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Nº 356 Abril de 2019 Órgão Oficial do Corecon-RJ e Sindecon-RJ

A ascensão da Ásia
Bruno De Conti, Isabela Nogueira,
Elias Jabbour, Alexis Dantas, Carlos Eduardo
Martins e Gilberto Maringoni debatem
a ascensão econômica da Ásia. O eixo principal
do dinamismo econômico mundial transferiu-se
do Ocidente para o Oriente?

Fórum analisa política de segurança do Rio de Janeiro com base nos orçamentos
2 Editorial Sumário

A ascensão da Ásia Ascensão da Ásia .............................................................................. 3


Bruno De Conti
Esta edição propõe a discussão da tese de que o eixo principal do dina- Ásia e o centro de gravidade da economia global
mismo econômico mundial transferiu-se da América do Norte e Europa
Ocidental para a Ásia, onde pontifica a China, ao lado de Japão, Coreia do Ascensão da Ásia .............................................................................. 5
Sul, Cingapura, Taiwan e Hong Kong e emergentes como Vietnã, Malásia,
Isabela Nogueira
Tailândia etc., sem falar na Índia.
Bruno De Conti, da Unicamp, afirma que o Sul/Sudeste da Ásia, de uma O milagre chinês em três atos
região esquecida do mundo, tornou-se uma engrenagem importante da eco-
nomia global, mas os EUA permanecem o “consumidor em última instân- Ascensão da Ásia .............................................................................. 7
cia” do mundo. Ele ressalta as mudanças nas políticas internas da China e a Elias Jabbour e Alexis Dantas
Nova Rota da Seda, maior plano de investimento em infraestrutura da his-
A alternativa/estratégia socializante chinesa
tória da humanidade.
Isabela Nogueira, da UFRJ, aponta que, para além do crescimento do
PIB, a economia chinesa produziu em 40 anos três milagres: mudança es- Ascensão da Ásia .............................................................................. 9
trutural continuada com subida nas cadeias globais de valor, autonomia na Carlos Eduardo Martins
relação com o capital externo e brutal redução da pobreza. Essa trajetória de Estados Unidos e China numa geopolítica
desenvolvimento exitosa deve-se à expansão financeira sem financeirização,
global em transição
participação das empresas estatais e agricultura familiar.
Elias Jabbour e Alexis Dantas, da Uerj, comparam as experiências de ca-
thing up do Japão e Coreia do Sul com o caso da China, que retirou da linha Ascensão da Ásia ............................................................................ 11
de pobreza 840 milhões de pessoas em 40 anos. Eles ressaltam que a alterna- Gilberto Maringoni
tiva chinesa surge sob o estímulo do socialismo de mercado. A Era Bolsonaro – Política externa e mundo do tra-
Carlos Eduardo Martins, da UFRJ, destaca que a China busca a transi-
balho: mudança radical de rumos
ção para uma economia de serviços e indústria de alta tecnologia e prioriza a
energia limpa, a redução das desigualdades, a saúde e o bem-estar e a defesa
militar de sua soberania e de seus interesses globais, no lugar do eixo dinâ- Fórum Popular do Orçamento ........................................................ 13
mico da economia baseado nas exportações para os EUA. Segurança no Rio: inteligência x ostensividade
Gilberto Maringoni, da Universidade Federal do ABC, analisa as rela-
ções internacionais no governo Bolsonaro. O enfraquecimento do Merco-
Agenda de cursos................................................................... 16
sul, a perda de protagonismo junto aos Brics e o papel cada vez mais irrele-
vante na cena mundial formam as linhas mestras da política externa de um Balanço Patrimonial
país em acelerado processo de reprimarização produtiva.
O Fórum analisa a política de segurança do Rio de Janeiro com base nos
orçamentos de 2012 a 2019 e especificamente a subfunção “Inteligência e O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Passa-
rinho, às segundas de 9h às 10h e de terça a sexta de 8h às 10h, na Rádio Bandei-
Informação”. Os dados são comparados com os dos estados de São Paulo e rantes, AM, do Rio, 1360 kHz ou na internet: www.aepet.org.br.
Minas Gerais.

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E SINDECON - RJ çalves Barbosa, Regina Lúcia Gadioli dos Santos - 2º TERÇO: (2018-2020) Antônio dos Santos
Issn 1519-7387 Magalhães, Flávia Vinhaes Santos, Jorge de Oliveira Camargo - 3º TERÇO: (2019-2021) Carlos
Henrique Tibiriçá Miranda, Thiago Leone Mitidieri, José Antônio Lutterbach Soares. Conselheiros
Conselho Editorial: Sidney Pascoutto da Rocha, João Manoel Gonçalves Barbosa, Carlos Henrique Suplentes: 1º TERÇO: (2017-2019) Andréa Bastos da Silva Guimarães, Gisele Mello Senra Rodri-
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Ascensão da Ásia 3

Ásia e o centro de gravidade


da economia global
Bruno De Conti* países centrais sobre quase todo cresceu aceleradamente nas déca-
o globo. Como consequência, as das que se seguiram, tornando-se a

A costumamo-nos a pensar na
Europa e nos Estados Unidos
(EUA) como as regiões mais ricas
tradicionais manufaturas chinesas
e indianas foram totalmente de-
vastadas, ao longo do século XIX,
terceira economia do globo.
De forma análoga, depois de
uma participação ativa na Guerra
do mundo. No entanto, historia- pela invasão de produtos europeus da Coreia, os EUA ofereceram um
dores econômicos (por exemplo, (principalmente britânicos). forte apoio para o desenvolvimen-
Paul Bairoch) indicam que, até o No século XX, EUA e Euro- to econômico da Coreia do Sul,
início do século XVIII, China e pa Ocidental consolidaram-se co- importante para que o país ini-
Índia ocupavam esse posto. Foi mo os grandes centros da econo- ciasse a escalada pela – usualmen-
apenas com a Revolução Indus- mia global, a despeito da – sob a te inacessível – escada que con-
trial que a Inglaterra e, posterior- sua perspectiva – incômoda dispu- duz ao status de país desenvolvido,
mente, outros países da Europa ta com a União Soviética (URSS). em um processo que muitos eco-
continental e os Estados Unidos Na esteira dessas disputas, tornou- nomistas chamam de “desenvolvi-
passaram por um desenvolvimen- -se conveniente, para essas potên- mento a convite”.
to acelerado de suas forças produ- cias ocidentais, que alguns países Igualmente pelo vínculo polí-
tivas, tornando-se os principais vizinhos à URSS desenvolvessem tico-econômico com o Ocidente,
centros econômicos do mundo. uma economia (capitalista, é cla- mas também por se beneficiarem da ASEAN (Filipinas, Indonésia,
Essa nova fase do capitalismo ro) pujante, alinhando-se politi- do dinamismo regional gerado Tailândia e Malásia).
global engendrou uma corrida im- camente ao Ocidente. Assim, os justamente pela economia japone- Em paralelo, a China apre-
perialista entre essas nações indus- EUA, depois de terem jogado sa, outros países asiáticos passaram senta médias de crescimento eco-
trializadas, destinada à busca por bombas atômicas sobre Hiroshi- a crescer com mais vigor a partir nômico elevadas desde a Revolu-
fontes de matérias-primas e, pri- ma e Nagasaki, matando milha- dos anos 1970, com destaque para ção, em 1949. Durante o governo
mordialmente, por acesso a mer- res de civis, decidem prestar “aju- Hong Kong, Cingapura e Taiwan. Mao, o crescimento foi instável,
cados. Com isso, reforçaram-se os da humanitária” ao Japão. A partir Juntos com a Coreia do Sul, es- mas criaram-se bases importantes
laços de dominação colonial (ou desse apoio, mas também de uma ses países configuram o grupo dos para que, a partir das reformas de
semicolonial) de alguns poucos eficiente política industrial, o país chamados Tigres Asiáticos, que re- Deng, em 1978-9, o país apresen-
úne economias que lograram um tasse taxas de expansão econômi-
desenvolvimento econômico asso- ca absolutamente extraordinárias.
ciado a um bem-sucedido proces- Como resultado de todo es-
so de industrialização. se processo, o grupo denominado
Na sequência, o desenvolvi- pelo Fundo Monetário Interna-
mento dos países supramencio- cional (FMI) como emerging and
nados gerou ainda outra onda de developing Asia é aquele que mais
irradiação de dinamismo para a cresce no mundo desde o início do
região, sobretudo em função do século XXI. Como mostra o gráfi-
deslocamento de partes da produ- co abaixo, houve apenas dois anos
ção. Nesse processo, descrito co- nos quais o crescimento dessa re-
mo um Modelo de Gansos Voa- gião foi superado (em 2003-4, por
dores – no qual as aves que vêm Oriente Médio e Norte da África).
à frente beneficiam aquelas que as É claro que esse valor é inflado
seguem –, outros países asiáticos pelas extraordinárias taxas de cres-
passaram a crescer de forma ace- cimento chinesas, mas não só, já
Fonte: FMI
lerada, com destaque para aqueles que há inúmeros outros países da

