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INSPER – INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA

LLM. EM DIREITO DO MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS

STÉFANO HELOU FRONTINI

O FINANCIAMENTO DIP NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL BRASILEIRA:


DIFICULDADES E OPORTUNIDADES

SÃO PAULO
2018
STÉFANO HELOU FRONTINI

O FINANCIAMENTO DIP NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL BRASILEIRA:


DIFICULDADES E OPORTUNIDADES

Trabalho de conclusão de curso para a


obtenção do título de especialista em
Direito Financeiro, do LLM. em Direito
do Mercado Financeiro e de Capitais no
Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa.

Orientador: Pamela Gabrielle Romeu


Gomes Roque

SÃO PAULO
2018
Frontini, Stéfano Helou
O Financiamento DIP na Recuperação Judicial
Brasileira:
Dificuldades e oportunidades
Stéfano Helou Frontini – São Paulo, 2018
n.f.

Trabalho de Conclusão de Curso LL.M – Insper, 2018.


Orientador: Pamela Gabrielle Romeu Gomes Roque

1. Financiamento DIP. 2. Recuperação Judicial


3. DIP Financing. 4. Crédito novo. I. Stéfano Helou Frontini.
II. O Financiamento DIP na Recuperação Judicial
Brasileira - Dificuldades e oportunidades.
.
STÉFANO HELOU FRONTINI

O FINANCIAMENTO DIP NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL BRASILEIRA:


DIFICULDADES E OPORTUNIDADES

Trabalho de conclusão de curso para a


obtenção do título de especialista em
Direito Financeiro, do LL.M em Direito
do Mercado Financeiro e de Capitais no
Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa.

DATA DE APROVAÇÃO: / /

BANCA EXAMINADORA

_________________________
NOME COMPLETO
TITULAÇÃO
INSTITUIÇÃO

_________________________
NOME COMPLETO
TITULAÇÃO
INSTITUIÇÃO

_________________________
NOME COMPLETO
TITULAÇÃO
INSTITUIÇÃO
Dedicatória:

Agradeço a minha mãe e meu pai


RESUMO

Utilizado por empresas como alternativa para obtenção de dinheiro novo durante
seus processos de recuperação judicial, o Financiamento DIP apresenta um grande
desafio no Brasil para aprovar seu modelo, convencer instituições a conceder o
crédito e atrair o interesse de investidores: o tema é pouco explorado e não
apresenta legislação suficiente.

O presente trabalho apresentará a aplicabilidade do financiamento na Lei de


Recuperação de Empresas, fazendo um comparativo com o Projeto de emenda da
Lei, em andamento no Congresso Nacional. Será apresentada também a
aplicabilidade do Financiamento DIP no mercado brasileiro, discutindo as principais
dificuldades legais e práticas apresentadas por empresas, bancos e fornecedores
brasileiros para sua utilização. Dentre os diversos problemas, serão aprofundadas
três das principais causas: (i) a falta conhecimento e legislação; (ii) a Lei de
Recuperação de Empresas ainda não foi amplamente testada em relação à proteção
e prioridade de recursos e; (iii) bancos credores preferem o alongamento de suas
dívidas a emprestarem dinheiro novo. Em seguida, serão discutidos fatores de
mercado que facilitam na estruturação e aprovação do crédito para criar
oportunidades e dar novos horizontes às empresas no Brasil.

Palavras-chave: Financiamento DIP; Recuperação Judicial; DIP financing; Crédito


novo.
ABSTRACT

Used by corporations as an alternative to fund itself with new credit during its judiciary
recovery plans, the DIP financing presents a major challenge in Brazil in order to
approve its model, convince financial institutions to structure the credit and attract the
investors’ interest: the financing is not enough explored and covered by the legislation.

This article presents the applicability of the financing in the existing Brazilian law: Lei de
Recuperação de Empresas, as well as compares the law with the draft law amendment,
in discussion in the National Congress. It also presents the use of DIP financing in the
Brazilian market, discussing the main legal and practical difficulties for their use
presented by Brazilian companies, banks and suppliers. Among the various problems,
three of the main causes will be deepened: (i) the lack of knowledge and legislation; (ii)
the Corporate Recovery Law has not yet been widely tested in relation to the protection
and priority of resources; (iii) banking creditors prefers to stretch their debts to lend new
money. Then, we will discuss market factors that facilitate the structuring and approval
of credit to create opportunities and give new horizons to companies in Brazil.

Key-words: DIP Loans; Judicial Recovery; DIP financing; new credit.

7
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Maiores transações Mundiais de Financiamento DIP*.................................. 18

8
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CCAA COMPANIES’ CREDITORS ARRANGEMENT ACT


CMN CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL
CVM COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS
DIP DEBTOR-IN-POSSESSION
FMI FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL
INRE INSTITUTO NACIONAL DA RECUPERAÇÃO EMPRESARIAL
LRE LEI DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS
PL PROJETO DE LEI
TMA TURNAROUND MANAGEMENT ASSOCIATION

9
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11
2. CONTEXTO HISTÓRICO ................................................................................. 18
3. O FINANCIAMENTO DIP ................................................................................. 21
4. O FINANCIAMENTO DO DEVEDOR DE ACORDO COM O A LEI EM VIGOR23
5. AS PRINCIPAIS DIFICULDADES DO DIP FINANCING NO BRASIL ............. 28
5.1. FALTA CONHECIMENTO E LEGISLAÇÂO ..................................................... 30
5.2. A LRE AINDA NÃO FOI AMPLAMENTE TESTADA EM RELAÇÃO À
PROTEÇÃO E PRIORIDADE DE RECURSOS E GARANTIAS. ...................... 31
5.3. BANCOS CREDORES PREFEREM O ALONGAMENTO DE SUAS DÍVIDAS A
EMPRESTAREM DINHEIRO NOVO ................................................................ 34
6. AS MUDANÇAS DO ATUAL PROJETO DE LEI ............................................. 37
7. OPORTUNIDADES E NOVOS HORIZONTES NO BRASIL ............................ 45
8. CONCLUSÃO................................................................................................... 47
9. REFERÊNCIAS ................................................................................................ 50

10
1. INTRODUÇÃO

Vivemos um cenário de crise política-econômica favorável à falência de


empresas e não ao sucesso de recuperações judiciais. A obtenção de novos recursos
pode ser uma medida indispensável durante o processo de Recuperação Judicial para
garantir o sucesso do plano.

Não se pode negar que as empresas sempre exerceram uma atividade de


grande importância social, gerando empregos, direta e indiretamente, e fazendo circular
riquezas na economia. Preservar uma empresa em dificuldade é um interesse não só
dos titulares, mas de toda a sociedade que acaba se beneficiando com a existência da
mesma.1

O Brasil apresenta em Abril de 20182, 75,9% de índice de endividamento da


economia (dívida bruta geral/PIB). Esse resultado pode ter sido acelerado por políticas
públicas ou movimento natural para economias em desenvolvimento, como é o caso do
Brasil. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) a dívida brasileira
aumenta acompanhando os gastos crescentes do governo sem haver uma evolução
semelhante na arrecadação de impostos3. O inadimplemento no Brasil atingiu mais de 5
milhões de micro e pequenas empresas em fevereiro de 20184.

Desde 2014, com o início da operação Lava Jato, o Brasil enfrenta uma crise
interna desfavorável e prejudicial ao sistema produtivo e corporativo brasileiro5. A Lava

1 RODRIGUES, LUIS BARROSO. Direito Empresarial. 2011, p. 134.


2Banco Central. Relatório IV.29 - Dívida líquida e bruta do Governo Geral. Disponível em:
http://www.bcb.gov.br/pec/Indeco/Port/indeco.asp. Acesso em: 23 de junho de 2018.
3 BBC News - FMI alerta para alto endividamento do governo; saiba como isso afeta sua vida. Disponível

em: < https://www.bbc.com/portuguese/brasil-37558443>. acesso em: 20.06.2018.


4 SERASA EXPERIAN. Inadimplência atinge mais de 5 milhões de micro e pequenas empresas, revela

Serasa Experian. São Paulo. 11.04.2018. Disponível em:


<https://www.serasaexperian.com.br/sala-de-imprensa/inadimplencia-atinge-mais-de-5-milhoes-de-
micro-e-pequenas-empresas-revela-serasa-experian>acesso em: 27.06.2018.
5 O GLOBO – A Operação Lava-Jato em quatro anos já investigou mais de cem políticos, entre eles o

presidente da República, ex-presidentes e ministros de Estado. Políticos de 14 partidos, como PT e


PSDB, foram investig ados e denunciados neste período. Disponível em:

11
Jato desmembrou um dos maiores casos de corrupção do mundo, composto pela maior
empresa de petróleo do Brasil, a Petrobras, diversas das maiores empresas de
construção civil do Brasil e da América Latina como Odebrecht, OAS, Galvão
Engenharia, Andrade Gutierrez e empresas diretamente ou indiretamente relacionadas
ao sistema, além do envolvimento de mais de 190 políticos brasileiros (incluindo
julgados, denunciados, indiciados, acusados, condenados6). Cada passar de ano, a
Polícia Federal junto com os Procuradores da República descobrem e condenam mais
empresas envolvidas nesta corrupção organizada. Por consequência, a economia é
prejudicada e muitas destas ou empresas relacionadas, que apresentam um alto valor à
sociedade, falem ou iniciam seus processos de recuperação judicial.

De acordo com estudo do Instituto Nacional da Recuperação Empresarial


(INRE), entre 2005 e 2015, em 10 anos, foram registrados 6.938 pedidos de
recuperação judicial e 3.859 pedidos de falência7. Entre 2010 e 2015, aproximadamente
60% das empresas criadas neste período faliram no Brasil8. A quantidade de empresas
que entraram em recuperação judicial só cresceu, o recorde de pedidos ocorreu em
2016, foram 1.863 solicitações, 45% superior a 20159.

No Brasil, a Lei em vigor que abrange o processo de recuperação judicial é a Lei


n0 11.10110, Lei de Recuperação de Empresas (LRE), de 9 de fevereiro de 2005. Criada
com o objetivo de legislar à recuperação judicial, à recuperação extrajudicial e à
falência do empresário e da sociedade empresária.

https://oglobo.globo.com/brasil/em-quatro-anos-lava-jato-ja-alcancou-14-partidos-22569538. Acesso em:


15 de abril de 2018.
6 Wikipedia. Lista de envolvidos na Lava jato. Disponível em:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pessoas_envolvidas_na_Opera%C3%A7%C3%A3o_Lava_Jato#List
a. Acesso em: 23 de junho de 2018.
7Turnaround Management no Brasil – Em 10 anos, quase 7 mil empresas entraram em recuperação

judicial no Brasil. São Paulo. Disponível em: http://tmabrasil.org/en/materias/noticias-na-midia/em-10-


anos-quase-7-mil-empresas-entraram-em-recuperacao-judicial-no> acesso em: 10.06.2018.
8
Pesquisa Demografia das Empresas. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível
em: http://www.valor.com.br/brasil/5144808/maioria-das-empresas-fecha-portas-apos-cinco-anos-diz-
ibge. Notícia de: 04.10.2017.
9 Serasa Experian. Artigo TMA. Estudo mostra fatores de sucesso em recuperação. Disponível em:

<http://www.tmabrasil.org/en/materias/noticias-na-midia/estudo-mostra-fatores-de-sucesso-em-
recuperacao>acesso em: 05.10.2017.
10 Lei n0 11.101/05. Vigente desde Fevereiro de 2005, altera Lei de 1945 após 60 anos.

