Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FACULDADE DE DIREITO
SÃO PAULO
2023
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
SÃO PAULO
2023
Sistemas de Bibliografias da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Ficha Catalográfica com dados fornecidos pelo autor
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12
2 FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA: PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA
EMPRESA COMO INTERESSE PÚBLICO ............................................................ 14
3 DIREITO ADMINISTRATIVO SANCIONADOR: ORIGEM, FUNÇÃO E
ALGUMAS PARTICULARIDADES EM ÂMBITO REGULATÓRIO ................ 27
4 PRESERVAÇÃO DA EMPRESA E ARBITRAMENTO DE SANÇÕES
ADMINISTRATIVAS NAS AGÊNCIAS REGULADORAS FEDERAIS ............. 42
4.1. Arquitetura jurídico-institucional da disciplina sancionatória das Agências
Reguladoras Federais .................................................................................................. 42
4.2. Critérios de arbitramento em regulamentos de sanção de Agências Reguladoras
Federais: preservação da empresa como princípio de DAS regulatório ..................... 46
5 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 51
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 53
12
1 INTRODUÇÃO
1
CRFB/88, art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem
por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre
concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento
favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte. IX - tratamento favorecido para as
empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.
2
CRFB/88, Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma
sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.
13
1º) propriedade individual sobre os objetos necessários à existência de cada um; 2º)
propriedade individual sobre os bens de uso particular, suscetíveis de ser trocados com
outras pessoas; 3º) propriedade dos meios de trabalho e de produção; e 4º) propriedade
individual nos moldes capitalistas, ou seja, seu dono pode explorá-la de modo
absoluto (GUIMARÃES, 1957 apud DINIZ, p. 46, 2022)
3
Vale também citar como forma originária da propriedade o tratamento que os povos originários tinham sobre a
propriedade de seus bens, tal como pontua Maria Helena Diniz: “No início das civilizações as formas originárias
da propriedade tinham uma feição comunitária. P. ex.: entre nossos indígenas, ao tempo da descoberta do Brasil,
havia domínio comum das coisas úteis, entre os que habitavam a mesma oca, individualizando--se, tão somente,
a propriedade de certos móveis, como redes, armas e utensílios de uso próprio. O solo, por sua vez, era
pertencente a toda a tribo e isso, temporariamente, porque nossos índios não se fixavam na terra, mudavam de
cinco em cinco anos” (DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito das coisas. 36. ed. São
Paulo: SaraivaJur, 2022. p. 46).
4
Eros Grau afirma que à propriedade eleita para fins individuais e familiares, não se atribui função social: “Aí,
enquanto instrumento a garantir a subsistência individual e familiar — a dignidade da pessoa humana, pois — a
propriedade consiste em um ‘direito individual’ e, iniludivelmente, cumpre ‘função individual’. Como tal é
garantida pela generalidade das Constituições de nosso tempo, capitalistas e, como vimos, socialistas. A essa
propriedade não é ‘imputável função social’; apenas os abusos cometidos no seu exercício encontram limitação,
adequada, nas disposições que implementam o chamado ‘poder de polícia’ estatal” (GRAU, Eros Roberto. A
ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação e crítica. 14. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros,
2010, p. 240).
15
Nesse sentido, a propriedade passa a influenciar o bem estar da comunidade, uma vez
que o domínio sobre o bem também compreende o direito de direção e fiscalização das
atividades sobre ele exercidas, tal como explica Marcelo Barbosa Sacramone:
Isto posto, seria possível distinguir uma propriedade com função individual, de uma
propriedade dotada de função social. Segundo Eros Grau, a primeira, voltada para a subsistência
própria e da família, ao passo que a segunda “é justificada pelos seus fins, seus serviços, sua
função” (GRAU, 2010, p. 244). Quanto à função social, o autor pontua que esta impõe ao
proprietário comportamentos positivos de não só exercê-lo em benefício de outrem, mas
também de não fazê-lo em malefício de outrem. Assim, divisa uma espécie de propriedade-
função social, diante da alteração estrutural que provoca no instituto, tal como concebido
tradicionalmente:
(...) a afetação de propriedade — não de todas elas, que algumas, como vimos, são
dotadas de função individual — por função social importa não apenas o rompimento
da concepção, tradicional, de que a sua garantia reside em um direito natural, mas
também a conclusão de que, mais do que meros direitos residuais (parcelas daquele
que em sua totalidade contemplava-se no utendi fruendi et abutendi, na plena in re
potestas), o que atualmente divisamos, nas propriedades impregnadas pelo princípio,
são verdadeiras propriedades-função social e não apenas, simplesmente, propriedades.
O princípio da função social da propriedade, desta sorte, passa a integrar o conceito
jurídico-positivo de propriedade (destas propriedades), de modo a determinar
profundas alterações estruturais na sua inferioridade (GRAU, 2010, p. 521)
16
5
No mesmo sentido, vejam-se os comentários de Carlos Ari Sundfeld: “Léon Duguit em sua célebre obra Les
Transformations du Droit Privé depuis le Code Napoleón, onde reuniu uma série de conferências realizadas na
Argentina em 1911, dedicou um dos capítulos ao tema “La proprieté-fonction sociale” , criticando esta noção
individualista e metafísica de propriedade e propugnando por uma propriedade-função social. Segundo ele, os
Códigos baseados no princípio individualista e civilista fundavam sua ideia de propriedade em duas
preocupações: a de legitimar a apropriação sem qualquer consideração sobre seu fundamento, e a de proteger a
afetação da riqueza a uma finalidade meramente individual. Daí por que o direito de propriedade tornou-se a
expressão por excelência da autonomia da vontade humana, da soberania do indivíduo” (SUNDFELD, C. A.
Função Social da Propriedade: The Social Role of Property. Revista de Direito Administrativo e
Infraestrutura | RDAI, São Paulo: Thomson Reuters | Livraria RT, v. 3, n. 10, p. 403–423, 2019. Disponível
em: https://rdai.com.br/index.php/rdai/article/view/249. Acesso em: 30 set. 2023).
6
Conforme dispositivos legais do Título V, do Código Civil de 2002.
7
Conforme dispositivos legais do Título VI, do Código Civil de 2002.
8
Para melhor visualização, veja-se a redação de ambos as leis: Código Civil de 2002. Art. 1.228. “O proprietário
tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente
a possua ou detenha”; Código Civil de 1916. “A lei assegura ao proprietário o direito de usar, gozar e dispor de
seus bens, e de reave-los do poder de quem quer que injustamente os possua”.
17
supressão da expressão direitos faz alusão à substituição de algo que foi, supostamente, absoluto
no passado” (TARTUCE, p. 152, 2022).
O direito real de propriedade é o mais amplo dos direitos reais – “plena in re potesta”.
Sua conceituação pode ser feita à luz de três critérios: o sintético, o analítico e o
descritivo. Sinteticamente, é de se defini-lo, com Windscheid, como a submissão de
uma coisa, em todas as suas relações, a uma pessoa. Analiticamente, o direito de usar,
fruir e dispor de um bem, e de reavê-lo de quem injustamente o possua.
Descritivamente, o direito complexo, absoluto, perpétuo e exclusivo, pelo qual uma
9
Constituição Federal, art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
10
Constituição Federal, art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças
e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-
las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
11
Constituição Federal, art. 5°, XXIII. A propriedade atenderá a sua função social.
12
Silvio Salvo Venosa comenta as restrições ao direito de propriedade: “São muitas e cada vez mais numerosas as
leis que interferem na propriedade. A exigência de limitação decorre do equacionamento do individual e do
social, como acentuado. Destarte, são inúmeras as restrições de ordem administrativa. Protege-se o patrimônio
histórico, a fauna, a flora, o equilíbrio ecológico etc. Há leis especiais que cuidam expressamente dessas questões,
restrições direcionadas à propriedade urbana e rural. Há restrições de ordem militar que dizem respeito à
segurança nacional, disciplinando, por exemplo, a requisição de bens particulares necessários às forças armadas
nos casos de urgência e defesa nacional. No Código Eleitoral, também se dispõe sobre o uso da propriedade
privada, quando se permite a requisição de bens para a realização de eleições. Pontuando especialmente os
direitos de vizinhança cuja análise pertence ao direito privado e ao direito público, seria exaustivo e desnecessário
a esta altura elencar todas as modalidades de restrição à propriedade (...) A limitação à propriedade também pode
decorrer de ato voluntário, como a imposição das cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e
incomunicabilidade em doações ou testamentos” (VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: reais. 22. ed. Barueri:
Atlas, 2022. p. 152).
13
Código Civil, art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la
do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
18
coisa fica submetida à vontade de uma pessoa, com as limitações da lei (GOMES,
2012, p. 103)
Diversos são os possíveis sentidos atribuíveis à ordem econômica15. A par disso, Eros
Grau descreve a ordem econômica como um conjunto de princípios jurídicos do processo
econômico, sendo antes uma parcela da ordem jurídica:
14
Constituição Federal, art. 170, caput. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na
livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados
os seguintes princípios: III - função social da propriedade.