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4 Ascensão da Ásia

região crescendo aceleradamente. nário de elevadas taxas de inves- aquelas de menor valor agregado gião esquecida do mundo, ela tor-
Conforme dados do FMI, Índia, timento, fundamentais para a e o mercado de trabalho é marca- nou-se, em algumas décadas, uma
Indonésia, Filipinas, Cingapura, manutenção de um crescimen- do por baixos salários, postos de engrenagem importante da eco-
Vietnã, Sri Lanka, Laos, Bangla- to sustentado. Enquanto na Ásia trabalho precários, informalidade, nomia global, seja pelo lado da
desh e Myanmar – além da China emergente a relação entre investi- superexploração e às vezes até tra- oferta, seja pelo lado da deman-
– apresentam, neste século, cresci- mento e PIB é superior a 40%, a balho em condições análogas à es- da. O que não pode, no entanto,
mento médio superior a 5% anu- média mundial é de pouco mais cravidão. levar a uma conclusão precipita-
ais. Se considerarmos uma taxa de de 25%. Ademais, reproduz-se nesses da de que essa região se consti-
crescimento médio superior a 3% Discutidos os motivos princi- últimos países o problema clássi- tui, atualmente, como o motor da
anuais, agregam-se ainda Coreia pais para esse elevado crescimen- co da periferia capitalista, qual se- economia global, já que os EUA
do Sul, Hong Kong, Malásia, Pa- to, a outra pergunta importante ja, a especialização em determi- continuam sendo o “consumidor
quistão, Nepal e Tailândia. Extra- é: esse alto dinamismo significa o nado produto (ou, em tempos em última instância” da economia
polando a análise para outras re- bem-estar da população local? E a atuais, em determinadas etapas do mundial.
giões da Ásia, que não apenas o triste resposta é que não necessa- processo produtivo), mas com ne- De toda maneira, é muito cla-
sul e o sudeste do continente, se- ro o intuito do governo chinês
ria necessário incluir ainda mui- de mudar essa realidade, seja por
tos dos países centro-asiáticos que meio de suas políticas internas,
pertenciam à URSS (e.g. Caza- seja daquelas externas. A iniciati-
quistão), além de alguns países do va chinesa da “Nova Rota da Se-
Oriente Médio. da” tem objetivos variados, mas
A pergunta óbvia, sobretudo não há dúvidas de que o maior de-
em um contexto em que o resto do les é trazer o centro de gravidade
mundo apresenta baixo dinamismo, da economia global de volta para
é: de onde vem esse elevado cresci- a Eurásia. Tido por alguns analis-
mento do sudeste e sul asiático? tas como o maior plano de investi-
Em primeiro lugar, do pró- mento em infraestrutura da histó-
prio crescimento chinês. Ao con- ria da humanidade, ele passa pela
trário do Brasil, que tem superá- construção de ferrovias, rodovias,
vits comerciais com seus vizinhos oleodutos e portos que conectem
sul-americanos, a China habi- Ásia, África e Europa, já envolven-
tualmente apresenta déficits co- do mais de 70 países e com gastos
merciais com os países do sudes- estimados em US$ 1 trilhão.
te asiático, o que significa que seu Isso nos leva à pergunta final do
crescimento alavanca o crescimen- artigo, ainda impossível de se res-
to regional. ponder: passados alguns séculos, o
Em segundo lugar, de uma re- riamente. Nos países que primeiro cessidade extrema de importações, eixo econômico do globo voltará à
configuração da indústria global surfaram nessa onda industriali- sobretudo de bens com maior Eurásia? O dinamismo asiático é
nas Cadeias Globais de Valor. Co- zante – Japão e os Tigres Asiáti- conteúdo tecnológico – e, portan- evidente. As ambições chinesas são
mo aventado acima, houve nas úl- cos – as condições materiais de vi- to, maior valor agregado. Não por claras. Mas as reações dos EUA de
timas décadas um processo intenso da são hoje boas para a maioria acaso, o maior dinamismo econô- Trump, da Alemanha e de outros
de deslocamento de determinadas da população. Na China, notam- mico faz que essa região seja tam- países centrais são igualmente evi-
etapas da produção manufatureira -se elevações dos salários médios bém aquela com as maiores taxas dentes. As tensões aumentam. Não
para países nos quais os custos pro- e alguns avanços sociais conju- de crescimento das importações – só econômica, mas também geopo-
dutivos são mais baixos. Assim, os gados com todas as – inúmeras e sobretudo nos últimos anos. liticamente, os tempos duros estão
produtos que hoje inundam o co- profundas – contradições criadas Ou seja, o crescimento eco- só começando.
mércio global não são mais exclu- pelo avanço de uma economia de nômico desses países e sua estru-
* É professor do Instituto de Economia da
sivamente “Made in China”, mas mercado. Nos demais países aqui tura produtiva integrada a outras
Unicamp e pesquisador do Centro de Es-
também “Made in Vietnan”, “Ban- discutidos, o quadro é bem me- economias faz que essa região ge- tudos de Conjuntura e Política Econômi-
gladesh” ou “Sri Lanka”. nos animador, já que as etapas re importante demanda para o ca (Cecon) e do Centro de Estudos Brasil-
Em terceiro lugar, por um ce- produtivas a eles direcionadas são restante do mundo. De uma re- -China (CEBC) da mesma universidade.

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Ascensão da Ásia 5

O milagre chinês em três atos


Isabela Nogueira* litário do que os Estados Unidos chinesa não veio para compen-
e abissalmente distante dos níveis sar a queda dos salários na ren-

N o final do ano passado, a


China completou 40 anos
das reformas que inauguraram o
alarmantes dos demais BRICS
(gráfico 1).
Para muito além das taxas de
da nacional através do endivida-
mento das famílias – e, portanto,
para garantir o consumo mesmo
que suas lideranças chamam de crescimento do PIB, esses são os sem folha de pagamento, como
socialismo de mercado com ca- três milagres da economia chine- nos Estados Unidos e na perife-
racterísticas chinesas. Foi um tra- sa dos últimos 40 anos: mudança ria da Europa. Finalmente, a ex-
jeto extraordinariamente rápido estrutural continuada com subida pansão financeira na China não
“de volta ao centro” e que levou o nas cadeias globais de valor, auto- afetou a autonomia das políticas
país a se tornar a segunda maior nomia na relação com o capital ex- macroeconômicas, como no caso
economia do mundo, disputando terno, e brutal redução da pobre- do Brasil, onde o crescente poder
a liderança tecnológica em diver- za, com desigualdade moderada político dos mercados financei-
sos segmentos e retirando mais de em comparações internacionais. ros e elites relacionadas lhes deu
800 milhões de pessoas de baixo Que políticas permitiram à China o controle sobre o aparato estatal.
da linha da pobreza. As mudanças se distanciar da trajetória dos de- O massivo e estrito controle
na dinâmica de acumulação de ca- mais países periféricos? Ou quais de capitais e a predominância dos
pital em escala global, com o es- características do regime de acu- Ocidente, a expansão financeira bancos estatais são características
tabelecimento das cadeias globais mulação levaram a tal trajetória de chinesa não deslocou as empre- do sistema financeiro chinês que
de valor e a liberalização finan- desenvolvimento até aqui exitosa? sas produtivas de suas atividades garantiram sua expansão sem a fi-
ceira no Ocidente, tiveram papel originais, e a influência financeira nanceirização da acumulação que
crucial no rápido ganho de poder Expansão financeira (inclusive externa) não tem sido acabamos de esboçar. Devido às
econômico e político da China. sem financeirização determinante para a condução da rigorosas regulamentações sobre
Mas elas não explicam tudo. política econômica nacional chi- fluxos de capital transfronteiriços
Afinal, a China não se tornou O primeiro pilar do regime nesa. O peso dos ganhos não-ope- mantidas pelo Estado, a especu-
uma mera maquiladora mexicana, de acumulação essencial para esse racionais não é grande a ponto de lação de curto prazo é fortemen-
e conseguiu evitar ficar presa às êxito foi o processo de expansão determinar decisões de investi- te restrita. Tal sistema extensivo de
etapas de baixo valor agregado na financeira sem financeirização. mento e consumo e, portanto, o controles de capitais e taxas de ju-
produção de manufaturas baratas Ao contrário da financeirização crescimento econômico. Da mes- ros administradas e baixas facili-
consumidas mundo afora, como que se tornou determinante no ma forma, a expansão financeira tou os empréstimos e evitou pres-
é a regra para a maioria dos paí- sões ascendentes sobre a taxa de
ses que se inserem nas cadeias na Gráfico 1 – Fatia do topo 1% na renda câmbio. Ele vem acompanhado de
condição periférica. A China tam- nacional (1978-2015) um enorme aparato de bancos co-
bém nunca se pareceu com uma merciais estatais (responsáveis por
refém das multinacionais estadu- 80% do crédito nacional) e de três
nidenses, europeias ou japonesas, bancos de desenvolvimento que
e rompeu completamente com as atendem às necessidades de finan-
formas atuais de porosidade eco- ciamento de longo prazo.
nômica e dependência. E, por fim, Isso não quer dizer que a eco-
o país cresceu muito, e muito rá- nomia chinesa não tenha passado
pido, com níveis de desigualdade por uma rápida expansão da ati-
bem moderados para os padrões vidade financeira nas últimas dé-
da acumulação capitalista. O per- cadas. A expansão financeira com
fil da distribuição da China é hoje características chinesas mobilizou e
comparável aos países desenvolvi- canalizou recursos domésticos atra-
dos: pior do que a Europa Oci- vés do sistema financeiro para gi-
dental e o Japão, mas mais igua- Fonte: World Wealth & Income Database (WID.world). gantescas iniciativas de infraestru-

