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FACULDADE DAMÁSIO

MARCOS ROBERTO ROSSI DE JESUS

A INFLUÊNCIA DA LEI DE IMPROBIDADE NA MORALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS


PÚBLICOS

CRICIÚMA (SC)
OUTUBRO/2017
MARCOS ROBERTO ROSSI DE JESUS

A INFLUÊNCIA DA LEI DE IMPROBIDADE NA MORALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS


PÚBLICOS

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para


obtenção especialização em direito público com ênfase
em gestão da FACULDADE DAMÁSIO.

Orientadora: Profa. Cinthya Nunes Vieira da Silva

CRICIÚMA (SC)
OUTUBRO/2017
MARCOS ROBERTO ROSSI DE JESUS

A INFLUÊNCIA DA LEI DE IMPROBIDADE NA MORALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS


PÚBLICOS

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca


Examinadora para obtenção especialização em direito
público com ênfase em gestão da FACULDADE
DAMÁSIO, com Linha de Pesquisa em Ciência Política.

CRICIÚMA (SC)
OUTUBRO/2017
Dedico este estudo, primeiramente a Deus,
provedor da vida e de todas as experiências
que passei. Sem ele eu não estaria aqui. E aos
meus pais que sempre estiveram ao meu lado
me apoiando e prontos a me acolher e orientar
em todas as minhas decisões.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus. Sem Ele, os ganhos e oportunidades não


seriam possíveis, bem como o término de minha graduação ao fim de todo trabalho
e dedicação depositados.
A minha esposa, ???????, por toda paciência, amor e carinho para comigo
mesmo nos momentos difíceis, em todos esses anos de faculdade, apoiando-me
nas minhas escolhas e acreditando no meu potencial.
Minha gratidão à orientadora Mestre Cinthya Nunes Vieira da Silva,
professora que ajudou para que este estudo virasse realidade, contribuindo sempre
com suas sábias ideias.
Agradeço à coordenação do curso, que sempre está nos envolvendo em
eventos direcionados à nossa área e por oferecer aos alunos as melhores condições
de estudo possíveis.
Por fim, gostaria de agradecer aos meus filhos, ??????, por acreditarem na
minha capacidade e sempre me apoiando a cada semestre concluído, e pela
compreensão e colaboração nas minhas horas de estudo e me amarem mesmo com
todas as minhas imperfeições.
“Um homem que rouba por mim fatalmente
roubará de mim”.
Theodore Roosevelt
RESUMO

Este trabalho visou analisar os principais aspectos da Lei de Improbidade


Administrativa, Lei nº 8.429/92, especialmente as questões relacionadas às
categorias dos atos de improbidade na gestão pública. Também procurou dar ênfase
aos requisitos necessários à instrução do procedimento administrativo e à ação
judicial de improbidade administrativa. Seu principal objetivo consistiu na reflexão
sobre a influência do cumprimento legal nos resultados da gestão pública,
observando-se a eficácia da norma. Também procurou trazer à discussão os
aspectos controversos relacionados à aplicação da Lei de Improbidade e os
prejuízos, de toda ordem, que causam à Administração Pública e, por consequência,
à toda população brasileira. Finalizou concluindo que a transgressão formal à
referida lei não seria suficiente para a caracterização da improbidade. Ainda, restou
observar os requisitos e fundamentos jurídicos que estão sendo adotados pela atual
doutrina e jurisprudência dos Tribunais com o intuito de traçar uma disparidade entre
uma ação, que infringiria um princípio e seria caracterizada como ímproba.
Combater a improbidade na Gestão Pública é uma tarefa árdua e complexa, no
entanto é importante ressaltar que o interesse coletivo seja o único objetivo a ser
buscado a fim de pontuá-los, caracterizá-los e diferenciá-los, perante suas
essências, para assim, definir se importariam ou não, nas severas sanções previstas
pela Lei de Improbidade Administrativa.

Palavras-chave: Improbidade. Gestão pública. Fundamentos jurídicos.


ABSTRACT

This paper aims to analyze the main aspects of the Law of Administrative Improbity,
Law nº 8.429 / 92, especially the issues related to the categories of acts of improbity
in public management. It also seeks to emphasize the requirements necessary for
the investigation of the administrative proceeding and for the legal action of
administrative improbity. Its main objective is to reflect on the influence of legal
compliance on the results of public management, observing the effectiveness of the
standard. It also seeks to bring to the discussion the controversial aspects related to
the application of the Law of Improbity and the damages, of any order, that cause to
the Public Administration and, consequently, to the entire Brazilian population. It
concludes by concluding that the formal transgression of said law would not be
sufficient for the characterization of improbity. Moreover, it remains to observe the
requirements and legal bases that are being adopted by the current doctrine and
jurisprudence of the Courts with the intention of tracing a disparity between an action
that would violate a principle and would be characterized as impassable. Combating
impropriety in Public Management is an arduous and complex task, but it is important
to emphasize that collective interest is the only objective to be sought in order to
punctuate, characterize and differentiate them, in their essence, in order to , To
define whether or not they would be subject to the severe sanctions provided for by
the Administrative Improbity Law.

Keywords: Improbability. Public administration. Legal basis.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................10
1 REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................12
1.1 OS PRINCIPIOS
ADMINISTRATIVOS.................................................................ERROR: REFERENCE
SOURCE NOT FOUND2
1.1.1 Princípio da impessoalidade.............................................................................14
1.1.2 Princípio da legalidade......................................................................................14
1.1.3 Princípio da moralidade....................................................................................16
1.1.4 Princípio da eficiência.......................................................................................16
1.1.5 Princípio da publicidade....................................................................................17
1.1.6 Princípio da Probidade Administrativa..............................................................18
2 HISTÓRICO DA MORALIDADE NO SERVIÇO PÚBLICO....................................20
2.1 ASPECTOS GERAIS DO ARTIGO DA LEI Nº 8.429/92......................................2 2
2.1.1 Conceitos de moralidade e improbidade...........................................................24
2.2 Ação do Ministério Público no combate à improbidade........................................25
2.2.1 Controle do enriquecimento do servidor público...............................................29
2.3 SANÇÕES: NATUREZA JURÍDICA.....................................................................31
2.4 ÉTICA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..............................................................35
CONCLUSÃO.............................................................................................................43
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 45
ANEXOS....................................................................................................................47
10

INTRODUÇÃO

O presente trabalho cuida de uma pontual análise acerca da relação entre


os atos administrativos que configuram improbidade administrativa, por infringir os
princípios da Gestão Pública. Infelizmente, o contexto atual nos mostra uma
sociedade brasileira em que se refere aos atos irregulares, generalizados como
corruptos, por parte de seus representantes em geral. A Gestão Pública, como
mantenedora do interesse coletivo, tem como ponto de partida o conceito de Estado,
sobre o qual assenta a origem da organização e funcionamento dos serviços
públicos.
Portanto, se analisa a Lei Nº 8.429/92, como instrumento de moralização
na gestão dos recursos públicos no âmbito das unidades administrativas. Seu
objetivo é a reflexão sobre a influência do cumprimento legal nos resultados da
gestão pública, observando-se a eficácia da norma.
O método a utilizado é o bibliográfico, com estudo de doutrinadores,
artigos científicos, documentos históricos que abordem a moralidade e a
improbidade na administração pública. A revisão bibliográfica visa resgatar o
sentido da elaboração de uma normativa explicita, bem como, a previsão
constitucional tratando da improbidade administrativa e suas sanções.
Desta forma, pretende este trabalho esclarecer a relação entre a
moralidade e a probidade, apontando-as como um só conceito norteador da
moralização da gestão governamental por meio da punição dos agentes públicos
que praticarem atos de improbidade na administração da coisa pública.
A alta carga tributária brasileira faz com que boa parte da renda da
população vá para a manutenção da máquina pública. O Estado, responsável pelos
serviços de saúde, educação, segurança, entre outros, oferece serviços precários
causando insatisfação na população, que vê seus impostos sendo tratado como
dinheiro de ninguém.
A burocratização do serviço público parece advir do princípio da
culpabilidade, ou seja, todo político é ladrão então criemos mecanismos para vigiar o
gestor público impedindo que este roube o erário. Assim, de forma engessada, se
administra os recursos públicos, por isso, é comum ouvirmos discursos como: ‘se eu
fizer tudo como a lei, eu não faço nada’.
11

Uma administração amarrada não combina com os atuais sistemas de


gestão, processos que pedem celeridade acabam esbarrando em procedimentos e
ritos legais que demandam tempo e de nada cumprem seu objetivo. Como exemplo,
a Lei 8.666, criada para combater a corrupção, de nada tem inibido a ação dos
corruptos e ainda faz atrasar obras importantes e até encarecem o preço para
administração pública.
A Lei da Improbidade Administrativa é norma simples, que observada,
moraliza o serviço público, pune o corrupto e aquele que se enriquece a custa do
erário de forma inidônea. A análise de sua áurea nos faz refletir sobre a relação com
a moralidade, bem como, por sua responsabilidade de moralizar o serviço público.
A Lei da Improbidade Administrativa editada, em meio a escândalos de
corrupção e desvio de dinheiro público, para servir de instrumento de moralização,
após quase 25 anos, ainda vigora sem a observância pelos gestores públicos e,
assim, constantes casos de corrupção e desvio do dinheiro público, ou seja, dinheiro
dos tributos, são noticiados pela imprensa, gerando o descrédito da gestão pública.
Desta forma, a inobservância da Lei 8.429/92, tanto pelos gestores
públicos quanto pela população, permite a prática de atos de improbidade a
consequente desmoralização da administração pública. E, através de pesquisa
histórica e doutrinária, pode-se demonstrar a relação direta entre a moralidade e a
probidade dos agentes públicos, e que, a observância da Lei 8.429/92, provocaria a
moralização da administração pública, da gestão e dos serviços.
12

1 REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 OS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS

Atualmente vive o Brasil sob a égide de uma Lei Maior que se pauta no
Estado Democrático de Direito. Desta forma, o poder soberano é de pertencimento à
sociedade e à prática do bem comum, fundamentado na concepção de justiça e
segurança jurídica (DINAMARCO, 2005).
Portanto, a organização de uma Gestão pública se definida por lei e suas
entidades desempenham atividades através de agentes públicos. Estes, por sua
vez, no desempenho de suas funções sujeitos à Constituição Federal a que se
submete toda a gestão e, principalmente, aos seus princípios norteadores (GRAU,
1990).
Segundo Figueiredo (2010, p.78) os princípios “tratam-se de um conjunto
de normas que consolidam um sistema e lhe garantem a validade”. Costa (2011, p.
78) diz ser os princípios “o compêndio dos valores precípuos da ordem jurídica”.
Porém, conceito mais comum para definir princípio é o que prega Grau (1990, p. 12)
“um mandamento nuclear de um sistema, fundamental que se irradia sobre
diferentes normas, compondo lhe o critério para o entendimento e inteligência
delas”.

Os princípios são regras que servem de interpretação das demais normas


jurídicas, apontando os caminhos que devem ser seguidos pelos
aplicadores da legislação. Eles procuram eliminar lacunas, oferecendo
coerência e harmonia para o ordenamento jurídico. (COSTA, 2011, p. 88).