12
A falência ocorre quando a empresa torna-se insolvente, nas hipóteses de
presunção legal, não havendo mais alternativa a não ser sua liquidação. Nesse caso, o
devedor (empresário ou sociedade empresária) é afastado do negócio e os respectivos
ativos são arrecadados e vendidos e o montante arrecadado é dividido entre os
credores conforme a ordem de preferência estabelecida na lei; com exceção dos ativos
em alienação fiduciária, que seguem um processo paralelo no processo de falência. A
recuperação judicial e extrajudicial substituem a antiga concordada e são utilizadas
quando, apesar da empresa passar por dificuldades, consegue ser recuperada
mediante a manutenção de suas operações administrativas e injeção de caixa nos
negócios da empresa de modo a superar sua crise econômico-financeira. A
recuperação judicial ocorre em âmbito e procedimento judicial com um plano de
recuperação, já a extrajudicial ocorre fora do âmbito judicial, fazendo-se necessária
homologação judicial de acordo entre a devedora e mais de 3/5 de seus credores11.

Nos Estados Unidos, o US Bankruptcy Code (lei de falência de empresas norte-


americanas), estabelece apenas um mecanismo judicial para empresas insolventes, a
falência, mas pode ser processado de duas diferentes formas: (i) parecido com a
recuperação judicial brasileira (Chapter 11) ou (ii) liquidação, similar a falência brasileira
(Chapter 7); de acordo com a situação econômico-financeira da devedora e sua
possibilidade de reestruturação. Ao se tratar de recuperação judicial e seus
financiamentos, nossa lei foi baseada no Chapter 11 que utiliza conceitos e casos
práticos do mercado norte americano, diferentes do mercado brasileiro e ainda, um dos
principais pontos da lei norte-americana não foi replicado na lei brasileira, no que se
trata do financiamento de empresas em recuperação judicial, os chamados DIP Loans,
DIP Financing, Debtor-in-Possession, que significa quando o devedor passa a
administrar e gerir os bens do negócio em benefício dos credores durante todo o
processo de recuperação se transformando no “devedor na posse”.

11ROSAS, Fabio; NOGUEIRA, Luciana Faria; Distressed M&A em processos de insolvência –


recuperação judicial. São Paulo. 20.06.2018. Disponível em:
<https://www.lexisnexis.com.br/lexis360/doc/2803219/distressed-ma-em-processos-de-insolvencia-
recuperacao-extrajudicial/ >. Acesso em 27.06.2018.

13
No Brasil apesar do devedor assumir determinados deveres adicionais em razão
da recuperação, continua a conduzir o negócio em seu próprio beneficio, não existe a
figura do DIP e na prática o Financiamento DIP refere-se ao dinheiro novo investido na
empresa durante o processo de RJ12.

Uma vez iniciado o processo de recuperação judicial, as empresas se deparam


com seu maior desafio: administrar o fluxo de caixa. Sem crédito novo torna-se
praticamente impossível. Portanto, não basta um grande trabalho de recuperação
judicial e renegociação de dívidas, sem que haja uma reestruturação imediata com
crédito novo suficiente para suprir a manutenção de suas operações do dia-a-dia. As
empresas precisam continuar operando durante todo o processo de estruturação e
aprovação do plano e dispor, assim, de recursos econômicos mínimos, capital de giro,
para manter suas atividades funcionando. Caso contrário, todo plano pode ser em vão e
as empresas quebrariam durante suas últimas tentativas de turnaround13.

No Brasil, porém, a viabilidade e disponibilidade de crédito para empresas em


processo de RJ enfrentam obstáculos ainda maiores e consequentemente muito antes
de aprovar crédito novo, as empresas são obrigadas a vender seus ativos não para
diminuir o volume de dívidas, mas para ter alguma liquidez de caixa. E ainda, para
muitos credores o resultado da aprovação do plano de RJ deve ser a falência ou
principalmente o alongamento de dívidas de empresas obsoletas e financeiramente
ineficientes no mercado, ficando de lado a alternativa de oferecer crédito novo para sua
reestruturação. É uma questão cultural que ocorre em todo Brasil onde os Bancos
preferem alongar suas dívidas, ou converter suas dívidas, ou oferecer um haircut14 a
disponibilizar dinheiro novo.

12 GOLDMAN, Darius J., LIEBERMAN, Nina Ellen Abraham, NOBLE, Kenneth E., OLSEN, Matthew W.
OGX Insolvency – What Distressed Investors Need to Know About Brazilian Bankruptcy Process. Katten
Muchin Rosenman LLP. New York. 07.11.2013. Disponível em: <
https://www.lexology.com/library/detail.aspx?g=8972697e-0f3c-422c-bbbb-dce2200d5929>.acesso em:
09.11.2017.
13 Turnaround neste conceito, significa renovar uma empresa, dar a volta por cima e recomeçar.
14 Haircut neste conceito, cortar, dar um desconto.

14
Entretanto, para fornecedores, a opção de crédito novo que possibilite a
recuperação gradual da empresa pode se tornar a melhor alternativa de longo prazo.
Uma empresa cuja gestão e operação sejam remodeladas, profissionalizadas e
aperfeiçoadas, consegue com capital de giro, garantir sua revitalização e evitar o
descumprimento de obrigações existentes com seus fornecedores de modo a evitar
também uma falência conjunta. Os próprios fornecedores e clientes podem ajudar com
o capital de giro, financiando o recuperado de maneira alternativa a linha de crédito,
seja prolongando suas contas a pagar sobre bens e serviços ou fornecendo descontos,
ou seja, alterando a maneira com que cada parte conduz seus negócios entre si15.

No setor automobilístico é muito comum existirem acordos entre a indústria


devedora, e seus clientes, os chamados “accomodation agreement”. No caso em que o
plano de recuperação não foi bem sucedido, a indústria em dificuldade é obrigada
continuar produzindo os produtos para seus clientes e eles a comprarem seus produtos,
o capital de giro é financiado pelos clientes que aceleram o pagamento de suas futuras
contas a pagar16.

Cabe então, negociar com fornecedores e clientes uma estratégia para liberação
de caixa além de renegociar as dívidas existentes da companhia e quando aberto
processo de recuperação judicial, aprovar um plano para obtenção de crédito novo, o
Financiamento DIP de modo a manter a empresa operante.

O Financiamento DIP (conhecido como DIP, DIP Financing, crédito novo, novos
recursos, dinheiro novo ou fresh money) é uma das principais soluções para captação
de crédito novo por empresas durante a fase de recuperação judicial sendo muito

15WAISBERG, Ivo; SARDINHA, Jose Claudio; GALEAZZI, Luiz Claudio; COSTA, Marco Antonio;
PELLEGRINI, Paolo Sergio; CARVALHO, Renato; MILANESE, Salvatore; NIRO, Veridiana N. TMA –
Turnaround Management no Brasil – Financiamento de Empresas em Recuperação judicial: Importância,
Dificuldades e Estímulos, Brasil, 2010, 1 a 6, Março, 2010. Disponível em:
<http://www.tmabrasil.org/sites/default/files/imce/materias/papers/paper_financiamento_da_recuperacao.
pdf > acesso em: 20. 10. 2017.
16 HUMTER, Carole; LEVIN, Jonathan; LAMEK, Edmond F.B. DIP Financing Strategies for distressed

companies. Disponível em:< https://nanopdf.com/download/dip-financing-strategies-for-distressed-


companies_pdf >. acesso em: 26.06.2018.

15
importante seu entendimento no mercado atual17. No entanto, o assunto é muito pouco
debatido e explorado pelo poder legislativo, entidades e trabalhos acadêmicos do
Brasil, tornando seu conhecimento restrito a poucas empresas e escritórios de
advocacia.

Deste modo, este trabalho busca explicar sobre o financiamento DIP, detalhar
sua aplicabilidade na Lei brasileira e discutir sobre as principais dificuldades
apresentadas por empresas, bancos e fornecedores brasileiros, além de apresentar
oportunidades e novos horizontes no mercado desafiador em que vivemos. Serão
apresentados também, incentivos legais e econômicos necessários para que
financiadores e fornecedores continuem a conceder crédito novo a empresas brasileiras
durante o processo de recuperação judicial e, assim, evitem bloquear as atividades
operacionais que impactam diretamente no desemprego e falência das empresas.
Como referências foram utilizadas obras, artigos e matérias locais e estrangeiras, assim
como a pesquisa realizada pela Turnaround Management Association (TMA)18, casos
de sucesso do DIP Financing no Brasil, análise da atual Lei e Projeto de Lei, e análise
do Chapter 11 of the US Bankruptcy Code; com objetivo de agregar conhecimento aos
estudos acadêmicos sobre um tema de extrema atualidade, necessidade e pouco
debatido.

Dentre as principais dificuldades apontadas por artigos e pesquisas do tema,


serão aprofundadas três delas, consideradas devido a sua constante menção por
empresas, escritórios e instituições financeiras locais como fundamentais para melhoria
imediata da legislação e viabilidade do DIP mercado brasileiro atual. São elas: (i) falta
conhecimento e legislação; (ii) a LRE ainda não foi amplamente testada em relação à
proteção e prioridade de recursos e; (iii) bancos credores preferem o alongamento de

17 RIBEIRO DIAS, Leonardo Adriano. Tese USP – Financiamento de empresas em crise. Dissertação
apresentada a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo para obtenção do título de mestre em
direito. São Paulo, 2012.
18 WAISBERG, Ivo; SARDINHA, Jose Claudio; GALEAZZI, Luiz Claudio; COSTA, Marco Antonio;

PELLEGRINI, Paolo Sergio; CARVALHO, Renato; MILANESE, Salvatore; NIRO, Veridiana N. TMA –
Turnaround Management no Brasil – Financiamento de Empresas em Recuperação judicial: Importância,
Dificuldades e Estímulos, Brasil, 2010, 1 a 6, Março, 2010. Disponível em:
<http://www.tmabrasil.org/sites/default/files/imce/materias/papers/paper_financiamento_da_recuperacao.
pdf> acesso em: 20. 10. 2017.

