Economia

A Empresa Frente aos Efeitos

do Macroambiente Econômico

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William Rangel
1ª Edição
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Sumário
A Empresa Frente aos Efeitos
do Macroambiente Econômico
Para início de conversa... ................................................................................. 3
Objetivos .......................................................................................................... 3
1. Vetores da Competitividade de um País ............................................... 4
2. A Empresa e as Partes Interessadas ...................................................... 6
3. A Empresa e as Forças Competitivas de Porter ................................... 8
4. A Empresa e o Impacto das Decisões sobre as Variáveis
Econômicas, Sociais, Políticas, Demográficas, Culturais,
Legais, Tecnológicas e Ambientais .......................................................... 9
Referências .......................................................................................................... 15
Para início de conversa...
Sabemos das noções fundamentais da micro e da macroeconomia por
meio das quais foi possível entender o papel dos agentes econômicos nos
mercados e como ele se reflete nos resultados agregados da economia
de um país. Neste capítulo, estudaremos um conteúdo bastante prático
e atualizado de informações sobre o ambiente de negócios que cerca
as empresas e sobre a economia brasileira contemporânea, com suas
forças e fraquezas, que têm origem na sua própria natureza e, também,
ameaças e oportunidades que vêm de fora.
Além disso, aprenderemos a olhar para uma empresa visando a
entender as forças de mercado que estão sempre em atrito, e veremos
como algumas das principais variáveis macroeconômicas podem gerar
impactos nas organizações que orbitam o ambiente empresarial. Em
especial, conheceremos algumas dimensões do mercado de petróleo e
gás na área do pré-sal, a fim de identificar eventos de ordem econômica
que afetam a maneira como a Petrobras está se estruturando para um
novo salto tecnológico, comercial e empresarial.
Economia
Objetivos
▪ Reconhecer os fatores que caracterizam a competitividade de um país,
os quais devem ser avaliados pelos investidores e demais agentes
econômicos;
▪ Identificar as forças que atuam na empresa, por meio da empresa, nos
cenários competitivos;
▪ Conhecer os principais indicadores macroeconômicos de um país e
entender como as alterações em seus valores impactam a vida da
empresa;
▪ Conhecer as macrotendências do mercado e dos consumidores;
▪ Inteirar-se das dimensões do pré-sal e dos impactos da indústria de
petróleo e gás no Brasil nos próximos anos.
3
1. Vetores da Competitividade de um País
Sabemos da importância das decisões dos agentes econômicos pelo
lado da oferta (empresas) e da demanda (consumidores), o equilíbrio de
mercado e as possíveis estruturas de concorrência das empresas.

Sabemos, também, como a macroeconomia agrega informações dos

mercados, de forma a gerar conhecimento que permita aos países
a ordenação de objetivos econômicos sustentáveis para o nível de
produção e os seus respectivos preços. Sabemos, ainda, da importância
da moeda na regulação das transações econômicas entre os agentes e as
possíveis fontes de desequilíbrios as quais podem ter origem na gestão
dos preços.

Uma questão a ser discutida diz respeito à empresa e às suas interfaces

com o ambiente econômico que a cerca. Como organismo vivo da
sociedade, a empresa age em busca de seus objetivos e reage às
constantes mudanças de cenário que geram estímulos criativos e
expansivos, ou ofensores e limitadores da atividade econômica.
Figura 1: Macroambiente. Fonte: Elaborado pelo autor.
Dessa forma, é necessário entender o que é uma empresa e o seu
macroambiente, e perceber de que formas esse organismo afeta ou é No mundo contemporâneo, há uma crescente internacionalização das
afetado pelas decisões da área econômica. economias, e o estudo da competitividade tem preocupado as autoridades
econômicas mundiais e os estudiosos da Teoria Econômica. Vivemos em
Veja, a seguir, um esquema que o auxiliará a entender o macroambiente: meio a uma nova ordem mundial de progressiva internacionalização

