Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
SÃO PAULO
2018
STÉFANO HELOU FRONTINI
SÃO PAULO
2018
Frontini, Stéfano Helou
O Financiamento DIP na Recuperação Judicial
Brasileira:
Dificuldades e oportunidades
Stéfano Helou Frontini – São Paulo, 2018
n.f.
DATA DE APROVAÇÃO: / /
BANCA EXAMINADORA
_________________________
NOME COMPLETO
TITULAÇÃO
INSTITUIÇÃO
_________________________
NOME COMPLETO
TITULAÇÃO
INSTITUIÇÃO
_________________________
NOME COMPLETO
TITULAÇÃO
INSTITUIÇÃO
Dedicatória:
Utilizado por empresas como alternativa para obtenção de dinheiro novo durante
seus processos de recuperação judicial, o Financiamento DIP apresenta um grande
desafio no Brasil para aprovar seu modelo, convencer instituições a conceder o
crédito e atrair o interesse de investidores: o tema é pouco explorado e não
apresenta legislação suficiente.
Used by corporations as an alternative to fund itself with new credit during its judiciary
recovery plans, the DIP financing presents a major challenge in Brazil in order to
approve its model, convince financial institutions to structure the credit and attract the
investors’ interest: the financing is not enough explored and covered by the legislation.
This article presents the applicability of the financing in the existing Brazilian law: Lei de
Recuperação de Empresas, as well as compares the law with the draft law amendment,
in discussion in the National Congress. It also presents the use of DIP financing in the
Brazilian market, discussing the main legal and practical difficulties for their use
presented by Brazilian companies, banks and suppliers. Among the various problems,
three of the main causes will be deepened: (i) the lack of knowledge and legislation; (ii)
the Corporate Recovery Law has not yet been widely tested in relation to the protection
and priority of resources; (iii) banking creditors prefers to stretch their debts to lend new
money. Then, we will discuss market factors that facilitate the structuring and approval
of credit to create opportunities and give new horizons to companies in Brazil.
7
LISTA DE TABELAS
8
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
9
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11
2. CONTEXTO HISTÓRICO ................................................................................. 18
3. O FINANCIAMENTO DIP ................................................................................. 21
4. O FINANCIAMENTO DO DEVEDOR DE ACORDO COM O A LEI EM VIGOR23
5. AS PRINCIPAIS DIFICULDADES DO DIP FINANCING NO BRASIL ............. 28
5.1. FALTA CONHECIMENTO E LEGISLAÇÂO ..................................................... 30
5.2. A LRE AINDA NÃO FOI AMPLAMENTE TESTADA EM RELAÇÃO À
PROTEÇÃO E PRIORIDADE DE RECURSOS E GARANTIAS. ...................... 31
5.3. BANCOS CREDORES PREFEREM O ALONGAMENTO DE SUAS DÍVIDAS A
EMPRESTAREM DINHEIRO NOVO ................................................................ 34
6. AS MUDANÇAS DO ATUAL PROJETO DE LEI ............................................. 37
7. OPORTUNIDADES E NOVOS HORIZONTES NO BRASIL ............................ 45
8. CONCLUSÃO................................................................................................... 47
9. REFERÊNCIAS ................................................................................................ 50
10
1. INTRODUÇÃO
Desde 2014, com o início da operação Lava Jato, o Brasil enfrenta uma crise
interna desfavorável e prejudicial ao sistema produtivo e corporativo brasileiro5. A Lava
11
Jato desmembrou um dos maiores casos de corrupção do mundo, composto pela maior
empresa de petróleo do Brasil, a Petrobras, diversas das maiores empresas de
construção civil do Brasil e da América Latina como Odebrecht, OAS, Galvão
Engenharia, Andrade Gutierrez e empresas diretamente ou indiretamente relacionadas
ao sistema, além do envolvimento de mais de 190 políticos brasileiros (incluindo
julgados, denunciados, indiciados, acusados, condenados6). Cada passar de ano, a
Polícia Federal junto com os Procuradores da República descobrem e condenam mais
empresas envolvidas nesta corrupção organizada. Por consequência, a economia é
prejudicada e muitas destas ou empresas relacionadas, que apresentam um alto valor à
sociedade, falem ou iniciam seus processos de recuperação judicial.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pessoas_envolvidas_na_Opera%C3%A7%C3%A3o_Lava_Jato#List
a. Acesso em: 23 de junho de 2018.
7Turnaround Management no Brasil – Em 10 anos, quase 7 mil empresas entraram em recuperação
<http://www.tmabrasil.org/en/materias/noticias-na-midia/estudo-mostra-fatores-de-sucesso-em-
recuperacao>acesso em: 05.10.2017.