16
suas dívidas a emprestarem dinheiro novo. A primeira abrange problemas de
legislação; a segunda, de aplicabilidade e a terceira, dificuldades de mercado.

Existe, porém um Projeto de Lei (PL) em análise no Congresso Nacional que


busca alterar a LRE. O projeto em discussão encabeça a lista das próximas medidas do
Plano de Reformas Microeconômicas que estão sendo adotadas pela equipe
econômica para aumentar a produtividade do Brasil. O grupo de trabalho está
concluindo os detalhes técnicos do projeto, visando garantir que as empresas viáveis
que entrem em recuperação possam produzir tomar crédito e voltar à normalidade. O
Ministério da Fazenda pretende, com o Projeto de Lei, dar mais poderes aos credores
para viabilizar a negociação dos ativos das empresas, além de regular melhor a
sucessão empresarial19. Destacam também a importância da mudança da lei para
viabilizar a concessão de novos financiamentos para que a empresa tenha condições
de sobreviver durante o processo de recuperação judicial, o Financiamento DIP.
Portanto, também serão aqui analisadas as principais mudanças encaminhadas.

A alteração da Lei é um assunto que pode gerar muito debate hoje em dia, dado
toda a atual necessidade de profissionalizar e estruturar corretamente o processo. Mas
não podemos contar apenas com a aprovação do PL, o estudo do tema deve
prosseguir detalhando seus desafios e possíveis novos horizontes.

19
FERNANDES, ADRIANA. Jornal do Estado de São Paulo. 9 de maio de 2017. Disponível em:
https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,para-acelerar-economia-governo-quer-mudar-lei-de-
recuperacao-judicial,70001768798 . Acesso em: Outubro 2017.

17
2. CONTEXTO HISTÓRICO

O conceito do financiamento DIP vem de países que já passaram por grandes


crises financeiras, como é o caso dos E.U.A, Japão e países europeus, que tiveram de
se aprofundar no tema ao longo de sua história. Assim como no Canadá onde o
Financiamento DIP é conhecido como CCAA (Companies’ Creditors Arrangement Act)20
e é muito comum ser utilizado durante a reestruturação quando a negociação entre os
stakeholders e credores se estende. Em 2010 quase US$2 trilhões de títulos de
empresas de alto risco, em stress ou distress, em Chapter 11 estavam disponíveis para
negociação nos E.U.A21. No mesmo período na Europa, o valor chegou a EUR150
bilhões. O alto volume de transações no mercado americano se da pelo modelo de
transação que oferece alto retorno ao credor e pela clareza da Lei que facilita na
obtenção de garantias e status de super senioridade. Abaixo são apresentadas as
maiores transações mundiais de Financiamento DIP.

Tabela 1 - Maiores transações Mundiais de Financiamento DIP22

Devedora Volume (US$ mm) Data


General Motors 33.300,00 01/06/2009
Citi Group 21.040,00 10/12/2009
alpine 10.000,00 26/01/2007
Japan Airlines 9.908,60 05/03/2004

No Brasil algumas associações e escritórios jurídicos desbravam o tema apesar


de como visto, ainda ser pouco explorado e vago. A prática o Brasil vem apresentando

20 HUMTER, Carole; LEVIN, Jonathan; LAMEK, Edmond F.B. DIP Financing Strategies for distressed
companies. Disponível em:< https://nanopdf.com/download/dip-financing-strategies-for-distressed-
companies_pdf >. acesso em: 26.06.2018.
21 Milanese, Salvatore. TMA – Distressed Investing: o que é e quais as oportunidades no Brasil?.

Disponível em: http://www.tmabrasil.org/materias/artigos-de-associados/distressed-investing-o-que-e-e-


quais-as-oportunidades-no-brasil. Acesso em: 10 de Dezembro de 2017.
22 ELIAS, LUIS VASCO. 10 Anos da Lei de Recuperação de Empresas e Falências. São Paulo. 2015.

Fonte: The Deal Pipeline. Não inclui o financiamento a um Structured Asset Backed Commercial Paper
canadense no valor de US$13.762,87 milhões.

18
maiores desafios do que o esperado, a maioria dos planos aprovados no Brasil não são
planos para reestruturar economicamente as empresas para assegurar a continuidade
das operações e viabilidade do negócio, mas planos de renegociação de dívidas. A falta
de casos de sucesso da recuperação judicial brasileira que utilizaram como solução o
DIP é fundamental. Existem pouquíssimo casos de Financiamento DIP no Brasil das
quais muitas das tentativas para financiamento durante a recuperação judicial de
empresas não foram caracterizadas como DIP por não se adequarem as exigências do
modelo e legislação.

Em 2013, o Grupo OGX através da entidade OGX Petróleo e Gás, emitiu


US$215 milhões de debêntures23 convertidas em ações ordinárias, representativas de
65% do capital social da companhia reestruturada. Foram emitidas duas series: a
primeira série no valor de US$125 milhões e a segunda série no valor de US$90
milhões. A subscrição do financiamento foi feita sob a lei brasileira LRE24 de forma
extraconcursal com prioridade de pagamento25, caracterizando o financiamento DIP,
com garantias fiduciárias e reais. Neste caso, o financiamento teve como objetivo
principal pagamento total de empréstimo-ponte no valor de US$50 milhões e para
financiar despesas corporativas e de capital da companhia e suas subsidiárias, bem
como despesas relacionadas à recuperação judicial. Entre os credores, estavam
bancos e grandes fundos de investimento internacional juntos com grandes escritórios
de Advocacia do País. Esta foi uma das transações mais emblemáticas no Brasil que
apenas teve sucesso, pois: o grupo de credores entendeu que se não fosse aprovado
um financiamento para atender as atividades da companhia muito provavelmente a
empresa teria falido, o grupo de credores era composto por grandes entidades
internacionais que já estavam familiarizadas com este tipo de financiamento fora do
Brasil e o fato de a OGX ter capital aberto, oferecendo uma visão mais clara na
potencial saída aos investidores que optassem pela conversão da dívida em ações e

23 Demonstrações Financeiras da OSX Brasil S.A. - Em recuperação judicial de 31 de dezembro de 2013.


24 JORNAL DO ESTADO. Plano de Recuperação Judicial de Óleo E Gás Participações S.A. – Em
Recuperação Judicial. Disponível em:
<https://economia.estadao.com.br/fatos-relevantes/pdf/12012859.pdf> acessso em: 27.06.2018.
25 Art. 67, LRE.

19
por último, houve um comum interesse entre a companhia e partes envolvidas26.

Em setembro de 2015, a OAS Infra emitiu R$800 milhões de debêntures27 na


forma de financiamento DIP sob leis brasileiras, sujeito ao tratamento extraconcursal,
com prioridade de pagamento em relação a todos e quaisquer credores concursais,
conforme previsto na LRE28 e nas demais disposições legais aplicáveis, com a
finalidade de destinar os recursos para (i) estabilização do capital de giro e
financiamento das atividades do grupo; (ii) pagamento de despesas não recorrentes
associadas ao processo de reestruturação; e (iii) obrigações financeiras oriundas de
passivos, processos, multas e/ou penalidades cíveis, tributárias e trabalhistas. O DIP foi
garantido pela alienação fiduciária de ações ordinárias e preferenciais de sua
subsidiária (Invepar) e de cessão fiduciária de todos os dividendos. Os recursos
provenientes da venda da subsidiária Invepar foram utilizados para repagamento do
DIP.

Recentemente, em 2018 tivemos dois casos, o primeiro da Sucres et Denrées


S.A., subsidiária francesa do Grupo Aralco, holding brasileira, que emitiu US$42
milhões em de forma de DIP Financing sob leis brasileiras garantidos por contratos de
pré-pagamento de exportação de açúcar e ações do capital social da Nova Aralco 29. E o
segundo, da Viver Incorporadora e Construtora S.A.30 que realizou diretamente um
contrato na modalidade de financiamento DIP no valor de R$20 milhões (dos quais
apenas R$ 1 milhão foi desembolsado até o momento) com objetivo de ajudar a
Companhia na manutenção de suas atividades que produziu um estrangulamento de
seu capital de giro.

26 GOLDMAN, Darius J., LIEBERMAN, Nina Ellen Abraham, NOBLE, Kenneth E., OLSEN, Matthew W.
OGX Insolvency – What Distressed Investors Need to Know About Brazilian Bankruptcy Process. Katten
Muchin Rosenman LLP. New York. 07.11.2013. Disponível em: <
https://www.lexology.com/library/detail.aspx?g=8972697e-0f3c-422c-bbbb-dce2200d5929>.acesso em:
09.11.2017.
27 Plano de Recuperação Judicial OAS, Setembro de 2015.
28
Art. 67,84 e149, LRE. Cláusula 2.1.4
29 CONJUR. Empresa em recuperação consegue financiamento sem entregar controle de bens.

Disponível em: < https://www.conjur.com.br/2018-fev-17/empresa-recuperacao-financiamento-entregar-


bens>. Acesso em: 09.06.2018.
30
Fato Relevante Viver. São Paulo, 06 de Junho de 2018.

20
3. O FINANCIAMENTO DIP

O financiamento DIP é um empréstimo extraconcursal, ou seja, que apresenta


privilégio sobre os direitos reais já existentes, tendo como finalidade destinar seus
recursos para a estabilização de capital de giro31 e financiamento de atividades do dia-
a-dia de empresas em processo de recuperação judicial para garantir a perenidade
destas. No caso de falência e liquidação da empresa, seu tratamento confere ao
financiador máxima prioridade de repagamento em relação a todos e quaisquer
credores concursais32. Extremamente caros, são vantajosos também para credores da
fase pré-recuperação, e são vistos com bons olhos por fornecedores, por emprestarem
segurança ao negócio. O financiamento deve ser aprovado na assembleia de credores
e sua homologação deverá ser realizada pela respectiva Vara de Falência e
Recuperação Judicial após a apresentação do Plano de Recuperação Judicial.

Chegando ao limite de seu capital de giro e não tendo mais opções de caixa, a
empresa tem três alternativas. Primeiro, discutir com os atuais credores sem
participação a possibilidade de rolagem das atuais dívidas; segundo, convencer um dos
atuais credores a disponibilizar crédito novo atrelado à possibilidade de colher, ou não,
parte do resultado da reestruturação; ou terceiro, encontrar um novo financiador
especializado em financiamentos DIP. Este último costuma ser ágil no processo de
estruturação, mas por se tratar de um novo relacionamento pode exigir uma due
dilingence33 extensa e fee’s34 bem altos.

