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Nº 335 Julho de 2017 Órgão Oficial do Corecon-RJ e Sindecon-RJ

Uma agenda
econômica
alternativa
Rubens R. Sawaya, Carlos
Frederico Rocha, Plínio de
Arruda Sampaio Jr., Niemeyer
Almeida Filho e Guilherme
Santos Mello foram instados
a propor uma agenda
econômica alternativa
à atual e com viabilidade
de implementação

FPO analisa orçamento da segurança Resumo da monografia premiada


pública e prioridades das despesas de Thandara Maria Kathleen da Silva
2 Editorial Sumário

Uma agenda econômica alternativa Agenda alternativa ............................................................................3


Rubens R. Sawaya
Em meio a instabilidade política e crise econômica agudas, convida-
mos os autores abaixo a apresentar uma agenda econômica alternativa à É possível uma agenda alternativa para o Brasil?
atual – políticas econômicas de desenvolvimento viáveis considerando o
sistema político, problemas estruturais, correlações de forças e outras li- Agenda alternativa ............................................................................5
mitações do nosso país. Carlos Frederico Rocha
Rubens R. Sawaya, da PUCSP, afirma que as medidas e políticas pa- Progresso Técnico e Cidadania
ra tornar o Brasil um “capitalismo civilizado” já são conhecidas. A questão
é como viabilizar sua implementação contra a vontade daqueles que con- Agenda alternativa ............................................................................7
trolam a estrutura produtiva e financeira do país e os aparelhos de Estado.
Plínio de Arruda Sampaio Jr.
Carlos Frederico Rocha, do IE/UFRJ, propõe uma agenda inovadora
que parte de duas premissas: qualquer projeto de desenvolvimento com Primeiramente, “Fora Ajuste”
base democrática deve levar em consideração as mensagens das manifes-
tações de junho de 2013; e a mudança tecnológica afetará a forma do de- Agenda alternativa ............................................................................9
senvolvimento e a estrutura econômica nos próximos anos. Niemeyer Almeida Filho
Plínio de Arruda Sampaio Jr., da Unicamp, acredita que o raio de Incongruências da perspectiva do desenvolvimento
manobra para uma política econômica alternativa é nulo. A tarefa ime- brasileiro com transformações sociais
diata é derrubar o governo Temer. No longo prazo, a escolha é entre so-
cialismo ou barbárie.
Agenda alternativa ......................................................................... 11
Niemeyer Almeida Filho, da Universidade Federal de Uberlândia,
sugere a contenção da espoliação social, isto é, a transferência de recur- Guilherme Santos Mello
sos públicos sem restrições ou condicionalidades ao âmbito privado. Es- Os “riscos” da democracia
ta providência teria, pelas tensões internas distributivas que provoca, o
potencial de gerar transformação social e assim abrir caminho para trans- Monografia ..................................................................................... 12
formações mais ambiciosas. Thandara Maria Kathleen da Silva
Guilherme Santos Mello, da Unicamp, constata que, após três anos Estrutura produtiva da economia fluminense:
de experimentação desastrosa, a austeridade e o liberalismo fracassaram uma análise de insumo-produto
em entregar o que prometeram. Ele defende que só um governo com
credibilidade proferida pelo voto popular será capaz de implementar um
projeto de desenvolvimento. Fórum Popular do Orçamento ....................................................... 14
Fora do bloco temático, publicamos um resumo da monografia pre- “Nenhum tipo de violência é justificável
miada de Thandara Maria Kathleen da Silva. e todo tipo de violência é evitável.”
O artigo do Fórum faz uma comparação entre a crise econômica e a
variação das despesas com segurança pública, no estado e município do
Rio. Os dados demonstram despesas significativas em armamentos não O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Pas-
sarinho, de segunda à sexta-feira, das 9h às 10h30, na Rádio Livre, AM, do Rio, 1440
letais, serviços secretos e equipamentos de telecomunicação, que podem khz ou na internet: www.programafaixalivre.org.br ou www.radiolivream.com.br
ser usados para monitorar e coibir manifestações populares.

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Agenda alternativa 3

É possível uma agenda


alternativa para o Brasil?
Rubens R. Sawaya renda e se tornaram mais civili- ís um pouco mais justo, o pro- pouco adianta saber quais seriam
zados. Não adotaram as políticas cesso foi bloqueado por um gol- as políticas econômicas corretas.

H á um projeto viável de pa-


ís? Há possibilidade de im-
plantá-lo? O leque de medidas
neoliberais como abertura co-
mercial; não privatizaram tudo,
afastando o Estado do planeja-
pe de Estado. Como poderia ser
diferente? Que forças poderiam
mudar essa história?
O problema é ter o poder para
implementá-las. Essa é a razão da
disputa do Estado, uma vez que
e de políticas para tornar o Bra- mento e da formulação de estra- Adentrar o Estado e ocu- ele está no eixo do controle sobre
sil um “capitalismo civilizado” tégias; não entregaram os seto- par seus aparelhos, sua estrutu- a riqueza social.
(apesar disso hoje parecer uma res estratégicos e de tecnologia às ra burocrática, são as formas de A questão é ainda mais com-
contradição em termos) já é co- grandes corporações transnacio- controle sobre as políticas eco- plicada. O poder não resulta so-
nhecido e debatido. Adotar uma nais; e nem abriram mão do con- nômicas, sobre a estratégia de mente do fato de se alcançar o
política cambial competitiva que trole de suas riquezas minerais. desenvolvimento e as políticas controle dos aparelhos de Estado
não destrua a produção e em- Foi esse o caso do Japão, Chi- de crescimento. A ação só é pos- e da Burocracia. Isso é necessá-
pregos em território nacional – na, e outros tigres asiáticos. As sível por dentro do Estado. É ne- rio, mas não suficiente. A imple-
mesmo que seja em grande parte políticas que deveriam ser feitas cessária sua ocupação por deter- mentação de políticas econômi-
dominada por capital transna- são conhecidas e estudadas. Es- cas e estratégias sempre terá que
cional; baixar taxa de juros so- tão nos trabalhos de Alice Ams- ser negociada com os grupos que
bre a dívida pública para dimi- den, Marilena Mazzucato, Ha- comandam o funcionamento re-
nuir a participação do rentismo -jon Chang, Peter Nolan, Peter al da economia. A estrutura pro-
na renda nacional; enquadrar os Evans, para citar apenas alguns dutiva e financeira não é com-
bancos privados para fornecerem que contaram as histórias de su- posta de agentes econômicos
crédito em complemento – no cesso de países que promoveram dispersos que respondem a estí-
mínimo – à ação dos bancos pú- crescimento com algum desen- mulos e estratégias propostos nas
blicos; elevar o gasto público em volvimento. Casos de países que políticas econômicas e sociais. A
infraestrutura e setores que fo- adotaram o neoliberalismo co- economia real se estrutura em
mentem o investimento privado mo base não existem, embora se grandes corporações que detêm
e gerem efeitos multiplicadores goste de citar Chile e Austrália, o controle real dos processos de
que acabarão por elevar a recei- ambos exportadores de minerais produção e grandes bancos que
ta fiscal resultado do crescimen- com populações diminutas, mas dominam o espaço financeiro.
to econômico, compensando os que na verdade não abriram mão Isso torna o problema de tomar
gastos iniciais; adotar uma polí- do controle de Estado sobre os o poder mais complicado.
tica de distribuição de renda via produtos básicos. Concretamente, no Brasil
salários e benefícios; realizar re- Se estas fórmulas são conhe- minada ideologia que lhe dê a dois bancos privados nacionais
forma tributária que cobre im- cidas, a pergunta é: por que não direção. O Estado é o reflexo da detém um enorme poder sobre
postos das grandes corporações e as aplicamos no Brasil? Por que correlação de forças da socieda- os fluxos financeiros e garantem
dos mais riscos para viabilizar a não conseguimos manter e dei- de. É moldado por relações de sua participação na riqueza na-
desconcentração de renda e am- xamos deteriorar os relativos poder, pelos setores ou grupos cional via dívida pública. Algu-
pliar a propensão a consumir; re- avanços históricos de industria- de interesses que possuem poder mas corporações transnacionais
alizar a reforma agrária que dê às lização no Brasil, embora o país concreto, principalmente finan- controlam os setores de média e
famílias a possibilidade de exis- nunca tenha alcançado uma so- ceiro, para deter o controle dos alta tecnologia; outras os merca-
tência social e produza alimentos ciedade minimamente civilizada aparelhos e da burocracia, para dos de commodities agrícolas e
para o mercado interno. Colocar com distribuição de riqueza? A comprar os políticos e definir as minerais. As grandes construto-
no papel é fácil. verdade é que, ao contrário, to- políticas segundo seus interesses ras e empresas de engenharia na-
Na história, há vários exem- das as vezes em que, no Brasil, sobre a riqueza social. Ocupar cionais controlavam (estão sendo
plos de países que promoveram se fortaleceu algum movimento esse espaço e afastar outra estra- dizimadas) a implantação de in-
crescimento com distribuição de com a tênue ideia de tornar o pa- tégia é a função do golpe. Assim, fraestrutura e atuavam na cadeia

