 1: Participação na economia mundial, por país (1980 – 2018)

Fonte: IBGE, 2019. Elaboração própria


23

2.2 O GRANDE SALTO ECONÔMICO CHINÊS

Sob a liderança de Deng Xiaoping, as decisões chinesas tomadas a partir de 1978


passaram a buscar a modernização econômica, com a abertura comercial ao exterior e a
implantação de Zonas Econômicas Especiais - regiões planejadas para ter infraestrutura e
legislação especial de modo a atrair investimentos tanto de empresas estrangeiras como de
empresas privadas da China, e, em contrapartida, disponibilizariam métodos gerenciais e
tecnologias modernas.
Para Xiaoping, a China só seria respeitada quando se tornasse rica: “só se pode falar alto
quando se tem muito dinheiro”, teria dito o líder (PINTO, 2013). E isso só seria alcançado por
meio de absorção de tecnologias e conhecimento gerencial do ocidente. Dessas ideias, surgiram
diretrizes gerais que levariam a China ao patamar de potência, sem alterar o modelo socialista
chinês.
A partir daí as mudanças de comportamento de consumo chinês foram estruturais. No
início, em 1978, os bens de consumo duráveis eram a máquina de costura, a bicicleta, o relógio
e o rádio. Entre 1978 e 1984, a produção destes bens cresceu moderadamente, mas apresentou
redução de crescimento entre 1984 e 1990, cedendo lugar para geladeiras, televisões,
gravadores, máquinas de lavar e ventiladores, que tiveram altas taxas produtivas, entre 1978 e
1990 (MEDEIROS, 2002). Sem dúvida, o grande salto econômico chinês está ligado ao
processo de modernização e o seu rápido desenvolvimento industrial.
Aspectos como a distribuição da força de trabalho também sofreram grandes alterações.
Medeiros afirma que, na década de 1960, 80% dos trabalhadores eram ocupados no campo,
com atividades agrícolas. A partir de segunda metade da década de 1970, o número de
trabalhadores ligados às atividades agrícolas passa a cair, porém ainda se mantendo na área
rural. Isso deveu-se à expansão do emprego rural não agrícola, ou seja, nas vilas e pequenas
comunidades. Em 1978, apenas 17,9% da população se concentrava nas áreas urbanas. Este
percentual passou para 26,4% em 1990.
Dados apresentados por Medeiros (2002), afirmam que, entre 1978 e 1991, a oferta de
emprego total cresceu 2,9%, sendo o emprego agrícola à taxa de 1,6% e o não agrícola à taxa
de 5,4%. Porém, a população em idade de trabalho cresceu apenas 2,5%, sendo este um reflexo
da política de natalidade aplicada na metade da década de 1970. Completando o ciclo, entre
1991 e 1995, a população em idade de trabalho caiu para 1,2% da população. No mesmo
período, as taxas de emprego agrícola passaram para -2,1% e não agrícola para 5,0%,
24

concluindo que a recente industrialização contou com disponibilidade de mão de obra rural,
levando o país a um enorme crescimento produtivo, acompanhado de um aumento no consumo
de energia, bens duráveis e não duráveis, além de alimentos.
Desde 1949, com a revolução, a migração das zonas rurais para as cidades estava
proibida, sendo o grande fluxo, ao contrário, tendo ocorrido das cidades para o campo e as áreas
de fronteira. Em 1983, com as medidas reformistas, foi permitida uma migração temporária
para as pequenas cidades, sendo permitida a migração permanente para aqueles que
comprovassem a existência de recursos e moradia, em 1984. Com isso, as cidades registraram
uma transferência de 2 milhões de habitantes em 1982. Já em 1983, esse número passou para
51 milhões e, em 1980, incríveis 80 milhões de habitantes haviam deixado o campo para viver
nas cidades. Em 1985, 47 milhões de trabalhadores viviam em áreas urbanas e ZEEs, em
residências temporárias (MEDEIROS, 2002).
Diversos fatores são apontados pela literatura como primordiais e propulsores do
crescimento econômico chinês, embora também seja citado por alguns autores que houve uma
confluência de diversas condições que não podem ser copiados por outros países ou ainda em
outros momentos: fatores geográficos, políticos e econômicos foram formadores de uma
conjuntura propícia ao crescimento ocorrido. Não obstante, há que se citar, de forma mais
detalhada, a liberação do sistema de preços do setor rural, a liberação do comércio exterior, a
própria criação das ZEEs, o grande contingente populacional – mão-de-obra e consumo, o
excedente agrícola, o crescimento do investimento interno, as exportações, os investimentos
diretos estrangeiros e o financiamento internacional (NONNEMBERG, 2010).
O processo de liberação de preços teve início no setor rural, em 1979, ampliando o papel
dos mercados e delegando poder às províncias, conforme Medeiros (2002). Antes deste
movimento, os preços eram fixados pelo Governo Central, mas a partir da liberação, cada
comunidade deveria entregar uma cota de produção determinada pelo Governo, a um preço
predeterminado, mas o excedente da produção poderia ser negociado livremente no mercado.
De forma gradativa, os preços foram sendo liberados, provocando aumentos de produtividade
do setor rural e ainda sobre a renda e o emprego.
Após 1978, uma das mais importantes medidas foi a liberação do comércio exterior. Até
aquele ano, o comércio internacional era totalmente planejado pelo Governo Central, com as
exportações sendo realizadas integralmente por empresas públicas. O resultado dessa liberação
foi, num primeiro momento, um crescimento lento, tanto de exportações como de importações,
com a substituição do controle estatal por tarifas aduaneiras elevadas, que foram reduzidas
posteriormente. A partir do final dos anos de 1980, o planejamento das importações também
25

foi substituído por barreiras não tarifárias tradicionais, que também foram sendo reduzidas
gradativamente, até que, no fim da década de 1990, as medidas de liberação do comércio
exterior – importações e exportações, foram aceleradas visando o ingresso chinês na
Organização Mundial do Comércio, ocorrido em 2001.
Conforme Nonnemberg (2010), em 1980, o Governo Central criou 4 Zonas Econômicas
Especiais – ZEEs no litoral sul chinês, em Shenzhen, Zhuhai, Shantou e Xiamen. Nessas
cidades, foram concedidos vários incentivos, o que permitiu a transferência da produção
industrial de Hong Kong, principalmente de setores que demandam muita mão de obra, pois já
não havia mais espaços físicos para crescer. Sobre as ZEEs, Arrighi (2008) afirma:

[...] o governo [chinês] investiu quantias enormes no desenvolvimento de novos


setores, na criação de novas Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs), na
expansão e na modernização da educação superior e em grandes projetos de
infraestrutura, num nível sem precedentes em nenhum país de renda per capita
comparável. (ARRIGHI, 2008, p. 362)

Com resultados positivos, o governo da China criou outras 14 ZEEs, em 1984, de forma
semelhante às primeiras, chegando à toda a costa chinesa no final da década de 1980. Ao final
dos anos 1990, as áreas para investimentos estrangeiros alcançaram também o interior do país.
Importante ressaltar ainda a ampliação das empresas rurais, nas vilas e cidades pequenas, que
passaram a produzir equipamentos elétricos, produtos têxteis, equipamentos agrícolas e
domésticos, sendo muitas delas fornecedoras de componentes para as empresas manufatureiras
localizadas nos grandes centros urbanos (CORRÊA, 2006).
O fato de a China ser um país extremamente populoso também foi um importante fator.
A China contava com um grande contingente de mão de obra no setor rural, com baixos salários
e produtividade. Isso possibilitou que os trabalhadores rurais se deslocassem para as cidades
mantendo baixos salários, devido à falta de especialização. Nonnemberg (2010) afirma que,
entre 1978 e 2006, a população de trabalhadores nas áreas urbanas cresceu de 95 para 283
milhões, ao tempo em que os salários médios reais cresceram em média 11% ao ano, número
muito próximo do PIB nacional. Medeiros (2002) afirma que, “com as reformas do campo do
final dos 70, o crescimento da produtividade tornou evidente um gigantesco excedente de força
de trabalho rural”. Ainda quanto à sua enorme população, esta favoreceu a existência de
economias de escala na indústria chinesa, impactando diretamente nos custos de produção, de
forma a diminuí-los e a fortalecer a indústria.
Na agricultura, a introdução de tecnologias com vistas à mecanização, com
investimentos na energia elétrica foram importantes fatores para o crescimento da produção
26

agrícola, permitindo o aumento do emprego urbano, como já relatado. Além disso, o governo
chinês planejou ainda a criação de uma série de legislações para as empresas privadas, inclusive
leis trabalhistas para a regulação do mercado de trabalho. Cabe ainda citar que a utilização da
terra passou a ser por meio do sistema de responsabilização por contrato familiar, possibilitando
a comercialização do excedente agrícola. Medeiros (2002) afirma que o movimento ocorrido
na China entre 1980 e 1983 se iniciou com a expansão do setor primário, seguido pelo aumento
do setor secundário nos anos posteriores.
Assim, na indústria, além da modernização tecnológica, foram também pensados
prêmios em dinheiro aos trabalhadores. Todas essas mudanças foram seguidas por reforços no
sistema de Educação chinês, de modo que pudesse acompanhar tantas medidas (SERRA, 2003).
Diante de tantas e radicais mudanças, ficaram sob o comando do Estado as áreas de
energia, recursos hídricos e minerais, silvicultura e uso do solo, controle de câmbio, parte do
setor financeiro, com o controle do setor bancário, o que possibilitou direcionar a poupança das
famílias e das empresas para as empresas – públicas e privadas, que desejassem investir. Nessa
área, pode-se citar como medidas adotadas: crédito às empresas estatais, por meio de bancos
públicos; incentivos voltados para investimentos estrangeiros ligados à tecnologia; adoção de
barreiras não tarifárias, após a entrada da China na OMC; políticas de estímulo de transferência
de tecnologia aos processos produtivos locais; e, por fim, implementação de medidas que
visavam a criação de empresas chinesas que concorressem com as multinacionais (PINTO,
2003).
Decorreram dessas mudanças, a queda na proporção dos produtos agrícolas e intensivos
em minerais e o crescimento dos bens industriais comercializados no exterior, mudando para
sempre o padrão de comércio exterior chinês, que acompanhou a transformação de sua indústria
nos mais variados segmentos de mercado.
No período entre 1978 e 1989, a realidade chinesa foi se alterando, com todas essas
reformas sendo construídas gradativamente. Porém, a resistência da ala marxista-leninista do
Partido Comunista Chinês foi sempre muito forte. Essa corrente se fortaleceu com a ascensão
ao poder do PCC, em 1991, quando Deng Xiaoping voltou de sua aposentadoria para lutar para
restabelecer diretrizes iniciais. Em 1992, Xiaoping, contando com apoio de líderes das
províncias no PCC e também pelo Exército da Libertação do Povo – ELP, trabalhou em um
acordo de amplitude nacional, denominado “Grande Compromisso”, de modo a contemporizar
os setores do PCC – anciões, marxista-leninistas, pró-abertura, líderes locais, tecnocratas e o
próprio ELP. O Grande Compromisso garantiu e acelerou as reformas propostas e a abertura da
27

economia chinesa ao mundo ocidental. A ideia central do acordo foi transforma a China em
uma nação rica e poderosa até a primeira metade do século XXI (MARTI, 2007).
A China após a saída de Xiaoping do poder, em 1992, não demonstrou sinais de
desaceleração ou finalização das reformas iniciadas por Deng Xiaoping. Em 1993, sob a
liderança de Jiang Zemin, o grande desafio era a estabilização política e econômica do país,
devido aos protestos e apelos de retorno da filosofia comunista dos tempos de Mao. Entre 2002
e 2013, a China passou a ser comandada por Hu Jintao, que, juntamente com o premiê Wen
Jiaobao, são os primeiros a assumir a China em condições muito diferentes dos seus
antecessores.
Hu e Wen trouxeram uma perspectiva sem precedentes à tarefa de administrar o
desenvolvimento da China e definir seu papel mundial. Eles representam a primeira
geração de líderes sem experiência pessoal na revolução, os primeiros no período
comunista a assumir o poder mediante a processos constitucionais – e os primeiros a
assumir posições de responsabilidade em uma China emergindo inequivocadamente
como uma grande potência. (KISSINGER, 2011, p. 468)

A China atual é presidida, desde 2013, por Xi Jinping, sétimo presidente da República
Popular da China, e que assumiu o poder com o desafio de administrar o legado de um país de
tradições milenares, e que, em poucos anos, alcançou o patamar de crescimento extraordinários,
passando a figurar como grande potência mundial.