Existem diversas variáveis que influenciam na escolha no financiador, desde seu


histórico de relacionamento até o valor de juros cobrado. Mas em todos os casos, o
fator principal será a lição de casa do empresário. É de extrema necessidade a
apresentação de um novo plano de gestão empresarial para recuperar os negócios da

31 Capital de Giro é utilizado para financiar a continuidade das operações da empresa, seja para
aquisições de estoques, compra de mercadorias ou pagamento de despesas operacionais - fonte
32 Art, 67, 84 e 149 da LRE.
33 Due Dilligence refere-se ao processo de investigação de uma oportunidade de negócio.
34 Fee – refere-se a uma taxa em percentual (%) de cobrança sobre uma transação.

21
empresa que justifique qualquer uma de suas escolhas. Uma vez aprovada à
estruturação, seu financiador exigirá informações atualizadas da situação econômica e
operacional da empresa em tempo real. Qualquer alteração na gestão, venda de ativos,
desativação de linhas de negócio deverão ser comunicadas e consultadas pelo
financiador.

O financiador deverá apresentar: (i) descrição dos termos da proposta de


financiamento, (ii) indicação dos financiadores, (iii) indicação do devedor destinatário,
(iv) descrição das garantias a serem oneradas ou alienadas fiduciariamente.

22
4. O FINANCIAMENTO DO DEVEDOR DE ACORDO COM O A LEI EM VIGOR

A LRE que abrange a recuperação judicial de empresas no Brasil foi criada com
o objetivo de evitar a falência de empresas e preservar suas operações para manter a
empresa sempre operando e estimulando a economia, protegendo assim postos de
trabalho em detrimento dos interesses dos acionistas da empresa em crise, que se
subordinam ao objetivo social da Lei35.

“A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação


de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção
da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos
credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função
social e o estímulo à atividade econômica “36.

Apesar de a Lei brasileira ter sido baseada no Chapter XI do Bankruptcy Code


norte-americano, um dos principais pontos da lei norte-americana não foi replicado de
forma suficiente na lei brasileira: o financiamento de empresas em recuperação judicial.
O termo “financiamento” não aparece na Lei e são poucos os artigos que detalham sua
usabilidade de atos de endividamento, não havendo uma seção especifica sobre o
financiamento e tratando assim de forma insuficiente.

“O Comitê de Credores terá as seguintes atribuições, além de


outras previstas nesta Lei: c) submeter à autorização do juiz,
quando ocorrer o afastamento do devedor nas hipóteses previstas
nesta Lei, a alienação de bens do ativo permanente, a constituição
de ônus reais e outras garantias, bem como atos de endividamento
necessários à continuação da atividade empresarial durante o

35 MILANESE, Salvatore. Distressed Investing: o que é e quais as oportunidades no Brasil?. Turnaround


Management Association - TMA Brasil. São Paulo.
36 Art. 47, LRE.

23
período que antecede a aprovação do plano de recuperação judicial
“37.

“Os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor


durante a recuperação judicial, inclusive aqueles relativos a
despesas com fornecedores de bens ou serviços e contratos de
mútuo, serão considerados extraconcursais, em caso de decretação
de falência, respeitada, no que couber, a ordem estabelecida no art.
83 desta Lei.

Parágrafo único. Os créditos quirografários sujeitos à recuperação


judicial pertencente a fornecedores de bens ou serviços que
continuarem a provê-los normalmente após o pedido de
recuperação judicial terão privilégio geral de recebimento em caso
de decretação de falência, no limite do valor dos bens ou serviços
fornecidos durante o período da recuperação “38.

“Na convolação da recuperação em falência, os atos de


administração, endividamento, oneração ou alienação praticados
durante a recuperação judicial presumem-se válidos, desde que
realizados na forma desta Lei”39.

Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos


com precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na
ordem a seguir, os relativos a:

37 Art. 27, LRE.


38 Art. 67, LRE.
39 Art. 74, LRE.

24
I. remunerações devidas ao administrador judicial e seus
auxiliares, e créditos derivados da legislação do trabalho ou
decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços
prestados após a decretação da falência;
II. quantias fornecidas à massa pelos credores;
III. despesas com arrecadação, administração, realização do
ativo e distribuição do seu produto, bem como custas do
processo de falência;
IV. custos judiciais relativas às ações e execuções em que a
massa falida tenha sido vencida;
V. obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados
durante a recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta
Lei, ou após a decretação da falência, e tributos relativos a
fatos geradores ocorridos após a decretação da falência,
respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei “40.

Ou seja, a Lei estabelece que credores que forneçam crédito a empresas em RJ


terão tratamento especial reconhecendo que é crucial que a empresa tenha acesso a
capital de giro durante o plano, porém este tratamento se equivale ao tratamento de
outros créditos extraconcursais existentes, como o ACC e a alienação fiduciária além de
seguir inferior a créditos trabalhistas e, portanto não esta clara a regulamentação do
financiamento extraconcursal com super prioridade41. Os vigentes artigos não
completam base jurídica e um grande incentivo necessária para que potenciais
financiadores emprestem o “dinheiro-novo”, ou fresh money. Instituições Financeiras
sempre exigirão garantias seniores a quaisquer outros passivos existentes na empresa
para justificar a viabilidade de um novo crédito. Falta a qualificação do financiamento e
por quem poderá ser estruturado, como e quando.

No entanto, a LRE inclui essencialmente dois novos dispositivos para a proteção

40Art. 83, LRE.


41ELIAS, Luis Vasco. 10 anos da Lei de Recuperação de Empresas e Falências – Reflexões sobre a
Reestruturação Empresarial no Brasil. Quartier Latin do Brasil. São Paulo. 2015.

25
de credores e fornecedores que oferecem financiamento após a petição: (i) créditos
petição são considerados direitos super prioritários caso a recuperação judicial seja
convertida em uma liquidação e (ii) créditos petição e quirografários passam a ser
prioritários quando o credor continua a fornecer bens e serviços ou a financiar a
empresa, mas somente se a recuperação for convertida em liquidação. Mas mesmo
assim, não está claro se os créditos antigos podem ser alçados à condição de privilégio
geral sob qualquer novo financiamento (Art. 67) e, portanto, existe a necessidade de
explorar o temo para melhorar o tratamento sobre o assunto e possibilitar a
estruturação do financiamento DIP durante o processo de RJ.

No caso de fornecedores o resultado pode ser pior. O risco de fornecer insumos


a prazo a uma empresa à beira de uma falência e não receber é alto. Faltam programas
de benefício ao fornecedor, nos termos legais. Se existir dependência a um cliente, sua
sobrevivência durante o período de recuperação pode ser quase impossível. Um estudo
feito pela TMA com 64 grandes fornecedores mostrou que 88% das empresas não tem
qualquer regulamento que discipline o comércio com recuperandas. De acordo com
André Schwartzman conselheiro da TMA:

“Apenas 12% preveem o que fazer: cortar qualquer crédito”(...)42

Tratando-se da Comissão de Valores Mobiliários, órgão regulador, cujo papel


esta em disciplinar e fiscalizar o mercado de valores mobiliários 43 perante os
investidores, tão pouco expressa à utilização do financiamento DIP. Aprova em sua
instrução o pedido de recuperação judicial ou extrajudicial44 que afete a situação
econômica financeira das empresas, porém ao se tratar de negociação de valores

42
SCHWARTZMAN, ANDRÉ. Conjur – Consultor Jurídico. Matéria: Lei de Falências impede acesso a
capital de giro por Alessandro Cristo. São Paulo, 1 de Maio de 2010. Disponível em <
https://www.conjur.com.br/2010-mai-01/lei-falencias-atrapalha-financiador-impede-acesso-capital-giro>:
Acesso em: Novembro 2017.
43 Valor Mobiliário ou título financeiro é um tipo de instrumento financeiro emitido por empresas públicas

ou privado, para captar recursos. Apresenta características e direitos padronizados e é necessariamente


regulado pela CVM.
44
Artigo 2º da Instrução CVM n.º 358/02. Item V.

26
mobiliários45 e renegociação de dívidas46 por acionistas ou administradores da
companhia, não expressa base jurídica necessária para financiamentos sob caráter
super-extraconcursal e, portanto mais uma vez, não oferece o devido conforto aos
financiadores do DIP.

Segundo Thomas Felsberg, sócio do escritório Felsberg Advogados e


especialista em recuperação judicial, para que a estrutura se desenvolva é necessário
um ajuste fino na legislação47:

“É preciso jurisprudência mais firme sobre o assunto e calibragem na lei


de recuperação e falência para que o DIP funcione.”

Ou seja, a Lei de Falências e CVM impede acesso ao capital de giro e sua


incerteza tem afastado investidores.

45Artigo 2º da Instrução CVM n.º 358/02. Item V.


46Artigo 2º da Instrução CVM n.º 358/02. Item XI.
47 VALOR ECONÔMICO. Daniela Meibak. Crédito para empresa em recuperação ainda patina no Brasil.

Disponível em: < http://www.valor.com.br/financas/4338274/credito-para-empresa-em-recuperacao-ainda-


patina-no-brasil > acessso em: 27.06.2018.

27
5. AS PRINCIPAIS DIFICULDADES DO DIP FINANCING NO BRASIL

Existem diversos problemas que afetam a estruturação de um financiamento


DIP. Normalmente a maior dificuldade é o tempo. Estruturar um crédito novo a uma
empresa em situação de calote no menor tempo possível é um grande desafio em
qualquer país. O cronômetro começa após a empresa entrar em RJ e conta com as
etapas iniciais de estruturação do DIP até a de receber a aprovação do órgão
responsável, seu desembolso e repagamento. No entanto, antes de considerarmos o
tempo o maior problema para o Brasil, vamos entender o todo para concluir se o tempo
é a maior dificuldade para um país que ainda não apresenta uma Lei especifica para
financiamentos e históricos suficientes. Podemos dividir as dificuldades do Brasil entre
empresas, instituições financeiras e fornecedores.

De acordo com o estudo feito pela TMA48, os principais problemas e dificuldades


levantados pelas empresas no Brasil são: (i) questões culturais, a RJ é mais vista pelo
lado da proteção contra execuções e menos do ponto de vista de recuperação
propriamente dita; (ii) abertura de informações, empresas de pequeno e médio porte
têm problemas sérios de confiabilidade e abertura de informações; (iii) gestão, time de
administração que levou a empresa a RJ não tem credibilidade para viabilizar o DIP; (iv)
contratos de dívida não são padronizados.