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4 Agenda alternativa

no longo prazo com tons apa- de austeridade foram postas em


rentemente científicos, mesmo prática já em 2011, e que a que-
que este rigor científico tome a da nas taxas de juros durou ape-
forma de um conto de fadas ao nas alguns meses (apesar de que
transformar a complexidade da foi suficiente para iniciar a grita
macroeconomia e da ação do Es- para derrubar o governo). Pode-se
tado sobre ela em uma casa de fa- dizer que em parte o golpe só foi
mília regida pela capacidade em possível porque o governo Dilma
alocar recursos escassos. Defen- apostou no jogo do inimigo e im-
dem a política de austeridade, plantou a austeridade.
cortar gastos. Não se deve, nesta Para tentar superar essa situa-
visão, incentivar uma produção ção é necessário retomar o poder.
maior, os investimentos, como Retirar os economistas ortodo-
pensaria um empresário comum xos, em sua maioria funcionários
interessado em elevar seu fatu- de bancos, úteis na disputa pe-
ramento. Não interessa ver que, la riqueza, dado que suas medi-
quanto mais o Estado incentiva das de austeridade colocam cerca
o crescimento econômico com de 6% do PIB que o Estado pa-
gastos de elevado efeito multipli- ga de juros sobre sua dívida no
cador, sua arrecadação cresce ao caixa dos bancos e rentistas. Esse
ponto de poder cobrir esses gas- percentual quase alcança os gas-
tos. Ao contrário, focam em uma tos com INSS (7%) e supera os
subjetiva e falsa “equivalência ri- gastos com saúde (4%) e educa-
cardiana” que confundiria as “ex- ção (5%). Basta que 3% do gasto
pectativas racionais” dos agentes. com juros fosse para infraestru-
De outro lado, pouco se impor- tura que a economia retomaria
tam com os gastos com juros. o crescimento. O debate teóri-
A austeridade gera apenas co não está muito difícil, dado
maior necessidade de austerida- que todas as previsões dos eco-
de em um processo autofágico. nomistas que apoiaram a auste-
Chegará a um ponto em que na- ridade estão caindo por terra. O
da sobrará. Caem a atividade eco- problema é o poder político que
nômica e a arrecadação tributá- possuem. Eles têm o controle da
ria em ritmo superior ao corte de mídia, onde divulgam suas ideias
gastos. Argumentam que a aus- sem cessar. Agora dominam as
teridade recuperaria a credibili- políticas de Governo por com-
dade perdida dos agentes e que pleto por dentro do Estado.
os investimentos seriam retoma- De qualquer forma, uma vez
de petróleo. Goste-se ou não, são No campo da política econô- dos como que por mágica. Como que por força política se consiga
esses grandes grupos que estru- mica, esse debate aparece como investir com apenas 40% a 50% controlar os aparelhos de Estado
turam os blocos de comando so- “ortodoxia” contra “heterodo- da capacidade produtiva utiliza- para realizar outro tipo de estra-
bre a economia real. Têm o poder xia”. O golpe recolocou a orto- da, com uma taxa de desempre- tégia, como enfrentar o poder da-
concreto de impor determinadas doxia no poder. A ortodoxia já go da ordem de 13%, atingin- queles que realmente controlam a
estratégias ao Estado para que es- estava na composição política da do 14 milhões de pessoas, e com estrutura produtiva e financeira?
te funcione sem ferir seus interes- década de 2000, com Meirelles à queda nos salários e na massa de O caminho se faz ao caminhar.
ses. Governar significa lidar com frente do Banco Central. Agora salários? Qual empresa investiria
essa difícil estrutura de poder. Se- volta forte e sozinha. Defendem sem perspectiva de uma deman-
rá possível negociar? Pelo resulta- políticas revestidas de um apa- da efetiva no futuro? E não vale o * É professor de Economia Política da
PUCSP, diretor da Associação Nacional
do final dos últimos anos, o que rato teórico que toma a aparên- argumento de que a crise é resul- dos Cursos de Ciências Econômicas –
sabe é que a tentativa de compo- cia de técnico e que lhes permi- tado de uma “nova matriz macro- Ange e diretor da Sociedade Brasileira de
sição não logrou sucesso. te defender a destruição do país econômica”, dado que as políticas Econômica Política – SEP.

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Agenda alternativa 5

Progresso Técnico e Cidadania


Carlos Frederico Rocha* Entre as interpretações pos- tando na derrubada do governo
síveis desse intenso movimento Dilma. Contudo, o apoio contí-
“O, wonder! social, três traços devem ser ex- nuo e incondicional de parte da
How many goodly creatures plorados. Inicialmente, as mani- população à Operação Lava Jato
are there here! festações marcaram o fim de um denuncia uma rejeição mais pro-
How beauteous mankind is! modelo de desenvolvimento base- funda ao modus operandi dos par-
O brave new world ado no suporte do Estado à acu- tidos políticos.
That has such people in’t!” mulação de capital. A economia O terceiro traço advém da de-
(Miranda em A Tempestade de Shakespeare) brasileira passou, entre 2003 e manda por serviços públicos ur-
2010, pelos anos de maior cres- banos e consiste na parte posi-

E ste artigo procura traçar al-


gumas prioridades para a for-
mulação de um projeto de desen-
cimento do PIB per capita desde
a segunda crise do petróleo. Es-
se período foi marcado por fortes
tiva do movimento de junho de
2013. Nesse rol, estão presentes
políticas de mobilidade, saúde e
volvimento para o país. O artigo subsídios ao capital, pelo finan- educação e, somando-se, habita-
parte de duas premissas. A pri- ciamento de grandes obras e pela ção. Trata-se, portanto, de uma
meira é que as manifestações de tentativa (malsucedida) de consti- demanda por cidadania. São evi-
junho de 2013 tiveram um im- tuição de polo inovador dinâmi- dências desse traço a vitória e a
pacto forte nos eventos recentes co. Dentro dessa redoma estão: (i) derrubada de Dilma, em 2014,
no país e qualquer projeto de de- os grandes eventos, que usaram re- a liderança de Lula nas pesquisas
senvolvimento com base demo- cursos públicos para gerar instala- para 2018, e a análise de nove em
crática deve levar em considera- ções espetaculares que, no entan- cada dez economistas liberais de
ção as mensagens passadas por to, só puderam ser utilizadas por que as reformas devem ser reali-
esse movimento. A segunda é que uma minoria pagadora dos even- zadas agora, porque não há pos-
estamos vivendo uma fase de in- tos; (ii) uma política industrial e sibilidade de vitória eleitoral sem
tensa mudança tecnológica que de transportes baseada em estímu- comprometimento com a maior
afetará a forma do desenvolvi- los à produção e ao consumo de oferta de bens públicos. A prin-
mento e a estrutura econômica veículos particulares, que utilizam cipal razão para essa preferência
nos próximos anos. intensamente a parca estrutura vi- nacional foi dada pelo liberal Sa-
As manifestações de junho de ária e poluem o meio ambiente; e muel Pessoa: o eleitor mediano,
2013 são uma marca que restará (iii) as grandes obras para geração por ser desprovido de ativos, se-
sobre nossas veias para os próxi- de energia, que representam a ex- jam eles de capital físico, sejam
mos anos. Incompreendidas até clusão de populações locais e redu- originários na formação profis-
mesmo por seus participantes, zem a diversidade. sional, não desfruta dos benefí-
elas foram a maior mobilização O segundo traço é a rejeição cios do crescimento econômico e,
popular desde a campanha das ao atual ordenamento político, portanto, a única forma de par-
Diretas Já de 1984, que teve seu que pareceu ser identificado co- ticipar é por intermédio do gasto
principal resultado na Constitui- mo não representativo do con- público. O que esses economis-
ção de 1988. Sua chama inicial junto de pessoas que esteve pre- tas liberais propõem, então, é a
foi o Movimento do Passe Livre sente. Foi um movimento sem exclusão da população dos frutos
(MPL), que se opôs aos aumen- carro de som, sem palavras de or- do crescimento e que essa decisão
tos de passagens de transportes dem, com formas de organização seja tomada mesmo que rompen-
públicos. Logo se transformaram alternativas e, principalmente, re- do com pressupostos democráti-
em protestos crescentes que ques- cusando a participação de parti- cos. Assim, ao contrário do que
tionavam a Copa do Mundo, as dos políticos de todas as cores e apontam as reformas do gover-
Olimpíadas, os grandes eventos e, origens. Aparentemente, esse se- no Temer, o ponto de partida pa-
creio, intuitivamente, os recursos gundo traço foi explorado poli- ra a nossa análise é a necessidade
despejados em grandes obras. ticamente posteriormente, resul- e o objetivo de aumentar a provi-