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6 Ascensão da Ásia

tura e urbanização. E, ao mesmo Grande fatia oleodutos, linhas de telecomunica- A questão agrária
tempo, abriu canais para a penetra- da propriedade estatal ções, geração e transmissão de ener-
ção do capital privado doméstico na acumulação gia, mas também no desenvolvi- As enormes transformações
nos circuitos financeiros e especu- mento de tecnologias de fronteira nos últimos 40 anos não se restrin-
lativos, o que está na causa da atu- Tal dinâmica só é possível em em termos globais. O papel da pro- gem às zonas urbanas. A economia
al bolha imobiliária. No entanto, a função do segundo pilar do regi- priedade estatal para um sistema na- política agrária da China – abran-
expansão chinesa ocorreu com uma me de acumulação chinês: a gran- cional de inovação bem-sucedido gendo a estrutura de propriedade
limitação intensa nas conexões do de participação das empresas esta- ficou bem claro no caso da tecno- da terra, formação de classes, in-
sistema financeiro doméstico com tais na economia, o que garante a logia ferroviária de alta velocidade. tervenções estatais e a dinâmica
os atores internacionais. capacidade do Estado de conduzir A China deixou de ser um país im- atual de crescente capitalização da
No sistema financeiro chinês, políticas de desenvolvimento in- portador de tecnologia em trens de agricultura – assumiu formas mui-
temos uma mistura de Schumpe- dustrial, tecnológico e regional. A alta velocidade até 2004 para se tor- to diferentes de outros países peri-
ter com Minsky na forma de um participação da propriedade públi- nar líder no mercado mundial a par- féricos desde que as reformas co-
Estado empresarial robusto. É um ca na China, em 2015, seguia em tir de 2011. Isso foi possível devido: meçaram. O sucesso da China em
Estado que combina duas funções: torno de 30%, um nível que pare- i. a uma política industrial baseada comparação com Índia ou Amé-
a de emprestador de última instân- ce ter se estabilizado desde meados na antecipação da enorme deman- rica Latina em termos da questão
cia e de investidor de ponta. Tendo de 2000. Nos Estados Unidos, Ja- da doméstica; ii. ao amplo financia- agrária esteve em evitar a formação
os bancos sob seu controle, o Es- pão, França, Alemanha e Grã-Bre- mento controlado pelos agentes fi- de uma massa de população rural
tado chinês pôde elaborar e finan- tanha, o Estado possuía entre 15% nanceiros estatais; iii. à influência de sem-terra ou miserável no campo.
ciar políticas industriais, inova- e 25% da riqueza nacional em me- empresas estatais e oligopolistas de Em vez disso, a agricultura chine-
ções tecnológicas e infraestrutura. ados da década de 1970, ao final grande escala como transportadoras sa foi estabelecida em torno da pe-
É um sistema revigorado de inter- da era de ouro do capitalismo. imediatas; e iv. aos acordos de trans- quena escala e da agricultura fami-
mediação financeira: formado por As empresas estatais têm sido ferência de tecnologia garantidos liar, com compras públicas para
grandes bancos controlados pelo fundamentais não apenas na de- pelo governo nacional ao negociar assegurar demanda e controle per-
Estado, intimamente ligados à in- finição do ritmo e direção da acu- com empresas transnacionais. manente de preços.
dústria, e orientados para financiar mulação de capital como grandes O sucesso é inconteste, e a
o processo de desenvolvimento. investidores em ferrovias, portos, China, mesmo com uma das me-
nores áreas agricultáveis per capi-
ta do mundo, alcançou autossufi-
ciência em arroz, trigo e milho. O
caso chinês desafia o discurso de
modernização agrária de que so-
mente a agricultura em larga esca-
la é eficiente. A produtividade to-
tal dos fatores agrícolas cresceu a
uma média de 2,86% ao ano, en-
tre 1978 e 2013, o que representa
mais de três vezes a média global
de 0,95%.
Em resumo: pegue o exemplo
da China, vire do avesso, e você
chegará a muitas das políticas que
orientam o Brasil de hoje.

* É professora do Instituto de Economia e


do Programa de Pós-Graduação em Eco-
nomia Política Internacional (Pepi) da
UFRJ. Coordenadora do LabChina (La-
boratório de Pesquisas em Economia Po-
lítica da China).

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Ascensão da Ásia 7

A alternativa/estratégia socializante chinesa


Elias Jabbour*
Alexis Dantas**

O fenômeno do surgimen-
to dos chamados latecomers,
notadamente, as experiências de
catching up no Leste Asiático do
pós-Segunda Guerra Mundial, co-
locou em evidência noções/catego-
rias como desenvolvimentismo e
Estado Desenvolvimentista, sendo
o último elaborado por Chalmers
Johnson em seu estudo clássico so-
bre o Japão lançado em 19821. Ali-
ce Amsden2 aponta na direção da
experiência coreana, encetando tal
como o “próximo gigante”. Ou-
tros autores, fora e dentro do Bra-
sil, produziram ótimos estudos so-
bre o tema.
Apesar do frenesi pelo “mode-
lo” japonês e de seus congêneres do
Leste Asiático, poucas considera-
ções foram levadas em conta acer-
ca dos limites destas dinâmicas de
desenvolvimento, a começar pelo
limite político e geopolítico, no-
tadamente o fato de tais processos
terem ocorrido, em grande medi-
da, sob o patrocínio norte-ameri-
cano e em países ocupados mili-
tarmente. A Endaka japonesa de
1985 e o reenquadramento corea-
no no final da década de 1990 fize-
ram dissipar determinadas ilusões. ção tanto da longevidade quanto me volume de comércio externo
O que não significa que em tais no seu alcance interno e externo: o (35,9% do PIB).
países instituições de tipo desen- crescimento médio do PIB nos úl- É na história por detrás des-
volvimentista deixaram de existir. timos 40 anos foi de 9,5% a.a., ao tes dados que reside tanto a for-
Ao contrário, continuam sendo ca- mesmo tempo em que a renda per mação, na China, de uma “tripla
sos (os únicos) bem-sucedidos de capita no período passou de US$ condição” de potência comercial,
catching up do século XX. 250 em 1980 para US$ 8.800 em industrial e financeira, quanto a
Atenção semelhante tem sido 2018. Por detrás deste processo, há privilegiada posição política e ge-
reservada ao caso chinês. Não à de se destacar a alta relação inves- opolítica de maior credora líquida
toa. O processo de desenvolvimen- timento/PIB (acima dos 40% des- do mundo e comandante em che-
to econômico chinês é um dos fe- de a década de 2000), suas imen- fe do maior projeto de integração
nômenos mais impressionantes do sas reservas cambiais (US$ 3,08 física da história da humanida-
mundo em que vivemos, em fun- trilhões em janeiro último) e enor- de. Lançada em 2013, a Iniciativa