10 Lei n0 11.101/05. Vigente desde Fevereiro de 2005, altera Lei de 1945 após 60 anos.
12
A falência ocorre quando a empresa torna-se insolvente, nas hipóteses de
presunção legal, não havendo mais alternativa a não ser sua liquidação. Nesse caso, o
devedor (empresário ou sociedade empresária) é afastado do negócio e os respectivos
ativos são arrecadados e vendidos e o montante arrecadado é dividido entre os
credores conforme a ordem de preferência estabelecida na lei; com exceção dos ativos
em alienação fiduciária, que seguem um processo paralelo no processo de falência. A
recuperação judicial e extrajudicial substituem a antiga concordada e são utilizadas
quando, apesar da empresa passar por dificuldades, consegue ser recuperada
mediante a manutenção de suas operações administrativas e injeção de caixa nos
negócios da empresa de modo a superar sua crise econômico-financeira. A
recuperação judicial ocorre em âmbito e procedimento judicial com um plano de
recuperação, já a extrajudicial ocorre fora do âmbito judicial, fazendo-se necessária
homologação judicial de acordo entre a devedora e mais de 3/5 de seus credores11.
13
No Brasil apesar do devedor assumir determinados deveres adicionais em razão
da recuperação, continua a conduzir o negócio em seu próprio beneficio, não existe a
figura do DIP e na prática o Financiamento DIP refere-se ao dinheiro novo investido na
empresa durante o processo de RJ12.
12 GOLDMAN, Darius J., LIEBERMAN, Nina Ellen Abraham, NOBLE, Kenneth E., OLSEN, Matthew W.
OGX Insolvency – What Distressed Investors Need to Know About Brazilian Bankruptcy Process. Katten
Muchin Rosenman LLP. New York. 07.11.2013. Disponível em: <
https://www.lexology.com/library/detail.aspx?g=8972697e-0f3c-422c-bbbb-dce2200d5929>.acesso em:
09.11.2017.
13 Turnaround neste conceito, significa renovar uma empresa, dar a volta por cima e recomeçar.
14 Haircut neste conceito, cortar, dar um desconto.
14
Entretanto, para fornecedores, a opção de crédito novo que possibilite a
recuperação gradual da empresa pode se tornar a melhor alternativa de longo prazo.
Uma empresa cuja gestão e operação sejam remodeladas, profissionalizadas e
aperfeiçoadas, consegue com capital de giro, garantir sua revitalização e evitar o
descumprimento de obrigações existentes com seus fornecedores de modo a evitar
também uma falência conjunta. Os próprios fornecedores e clientes podem ajudar com
o capital de giro, financiando o recuperado de maneira alternativa a linha de crédito,
seja prolongando suas contas a pagar sobre bens e serviços ou fornecendo descontos,
ou seja, alterando a maneira com que cada parte conduz seus negócios entre si15.
Cabe então, negociar com fornecedores e clientes uma estratégia para liberação
de caixa além de renegociar as dívidas existentes da companhia e quando aberto
processo de recuperação judicial, aprovar um plano para obtenção de crédito novo, o
Financiamento DIP de modo a manter a empresa operante.
O Financiamento DIP (conhecido como DIP, DIP Financing, crédito novo, novos
recursos, dinheiro novo ou fresh money) é uma das principais soluções para captação
de crédito novo por empresas durante a fase de recuperação judicial sendo muito
15WAISBERG, Ivo; SARDINHA, Jose Claudio; GALEAZZI, Luiz Claudio; COSTA, Marco Antonio;
PELLEGRINI, Paolo Sergio; CARVALHO, Renato; MILANESE, Salvatore; NIRO, Veridiana N. TMA –
Turnaround Management no Brasil – Financiamento de Empresas em Recuperação judicial: Importância,
Dificuldades e Estímulos, Brasil, 2010, 1 a 6, Março, 2010. Disponível em:
<http://www.tmabrasil.org/sites/default/files/imce/materias/papers/paper_financiamento_da_recuperacao.
pdf > acesso em: 20. 10. 2017.
16 HUMTER, Carole; LEVIN, Jonathan; LAMEK, Edmond F.B. DIP Financing Strategies for distressed
15
importante seu entendimento no mercado atual17. No entanto, o assunto é muito pouco
debatido e explorado pelo poder legislativo, entidades e trabalhos acadêmicos do
Brasil, tornando seu conhecimento restrito a poucas empresas e escritórios de
advocacia.