15
Citando as anotações de Vital Moreira, Eros Grau registra as distintas conotações de ordem econômica: “- em
um primeiro sentido, "ordem econômica" é o modo de ser empírico de uma determinada economia concreta; a
expressão, aqui, é termo de um conceito de fato e não de um conceito normativo ou de valor (é conceito do
mundo do ser, portanto); o que o caracteriza é a circunstância de referir-se não a um conjunto de regras ou normas
reguladoras de relações sociais, mas sim a uma relação entre fenômenos econômicos e materiais, ou seja, relação
entre fatores econômicos concretos; conceito do mundo do ser, exprime a realidade de uma inerente articulação
do econômico como fato; - em um segundo sentido, "ordem econômica" é expressão que designa o conjunto de
todas as normas (ou regras de conduta), qualquer que seja a sua natureza (jurídica, religiosa, moral etc.), que
respeitam à regulação do comportamento dos sujeitos econômicos; é o sistema normativo (no sentido
sociológico) da ação econômica; - em um terceiro sentido, "ordem econômica" significa ordem jurídica da
economia” .(GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação e crítica. 14.
ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 65).
19
A hermenêutica que deve ser feita é que a função social da propriedade, entendida
aqui de forma ativa, a empresa, no exercício de suas atribuições, deve respeitar o
trabalho humano, a defesa do consumidor, do meio ambiente, a redução das
desigualdades regionais e sociais e a busca do pleno emprego, visando à melhoria da
qualidade de vida das pessoas e o desenvolvimento socioeconômico pretendido pela
ordem econômica. A propriedade socialmente funcionalizada afasta o caráter
individualista e impõe ao empresário, administradores ou quem exerce o seu controle,
o dever de exercer em benefício de todos e, diante do poder e influência que estas
pessoas representam no contexto socioeconômico, o dever de apre-sentar
comportamento adequado e sem qualquer desvio de conduta, assim como se exige
daqueles que exercem cargos públicos (GENOVEZ; Vasconcelos, 2013, p. 137-166)
16
Após apresentar a ordem econômica constitucional como o conjunto de normas que dispõem sobre a forma
econômica adotada pela Constituição, André Ramos Tavares esclarece: “(...) Poder-se-ia, a partir da concepção
mencionada, vislumbrar como reconhece o próprio Vital Moreira como que a Constituição econômica surja a
partir da ordem econômica, ou seja, que esta constituiria e legitimaria aquela. Isso, contudo, deve ser afastado
de imediato, porque implicaria em subverter a verdadeira relação que há entre ambas: é a Constituição econômica
que constitui a ordem econômica – assim como ocorre entre a Constituição em geral e a ordem jurídica em geral.
Não há novidade aqui: é a Constituição a norma máxima, que determina, delimita e legitima o restante do
ordenamento” (TAVARES, André Ramos. Direito constitucional econômico. 3. ed. São Paulo: Método, 2011.
p. 83).
17
Constituição Federal, art. 5°, XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; e art. 170. A ordem econômica,
fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: III - função social da propriedade.
20
econômica para produção e circulação de bens e serviços e por fim, no perfil corporativo, a
empresa é uma instituição como organização de pessoas e bens (SACRAMONE, 2023, p. 26).
Especificamente, o Código Civil não define o conceito de empresa, o qual pode ser
depreendido do conceito de empresário e de estabelecimento. O empresário é quem exerce
profissionalmente a atividade econômica organizada para produção ou circulação de bens e
serviços18, ao passo que o estabelecimento é justamente o complexo de bens materiais e
imateriais destinados à atividade econômica organizada19, isto é, a empresa. O fim dessa
atividade é o lucro20.
Afirmar que a empresa tem uma função social não é negar a índole primeira da
atividade empresarial, cujo objetivo é o lucro. Na verdade, trata-se de registrar que, ao lado
disso, o empresário está sujeito ao dever de fazê-lo observando a função social do instituto. E
como a atividade empresarial pressupõe a celebração de negócios jurídicos, é certo que não se
pode verificar nem lucro, nem a função social de maneira isolada21.
Ademais, a função social não se confunde com uma atitude altruísta, uma vez que seu
cumprimento é imposição cogente da ordem jurídica. Não se identifica, então, com
responsabilidade social da empresa, expressão que se convencionou chamar de cidadania
empresarial, correspondente à conscientização do empresariado sobre os problemas sociais ante
a incapacidade e falta de credibilidade do Estado de eliminá-los, na lição de Guilherme Calmon
Nogueira da Gama e Bruno Paiva Bartholo22. Nesse caso, tem-se meros deveres laterais –
18
Código Civil, art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada
para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
19
Código Civil, art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da
empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.
20
Remetendo à empresa, Marcelo Barbosa Sacramone registra que o objetivo último de seu exercício é o lucro:
“A atividade deve visar à apreensão dos resultados produtivos, o lucro. O fim da atividade não é altruísta. Embora
o lucro possa ser reinvestido na própria atividade, os atos são praticados com o objetivo de satisfazer uma
necessidade econômica do agente” (SACRAMONE, Marcelo Barbosa. Manual de direito comercial. 4. ed.
São Paulo: SaraivaJur, 2023. p. 27).
21
“O lucro é uma das funções ou objetivos dos negócios jurídicos, um verdadeiro estímulo humano aos negócios.
Em última análise, lucro é sobrevivência, é um ganho justo que aquele que trabalha tem o direito de receber (...)
Não se pode verificar o lucro isolado de um contrato ou o lucro de uma empresa ou mesmo o lucro de um setor
para considerar se um contrato cumpre ou não a sua função social. Até mesmo aferir a função social pelo lucro
gerará situações absurdas, exceto, como se verá, em caso de lesão ou onerosidade ex- cessiva, a segunda situação,
aliás, que dificilmente será vinculada ao lucro” (RULLI NETO, Antonio. Função social do contrato. São Paulo:
Saraiva, 2011. p. 236).
22
“Efetivamente, a responsabilidade social, expressão do que alguns convencionam designar de cidadania
empresarial, corresponde a uma recente etapa de maior conscientização do empresariado no que diz respeito aos
problemas sociais e ao seu potencial papel na resolução dos mesmos, principalmente em virtude da crescente
falta de capacidade e de credibilidade do Estado na busca da eliminação daqueles. A maioria dos empresários
que assume iniciativas dessa índole tem por objetivo atrelar a seu empreendimento uma imagem positiva junto
à comunidade, integrada por potenciais consumidores de seus produtos ou de seus serviços” (GAMA, Guilherme
21
Nesse contexto, importante anotar o parecer de Fábio Konder Comparato, que sinaliza
ser perigosa a ilusão de que o desempenho da atividade econômica promoverá alguma sorte de
justiça social, suprindo o papel do Poder Público, considerando que, no regime capitalista,
espera-se que as empresas procurem a eficiência econômica, para otimizar seu lucro
(COMPARATO, 1996, p. 45), nota que não exclui o fato de que o empresário deve observar a
função social da empresa.
Cumpre sua função social a empresa que gera empregos, tributos e riqueza, contribui
para o desenvolvimento econômico, social e cultural da comunidade em que atua, de
sua região ou do país, adota práticas empresariais sustentáveis visando à proteção do
meio ambiente e ao respeito aos direitos dos consumidores. Se sua atuação é
consentânea com estes objetivos, e se desenvolve com estrita obediência às leis a que
se encontra sujeita, a empresa está cumprindo sua função social; isto é, os bens de
produção reunidos pelo empresário na organização do estabelecimento empresarial
estão tendo o emprego determinado pela Constituição Federal (COELHO, 2012, p.
89)
Gustavo Saad Diniz, por sua vez, entende que a função social da empresa se projeta
interna e externamente à organização, exigindo-se a satisfação de interesses tanto dos
Calmon Nogueira da; e BARTHOLO, Bruno Paiva. in Função Social da Empresa. Revista dos Tribunais 100
anos: Doutrinas Essenciais de Direito Empresarial, vol. II, org. Arnoldo Wald, Revista dos Tribunais. p. 113).
22
23
Citando Francis-Paul Bénoit, especificamente seu trabalho no primeiro número da revista Connaissance
Politique, Alfredo Lamy Filho ressalta: “É a empresa o quadro de reencontro dos homens para a ação em comum
que assegura sua existência. É na empresa - sejam patrões, executivos, técnicos, empregados ou trabalhadores -
que os mais capazes de iniciativa, de es- forço, de responsabilidade, os mais dotados, os mais hábeis, os mais
trabalhadores, se põem aos serviços dos outros, para a criação de riquezas, das quais se beneficia a humanidade
por inteiro. É também na empresa que se exprimem as tensões no que concerne à partilha dos papéis e do proveito
entre todos os que contribuem para a produção” (LAMY FILHO, Alfredo. A função social da empresa e o
imperativo de sua reumanização. Revista de Direito Administrativo, [S. l.], v. 190, p. 54–60, 1992. DOI:
10.12660/rda.v. 190.1992. 45408. Disponível em: https://periodicos.fgv.br/rda/article/view/45408. Acesso em:
1 out. 2023).