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8 Ascensão da Ásia

“Um Cinturão, Uma Rota”, atual- Internamente, programas in- lações de produção tem passado planificado e de Estado.
mente sintetiza o alcance e a capa- ternos de conexão econômica es- pela elevação do grau de policia- Ao lado do crescente aumen-
cidade chinesa de se fazer presen- tão se ampliando, com dois fe- mento da sociedade e da dispen- to qualitativo do poder do Estado
te nos quatro cantos do planeta via nômenos já tratados por nós em sa via encarceramento dos cha- sobre a economia, percebe-se que
investimentos de trilhões de dóla- oportunidades anteriores sendo mados “indesejáveis”. Por outro a estrutura de propriedade chinesa
res em infraestruturas que já en- provados: a relação entre o surgi- lado, o socialismo também gesta ainda é muito diferente de outras
volvia, no final de 2017, mais de mento de novas e superiores for- não somente sua reinvenção, mas partes do mundo. Esse processo
70 países, 65% da população do mas de planificação econômica uma real alternativa. reflete-se diretamente em um au-
mundo e 40% do PIB mundial. com avanço na especialização e Esta alternativa em construção mento contínuo, desde a segun-
Não obstante, apesar da reação a elevação do grau de divisão so- e desenvolvimento não abre mão da metade da década de 1990,
norte-americana a esta iniciativa – cial do trabalho. Por exemplo, em de um sistema político próprio e do controle governamental sobre
muito clara em tentativas de de- 2018 um Programa de Desen- peculiar nascido nos marcos da os fluxos da renda nacional: de
sestabilização de países envolvidos volvimento do Cinturão do Rio Revolução Nacional e Popular de 13,5% do PIB em 1996 a 37,3%
no projeto, além da própria Chi- Yang-Tsé foi lançado, com investi- 1949. Desde 1978, partindo das em 20153. A construção dessa al-
na – ao que tudo indica o país está mentos da ordem de US$ 500 bi- bases lançadas pela industrializa- ternativa não prescinde da neces-
disposto, sob o acicate deste pro- lhões em dez anos pelo China De- ção pesada, investimentos maciços sidade de superação de profundas
jeto, a lançar as vigas mestras da velopment Bank. em saúde e educação – e a sobera- contradições surgidas ao longo do
proposta chinesa de construir “um A “guerra comercial” declara- nia política e militar que faltou às processo e que podem colocar em
mundo de desenvolvimento com- da por Trump é, em essência, vol- experiências japonesa e coreana – questão a própria experiência. Re-
partilhado”. Algo em clara oposi- tada contra a possibilidade real o mundo se estatela diante de uma ferimo-nos a questões relaciona-
ção a noções reacionárias de “des- de a China alcançar não somente dinâmica de crescimento e desen- das à concentração de renda, ele-
tino manifesto” e as famigeradas autonomia tecnológica completa, volvimento baseado na fusão en- vado papel do investimento em
“guerras humanitárias” patrocina- mas também o “estado da arte” tre mais de uma centena de con- detrimento do consumo e da ex-
das por Washington. em matéria de sofisticação tecno- glomerados empresariais e estatais plosiva questão ambiental.
Voltando à China, dados lógica (com a famosa plataforma com toda uma complexa e sofis- Do dito, ainda insistimos em
apontam que, entre 1978 e 2018, 5G, domínio amplo do Big Da- ticada rede de financiamento de afirmar que essa alternativa sur-
os chineses foram responsáveis ta). Trata-se de investimentos de longo prazo e em todos os níveis, ge sob o acicate do socialismo de
pela retirada da linha da pobre- bilhões de dólares no desenvolvi- do nacional ao subnacional (pro- mercado. Não mais como uma
za de 840 milhões de pessoas. Pa- mento de mecanismos de inteli- víncias e capitais de províncias). mera abstração. E sim, já como
ra o centenário de fundação do gência artificial capazes de abrir Desde as reformas econômi- uma nova e distinta formação eco-
Partido Comunista da China, em mais relevo e possibilidades de cas forma cíclica o papel do Esta- nômico-social.
2021, o plano é zerar a extrema planificação econômica e social do vem ganhando papel qualitati-
pobreza no país. Um feito que jamais sonhadas pela primeira le- vo. Desde investidor (via sistema * É professor do Programa de Pós-Gra-
deveria ser visto de forma estra- va de cientistas da Gosplan sovié- financeiro estatal) e executor (via duação em Ciências Econômicas da Uerj
tégica, dada a tendência de o ca- tica ou do MITI japonês. conglomerados estatais) em pri- (PPGCE-FCE-Uerj).
pitalismo, via substituição do tra- Qual a alternativa? De onde meira instância, passando pela for-
balho vivo por trabalho morto ao ela vem? Qual seu modus operan- mação de instituições que trans- ** É professor do Programa de Pós-Gra-
duação em Ciências Econômicas da Uerj
mesmo tempo em que cria uma di? O exposto até aqui sugere que formam o Estado também em um (PPGCE-FCE-UERJ), coordenador do
camada de centenas de milhões a busca do capitalismo por alter- gerenciador tanto de grandes po- Núcleo de Estudo das Américas e dire-
de “indesejáveis,” alimentar alter- nativas à já insolúvel (nos novos líticas fiscais como de políticas de tor em exercício da Faculdade de Ciências
nativas autoritárias e fascistizan- marcos tecnológicos) contradi- socialização do investimento. A Econômicas da Uerj.
tes à sua própria decadência. ção entre forças produtivas e re- fetiche da lei das vantagens com-
1 JOHNSON, C. Miti and the Japanese
parativas não somente foi suplan- Miracle: The Growth of Industrial Policy:
tada pelo meio de uma revolução 1925-1975. Stanford: Stanford Universi-
(1949). A formação de um policy ty Press, 1982.
space capaz de proteger a política 2 AMSDEN, A. Asia’s next giant: Sou-
monetária das frequentes crises fi- th Korea and late industrialization. New
York: Oxford University Press, 1989.
nanceiras que acometem o mundo 3 NAUGHTON, B. Is China Socialist?
passou pela transformação do co- Journal of Economic Perspectives, (31) 1,
mércio exterior em bem público, pp. 3-24, 2017.

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Ascensão da Ásia 9

Estados Unidos e China numa


geopolítica global em transição
Carlos Eduardo Martins* Nesse contexto, inicia-se um pro- zação da classe trabalhadora, im-
cesso histórico de longa duração, pulsionada pelas novas forças

D esde os anos 1970 se iniciou


uma longa trajetória de deca-
dência dos Estados Unidos na eco-
colocando em crise a mais-valia
relativa que associa a produtivi-
dade à desvalorização da força de
produtivas. Não havia nenhu-
ma ameaça à hegemonia destes
centros no plano interestatal nos
nomia mundial, que Giovanni Ar- trabalho. Os movimentos de pro- anos 1970. O neoliberalismo des-
righi teorizou como a fase B dos testo de 1968 foram a expressão locou parcialmente o circuito do
ciclos sistêmicos, quando analisou do esgotamento do fordismo e da capital, do produtivo para o fi-
a formação e as estruturas do ca- eclosão das pressões sociais para a nanceiro, mediante o estabeleci-
pitalismo histórico e vislumbrou a quebrar a divisão do trabalho que mento de uma dívida pública que
ascensão e queda das hegemonias separa o trabalho manual do inte- funcionou para gerar capital fictí-
ibérico-genovesa, holandesa e bri- lectual e o submete a uma hierar- cio, e por meio da deslocalização
tânica e estadunidense. As hege- quia autocrática e despótica. Dé- da produção, por onde se buscou
monias sobre a economia mundial cadas de pleno emprego levaram explorar uma força de trabalho
e os Estados estão na base dos pro- a uma forte organização sindical mais barata que produzisse pa-
cessos de organização e crise des- e dos movimentos sociais e a de- ra os mercados mundiais através
se sistema. mandas para redistribuição do ex- das novas tecnologias. O resulta-
Em nosso livro Globalização, cedente, que pressionaram ne- do foi a elevação do desemprego te europeu. Entretanto, suas bases
dependência e neoliberalismo na gativamente a taxa de lucro. Os nos países centrais, em particu- eram frágeis, e se corroíam rapida-
América Latina, integramos o es- estudantes reivindicaram uma lar na União Europeia, e o nivela- mente no mesmo momento em
quema analítico de Arrighi numa universidade de massa voltada pa- mento para baixo dos salários, so- que se as proclamava. De 1979-
articulação complexa, que apro- ra a socialização do conhecimento bretudo nos Estados Unidos, que 1994, a sobrevalorização do dó-
xima Marx de Braudel para pro- e não para reproduzir uma aristo- usaram a Costa Leste da China e lar impulsionou a elevação da ren-
por três temporalidades de lon- cracia a serviço do capital. Diante o México como plataformas de da per capita dos Estados Unidos
ga duração, que impulsionam a desse impasse histórico, o capita- exportação. Ambos os processos de 417% para 458% da média da
conjuntura contemporânea e su- lismo keynesiano associado ao ple- implicam na superexploração da economia mundial e a das moedas
as contradições: a revolução cien- no emprego entrou em crise nos força de trabalho, paga por baixo do noroeste da Europa e da Itália
tífico-técnica, os ciclos sistêmicos países centrais. O FED adotou a de seu valor, como teorizou Ruy de 306% para 329%. Entretan-
e os ciclos de Kondratiev. A revo- taxa de inflação como objetivo ao Mauro Marini, elevam a taxa de to, a entrada da economia mun-
lução científico-técnica se mun- lado do emprego e criou o concei- mais-valia e a taxa de lucro, mas dial na fase expansiva de um no-
dializou desde os anos 1970, a to de taxa de desemprego não ace- diminuem a taxa de investimen- vo ciclo de Kondratiev limitou o
partir dos países centrais, em par- leradora da inflação, que passou a to, o crescimento econômico, a alcance das estratégias e políticas
ticular os Estados Unidos, e subs- ser a sua meta. Buscou-se no ne- dinâmica do progresso técnico e de financeirização, que foram de-
titui progressivamente o trabalho oliberalismo outro arranjo organi- conduzem ao parasitismo. safiadas pela elevação dos níveis de
manual pelo intelectual, transfor- zacional para recuperar a taxa de Até 1994 este processo foi competitividade do mundo mate-
mando a ciência e o conhecimen- lucro e relançar o vigor da acumu- bem-sucedido, conduzindo a um rial, uma vez que a produção ge-
to na principal força produtiva. lação capitalista. Entretanto, as ta- ciclo de financeirização, gerador neralizada de mercadorias que ca-
Ao converter-se na principal for- xas de lucro e a rentabilidade fo- de uma nova belle époque que se racteriza o capitalismo se constitui
ça produtiva, a ciência transfor- ram elevadas e o neoliberalismo expressou na percepção de que a pela unidade contraditória de va-
ma o aumento do valor da força impulsionou o declínio do capita- riqueza fictícia poderia se autono- lor de uso e valor de troca.
de trabalho no principal funda- lismo anglo-saxão e europeu. mizar definitivamente do mundo A onda de inovações tecno-
mento da produtividade e o pro- Na origem do declínio dos real. Não faltaram teses sobre a era lógicas gerada a partir dos anos
cesso de educação e de aprendiza- Estados Unidos e do noroeste eu- do império unipolar que se segui- 1970 (e aprofundada nos anos
gem em potencialmente infinitos. ropeu está a luta contra organi- ria à derrocada da URSS e do Les- 1980) combinou-se com altera-