Economia 4
da vida econômica, de globalização dos usos, costumes e da cultura,
tendente a favorecer a concorrência como um desafio constante à
capacidade competitiva das empresas.
Diante desses novos desafios, o Brasil deve envidar esforços no sentido
de revitalizar seus recursos, suas instituições e sua maneira de fazer
negócios, para que possa competir em igualdade de condições no
mercado internacional.
Vamos, então, indicar dez exemplos de vetores de competitividade que
devem ser considerados no planejamento estratégico das empresas que
desejam sobreviver nesse cenário, com especial atenção para o caso da
economia brasileira.
1. Estabilidade institucional e política: O Brasil é considerado uma
democracia jovem, e os Três Poderes da República convivem de
forma harmoniosa dentro de suas atribuições constitucionais. Desde
a redemocratização do país, já tivemos seis eleições presidenciais
e outras diversas para as demais esferas de poder, sempre com
evidências de evolução e respeito aos poderes constituídos.
2. Infraestrutura e tecnologia de produção: Embora tenhamos algumas
“ilhas” de conhecimento em algumas áreas, o Brasil ainda enfrenta
sérias restrições de infraestrutura de comunicações, de transportes
e de produção. Os portos brasileiros estão entre os mais ineficientes
do mundo.
Economia
3. Protecionismo comercial: Apesar do discurso oficial, de cunho
aparentemente liberal nessa área, o Brasil ainda é reconhecido como
uma das nações mais protecionistas do mundo, o que impede um
desenvolvimento maior do comércio mundial. Segundo a Organização
Mundial do Comércio - OMC, o Brasil normalmente aparece entre os 4
maiores litigantes da entidade, que regula o comércio internacional,
seja como demandante, seja como parte demandada.
4. Excesso de burocracia: O desembaraço de uma mercadoria importada
pode demorar mais de 15 dias em alguns portos e aeroportos
brasileiros, enquanto que em países desenvolvidos esse prazo é
medido em horas.
5. Carga tributária: O total de tributos que a sociedade brasileira paga
na forma de impostos diretos ou indiretos já ultrapassa os 36% do
PIB. Apesar disso, o que o governo devolve à sociedade, em termos
de investimentos e gastos públicos, mal chega aos 19%.
6. Estabilidade econômica, financeira e da moeda: Após a adoção
do Real como moeda, em julho de 1994, o país passou a receber
expressivos investimentos em moeda estrangeira, e a inflação foi
estabilizada em patamares aceitáveis. Temos um regime de metas de
inflação que dá credibilidade à política econômica, e o Real é uma
das moedas mais valorizadas do mundo.
7. Sofisticação do mercado acionário: A Bolsa de Valores de São Paulo
é uma das mais modernas e valiosas do mundo e movimenta,
5
 diariamente, volumes financeiros comparáveis aos das bolsas das
grandes nações do mundo. Entretanto, ainda é relativamente baixo
o número de investidores em papéis das empresas, por falta de
educação financeira.
8. Taxa de câmbio: O Brasil adota o regime de câmbio flutuante com
intervenções parciais pelo Banco Central, conhecido como dirty float
(ou flutuação suja), que agrada ao mercado financeiro por respeitar
a demanda e a oferta por moeda estrangeira no país e, ao mesmo
tempo, assegurar alguma previsibilidade para a conversão de moedas.
9. Mercado consumidor e mobilidade social: O Brasil tem hoje, segundo
o IBGE, mais de 201 milhões de habitantes, e nos anos mais recentes
experimentou uma valorização da renda, por meio da qual cerca de
30 milhões de pessoas migraram das classes “D” e “E” para a classe
“C”, demandando novos produtos e serviços.
10. Qualificação da mão de obra e educação: o Brasil está enfrentando
sérias dificuldades no mercado de trabalho pela falta de mão de obra
qualificada, mesmo para atividades que exigem baixa escolaridade.
A chegada de médicos cubanos para atuar nas cidades do interior é
apenas uma das evidências dessa deficiência.
A mistura desses e de outros indicadores e a posição do Brasil em
diversos rankings internacionais comprovam que o Brasil ainda não é
uma economia internacionalmente competitiva, e muito ainda há de ser
feito para mudar esse quadro.
Economia
2. A Empresa e as Partes Interessadas
Os estudos de Adam Smith, o pai da economia moderna, indicaram que
cada país deve identificar as suas vantagens competitivas, respeitando
a abundância (ou a escassez) de fatores de produção e a produtividade
do trabalho. Essa produtividade deve ser entendida como a menor
quantidade de horas de trabalho necessárias à produção de certa
quantidade de bens.
A partir disso, cada país deveria investir fortemente na especialização
da mão de obra para fabricar esses bens, de forma a gerar os excedentes
para a exportação. Nessa visão simplista, um país exportaria somente os
bens em que tivesse essa vantagem absoluta, e deveria importar todos os
bens nos quais fosse menos eficiente que os outros
países para produzi-los. Se assim fosse, o
Brasil deveria estar produzindo e vendendo
apenas commodities agrícolas e minerais,
itens nos quais o Brasil é abundante em
recursos e eficiente na mão de obra.
Felizmente, também somos
grandes exportadores de
aviões, automóveis, produtos
químicos etc.
6
Essa visão acabou influenciando os trabalhos de Taylor e de Fayol,
dois teóricos clássicos da administração científica. Eles defendiam
que as empresas deveriam estar voltadas para suas questões formais
de organização, produzindo arranjos mais racionais que permitissem
alcançar a máxima eficiência organizacional.

