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Uma agenda
econômica
alternativa
Rubens R. Sawaya, Carlos
Frederico Rocha, Plínio de
Arruda Sampaio Jr., Niemeyer
Almeida Filho e Guilherme
Santos Mello foram instados
a propor uma agenda
econômica alternativa
à atual e com viabilidade
de implementação
Órgão Oficial do CORECON - RJ Presidente: José Antonio Lutterbach Soares. Vice-presidente: João Manoel Gonçalves Barbosa.
E SINDECON - RJ Conselheiros Efetivos: 1º TERÇO: (2017-2019) Arthur Camara Cardozo, João Manoel Gonçalves
Issn 1519-7387 Barbosa, Regina Lúcia Gadioli dos Santos - 2º TERÇO: (2015-2017) Antônio dos Santos Maga-
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são dos serviços públicos que de- sendo substituídas pelo autosser- nais de televisão são substituídos centemente globalizado por essas
ve guiar um projeto de desenvol- viço. Esse é o caso da indústria por streaming. A indústria hote- tecnologias. A exploração da cul-
vimento nacional. moveleira, que vem se constituin- leira perde espaço com a entra- tura local, do saber específico de-
Um segundo elemento para do em simples indústria de corte. da de sítios de internet que atu- senvolvido, da natureza e do pa-
a formulação de uma política de Isso significa que o emprego in- am na provisão descentralizada de trimônio constituído surge como
desenvolvimento de longo prazo dustrial cairá ao longo do tempo e leitos e aluguel de habitação de a principal possibilidade de cria-
para o Brasil é a forte mudança que propostas de desenvolvimen- curta duração. E, se antes o tra- ção de valor. São espaços de uso
tecnológica baseada na crescente to baseadas no retorno à indús- balho mais qualificado era pre- comum que não são passíveis de
aplicação das tecnologias digitais tria tradicional e à desvalorização servado e o menos qualificado serem apropriados ou copiados
e de inteligência artificial. O im- cambial não serão bem-sucedidas. substituído, as tecnologias de in- externamente.
pacto dessas tecnologias sobre o O comércio, que vinha sen- teligência artificial parecem atacar Assim, grandes desafios apa-
mundo do trabalho não pode ser do um importante setor de absor- também aqueles de maior qualifi- recem para a política econômica,
menosprezado. O número de ta- ção de mão de obra, vem também cação. Aulas vêm sendo ministra- quase todos desconectados das re-
das à distância e novos instrumen- formas ora em andamento. O pri-
tos de interação substituem parte meiro desafio é a constituição de
das atividades presenciais atuais, uma forma alternativa de apro-
assim como também ocorre com priação da renda, que permita a
consultas e cirurgias médicas. repartição do valor produzido lo-
Ainda que essas profissões possam calmente. Não estão fora dessas
não vir a desaparecer, as qualifica- alternativas políticas de renda mí-
ções necessárias e os instrumentos nima. O segundo desafio é a cons-
de trabalho se transformarão. tituição de uma nova agenda tri-
Não há, portanto, como proje- butária que permita se adequar à
tar um futuro em que a estrutura nova realidade produtiva e, prin-
do emprego, as habilidades labo- cipalmente, reduzir a regressivi-
rais e as formas de apropriação da dade atual de nossa tributação. O
renda se mantenham no forma- terceiro desafio é a cessação das
to atual. Fundamentalmente, não desonerações implantadas nos go-
há como se projetar um futuro su- vernos Lula e Dilma. O quarto
pondo que estaremos alheios a es- desafio é a mudança de foco das
sa realidade. Três consequências políticas de financiamento do ca-
devem ser pensadas. A primei- pital e do consumo. Não pare-
ra é que a falta de emprego pode ce razoável comprometer a infra-
tornar políticas de transferência estrutura atual com o aumento
de renda algo mais importante de tamanho do mercado interno
do que simplesmente o comba- para a indústria automobilística
te à pobreza extrema. Novos sis- e seus pares. Mudanças de agen-
temas de repartição da renda de- da são necessárias e os recursos de
verão ser elaborados. A segunda financiamento devem estar volta-
é que a provisão de infraestrutu- dos para as demandas que surgi-
ra e qualificações que lidem com ram nas manifestações de 2013,
refas e procedimentos realizados perdendo postos de trabalho pa- o ambiente de tecnologias digi- mais a necessidade de infraestru-
por robôs vem crescendo e o seu ra essas novas tecnologias. Estatís- tais e inteligência artificial passou tura de rede de alta velocidade. Fi-
custo caindo. A tendência é que, ticas mostram que o emprego em a ser uma necessidade e não pode nalmente, estamos devendo à po-
nos próximos anos, robôs venham lojas de departamento nos Esta- ser deixada de fora de um projeto pulação um sistema de regulação
a substituir plenamente o que res- dos Unidos, em 2017, havia caído nacional. Terceiro, as característi- das indústrias de rede e infraestru-
ta de mão de obra em indústrias a 1,3 milhão, abaixo dos 1,5 mi- cas locais devem ser valorizadas. tura de qualidade que não permi-
como a automobilística e a têx- lhão de 25 anos atrás. Essas tecno- A diversidade ambiental e cultu- ta que agências sejam capturadas.