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10 Ascensão da Ásia

ções geopolíticas nas relações en- controlada pelo Estado em seto- dutos de alta tecnologia, sendo a ceiras e diplomáticas com os países
tre capital e trabalho e impulsio- res como telecomunicações, cons- China o principal país superavitá- latino-americanos, em particular
nou a elevação das taxas de lucro, trução civil, petróleo e gás, avia- rio. A renda per capita dos Estados com aqueles considerados “mal-
o que permitiu estabelecer a nova ção civil, geração e distribuição de Unidos caiu de 458% para 390% ditos” pelos Estados Unidos, co-
fase do ciclo expansivo. Se entre energia; e de uma política de joint- da média da economia mundial e mo Venezuela e Cuba. O 13º pla-
1974-93, o PIB per capita cresceu -ventures que impôs transferência a do noroeste da Europa e a Itália no quinquenal e o Made in China
1,2% a.a, entre 1994-2010 se ex- de tecnologia a partir da forte pre- de 329% para 278%, ambas en- buscam a transição para uma eco-
pandiu em 2,4% a.a, aproximan- sença estatal nos conselhos decisó- tre 1994-2010. A desigualdade se nomia de serviços e uma indús-
do-se da era de ouro do capita- rios, na participação acionária, no acelerou enormemente e a partici- tria de alta tecnologia, priorizam
lismo, quando se expandiu 2,9% controle do crédito e nos encade- pação dos 10% mais ricos saltou a energia limpa, a redução das de-
a.a, entre 1950-73. A taxa de lu- amentos tecnológicos em setores nos Estados Unidos de 33,4% em sigualdades, a saúde e o bem-estar,
cro nos Estados Unidos saltou de como P&D, tecnologias da infor- 1970 para 47,9% em 2010 e na a defesa militar de sua soberania e
1991-94, mas para esse processo mação, automóveis, maquinarias, Europa de 27,6% a 37,4% entre de seus interesses globais, que se
se mundializar foi necessária a en- química e exploração geológica. O 1979-2010. Com o desmonte do vinculam ao princípio da autode-
trada em cena de um país socia- êxito deste processo atraiu o capi- crescimento econômico, as políti- terminação dos povos.
lista como forte ator global. Se a tal da diáspora chinesa em Taiwan cas de contenção da pobreza de- Acuados por esta expansão ge-
URSS foi fundamental para viabi- e posteriormente o capital estadu- monstraram sua ineficiência e en- opolítica que se materializou no
lizar a saída do caos sistêmico dos nidense e europeu. No processo trou em crise o centrismo liberal, BRICS e penetrou na América
anos 1940 para a hegemonia dos de expansão da China, as relações atingindo os partidos de centro- Latina, formando laços de coope-
Estados Unidos, a China foi cru- entre Oriente e Ocidente se inver- -esquerda e centro-direita, posi- ração internacionais, os Estados
cial para generalizar o novo Kon- teram e é ela quem vem fazendo o cionando competitivamente o po- Unidos articularam-se com as oli-
dratiev expansivo, impulsionando convite ao desenvolvimento. pulismo de direita neofascista nas garquias dependentes para impul-
o crescimento na América Latina De 1978-1986, o PIB chinês velhas potências imperialistas e su- sionar guerras híbridas que provo-
e na África. saltou de 5,1% a 7,2%% do PIB as periferias dependentes. caram golpes de Estado, como os
A escala e o alcance de atuação mundial, iniciando a reversão da Diante desse cenário, a Chi- do Paraguai e Brasil, e uma onda
da China são mais vastos e poten- longa queda de 1830-1950, alcan- na vem mudando a sua estratégia neoconservadora como a que es-
tes. Aproveitando-se da exigência çando, em 2008, 17,5%, e conti- de inserção internacional. Preocu- tá vigorando na Argentina, Equa-
dos Estados Unidos de valorizar nuando a crescer. O impacto desse pada com a desigualdade acumu- dor, Chile, Peru e Colômbia.
o iene e o marco para diminuir processo sobre os Estados Unidos lada durante o período em que as Abandonaram a elegância da po-
o seu déficit comercial, a Chi- e as potências europeias tem sido exportações para o mercado esta- lítica de boa vizinhança e buscam
na desvalorizou sua moeda a par- impressionante. O déficit comer- dunidense foram o eixo dinâmico retomar a teoria do Destino Ma-
tir de 1994, estabeleceu paridade cial e a dívida pública estaduni- de sua economia e com a diminui- nifesto através do America First,
fixa com o dólar e ocupou gran- dense cresceram aceleradamente. ção das suas taxas de crescimen- pelo qual pretendem se apropriar
de parte do mercado interno esta- O primeiro saltou de 0,6% em to, que pode revelá-la como uma do que consideram ser o seu espa-
dunidense. Para isso, tirou partido 1991 a 5,6% em 2006, e a segun- questão explosiva capaz de mobi- ço vital, onde estão as maiores re-
da revolução industriosa socialista, da de 33%, em 1979, para 62%, lizar uma gigantesca classe traba- servas de petróleo do planeta e as
que criou um padrão de acumula- em 2006, ultrapassando os 100% lhadora de um país com tradições principais fontes de biodiversida-
ção intensivo em força de trabalho após a crise de 2008. O dólar se revolucionárias, o governo chinês de, para se relançarem na econo-
com baixa despossessão, muito desvalorizou e os Estados Unidos deixou de expandir seu estoque de mia mundial. Todavia há impor-
mais adequado à revolução cien- e os países europeus tiveram que títulos da dívida pública dos Esta- tantes obstáculos: Rússia e China
tífico-técnica; da descentralização arrefecer as suas políticas de mo- dos Unidos. Reorientou-se para o já não são apenas potências regio-
administrativa estabelecida na era eda forte. Embora tenha se redu- mercado interno e para o Sul Glo- nais, possuem somadas quase a
Deng Xiaoping, que forjou as cha- zido após a crise, sobretudo pela bal, impulsionando os gastos so- metade do orçamento militar dos
madas towership and village enter- transformação dos Estados Uni- ciais, a Iniciativa Cinturão, o pro- Estados Unidos, e os povos lati-
prises como resposta às pressões da dos em grande produtor de petró- jeto da Rota da Seda e o BRICS, no-americanos nada têm a ganhar
revolução cultural, impulsionan- leo e derivados, o déficit comer- aproximando-se da Rússia para com a imposição do imperialismo
do a industrialização rural atra- cial voltou a crescer e atingiu o seu garantir suprimentos de petróleo unilateral de Trump.
vés de pequenas e médias empre- recorde em valores absolutos em fora do campo de ação da mari-
sas com enorme eficiência; de uma 2018, apesar do protecionismo de nha estadunidense, estabelecendo * É professor-associado do Irid/UFRJ e do
política de industrialização pesada Trump, concentrando-se em pro- fortes relações comerciais, finan- Pepi/UFRJ

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Ascensão da Ásia 11

A Era Bolsonaro – Política externa e mundo


do trabalho: mudança radical de rumos
Gilberto Maringoni* nacionalmente do ponto de vista Acabar com direitos
da produção.

É muito importante exami-


nar as diretrizes do governo
Jair Bolsonaro sob o ponto de vis-
Bolsonaro define uma políti-
ca externa sem paralelos em nos-
sa História. Ela é muito mais
Não é outro o sentido da re-
forma trabalhista – que implode a
Consolidação das Leis do Trabalho
ta das relações internacionais. Isso subordinada às diretrizes do de- (CLT), retira fontes de financia-
nos dá uma dimensão panorâmi- partamento de Estado dos Esta- mentos de sindicatos e aumenta a
ca de como o governo da coalizão dos Unidos do que jamais foram vulnerabilidade dos trabalhadores.
Exército-milícias-financismo-fun- as diretrizes de Eurico Gaspar Du- No mesmo caminho vão a preten-
damentalismo se conecta com os tra (1946-50), Castello Branco dida reforma da Previdência, a re-
centros do poder mundial. (1964-67) ou Fernando Henrique forma do ensino médio e a Emen-
Após quase três anos de golpe Cardoso (1995-2002). da Constitucional 95, que congela
e cinco da Operação Lava Jato, fo- Para além do fraseado vazio do o orçamento federal por 20 anos.
ram destruídos ou estão em pro- combate ao “marxismo cultural” e Os serviços públicos representam
cesso de desnacionalização os seto- a defesa do “Ocidente”, externa- custos indiretos do trabalho. Con-
res de construção civil, estaleiros, dos pelo bizarro chanceler Ernesto substancia-se o maior ataque feito
carne e derivados, energia elétri- Araujo, há dois objetivos em tela. à Constituição de 1988, e pratica-
ca, petróleo e indústria de aviação. O primeiro é se colocar como mente inviabilizam-se investimen-
A isso se soma à virtual implosão aliado incondicional de Washing- tos em educação, saúde, segurança,
do Mercosul e da Unasul, a redu- ton em qualquer disputa interna- infraestrutura e demais áreas sociais.
ção do papel do Brasil nos BRICS, cional. É o caso da mudança da Essa modalidade agressiva de
uma hostilidade crescente em rela- embaixada brasileira de Tel-Aviv dumping social não é exclusivi-
ção à Venezuela e a recusa a uma para Jerusalém, na crescente ani- dade brasileira. Os pesquisado-
integração regional pautada pe- mosidade com a Venezuela e dos res Dragos Adascalieti e Clemente
lo desenvolvimento. O propósito atritos com a China. Pignatti Morano relatam que, en-
último é redefinir o lugar do Bra- O segundo se dá na esfera econô- tre 2008 e 2014, foram realizadas
sil no mundo e devolvê-lo a um mica. Trata-se de baixar exponencial- reformas trabalhistas em 110 paí-
papel que se pensava superado há mente o preço da força de trabalho. ses. O objetivo comum a todas é
mais de um século. Esse é o centro da política interna – repetindo – reduzir o custo do
e externa desde o golpe de 2016. A trabalho. A argumentação está no
Motivos por meta é tornar o Brasil atraente e ba- artigo Drivers and effects of labour
trás dos atos rato para todo tipo de investimen- market reforms: Evidence from a
to, incluindo-se aí a privatização e a novel policy compendium2.
O que é exatamente o lugar de alienação de patrimônio público e de Como tal modelo não é acei-
um país no mundo? Significa o ti- bens e recursos naturais. to sem reação a partir de baixo, in-
po de inserção perseguida na divi- A redução do custo do traba- tensifica-se a repressão aos setores
são internacional do trabalho, que lho é vital para se aumentar a com- populares. A intervenção federal
ordem de produtos exporta e im- petitividade dos produtos exportá- do Exército no Rio de Janeiro é a
porta, como atua no comércio in- veis num mundo de concorrências face visível dessa política de exce-
ternacional, que investimento faz predatórias e acirradas. A atração ção que pode se transformar em
e quais busca atrair no exterior, de investimentos produtivos se dá norma da vida institucional.
quem são seus aliados etc. Ou se- pela “vantagem comparativa” de se A coalizão bolsonarista busca
ja, qual seu projeto de desenvolvi- oferecerem salários mais baixos do inserir o Brasil numa nova divisão
mento e como se relaciona inter- que em outros países1. internacional do trabalho: arro-

