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Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS

Graduação em Direito

ANDREI SATYRO LIRA

ASPECTOS JURÍDICOS DAS PIRÂMIDES FINANCEIRAS NA


ATUALIDADE

Profª M. Alexandro Rudolfo Guirão

São Caetano do Sul


2022
Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS
Graduação em Direito

ANDREI SATYRO LIRA

ASPECTOS JURÍDICOS DAS PIRÂMIDES FINANCEIRAS NA


ATUALIDADE

Trabalho de Curso – Modalidade Monografia,


apresentado ao curso de Direito na
Universidade Municipal de São Caetano do
Sul – USCS, como requisito parcial para
obtenção do título de bacharel em Direito, sob
orientação da Prof. M. Alexandro Rudolfo de
Souza Guirão

São Caetano do Sul


2022
Termo de Aprovação

ANDREI SATYRO LIRA - RA. 710.966-3

ASPECTOS JURÍDICOS DAS PIRÂMIDES FINANCEIRAS NA


ATUALIDADE

Trabalho de Curso – Modalidade Monografia,


apresentado ao curso de Direito na
Universidade Municipal de São Caetano do
Sul – USCS, como requisito parcial para
obtenção do título de bacharel em Direito, sob
orientação do Prof. Ms. Alexandro Rudolfo de
Souza Guirão.

São Caetano do Sul, ____ de ________________ de 202_.

Banca Examinadora:

Professor(a) Orientador(a)______________________________________________

Professor(a) Arguidor(a) _______________________________________________

Professor(a) Arguidor(a) _______________________________________________

Resultado: ( ) Aprovado ( ) Requer correções ( ) Reprovado


Dedico este trabalho aos meus genitores, que verão os resultados de seus
esforços para me discernir e colherão ao meu lado os frutos da minha dedicação no
caminho que trilho ao sucesso.
Agradecimentos

Agradeço primeiramente aos seres de luz que me guiam nesta jornada terrena e me
auxiliam em todos os âmbitos de minha vida.

Agradeço a meus pais por depositarem sua confiança e esforços em mim e que hoje
podem ver o resultado de minha dedicação.

Sou grato ainda, a todo o curso de Direito de minha universidade e todos os docentes
que fizeram parte desse degrau da escada que me levará ao sucesso.
Resumo
Tratando-se de um modelo de negócio insustentável e criminoso, as pirâmides
financeiras prometem rendimentos bastante chamativos, sendo que o sustento desses
rendimentos depende da adesão constante de novos investidores para que se possa
dar continuidade ao ciclo de ganhos prometidos. A insustentabilidade ou
“desmoronamento” da pirâmide se dá a partir do momento que a quantidade de
pessoas aderindo à proposta se torna insuficiente para bancar os rendimentos dos
membros antigos. Diante disso, a presente dissertação, destrincha os aspectos
jurídicos que recaem sobre o modelo de negócio inidôneo que são as pirâmides
financeiras, não sem antes conceituar do que se tratam, verificando sua evolução
histórica, bem como casos emblemáticos que se apresentam na atualidade. O texto
visa orientar e prevenir o leitor, para que este saiba como identificar as características
das pirâmides financeiras e, as prerrogativas legais para exercer a defesa de seus
interesses.
Palavras-chave: Pirâmides Financeiras. Promessa de rendimento. Modelo
insustentável de negócio. Aspectos jurídicos das pirâmides financeiras.
Abstract
Dealing with a model of unsustainable and criminal business model, the financial
pyramids promises very impressive returns, and the sustenance of these incomes
depends on the constant adhesion of new investors to this cycle of gain. The
unsustainability or "collapse" of the pyramid begins on the moment that the numbers
of investors becomes insufficient to support older memberships. Having saying that,
the dissertation unravels the legal aspects that falls on this illegal model of business,
that are the financial pyramids, but not before a discussion to conceptualize what they
are about, checking their historical evolution as well as emblematic cases that we have
in the present. This text guide and prevent the reader how to knows identify the
characteristics to the financial pyramid, and become aware of your prerogatives and
knows what are yours legal rights to defend your interests.
Keywords: Financial Pyramids. Yield promise. Unsustainable business model. Legal
aspects of financial pyramids.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CDC - Código de Defesa do Consumidor


SELIC - Sistema Especial de Liquidação e de Custódia
CC - Código Civil
CF - Constituição Federal
CTN - Código Tributário Nacional
EMC - Emenda Constitucional
MP - Medida Provisória
MP - Ministério Público
ADIn - Ação direta de inconstitucionalidade
CMN - Conselho Monetário Nacional
FEBRABAN - Federação Brasileira de Bancos
STF - Supremo Tribunal Federal
PL - Projeto de Lei
CVM - Comissão de valores mobiliários
TJSP - Tribunal de Justiça de São Paulo
TRF3 - Tribunal Regional Federal da 3ª Região
STJ - Superior Tribunal de Justiça
HC - Habeas Corpus
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. REFERENCIAL TEÓRICO: Registros históricos das pirâmides financeiras até a
atualidade e seus desdobramentos jurídicos .................................................. 15
2.1 A ascensão das pirâmides financeiras na história até os tempos atuais 15
2.2 Análise literária ....................................................................................... 33
2.3 Análise da legislação.............................................................................. 21
2.4 Aspectos jurídicos das pirâmides financeiras ......................................... 37
2.5 Análise jurisprudencial ........................................................................... 37
2.6 CVM como órgão regulador ................................................................... 37
2.7 Projeto de lei .......................................................................................... 37
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................... Erro! Indicador não definido.
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 54
1. INTRODUÇÃO

Tratando-se de um modelo de negócio insustentável e considerado criminoso


no Brasil, em síntese, as pirâmides financeiras dependem da adesão constante de
novos investidores para que se possa dar continuidade ao ciclo de ganhos prometidos.
Os membros mais novos ao ingressarem com seus investimentos passam a sustentar
os dividendos dos membros antigos, gerando assim um ciclo vicioso de indicação, até
que este se torne matematicamente insustentável, ocorrendo o desmoronamento da
pirâmide quando a quantidade de membros aderindo ao modelo de negócio se torna
insuficiente para bancar a remuneração dos que ingressaram anteriormente.
Sendo uma prática bastante antiga, ao decorrer do tempo as pirâmides
financeiras foram se mutando, tendo como objeto de negócio diversos ativos
financeiros, chegando aos dias atuais com requintes de modernidade e supostas
revoluções.
Neste prisma, observa-se que o “desabamento” da instituição é certo e
inevitável, tratando-se de uma questão de tempo, que varia de acordo com a
popularidade da pirâmide e a adesão de novos membros. Uma vez que a conta final
jamais fechará positiva, a ruína do modelo de negócio deixa inúmeros lesados com
prejuízos financeiros, beneficiando somente os detentores do topo da pirâmide.
Com isso, apesar de ser uma prática bastante antiga, as pirâmides financeiras ainda
são práticas bastante recorrentes na atualidade. Com a popularização destes
esquemas fraudulentos em território nacional, surgem projetos de lei com a finalidade
de atualizar a legislação vigente objetivando prevenir e reprimir tais práticas, prevendo
penas mais duras e mecanismos mais eficazes para coibir os chamados
“piramideiros”.
Percebe-se a grande relevância social do tema, ao analisar o cenário atual da
sociedade, onde pesquisas apontam que o brasileiro se interessa cada vez em
investimentos, A pesquisa “A Descoberta da Bolsa Pelo Investidor Brasileiro”,
realizada pela B3, aponta que, entre maio de 2019 e novembro de 2020, o número de
novos investidores na bolsa saltou de 1 milhão para 3,2 milhões.”. (FERRARI,
Wanessa, 2021)
Com o aumento dessa busca por investimentos, cidadãos de bem, muitas vezes
acabam caindo nas propostas inidôneas dessas pirâmides financeiras, atraídos por
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ganhos e rendimentos consideravelmente mais expressivos do que as aplicações


financeiras tradicionais que os bancos fornecem, como poupança, tesouro direto,
CDB, LCI etc.
Com isso, questiona-se, o ordenamento jurídico brasileiro coíbe de maneira
concisa as pirâmides financeiras de maneira a desmotivar e punir seus criadores?
O propósito da dissertação acerca deste tema, é justamente abarcar todo o
aspecto jurídico acerca das pirâmides financeiras, percorrendo as diversas searas do
Direito, bem como, suas doutrinas, jurisprudências e projetos de lei; analisando desde
os aspectos históricos até os casos práticos atuais, com a finalidade de orientar o leitor
de forma clara e concisa acerca do tema.
O tema tratado é dotado de considerável riqueza midiática, isto pois, como dito
anteriormente, tratando de uma prática antiga, as pirâmides financeiras estão cada
vez mais populares e atualizadas, causando milhares de vítimas e movimentando
montantes bilionários de dinheiro.
Neste prisma, a informação dissertada no presente trabalho, é de grande valia
ao leitor, uma vez que irá orientá-lo a identificar uma pirâmide financeira, ocasionando
assim um caráter preventivo, e, caso ele já tenha sido vítima deste modelo de negócio
fraudulento, saberá as prerrogativas jurídicas que possui para que possa exercer a
defesa de seus interesses.

2. REFERENCIAL TEÓRICO: Registros históricos das pirâmides financeiras


até a atualidade e seus desdobramentos jurídicos

2.1 A ascensão das pirâmides financeiras na história até os tempos atuais

Não se sabe ao certo, como foram criadas as primeiras pirâmides financeiras,


nem quem fora seu real inventor, o que se pode constatar são os primeiros registros
históricos destas, os quais foram mais notáveis e tomaram maior proporção, ou seja,
aqueles que foram os mais populares e lesaram grande número de pessoas
movimentando enormes montantes de dinheiro.
Possivelmente o seu precursor foi Charles Ponzi, ou popularmente conhecido
como o criador do “Esquema Ponzi”. Ele foi um dos maiores caloteiros da história,
sendo o grande pioneiro e popularizador das pirâmides financeiras no mundo.
Ponzi, nasceu na Itália no ano de 1882, depois de abandonar os estudos na
Universidade La Sapienza em Roma, imigrou para o Estados Unidos da América em
1903, se mudando posteriormente para o Canadá, onde fora condenado a três anos
de prisão por falsificar cheques bancários. Logo após retornou aos EUA para se tornar
um dos maiores trapaceiros da história. Também conhecido como: Carlo Ponzi,
Charles Ponei, Charles P. Bianchi e Carl, se utilizou de diversos pseudônimos em sua
jornada golpista e foi o responsável por popularizar o esquema de pirâmide financeira,
entrando no ramo de investimentos por empréstimos, tendo como objeto de negócio
cupons de selos postais internacionais, os quais supostamente eram adquiridos por
um preço mais barato fora do país e assim eram revendidos por maior valor nos EUA.
(INFOMONEY, 2021)
Nos tempos atuais, é difícil se imaginar que selos postais poderiam ser objeto
de investimento como ocorreu no Esquema Ponzi, entretanto, deve-se levar em
consideração que à época, o envio de cartas era a principal forma de comunicação
entre as pessoas no mundo todo, deste modo os selos postais eram muito utilizados,
e, com isso, Ponzi viu uma grande oportunidade de lesar investidores com a promessa
de juros de 50% em 45 dias ou de 100% em 90 dias. Ponzi simplesmente utilizava os
valores trazidos por novos investidores para pagar os rendimentos dos investidores
mais antigos. Deste modo, presume-se que para que o esquema se sustentasse,
haveria a necessidade da entrada constante de novos investidores no negócio, pois
sem isso ocorreria o desabamento da pirâmide, o que veio ocorrer no ano de 1920.
(MORAES, Maurício, 2009).
A grande popularização do esquema chamou a atenção de jornalistas, que
resolveram investigar como era o funcionamento do negócio que pagava dividendos
altos a tantas pessoas. A pirâmide veio a ruir quando um especialista contratado pelo
jornal constatou que, para que o negócio de Ponzi fosse fidedigno, haveria a
necessidade de existir mais de 160 milhões de cupons de selos postais, sendo que
na realidade havia somente 27 mil cupons em circulação e que por consequência
disso, caso todos os investidores resolvessem parar de investir ou simplesmente
retirar o dinheiro, não haveria como Ponzi devolver toda a quantia às pessoas que
ludibriou. (INFOMONEY, 2021)
A partir daí, a notícia circulou e os investidores que tinham realizado aportes no
esquema de pirâmide de Ponzi, imediatamente procuraram retirar o dinheiro, levando
à efetiva ruína de todo o negócio, uma vez que, sem a entrada de novos investidores,
com a saída dos antigos e por sua natureza ser de um negócio insustentável, diversas
pessoas não conseguiram obter de volta os valores que investiram no esquema
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fraudulento. Com isso, a fraude arrecadou montantes gigantescos de dinheiro na