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6 Agenda alternativa

são dos serviços públicos que de- sendo substituídas pelo autosser- nais de televisão são substituídos centemente globalizado por essas
ve guiar um projeto de desenvol- viço. Esse é o caso da indústria por streaming. A indústria hote- tecnologias. A exploração da cul-
vimento nacional. moveleira, que vem se constituin- leira perde espaço com a entra- tura local, do saber específico de-
Um segundo elemento para do em simples indústria de corte. da de sítios de internet que atu- senvolvido, da natureza e do pa-
a formulação de uma política de Isso significa que o emprego in- am na provisão descentralizada de trimônio constituído surge como
desenvolvimento de longo prazo dustrial cairá ao longo do tempo e leitos e aluguel de habitação de a principal possibilidade de cria-
para o Brasil é a forte mudança que propostas de desenvolvimen- curta duração. E, se antes o tra- ção de valor. São espaços de uso
tecnológica baseada na crescente to baseadas no retorno à indús- balho mais qualificado era pre- comum que não são passíveis de
aplicação das tecnologias digitais tria tradicional e à desvalorização servado e o menos qualificado serem apropriados ou copiados
e de inteligência artificial. O im- cambial não serão bem-sucedidas. substituído, as tecnologias de in- externamente.
pacto dessas tecnologias sobre o O comércio, que vinha sen- teligência artificial parecem atacar Assim, grandes desafios apa-
mundo do trabalho não pode ser do um importante setor de absor- também aqueles de maior qualifi- recem para a política econômica,
menosprezado. O número de ta- ção de mão de obra, vem também cação. Aulas vêm sendo ministra- quase todos desconectados das re-
das à distância e novos instrumen- formas ora em andamento. O pri-
tos de interação substituem parte meiro desafio é a constituição de
das atividades presenciais atuais, uma forma alternativa de apro-
assim como também ocorre com priação da renda, que permita a
consultas e cirurgias médicas. repartição do valor produzido lo-
Ainda que essas profissões possam calmente. Não estão fora dessas
não vir a desaparecer, as qualifica- alternativas políticas de renda mí-
ções necessárias e os instrumentos nima. O segundo desafio é a cons-
de trabalho se transformarão. tituição de uma nova agenda tri-
Não há, portanto, como proje- butária que permita se adequar à
tar um futuro em que a estrutura nova realidade produtiva e, prin-
do emprego, as habilidades labo- cipalmente, reduzir a regressivi-
rais e as formas de apropriação da dade atual de nossa tributação. O
renda se mantenham no forma- terceiro desafio é a cessação das
to atual. Fundamentalmente, não desonerações implantadas nos go-
há como se projetar um futuro su- vernos Lula e Dilma. O quarto
pondo que estaremos alheios a es- desafio é a mudança de foco das
sa realidade. Três consequências políticas de financiamento do ca-
devem ser pensadas. A primei- pital e do consumo. Não pare-
ra é que a falta de emprego pode ce razoável comprometer a infra-
tornar políticas de transferência estrutura atual com o aumento
de renda algo mais importante de tamanho do mercado interno
do que simplesmente o comba- para a indústria automobilística
te à pobreza extrema. Novos sis- e seus pares. Mudanças de agen-
temas de repartição da renda de- da são necessárias e os recursos de
verão ser elaborados. A segunda financiamento devem estar volta-
é que a provisão de infraestrutu- dos para as demandas que surgi-
ra e qualificações que lidem com ram nas manifestações de 2013,
refas e procedimentos realizados perdendo postos de trabalho pa- o ambiente de tecnologias digi- mais a necessidade de infraestru-
por robôs vem crescendo e o seu ra essas novas tecnologias. Estatís- tais e inteligência artificial passou tura de rede de alta velocidade. Fi-
custo caindo. A tendência é que, ticas mostram que o emprego em a ser uma necessidade e não pode nalmente, estamos devendo à po-
nos próximos anos, robôs venham lojas de departamento nos Esta- ser deixada de fora de um projeto pulação um sistema de regulação
a substituir plenamente o que res- dos Unidos, em 2017, havia caído nacional. Terceiro, as característi- das indústrias de rede e infraestru-
ta de mão de obra em indústrias a 1,3 milhão, abaixo dos 1,5 mi- cas locais devem ser valorizadas. tura de qualidade que não permi-
como a automobilística e a têx- lhão de 25 anos atrás. Essas tecno- A diversidade ambiental e cultu- ta que agências sejam capturadas.
til. Algumas atividades de monta- logias substituem ainda trabalho ral pode vir a ser a principal for-
gem, anteriormente realizadas na em agências de viagem, telefonia ma de diferenciação produtiva a * É doutor em Economia e professor do
indústria de transformação, vêm e ócio. Cinemas desaparecem, ca- prevalecer em um ambiente cres- IE/UFRJ.

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Agenda alternativa 7

Primeiramente, “Fora Ajuste”


Plínio de Arruda Sampaio Jr.* temente para neutralizar toda economia cafeeira implicou o
e qualquer iniciativa que pos- fim da República Velha, a cri-

P ara perplexidade dos que


até há pouco imaginavam
que o Brasil teria consolidado
sa redundar na atuação inde-
pendente da classe trabalha-
dora. Uma vez que a crítica da
se terminal da industrialização
requer a substituição da Nova
República. A liquidação da de-
a democracia e vencido o atra- realidade abriria a possibilidade mocracia de cooptação, institu-
so, as graves contradições que de encontrar soluções alternati- cionalizada na transição da dita-
paralisam a economia, corroem vas para a crise do capitalismo, dura militar, assume a forma de
a legitimidade das instituições torna-se vital convencer a opi- uma cruzada moralista contra a
políticas e polarizam a luta de nião pública de que os remé- corrupção.
classes trazem à tona os gigan- dios amargos das “reformas” li- A radiografia das relações
tescos antagonismos de uma so- berais constituem o único meio promíscuas da política com o
ciedade em acelerado processo de tirar o país do atoleiro. Co- capital, feita pelo poder judici-
de reversão neocolonial. O fim mo o protesto social poderia fu- ário, e sua espetacularização pe-
do ciclo de crescimento, impul- rar o cerco da mídia e dialogar los grandes meios de comunica-
sionado pelo boom especulativo diretamente com as massas, tor- ção estão trucidando o sistema
internacional, expôs as enormes na-se obrigatório criminalizar a político brasileiro e todas as su-
fragilidades de uma sociedade luta social, estigmatizar a críti- as instituições. Paradoxalmente,
marcada pela segregação social, ca, e cercear a atuação dos parti- as causas profundas da corrup-
à mercê da pilhagem predatória dos de esquerda. ção – a absoluta preponderância
do grande capital. Além de agir diretamen- dos imperativos dos negócios
A inflexão da conjuntura foi te sobre o nível de consciência na vida nacional – em nenhum
determinada pelos efeitos devas- da classe trabalhadora, o capital momento são colocadas em
tadores da crise capitalista sobre atua para reduzir ao mínimo a questão. Antes o contrário. Os
a economia brasileira, agravados influência da soberania popular acordos de leniência deixam as
pelo impacto altamente destru- nas decisões políticas, investin- empresas livres para continua-
tivo do ajuste ortodoxo inicia- do contra os resíduos democrá- rem saqueando os cofres públi-
do por Dilma e Levy e radicali- ticos existentes nos interstícios cos e pilhando o país. A corrup-
zado por Temer e Meirelles. Ao de uma estrutura de poder que, ção é entendida erroneamente
colocar a sociedade sob os impe- na realidade, já vem funcionan- como um problema estritamen-
rativos da lei do valor em tempos do como um verdadeiro Estado te individual que deve ser com-
de crise, a ofensiva do capital de- de Exceção. Como os ataques batido caso a caso.
sencadeou um ataque avassala- aos direitos trabalhistas e às po- O limite da investida contra
dor sobre os direitos dos traba- líticas sociais não passariam ja- a corrupção revela que o verda-
lhadores, as políticas públicas e a mais pelo crivo do voto popular, deiro objetivo da operação “Fo-
soberania nacional. Do dia para torna-se necessário desmoralizar ra Todos”, que está destruindo
a noite, tudo que parecia sólido as instituições que expressam – a Nova República, não é mo-
começou a se desmanchar. mesmo que precariamente – a ralizar a vida pública, mas au-
A guerra aberta contra as vontade do cidadão. Como os mentar ainda mais a submis-
classes subalternas exige a des- direitos adquiridos, cristaliza- são do poder político ao capital.
tituição dos meios de expres- dos em lei, não podem cercear Ao explicitar que por trás de ca-
são da vontade política dos tra- os imperativos do capital, tor- da representante do povo exis-
balhadores. A solução do capital na-se urgente eliminá-los. te invariavelmente o patrocínio
para a crise pressupõe a anomia As novas exigências do capi- de uma grande empresa, avilta-
política do trabalho e a usurpa- tal exigem uma profunda trans- -se a relação de confiança en-
ção da soberania popular. formação no padrão de domi- tre os eleitores e seus represen-
A burguesia atua incessan- nação. Assim como a crise da tantes. Como consequência, o

