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GÊNESE E EVOLUÇÃO
DO DIREITO
ADMINISTRATIVO
Professora Leila Leiva
1. GÊNESE E EVOLUÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO
ROTEIRO:
Paulo Otero, em oposição à tese de ruptura, sustenta que haveria uma relação de
continuidade entre a França pós-revolucionária e os ideais consagrados pelo
período político anterior, servindo o Direito Administrativo, na verdade, como um
mecanismo para legitimar e, ao mesmo tempo, imunizar o poder estatal contra o
controle externo, especialmente a partir da instituição de uma justiça
administrativa especializada (Conselho de Estado), integrante do Executivo. A
confusão das funções de executar e julgar nas mãos de um único “poder”
(Executivo) é considerado como um “pecado original” do contencioso
administrativo francês.
Direito Administrativo é o ramo do Direito Público que tem por objeto as regras e
os princípios aplicáveis à atividade administrativa preordenada à satisfação dos
direitos fundamentais.
Por outro lado, é possível perceber a busca por maior efetividade dos direitos
fundamentais, especialmente a partir dos crescentes instrumentos de controle da
atuação do Poder Público, por exemplo, a maior intromissão do Poder Judiciário
na análise da legalidade das omissões e das ações administrativas necessárias à
efetivação de políticas públicas e a previsão de diversos instrumentos jurídicos de
tutela dos interesses difusos (ex.: ação civil pública, ação popular etc.).
ROTEIRO:
2.3 – Doutrina;
2.4 – Jurisprudência;
2.5 – Costumes;
a) fontes formais: são aquelas que emanam do Estado, criadas por meio de
processos formais estabelecidos pela ordem jurídica (ex.: lei); e fontes materiais
(ou reais): são produzidas fora do ambiente institucional (ex.: costumes);
b) fontes imediatas ou diretas: são aquelas que possuem força suficiente para gerar
normas jurídicas (ex.: lei e costume); e fontes mediatas ou indiretas: não possuem
força suficiente para produção de normas jurídicas, mas condicionam ou
influenciam essa produção (ex.: doutrina e jurisprudência);
c) fontes escritas (ex.: lei em sentido amplo) e fontes não escritas (jurisprudência,
costumes e os princípios gerais de direito).
As fontes do Direito Administrativo são: a lei (juridicidade), a doutrina, a
jurisprudência, os costumes e os precedentes administrativos
LEI (JURIDICIDADE)
A lei, como fonte do Direito Administrativo, deve ser considerada em seu sentido
amplo para abranger as normas constitucionais, a legislação infraconstitucional, os
regulamentos administrativos e os tratados internacionais.
DOUTRINA
Ainda que as opiniões dos autores não tenham força vinculativa, certo é que elas
possuem uma imperatividade lógica que influencia o administrador, o juiz e o
legislador.
Por essa razão, a doutrina, ainda que não seja considerada fonte formal, exerce
influência fática e decisiva na compreensão e na aplicação do Direito.9 Mencione-
se, por exemplo, a “Escola do serviço público” ou “Escola de Bordeaux” que, no
início do século XX, a partir da doutrina de Léon Duguit e Gaston Jèze, foi
responsável pela teorização do serviço público, base do Direito Administrativo
francês.
JURISPRUDÊNCIA
COSTUMES
Outra diferença que pode ser mencionada refere-se ao fato de que o precedente não
exige reiteração de decisões administrativas no mesmo sentido, sendo suficiente
uma decisão administrativa para que esta seja considerada precedente a ser
observado em casos semelhantes. A praxe administrativa, assim como os
costumes, pressupõe a reiteração uniforme de condutas internas da Administração.
De qualquer forma, as referidas diferenças não são tão significativas, uma vez que
as duas hipóteses refletem comportamentos administrativos ou manifestações
jurídicas que repercutem de forma semelhante na ação estatal e nos interesses dos
cidadãos
O direito não pode ser desconectado dos fatos. As disposições genéricas e abstratas
devem ser conformadas à realidade com o objetivo de garantir a justiça e a
equidade. O texto legal é ponto inicial da interpretação e da aplicação das normas
jurídicas que deve ser complementado com a realidade. Isso significa que a
interpretação jurídica é contextualizada, isto é, o sentido da norma depende do
respectivo contexto histórico, social, econômico e político em que se encontra
inserida.
É por essa razão que não se deve confundir o texto da lei ou o dispositivo legal
com o conceito de normas jurídicas. Por mais precisa que seja a disposição legal,
sempre será necessária a interpretação, não devendo ser admitida a máxima in
claris non fit interpretatio. A clareza dos dispositivos legais somente pode ser
auferida após o processo de interpretação. Em outras palavras: a clareza não é a
premissa, mas resultado da interpretação.
As experiências e as compreensões prévias do intérprete, desde que não sejam
arbitrárias, influenciam na busca dos sentidos dos textos normativos. Frise-se, no
entanto, que a pré-compreensão, momento inicial da interpretação, significa
apenas a antecipação prévia e provisória do resultado da busca do sentido da
norma, devendo, portanto, ser finalizada com a análise do caso concreto à luz do
ordenamento vigente. A interpretação dos dispositivos legais acarreta a produção
de normas jurídicas: a interpretação é o caminho; a norma é o ponto de chegada.
Existem vários caminhos possíveis que podem ser percorridos na busca da mens
legis (interpretação objetiva). São os chamados métodos de interpretação, que
podem ser enumerados da seguinte forma:
a) analogia legal ou legis: aplica-se a regra que regula caso semelhante ao caso não
regulado por regra alguma; e
Tanto a analogia legis quanto a analogia iuris podem ser utilizadas para supressão
de lacunas no Direito Administrativo. No entanto, a legitimidade da utilização da
analogia depende do respeito ao princípio federativo, bem como da necessidade de
prestigiar a autonomia desse ramo do Direito. Por essa razão, a analogia deve ser
feita, preferencialmente, com normas jurídicas de Direito Administrativo,
sobretudo com base nas normas editadas pelo Ente Federado respectivo ou com
base nas normas gerais ou constitucionais, devendo ser evitada a aplicação
analógica de normas de Direito Privado. Ex.: aplicação analógica do art. 21 da Lei
4.717/1965, que estabelece o prazo prescricional de cinco anos para propositura da
ação popular, à ação civil pública.
Por fim, a analogia não pode ser utilizada para fundamentar a aplicação de sanções
ou gravames aos particulares, especialmente no campo do poder de polícia e do
poder disciplinar.
E-mail: leila_leiva@yahoo.com.br
Probabilidade de cola não tem nada a ver com PROVAS INEQUÍVOCAS. Fere
os Princípios da Presunção de Inocência, da Moralidade, da Motivação. Como pode a
Administração Pública eliminar discricionariamente um candidato diante de tal
circunstância? Os dois candidatos eram concurseiros, sempre estudavam juntos,
frequentavam os mesmos cursinhos.
É com base nos princípios que possamos equacionar situações concretas.
Caros alunos, nunca se invocaram tanto os princípios como hoje. Estamos, sem
sombra de dúvida, vivendo a era principiológica do Direito. Por isso mesmo, na
atualidade, é bastante fácil encontrar decisões judiciais, do próprio STF e do STJ,
unicamente fundamentada em princípios. Violar um princípio é muito mais grave que
transgredir uma regra.
Solicito a atenção de todos que, às vezes, a só utilização de uma norma- regra pode
levar a uma tremenda injustiça e estaríamos condenados a viver numa sociedade fechada.
Um bom exemplo vale mais do que mil palavras! Vejamos, pois, na praticidade:
um particular prestou um serviço para a Administração Pública, via contrato verbal, mas
não recebe a remuneração.
Atenção!
Pela leitura do Art. 60, da Lei de Licitações e Contratos (Lei 8.666/93), é
estabelecida a norma pela qual não é possível a celebração de contrato verbal com a
Administração (salvo as exceções previstas no §único, do mencionado artigo), sendo nulo
e não produzindo efeitos.
Quais efeitos? Um dos efeitos é exatamente o pagamento. Como fica essa
situação? A doutrina e o STJ entendem que a Administração tem que pagar ao particular.
Nesse caso prático, há a colisão do artigo da lei versus princípio da moralidade.
Questionamos: é justo o Estado se beneficiar às custas do particular? De certo, que não,
pois haveria o enriquecimento ilícito do Estado. O Estado tem que prezar pela moralidade,
tem que ser o exemplo, o modelar, o protótipo. Portanto, havendo colisões entre
dispositivo da lei e um princípio, numa situação concreta, significa que princípio
prevalecerá.
Princípio é a base, é o alicerce, é o que sustenta todo edifício jurídico. Princípios
são diretrizes e vetores a serem seguidos. Princípio é uma autêntica bússola. Princípio
serve como método interpretativo. Então, pelos exemplos dados, verifica-se que o
princípio define a lógica, a racionalidade. Os princípios se diferenciam das meras regras
por serem mais abrangentes. Princípios traduzem valores a serem seguidos. Nos
princípios, há alto nível de abstração; nas regras, baixo nível de abstração.
Não esqueçamos que os princípios que regem a Administração Pública configuram-
na no seu aspecto funcional ou objetivo, isto é, demonstram como deve ser o
funcionamento das diversas estruturas administrativas constituídas nos níveis federal,
estaduais, distrital e municipais de nosso país.
Afora isso, tais a observância de tais princípios, entre outras vantagens, cria a
necessária uniformidade para o funcionamento dessas administrações, o que facilita o
relacionamento do administrado com o Estado brasileiro, pois as regras a serem acatadas
terão como fundamento exatamente esses princípios.
Finalizando, como se observa facilmente, violar um princípio é muito mais grave
de que se violar um artigo de determinada lei, a ponto que a Lei de Improbidade
Administrativa faz alusão de que transgredir, infringir e violentar um princípio, está
cometendo conduta de Improbidade Administrativa, nos termos do Art 11, da Lei
8429/92. Portanto, improbidade administrativa não é só desvio de verba ou intentos
corruptíveis contra a Administração Pública.
A doutrina costuma dividir os princípios em: Princípios Expressos (ou
Específicos) e Princípios Implícitos (ou Inespecíficos ou Reconhecidos).
Princípios Expressos são aqueles taxativamente previstos no texto normativo,
como aqueles elencados no caput do Art. 37, da Constituição. Já os Princípios Implícitos
são aqueles que não constam isoladamente do texto normativo, sendo reconhecidos a
partir de uma elaboração doutrinária ou mesmo jurisprudencial.
Há livros utilizando a expressão “Princípios Fundamentais”, o que é um
pleonasmo, redundância. Se são princípios, de certo que são fundamentais, pois
fundamental é aquilo que já possui valoração própria, tal qual ocorre com os princípios.
Havendo colidência entre os princípios, o máximo que poderá ser feito será a ponderação
entre os princípios conflitantes, conforme o caso concreto.
A resolução do conflito entre princípios pode se dar pela utilização do postulado
da proporcionalidade, que guiará o processo de ponderação entre tais princípios, de modo
a se buscar racionalidade, equilíbrio e aceitável aproximação entre os ideais de justiça e
de segurança.
O mencionado postulado da proporcionalidade, desenvolvido por Robert Alexy,
subdivide a proporcionalidade (alguns a tratam como postulado, outros como princípio)
em três subprincípios: adequação, necessidade e proporcionalidade stricto sensu. Nessa
exata sequência, os subprincípios vão ser empregados, no conflito de princípios em
concreto, até ser encontrada a melhor solução.
Desse modo, os três suprincípios mostram-se como passos metodológicos rumo à
resolução do impasse gerado pela colidência principiológica até então existente.
O sistema constitucional do Direito Administrativo funciona como uma rede
hierarquizada de princípios, regras e valores, que exige não mais o mero respeito à
legalidade estrita, mas vincula a interpretação de todos os atos administrativos a respeito
desses princípios. A função administrativa encontra-se subordinada às finalidades
constitucionais e deve pautar as suas tarefas administrativas no sentido de conferir uma
maior concretude aos princípios e regras constitucionais, uma vez que estes não figuram
como enunciados meramente retóricos e distantes da realidade, mas possuem plena
juridicidade.
Já para Edmir Netto de Araújo e Maria Sylvia Zanella Di Pietro1, por exemplo, os
dois princípios fundamentais que decorrem da bipolaridade do Direito Administrativo –
liberdade do indivíduo e autoridade da Administração – são os princípios da legalidade
(expressamente mencionado na Constituição, art. 5o, II) e o da supremacia do interesse
público sobre o particular (relaciona-se com a noção de potestade pública), de onde se
construiriam todos os demais.
Seja como for, embora essa classificação apresente variações, há unicidade para o
fato de que “não se pode encontrar qualquer instituto do Direito Administrativo que não
seja informado pelos respectivos princípios”, observa José dos Santos Carvalho Filho,
citando José Cretella Júnior, uma vez que os princípios revelam as diretrizes fundamentais
da Administração, cuja conduta só poderá ser considerada válida se estiver com eles
compatível.