época, deixando inúmeras pessoas lesadas, levando Ponzi à prisão por algumas
vezes e fazendo com que ele se tornasse infamemente conhecido por ter elaborado a
maior fraude do século XX. Charles Ponzi, após sua última prisão, quando saiu, fora
deportado ao seu país de origem. Já na Itália objetivou instaurar novos esquemas,
porém desta vez não logrou êxito.
Ponzi mudou-se para o Brasil, trabalhando em ramo diverso: era funcionário
representante das linhas aéreas italianas até o fechamento destas em razão da
guerra. Veio a falecer pobre em terras brasileiras, especificamente no Rio de Janeiro
em 1949, num hospital para indigentes. (MORAES, Maurício, 2009).
Mas, infelizmente a prática piramideira não morreu com ele, pelo contrário,
continuou se popularizando, atraindo cada vez mais simpatizantes da prática delituosa
movendo montantes gigantescos de dinheiro.
Além disso, a prática de pirâmide financeira se modernizou, utilizando dos mais
diversos ativos, os quais suspostamente seriam a fonte dos altos ganhos prometidos.
Diversos casos foram notórios na história, como o caso da “Pirâmide de
Madoff’, também conhecida como a maior pirâmide em volume de dinheiro da história.
Bernard Madoff, fora um renomado economista, que nos anos 2000 realizou a
captação de milhares de investidores, os quais muitas vezes eram clientes de grande
porte, como bancos internacionais, inclusive. Entretanto, o modus operandi de Madoff
era diferenciado, pois não prometia ganhos exorbitantes de 50% a 100% de lucro
como no esquema de Ponzi, mas sim de 1% a 3% ao mês, porém continuava sendo
atraente aos olhos dos investidores, visto que tal rendimento prometido era
significantemente superior aos investimentos tradicionais da época. Madoff, foi até
mesmo um dos diretores da NASDAQ (mercado de ações automatizado norte-
americano), mas infelizmente se utilizou disso para atrair muitos investidores os quais
aderiram ao negócio por acreditarem na legitimidade da empresa criada por Madoff.
Todavia, a má-fé de Madoff ficou clara e sua credibilidade destruída, quando na crise
econômica de 2008 os investidores tentaram reaver o dinheiro aplicado na empresa,
entretanto, não obtiveram êxito, haja vista que o esquema piramideiro fora
desmantelado, deixando assim um rombo de 65 bilhões de dólares e levando Madoff
à condenação de 150 anos de prisão. Durante o cumprimento da pena veio a falecer,
no ano de 2021. (INFOMONEY, 2021)
Outro caso interessante que vale ser citado é da Pirâmide Caritas, um legítimo
esquema Ponzi ocorrido na Romênia entre 1992 e 1994. Criado por Ioan Stoica,
aproveitou a transição do país para o capitalismo e implantou o esquema se valendo
novas perspectivas abertas pela manipulação do dinheiro no país. Em sua essência o
esquema prometia ganhos impossíveis o quais renderiam oito vezes o valor aplicado
após três meses e se desenvolvia a base de depósitos em espécie. Estima-se que a
pirâmide em questão atraiu algo entre 2 e 8 milhões de pessoas movimentando um
montante de 1 a 5 bilhões de dólares. (WIKIPEDIA, 2018).
Também deve se levar em conta o caso “Dona Branca”. Este caso bastante
famoso nasceu através de uma idosa que, por meio de uma fraude, subtraiu o dinheiro
de investidores na década de 1980, provocando o maior escândalo de fraude já visto
em Portugal. Maria Branca dos Santos, ou dona Branca, conseguiu criar uma
organização criminosa que tinha como objeto de negócio empréstimos ilegais que
também se dava por meio de um esquema de pirâmide, que teve seu declínio
promovido pelas autoridades portuguesas em 1984. (TERRA, 2009)
Voltando os olhos ao Brasil, houve diversos casos os quais tomaram grande
proporção no território nacional. Dentre os principais, pode-se citar: Fazendas
Reunidas Boi Gordo, Avestruz Master, Telexfree e GAS Consultoria.
Acerca das Fazendas Reunidas Boi Gordo, trata-se de uma empresa fundada
em 1988, que iniciou sua capitação de investidores somente 8 anos depois.
Prometendo rendimentos de 42% do capital investido após 18 meses, tinha como
objeto de negócio o lucro da venda do boi engordado. Devido à grande popularização
na época, até mesmo fazia sua publicidade em horário nobre na televisão, a empresa
atraiu mais de 30 mil pessoas, as quais investiram nessa pirâmide financeira, que se
sustentava pagando os investidores antigos com os recursos trazidos por novos
investidores. Obviamente o negócio veio a declinar, sendo que em 2001 a empresa
solicitou o antigo instrumento denominado concordata, possuindo muitos débitos a
serem adimplidos. A empresa acabou falindo em 2004, deixando tantos lesados, que
criaram associações para conseguirem reaver os valores investidos que chegaram ao
montante de 4 bilhões de dólares. (APADEC, [s.d.]).
Nesta mesma toada, no início do século XXI, popularizou-se a Avestruz Master,
conduzida por Jerson Maciel Da Silva e sua família, a empresa deixou um prejuízo de
mais de 1 bilhão de reais, tornando-se o caso mais emblemático de fraude no estado
de Goiás. Tal empresa utilizava contratos de compra e venda de avestruzes em um
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esquema de pirâmide financeira. Para que a empresa fosse saudável pressupunha-


se que deveria haver no mínimo 600 mil aves, fato que nunca ocorreu, haja vista que
se constatou que a empresa possuía apenas 38 mil aves.
De pronto, observou-se que a conta não fechava, pois havia 50 mil clientes
investidores, sendo que 30 mil destes era somente do estado de Goiás. A fraude foi
constatada no ano de 2005 levando-a à falência, de modo que a Justiça Federal
condenou os envolvidos a penas de prisão, bem como indenização aos investidores
lesados. (STECKELBERG, Anna Júlia, 2021).
Já acerca da Telexfree, esta foi considerada a pirâmide financeira com maior
número de lesados no Brasil, criada em 2012. Veio com o propósito de uma empresa
de telemarketing, que tinha como objeto de receita a venda deste tipo de serviço,
desenvolvido a partir de um aplicativo de telefonia VOIP (telefonia por internet). Para
movimentar valores, a empresa recrutava pessoas para a atividade de divulgar o
serviço, as quais necessitavam despender de certo valor para exercer a atividade.
Neste prisma, com a entrada de novos membros ao atingir a marca de 1,8 milhões de
pessoas, a pirâmide entrou em colapso não conseguindo se sustentar mais. O fato de
a empresa não possuir a autorização da ANATEL para funcionar contribuiu para seu
declínio. No fim do ano de 2019, o Poder Judiciário decretou a falência da empresa, a
qual deixou uma dívida de bilhões reais de prejuízo aos investidores.
(CONSTANTINO, Lucas 2020).
Por fim, a G.A.S. Consultoria protagonizou um dos casos mais recentes de
pirâmide financeira. A G.A.S. fora constituída em Cabo Frio no Rio de Janeiro, e
possuía um dos mais modernos objetos de exploração, as criptomoedas, de onde
Glaidson Acácio Dos Santos, ou também conhecido como faraó dos Bitcoins, dizia
que vinham os lucros obtidos que pagavam os dividendos dos investidores.
Entretanto, sabe-se que não há como garantir rendimento em um ativo de renda
variável e por derradeiro extremamente volátil, como no caso dos criptoativos. Com
base nisso, por desconhecimento da sociedade acerca do ativo, as pessoas
acabavam sendo facilmente ludibriadas e acabavam indicando outras pessoas para
investiram na farsa. Glaidson as atraia prometendo rendimentos de 10% ao mês nos
aportes utilizados para investir em bitcoins, entretanto, as autoridades afirmam que a
G.A.S. sequer reaplicava os aportes nos criptoativos. Estima-se que o Faraó dos
Bitcoins, chegou a movimentar cerca de 38 bilhões de reais, com ele foram
apreendidos milhões em moedas diferentes, ouro e carteiras online criptografadas
onde se armazenam os criptoativos. Com a grande exposição midiática em torno das
investigações, a empresa deixou de pagar os rendimentos de seus investidores e
atualmente o Faraó dos Bitcoins Glaidson virou réu na Justiça junto com outras 16
pessoas denunciadas por participação em um esquema ilegal de investimentos em
criptomoedas. Todos respondem por crimes contra o sistema financeiro nacional,
como gestão de organização financeira sem autorização, gestão fraudulenta e
organização criminosa, sendo que outras ações correm em apartado, como pedidos
de falência, indenizações etc. (TCHAO, Eduardo e MONTEIRO, Jeferson, 2022)

2.2 Análise literária

Deixando um pouco de lado as pirâmides financeiras mais notórias, parte-se


para análise literária sobre esses esquemas fraudulentos, que para Remonato et. al.
(2017), um esquema de pirâmide é um sistema de marketing que consiste
basicamente em um recrutamento de mais e mais pessoas, onde os recém-chegados
investem diferentes quantias para entrar no programa e sustentar os dividendos dos
mais antigos. Nesta toada, o autor mencionado afirma que a pirâmide financeira é um
negócio matematicamente insustentável, tendo em vista que, caso cada novo
recrutado indique somente mais 6 investidores adicionais, em 9 etapas haverá a
participação de mais de 10.000.000 membros, ou seja, na 11ª etapa haveria mais
vendedores do que habitantes nos Estados Unidos.
Sendo assim, a pirâmide financeira é tida como um esquema em que o
participante paga um valor pela oportunidade de receber compensação por introduzir
uma ou mais pessoas no esquema ou pela chance de receber uma compensação
quando essa pessoa que foi introduzida também indicar um novo participante. É um
programa que oferece recompensas aos participantes quando recrutam e envolvem
novos participantes no esquema fraudulento (CAROLINO, et.al. 2017, p. 8).
Percebe-se então que as pirâmides financeiras estão voltadas para captação
de novos membros, que investem dinheiro para adentrar no esquema. Assim, estas
pessoas geralmente são motivadas por uma promessa de ganhos fáceis e rápidos.
De acordo com Ribeiro (2016) as pirâmides são insustentáveis pela simples razão do
número de pessoas serem limitados, consideradas como crime contra a economia
popular na Lei 1.521/51, o grosso do dinheiro que entra numa pirâmide não provém
da venda de produtos, mas sim da entrada de novos participantes.
21

Então verifica-se que a pirâmide financeira é um negócio por tempo


determinado, não se sustenta por longo tempo, não existe produto a ser
comercializado, é um empreendimento que tem lucro em curto espaço de tempo por
conta da rotatividade de valores dos novos membros, quando os contatos se acabam
a pirâmide se desmorona. É um sistema ilícito, pois é contra a lei, se configura como
crime financeiro. Busca enriquecer indevidamente por meio de circunstâncias
fraudulentas, que tendem a ferir a economia popular, de acordo com a literatura de
Bergo (2015).
Nesta toada, o surgimento das pirâmides financeiras, está relacionado às crises
econômicas mundiais e o superendividamento das classes sociais mais baixas. Assim
os consumidores mais vulneráveis são atraídos para o investimento de lucro fácil e
rápido, de acordo com o entendimento de Andrade (2018).
Roveri (2013) entende que essas pirâmides continuam em ascensão porque o
consumidor está ávido por multiplicar dinheiro, investe um valor e eles prometem que
a pessoa vai conseguir um percentual muito alto, de até 200%, rendimento que não
condiz com o mercado. Sendo de extrema necessidade ficar atento a estas promessas
fraudulentas, observando-se que algumas pessoas entram por inocência, mas a
maioria já entra sabendo que mais cedo ou mais tarde alguns irão ficar milionários e
outros mais pobres do que entraram.
Verifica-se então, a importância de mecanismos eficazes para conscientização
da população no intuito de evitar mais vítimas desses golpes financeiros.