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12 Ascensão da Ásia

com que objetivo? Também não


precisa de investigações nas áre-
as de desenvolvimento humano e
social. Para que manter cursos de
engenharia aeroespacial, petróleo,
naval etc. se tudo virá de fora? Para
que gastar com Universidades pú-
blicas, se a demanda será por mão
de obra adestrada para atividades
cada vez mais simples em indús-
trias de segunda linha?
O enfraquecimento e mudan-
ça de papel do Mercosul, a perda
de protagonismo do país junto aos
BRICS – em especial no que toca
ao seu banco – e a destinação do
chando ainda mais salários e direi- fabricados relativamente mais caros enorme contingente de trabalhado- Brasil a um papel cada vez mais ir-
tos e vendendo o país na bacia das no mercado externo. Mesmo pesa- res no Sul – marcado por imensos relevante na cena mundial formam
almas. É de se perguntar porque is- das isenções fiscais e financiamen- exércitos industriais de reserva – for- as linhas mestras da política exter-
so acontece e que nova divisão in- tos baratos não revertem a tendên- ça um nivelamento por baixo de sa- na um país em acelerado processo
ternacional do trabalho é essa. cia desindustrializante observada ao lários. Daí a disseminação de refor- de reprimarização produtiva.
longo das últimas três décadas. mas trabalhistas pelo mundo. É uma política frágil, inconsis-
A nova revolução A crise de 2008-09 aprofun- tente e que realiza o feito de con-
dou a competição entre países em Derrota do denar um país que já foi a sétima
No início do século XXI, o busca de capitais, fontes de energia desenvolvimento economia do mundo em anos re-
avanço da automação e da robóti- e mercados. Com os novos padrões centes a um papel para lá de secun-
ca nos processos produtivos, com- produtivos, a fase de exportação de A economia política de Bolso- dário no cenário global.
binado com novas formas de ges- empresas para o Sul do mundo en- naro representa a derrota do desen-
tão, impacta fortemente o nível de tra em declínio. volvimento e da industrialização, o * É professor de Relações Internacionais
emprego e faz avançar a chamada A atração de capitais para es- que pode ser percebido pelas en- da Universidade Federal do ABC e autor,
Revolução 4.0 na indústria. Plan- sas regiões vem se dando prefe- trevistas de seu condutor da Eco- entre outros, de A Venezuela que se inven-
ta – Poder, petróleo e intriga nos tempos de
tas fabris complexas – em especial rencialmente em setores extrativos nomia, Paulo Guedes. A meta ago-
Chávez (Editora Fundação Perseu Abra-
de bens duráveis – apresentam al- – madeira e minérios –, empresas ra é buscar o investimento externo mo, 2004) e Simonsen-Gudin, A grande
tíssima produtividade e número maquiladoras e de baixa produ- direto possível em um país que de- controvérsia do desenvolvimento, 1944-45
decrescente de operários. tividade e uso intensivo de força sistiu de um projeto nacional autô- (IPEA, 2011)
Essas características mudam de trabalho, como têxteis, calça- nomo e soberano. O Brasil tende
substancialmente a geopolítica pro- dos, material esportivo e bens de a competir com regiões marcadas 1 Em fevereiro de 2017, o jornal Valor ci-
tava reportagem do Financial Times mos-
dutiva em termos planetários. As baixo valor agregado. Completa o por alta exploração e pouca prote- trando que a média dos salários no setor
manufaturas com intenso uso de quadro o agronegócio, além de se- ção ao mundo do trabalho. Ou se- industrial brasileiro já era menor que a da
tecnologia tendem a sair da peri- tores de serviços. O resultado aca- ja, com força laboral abundante, China, que historicamente remunerava
feria e se concentrarem nos países ba sendo a exportação de petróleo flexível e de baixa qualificação. mal seus trabalhadores (https://www.va-
centrais, pois o preço da mão de cru e minério em estado bruto, ca- Assim, o país também pode lor.com.br/internacional/4881644/sala-
rio-medio-da-industria-da-china-supera-
obra deixa de ser diferencial rele- minho adotado por duas empresas prescindir de pesquisas em ciência, -o-do-brasil-e-do-mexico)
vante. No caso brasileiro, os preços que já foram de ponta, a Petrobrás tecnologia e inovação, compran- 2 ADASCALIETI, Dragos e MORANO,
de energia e de telecomunicações – e a Vale. do pacotes do exterior e pagando Clemente Pignatti Drivers and effects of la-
consequência das privatizações dos Assim, a força de trabalho deve royalties pelo que utilizar. Essa é a bour market reforms: Evidence from a no-
anos 1990 – elevam custos e não in- ser remunerada pelo menor preço dimensão do retrocesso em anda- vel policy compendium in IZA Journal of
Labor Policy, Agosto de 2016. (https://iza-
centivam a vinda de investimentos. possível e possuir mínimos direitos mento. Um país nessas condições jolp.springeropen.com/articles/10.1186/
A isso se soma à sobrevalorização e gastos exíguos por parte do Estado não necessita realizar pesquisas em s40173-016-0071-z) - Indicação de Cle-
cambial, que torna produtos aqui em assistência e seguridade social. O áreas de alta tecnologia. Fará isso mente Ganz Lúcio

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Fórum Popular do Orçamento 13