Esses arranjos dependem do nível de informação e conhecimento do

comportamento das variáveis que influenciam o ambiente (externo
e interno) no qual a empresa se encontra, e servem de base para
sustentar a capacidade gerencial para as tomadas de decisão. Nesse
contexto, você pode concluir que a empresa era entendida como uma
unidade econômica, cujo objetivo era alocar racionalmente os fatores de
produção, de modo a maximizar os lucros.

Segundo Taylor, os homens são vistos como adjuntos da máquina no

desempenho de tarefas produtivas rotineiras, repetidas. Ele propôs um
modelo centrado nos seguintes passos: análise da tarefa; planejamento
de um melhor meio para desempenhá-la; seleção dos funcionários;
treinamento e pagamento de salários.
Segundo Fayol, a empresa depende da departamentalização e deveria
Figura 2: Grupos vitais para o negócio da empresa. Fonte: Elaborado pelo autor.
ser vista como corpo empresarial e, como tal, composto das funções de
produção; comercial (compra, venda); financeira; segurança (proteção da Esse conjunto formado pela empresa e o seu particular conjunto de
propriedade); contábil e administrativa.
stakeholders está submetido a um tipo de sistema econômico vigente no

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país e às suas características e atributos relevantes. Sendo assim, está 1. Rivalidade entre os concorrentes: É considerada a mais significativa
sujeito aos vetores de competitividade próprios desse país. das cinco forças, por meio da qual se deve considerar a atividade
e a agressividade dos concorrentes diretos, ou seja, aqueles que
vendem um mesmo produto ou serviço no mesmo mercado em que
3. A Empresa e as Forças Competitivas de Porter a empresa que está em análise.
2. Barreiras à entrada de novos concorrentes: Essa força deriva
Uma outra forma de avaliar o cenário competitivo que cerca as empresas
é por meio do modelo das cinco forças de Michael Porter. Esse modelo da análise da estrutura competitiva específica do mercado
permite analisar o grau de atratividade de um setor da economia e em que a empresa atua, tanto em relação às barreiras contra
identifica os fatores que afetam a competitividade, dentre os quais uma novos competidores quanto ao poder de reação das empresas
das forças está dentro do próprio setor (rivalidade entre os concorrentes já constituídas e atuantes. Essas barreiras também podem vir das
existentes), enquanto os demais são externos. regras de comércio internacional, na forma de barreiras tarifárias,
cotas de importação, barreiras técnicas e burocráticas, e subsídios
Vamos analisar essas cinco forças: dados pelo governo aos produtores locais.
3. Poder de barganha dos compradores: tem relação com o poder
de decisão dos compradores sobre os atributos do produto,
principalmente quanto a preço e qualidade, dado que as compras
são de grande volume; quando os produtos são pouco diferenciados
e podem ser facilmente substituídos; ou quando as margens de
lucro do setor são estreitas.
4. Poder de barganha dos fornecedores: se o setor é dominado por
poucas empresas fornecedoras; se os produtos são exclusivos,
diferenciados; se o custo para trocar de fornecedor é muito
Figura 3: As cinco forças competitivas de Porter. Fonte: Elaborado pelo autor. alto e, ainda, quando o setor de negócios em questão não tem

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 representatividade no faturamento deste fornecedor, estamos diante ITEM AVALIADO 2009 2010 2011 2012 2013
de um quadro em que os fornecedores têm motivos para reivindicar
vantagens nas negociações. População (em milhões de habitantes) 193,5 195,2 196,9 198,2 201