Os princípios que regem a Administração Pública estão consubstanciados


em idéias centrais norteadoras das ações administrativas estes princípios estão
previstos na Constituição Federal de 1988. Portanto, o gestor público, em suas
ações administrativas, obedece a diversos princípios previstos no ordenamento
jurídico, sobretudo aqueles expressos no artigo 37 da Constituição Federal:

Art. 37 - Administração pública, direta, indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e também ao seguinte (BRASIL, 2006).
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Diz os princípios constitucionais administrativos dos quais o gestor não


pode se afastar, sob pena de invalidar o ato administrativo realizado em sua
inobservância e de se submeter às sanções impostas nas searas administrativa,
penal, civil e notadamente pela improbidade administrativa (CÂNDIDO, 2010).
Entretanto, diante da interpretação, convém aos operadores do Direito a busca justa
e correta da regra prevista na legislação, para evitar que haja insegurança jurídica.
Segundo Fagundes (2013, p. 90) “a violação de um princípio é uma grave forma de
ilegalidade ou inconstitucionalidade” O princípio não observado representa
insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais.

A preservação dos valores éticos é fundamental à atividade administrativa,


pois a esta é inerente. O dever de boa gestão decorre de dois deveres
fundamentais: honestidade e eficiência funcional. Na busca do alcance das
normas, surgiram doutrinas acerca do ônus da prova no processo para
apuração de ato de improbidade, com fundamento artigo 9˚da lei 8429/92.
(ALVARENGA, 2012, p.60).

Se os Princípios administrativos fossem observados na execução de uma


ação pública, não haveria necessidade de um tão grande número de normas. Para
Capez (2012, p. 88) “violar um Princípio é mais abrangente que a violação de uma
regra jurídica”. Um princípio fundamenta todo um sistema jurídico-normativo.
O ato de improbidade, com fundamento artigo 9˚da lei 8429/92, como
elemento subjetivo da norma que rege a conduta do agente público, sujeita o infrator
às sanções previstas na legislação. A improbidade se manifesta através da ação ou
omissão do agente público, de caráter disciplinar, que contraria o dever de boa
administração e prevalência do interesse público sobre o particular (GARCIA, 2010).
A legislação sobre Improbidade administrativa, após muitos anos
sancionada, ainda apresenta pendências de consenso jurisprudencial e doutrinário,
tipo o enriquecimento ilícito por ato de improbidade administrativa (evolução
desproporcional do patrimônio) onde o legislador brasileiro previu uma modalidade
caracterizada por sinais exteriores de riqueza, incompatíveis com a evolução
patrimonial ou renda percebida pelo agente público (PEREIRA, 2011). Frente esta
análise, surgem posicionamentos divergentes acerca de sua interpretação,
principalmente sobre o ônus da prova. Delgado (2012) comenta que nota-se de
acordo com o artigo 37, os princípios norteadores deste complexo institucional que
compõe a Gestão Pública são:
14

1.1.1 Princípio da impessoalidade

O princípio da impessoalidade tem seu objetivo principal a igualdade de


tratamento para todos os indivíduos que compõe uma sociedade. Por este princípio,
referido na Constituição Federal de 1988 (artigo 37), entendido como aquele que
princípio que vem excluir a promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos
sobre as suas realizações administrativa. Por esse princípio, impede a gestão
pública de agir para satisfazer interesses particulares.
O objetivo do princípio da impessoalidade no ordenamento jurídico é
buscar e trazer para toda a sociedade plena segurança jurídica em relação a
administração pública, procurando sempre colocar o interesse público da população
à frente de outros. A finalidade essencial é a satisfação do interesse público, vedado
o ato administrativo dirigido ao interesse de uma minoria específica.

A impessoalidade referida como princípio na Constituição Federal de 1988 é


que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador público
que só pratique o ato para a sua finalidade legal. A finalidade legal é aquela
que a norma de direito indica expressa ou virtualmente como objetivo do
ato, de maneira impessoal. (BADARÓ, 2003, p. 59).

Este princípio busca eficácia para a sua correta aplicabilidade dentro da


esfera administrativa. A impessoalidade se funda no princípio da isonomia e tem
efeito sem variados dispositivos constitucionais. A desobediência desse objetivo
constitui desvio de finalidade (improbidade administrativa). De acordo com Rocha
(2010, p. 131) trata-se da “impessoalidade no exercício da administração pública
destinada à obtenção do bem comum”.

Há diversos fundamentos em relação ao princípio da impessoalidade, tais


como: o Estado de Direito, o princípio democrático, o princípio republicano e
os direitos fundamentais, onde se destaca o direito à igualdade de
tratamento por parte do Estado. (DINMARCO, 2005, p. 88).

O princípio da impessoalidade estabelece um propósito para realização


no papel tanto do gestor quanto da própria gestão, examinando a eficácia e sua
aplicação nos meandros administrativos, tendo papel essencial no que cumpre as
exigências de um bom funcionamento da máquina pública (SIMÃO, 2014).
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1.1.2 Princípio da legalidade

O princípio da legalidade se define em proibir tudo o que não for


devidamente permitido em lei. De acordo com Capez (2012, p. 44) “as normas do
ordenamento brasileiro devem seguem uma escala de competências”. As normas de
hierarquia inferior são válidas somente se não confrontarem com normas superiores.
A escala de normas é constituída pelo texto constitucional previstas por seu artigo
591.
Garcia (2010, p. 34) comenta que “a Constituição de 1988 prega que
ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de
lei”. Neste caso, o princípio da legalidade impõe a todos a submissão estrita à lei.
Portanto, qualquer ação contrária torna-se impraticável, mediante o princípio da
legalidade, qualquer ato que não seja expressamente previsto em lei.

Como princípio de administração, a legalidade prevê que o administrador


público é sujeito aos mandamentos da legislação e dela não se pode afastar
ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade
disciplinar, civil e criminal. (MARTINS JUNIOR, 2015, p. 78).

Na Gestão Pública, não existe espaço para liberdades e vontades


particulares. O funcionário público deve agir com a finalidade de atingir o bem
comum em todos os momentos e sempre seguindo o que a legislação lhe impõe. Na
area das relações entre particulares é lícito seguir o principio da autonomia da
vontade (realizar tudo o que a lei não proíbe), porém, em Gestão Pública somente
é permitido fazer o que a legislação autoriza. A lei define até onde o gestor público
pode atuar de maneira lícita, definindo seus atos.
Em resumo, o princípio da legalidade garante para os administrados que
qualquer ato de gestão pública apenas será valido se respaldado em lei. O princípio
da Legalidade encontra-se expressamente disposto em nossa Constituição Federal
nos artigos 5° (todos são iguais perante a lei) e 37 (a administração pública direta e
indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
1
Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: I - emendas à Constituição; II - leis
complementares; III - leis ordinárias; IV - leis delegadas; V - medidas provisórias; VI - decretos
legislativos; VII - resoluções. Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração,
redação, alteração e consolidação das leis.
16

publicidade e eficiência). Portanto, este princípio aparece simultaneamente como um


limite e como uma garantia, pois ao mesmo tempo em que é um limite a atuação do
Poder Público é também uma garantia aos administrados (ROCHA, 2010).

1.1.3 Princípio da moralidade

Moral se trata de uma palavra derivada do latim ‘morales’, com significado


de “relativo aos costumes”. Para Gonçalves (2010); Simão (2014) e Alvarenga
(2012), o princípio da moralidade tem um sentido vago e impreciso, devido afazer
parte da moral do agente que executa as atividades de Gestão Pública. Esses
autores se valem de dizer isso ao realizar uma comparação com o princípio da boa-
fé, que também se pautado na conduta do mesmo.
A moralidade administrativa consiste na lisura no trato das coisas do
Estado. Portanto, este princípio exige que o agente público sempre releve as regras
morais em sua conduta. Delgado (2012, p. 99) interpreta o princípio da moralidade,
embasado na moral do agente, em pé de igualdade ao princípio da boa-fé. A quebra
desse princípio, na execução de um ato administrativo está ligado ao desvio de
poder.
Entende-se que a moral exige respeito à boa fé, ao decoro, à ética e a
honestidade como probidade incorporados pela prática diária ao conceito de gestão
pública. É importante elencar que a licitude e a honestidade devem ser traços
distintos entre o direito e a moral. Porém, convém evidenciar que autores como Di
Pietro (2011) e Pereira (2011) acreditam que a regra moral invadiu o direito público.
Na Gestão Pública, tendo em vista as licitações, é bem comum encontrar situações
entre aqueles que realizam o devido processo, de forma que ferem a moral e
caracterizam ofensa direta ao princípio.

1.1.4 Princípio da eficiência

Para desenvolver suas atividades, uma gestão funda-se no regime


jurídico-administrativo que busque a proteção do interesse público, sujeitando os
seus entes a imposições previstas em legislação lhes atribuindo-lhes diversos
deveres. O princípio da eficiência é um deles. O princípio da eficiência estabelece
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que toda ação administrava deve ser orientada para concretização material e efetiva
da finalidade posta pela legislação, segundo o jurídico-administrativo.
Este princípio, de acordo Gonçalves (2010, p. 203) foi introduzido pela
Emenda Constitucional nº 19/98. Embora alguns doutrinadores o tivessem por
implícito na ordem jurídica constitucional, somente surgiu como princípio expresso
da Gestão Pública a partir de 04 de junho de 1998. Este princípio se relaciona com
as normas da boa gestão no sentido de que a Gestão Pública deve concretizar seus
atos com vistas a extrair o maior número possível de efeitos positivos, dotando de
maior eficácia possível aos atos do Estado.
Portanto, se entende que a boa gestão é aquela que realiza suas
atividades com o objetivo de projetar efeitos positivos ao interesse público com o
melhor custo benefício. Para Figueiredo (2010, p. 183) “o princípio da eficiência é
constituído por características básicas par o direcionamento da atividade pública”.
Essas características são à efetividade do bem comum, imparcialidade,
neutralidade, aproximação dos serviços públicos da população, transparência e
desburocratização.

1.1.5 Princípio da publicidade

O princípio da publicidade vem do dever de divulgação oficial dos atos


administrativos. Prega este princípio o livre acesso do cidadão a informações de seu
interesse e de transparência na gestão pública. A publicidade objetiva concretizar a
possibilidade de fiscalização por parte do povo, dos atos administrativos realizados,
como reza o parágrafo único do artigo 1º, da Constituição: “todo poder emana do
povo”.
Para Fazzio (2008, p. 155) “a publicidade dos atos administrativos
constitui medida voltada a exteriorizar a vontade da Gestão Pública”. Isso acontece
com a divulgação de seu conteúdo para conhecimento público permitindo o controle
de legalidade do comportamento.
De Moura (2010) trata a publicidade como revestimento de transparência,
de maneira que a população saiba de que forma está sendo gerido seu interesse em
comum. Nesses termos, o princípio da publicidade garante a transparência na
18

gestão pública, porquanto o gestor público é somente representante de gestão dos


bens da coletividade e não o seu proprietário.

O princípio da publicidade comporta algumas exceções, como os atos e as


atividades relacionados com a segurança da sociedade ou do Estado (artigo
37, da CF/88). É o dever atribuído à Gestão Pública de dar total
transparência a todos os atos que praticar e expor todas as informações ao
público, pois, como regra geral, nenhum ato administrativo pode ser sigiloso.
(BARBOSA, 2009, p. 128).