2.3 Análise da legislação

Sendo assim, do ponto de vista normativo, não há uma tipologia criminal acerca
das Pirâmides financeiras. O artigo 2ª, inciso IX da Lei 1.521/51, que dispõe acerca
dos crimes contra a economia popular de forma genérica, não cita expressamente
acerca do crime de pirâmide financeira, como se pode notar, mas permite o
enquadramento da conduta nele:

Art. 1º. Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes e as contravenções


contra a economia popular, Esta Lei regulará o seu julgamento.

Art. 2º. São crimes desta natureza:

[...]
IX - obter ou tentar obter ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de
número indeterminado de pessoas mediante especulações ou processos
fraudulentos ("bola de neve", "cadeias", "pichardismo" e quaisquer outros
equivalentes);

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, de dois mil a


cinquenta mil cruzeiros.

Parágrafo único. Na configuração dos crimes previstos nesta Lei, bem


como na de qualquer outro de defesa da economia popular, sua guarda e seu
emprego considerar-se-ão como de primeira necessidade ou necessários ao
consumo do povo, os gêneros, artigos, mercadorias e qualquer outra espécie
de coisas ou bens indispensáveis à subsistência do indivíduo em condições
higiênicas e ao exercício normal de suas atividades. Estão compreendidos
nesta definição os artigos destinados à alimentação, ao vestuário e à
iluminação, os terapêuticos ou sanitários, o combustível, a habitação e os
materiais de construção. (BRASIL, 1951).

Diante disso, observa-se que para o enquadramento deste crime à prática de


pirâmide financeira há a necessidade de que seja comprovado que se obteve ganhos
ou ao menos tentou-se obter ganhos ilícitos em detrimento da população mediante o
uso de especulações ou processos fraudulentos.
Observa-se ainda que ao citar exemplos de práticas que se enquadram ao tipo
penal, como “bola de neve", "cadeias", "pichardismo", o dispositivo ainda cita
quaisquer outros que sejam equivalentes. Ou seja, mesmo não citando
expressamente a prática de pirâmide financeira (ou de qualquer outra natureza) no
dispositivo, esta se enquadra de forma análoga ao disposto no artigo supracitado.
Porém, a partir daí, surge uma das polêmicas que este dispositivo possui,
justamente acerca deste enquadramento análogo, ou também conhecido como
interpretação extensiva.
Ocorre que no processo penal não há a possibilidade de analogia in malam
partem, ou seja, o tipo de analogia que prejudica o réu por aplicar lei prejudicial a ele,
tendo em vista que esta gera grave afronta ao consagrado princípio da reserva legal
contido na CF/88, art. 5º, XXXIX e CP, art. 1º, assim transcritos:

CF/88 - Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

[...]

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;
23

CP - Anterioridade da Lei - Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina.
Não há pena sem prévia cominação legal. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984). (BRASIL, 1988).

Com isso, resta nítida a falta que faz a expressa e literal tipificação das
pirâmides financeiras como crime no dispositivo contido no artigo 2ª, inciso IX da Lei
1.521/51, ocasionando assim uma certa “brecha” na lei, que possibilita a
argumentação de aplicação de analogia in malam partem por parte da defesa do então
réu.
Entretanto, o poder decisório fica a cargo do juízo que irá julgar o caso concreto,
bem como a análise de enquadramento ou não do dispositivo supracitado. O que torna
tudo isso mais complexo, é que desde o início das atividades das pirâmides
financeiras, geralmente as empresas piramideiras se utilizam de artifícios para
dificultar futuras investigações, utilizando meios para afastar a responsabilidade ou
mascarar sua atividade para que não seja afetada por tipificação penal.
Com isso, na maioria dos casos observa-se que não se tem informações
concisas acerca do modus operandi utilizado pela empresa, no que diz respeito em
como de fato se dá o rendimento dos valores aplicados. Em sua maioria, as empresas
piramideiras alegam que seus proventos se dão a partir da exploração de ativos
financeiros, produtos, serviços etc., fornecendo informações rasas sobre estes ou
nenhuma informação, bem como em relação as informações gerais sobre a empresa,
a origem dos proventos, seus donos e até mesmo sua sede.
Tudo isso na tentativa de dificultar o enquadramento dos crimes que
futuramente recairão, objetivando se eximir das penas previstas e até atrapalhando
oportunas investigações.
Outro ponto importante que deve ser levado em conta no dispositivo contido no
artigo 2ª, inciso IX da Lei 1.521/51, é acerca do crime contido neste artigo ser
considerado como infração de menor potencial ofensivo, ou seja, se enquadrando na
mesma classificação dos crimes de injuria, calúnia, difamação etc., haja vista que de
acordo com este conceito, todos os crimes que a lei comine pena não superior a 2
anos, todas as contravenções penais e os crimes, qualquer que seja a pena privativa
de liberdade, que possuírem previsão alternativa de pena de multa serão
considerados infrações de menor potencial ofensivo.
No caso em tela, como se pode observar, a pena prevista para aqueles que
forem enquadrados na conduta criminosa tipificada no dispositivo será de detenção
de 6 meses a 2 anos, e multa, de dois mil a cinquenta mil cruzeiros.
À título de comparação, com uma breve análise de outros dispositivos legais,
presume-se que a referida pena além de desatualizada (por se referir a moeda não
mais utilizada no país há bastante tempo) tem sua dosimetria de detenção um tanto
quanto branda, haja vista que, por exemplo, na Lei nº 7.492, De 16 De Junho De 1986,
que dispõe acerca dos Crimes Contra O Sistema Financeiro Nacional em seus
primeiros artigos disposto é previsto:

Art. 1º Considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, a pessoa


jurídica de direito público ou privado, que tenha como atividade principal ou
acessória, cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação
de recursos financeiros (Vetado) de terceiros, em moeda nacional ou
estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação
ou administração de valores mobiliários.

Parágrafo único. Equipara-se à instituição financeira:

I - a pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio, consórcio,


capitalização ou qualquer tipo de poupança, ou recursos de terceiros;

II - a pessoa natural que exerça quaisquer das atividades referidas neste


artigo, ainda que de forma eventual.

DOS CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Art. 2º Imprimir, reproduzir ou, de qualquer modo, fabricar ou pôr em


circulação, sem autorização escrita da sociedade emissora, certificado,
cautela ou outro documento representativo de título ou valor mobiliário:

Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem imprime, fabrica, divulga,


distribui ou faz distribuir prospecto ou material de propaganda relativo aos
papéis referidos neste artigo.

Art. 3º Divulgar informação falsa ou prejudicialmente incompleta sobre


instituição financeira:

Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Art. 4º Gerir fraudulentamente instituição financeira:

Pena - Reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa.

Parágrafo único. Se a gestão é temerária:

Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.


25

Art. 5º Apropriar-se, quaisquer das pessoas mencionadas no art. 25


desta lei, de dinheiro, título, valor ou qualquer outro bem móvel de que tem a
posse, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio:

Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena qualquer das pessoas


mencionadas no art. 25 desta lei, que negociar direito, título ou qualquer outro
bem móvel ou imóvel de que tem a posse, sem autorização de quem de
direito. (BRASIL, 1986).

Observa-se que o legislador fora um tanto quanto mais rigoroso na estipulação


das penas para pessoas que venham a cometer crimes contra o sistema financeiro
nacional. Fazendo com que a pena disposta no artigo 2ª, inciso IX da Lei 1.521/51
seja considerada incompatível levando em conta o impacto que uma pirâmide
financeira pode exercer na sociedade, se não igual, ou até maior do que as condutas
tipificadas na Lei nº 7.492/86.
Neste prisma, observa-se a nítida necessidade de um dispositivo legal que
venha dispor expressamente acerca da prática de pirâmide financeira, impondo penas
mais rígidas à fim de desestimular esta prática em território nacional.
Além do dispositivo citado no artigo 2ª, inciso IX da Lei 1.521/51, a pessoa que
opera pirâmides financeiras pode incorrer em outros crimes a depender do caso
concreto, sendo os mais comuns: crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, como
transcrito acima, Crimes contra o Mercado de Capitais, Crimes Contra a Ordem
Econômica, Crime de Lavagem de Capitais, Crime de Participação em Grupo
Criminoso e outros que podem ser enquadrados a depender do caso concreto.
No que diz respeito ao crime contra o Mercado Capitais, este disposto na Lei
nº 6.385/1976 que dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão
de Valores Mobiliários, tem-se:

Art. 27-E. Atuar, ainda que a título gratuito, no mercado de valores mobiliários,
como instituição integrante do sistema de distribuição, administrador de
carteira coletiva ou individual, agente autônomo de investimento, auditor
independente, analista de valores mobiliários, agente fiduciário ou exercer
qualquer cargo, profissão, atividade ou função, sem estar, para esse fim,
autorizado ou registrado junto à autoridade administrativa competente,
quando exigido por lei ou regulamento:

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Sobre os Crimes contra a Ordem Econômica, estes dispostos Lei nº


8.137/1990, esta que define os crimes contra a ordem tributária, econômica e contra
as relações de consumo, e dá outras providências, temos:
Art. 7°. Constitui crime contra as relações de consumo:

VII - induzir o consumidor ou usuário a erro,

por via de indicação ou afirmação falsa ou enganosa sobre a natureza,


qualidade do bem ou serviço, utilizando-se de qualquer meio, inclusive a
veiculação ou divulgação publicitária;

[...]

Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa. (BRASIL, 1976).

Quanto ao crime de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, este está


previsto na Lei nº 9.613/98, que descreve o crime como o ato de ocultar ou dissimular
a origem ilícita de bens ou valores que sejam frutos de crimes, assim transcrito:

Dos Crimes de "Lavagem" ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores

Art. 1º. Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição,


movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes,
direta ou indiretamente, de infração penal.

Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa.

§ 1o Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização


de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal:
(Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

I - os converte em ativos lícitos;

II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem


em depósito, movimenta ou transfere;

III - importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos


verdadeiros.

§ 2o Incorre, ainda, na mesma pena quem:

I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores


provenientes de infração penal; (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que


sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos
nesta Lei.

§ 3º A tentativa é punida nos termos do parágrafo único do art. 14 do Código


Penal.

§ 4o A pena será aumentada de um a dois terços, se os crimes definidos


nesta Lei forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio de
organização criminosa. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012).
(BRASIL, 1998).
27

Tratando-se desta lei, no ramo das pirâmides financeiras é um crime


bastante comum de ser praticado, considerando que de algum modo os piramideiros
tentam ocultar os proventos obtidos para que não percam suas riquezas ilícitas
quando ocorrer o desmoronamento da pirâmide financeira. Isso se consuma de
diversas formas, como envio de dinheiro para paraísos fiscais, ocultando dinheiro em
espécie, utilizando contas em nomes de terceiros dentre outros. Bem como também
objetivam de certa forma “limpar” o dinheiro subtraído aplicando-o em outros negócios,
como empresas fantasmas de ramos diversos que supostamente geram lucros
estratosféricos ou outros meios fraudulentos.
Um inciso importante neste dispositivo legal é o II, do parágrafo 2º, que
dispõe acerca da participação de “terceiros” no grupo, associação ou escritório tendo
conhecimento de que sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de
crimes previstos nesta Lei.
Ou seja, na hipótese de funcionários que trabalham na empresa e que tem
ciência que esta exerce atividades piramideiras, eles também incorreram na pena
prevista do dispositivo, qual seja de reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa. Tal
previsão se estende também para os membros investidores da pirâmide financeira
que souberam da atividade ilícita que a empresa está exercendo, continuem mesmo
assim participando dela indicando novos membros para aderir ao negócio, com o
intuito de manterem seus ciclos de ganhos, também responderão por esta tipificação
penal.
Neste prisma, na hipótese de enquadramento do crime de Organização
Criminosa, regido pela Lei Nº 12.850/13, pode-se constatar uma tipificação penal
completa e bem estruturada, com uma pena certamente generosa, como pode se
observar:

Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação


criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o
procedimento criminal a ser aplicado.