til. Algumas atividades de monta- logias substituem ainda trabalho ral pode vir a ser a principal for-
gem, anteriormente realizadas na em agências de viagem, telefonia ma de diferenciação produtiva a * É doutor em Economia e professor do
indústria de transformação, vêm e ócio. Cinemas desaparecem, ca- prevalecer em um ambiente cres- IE/UFRJ.
papel dos políticos como elo para a crise terminal da Nova beralismo. Para tanto, será ne- • Romper com o padrão mimé-
de mediação entre os interes- República. “Diretas Já” como cessário desmantelar o arcabou- tico de modernização do con-
ses públicos e privados fica irre- ponto de partida e “Revolu- ço jurídico que dá sustentação sumo e estilos de vida e definir
mediavelmente comprometido. ção Democrática” como ponto ao padrão de acumulação libe- prioridades materiais que se-
Transformados em representan- de chegada devem ser as refe- ral periférico brasileiro – o Pla- jam compatíveis com as possi-
tes diretos dos interesses do ca- rências fundamentais que nor- no Real. Sem a revogação da bilidades da economia brasileira
pital no interior do Estado, os teiam a luta política das forças Lei de Responsabilidade Fiscal e com as necessidades funda-
políticos abraçam, sem qual- comprometidas com a constru- e a reestruturação da dívida pú- mentais da população – mudan-
quer contraponto, a agenda de ção de uma agenda de combate blica, o regime fiscal fica subor- ça que supõe organizar a socie-
desmonte das conquistas traba- à barbárie. dinado à ditadura do rentismo. dade com base em uma ética de
lhistas e democráticas que esta- Sem uma substancial am- Sem a centralização do câm- solidariedade e cooperação, ten-
beleciam um patamar mínimo pliação da democracia, é im- bio e a monopolização das re- do como perspectiva a constru-
de civilidade à sociedade. possível imaginar a possibilida- lações externas, o país não tem ção de uma vida social baseada
Ao explicitar o conteúdo de de uma mudança radical nas como se defender dos movi- na igualdade substantiva entre
ditatorial da democracia bur- prioridades que orientam a po- mentos de fuga de capitais nem todos os seres humanos;
guesa, o capital afirma seu des- lítica econômica. O essencial é subordinar a utilização das di- • Modificar qualitativamente os
potismo implacável sobre a inverter o sentido das respos- visas internacionais às necessi- parâmetros sociais e institucio-
sociedade. A banalização do de- tas que vêm sendo dadas à cri- dades do conjunto da popula- nais que regem a organização
bate público, a criminalização se econômica. Ao invés de dar ção. Sem a colocação do Banco do mundo do trabalho, de for-
dos movimentos sociais e a des- primazia aos negócios do capi- Central sob controle democrá- ma a eliminar todas as formas
truição do sistema político esva- tal internacional e à moderni- tico, submetido a prioridades de hierarquias subjacentes à ex-
ziam a democracia de qualquer zação dos padrões de consumo definidas pela soberania popu- ploração e dominação do traba-
conteúdo popular. Hermetica- de uma exígua parcela da popu- lar, o poder da moeda não pode lho pelo capital; e
mente fechado aos de baixo, o lação, a política econômica de- ser subordinado a uma estraté- • Graduar a introdução e difu-
circuito político torna-se um ve colocar em primeiro plano as gia de reconstrução do mercado são de progresso técnico, tendo
condomínio restrito da pluto- necessidades fundamentais do interno e desenvolvimento das em vista o objetivo de elevar as
cracia. Nesse contexto, o raio conjunto dos trabalhadores – forças produtivas a ele vincu- condições de vida, materiais e
de manobra para uma política emprego digno para todos, re- ladas. “Fim da Lei de Respon- existenciais, do conjunto da po-
econômica alternativa é nulo. forma urbana, reforma agrária, sabilidade Fiscal”, “Controle pulação e sem perder de vista a
Ameaçados pela virulência respeito ao meio ambiente, pro- popular das Reservas Interna- importância estratégica da pre-
da ofensiva do capital, os brasi- teção das nações indígenas etc. cionais”, “Auditoria Política da servação do meio ambiente.