A publicação de atos administrativos em órgão oficial é pressuposto de


validade e eficácia dos atos que devam produzir efeitos externos ou nos cofres
públicos. Portanto, o art. 5º da Lei Maior assegura ao cidadão, o direito de receber
dos órgãos públicos informações de seu interesse particular: “(...) todos têm direito a
receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado.” (BRASIL, 2006).
Enfim, a publicidade, como princípio, orienta a Gestão Pública de
qualquer espécie, por exemplo, na concessão de certidões, na vista dos autos,
implicando a contagem de prazos para defesa, prescrição, entre outras aplicações
igualmente importantes. Porém, Dinamarco (2005) cita outras regras da legislação,
que conferem sigilo em casos especiais: art. 20 CPP, art. 155 CPC, art. 3º, § 3º, da
Lei 8.666/93.
A publicidade surte os efeitos previstos somente se realizada de órgão
oficial, que é o jornal que se destina à publicação de atos estatais. Dessa forma, não
basta a mera notícia veiculada na imprensa (MARTINS JUNIOR, 2015). Com a
publicação, presume-se o conhecimento dos interessados em relação aos atos
praticados e inicia-se o prazo para interposição de recurso, e também os prazos de
decadência e prescrição.

1.1.6 Princípio da probidade administrativa

A probidade administrativa é a retidão das ações administrativas. Para


Fazzio (2008, p. 89) trata-se do “agir de maneira honesta não somente de acordo
com as normas, como também de acordo com a ética”, dentro dos princípios de
19

moralidade. Probo é o servidor, mesmo sentindo compaixão, pela situação de um


indivíduo, não o favorece.
O conceito de improbidade administrativa se refere aos alicerces da ética
pública, dirigindo-se às noções de grave desonestidade. Na consolidação do Estado
Moderno é que se fundam os pressupostos mais característicos relacionados à
responsabilidade dos servidores públicos na prestações de contas. Para Badaró
(2003, p. 99), a “improbidade administrativa se dá na atividade ou omissão violadora
do dever da Constituição de moralidade no exercício de função pública, acarretando
em sanções civis, administrativas e penais, de maneira cumulativa”.
No Brasil, a democracia é direito recorrentemente violado, sendo
necessário que os operadores do Direito voltem os olhos para a importância da
efetividade dos direitos e garantias fundamentais individuais e coletivos do Estado
Democrático de Direito. A probidade administrativa possui vetores básicos que a
orientam. O termo origina-se do latim ‘probus’ que significa aquilo que brota bem,
significando algo que tem boa qualidade. Para Candido (2010, p. 98) “nosso
ordenamento jurídico não apresenta a definição exata do que seja probidade, de
maneira que tal tarefa fica à cargo da doutrina e da jurisprudência”. Embora Delgado
(2012) defina ‘improbidade administrativa’ como uma violação ao princípio da
moralidade administrativa.
Neste contexto, a probidade administrativa surge como um instrumento
para a sua efetividade material. A maneira de como os gestores públicos atuam, nas
esferas do poder refletem no interesse de toda a coletividade.

Para que seja possível a incidência do dispositivo previsto no inciso VII, do


artigo 9°, da Lei 8429/92, faz-se necessária a prova de que o aumento
patrimonial do agente público deu-se por causa ilícita. Entretanto, esta
causa deve ser decorrente do uso indevido da função pública, pois a norma
em questão tutela a probidade administrativa. (PAZZAGLINI FILHO, 2002,
p. 234).

Porém, é de responsabilidade do Estado comprovação da ilicitude do


enriquecimento, pois, em resumo, o dispositivo não afasta a precisão de mostrar,
pelo Estado, da ilicitude ou desproporção das aquisições dos bens ou rendas tidas
por ‘atos de improbidade’. A probidade administrativa é uma forma de moralidade
que recebeu distinção especial pela Constituição Federal que ímprobo com a
suspensão de direitos políticos (artigo 37). A probidade administrativa consiste no
20

dever de o funcionário servir à administração com honestidade, sem se aproveitar os


poderes ou facilidades delas decorrentes.
O funcionário público não apenas tem que parecer honesto, como tem o
dever de assim se comportar. Mesmo previsto na Lei Maior do Estado, existe o
dever ético de conduta impecável. Não se trata de confundir princípios jurídicos com
princípios morais, mas cuidar da incorporação de deveres éticos ao ordenamento
normativo.
Neste sentido, nossa Constituição destaca o Princípio da Probidade
Administrativa, tendo em vista que a legislação 8.429/92 argumenta sobre os atos
contrários à probidade administrativa e aos princípios norteadores da Administração
Pública, insurgindo de maneira tácita, em seu artigo 37, § 4º:

Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos


políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo
da ação penal cabível. (BRASIL, 2006).

Os princípios jurídicos são concretizados conforme as condições fáticas e


jurídicas, portanto, um mesmo princípio terá diferentes graus de aplicação na
resolução de situações da vida cotidiana. O valor conferido a determinado princípio,
em uma dada situação fática, poderá ser diverso em outro caso, podendo até ter sua
aplicação afastada em determinadas situações. Cabe ao operador do Direito a
aplicação da proporcionalidade a cada caso concreto, uma vez que a ponderação
entre os princípios será feita mediante a argumentação jurídica das partes e a
análise dos interesses. A ponderação faz com que o raciocínio jurídico do julgador,
frente aos argumentos das partes, o leve à resolução do caso concreto mediante a
prolação de decisão razoável e coerente com o sistema normativo constitucional
(CAPEZ, 2002).

2 HISTÓRICO DA MORALIDADE NO SERVIÇO PÚBLICO

O desinteresse pela questão da moralidade se explica pela cisão


realizada entre Moral e Direito, elevada a postulado dos sistemas normativos
positivos ou dos sistemas de direito sob influência do conceito positivista de ciência.
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A história do combate à improbidade administrativa se confunde com as ações


praticadas contra a corrupção, uma vez que, somente como uma das espécies do
ato de improbidade, não se enquadrariam nos contextos corruptores.
Na Grécia, os juízes corruptos eram penalizados com a morte. Na Roma
antiga, a pena capital era cominada aos magistrados que usavam de suas funções
para atividades comerciais. Na era Medieval, os corruptos eram punidos pelo
exercido de forma arbitrária pelo monarca. Ao longo dos tempos, leis alteraram a
natureza das sanções capitais cominadas à corrupção, ao passo novas leis
estabeleceram o instituto de reparação de danos (BARBOSA, 2009).
No Brasil colônia e Império, o elo existente entre o Monarca e os
servidores públicos era marcado por interesses pessoais com o intuito comum de
lucro desenfreado, descomprometido com ideais éticos, deveres ou interesses
coletivos. O bem público era considerado ‘coisas de ninguém’, atendendo, somente,
aos desejos das classes dominantes na época.
O processo de formação do Estado se liga à evolução dos modos de
dominação usados por classes sociais dominantes. A forma de dominação na era
moderna se caracteriza pelo surgimento de uma justificação objetiva da dominação.
Desde a época da colonização do Brasil, os serviços públicos sofrem com a
corrupção, acompanhando a atividade administrativa desde então. Este legado,
trazido por nossos descobridores, foi de certa maneira, absorvida pelo povo
brasileiro. A corrupção consiste na obtenção de vantagem ilícita em decorrência de
um ato próprio do servidor público e sempre repudiado pela sociedade.
O Brasil teve sete constituições sedo que, em todas elas, previram a
responsabilização do Chefe do Estado pelo ato de solicitar ou aceitar vantagem
indevida em razão da função. Facilmente se observa, ao pesquisar as constituições
anteriores à de 1988, todas eram focadas nos atos de improbidade administrativa e
enriquecimento ilícito (PAZZAGLINI FILHO, 2002).
Em 1957, a Lei nº 3.164 foi instituída possuindo como ponto positivo, a
atribuição de legitimidade ao Ministério Público o ajuizamento de medidas judiciais
cabíveis, em face do funcionário público enriquecido ilicitamente. Em 1958, a Lei
3.502 foi sancionada regulando o sequestro e o perdimento de bens em casos de
enriquecimento ilícito, por influência ou abuso do cargo.
Promulgada a Constituição de 1988, a área de atuação das referidas leis
foi ampliado. Depois de diversas pautas parlamentares, publicou-se a Lei nº
22

8.429/92, revogou de maneira expressa as Leis 3.164/57 e 3.502/58, e tornando-se


possuidora de real eficácia no combate à corrupção.

2.1 ASPECTOS GERAIS DO ARTIGO DA LEI Nº 8.429/92

A norma jurídica é um comando abstrato com intuito de regular o


comportamento humano para que a vida em sociedade seja organizada. Mediante a
necessidade de intervenção jurisdicional, é necessário que se tenha conhecimento
dos fatos que se amoldam à norma. A Constituição Federal de 1988 inovou ao
introduzir o ato de improbidade no capítulo da Administração Pública. A inclusão do
princípio da moralidade administrativa na Constituição foi um reflexo da preocupação
com a ética na Administração Pública
A inserção desse princípio da moralidade na Constituição é alinhada com
a evolução do princípio da legalidade De acordo com Di Pietro (2011, p. 302), “a
Constituição de 1988 sujeita a Administração Pública direta e indireta de todos os
níveis de governo a propositura da ação popular, a lesão à moralidade
administrativa”.

Suspensão dos direitos políticos Perda da função pública

PREVÊ CF/88

Ressarcimento ao erário, na forma


e gradação prevista em lei, sem Indisponibilidade dos bens
prejuízo da ação penal cabível

ESQUEMA 1: PASSIVEL DE SANÇÃO POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA


Fonte: De autoria do acadêmico segundo CF/88 (BRASIL, 2006).

A Lei que regulamenta o art. 37, § 4º na Constituição é a de nº 8.429/92,


denominada Lei de Improbidade Administrativa, que determina que os servidores
públicos que compõem o polo passivo e ativo, bem como os atos que podem ensejar
23

a propositura da Ação de Improbidade e suas respectivas sanções. Esta lei foi


promulgada visando a combater atos desleais e desonestos praticados, na maioria
das vezes, por agentes públicos. Porém, não se pode impor à legislação que uma
legislação ampare, de maneira completa, todos os possíveis atos ilegais que
poderiam ser realizados por agentes desonestos, uma vez que estes atos são
extremamente criativos, origem da imaginação humana (GARCIA, 2010).
Neste sentido, se fez preciso criar normas que se adaptassem e essa
distinção para prever atos considerados como ímprobos, quando atenta aos
princípios da Administração Pública. Na análise da legislação em si, observou-se
que o artigo 11 foram descritos de tal maneira que caracteriza o ato de improbidade
administrativa:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os


princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às
instituições, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso
daquele previsto, na regra de competência;
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das
atribuições e que deva permanecer em segredo;
IV - negar publicidade aos atos oficiais;
V - frustrar a licitude de concurso público;
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da
respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de
afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço. (BRASIL, 2006).

De acordo com a TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL (2006), as


condutas que contrariariam os princípios administrativos não são exaustivos e
intitulam-se de ‘norma de reserva’. Haja vista que um ato administrativo
supostamente não gere enriquecimento ilícito ou prejuízo ao patrimônio público, far-
se-á possível sua configuração como improbidade, porquanto restar demonstrada a
inobservâncias dos princípios regentes.
O entendimento, no sentido de que a modalidade de improbidade que
prevê o artigo 11, não admite a modalidade culposa por dois motivos:

1. Diz respeito à vontade do servidor público, o qual deve agir


dolosamente almejando lesar à Administração Pública ou vantagem
particular;
24

2. Fator lógico: somente o artigo 10 da legislação 8.429/92 prevê a


caracterização da improbidade em modalidade culposa, logo, deduz-se
que esse foi o objetivo pretendido pelo legislador.