5. Ameaça de produtos ou bens substitutos: podem não ser os mesmos PIB (em bilhões de Reais por
3.143 3.675 4.143 4.403 4.490
produtos que os de sua empresa, mas se eles atendem à mesma ano - 7º maior do mundo)
necessidade, então é recomendável que a empresa considere esse PIB per capita (em Reais por
16.200 18.800 21,100 22.200 23.300
ano - 54º lugar)
tipo de produto como ameaça real.
IDH ( ndice de Desenvolvimento
0,699 0,726 0,728 0,730 0,731
Essa metodologia permite que uma empresa perceba a complexidade Humano - 85º lugar)
do mercado onde atua e identifique quais são os fatores críticos para Inflação (IPCA, ao ano) 431 590 650 583 591
a concorrência em seu segmento. Espera-se que ela descubra quais as
Desemprego (metodologia antiga) 8,2 7,2 6,1 5,5 5,4
inovações estratégicas que precisaria lançar mão para melhorar o seu
posicionamento e a sua rentabilidade. Exportações (em bilhões
153 202 256 243 242
de dólares)
Importações (em bilhões
128 182 226 223 240
4. A Empresa e o Impacto das Decisões sobre as de dólares)
Saldo da Balança Comercial
Variáveis Econômicas, Sociais, Políticas, Demográficas, (em bilhões de dólares)
25 20 30 20 2

Culturais, Legais, Tecnológicas e Ambientais Ranking de Competitividade (Fórum Econômico

Mundial)
64o 56o 53o 48o 56o

Para conhecer um conjunto mínimo de informações macroeconômicas Taxa Selic (última do ano) 8,75 10,75 11,0 7,25 10,00
sobre a economia brasileira, observe o Quadro 1, que mostra os
Salário mínimo 465 510 540 622 678
resultados alcançados pelo país no período entre 2009 e 2013, nos
principais indicadores. Quadro 1: Resultados alcançados nos principais indicadores.