Por outro lado, os problemas que os Bancos mais citaram foram: (i) questão
cultural, bancos credores preferem o alongamento de suas dívidas a emprestarem
dinheiro novo; (ii) regulação do Banco Central, falta de regulamentação; (iii) visão sobre
a RJ, bancos evitem RJ a todo custo, preferindo reestruturações negociadas; (iv)
poucos exemplos, a LRE ainda não foi amplamente testada em relação à proteção e
prioridade de recursos; (v) insegurança jurídica, na prática a LRE tem decepcionado,

48 WAISBERG, Ivo; SARDINHA, Jose Claudio; GALEAZZI, Luiz Claudio; COSTA, Marco Antonio;
PELLEGRINI, Paolo Sergio; CARVALHO, Renato; MILANESE, Salvatore; NIRO, Veridiana N. TMA –
Turnaround Management no Brasil – Financiamento de Empresas em Recuperação judicial: Importância,
Dificuldades e Estímulos, Brasil, 2010, 1 a 6, Março, 2010. Disponível em:
<http://www.tmabrasil.org/sites/default/files/imce/materias/papers/paper_financiamento_da_recuperacao.
pdf> acesso em: 20. 10. 2017.

28
(vi) funding, devido a incerteza do prazo para solução gera problemas para bancos
pequenos e médios, (vi) falta de incentivo, devido ao pouco conhecimento no
financiamento DIP não existem áreas em Bancos focadas neste setor; (vii) falta de
mercado secundário, quase não existe um mercado secundário de venda de dívidas
com desconto.

E de acordo com fornecedores: (i) falta de conhecimento da LRE e (ii) falta de


políticas internas. Além das dificuldades apresentadas pelas empresas, Bancos e
fornecedores, grandes problemas são encontrados na prática durante o processo de
recuperação judicial, como:

1. Não existe estrutura e ambiente legal que permita o Financiamento


DIP no Brasil. Existem vícios de mercado que dificultam as
empresas a terem acesso ao mercado de crédito durante seus
processos de RJ.
2. Acionistas ficam no comando de todas as etapas de reestruturação,
desde controle do caixa da empresa até de seus custos, deixando
os credores restritos a propor um plano alternativo de
reestruturação.
3. A Falta de precedentes na jurisprudência leva a incertezas nas
decisões de instâncias de mercados divergentes.
4. Sociedade brasileira enviesada em lidar com os processos de
falência das empresas, especialmente em cidades menores.
5. Complexas estruturas de capital com grande variedade de
instrumentos de dívida intensificam a dificuldade para execução do
plano de RJ.
6. Nem todos os tipos de dívida estão incluídos no processo. Alienação
fiduciária e ACCs são reivindicações sêniores que podem barrar o
processo de negociação.
7. Existe pouca transparência dos dados financeiros das empresas e
com pouca supervisão judicial.

29
Dentre as diversas dificuldades apresentadas, foram serão analisadas três delas,
devido a sua constante menção a necessidade de mudanças em diversas matérias e
artigos: uma relacionada a legislação, uma relacionada ao setor Bancário e outra
relacionada a sua aplicabilidade.

5.1. FALTA CONHECIMENTO E LEGISLAÇÂO

A grande dificuldade na tomada de decisão do judiciário está na falta de


conhecimento. Vimos que a atual lei não apresenta base jurídica suficiente para regular
financiamento DIP, o projeto de lei é fundamental e ainda, faltam casos de sucesso de
lei brasileira. A Lei brasileira é nova, de 2005, e apenas nos últimos anos teve tempo
mínimo para ser testada, ao contrario da Lei norte-americana que é bem mais antiga,
com mais de 40 anos já teve muito mais tempo para ser testada e aperfeiçoada 49.

Nos Estados Unidos, os juízes apresentam conhecimento sobre os casos de


recuperação judicial e consequentemente, financiamento DIP. De acordo com estudo
feito nos Estados Unidos:

"Os participantes do sistema de recuperação judicial podem aumentar a chance


de uma empresa devedora sobreviver simplesmente alocando os casos com juízes
mais experientes50."

Além de que os juízes com maior experiência em recuperações judicias de


empresas grandes ficam no mesmo estado de Nova York e Delaware. Portanto, a
maioria dos casos que são protocolados nessas duas divisões têm maiores chances de
sucesso, aponta o estudo.

49 ELIAS, Luis Vasco. 10 anos da Lei de Recuperação de Empresas e Falências – Reflexões sobre a
Reestruturação Empresarial no Brasil. Quartier Latin do Brasil. São Paulo. 2015.
50 Estudo feito pelos estudantes Lynn LoPucki e Joseph Doherty da Universidade da Califórnia em Los

Angeles (UCLA) nos Estados Unidos mostra que o conhecimento dos juízes é uma das variáveis mais
importante para o sucesso de recuperações judiciais.

30
O Tribunal de Justiça de São Paulo mantém duas varas, a 1ª e a 2ª,
especializadas em falências e recuperações judiciais desde 2005. O crescente aumento
da quantidade de pedidos de RJ nos últimos anos tornou a discussão do tema ainda
maior. Recentemente no dia 5 de Dezembro de 2017 foi inaugurada a 3ª Vara de
Falências e Recuperações Judiciais na capital paulista. Entretanto no Brasil, existem
poucas varas especializadas em falência e recuperação de empresas. De acordo com
dados do Conselho Nacional de Justiça, existem varas especializadas em falência e
recuperação judicial apenas em 17 Comarcas no Brasil, localizadas em São Paulo, Rio
de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Campo Grande,
Florianópolis, Fortaleza, Cuiabá, Vitória, Juiz de Fora/MG, Contagem/MG, Uberaba/MG,
Montes Claros/MG, Macapá/AP e Novo Hamburgo/RS. Varas de Falência e
Recuperação Judicial. Porém muitas dessas Varas supostamente especializadas não
são efetivamente especializadas, na medida em que acumulam competências
distintas51.

5.2. A LRE AINDA NÃO FOI AMPLAMENTE TESTADA EM RELAÇÃO À PROTEÇÃO


E PRIORIDADE DE RECURSOS E GARANTIAS.

Ainda existe muita insegurança jurídica sobre o direito às garantias e a


preferência no repagamento aos investidores que injetaram recursos na empresa em
dificuldade financeira. O investidor do DIP muitas vezes exige declarações e garantias
da empresa em RJ a fim de assegurar seu interesse na operação de alto risco. Essas
garantias incluem ativos permanentes, recebíveis, garantias fidejussórias e reais e,
portanto, requerem a aprovação da respectiva vara de falência e recuperação judicial
responsável pela recuperação judicial da empresa. Porém muitas vezes tais obrigações
limitam a capacidade da Companhia de incorrer ao DIP, quando já se encontram
indisponíveis e amarradas a operações passadas não podendo ser reutilizadas no DIP.
Além das garantias com alienações fiduciárias que ficam de fora do processo de
recuperação judicial.

51 Varas de falência e recuperação de competência regional. Disponível em: <


https://www.jota.info/especiais/varas-de-falencia-e-recuperacao-de-competencia-regional-01112017>
acesso em: 22.06.2018.

31
O principal fator que diferencia a lei brasileira da lei americana, é que na
americana, se o devedor não é capaz de obter crédito sem garantia, o juízo competente
pode autorizar a obtenção de crédito com senioridade máxima de repagamento sobre
qualquer outro passivo existente, mais sênior que outros créditos extraconcursais e até
mesmo que créditos trabalhistas além de garantido por um ativo que ainda não tenha
sido objeto de garantia, e ainda, para casos em que a garantia já tiver sido oferecida a
outro credor, permite que seja utilizada por uma penhora de nível inferior ao já
existente52. Neste caso, após aprovação do juízo, é concedido status de super
senioridade aos financiadores do Financiamento DIP e até mesmo ao governo norte-
americano (muitas vezes potencial credor), criando o conforto econômico e jurídico
necessário53. Ou seja, o credor que aportou dinheiro novo para a companhia após o
pedido de RJ passa na frente dos credores previamente listados antes do pedido.

Já na lei brasileira a prioridade para quitação de financiamentos aprovados


durante o processo de RJ ocorre de maneira incerta, normalmente após a liquidação de
ordens judiciais e pagamento de passivos existente como: créditos trabalhistas,
remunerações ao administrador judicial, créditos repassados a massa falida, obrigações
durante a recuperação, serviços e tributos posteriores à falência, não havendo assim,
espaço para o financiamento DIP funcionar. Os credores brasileiros garantidos por
alienações fiduciárias ou com prioridade sobre venda de ativos, não são afetados pelo
plano de recuperação judicial e podem continuar diretamente com seus processos
sobre o atual devedor54.

Os credores brasileiros são classificados em uma lista de classes de acordo com


o valor dos créditos. Esta lista será utilizada para fins de contagem de quorum de

52
UNITED STATES BANKRUPTCY COURT SOUTHERN DISTRICT OF NEW YORK. Guidelines of
Financing Requests. New York, Seção 364, inciso “c” e “d”. 20.03. 2002. Disponível em:
<https://www.iiiglobal.org/sites/default/files/media/Proposed_Guidelines_for_Reorganizational_SDNY.pdf>
. acesso em: 17. 06. 2018.
53 ELIAS, Luis Vasco. 10 anos da Lei de Recuperação de Empresas e Falências – Reflexões sobre a

Reestruturação Empresarial no Brasil. Quartier Latin do Brasil. São Paulo. 2015.


54
COLOMBO, Giuliano. DIP Financing in Brazil. Pinheiro Neto Advogados. São Paulo. pag 30.

32
instauração e votação nas assembleias gerais de credores55. São elas:

1. Classe I, composta pelos credores titulares de créditos trabalhistas;


2. Classe II, composta pelos credores titulares de créditos com
garantia real;
3. Classe III, composta pelos credores titulares de créditos sem
garantias (denominados credores quirografários); e
4. Classe IV, composta pelos credores que se enquadram legalmente
como microempresas ou empresas de pequeno porte.

De acordo com a advogada Paloma do escritório PHMP Advogados, ao se tratar


de créditos trabalhistas o devedor, terá o prazo máximo de um ano para realizar o
pagamento dos débitos trabalhistas, vencidos até a data de pedido de recuperação 56:

“O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a um (um)


ano para pagamento dos créditos devidos da legislação do trabalho ou decorrentes de
acidente de trabalho vencidos até a data do pedido de recuperação”57.

Embora não traga restrições aos créditos trabalhistas, o parágrafo único do


dispositivo legal nominado58 traz os créditos que devem ser pagos em 30 (trinta) dias.

“O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias


para o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por
trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos
nos três meses anteriores ao pedido de recuperação judicial”59.