leiros que vivem do próprio tra- “Fora Ajuste”, “Direitos Já”, Dívida Pública”, “Controle de- A combinação de crises eco-
balho estão obrigados a buscar “Trabalho”, “Teto”, “Terra” e mocrático sobre o Banco Cen- nômica e política de grande en-
novos caminhos para o enfrenta- “Transporte” devem ser consig- tral”, “Abaixo o Plano Real” são vergadura, que se reforçam re-
mento da grave crise civilizató- nas de uma política econômica as palavras de ordem que dão ciprocamente, configura uma
ria que ameaça a sua existência. comprometida com os interes- consequência ao caráter demo- conjuntura particularmente ad-
O primeiro desafio é superar o ses estratégicos dos trabalhado- crático e anti-imperialista de versa. As tendências inscritas no
bloqueio mental que naturaliza res brasileiros. uma agenda de ruptura com o movimento histórico são im-
o capitalismo e alimenta o sen- A fim de proteger a econo- ajuste neoliberal. placáveis. A sociedade brasileira
so comum de que nenhuma po- mia popular e os interesses na- Por fim, uma política eco- encontra-se numa encruzilhada
lítica econômica é viável se não cionais do terrorismo econô- nômica alternativa supõe a decisiva. A revolução brasileira
contar com a aprovação do gran- mico do grande capital, que construção de um horizonte es- sufocada pela ditadura militar
de capital. Sem coragem, criati- utiliza a desestabilização finan- tratégico para a organização das em 1964 volta à ordem do dia
vidade e ousadia para se colocar ceira e a asfixia econômica co- forças produtivas, que coloque como revolução operária. Vista
à altura das necessidades históri- mo meios de retaliação contra como prioridade a elevação sis- em perspectiva de longa dura-
cas, a sociedade fica condenada à os que ousam desafiar os status temática do patamar civilizató- ção, a escolha real é entre socia-
miséria do possível. quo, uma política econômica rio da sociedade. São três os ve- lismo ou barbárie.
A tarefa imediata é política: alternativa deve superar o blo- tores fundamentais que devem
derrubar o governo espúrio de queio institucional que aprisio- orientar o desdobramento do * É professor do Instituto de Economia
Temer e dar uma solução de- na os instrumentos de controle processo de superação da or- da Universidade Estadual de Campinas
mocrática, de baixo para cima, da economia às teias do neoli- dem global: (Unicamp).
que se estabeleceu na região apre- rando que a transição brasileira ao Evidentemente, os elementos Estado que contenha a espoliação
senta especificidades, tratadas por capitalismo avançado foi cumprida estruturais colocados por Celso social, isto é, a transferência de re-
Marini como deformações, pelas ao final dos anos 1960, há exten- Furtado e Ruy Mauro Marini são cursos públicos sem restrições ou
consequências sociais que ele gera. são histórica significativa de opera- inerentes ao capitalismo, sobretudo condicionalidades, nas suas di-
Dentre essas consequências des- ção estrutural, corroborando a di- às formações sociais onde a depen- versas formas, ao âmbito privado.