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8 Agenda alternativa

papel dos políticos como elo para a crise terminal da Nova beralismo. Para tanto, será ne- • Romper com o padrão mimé-
de mediação entre os interes- República. “Diretas Já” como cessário desmantelar o arcabou- tico de modernização do con-
ses públicos e privados fica irre- ponto de partida e “Revolu- ço jurídico que dá sustentação sumo e estilos de vida e definir
mediavelmente comprometido. ção Democrática” como ponto ao padrão de acumulação libe- prioridades materiais que se-
Transformados em representan- de chegada devem ser as refe- ral periférico brasileiro – o Pla- jam compatíveis com as possi-
tes diretos dos interesses do ca- rências fundamentais que nor- no Real. Sem a revogação da bilidades da economia brasileira
pital no interior do Estado, os teiam a luta política das forças Lei de Responsabilidade Fiscal e com as necessidades funda-
políticos abraçam, sem qual- comprometidas com a constru- e a reestruturação da dívida pú- mentais da população – mudan-
quer contraponto, a agenda de ção de uma agenda de combate blica, o regime fiscal fica subor- ça que supõe organizar a socie-
desmonte das conquistas traba- à barbárie. dinado à ditadura do rentismo. dade com base em uma ética de
lhistas e democráticas que esta- Sem uma substancial am- Sem a centralização do câm- solidariedade e cooperação, ten-
beleciam um patamar mínimo pliação da democracia, é im- bio e a monopolização das re- do como perspectiva a constru-
de civilidade à sociedade. possível imaginar a possibilida- lações externas, o país não tem ção de uma vida social baseada
Ao explicitar o conteúdo de de uma mudança radical nas como se defender dos movi- na igualdade substantiva entre
ditatorial da democracia bur- prioridades que orientam a po- mentos de fuga de capitais nem todos os seres humanos;
guesa, o capital afirma seu des- lítica econômica. O essencial é subordinar a utilização das di- • Modificar qualitativamente os
potismo implacável sobre a inverter o sentido das respos- visas internacionais às necessi- parâmetros sociais e institucio-
sociedade. A banalização do de- tas que vêm sendo dadas à cri- dades do conjunto da popula- nais que regem a organização
bate público, a criminalização se econômica. Ao invés de dar ção. Sem a colocação do Banco do mundo do trabalho, de for-
dos movimentos sociais e a des- primazia aos negócios do capi- Central sob controle democrá- ma a eliminar todas as formas
truição do sistema político esva- tal internacional e à moderni- tico, submetido a prioridades de hierarquias subjacentes à ex-
ziam a democracia de qualquer zação dos padrões de consumo definidas pela soberania popu- ploração e dominação do traba-
conteúdo popular. Hermetica- de uma exígua parcela da popu- lar, o poder da moeda não pode lho pelo capital; e
mente fechado aos de baixo, o lação, a política econômica de- ser subordinado a uma estraté- • Graduar a introdução e difu-
circuito político torna-se um ve colocar em primeiro plano as gia de reconstrução do mercado são de progresso técnico, tendo
condomínio restrito da pluto- necessidades fundamentais do interno e desenvolvimento das em vista o objetivo de elevar as
cracia. Nesse contexto, o raio conjunto dos trabalhadores – forças produtivas a ele vincu- condições de vida, materiais e
de manobra para uma política emprego digno para todos, re- ladas. “Fim da Lei de Respon- existenciais, do conjunto da po-
econômica alternativa é nulo. forma urbana, reforma agrária, sabilidade Fiscal”, “Controle pulação e sem perder de vista a
Ameaçados pela virulência respeito ao meio ambiente, pro- popular das Reservas Interna- importância estratégica da pre-
da ofensiva do capital, os brasi- teção das nações indígenas etc. cionais”, “Auditoria Política da servação do meio ambiente.
leiros que vivem do próprio tra- “Fora Ajuste”, “Direitos Já”, Dívida Pública”, “Controle de- A combinação de crises eco-
balho estão obrigados a buscar “Trabalho”, “Teto”, “Terra” e mocrático sobre o Banco Cen- nômica e política de grande en-
novos caminhos para o enfrenta- “Transporte” devem ser consig- tral”, “Abaixo o Plano Real” são vergadura, que se reforçam re-
mento da grave crise civilizató- nas de uma política econômica as palavras de ordem que dão ciprocamente, configura uma
ria que ameaça a sua existência. comprometida com os interes- consequência ao caráter demo- conjuntura particularmente ad-
O primeiro desafio é superar o ses estratégicos dos trabalhado- crático e anti-imperialista de versa. As tendências inscritas no
bloqueio mental que naturaliza res brasileiros. uma agenda de ruptura com o movimento histórico são im-
o capitalismo e alimenta o sen- A fim de proteger a econo- ajuste neoliberal. placáveis. A sociedade brasileira
so comum de que nenhuma po- mia popular e os interesses na- Por fim, uma política eco- encontra-se numa encruzilhada
lítica econômica é viável se não cionais do terrorismo econô- nômica alternativa supõe a decisiva. A revolução brasileira
contar com a aprovação do gran- mico do grande capital, que construção de um horizonte es- sufocada pela ditadura militar
de capital. Sem coragem, criati- utiliza a desestabilização finan- tratégico para a organização das em 1964 volta à ordem do dia
vidade e ousadia para se colocar ceira e a asfixia econômica co- forças produtivas, que coloque como revolução operária. Vista
à altura das necessidades históri- mo meios de retaliação contra como prioridade a elevação sis- em perspectiva de longa dura-
cas, a sociedade fica condenada à os que ousam desafiar os status temática do patamar civilizató- ção, a escolha real é entre socia-
miséria do possível. quo, uma política econômica rio da sociedade. São três os ve- lismo ou barbárie.
A tarefa imediata é política: alternativa deve superar o blo- tores fundamentais que devem
derrubar o governo espúrio de queio institucional que aprisio- orientar o desdobramento do * É professor do Instituto de Economia
Temer e dar uma solução de- na os instrumentos de controle processo de superação da or- da Universidade Estadual de Campinas
mocrática, de baixo para cima, da economia às teias do neoli- dem global: (Unicamp).

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Agenda alternativa 9

Incongruências da perspectiva do desenvolvimento


brasileiro com transformações sociais
Niemeyer Almeida Filho* a uma avaliação das potencialida- Carlos Lessa verbalizou os ele-
des do desenvolvimento brasileiro. mentos postos por Celso Furtado

V ivenciamos uma conjuntura


de paradoxos. Há sentimen-
to majoritário da sociedade bra-
Aqui cabem referências às contri-
buições de Celso Furtado e a Ruy
Mauro Marini, defensores e mi-
em palestras, uma das quais as-
sisti. Segundo ele, na sociedade
brasileira configura-se um apar-
sileira, identificado em diferentes litantes de perspectivas significa- theid social. Uma situação social
pesquisas de opinião, de rejeição tivamente contraditórias entre si. em que poucos têm acesso a tu-
ao âmbito da política, particular- Digo contraditórias porque Celso do aquilo que o capitalismo glo-
mente da política partidária. As Furtado dedicou sua vida de ho- bal oferece de sofisticação de con-
inúmeras evidências de corrupção mem público a viabilizar o desen- sumo e ostentação, enquanto que
levantadas pelas operações da Po- volvimento capitalista brasileiro, muitos perseguem um simulacro
lícia Federal mostram falência es- enquanto que Ruy Mauro Mari- desta condição, imitando parcial
trutural da forma de representação ni empenhou energia comparável e imperfeitamente um consumo
política, engendrando perigosa la- para revolucionar esse mesmo tipo inalcançável. Isso significa, e este
cuna entre a vida social cotidiana de desenvolvimento, comprome- é o ponto, que a produção mais
e o funcionamento público, tan- tido com a alternativa socialista. sofisticada que ocorre interna-
to das ações regulares de execu- Contudo, ambos mostraram mente não apresenta extensão de latino-americano, e por isso mes-
ção das funções sociais do Estado aspectos centrais estruturais que, mercado suficiente, realizando-se mo o mais contestado, inclusive
quanto da formulação de políti- se não forem socialmente contem- em grande parte no mercado in- por marxistas brasileiros. A abor-
cas. O perigo decorre da descrença plados em debate e ações, julgo se- ternacional. dagem é evidentemente históri-
nas instituições públicas, abrindo rem impeditivos a qualquer pro- Ademais das consequências ca, buscando os elementos fun-
caminho para arbítrios. gresso social. Celso Furtado, em evidentes para o padrão de vi- damentais da formação social
O paradoxo flagrante está num seu livro de 1966, Estagnação e da social, há também consequên- brasileira.
comportamento social de cren- Subdesenvolvimento, chegou a afir- cias econômicas, já que os produ- O ponto de partida é o desen-
ça nas possibilidades autônomas mar que sem a formulação de um tos majoritariamente consumidos volvimento do capitalismo global
da economia, de modo que pare- projeto social genuinamente na- pela população brasileira não são e como se inserem nele a região e o
cem legitimados o isolamento e cional, que contemplasse as neces- dinâmicos, isto é, não apresentam Brasil. A transição brasileira acon-
primazia da política de estabilida- sidades históricas do povo brasi- demanda crescente em nível inter- tece em um momento em que a
de macroeconômica garantida pe- leiro e promovesse transformações nacional. Não estamos aqui nos Inglaterra e um conjunto de países
lo Banco Central. Não há oposição sociais, estaríamos condenados à referindo apenas à qualidade dos da Europa e América do Norte já
organizada de contestação à prio- estagnação. O livro e as suas con- produtos em si, que é inferior ao haviam completado seus processos
ridade de “saneamento” das con- clusões foram contestados naque- padrão do comércio internacional, de transição e já se encontravam
tas públicas. A grande mídia sus- la conjuntura e, posteriormente, mas, sobretudo, ao fato de que es- numa condição dinâmica de capi-
tenta, por reportagens e entrevistas confrontados com o dinamismo ses produtos não impulsionam a talismo avançado. Portanto, a in-
especializadas de profissionais que do período do “Milagre”. Mes- demanda agregada na forma de serção das economias da região na
atuam no sistema financeiro, que mo assim, dois dos seus elementos investimentos e inovação. divisão internacional do trabalho
é preciso seguir os passos de reto- merecem destaque pela importân- De sua parte, Ruy Mauro Ma- foi subordinada, estabelecendo-se
mada do crescimento e desenvolvi- cia que assumem nesta conjuntu- rini sustentou que o capitalismo nos produtos primários que havia
mento, começando por consolidar ra. O primeiro deles é a importa- brasileiro, como de resto o lati- disponíveis em abundância ou na-
as bases de contas públicas equili- ção de tecnologias incompatíveis no-americano, é deformado pela queles processados de baixo con-
bradas, não obstante o enorme gas- com as exigências sociais brasi- presença dominante da superex- teúdo tecnológico, oriundos da
to com juros da dívida pública. leiras; o segundo, relacionado ao ploração da força de trabalho. O agricultura ou minerais.
Do meu ponto de vista, os as- primeiro, é a manutenção de um conceito de superexploração é tal- A questão principal é que es-
pectos econômicos e políticos re- padrão de consumo social mui- vez sua contribuição mais impor- ta inserção inicial vem se reprodu-
alçados na atual conjuntura emba- to distante das possibilidades das tante por incorporar as contra- zindo mutatis mutandis desde en-
çam questões estruturais essenciais massas brasileiras. dições essenciais do capitalismo tão. De modo que o capitalismo