A hipótese de improbidade administrativa por dolosa afronta aos


princípios e pode alcançar uma infinidade de atos. A conduta ilegal, para ser
caracterizada como ímproba, deve ser praticada no exercício de função pública e a
particular que mantem a função pública, que tenha concorra à ação ilegal ou dela se
beneficie. A Lei de Improbidade apresenta-se como um eficiente instrumento de
prevenção e combate à corrupção.

2.1.1 Conceitos de moralidade e improbidade

Administrativamente, a questão da moralidade e improbidade tem sido


muito discutida ultimamente devido a preocupação em salientar e fazer cumprir
determinações constitucionais. Isso não apenas porque a legislação exige, mas
também porque a sociedade começa a exigir as atitudes tomadas por aqueles que
ocupam e exercem uma função pública.
Sabe-se que o cidadão está munido de garantias constitucionais com o
intuito de preservar a correta conduta dos administradores frente ao erário público.
De acordo com Grau (1990, p. 87) “a administração pública não pode conter vícios
para que não se corrompa o princípio constitucional da Constituição de 1988 (artigo
37)”. Neste sentido, é importante sabermos a definição de dois balizadores de
gestão: a moralidade e a improbidade.
Para entender o conceito de moralidade, é necessário entender o
significado de moral. A palavra “moral” vem do latim ‘moris’ (costumes). Nossa
sociedade possui normas que estabelece o que é certo e o que é errado. Portanto, a
noção de moralidade está associada às noções de justiça, ação e dever (OSÓRIO,
2013).
A moralidade se refere a um código moral que pode ser usado como
sinônimo de moral. A moralidade fala de um sistema de comportamento que diz
respeito aos padrões de comportamento. Segundo Garcia (2010) a palavra carrega
os conceitos de:
25

 Padrões morais, no que diz respeito ao comportamento;


 Responsabilidade moral, no que diz respeito à nossa consciência;
 Identidade moral, ou alguém que é capaz de agir certo ou errado.

A moralidade não se relaciona àquilo que cada um quer para si e mas às


maneiras de agir com o outro. A improbidade acompanha o homem em sua trajetória
no tempo. Trata-se de um assunto muito antigo e bem atual. Não existe soluções
para o combate à corrupção. O termo ‘improbidade’ é do latin ‘probus’, que significa
crescer reto. Em português significa possuir honestidade, caráter e honra. Para
Osório (2013, p. 44) ‘não ter probidade é sinônimo de desonesto”. A moralidade é
importante em três níveis:

 Assegurar um relacionamento justo e harmônico entre os indivíduos;


 Auxiliar a tornar-nos pessoas boas para que possamos ter uma boa
sociedade;
 Manter um bom relacionamento com o poder que nos criou.

Fagundes (2013, p.90) define a moralidade como “as questões das


atitudes humanas inerente a causalidade lhes atribuindo valores, não sendo
somente o campo ético e comportamental”.

2.2 A AÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO COMBATE A IMPROBIDADE

A Gestão Pública atualmente alvo de olhares atentos da população. Não


é mais permitido que o servidor público haja sem necessidade de justificar seus atos
e atitudes. Pela legislação atual, a Gestão Pública exige o compromisso ético e
moral do servidor público, impulsionada pela mudança cultural ocorrida dentro de
nosso meio social.
Atualmente, a população é mais exigente e sabe defender o seu
patrimônio. Neste contexto, órgãos como o Ministério Público auxiliam no combate à
corrupção e dão força ao movimento de moralização das instituições públicas. O
Ministério Público é fruto do desenvolvimento do estado brasileiro e da democracia.
26

Sua história é marcada por dois grandes processos que culminaram na formalização
da instituição como instituição e na ampliação de sua área de atuação.

“O MP promove a competente ação civil de improbidade, com o ônus de


especificar e provar o ato de improbidade. Portanto, o que ainda existe é o
enriquecimento, há que ficar demonstrada a ilicitude da causa do
enriquecimento ou não se poderá presumir sua origem antijurídica. [...] Tal
prova, na ação civil de improbidade, cabe fazê-la o Ministério Público, dado
que, na lei n° 8429/92 ou na sua subsidiária instrumental, nenhuma previsão
há de transferência do ônus probatório” (FAZZIO, 2008, p. 115).

Como afirma Carvalho Filho (2012, p. 31) “o Brasil vive em um Estado


Democrático de Direito, que requer a aplicação uniforme das regras que se destinam
a categorias de pessoas e atos”. Para isso, depende do combate duro a corrupção e
as outras formas de improbidade administrativa que leva, por consequência, ao
interesse público.
Para a obtenção de mais um passo para a consolidação de um verdadeiro
Estado Democrático de Direito, novas leis são criadas, inovando nosso ordenamento
jurídico e inserindo o enriquecimento sem causa como modalidade de
enriquecimento ilícito. Além de várias sanções prescritas em lei já elencadas aqui
como um um rol de infrações que, embora não sejam taxativas, abrangem condutas
esquecidas pela legislação revogada, a legitimação conferida ao Ministério Público
na defesa da probidade administrativa é um dos fatos que mais devem ser
comemorados. De acordo com Grau (1990, p. 78) “o Ministério Público é uma
instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis”. De acordo com o artigo 127 da Constituição, é uma
instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbida de
defender a ordem jurídica, o regime democrático e os interesses individuais
indisponíveis (BRASIL, 2006).
Ao Ministério Público ainda não lhe conferiu garantias com o escopo de
assegurar o pleno exercício de suas funções, de modo a afastar a interferência
nociva de injunções políticas e anseios alheios ao interesse público. Mas, o
Ministério Público possui legitimidade, pelo artigo 129 da CF/88, para promover a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses
difusos e coletivos. Devido a isso, se credita eficácia ao Ministério Público frente à
improbidade administrativa.
27

Cabe ao Ministério Público, para assegurar o interesse coletivo, agir de


maneira a transformar o servidor público em ser fiel de uma legalidade abstrata e
indiferente às peculiaridades. Daí a necessidade de se estudar a atuação do
Ministério Público, não de forma isolada, mais em consonância com a realidade
social, de maneira a não restar prejudicada sua função ministerial (DINAMARCO,
2005).
A Lei de Improbidade dispõe sobre as sanções aplicáveis aos servidores
públicos ímprobos no exercício de mandato e divide a improbidade em três atos.
Esses atos, de acordo com a Constituição, importarão nas possíveis sanções
impostas na forma e gradação prevista na Lei n. 8.429/92, sem prejuízo da ação
penal cabível.

a) Que atentem contra os princípios de uma administração proba e justa.


b) Que causem lesão ao erário seja por ação ou omissão do agente;
c) Que importem enriquecimento ilícito do agente público.

Portanto, o Ministério Público tem como dever apurar o ato ímprobo que
tipifique um ilícito administrativo e tem à sua disposição o inquérito civil 2. A partir de
uma análise, cabe ao Ministério Público, se achar conveniente, propor a ação civil
pública para a defesa da probidade administrativa. As investigações realizadas no
comportamento social devem demonstrar que, apesar da morosidade no tramite
judicial das ações de improbidade, a atuação do Ministério Público, apurando os
atos dos agentes ímprobos, instaurando inquérito civil e propondo ações quando
necessário, vem causando uma série de modificações no comportamento dos
cidadãos. (BARBOSA, 2009).
Martins Junior (2015) relata dois casos de ações do Ministério Público na
fiscalização dos princípios, a exemplo da legalidade das contas públicas, a
impessoalidade e moralidade na gestão dos recursos públicos e, no que tange a
fiscalização dos atos da administração.
Em 1998, três cidadãos, domiciliados em um distrito judiciário da
Comarca de Recife, ingressaram, no Ministério Público, com representação contra a
edilidade (conjunto dos edis ou vereadores, assembleia legislativa municipal, câmara
2
Inquérito civil é o nome dado a um procedimento administrativo inquisitivo, cuja instauração e
presidência são exclusivas do Ministério Público. Entre outros fins, visa a colher evidências e provas a
serem levadas à Justiça, por meio da ação civil pública.
28

municipal) daquela unidade, expondo que os mesmos estavam a perceber, desde o


início do ano de 1995, subsídios no valor de R$ 11.000,00 (onze mil reais), enquanto
que os membros da assembleia legislativa, a mesma época, recebiam cerca de R$
7.000,00 (sete mil reais) mensais.
Alegavam, ainda, que os Edis tinham o hábito de realizar viagens
mensais, visando, unicamente, o recebimento de diárias. Acolhida a representação,
instaurou-se inquérito civil, com ampla divulgação pela imprensa escrita
pernambucana, para apurar a sua veracidade. No mesmo mês, os vereadores
daquela localidade reduziram seus subsídios para R$ 5.000,00 (cinco mil e
quinhentos reais), devolvendo aos cofres públicos, conforme determinação do
Tribunal de Contas dos Municípios, a importância percebida a maior.
Houve uma sensível redução no pagamento de diárias, culminando,
também, com a modificação da assessoria judiciária da casa legislativa. Porém, fato
importante e revelador da eficácia social da atuação do Ministério Público, foi que,
na próxima eleição municipal, somente três vereadores foram reeleitos. Salienta-se
que na eleição municipal anterior, realizada em 1996, com exceção de um vereador,
todos os demais foram reeleitos.
Em outro exemplo, se expõe que um eleitor decidiu punir os maus
gestores nas eleições municipais de 2000, no Estado de Goiás, vez que dos 246
(duzentos e quarenta e seis) prefeitos, apenas 103 (cento e três) foram reeleitos.
Dentre os prefeitos reprovados reprovados há um ponto em comum: todos estão
envolvidos em atos de improbidade administrativas, que estavam sendo apurados
pelo Ministério Público, com fundamento na Lei n. 8.429/92.
Neste sentido, dá para observar que, mesmo com o poder econômico
oriundo da máquina administrativa, os prefeitos ímprobos, na sua maioria, não foram
reeleitos, o que traduz o efeito social na atuação do Ministério Público no combate à
improbidade.
Nesta mesma linha, a revista ISTOÉ (2000), traz urna reportagem sobre a
análise dos resultados da última eleição municipal. De acordo com a reportagem da
revista, os prefeitos parecem ter sido julgados, pelos eleitores, de forma mais técnica
que nas eleições. Os candidatos que se mostraram competentes e honestos
acabaram por permanecer no cargo, outros que não tiveram esta postura ficaram
pelo caminho.
29

Percebeu-se que a sociedade não mais aceita, pacificamente, os maus


gestores. A sociedade brasileira começa a se conscientizar que possui direito
público subjetivo a uma administração honesta. Entende-se que fatos como este
vem se intensificando mais com o passar de cada pleito, cuja clarividência verificou-
se nas eleições, pode ser, em parte, atribuída a atuação do Ministério Público no
combate a improbidade. Para Fagundes (2013, p. 182) “a ação administrativa jamais
poderá distanciar-se dos princípios que rondam a administração pública”. E não se
pode deixar de afirmar que a lei de improbidade administrativa, manuseada pelo
Ministério Público, preocupado em exercer suas atribuições constitucionais, tem
trazido significativas modificações no trato da coisa pública.
No que pertence a legitimação do Ministério Público na ação em defesa
da probidade administrativa fica, ao seu exclusivo encargo, a iniciativa de demandas
que visem a proteção de interesses relevantes. Assim, se a autoridade
administrativa for omissa no seu dever de zelar pelo patrimônio público lá estará o
Ministério Público para apurar o ato de improbidade.