23
jurídica24 –; geral, porque não se aplica apenas a determinadas relações jurídicas, e explícitas,
dado que previsto expressamente em lei, embora ausente da Constituição.
24
É o que afirma Fábio Ulhoa Coelho: “(...) Não há formulação, na lei, do princípio da preservação da empresa.
Ele é concluído, pela jurisprudência e doutrina, das normas relacionadas à resolução da sociedade em relação a
um sócio (CC, arts. 1.028 e seguintes), desconsideração da personalidade jurídica (CC, art. 50; CDC, art. 28) e
recuperação judicial (Lei n. 11.101/2005). Aplicando-se a mais de um capítulo do direito comercial (pelo menos,
ao societário e falimentar), não é especial a nenhum deles” (COELHO, Fábio Ulhoa. COELHO, Fábio Ulhoa.
Curso de direito comercial: direito de empresa vol. 1. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 94).
25
Fábio Ulhoa Coelho menciona os possíveis interesses que estão na órbita do empreendimento empresarial: “(...)
Diversas soluções para os conflitos de interesses decorrem do valor que embasa este princípio. A dissolução
parcial da sociedade empresária, por exemplo, é uma construção jurisprudencial de meados do século passado,
posteriormente prestigiada pela doutrina, em que se procura conciliar, de um lado, a solução do conflito
societário, e, de outro, a permanência da atividade empresarial, evitando-se, com isto, que problemas entre os
sócios prejudiquem os interesses de trabalhadores, consumidores, do fisco, da comunidade etc. A
desconsideração da personalidade jurídica é outro instituto que decorre do mesmo princípio, ao estabelecer os
critérios a partir dos quais a fraude na manipulação da autonomia patrimonial pode ser coibida, sem o
comprometimento da atividade explorada pela pessoa jurídica instrumentalizada no ilícito. No campo do direito
falimentar, o próprio instituto da recuperação judicial se fundamenta no princípio de que pode interessar à
coletividade a preservação de determinada atividade empresarial, mesmo quando o empresário não se mostra
suficientemente capaz de dirigi-la” (COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa
vol. 1. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 93).
24
empresarial. Nesse ponto, vale destacar que a crise atinge a empresa, produzindo efeitos sobre
toda a sociedade26.
Aliás, apenas as empresas economicamente viáveis terão atendido sua função social,
uma vez que conseguiriam adimplir todas as suas obrigações sociais, conforme estabelecido no
plano de recuperação, questão que é reconhecida em sede de Assembleia Geral 27. Se inviável,
o resultado inafastável é a decretação da quebra, como forma de restrição de mais prejuízos28.
26
“(...) No plano dos fatos, a atividade empresarial em crise atinge toda a estrutura social próxima a ela, não só
quanto a manutenção da produção, do emprego dos trabalhadores e do interesse dos credores, como realçado
pelo art. 47, da Lei nº 11.101/2005. Reduz receita tributária, enfraquece políticas de integração social с laboral,
diminui as perspectivas de desenvolvimento da localidade e região, ocasionando verdadeiro efeito "cascata":
desemprego, sobrepreço, inflação, descrédito, insegurança financeira e laboral etc. A empresa, ao longo do
tempo, foi inserida na teia social de modo tal que suas ações influenciam em maior ou menor grau, de acordo
com o potencial da atividade desenvolvida, o cotidiano da coletividade próxima a ela e a própria ação estatal”
(JÚNIO, Clodomiro José Bannwart; DE TOLEDO, Maurício José Morato. A Preservação da Empresa e sua
Participação para Consecução de Políticas Públicas. Revista Brasileira de Direito Empresarial, v. 1, n. 1, p.
255-272, 2015).
27
Mencionado a eventual concessão da recuperação judicial, Ricardo Negrão aponta suas consequências: “Se
corretamente concedida, haverá estímulo à atividade empresarial como um todo, seja pela manutenção dos
contratos, seja porque ao manter empresas saudáveis e viáveis no mercado se seguirá a criação ou a manutenção
de empregos, a manutenção e revitalização de específico segmento de mercado e a diversidade concorrencial e
de consumo. Enfim, uma contribuição efetiva à economia como um todo e, em especial, à arrecadação de
tributos” (NEGRÃO, Ricardo. Preservação da empresa. 1. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. p. 122).
28
Nesse sentido ensina Marcelo Barbosa Sacramone: “(...) Embora a recuperação judicial objetive superar a crise
econômico-financeira do empresário e garantir a preservação da empresa, esta apenas implementará sua função
social se for economicamente eficiente. Apenas a atividade viável e que garanta o adimplemento de suas
obrigações sociais, com a entrega de produto aos consumidores, com o recolhimento dos seus impostos,
pagamento de seus trabalhadores e credores, tornará efetiva sua função social. Inviável economicamente a
atividade desenvolvida pelo empresário em recuperação judicial, conforme aferição imposta pela Lei aos
credores em Assembleia Geral, a falência deverá ser decretada, sob pena de ainda maior prejuízo ser causado
aos credores, trabalhadores e ao mercado como um todo” (SACRAMONE, Marcelo Barbosa. Comentários à
Lei de Recuperação Judicial e Falência. 4. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2023. p. 138).
25
E a propósito, lembrei-me porque durante mais de vinte e nisto ele sim anos fui juiz
cível e lidei com muitos casos, sobretudo de concordatas de que invocava sempre uma
frase do eminente então Ministro Aliomar Baleeiro que dizia - plesmente fazia um
reconhecimento de caráter geral- não há interesse social algum em decretar-se
falência. E o caso. Todo o propósito da lei, todo o esquema de engenharia da lei foi
exatamente de preservar as empresas como fonte de benefícios e de riquezas de caráter
social, e não apenas de riqueza de caráter individual. (...) Finalmente, Senhor
Presidente, gostaria de acentuar - isto me parece também importantíssimo que o que
está por trás da interpretação dessa norma é, na verdade, um conflito entre duas visões.
De um lado, uma visão macroeconômica, que tem o foco no dinamismo da economia
e que, por isso mesmo, visa ao benefício de toda a coletividade, e, de outro, uma visão
que eu diria um pouco mais microscópica e um pouco mais rente a aparentes interesses
29
Lei n° 8.429/2021, art. 12 § 4º Em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a
sanção de proibição de contratação com o poder público pode extrapolar o ente público lesado pelo ato de
improbidade, observados os impactos econômicos e sociais das sanções, de forma a preservar a função social da
pessoa jurídica, conforme disposto no § 3º deste artigo.
30
Segue a ementa do julgado: “AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 60,
PARÁGRAFO ÚNICO, 83, I E IV, c, E 141, II, DA LEI 11.101/2005. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AOS ARTIGOS 1º, III E IV, 6º, 7º, I, E 170, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL de 1988. ADI JULGADA IMPROCEDENTE. I - Inexiste reserva constitucional de lei complementar
para a execução dos créditos trabalhistas decorrente de falência ou recuperação judicial. II - Não há, também,
inconstitucionalidade quanto à ausência de sucessão de créditos trabalhistas. III - Igualmente não existe ofensa
à Constituição no tocante ao limite de conversão de créditos trabalhistas em quirografários. IV - Diploma legal
que objetiva prestigiar a função social da empresa e assegurar, tanto quanto possível, a preservação dos postos
de trabalho. V - Ação direta julgada improcedente” (STF, ADI 3.934, Relator: RICARDO LEWANDOWSKI,
Tribunal Pleno, julgado em 27/05/2009).
31
A íntegra da manifestação do AGU não está no inteiro teor do acórdão, mas pode ser encontrada em “peças
eletrônicas” da ADI 3.934/DF. STF.
<https://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?se
qobjetoincidente=2544041>. Acesso em: 02 de out. de 2023.
26
subjetivos individualizados, mas que, no fundo, reverte em dano geral, porque não
permite a recuperação das empresas, nem que a lei atinja os seus objetivos 32.
a proteção da empresa (..) não recai sobre a pessoa física do empresário ou sociedade
empresária - na realidade, nem se resume essa proteção à própria empresa, uma vez
que tal garantia protetiva se também para o Estado e para a comunidade, que se
beneficiam do bom funcionamento do setor empresarial. (TAVARES, 2013, p. 100).
Essa conclusão não deve causar estranheza, dado que, embora o princípio da
preservação da empresa seja frutífero no âmbito do direito comercial, trata-se ele de postulado
geral, aplicável a várias relações jurídicas, inclusive sob o regime de direito público. Para tanto,
basta que exista num dos polos o Estado, ou outra autoridade competente, no exercício de
função administrativa, e no outro, o particular. E sendo princípio, especialmente na ótica do
direito administrativo, tem caráter vinculante e obrigatório, pois reflete os valores básicos do
32
Conforme trecho do voto do Min. Carlos Britto, proferido no bojo da ADI 3.934/DF (STF, ADI 3.934, Relator:
RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 27/05/2009).