2.3 PROCESSO DE ADESÃO À ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO


COMÉRCIO

Segundo Sukup (2002), a adesão à Organização Mundial do Comércio - OMC marcou


oficialmente o final do isolamento comercial e econômico da China. Em 10 de novembro de
2001, a Conferência Ministerial da OMC, em Doha, no Qatar, aprovou os termos da adesão da
China àquela Organização, mas a China tornou-se membro oficialmente em 11 de dezembro de
2001.
Este evento constituiu num dos mais importantes da OMC, considerando que a China é
uma das 23 partes do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (em inglês, General Agreement on
Tariffs and Trade – GATT). Uma série de acordos e tratados firmados para promover o
comércio internacional por meio da redução de tarifas e barreiras entre os países signatários,
por meio de normas com vistas a evitar guerras comerciais e práticas protecionistas, o GATT é
considerado o precursor da Organização Mundial do Comércio, fundada em 1995, e continua
28

vigente até hoje, funcionando como grupo de normas que organiza o comércio dos países
participantes da OMC (THORSTENSEN, 1998).
Firmado em 1947, tem a China como um dos países signatários. Porém, após a
Revolução Chinesa, em 1949, o governo de Taiwan anunciou que a China deveria deixar o
GATT. Embora o governo chinês nunca tenha reconhecido esse desligamento, em 1986 a China
manifestou seu desejo de retomar seu status de membro, iniciando a negociação mais longa já
ocorrida na história do GATT e da OMC. Como parte da estratégia chinesa, o país tornou-se
membro do Fundo Monetário Internacional – FMI em 1980. Em 1987 foi formado um grupo
de trabalho no GATT para examinar a reintegração chinesa, que se encontrou mais de vinte
vezes sem chegar a uma conclusão, e paralisando os trabalhos em virtude dos eventos ocorridos
na Praça da Paz Celestial, em 1989. A partir de 1995, com a criação da OMC, o grupo de
trabalho se reuniu outras dezoito vezes.
O governo chinês buscou adequar suas políticas de comércio internacional às normas
previstas no GATT, e posteriormente às regras da OMC, para tornar-se membro, buscando se
qualificar e aumentar sua participação no comércio mundial, mas a baixa transparência no uso
de suas tarifas e a utilização de barreiras não tarifárias prolongaram o processo de negociação
por quase quinze anos (CORRÊA, 2006). Como resultados dessas negociações, a China acabou
por firmar diversos compromissos, com o objetivo de se integrar à economia internacional, a
exemplo da revisão das leis de Patentes, Marcas Registradas e Direitos Autorais, de modo a se
adequarem às exigências da OMC.
Em 1995 a China apresentou novo pedido de adesão, que foi negado, embora a própria
OMC entendesse que o ingresso da China contribuiria para o crescimento econômico mundial,
além de reforçar a necessidade de continuidade das reformas iniciadas em 1978.
Em 1999, os Estados Unidos reconheceram a cláusula da Nação Mais Favorecida –
NMF, que prevê que uma concessão feita a um parceiro comercial é imediatamente estendida
a todos os países membros da OMC, com o objetivo de banir a discriminação nas relações
comerciais internacionais.
De acordo com o princípio NMF, cada parte contratante é obrigada a conceder o mesmo
tratamento tarifário a todas as demais partes contratantes. (THORSTENSEN ET AL, 2011).
Além disso, prevê que, após o pagamento das tarifas, o produto estrangeiro tenha o mesmo
tratamento que o nacional. A cláusula NMF reacendeu as discussões sobre o comportamento
da China em suas transações comerciais quanto aos princípios fundamentais do GATT e da
OMC: cláusula NMF, tratamento nacional, abertura de mercado, transparência legislativa,
vedação às práticas desleais de comércio, vedação às restrições quantitativas de importações e
29

tratamento preferencial aos países em desenvolvimento. Visando sua adesão, a China se


comprometeu a obedecer a todos os acordos da OMC, inclusive seus princípios fundamentais,
ainda que de forma gradativa, com alguns deles a serem cumpridos depois da efetivação de sua
adesão.
Finalmente, depois de uma candidatura que durou quinze anos, a China tornou-se
membro da Organização Mundial do Comércio – OMC, o que permitiu que o país passasse a
participar cada vez mais da economia mundial, interferindo de forma permanente em sua
dinâmica, levando o país a um papel de destaque no cenário mundial.
A ascensão chinesa no mercado internacional, conforme Oliveira e Leão (2010),
ocorreu, em grande parte, devido à sua capacidade de vinculação de sua economia ao processo
de produção globalizada, desencadeando um conjunto de reformas de abertura de sua economia.
De fato, a entrada da China na OMC demonstra que suas reformas são irreversíveis, que
a globalização já atingiu o país de tradições milenares e que essas mudanças alteraram a
dinâmica das relações comerciais e a economia mundial.
De uma forma especial, a América Latina foi bastante impactada com o ingresso chinês
na OMC. Este assunto está apresentado no capítulo 3 deste trabalho.

3 O CRESCIMENTO CHINÊS E A AMÉRICA LATINA

Após o ingresso chinês na Organização Mundial do Comércio, o país passou a


diversificar suas parcerias, demonstrando interesse em firmar relações com a África e a América
Latina. Este capítulo se dedica a apresentar as relações entre a China e a América Latina, tendo
por base o crescimento econômico já explorado, e considerando como marco temporal o ano
de 2001, data da efetiva entrada chinesa à OMC.