2.2.1 Controle do enriquecimento do servidor público

Devido a previsão da modalidade de improbidade por causa do


enriquecimento desproporcional do servidor público em comparação com seus
rendimentos, torna-se preciso a utilização de mecanismos que visem a um melhor
monitoramento da evolução patrimonial desses funcionários do estado (BARBOSA,
2009).
A improbidade administrativa se origina de toda conduta ilegal, seja ela,
dolosa ou culposa do servidor público no exercício de função pública, ofendendo os
princípios constitucionais da Administração Pública. O servidor público ímprobo é
aquele que atua de forma desleal no desempenho das suas funções, utiliza-se do
cargo em benefício próprio, que transgride as normas da legislação vigente e da
moral. O desvio de verbas públicas e a exigência de propinas são exemplos de atos
praticados por servidores ímprobos.
Um dos mecanismos utilizados para verificar a evolução patrimonial está
no artigo 13 da lei 8429/92, que prevê a obrigatoriedade da apresentação e
atualização anual da declaração de bens que compõem o patrimônio do agente
público, sob pena de demissão a bem do serviço público, como segue:
30

“Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicionados à


apresentação de declaração dos bens e valores que compõem o seu
patrimônio privado, a fim de ser arquivada no serviço de pessoal
competente.
§ 1° A declaração compreenderá imóveis, móveis, semoventes, dinheiro,
títulos, ações, e qualquer outra espécie de bens e valores patrimoniais,
localizado no País ou no exterior, e, quando for o caso, abrangerá os bens e
valores patrimoniais do cônjuge ou companheiro, dos filhos e de outras
pessoas que vivam sob a dependência econômica do declarante, excluídos
apenas os objetos e utensílios de uso doméstico.
§ 2º A declaração de bens será anualmente atualizada e na data em que o
agente público deixar o exercício do mandato, cargo, emprego ou função.
§ 3º Será punido com a pena de demissão, a bem do serviço público, sem
prejuízo de outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a
prestar declaração dos bens, dentro do prazo determinado, ou que a prestar
falsa.
§ 4º O declarante, a seu critério, poderá entregar cópia da declaração anual
de bens apresentada à Delegacia da Receita Federal na conformidade da
legislação do Imposto sobre a Renda e proventos de qualquer natureza,
com as necessárias atualizações, para suprir a exigência contida no caput e
no § 2° deste artigo.” (BRASIL, 2006).

Este controle objetiva acompanhar a evolução patrimonial dos servidores


públicos avaliando sua legitimidade, como também instruindo para eventual pedido
de indisponibilidade de bens. Entretanto, a Lei 8730/93 prevê a obrigatoriedade da
declaração de bens e rendas para o exercício de funções nos Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário:

“Art. 2º. A declaração a que se refere o artigo anterior, excluídos os objetos


e utensílios de uso doméstico de módico valor, constará de relação
pormenorizada dos bens imóveis, móveis, semoventes, títulos ou valores
mobiliários, direitos sobre veículos automóveis, embarcações ou aeronaves
e dinheiros ou aplicações financeiras que, no País ou no exterior,
constituam, separadamente, o patrimônio do declarante e de seus
dependentes, na data respectiva.” (BRASIL, 2006).

A Lei 8730/93 instituiu o controle externo da matéria ao exigir dos


servidores públicos remetam cópia da declaração de bens ao Tribunal de Contas da
União. Já o artigo 13, da Lei 8429/92, foi regulamentado pelo Decreto 5483/05,
prevendo ao Poder Executivo Federal, a competência da Controladoria Geral da
União para analisar a evolução patrimonial do servidor público:

“Art. 7º. A Controladoria-Geral da União, no âmbito do Poder Executivo


Federal, poderá analisar, sempre que julgar necessário, a evolução
patrimonial do agente público, a fim de verificar a compatibilidade desta com
os recursos e disponibilidades que compõem o seu patrimônio, na forma
prevista na Lei no 8.429/92, observadas as disposições especiais da Lei no
8.730/93” (BRASIL, 2005, grifo meu).
31

Além de regulamentar o artigo 13, este decreto instituiu um procedimento


administrativo investigativo sigiloso, sem caráter punitivo, objetivando a apuração de
indícios de enriquecimento ilícito de servidores públicos que tenham um patrimônio
incompatível com a renda declarada. Já a Lei 9504/97, estabelece normas para os
pleitos, prevendo a obrigatoriedade de entrega da declaração de bens para o
registro dos candidatos:

“Art. 11. Os partidos e coligações solicitarão à Justiça Eleitoral o registro de


seus candidatos até as dezenove horas do dia 5 de julho do ano em que se
realizarem as eleições.
§ 1º O pedido de registro deve ser instruído com os seguintes documentos:
IV - declaração de bens, assinada pelo candidato;” (BRASIL, 2006).

Por vezes, relata Barbosa (2009), há casos que servidores ímprobos que
utilizam de artifícios com o objetivo de manter em sigilo na aquisição de vantagens
indevidas, utilizando pessoas interpostas e declaração de bens com valores abaixo
dos reais. Há um artigo, na Lei de Improbidade, respalda qualquer pessoa o direito
de peticionar à autoridade administrativa a instauração de investigação, noticiando
fato que possa evidenciar um ato improbidade administrativa: “Art. 14. Qualquer
pessoa poderá representar à autoridade administrativa competente para que seja
instaurada investigação destinada a apurar a prática de ato de improbidade”.
(BRASIL, 2006).

2.3 SANÇÕES: NATUREZA JURÍDICA

A natureza jurídica das sanções é objeto de intensas e acaloradas


discussões no âmbito jurídico, derivadas de diferentes doutrinas. Enfatiza-se- que
esta natureza jurídica é importante para o delineamento de qual instância irá julgar o
servidor público. A lei de improbidade administrativa constitui em um importante
marco histórico na proteção da moral administrativa e do erário público, sobretudo
considerando a história do Brasil com diversos casos de corrupção praticados por
seus servidores públicos.
A fim de que a lei de improbidade fosse dotada de efetividade no controle
às condutas ilícitas se prevê sanções taxativas seguindo o comando constitucional
do artigo 37, §4º, da Constituição Federal de 1988. Porém, em razão de diversos de
comandos, ainda se discute, no seio das doutrinas, a real natureza jurídica de tais
32

sanções legais. Candido (2010, p. 205) entende que “nenhuma das sanções
nomeadas são de índole criminal”. A norma constitucional mencionada é sem
prejuízo da ação penal cabível. O artigo 12 enfatiza que "independente das sanções
penais, civis e administrativas, previstas na legislação específica, está o responsável
pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações [...]” (BRASIL, 2006).
Fazzio (2008, p. 177) entende que “essas sanções podem ser enxergadas
como reações sociais, plasmadas nas normas, em face da inobservância de deveres
relevantes para a produção e reprodução da vida em sociedade.” Como já foi dito
anteriormente, o artigo 37, estabelece quatro consequências legais para a prática do
ato de improbidade: suspensão dos direitos políticos, perda da função pública,
indisponibilidade dos bens e obrigação de ressarcir o erário.
A lei prevê gradação para as sanções, a partir de penalidades mais
graves ou severas para as ações que importem enriquecimento ilícito. Essa
gradação se reflete somente em três variáveis: o prazo para suspensão dos direitos
políticos, o prazo para proibição de contratar com o Poder Público ou receber
investimentos e financiamentos e o valor da multa.

Para as ações que lesionam ao erário e, para as condutas atentatórias aos


princípios da administração pública, o artigo 12, III, estabelece sanções
constituídas de ressarcimento do dano, pagamento de multa civil, perda dos
bens, perda da função pública, proibição de contratar com o Poder Público,
de receber benefícios fiscais ou creditícios e suspensão dos direitos
políticos. (DELGADO, 2012, p. 131).

Em função do texto constitucional que usa a expressão ‘sem prejuízo da


ação penal cabível’, aliado ao disposto as penalidades aplicadas independente das
sanções penais previstas na legislação. Existe um espectro mínimo de sanções,
como comenta Fazzio (2008, p. 172), um “piso de previsão sancionatória” que pode
ser ampliado por legislação ordinária. As sanções previstas na lei de improbidade
têm um caráter autônomo, independente das sanções aplicada na esfera penal.
A lei é sistemática ao designar sanções para cada tipo de ato de
improbidade. Sendo assim, para uma conduta que se configure em enriquecimento
ilícito serão aplicadas as sanções dispostas no artigo 12 da Lei 8429/92. Através das
sanções, o servidor público pode ser condenado a cumprir pena de detenção, além
33

de ter sido demitido após o devido processo administrativo e ter seus direitos
políticos suspensos.
Sobre as diferentes doutrinas comentadas no início deste tópico, se
insurgem as seguintes correntes exaltadas por Di Pietro (2011):

 Administrativa-disciplinar: esta doutrina visualiza a natureza para as


sanções previstas na lei de improbidade que responsabiliza o servidor
público, por atos praticados em razão do exercício do cargo, função,
mandato ou emprego. As sanções podem ser híbridas, envolvendo o
dever civil de reparar o dano causado pelo ato ilícito e a suspensão dos
direitos políticos por seu exercício subvertido, por exemplo;
 Político-administrativas: esta doutrina afirma que os atos de
improbidade são espécies do mesmo gênero dos crimes de
responsabilidade previstos na Lei 1079/503.
 Natureza penal: essa doutrina sustenta que as sanções teriam
natureza penal. As sanções possuem natureza restritiva de direitos,
exorbitando o cunho meramente patrimonialista;
 Por competência: essa doutrina afirma que as sanções legais são
dotadas ‘de forte conteúdo penal’, pela simples possibilidade de
suspensão de direitos políticos, ou a perda da função pública,
isoladamente consideradas;
 Natureza pecuniária: essa doutrina age sobre um contexto capitalista
de indenização ou multa revelando-se mais pesada do que outra
restrição de direitos.