Deste modo, este trabalho busca explicar sobre o financiamento DIP, detalhar
sua aplicabilidade na Lei brasileira e discutir sobre as principais dificuldades
apresentadas por empresas, bancos e fornecedores brasileiros, além de apresentar
oportunidades e novos horizontes no mercado desafiador em que vivemos. Serão
apresentados também, incentivos legais e econômicos necessários para que
financiadores e fornecedores continuem a conceder crédito novo a empresas brasileiras
durante o processo de recuperação judicial e, assim, evitem bloquear as atividades
operacionais que impactam diretamente no desemprego e falência das empresas.
Como referências foram utilizadas obras, artigos e matérias locais e estrangeiras, assim
como a pesquisa realizada pela Turnaround Management Association (TMA)18, casos
de sucesso do DIP Financing no Brasil, análise da atual Lei e Projeto de Lei, e análise
do Chapter 11 of the US Bankruptcy Code; com objetivo de agregar conhecimento aos
estudos acadêmicos sobre um tema de extrema atualidade, necessidade e pouco
debatido.
17 RIBEIRO DIAS, Leonardo Adriano. Tese USP – Financiamento de empresas em crise. Dissertação
apresentada a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo para obtenção do título de mestre em
direito. São Paulo, 2012.
18 WAISBERG, Ivo; SARDINHA, Jose Claudio; GALEAZZI, Luiz Claudio; COSTA, Marco Antonio;
PELLEGRINI, Paolo Sergio; CARVALHO, Renato; MILANESE, Salvatore; NIRO, Veridiana N. TMA –
Turnaround Management no Brasil – Financiamento de Empresas em Recuperação judicial: Importância,
Dificuldades e Estímulos, Brasil, 2010, 1 a 6, Março, 2010. Disponível em:
<http://www.tmabrasil.org/sites/default/files/imce/materias/papers/paper_financiamento_da_recuperacao.
pdf> acesso em: 20. 10. 2017.
16
suas dívidas a emprestarem dinheiro novo. A primeira abrange problemas de
legislação; a segunda, de aplicabilidade e a terceira, dificuldades de mercado.
A alteração da Lei é um assunto que pode gerar muito debate hoje em dia, dado
toda a atual necessidade de profissionalizar e estruturar corretamente o processo. Mas
não podemos contar apenas com a aprovação do PL, o estudo do tema deve
prosseguir detalhando seus desafios e possíveis novos horizontes.
19
FERNANDES, ADRIANA. Jornal do Estado de São Paulo. 9 de maio de 2017. Disponível em:
https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,para-acelerar-economia-governo-quer-mudar-lei-de-
recuperacao-judicial,70001768798 . Acesso em: Outubro 2017.
17
2. CONTEXTO HISTÓRICO
20 HUMTER, Carole; LEVIN, Jonathan; LAMEK, Edmond F.B. DIP Financing Strategies for distressed
companies. Disponível em:< https://nanopdf.com/download/dip-financing-strategies-for-distressed-
companies_pdf >. acesso em: 26.06.2018.
21 Milanese, Salvatore. TMA – Distressed Investing: o que é e quais as oportunidades no Brasil?.
Fonte: The Deal Pipeline. Não inclui o financiamento a um Structured Asset Backed Commercial Paper
canadense no valor de US$13.762,87 milhões.
18
maiores desafios do que o esperado, a maioria dos planos aprovados no Brasil não são
planos para reestruturar economicamente as empresas para assegurar a continuidade
das operações e viabilidade do negócio, mas planos de renegociação de dívidas. A falta
de casos de sucesso da recuperação judicial brasileira que utilizaram como solução o
DIP é fundamental. Existem pouquíssimo casos de Financiamento DIP no Brasil das
quais muitas das tentativas para financiamento durante a recuperação judicial de
empresas não foram caracterizadas como DIP por não se adequarem as exigências do
modelo e legislação.
19
por último, houve um comum interesse entre a companhia e partes envolvidas26.
26 GOLDMAN, Darius J., LIEBERMAN, Nina Ellen Abraham, NOBLE, Kenneth E., OLSEN, Matthew W.
OGX Insolvency – What Distressed Investors Need to Know About Brazilian Bankruptcy Process. Katten
Muchin Rosenman LLP. New York. 07.11.2013. Disponível em: <
https://www.lexology.com/library/detail.aspx?g=8972697e-0f3c-422c-bbbb-dce2200d5929>.acesso em:
09.11.2017.