33
Neste ponto, importante é o apontamento de Irene Patrícia Nohara, a qual registra que “a expressão ‘interesse
público’ não pode ser usada, com rigor, do ponto de vista singular, pois o direito público liga com variados
interesses públicos, e não com um único interesse público” (NOHARA, Irene Patrícia. Fundamentos de direito
público. 2. ed. Barueri: Atlas, 2022. p. 41).
27
consenso social a serem assegurados pelo Estado Democráticos de Direito (NOHARA, 2022,
p. 34).
34
Nesse sentido pontua Daniel Ferreira: “Visto ser a sanção administrativa uma das manifestações concretas do
exercício da função administrativa, enquanto dever-poder, importante gizar que a aplicação de sanção por um
agente público não consiste em uma mera faculdade, mas sim em inolvidável vinculação. (...) Então, toda e
qualquer alusão ao dever-poder sancionador como exercício de uma competência também discricionária nos
parece, ‘data maxima venia’, um ledo engano, que não pode subsistir num Estado Democrático de Direito”
(FERREIRA, Daniel. Sanções administrativas. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 40).
28
erigidos pela própria sociedade, objetivando tornar possíveis os nexos de cooperação, sem os
quais não haveria equilíbrio ou justiça nas relações (NADER, 1997, apud CAVALIERI FILHO,
2019, p. 14).
No direito brasileiro, o ramo jurídico mais rígido é o Direito Penal, que tutela bens
jurídicos que não poderiam ser protegidos por outros ramos. Contudo, as leis penais não devem
ser vistas como a primeira opção (prima ratio) para que o legislador componha in abstrato os
conflitos sociais. Pelo contrário, exige-se que o direito penal interfira o mínimo possível na
autonomia e liberdade do indivíduo, considerando que se trata de ramo que contempla as
sanções de maior gravidade em todo o ordenamento jurídico, inclusive a restrição da liberdade
individual. Por isso, diz-se ser princípio implícito do sistema penal a intervenção mínima:
O princípio quer dizer que o direito penal não deve interferir em demasia na vida do
indivíduo, retirando-lhe autonomia e liberdade. Afinal, a lei penal não deve ser vista
como a primeira opção (‘prima ratio’) do legislador para compor os conflitos
existentes em sociedade e que, pelo atual estágio de desenvolvimento moral e ético da
humanidade, sempre estarão presentes. Há outros ramos do direito preparados a
solucionar as desavenças e lides surgidas na comunidade, compondo-as sem maiores
consequências. O direito penal é considerado a ‘ultima ratio’, isto é, a última cartada
do sistema legislativo, quando se entende que outra solução não pode haver senão a
criação de lei penal incriminadora, impondo sanção penal ao infrator (NUCCI, 2023,
p. 78)
35
Nesse sentido, explicam Alexandra Comar de Agostini e Arnaldo Hossepian SL. Junior: “(...) Portanto, a
criminalização da conduta passa pela necessidade de se exercitar um juizo natural pela própria sociedade,
considerando, ou não, determi- nado comportamento como merecedor de sanção mais grave, a penal. Esse é o
critério que orienta o Direito de Punir do Estado na diversidade de sua ação defensiva contra a sublevação da
vontade individual” (AGOSTINI, Alexandra Comar de; JUNIOR, Arnaldo Hossepian SL. A invasão
incondicional da lei penal e o direito administrativo sancionador como mecanismo de Legitimação e
Controle do Poder Punitivo do Estado. In: Direito administrativo sancionador. BLAZECK, Luiz Mauricio
Souza; MARZAGÃO JR., Laerte I.; ALCKMIN, Geraldo (org.). São Paulo: Quartier Latin, 2014. p. 15-31).
29
Guilherme Nucci entende que a finalidade da pena multifacetada: “(...) Não vemos
incompatibilidade em unir esforços para visualizar a finalidade da pena sob todos os
aspectos que ela, necessariamente, transmite: é – e sempre será – retribuição; funciona
– e sempre funcionará – como prevenção positiva e negativa, abrangendo, ainda, a
ressocialização do condenado. A função do direito penal é, em nosso entender,
multifacetada ou multifatorial” (NUCCI, 2023. p. 12).
36
Nesse contexto, importante é a lição de Rogério Greco “O legislador, por meio de um critério político, que varia
de acordo com o momento em que vive a sociedade, sempre que entender que os outros ramos do direito se
revelem incapazes de proteger devidamente aqueles bens mais importantes para a sociedade, seleciona, escolhe
as condutas, positivas ou negativas, que deverão merecer a atenção do direito penal. Percebe-se, assim, um
princípio limitador do poder punitivo do Estado” (GRECO, Rogério. Curso de direito penal: artigos 1° a 120
do código penal. 25. ed. Barueri: Atlas, 2023. p. 85)
37
Fernando José da Costa anota que o direito penal é, infelizmente, bastante percebido como a solução para resolve
os conflitos sociais, motivo pelo qual existiria uma inflação de normas criminais. Nesse sentido, cita o autor a
doutrina de Cezar Roberto Bittencourt, para quem o legislador contemporâneo tem abusado da criminalização e
penalização em contradição ao princípio da intervenção mínima: “Apesar de a principio de intervenção minima
ter sido consagrado pelo Ilumi nisma a partir da Revolução Francesa, a verdade é que, a partir da segunda década
do século XIX, as normas penais incriminadoras cresceram desmedidamente, a ponto de alarmar os penalistas
dos mais diferentes parámetros culturais. Os legisladores contemporâneos, nas mais diversas partes do mundo,
tem abusado da criminalização e da penalização, em franca contradição principio em exame, levando ao
descrédito não apenas o Direito Penal, mas a sançalo criminal, que acaba perdendo sua força intimidativa diante
da inflação legislativa reinante nos ordenamentos positivos”. (COSTA, Fernado José. Direito penal mínimo:
uma necessidade. In: Direito administrativo sancionador. BLAZECK, Luiz Mauricio Souza; MARZAGÃO JR.,
Laerte I.; (org.). São Paulo: Quartier Latin, 2014. p. 95-106).
30
Esse novo viés do direito penal encontra críticas contundentes na doutrina. Cleber
Masson defende que se deve evitar a funcionalização e desformalização do direito penal, para
que não se esqueça de sua função precípua de proteger exclusivamente bens jurídicos
indispensáveis ao desenvolvimento do indivíduo e sociedade, afastando-se as leis penais
meramente simbólicas ou tipos penais de perigo abstrato em detrimento de delitos de dano e
perigo concreto (MASSON, 2019, p. 87).
Dessa maneira, o direito penal vem enfrentando uma espécie de crise de identidade,
que afasta esse ramo do direito de sua formulação clássica diante da sociedade de risco, motivo
pelo qual os juristas debatem a abrangência de seus institutos e instrumentos que pode oferecer.
Em consequência disso, discute-se a possível transferência de ilícitos penais param outros
campos do direito, especialmente para o direito administrativo sancionador38 (VORONOFF,
2018, p. 37).
Somente se deve ameaçar o indivíduo com sanção penal quando regulações civis ou
jurídico-administrativas mais leves ou outras medidas político- -sociais não sejam
suficientes, pois o Direito Penal é, por excelência, subsidiário da proteção de bens
jurídicos. Há que se analisar, portanto, em um necessário juízo de ponderação de
interesses, quais os direitos/interesses- ou seja, os bens jurídicos - contrapostos na
ocasião, de modo a avaliar se, de fato, há bem jurídico a ser protegido penalmente.
(AGOSTINI; JUNIOR, 2014, p. 13)
38
Nesse contexto, confira-se os comentários de Marco Antonio Marques da Silva: “Em primeiro lugar, podemos
mencionar que a expansão do Direito Penal, nas últimas décadas, demonstrou, em muitos setores, sua ineficácia
para prevenir ou administrar a criminalidade moderna. Muitas leis que resposta eficaz aos ilícitos praticados no
âmbito da empresa tornaram-se supérfluas e simbólicas, sem qualquer utilidade social. Desta forma, a sanção
administrativa, que também pode ter um caráter penal, passou a ser a opção para este tipo de ilicitude praticada
pela empresa” (MARQUES DA SILVA, Marco Antonio. Direito administrativo sancionador ou direito penal
administrativo? In: Direito administrativo sancionador. BLAZECK, Luiz Mauricio Souza; MARZAGÃO JR.,
Laerte I.; ALCKMIN, Geraldo (org.). São Paulo: Quartier Latin, 2014. p. 238).
39
Nesse sentido, Alexandra Comar de Agostini e Arnaldo Hossepian S. L. Junior pontuam as vantagens do resgate
da vocação de ultima ratio da disciplina do direito penal: “O resultado dessa opção produz resultados concretos,
em especial, os seguintes: a redução do número de processos nos tribunais sobrecarregados, distinguir a tutela
de bens jurídicos considerados primários de outros com menor valor ético-existencial, consagrando a sanção
penal como último recurso de punição; conferir à Administração poderes para realizar os seus objetivos de forma
mais efetiva” (AGOSTINI, Alexandra Comar de; JUNIOR, Arnaldo Hossepian SL. A invasão incondicional
da lei penal e o direito administrativo sancionador como mecanismo de Legitimação e Controle do Poder
Punitivo do Estado. In: Direito administrativo sancionador. BLAZECK, Luiz Mauricio Souza; MARZAGÃO
JR., Laerte I.; ALCKMIN, Geraldo (org.). São Paulo: Quartier Latin, 2014. p. 29).