Porém, a natureza cível das sanções parece a tese mais apropriada e


razoável. Di Pietro (2011) elenca algumas razões para se aderir à tese da natureza
jurídica cível das sanções:

3
Define os crimes de responsabilidade e regula o respectivo processo de julgamento. Art. 9º São
crimes de responsabilidade contra a probidade na administração: omitir ou retardar dolosamente a
publicação das leis e resoluções do Poder Legislativo; não prestar ao Congresso Nacional dentro de
sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas relativas ao exercício anterior; não
tornar efetiva a responsabilidade dos seus subordinados; expedir ordens ou fazer requisição de forma
contrária às disposições expressas da Constituição; infringir no provimento dos cargos públicos, as
normas legais; proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decôro do cargo.
34

 Regulamentando esse dispositivo constitucional, dispõe o art. 12 da Lei


nº 8.429/92 que as sanções serão aplicadas independente de outras de
natureza penal;
 O artigo 37 da Constituição, estabelece as sanções para os atos de
improbidade e prevê que estas serão aplicadas de acordo com a
gradação prevista na legislação;
 O processo criminal exige expressa caracterização da conduta como
infração penal, sendo relevante frisar que ela produzirá variados efeitos
secundários;
 As condutas ilícitas elencadas nos artigos 9º, 10, e 11 da Lei de
Improbidade apresentam incompatibilidade com o princípio da estrita
legalidade que rege a seara penal, segundo a qual a norma
incriminadora deve conter expressa e prévia descrição da conduta
criminosa;
 A aplicação das sanções elencadas no artigo 12 da Lei de Improbidade
pressupõe o ajuizamento de ação civil, possuindo legitimidade ativa,
enquanto que as sanções penais são aplicadas em ações de igual
natureza, tendo legitimidade, salvo as exceções constitucionais,
unicamente o Ministério Público;
 O uso do vocábulo “pena” no artigo 12 da Lei nº 8.429/92 não tem o
condão de alterar a essência dos institutos, máxime quando a
similitude com o direito penal é meramente semântica;
 A referência a ‘inquérito policial’ no artigo 22 da Lei nº 8.429/92
também não permite a vinculação dos ilícitos previstos neste diploma
legal à esfera penal, já que o mesmo dispositivo estabelece a
possibilidade de o Ministério Público requisitar a instauração de
processo administrativo e não exclui a utilização do inquérito civil
previsto na Lei nº 7.347/85.

Como podemos notar, a Lei n° 8.4291/92 apresenta-se como instrumento


importante para assegurar-se a probidade administrativa, resguardando o patrimônio
público e o respeito aos princípios da salutar administração.
35

2.4 ÉTICA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Ética é o nome dado ao estudo dedicado aos assuntos morais. A palavra


ética é derivada do grego, e significa aquilo que pertence ao caráter. Em um sentido
menos filosófico e mais prático, Costa (2011, p. 21) entende melhor o conceito de
ética “examinando condutas do nosso cotidiano”. Por exemplo, quando nos
referimos ao comportamento de alguns profissionais tais como um médico,
jornalista, advogado, empresário ou funcionário público. Para estes casos, é
bastante comum ouvir expressões como: ética médica, ética jornalística, ética
empresarial e ética pública.
A corrupção é um problema de ordem ética, pois retira do Estado as
condições necessárias para prover as necessidades de seus cidadãos, desviando os
recursos para a satisfação de interesses particulares, os quais deveriam ser
aplicados em benefício de toda a coletividade.
Uma vez que é por meio das atividades desenvolvidas pela Gestão
Pública que o Estado alcança seus fins, seus servidores são os responsáveis pelas
decisões e execução das mesmas. Habituada a ver manifestações de
comportamento adversas das que a legislação e os princípios ditam, a sociedade
tem agido de maneira a desconfiar da conduta ética de seus servidores públicos. A
mídia deu maior visibilidade às práticas corruptas ocasionando cobranças para que
esses servidores atuem de maneira a imprimir segurança e clareza em suas ações.
Para que não se desvirtuem das finalidades estatais a Gestão Pública se
submete às normas constitucionais e às leis especiais. Isso tudo por objetivar um
comportamento ético por parte de todas pessoas que servem ao povo (ROCHA,
2010). A Gestão pública deve pautar seus atos pelos princípios da Constituição
Federal de 1988. Tratam-se dos princípios constitucionais citados no início deste
trabalho e tendo os principais sendo relembrado agora por De Moura (2010):
Para que a Gestão Pública haja sempre em consonância com os
principais princípios constitucionais impostos, é preciso que se sujeite ao controle
por parte dos Poderes Legislativo e Judiciário. Por conseguinte, agir com base nos
princípios éticos não pode ser dissociado das atividades para as quais o servidor
público foi designado, onde estas estão delimitadas, tendo o mesmo que cumpri-las
conforme definido e amparado por lei. Por meio de poderes dados pela Constituição
Federal, os servidores podem provocar o procedimento de controle, visando não
36

somente à defesa de interesses individuais como de interesses coletivos (GRAU,


1990).

Legalidade, como
princípio da
administração
(CF, art. 37,
caput)

Eficiência, atividade Moralidade, da


administrativa seja moral jurídica,
exercida com regras de conduta
presteza, perfeição tiradas da
e rendimento disciplina interior
funcional. da Administração

Publicidade, é a Impessoalidade,
divulgação oficial nada mais é que
do ato para o clássico
conhecimento princípio da
público finalidade

ESQUEMA 2: PRINCIPAIS PRINCIPIOS CONSTIUCIONAIS


Fonte: De autoria do acadêmico segundo DE MOURA (2010).

De acordo com Badaró (2003, p. 159) “o Ministério Público desempenha


importante papel no controle dos atos administrativos, sendo, hoje, o órgão mais
bem estruturado para tal finalidade”. Mas Badaró também observa que algumas
condutas que configuram infração ética também podem configurar ato de
improbidade administrativa ou crime.

Atualmente temos presenciado uma nova gestão preocupada com a


preparação dos servidores públicos para uma prestação de serviços
eficientes que atendam ao interesse público. Com a vigência da
Constituição Federal de 1988, a Gestão Pública no Brasil passou a buscar
uma gestão mais eficaz e moralmente comprometida com o bem comum.
Por isso, a Gestão Pública vem implementando políticas públicas com o
foco em uma gestão mais austera, com revisão de métodos e estruturas
burocráticas de governabilidade (OSÓRIO, 2013, p. 243).

Desta forma, a aplicação das sanções administrativas, civis e penais


poderá ocorrer de maneira cumulativa (híbrida, como dito anteriormente), salvo as
hipóteses previstas nos artigos 65 e 66 do CPP:
37

 Se a sentença criminal reconhecer, categoricamente, a inexistência


material do fato;
 Se a sentença penal faz coisa julgada também no cível, como nos
casos de exclusão da antijuridicidade, quais sejam: ato praticado em
estado de necessidade, legitima defesa, estrito cumprimento do dever
legal ou exercício regular de direito.

Alvarenga (2012) apresenta os assuntos regulados, ao mesmo tempo,


pelos códigos de ética, pela lei que normatiza o regime disciplinar dos servidores
públicos, pela lei de improbidade administrativa e pelo Código penal. Foi colocado
em forma de tabela para melhor visualização e comparação das ações:

AÇÕES REGULAÇÃO NO ORNAMENTO JURÍDICO


 Crime de corrupção passiva quando solicita ou recebe vantagem
indevida para praticar ato inerente à função, seja o ato lícito ou não
(art. 317 do Código Penal -CP);
 Crime de concussão quando exige vantagem indevida para praticar
ato inerente à função, seja o ato lícito ou não (art. 316 do CP);
 Ato de improbidade administrativa, nas diversas das modalidades
previstas nos arts. 9º e 10 da Lei n. 8.429/92 e, especialmente, na
Uso indevido prevista no inciso X do art. 9º: "receber vantagem econômica de
cargo qualquer natureza, direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício,
providência ou declaração a que esteja obrigado");
 Infração disciplinar grave quando usa do cargo para lograr proveito
pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função pública
(Lei n. 8.112/90 - RJU, art. 117, IX);
 Infração ao Código de Ética do Servidor ("uso do cargo ou função,
facilidades, amizades, tempo, posição e influências, para obter
qualquer favorecimento, para si ou para outrem", XV, "a").
 Só é crime se caracterizada a corrupção ou a concussão;
 Ato de improbidade administrativa, nas diversas das modalidades
previstas nos arts. 9º, da Lei n. 8.429/92, e, especialmente, na prevista
no inciso VII ("adquirir, para si ou para outrem, no exercício de
mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer
natureza cujo valor seja desproporcional à evolução patrimônio ou à
Enriquecimento renda do agente público");
 Infração disciplinar grave se comprovado que recebeu propina ou
ilícito
comissão em razão de suas atribuições (RJU, art. 117, XII);
 Infração ao Código de Ética do Servidor ("pleitear, solicitar,
provocar, sugerir ou receber qualquer tipo de ajuda financeira,
38

gratificação, prêmio, comissão, doação ou vantagem de qualquer


espécie, para si, familiares ou qualquer pessoa, para o cumprimento
da sua missão ou para influenciar outro servidor para o mesmo fim" –
item XV, "g");
 Crime de advocacia administrativa (patrocinar interesse privado
perante a administração pública, valendo-se da Qualidade de
funcionário - art. 321, do CP);
 Crime definido na Lei de Licitações, Lei n. 8.666/93 (patrocinar,
direta ou indiretamente, interesse privado perante a Administração,
dando causa à instauração de licitação ou à celebração de contrato,
Tráfico de
cuja invalidação vier a ser decretada pelo Poder Judiciário (art. 91);
influência  Ato de improbidade administrativa ("perceber vantagem econômica
para intermediar a liberação ou aplicação de verba pública de
qualquer natureza" - art. 9o, IX);
 Infração disciplinar grave ("atuar, como procurador ou intermediário,
junto a repartições públicas, salvo quando se tratar de benefícios
previdenciários ou assistenciais de parentes até o segundo grau, e de
cônjuge ou companheiro" – RJU, art. 117, XI);
 Crime de violação de sigilo funcional (revelar fato de que têm
ciência em razão do cargo e que deva permanecer em Segredo (art.
325, do CP);
 Crime definido na Lei de Licitações (devassar o sigilo de proposta
apresentada em procedimento licitatório, ou proporcionar a terceiro o
ensejo de devassá-lo (art. 94);
Violação de sigilo
 Ato de improbidade administrativa (revelar fato ou circunstância de
que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em
segredo (art. 11, III);
 Infração disciplinar grave (revelar segredo do qual se apropriou em
razão do cargo - art. 132, IX, do RJU);
 Não há norma definindo-o como crime;
 Ato de improbidade administrativa, desde que se enquadre na
seguinte definição: "revelar ou permitir que chegue ao conhecimento
de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida
política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou
serviço" (art. 11, VII);
 Infração ao Código de Ética do Servidor ("fazer uso de informações
Uso de informação privilegiadas obtidas no âmbito interno de seu serviço, em benefício
privilegiada próprio, de parentes, de amigos ou de terceiros" (item XV, "m");
 Infração ao CCAAF, se prestar consultoria a pessoa física ou jurídica,
após deixar o cargo, valendo-se de informações não divulgadas
publicamente a respeito de programas ou políticas do órgão ou da
entidade da Administração Pública Federal a que esteve vinculado ou
com que tenha tido relacionamento direto e relevante nos seis meses
anteriores ao término do exercício da função pública (art. 14, II);
embora o Código somente faça referência expressa a este tipo de
restrição, após a autoridade deixar o cargo, torna-se óbvio, com
39

muito mais razão, que ela também se aplica durante o exercício dele.
 Não há norma definindo-a como crime;
 Ato de improbidade administrativa, se configurar conflito de
interesses ("aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de
consultoria ou assessoria para pessoa física ou jurídica que tenha
interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão
decorrente das atribuições do agente público, durante a atividade", art.
9º, VIII);
 Infração disciplinar grave, se participar de gerência ou
administração de empresa privada, de sociedade civil, ou exercer o
comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comandatário
(art. 117, X, do RJU); esta proibição é normalmente burlada mediante
o afastamento, apenas formal, da gerência ou administração de
empresa de que o servidor participe;
Atividade paralela
 Não há regra específica no Código de Ética do Servidor;
ao serviço público O CCAAF proíbe a autoridade de receber salário ou qualquer outra
remuneração de fonte privada em desacordo com a lei. Também a proíbe
de receber transporte, hospedagem ou quaisquer favores de particulares,
de forma a permitir situação que possa gerar dúvida sobre a sua
probidade ou honorabilidade. Ressalva-se desta proibição a participação
em seminários, congressos e eventos semelhantes, desde que seja
tornada pública eventual remuneração e pagamento das despesas de
viagem pelo promotor do evento, o qual não poderá ter interesse em
decisão a ser tomada pela autoridade (art. 7 º); É permitido o exercício não
remunerado de encargo de mandatário, desde que não implique a prática
de atos de comércio ou quaisquer outros incompatíveis com o exercício
do cargo ou função, nos Termos da lei (art. 8º). As leis que tratam desta
questão são a Lei de Improbidade Administrativa e a Lei do RJU,
mencionadas acima.