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10 Agenda alternativa

que se estabeleceu na região apre- rando que a transição brasileira ao Evidentemente, os elementos Estado que contenha a espoliação
senta especificidades, tratadas por capitalismo avançado foi cumprida estruturais colocados por Celso social, isto é, a transferência de re-
Marini como deformações, pelas ao final dos anos 1960, há exten- Furtado e Ruy Mauro Marini são cursos públicos sem restrições ou
consequências sociais que ele gera. são histórica significativa de opera- inerentes ao capitalismo, sobretudo condicionalidades, nas suas di-
Dentre essas consequências des- ção estrutural, corroborando a di- às formações sociais onde a depen- versas formas, ao âmbito privado.
taca-se a dominância da superex- ficuldade de sua superação dentro dência é constitutiva, de modo que Ainda que seja uma providência
ploração da força de trabalho, que da normalidade do desenvolvimen- não parecem ser superáveis dentro colocada dentro da ordem estabele-
poderia ser traduzida como níveis to capitalista. Não por outra razão, desta ordem social. Tampouco me cida, ela terá, pelas tensões internas
médios mais elevados de explora- Marini e outros dependentistas, parece colocada a possibilidade de distributivas que provoca, o poten-
ção da força de trabalho, provo- como Theotônio dos Santos e Vâ- uma revolução que venha a subver- cial de gerar transformação social e
cando baixa remuneração relativa nia Bambirra, afirmavam a alterna- ter essa ordem social, dada a sua ca- assim abrir caminho a transforma-
do trabalho e, portanto, baixo ní- tiva socialismo ou barbárie. racterística de ordem social global. ções mais ambiciosas.
vel relativo do consumo social. Num nível mais concreto de Mesmo assim, a resignação política
Há complexidade de análise, análise, ademais da condição de que o reformismo desenvolvimen- * É professor titular do Instituto de Eco-
pois o nível de abstração é elevado, desigualdade social que a dinâmi- tista denota parece-me inapropria- nomia e Relações Internacionais da Uni-
exigindo detalhamento concreto de ca de uma economia dependente da e fora de lugar numa sociedade versidade Federal de Uberlândia e mem-
bro da direção da Sociedade Latino
aspectos que fogem às possibilida- provoca, há a marginalização so- como a brasileira. Americana de Economia Política e Pensa-
des deste artigo. No que diz respei- cial decorrente da sua incapacida- Entendo que as transformações mento Crítico (Sepla) e foi presidente da
to às consequências dinâmicas, es- de de alcançar o coletivo social. A devam ser realizadas mediadas por Sociedade Brasileira de Economia Política
crevi um artigo publicado na REP dinâmica da economia não é ca- uma discussão concreta das nossas (SEP) de 2012 a 2016.
onde o argumento está detalha- paz de gerar empregos e empreen- possibilidades imediatas, tencio-
1 ALMEIDA FILHO, N. Nature of the
do1. A reprodução recorrente des- dimentos suficientes para ocupar nando elementos de conservação State economic expanded functions in
ta condição para a economia brasi- toda a população economicamen- da ordem e perseguindo aque- the Brazilian economy. Revista de Eco-
leira mostra o vigor dos elementos te ativa. O baixo nível de cresci- les que geram progresso real. Su- nomia Política (Impresso), v. 36, p. 91-
estruturais em operação. Conside- mento agudiza o problema. giro começar por um desenho do 108, 2016.

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Agenda alternativa 11

Os “riscos” da democracia
Guilherme Santos Mello* nos jornais impressos, radiofônicos da maior recessão da história bra-
e televisivos. Seja pronunciada por sileira, que rebaixa salários e pre-

O Brasil saiu da recessão e está


trilhando o caminho de volta
ao crescimento. A inflação foi de-
autoridades oficiais do governo, se-
ja exposta por analistas econômicos
e do mercado financeiro, a moral
ços livres. Nenhum desses fatores
está diretamente ligado às decisões
de política monetária e pode ha-
belada graças à atuação competente da história é sempre a mesma: Es- ver uma reversão caso as circuns-
da autoridade monetária. A situa- tamos no rumo certo na economia, tâncias se alterem no futuro, com
ção fiscal estará sob controle caso se mas a política pode atrapalhar! a eventual retomada do crescimen-
aprovem as reformas hoje presentes As evidências dos avanços no to, anos menos positivos do ponto
no Congresso. Com inflação baixa, campo econômico seriam peque- de vista climático ou a necessida-
finanças equilibradas e legislação nas, mas inequívocas. Em pri- de de novas rodadas de deprecia-
trabalhista mais flexível, o empre- meiro lugar, a redução da inflação ção cambial.
sário retomará sua confiança e vol- provaria a correção da política mo- Uma segunda “evidência” do
tará a investir, gerando uma nova e netária, que teria “quebrado a espi- propalado sucesso da atual política
mais equilibrada rodada de cresci- nha dorsal” da inflação no Brasil, econômica estaria na retomada do
mento. O único risco à deflagração nas palavras do presidente do Ban- crescimento. O resultado do PIB
deste processo positivo e harmo- co Central. No entanto, uma aná- do primeiro trimestre de 2017 foi Aqui entraria a terceira “evi-
nioso advém da política, tanto pela lise minimamente cuidadosa dos comemorado como a reversão de- dência” de sucesso da estratégia
possibilidade de retardar a tramita- dados não nos permite tamanho finitiva do longo período recessi- das atuais autoridades econômi-
ção das reformas (no caso da ma- otimismo, por que boa parte da re- vo enfrentado pelo Brasil, lançan- cas: a queda da inflação provoca-
nutenção do atual governo), quan- dução da inflação observada nos do as bases para um novo período ria o aumento da renda real, que,
to por eventualmente impedir sua últimos doze meses deriva de fato- de crescimento. Aqui, novamente, juntamente com as reformas, seria
aprovação e promover uma altera- res que pouco têm a ver com a atu- os dados não são nada animado- responsável por promover a reto-
ção na estratégia de política econô- ação das autoridades monetárias: res e contradizem o discurso ofi- mada do consumo, da confiança
mica atual (no caso da eleição de o fim do impacto do ciclo de au- cial. Em primeiro lugar, o cres- do empresariado e, como con-
um novo governo). Ou seja, a pró- mento dos preços administrados, o cimento se deu em cima de uma sequência, o retorno dos inves-
pria democracia colocaria em risco fim das pressões inflacionárias ad- base profundamente depreciada, o timentos. O problema é que es-
o sucesso de uma estratégia econô- vindas da depreciação cambial, a que faz com que pequenas varia- sa terceira evidência também não
mica correta e bem-sucedida. supersafra agrícola (que jogou para ções positivas em algumas variá- encontra respaldo na realidade:
Todas essas afirmações, e mui- baixo o preço dos alimentos) e cer- veis isoladas apareçam com grande apesar de ter retornado para pa-
tas outras derivações do mesmo te- tamente o fator mais importante: impacto no resultado agregado do tamares positivos, o aumento da
ma, são exaustivamente repetidas a pressão deflacionista decorrente PIB. Em segundo lugar, o fato de confiança do empresário não pro-
o crescimento ter se concentrado moveu uma elevação nos investi-
na agricultura (do lado da oferta) mentos; apesar da retração da in-
e nas exportações (como variável flação, não se observou nenhuma
de demanda), mostra a fragilidade melhoria na renda, no salário real
da expansão da atividade, depen- e no consumo das famílias traba-
dente de boas safras, preços inter- lhadoras, crescentemente assola-
nacionais de commodities e con- das pelo desemprego.
dições agrícolas. Por fim, a queda Se as evidências de sucesso da
expressiva dos investimentos e a política econômica fossem reais,
recorrente retração do consumo não apenas interpretações equivo-
das famílias apontam para uma cadas e fantasiosas dos dados, cer-
perspectiva nada animadora para tamente o risco político tão enfa-
o crescimento nos próximos tri- tizado pelos especialistas não seria
mestres, uma vez que a demanda tão grande. Se a estratégia liberal
continua se retraindo, apesar da da austeridade econômica, inicia-
rápida desaceleração da inflação. da com Levy e Dilma em 2015