3.1 A CHINA APÓS O INGRESSO NA OMC E SUAS RELAÇÕES COM A


AMÉRICA LATINA

Após a implementação das reformas iniciadas por Deng Xiaoping, a China passou a se
engajar nas relações diplomáticas multilaterais. Dessa forma, estabeleceu relações diplomáticas
com a maioria dos países latino americanos, desenvolvendo relações comerciais com países em
situações de desvantagem econômica, tornando-se cada vez mais atuante no comércio mundial.
30

A abertura da economia chinesa impactou o comércio exterior na América Latina.


Conforme estimativas da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe – CEPAL, de
2016, o comércio entre os países latinos e a China aumentaram expressivamente, passando de
2,8% para 6,5% nas exportações e de 2,5% para 7,5% para as importações, entre os anos 2000
e 2012. Na mesma esteira, Javier Vadell (2011) afirma que a República Popular da China e sua
crescente presença no mercado internacional como compradora de recursos naturais se
apresenta como nova opção, em plena crise econômica, para a América do Sul, em especial
porque os preços, por razões de maior demanda, experimentaram elevações importantes. Ainda
segundo o autor, tal comércio se fortalece ainda mais na medida em que a América Latina se
apresenta como um potencial grande mercado consumidor de produtos chineses.
Para os países latinos, especialmente os da América do Sul, essa aproximação
representou uma oportunidade de retomar um ritmo de crescimento econômico razoável, após
os fracos resultados obtidos na década de 1990. A América Latina lidava com situações como
a histórica desigualdade social elevada e enfraquecimento de suas instituições estatais,
afastando cada vez mais o tão desejado desenvolvimento econômico. A relação entre a China e
a América Latina foi assim contextualizada por Vadell (2011):

O ano 2001 marca, talvez, o momento simbólico de ruptura desse processo na


América Latina. [...] é verdade que, para a América Latina – mas principalmente para
a América do Sul – surge, em plena crise econômica, uma nova opção no horizonte:
a crescente presença da RPC no comércio internacional como compradora de recursos
naturais e energéticos, cujo preços, por razões de maior demanda, especulativas e
geopolíticas, experimentaram substantivas elevações pelo menos até a crise de 2008.
(VADELL, 2011, p. 58).

A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe – CEPAL estimou, em 2016,


que os percentuais de participação dos países latinos no comércio exterior chinês aumentaram
expressivamente, passando de 2,8% para 6,5% nas exportações e de 2,5% para 7,5% para as
importações, entre os anos 2000 e 2012. No sentido contrário, tem-se que a quantidade de
produtos latino-americanos exportados para a China quase que duplicou: em 2000 representava
26% das exportações da América Latina, passando para 53% em 2015.
A aproximação da China com os países latino-americanos passou por quatro pontos: (i)
necessidade chinesa em garantir o acesso à recursos naturais que dessem sustentabilidade ao
seu crescimento; (ii) a agenda diplomática chinesa, buscando ampliar sua participação no
mercado mundial; (iii) ampliação das relações chinesas, buscando apoio e parcerias nas
organizações internacionais e fóruns multilaterais dos quais agora era signatária; e (iv) o
31

potencial mercado consumidor para os produtos chineses, localizado na América Latina


(VADELL, 2011).
De fato, a China não possui, em seu território, a maioria das principais commodities,
como minério de ferro, cobre, petróleo e madeira, de forma a sustentar um crescimento de 9%
ao ano, desde o final da década de 1970, fazendo com que esses recursos, abundantes na
América Latina, fossem alvo das importações chinesas. Ademais, a crescente necessidade
chinesa por esses recursos naturais, são explicadas por seu crescimento populacional; sua
urbanização, ligada ao desenvolvimento; e a uma crescente classe média consumidora. Dessa
forma, a explicação para a expansão do comércio entre a China e a América Latina se relaciona
com o crescimento econômico chinês rápido e a escassez de certos recursos naturais em seu
território, afirma Vadell (2011). É óbvio que a China buscaria essas commodities em países
latinos americanos, ricos nesses recursos naturais.
No período entre os anos de 1990 e 2014, a demanda chinesa por metais – minério de
ferro, cobre, níquel, chumbo e estanho, aumentou de aproximadamente 3% para cerca de 40%
da demanda mundial. Suas importações de soja passaram de 1% para 60% e sua demanda por
petróleo passou de 1% para 11% da demanda global (LEE, 2017). Essa busca da China por
produtos primários e recursos naturais impactou significativamente os preços dessas
commodities nos mercados globais, inclusive sobre os produtos exportados pela região da
América Latina para a China.
Para Carmo (2013), o crescimento chinês já projetado sobre a Ásia e crescente na África,
deixava clara a iminência da China ser atraída por uma outra região com a chegada dos anos
2000. Carmo (2013) ainda esclarece que a grande demanda chinesa por matérias-primas foi
facilmente aproveitada pelos governos sul-americanos focados no desenvolvimento econômico
e, com isto, foi adicionado um novo vetor de poder para a América do Sul, que possuía dois
projetos econômicos distintos, um focado na integração com os Estados Unidos, partindo de
uma proposta liberal chilena e colombiana e uma outra proposta brasileira que visava uma maior
integração dos países sul-americanos, enquanto buscava uma maior soberania sobre a região.
Com a chegada da China a América do Sul, a proposta brasileira perde forças pelo fato
do Brasil não conseguir lidar com a concorrência chinesa e, além disto, também precisar dos
investimentos chineses, fazendo com que sua tentativa de obter uma soberania comercial sobre
a América do Sul continuasse dividida entre o próprio Brasil, os Estados Unidos e também a
China. Porém, em 2008, com a crise econômica mundial, as exportações latino-americanas à
China foram intensificadas, devido à maior fragilidade econômica da Europa e Estados Unidos,
revelando uma China mais proativa na busca por mercados capazes de compensar o declínio da
32

demanda das economias europeias e americana e representando uma via de crescimento


alternativo para os países da América Latina. Este contexto foi citado por Becard (2011):