§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais


pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas,
ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente,
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas
penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter
transnacional.

[...]
Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por
interposta pessoa, organização criminosa:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas
correspondentes às demais infrações penais praticadas.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma,


embaraça a investigação de infração penal que envolva organização
criminosa.

[...]

§ 3º A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo,


da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de
execução.

§ 4º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços):

I - se há participação de criança ou adolescente;

II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização


criminosa dessa condição para a prática de infração penal;

III - se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em


parte, ao exterior;

IV - se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações


criminosas independentes;

V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da


organização. (BRASIL, 2013).

Em suma, observa-se que o crime de organização criminosa exige que ocorra


a participação de no mínimo quatro pessoas, devendo ser estruturalmente ordenada,
possuindo organização/delegação de afazeres. E por diante, para que ocorra o
enquadramento nesse tipo penal, há a necessidade de que os integrantes pratiquem
crimes com penas máximas superiores a quatro anos ou de caráter transnacional,
requisitos os quais se enquadram perfeitamente na hipótese de constituição de uma
pirâmide financeira.
Por outro lado, teoricamente verifica-se que pode haver incidência de outro
crime bastante conhecido, o disposto no capítulo VI do Código Penal, no que tange
ao crime de estelionato, aquele disposto no art. 171 assim transcrito:

Estelionato

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo


alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou
qualquer outro meio fraudulento:
29

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a


dez contos de réis. (Vide Lei nº 7.209, de 1984). (BRASIL, 1940).

Nesta mesma toada do referido artigo, observa-se que ainda pode-se haver a
incidência de um de seus parágrafos, o qual:

Fraude eletrônica

§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a


fraude é cometida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou
por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou
envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio
fraudulento análogo. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)

§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do


resultado gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o
crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território
nacional. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)

§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em


detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular,
assistência social ou beneficência. (BRASIL, 1940).

Haja vista, que a internet se torna um meio bastante utilizado para


disseminação e divulgação de tal prática piramideira, não são raros os casos em que
utilizam do emprego das redes sociais para que se possibilite a captação de novos
membros utilizando o mapeamento de informações e interesses das vítimas.
Ainda assim, não sendo descartados a possibilidade de incidência de alguns
dos parágrafos e artigos subsequentes, os quais são: § 4º Estelionato contra idoso ou
vulnerável, Art. 173 abuso de incapazes, Art. 174 Induzimento à especulação, Art. 175
Fraude no comércio, Art. 179 Fraude à execução etc.
Deixando um pouco de lado o âmbito penal e abarcando o âmbito cível, como
já fora adiantado no capítulo anterior, sabe-se que a pessoa prejudicada pelo golpe
de pirâmide financeira pode tomar algumas atitudes por meio de seu advogado para
que consiga a restituição, indenização, sequestro de bens e demais alternativas
objetivando prover sua pretensão.
Sendo assim, além das ações já conhecidas, tais como:
(i) Ação de Conhecimento pelo Procedimento Comum, cuja como o próprio nome
pressupõe, objetiva que juízo analise e diga o direito quando proferir a sentença.
Esta ação costuma tomar maior tempo. Considerando a ampla dilação probatória
e as diversas fases que percorre sendo elas a postulatória, ordinatória, instrutória,
decisória e liquidatária. Tal ação pode ser invocada para toda causa cuja lei
processual não tenha estipulado rito próprio/específico. Estando prevista no art.
318 do CPC, a seguinte extraído:
Art. 318. Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo
disposição em contrário deste Código ou de lei.

Parágrafo único. O procedimento comum aplica-se subsidiariamente aos


demais procedimentos especiais e ao processo de execução. (BRASIL,
2015).

(ii) Ação de Execução, no tema que aqui se trata, na maioria das vezes uma Execução
de contrato. Essa ação costuma ser mais célere, haja vista que já um direito
predisposto em que as partes anuíram reciprocamente. Nesta ação objetiva-se o
cumprimento das cláusulas contratuais, no prazo e condições estipuladas. Neste
prisma, por haver direito pré-constituído, é fundada em título com obrigação certa,
líquida e exigível, onde a referida ação é mais célere por pular toda a fase de
conhecimento partindo diretamente com a execução. Tal ação está prevista no
livro II a partir do Art. 771 do CPC.

(iii) Medida Cautelar, que objetiva prevenir, conservar ou defender direitos. Utilizada
em diversas hipóteses, mas muito comum para solicitar o bloqueio de bens da
parte contrária, com o objetivo de evitar a dilapidação de patrimônio e conseguir
garantir que em caso de sucesso na ação, a parte contrária consiga adimplir com
sua obrigação. Para isso, é necessário que seja demonstrado o periculum in mora
(perigo na demora) e o fumus boni iuris (sinal do bom direito), para que o juízo
venha deferir e conceder a medida liminar. O dispositivo que regula o instrumento
da Medida cautelar, está previsto no art. 301 do CPC, assim transcrito:

Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada


mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra
alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do
direito. (BRASIL, 2015).

Além das ações cabíveis, também há a possibilidade de serem pleiteados


outros pedidos, requerimentos ou incidentes, como pode se observar adiante:
(i) Averbação Premonitória, cuja trata-se do ato que visa a concessão de publicidade
à execução aceita pelo juízo, a fim de evitar que a execução seja frustrada e que
o executado dilapide seu patrimônio tornando-se insolvente. Com isso, o
instrumento de averbação premonitória permite que o exequente obtenha certidão
de que a execução fora admitida pelo juízo e averbe no registro de imóveis, de
veículos ou outros bens sujeitos a penhora, arresto, penhora ou indisponibilidade,
com o intuito de proteger os bens do executado que posteriormente poderão ser
utilizados para adimplemento do débito executado. Tal dispositivo é regulado pelo
artigo 828 do CPC, como pode-se observar:

Art. 828. O exequente poderá obter certidão de que a execução foi admitida
pelo juiz, com identificação das partes e do valor da causa, para fins de
averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens sujeitos a
penhora, arresto ou indisponibilidade.

§ 1º No prazo de 10 (dez) dias de sua concretização, o exequente deverá


comunicar ao juízo as averbações efetivadas.
31

§ 2º Formalizada penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da dívida,


o exequente providenciará, no prazo de 10 (dez) dias, o cancelamento das
averbações relativas àqueles não penhorados. (BRASIL, 2015).

(ii) Desconsideração da Personalidade Jurídica, cuja consiste de acordo com o


desembargador Esdras Neves, trata-se do “afastamento temporário, ocasional e
excepcional da personalidade jurídica da sociedade empresarial, a fim de permitir,
em caso de abuso ou de manipulação fraudulenta, que o credor lesado satisfaça,
com o patrimônio pessoal dos sócios da empresa, a obrigação não cumprida”.
Entretanto, para que seja deferida a desconsideração da personalidade jurídica da
empresa, há a necessidade de que sejam comprovadas algumas situações, sendo
elas a confusão patrimonial dos bens da empresa e dos sócios, desvio de
finalidade da empresa, fraudes em que a pessoa jurídica é utilizada para cometer
atos ilícitos e prejuízos causados ao consumidor. Disposto no artigo art. 133 do
CPC, o texto da lei traz:

Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será


instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber
intervir no processo.

§ 1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os


pressupostos previstos em lei.

§ 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração


inversa da personalidade jurídica. (BRASIL, 2015).

(iii) Aplicação do Código de Defesa do consumidor. Sabe-se que nas pirâmides


financeiras, na maioria dos casos há uma relação consumerista instaurada,
levando em consideração que o investidor é o consumidor final dos serviços
prestados, tal premissa vai de acordo com o disposto no Art. 2° do CDC, a seguir
transcrito:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza


produto ou serviço como destinatário final.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas,


ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
(BRASIL, 1990).

Ainda, tratando-se de uma garantia constitucional, prevista na Constituição


Federal de 1988:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

[...]

XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

[...]
(BRASIL, 1988).

Com isso, o investidor caracterizado consumidor possuí algumas prerrogativas


que tem por objetivo suprir a sua vulnerabilidade na relação consumerista. Entre elas:
(iii.i) A inversão do ônus da prova: Cuja geralmente é realizada por meio de
requerimento e passa pela análise do juiz, que irá deferir ou não de quem será o
ônus na produção das provas. Tal instrumento está disposto no inciso VIII do Art.
6º do CDC, assim transcrito:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do


ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências. (BRASIL, 1990).

(iii.ii) Da desconsideração da personalidade jurídica: o CDC também dispõe acerca


da desconsideração da personalidade jurídica quando houver prejuízos causados
ao consumidor, este poderá invocar o referido dispositivo. Caso ocorra falência,
estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados
por má administração o dispositivo também poderá ser invocado. Sobre tais
situações, o CDC dispõe:

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade


quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de
poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato
social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência,
estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica
provocados por má administração.

§ 1° (Vetado).

§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades


controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações
decorrentes deste código.

§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas


obrigações decorrentes deste código.

§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.

§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que


sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de
prejuízos causados aos consumidores. (BRASIL, 1990).

(iii.v) Da indenização por danos morais: à luz do CDC, no mesmo artigo 6º citado
anteriormente, o Código de Defesa do Consumidor prevê a indenização por danos
morais, quando constatados os danos morais, ao consumidor ofendido, dispondo
o seguinte:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


33

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,


individuais, coletivos e difusos; (BRASIL, 1990).

(iv) Da indenização por danos morais à luz do Código Civil: Como base, antes mesmo
da aplicação do CDC, o CC institui a tipificação do dano moral e o dever de
indenizar, nos artigos 186, 187 e 927. Neste prisma, com a breve análise dos
artigos, percebe-se que de forma dedutiva pode-se enquadrar o dano moral sofrido
por uma pessoa vítima de uma pirâmide financeira, considerando que para o
doutrinador Carlos Roberto Gonçalves, “Dano moral é o que atinge o ofendido
como pessoa, não lesando seu patrimônio. É lesão de bem que integra os direitos
da personalidade, como a honra, a dignidade, intimidade, a imagem, o bom nome
etc., como se infere dos art. 1º, III, e 5º, V e X, da Constituição Federal, e que
acarreta ao lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação” (GONCALVES,
2009, p.359). Neste prisma, podemos constatar no Código Civil:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente


de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem. (BRASIL, 2002).

Com isso, verifica-se que o tema tratado abrange diversos dispositivos dos
ordenamentos jurídicos pátrios, sendo mais os quais objetivam reprimir os infratores
e amparar os lesados.

2.4 Aspectos jurídicos das pirâmides financeiras

Antes de apresentar a definição material das fraudes praticadas, é relevante


alguns comentários que revelam a expertise jurídica por trás dos esquemas de
pirâmide, que intentam transmitir legitimidade para a prática, além de estabelecer
certa garantia aos piramideiros.
Sendo assim, observa-se que nos casos de maiores proporções, a responsável
por exercer a atividade piramideira é uma pessoa jurídica, onde seus idealizadores
objetivam se eximir ou dificultar a responsabilidade pessoal se valendo de um CNPJ.
Nesta linha de raciocínio, os tipos empresariais utilizados são dos mais
diversos, porém, a maioria possui algo em comum, qual seja: A responsabilidade
limitada.
Sobre a responsabilidade limitada, esta é uma característica pertencente a
certos tipos empresariais, onde os empresários têm sua responsabilidade limitada ao
valor de sua participação no capital social da empresa. Tal instrumento possibilita que
o patrimônio particular do sócio não se confunda com o patrimônio da empresa,
protegendo o patrimônio tanto da pessoa física, quanto da pessoa jurídica. (REIS,
Tiago, 2021)
Os tipos empresariais que possuem responsabilidade limitada são: 1) a
sociedade limitada pluripessoal; 2) a sociedade limitada unipessoal; 3) a sociedade
anônima e 4) a EIRELI 1.
Neste prisma, levando em conta os casos trazidos como exemplo na presente
dissertação, observa-se que eles se enquadram perfeitamente nas hipóteses listadas
acima, uma vez que a G.A.S, registrada na no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
sob número o número 22.087.767/0001-32, possuindo o nome empresarial G.A.S
Consultoria & Tecnologia Ltda, possui a natureza jurídica de Sociedade Empresária
Limitada. Do mesmo modo que a Avestruz Master também possui a mesma natureza
jurídica (05.415.147/0001-66).
Já em consulta ao CNPJ da Telexfree (11.669.325/0001-88), observa-se que
esta é cadastrada como uma Sociedade Anônima em sua natureza jurídica, assim
como as Fazendas Reunidas Boi Gordo (02.490.462/0001-60).
Sendo assim, observa-se que os piramideiros se aproveitam das espécies
societárias para que consigam dificultar o acesso aos seus bens particulares na
hipótese de insolvência da pessoa jurídica, fato o qual se sabe que será inevitável.
Entretanto, a legislação prevê hipóteses de desconsideração da personalidade
jurídica da empresa insolvente ou que desvia sua finalidade ou que é utilizada para a
prática de fraudes em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de
poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social.