Segurança no Rio: inteligência x ostensividade


C om o fim da intervenção fe-
deral do Rio de Janeiro, en-
cerrou-se a principal medida de
função de segunda maior despe-
sa, com valor realizado maior que
o da Educação e quase duas ve-
do período foi menor que 0,01%.
Nos outros Estados foi, em mé-
dia, de 0,7% em Minas e 1,4% em
lhões. Conforme destaca o parecer
do Tribunal de Contas do Estado
(TCE) sobre as Contas de Governo
segurança pública do governo an- zes maior que o da Saúde. Des- São Paulo. É possível que, em par- de 2017, a queda nos investimen-
terior. O novo presidente anun- de 2012, houve um crescimento te, isso seja fruto de falta de trans- tos provoca uma "redução na capa-
ciou um "pacote anticrime" que sucessivo da execução orçamentá- parência no governo fluminense, cidade operacional e na inteligência
estimula a política do conflito e a ria, até apresentar redução de 2% que não contabiliza corretamente das forças de segurança do Estado".
repressão por parte dos agentes de e 8% em 2016 e 2017, respecti- as despesas, mas dificilmente isso Essas informações levam a uma
segurança, ao facilitar a absolvição vamente. A despeito dessa queda, explica tudo. hipótese: o ERJ pouco investe em
de policiais que matam em servi- o Gráfico 1 mostra que a previ- Por outro aspecto, observamos Inteligência e Tecnologia. Essa te-
ço. Por outro lado, pouco se ate- são continuou em trajetória as- um declínio, a partir de 2014, nos se é corroborada pelos dados sobre
ve à melhora dos investimentos em cendente até 2017, quando foi re- gastos com investimento em segu- elucidação de letalidade violenta.
inteligência na segurança. duzida em R$ 1,21 bilhão no ano rança (Gráfico 3): naquele ano, R$ Em 2015, foi de 11%, mais de três
Diante disso, analisamos a po- seguinte. Para o atual exercício, a 508 milhões foram executados com vezes menor que em São Paulo1.
lítica de segurança pública do Es- previsão foi praticamente a mes- esse fim, enquanto em 2018, es- Por outro lado, a política de segu-
tado do Rio de Janeiro (ERJ) a ma que em 2017, ano responsável te valor foi de apenas R$ 154 mi- rança pública do ERJ, baseada no
partir dos dados orçamentários so- pela maior cifra do período.
bre segurança de 2012 a 2019 e, Na comparação entre o ESP, de
especificamente, sobre "Inteligên- MG e do RJ, o primeiro é o que Gráfico 1 – Dotação Inicial e Realizado na Função
cia e Informação". Ademais, con- mais gasta com segurança públi- Segurança Pública no ERJ (2012-2019)
trastamos com dados do Estado ca em termos absolutos, em média
de São Paulo (ESP) e do Estado R$ 21,74 bilhões – quase duas ve-
de Minas Gerais (EMG), a partir zes o orçamento do ERJ. Contudo,
dos Relatórios Resumidos de Exe- em valores relativos ao orçamen-
cução Orçamentária (RREO) e do to total, São Paulo foi o que teve a
site Transparência Fiscal. Averigua- menor despesa durante todo o pe-
mos, também, os valores e alguns ríodo. Conforme apresentado pelo
indicadores da intervenção federal Gráfico 2, os três estados gastavam
no ERJ, bem como o contexto de percentualmente quase o mesmo
criação e os montantes previstos e em 2012. Ao longo do período, en-
realizados no Fundo Estadual de tretanto, Rio e Minas aumentaram
Fonte: RREO do RJ entre 2012 e 2019.
Investimentos e Ações de Seguran- consideravelmente o peso da Segu-
ça Pública e Desenvolvimento So- rança Pública nos seus orçamentos.
cial (FISED). Em 2018, ambas chegaram a valo-
Todos os dados estão deflacio- res próximos de 17%. Gráfico 2 – Peso da Função Segurança Pública no
nados segundo o IPCA-E de de- Inserida na função Segurança Orçamento Total de cada Estado (2012 - 2018).
zembro de 2018. Pública, a subfunção "Inteligência
e Informação" evidencia um consi-
A Segurança no Rio: o derável contraste entre o Rio e seus
que diz o orçamento? vizinhos. O valor médio realiza-
do pelo ERJ entre 2012 e 2018 foi
Entre 2012 e 2018, o valor de R$ 18,76 mil. Já em São Paulo
médio realizado para o orçamen- chegou a R$ 297,55 milhões, e em
to de Segurança Pública foi de Minas, R$ 83,30 milhões. O pe-
R$ 11,01 bilhões, corresponden- so da "Inteligência e Informação"
te a 14% do orçamento médio do no orçamento da função Segu-
ERJ. Para fins comparativos, em rança Pública no Rio é ainda me-
2018 a Segurança Pública foi a nos expressivo. Em todos os anos Fonte: RREO do RJ, SP e MG entre 2012 e 2018.

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14 Fórum Popular do Orçamento

ção Federal comprometeu5 apenas Outro aspecto importante foi a


Quadro 1 – Despesa Realizada com Inteligência e 39% desse orçamento. As despesas alta histórica nas mortes decorren-
Informação (em milhares) do último mês fizeram com que tes de intervenções policiais (Grá-
o Gabinete comprometesse 97% fico 5). No ano de 2018, houve
Ano MG RJ SP
do valor inicial até 31 de dezem- 1.532 mortes efetuadas por agen-
2012 R$ 103.070,21 R$ 27,76 R$ 224.932,54
bro; contudo, estas incluíram no- tes de segurança, valor recorde des-
2013 R$ 103.011,81 R$ 22,63 R$ 310.682,01
ve dispensas de licitação, o que de- de o começo desse levantamento
2014 R$ 128.271,18 R$ 51,41 R$ 359.995,09 monstra falta de planejamento nos pelo Instituto de Segurança Públi-
2015 R$ 129.013,20 R$ 25,61 R$ 387.017,91 gastos. Destacando-se nessas dis- ca (ISP). Todas as regiões do Esta-
2016 R$ 45.647,08 R$ - R$ 264.293,71 pensas está a aquisição de pisto- do registraram aumento. Contu-
2017 R$ 38.384,35 R$ 2,59 R$ 293.060,07 las da empresa Glock, no valor de do, foi em regiões marginalizadas
2018 R$ 35.678,01 R$ 1,28 R$ 242.851,00 US$10 milhões. Além disso, cha- como a Baixada Fluminense e o in-
2019* R$ 12.330,90 R$ 1,00 R$ 354.275,00 ma a atenção o valor total realiza- terior que os números se mostra-
Fonte: Relatórios da LRF de MG, RJ e SP. do pela intervenção, de menos de ram mais expressivos: de fevereiro
* Previsão Orçamentária de 2019 R$ 130 milhões, ou seja, apenas a dezembro de 2018, houve alta de
11% do valor comprometido. Isso 70% na Baixada e 82,5% no inte-
resulta em mais de R$ 1 bilhão co- rior em comparação com o mesmo
Gráfico 3 – Valor realizado dos investimentos/inver- mo restos a pagar no orçamento da período de 2017, mais que o do-
sões em Segurança Pública (2012-2018) União de 2019. bro do valor contabilizado para to-
Segundo o Centro de Estudos do o Estado. Ademais, segundo o
de Segurança e Cidadania, me- laboratório de dados Fogo Cruza-
lhorias como a redução de qua- do, aumentou em 166% o número
se 10% na letalidade violenta de vítimas de chacinas nos primei-
da capital em relação a 2017 fo- ros oito meses de 2018, em con-
ram contrabalançadas por um au- traste com os mesmos meses do
mento de mais de 15% no inte- ano anterior. Mais da metade dos
rior do Estado. Já crimes como 47 casos registrados nesse período
roubos e furtos, que influenciam ocorreram durante operações das
fortemente a percepção de segu- forças de segurança, como ações
rança da população, não tiveram no complexo do Alemão, da Penha
Fonte: Transparência Fiscal (ERJ)
uma redução expressiva. O indi- e da Maré.
cador estratégico de roubos de rua
conflito e na incursão de favelas, 11. No ano seguinte, o ERJ saltou no ERJ se manteve quase estável, Fundo Estadual
contribui para um alto número de para 38, enquanto EMG perma- com elevação de 1%, chegando a de Segurança (FISED)
tiroteios – 8.6132 foram registra- neceu constante e o ESP reduziu um aumento de 13% em territó-
dos desde o início da intervenção um ponto.4 rios como a Grande Niterói. O No contexto da intervenção
federal – e de mortes. Além disso, maior sucesso da intervenção te- federal no ERJ foi criado o FI-
segundo relatório da própria Polí- Intervenção federal ria sido no combate aos roubos SED, o primeiro fundo constitu-
cia Militar do ERJ, "foi mais arris- no ERJ: uma aposta de carga, com redução de 17% cional de segurança do país. Sua
cado estar na PMERJ nos últimos no passado no Estado e quase 30% na Capi- criação foi justificada pela neces-
23 anos do que servindo na FEB tal. Porém, houve novamente um sidade de se garantir recursos para
ou nas forças armadas norte-ame- Em fevereiro de 2018, foi insti- aumento no interior e em Nite- a segurança, tendo em vista a crise
ricanas em qualquer guerra do sé- tuída a intervenção federal no Rio, rói de 46,5% e 19%, respectiva- financeira que o ERJ enfrenta nos
culo XX, incluindo as I e II Guer- que relativizou a autonomia do Es- mente. Além disso, a estratégia de últimos anos. Esses recursos são
ras Mundiais"3 tado com o objetivo anunciado de operações ostensivas adotada fa- provenientes da arrecadação de
A taxa de homicídios dolosos amenizar a crise de violência urba- lhou em manter essa redução no royalties do pré-sal, e representam
no mesmo ano foi a maior entre as na no território. Foram injetados último trimestre de 2018, quan- 10% dos recursos previamente
três unidades federativas: enquan- R$ 1,2 bilhão de recursos federais do ocorreram aumentos sucessi- destinados ao Fundo Estadual de
to o Rio apresentou 30 homicí- para a segurança pública do ERJ, vos do indicador, que superou o Conservação Ambiental e Desen-
dios dolosos a cada 100 mil habi- entretanto, a um mês do fim da in- registrado no mesmo período do volvimento Urbano (FECAM), o
tantes, Minas teve 21 e São Paulo tervenção, o Gabinete da Interven- ano anterior. que precariza a situação do ERJ