Mas, se já mencionado no art. 5o, II, qual então o sentido dessa repetição no art.
37, caput? Tal se justifica pelo fato de que o enunciado no art. 5o, II, se aplica aos
particulares, sendo certo que a eles é permitido fazer tudo o que a lei não veda, enquanto
que a Administração deve agir conforme a lei. Como diz o professor Caio Tácito, o
1
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 67.
administrador nunca age por vontade própria, mas é sempre um concretizador da vontade
previamente manifestada na lei.
PRINCÍPIO DA
IMPESSOALIDADE
Exemplos
Na Administração Pública, Toda ação administrativa
este princípio deve revelar deve dispensar tratamento
a impessoalidade como igual a todos os Concurso Público Precatório Licitação
projeção da ISONOMIA. administrados. Art. 37, II, CFRB Art. 100, CFRB Art. 37, XXI, CFRB
Foi só com a Teoria do Órgão que surgiu a Imputação Volitiva, uma expressão
complicada, mas cuja ideia é simples, qual seja, a de que o agente público não representa,
seja contratual ou legalmente, a Administração. Ele, na verdade, é o braço vivo da
Administração em ação. Para usar um termo que os membros do Ministério Público
gostam muito: ele não representa o MP, mas ele é o próprio MP vivo. Assim, o agente
público é a Administração Pública viva, em ação. Isso significa que a vontade manifestada
pelo agente público é a vontade da Administração. Pelo menos naquele caso, é a vontade,
a ação que a Administração Pública escolheu manifestar através do seu braço humano.
Assim, a imputação da vontade manifestada pelo agente público é imediata à própria
Administração Pública. E uma ilegalidade que o agente público tenha praticado é
imputada imediatamente a Administração.
Imputação
Volitiva
O Art 37, § 1o, biparte-se: a) “a publicidade dos programas devem ter caráter
educativo”; b) “não podendo constar nome, símbolos, imagens”. Isto é uma proibição
porque a Constituição entendeu que incluir nomes, símbolos, imagens não é nada
educativo.
Pelo parágrafo acima, deduz-se que não se pode utilizar a propaganda oficial
como forma de promoção pessoal. Nunca poderá ser utilizada a expressão do tipo: “Mais
uma realização do prefeito tal Nicácio das Couves”. Não se pode fazer dispor de tal
entoação e ênfase porque, na real verdade, a obra não é dele e, sim, do Estado, da
coletividade. O prefeito não atua em nome próprio: é um representante do Estado
(encarnação do Estado), por isso está proibido de vincular a atuação em seu nome, sob
pena de caracterização de promoção pessoal, desvio de finalidade. O dinheiro da
construção do hospital é da sociedade e não dele, prefeito, não podendo se promover às
custas da sociedade.
É vedado aos Estados e aos Municípios atribuir nome de pessoa viva a
avenida, praça, rua, logradouro, ponte, reservatório de água, viaduto, praça de esporte,
biblioteca, hospital, maternidade, edifício público, auditórios, cidades e salas de aula, o
Tribunal, julgou o pedido improcedente, por reputá-lo compatível com o princípio da
impessoalidade (CF, art. 37, caput e § 19). ADI 307/CE, Rel. Min. Eros Grau).
Um esclarecimento necessário
Caso Concreto 1 - Outro caso que merece destaque, dentro deste mesmo princípio,
é a limitação da publicidade em obras públicas ou entidades que, a qualquer título, recebam
subvenção ou auxílio dos cofres públicos federais, como salienta o Art 37, caput e § 19,
da CR e os artigos 1º, 2º e 3º da Lei 6.454/77. Ou seja, em tais obras não podem constar
nomes, símbolos ou imagens capazes de promover autoridades ou servidores públicos,
sendo vedado, em todo território nacional, atribuir nome de pessoas vivas aos referidos
bens, não estando presente a mesma regra nos casos envolvendo capital exclusivamente
privado.
Caso Concreto 2 - Em homenagem ao princípio da Impessoalidade, as questões
de concursos públicos, sendo anuladas em virtude de estarem incorretas as suas
formulações, causando a alteração de notas e, via de consequência, na classificação dos
candidatos, tais questões anuladas atingirão indiscriminadamente todos os participantes,
alterando a nota para todos os participantes.
O princípio da Impessoalidade, por outro lado, admite atenuações, como, por exemplo,
no tocante à possibilidade de imposição de limite de idade e sexo, para concorrer a
concurso público, que é sempre tormentosa. Não se havendo de ignorar, como regra, que
os cargos públicos são acessíveis àqueles que preencham os requisitos estabelecidos em
lei (Art 37, I, CR).
De um lado, destacando-se a regra do Art 7o, XXX, da CR, aplicável aos servidores
públicos por força do Art 39, § 3o (redação da EC 19/98), que veda qualquer tipo de
discriminação por motivo de idade, no processo de admissão a cargo ou emprego público,
muito embora possa a lei estabelecer critérios diferenciados quando a natureza do cargo
o exigir.
Equivocado seria o entendimento da Administração Pública se anulasse
determinada questão e somente considerasse o equívoco em benefício do candidato que
a tivesse reclamado. Portanto, verificado o erro na formulação das questões, deve a
Administração proceder a sua correção, pois, caso contrário, seria legitimar o equívoco
e possibilitar que os candidatos com menor conhecimento fossem aprovados em
detrimento de outros, mais aptos e mais preparados. Em sendo assim, obviamente que,
atribuindo a pontuação exclusivamente ao reclamante, estariam sendo feridos os
princípios da Isonomia e da Impessoalidade.
Nesse diapasão, aqui se destaca o caso de um agente político que, no último ano
de seu mandato, sem a devida autorização legal, permitiu o uso de bens imóveis públicos,
beneficiando algumas entidades e vários particulares, que lá construíram suas sedes e
inúmeras moradias, não levando em conta que tais áreas seriam destinadas, futuramente,
à construção de postos de saúde, hospitais e escolas, o que inviabilizou,
consequentemente, tais empreendimentos de interesse público. A conduta desse agente
revelou, sem dúvida, a inobservância dos princípios da legalidade, impessoalidade,
finalidade, moralidade e da supremacia do interesse público, sendo suficiente para
caracterizar desvio de finalidade, além de improbidade administrativa, pelo inegável
prejuízo ao erário que veio aquela irregularidade a causar. Com efeito, essa conduta
privilegiou apenas uma parcela reduzida de pessoas em detrimento do interesse público
maior, ou seja, é manifesto o desvio de finalidade na medida em que buscou, mediante ato
administrativo (decreto), fazer entrega de bens públicos por tempo indeterminado e
gratuitamente, sem que nisso houvesse qualquer resquício de interesse público.
Um exemplo típico está contido no art. 7o, § 5o, da Lei nº 8.666/93, que veda
“a realização de licitação cujo objeto inclua bens e serviços sem similaridade ou de
marcas, características e especificações exclusivas, salvo nos casos em que for
tecnicamente justificável”. Por tal razão, o Supremo Tribunal Federal vetou uma lei
2
“Administrativo. Concurso público. Exame psicotécnico. Caráter sigiloso da entrevista. Art. 37 da
Constituição Federal de 1998. Princípio da impessoalidade. Violação. Viola o princípio da impessoalidade
a avaliação psicológica de candidato a concurso público realizada em caráter subjetivo e sigiloso, sujeita
única e exclusivamente ao arbítrio do examinador.” (STJ, REsp nº 27.865/DF, Rel. Min. William
Patterson).
estadual, por exigir que a empresa, para participar do certame licitatório, deveria ter sua
sede no Estado contratante.
Súmula Vinculante 13
A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou
por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de
servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou
assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou,
ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em
qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas,
viola a Constituição Federal.
Desta Súmula Vinculante 13, se extrai por exemplo que é vedada a nomeação de
parentes para cargos administrativos, sendo, porém, possível a nomeação de parentes para
cargos políticos, como é o caso da nomeação da filha do governador ou do prefeito para
cargo de secretária estadual de saúde, uma vez que o STF excluiu, em princípio, os
exercentes de cargos de natureza eminentemente política, como secretários municipais e
estaduais e ministros de Estado.
Por fim, é importante frisar, por extensão, que o Supremo Tribunal Federal vedou
terminantemente o nepotismo cruzado. Para exemplificar isso, suponha-se o seguinte: uma
autoridade administrativa contrata a esposa de um grande amigo para o exercício de um
cargo em comissão e, como gratidão, esta autoridade contrata a esposa daquela
autoridade.
PRINCÍPIO DA
MORALIDADE
Consequências
Artigo 37, §4o, CRFB
Ressarcimento ao
Suspensão dos Perda da Função Indisponibilidade de
Erário
Direitos Políticos Pública Bens
Artigo 37, §5o, CRFB
3.2.4. Princípio da publicidade
À luz dessa orientação fica evidente que não é inconstitucional e não padece de
qualquer ilegitimidade a publicação, em sítio eletrônico mantido pela Administração
Pública, do nome dos seus servidores e do valor dos correspondentes vencimentos brutos
e de outras vantagens pecuniárias.
De outra banda, fala-se, basicamente, do direito que assistiria aos servidores
municipais de não ver divulgada a sua remuneração bruta. Isso por implicar violação à
sua intimidade e vida privada, de parelha com o perigo que representaria para a sua
segurança pessoal e familiar o conhecimento geral de tal remuneração por modo
nominalmente identificado. Conhecimento geral tanto mais temerário quanto
disponibilizado em rede mundial de computadores (internet), porquanto viabilizador de
formatação de um tipo de banco de dados que terminaria por habilitar terceiros a planejar
golpes financeiros contra os servidores municipais e assediá-los.
Fique de olho!
A Publicidade é, inegavelmente, um pressuposto de eficácia do ato administrativo. Isto
significa que o ato administrativo, como qualquer ato jurídico, pelo menos como regra,
passa por aqueles planos da existência, da validade e da eficácia. E isso não é uma mera
afirmação doutrinária, pois ela tem consequência relevantíssima na prática, quais sejam:
no plano da existência, para saber se existe no mundo jurídico; da validade, para saber se
é correspondente com a ordem jurídica; e da eficácia, para saber se o ato tem capacidade
para produzir efeitos.
Tome nota !
Nos casos dos atos individuais (atos com destinatários certos), a publicação só vale se
for feita pessoalmente, como é o caso de intimação pessoal para quem responde a
processo administrativo disciplinar, bem como aprovação em concursos públicos.
Caso Concreto 2 - É legal a determinação, a título de ilustração, da Administração
Pública no sentido de designar nova data para a realização da prova de aptidão física para
a candidato, aprovado no exame intelectual , mas que perdeu a prova de exames físicos,
porque não teve acesso à convocação feita pela internet. Portanto, em homenagem ao
princípio da publicidade, a Administração Pública terá que convocar, pessoalmente, o
candidato aprovado em concurso público, diante do não cumprimento da ampla
publicidade no ato da convocação, a qual só foi realizada somente por meio do Diário
Oficial.
Um esclarecimento necessário
O servidor pode se arrepender ou esse arrependimento tem eficácia? Ele pode evitar a
exoneração ou aposentadoria, nessa situação? Dependerá de ter ocorrido ou não a
publicação do ato, porque, nesse exemplo, presumindo-se que ele tenha pedido a
exoneração ou a aposentadoria na hora do almoço, até que ele chegue em casa, arrependa-
se e volte, não haveria tempo hábil para a publicação no Diário Oficial do dia seguinte.
Nesse caso, então, considerando-se que a exoneração ou a aposentadoria ainda não tenha
sido publicada, ele poderá, então, retratar-se. Diferentemente da situação desse servidor
acordar no dia seguinte e o ato já se encontrar publicado no Diário Oficial, mesmo que o
servidor manifeste seu desejo de desistência, esta não mais poderá ser concretizada
porque, se o ato foi publicado, já produziu sua eficácia.
Portanto, se publicou e produziu a eficácia, para retornar da aposentadoria ou da
exoneração, em princípio, só realizando o servidor um novo concurso público. Então, essa
questão da produção da eficácia no ato administrativo é relacionada à publicação do ato,
percebendo-se, dessa maneira, que a publicidade tem, sim, algumas consequências
importantes em várias áreas e, pelo menos, nesses dois exemplos, vê-se que a publicidade
seria fundamental.
Em regra, todos os atos administrativos são publicados, porque pública é a
Administração que os realiza, exceto quando a própria Constituição Federal cria a
restringibilidade, em razão de segurança nacional, investigação criminal ou interesse
público, o que exige prévia declaração e motivação em processo regular. Assim, a
Constituição restringe a publicidade dos atos processuais, por exemplo, quando a defesa
da intimidade ou o interesse social o exigirem (art. 5o, LX); para a retificação de dados,
quando não prefira o cidadão fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo (art.