40
Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.
32
41
Decreto-lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941.
42
Régis Fernandes de Oliveira explica que: “em Direito Administrativo fala-se também em ilícito, mas como
gênero a identificar a espécie "infração", que significa e comportamento contrário ao previsto, na hipótese de a
sanção ser aplicada pelo órgão administrativo. A infração será o pressuposto da sanção administrativa. O próprio
conceito de sanção é gênero, de que pena, sanção civil e sanção administrativa são espécies” (OLIVEIRA, Régis
Fernandes de. Infrações e sanções administrativas. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1985. p. 6).
43
José Roberto Pimenta e Dinorá Adelairde Musetti Grotti destacam a relação indissociável entre o interesse
público e a disciplina do Direito Administrativo Sancionador: “Esta relação umbilical entre interesse público e
DAS se compara à relação do DNA para os organismos vivos. A partir dela se estabelecem o desenvolvimento
e o funcionamento de todas as manifestações do regime jurídico-administrativo sancionador, e suas respectivas
funcionalidades no âmbito das matérias reguladas. O conjunto variado de funções que o DAS deve desempenhar
no ordenamento jurídico varia, fundamentalmente, na dependência do segmento do direito administrativo a que
adere certo sistema” (OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti. Direito
administrativo sancionador brasileiro: breve evolução, identidade, abrangência e funcionalidades. Interesse
Público – IP, Belo Horizonte, ano 22, nº 120, p. 83-126, mar./abr. 2020. Disponível em
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/CEJUR%20%20PGM/CEJUR%20Clipping/5ª%20
Edição/Artigos/3.pdf. Acesso em 10 mai. 2023. p. 100-101).
44
Da sua maneira, Régis Fernandes de Oliveira assim explica o escopo das sanções administrativas: “(...) estamos
diante de sanção administrativa se a apuração da infração resultar de procedimento administrativo, perante
autoridade administrativa, funcionando a Administração como parte interessada em uma relação jurídica,
deflagrada sob a lei e em que o ato sancionador não tenha força própria de ato jurisdicional, possuindo presunção
de legalidade, imperatividade, exigibilidade e executoriedade (quando não vedada por lei)” (OLIVEIRA, Régis
Fernandes de. Infrações e sanções administrativas. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1985. p. 7).
33
Nesse sentido, à semelhança com o direito penal, as sanções administrativas têm como
fim a repressão de comportamento juridicamente proibido. Osório destaca a finalidade punitiva
da sanção administrativa, que, apesar de indissociável de seus efeitos aflitivos, não é
incompatível com a uma finalidade disciplinar e decorrentes pretensões pedagógicas. Por isso,
ressalta-se que o DAS vem assumindo feição nitidamente funcionalista, para fornecer respostas
para enfretamento da realidade social do ponto de vista do castigo e da defesa social (OSÓRIO,
2005, p. 101).
45
Comentando a teoria de Bandeira de Mello, Daniel Ferreira salienta: “Seguindo a orientação de Celso Antônio
Bandeira de Mello, aponta-se que a finalidade das sanções administrativas é desestimular comportamentos
administrativamente reprováveis, com efeitos concretos voltados para o passado, enquanto resposta pelo
cometimento da infração, bem como vocacionados para o futuro, reforçando o justo receio do sancionado e da
coletividade em geral, da imposição de sanção em situações iguais ou assemelhadas” (FERREIRA, Daniel. Vinte
anos de reflexões acerca das sanções e das infrações administrativas: revolvendo alguns temas polêmicos,
complexos e atuais. In: Direito Administrativo Sancionador. Estudos em homenagem ao Professor Emérito da
PUC/SP Celso Antônio Bandeira de Mello. Coordenador José Roberto Pimenta Oliveira. São Paulo: Malheiros,
2019. p. 87-100).
46
Para chegar a essa conclusão quanto aos administrativistas, Alice Voronoff analisa a doutrina de Daniel Ferreira,
Fábio Medina Osório, Régis Fernandes de Oliveira, Heraldo Garcia Vitta, Rafael Munhoz de Mello
(VORONOFF, Alice. Direito administrativo sancionador no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2018. p. 57-70).
47
Por sua vez, André Luiz Freire entende que existiria um Direito Público Sancionador, que disciplinaria a
atividade punitiva do Estado, do qual o Direito Administrativo Sancionador e Direito Penal fariam parte, assim
como um Direito Sancionador não Penal aplicado pelo Poder Judiciário e o Direito Sancionador aplicável no
exercício da função de governo. A partir daí, traça a identidade e diferença de regime jurídico entre esses ramos:
34
entre sanção penal e administrativa, sendo o campo de incidência determinado por decisão
discricionária e política do legislador, de modo que a diferença entre esses campos é
exclusivamente atinente ao regime jurídico aplicável (VORONOFF, 2018, p. 57).
Por sua vez, quanto aos penalistas48 que investigaram esse problema, Alice Voronoff
destaca que a percepção sobre o poder punitivo estatal é diversa, prevalecendo o entendimento
de que as sanções ou ilícitos penais diferenciam-se quanto à intensidade ou essência,
especialmente considerando o caráter subsidiário do direito penal e seu caráter retributivo
(VORONOFF, 2018, p. 70).
(...) a sanção administrativa não atua preponderantemente para fins retributivos, mas
se volta sobretudo à finalidade de conformação da conduta dos particulares com vista
ao alcance de objetivos de interesse público cometidos à Administração Pública. A
sanção administrativa, portanto, apresenta um componente dissuasório inerente (e sob
essa ótica pode ser tida como uma espécie de técnica regulatória), ao tempo em que
preocupações ético-morais são circunstanciais (VORONOFF, 2023, p. 80)
“Pelo que expus até o momento, a identificação do que se insere no Direito Público Sancionador parte da natureza
punitiva da sanção e da natureza pública da atividade. Para simplificar: haverá Direito Público Sancionador
quando se tratar da atividade punitiva do Estado. Como consequência, fazem parte do Direito Público
Sancionador: a) o Direito Administrativo Sancionador, b) o Direito Penal; c) o Direito Sancionador não Penal
aplicado pelo Poder Judiciário; e d) o Direito Sancionador aplicado no exercicio de função de governo. Essa
categorização já indica uma identidade e uma diferença de regime jurídico: (1) Em todos os casos, estarão em
pauta os princípios fundamentais do direito público (Estado Democrático de Direito, república e federação). (ii)
A depender da natureza da função exercida pela autoridade que aplica a sanção (administrativa, judicial e de
governo), o regime de direito público será diferente” (FREIRE, André Luiz. Direito público sancionador. In:
Direito Administrativo Sancionador. Estudos em homenagem ao Professor Emérito da PUC/SP Celso Antônio
Bandeira de Mello. Coordenador José Roberto Pimenta Oliveira. São Paulo: Malheiros, 2019. p. 81).
48
Alice Voronoff cita os seguintes autores como representantes do direito penal: Nélson Hungria, Heleno Cláudio
Fragoso, Damásio de Jesus, Paulo Cesar Busato, Fernando Capez, Artur Gueiros e Carlos Eduardo Japiassú,
Luiz Regis Prado e Nilo Batista (VORONOFF, Alice. Direito administrativo sancionador no Brasil. Belo
Horizonte: Fórum, 2018. p. 70-76).
35
evolução do segundo. É o que José Roberto Pimenta e Dinorá Adelaide Musetti Dinorá
ressaltam, afirmando que o DAS pode ser compreendido como o ordenamento punitivo capaz
de substituir (despenalização) ou complementar (reduzir o direito penal para reservá-lo à
intervenção mínima) o sistema punitivo estatal de ilicitudes (GROTTI; OLIVEIRA, 2020, p.
83-116).
Realmente, inegável a proximidade entre o DAS e o direito penal 49, dado que ambos
se voltam à (i.) prevenção e retribuição de atos ilícitos, em maior ou menor medida –
diferenciando-se da responsabilidade civil, cuja função primeira é a reparação e indenização do
dano material ou moral –; (ii.) sujeitam o particular à gravame, atividade que por si só exige
limitações, garantias e procedimentos próprios e (iii.) corriqueiramente incidem de maneira
cumulativa sobre uma mesma conduta, respeitada a regra da independência de instâncias
(COSTA, 2014, p. 112).
(...) As três características acima apontadas - desempenho das mesmas funções pelo
direito administrativo sancionador e pelo direito penal; a incidência de um regime
jurídico que deve guardar semelhanças em ambos os ramos; e a cumulação de sanções
em nosso atual sistema - indicam a necessidade de se desenvolver uma política
sancionadora integrada, que considere tanto os mecanismos penais quanto
administrativos para o estabelecimento do tratamento jurídico de dada conduta.
(COSTA, 2014. p. 113).