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Para melhorar as referências e facilitar a compreensão sobre esses
resultados, acrescentamos, a seguir, uma lista com 12 comentários a cada
uma das linhas, com algumas referências sobre como essas variáveis
afetam a sua vida e a vida das empresas, sobretudo no momento em que
os gestores se reúnem para desenhar como será o futuro da empresa.
Construir o planejamento estratégico de uma empresa obriga os gestores
a conhecer muito bem o que está se passando hoje na empresa e no
mercado, para dar eficácia às ações que vão fortalecer a empresa nos
momentos em que ela se deparar com mudanças no cenário:
3. PIB per capita: Cada brasileiro contribui, em média, com cerca de R$
1. População: Com mais de 201 milhões de habitantes, o Brasil é o
quinto país mais populoso do mundo, ficando atrás de China,
Índia, Estados Unidos e Indonésia. Você pode substituir a palavra
4. IDH: Contempla a performance do país em termos de longevidade
“habitantes” pela palavra “consumidores”, pois é disso que vivem as
empresas: de clientes. Então, o Brasil tem o quinto maior mercado
consumidor do mundo. Isso é um desafio e uma enorme oportunidade
para que as empresas trabalhem muito bem com as políticas de
propaganda e publicidade, buscando posicionar a empresa e seus
produtos no mercado e na mente dos consumidores. No entanto, é
preciso lembrar que a população brasileira cresce a taxas cada vez
menores, e a população está envelhecendo rapidamente.
2. PIB: Apesar do valor nominal elevado, o PIB brasileiro está há 15
anos crescendo abaixo da média mundial, e tende a continuar assim
Economia
nos próximos anos. A empresa precisa avaliar se, em seu ramo de
atuação, o aumento no número de unidades vendidas será inferior,
igual ou superior à taxa de crescimento do PIB. A empresa pode,
ainda, considerar como referência a taxa específica de crescimento
do setor em que ela está inserida. Por exemplo, o PIB do país
pode crescer 2%, mas o PIB do setor de turismo pode ter crescido
7%. Se a empresa trabalha no setor de turismo, ela deve buscar
crescimento superior a 7%, já que esse é o crescimento médio dos
seus concorrentes.
1.800,00 por mês para o PIB, valor bastante aproximado do salário
médio, medido pelo IBGE (R$ 1.908 no final de 2013).
(expectativa de vida ao nascer), escolaridade (números de anos de
escolaridade) e renda (per capita). Quanto mais próximo de um, melhor
é o IDH. A expectativa de vida dos brasileiros está chegando aos 74
anos, e a renda per capita do país está crescendo, mas o brasileiro
frequenta os bancos escolares por apenas sete anos e meio. Essa
quantidade de anos de escolaridade é insuficiente até para concluir
o Ensino Fundamental. Em razão disso, o Brasil vive hoje o chamado
“apagão da mão de obra”, que é a falta de profissionais qualificados
para enfrentar a abertura de vagas nas empresas que estão com
projetos arrojados de expansão ou de instalação de operações no país.
10
 Pense nesse desafio para a gestão de pessoas e para a política de
responsabilidade social e salarial de uma empresa. Basta ver a invasão
Segundo o IBGE, a mudança na metodologia da pesquisa é bastante
de médicos cubanos nas cidades do interior e, ainda, o projeto da
significativa e, por essa razão, as diferentes séries de dados não serão
Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência – SAE, da República,
comparáveis.
para trazer ao Brasil nada menos que 6 milhões de trabalhadores
estrangeiros nos próximos 20 anos. Serão 300 mil a cada ano.
5. Inflação (IPCA, ao ano): Lembre-se de que a meta da inflação é de 7. Exportações: Nosso principal cliente é a China, e os principais
4,5% ao ano, e que estamos muito acima desse valor. Pense em produtos exportados são: minério de ferro, petróleo, açúcar, café,
como você deverá projetar a sua política de preços para os próximos soja e aviões. O Brasil deveria investir mais em empresas com
anos. A empresa vai conseguir atualizar a sua lista de preços acima perfil de exportação e, de preferência, em produtos com alto valor
da inflação, medida pela projeção do IPCA? Vai repassar apenas o agregado, visando gerar divisas para o país. Isso requer a elaboração
mesmo índice do IPCA? Vai repassar menos que o IPCA? Nesse caso, e a aprovação de bons projetos de investimentos que busquem as
que outras medidas serão necessárias para vigiar os custos, para linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
que não sejam absorvidos aumentos nos insumos em percentuais
e Social - BNDES, com bons indicadores de retorno ao risco do capital.
superiores que levem a empresa a diminuir a sua lucratividade?
Os empresários também precisam refletir sobre as oportunidades
6. Desemprego: Pela metodologia antiga, estavam sendo contempladas que se abrem na área de internacionalização da produção: a abertura
apenas seis regiões metropolitanas. A nova metodologia vai apurar o de filiais e até a montagem de fábricas no exterior, o que requer um
mercado de trabalho em quase 3.500 municípios. É conhecido o efeito
olhar profundo sobre a atual estrutura das empresas.
recessivo dos impostos sobre o mercado de trabalho, o consumo
8. Importações: Nosso maior fornecedor também é a China, e os
das famílias e sobre o PIB. Uma profunda reforma tributária está
principais produtos que importamos são: matérias-primas, bens de
em discussão há anos no Brasil, mas ainda sem qualquer decisão
capital, bens de consumo, combustíveis e lubrificantes. Certamente
de ordem prática, o que desestimula a ampliação dos investimentos
você já comprou algum produto “Made in China” (feito na China).
produtivos no país.