 Configura crime de corrupção passiva se o funcionário o recebe


para praticar ou deixar de praticar ato inerente à sua função;
 Configura ato de improbidade administrativa se o funcionário o
recebe de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser
atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente de suas
atribuições. Neste caso, não é necessário que tenha praticado ou
deixado de praticar o ato; basta a possibilidade de poder agir ou
deixar de agir em favor de quem lhe deu o presente;
 É vedado pelo Código de Conduta da Alta Administração Federal,
salvo se o presente for oferecido por autoridade estrangeira, nos
casos protocolares em que houver reciprocidade. Esse Código faz
uma distinção entre presente e brinde. Não considera como presente
os brindes que não tenham valor comercial nem os distribuídos por
entidades de qualquer natureza, a título de cortesia, propaganda,
Presentes divulgação habitual ou por ocasião de eventos especiais ou datas
40

comemorativas, desde que não ultrapassem o valor de R$ 100,00


(cem reais). Os brindes assim considerados são permitidos. A
Resolução n. 3, de 23 de novembro de 2000, da Comissão de Ética
Pública, esclarece os casos em que o recebimento de presente, de
qualquer valor, é proibido e, também, os casos em que é permitido,
mesmo que ultrapasse o limite de R$ 100,00.

As leis penal, de improbidade administrativa e o do RJU não fazem a


distinção entre brinde e presente, como a faz o Código de Conduta da Alta
Administração Federal. De qualquer forma, as regras estabelecidas tanto
nesse Código quanto na Resolução citada podem servir de parâmetro
para orientar a aplicação dessas leis.

 Constitui crime definido na Lei de Licitações, sob as seguintes


modalidades: a) admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer
modificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em favor
de adjudicatário, durante a execução dos contratos, sem autorização
Imparcialidade em lei, no ato convocatório da licitação ou nos respectivos
instrumentos contratuais (art. 92, 1ª parte); e, b) pagar fatura com
preterição da ordem cronológica de sua apresentação (art. 92, 2 ª
parte);
 Constitui ato de improbidade administrativa, sempre que o
servidor violar o dever de parcialidade (art. 11, caput);
 Não há norma definindo-o como crime;
 A Lei da Improbidade Administrativa não tem uma regra específica
para este assunto. Trata-o, no entanto, quando se refere ao
recebimento de dinheiro, bem móvel ou imóvel, gratificação, presente
ou qualquer vantagem econômica de quem tenha interesse suscetível
de ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das
Conflito de
atribuições do agente público ou quando este aceita emprego,
interesses comissão ou exerce atividade de consultoria ou assessoria para
pessoa física ou jurídica, em iguais circunstâncias (art. 9º, II e VIII);
 O RJU também não tem uma regra específica para este assunto.
Há, no entanto, proibição de o servidor participar de gerência ou
administração de empresa privada e de sociedade civil, ou exercer o
comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comandatário
(art. 117, X. A razão que justifica a existência dessa norma é a de
evitar conflito de interesses;
Este assunto é tratado, apenas, no Código de Conduta da Alta
Administração Federal, que estabelece uma quarentena de quatro
meses, após deixar o cargo, para que a autoridade possa exercer
atividade ou defesa de interesse de pessoa com quem tenha mantido
relacionamento oficial direto nos seis meses anteriores à exoneração (art.
Quarentena 15); também a proíbe de prestar consultoria a pessoa física ou jurídica,
após deixar o cargo, valendo-se de informações não divulgadas
41

publicamente a respeito de programas ou políticas do órgão ou da


entidade da Administração Pública Federal a que esteve vinculado ou com
que tenha tido relacionamento direto e relevante nos seis meses
anteriores ao término do exercício da função pública (art. 14).
TABELA: ASSUNTOS REGULADOS NO ORNAMENTO JURÍDICO
Fonte: De autoria do acadêmico segundo ALVARENGA (2012).

As funções atribuídas pelo artigo 129 da Constituição Federal, onde, além


da função de denunciar servidores públicos por crimes praticados no exercício de
suas funções, tem ainda competência para realizar o inquérito civil, objetiva a
reprimenda de atos de improbidade administrativa e resguardar interesses coletivos
e difusos (CARVALHO FILHO, 2012). Há outras normas podem ser encontradas no
ordenamento jurídico e que contribuem para elevar o padrão ético na administração
pública e editadas visando a dar efetividade a alguns dos direitos fundamentais que
a Constituição Federal de 1988. São as elencadas por Garcia (2010) e que se
relaciona abaixo:

- Direito ao contraditório e à ampla defesa (art. 5, LV);


- Direito de receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, no prazo que a lei estipular (art. 5, XXXIII);
- Direito de petição aos poderes públicos em defesa de direitos ou contra
ilegalidade ou abuso de poder, e a obtenção de certidões em repartições públicas,
para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal (art. 5,
XXXIV, “a” e “b”);

A Lei nº 9.784/99 é uma lei nacional, ou seja, aplicável em todos os níveis


de governo: federal, estadual e municipal. Em que pese a sua alta relevância para o
exercício da cidadania não estabelecendo sanção para o caso de não observância
de seus preceitos. Também não prevê a legislação a criação de qualquer canal que
permita ao cidadão prejudicado levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente para apurá-lo. Porém, o poder-dever que a lei atribui aos órgãos
públicos de controlar os atos emanados pela Administração não pode ser
renunciado sob pena de responsabilização de quem se omitiu, sendo que tal
42

controle abrange a fiscalização e a correção dos atos ilegais, bem como, dos
inoportunos ou inconvenientes para o interesse público (PEREIRA, 2011).
As atuais gestões públicas procuram colocar à disposição do cidadão
instrumentos eficientes para possibilitar uma fiscalização dos serviços prestados e
das decisões tomadas pelos governantes. Tais instrumentos têm possibilitado aos
Órgãos Públicos a fiscalização da ética na gestão em apresentar resultados
positivos no desempenho de suas funções, cobrando atitudes de moralidade por
parte dos servidos públicos (FIGUEIREDO, 2010).
43

CONCLUSÃO

Este trabalho objetivou a análise dos principais aspectos da Lei de


Improbidade Administrativa, Lei nº 8.429/92, especialmente as questões
relacionadas às categorias dos atos de improbidade na gestão pública e sua
influência. Também procurou dar ênfase aos requisitos necessários à instrução do
procedimento administrativo e à ação judicial de improbidade administrativa.
A reflexão sobre a influência do cumprimento legal nos resultados da
gestão pública, observou-se através da eficácia normativa. Trouxe à discussão os
aspectos controversos relacionados à aplicação da Lei de Improbidade e os
prejuízos, de toda ordem, que causam à Gestão Pública e, por consequência, à toda
população brasileira. Portanto, este trabalho abriu as portas para novas reflexões
sobre o tema, sobretudo no referente à interpretação das leis.
A improbidade nos serviços públicos é um tipo de corrupção que causa
insustentabilidade socioeconômica somente minimizada a partir da criação de leis
especificas para combate-la efetivamente. Neste caso, o país absorveu novas
políticas como a efetiva aplicabilidade da Lei n. 12.846/13, por exemplo.
Após a discussão acerca do tema, observou-se que na atual Gestão
Pública já não há mais lugar para uma administração destoante dos fins sociais do
Estado Democrático de Direito. Ficou claro que toda gestão pública deve estar
fundada nos princípios constitucionais que regem a Administração Pública no país,
ficando, os servidores públicos, sujeitos ao controle administrativo, judicial e social
em todas as suas decisões administrativas desenvolvidas no âmbito público.
O trabalho tratou ainda da questão da ética na Gestão Pública sendo
necessária a conscientização de toda a sociedade, de maneira que todos os
cidadãos passem a atuar na fiscalização de uma governabilidade correta e eficaz.
Para isso, os princípios democráticos devem ser entendidos e repensados pelo
cidadão brasileiro para que se possa mudar o comportamento de toda a sociedade
com vistas a atingir o objetivo maior de obter uma Gestão Pública totalmente ética,
atuando, acima de tudo, em prol do cidadão em geral.
É notório que a Gestão Pública deve investir em preparação e atualização
de seus servidores públicos para proporcionar-lhes condições de prestar um serviço
público voltado ao interesse geral da sociedade. E, neste sentido, pode-se observar
que nosso país está começando a dar os primeiros passos ao desenvolvimento,
44

embora muito ainda esteja por fazer. Também deve-se ressaltar a importância da
mudança de comportamento do servidor no sentido de identificar-se com o fim social
da Gestão Pública e lutar para a obtenção de todas as finalidades almejadas pelo
Estado Democrático de Direito.
Diante todo o exposto, como é possível notar que, no Brasil, a atual, A
Constituição Federal de 1988 rompeu com o conciso doutrinamento vigente das leis
constitucionais anteriores, que combatiam a corrupção apenas pela seara criminal e
pelos crimes de responsabilidade. Nossa atual Lei Maior impôs o comportamento
honesto na Gestão Pública e a moralidade como valores fundamentais, por serem
essenciais à própria existência do Estado Democrático de Direito. Destacou o
princípio da probidade, bem como instaurou um capítulo autônomo para tratar da
Administração com um dispositivo próprio para as penalidades aos atos da
improbidade administrativa.
Este trabalho finaliza concluindo que a transgressão formal à referida lei
não seria suficiente para a caracterização da improbidade. Mas ainda, restou
observar os requisitos e fundamentos jurídicos que estão sendo adotados pela atual
doutrina e jurisprudência com o intuito de traçar uma disparidade entre uma ação,
que infringiria um princípio e seria caracterizada como ímproba. Combater a
improbidade na Gestão Pública é uma tarefa árdua e complexa, no entanto é
importante ressaltar que o interesse coletivo seja o único objetivo a ser buscado a
fim de pontuá-los, caracterizá-los e diferenciá-los, perante suas essências, para
assim, definir se importariam ou não, nas severas sanções previstas pela Lei de
Improbidade Administrativa.
45

REFERÊNCIAS

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47

ANEXOS

Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992.

Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos


nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de
mandato, cargo, emprego ou função na administração
pública direta, indireta ou fundacional e dá outras
providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o Congresso Nacional


decreta e eu sanciono a seguinte lei:

CAPÍTULO I
Das Disposições Gerais

Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor


ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de
empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou
custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do
patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta lei.

Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os atos de


improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção,
benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para
cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de
cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a
sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.

Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que
exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo,
mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.
48

Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que,
mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de
improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.

Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a


velar pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.

Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão, dolosa ou


culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano.

Art. 6° No caso de enriquecimento ilícito, perderá o agente público ou terceiro


beneficiário os bens ou valores acrescidos ao seu patrimônio.

Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou


ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade administrativa responsável pelo
inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do
indiciado.

Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá


sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo
patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.

Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio público ou se


enriquecer ilicitamente está sujeito às cominações desta lei até o limite do valor da
herança.

CAPÍTULO II
Dos Atos de Improbidade Administrativa

Seção I
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Importam Enriquecimento Ilícito

Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento


ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício
de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no
art. 1° desta lei, e notadamente:

I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer


outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem,
gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser
atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente
público;

II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição,


permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas
entidades referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;
49

III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação,


permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal
por preço inferior ao valor de mercado;

IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou


material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das
entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidores
públicos, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;

V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para


tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de
contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de
tal vantagem;

VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para


fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer
outro serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de
mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º
desta lei;

VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego


ou função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à
evolução do patrimônio ou à renda do agente público;

VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou


assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser
atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente
público, durante a atividade;

IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação


de verba pública de qualquer natureza;

X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente,


para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado;

XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou


valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1°
desta lei;

XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do


acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei.

Seção II
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam Prejuízo ao Erário

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário
qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades
referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
50

I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio


particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;

II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens,
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou
regulamentares aplicáveis à espécie;

III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda
que de fins educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do
patrimônio de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem
observância das formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;

IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do


patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a
prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado;

V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por


preço superior ao de mercado;

VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e


regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;

VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das


formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente

VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para


celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los
indevidamente; (Redação dada pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)

IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou


regulamento;

X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que


diz respeito à conservação do patrimônio público;

XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou


influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;

XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;

XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,


equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de
qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de
servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades.
51

XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação
de serviços públicos por meio da gestão associada sem observar as formalidades
previstas na lei; (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)

XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e prévia


dotação orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas na lei.
(Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)

XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorporação, ao


patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores
públicos transferidos pela administração pública a entidades privadas mediante
celebração de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou
regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)
(Vigência)

XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize
bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração pública a
entidade privada mediante celebração de parcerias, sem a observância das
formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei
nº 13.019, de 2014) (Vigência)

XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entidades privadas sem


a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à
espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)

XIX - frustrar a licitude de processo seletivo para celebração de parcerias da


administração pública com entidades privadas ou dispensá-lo indevidamente;
(Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)

XX - agir negligentemente na celebração, fiscalização e análise das prestações


de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades
privadas; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)

XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública com


entidades privadas sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de
qualquer forma para a sua aplicação irregular. (Incluído pela Lei nº 13.019, de
2014) (Vigência)

Seção II-A
(Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016) (Produção de efeito)

Dos Atos de Improbidade Administrativa Decorrentes de Concessão ou


Aplicação Indevida de Benefício Financeiro ou Tributário

Art. 10-A. Constitui ato de improbidade administrativa qualquer ação ou


omissão para conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tributário contrário
ao que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de
julho de 2003. (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016) (Produção de
efeito)
52

Seção III
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Atentam Contra os Princípios da
Administração Pública

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os


princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres
de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e
notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele


previsto, na regra de competência;

II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e
que deva permanecer em segredo;

IV - negar publicidade aos atos oficiais;

V - frustrar a licitude de concurso público;

VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;

VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da


respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o
preço de mercadoria, bem ou serviço.

VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização e aprovação de


contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades
privadas. (Redação dada pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)

IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de acessibilidade previstos na


legislação. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

CAPÍTULO III
Das Penas

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas,


previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade
sujeito às seguintes cominações:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas


previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade
sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou
cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato: (Redação dada pela Lei
nº 12.120, de 2009).

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao


patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública,
suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até
53

três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder


Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
majoritário, pelo prazo de dez anos;

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou


valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda
da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento
de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o
Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
majoritário, pelo prazo de cinco anos;

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da


função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de
multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.

IV - na hipótese prevista no art. 10-A, perda da função pública, suspensão dos


direitos políticos de 5 (cinco) a 8 (oito) anos e multa civil de até 3 (três) vezes o valor
do benefício financeiro ou tributário concedido. (Incluído pela Lei Complementar nº
157, de 2016)

Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta
a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.

CAPÍTULO IV
Da Declaração de Bens

Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicionados à


apresentação de declaração dos bens e valores que compõem o seu patrimônio
privado, a fim de ser arquivada no serviço de pessoal competente. (Regulamento)
(Regulamento)

§ 1° A declaração compreenderá imóveis, móveis, semoventes, dinheiro,


títulos, ações, e qualquer outra espécie de bens e valores patrimoniais, localizado no
País ou no exterior, e, quando for o caso, abrangerá os bens e valores patrimoniais
do cônjuge ou companheiro, dos filhos e de outras pessoas que vivam sob a
dependência econômica do declarante, excluídos apenas os objetos e utensílios de
uso doméstico.

§ 2º A declaração de bens será anualmente atualizada e na data em que o


agente público deixar o exercício do mandato, cargo, emprego ou função.

§ 3º Será punido com a pena de demissão, a bem do serviço público, sem


prejuízo de outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a prestar
declaração dos bens, dentro do prazo determinado, ou que a prestar falsa.
54

§ 4º O declarante, a seu critério, poderá entregar cópia da declaração anual de


bens apresentada à Delegacia da Receita Federal na conformidade da legislação do
Imposto sobre a Renda e proventos de qualquer natureza, com as necessárias
atualizações, para suprir a exigência contida no caput e no § 2° deste artigo .

CAPÍTULO V
Do Procedimento Administrativo e do Processo Judicial

Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade administrativa


competente para que seja instaurada investigação destinada a apurar a prática de
ato de improbidade.

§ 1º A representação, que será escrita ou reduzida a termo e assinada, conterá


a qualificação do representante, as informações sobre o fato e sua autoria e a
indicação das provas de que tenha conhecimento.

§ 2º A autoridade administrativa rejeitará a representação, em despacho


fundamentado, se esta não contiver as formalidades estabelecidas no § 1º deste
artigo. A rejeição não impede a representação ao Ministério Público, nos termos do
art. 22 desta lei.

§ 3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade determinará a


imediata apuração dos fatos que, em se tratando de servidores federais, será
processada na forma prevista nos arts. 148 a 182 da Lei nº 8.112, de 11 de
dezembro de 1990 e, em se tratando de servidor militar, de acordo com os
respectivos regulamentos disciplinares.

Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao Ministério Público e ao


Tribunal ou Conselho de Contas da existência de procedimento administrativo para
apurar a prática de ato de improbidade.

Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho de Contas


poderá, a requerimento, designar representante para acompanhar o procedimento
administrativo.

Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão


representará ao Ministério Público ou à procuradoria do órgão para que requeira ao
juízo competente a decretação do seqüestro dos bens do agente ou terceiro que
tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público.

§ 1º O pedido de seqüestro será processado de acordo com o disposto nos


arts. 822 e 825 do Código de Processo Civil.

§ 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o bloqueio


de bens, contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no
exterior, nos termos da lei e dos tratados internacionais.

Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério
Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da
medida cautelar.
55

§ 1º É vedada a transação, acordo ou conciliação nas ações de que trata o


caput. (Revogado pela Medida provisória nº 703, de 2015) (Vigência
encerrada)

§ 1º É vedada a transação, acordo ou conciliação nas ações de que trata o


caput.

§ 2º A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá as ações necessárias à


complementação do ressarcimento do patrimônio público.

§ 3º No caso da ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público, a


pessoa jurídica interessada integrará a lide na qualidade de litisconsorte, devendo
suprir as omissões e falhas da inicial e apresentar ou indicar os meios de prova de
que disponha.
§ 3o No caso de a ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público,
aplica-se, no que couber, o disposto no § 3o do art. 6o da Lei no 4.717, de 29 de
junho de 1965. (Redação dada pela Medida Provisória nº 1.472-31, de 1996)

§ 3o No caso de a ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público,


aplica-se, no que couber, o disposto no § 3o do art. 6o da Lei no 4.717, de 29 de
junho de 1965. (Redação dada pela Lei nº 9.366, de 1996)

§ 4º O Ministério Público, se não intervir no processo como parte, atuará


obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nulidade.

§ 5o A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações


posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo
objeto. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

§ 6o A ação será instruída com documentos ou justificação que contenham


indícios suficientes da existência do ato de improbidade ou com razões
fundamentadas da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas,
observada a legislação vigente, inclusive as disposições inscritas nos arts. 16 a 18
do Código de Processo Civil. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de
2001)

§ 7o Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a


notificação do requerido, para oferecer manifestação por escrito, que poderá ser
instruída com documentos e justificações, dentro do prazo de quinze dias.
(Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)

§ 8o Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trinta dias, em decisão


fundamentada, rejeitará a ação, se convencido da inexistência do ato de
improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita. (Incluído
pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)

§ 9o Recebida a petição inicial, será o réu citado para apresentar


contestação. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)
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§ 10. Da decisão que receber a petição inicial, caberá agravo de


instrumento. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)

§ 11. Em qualquer fase do processo, reconhecida a inadequação da ação de


improbidade, o juiz extinguirá o processo sem julgamento do mérito. (Incluído
pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)

§ 12. Aplica-se aos depoimentos ou inquirições realizadas nos processos


regidos por esta Lei o disposto no art. 221, caput e § 1o, do Código de Processo
Penal. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 2001)

§ 13. Para os efeitos deste artigo, também se considera pessoa jurídica


interessada o ente tributante que figurar no polo ativo da obrigação tributária de que
tratam o § 4º do art. 3º e o art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de
2003. (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016)

Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de reparação de dano ou
decretar a perda dos bens havidos ilicitamente determinará o pagamento ou a
reversão dos bens, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo
ilícito.

CAPÍTULO VI
Das Disposições Penais

Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbidade contra agente
público ou terceiro beneficiário, quando o autor da denúncia o sabe inocente.

Pena: detenção de seis a dez meses e multa.

Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está sujeito a indenizar


o denunciado pelos danos materiais, morais ou à imagem que houver provocado.

Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se


efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória.

Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa competente poderá


determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou
função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à
instrução processual.

Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe:

I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público;

I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo quanto à pena de


ressarcimento; (Redação dada pela Lei nº 12.120, de 2009).

II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle interno ou pelo


Tribunal ou Conselho de Contas.
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Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta lei, o Ministério Público, de
ofício, a requerimento de autoridade administrativa ou mediante representação
formulada de acordo com o disposto no art. 14, poderá requisitar a instauração de
inquérito policial ou procedimento administrativo.

CAPÍTULO VII
Da Prescrição

Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas nesta lei
podem ser propostas:

I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em


comissão ou de função de confiança;

II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas


disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público, nos casos de
exercício de cargo efetivo ou emprego.

III - até cinco anos da data da apresentação à administração pública da


prestação de contas final pelas entidades referidas no parágrafo único do art. 1 o
desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)

CAPÍTULO VIII
Das Disposições Finais

Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de junho de 1957, e 3.502,
de 21 de dezembro de 1958 e demais disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992; 171° da Independência e 104° da República.

FERNANDO COLLOR
Célio Borja

Este texto não substitui o publicado no DOU de 3.6.1992

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