Assim, conforme asseveram José Roberto Pimenta e Dinorá Adelaide Musetti Dinorá,
os regimes sancionatórios mencionados merecem ser compreendidos em conjunto, com o
objetivo de harmonizá-los na atuação punitiva estatal (GROTTI; OLIVEIRA, 2020, p. 83-116).
De fato, essa é a concepção da qual se deve partir, pois o direito é uno e formado por
regras e princípios cuja validade é extraída da Constituição. A análise e estudo dos mais
diversos “ramos e subdivisões do direito” é meramente metodológica e serve para o operador
do direito melhor entenda as facetas do fenômeno jurídico. Sobre isso, Régis Fernandes de
Oliveira anota:
49
Nesse sentido é a lição de Fábio Medina Osório: “No Direito Administrativo Sancionador, a variação do grau
do efeito aflitivo da medida punitiva não quebra a unidade do regime jurídico, em suas bases principiológicas,
porque resulta viável reconduzir toda e qualquer sanção a um núcleo central do Direito Punitivo, onde as
oscilações das garantias se reduzem sensivelmente”. (OSÓRIO, Fábio Medina. Direito administrativo
sancionador. 2. ed. rev., atual., e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005. p. 100).
36
Após salientar que os ramos do direito são resultado de um corte metodológico, Daniel
Ferreira pontua como consequência a impossibilidade de se confundir o regime-jurídico
administrativo sancionador com o regime jurídico-penal, conquanto considerada a sanção
administrativa como marco delimitador do primeiro50.
50
“Considerando, então, a sanção como o marco delimitador (objeto) do regime jurídico-administrativo
sancionador, não mais será justificável confundi-lo, especialmente com o regime jurídico-penal, ou ainda com
qualquer outro, mesmo que aliado ao exercício da função administrativa, quer em sentido amplo, quer em sentido
estrito. Diante disso, conceituamos o regime jurídico-administrativo sancionador como o conjunto sistematizado
de princípios e normas informadores da imposição e aplicação, no exercício da função administrativa, das
sanções de mesma natureza” (FERREIRA, Daniel. Sanções administrativas. São Paulo: Malheiros, 2001. p.
84-85)
51
Nesse ponto, interessantes são os comentários de Daniel Ferreira sobre a função das sanções administrativas,
em contraste com o Direito Penal: “(...) Uma vez aceita essa premissa, fica evidente o distanciamento entre o
Direito Penal e o Direito Administrativo Sancionador. Não no sentido de que este deixe de (também) impor
limites ao legislador e ao administrador público, mas que as sanções administrativas tendem a garantir a
preservação do Direito - em si e por si - e não necessariamente a proteger bens jurídico-administrativos
relevantes, com a ameaça de sua imposição” (FERREIRA, D. Sanções Administrativas: entre direitos
fundamentais e democratização da atividade estatal. Revista de Direitos Fundamentais e Democracia,
Curitiba, v. 12, n. 12, pp. 167-185, julho/dezembro de 2012. Disponível em:
revistaeletronicardfd.unibrasil.com.br/index.php/rdfd/article/download/309/280. Acesso em: 14/10/2023).
37
A sua interface com o Direito Penal, serve menos à identificação do DAS com esse
ramo, do que para destacar que ambos são manifestações do poder punitivo estatal – ou melhor,
um dever-poder –, uno e inafastável quando da verificação do ilícito, punível com remédio
jurídico adequado e proporcional à sua gravidade, sempre com o objetivo de garantir o
equilíbrio e a harmonia do convívio social. Portanto, a ordem jurídica imputa a consequência
restritiva de direitos cabível à ilicitude, sendo de ordem administrativa quando violada norma
de natureza corresponde.
Por sua vez, os princípios de DAS são informados pelos valores constitucionais que
informam a atividade sancionatória. É nesse sentido que cabe a utilização do arcabouço teórico
do Direito Penal – que desenvolveu direitos e garantias para limitar o exercício do jus puniendi
estatal –, e do Direito Processual Penal – que tratou da disciplina processual instrumental para
52
Nesse contexto, vale mencionar as contribuições do Instituto de Direito Administrativo Sancionador Brasileiro
(IDASAN) à Consulta Pública promovida pelo Senado Federal, que elaborou proposta para um diploma geral
nacional em matéria de direito administrativo sancionador. O documento está disponível em:
https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento/download/0c25abaa-a621-4f57-98b6-de1b6e1168cb. Acesso
em: 14/10/2023.
38
atingir esse objetivo – para fins de definir a principiologia aplicável à atividade estatal
sancionatória aplicável no DAS (GROTTI; OLIVEIRA, 2020, p. 83-116). Nesse sentido, vale
destacar os ensinamentos de Daniel Ferreira:
Forçoso concluir, pois, que todas as regras e todos os princípios versando sobre
“ilícitos”, “sanções”, “litígios ou processos sancionadores” e, adicionalmente, sobre
as garantias deferidas aos “acusados” e aos “sancionados” em geral, como insculpidos
na Carta Magna, são apropriáveis tanto pelo Direito Penal como pelo Direito
Administrativo Sancionador, ainda que com nuanças, porque retratam o poder
punitivo estatal (FERREIRA, 2012, p. 167-185).
53
É o que também comentam Diego de Figueiredo Moreira Neto e Flávio Garcia: “(...) esses princípios e garantias
ganharam tal amplitude ético-jurídica que passaram a reger e a orientar toda e qualquer expressão de poder estatal
sancionados, deles derivando-se legítimos mecanismos, à disposição dos indivíduos, para a contenção do
exercício indevido do ius puniendi estatal que, sem essas barreiras de proteção, fatalmente retornariam às
indesejáveis práticas do arbítrio que antecederam 0 próprio Estado de Direito. É sob essa ótica e a partir desse
núcleo constitucional que o poder punitivo estatal - dotado de inequívoca unicidade - deve ser interpretado,
independentemente de se tratar do Estado Administração ou do Estado Juiz” (MOREIRA NETO, Diego de
Figueiredo; GARCIA, Flávio. A principiologia no Direito Administrativo sancionador. Revista Eletrônica de
Direito Administrativo Econômico, Salvador, nº 28, nov-dez-jan. 2012, p. 1-21. ISSN 1981-1861).
39
Segundo Maria Sylvia Zenella Di Pietro, são agências reguladoras, em sentido amplo,
o órgão da Administração Pública Direta ou Indireta com função de regular a matéria a qual
está afeta, isto é, organizar o setor correlato e controlar as entidades que atuem nesse setor (DI
PIETRO, 2023, p. 629). São assim orientadas pelo princípio da especialização56.
54
Celso Antônio Bandeira de Mello conceitua a função administrativa da seguinte maneira: “Função
administrativa é a função que o Estado, ou quem lhe faça as vezes, exerce na intimidade de uma estrutura e
regime hierárquicos e que no sistema constitucional brasileiro se caracteriza pelo fato de ser desempenhada
mediante comportamentos infralegais ou, excepcionalmente, infraconstitucionais, submissos todos a controle de
legalidade pelo Poder Judiciário” (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 36.
ed. Belo Horizonte: Fórum, 2023. p.36).
55
Vejam-se os comentários de José Roberto Pimenta e Dinorá Adelairde Musetti Grotti sobre a importância das
Agências Reguladoras para o DAS: “O desenvolvimento dos marcos regulatórios e sancionatórios na esfera
administrativa das agências constitui importante impulso para a progressiva expansão do regime jurídico-
administrativo sancionador. Há a necessidade concreta de modelagem desses modelos sancionatórios para cada
setor submetido à regulação, que se pretende seja exercida com independência decisória, incluindo autonomia
administrativa, orçamentária e financeira da entidade reguladora, bem como com legitimidade, eficiência,
economicidade, transparência, tecnicidade, celeridade e objetividade das decisões” (OLIVEIRA, José Roberto
Pimenta; GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti. Direito administrativo sancionador brasileiro: breve evolução,
identidade, abrangência e funcionalidades. Interesse Público – IP, Belo Horizonte, ano 22, nº 120, p. 83-126,
mar./abr. 2020. Disponível em https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/CEJUR%20-
%20PGM/CEJUR%20Clipping/5ª%20Edição/Artigos/3.pdf. Acesso em 10 mai. 2023. p. 100-101).
56
Irene Patrícia Nohara explica o princípio da especialidade, orientado conforme o princípio da eficiência, assim
como o contexto histórico do surgimento das agências reguladoras: “A opção política por promover
especialização na regulação foi orientada para a obtenção de eficiência. Este princípio engloba, conforme visto,
os objetivos de imparcialidade, transparência, aproximação do serviço da população, bem como a exigência de
parâmetros de qualidade em sua prestação. Diante do movimento de privatização em larga escala,68 buscou-se
criar entes dotados de maior autonomia em relação ao ente central e direcionados ao estabelecimento de normas
técnicas, obedecidos parâmetros legislativos e constitucionais existentes” (NOHARA, Irene Patrícia Diom.
Direito administrativo. 12. ed. Barueri: Atlas, 2023. p. 537).