55
ROSAS, Fabio; NOGUEIRA, Luciana Faria; Distressed M&A em processos de insolvência –
recuperação judicial. São Paulo. 20.06.2018. Disponível em: <
https://www.lexisnexis.com.br/lexis360/doc/2803219/distressed-ma-em-processos-de-insolvencia-
recuperacao-extrajudicial/ >. Acesso em 27.06.2018.
56 SOUZA, PALOMA CZELUSNIAKI. Os Direitos Trabalhistas na Recuperação Judicial. Disponível em:

https://phmp.com.br/artigos/os-direitos-trabalhistas-na-recuperacao-judicial/ . Acesso em: Novembro,


2017.
57 Art. 54, LRE.
58 Art. 54, LRE.
59 Art. 54, LRE.

33
E, portanto a lei não facilita para a obtenção de crédito novo. Diferente do Brasil,
nos Estados Unidos uma vez aprovada a operação pelo juízo competente, para que o
credor obtenha status de super sênior, deve demonstrar que a recuperada não
apresenta nenhuma alternativa de financiamento no mercado. Já no Brasil é diferente,
para que credor esteja disposto a tomar o risco do financiamento, existe a falta de uma
segurança jurídica expressa, que dê a ele o conforto para obter o tratamento super
sênior.

Segundo o advogado Thomas Felsberg, sócio do escritório Felsberg e


Associados:

“A única forma do Financiamento DIP ser posto em prática no Brasil


é no caso de os demais credores extraconcursais decidirem
voluntariamente receber seus créditos depois do financiador”60, ou então
nos casos em que não haja extraconcursais.

Caso empresas já em recuperação judicial iniciem a quitação de suas dívidas


existentes durante o plano de RJ, sem a entrada de crédito novo, dificilmente terão
fluxo de caixa suficiente para manter suas operações rodando e suceder com o plano
antes mesmo de falirem. Por isso faz-se necessário à classificação do financiamento
DIP com prioridade máxima a qualquer passivo existente caso contrário não haverá
interessados em disponibilizar o crédito.

5.3. BANCOS CREDORES PREFEREM O ALONGAMENTO DE SUAS DÍVIDAS A


EMPRESTAREM DINHEIRO NOVO

Para casos de credores existentes, ao exemplo bancos, o que acontece na

60.FELSBERG, THOMAS. Conjur – Consultor Jurídico. Matéria: Lei de Falências impede acesso a capital
de giro por Alessandro Cristo. São Paulo, 2 de Maio de 2010. Disponível em <
http://www.leidefalencias.com.br/noticia.php?id=189/conjur-lei-de-falencias-atrapalha-financiador-e-
impede-acesso-a-capital-de-giro >: Acesso em: Novembro 2017.

34
prática é que esses optam por alongar suas dividas ou até mesmo aceitar um haircut
em suas posições de crédito, a emprestar crédito novo durante um processo de
reestruturação. Consequentemente, empresas queimam grande quantidade de caixa
tentando negociar diretamente com credores a rolagem de suas dívidas até chegar a
um ponto insustentável em capacidade de negociação e com consequentemente sem
caixa61.

Atualmente apenas a devedora pode apresentar um plano de reestruturação de


dívidas, ou seja, os credores ficam na mão do controlador e muitos juízes brasileiros
julgam os processos de recuperação judicial a favor dos devedores e não dos credores.
Além de que muitas empresas que entram em RJ já não apresentam mais ativos
disponíveis para serem dados como garantias em troca de recursos, pois normalmente
já estão comprometidos a outras operações bancárias como visto anteriormente.
Cabe a novas instituições como fundos de investimentos e bancos
especializados em reestruturação, obterem as condições e incentivo necessários para
disponibilizar o crédito que manterá a empresa operante durante a RJ. Porém como
visto anteriormente o Brasil sofre com a ausência de incentivo e benefício jurídico a
investidores do DIP, que por consequência diminui o interesse de instituições em
financiar este modelo quando não existe liquidez necessária para se levantar
recursos62, resultando em muito baixo acesso a esta modalidade de empréstimo.
Diferentemente dos Estados Unidos, onde o acesso ao capital e alta disponibilidade de
crédito num mercado extremamente líquido influencia diretamente para aprovação do
DIP e sucesso da reestruturação das empresas. De 416 empresas que receberam o
DIP nos EUA, 336 sobreviveram ou 72% delas63.

Existe outro fator que faz com que os Bancos prefiram alongar suas dívidas a

61 MUNHOZ, EDUARDO. Advogado especialista em recuperação judicial, do escritório E. Munhoz


Advogados.
62 Assim como empréstimos sindicalizados, para estruturação do financiamento DIP por Instituições

financeiras existe a necessidade de beneficio para investidores, pois os financiamentos muitas vezes são
viabilizados mediante a participação de outros investidores para redução do risco de credito. E para tanto
se há a necessidade de benefícios legais e econômicos para atrair esses investidores.
63 Estudo feito pelos estudantes Lynn LoPucki e Joseph Doherty da Universidade da Califórnia em Los

Angeles (UCLA) nos Estados Unidos mostra que o conhecimento dos juízes é uma das variáveis mais
importante para o sucesso de recuperações judiciais.

35
emprestar dinheiro novo para empresas em RJ. De acordo com os critérios
estabelecidos pelo Banco Central64 para que Bancos já credores de uma companhia
disponibilizem um financiamento novo para o mesmo grupo ou companhia, seja ele DIP
ou não, precisam provisionar o crédito novo no mesmo nível de risco de sua operação
anterior. Ou seja, para um devedor em recuperação judicial, cujo crédito já estará quase
ou totalmente provisionado, devido a sua situação econômico-financeira, o novo
financiamento DIP deverá ser provisionado nos mesmos critérios da operação passada,
independentemente da garantia oferecida. Portanto para viabilizar o financiamento DIP
além de fornecer uma taxa atrativa e senioridade, precisa-se também estar atento as
regras de balanço estabelecida aos Bancos que terão menos interesse ao lembrarem
que precisam provisionar a operação já em um primeiro momento e consequentemente,
optaram pela rolagem de suas dívidas ou até mesmo a realizar outras operações com
menor retorno, mas também menor risco.

64 Resolução CMN n 2.682/99

36
6. AS MUDANÇAS DO ATUAL PROJETO DE LEI

O atual PL passa a adotar o regime de cooperação internacional e insolvência


transnacional de que trata a lei modelo da comissão das Nações Unidas para o Direito
Comercial Internacional (“NR”), tendo como objetivo (i) viabilizar as empresas
devedoras sua superação à crise econômico-financeira a fim de permitir a preservação
das empresas e dos empregados, (ii) preservar o estímulo ao mercado de credito, (iii)
fomentar o empreendedorismo com a disponibilização do retorno do investidor falido ao
mercado e (iv) recolocação eficiente de recursos na economia. A decretação da falência
ou do pedido de recuperação judicial suspende todas as ações e execuções contra o
devedor.

Existe agora uma seção no PL apenas sobre o financiamento, Seção IV-A, a qual
determinada o enquadramento de financiamentos do devedor e do grupo devedor
durante o processo de recuperação judicial. Analisaremos então cada um dos artigos
desta seção comparando-os com a lei atual e práticas de mercado.

“Art. 69-A. Durante a recuperação judicial, o devedor poderá


celebrar contratos de financiamento garantidos pela oneração ou
pela alienação fiduciária de bens e direitos seus ou de terceiros
para financiar as suas atividades, as despesas de reestruturação ou
de preservação do valor de ativos, observado o disposto nesta
Seção.” (NR)

Na atual Lei, não esta claro se o financiamento extraconcursal poderá ser


garantido pela onerarão ou alienação fiduciária conforme disposto no artigo acima,
agora redigido.

“Art. 69-B. O financiamento de que trata esta Seção poderá ser


realizado por qualquer pessoa, inclusive credores sujeitos e não

37
sujeitos à recuperação judicial, familiares, sócios e integrantes do
grupo do devedor, atendido o disposto no art. 69-F.” (NR)

Atualmente não existe definição clara de quem poderá estruturar o


financiamento. Com o PL qualquer pessoa ou entidade poderá obter o financiamento
durante o processo de recuperação judicial sendo ou não sujeitos a ela.

“Art. 69-C. Qualquer pessoa ou entidade pode garantir o


financiamento de que trata esta Seção mediante a oneração ou a
alienação fiduciária de bens e direitos, inclusive o próprio devedor e
os demais integrantes do seu grupo que estejam ou não em
recuperação judicial65.

§ 1º Caso o garantidor esteja em recuperação judicial, a


constituição da garantia observará o procedimento disciplinado
nesta Seção.

§ 2º Bens já onerados poderão ser novamente onerados em


garantia, contanto que sejam respeitadas:
a) a prioridade da garantia que lhe é antecedente; e
b) a condição de que a sobreposição das garantias relativas
a um mesmo bem seja menor do que o valor do bem.

§ 3º A supressão ou a substituição de garantia para fins de


constituição de nova garantia para financiar o devedor dependerá
de consentimento expresso do credor titular da garantia.

§ 4º Caso sejam oneradas ou alienadas fiduciariamente ações ou


quotas de sociedades do grupo de que o devedor participe,
eventual excussão ou consolidação da propriedade será realizada

65
Art, 69-C PL.

38
sem ônus para o adquirente, o qual não responderá por dívidas e
obrigações, conforme o disposto no art. 60.” (NR)

Negociar um ativo já dado em garantia a um credor está entre uma das maiores
dificuldades do processo. É difícil acreditar que a senioridade da garantia do DIP terá
prioridade absoluta sob qualquer outra garantia existente. Portanto, sua legislação é
acima de tudo fundamental para melhorar a base jurídica e viabilizar o financiamento.
As garantias já oneradas e mesmo assim novamente exigidas por Intuições Financeiras
são peça fundamental para viabilidade do crédito extraconcursal. Quando se trata de
DIP ser extraconcursal é exigência mínima para se tomar tal risco. Os ativos da
empresa podem ser cedidos e tornados seniores às garantias atuais, desde que se
mantenha a atual escala de senioridade e exista comum acordo com o atual proprietário
da garantia, dinâmica comum no exterior e atualmente não regulamentada na atual Lei.

“Art. 69-D. Para obter o financiamento de que trata esta Seção, o


devedor apresentará, nos autos da recuperação judicial, proposta
que conterá66:

I - descrição detalhada dos termos da proposta de


financiamento;
II - indicação dos financiadores que apresentaram proposta
de financiamento;
III - indicação do devedor destinatário do financiamento;
IV - descrição das garantias com indicação de bens e direitos
a serem onerados ou alienados fiduciariamente;
V - indicação do processo competitivo a ser adotado no caso
de eventual proposta concorrente de financiador interessado;
VI - descrição dos benefícios do financiamento para a
coletividade de credores;

66 Art, 69-D PL.

39
VII - minuta de edital com a indicação de data, hora e local
de realização de assembleia geral de credores para deliberar
sobre a proposta de financiamento a ocorrer no prazo
máximo de quarenta e cinco dias da data da apresentação
da proposta; e
VIII - análise da viabilidade da qual conste a engenharia
financeira do financiamento, o nível máximo de alavancagem
permitido e os elementos para proteção dos credores não
sujeitos à recuperação judicial.