Com a América Latina, em particular, a China estabeleceu como metas primordiais a


obtenção de recursos energéticos, matérias-primas e mercados para seus exportadores,
além da contenção da influência de Taiwan e de apoio político mútuo em fóruns
internacionais. Como fruto de sua presença na região, registrou-se, na primeira metade
dos anos 2000, crescimento do comércio entre China e países latino-americanos de
aproximadamente 70%, com concentração das trocas em poucos países (Brasil, com
30%, e México, Chile, Argentina, Panamá, Peru e Venezuela, com 50% do total dos
intercâmbios) – e poucos produtos – minérios, alimentos, pesca e petróleo. Os
múltiplos investimentos chineses na região ocorreram principalmente em áreas
relacionadas à extração de matérias-primas e construção de infraestrutura. (BECARD,
2011, p. 36)

Por óbvio que esse modelo possui riscos em caso de alteração do padrão de crescimento
da China, sendo pouco provável que a demanda por commodities se mantenha crescente caso a
economia chinesa passe a crescer de forma menos acelerada ou com um foco mais em serviços
ao invés de produtos manufaturados. Isso diminuiria a atividade industrial chinesa e a demanda
por commodities tenderia a diminuir, na mesma proporção, impactando negativamente os
preços do mercado mundial.
Dessa forma, o papel dos governos latino-americanos de reconhecer os desafios e as
oportunidades impostas pelo crescimento econômico chinês é de extrema importância,
buscando soluções em resposta a uma possível diminuição deste crescimento.

3.2 BREVE HISTÓRICO DAS RELAÇÕES BRASIL-CHINA

Os governos brasileiro e chinês se aproximaram pela primeira vez no final do século


XIX, resultando em acordos em que o Brasil pretendia levar mão de obra chinesa para atender
à demanda brasileira por força de trabalho, principalmente na atividade cafeeira. Porém, houve
a recusa do governo chinês, tendo em vista que o Brasil ainda não havia demonstrado como se
comportaria em relação à mão de obra imigrante. De fato, naquela época, historicamente a mão
de obra brasileira consistia em escrava, levando a uma percepção chinesa em relação ao Brasil,
receando que os chineses, uma vez no Brasil, seriam tratados de forma pouco diferente aos
escravos brasileiros. Com a negativa da China, desembarcaram no Brasil imigrantes japoneses,
europeus, principalmente italianos.
33

Em 1913, o Brasil reconheceu a República da China, proclamada em 1911. Apenas um


ano depois, já havia uma missão diplomática instalada na China, mas dessa época até 1949, as
relações entre os dois países foram apenas diplomáticas. Porém, com a fundação da República
Popular da China, em 1949, estado comunista, o Brasil rompe relações com a China continental
e reconhece a China Nacionalista – Taiwan como representante do povo. Naquela época, com
as crescentes tensões da Guerra Fria, o estado brasileiro estava totalmente alinhado aos Estados
Unidos, a potência líder do bloco capitalista, e abriu a embaixada brasileira em Taipei, Taiwan,
em dezembro de 1952 (VILLELA, 2004).
Somente em 1961, Brasil e China buscaram uma aproximação, com uma missão
comercial brasileira à Pequim. Porém, já em 1964, já sob a ditadura militar brasileira, a missão
comercial chinesa que visitava o Brasil foi presa, ocasionando um retrocesso nas tentativas de
aproximação comercial dos dois países. De acordo com Villela (2004), apenas em 1974 o Brasil
reatou as relações diplomáticas com a China, no governo de Ernesto Geisel.
Desde então, Brasil e China estabeleceram cooperação nos fóruns multilaterais,
assumindo posições de defesa do mundo em desenvolvimento e quase sempre tomando as
mesmas decisões. Villela (2004) afirma que, no âmbito das relações internacionais
diplomáticas, houve diversas visitas, de lado a lado, a exemplo do presidente Jiang Zemin, que
esteve no Brasil em 1993 e em 2001, e do presidente Hu Jintao, que esteve em solo brasileiro
em 2004. A contrapartida se deu com a visita do presidente Fernando Henrique Cardoso, à
China, em 1995, e de Lula em 2004.
No campo da cooperação científica, os dois países desenvolvem, desde os anos de 1980,
o programa CBERS – China-Brazil Earth Resources Satellite, que tem o objetivo de produzir
satélites de sensoriamento remoto para observar áreas ambientais, urbanas e agrícolas, tendo
sido o primeiro satélite lançado em 1999 (VILLELA, 2004).
Quanto ao relacionamento comercial, entre 1974 e 1990, o fluxo de comércio bilateral
aumentou de forma lenta e gradativa, porém constante. Somente após a abertura do Brasil ao
mercado internacional, nos primeiros anos da década de 90, houve um crescimento do
comércio, influenciado também pelas medidas de reformas econômicas ocorridas na China, no
mesmo período. Essa aceleração ficou demonstrada com o avanço da China nas importações de
produtos brasileiros: em 2001 era o sexto maior importador de produtos brasileiros, passando
para terceiro em 2002 e segundo em 2003. Ainda assim, em 2002, as exportações brasileiras à
China corresponderam a apenas 0,9% das importações daquele país, de acordo com o Ministério
da Economia (2019). A partir de 2010, a China se tornou o mais importante parceiro comercial
do Brasil, pelo critério de fluxo de comércio, e figura como o maior mercado das exportações
34

brasileiras e entra como importante aliado político e parceiro comercial do Brasil, porém o ritmo
acelerado de crescimento chinês e o seu protagonismo nos fóruns multilaterais devem ser
analisados sob os objetivos brasileiros de longo prazo.