taca-se a dominância da superex- ficuldade de sua superação dentro dência é constitutiva, de modo que Ainda que seja uma providência
ploração da força de trabalho, que da normalidade do desenvolvimen- não parecem ser superáveis dentro colocada dentro da ordem estabele-
poderia ser traduzida como níveis to capitalista. Não por outra razão, desta ordem social. Tampouco me cida, ela terá, pelas tensões internas
médios mais elevados de explora- Marini e outros dependentistas, parece colocada a possibilidade de distributivas que provoca, o poten-
ção da força de trabalho, provo- como Theotônio dos Santos e Vâ- uma revolução que venha a subver- cial de gerar transformação social e
cando baixa remuneração relativa nia Bambirra, afirmavam a alterna- ter essa ordem social, dada a sua ca- assim abrir caminho a transforma-
do trabalho e, portanto, baixo ní- tiva socialismo ou barbárie. racterística de ordem social global. ções mais ambiciosas.
vel relativo do consumo social. Num nível mais concreto de Mesmo assim, a resignação política
Há complexidade de análise, análise, ademais da condição de que o reformismo desenvolvimen- * É professor titular do Instituto de Eco-
pois o nível de abstração é elevado, desigualdade social que a dinâmi- tista denota parece-me inapropria- nomia e Relações Internacionais da Uni-
exigindo detalhamento concreto de ca de uma economia dependente da e fora de lugar numa sociedade versidade Federal de Uberlândia e mem-
bro da direção da Sociedade Latino
aspectos que fogem às possibilida- provoca, há a marginalização so- como a brasileira. Americana de Economia Política e Pensa-
des deste artigo. No que diz respei- cial decorrente da sua incapacida- Entendo que as transformações mento Crítico (Sepla) e foi presidente da
to às consequências dinâmicas, es- de de alcançar o coletivo social. A devam ser realizadas mediadas por Sociedade Brasileira de Economia Política
crevi um artigo publicado na REP dinâmica da economia não é ca- uma discussão concreta das nossas (SEP) de 2012 a 2016.
onde o argumento está detalha- paz de gerar empregos e empreen- possibilidades imediatas, tencio-
1 ALMEIDA FILHO, N. Nature of the
do1. A reprodução recorrente des- dimentos suficientes para ocupar nando elementos de conservação State economic expanded functions in
ta condição para a economia brasi- toda a população economicamen- da ordem e perseguindo aque- the Brazilian economy. Revista de Eco-
leira mostra o vigor dos elementos te ativa. O baixo nível de cresci- les que geram progresso real. Su- nomia Política (Impresso), v. 36, p. 91-
estruturais em operação. Conside- mento agudiza o problema. giro começar por um desenho do 108, 2016.
Os “riscos” da democracia
Guilherme Santos Mello* nos jornais impressos, radiofônicos da maior recessão da história bra-
e televisivos. Seja pronunciada por sileira, que rebaixa salários e pre-
e aprofundada (inclusive no lon- te isolados por conhecerem um se- líticos e econômicos que entreguem implementar um projeto de desen-
go prazo) por Temer e Meirelles gredo que poucos conhecem, ou crescimento e distribuição de ren- volvimento, seja ele qual for. Negar
ao aprovar a PEC do teto de gas- enxergarem fatos que apenas os da, ao invés de desemprego e au- essa possibilidade ao povo brasilei-
tos, tivesse sido bem-sucedida em “inteligentes podem ver”; encon- mento da pobreza. É isso que assus- ro, sob o argumento de “risco polí-
promover algum crescimento sus- tram-se isolados pela completa in- ta tanto os analistas econômicos de tico”, ou mesmo defender que não
tentado, retomando a renda e em- capacidade de sua estratégia entre- plantão, que insistem em profetizar há outra alternativa a não ser aque-
prego das famílias, certamente ela gar o mínimo de bem-estar social o desastre caso as políticas que de- la representada por sua ideologia, é
encontraria mais apoiadores den- para a grande maioria da popula- fendem sejam revertidas. uma forma de flertar com o auto-
tro da sociedade, não apenas os ção, enquanto mantém e garante Por trás do discurso de “risco ritarismo, mesmo que de maneira
poucos (mas muito escutados) re- os privilégios da minoria de ricos político”, observa-se um profun- velada. Se hoje a política é um obs-
presentantes do governo e do mer- e grandes proprietários. do desprezo pela democracia. É táculo para a verdadeira retomada
cado financeiro. Permeados por O que torna os riscos políticos evidente que as incertezas políti- do crescimento e do desenvolvi-
ideologia e interesses, estes atores tão decisivos é o fato de que, após cas afetam a decisão de investimen- mento econômico, a solução não é
sociais pregam no deserto ao de- três anos de experimentação desas- to dos empresários, mas a incerte- limitar a democracia, mas ampliá-
fenderem a importância dos cor- trosa, a austeridade e o liberalismo za existe porque temos diferentes -la, legitimando um novo governo
tes de gastos, dos juros altos, das fracassaram em entregar o que pro- projetos de nação em disputa, que pelo voto popular.