27 Plano de Recuperação Judicial OAS, Setembro de 2015.
28
Art. 67,84 e149, LRE. Cláusula 2.1.4
29 CONJUR. Empresa em recuperação consegue financiamento sem entregar controle de bens.
20
3. O FINANCIAMENTO DIP
Chegando ao limite de seu capital de giro e não tendo mais opções de caixa, a
empresa tem três alternativas. Primeiro, discutir com os atuais credores sem
participação a possibilidade de rolagem das atuais dívidas; segundo, convencer um dos
atuais credores a disponibilizar crédito novo atrelado à possibilidade de colher, ou não,
parte do resultado da reestruturação; ou terceiro, encontrar um novo financiador
especializado em financiamentos DIP. Este último costuma ser ágil no processo de
estruturação, mas por se tratar de um novo relacionamento pode exigir uma due
dilingence33 extensa e fee’s34 bem altos.
31 Capital de Giro é utilizado para financiar a continuidade das operações da empresa, seja para
aquisições de estoques, compra de mercadorias ou pagamento de despesas operacionais - fonte
32 Art, 67, 84 e 149 da LRE.
33 Due Dilligence refere-se ao processo de investigação de uma oportunidade de negócio.
34 Fee – refere-se a uma taxa em percentual (%) de cobrança sobre uma transação.
21
empresa que justifique qualquer uma de suas escolhas. Uma vez aprovada à
estruturação, seu financiador exigirá informações atualizadas da situação econômica e
operacional da empresa em tempo real. Qualquer alteração na gestão, venda de ativos,
desativação de linhas de negócio deverão ser comunicadas e consultadas pelo
financiador.
22
4. O FINANCIAMENTO DO DEVEDOR DE ACORDO COM O A LEI EM VIGOR
A LRE que abrange a recuperação judicial de empresas no Brasil foi criada com
o objetivo de evitar a falência de empresas e preservar suas operações para manter a
empresa sempre operando e estimulando a economia, protegendo assim postos de
trabalho em detrimento dos interesses dos acionistas da empresa em crise, que se
subordinam ao objetivo social da Lei35.
23
período que antecede a aprovação do plano de recuperação judicial
“37.
24
I. remunerações devidas ao administrador judicial e seus
auxiliares, e créditos derivados da legislação do trabalho ou
decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços
prestados após a decretação da falência;
II. quantias fornecidas à massa pelos credores;
III. despesas com arrecadação, administração, realização do
ativo e distribuição do seu produto, bem como custas do
processo de falência;
IV. custos judiciais relativas às ações e execuções em que a
massa falida tenha sido vencida;
V. obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados
durante a recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta
Lei, ou após a decretação da falência, e tributos relativos a
fatos geradores ocorridos após a decretação da falência,
respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei “40.
25
de credores e fornecedores que oferecem financiamento após a petição: (i) créditos
petição são considerados direitos super prioritários caso a recuperação judicial seja
convertida em uma liquidação e (ii) créditos petição e quirografários passam a ser
prioritários quando o credor continua a fornecer bens e serviços ou a financiar a
empresa, mas somente se a recuperação for convertida em liquidação. Mas mesmo
assim, não está claro se os créditos antigos podem ser alçados à condição de privilégio
geral sob qualquer novo financiamento (Art. 67) e, portanto, existe a necessidade de
explorar o temo para melhorar o tratamento sobre o assunto e possibilitar a
estruturação do financiamento DIP durante o processo de RJ.
42
SCHWARTZMAN, ANDRÉ. Conjur – Consultor Jurídico. Matéria: Lei de Falências impede acesso a
capital de giro por Alessandro Cristo. São Paulo, 1 de Maio de 2010. Disponível em <
https://www.conjur.com.br/2010-mai-01/lei-falencias-atrapalha-financiador-impede-acesso-capital-giro>:
Acesso em: Novembro 2017.
43 Valor Mobiliário ou título financeiro é um tipo de instrumento financeiro emitido por empresas públicas
26
mobiliários45 e renegociação de dívidas46 por acionistas ou administradores da
companhia, não expressa base jurídica necessária para financiamentos sob caráter
super-extraconcursal e, portanto mais uma vez, não oferece o devido conforto aos
financiadores do DIP.