3.3 AS RELAÇÕES ENTRE CHINA E BRASIL APÓS 2001

Após o ingresso na OMC, a China passou a empreender esforços na busca de novos


mercados, a queda das tarifas de importação de seus produtos ainda nos anos 1990 e a quebra
da paridade do real com o dólar na economia brasileira contribuíram muito para as relações
comerciais entre os dois países.
Os primeiros anos do século XXI, para Brasil e China, foram de aproveitamento das
afinidades políticas para a ampliação da “complementariedade de suas cadeias produtivas”
(BECARD, 2011, p. 37). Ressalta-se a fundação de instituições com vistas a essa aproximação,
a exemplo do Conselho Empresarial Brasil-China em 2004, que atua nos temas estruturas do
relacionamento bilateral sino-brasileiro, com o objetivo de aperfeiçoar o ambiente de comércio
e investimento entre os dois países. Em 2006 foi fundada Comissão Sino-Brasileira de Alto
Nível de Concertação e Cooperação – COSBAN, que objetiva promover, a cada dois anos,
contatos regulares entre altos representantes dos dois países, de modo a incentivar o
relacionamento bilateral. Em 2007 foi criado o Diálogo Estratégico, com o objetivo de tratar
sobre temas da agenda comercial sino-brasileira, e, em 2008 foi criado o Diálogo Financeiro
Brasil-China, para tratar de cooperação em políticas macroeconômicas e temas financeiros.
Todas essas instâncias fortaleceram a aproximação bilateral e influenciaram significativamente
o comércio exterior brasileiro.
Em 2004, os Estados Unidos figuravam como o maior destino das exportações
brasileiras, seguido da Argentina e com a China aparecendo apenas em terceiro lugar. Em 2010,
a China assumiu o posto de primeiro parceiro comercial do Brasil. Porém, apesar desse
crescimento em tão pouco tempo, é necessário analisar a composição dessas transações
comerciais. A maior parte das exportações brasileiras à China era composta por matéria prima,
como ferro e aço, e alimentos, como complexo de soja – mercadorias de baixo conteúdo
tecnológico, chegando a representar mais de 70% das vendas em 2004. Por outro lado, as
importações brasileiras oriundas da China eram compostas quase que totalmente por bens de
35

capital, bens de consumo e intermediários – equipamentos eletrônicos e químicos e


farmacêuticos.
O Quadro 4 apresenta o volume das exportações brasileiras à China, no período entre os
anos 2000 e 2018.

Quadro 4: Exportações Brasileiras à China, em reais (2000-2018)


ANO VALOR R$
2000 1.559.997.040,00
2001 2.368.869.200,00
2002 3.043.253.701,00
2003 5.224.651.688,00
2004 6.205.677.425,00
2005 7.716.416.838,00
2006 9.430.090.386,00
2007 12.112.447.254,00
2008 18.327.467.628,00
2009 22.858.813.929,00
2010 32.468.936.207,00
2011 46.526.710.485,00
2012 43.682.657.298,00
2013 49.362.802.299,00
2014 43.932.763.445,00
2015 37.649.058.964,00
2016 37.395.108.431,00
2017 50.173.257.411,00
2018 66.679.815.490,00
Fonte: Elaborado pelo Autor, com base em Ministério da Economia (2019)

Villela (2004) afirma que as relações comerciais entre Brasil e China se desenvolveram
rapidamente, conforme demonstrado no Quadro 4. Conforme o autor, isso ocorreu notadamente
por possuírem diversas características comuns. Ambos os países possuem similaridades em
termos populacionais e de dimensões territoriais, além de problemas semelhantes, como por
exemplo as chamadas “ilhas de modernidades”, já que os dois convivem com desigualdades
socioeconômicas.
Porém, o autor relata também que suas relações comerciais ainda possuem um valor
muito inexpressivo, com grande potencial de se aprofundarem significativamente, considerando
que, nas exportações brasileiras, predominam produtos básicos e muitos autores descrevem as
importações chinesas como um “apetite insaciável por matérias primas”. Em contrapartida,
Costa e Mendonça (2017) afirmam que aquele país vem se especializando em exportar bens
finais, o que reflete fatalmente a relação entre Brasil e China.
O Gráfico 2 demonstra a evolução das exportações, de modo a melhor visualizar o
relatado crescimento.
36

Gráfico 2: Exportações Brasileiras à China, em bilhões de reais (1998 – 2018)

Fonte: Elaborado pelo Autor, com base em Ministério da Economia,2019.

A crise financeira mundial de 2007-2008, no entanto, parece ter influenciado o comércio


entre os dois países, desacelerando-o e registrando uma certa contração, a partir de 2011,
seguido de uma retomada no ano seguinte, mas novamente com decréscimos até 2016. Apesar
disso, aparentemente as relações comerciais entre Brasil e China não tiveram fortes impactos.
O Quadro 5 apresenta a participação da China no comércio internacional brasileiro.

Quadro 5: Relações Comerciais entre Brasil e China (Imp x Exp., 2001 – 2015)

Fonte: WB – Word Bank apud CONTI; BLIKSTAD, 2017, p. 18

Apesar do resultado favorável ao Brasil, quanto à agricultura e à mineração, há a questão


da diversificação das exportações brasileiras, buscando agregar valor agregado e produtos com
maior incidência tecnológica. Neste contexto, o Brasil deveria resolver questões como alta
carga tributária, falta de infraestrutura e de políticas de identificação de novos mercados, pouca
capacidade de expansão dos setores não-agrícolas, queda dos preços das commodities e a
própria concorrência com a China.
Becard (2011) apresenta esse contexto:
37

De 2001 a 2003, as exportações brasileiras para a China foram marcadas por


significativa presença de mercadorias de baixo conteúdo tecnológico (55%); alto grau
de concentração da pauta exportadora por setores – agropecuária (32%), mineração
(21,6%), siderurgia (7,8%), celulose (5,3%) e óleos vegetais (9,1%) em 2004 – e por
produtos (soja e minério de ferro). Em 2003, as importações realizadas pelo Brasil no
mercado chinês também foram marcadas por alto grau de concentração em poucos
setores produtivos – equipamentos eletrônicos e químicos e farmacêuticos –, embora
em menor grau do que o verificado para as exportações (57% dos importados).
(BECARD, 2011, p. 36).

Conti e Blikstad (2017) demonstram a dinâmica do comércio internacional da China,


onde claramente se posiciona o Brasil:

a) Japão e Coreia do Sul: China importa preponderantemente bens de capital e


produtos de alta tecnologia; e exporta partes e peças industriais intensivas em mão-
de-obra; b) Estados Unidos e Europa: China exporta bens de consumo duráveis de
menor valor agregado e importa bens de alta tecnologia; c) Sudeste asiático: China
exporta bens de capital e bens de consumo duráveis e importa insumos
(principalmente metalúrgicos), alimentos e matéria-prima; d) Restante dos países
periféricos: China exporta produtos industriais (bens de consumo e de capital); e
importa alimentos, matéria-prima e energia. (CONTI; BLIKSTAD, 2017, p. 19)

Ainda que essa dinâmica seja generalizada, não há dúvidas da posição brasileira, frente
às relações comerciais chinesas. Os Gráficos 3 e 4 apresentam as exportações e as importações
da China para o Brasil, entre 2001 e 2015, por categoria de bens.