Economia 11
9. Saldo da Balança Comercial: A balança comercial sofreu deterioração 11. Taxa Selic: Em 2012, houve um grande afrouxamento da política
significativa em 2013, por conta da compra de combustíveis no monetária, com reduções históricas da Selic, visando manter
exterior. Exportamos petróleo bruto, que não podemos refinar o mercado aquecido. Isso ajudou a potencializar as pressões
por falta de capacidade nas refinarias, e compramos combustíveis inflacionárias e o governo não teve outra alternativa senão a de
no exterior em quantidades nunca vistas. Dessa forma, ficam as elevar novamente a taxa Selic no segundo semestre de 2013 e
questões: Onde está a anunciada autossuficiência em petróleo? Ela início de 2014.
virá com o Pré-Sal?
12. Salário mínimo: Nesse período, o governo conseguiu emplacar
10. Ranking de Competitividade: O Fórum Econômico Mundial avalia
aumentos reais para o salário mínimo, que ajudaram a aquecer
12 competências, e o Brasil só está bem em uma: o tamanho do
ainda mais a demanda e aumentar o rombo da Previdência Social,
mercado consumidor segue sendo nosso principal ativo (9º lugar
já que há milhões de pensões que utilizam o salário mínimo como
geral). Contudo, em competências importantes como o ambiente
referência. Os economistas já começaram a fazer recomendações
macroeconômico (contempla itens como a taxa de inflação, a
taxa de juros, a taxa de poupança interna, a carga tributária, a para que a fórmula de reajuste seja revisada, a fim de estancar
regulamentação tarifária, o acesso a financiamento, a renda per esses efeitos indesejáveis. Você lembra que aumentos salariais
capita, o déficit público, o crescimento do PIB, a produtividade etc.), representam aumentos de despesas para as empresas, que se
a eficiência do mercado de bens e do mercado de trabalho continua refletem em aumentos dos custos? Os empresários repassam esses
muito mal no Brasil. Aqui, o empresário ainda enfrenta dilemas sobre aumentos de custos ao preço final dos produtos vendidos, o que
a localização das empresas e os instrumentos para enfrentar os gera inflação de oferta.
custos do chamado “gargalo logístico”, que são os entraves oriundos
Vimos que, com apenas 12 itens, já é possível detectar um enorme
da falta de estrutura para a mobilidade urbana e a movimentação
potencial de perguntas e respostas para as pessoas, empresas, governos
de cargas no país. O país também precisa evoluir na questão da
e mercados com vistas à montagem de um painel que nos leve a
abertura comercial e na política de livre concorrência para ampliar a
compreender melhor o presente e fazer inferências sobre o futuro
participação de investimentos estrangeiros em diversos setores da
próximo, que irá nos afetar indistintamente.
economia ainda oligopolizados.

Economia 12
Para essa missão, será necessário considerar as seis macrotendências do conta as descobertas de óleo na camada do pré-sal, o resultado do leilão
mercado e as cinco macrotendências do consumidor, conforme indicado de exploração do poço de Libra, e os desdobramentos para a economia
no Quadro 2: brasileira, para as empresas que serão fortemente demandadas e para
As Seis Macrotendências de Mercado As Cinco Macrotendências do Consumidor
os profissionais que serão requisitados para este novo, e promissor,
mercado de trabalho.
Valorização de experiências Experimentação e individualização: CRM
1 1
individualizadas de consumo (Relacionamento) x CEM (Experiência)
O termo pré-sal refere-se a um conjunto de rochas localizadas nas
Mobilidade social em alta nos países do porções marinhas de grande parte do litoral brasileiro, entre os estados
Redes de contato: reforço do marketing
2 BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África 2
de relacionamento de Santa Catarina e Espírito Santo, onde se encontrou grandes volumes
do Sul)
Constituição de padrões globais Visão global: o consumidor quer o que se de óleo leve com potencial para a geração e acúmulo de petróleo. A
3 3
de consumo consome em qualquer lugar do mundo profundidade total dessas rochas, que é a distância entre a superfície do
Crescimento dos segmentos intensivos Acesso à informação: internet, mar e os reservatórios de petróleo abaixo da camada de sal, pode chegar
4 4
em serviços e em conhecimento rótulos, mídia a mais de 7 mil metros.
5 Agravamento da questão ambiental Ativismo: Black blocks, boicotes,
5
“rolezinho” No ano de 2013, o governo concluiu o leilão do poço de Libra, que tem
6 Instabilidade financeira
potencial para ser um dos maiores do mundo. O leilão foi vencido por
Quadro 2: Cenários econômicos e tendências. Fonte: Gonçalves (2011 , p.32).
um consórcio de empresas formado pela própria Petrobras, que detém
É interessante observar que essas macrotendências unem interesses do 40% do bloco, a anglo-holandesa Shell e a francesa Total, cada uma com
mercado e dos consumidores em um alinhamento quase perfeito. Não 20%, e mais duas empresas estatais chinesas, a CNPC e a CNOOC, cada
será possível a uma empresa sobreviver no mercado nos próximos anos uma com 10%.
ignorando as visões do mercado e dos consumidores.
Reunimos, aqui, algumas informações que podem dar uma pequena ideia
O Brasil e o Pré-Sal: oportunidades e desafios do que significa esse projeto para o país:
Para encerrar este curso de Economia, analisaremos algumas informações
▪ O poço de Libra pode vir a ser o terceiro maior poço de petróleo do
relevantes sobre o futuro da indústria de petróleo no Brasil, levando em