1
Ante a expressa revogação da EIRELI por meio do art. 41 da Lei nº 14.195/2021, esta fora mencionada em
virtude da sua relevância enquanto existiu.
35

Ou seja, ao invocar este instrumento e com a decisão judicial concedendo-a, a


desconsideração da personalidade jurídica acarretará a possibilidade de atingir o
patrimônio pessoal do sócio para que se possa adimplir com o débito.2
Sendo assim, a pessoa que se viu lesada pela empresa piramideira, poderá
pleitear em juízo, a desconsideração da personalidade jurídica da empresa
processada, sendo que o juízo irá analisar o preenchimento dos requisitos para que
aí sim profira a decisão concedendo ou não a desconsideração da personalidade
jurídica da empresa, onde os sócios responderão solidariamente com seus
patrimônios pessoais.
Nesta toada, são diversas as ações cabíveis que os investidores poderão
pleitear, tais como: Ação de Execução, indenização, cobrança, danos morais, danos
materiais, ações consumeristas etc.
Vale ressaltar que a busca o quanto antes de um profissional do Direito para
propor as ações cabíveis é imprescindível, haja vista que tratando-se de muitas
pessoas lesadas, há uma concorrência entre os investidores que sofreram com o
golpe, sendo assim, o ajuizamento da ação com o requerimento das medidas cabíveis
serve para garantir o mais rápido possível a recuperação do dinheiro despendido.
Quanto a isso, o Dr. Rafael Rocha Filho, sugere dicas de atitudes que o
investidor lesado possa vir a tomar por intermédio do seu advogado, sendo:

1 – Execução do contrato

Muitos dos “investidores” receberam um contrato de mútuo.

Nele, a empresa se coloca na condição de devedora do cliente, com


prazo de vencimento para pagar o valor do investimento, assinatura de duas
testemunhas, quantia exata que deve e todos os demais requisitos legais que
um contrato precisa para ser considerado como título executivo extrajudicial.

Esse documento pode ser usado para iniciar uma ação de execução,
que tem um tempo de duração muito menor comparado a outras ações
possíveis, garantindo um resultado mais rápido e efetivo na busca pelo
dinheiro depositado.

2
Lei 8.078/1990: Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em
detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação
dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de
insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.
Lei 10.406/2002: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou
pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber
intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam
estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou
indiretamente pelo abuso.
2 – Averbação premonitória

Como eu disse anteriormente, a corrida é contra o tempo e outros


clientes, portanto, quem realizar a penhora de qualquer bem da empresa
primeiro, terá maiores chances de receber.

Desse modo, é possível, após o recebimento da execução citada no


item 1, pedir uma certidão do processo e levar a registro perante qualquer
bem móvel, imóvel ou outros bens sujeitos à penhora, como permite o art.
828, caput, do Código de Processo Civil (CPC).

Através desse ato, caso alguém compre o bem que teve a certidão
registrada não poderá alegar desconhecimento, tornando ineficaz, inclusive,
a alienação, que certamente é fraudulenta.

3 – Pedido de medida cautelar

Também é possível pedir a constrição dos bens que a empresa


possui através dos sistemas tradicionais de bloqueio, que dependem de
ordem do juiz, como o BACENJUD e RENAJUD, mediante uma medida
cautelar, onde o cliente deverá demonstrar o seu direito e o perigo que é a
demora do transcorrer do processo para o seu recebimento.

Entendendo como adequada, o juiz deferirá essa medida,


bloqueando quaisquer bens que a empresa possui, principalmente, dinheiro
em suas contas bancárias.

Caso esse pedido seja negado, é possível, ainda, recorrer ao Tribunal


para que este o defira.

4 – Desconsideração da personalidade jurídica

Essa quarta medida é muito importante. Ela permite que, além do


patrimônio da própria pessoa jurídica, os patrimônios dos sócios sejam
utilizados para o pagamento da dívida.

É possível pedir a desconsideração quando ocorrer qualquer uma


dessas situações previstas no art. 28, caput, e § 5º, do Código de Defesa do
Consumidor:

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da


sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito,
excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos
ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver
falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa
jurídica provocados por má administração.

(…)

5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que


sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de
prejuízos causados aos consumidores.

E não é preciso esperar que se esgotem todas as tentativas de


encontrar o patrimônio da empresa. Isso pode ser pedido no início do
processo.
37

5 – Ação de conhecimento

Essa ação é indicada para quem não tem o contrato com a empresa,
deve ser utilizado em último caso, pois é o procedimento mais longo para
poder receber.

No item 1 eu falei sobre a ação de execução, que é a forma mais


rápida de reaver o investido, mas, para propor essa ação é imprescindível
que exista um contrato ou outro título de crédito e que ele esteja com todos
os requisitos necessários corretamente preenchidos.

Acontece que, vários clientes podem não possuir um contrato. Nesse


caso, deverão provar de outro modo (comprovante de transferência, e-mails,
conversas em Whatsapp etc.) que depositaram dinheiro para a empresa.

Nessa ação, haverá, provavelmente, a designação de audiências,


sentença, recursos e tantos outros atos que atrasam a fase de recebimento.

Contudo, mesmo nessa situação, você, cliente prejudicado, poderá


pedir a medida cautelar (item 3) e a desconsideração da personalidade
jurídica (item 4), a fim de garantir o recebimento do seu dinheiro.” (ROCHA
FILHO, Rafael, 2019).

Com isso, observa-se que o investidor atingido pelo golpe financeiro, possui
diversos procedimentos para ressarcir a quantia subtraída, dependendo das
condições do seu caso concreto. Cabendo até mesmo, um pleito ou ação apartada
com pedido de indenização por danos morais, considerando que a pessoa que sofrera
com o golpe tenha tido grande desgaste emocional, descaso e angústia, situação as
quais são tipificadas como atos ilícitos que com a análise do juízo responsável, poderá
acarretar a condenação da empresa ao pagamento de indenização por danos morais
causados ao investidor.
Além de plenamente possível a realização de denúncia de uma pirâmide
financeira por meio do site do Ministério Público Federal, sendo que o próprio órgão
disponibiliza uma cartilha de como identificar uma pirâmide para auxiliar o
denunciante.

2.5 Análise jurisprudencial

Dado o aspecto do direito material, ou seja, as disposições legislativas, serão


observadas então, as decisões do poder judiciário mais relevantes no que tangem ao
tema, de modo a aclarar os atuais posicionamentos dos tribunais acerca das situações
jurídicas que podem envolver as pirâmides financeiras.
Para tanto, a começar de um tribunal estadual, as jurisprudências mais
recorrentes no que tangem o tema aqui tratado, versam na maioria das vezes
pleiteando-se acerca do reconhecimento da pirâmide financeira cumulada rescisões
contratuais, restituições de valores, abuso da personalidade jurídica, medidas
cautelares de constrições de bens etc., conforme pode-se observar em alguns
resultados de pesquisa no TJSP:

2225880-10.2022.8.26.0000

Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Gestão de Negócios

Relator(a): Alfredo Attié

Comarca: São Paulo

Órgão julgador: 27ª Câmara de Direito Privado

Data do julgamento: 28/10/2022

Data de publicação: 28/10/2022

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO MONITÓRIA ENVOLVENDO


MÚTUO E PIRÂMIDE FINANCEIRA. ARRESTO CAUTELAR. Decisão
interlocutória que rejeita pedido de arresto cautelar mantida. Ausência dos
requisitos do art. 300 do CPC/2015. Necessidade de emenda à inicial, para
adequação ao rito comum (art. 700, § 5º, do CPC/2015). Observação quanto
à conversão automática ao rito comum após emenda ou em caso de
apresentação de embargos monitórios, conforme precedente do Superior
Tribunal de Justiça, a admitir a reapreciação da pretensão. RECURSO NÃO
PROVIDO, COM OBSERVAÇÃO.

2190204-98.2022.8.26.0000

Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Gestão de Negócios

Relator(a): Antonio Nascimento

Comarca: São Paulo

Órgão julgador: 26ª Câmara de Direito Privado

Data do julgamento: 25/10/2022

Data de publicação: 25/10/2022

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE RESCISÃO


CONTRATUAL C.C. RESTITUIÇÃO DE VALORES – CONTRATO DE
MÚTUO – ARRESTO CAUTELAR DE BENS – SUSPEITA DE PIRÂMIDE
FINANCEIRA. É possível o arresto de bens na fase de conhecimento para
garantia do cumprimento da obrigação, em situações excepcionais, nas quais
existe prova inequívoca do ato ilícito e a possibilidade de frustração dos meios
39

executórios, como no caso dos autos. RECURSO PARCIALMENTE


PROVIDO.

1005591-47.2017.8.26.0157

Classe/Assunto: Apelação Cível / Prestação de Serviços

Relator(a): Marcos Gozzo

Comarca: Cubatão

Órgão julgador: 38ª Câmara de Direito Privado

Data do julgamento: 24/10/2022

Data de publicação: 24/10/2022

Ementa: Ação de liquidação e cumprimento de sentença proferida em ação


civil pública ajuizada em outro Estado. Reconhecimento de pirâmide
financeira. Liquidação proposta por consumidora denominada
contratualmente como divulgadora. Sentença de procedência para
reconhecer como devido o valor descrito na inicial. Insurgência da ré.
Admissibilidade parcial. Tendo em vista a inclusão na planilha de cálculos de
valor cujo comprovante não foi juntado aos autos, de rigor exclui-lo da
cobrança. Cobrança que deve abranger somente as quantias constantes dos
comprovantes de pagamento de fls. 18/28. Valores a serem corrigidos e com
incidência de juros de mora de 1% ao mês que devem incidir desde a citação
da ré na ação civil pública, com termo final a data da decretação da falência.
Recurso provido em parte.

2170425-60.2022.8.26.0000

Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Locação de Móvel

Relator(a): Marcondes D'Angelo

Comarca: São João da Boa Vista

Órgão julgador: 25ª Câmara de Direito Privado

Data do julgamento: 18/10/2022

Data de publicação: 18/10/2022

Ementa: RECURSO – AGRAVO DE INSTRUMENTO – LOCAÇÃO DE BEM


MÓVEL (VEÍCULO AUTOMOTOR) – AÇÃO DE TUTELA CAUTELAR
ANTECEDENTE – TUTELA DE URGÊNCIA – Autor que afirma ter firmado,
na posição de locatário, contrato de locação de veículo automotor com
"cashback", pelo qual antecipou o valor correspondente a toda a vigência
contratual para poder utilizar o bem tomado por locação livremente por 15
(quinze) meses, até que houvesse a finalização do contrato com retorno total
do valor pago pela locação. Alegação de que a locadora do veículo deixou de
adimplir suas obrigações para com os fornecedores dos veículos locados
(terceiros pessoas físicas e jurídicas), bem como para com os locatários,
encerrando a sua atividade. Arguição de suspeita de golpe financeiro
(Esquema de "Ponzi", vulgarmente conhecido como "Pirâmide"). Pretensão
de urgência no sentido de ser mantido na posse do veículo locado até o
julgamento meritório da lide. Tutela de urgência deferida em primeiro grau.
Reforma que se impõe, porquanto improvável o direito de o locatário ser
mantido na posse do veículo automotor, em detrimento da proprietária do
bem, em razão da fraude operada. Direito da proprietária de retomar o bem
do qual se encontra desapossada por estelionato (Código de Processo Civil,
artigo 300). Decisão agravada reformada para afastar o impedimento à
retomada do bem pela proprietária. Recurso de agravo de instrumento
provido.

(BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo).

Já no âmbito da Justiça Federal, pode-se depreender que os julgados que


versam sobre o tema em sua maioria tratam de Crime Contra o Sistema Financeiro
Nacional, Lavagem De Valores, Organização Criminosa, Sonegação Fiscal etc., como
se pode constatar:

EMENTA

PENAL. PROCESSO PENAL. SONEGAÇÃO FISCAL. DELITO DO ART. 1º,


I, DA LEI N. 8.137/90. MATERIALIDADE. AUTORIA. DOLO.
COMPROVAÇÃO. ELEVAÇÃO DA PENA-BASE. MAIOR
REPROVABILIDADE E GRAVES CONSEQUÊNCIAS DO DELITO.
CABIMENTO. AGRAVANTE. REINCIDÊNCIA. ADEQUAÇÃO. APLICAÇÃO
DA PENA DE MULTA. PROPORCIONALIDADE. FIXAÇÃO DOS VALORES
DO DIA-MULTA. COMPATIBILIDADE. DOSIMETRIA REVISTA. APELO
PARCIALMENTE PROVIDO.

1. Materialidade e autoria comprovadas nos autos.

2. Os elementos dos autos são suficientes à demonstração de que o réu era


sócio administrador da empresa fiscalizada e detinha poderes de gestão. O
tipo penal descrito no art. 1º, I, da Lei n. 8.137/90 prescinde de dolo
específico, sendo suficiente, para sua caracterização, o dolo genérico que
restou comprovado nos autos, consistente na inserção voluntária de
informações falsas em declaração de compensação entregue às autoridades
fazendárias.

3. Adequação do aumento da pena-base em função da maior reprovabilidade


da conduta do agente e das consequências do delito.

4. Proporcionalidade na fixação da pena de multa. Compatibilidade dos


valores do dia-multa, considerando as consequências do delito e a atividade
empresária desenvolvida pelo réu.

5. Regime inicial semiaberto e substituição por penas restritivas de direitos,


em razão de não se tratar de hipótese de reincidência específica.

6. Revisão da dosimetria.

7. Apelação de João Francisco de Paulo parcialmente provida, para o fim de


reduzir a pena aplicada para 3 (três) anos, 1 (um) mês e 10 (dez) dias de
reclusão, em regime inicial semiaberto, e pagamento de 15 (quinze) dias-
multa, no valor unitário de 1 (um) salário mínimo, substituída a pena privativa
41

de liberdade por duas penas restritivas de direitos, consistentes em prestação


de serviços à comunidade ou a entidades públicas e prestação pecuniária no
valor de 5 (cinco) salário mínimos.

(TRF 3ª Região, 5ª Turma, ApCrim - APELAÇÃO CRIMINAL - 0004252-


49.2017.4.03.6105, Rel. Desembargador Federal ANDRE CUSTODIO
NEKATSCHALOW, julgado em 26/04/2022, Intimação via sistema DATA:
27/04/2022)

EMENTA

PENAL. PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. ORGANIZAÇÃO


CRIMINOSA. OPERAÇÃO TEÇÁ. TRANSNACIONALIDADE.
MATERIALIDADE E AUTORIA. DOSIMETRIA DA PENA.

1. A instrução probatória comprovou que o apelante integra organização


criminosa, sendo o responsável pela coordenação das atividades criminosas
relacionadas ao transporte de cigarros oriundos do Paraguai, inclusive
controlando olheiros pelas estradas vicinais. Além disso, conforme as
escutas telefônicas anexadas aos autos, nota-se que ele tinha contato direto
com os motoristas, batedores, olheiros e mateiros da organização criminosa,
gerenciando os dias e horários das empreitadas criminosas e ordenando o
início das movimentações. Valia-se do fato de ser coordenador para
monitorar a localização das viaturas policiais e viabilizar o transporte dos
cigarros sem obstáculos.

2. Materialidade, autoria e dolo comprovados. O apelante integra


organização criminosa estruturada e estável, com divisão de tarefas e em
complexo esquema, voltada à prática do crime de contrabando de cigarros
paraguaios, tendo sido comprovado o vínculo intersubjetivo entre ele e os
demais integrantes dessa organização (animus associativo).

3. Dosimetria da pena. A imensa quantidade de cigarros contrabandeados, o


poder financeiro e a sofisticada estrutura operacional e logística da
organização criminosa - especializada no contrabando de cigarros do
Paraguai e com atuação em diversos estados da federação, corrompendo
agentes públicos - justificam a exasperação da pena-base pela valoração
negativa dessa circunstância judicial.

4. Dosimetria da pena. O apelante dirigiu as atividades dos demais agentes,


sendo um dos principais responsáveis por todos os detalhes envolvendo a
execução do crime, o que justifica o reconhecimento da agravante prevista
no art. 62, I, do Código Penal. Quanto à fração utilizada, o Código Penal não
prevê frações mínima e máxima para as agravantes e atenuantes. No
entanto, a jurisprudência é no sentido da aplicação da fração de 1/6 (um
sexto) para cada circunstância atenuante ou agravante reconhecida, em
obediência aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

5. Foi devidamente comprovado que a organização criminosa


contrabandeava cigarros do Paraguai, o que caracteriza a transnacionalidade
da organização e representa sensível incremento da potencialidade lesiva da
conduta delituosa. Aplicação da causa de aumento prevista no art. 2º, § 4º,
V, da Lei nº 12.850/2013.

6. Mantido o regime semiaberto para início do cumprimento da pena privativa


de liberdade (CP, art. 33, § 2º, “b”), que não pode ser substituída por penas
restritivas de direitos por falta de requisito objetivo (CP, art. 44, I).
7. Considerando-se a ausência de elementos nesta instância recursal, em
especial pela existência de outras condenações do apelante e o fato de ele
ter permanecido foragido durante parte do tempo de duração do processo,
não é possível verificar se o tempo de prisão provisória lhe daria direito a
iniciar o cumprimento da pena privativa de liberdade em regime menos
gravoso (CPP, art. 387, § 2º). Esse exame deverá ser feito, oportunamente,
pelo juízo da execução penal (LEP, art. 66, III, "c").

8. Quanto ao pedido de concessão do direito de recorrer em liberdade, a


custódia preventiva foi devidamente fundamentada na sentença e, conforme
decidiu o Supremo Tribunal Federal, "considerando que o réu permaneceu
preso durante toda a instrução criminal, não se afigura plausível, ao contrário,
revela um contrassenso jurídico, sobrevindo sua condenação, colocá-lo em
liberdade para aguardar o julgamento do apelo" (HC 110.587/SP, Segunda
Turma, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski, j. 06.03.2012, DJe-097
Publicação 18.05.2012). Além disso, o apelante esteve foragido durante boa
parte do processo, o que demonstra o risco de fuga para não cumprimento
da pena.

9. Apelações não provida.

(TRF 3ª Região, 11ª Turma, ApCrim - APELAÇÃO CRIMINAL - 5000133-


58.2020.4.03.6006, Rel. Desembargador Federal NINO OLIVEIRA TOLDO,
julgado em 06/10/2022, Intimação via sistema DATA: 13/10/2022)

MANDADO DE SEGURANÇA - SEQUESTRO DE BENS - SUPOSTO CRIME


CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E LAVAGEM DE VALORES
- INSTITUIÇÃO FINANCEIRA POR EQUIPAÇÃO - COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA FEDERAL - VARA ESPECIALIZADA - PEDIDO DE
LEVANTAMENTO DE BENS INDEFERIDO - DECISÃO NÃO MACULADA
DE ILEGALIDADE - PROVA PRÉCONSTITUÍDA - NECESSIDADE -
FUNDAMENTO IDÔNEO PARA A ADOÇÃO DA MEDIDA - EXCESSO DE
PRAZO - RAZOABILIDADE - DENEGAÇÃO DA ORDEM.

1.Segundo consta das informações fornecidas pela autoridade impetrada, a


Embrasystem, empresa sediada na cidade de Indaiatuba/SP e a BBOM,
situada na cidade de Santana do Parnaíba/SP, atuariam no mercado
oferecendo a possibilidade de associação dos consumidores, mediante
pagamento de taxa de associação e mensalidade pelo prazo de 36 meses,
durante os quais os associados se dedicariam a arrebanhar novos
associados, cada qual se comprometendo a pagar as mencionadas taxas e a
trazer novos associados, caracterizando, segundo o Ministério Público
Federal, pirâmide financeira, uma vez que a entrada no sistema não assegura
recuperação do investimento.

2.A competência, em tese, para o processamento e julgamento do feito recaiu


sobre Vara Especializada da Justiça Federal, considerando-se, à primeira
vista, eventual crime contra o Sistema Financeiro Nacional e de lavagem de
capitais, tendo sido reconhecida a prática de supostos ilícitos por parte de
instituição financeira por equiparação, a justificar a competência da Justiça
Federal, ao menos para adoção de medidas cautelares necessárias à
espécie.

3. Identificação de robustos indícios da prática do delito previsto no artigo 5º


e 16 da Lei nº 7.492/86, por parte da empresa e de desvios de valores dos
investidores para terceiros, além de ocorrentes transferências imotivadas de
valores, a indicar possível prática de crime de lavagem de dinheiro.
43

4. Ausência de comprovação da licitude das atividades desempenhadas pela


empresa, bem como que foi a ela oportunizada a juntada de documentos
hábeis a comprovar a licitude, a viabilidade financeira dos produtos e serviços
oferecidos e as condições econômicas de atuação, o que a empresa não o
fez.

5. Não reputado ocorrente periculum in mora. Não verificação de risco de


perecimento, destruição, desvio, deterioração ou qualquer tipo de alteração
no estado dos bens móveis e imóveis apreendidos até o provimento final de
mérito, o mesmo em relação à plausibilidade de dano em face da constrição
decretada ou urgência e adequação para o deferimento do pleito.

6. Identifica-se no presente caso atividade da empresa como instituição


financeira, considerando-se o relato dos fatos apurados no inquérito policial
e a norma prevista no art. 1º da Lei nº 7.492.

7. Plenamente cabível a medida assecuratória adotada pela autoridade


impetrada, ao fundamento do disposto nos artigos 125, 132, 137, 140 do
Código de Processo Penal e art. 4º da Lei nº 9.613/98, também à luz da norma
do artigo 91, II, b, do Código Penal acrescida em parágrafo primeiro, pela Lei
nº 12.694/12.

8. Considera-se igualmente a afirmação feita pela Secretaria de


Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda de que as atividades
promovidas pela empresa são insustentáveis e que há elementos denotativos
de pirâmides financeiras que reforçam os fundamentos da medida.

9. No que diz com o alegado excesso de prazo, tem-se por justificado o


elastério diante da relatada complexidade do feito que envolve diversas
atividades da empresa, expressivo número de associados, situação de
veículos ofertados aos beneficiários como prêmio e necessidade de inúmeras
diligências, a requerer prazo maior para cumprimento das medidas
necessárias ao esclarecimento mais preciso das atividades desenvolvidas,
envoltas por expressivo valor monetário, logicamente dentro de prazo
razoável e justificável de indisponibilidade.

10. Considerando que as medidas cautelares nada possuem de ilegal e


remanescentes os motivos que as ensejaram, impõe-se o indeferimento do
pedido.

11. Denegação do presente mandado de segurança.

(TRF 3ª Região, PRIMEIRA SEÇÃO, MS - MANDADO DE SEGURANÇA -


350619 - 0008526-43.2014.4.03.0000, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL
LUIZ STEFANINI, julgado em 04/09/2014, e-DJF3 Judicial 1
DATA:17/09/2014)

(BRASIL. Tribunal Regional Federal da 3ª Região).