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Fórum Popular do Orçamento 15

em eventuais acidentes ambien- abusa do instituto legal da legíti-


tais. Houve, inclusive, contro- ma defesa para aplicar a força le- Gráfico 4 – Evolução do orçamento empenhado da
vérsia na Assembleia Legislativa tal de forma desnecessária e exces- ação decorrente da Intervenção Federal no RJ
do ERJ sobre esse desvio do FE- siva. A intervenção federal, em vez
CAM, devido ao seu importante de remediar, aprofundou este ce-
papel na prevenção de complica- nário já marcado por frequentes
ções decorrentes das chuvas fortes violações de direitos. Nesse senti-
de fevereiro na cidade do Rio. do, os dados retratados evidencia-
Em 2018, o FISED teve dota- ram uma maior preocupação com
ção autorizada de R$ 320 milhões a defesa do patrimônio, em detri-
e valor realizado de R$ 124 mi- mento da vida.
lhões. Contudo, na lei estava pre- Ante a multiplicação dos dis-
visto valor disponível de R$ 250 cursos políticos e midiáticos em
milhões, inicialmente, e R$ 288 favor da violência policial, e tendo
milhões, posteriormente. Portan- em vista o pacote federal anticri-
to, o valor realizado correspondeu me, que provavelmente agravará o
a apenas 43% do último valor pre- presente cenário, é preciso pergun- Fonte: SIGA Brasil

visto na lei e 38% da dotação auto- tar: quem é o grande alvo deste an-
rizada, o que diminui a eficácia do tigo e fracassado projeto de segu-
fundo no seu objetivo de melhorar rança pública? As estatísticas não Gráfico 5 – Mortes por intervenção
a situação da segurança no Estado. deixam dúvidas: de acordo com o de policiais no ERJ:
Em 2019, possui dotação atual de Atlas da Violência6, em 2016, a ta-
R$ 435 milhões e nada realizado xa de homicídios por 100 mil ha-
até o momento. bitantes no ERJ foi de 36,4. Se
considerarmos apenas homens jo-
Considerações vens, esta taxa sobe para 87,7. Por
Finais outro lado, no mesmo ano, a ta-
xa de homicídios de pessoas pre-
Ao investigarmos o orçamen- tas e pardas foi de 47,6, enquanto
to de segurança pública do ERJ a de brancos, amarelos e indíge-
Fonte: ISP-RJ
em conjunto com seus indicado- nas foi de 20,5. Estes dados espe-
res sociais, percebemos que a ve- lham a realidade de toda a década
lha aposta em uma política de anterior (2006-2016), o que re- gurança sem levar em conta sua políticas públicas que visem à me-
puro enfrentamento não só é ine- força a urgência de uma mudan- inseparável correlação com os pro- lhoria do acesso à educação, saúde,
ficaz no que tange aos seus obje- ça de posicionamento do poder blemas sociais e econômicos. Re- moradia, entre outros direitos fun-
tivos, mas também intensifica a estatal. Com efeito, embora o es- duzir o debate a uma questão de damentais para o desenvolvimen-
violência. Em oposição a esta es- tereótipo de bandido esteja vincu- polícia dificulta sobremaneira a to humano.
colha ostensiva e imediatista, veri- lado à figura de jovens negros fave- compreensão das causas da violên-
ficamos que a estratégia que privi- lados, é significativo o fato de que cia: a extrema desigualdade, asso- 1 Instituto Sou da Paz.
2 Fogo Cruzado. referência incompleta.
legia uma formação de qualidade a maior apreensão de fuzis da his- ciada a uma tradição policial mi-
3 A Guerra Urbana do RJ e seus efeitos.
para os policiais e o investimento tória do Rio esteja conectada a um litarista e pautada pelo racismo e Disponível no site: http://www.pmerj.
em inteligência e tecnologia seria homem branco morador de con- pela repressão, os quais, por sua rj.gov.br/wp-content/uploads/2017/03/A-
mais adequada para o combate à domínio de luxo na Barra da Tiju- vez, são incentivados pela guerra às -Guerra-Urbana-do-RJ-e-seus-efeitos-na-
criminalidade. ca, acusado pelo assassinato da ve- drogas. Dessa forma, são impres- -PMERJ-1.pdf
4 Anuário Brasileiro de Segurança Pública
Segundo o relatório Você ma- readora Marielle Franco. cindíveis a mudança na orientação referência incompleta.
tou meu filho, da Anistia Interna- Sob outra perspectiva, não po- política a respeito da criminaliza- 5 O termo técnico é empenhado.
cional, a Polícia Militar do Rio demos pensar sobre o tema se- ção das drogas e a formulação de 6 Ipea, 2018.

FÓRUM POPULAR DO ORÇAMENTO – RJ (21 2103-0121). Para mais informações acesse www.corecon-rj.org.br/fpo-rj e www.facebook.com/FPO.Corecon.RJ.
Coordenação: Luiz Mario Behnken e Thiago Marques. Assistentes: Amanda Resende, Daniel Nadai, Hellen Machado e Laura Muniz.

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16

Agenda de cursos

Economia brasileira
2/4 a 6/8/2019
Carga horária: 60 horas
18h30 às 21h30 | terças e alguns sábados
Professor Gilberto Carvalho

Planejamento econômico avançado:


a teoria e a prática de elaboração de cenários
prospectivos aplicada à economia brasileira
3/7 a 14/8/2019
Carga horária: 21 horas
18h45 às 21h45 | quartas
Professor Thiago Moraes

Perícia econômica
18/6 a 19/11/2019
Carga horária: 69 horas
18h30 às 21h30 | terças
Professor Roque Dircêo Licks

BALANÇO PATRIMONIAL
ATIVO (EM R$) PASSIVO (EM R$)
REFERÊNCIAS JAN A DEZ/17 JAN A DEZ/18 REFERÊNCIAS JAN A DEZ/17 JAN A DEZ/18
ATIVO FINANCEIRO 6.588.177,09 5.970.086,04 PASSIVO FINANCEIRO 15.137,59 40.274,56
DISPONÍVEL 55.211,80 145.379,86 RESTOS A PAGAR 9.156,07 10.033,90
DISPONÍVEL VINCULADO A C/C BANCARIA 6.465.177,76 5.730.129,01 DEPÓSITOS DE DIVERSAS ORIGENS 49,90 29.356,96
REALIZÁVEL 25.638,68 52.694,59 CONSIGNAÇÕES - 139,74
RESULTADO PENDENTE 42.148,85 41.882,58 CREDORES DA ENTIDADE -
ATIVO PERMANENTE 26.593.581,87 26.188.918,40 ENTIDADES PÚBLICAS CREDORAS 5.931,62 743,96
BENS PATRIMONIAIS 1.761.188,69 1.786.315,37 RESULTADO PENDENTE 247.462,72 260.815,93
VALORES 55.752,77 54.883,16
CRÉDITOS 24.776.640,41 24.347.719,87 PATRIMÔNIO(ATIVO REAL LÍQUIDO) 32.919.158,65 31.857.913,95
TOTAL GERAL 33.181.758,96 32.159.004,44 TOTAL GERAL 33.181.758,96 32.159.004,44

DEMONSTRATIVO DAS RECEITAS E DESPESAS


REFERÊNCIAS PERÍODOS EM REAIS REFERÊNCIAS VARIAÇÕES
JAN A DEZ/17 JAN A DEZ/18 (EM R$) (EM %)
RECEITAS RECEITAS
ANUIDADES 4.142.591,10 3.981.672,93 ANUIDADES (160.918,17) -3,9
PATRIMONIAL 829.237,54 (61.713,05) PATRIMONIAL (890.950,59) -107,4
SERVIÇOS 111.697,49 103.837,22 SERVIÇOS (7.860,27) -7,0
TRANSFERÊNCIAS CORRENTES -
MULTAS E JUROS DE MORA 11.975,63 50.591,02 MULTAS E JUROS DE MORA 38.615,39 -
DÍVIDA ATIVA 824.628,75 1.010.290,48 DÍVIDA ATIVA 185.661,73 22,5
DIVERSAS 282.583,48 303.467,31 DIVERSAS 20.883,83 7,4
RECEITAS DE CAPITAL - - RECEITAS DE CAPITAL - -
TOTAL GERAL 6.202.713,99 5.388.145,91 TOTAL GERAL (814.568,08) -13,1
DESPESAS DESPESAS
DE CUSTEIO 4.879.710,24 4.927.734,90 DE CUSTEIO 48.024,66 1,0
PESSOAL 2.551.502,97 2.698.526,95 PESSOAL 147.023,98 5,8
MATERIAL DE CONSUMO 51.750,17 52.133,17 MATERIAL DE CONSUMO 383,00 0,7
SERVIÇOS DE TERCEIROS E ENCARGOS 2.276.457,10 2.177.074,78 SERVIÇOS DE TERCEIROS E ENCARGOS (99.382,32) -4,4
TRANSFERÊNCIAS CORRENTES 1.069.777,95 1.081.421,24 TRANSFERÊNCIAS CORRENTES 11.643,29 1,1
DESPESAS DE CAPITAL 70.003,22 35.571,00 DESPESAS DE CAPITAL (34.432,22) -49,2
TOTAL GERAL 6.019.491,41 6.044.727,14 TOTAL GERAL 25.235,73 0,4

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Manter o cadastro atualizado é fundamental para que o Conselho possa se comunicar com você. Solicitamos que você nos informe sobre qualquer mudança nos
seus dados cadastrais, tais como: e-mail, endereço residencial ou comercial, telefones fixo ou celular etc. Você pode utilizar os seguintes canais:
1) Site do Corecon-RJ, www.corecon-rj.org.br, seção “atualização cadastral” (na barra superior). 2) Telefones: 21-2103-0113; 2103-0114; 2103-0115; 2103-0116; 2103-0131.
3) E-mails: thiago@corecon-rj.org.br; karina@corecon-rj.org.br; silvia@corecon-rj.org.br; claudio@corecon-rj.org.br; samuel@corecon-rj.br; registro@corecon-rj.org.br.

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