Gráfico 3: Exportações de bens da China para o Brasil - % do valor total (2001 – 2015)

Fonte: WB – Word Bank apud CONTI; BLIKSTAD, 2017, p. 19


38

Gráfico 4: Exportações de bens do Brasil para a China - % do valor total (2001 – 2015)

Fonte: WB – Word Bank apud CONTI; BLIKSTAD, 2017, p. 20

Conforme as ilustrações de Conti e Blikstad (2017), as exportações chinesas para o


Brasil são compostas quase integralmente por bens de capital, de consumo e intermediários,
enquanto que, a partir de 2010, 80% das exportações brasileiras para a China são compostas
por matérias-primas. Os autores afirmam, ainda, que são itens relativos a minérios, sementes e
grãos, basicamente minério de ferro e soja.
A China vem apresentado grandes taxas de crescimento desde o início dos anos 2000.
Até 2010, apresentou taxa média de 10,5% ao ano, porém, desde 2012 vem desacelerando
gradativamente. O Gráfico 5 apresenta as taxas de crescimento anuais, até 2017.

Gráfico 5: Taxas Anuais de Crescimento da China (1999 – 2017)

Fonte: Elaborado pelo Autor, com base em Indexmundi, 2019.


39

Conti e Blikstad (2017) defendem que não existem indícios de mudança no padrão de
comércio chinês, mesmo com a desaceleração do seu crescimento:

Para os próximos anos, nada indica uma mudança nesse padrão de comércio, no que
diz respeito à sua composição. No entanto, existem dúvidas sobre qual será o efeito
da desaceleração chinesa, [...] sobre a demanda por commodities brasileiras (e, em
decorrência, também sobre a trajetória dos preços dessas commodities). (CONTI;
BLIKSTAD, 2017, p. 20)

Apesar disso, os mesmos autores afirmam que os estímulos nos investimentos


relacionados à exploração dos recursos naturais podem desencadear um desestímulo aos
investimentos na indústria, incentivando cada vez mais a participação de produtos primários
nas exportações, aumentando o déficit comercial brasileiro em relação aos produtos de maior
tecnologia. Ademais, a expansão das exportações chinesas acarreta retração nas exportações
brasileiras desses produtos com maior valor agregado.
Contudo, o padrão de comércio chinês pode vir a sofrer alterações com a recente guerra
comercial entre Estados Unidos e China (CARVALHO et al, 2019). Muito tem se noticiado a
esse respeito dessa crise que vem se desenrolando desde 2018, mas que se agravou já em 2019
e pode se tornar a maior guerra comercial das últimas décadas, já que se trata das duas maiores
economias mundiais. Após meses de ameaças, os dois governos começaram, em 2019, a agir
impondo restrições de lado a lado.
Os Estados Unidos alegam que a China está roubando tecnologia. De acordo com o
governo americano, isso estaria ocorrendo por meio das empresas controladas pelo governo
chinês, que compram sistematicamente percentuais de empresas americanas com o objetivo de
acessarem métodos de produção para os reproduzirem posteriormente. Há ainda a acusação de
que o governo chinês dificulta a entrada de empresas americanas na China, com a imposição de
regras mais rígidas. Com base nessas acusações, o governo americano impôs tarifas a produtos
chineses, e vem aumentando a taxação a cada disputa. Por outro lado, a China acusou o
Presidente americano Donald Trump de estar praticando protecionismo unilateral, e também
aplicou tarifas sobre os produtos americanos.
Na origem do problema está o déficit americano nas relações comerciais entre os dois
países: conforme dados do International Trade Centre, em 2016, os Estados Unidos importaram
cerda de US$ 481 bilhões da China, correspondendo a mais de 20% de tudo que a China exporta.
No sentido inverso, a China importou menos de um terço: US$ 135 bilhões, ou menos de 10%
de suas importações.
40

No Brasil, a Confederação Nacional da Indústria – CNI (2019), afirmou que a crise sino-
americana de comércio trouxe benefícios para o Brasil, com a elevação das exportações dos
produtos básicos e commodities, mas os produtos manufaturados brasileiros, que já vinham
perdendo espaço, não apresentaram recuperação. “A guerra comercial entre EUA e China
poderá, eventualmente, causar desestabilização, via queda no preço das commodities, caso
provoque desaceleração mais expressiva no ritmo de crescimento do PIB chinês”, afirma a CNI
em seu Informativo publicado em dezembro de 2018.
Conforme Carvalho et al (2019), “o Brasil seria um dos países mais beneficiados em
termos de bem-estar dentre todos os países examinados”.
De qualquer forma, uma guerra comercial como a que está instalada entre os Estados
Unidos e a China nunca é boa para o comércio mundial, o que poderá impactar o futuro das
relações comerciais entre Brasil e China.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É inegável que as reformas iniciadas por Deng Xiaoping, a partir de 1978,


transformaram a China em uma potência mundial, por meio de sua modernização, conforme
apresentado no Capítulo 2. Em um curto espaço de tempo, o país, que havia sofrido uma das
maiores crises de fome, alcançou a posição de uma das maiores potências econômicas mundiais.
Além do desenvolvimento econômico alcançado, as reformas viabilizaram a abertura do
comércio com o resto do planeta, de forma que alcançou também posição de destaque nos
fóruns multilaterais. Essa posição foi amplificada a partir de 2001, com a adesão chinesa à
OMC e a expansão de sua participação no comércio internacional.
A partir daí a China se especializou em exportar produtos de grande valor agregado e
de alta tecnologia e importar matérias-primas e recursos naturais, de forma a suprir sua
demanda, criada pela urbanização acelerada de sua superpopulação. Esses movimentos
favoreceram as parcerias da China com países não industrializados ou com baixa
industrialização, a exemplo dos país da região da América Latina, abundantes em recursos
naturais. Além de serem fonte segura de matérias-primas necessárias ao crescimento econômico
chinês, aparecem como potencial mercado consumidor dos produtos manufaturados chineses.
41