27
5. AS PRINCIPAIS DIFICULDADES DO DIP FINANCING NO BRASIL
Por outro lado, os problemas que os Bancos mais citaram foram: (i) questão
cultural, bancos credores preferem o alongamento de suas dívidas a emprestarem
dinheiro novo; (ii) regulação do Banco Central, falta de regulamentação; (iii) visão sobre
a RJ, bancos evitem RJ a todo custo, preferindo reestruturações negociadas; (iv)
poucos exemplos, a LRE ainda não foi amplamente testada em relação à proteção e
prioridade de recursos; (v) insegurança jurídica, na prática a LRE tem decepcionado,
48 WAISBERG, Ivo; SARDINHA, Jose Claudio; GALEAZZI, Luiz Claudio; COSTA, Marco Antonio;
PELLEGRINI, Paolo Sergio; CARVALHO, Renato; MILANESE, Salvatore; NIRO, Veridiana N. TMA –
Turnaround Management no Brasil – Financiamento de Empresas em Recuperação judicial: Importância,
Dificuldades e Estímulos, Brasil, 2010, 1 a 6, Março, 2010. Disponível em:
<http://www.tmabrasil.org/sites/default/files/imce/materias/papers/paper_financiamento_da_recuperacao.
pdf> acesso em: 20. 10. 2017.
28
(vi) funding, devido a incerteza do prazo para solução gera problemas para bancos
pequenos e médios, (vi) falta de incentivo, devido ao pouco conhecimento no
financiamento DIP não existem áreas em Bancos focadas neste setor; (vii) falta de
mercado secundário, quase não existe um mercado secundário de venda de dívidas
com desconto.
29
Dentre as diversas dificuldades apresentadas, foram serão analisadas três delas,
devido a sua constante menção a necessidade de mudanças em diversas matérias e
artigos: uma relacionada a legislação, uma relacionada ao setor Bancário e outra
relacionada a sua aplicabilidade.
49 ELIAS, Luis Vasco. 10 anos da Lei de Recuperação de Empresas e Falências – Reflexões sobre a
Reestruturação Empresarial no Brasil. Quartier Latin do Brasil. São Paulo. 2015.
50 Estudo feito pelos estudantes Lynn LoPucki e Joseph Doherty da Universidade da Califórnia em Los
Angeles (UCLA) nos Estados Unidos mostra que o conhecimento dos juízes é uma das variáveis mais
importante para o sucesso de recuperações judiciais.
30
O Tribunal de Justiça de São Paulo mantém duas varas, a 1ª e a 2ª,
especializadas em falências e recuperações judiciais desde 2005. O crescente aumento
da quantidade de pedidos de RJ nos últimos anos tornou a discussão do tema ainda
maior. Recentemente no dia 5 de Dezembro de 2017 foi inaugurada a 3ª Vara de
Falências e Recuperações Judiciais na capital paulista. Entretanto no Brasil, existem
poucas varas especializadas em falência e recuperação de empresas. De acordo com
dados do Conselho Nacional de Justiça, existem varas especializadas em falência e
recuperação judicial apenas em 17 Comarcas no Brasil, localizadas em São Paulo, Rio
de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Campo Grande,
Florianópolis, Fortaleza, Cuiabá, Vitória, Juiz de Fora/MG, Contagem/MG, Uberaba/MG,
Montes Claros/MG, Macapá/AP e Novo Hamburgo/RS. Varas de Falência e
Recuperação Judicial. Porém muitas dessas Varas supostamente especializadas não
são efetivamente especializadas, na medida em que acumulam competências
distintas51.
31
O principal fator que diferencia a lei brasileira da lei americana, é que na
americana, se o devedor não é capaz de obter crédito sem garantia, o juízo competente
pode autorizar a obtenção de crédito com senioridade máxima de repagamento sobre
qualquer outro passivo existente, mais sênior que outros créditos extraconcursais e até
mesmo que créditos trabalhistas além de garantido por um ativo que ainda não tenha
sido objeto de garantia, e ainda, para casos em que a garantia já tiver sido oferecida a
outro credor, permite que seja utilizada por uma penhora de nível inferior ao já
existente52. Neste caso, após aprovação do juízo, é concedido status de super
senioridade aos financiadores do Financiamento DIP e até mesmo ao governo norte-
americano (muitas vezes potencial credor), criando o conforto econômico e jurídico
necessário53. Ou seja, o credor que aportou dinheiro novo para a companhia após o
pedido de RJ passa na frente dos credores previamente listados antes do pedido.
52
UNITED STATES BANKRUPTCY COURT SOUTHERN DISTRICT OF NEW YORK. Guidelines of
Financing Requests. New York, Seção 364, inciso “c” e “d”. 20.03. 2002. Disponível em:
<https://www.iiiglobal.org/sites/default/files/media/Proposed_Guidelines_for_Reorganizational_SDNY.pdf>
. acesso em: 17. 06. 2018.