Entretanto, o tribunal que possui maior peso nas disposições acerca do tema
atualmente, é o STJ, dispondo sobre assuntos de grande relevância e dirimindo
questões complexas que englobam os esquemas piramideiros.
Em um dos julgados, o ministro Reynaldo Soares da Fonseca analisa a
caracterização das pirâmides financeiras, especificamente no Conflito de
Competência nº 146.153, conforme trecho extraído:

"Como, a partir de determinado momento, mostra-se inviável manter o


ingresso de investidores em proporção suficiente para que suas novas
contribuições arquem com os lucros prometidos àqueles que ingressaram
previamente, o sistema não tem como se alimentar de recursos e entra em
colapso, prejudicando aqueles que aderiram por último, uma vez que não
chegam a recuperar nem mesmo o montante investido". (STJ, 2022).

Assim por diante, o egrégio STJ no intuito de dirimir o conflito de competência


supramencionado, analisou a tipificação penal do caso a qual justamente deu origem
a ação, veja-se:

Pirâmides são definidas como crime contra a economia popular

No CC 146.153, a Terceira Seção estabeleceu que a captação de recursos


por meio de pirâmide não se enquadra no conceito de atividade financeira
para fins de incidência da Lei 7.492/1986 (que define os crimes contra o
Sistema Financeiro Nacional), amoldando-se mais ao delito previsto no artigo
2º, inciso IX, da Lei 1.521/1951 (que dispõe sobre os crimes contra a
economia popular).

No caso que deu origem ao conflito de competência, as investigações


identificaram um esquema no qual as pessoas seriam atraídas para a
realização de testes de jogos on-line, mediante aquisição dos produtos, com
a promessa de remuneração pela participação nos testes e pela indicação de
novos usuários para aderir ao programa. Na realidade, segundo a apuração
policial, o dinheiro captado servia apenas para a remuneração dos
idealizadores do esquema – um golpe que vitimou pessoas no Brasil e no
exterior, com uma movimentação suspeita de mais de R$ 200 milhões.

Instaurado o inquérito, a Justiça estadual de São Paulo se declarou


incompetente para conduzir o caso, por entender que a ação continha indícios
de crime contra o Sistema Financeiro Nacional – o que caracterizaria a
competência da Justiça Federal. Ao receber os autos, a Justiça Federal
suscitou o conflito, por entender que, em tese, seria o caso de crime contra a
economia popular, de competência da Justiça estadual.

O ministro Reynaldo Soares da Fonseca lembrou que, nos termos da Súmula


498 do Supremo Tribunal Federal (STF), compete à Justiça estadual, em
ambas as instâncias, o julgamento de crimes contra a economia popular.

No caso dos autos, Reynaldo Soares da Fonseca destacou que a conduta


das empresas – correspondente a pelo menos quatro das sete características
indicadas pelo Ministério da Fazenda – configurava não um delito contra o
sistema financeiro, mas, sim, um crime contra a economia popular e, por
consequência, de competência da Justiça estadual. (STJ, 2022).
45

Nesta mesma toada, no julgamento do Habeas Corpus nº 293.052, ao realizar


a tipificação penal das pirâmides financeiras, a turma julgadora entendeu não haver a
possibilidade de enquadramento nos crimes contra o mercado de capitais (Lei
6.385/1976), assim sendo:

No caso analisado, uma empresa oferecia aos consumidores a oportunidade


de se "associarem" a um sistema de venda de rastreadores, desde que
pagassem uma taxa mensal para utilização do equipamento e comprassem
um dos planos oferecidos, além de ficarem responsáveis pela venda de
rastreadores. A empresa também prometia a distribuição de brindes
milionários àqueles que trouxessem novos associados para o grupo.

Para o Ministério Público, na verdade, a negociação dos rastreadores


escondia verdadeiro esquema de pirâmide financeira e, por isso, os réus
foram denunciados pela prática de crimes contra o mercado de capitais,
contra o sistema financeiro nacional, de lavagem de dinheiro e de
organização criminosa.

O ministro Reynaldo Soares da Fonseca destacou que, embora o MP tenha


apontado que as empresas exerciam atividades típicas de instituições
financeiras, a própria descrição dos fatos afastava a ideia da existência de
uma instituição financeira, o que impedia a aplicação da Lei 7.492/1986.

O relator também fez referência ao artigo 27-E da Lei 6.385/1976 – apontado


pelo MP na denúncia –, o qual define como crime contra o mercado de
capitais o exercício da atividade de administrador de carteira de investimentos
ou assemelhado, sem autorização ou registro na autoridade administrativa
competente.

Para o ministro, contudo, o dispositivo não atinge a conduta imputada aos


réus, o que afastou a configuração de crime contra o mercado de capitais e a
competência da Justiça Federal para julgar a ação penal. (STJ, 2022).

Em outro julgado, analisa-se no caso prático a incidência de dois crimes e a


possibilidade de bis in idem caso ambos fossem enquadrados, tais crimes se referem
a imputação de estelionato (171 do Código Penal) e de crime contra a economia
popular (2º, inciso IX, da Lei 1.521/1951) já mencionados neste trabalho.
O julgado a que se refere é o Recurso em Habeas Corpus nº 132.655, cujo se
originou da Operação Faraó, investigação que teve como enfoque uma pirâmide
financeira estruturada sob a aparência de negócio de apostas em sites esportivos.
O Ministério Público, portanto, ofereceu a denúncia dos réus enquadrando-os
tanto pelo crime contra a economia popular, em virtude da especulação financeira e
da falsa promessa de rendimentos, quanto pelo delito de estelionato, tendo em vista
a falsa percepção imposta às vítimas, as quais acreditavam estar investindo em bolsas
de apostas estrangeiras.
O ministro Rogerio Schietti Cruz, relator do recurso em habeas corpus,
ponderou:

No caso em análise, vê-se que a descrição das circunstâncias fáticas que


permeiam os ilícitos imputados ao recorrente – crime contra a economia
popular e estelionatos – são semelhantes, pois mencionam a prática de
"golpe" em que ele e os coacusados induziriam as vítimas em erro, mediante
a promessa de ganhos financeiros muito elevados, com o intuito de levá-las
a investir em suposta empresa voltada a realizar apostas em eventos
esportivos. A diferença está na identificação dos ofendidos nos estelionatos.
(BRASÍLIA, 2021).

Sendo assim, levando em consideração os precedentes do próprio STJ acerca


da relação entre a identificação dos ofendidos e a tipificação do crime de estelionato,
o ministro entendeu que, no caso, não havia justificativa plausível para a manutenção
da denúncia em relação ao estelionato, sob pena de indevido bis in idem. Por
consequência, a Sexta Turma determinou o prosseguimento da ação penal apenas
pelo crime contra a economia popular. Assim extraído do julgado:

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da SEXTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, dar provimento ao recurso ordinário, nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator. Os Srs. Ministros Antonio Saldanha Palheiro, Olindo
Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região), Laurita Vaz e
Sebastião Reis Júnior votaram com o Sr. Ministro Relator.

[...]

III. Dispositivo

À vista do exposto, dou provimento ao recurso para, diante do bis in idem


identificado na hipótese, determinar o trancamento do processo, em relação
ao ora recorrente, no que atine aos crimes de estelionato (fatos 4º ao 29º da
denúncia). (BRASÍLIA, 2021).

Em outro julgado que versou sobre a caracterização ou não do crime de


estelionato, a sexta turma no julgamento do Habeas Corpus nº 464.608, visou
estabelecer as diferenças entre o crime de estelionato e o crime contra economia
popular, onde no caso concreto o réu denunciado por estelionato pelo MP, era
detentor de um esquema piramideiro que prometia ganhos mensais de 60% do valor
investido, tendo como ativo supostos anúncios na internet.
Onde o ministro relator Nefi Cordeiro ponderou que pelo fato de se tratar de
esquema que realiza a captação de pessoa de maneira aleatória e em número
indeterminado, o crime de estelionato não poderia ser enquadrado, nos seguintes
termos: “Assim, resta claro o direcionamento genérico da captação de clientes
47

vitimados, em número indeterminado de vítimas, escapando da caracterização do tipo


penal do estelionato, que exige vítimas específicas.”, proferiu o relator.
Nesse mesmo entendimento seguiu o ministro Ribeiro Dantas no julgamento
do Recurso Em Habeas Corpus Nº 161.635, onde o julgador asseverou que para o
enquadramento do crime de estelionato é necessário que o cometimento verse sobre
o patrimônio de vítima determinada que fora induzida em erro.

Nessa linha, narrados casos de prejuízos genéricos por infinidade de


usuários, sem verificação de conduta transcendente, é hipótese de se imputar
apenas o crime contra e economia popular. A mera especificação das
pessoas físicas lesadas de forma genérica e dos prejuízos por elas sofridos -
ainda seja de extrema relevância para a apuração da prática criminosa como
um todo, inclusive podendo vir a sopesar pena-base em eventual e futura
condenação - não deve caracterizar infração penal autônoma, sob pena de
dupla punição dos réus pelos mesmos fatos. (BRASÍLIA, 2022).

Já acerca do julgamento do Conflito de Competência nº 170.392, que se


originou em virtude de uma pirâmide financeira que se utilizava de investimento em
criptomoedas, os ministros entenderam que, na ausência de evidências que
demonstrem evasões de divisas ou lavagem de dinheiro indo contra os interesses da
União, a competência será da Justiça estadual para realizar o julgamento de crimes
relacionados a prática de pirâmide financeira. O ministro relator Joel Ilan Paciornik
afirmou:

Como se vê, o juízo estadual suscitado discordou da capitulação jurídica de


estelionato, mas deixou de verificar a prática, em tese, de crime contra a
economia popular, cuja apuração compete à Justiça estadual, nos termos da
Súmula 498/STF. Ademais, ao declinar da competência, o juízo suscitado não
demonstrou especificidades do caso que revelassem conduta típica praticada
em prejuízo de bens, serviços ou interesse da União. (BRASÍLIA, 2020).

Veja-se que o STJ realiza julgamentos de suma importância quanto à incidência


ou não incidência de outros crimes que envolvem a prática de pirâmide financeira,
indo além, analisando até mesmo a competência para julgamento das ações e
recursos, dispondo de maneira concisa sobre os assuntos que possam envolver
adversidades nos casos práticos, buscando dirimir tais conflitos de entendimento
evitando vícios processuais e impunidades.
Já no âmbito do STF, este tribunal possuindo competência exclusiva para
dirimir litígios constitucionais, nada muito dispõe acerca do tema tratado quando se
realiza uma pesquisa jurisprudencial, ficando mais a cargo deste tribunal na maioria
das vezes o julgamento de Habeas Corpus quando ocorrida prisões de envolvidos na
gestão de pirâmides financeiras.
No julgamento do Habeas Corpus nº 205.064 o Ministro Alexandre de Moraes
manteve a prisão preventiva de acusado de golpe com criptomoedas que embolsou
em torno de R$ 445 mil e se apresentava como operador do mercado financeiro
convencendo diversas pessoas a investir e uma determinada criptomoeda.
Denunciado por estelionato pelo MP e preso em flagrante de delito, teve seu
pedido liminar no habeas corpus negado na origem e nas demais instâncias da
Justiça. Sendo que o principal argumento apontado pela defesa no caso aqui tratado
era de que o acusado era réu primário e que a ordem de prisão não cumpria os
requisitos dos artigos 312 e 313 do Código de Processo Penal (CPP), pleiteando
assim a liberdade do acusado.
Com isso, ao realizar o saneamento do feito o ministro Alexandre de Moraes
constatou que não houve esgotamento das instâncias inferiores, embasando seu
indeferimento do HC na Súmula 691 do STF, sob pena de indevida supressão de
instância, nos seguintes termos:

Nos termos da Súmula 691/STF, não cabe ao SUPREMO TRIBUNAL


FEDERAL conhecer de Habeas Corpus voltado contra decisão proferida por
relator que indefere o pedido de liminar em impetração requerida a tribunal
superior, sob pena de indevida supressão de instância. O rigor na aplicação
desse enunciado tem sido abrandado por julgados desta CORTE somente
em caso de manifesto constrangimento ilegal, prontamente identificável (HC
138.946, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, Rel. p/ Acórdão Min. ALEXANDRE DE
MORAES, Primeira Turma, DJe de25/4/2018; HC 128.740, Rel. Min. MARCO
AURÉLIO, Rel. p/ Acórdão Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, DJe de
24/10/2016; HC 138.945- AgR, Rel. Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma,
DJe de 7/3/2017).