§ 1º Na mesma data da apresentação da proposta de


financiamento, o devedor encaminhará cópia da proposta de
financiamento ao administrador judicial, que a incluirá no sítio
público eletrônico da recuperação judicial.

§ 2º O cartório fará publicar imediatamente nota de expediente para


informar sobre a apresentação da proposta de financiamento.

§ 3º Nos cinco dias subsequentes à data da publicação da nota de


expediente a que se refere o § 2º, os credores contrários à proposta
de financiamento poderão manifestar ao administrador judicial o seu
interesse na realização da assembleia geral de credores indicada
na proposta.

§ 4º Nas quarenta e oito horas posteriores ao final do prazo previsto


no § 3º, o administrador judicial apresentará ao juiz relatório das
manifestações recebidas e requererá a convocação de assembleia
geral de credores conforme indicado na proposta de financiamento
na hipótese de as manifestações corresponderem a mais de cinco
por cento do valor total de créditos sujeitos à recuperação judicial.

40
§ 5º Na ausência de manifestações que superem o percentual
previsto no § 4º ou comprovada a adesão dos credores à proposta
do devedor, nos termos do caput do art. 45-A, a proposta de
financiamento será considerada aprovada.

§ 6º A deliberação sobre a proposta de financiamento será tomada


pelo quórum estabelecido no art. 42.

§ 7º Os financiadores indicados na proposta poderão participar da


assembleia geral de credores referida no § 4º, sem direito a voto,
mesmo que sejam credores.” (NR)

“Art. 69-E. É vedado ao devedor apresentar a proposta a que se


refere o art. 69-D após a votação do plano de recuperação judicial.”
(NR67)

Não existia uma seção apenas sobre o financiamento, com detalhes dos
procedimentos e documentações necessárias para se obter aprovação, passaram
agora a detalhar no artigo 69-D.

“Art. 69-F. Na hipótese de falência, o valor do financiamento


efetivamente entregue ao devedor, atualizado até a data da
decretação, será considerado crédito extraconcursal e conferirá ao
financiador preferência, nos termos estabelecidos no art. 84, exceto
para financiamento obtido com sócios e integrantes do grupo do
devedor ou com pessoa que tenha relação de parentesco ou
afinidade até o quarto grau com o devedor68.

67
Art, 69-E PL.
68
Art, 69-F PL.

41
Parágrafo único. O financiamento concedido em observância ao
disposto nesta Seção assegurará ao financiador prioridade absoluta
sobre o valor de excussão dos ativos onerados ou alienados
fiduciariamente, até o limite dos valores efetivamente entregues ao
devedor, observada a ressalva prevista no caput.” (NR)

A qualificação extraconcursal e sua preferência numa eventual falência passam a


ser definidos neste artigo de modo e solucionar o atual problema de falta de definição
absoluta quanto sua prioridade. Porém, vale destacar que uma vez aprovado o projeto,
casos reais serão de total importância para se testar a lei.

“Art. 69-G. Mediante prévia autorização judicial, o financiador


poderá adiantar ao devedor até dez por cento do valor do
financiamento indicado na proposta antes da realização da
assembleia geral de credores que houver por deliberar sobre a
proposta de financiamento69.

§ 1º Na hipótese de a proposta de financiamento ser rejeitada, o


devedor restituirá imediatamente ao financiador a quantia
efetivamente recebida sem incorrer em multas e encargos
decorrentes da rescisão.

§ 2º Na hipótese de falência do devedor, o valor efetivamente


entregue a título de adiantamento, atualizado de acordo com a taxa
do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - Selic até a data
da decretação, será considerado crédito extraconcursal e conferirá
ao financiador preferência nos termos estabelecidos no art. 84.”
(NR)

69
Art, 69-G PL.

42
“Art. 69-H. Caso a recuperação judicial seja convolada em falência
antes da liberação integral dos valores de que trata esta Seção, o
contrato de financiamento será considerado automaticamente
rescindido sem incorrer em multas e encargos decorrentes da
rescisão70.

Parágrafo único. As garantias constituídas e as preferências serão


conservadas até o limite dos valores efetivamente entregues ao
devedor antes da data da sentença que decretar ou convolar a
recuperação judicial em falência.” (NR)

Regulamentar a pré-autorização judicial para empresas que ficam no vermelho


sem capital de giro pode facilitar bastante nos problemas do dia-a-dia. São contas a
pagar, fornecedores e receber e a necessidade de se manter ativo todo o fluxo
econômico. Disponibilizar até 10% do financiamento pode ser vital nos cenários atuais
em que o tempo de aprovação do DIP é incerto. Mas novamente apenas com devido
histórico podemos chegar à conclusão sobre sua funcionalidade.

“Art. 69-I. O financiamento concedido com base no disposto nesta


Seção não impede que o plano de recuperação judicial discipline
outras formas de financiamento.” (NR)71

Melhorar a legislação é fundamental. O PL e sua nova seção são fundamentais


para regular o financiamento. Espera-se solucionar diversos problemas dentre eles de
senioridade dos credores e regulamentação do BACEN.

Conforme descrito pelo TMA, para sucesso do DIP são necessários Bancos de
bom porte e com capacidade de funding que possam reduzir o risco da operação, a
ponto de não se preocupar por inteiro com um financiamento deste tipo. É preciso

70
Art, 69-H PL.
71
Art, 69-I PL.

43
beneficiar as Instituições Financeiras e seus investidores através da lei para incentivá-
los a tomarem o risco do financiamento e crédito envolvido. Nos EUA existem muitas
instituições financeiras desde Bancos e grandes fundos que participam do DIP em
conjunto não necessariamente tomando todo risco de crédito, contam também com
seguradoras e investidores para diluição de sua posição. O Conselho monetário
Nacional (CMN) traz a definição de risco de credito na Resolução 4.557/201772.

Não basta apenas o apetite das instituições para aprovar o DIP, é preciso
também contar com o plano de reestruturação efetivo dentro da empresa para alterar o
modelo de gestão e melhorar a governança coorporativa com mais transparência e
profissionalismo. Assim como, criar um histórico de sucesso nas reestruturações para
melhorar a confiabilidade jurídica. Como acontece nos Estados Unidos, espera-se
reduzir para dois anos todo o processo de recuperação judicial brasileira; hoje em dia
pode chegar a mais de 15 anos.

72
Art. 21. Para fins desta Resolução, define-se o risco de crédito como a possibilidade de ocorrência de
perdas associadas a: I - não cumprimento pela contraparte de suas obrigações nos termos pactuados; II -
desvalorização, redução de remunerações e ganhos esperados em instrumento financeiro decorrentes da
deterioração da qualidade creditícia da contraparte, do interveniente ou do instrumento mitigador; III -
reestruturação de instrumentos financeiros; ou IV - custos de recuperação de exposições caracterizadas
como ativos problemáticos, nos termos do art. 24. Resolução nº 4.557, de 23 de fevereiro de 2017.
Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attach
ments/50344/Res_4557_v1_O.pdf >. Acesso em: 23.06.18.

44
7. OPORTUNIDADES E NOVOS HORIZONTES NO BRASIL

O mercado em 2018 tem demonstrado sinais de melhoria. Quatro anos após


inicio da operação Lava-Jato que agravaram a crise no país, são vistos sinais positivos.
Apesar do alto índice de endividamento no país e constantes desmembramentos da
operação, índices econômicos demonstraram esta melhoria. É o caso da inflação que
atinge 3,68% em 201873 e a taxa básica de juros que atingiu um dos menores
patamares dos últimos anos, 6,40%74. A influência da taxa básica de juros durante a
aprovação do plano de recuperação e aprovação do financiamento DIP é fator
determinando para seu sucesso. Entre 2014 e 2016 quando a taxa básica de juros
beirava seus 11.0%75 houve poucas aprovações de financiamento. Desde 2018 quando
a taxa caiu aos patamares de 6,5%, dois casos já foram aprovados. Em períodos em
que as taxas de juros são menores, as empresas têm maiores chances de sobreviver.

O constante aumento de processos de RJ de grandes companhias responsáveis


por empregar milhares de pessoas (como a Oi, PDG, Lupatech, OAS, Schahin) e
pressão por acionistas junto as varas competentes, gera a necessidade de agilizar a
homologação do pedido e proceder com o início das negociações. Diversas empresas
aprovaram seus processos de RJ nos últimos anos. Como é o caso da PDG que em
Novembro do ano passado, protocolou novo pedido de RJ no valor de R$6,2 bilhões
abrindo a possibilidade de entrada de novos recursos com qualificação extraconcursal.
De acordo com matéria do Valor Econômico76 sobre a PDG:

“O grupo realizará uma reestruturação e equalização de seu passivo relativo aos


créditos concursais. Os créditos extraconcursais, apesar de não se submeterem aos
efeitos do plano, poderão ser reestruturados em negociações bilaterais. O grupo poderá

73 IPCA-15 IBGE. Disponível em: <http://www.valor.com.br/valor-data/tabela/5800/inflacao> acesso em:


25.06.2018.
74 BANCO CENTRAL. Taxa Selic. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/htms/selic/selicdiarios.asp>

acesso em: 25.06.2018.


75 BANCO CENTRAL
76 VALOR ECONÔMICO. PDG entrega à justiça novo plano de recuperação judicial. Disponível em: <

http://www.valor.com.br/empresas/5139666/pdg-entrega-justica-novo-plano-de-recuperacao-judicial>
acesso em: 19.06.2018

45
prospectar e adotar medidas durante a recuperação judicial visando à obtenção de
novos recursos, sendo que, caso venham a ser obtidos os referidos novos
financiamentos, as obrigações a eles correspondentes terão natureza extraconcursal77”.

E a Oi, que também protocolou seu pedido em 20 de Junho de 2016,


responsável por um passivo financeiro de R$64 bilhões.

Infelizmente ainda não teremos a devida agilidade para estruturar um


financiamento DIP nos moldes legais do PL porém, apesar de ainda não estar
aprovado, sua versão tem amadurecido ainda mais o conhecimento do brasileiro,
alterada pela primeira vez em 2005 após 60 anos de sua criação, esta claro sua
necessidade de aprovação pois câmaras especializadas em recuperação e falência nos
tribunais já tem produzido decisões que contribuem para o sucesso da nova lei.