53 ELIAS, Luis Vasco. 10 anos da Lei de Recuperação de Empresas e Falências – Reflexões sobre a
32
instauração e votação nas assembleias gerais de credores55. São elas:
55
ROSAS, Fabio; NOGUEIRA, Luciana Faria; Distressed M&A em processos de insolvência –
recuperação judicial. São Paulo. 20.06.2018. Disponível em: <
https://www.lexisnexis.com.br/lexis360/doc/2803219/distressed-ma-em-processos-de-insolvencia-
recuperacao-extrajudicial/ >. Acesso em 27.06.2018.
56 SOUZA, PALOMA CZELUSNIAKI. Os Direitos Trabalhistas na Recuperação Judicial. Disponível em:
33
E, portanto a lei não facilita para a obtenção de crédito novo. Diferente do Brasil,
nos Estados Unidos uma vez aprovada a operação pelo juízo competente, para que o
credor obtenha status de super sênior, deve demonstrar que a recuperada não
apresenta nenhuma alternativa de financiamento no mercado. Já no Brasil é diferente,
para que credor esteja disposto a tomar o risco do financiamento, existe a falta de uma
segurança jurídica expressa, que dê a ele o conforto para obter o tratamento super
sênior.
60.FELSBERG, THOMAS. Conjur – Consultor Jurídico. Matéria: Lei de Falências impede acesso a capital
de giro por Alessandro Cristo. São Paulo, 2 de Maio de 2010. Disponível em <
http://www.leidefalencias.com.br/noticia.php?id=189/conjur-lei-de-falencias-atrapalha-financiador-e-
impede-acesso-a-capital-de-giro >: Acesso em: Novembro 2017.
34
prática é que esses optam por alongar suas dividas ou até mesmo aceitar um haircut
em suas posições de crédito, a emprestar crédito novo durante um processo de
reestruturação. Consequentemente, empresas queimam grande quantidade de caixa
tentando negociar diretamente com credores a rolagem de suas dívidas até chegar a
um ponto insustentável em capacidade de negociação e com consequentemente sem
caixa61.
Existe outro fator que faz com que os Bancos prefiram alongar suas dívidas a
financeiras existe a necessidade de beneficio para investidores, pois os financiamentos muitas vezes são
viabilizados mediante a participação de outros investidores para redução do risco de credito. E para tanto
se há a necessidade de benefícios legais e econômicos para atrair esses investidores.
63 Estudo feito pelos estudantes Lynn LoPucki e Joseph Doherty da Universidade da Califórnia em Los
Angeles (UCLA) nos Estados Unidos mostra que o conhecimento dos juízes é uma das variáveis mais
importante para o sucesso de recuperações judiciais.
35
emprestar dinheiro novo para empresas em RJ. De acordo com os critérios
estabelecidos pelo Banco Central64 para que Bancos já credores de uma companhia
disponibilizem um financiamento novo para o mesmo grupo ou companhia, seja ele DIP
ou não, precisam provisionar o crédito novo no mesmo nível de risco de sua operação
anterior. Ou seja, para um devedor em recuperação judicial, cujo crédito já estará quase
ou totalmente provisionado, devido a sua situação econômico-financeira, o novo
financiamento DIP deverá ser provisionado nos mesmos critérios da operação passada,
independentemente da garantia oferecida. Portanto para viabilizar o financiamento DIP
além de fornecer uma taxa atrativa e senioridade, precisa-se também estar atento as
regras de balanço estabelecida aos Bancos que terão menos interesse ao lembrarem
que precisam provisionar a operação já em um primeiro momento e consequentemente,
optaram pela rolagem de suas dívidas ou até mesmo a realizar outras operações com
menor retorno, mas também menor risco.
36
6. AS MUDANÇAS DO ATUAL PROJETO DE LEI
Existe agora uma seção no PL apenas sobre o financiamento, Seção IV-A, a qual
determinada o enquadramento de financiamentos do devedor e do grupo devedor
durante o processo de recuperação judicial. Analisaremos então cada um dos artigos
desta seção comparando-os com a lei atual e práticas de mercado.
37
sujeitos à recuperação judicial, familiares, sócios e integrantes do
grupo do devedor, atendido o disposto no art. 69-F.” (NR)
65
Art, 69-C PL.
38
sem ônus para o adquirente, o qual não responderá por dívidas e
obrigações, conforme o disposto no art. 60.” (NR)
Negociar um ativo já dado em garantia a um credor está entre uma das maiores
dificuldades do processo. É difícil acreditar que a senioridade da garantia do DIP terá
prioridade absoluta sob qualquer outra garantia existente. Portanto, sua legislação é
acima de tudo fundamental para melhorar a base jurídica e viabilizar o financiamento.