5o, LXXII, “b”).3
No que tange à publicidade dos atos processuais, observe-se, como exemplo (com
data anterior a vigência do atual Código de Processo Civil), o caso de um indivíduo
portador do vírus HIV que, por ter desenvolvido a doença, precisou ajuizar ação ordinária
para obter do Poder Público o fornecimento de medicação adequada para manter em nível
zerado sua carga viral. Solicitou o indivíduo, contudo, que o processo fosse mantido em
sigilo, uma vez que a publicidade dos fatos e atos praticados afetaria sobremaneira sua
vida pessoal e profissional, sendo seu objetivo, portanto, preservar sua família de
maledicências e insinuações, bem como evitar prejuízos em sua profissão. Entretanto, o
pedido de tutela antecipada foi indeferido, cuja alegação do juízo a quo teria sido de que
o caso não se enquadrava em nenhuma das hipóteses previstas no art. 155 do CPC/73,
pois a lei afirma que os atos processuais são públicos (princípio este que remonta o Direito
romano e está em sintonia com o regime democrático) e, portanto, a exceção à regra
haveria de ser interpretada restritivamente.
3
Com relação à publicidade, STJ: RMS nº 10.131/PR, Ementa: “1. Dentre os Direitos e Garantias
Fundamentais capitulados no art. 5o da Constituição Federal está inserido o de que ‘todos têm direito de
receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo em geral, que
serão prestados no prazo de lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado’ (inciso XXXIII). 2. Inequívoco que os documentos
cuja exibição foi requerida pelos impetrantes não estão protegidos pelo sigilo prescrito no art. 38 da Lei
1.595/64, sendo sua publicidade indispensável ã demonstração da transparência dos negócios realizados
pela Administração Pública envolvendo interesses patrimoniais e sociais da coletividade como um todo. 3.
Recurso ordinário conhecido e provido para, reformando o acórdão impugnado, conceder a segurança nos
termos do pedido formulados pelos recorrentes”.
invalidação dos mesmos e, por via de consequência, além de os prazos não fluírem, estes
atos e contratos não terão eficácia, isto é, não produzirão efeitos, daí concluindo-se que a
publicidade, como princípio-meio, dá origem a um princípio implícito, que é o do controle
dos atos, contratos e procedimentos administrativos.
No que tange à matéria, as intimações poderão ser feitas por meio de aplicativos
cujo número for fornecido pelo juízo aos advogados e partes que manifestarem
interesse. A intimação será considerada cumprida a partir do momento em que o
intimando responder a mensagem, em até 24 horas, confirmando seu recebimento. Caso
o recebimento não seja confirmado dentro do prazo, deverá ser feita a intimação
comum.
O quinto e último princípio explícito no caput do art. 37, também reitor da função
administrativa, é o princípio da eficiência, que passou a integrar a Constituição da
República com a edição da EC nº 19, de 1998, denominada de Reforma Administrativa
do Estado, e cuja ideia básica é orientar toda a atividade administrativa no sentido de que
ela seja desempenhada não só com legalidade, moralidade e impessoalidade, mas também
com presteza, perfeição, funcionalidade, melhor qualificação técnica e profissional, de
modo que a Administração tem o dever de ser eficiente quando da prática de seus atos,
com o fim de proporcionar um resultado rápido e preciso que satisfaçam os anseios da
sociedade. não podendo o administrado ser punido ante a inoperância injustificada do
órgão administrativo.
Com relação a esse princípio, pouca coisa se tem na doutrina, não se arriscando
os autores a falar muito dele, até porque a jurisprudência é escassa, em razão de os casos
concretos raramente chegarem ao Judiciário, e de se ter aqui a mesma dificuldade de
aplicação desse princípio como ocorre com o princípio da moralidade. Ou seja, falar sobre
o que é moral ou imoral é difícil, como já se viu, é complicado, na prática, a mesma coisa
acontecendo quando se fala sobre o que é eficiente e o que não é eficiente, porquanto a
eficiência é muito ampla, tornando difícil trazer-se uma definição precisa desse princípio
ou da noção de eficiência. Algumas decisões administrativas podem ser eficientes do
ponto de vista econômico; outras, porém, podem não ser eficientes do ponto de vista
econômico, mas eficientes do ponto de vista social. Enfim, implica em certa dificuldade
classificar se uma atuação administrativa é ou não eficiente e em que situações a
ineficiência poderia gerar a invalidade de um ato.
A dificuldade é tamanha, nesse sentido, que o prof. Carvalho Filho, por exemplo,
chega a afirmar, textualmente, que a eficiência, por si só, não pode ser trazida como
argumento para anulações de atos administrativos4, e Celso Antônio Bandeira de Mello
segue mais ou menos nessa mesma linha. A eficiência é muito mais um ideário que deve
nortear a atuação administrativa, mas é muito complicado usar a eficiência como
parâmetro, principalmente para o controle judicial da atuação administrativa.
Contudo, por mais respeitados que sejam esses autores, a tendência é o Judiciário
se utilizar, como vem fazendo, a eficiência para controlar as ações ou omissões da
Administração, podendo anular atos administrativos, inclusive, com base na eficiência,
sobretudo porque, se os princípios são normas, e a eficiência é um princípio expresso
constitucionalmente, a tendência é que a eficiência seja considerada, sim, parâmetro para
o controle judicial do ato administrativo. O problema, então, passa a ser o próprio uso ou
abuso desse princípio pelo Judiciário no controle dos atos do Poder Público, daí os autores
colocarem um freio na eficiência.
4
Conforme o entendimento de José dos Santos Carvalho Filho, o controle judicial “[...] sofre limitações e
só pode incidir quando se tratar de comprovada ilegalidade”, tanto que a doutrina tem consagrado, diz o
autor, citando Vladimir da Rocha França, que ‘o Poder Judiciário não pode compelir a tomada de decisão
que entende ser de maior grau de eficiência’, nem invalidar atos administrativos invocando exclusivamente
o princípio da eficiência”. CARVALHO FILHO, op. cit., p. 18.
Recentemente, A 9ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo
manteve sentença da 7ª Vara da Fazenda Pública da Capital julgou procedente pedido
de indenização feito por servidora obrigada a adiar aposentaria em razão da demora na
expedição da certidão de tempo de serviço. A Fazenda do Estado e a SPPrev
indenizarão a autora, a título de dano material, no valor correspondente ao período de
trabalho compulsório, descontando os 100 dias permitidos por lei, devidamente
atualizado pelo IPCA a partir dos respectivos vencimentos, e acrescido de juros de
mora, nos termos da Lei nº 11.960/09.
Dica da hora
Eficiência é gastar menos? É atender ao interesse público, mesmo gastando mais?
Hoje, a doutrina majoritária vem afirmando que o princípio da eficiência está intimamente
ligado com a economicidade. Mas, a nosso ver, a economicidade não é a pedra angular
do princípio da eficiência. A eficiência gira em torno de um controle de resultados e não
obrigatoriamente econômico. Resultado não significa lucro e, sim, a melhor satisfação
em prol do interesse da coletividade. Na real verdade, o princípio da eficiência envolve
uma análise prévia, na qual se busca equilibrar a relação custo/benefício.
Caso concreto
Ainda pelo princípio da Eficiência, é reprovável que um juiz, por exemplo, afirme
que fez concurso para juiz e não para administrador de cartório. O perfil do juiz, hoje,
também é o de supervisor e administrador, pois o juiz titular da Vara é o responsável pela
condução das atividades desenvolvidas no âmbito de seu cartório. De forma que não vá o
juiz só tomar conhecimento dos problemas que ali ocorrem, inviabilizando a prestação
jurisdicional eficiente, quando estes se tornam manchete de jornais. Absurdo, por
exemplo, as petições que são juntadas oito meses após a entrada do requerimento. A cada
ano, há um milhão e duzentos mil processos novos e os juízes têm compromisso com a
qualidade. A grande morosidade da justiça dá margem à perda de sua credibilidade; daí
dizer-se que a justiça é lenta e cara.
Absurdo, por exemplo, as petições que são juntadas oito meses após a entrada do
requerimento. A cada ano, há um milhão e duzentos mil processos novos e os juízes têm
compromisso com a qualidade. A grande morosidade da justiça dá margem à perda de
sua credibilidade; daí dizer-se que a justiça é lenta e cara.
Atualmente, um caso que merece destaque em nossos tribunais, no tocante ao princípio
da Eficiência, é a situação envolvendo o sistema penitenciário brasileiro, onde ocorrem
diversas violações de direitos fundamentais previstos na Constituição Federal, sendo a
população carcerária submetida a situações extremamente vexatórias e desumanas,
enfrentando superlotação em presídios, torturas, homicídios, violência sexual, celas
insalubres, proliferação de doenças infectocontagiosas, alimentação inapropriada, falta
de água potável, de produtos higiênicos básicos, de acesso à assistência judiciária, à
educação, à saúde e ao trabalho, bem como amplo domínio dos cárceres por
organizações criminosas, insuficiência do controle quanto ao cumprimento das penas,
discriminação social, racial, de gênero e de orientação sexual, características
incompatíveis com os recursos disponibilizados pela Administração Pública.
O que é ser razoável? Significa agir conforme a razão, ser moderado, comedido,
aceitável, ponderado, sensato, sendo nesse sentido que o agente público, no desempenho
de suas funções, deve buscar soluções dentro daqueles valores considerados razoáveis,
compatíveis com os critérios lógicos que se pode exigir do bom administrador, ao visar
ao interesse público, embora o que pode ser razoável para uns, pode não o ser para outros.
Mas, mesmo que não o seja, há que se reconhecer que os valores de tais condutas se
situam, em princípio, dentro dos padrões de aceitabilidade. Assim, todo ato será razoável
quando houver adequação entre meios e fins, e somente os atos manifestamente absurdos
devem ser controlados pelo Poder Judiciário com fundamento na razoabilidade, sob pena
de se adentrar no mérito administrativo.
Por exemplo, caso seja exigido em um edital de concurso público o nível técnico para
determinada área, é possível candidatos com o nível superior, da mesma área,
concorrerem para estas vagas? Exemplo: técnico de administração e graduados em
Administração. Existe algum princípio que ampare neste caso? Sim, o princípio da
razoabilidade. Mas há que se ver também a lei específica criadora do cargo, pois ela deve
prever uma formação mínima. Se a formação superior na mesma área englobar os
conhecimentos abrangidos pelo ensino técnico da mesma área, a recusa do candidato com
formação superior à mínima exigida não é razoável. O candidato que tenha nível superior
e que se interesse por uma vaga de nível médio pode prestar o concurso para a
oportunidade; já o contrário é que não seria razoável (formação/escolaridade mínima).
A razoabilidade trata-se de um princípio implícito na Constituição Federal que
limita e controla todo ato estatal (administrativo, legislativo e jurisdicional, notadamente
o ato discricionário (juízos de oportunidade e conveniência).
Mas o que vem a ser proporcional, que não aquele conceito relativo às proporções
matemáticas? Na linguagem jurídica, proporcional também tem o sentido de harmonia,
conformidade, adaptação entre as partes e o todo. Então, quando se analisou aquela
questão da supremacia do interesse público sobre o particular, por exemplo, observou-se
que, às vezes, há dois interesses públicos conflitantes – interesse coletivo e direitos
individuais – e, quando isso ocorre, a Administração deve realizar uma ponderação de
interesses, buscar uma solução intermediária de sopesamento, valendo-se da
razoabilidade e da proporcionalidade, para que tais interesses possam ser atendidos na
maior medida possível e restringidos na menor porção necessária. Obviamente que, ainda
que diante de certas circunstâncias, dizia o princípio da supremacia do interesse público
que a determinação da Administração continha necessariamente o que era o interesse
público naquela circunstância e que a invocação pura e simples do princípio da
supremacia já seria suficiente para fundamentar o ato administrativo.
Atualmente, no entanto, com a ponderação e com o uso do princípio da
razoabilidade, o que há de novo no Direito Administrativo é que a Administração passa
a ter que apresentar razões (motivação é a forma pela qual a Administração vai externar
estas razões) que perpassam por três aspectos: a chamada adequação, a exigibilidade ou
necessidade, também chamada de vedação do excesso, e a proporcionalidade em sentido
estrito, que serão analisados mais à frente, mas que já se pode adiantar, de antemão, que
eles indicam quase que o caminho da ponderação administrativa.
Na adequação entre meios e fins, o que se procura ver é em que medida sacrificar o
interesse individual em nome do interesse público, ou vice-versa, constitui fator adequado
da sua composição, do seu atendimento recíproco, sem que um exclua o outro
completamente.