Ademais, a diversificação das parcerias comerciais estava na agenda de política internacional


da China, na busca de apoio nos fóruns multilaterais.
Conforme descrito no capítulo 3, para os países da América Latina, no início dos anos
2000, o comércio com a China foi visto como uma oportunidade de retomar o crescimento
econômico que havia apresentado números pífios na década de 1990. Assim, os países
ampliaram seu comércio de produtos agrícolas, de forma que as exportações da região, entre
2000 e 2015, quase dobraram. Há ainda que se comentar sobre os ganhos de exportação para a
América Latina, devido ao aumento de preços das commodities, influenciado pela demanda
exacerbada chinesa por esses produtos.
Esse comércio foi ampliado a partir de 2008, com a intensificação das relações chinesas
com a periferia capitalista, buscando compensar os espaços deixados pelas grandes economias
mundiais, abaladas pela crise financeira de 2008-2009. Configurou-se, então, uma relação de
demanda chinesa por produtos primários e recursos naturais, ao tempo em que invadia a região
com seus produtos manufaturados, muitas vezes com preços mais competitivos que a própria
produção nacional, devido ao baixo custo da mão de obra chinesa.
O Brasil, figurando como liderança na América Latina, estreitou relações diplomáticas
com a China desde 1974. As relações comerciais entre os dois países, foram, a partir daquele
ano, sendo construída, sempre buscando apoio mútuo em fóruns multilaterais, mas se
concretizaram de fato, a partir da década de 1990, após a abertura comercial brasileira. É fato
que o ingresso da China na OMC e sua agenda de diversificação de parcerias comerciais
contribuíram para o fortalecimento dos laços entre os dois países, levando a China à posição de
principal parceiro comercial do país, em 2010.
Assim como no resto da América Latina, grande parte das exportações brasileiras à
China é composta por produtos de baixo valor agregado, como complexo de soja, minério de
ferro e aço. Em sentido contrário, as exportações da China são compostas por, quase que
totalmente, por bens de capital, de consumo e intermediários. Assim, os primeiros anos do novo
milênio são marcados pela expansão do agronegócio brasileiro e das exportações brasileiras
àquele país, tendo aumentado 351,8%, entre 2000 e 2004, enquanto as importações brasileiras
da China cresceram 106% (BECARD, 2011).
No entanto, embora os números pró economia brasileira sejam animadores, há que se
questionar a diversificação da pauta de exportações brasileira, de modo que contemple produtos
com valor agregado e tecnologia. No curto prazo, ainda que a balança comercial brasileira se
apresente superavitária, aparecem com destaque os produtos manufaturados chineses no
mercado brasileiro, que, com baixos custos podem ser vendidos a preços competitivos, fazendo
42

com que essas relações comerciais na exportação de commodities brasileiras gere desestímulos
para os investimentos na indústria.
Segundo Mortatti et al (2011), quando se trata das exportações chinesas ao Brasil,
verifica-se uma predominância de produtos industrializados, com alto valor agregado, porém,
no perfil de exportação brasileira para a China, constata-se exatamente o contrário,
predominando produtos com baixo valor agregado.
Pode-se destacar como principais resultados do crescimento acelerado da China para o
Brasil a retração da especialização da pauta exportadora brasileira, que, em última instância
gera um déficit comercial brasileiro quando se trata de produtos de valor agregado e alta
tecnologia.
Dessa forma, tanto o Brasil quanto os demais países da América Latina enfrentam
desafios comuns no relacionamento comercial com a China, de forma que os países da região
da América Latina necessitam precisam manter as relações comerciais originadas das demandas
chinesas, ao mesmo tempo em que administram os riscos que a especialização em exportação
de recursos naturais representa para o desenvolvimento industrial.
Mais recentemente, surgiram os riscos de uma desaceleração ainda mais forte nas taxas
chinesas de crescimento, em virtude da guerra comercial em curso entre a China e os Estados
Unidos, que podem impactar negativamente a demanda chinesa por commodities e afetar
diretamente as relações de comércio entre Brasil e China. Vale ressaltar que uma mudança nas
relações internacionais de comércio entre Brasil e China passa por muitas negociações e,
sobretudo, vontade política de ambos os lados.
Este trabalho se preocupou em apresentar e analisar o crescimento econômico chinês
desde 1978, com foco em seus impactos na América Latina e especialmente no Brasil, a partir
de 2001, com o ingresso da China na Organização Mundial do Comércio.
Passando por uma descrição dos aspectos históricos, geográficos, culturais e sociais, o
presente estudo se preocupou em demonstrar como se deu a transformação econômica na China,
buscando apresentar as bases comerciais das relações entre a China e a América Latina e os
impactos deste crescimento econômico chinês para a região, em especial para o Brasil, e,
finalmente, buscou apresentar e analisar os desafios que este crescimento econômico significa.
Por fim, este trabalho tem sua relevância relacionada à importância da pesquisa e da
análise realizada com as relações de comércio entre Brasil e China, que vêm apresentando
crescimento cada vez mais significativo.
Como resultados obtidos tem-se que a China apresenta taxas de crescimento acima da
média mundial, como resultado das mudanças econômicas promovidas naquele país. Ademais,
43

essas mudanças foram responsáveis pelo crescimento das relações comerciais entre China e
países da América Latina, especialmente o Brasil, majoritariamente com importações de
produtos com baixo valor agregado e de importações de produtos industrializados e tecnologia,
instigando os países a se preocuparem com uma diminuição no ritmo de crescimento chinês, o
que impactaria o comércio entre os países. Ademais, o foco dos latino americanos deve ser na
produção de bens de alto valor agregado, mas travas como a baixa especialização da mão de
obra e o próprio mercado consumidor chinês dificultam, considerado que a China, país mais
populoso do mundo seria um mercado inalcançável, em virtude da necessidade de vender seus
próprios produtos industrializados.
Como sugestão para trabalhos futuros, propõe-se a realização de uma análise a partir de
uma base de informações mais atualizadas, considerando que este trabalho analisou somente
até 2018, e, ainda, os efeitos da guerra fiscal que vem se delineando entre a China e os Estados
Unidos.
44

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