reformas antipopulares e da cres- meteram. Sendo assim, a população merecem ser apreciados pelo povo
* É professor do Instituto de Economia da
cente liberalização financeira e co- tende a novamente, assim como já brasileiro. Apenas um governo le- Unicamp e pesquisador do Centro de Es-
mercial. Diferente do que querem havia feito nos últimos quatro plei- gítimo, com credibilidade proferi- tudos de Conjuntura e Política Econômi-
fazer crer, não estão politicamen- tos eleitorais, escolher projetos po- da pelo voto popular, será capaz de ca (Cecon) da Unicamp.
Monografia
O JE publica o último resumo dos textos vencedores do 26º Prêmio de Monografia Economista Celso Furtado. O trabalho de conclusão
de curso de Thandara Maria Kathleen da Silva, graduada pela UFRRJ, recebeu menção honrosa no concurso.
Primeiramente, por intermédio sobre a geração do número de em- produtiva local: Comércio; Indústrias interpretado de forma cautelosa e
dos índices de Rasmussen-Hirsch- pregos gerados, direta e indiretamen- Diversas; e Têxtil, Vestuário, Calçados. preocupante, uma vez que o cresci-
man, foram identificadas três ativi- te, na economia a partir da criação Por último, ainda de acordo com mento/desenvolvimento econômico
dades-chave na economia fluminen- de uma unidade de emprego neste os resultados obtidos, o setor de Refi- do estado do Rio de Janeiro é depen-
se: Mineração, Refino de petróleo e setor. Além deste, destacam-se tam- no de petróleo e coque também se des- dente das atividades relacionadas ao
coque e Energia elétrica. Esse resul- bém as atividades de Mineração e tacou na análise do multiplicador de petróleo. Estas atividades são suscetí-
tado significa que esses setores pos- Energia elétrica. Convém ainda dis- renda do tipo I. Além dele, merecem veis a fatores externos, tais como po-
suem uma elevada capacidade de di- correr que esses setores não se desta- ressalva os setores Material de trans- lítica externa de preços, geopolítica
namizar a economia da região, tanto caram em termos de geração de em- porte e Material elétrico e eletrônicos. do petróleo, regulação e normas da
pelo lado da oferta como pelo lado pregos diretos (multiplicador simples A Tabela 2 reporta os três setores que Organização dos Países Exportadores
da demanda, caso sejam estimula- do emprego), o que demonstra que apresentaram os maiores e os três seto- de Petróleo (OPEP) e até guerras em
dos. O resultado encontrado em re- estes setores possuem baixa emprega- res que tiveram os menores valores dos países produtores. A vulnerabilidade
lação aos setores de Refino de petró- bilidade, apesar de terem sido consi- multiplicadores supracitados. das atividades petrolíferas aos fatores
leo e coque e Mineração é justificado derados como setores chave na estru- Em linhas gerais, pode-se con- externos, portanto, faz com que po-
na medida em que a região do Rio tura produtiva do estado. cluir que o Estado do Rio de Janeiro líticas públicas nesses setores com o
de Janeiro foi a maior prospectora de Ao contrário, os resultados apon- é altamente dependente dos setores objetivo de desenvolver a economia
petróleo no ano de 2009. Além dis- taram, de um modo geral, que os se- ligados à atividade petrolífera, pois, fluminense percam autonomia.