Concluindo-se, portanto, que uma medida ou um ato estatal tem que passar pelas seguintes
apreciações:
Adequação
A adequação, também chamada de idoneidade, é o primeiro requisito pelo qual deve
passar o princípio da proporcionalidade ou razoabilidade, no sentido de que toda ação
administrativa, toda a medida estatal só se justifica na medida em que ela for apta, idônea,
adequada e suficiente para promover uma finalidade prevista na norma jurídica. Assim,
quando o ato estatal é adequado para promover uma finalidade pública, prevista na norma,
esse ato é proporcional a princípio, pois ele haverá que passar pelos outros critérios
também. Essa é o entendimento do prof. Humberto Ávila, utilizando-se de uma caricatura
desse subprincípio a partir da imagem de um cidadão que quer se proteger do sol usando
uma peneira, colocando-a sobre a cabeça. Essa peneira, evidentemente, não é meio
adequado para proteger essa pessoa do sol, não é adequada para a finalidade perseguida
pelo agente – que é a de se proteger do sol.
Trazendo-se agora um exemplo jurídico, julgado inclusive pelo Supremo Tribunal
Federal, e que está em livros, é a decisão clássica do corretor de imóveis. Em algum
momento, a legislação exigiu que os corretores de imóveis tivessem uma habilitação
específica para atuar como corretores. A legislação exigiu diploma, como acabou
acontecendo em relação aos jornalistas, e a questão também foi decidida pelo Supremo
Tribunal Federal.
No caso em tela exigiu-se um diploma qualquer, um atestado diferenciado
qualquer para o corretor exercer a sua profissão. Mas qual era o fim da norma? Controlar
aquela profissão, o exercício da corretagem, e o meio utilizado para controlar aquela
profissão foi a exigência de um atestado, um diploma profissional.
Necessidade ou Exigibilidade
O segundo teste do princípio da proporcionalidade, que se soma ao anterior
numa gradação, como uma espécie de segundo degrau da proporcionalidade, envolve a
apreciação da necessidade, também chamada exigibilidade ou subprincípio da
vedação do excesso da medida estatal.
5
A esse respeito, observa o professor Celso Antônio que “a inadequação à finalidade da lei é inadequação
à própria lei. Donde, atos desproporcionais são ilegais e, por isso, fulmináveis pelo Poder Judiciário, que,
sendo provocado, deverá invalidá-los quando impossível anular unicamente a demasia, o excesso
detectado”. BANDEIRA DE MELLO, op. cit., p. 101.
Então, por exemplo, quando há a possibilidade de a polícia administrativa
sanitária apenas recolher todos aqueles gêneros que estão com três dias fora do prazo de
validade ou que estão apodrecidos no supermercado, não há sentido em determinar o
fechamento do estabelecimento, que seria um ato mais gravoso do que o necessário para
o atendimento do interesse público, o que tornaria o ato irrazoável e desproporcional.
Note-se, portanto, que a continuidade, hoje, não é um princípio inerente só aos serviços
públicos, mas também se aplica às atividades em geral da Administração, inclusive às
atividades privadas socialmente relevantes ou consideradas essenciais pela legislação.
Exemplo disso é a Lei nº 7.783/89, que fala sobre o exercício do direito de greve dos
trabalhadores em geral, e que hoje é aplicada por analogia aos servidores estatutários,
como se verá mais adiante, cujos arts. 10 e 11 merecem ser observados e brevemente
comentados.
IV – funerários;
V – transporte coletivo;
VII – telecomunicações;
prestam serviços públicos – basta imaginar-se uma concessionária de serviço público, que
só tem empregados, não tem estatutários –, daí essa lei se aplicar a esses empregados.
Então, para essas atividades essenciais, inclusive a atividade bancária, que é privada e
não considerada serviço público, tem que haver continuidade, e tanto isto é verdade que,
ao tratar da greve dessas atividades, a Lei 7.783/89 exige uma notificação prévia
comunicando que vai haver greve, com prazo mínimo razoável, para que ninguém seja
pego de surpresa, mas ao mesmo tempo exigindo que se mantenha um mínimo de serviço
funcionando, chamado de operação-padrão, porque não pode haver solução de
continuidade para essas atividades essenciais, sejam públicas ou privadas.
Com a revogação desse Decreto pela Lei nº 8.666/93, que regulamentou o art. 37,
XXI, da Constituição Federal de 1988, instituindo normas para licitações e contratos da
Administração Pública, houve um juízo de ponderação, entendendo-se que aquela solução
era autoritária, solução do Estado novo, solução do regime militar, solução dos
primórdios do Direito Administrativo francês, muito vinculado à lógica do Antigo
Regime, e a exceção do contrato não cumprido passou a ser admitida, cumprido um
determinado prazo estipulado no regime da Lei nº 8.666/93, que é de 90 dias. Passado
então este prazo, a lei passa implicitamente a admitir que o particular paralise suas
atividades, como já dizia o art. 1.092 do velho Código Civil, hoje desmembrado nos arts.
476 e 477 do novo Código de 2002, que resumidamente aquele dispunha que, nos
contratos bilaterais, uma parte pode deixar de cumprir sua obrigação quando a parte
contrária deixou de cumprir a sua.
Assim, por ser o Estado o guardião da legalidade, ao se deparar com algum vício de
legitimidade, seja uma ilegalidade expressa, seja um vício de moralidade, ou até mesmo
um equívoco de interpretação da lei, não pode a Administração Pública andar de braços
dados com a ilegalidade, ou ficar de braços cruzados, se assim se preferir dizer, sob pena
de ferir o Art 37 da Constituição Federal.
Então, ao exercer uma fiscalização interna quanto à sua atuação, seja de ofício ou por
provocação do particular, a Autotutela possibilita à Administração Pública, de um lado,
reapreciar seus atos e anular os que forem ilegais – nesse caso fala-se até em dever-poder
de anulação, e não apenas em faculdade (em princípio é um dever, que não é absoluto,
porque ainda teria a convalidação, assunto a ser estudado, mais detidamente, quando se
começar a apreciar a teoria geral do ato administrativo) – e, de outro, como segunda
prerrogativa nesse autocontrole, a Administração também pode revogar os atos legais,
por se apresentarem inconvenientes e inoportunos, e sem precisar de interferência do
Judiciário.
No entanto, o princípio da autotutela não pode resultar em um “cheque em
branco” dado ao administrador de forma absoluta e irrestrita.
Vale aqui se fazer uma importante observação no sentido de que é necessária,
obrigatoriamente, a observância do devido processo legal e a ampla defesa para a
anulação de ato administrativo que tenha repercutido no campo de interesses
individuais (Informativo 732 e 763 do STF).
Qualquer ato da Administração Pública que tiver o condão de repercutir sobre a
esfera de interesses do cidadão deverá ser precedido de prévio procedimento em que se
assegure ao interessado o efetivo exercício do direito ao contraditório e à ampla defesa.
Então, repetindo mais uma vez, em relação ao aspecto da dispensa do devido processo
legal, é de suma importância ressaltar que o princípio da garantia à ampla defesa,
assegurado no art. 5º, LIV e LV, da Constituição Federal, juntamente com a
obrigatoriedade do contraditório constituem cláusulas pétreas asseguradas no processo
judicial e no procedimento administrativo.
Cabe ressaltar que o princípio da autotutela não está explícito na Constituição; ele é um
conceito doutrinário que, construído pela jurisprudência, acabou consagrado, no Brasil,
na Súmula nº 473 do Supremo Tribunal Federal, a qual dispõe, in verbis:
“A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais,
porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.”
ATO ADMINISTRATIVO
ANULAÇÃO REVOGAÇÃO
6
Acerca do tema, confira-se a obra de Cláudio Pereira de Souza Neto, que é um grande professor e filósofo
do Direito, autor de livros sobre Democracia Deliberativa, trabalhando com as doutrinas de Habermas, de
Robert Alexy.
pública, do debate público, para que as pessoas se manifestem nesses debates públicos
colocando as suas opiniões, para que o Poder Público, a partir desses debates, tenha
condições de tomar decisões administrativas melhores, que atendam de maneira mais
próxima aos interesses da população.
Assim, o povo sai de uma Administração Pública chamada de unilateral, ou que alguns
chamam de autoritária, e hoje ingressa na chamada Administração Pública Consensual,
expressão já consagrada na doutrina. Assim, no lugar de se ter o ato administrativo como
grande protagonista – o ato administrativo é tão essencial quanto o ato jurídico do Direito
Civil –, agora, na Administração Pública Consensual, há uma tendência de
contratualização e processualização da Administração Pública.
A tendência, modernamente, portanto, é não mais uma atuação apenas unilateral do Poder
Público, mas de atos administrativos que caminhem pari passu com os contratos
administrativos, com outros atos jurídicos que podem ser editados pela Administração,
que cada vez mais se valerá de um acordo com o particular ou do consenso com ele.
Assim, ao invés de simplesmente impor ao particular a sua vontade, a Administração tem
buscado ouvir o particular, atuar de forma orquestrada, processualizada, contratualizada,
e atender às necessidades desse particular. É por isso que, cada vez mais, a legislação
infraconstitucional brasileira vem consagrando instrumentos de parcerias entre Estado e
particular, formas de contratações, processos administrativos diferentes,
processualizando e contratualizando a atuação da Administração.
Ou seja, quando o Estado impunha sua vontade unilateralmente acabava gerando danos
para os particulares. Hoje, porém, o Estado está vendo que tem que satisfazer diversos
princípios diferentes, haja vista se tratar de uma sociedade pluralista, que tem princípios
que entram em choque eventualmente, princípios que estão em contradição, pelo menos
em tese, e para que o Estado atinja um princípio, ele acabará por restringindo outro. Então,
para que ele atinja um princípio, eventualmente, ouvirá a população para saber, no caso
concreto, qual interesse ou princípio ele, Estado, deve concretizar e qual princípio deixará
de lado, momentaneamente, no caso concreto; por isso, é cada vez mais difícil administrar
de maneira impositiva.
Então, aquela noção de um Poder Público que impõe a sua vontade para o particular, e
este tem que cumprir e ponto final, agora está mudando, pois o Poder Público busca o
diálogo com o particular, vai buscar, através de processos administrativos, de contratos,
ajustes, convênios, consenso com o particular, pois é através desse diálogo, bem como
através da participação deste, em tese, que se conseguiria chegar a uma decisão
administrativa melhor, do ponto de vista qualitativo.
Então, citando-se alguns exemplos práticos dessa tendência que vem sendo apontada7
pela doutrina, um dos mais concretos é o Estatuto da Cidade, que é repleto de
instrumentos de participação direta do cidadão na formulação de políticas urbanas. Por
outro lado, se tais instrumentos são ou não efetivados, isso já é outra discussão.
7
Além de Diogo de Figueiredo, também falam em processualização, que é uma tendência há algum tempo,
Maria Sylvia Zanella Di Pietro e Odete Medauar, que tem um livro sobre Processualidade Administrativa,
dentre outros.
Outro exemplo se refere às leis que criaram as Agências Reguladoras – e aqui,
obviamente, há uma lei para cada agência, porque é lei específica que cria autarquia;
então, cada lei criará a sua autarquia regulatória –, pois praticamente todas trouxeram
instrumentos de participação direta para o cidadão na elaboração de normas regulatórias
e também na tomada de decisões administrativas pelo agente, observando-se que foram
as leis das agências que consagraram as audiências públicas e as consultorias públicas.
3.2.11. Princípio da segurança jurídica, da confiança legítima e da boa -fé.
Também chamado de princípio da boa-fé dos administrados ou princípio da
proteção da confiança, o princípio da segurança jurídica é um dos que integram o rol de
princípios elencados na Lei nº 9.784/99, que, como já reiteradas vezes dito, regula o
processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal. Dessa forma, a
Administração deve observância a esse princípio e, como uma das consequências dessa
determinação, esta Lei veda textualmente a aplicação retroativa de nova interpretação de
determinadas normas legais (art. 2º, parágrafo único, XIII, parte final), o que seria
contrário, até mesmo, ao princípio da moralidade administrativa.
Assim, a segurança jurídica é geralmente caracterizada como uma das vigas
mestras do Estado de Direito. É ela, ao lado da legalidade, um dos subprincípios
integradores do próprio conceito de Estado de Direito, estando a ele visceralmente
ligada a exigência de maior estabilidade das situações jurídicas, mesmo daquelas que,
na origem, apresentam vício de ilegalidade. Portanto, a prevalência do princípio da
legalidade sobre o da proteção da confiança só se dá quando a vantagem é obtida pelo
destinatário por meios ilícitos por ele utilizados, com culpa sua, ou resulta de
procedimentos que geram sua responsabilidade.