Economia 13
 mundo, com reservas de 70 bilhões de barris de petróleo;
▪ Atualmente, o Brasil já extrai diariamente mais de 300 mil barris de
petróleo em 17 poços do pré-sal, equivalente a 15% da produção
diária total, pouco superior a 2 milhões de barris/dia. Mas o Brasil
pode chegar a produzir 6 milhões de barris/dia de petróleo em 2020,
exportando mais de 2 milhões de barris/dia;
▪ O Brasil precisará contratar de 12 a 18 plataformas, 42 navios, 142
barcos de apoio e 40 sondas de perfuração, respeitando a determinação
de utilizar mais de 50% do conteúdo nacional. No entanto, não temos
condições para produzir todos esses equipamentos, sendo um desafio
até mesmo consegui-los no mercado internacional;
▪ Será necessário contratar 24 mil funcionários só para trabalhar no pré-
sal, que hoje já emprega 22 mil funcionários e redesenha a política
de retenção de talentos. Hoje, os bons técnicos da Petrobras recebem
ofertas de salário dos concorrentes que chegam a três vezes o salário
atual. A Petrobras, as suas subsidiárias, os seus parceiros estratégicos,
as suas empresas terceirizadas e sua cadeia de fornecedores
demandarão profissionais de todas as áreas;
▪ A logística representa um enorme desafio e será necessário revisar
o esquema de transporte de funcionários e de suprimentos, pois as
plataformas ficarão a 300 km da costa. Outro desafio logístico: os
gasodutos disponíveis hoje podem transportar 10 milhões de metros
cúbicos/dia, mas, no pré-sal, a produção pode chegar a 50 milhões
Economia
metros cúbicos/dia. É preciso encontrar uma forma eficiente de trazer
o petróleo e o gás até a costa;
▪ Será necessário reformular o processo decisório da Petrobras.
Atualmente, qualquer contrato acima de 20 milhões de reais precisa
ser avaliado pela diretoria, o que atrasa os processos operacionais. No
caso, podemos dizer que a empresa viverá um trade-off, ou seja, uma
relação inversa entre as variáveis “qualidade dos controles internos” e
a “velocidade para resolver problemas operacionais”: só será possível
ter mais agilidade se for possível ter menos processos burocráticos;
▪ O Brasil precisará construir mais seis refinarias até 2017. O custo da
refinaria de Pernambuco pode chegar a 20 bilhões de reais, e a do
Comperj, em Itaboraí, a 36 bilhões de reais.
Os dados são assustadores e dão pistas da grandeza desse projeto que
vai movimentar uma enorme cadeia de fornecedores, gerando inúmeras
oportunidades para empresas e para profissionais como você, em todas as
áreas da economia. Sabe-se que a capacidade instalada da indústria de bens
e serviços no Brasil ainda é insuficiente para atender às demandas previstas,
e será necessário patrocinar o desenvolvimento da cadeia de suprimentos.
Graças à sua capacidade de alavancagem, pelo volume de compras, a
Petrobras tem condições de firmar contratos de longo prazo com seus
fornecedores, já visando esse mercado em fase de expansão. Além disso,
ela pode antecipar contratos, dar suporte a fornecedores estratégicos,
captar recursos e atrair novos parceiros.
14
Neste capítulo, estudamos os fatores que influenciam a competitividade
de um país e, em particular, as forças que interagem com as empresas e
com o ambiente competitivo, a partir do conceito econômico de empresa.
Vimos, também, alguns dos indicadores macroeconômicos mais
importantes e seus resultados nos últimos cinco anos, e vimos como as
alterações nos níveis destes indicadores podem causar perturbações no
ambiente empresarial, levando as empresas a ajustar a sua forma de agir
e de reagir frente aos novos cenários. Isso é um exemplo clássico de
economia e mundo real interagindo de forma intensa.
O projeto de extração de petróleo e gás das rochas do pré-sal nos
próximos anos tende a provocar uma grande mudança nos mercados,
tendo em vista as dimensões dos investimentos, as necessidades de
capital, os desafios tecnológicos e logísticos que precisam ser superados
e, ainda, os impactos que vão gerar no mercado de trabalho. São sinais
claros de um novo momento da indústria nacional.
Economia
Referências
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