40
Di Pietro anota que o Banco Central, Conselho Nacional Monetário (CNM), Comissão
de Valores Mobiliários (CVM) e outros órgãos com função normativa e de fiscalização, embora
não sejam denominadas agências reguladoras para fins da Lei n° 13.848/2019, tem função
reguladora (DI PIETRO, 2023, p. 629).
Criadas e extintas por lei, as agências reguladoras são autarquias em regime especial,
conforme art. 3 da Lei n° 13.848/2019:
Ademais, são atividades exercidas pelas agências reguladoras o poder de polícia, que
implica na imposição de (i.) limitações administrativas previstas em lei, fiscalização e repressão
de atividades incompatíveis com o bem-estar geral (ANVISA); (ii.) fomento e fiscalização de
atividades privadas; (iii.) regulação e controle do uso de bem público (ANA); (iv.) atividades
prestadas pelo Estado a título de serviço público pelo Estado e livres à iniciativa privada, mas
não por meio de concessão ou permissão de serviço público (ANS); (v.) regulação, contratação
e fiscalização de atividade econômica desenvolvida na forma de monopólio flexibilizado
(ANP); e regulação e controle de atividades objeto de concessão ou permissão de serviço
público (ANEEL, ANATEL, ANTT, ANTAQ e ANAC) (NOHARA, 2023, p. 536).
Por sua vez, Alexandre Santos de Aragão explica que a noção de regulação implica na
integração de diversas funções, que se resumem aos três poderes inerentes às agências
reguladoras: “aquele que edita a regra, o de assegurar a sua aplicação e o de reprimir as
infrações, mesmo que essas infrações sejam dirigidas, inclusive, a empresas públicas ou ao
57
Lei n° 13.848/2019. Art. 2º Consideram-se agências reguladoras, para os fins desta Lei e para os fins da Lei nº
9.986, de 18 de julho de 2000: I - a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel); II - a Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP); III - a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel); IV - a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); V - a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); VI -
a Agência Nacional de Águas (ANA); VII - a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq); VIII - a
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT); IX - a Agência Nacional do Cinema (Ancine); X - a
Agência Nacional de Aviação Civil (Anac); e XI - a Agência Nacional de Mineração (ANM). Parágrafo único.
Ressalvado o que dispuser a legislação específica, aplica-se o disposto nesta Lei às autarquias especiais
caracterizadas, nos termos desta Lei, como agências reguladoras e criadas a partir de sua vigência.
41
58
Paulo Roberto Ferreira Motta reputa a atividade sancionatória das agências reguladoras como manifestação de
sua função jurisdicional: “Por derradeiro, importa anotar que as agências reguladoras, no exercício da função
jurisdicional, poderão aplicar sanções, estabelecidas em seus regulamentos. Ora, visando ser coerente com as
considerações que foram feitas por ocasião do exame da função normativa, entendemos que a criação de tipos
administrativos, em regulamentos e resoluções, é inconstitucional, merecendo, pois, repulsa” (MOTTA, Paulo
Roberto Ferreira. Agências reguladoras. Barueri: Manole, 2003. p. 190).
59
“No âmbito da Administração de resultados, marcada pelo consensualismo, em vez de imposição de sanções
negativas ao regulado, que não cumpre as metas estabelecidas no ordenamento jurídico ou nos ajustes
eventualmente celebrados, o regulador deve estabelecer também mecanismos indutivos, com a previsão de
incentivos positivos para as hipóteses em que as metas forem implementadas pelo agente regulado. Destaque-se
que a sanção, na atualidade, possui caráter bifronte, admitindo duas conotações: a) sanções negativas
(ordenamento repressivo): coação/punição pelo descumprimento do ordenamento; e b) sanções positivas
(ordenamento promocional): premiação pelo adimplemento das normas em vigor. Aliás, sob a ótica da análise
econômica do Direito, os seres humanos, ao efetuar escolhas, ponderam os custos e benefícios em busca da
maximização dos benefícios. As regras jurídicas, por sua vez, moldam e direcionam os incentivos para
influenciar a decisão a ser tomada pelo indivíduo, adequando-a à satisfação do interesse público”. (Oliveira,
Rafael Carvalho Rezende. Novo perfil da regulação estatal: Administração Pública de resultados e análise de
impacto regulatório. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 197).
42
Dado o escopo deste trabalho – cujo substrato de análise são os parâmetros e critérios
para imposição de penalidades por agências reguladoras independentes no exercício da
competência sancionatória – apresentar-se-ão apenas os regulamentos de sanção,
especificamente com relação às agências reguladoras referidas na Lei nº 13.848/2019, quais
sejam:
Art. 2º Consideram-se agências reguladoras, para os fins desta Lei e para os fins da Lei
nº 9.986, de 18 de julho de 2000: I - a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel);
II - a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP); III - a
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel); IV - a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa); V - a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS);
VI - a Agência Nacional de Águas (ANA); VII - a Agência Nacional de Transportes
Aquaviários (Antaq); VIII - a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT);
IX - a Agência Nacional do Cinema (Ancine); X - a Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac); e XI - a Agência Nacional de Mineração (ANM). Parágrafo único.
Ressalvado o que dispuser a legislação específica, aplica-se o disposto nesta Lei às
43
autarquias especiais caracterizadas, nos termos desta Lei, como agências reguladoras
e criadas a partir de sua vigência.
Como anota José Roberto Pimenta Oliveira e Dinorá Adelaide Musseti Grotti, a Lei
n° 13.848/2019, que dispõe sobre a gestão, organização, processo decisório e controle social
das agências reguladoras, embora balize o exercício da regulação – incluindo a atividade
normativa, fiscalizatória, arbitral, fiscalizatória, assim como a sancionatória – não estabelece
diretrizes sobre os princípios constitucionais materiais incidentes nas relações jurídico-
sancionatórias, o que enseja a adoção de regimes sancionatórias vários e não correlacionáveis
nos marcos legais regulatórios, em prejuízo dos direitos e garantias fundamentais do DAS, que
titulam os administrados (OLIVEIRA; GROTTI, 2022, p. 197-241).
Em consequência disso, embora se possa extrair, em alguma medida, das leis federais
mencionadas regras aplicáveis a agências reguladoras em matéria sancionatória60, tem-se
60
José Roberto Pimenta Oliveira e Dinorá Adelaide Musseti Grotti reputam que o art. 4° da Lei n° 13.848/2019
remete explicitamente ao princípio da proporcionalidade nas agências reguladoras: “O artigo 4º da Lei nº 13.848
colhe mandamento explícito de proporcionalidade no exercício de competências regulatórias sancionadoras, e
seja in abstrato, seja in concreto. Exige-se atividade adequada, necessária proporcional - "adequação entre meios
e fins" - veda-se qualquer medida ou provimento com "sanções em medida superior àquela necessária a
atendimento do interesse público" (OLIVEIRA, José Roberto Pimenta; GROTTI, Dinorá Adelaide Musetti.
Direito administrativo sancionador regulatório no brasil: breve panorama e seus desafios. In: Coleção de
direito administrativo sancionador: direito administrativo sancionador regulatório. vol. 3. VORONOFF, Alice;
PALMA, Juliana Bonacorsi; TOLEDO, Renato. Franciso; (coord.) Rio de Janeiro: CEEJ, 2022. p. 197-241).
46
insegurança jurídica pela falta de tratamento paritário – uniforme – das relações jurídico-
sancionatórias no âmbito das agências reguladoras.
Daí porque aflição – a resposta do mal, com outro mal – pouco serve aos objetivos do
DAS. Como apresentado neste trabalho, as figuras infracionais são, antes, a resposta estatal
cabível para constranger ao cumprimento de condutas ou desestimular comportamentos
reprováveis pela sociedade – e por isso positivadas como ilícitos administrativos. Então, tem
fins principalmente disciplinares e pedagógicos, sobretudo para alcançar determinado interesse
público.
Não se pode aceitar uma interpretação da forma de aplicação das sanções de direito
administrativo que resulta em uma circunstância que, além de não viabilizar a
superação da crise de probidade que vive a empresa, causa consequências
irremediáveis a manutenção da fonte produtora e dos postos de trabalho, além de não
atender nenhum interesse legítimo dos órgãos de controle e, em última instância, da
própria sociedade (LIMA, 2022, p. 52)
61
Resolução n° 589/2012, art. 10. Na definição da sanção devem ser considerados os seguintes parâmetros e
critérios: I - a classificação da infração; II - os danos resultantes para o serviço e para os usuários efetivos ou
potenciais; III - as circunstâncias agravantes e atenuantes, conforme definições dos arts. 19 e 20 deste
regulamento; IV - os antecedentes do infrator; V - a reincidência específica; VI - o serviço explorado; VII - a
abrangência dos interesses a que o serviço atende; VIII - o regime jurídico de exploração do serviço; IX - a
situação econômica e financeira do infrator, em especial sua capacidade de geração de receita de seu patrimônio;
X - a proporcionalidade entre a gravidade da falta e a intensidade da sanção; e XI - o vulto da vantagem auferida,
direta ou indiretamente. pelo infrator Parágrafo único. O mesmo registro de sanção não pode ser utilizado como
reincidência e antecedente na aplicação cia sanção.