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12 Agenda alternativa

e aprofundada (inclusive no lon- te isolados por conhecerem um se- líticos e econômicos que entreguem implementar um projeto de desen-
go prazo) por Temer e Meirelles gredo que poucos conhecem, ou crescimento e distribuição de ren- volvimento, seja ele qual for. Negar
ao aprovar a PEC do teto de gas- enxergarem fatos que apenas os da, ao invés de desemprego e au- essa possibilidade ao povo brasilei-
tos, tivesse sido bem-sucedida em “inteligentes podem ver”; encon- mento da pobreza. É isso que assus- ro, sob o argumento de “risco polí-
promover algum crescimento sus- tram-se isolados pela completa in- ta tanto os analistas econômicos de tico”, ou mesmo defender que não
tentado, retomando a renda e em- capacidade de sua estratégia entre- plantão, que insistem em profetizar há outra alternativa a não ser aque-
prego das famílias, certamente ela gar o mínimo de bem-estar social o desastre caso as políticas que de- la representada por sua ideologia, é
encontraria mais apoiadores den- para a grande maioria da popula- fendem sejam revertidas. uma forma de flertar com o auto-
tro da sociedade, não apenas os ção, enquanto mantém e garante Por trás do discurso de “risco ritarismo, mesmo que de maneira
poucos (mas muito escutados) re- os privilégios da minoria de ricos político”, observa-se um profun- velada. Se hoje a política é um obs-
presentantes do governo e do mer- e grandes proprietários. do desprezo pela democracia. É táculo para a verdadeira retomada
cado financeiro. Permeados por O que torna os riscos políticos evidente que as incertezas políti- do crescimento e do desenvolvi-
ideologia e interesses, estes atores tão decisivos é o fato de que, após cas afetam a decisão de investimen- mento econômico, a solução não é
sociais pregam no deserto ao de- três anos de experimentação desas- to dos empresários, mas a incerte- limitar a democracia, mas ampliá-
fenderem a importância dos cor- trosa, a austeridade e o liberalismo za existe porque temos diferentes -la, legitimando um novo governo
tes de gastos, dos juros altos, das fracassaram em entregar o que pro- projetos de nação em disputa, que pelo voto popular.
reformas antipopulares e da cres- meteram. Sendo assim, a população merecem ser apreciados pelo povo
* É professor do Instituto de Economia da
cente liberalização financeira e co- tende a novamente, assim como já brasileiro. Apenas um governo le- Unicamp e pesquisador do Centro de Es-
mercial. Diferente do que querem havia feito nos últimos quatro plei- gítimo, com credibilidade proferi- tudos de Conjuntura e Política Econômi-
fazer crer, não estão politicamen- tos eleitorais, escolher projetos po- da pelo voto popular, será capaz de ca (Cecon) da Unicamp.

Monografia

O JE publica o último resumo dos textos vencedores do 26º Prêmio de Monografia Economista Celso Furtado. O trabalho de conclusão
de curso de Thandara Maria Kathleen da Silva, graduada pela UFRRJ, recebeu menção honrosa no concurso.

Estrutura produtiva da economia fluminense:


uma análise de insumo-produto
Thandara Maria Kathleen da Silva* Paraolimpíadas de 2016. cionamento das relações de inter- tico de insumo-produto, uma vez que
Considerando o período pri- dependência entre as atividades este método é uma importante ferra-

D e acordo com o Instituto Brasi-


leiro de Geografia e Estatística
(IBGE), no ano de 2009, o estado do
vilegiado que foi vivido pelo es-
tado fluminense em termos de
aumento dos investimentos de-
econômicas de sua região, diferen-
temente de outras unidades da fe-
deração, como Minas Gerais e Rio
menta na análise da estrutura produ-
tiva de uma determinada região, as-
sim como seus principais indicadores,
Rio de Janeiro apresentou um PIB de correntes dos megaeventos espor- Grande do Sul. Sob essa perspecti- quais sejam: índices de Rasmussen-
R$ 353.878 milhões, representando tivos que o Rio de Janeiro sediou va, cabe aqui ressaltar que o conhe- -Hirschmann e os multiplicadores de
10,9% do PIB nacional, ficando atrás ao longo dos últimos anos, tor- cimento da estrutura produtiva e as produção, emprego e renda. De mo-
apenas do estado de São Paulo. Ade- nou-se importante o entendimen- relações intra e intersetoriais de uma do a implementar o modelo de insu-
mais, pode-se ressaltar que na década to de que é necessário o estabele- região permite a formulação de po- mo-produto, foi usada uma matriz re-
atual ocorreram importantes eventos cimento de estratégias que visem à líticas públicas mais eficazes na pro- gional de insumo-produto do Rio de
na cidade do Rio de Janeiro, como os promoção do crescimento e desen- moção do seu crescimento e desen- Janeiro disposta em 20 setores produ-
Jogos Mundiais Militares em 2011; volvimento econômico da região. volvimento econômico. tivos e tendo como ano de referência
a Conferência Mundial sobre De- Contudo, apesar da importância Diante dessa lacuna existente, es- 2009. Essa matriz foi obtida por meio
senvolvimento Sustentável (Rio+20) do Estado do Rio de Janeiro nas es- te trabalho possuiu o objetivo de da regionalização da matriz inter-re-
em 2012; a Copa das Confederações feras econômica, política e históri- analisar a estrutura produtiva e as gional de insumo-produto Rio de Ja-
e Jornada Mundial da Juventude em ca a nível nacional, verificou-se que relações intra e intersetoriais da neiro x Restante do Brasil para o ano
2013; a Copa do Mundo em 2014, a economia fluminense ainda care- economia do Estado do Rio de Ja- de 2009, com tecnologia setor x setor
tendo o Rio de Janeiro como uma das ce de informações que auxiliem em neiro para o ano de 2009. Para tan- disposta para vinte setores produtivos
doze cidades-sedes; e as Olimpíadas e um maior entendimento do fun- to, foi utilizado o instrumental analí- para cada região.

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Monografia 13

Primeiramente, por intermédio sobre a geração do número de em- produtiva local: Comércio; Indústrias interpretado de forma cautelosa e
dos índices de Rasmussen-Hirsch- pregos gerados, direta e indiretamen- Diversas; e Têxtil, Vestuário, Calçados. preocupante, uma vez que o cresci-
man, foram identificadas três ativi- te, na economia a partir da criação Por último, ainda de acordo com mento/desenvolvimento econômico
dades-chave na economia fluminen- de uma unidade de emprego neste os resultados obtidos, o setor de Refi- do estado do Rio de Janeiro é depen-
se: Mineração, Refino de petróleo e setor. Além deste, destacam-se tam- no de petróleo e coque também se des- dente das atividades relacionadas ao
coque e Energia elétrica. Esse resul- bém as atividades de Mineração e tacou na análise do multiplicador de petróleo. Estas atividades são suscetí-
tado significa que esses setores pos- Energia elétrica. Convém ainda dis- renda do tipo I. Além dele, merecem veis a fatores externos, tais como po-
suem uma elevada capacidade de di- correr que esses setores não se desta- ressalva os setores Material de trans- lítica externa de preços, geopolítica
namizar a economia da região, tanto caram em termos de geração de em- porte e Material elétrico e eletrônicos. do petróleo, regulação e normas da
pelo lado da oferta como pelo lado pregos diretos (multiplicador simples A Tabela 2 reporta os três setores que Organização dos Países Exportadores
da demanda, caso sejam estimula- do emprego), o que demonstra que apresentaram os maiores e os três seto- de Petróleo (OPEP) e até guerras em
dos. O resultado encontrado em re- estes setores possuem baixa emprega- res que tiveram os menores valores dos países produtores. A vulnerabilidade
lação aos setores de Refino de petró- bilidade, apesar de terem sido consi- multiplicadores supracitados. das atividades petrolíferas aos fatores
leo e coque e Mineração é justificado derados como setores chave na estru- Em linhas gerais, pode-se con- externos, portanto, faz com que po-
na medida em que a região do Rio tura produtiva do estado. cluir que o Estado do Rio de Janeiro líticas públicas nesses setores com o
de Janeiro foi a maior prospectora de Ao contrário, os resultados apon- é altamente dependente dos setores objetivo de desenvolver a economia
petróleo no ano de 2009. Além dis- taram, de um modo geral, que os se- ligados à atividade petrolífera, pois, fluminense percam autonomia.
so, convém ressaltar que a economia tores que mais gerariam empregos como foi verificado, estes setores se Orientador: Joilson de Assis Cabral
fluminense é altamente dependente decorrentes de variações na deman- mostraram capazes de dinamizar a
da atividade petrolífera em relação da final na economia fluminense são produção, o número de empregos e * É bacharela em Ciências Econômicas
à renda, emprego, e, principalmen- aqueles que não desencadeariam um renda no estado fluminense. pela Universidade Federal Rural do Rio
te, finanças públicas, no que tange ao aumento do dinamismo da estrutura Todavia, este resultado deve ser de Janeiro (UFRRJ)
repasse de compensações financeiras
– royalties do petróleo. A Tabela 1
Tabela 1 - Índices de ligação e setores-chaves para a economia fluminense.
apresenta quais dos 20 setores pro-
dutivos do Estado do Rio de Janeiro Linkages
Setor Setor-chave
referentes ao ano de 2009 possuem Para Frente Para Trás
linkages para trás e para frente, e tam- Agropecuária - -
bém os setores-chaves da região. Mineração Sim Sim Setor-chave
Indústria de Minerais Não Metálicos - Sim
Em seguida, a análise do multi- Metalurgia Sim -
plicador de produção permitiu desta- Máquinas e Equipamentos - Sim
car os três setores que possuem um al- Material Elétrico e Eletrônicos - Sim
to impacto sobre a produção a partir Material de Transporte - Sim
de alterações da demanda final, quais Madeira, Mobiliário, Papel - -
Refino de petróleo e coque Sim Sim Setor-chave
sejam: Refino de petróleo e coque, Outros Químicos e Farmacêuticos Sim -
Material de transporte e Energia elé- Têxtil, Vestuário, Calçados - -
trica. Já os três setores que possuem Produtos Alimentícios - -
os menores valores são: Construção, Indústrias Diversas - Sim
Energia Elétrica Sim Sim Setor-chave
Agropecuária e Comércio. Esses úl-
Outros Serviços Industriais de Utilidade Pública (SIUP) - Sim
timos resultados podem ser justifi- Construção - -
cados na medida em que o setor de Comércio Sim -
construção no Rio de Janeiro é muito Transportes Sim -
incipiente e altamente dependente de Serviços Privados Sim -
Governo e Serviços Públicos - -
insumos de outros Estados do Brasil.
Fonte: Autor (2015).
Por sua vez, o resultado referente ao
setor de Agropecuária mostra que o Tabela 2 - Setores com Maiores e Menores Multiplicadores de Produção,
estado não possui vocação produto- Simples do Emprego, do Emprego do Tipo I e da Renda do Tipo I.
ra nesta atividade. Já o resultado refe-
Multiplicador Multiplicador Multiplicador Multiplicador
rente ao setor de comércio era espera- Posição
de Produção Simples do Emprego do Emprego Tipo I da Renda Tipo I
do, uma vez que este setor situa-se no 1ª Refino de petróleo e coque Comércio Refino de petróleo e coque Refino de petróleo e coque
final na cadeia produtiva, possuindo 2ª Material de Transporte Indústrias Diversas Mineração Material de Transporte
uma baixa interdependência com os 3ª Energia Elétrica Têxtil, Vestuário, Calçados Energia Elétrica Material Elétrico e Eletrônicos
demais setores. 18ª Comércio Mineração Indústrias Diversas Indústrias Diversas
Com relação ao multiplicador 19ª Agropecuária Refino de petróleo e coque Governo e Serviços Públicos Comércio
de emprego do tipo I, ficou consta- 20ª Construção Energia Elétrica Comércio Governo e Serviços Públicos
tado que o setor de Refino de petró- Fonte: Autor (2015).
leo e coque possui amplo destaque
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14 Fórum Popular do Orçamento