Nesse sentido, vale trazer uma passagem de estudos feitos pelo professor Miguel
Reale, acerca da revisão dos atos administrativos, onde ele diz:
Observe-se, então, que a prescrição e a decadência são fatos jurídicos através dos
quais o ordenamento confere destaque ao princípio da estabilidade das relações jurídicas,
ou, como se tem denominado atualmente, princípio da segurança jurídica, que juntamente
com o princípio da proteção da confiança passaram a constar de forma expressa, ainda
que implicitamente, no art. 54 da Lei nº 9.784/99, segundo o qual “o direito da
Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para
os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo
comprovada má-fé”, conjugando a norma, assim, não só o aspecto de tempo, como
também o de boa-fé.
Com base nesse princípio, pode haver a convalidação ou sanatória do ato nulo.
Em muitas hipóteses, o interesse público prevalente estará na conservação do ato que
nasceu viciado, mas que, depois, pela omissão do Poder Público em invalidá-lo, por
prolongado período de tempo, consolidou nos destinatários a crença firme na legitimidade
do ato. Entretanto, alterar esse estado de coisas, sob o pretexto de restabelecer a
legalidade, causará mal maior do que preservar o status quo ante. Em tais circunstâncias,
o princípio da segurança jurídica prevalece sobre o princípio da legalidade, como
imposição da justiça material.
8
OLIVEIRA apud DI PIETRO. Direito ..., op. cit., p. 226.
fé e de confiança legítima estão atreladas também a algum aspecto do princípio mais
genérico de segurança jurídica. Por isso, a nosso ver, os princípios da segurança jurídica,
da confiança legítima e da boa-fé andam lado a lado, são muito parecidos, podendo ser
tratados basicamente como sinônimos, embora alguns autores tentem fazer uma distinção
entre eles.
PODERES ADMINISTRATIVOS:
6.1. Conceito
No âmbito do Direito Público, o conceito de poder é de suma importância, embora seu
significado escape, quando em vez de sua acepção mais ampla, que poderia designar,
por exemplo, a capacidade geral de agir, de produzir efeitos. Assim, nas relações
humanas, poder consiste, em essência, no predomínio da vontade de uma pessoa sobre
as demais; então, nos vínculos entre órgãos administrativos, é o predomínio de um sobre
outro. Já nos vínculos funcionais entre autoridades ou agentes públicos, expressa a
ascendência de uns sobre os outros, que se traduz, por exemplo, em expedir ordens e
instruções, fiscalizar as atividades, modificar ou desfazer decisões. Mas, sob o aspecto
relacional Administração/particulares, o poder da primeira sobre os segundos acarreta a
imposição de condutas, de ônus, de encargos, de sanções e a restrição ao exercício de
direitos e atividades, sempre com fundamento legal.
Além desses termos, menciona-se também amiúde, no Direito Administrativo brasileiro,
a locução poder-dever, para assim expressar o dever conjugado ao poder ou, de modo
similar, o dever que nasce do exercício de um poder. Indica-se, mesmo, no rol dos
princípios do Direito Administrativo, o princípio do poder-dever, que significaria a
obrigação imposta à autoridade de tomar providências quando o interesse público está
em jogo. Embora não represente demasia o vocábulo dever associado a poder, pois
evoca explicitamente a ideia de obrigação de agir, o esclarecimento do sentido que o
termo poder adquire no âmbito da atuação administrativa torna prescindível o uso dessa
fórmula composta, ou seja, poder-dever.
Observe-se, assim, que, na função, o exercício do poder não é livre, mas, pela
impossibilidade de separá-lo de um fim, apresenta-se inevitavelmente condicionado a
requisitos que justificam a atuação e orientam seu concreto desenvolvimento. Na
função, o dever surge como elemento ínsito ao poder e, desse modo, a Administração
concretiza, na sua atuação, o poder conferido pela norma, para atendimento de um fim.
Portanto, as atividades da Administração Pública configuram-se, em princípio, como
função, e é a referência a um fim conferido pela norma que mostra o caráter instrumental
do poder. Os limites postos pelo ordenamento ao exercício do poder administrativo
correspondem à exigência de garantir o vínculo do poder ao fim para o qual foi atribuído.
6.2. Excesso e desvio de poder
Numa definição bastante sumária, o abuso de poder é a violação formal ou ideológica
da lei e, segundo a doutrina vigente, admite duas modalidades básicas: o excesso de
poder e o desvio de poder ou de finalidade, como é mais conhecido.
O excesso de poder não enseja grandes discussões, pois é a violação de uma regra de
competência; ocorre quando o agente, embora competente, atua fora da determinação
legal ou do ato normativo. Assim, se a lei dita quais são as atribuições do agente e,
mesmo assim, ele excede os limites da competência que lhe foi conferida pela
Administração para agir em seu nome, utilizando o poder de forma abusiva, portanto,
consequentemente há uma violação formal da lei.
Assim, há excesso de poder quando o próprio conteúdo (o que o ato decide) do ato vai
além dos limites legais fixados. O excesso amplia ou restringe o conteúdo. O disposto
pelo ato excede o estabelecido pela lei.
Essa ilegalidade conhecida por excesso de poder ocorre, por exemplo, quando a lei
prescreve que a permissão de uso de bem público só pode ser outorgada a título
precário, mas o agente a outorga por certo prazo. Da mesma forma, ocorre esse vício
quando a lei estabelece que qualquer concessão de serviço público só pode ser
outorgada sem exclusividade, mas o agente público celebra o contrato de concessão
com esta cláusula. Mais um exemplo: pela Lei nº 8.112/90, a comissão de inquérito se
encerra com o relatório. No entanto, a comissão, num determinado caso, aplica a
sanção. A comissão de inquérito extrapolou os limites de sua atribuição em, por acaso,
demitir o servidor de sua atribuição legal. E ainda, a lei permite a entrada de qualquer
pessoa em dado recinto público; e um ato, no entanto, veda o ingresso de mulheres.
Importante registrar
Há de se observar, todavia, que o excesso de poder é considerado pelo STJ menos grave
que o desvio do poder (ou de finalidade). No excesso de poder, o ato não é nulo por
inteiro; naquilo que não exceder, aproveita-se. Ou seja, há a nulidade de, apenas, uma
parte. É o que ocorre, por exemplo, quando da penetração no imóvel, no decreto de
desapropriação, que há de ser feita com cautelas, que constitui um dos efeitos do
decreto. Só que, ao ingressar em bem imóvel, o abuso de poder não vai anular todo o
ato de desapropriação.
Pode-se dizer, então, que o desvio de finalidade é a violação ideológica da lei, porque
não se está violando a lei em sua literalidade, mas em seu espírito. A lei tem uma
vontade, a mens legis, e, surgindo os casos concretos, a vontade da lei é no sentido de
sua aplicação. Portanto, se o agente está violando essa mens legis, é óbvio que estará
sendo cometido um ato com desvio de finalidade.
Tal desvio acontece, por exemplo, quando o agente desapropria um bem para perseguir
ou vingar-se de um desafeto político ferrenho ou para favorecer um parente, como foi
um caso ocorrido em Magé, cujo prefeito desapropriou um imóvel de um particular e,
posteriormente, o vendeu para um sobrinho instalar uma escola privada, embora, neste
caso, haja a retrocessão, sendo o direito do expropriado de exigir de volta seu imóvel,
porquanto o mesmo não teve o destino para o qual foi desapropriado.
Note-se, assim, que a atuação do agente, nessa hipótese, está sendo de maneira pessoal,
afastando-se, portanto, do interesse público para dar atendimento ao interesse privado,
diferentemente quando se desapropria um imóvel para fazer uma escola pública e,
posteriormente, muda-se a finalidade, ali se construindo um hospital, mesmo porque o
interesse público muda a todo instante, a este instituto a doutrina denomina de
tredestinação lícita.
De fato, quando se fala em abuso de poder, a ideia que se tem é que a conduta só pode
ser cometida através de atos, condutas comissivas da Administração Pública. Ocorre
que há também a forma omissiva de abuso de poder, que a Administração o faz, e com
muita frequência, cometendo abusos através de omissões.
Para se ter uma ideia de como ocorre essa forma omissiva de abuso de poder, basta
observar-se uma prática muito comum da Administração Pública, qual seja, quando ela
se encontra obrigada a se manifestar diante de um requerimento (direito de petição),
como por exemplo, certidões de tempo de serviço ou mesmo certidão negativa de
débito, mas permanece inerte, embora seja direito de todo o indivíduo obter informação
a respeito de dados ou circunstâncias de interesse pessoal (art. 5o, XXXIV, “b”, da
CRFB/88).
Mas, em que momento se configura o abuso de poder por omissão? A partir de que
momento surge o abuso de poder? A partir de que momento tem o particular o direito de
9
Ibidem, p. 109.
agir contra a Administração para compeli-la a se pronunciar ou a motivar a eventual
negativa?
Importante registrar
Para responder tais questões, bom é lembrar-se de um entendimento doutrinário que diz
o seguinte: “enquanto perdurar o silêncio, estando obrigada a Administração a se
manifestar a respeito de determinado tema, o administrado não perde o seu direito
subjetivo; por isso, afirma-se que, no silêncio, não flui o prazo do mandado de
segurança. É claro que, se há prazo estabelecido em lei ou em regimento interno ou em
outro ato normativo qualquer, ultrapassado aquele prazo, já há abuso de poder,
começando, assim, a fluir o prazo do mandado de segurança”.
Importante registrar
Questão polêmica, porém, em relação à última hipótese aventada, é quando o Poder
Público não tem prazo para se manifestar, surgindo daí a complicação, tendo-se que
aplicar o conceito do prazo razoável. Ultrapassado tal prazo, estará havendo, com
certeza, o abuso do poder. Alguns autores dizem até que esse prazo razoável é o próprio
prazo de 120 dias do mandado de segurança.
Mas, então, o que é prazo razoável? Como ele se configura? Para estas respostas não
existem uma regra apriorística, pois o conceito jurídico de prazo razoável é
indeterminado, dependendo do requerimento, dependendo do local, entre outros. É o
magistrado, portanto, que vai analisar, casuisticamente, se o prazo razoável já escoou. A
título ilustrativo, o juiz pode, simplesmente, afirmar: “Diante da dificuldade deste
requerimento, já que o direito postulado é complexo, entendo que não existe ainda a
fluência do prazo razoável que daria ensejo à impetração do mandado de segurança.
Não havendo, portanto, ato abusivo de poder, por omissão, indefiro a inicial”.
Espécies de poderes administrativos (conceitos e fundamentos).
Poder Vinculado
Outra hipótese se encontra no art. 117, XI, da mesma Lei, a qual proíbe
terminantemente que o servidor atue como procurador ou intermediário junto a
repartições públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou
assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou companheiro,
comportamento que é punível com demissão. E tem mais: a demissão por infringência
do mencionado artigo incompatibiliza o ex-servidor para nova investidura em cargo
público federal pelo prazo de 5 (cinco) anos.
Ainda na mesma Lei, o poder vinculado também se encontra presente no art. 207, caput,
porquanto o administrador tem que conceder, mediante laudo médico, licença à
servidora gestante.
Mais um exemplo é a aposentadoria compulsória do servidor que ainda que o servidor
público não peça, é concedida. Portanto, o administrador está obrigado a produzir o ato
de aposentadoria (art. 40, II, da CF).
Pelos exemplos mencionados, deduz-se que o poder vinculado um ato matemático
porque só há uma única atuação possível, aceitável, não havendo liberdade de ação do
administrador público, devendo obrigatoriamente, apenas, seguir o que a lei prescreve.
A lei retira o poder de decisão do administrador e decide no seu lugar. O administrador
funciona como um autêntico “Robô” da lei.
Poder Discricionário
O poder discricionário tem sua origem proveniente do termo “discrição”, do latim
discretio, discernere (discernir, distinguir). Então, discricionário é o que se opõe à
discrição de outrem, ou seja, que se deixa a seu critério, a seu arbítrio, para que delibere
ou resolva segundo circunstância ou necessidade do momento.
Exemplificando, o poder discricionário pode ser demonstrado da seguinte maneira:
uma determinada pessoa mora num lugar que não tem iluminação; ela reclama e requer a
prestação do serviço. A autoridade, então, irá prestar o serviço, se entender ser oportuno
e conveniente, exercendo, assim, o poder discricionário.
Assim, na essência, poder discricionário é a faculdade conferida à autoridade
administrativa de escolher, ante a certa circunstância, uma entre várias soluções
possíveis. Mas, como se pode identificar se um ato é discricionário ou não?
No Poder Discricionário, o administrador está subordinado à lei. Só que o agente tem
liberdade para atuar de acordo com o juízo de conveniência e oportunidade, dentro dos
ditames da Lei. Havendo, por exemplo, duas alternativas, estabelecidas e Lei, o
administrador poderá optar por uma delas, escolhendo a que melhor atende ao interesse
público. As duas opções são válidas. Poder discricionário metaforicamente é “válvula de
escape”. Há uma margem legal de liberdade. A Lei admite mais de uma conduta válida,
dentre as quais o administrador terá que optar. O juiz não pode optar por outro ato
administrativo, por não ser substituto do administrador.