As garantias já oneradas e mesmo assim novamente exigidas por Intuições Financeiras
são peça fundamental para viabilidade do crédito extraconcursal. Quando se trata de
DIP ser extraconcursal é exigência mínima para se tomar tal risco. Os ativos da
empresa podem ser cedidos e tornados seniores às garantias atuais, desde que se
mantenha a atual escala de senioridade e exista comum acordo com o atual proprietário
da garantia, dinâmica comum no exterior e atualmente não regulamentada na atual Lei.
39
VII - minuta de edital com a indicação de data, hora e local
de realização de assembleia geral de credores para deliberar
sobre a proposta de financiamento a ocorrer no prazo
máximo de quarenta e cinco dias da data da apresentação
da proposta; e
VIII - análise da viabilidade da qual conste a engenharia
financeira do financiamento, o nível máximo de alavancagem
permitido e os elementos para proteção dos credores não
sujeitos à recuperação judicial.
40
§ 5º Na ausência de manifestações que superem o percentual
previsto no § 4º ou comprovada a adesão dos credores à proposta
do devedor, nos termos do caput do art. 45-A, a proposta de
financiamento será considerada aprovada.
Não existia uma seção apenas sobre o financiamento, com detalhes dos
procedimentos e documentações necessárias para se obter aprovação, passaram
agora a detalhar no artigo 69-D.
67
Art, 69-E PL.
68
Art, 69-F PL.
41
Parágrafo único. O financiamento concedido em observância ao
disposto nesta Seção assegurará ao financiador prioridade absoluta
sobre o valor de excussão dos ativos onerados ou alienados
fiduciariamente, até o limite dos valores efetivamente entregues ao
devedor, observada a ressalva prevista no caput.” (NR)
69
Art, 69-G PL.
42
“Art. 69-H. Caso a recuperação judicial seja convolada em falência
antes da liberação integral dos valores de que trata esta Seção, o
contrato de financiamento será considerado automaticamente
rescindido sem incorrer em multas e encargos decorrentes da
rescisão70.
Conforme descrito pelo TMA, para sucesso do DIP são necessários Bancos de
bom porte e com capacidade de funding que possam reduzir o risco da operação, a
ponto de não se preocupar por inteiro com um financiamento deste tipo. É preciso
70
Art, 69-H PL.
71
Art, 69-I PL.
43
beneficiar as Instituições Financeiras e seus investidores através da lei para incentivá-
los a tomarem o risco do financiamento e crédito envolvido. Nos EUA existem muitas
instituições financeiras desde Bancos e grandes fundos que participam do DIP em
conjunto não necessariamente tomando todo risco de crédito, contam também com
seguradoras e investidores para diluição de sua posição. O Conselho monetário
Nacional (CMN) traz a definição de risco de credito na Resolução 4.557/201772.
Não basta apenas o apetite das instituições para aprovar o DIP, é preciso
também contar com o plano de reestruturação efetivo dentro da empresa para alterar o
modelo de gestão e melhorar a governança coorporativa com mais transparência e
profissionalismo. Assim como, criar um histórico de sucesso nas reestruturações para
melhorar a confiabilidade jurídica. Como acontece nos Estados Unidos, espera-se
reduzir para dois anos todo o processo de recuperação judicial brasileira; hoje em dia
pode chegar a mais de 15 anos.
72
Art. 21. Para fins desta Resolução, define-se o risco de crédito como a possibilidade de ocorrência de
perdas associadas a: I - não cumprimento pela contraparte de suas obrigações nos termos pactuados; II -
desvalorização, redução de remunerações e ganhos esperados em instrumento financeiro decorrentes da
deterioração da qualidade creditícia da contraparte, do interveniente ou do instrumento mitigador; III -
reestruturação de instrumentos financeiros; ou IV - custos de recuperação de exposições caracterizadas
como ativos problemáticos, nos termos do art. 24. Resolução nº 4.557, de 23 de fevereiro de 2017.
Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attach
ments/50344/Res_4557_v1_O.pdf >. Acesso em: 23.06.18.
44
7. OPORTUNIDADES E NOVOS HORIZONTES NO BRASIL
http://www.valor.com.br/empresas/5139666/pdg-entrega-justica-novo-plano-de-recuperacao-judicial>
acesso em: 19.06.2018
45
prospectar e adotar medidas durante a recuperação judicial visando à obtenção de
novos recursos, sendo que, caso venham a ser obtidos os referidos novos
financiamentos, as obrigações a eles correspondentes terão natureza extraconcursal77”.
77VALOR ECONÔMICO. Justiça entrega novo plano de recuperação judicial. Disponível em:
<http://www.valor.com.br/empresas/5139666/pdg-entrega-justica-novo-plano-de-recuperacao-judicial >.