so, convém ressaltar que a economia tores que mais gerariam empregos como foi verificado, estes setores se Orientador: Joilson de Assis Cabral
fluminense é altamente dependente decorrentes de variações na deman- mostraram capazes de dinamizar a
da atividade petrolífera em relação da final na economia fluminense são produção, o número de empregos e * É bacharela em Ciências Econômicas
à renda, emprego, e, principalmen- aqueles que não desencadeariam um renda no estado fluminense. pela Universidade Federal Rural do Rio
te, finanças públicas, no que tange ao aumento do dinamismo da estrutura Todavia, este resultado deve ser de Janeiro (UFRRJ)
repasse de compensações financeiras
– royalties do petróleo. A Tabela 1
Tabela 1 - Índices de ligação e setores-chaves para a economia fluminense.
apresenta quais dos 20 setores pro-
dutivos do Estado do Rio de Janeiro Linkages
Setor Setor-chave
referentes ao ano de 2009 possuem Para Frente Para Trás
linkages para trás e para frente, e tam- Agropecuária - -
bém os setores-chaves da região. Mineração Sim Sim Setor-chave
Indústria de Minerais Não Metálicos - Sim
Em seguida, a análise do multi- Metalurgia Sim -
plicador de produção permitiu desta- Máquinas e Equipamentos - Sim
car os três setores que possuem um al- Material Elétrico e Eletrônicos - Sim
to impacto sobre a produção a partir Material de Transporte - Sim
de alterações da demanda final, quais Madeira, Mobiliário, Papel - -
Refino de petróleo e coque Sim Sim Setor-chave
sejam: Refino de petróleo e coque, Outros Químicos e Farmacêuticos Sim -
Material de transporte e Energia elé- Têxtil, Vestuário, Calçados - -
trica. Já os três setores que possuem Produtos Alimentícios - -
os menores valores são: Construção, Indústrias Diversas - Sim
Energia Elétrica Sim Sim Setor-chave
Agropecuária e Comércio. Esses úl-
Outros Serviços Industriais de Utilidade Pública (SIUP) - Sim
timos resultados podem ser justifi- Construção - -
cados na medida em que o setor de Comércio Sim -
construção no Rio de Janeiro é muito Transportes Sim -
incipiente e altamente dependente de Serviços Privados Sim -
Governo e Serviços Públicos - -
insumos de outros Estados do Brasil.
Fonte: Autor (2015).
Por sua vez, o resultado referente ao
setor de Agropecuária mostra que o Tabela 2 - Setores com Maiores e Menores Multiplicadores de Produção,
estado não possui vocação produto- Simples do Emprego, do Emprego do Tipo I e da Renda do Tipo I.
ra nesta atividade. Já o resultado refe-
Multiplicador Multiplicador Multiplicador Multiplicador
rente ao setor de comércio era espera- Posição
de Produção Simples do Emprego do Emprego Tipo I da Renda Tipo I
do, uma vez que este setor situa-se no 1ª Refino de petróleo e coque Comércio Refino de petróleo e coque Refino de petróleo e coque
final na cadeia produtiva, possuindo 2ª Material de Transporte Indústrias Diversas Mineração Material de Transporte
uma baixa interdependência com os 3ª Energia Elétrica Têxtil, Vestuário, Calçados Energia Elétrica Material Elétrico e Eletrônicos
demais setores. 18ª Comércio Mineração Indústrias Diversas Indústrias Diversas
Com relação ao multiplicador 19ª Agropecuária Refino de petróleo e coque Governo e Serviços Públicos Comércio
de emprego do tipo I, ficou consta- 20ª Construção Energia Elétrica Comércio Governo e Serviços Públicos
tado que o setor de Refino de petró- Fonte: Autor (2015).