“Nenhum tipo de violência é justificável


e todo tipo de violência é evitável.”
Organização das Nações Unidas

M ax Weber, em 1918, funda-


mentou sua definição históri-
ca de Estado, na qual lhe atribuiu o
mundo em 2014. Somente no esta-
do do Rio são registradas em mé-
dia 2.200 ocorrências por dia, sen-
No Município, a porcentagem de
5,2% registrada em 2015 saltou pa-
ra 10,4% em 2016. O Gráfico 1 ex-
2016 e o deste ano. Tal fato pode ser
explicado pela finalização das gran-
des obras de infraestrutura realiza-
monopólio do uso legítimo da vio- do que, aproximadamente, 50% são pressa a evolução do desemprego no das para a Olimpíada em 2016.
lência. Para ele, o Estado, somente registros feitos na capital. No perí- município. Trata-se da maior taxa Outro fator que expressa de for-
por meio do uso da força física, al- odo de 2012 até 2016, observou-se de desemprego que o IBGE levan- ma significativa a recessão brasilei-
cançava sua legitimidade dentro de um aumento de 12% do número de tou desde que passou a ser divulga- ra é a queda do PIB nacional. Se-
um território. Hoje, quase 100 anos ocorrências no estado, acompanha- da por nova metodologia de pesqui- gundo o IPEADATA, enquanto de
depois, a teoria ainda parece se en- do de um aumento de igual dimen- sa, em 2012. 2012 a 2014 o Produto apresentou
caixar em diversos momentos da re- são no município. No primeiro trimestre de 2017, taxas estáveis de aumento, estabili-
pública brasileira. Consequentemente (ou não), a a população desempregada no esta- dade acompanhada pelos PIBs do
Dada a deterioração dos indica- população sofre com um aumento do chegou a 1,2 milhão, cerca de estado e do município, a partir de
dores socioeconômicos e as constan- no desemprego. Uma pesquisa feita 401 mil a mais que no mesmo pe- 2015 houve uma queda de 7% con-
tes divergências políticas nos últi- pelo Plano Nacional de Domicílios ríodo do ano passado. Além disso, tando com o ano de 2016.
mos anos, é evidente o aumento de - Pnad/IBGE mostrou que em 2015 o IBGE destacou que o Rio foi o A insatisfação diante da instabi-
conflitos nas ruas do país, principal- a taxa de desemprego do estado era quinto estado do país com o maior lidade política e econômica, acom-
mente nas grandes capitais. Junto a de 8,5%, quase 5% a menos que a aumento no número de desempre- panhada do medo trazido pela
isso, os manifestantes, comumen- taxa registrada em 2016, de 13,4%. gados entre o primeiro trimestre de crescente violência, traz à tona a im-
te, apresentam-se insatisfeitos com a
permanente repressão policial, que é Gráfico 1 - População Desempregada, em mil pessoas, do Município do Rio (2012 a 2016)
respaldada sob o argumento de ma-
nutenção da ordem pública.
Nesse contexto, este estudo pre-
tende fazer uma comparação, com
enfoque no estado e município do
Rio, entre a crise econômica e a va-
riação das despesas com segurança
pública. Para isso, foram analisados
os gastos do município, do esta-
do e da Força Nacional, encontra-
dos, respectivamente, na Prestação
de Contas, no Portal Transparência
do Estado e na Transparência Públi-
ca da União. Todos os dados foram
deflacionados utilizando o IPCA de
março de 2017.
Fonte: Estudo “O Rio em perspectiva – um diagnóstico de escolhas públicas”, produzido pela Fundação Getúlio Vargas.

O contexto da crise Quadro 1 - Comparação entre manifestações dos últimos quatro anos e o número de presentes
atrelado ao avanço das
manifestações Manifestação/Ano Estimativa

A crise que assola o país é refle- Protesto de servidores públicos federais por
200 (Centro de Operações da Prefeitura)
melhores condições de trabalho/2012
tida nos números que representam
os dados socioeconômicos, como a Protesto contra o preço e a qualidade do transporte
Tais protestos levaram cerca de um milhão de pessoas às ruas.
queda do PIB e o aumento no de- público/2013

semprego e no índice de criminali- Protesto de professores, rodoviários, entre outros,


1,3 mil (PM)
dade de cada estado. De acordo com contra a Copa do Mundo/2014

dados do relatório Índice de Pro- Protesto antigoverno PT/2015 15 mil (PM)/100 mil (Mov. “Vem Pra Rua”)
gresso Social, elaborado por Social
Protesto pró-impeachment/2016 1 milhão (Organizadores do Ato)
Progress Imperative, o Brasil foi con-
Fonte: G1.com
siderado o 11° país mais inseguro do

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portância de análise dos dados que Quadro 2 - Variação da despesa total e da despesa com segurança pública
apontam a gênese de cada movi- Ano Despesa Total Variação Despesa Seg. Pública Variação Participação da PM na Seg. Públ.
mento popular ocorrido nos últimos 2012 R$ 87.401.534.199,56 R$ 9.114.476.019,52 41%
anos. A partir de certas pesquisas se- 2013 R$ 92.940.160.612,63 6% R$ 10.666.854.087,97 17% 42%
lecionamos algumas manifestações, 2014 R$ 91.880.789.330,00 -1% R$ 10.987.946.343,98 3% 47%
e as suas devidas reivindicações, que 2015 R$ 73.421.193.868,17 -20% R$ 11.027.901.920,80 0% 41%
nos ajudam a compreender o cená- 2016 R$ 62.207.612.422,33 -15% R$ 10.798.821.653,84 -2% 43%
rio do Rio. Para o Quadro 1, foi se- Variação Total -29% 18%
lecionada uma manifestação para ca- Fonte: Portal Transparência do Estado do Rio de Janeiro – 2012 a 2016
da um dos últimos cinco anos.
Uma relevante observação a ser Quadro 3 - Despesas por subelemento
feita sobre os dados a respeito das Munição, explosivos Equip. e apare. Aeronaves, veículos
Ano Serviços secretos
manifestações é o expressivo aumen- e armamento de telecom. e carros de combate
to no número de presentes. Este sal- 2012 R$ 9.151.619,80 R$3.733.430,64 R$5.269.689,28 R$ 71.086.183,59
to é acompanhado de um cresci- 2013 R$ 10.493.556,66 R$3.168.139,67 R$7.006.935,51 R$ 73.578.329,76

mento na repressão. Nesses últimos 2014 R$ 6.065.016,47 R$5.069.630,16 R$55.332.001,98 R$ 125.544.951,94