Muitos investidores internacionais especializaram-se na compra de títulos ou


créditos de bancos, relacionados a empresas em crise nos últimos anos. Com o objetivo
de influenciar a reestruturação a seu favor ou converter seus novos créditos em ações
da empresa para controlá-la e posteriormente vendê-la, esses investidores uma vez
protegidos por uma Lei clara e objetiva poderão apresentar grande interesse por
participar do capital composto para os DIP Loans. Os lucros com atividades de
financiamento durante o plano de RJ podem ser enormes, devido a isso, que muitas
vezes quando aprovado o risco de crédito, Bancos destinam parte de seus recursos
proprietários para linhas de reestruturação, um investimento de alto risco e alto retorno.

77VALOR ECONÔMICO. Justiça entrega novo plano de recuperação judicial. Disponível em:
<http://www.valor.com.br/empresas/5139666/pdg-entrega-justica-novo-plano-de-recuperacao-judicial >.
Acesso em: 25.06.2018.

46
8. CONCLUSÃO

O Financiamento DIP é uma excelente ferramenta para obtenção de capital de


giro por empresas em dificuldade econômico-financeira durante o processo de
recuperação judicial, uma vez que a aprovação do plano de RJ por si só não quer dizer
que a empresa sobreviverá. Suficientemente testado por países que já passaram por
grandes crises financeiras, este tipo de financiamento tornou-se uma alternativa para
manter companhias de alto valor ao mercado operando e manter muitos empregos
diretamente relacionados à econômica de um país, assim como para atrair investidores
que buscam uma alternativa de alto retorno.

O DIP no Brasil por mais que rentável, não encoraja os credores a tomarem o
risco com a Lei em vigor, mas pelo contrário, as empresas que conseguem aprová-lo,
terão maiores probabilidades de sucederem ao plano de recuperação judicial. É
importante que haja mudança na legislação. A Lei 11.101/05 precisa ser mais clara e
especifica como demonstra o PL, principalmente quando se tratar de prioridade de
recursos para financiamentos de empresas em RJ78. É de extremamente importância, a
definição de direitos prioritários com o Financiamento DIP extraconcursal acima de
qualquer outro crédito extraconcursal. Como visto anteriormente, há apenas duas
menções objetivas ao financiamento de empresas em recuperação judicial na lei, art. 67
e art. 84 que atualmente tratam o financiamento extraconcursal no mesmo nível de
senioridade de créditos existentes também extraconcursais. Essa é uma variável
fundamental para mitigar a tomada de risco de crédito de Instituições estruturadas do
dinheiro novo. Exclui-se deste caso os credores trabalhistas que devem ser pagos
invariavelmente em até um ano após o pedido (tanto no Brasil quanto nos Estados-
Unidos).

O Projeto de Lei é essencial atingir este objetivo. Mas como visto pelo sistema
norte-americano, horas de voo são fundamentais para criar o tempo e conhecimento
necessário para se testar o financiamento com empresas, escritórios e investidores

78ELIAS, Luis Vasco. 10 anos da Lei de Recuperação de Empresas e Falências – Reflexões sobre a
Reestruturação Empresarial no Brasil. Quartier Latin do Brasil. São Paulo. 2015.

47
brasileiros, e uma vez aprovado, não será apenas o Projeto de Lei que criará o
ambiente jurídico e econômico necessário para aumentar o apetite de todos. As
exigências do mercado local e internacional é variável fundamental para viabilidade do
DIP.

Para evitar que haja a destruição de valor de empresas brasileiras é muito


importante que haja um movimento cada vez maior pelo corpo jurídico empresarial
brasileiro, solicitando que as mudanças sejam rapidamente feitas. A constante
divulgação de matérias e artigos relacionados é fundamental. Sem o apoio do setor
corporativo e entidades especialistas em processos de RJ, torna-se praticamente
inviável. Porém o grande incentivo necessário para mudar a legislação deve vir do
sistema judiciário. Mudanças devem ocorrer o mais rápido possível para que
instituições se sintam seguras em emprestar dinheiro para o empresário em
dificuldade79.

A questão sobre a falta de conhecimento ou experiência do magistrado em


recuperações judiciais pode ser resolvida com programas de treinamento específicos
para falências e recuperações ou simplesmente com o tempo e a e legislação através
da mudança na lei. Assim, o mercado financeiro estruturador de crédito no Brasil pode
apresentar mais interesse para disponibilizar crédito novo a empresas em dificuldade
durante o processo de RJ ao invés de preferirem a rolagem das dívidas.

Assim este trabalho conclui que o financiamento DIP durante a recuperação


judicial de empresas é de extrema importante para manter as atividades em movimento
e ajudar a manter a economia do Brasil, porém precisamos de uma reforma já.

Recentemente, em Maio de 2018, O Presidente Michel Temer enviou ao


Congresso Nacional o PL que visa reformar a lei 11.101/2005 de recuperação judicial,

79 GUIMARÃES, Eduardo Moreira. Recuperação Judicial no Brasil após a Lava-Jato. Causas e impactos.
2017. 39. Monografia de Final de Curso – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2017. Disponível em: < http://www.econ.puc-
rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/Eduardo_Moreira_Guimaraes.pdf >. acesso em: 10.06.2018.

48
extrajudicial e falência80. A referida proposta ganhou o número PL 10.220/2018 e
encontra-se aguardando despacho do presidente da Câmara dos Deputados.

"É um texto moderníssimo, visto, examinado, reexaminado por


grandes juristas nacionais e especialistas dessa área, que trabalharam
juntamente com o governo para que, afinal, formatássemos esse projeto
que hoje eu assinei", disse o presidente.

80 CONJUR. Temer envia ao Congresso nova lei de falência e recuperação judicial. Disponível em: <
https://www.conjur.com.br/2018-mai-10/temer-envia-congresso-lei-falencia-recuperacao-judicial> acesso
em: 20.06.2018.

49
9. REFERÊNCIAS

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– Case Business School. London, 2003.

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de Doutorado - USP. São Paulo, 2009.

10.GUIMARÃES, Eduardo Moreira. Recuperação Judicial no Brasil após a


Lava-Jato. Causas e impactos. 2017. 39. Monografia de Final de Curso
– Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.
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acesso em: 10.06.2018.

50
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Kenneth E., OLSEN, Matthew W. OGX Insolvency – What Distressed
Investors Need to Know About Brazilian Bankruptcy Process. Katten
Muchin Rosenman LLP. New York. 07.11.2013. Disponível em: <
https://www.lexology.com/library/detail.aspx?g=8972697e-0f3c-422c-bbbb-
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17. RIBEIRO DIAS, Leonardo Adriano. Tese USP – Financiamento de


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19.SCHWARTZMAN, ANDRÉ. Conjur – Consultor Jurídico. Matéria: Lei de
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23.WAISBERG, Ivo; SARDINHA, Jose Claudio; GALEAZZI, Luiz Claudio;


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judicial: Importância, Dificuldades e Estímulos, Brasil, 2010, 1 a 6,
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<http://www.tmabrasil.org/sites/default/files/imce/materias/papers/paper_fi
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LEIS E INSTRUÇÕES

1. CONGRESSO NACIONAL. Projeto de Lei 10.220/2018, altera a Lei n0


11.101, de 9 de Fevereiro de 2005, e a Lei n 0 10.522, de 19 de julho de
2002, para atualizar a legislação referente à recuperação judicial , à
recuperação extrajudicial e à falência do empresa e da sociedade
empresária. Brasil. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/minuta-
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52
2. PALACIO DO PLANALTO. Lei 11.101/2005 regula a recuperação judicial,
a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária..
Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
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3. COMISSSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Disponível em:


<www.cvm.gov.br>. Acesso em: 10.11.2017.

_______.Instrução CVM no 358, de 3 de janeiro de 2002, com as


alterações introduzidas pelas Instruções CVM nos 369/02, 449/07, 547/14,
552/14, 568/15 e 590/17. Disponível em www.cvm.gov.br. Acesso em 17
jun. 2018.

_______.Instrução CVM no 358, de 3 de janeiro de 2002, Item V e XI.


Disponível em www.cvm.gov.br. Acesso em 17 jun. 2018.

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financiamento-entregar-bens>. Acesso em: 09.06.2018.

53
5. CONJUR. Temer envia ao Congresso nova lei de falência e
recuperação judicial. Disponível em: < https://www.conjur.com.br/2018-
mai-10/temer-envia-congresso-lei-falencia-recuperacao-judicial> acesso
em: 20.06.2018.

6. O GLOBO - Em quatro anos, Lava-Jato já alcançou 14 partidos.


Disponível em: < https://oglobo.globo.com/brasil/em-quatro-anos-lava-jato-
ja-alcancou-14-partidos-22569538>. Acesso em: 15 de abril de 2018.

7. JORNAL DO ESTADO. Plano de Recuperação Judicial de Óleo E Gás


Participações S.A. – Em Recuperação Judicial. Disponível em:
<https://economia.estadao.com.br/fatos-relevantes/pdf/12012859.pdf
> acessso em: 27.06.2018.

8. SERASA EXPERIAN. Inadimplência atinge mais de 5 milhões de micro


e pequenas empresas, revela Serasa Experian. São Paulo. 11.04.2018.
Disponível em:
<https://www.serasaexperian.com.br/sala-de-imprensa/inadimplencia-
atinge-mais-de-5-milhoes-de-micro-e-pequenas-empresas-revela-serasa-
experian>acesso em: 27.06.2018.

9. SERASA EXPERIAN. Artigo TMA. Estudo mostra fatores de sucesso


em recuperação. Disponível em:
<http://www.tmabrasil.org/en/materias/noticias-na-midia/estudo-mostra-
fatores-de-sucesso-em-recuperacao> acesso em: 05.10.2017.

10. VALOR ECONÔMICO. Daniela Meibak. Crédito para empresa em


recuperação ainda patina no Brasil. Disponível em:
<http://www.valor.com.br/financas/4338274/credito-para-empresa-em-
recuperacao-ainda-patina-no-brasil> acessso em: 27.06.2018.

11. VALOR ECONÔMICO. Justiça entrega novo plano de recuperação


judicial. Disponível em: <http://www.valor.com.br/empresas/5139666/pdg-
entrega-justica-novo-plano-de-recuperacao-judicial>. Acesso em:
25.06.2018.

12. VALOR ECONÔMICO. IPCA-15 IBGE. Disponível em:


<http://www.valor.com.br/valor-data/tabela/5800/inflacao>. acesso em:
25.06.2018.

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13. VALOR ECONÔMICO. PDG entrega à justiça novo plano de
recuperação judicial. Disponível em: <
http://www.valor.com.br/empresas/5139666/pdg-entrega-justica-novo-
plano-de-recuperacao-judicial> acesso em: 19.06.2018

14. WIKIPEDIA. Lista de pessoas envolvidas na Operação Lava Jato.


Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pessoas_envolvidas_na_Opera%C
3%A7%C3%A3o_Lava_Jato#Lista> Acesso em: 23 de junho de 2018.

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