Toda vez que a lei utiliza o verbo poder ou, da mesma forma, expressões do tipo “é
facultado”, “a critério”, “de acordo com o juízo de conveniência e oportunidade”, ela
estará se referindo a atos discricionários, estará enfocando o poder discricionário, e que
pode ser demonstrado com o seguinte exemplo: uma determinada pessoa mora num
lugar que não tem iluminação; ela reclama e requer a prestação deste serviço. Pois bem,
a autoridade irá prestar o serviço, se entender ser oportuno e conveniente, exercendo,
assim, o poder discricionário.
Esse poder de escolha que, dentro dos limites legalmente estabelecidos, tem o agente do
Estado, entre duas ou mais alternativas, na realização da ação estatal, é que se chama
poder discricionário. Poder discricionário é poder, mas poder sob os limites da lei e que
só será válido e legitimamente exercido dentro da área cuja fronteira a lei demarca. O
poder ilimitado é arbítrio, noção que briga com a do Estado de Direito e com o princípio
da legalidade que é dele decorrente.
O poder discricionário vem, geralmente, indicado nas leis que definem a competência
dos órgãos e agentes públicos pelas expressões “poderá”, “é autorizado”, “permite-se”,
ou semelhantes, assim como as ressaltadas acima. Ao conceito de poder discricionário
contrapõe-se o de competência vinculada ou ligada, referindo-se aos casos e situações
em que o Estado está estritamente submetido à lei, não cabendo ao agente público
qualquer margem de liberdade, como se demonstrou no tópico pretérito.
Outro exemplo do poder discricionário, no parâmetro da lei, é o fechamento de boates.
Assim, se o fundo de comércio tinha autorização para funcionar como restaurante, mas
funcionava como boate, apesar do alvará constar ser para restaurante, diz a legislação
que, uma vez descumprida a finalidade do alvará, a Administração Pública pode: a)
advertir; b) fixar um prazo para regularização; c) suspender temporariamente as
atividades; d) cassar o alvará.
No caso, quando a lei abre esse leque de opções, o administrador vai poder escolher a
punição. Esta possibilidade de escolha, dentro do âmbito da lei, é exercício do poder
discricionário, pois a lei não previu um só comportamento, mas vários. Contudo, tem a
Administração que motivar a sua escolha, ou melhor, terá que mencionar porque
escolheu uma opção e não a outra, tendo que ser a punição adequada ao caso, e cuja
última saída é cassar o alvará. Há que preponderar, portanto, o princípio da
proporcionalidade da sanção em relação aos meios.
Poder Hierárquico
É o alicerce, a base, a espinha dorsal da própria estrutura da máquina administrativa pois,
sem hierarquia na atividade administrativa, nenhuma organização funcionaria, seria o
caos, autêntico transtorno, anarquia e desordem. O poder hierárquico é o alicerce, a base,
o sustentáculo da própria estrutura administrativa, objetivando a boa
engrenagem administrativa. O poder hierárquico é inerente a toda estrutura
administrativa. Toda estrutura tem um poder de comando. A hierarquia é fundamental.
Gera efeitos, apenas, no âmbito interno da Administração Pública.
Quando se pensa em qualquer tipo de empresa bem organizada, pressupõe-se que dentro
de sua estrutura haja uma hierarquia, além de disciplina aos seus funcionários. E, em se
tratando da Administração Pública, isto não é diferente.
Sendo assim, dentro da estrutura hierárquica, a autoridade superior vai poder exercer
sua influência decisória sobre a autoridade inferior a ela subordinada, tendo-se,
portanto, uma hierarquia dentro da estrutura administrativa.
10
Aliás, a título ilustrativo, já dizia Aristóteles, ao falar que o poder circunda as esferas das relações humanas, que alguns seres,
quando nascem, estão destinados a obedecer; outros, a mandar.
Poder hierárquico, então, é o de que dispõe o Estado para distribuir e escalonar as
funções de seus órgãos, ordenar e rever a atuação de seus agentes, estabelecendo a
relação de subordinação entre os servidores do seu quadro de pessoal.
Teoria da Encampação
FIQUE DE OLHO
Poder Disciplinar
Poder disciplinar significa justamente o poder que tem a autoridade competente de
averiguar infrações funcionais praticadas por agentes públicos e para aplicar, se for o
caso, a respectiva sanção disciplinar. Cabe à Administração Pública, portanto, apurar
infrações e aplicar penalidades aos servidores públicos e demais pessoas sujeitas à
disciplina administrativa. É uma supremacia especial que o Estado exerce sobre todos
aqueles que se vinculam à Administração, por relações de qualquer natureza,
subordinando-os às normas de funcionamento do serviço ou do estabelecimento que
passam a integrar definitiva ou transitoriamente.
É importante registrar
I - advertência;
II - suspensão;
III - demissão;
IV - cassação de aposentadoria ou disponibilidade;
V - destituição de cargo em comissão;
VI - destituição de função comissionada.
De acordo com a gravidade, a Administração Pública dentre elas, escolhe o que melhor
atende o interesse público, mas terá que motivar o porquê da aplicação de tal sanção, sob
pena de nulidade, ou seja, tem que haver uma adequação da penalidade x a falta praticada.
Curiosamente, vale mencionar que, se a punição for muito light, pode o Judiciário
ampliá-la? Nesse caso, não. Por enquanto, é só redução para patamares razoáveis. Se, por
acaso, a infração for grave, mas o administrador entender que cabe apenas uma
advertência verbal, o Judiciário não interfere, haja vista que o poder disciplinar cabe ao
administrador público, não ao Judiciário, que só vai verificar se a aplica-
Poder Regulamentar
Convém lembrar que a função estatal de editar normas gerais e abstratas é do Poder
Legislativo, que desempenha um papel importantíssimo enquanto porta-voz da
sociedade, sobretudo, buscando com ela satisfazer expectativas ou atender às
necessidades de todos, inclusive do próprio Estado. Acontece que o legislador não é
capaz de apreender, absorver detidamente todas as situações que surgem no meio social;
consequentemente, não pode prever, no texto positivo, todas as situações fáticas, até
mesmo por conta das transformações que ocorrem dentro da própria sociedade em tão
pouco tempo.
O detalhamento, esclarecimento ou regulamentação das leis somente é possível em
decorrência da existência desse poder regulamentar, também denominado poder
normativo. Sendo assim, tem o administrador a faculdade de clarificar as leis, detalhando,
esmiuçando, explicitando seus meandros, para dar executoriedade àquelas que não são
auto executáveis, denominando-se esta competência de poder regulamentar, que é
definido por Hely Lopes Meirelles como “a faculdade de que dispõem os Chefes do
Executivo (Presidente da República, Governadores e Prefeitos) de explicar a lei para sua
correta execução, ou de expedir decretos autônomos sobre matéria de sua competência
ainda não disciplinada por lei”.
Esse poder regulamentar é, então, na visão majoritaríssima da doutrina, uma
prerrogativa da Administração Pública de editar atos gerais, normas gerais para
complementar as leis, assim permitindo “sua fiel execução” (art. 84, IV, da CF/88).11
Cabe frisar, porém, que o exercício dessa prerrogativa pela Administração é voltado
apenas para complementar os vazios da lei, para dar à máquina administrativa condições
de materializar a lei, não podendo, pois, a Administração alterá-la, modificá-la,
inovando na ordem jurídica, a pretexto de estar regulamentando algo mais.
Atenção !
As leis administrativas podem ser regulamentadas, mesmo que os textos da
legislação não contenham expressamente essa regulamentação, porque estamos diante das
denominadas leis não-autoexecutáveis, portanto, por ser inerente a função
administrativa, não há impedimento para tal, podendo ser materializadas por resoluções,
Decretos, Portarias.
11
“Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: [...] IV – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como
expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; ”
norteiam o sistema jurídico brasileiro, qual seja: “Ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (art. 5o, II, CF) – grifo nosso. Se
assim o fizer, a Administração estará cometendo abuso de poder regulamentar,
invadindo a competência do Legislativo, podendo o ato sofrer invalidação pelo
denominado Poder de Sustação, estabelecido no art. 49, V, da Carta Magna, que
autoriza o Congresso Nacional a sustar atos normativos que extrapolem os limites do
poder de regulamentação.
Há total possibilidade de controle judicial em face do Poder Regulamentar ? Sim, em
conformidade com o art. 102, I, alínea “a” da Constituição Federal, exatamente por
traduzir generalidade, abstratividade, quando o regulamento contrariar frontalmente os
limites da lei, podendo ser atacado por via direta, isto é, por intermédio da Adin.
No tocante a polêmica da existência ou não do decreto autônomo, cabe frisar
que o decreto autônomo não existe para detalhar a lei. Trata-se de uma criação do direito
italiano. Existe como se fosse a lei , substituto da lei, por exemplo, o DL 3365/41 ( regra
geral da desapropriação).
O decreto autônomo não teria a função de detalhar os comandos legais. Logo, não
integra o poder regulamentar. O objeto do decreto autônomo seria justamente expedir
matérias com força de lei (inovação na ordem jurídica, impondo direitos e obrigações
para os administrados).
Antes da entrada em vigor da EC n° 32 de 2001, nossa Carta Magna não admitia tal
figura, admitindo-se apenas o decreto regulamentador ou de execução que, como se
pôde ver, é ato editado pelo chefe do Poder Executivo com intuito de regulamentar uma
lei, visando sua fiel execução.
Apesar da resistência de parte da doutrina constitucionalista ao decreto autônomo,
devido à clara usurpação de atribuições que, a rigor, pertenceriam ao Poder Legislativo,
fato é que a partir de 2001 passou-se a existir autorização expressa dada pelo
Constituinte ao Presidente da República para que este edite tais atos, conforme se pôde
verificar do exame do art. 84, da CFRB/88.
12
DI PIETRO, op. cit., p. 93.
Poder de Polícia
O poder de polícia é uma prerrogativa outorgada pela Administração Pública a
seus agentes, que lhes dá o poder-dever de agir em nome dela. É através dessas
ações que o Estado intervém nas relações sociais, sendo este o seu real objetivo. Nesta
relação, o homem, então, é destituído de seu poder individual supostamente absoluto e
passa a figurar como coadjuvante num cenário maior, que é o interesse público.
Relevante é ressaltar, portanto, que não há direito individual absoluto. Os direitos são
todos relativos, em prol do interesse público, o que significa dizer que a Administração
pode limitar, condicionar e restringir os direitos individuais em prol do interesse
coletivo, mas sem poder jamais retirar o próprio direito do cidadão, hipótese em que não
seria poder de polícia, e sim arbítrio, configurador do abuso de poder. Assim, em nossos
dias, predomina a ideia da relatividade dos direitos, porque, de acordo com as palavras
do civilista francês Georges Ripert, “o direito do indivíduo não pode ser absoluto,
visto que absolutismo é sinônimo de soberania. Não sendo o homem soberano na
sociedade, o seu direito é, por consequência, simplesmente relativo13”.
Vamos para a praticidade:
13
Apud MEIRELLES. Direito…, op. cit., p. 131.
da sociedade. Logo, a Administração Pública, no exercício da polícia administrativa,
agirá preventivamente, visando obstar uma atividade particular que se revele
contrastante com o interesse público, isto é, que cause um dano para coletividade. A
realização de uma passeata no dia e hora citados causaria, provavelmente, um dano,
uma perturbação à coletividade. Já pensaram numa manifestação, mesmo pacífica, na
Ponte Rio Niterói, sexta-feira, às 18 h, que caos?!
Bem, teoricamente falando, essa distinção parece fácil, mas a prática é muito mais rica
do que se imagina, pois, a diferença entre essas duas “polícias” é apenas relativa. Na
prática, suas características ora se invertem, ora se confundem, e nem sempre é fácil
vislumbrar isso no caso concreto, tanto assim que a doutrina costuma dizer que a polícia
administrativa tanto pode agir preventivamente (como, por exemplo, proibindo o porte
de arma) como pode agir repressivamente (quando apreende a arma usada
indevidamente). Entretanto, em ambas as hipóteses, poder-se-ia afirmar que ela está
tentando impedir que o comportamento individual produza danos maiores à sociedade, e
nesse sentido é correto dizer que o caráter da polícia administrativa é eminentemente
preventivo. Mas, ainda assim, falta precisão ao critério, pois se pode inferir que a polícia
judiciária, embora seja uma atividade administrativa repressiva em relação ao indivíduo
infrator da lei penal, é também uma atividade preventiva em relação ao interesse geral,
porque, punindo o infrator, procura-se evitar que o indivíduo volte a incidir na mesma
infração.