Na espécie, entretanto, não se constata a presença de flagrante ilegalidade


apta a justificar a intervenção antecipada da SUPREMA CORTE.

Diante do exposto, com base no art. 21, § 1º, do Regimento Interno do


Supremo Tribunal Federal, INDEFIRO a ordem de HABEAS CORPUS.
(BRASÍLIA, 2021).

Em caso semelhante, o ministro indeferiu o Habeas Corpus nº 205167,


impetrado por condenado pela prática do crime de organização criminosa, de delito
contra a economia popular e por lavagem de capitais, por ser detentor de pirâmide
financeira que lesou em torno de 40 mil, utilizando-se de um disfarce de marketing
multinível, para promover a criptomoeda “Kriptacoin”.

Tendo como principal argumento, a defesa alegou que a pena ora fixada na
sentença, fora desproporcional pleiteando o cabimento de Acordo de Não Persecução
49

Penal (ANPP), bem como a concessão de ordem para redução da pena ao patamar
mínimo disposto legalmente.

Em seu entendimento proferido, o ministro Alexandre de Morais alegou que a


impetração questiona decisão monocrática de ministro do STJ, nos seguintes termos:

Esta Primeira Turma vem autorizando, somente em circunstâncias


específicas, o exame de habeas corpus quando não encerrada a análise na
instância competente, óbice superável apenas em hipótese de teratologia
(HC 138.414/RJ, Primeira Turma, DJe de 20/4/2017) ou em casos
excepcionais (HC 137.078/SP, Primeira Turma, DJe de 24/4/2017), como
bem destacado pela Ministra ROSA WEBER. No particular, entretanto, não
se apresentam as hipóteses de teratologia ou excepcionalidade. Diante do
exposto, com base no art. 21, § 1º, do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal, INDEFIRO a ordem de HABEAS CORPUS. (BRASÍLIA,
2021).

Em outra situação bastante semelhante, no HC nº 213911, o ministro Gilmar


Mendes proferiu decisão mantendo a prisão do sócio do “faraó dos bitcoins”, acusado
de participar de esquema de pirâmide que movimentou bilhões de reais. Após ter tido
sua prisão domiciliar convertida em prisão preventiva, o impetrante interpôs o referido
HC, onde sua defesa alegava que a suspensão da atividade das empresas utilizadas
para a suposta movimentação financeira ilícita seria suficiente para impedir a
continuidade da prática de crimes, bem como, que eventuais irregularidades da
empresa não configurariam crimes contra o sistema financeiro, pois os investimentos
em criptoativos não seriam de competência da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM).

Ao proferir a decisão, o ministro não constatou supressão legal ou decisão


contrária ao entendimento do STF, hipóteses que justificariam a concessão do habeas
corpus sem que a matéria tenha sido esgotada na instância anterior. Segundo o
relator, o decreto prisional aponta “fortíssimos” indicativos de fuga e intenção de
dissipação patrimonial, possivelmente para evitar que a lei penal seja aplicada, caso
as suspeitas sejam confirmadas, posicionando-se nos seguintes termos:

Assim, não se tratando de decisão manifestamente contrária à jurisprudência


do STF ou de flagrante hipótese de constrangimento ilegal, e salvo melhor
juízo em eventual novo pedido de habeas corpus nos termos da competência
constitucional da Corte (CF, art. 102), descabe autorizar a supressão de
instância.

Ante o exposto, nego seguimento ao habeas corpus (art. 21, § 1º, RISTF).
(BRASÍLIA, 2022).

O ministro apontou ainda que mesmo que a garantia da ordem pública e


econômica nos crimes financeiros possa ser, eventualmente, obtida pela aplicação de
medidas cautelares diversas da prisão, a presente situação reassalta a grandeza dos
prejuízos à economia popular e ainda possível ocultamento patrimonial em favor de
outras organizações criminosas.
Percebe-se então que as pirâmides financeiras trata-se de um tema cada vez
mais recorrente no judiciário brasileiro, tomando maiores proporções, variando suas
modalidades e fazendo com que a ocorram pronunciamentos jurídicos constantes que
de certo modo, mesmo que por vezes não efetivamente, visam coibir a prática
delituosa. Diante de tal perspectiva, presume-se a necessidade de um órgão
administrativo que auxilie nessa repressão as pirâmides financeiras.

2.6 CVM como órgão regulador

Como órgão administrativo e ente regulador das atividades financeiras, temos


como ponto central a Comissão de Valores Mobiliários, denominada CVM. Criada em
07/12/1976 pela Lei 6.385/76, com o objetivo de fiscalizar, normatizar, disciplinar e
desenvolver o mercado de valores mobiliários no Brasil, tal órgão visa promover
justiça, integridade e transparência no mercado de capitais brasileiro. (BRASIL, 1976).
Com isso, percebe-se de imediato a importância deste órgão como braço a
reprimir as práticas piramidais em território nacional. Entretanto, apesar de as
pirâmides financeiras não serem de competência da CVM, estas configuram crimes
contra a economia popular como explanado anteriormente, por isso, tais práticas são
denunciadas ao Ministério Público pelo órgão.
Nesta toada, entre janeiro e setembro/2020 a CVM enviou 260 comunicados
de indícios de crime ao MP, entre os indícios de crimes financeiros mais frequentes
em 2020, destacaram-se as pirâmides financeiras, presentes em 139 dos 260
comunicados. (CVM, 2020).
Além do papel repressivo que a CVM exerce em relação as pirâmides
financeiras, aplicando multas e realizando denúncias, esta também possui um papel
informativo, onde por meio de ofícios de alerta, procedimentos investigativos, eventos,
pesquisas, notícias etc., disseminam-se informações de grande relevância que
auxiliam a população a não ser vítima de tais práticas.
Como exemplo disso, a CVM realizou eventos sobre criptoativos e pirâmides
financeiras na Semana Mundial do Investidor no ano de 2020.

“No momento em que o número de investidores no Brasil alcança patamares


inéditos e, ao mesmo tempo, crescem ofertas irregulares e golpes financeiros,
51

a educação financeira ganha ainda mais importância como a primeira linha


de defesa do investidor. Foi pensando nos investidores que a Semana
Mundial do Investidor foi lançada pelas Comissões de Valores Mobiliários de
mais de 80 jurisdições em todo o mundo. Com a pandemia, a maioria dos
eventos será realizada de forma remota e nas redes sociais, o que permitirá
alcançar um número maior de interessados.” — Superintendente de Proteção
e Orientação aos Investidores (SOI) da CVM, José Alexandre Vasco. (CVM,
2020).

Tais iniciativas, possuem papel fundamental em reprimir práticas


piramidais, haja vista que quanto mais a população é informada acerca deste modelo
de negócio insustentável, fica cada vez mais difícil a sua popularização e por
derradeiro menos pessoas são lesadas. Porém, analisando o cenário, percebe-se que
ainda assim tais mecanismos não são tão eficazes, havendo necessidade de outras
iniciativas mais severas.

2.7 Projeto de lei

Como alternativa de iniciativa mais rígida, atualmente, segue em tramitação


pela Câmara dos Deputados o projeto de lei 744/21, proposta pelo deputado Celso
Russomanno. Tal projeto visa alterar a legislação econômica vigente de modo a
prever penas maiores para o crime de pirâmide financeira.
O projeto altera a Lei dos Crimes contra a Ordem Tributária e a Lei dos Crimes
Financeiros, aumentando o tempo de detenção previsto pela lei 1.521/51, que prevê
apenas detenção e multa e especificando uma pena para crimes de pirâmide
financeira que forem cometidos através da internet.
O deputado afirma que as regras atuais são brandas e não dão a devida
punição para os condenados pelo crime: “Nossa legislação vigente carece de
efetividade na repressão e na prevenção dessa prática delituosa”. Conforme a
proposta, quando o crime ficar circunscrito a uma localidade, a pena será de reclusão
de 2 a 5 anos, e multa. Quando tiver repercussão interestadual, ou for cometido pela
internet, a pena será reclusão de 4 a 8 anos, e multa. (VIANA, Cleia, 2021).
Entretanto, por se tratar de um Projeto de Lei, este possui tramitação
ordinária na Câmara dos Deputados, ou seja, tal tramitação é o caminho que um
projeto de lei percorre ao ser analisado pela câmara. Inicia-se analisando quais
comissões temáticas irão analisar a proposta, onde o presidente da comissão
escolhida direcionará a proposta a um deputado relator, que pode propor a aprovação
parcial ou total do projeto de lei, rejeitar, arquivar, apresentar emendas ou apresentar
um projeto alternativo sobre o mesmo tema. Com isso, os deputados discutirão o
projeto na comissão e depois ele é ocorrerá a votação. Caso o voto do relator seja
rejeitado, o presidente nomeará outro membro da comissão para redigir o parecer
vencedor que represente a maioria, onde somente após o projeto será direcionado
para as comissões seguintes. Depois de avaliado pela última comissão, a qual analisa
se o projeto de lei é devidamente constitucional, ele seguira para votação no plenário,
sendo aprovado e de origem da câmara, o projeto seguirá para o senado, onde após
seguirá para sanção presidencial. Entretanto, muitos projetos não necessitam passar
pelo plenário, caso tenha tido uma tramitação conclusiva, ou seja, aquela em que
todas as comissões aprovam o projeto e consequentemente ele é considerado
aprovado pela câmara. (COMO FUNCIONA..., 2019).
Sendo assim, o referido projeto de lei ainda está em tramitação, sem previsão
para sua aprovação e muito menos para sua entrada em vigor.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme pode-se depreender, verifica-se que as pirâmides financeiras


perpetraram gerações, se renovando, reinventando e tornando-se cada vez mais
populares, com requintes de modernidade, utilizando-se dos mais diversos ativos e
deixando inúmeros lesados, que em busca de ganhos mais expressivos, acabaram
sendo vítimas deste crime.
Através da presente dissertação constata-se as proporções que o tema tem
perante a sociedade, onde apesar da sua popularidade, as pirâmides financeiras se
mantêm vivas e “a todo vapor”, sendo que de tempos em tempos são criadas novas
ao mesmo tempo que as antigas caem.
Ao se disfarçarem de empresas idôneas e de valor social agregado, as
pirâmides financeiras conquistam os olhos de novos aderentes ao divulgarem lucros
expressivos, que inicialmente, na maioria das vezes, de fato são pagos.
Porém, a ruína do negócio se dá quando se verifica que a adesão de novos
membros a pirâmide se torna insuficiente para bancar os lucros dos membros mais
antigos, onde neste momento, os detentores do topo da pirâmide já se resguardaram,
diluíram seus patrimônios, enviaram montantes de dinheiro para o estrangeiro e
muitas vezes até mesmo já fugiram do país, objetivando se eximir das consequências
jurídicas criminais e civis.
53

Diante de tal perspectiva, com a presente dissertação se pode verificar todo o


aspecto jurídico das pirâmides financeiras na atualidade, podendo assim verificar o
atual entendimento acerca do tema à luz do direito, bem como a efetividade das
normas, tanto para os criadores das pirâmides financeiras e suas penalidades. quanto
para as vítimas e suas prerrogativas.
Neste sentido, a pesquisa realizada cumpriu seu objetivo, destrinchando toda
a prática das pirâmides financeiras, analisando seus mais diversos modus operandi,
as consequências e medidas jurídicas que rodeiam o tema.
Claro que sempre visando cumprir sua função social, de modo a instruir o leitor
conscientizando-o acerca deste modelo de negócio fraudulento, para que não se torne
vítima, além de informá-lo de suas prerrogativas como cidadão caso venha a sofrer
com esta prática criminosa.
Restando claro que o ordenamento jurídico brasileiro ainda é, de certo modo,
pouco efetivo na repressão contra tal prática, haja vista que as penalidades aplicadas
são consideravelmente brandas, e as medidas que as pessoas lesadas podem se
valer para reparar e reaver os danos que sofreram, são facilmente esquivadas pelos
detentores das pirâmides financeiras.
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