Acesso em: 25.06.2018.
46
8. CONCLUSÃO
O DIP no Brasil por mais que rentável, não encoraja os credores a tomarem o
risco com a Lei em vigor, mas pelo contrário, as empresas que conseguem aprová-lo,
terão maiores probabilidades de sucederem ao plano de recuperação judicial. É
importante que haja mudança na legislação. A Lei 11.101/05 precisa ser mais clara e
especifica como demonstra o PL, principalmente quando se tratar de prioridade de
recursos para financiamentos de empresas em RJ78. É de extremamente importância, a
definição de direitos prioritários com o Financiamento DIP extraconcursal acima de
qualquer outro crédito extraconcursal. Como visto anteriormente, há apenas duas
menções objetivas ao financiamento de empresas em recuperação judicial na lei, art. 67
e art. 84 que atualmente tratam o financiamento extraconcursal no mesmo nível de
senioridade de créditos existentes também extraconcursais. Essa é uma variável
fundamental para mitigar a tomada de risco de crédito de Instituições estruturadas do
dinheiro novo. Exclui-se deste caso os credores trabalhistas que devem ser pagos
invariavelmente em até um ano após o pedido (tanto no Brasil quanto nos Estados-
Unidos).
O Projeto de Lei é essencial atingir este objetivo. Mas como visto pelo sistema
norte-americano, horas de voo são fundamentais para criar o tempo e conhecimento
necessário para se testar o financiamento com empresas, escritórios e investidores
78ELIAS, Luis Vasco. 10 anos da Lei de Recuperação de Empresas e Falências – Reflexões sobre a
Reestruturação Empresarial no Brasil. Quartier Latin do Brasil. São Paulo. 2015.
47
brasileiros, e uma vez aprovado, não será apenas o Projeto de Lei que criará o
ambiente jurídico e econômico necessário para aumentar o apetite de todos. As
exigências do mercado local e internacional é variável fundamental para viabilidade do
DIP.
79 GUIMARÃES, Eduardo Moreira. Recuperação Judicial no Brasil após a Lava-Jato. Causas e impactos.
2017. 39. Monografia de Final de Curso – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2017. Disponível em: < http://www.econ.puc-
rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/Eduardo_Moreira_Guimaraes.pdf >. acesso em: 10.06.2018.
48
extrajudicial e falência80. A referida proposta ganhou o número PL 10.220/2018 e
encontra-se aguardando despacho do presidente da Câmara dos Deputados.
80 CONJUR. Temer envia ao Congresso nova lei de falência e recuperação judicial. Disponível em: <
https://www.conjur.com.br/2018-mai-10/temer-envia-congresso-lei-falencia-recuperacao-judicial> acesso
em: 20.06.2018.
49
9. REFERÊNCIAS
50
11.GOLDMAN, Darius J., LIEBERMAN, Nina Ellen Abraham, NOBLE,
Kenneth E., OLSEN, Matthew W. OGX Insolvency – What Distressed
Investors Need to Know About Brazilian Bankruptcy Process. Katten
Muchin Rosenman LLP. New York. 07.11.2013. Disponível em: <
https://www.lexology.com/library/detail.aspx?g=8972697e-0f3c-422c-bbbb-
dce2200d5929>.acesso em: 09.11.2017.
51
19.SCHWARTZMAN, ANDRÉ. Conjur – Consultor Jurídico. Matéria: Lei de
Falências impede acesso a capital de giro por Alessandro Cristo. São
Paulo, 1 de Maio de 2010. Disponível em <
https://www.conjur.com.br/2010-mai-01/lei-falencias-atrapalha-financiador-
impede-acesso-capital-giro>: Acesso em: Novembro 2017.
LEIS E INSTRUÇÕES
52
2. PALACIO DO PLANALTO. Lei 11.101/2005 regula a recuperação judicial,
a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária..
Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/lei/l11101.htm > acesso em: 10.10. 2017.
MATÉRIAS DA INTERNET
53
5. CONJUR. Temer envia ao Congresso nova lei de falência e
recuperação judicial. Disponível em: < https://www.conjur.com.br/2018-
mai-10/temer-envia-congresso-lei-falencia-recuperacao-judicial> acesso
em: 20.06.2018.
54
13. VALOR ECONÔMICO. PDG entrega à justiça novo plano de
recuperação judicial. Disponível em: <
http://www.valor.com.br/empresas/5139666/pdg-entrega-justica-novo-
plano-de-recuperacao-judicial> acesso em: 19.06.2018
55