2015 R$ 8.132.102,56 R$3.447.804,57 R$19.788.919,89 R$ 73.616.254,92
cinco anos, tornaram-se recorren-
2016 R$ 3.710.720,65 R$2.227.856,44 R$18.788.919,89 R$ 65.678.840,72
tes as manchetes que evidenciam o
2017 R$ 32.730,19 R$1.103.039,54
grande aumento no uso da repressão
como forma de conter o público em Fonte: Portal Transparência do Estado do Rio de Janeiro – 2012 - 04/2017

meio aos movimentos sociais. Para Quadro 4 - Trajetória das Despesas do Município
tanto, são usados spray de pimen-
ta, bombas de efeito moral, balas de Trajetória de Despesas do Município
borracha, entre outras armas classifi- Ano Despesa Total do Município Gasto Total com Ordem Pública Percentual referente à Guarda Municipal

cadas como não letais. 2012 R$ 28.719.054.380,00 R$ 419.571.239,40 95,72%


2013 R$ 28.294.966.160,00 R$ 437.479.155,57 95,42%

Segurança 2014 R$ 29.921.531.310,00 R$ 534.428.847,40 95,45%


2015 R$ 30.531.973.000,00 R$ 541.533.657,16 93,97%
ou repressão?
2016 R$ 29.710.454.950,00 R$ 556.610.228,57 93,61%
Hoje, apesar de a Constituição
Fonte: Prestação de Contas: 2012-2016
garantir o direito à liberdade de ex-
pressão, a repressão policial ainda é Quadro 5 - Despesas da Força Nacional, Polícia Militar e Guarda Municipal de 2012 a 2017
um instrumento amplamente utili-
zado para dispersar manifestantes. Ano Força Nacional Polícia Militar Guarda Municipal
2012 R$73.011.280,82 R$3.696.709.312,78 R$ 401.610.300,01
Observa-se que, em um contexto de
2013 R$176.498.893,96 R$4.523.189.457,39 R$ 417.429.316,58
difícil situação econômica, o gover-
2014 R$179.493.066,21 R$5.199.235.445,73 R$ 510.112.409,53
no ainda emprega boa parcela do or-
2015 R$121.720.829,56 R$4.492.798.206,17 R$ 508.870.822,26
çamento com segurança pública e
2016 R$97.293.331,00 R$4.675.464.726,69 R$ 521.021.733,63
com a introdução de novas estraté- 2017 R$65.024.697,29 R$1.585.473.019,62 R$ 34.698.573,23
gias para a manutenção da ordem.
Fonte: Transparência Fiscal; Portal Transparência Pública e Prestação de Contas. 2012 - 04/2017.
Em sua história, o Rio presen-
ciou manifestações populares de
grande relevância para a conjuntu- insatisfações na população, notam- com segurança aumentou o seu pe- to da coibição de manifestações po-
ra do país. Nesse contexto, surgiu -se dados que merecem destaque so de 10% em 2012 para 17% em pulares, destacam-se os gastos com:
a Polícia Militar do Rio de Janei- nas despesas com segurança e que 2016, sendo o aumento mais rele- Munição, Explosivos e Armamen-
ro, comumente defendendo interes- indicam a sua relevância na estru- vante em 2013, ano das “jornadas to, onde estão, entre outras coisas,
ses das classes dominantes da região. tura estadual. de junho”. compras de munições considera-
Ora para reprimir, ora para defender, Ao comparar a variação da des- Em relação à PMERJ, esta apre- das não letais; Serviço Secreto, no
a PMERJ esteve envolvida em boa pesa total do governo com a despe- sentou uma maior participação a qual se situam os gastos com poli-
parte dos movimentos nas ruas des- sa na função segurança pública no partir de 2013 e principalmente em ciais infiltrados em meio a manifes-
de a sua criação, e continua atuando período de 2012 a 2016, percebe- 2014, onde atingiu 47% da despesa tantes; Equipamentos e Aparelhos
vigorosamente nos dias atuais. -se que, enquanto o gasto com segu- com segurança pública. Já nos anos de Comunicação, onde são incluí-
A partir de 2013, o Rio passou rança aumentou 18%, o gasto total seguintes, apresentou uma queda, das as compras de novas ferramentas
por momentos de muitos conflitos encolheu 29%. Vale ressaltar, tam- voltando a patamares anteriores. Tais de vigilância e manipulação de siste-
entre o poder público e o povo. Em bém, que apesar da crise, que di- dados são observados no Quadro 2. mas eletrônicos de telecomunicação;
meio aos megaeventos e a crise po- minuiu a receita estadual e afetou Em relação às despesas com fato- e Aeronaves, Veículos e Carros de
lítico-econômica que gerou graves drasticamente o orçamento, o gasto res específicos que entram no âmbi- Combate, que, além de serem gastos

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16 Fórum Popular do Orçamento

exigidos no combate à criminalidade Já no que concerne às despesas despesas municipais, verifica-se que dencia a trajetória das despesas dos
em geral, também participam na re- em serviços secretos e com equipa- as mesmas apresentaram um au- principais órgãos responsáveis pela
pressão de grandes aglomerações. mentos e aparelhos de telecomunica- mento de 3% no período de 2012 a segurança das três esferas.
Vê-se no Quadro 3 as despesas ções, o destaque é para 2014, ano de 2016, do qual 14% são referentes a
com cada um desses subelementos, novas exigências e introdução de es- gastos com ordem pública. Ademais, Considerações
no período entre 2012 e 2017. tratégias de vigilância e controle do é válido ressaltar que os gastos com finais
A respeito das munições, explo- espaço virtual. De acordo com o ar- a Guarda tiveram um aumento ex- A partir do estudo realizado, é pos-
sivos e armamentos, o maior gasto tigo “Como as Olimpíadas ajuda- pressivo, na ordem de 30%, quan- sível obter uma boa percepção do
é observado em 2013, ano de gran- ram o Brasil a aumentar seu aparato do comparados à modesta variação quadro geral da segurança pública
des conflitos e anterior à Copa. Des- de vigilância social” da Revista VI- da despesa total. O quadro 4 mostra e dos indicadores sociais do Rio.
tacam-se também os anos de 2012 e CE, há um movimento atual no pa- essa trajetória: Nota-se que os gastos estaduais e
2015: este último que antecedeu o ís, que encontrou respaldo nos gran- Dentro dessa ótica de seguran- municipais com segurança em geral,
exercício no qual ocorreram as Olim- des eventos, de aquisição de novos ça, destaca-se o programa Rio em Or- que incluem a atuação da PMERJ
píadas. Nota-se uma preparação pré- instrumentos de monitoramento, co- dem, que tem como objetivo de am- e da Guarda respectivamente,
via para os megaeventos, visto que, mo os StingRays, tecnologia capaz de pliar a atuação da Guarda, através do cresceram acima da variação da
em 2014 e 2016, os gastos foram me- identificar quem está usando celular aumento de seu efetivo e moderniza- criminalidade no período de 2012
nores do que nos outros anos. no seu raio de alcance ou até conse- ção de seus procedimentos e sua infra- a 2016. Somado a isso, encontra-se
É evidente que a despesa com es- guir acesso irrestrito aos aparelhos. estrutura. Neste quesito, podemos res- uma ajuda crescente da União, por
ses subelementos não é composta O texto afirma: “foi mais ou me- saltar que a partir de 2014 a prefeitura meio da Força Nacional.
apenas de aparatos de repressão e in- nos o que aconteceu a partir dos pro- começou a investir em modernização Ao mesmo tempo, os dados de-
clui diversos outros armamentos para testos de junho de 2013 e contra a e capacitação da mesma, chegando ao monstram despesas significativas em
combater a criminalidade. No entan- Copa do Mundo, quando começa- montante total de R$ 1.824.878,90 armamentos considerados não letais,
to, ao analisar os contratos do esta- ram as rondas virtuais, prática na investidos em três anos. serviços secretos e equipamentos de
do com a empresa Condor S/A Ind. qual policiais varrem redes sociais em telecomunicação, que demonstram
Química, maior fabricante brasileira busca de quaisquer indícios que pu- Força Nacional introdução de novas estratégias para
de tecnologias não letais, encontram- dessem incriminar suspeitos.” de Segurança Pública combate de movimentos considera-
-se, de 2012 a 2016, compras realiza- Os investimentos em aeronaves, Já no âmbito nacional, verifica-se dos afrontadores da ordem pública.
das no valor de R$ 6,8 milhões. Nes- veículos e carros de combate também que os gastos com a Força Nacional Visto isso, percebe-se que, em
te período, são destaques os contratos deram um salto em 2014, indicando também apresentaram variações sig- um contexto de grave crise política
do ano de 2012, no qual a aquisição novamente uma renovação nos mate- nificativas no período 2012- 2016. e econômica que ocasionou grandes
desses materiais chegou a um valor de riais e introdução de novos meios de Entre 2012 e 2014, houve um au- manifestações populares no estado,
R$ 5 milhões, representando signifi- manutenção da ordem pública na se- mento de R$ 106.481.785,39 dessa o governo não conteve esforços para
cativos 54% do gasto total em muni- gurança do estado neste ano. despesa, seguido de uma queda gra- tentar amenizar as reivindicações de
ções e explosivos. Não é possível afir- dual nos anos subsequentes. Vale- se direitos e enfraquecer os movimen-
mar nada sobre os altos valores nessas Guarda Municipal destacar que o aumento inicial deu- tos, combatendo com forte repres-
transações, mas pode-se supor que Podemos destacar o papel da -se no período de expansão das ma- são em diversos momentos. Assim,
também seja uma forma de prepa- Guarda como principal órgão res- nifestações sociais e de preparação parece que a prioridade governa-
ração para os megaeventos ocorridos ponsável pela manutenção da ordem para o recebimento de um megae- mental é reprimir a contestação e
posteriormente. pública. Dessa forma, ao analisar as vento internacional. O quadro 5 evi- não solucionar as suas causas.

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