leo e coque possui amplo destaque
www.corecon-rj.org.br Jornal dos Economistas / Julho 2017
14 Fórum Popular do Orçamento
O contexto da crise Quadro 1 - Comparação entre manifestações dos últimos quatro anos e o número de presentes
atrelado ao avanço das
manifestações Manifestação/Ano Estimativa
A crise que assola o país é refle- Protesto de servidores públicos federais por
200 (Centro de Operações da Prefeitura)
melhores condições de trabalho/2012
tida nos números que representam
os dados socioeconômicos, como a Protesto contra o preço e a qualidade do transporte
Tais protestos levaram cerca de um milhão de pessoas às ruas.
queda do PIB e o aumento no de- público/2013
dados do relatório Índice de Pro- Protesto antigoverno PT/2015 15 mil (PM)/100 mil (Mov. “Vem Pra Rua”)
gresso Social, elaborado por Social
Protesto pró-impeachment/2016 1 milhão (Organizadores do Ato)
Progress Imperative, o Brasil foi con-
Fonte: G1.com
siderado o 11° país mais inseguro do
portância de análise dos dados que Quadro 2 - Variação da despesa total e da despesa com segurança pública
apontam a gênese de cada movi- Ano Despesa Total Variação Despesa Seg. Pública Variação Participação da PM na Seg. Públ.
mento popular ocorrido nos últimos 2012 R$ 87.401.534.199,56 R$ 9.114.476.019,52 41%
anos. A partir de certas pesquisas se- 2013 R$ 92.940.160.612,63 6% R$ 10.666.854.087,97 17% 42%
lecionamos algumas manifestações, 2014 R$ 91.880.789.330,00 -1% R$ 10.987.946.343,98 3% 47%
e as suas devidas reivindicações, que 2015 R$ 73.421.193.868,17 -20% R$ 11.027.901.920,80 0% 41%
nos ajudam a compreender o cená- 2016 R$ 62.207.612.422,33 -15% R$ 10.798.821.653,84 -2% 43%
rio do Rio. Para o Quadro 1, foi se- Variação Total -29% 18%
lecionada uma manifestação para ca- Fonte: Portal Transparência do Estado do Rio de Janeiro – 2012 a 2016
da um dos últimos cinco anos.
Uma relevante observação a ser Quadro 3 - Despesas por subelemento
feita sobre os dados a respeito das Munição, explosivos Equip. e apare. Aeronaves, veículos
Ano Serviços secretos
manifestações é o expressivo aumen- e armamento de telecom. e carros de combate
to no número de presentes. Este sal- 2012 R$ 9.151.619,80 R$3.733.430,64 R$5.269.689,28 R$ 71.086.183,59
to é acompanhado de um cresci- 2013 R$ 10.493.556,66 R$3.168.139,67 R$7.006.935,51 R$ 73.578.329,76
meio aos movimentos sociais. Para Quadro 4 - Trajetória das Despesas do Município
tanto, são usados spray de pimen-
ta, bombas de efeito moral, balas de Trajetória de Despesas do Município
borracha, entre outras armas classifi- Ano Despesa Total do Município Gasto Total com Ordem Pública Percentual referente à Guarda Municipal
exigidos no combate à criminalidade Já no que concerne às despesas despesas municipais, verifica-se que dencia a trajetória das despesas dos
em geral, também participam na re- em serviços secretos e com equipa- as mesmas apresentaram um au- principais órgãos responsáveis pela
pressão de grandes aglomerações. mentos e aparelhos de telecomunica- mento de 3% no período de 2012 a segurança das três esferas.
Vê-se no Quadro 3 as despesas ções, o destaque é para 2014, ano de 2016, do qual 14% são referentes a
com cada um desses subelementos, novas exigências e introdução de es- gastos com ordem pública. Ademais, Considerações
no período entre 2012 e 2017. tratégias de vigilância e controle do é válido ressaltar que os gastos com finais
A respeito das munições, explo- espaço virtual. De acordo com o ar- a Guarda tiveram um aumento ex- A partir do estudo realizado, é pos-
sivos e armamentos, o maior gasto tigo “Como as Olimpíadas ajuda- pressivo, na ordem de 30%, quan- sível obter uma boa percepção do
é observado em 2013, ano de gran- ram o Brasil a aumentar seu aparato do comparados à modesta variação quadro geral da segurança pública
des conflitos e anterior à Copa. Des- de vigilância social” da Revista VI- da despesa total. O quadro 4 mostra e dos indicadores sociais do Rio.