Note-se, assim, que a distinção é complexa, mas aqui se vai tentar apontar algumas
diferenças possíveis, das muitas encontradas na doutrina, entre polícia administrativa e
polícia judiciária.
A primeira diferença que todos os autores enfocam é que a polícia administrativa atua
de forma preventiva, dizendo que ela é uma “atividade-fim”, que ela é um fim em si
mesma ou se exaure em si mesma, em uma única fase, enquanto a polícia judiciária atua
de forma repressiva, sendo considerada uma “atividade-meio” porque ela é preparatória,
isto é, ela prepara o terreno para uma futura atuação estatal ou para um outro órgão ou
ente estatal qualquer. No entanto, vimos que esse critério de distinção torna-se
esvaziado quando se identifica entre ambas os efeitos preventivo e repressivo, como se
demonstrou no exemplo acima e que também veremos abaixo.
. Um esclarecimento necessário
O Poder de Polícia não pode extinguir o direito, esvaziar um direito. É de suma
importância ficar consignado que o poder de polícia reside no condicionamento e
restrições, mas jamais na supressão do direito garantido constitucionalmente.
É importante atentar para a seguinte regra: será competente para exercer o poder de
polícia administrativa a entidade que tem competência para legislar sobre a matéria,
segundo a repartição constitucional de competências, e o nosso sistema constitucional
de competências discrimina, por exemplo, quais são os assuntos de competência
legislativa privativa da União, que estão contemplados no art. 22 da Carta da República.
Mas, já no art. 21, por exemplo, que trata das competências materiais da União Federal,
há uma referência, no inciso VI, sobre a autorização e a fiscalização da produção e
comércio de material bélico, e esta competência é exclusiva da União. Por isso, quando
o Município do Rio de Janeiro quis regular a compra e venda de material bélico, tal
pretensão foi-lhe negada porque, na real verdade, a Constituição estabelece à União o
poder de legislar sobre essa matéria.
Se o poder de polícia, como já dito, é conferido a todas as Pessoas Políticas da
Federação, a elas cabendo atuar editando leis e atos administrativos, coerente é que se
lhes confira, também, em decorrência, o poder de expor minuciosamente as restrições,
atuação esta que caracteriza o poder de polícia originário, o qual nasce, portanto, com a
entidade que o exerce, sendo pleno o seu exercício, subordinado unicamente à
Constituição; melhor dizendo, é exercido pelo próprio Estado – pela administração
pública direta. Então, a União, Estados, Distrito Federal e Municípios têm competência
para exercer poder de polícia dentro daquele sistema de partilha de competências
estabelecido na Constituição.
Existe, ainda, o poder de polícia delegado, este um pouco mais complexo, que é o
que se transfere a outras pessoas administrativas vinculadas ao Estado – administração
pública indireta –, para atuarem através de lei formal, caracterizando-se por serem atos
de execução. É o poder que, embora limitado, as pessoas recebem através de um ato
próprio para isso, mas cuja delegação não é outorgada a pessoas de direito privado
desprovidas de vinculação real com os entes públicos, pois estas não possuem o ius
imperii necessário ao desempenho do poder de polícia, ou seja, não têm competência
legal, atribuída originalmente a elas, para fazer determinadas fiscalizações, como foi na
época dos vários planos econômicos, quando vários órgãos da Administração municipal
e estadual receberam competência para fiscalizar o tabelamento de preços, e como no
caso do IBAMA, uma autarquia federal que, na área de meio ambiente, exerce poder de
polícia derivado ou delegado.
Afirmar que o poder de polícia não pode ser delegado por ser uma atividade adstrita
à soberania estatal e o Estado não poder delegar aquilo que é ligado à sua soberania,
trata-se de um posicionamento superado. Nem tudo ligado ao poder de polícia é
vinculado à soberania do Estado, ou seja, ao poder de império, pois existem
atividades ligadas ao poder de polícia que correspondem ao poder de gestão, que são
justamente aquelas praticadas sem que o Estado utilize de sua supremacia sobre os
destinatários. Para a corrente majoritária, o poder de polícia não pode ser delegado
para as pessoas da administração Pública Indireta (pessoa jurídica de direito
privado). No entanto, afirmar que o poder de polícia não pode ser delegado por ser
uma atividade adstrita à soberania estatal e o Estado não poder delegá-la, trata-se de
um posicionamento superado.
Por isso, hoje predomina a posição intermediária, isto é, que o poder de polícia é
parcialmente delegável.
Assim, antes de se falar propriamente de delegação, há de se observar, conforme dito, as
formas de atuação do poder de polícia, que podem ser a escrita ou a verbal, admitindo-
se, ainda, a simbólica, como os silvos dos policiais de trânsito, por exemplo, a
sinalização do tráfego de veículos e pedestres etc., atuações estas, no entanto, cujo
exercício não é instantâneo, e sim percorrido em fases, que eventualmente vão ser
seguidas no caso concreto.
Mas, por que é importante compreender essas fases de polícia? Por várias razões,
principalmente para entender as controvérsias que existem sobre essa temática, que é a
delegação do poder de polícia à entidade privada, pois invariavelmente a doutrina vai
trazer, a partir dessas fases, diversos aspectos do poder de polícia para responder à
questão em tela. A jurisprudência, no entanto, assim não procede, porque tem uma
posição mais clássica, mais conservadora, mas infelizmente o que se observa é que não
são poucos os magistrados que, em suas decisões, chegam a confundir poder de polícia
com Polícia Militar, Polícia Civil e Polícia Federal, com poder de segurança pública,
quando isto não é verdade. Uma entidade autárquica, quando fiscaliza o meio ambiente,
quando fiscaliza as condições sanitárias de um restaurante, por exemplo, ela está
exercendo poder de polícia, mas isto não tem nada a ver com o sentido técnico da
expressão segurança pública. Assim, dizer que não se delega poder de polícia à entidade
privada, até aí, tudo bem, é o raciocínio perfeito, mas afirmar que isto é porque
segurança pública não se delega a terceiros é um argumento equivocado, bastando
observar o caso concreto da fiscalização de trânsito, que faz lembrar segurança pública e
que a Administração pode contratar com terceiros essa atividade instrumental, mas isto
não é o poder de polícia que está sendo delegado14. Portanto, poder de polícia pode
envolver segurança pública, mas pode envolver segurança de trânsito, pode incidir sobre
a disciplina das construções (poder de polícia edilícia), sobre a proteção do meio
ambiente (poder de polícia ambiental), da saúde pública (poder de polícia sanitária), etc.
Enfim, há inúmeras manifestações de poder de polícia, sendo segurança pública apenas
uma delas. Agora, é bom deixar claro que essa crítica que aqui se faz não é quanto à
conclusão a que alguns magistrados chegam, de que não se delega poder de polícia à
entidade privada, e sim com relação ao argumento, que tem que ser coerente, tem que
ser um argumento jurídico, e não aquele que eles trazem.
Como se pode observar, então, o poder de polícia abrange uma área muito mais ampla
do que polícia de segurança. Assim, certas áreas de atuação do poder de polícia não só
podem como devem ser delegados a terceiros, inclusive pela falência dos próprios
órgãos públicos, especialmente a polícia de costume.
Pois bem, partindo-se dessas premissas, seguindo a orientação didática do professor
Diogo de Figueiredo Moreira Neto, que nesse ponto é praticamente repetida por quase
todos os autores, existe um ciclo de fases que vão ser adotadas no exercício do poder de
polícia, que ele denomina de ciclo de polícia, elencando quatro modos de atuação
administrativa: pela ordem de polícia, pelo consentimento de polícia, pela
fiscalização de polícia e, por fim, eventualmente, pois nem sempre necessária, pela
sanção de polícia, momentos importantes que agora serão detidamente analisados,
detalhando-se seus meios de execução.
CICLOS OU FASES DO
PODER DE POLÍCIA
15
Nesse sentido, observe-se a jurisprudência do STJ: “Direito Administrativo. Recurso Ordinário em mandado de segurança.
PROCON. Aplicação de multa no exercício do poder de polícia. Princípio da legalidade. Ausência de tipicidade da infração.
1. O procedimento administrativo pelo qual se impõe multa, no exercício do Poder de Polícia, em decorrência da infringência à
norma de defesa do consumidor deve obediência ao princípio da legalidade. É descabida, assim, a aplicação de sanção
administrativa à conduta que não está prevista como infração.
2. Recurso ordinário provido” (RMS nº 19510/GO, 1a T., Min. Teori Albino Zavascki).
Na segunda fase, vem o consentimento de polícia e o nome já é auto
sugestivo. No consentimento, o que o Estado vai fazer? Algumas atividades privadas
só poderão ser executadas com consentimento prévio do Estado. Por exemplo, casas
construídas nas proximidades da praia não poderão jogar detritos diretamente no
mar, porque a lei exige sumidouro. Essas atividades privadas, para serem exercidas
precisaram necessariamente de uma concordância prévia do poder público, de um
consentimento prévio do poder público. O Estado diz: “olha, para exercer essa
atividade privada, que é importante, que é perigosa, particular, tem que pedir
primeiro um consentimento prévio pra mim, o Poder Público”.
16
MEDAUAR, op. cit., p. 372.
O terceiro momento do exercício do poder de polícia é a fiscalização, que é atividade
material típica de polícia consistente na verificação do cumprimento ou não, pelo
particular, das normas legais que estabeleçam proscrições (vedações) ou das condições
estabelecidas pela Administração para consentir o desempenho de atividades, pois há
determinadas circunstâncias que, por exemplo, a licença é concedida sob condição, e
essas condições vão ser aferidas exatamente no momento da fiscalização. Assim,
aquelas restrições ou condicionantes que foram colocadas primeiramente pela lei,
secundariamente por atos normativos administrativos ou até pelo consentimento de
polícia, elas têm que ser cumpridas, e o Poder Público tem que verificar isso, fazendo
uso da fiscalização. Isso é poder de polícia, poder de polícia fiscalizatório.
Portanto, é nesse momento, na fiscalização, que o Poder Público tanto vai verificar se
determinada atividade está sendo desempenhada pelo particular de acordo com a ordem
de polícia, quando observar se não estão ocorrendo abusos nas utilizações de bens e nas
atividades que receberam consentimento de polícia; portanto, uma atividade material da
Administração que previne danos decorrentes da ação dos administrados, como é o caso
das visitas dos agentes públicos competentes a restaurantes, bares e lanchonetes, para
fiscalizar ou verificar se os banheiros dos restaurantes se encontram em perfeitas
condições higiênicas, se estão sendo cumpridas as normas necessárias à correta
determinação dos atos no que concerne à higiene e à qualidade dos alimentos postos ao
consumo público, ou até verificar se a edificação de um imóvel está sendo realizada
segundo o alvará de licença concedido, dentre outras.
FISCALIZAÇÃO DE
POLÍCIA
(DELEGÁVEL)
ATIVIDADE DO
ESTADO PARA
VERIFICAR SE O
DESEMPENHO DAS
ATIVIDADES
SEGUEM AS
VEDAÇÕES E
CONDIÇÕES
ESTABELECIDAS.
SANÇÃO
DE POLÍCIA
(INDELEGÁVEL)
PENALIDADE
APLICADA
CONFORME A LEI A
QUEM DESCUMPRE
ORDEM OU
CONSENTIMENTO
DE POLÍCIA
Tem por base a lei que trata Permite o particular a exercer uma atividade. Verifica a efetiva execução
Havendo ilegalidade, será
das limitações impostas aos Licença – ato vinculado / permanente do Ato por parte do
aplicada uma sanção
particulares. Autorização – ato discricionário / precário particular.
Proporcionalidade
O sentido da proporcionalidade, como condição de validade do exercício do poder de
polícia, é consequência da necessidade do uso deste poder para que se atinja o interesse
público, o que equivale dizer que a arbitrariedade e a coerção não podem ser exercidas
pelos agentes da Administração Pública. Dessa forma, o poder de polícia só pode ser
exercido na extensão e intensidade proporcionais ao que seja demandado para o
cumprimento da finalidade de interesse público a que está atrelado, sob pena de, caso
os meios utilizados forem mais enérgicos do que o necessário à obtenção do resultado
colimado, configurar-se-á o ato como ilegítimo. Segundo Marcelo Caetano, “o emprego
imediato de meios extremos contra ameaças hipotéticas ou mal desenhadas constitui
abuso de autoridade. Tem de existir proporcionalidade entre os males a evitar e os
meios a empregar para a sua prevenção”.17
É imperioso, portanto, o respeito à proporcionalidade entre a medida escolhida e a
finalidade da lei que determina a execução de tal medida, uma relação de equilíbrio
entre os meios e os fins da atividade administrativa, daí a doutrina mais autorizada ter
erigido a proporcionalidade à categoria de princípio necessário à legitimidade do ato de
polícia. Como realça Celso Antônio Bandeira de Mello, o princípio da
proporcionalidade representa uma faceta da razoabilidade, que impõe à Administração
cautela na sua atuação, devendo observar critérios aceitáveis sob a ótica racional,
atribuindo à sua conduta prudência e sensatez, até porque uma conduta desarrazoada
não condiz com a finalidade da lei, pois é através dela que se obtém a medida ideal que
17
CAETANO. Manual...,op. cit., p. 1.159.
atende de modo perfeito a finalidade pretendida, ou seja, o poder de polícia não deve ir
além do necessário à satisfação do interesse público.