62
Decreto n° 2.953/1999, art. 25. Na fixação do valor da multa a autoridade responsável pelo julgamento levará
em conta, fundamentadamente, a gravidade da infração, as consequências dela decorrentes para o abastecimento
de combustíveis e para os consumidores, a vantagem indevidamente auferida pelo infrator, os seus antecedentes
no exercício da atividade e sua condição econômica.
63
Lei n° 12.334/2010. Art. 17-C. § 1º Para imposição e gradação da sanção, a autoridade competente deve
observar: I - a gravidade do fato, considerados os motivos da infração e suas consequências para a sociedade e
para o meio ambiente; II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de segurança de
barragens; e III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.
64
Resolução n° 122/2022, art. 57. Na fixação do valor das multas serão consideradas a gravidade, os danos
resultantes da infração, capacidade econômica do infrator, os antecedentes e as circunstâncias atenuantes e
agravantes.
49
balizas para de regime jurídico sancionador na lei geral vigente e incidente – a Lei nº
13.848/2019 -, senão da ausência de uma legislação geral em DAS.
65
Como exemplos, tem-se o termo de compromisso de cessação no CADE; os termos de compromisso na CVM;
os regulamentos e resoluções de determinadas Agências Reguladoras (ANEEL, ANP, ANS, ANTT, por
exemplo), os ajustes da Lei n° 12.305/2010, Decreto federal 7.405/2010 Lei 9.469/1997 e além de outros
instrumentos consensuais legais e infralegais, no plano estadual e federal (PALMA, Juliana Bonacorsi de.
Sanção e acordo na Administração Pública. São Paulo: Malheiros, 2015. p. 189-235).
66
“Ocorre que os acordos se afirmaram como efetiva via decisória do Poder Público, estando praticamente presente
no exame de discricionariedade do gestor público. Em termos de cultura jurídica, a consensualidade se afirmou
como técnica de desenvolvimento das atividades administrativas por vezes preferível dentre as vias tradicionais”
(GUERRA, Sérgio; DE PALMA, Juliana Bonacorsi. Art. 26 da LINDB: Novo regime jurídico de negociação
com a Administração Pública. Revista de Direito Administrativo, p. 135-169, 2018).
67
A literatura denomina como acordos substitutivos na esfera administrativa os atos bilaterais, celebrados entre a
Administração e particulares, com efeito impeditivo ou extintivo de processo administrativo sancionador e
excludente da aplicação ou execução de sanção administrativa. Acordos substitutivos são alternativas a atos
administrativos sancionadores. (SUNDFELD, Carlos Ari; CÂMARA, Jacintho Arruda. Acordos substitutivos
nas sanções regulatórias. Revista de Direito Público da Economia. v. 34, p. 133-152, 2011).
50
Assim são o termo de ajustamento de conduta da Lei de Ação Civil Pública (Lei n°
7.347/1985), o termo de compromisso de cessação da Lei de Concorrência (Lei n° 8.884/1994)
e o termo de compromisso da Lei da CVM (Lei n° 6.385/1976).
Inegável que para optar pela celebração do acordo a autoridade competente deve
analisar uma série de fatores para concluir que a avença se mostra melhor e mais
efetiva que o processo de responsabilização, em especial diante da clara análise do
interesse público envolvido que se relaciona, intimamente, como a continuidade da
atividade empresarial, conforme defendido até o presente momento (LIMA, 2022, p.
146)
68
NOBRE JÚNIOR, Edilson Pereira. As normas de direito público na lei de introdução ao direito brasileiro:
paradigma da interpretação e aplicação do direito administrativo. São Paulo: Editora Contracorrente, 2019. p.
137.
69
Decreto-Lei n° 4.657/1942, art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na
aplicação do direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá, após
oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes razões de relevante
interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observada a legislação aplicável, o qual só produzirá
efeitos a partir de sua publicação oficial. § 1º. O compromisso referido no caput deste artigo: I - buscará solução
jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível com os interesses gerais; II – (VETADO); III - não
poderá conferir desoneração permanente de dever ou condicionamento de direito reconhecidos por orientação
geral; IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu cumprimento e as sanções
aplicáveis em caso de descumprimento. § 2º. (VETADO).
51
5 CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
AGOSTINI, Alexandra Comar de; JUNIOR, Arnaldo Hossepian SL. A invasão incondicional
da lei penal e o direito administrativo sancionador como mecanismo de Legitimação e
Controle do Poder Punitivo do Estado. In: Direito administrativo sancionador. BLAZECK,
Luiz Mauricio Souza; MARZAGÃO JR., Laerte I.; ALCKMIN, Geraldo (org.). São Paulo:
Quartier Latin, 2014. p. 15-31.
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.
ARAGÃO, Alexandre Santos de. Agências reguladoras e a evolução do direito
administrativo econômico. 3. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 27
BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal econômico. vol. 1. São Paulo:
Saraiva, 2016.
BLAZECK, Luiz Mauricio Souza; MARZAGÃO JR., Laerte I. Direito administrativo
sancionador. São Paulo: Quartier Latin, p. 15-31, 2014.
BUSHATSKY, Daniel Bushatsky. Princípio da preservação da empresa. Enciclopédia
jurídica da PUC-SP. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz
Freire (coords.). Tomo: Direito Comercial. Fábio Ulhoa Coelho, Marcus Elidius Michelli de
Almeida (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
2017. Disponível em: <https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/220/edicao-1/principio-
da-preservacao-da-empresa>. Acesso em 02/10/2023.
CAVALIERI F. Programa de Responsabilidade Civil. 13. ed., São Paulo: Atlas, 2019, p. 49
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa vol. 1. 16. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012.
COMPARATO, Fábio Konder. Estado, empresa e função social. Revista dos Tribunais, v.
732, out. de 1996. p. 41.
COSTA, Fernado José. Direito penal mínimo: uma necessidade. In: Direito administrativo
sancionador. BLAZECK, Luiz Mauricio Souza; MARZAGÃO JR., Laerte I.; (org.). São Paulo:
Quartier Latin, 2014. p. 95-106.
COSTA, Helena Regina Lobo. Direito administrativo sancionador e direito penal: a
necessidade de desenvolvimento de uma política sancionadora integrada. In: Direito
administrativo sancionador. BLAZECK, Luiz Mauricio Souza; MARZAGÃO JR., Laerte I.;
ALCKMIN, Geraldo (org.). São Paulo: Quartier Latin, 2014. p. 107-118.
54
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 36. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2023.
DINIZ, Gustavo Saad. Curso de direito comercial. 2. ed. Barueri: Atlas, 2022.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito das coisas. 36. ed. São Paulo:
SaraivaJur, 2022.
FERREIRA, Daniel. Sanções administrativas. São Paulo: Malheiros, 2001.
FERREIRA, Daniel. Sanções Administrativas: entre direitos fundamentais e
democratização da atividade estatal. Revista de Direitos Fundamentais e Democracia,
Curitiba, v. 12, n. 12, pp. 167-185, julho/dezembro de 2012. Disponível em:
revistaeletronicardfd.unibrasil.com.br/index.php/rdfd/article/download/309/280. Acesso em:
14/10/2023.
FERREIRA, Daniel. Vinte anos de reflexões acerca das sanções e das infrações
administrativas: revolvendo alguns temas polêmicos, complexos e atuais. In: Direito
Administrativo Sancionador. Estudos em homenagem ao Professor Emérito da PUC/SP Celso
Antônio Bandeira de Mello. Coordenador José Roberto Pimenta Oliveira. São Paulo:
Malheiros, 2019)
FREIRE, André Luiz. Direito público sancionador. In: Direito Administrativo Sancionador.
Estudos em homenagem ao Professor Emérito da PUC/SP Celso Antônio Bandeira de Mello.
Coordenador José Roberto Pimenta Oliveira. São Paulo: Malheiros, 2019)
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da; e BARTHOLO, Bruno Paiva. in Função Social da
Empresa. Revista dos Tribunais 100 anos: Doutrinas Essenciais de Direito Empresarial, vol.
II, org. Arnoldo Wald, Revista dos Tribunais.
GENOVEZ, Simone; VASCONCELOS, Débora Camargo de. Análise dos princípios
constitucionais econômicos à luz da iniciativa privada. In: Mara Vidigal Darcanchy. (Org.).
22 ed.: 2013, v. 34, p. 137-166.
GOMES, Orlando. Direito reais. 21. ed. rev. e atual. por Luiz Edson Fachin. Rio de Janeiro:
Forense, 2012.
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação e crítica.
14. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2010
GUERRA, Sérgio; DE PALMA, Juliana Bonacorsi. Art. 26 da LINDB: Novo regime jurídico
de negociação com a Administração Pública. Revista de Direito Administrativo, p. 135-169,
2018.
55
WAISBERG, Ivo. Direito comercial: conceito autonomia e princípios. .in Frazão, Ana Castro;
Rodrigo R. Monteiro de.; Campinho, Sérgio. Direito empresarial e suas interfaces:
homenagem a Fábio Ulhoa Coelho. vol. 1. São Pailo: Quartier Latin, 2022.