tacam-se também os anos de 2012 e CE, há um movimento atual no pa- essa trajetória: Nota-se que os gastos estaduais e
2015: este último que antecedeu o ís, que encontrou respaldo nos gran- Dentro dessa ótica de seguran- municipais com segurança em geral,
exercício no qual ocorreram as Olim- des eventos, de aquisição de novos ça, destaca-se o programa Rio em Or- que incluem a atuação da PMERJ
píadas. Nota-se uma preparação pré- instrumentos de monitoramento, co- dem, que tem como objetivo de am- e da Guarda respectivamente,
via para os megaeventos, visto que, mo os StingRays, tecnologia capaz de pliar a atuação da Guarda, através do cresceram acima da variação da
em 2014 e 2016, os gastos foram me- identificar quem está usando celular aumento de seu efetivo e moderniza- criminalidade no período de 2012
nores do que nos outros anos. no seu raio de alcance ou até conse- ção de seus procedimentos e sua infra- a 2016. Somado a isso, encontra-se
É evidente que a despesa com es- guir acesso irrestrito aos aparelhos. estrutura. Neste quesito, podemos res- uma ajuda crescente da União, por
ses subelementos não é composta O texto afirma: “foi mais ou me- saltar que a partir de 2014 a prefeitura meio da Força Nacional.
apenas de aparatos de repressão e in- nos o que aconteceu a partir dos pro- começou a investir em modernização Ao mesmo tempo, os dados de-
clui diversos outros armamentos para testos de junho de 2013 e contra a e capacitação da mesma, chegando ao monstram despesas significativas em
combater a criminalidade. No entan- Copa do Mundo, quando começa- montante total de R$ 1.824.878,90 armamentos considerados não letais,
to, ao analisar os contratos do esta- ram as rondas virtuais, prática na investidos em três anos. serviços secretos e equipamentos de
do com a empresa Condor S/A Ind. qual policiais varrem redes sociais em telecomunicação, que demonstram
Química, maior fabricante brasileira busca de quaisquer indícios que pu- Força Nacional introdução de novas estratégias para
de tecnologias não letais, encontram- dessem incriminar suspeitos.” de Segurança Pública combate de movimentos considera-
-se, de 2012 a 2016, compras realiza- Os investimentos em aeronaves, Já no âmbito nacional, verifica-se dos afrontadores da ordem pública.
das no valor de R$ 6,8 milhões. Nes- veículos e carros de combate também que os gastos com a Força Nacional Visto isso, percebe-se que, em
te período, são destaques os contratos deram um salto em 2014, indicando também apresentaram variações sig- um contexto de grave crise política
do ano de 2012, no qual a aquisição novamente uma renovação nos mate- nificativas no período 2012- 2016. e econômica que ocasionou grandes
desses materiais chegou a um valor de riais e introdução de novos meios de Entre 2012 e 2014, houve um au- manifestações populares no estado,
R$ 5 milhões, representando signifi- manutenção da ordem pública na se- mento de R$ 106.481.785,39 dessa o governo não conteve esforços para
cativos 54% do gasto total em muni- gurança do estado neste ano. despesa, seguido de uma queda gra- tentar amenizar as reivindicações de
ções e explosivos. Não é possível afir- dual nos anos subsequentes. Vale- se direitos e enfraquecer os movimen-
mar nada sobre os altos valores nessas Guarda Municipal destacar que o aumento inicial deu- tos, combatendo com forte repres-
transações, mas pode-se supor que Podemos destacar o papel da -se no período de expansão das ma- são em diversos momentos. Assim,
também seja uma forma de prepa- Guarda como principal órgão res- nifestações sociais e de preparação parece que a prioridade governa-
ração para os megaeventos ocorridos ponsável pela manutenção da ordem para o recebimento de um megae- mental é reprimir a contestação e
posteriormente. pública. Dessa forma, ao analisar as vento internacional. O quadro 5 evi- não solucionar as suas causas.
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