Autoexecutoriedade
Caso concreto
Qual é o fundamento jurídico de ato da Administração Pública que
ordena a demolição de prédio particular ameaçado de ruir com risco à integridade
física de pessoas? Pode o proprietário do imóvel sustar a iniciativa da
Administração?
Sim, o atributo da auto-executoriedade autoriza a própria Administração
Pública a executar as suas decisões, com os próprios meios, as prestações
tipicamente administrativas podem ser exigidas e executadas imediata e diretamente
sem precisar recorrer, previamente, ao Poder Judiciário. Dispensa, assim, de
mandado judicial.
Poderá, então, a Administração empregar meios diretos de coerção, compelindo
materialmente o administrado a fazer alguma coisa utilizando-se, inclusive, da força,
se necessário.
O Ato da Administração Pública que ordena a demolição de prédio
particular, ameaçado de ruir, com risco à integridade física de pessoas, tem como
fundamento jurídico o princípio da predominância do interesse público sobre o
particular O exercício desse poder perde a sua justificativa quando é utilizado para
prejudicar ou beneficiar pessoa determinadas. Há desvio de poder da autoridade que
se afasta da finalidade pública. O desvio de poder gera a nulidade do ato e
responsabilidade do administrador, como consequência, nas esferas civil, penal e
administrativa.
Não pode o proprietário do imóvel sustar a iniciativa da Administração Pública,
baseado no princípio da supremacia do interesse público, não cabendo ao particular
qualquer medida, administrativa ou judicial, que vise impedir a incidência da
limitação sobre o imóvel de sua propriedade, pois as medidas tomadas pela
Administração Pública foram impostas pelo Poder de Polícia do Estado.
Somente quando a Administração age com abuso de poder, extrapolando os limites
legais, cabe ao particular opor-se à limitação imposta por ela, e arguir indenização
pelos prejuízos decorrentes deste ato administrativo.
Coercibilidade
De fato, todo ato de polícia é imperativo, isto é, obrigatório para o seu destinatário,
admitindo-se até o emprego da força pública para seu cumprimento, quando este opõe
resistência. Não há ato de polícia facultativo para o particular, pois todos eles admitem a
coerção estatal para torná-los efetivos, e essa coerção também independe de autorização
judicial; é a própria Administração que determina e faz executar as medidas de força
que se tornarem necessárias para a execução do ato ou aplicação da penalidade
administrativa, justificando-se, portanto, o emprego da força física quando houver
oposição do infrator.
Porém, nos casos em que a força física exceder os limites da razoabilidade e for
aplicada com violência desproporcional, caracterizar-se-á o excesso de poder e o abuso
de autoridade, que serão passíveis de reparação e consequente punição dos agentes que
o excederam. Daí estarem os atos de poder de polícia submissos ao princípio da
proporcionalidade.
Portanto, o ato de polícia não é facultativo para o administrado, de vez que todo ato de
polícia tem a coercibilidade estatal para efetivá-lo. E, dado o atributo da
autoexecutoriedade, como visto, essa coerção independe de autorização do Poder
Judiciário, pois é a própria Administração Pública que decide e toma as providências
cabíveis para a realização do que decidiu, removendo os eventuais obstáculos que o
administrado oponha, inclusive, para isso, aplicando as medidas punitivas que a lei
indique.
Exigibilidade
Pode ser, por exemplo, uma situação de um imóvel que esteja em estado
precário de condições e sem segurança ao público. O poder público lavra, então, um
auto de infração e determina que o particular promova as obras de restauração, num
prazo de 45 dias, por exemplo, sob pena de multa diária no valor de “x”. O particular
está obrigado a fazer isso e, se por acaso, quiser se insurgir contra esta decisão
executória, que é exigível dele, terá que ir ao Judiciário para tentar anular aquele ato e
demonstrar que tal imóvel está em perfeitas condições, podendo ser utilizado sem
nenhum problema.
7. ATO ADMINISTRATIVO
7.1. Conceito
O ato administrativo, sendo espécie do gênero ato jurídico, é, pois, um ato jurídico
realizado pela estrutura administrativa, mas possuidor de peculiaridades próprias. Uma
delas, a mais importante, é a característica da imperatividade.
Com efeito, ato administrativo é a manifestação unilateral de vontade da Administração
Pública que, graças ao poder de império, tem condições de impor obrigações a terceiros,
visando travar relações jurídicas para atender ao interesse público.
7.2. Ato administrativo e ato privado da administração
Cabe distinguir, nesta oportunidade, os atos de administração dos atos da Administração
Os primeiros são atos meramente materiais, não jurídicos, embora editados por agentes
administrativos credenciados.
Já os atos da Administração seria o gênero e os demais atos, inclusive os atos de
administração, espécies. Dentre os atos de administração, subdividem-se estes em atos
jurídicos e atos não-jurídicos, encaixando-se o ato administrativo no primeiro rol.
Portanto, nem todos os atos praticados pela Administração são atos administrativos,
embora possam até ser consequentes daqueles. Atos da Administração são aqueles
praticados pelo Estado no exercício da função administrativa para atingir as finalidades a
que se propõem, ao passo que atos administrativos são aqueles em que o Poder Público
atua com seu poder de império, usando de prerrogativas administrativas.
Vale, portanto, antecipar que ato administrativo é manifestação do exercício da função
administrativa que sob o regime jurídico de direito público que objetiva a aquisição,
conservação, modificação, transmissão ou extinção de direitos para consecução do
interesse público. Exemplo disso é um decreto expropriatório.
É interessante ainda observar que nem todo ato administrativo é ato da Administração,
bem como, nem todo ato da administração é ato administrativo.
Como ato da Administração, temos, como típicos exemplos, contratos privados, em que
a Administração Pública pratica ato sob regime jurídico de direito privado. Logo, se a
Administração Pública celebra um contrato de locação, privado, na condição de locatária,
não será ato administrativo, mas sim ato da Administração ou ato de mera atuação do
Estado.
Deve-se lembrar, também, que, conceitualmente, o ato administrativo se submete ao
regime jurídico de direito público. Já a locação e o comodato, ainda que celebrados pela
Administração Pública, serão contratos submetidos ao regime jurídico de direito privado.
Seguindo uma sistematização proposta por Oswaldo Aranha Bandeira de Melo 18,
podemos distinguir os seguintes tipos de atos da Administração:
a) Atos inteiramente regidos pelo Direito Privado, conforme o Direito Civil,
nivelando-se ao particular, abrindo, pois, mão do seu poder de supremacia,
vez que desnecessário em muitas situações.
18
BANDEIRA DE MELLO, Oswaldo Aranha. Princípios gerais de direito administrativo. v. I. Rio de Janeiro: Forense,
1999, p. 412.
b) Atos puramente materiais, quer dizer, que não apresentam efeitos jurídicos
diretos, não podendo, portanto, serem considerados sequer atos jurídicos. Tal
é o caso, por exemplo, da execução de trabalhos técnicos, como a projeção de
obras por um engenheiro, a pavimentação de uma rua, a verificação das
condições sanitárias de uma população, o atendimento ambulatorial ou
hospitalar em hospital da rede pública, o ministério de uma aula em
universidade ou escola pública por ocupante de cargo público de professor, a
colocação de um transformador numa rua ou a construção de uma galeria.
19
É o ensinamento de José dos Santos Carvalho Filho, p.104.
Imaginemos a hipótese de um agente público que, tendo o dever de solucionar
determinado petitório de um particular, observe tratar-se de um antigo rival seu, deixando
de cumprir o dever de responder. Estará, assim, incorrendo no crime de prevaricação,
descrita no artigo 319 do Código Penal, ficando sujeito às penas daquele crime.
7.5. Elementos do ato administrativo (perfeição, validade e eficácia).
Quando se fala em formação e efeito do ato administrativo, a referência se dá a quatro
itens:
PERFEIÇÃO EFICÁCIA
EXEQUIBILIDADE
VALIDADE
(EXISTÊNCIA)
Perfeição
Para ser perfeito, dizemos que o ato precisa estar completo, isto é, possuir determinados
elementos, sem os quais, materialmente, ele nem mesmo existe no mundo jurídico.
Portanto, ato perfeito é aquele que possui todos os elementos à sua formação; não os
possuindo, ele não existe.
Para a formação do ato ser perfeito, o processo pode se dar de uma maneira longa, mas
não intervindo, neste caso, a vontade do Administrador. O certo é que a perfeição do ato
somente vai suceder quando se encerrar seu ciclo de formação, ressalvando-se, aqui, que
o sentido da perfeição é o de conclusão.
Eficácia
A eficácia do ato pode ser conceituada como a idoneidade que tem o ato administrativo
para produzir seus efeitos na esfera jurídica, não apresentando obstáculo, ou seja, o ato
está pronto para atingir o fim a que foi destinado. Eficácia, em síntese, é a aptidão do ato
para produzir efeitos.
Assim, toda vez que um ato repercute, nessas circunstâncias, na esfera jurídica, dizemos
que ele é eficaz, não estando sujeito a prazos, à condição suspensiva nem a um ato de
ratificação que condicione a sua produção de efeito.
Constituir-se-ia a eficácia, então, em um pressuposto da validade do ato administrativo?
Não, eis que muitas vezes o ato é válido, existe, mas é ineficaz, já que está sujeito a três
institutos, quais sejam: condição, encargo e termo.
Entretanto, existem algumas situações que, para produzir efeitos, o ato precisa ser
homologado, obrigatoriamente, a fim de possuir a chancela da eficácia.
A título ilustrativo, seria o caso de um processo de aposentadoria em que o Chefe do
Executivo a concede. Neste caso, é necessário que o Tribunal de Contas ratifique,
confirme esse ato, segundo prescreve o art. 71, III, da Constituição da República.
Outro exemplo é a dispensa de licitação. Para ter eficácia, essa dispensa tem que ser
homologada por autoridade superior, que fará uma revisão, uma fiscalização do controle
de validade.
Enquanto não houver homologação, não estará sacramentada a eficácia, eis que a
homologação é condição suspensiva, ou seja, enquanto ela não for implementada, o ato
não produz efeitos e, sendo assim, é ineficaz.
Para essa acepção, damos como exemplo o período de vacatio legis, como um decreto do
Chefe do Executivo, que entrará em vigor em 15 dias. O decreto foi realizado com todos
os elementos estipulados por lei (motivo, finalidade, objeto, forma e competência), ou
seja, está materialmente completo, tem existência e validade. Porém, enquanto pendente
(15 dias), esse ato (decreto) não é eficaz, uma vez que não se encontra, ainda, em estado
de produtividade de seus efeitos.
Exequibilidade
20
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio, op. cit., p. 356.
No que tange à competência do ato administrativo, registramos que a Lei da Ação Popular
(artigo 2º, Lei 4.717/65) elenca e conceitua todos os elementos do ato.
ELEMENTO VINCULADO DO
ATO ADMINISTRATIVO
Então, a forma é, em regra, escrita. Aliás, o simples pressuposto para que a forma seja
escrita acrescenta a esta o elemento da vinculação. Há exceções, conforme já explanado,
tais como o sinal de trânsito, que é um ato administrativo visual; o apito do guarda, ato
administrativo sonoro; o gesto do guarda de trânsito, ato administrativo visual, entre
outros. Estes atos se caracterizam por não possuir uma forma escrita, apesar de esta ser a
exceção.
Como exemplo de forma escrita têm-se os autos de punição, de destruição e de interdição.
Sempre que possível, todo e qualquer ato administrativo deve ser escrito e reduzido a
termo, a fim de facilitar o direito de defesa do cidadão que foi autuado com qualquer
destes atos. Esta exigência “reduzida a termo” já faz da forma um elemento vinculado21.
É, pois, importante, e mesmo fundamental, que todos os atos administrativos sejam
devidamente formalizados e bem documentados, de modo a viabilizar o controle da
conduta do administrador no manuseio da coisa pública, elemento essencial a um Estado
Democrático de Direito.
7.5.4. Motivo
O motivo do ato administrativo diz respeito à causa que originou a prática daquele ato,
ou seja, a situação de direito ou de fato que determina ou autoriza a prática do ato
administrativo. É o “porquê” do ato administrativo, o que leva a Administração Pública
a emitir o ato. O motivo é obrigatório, indispensável.
A existência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em que se
fundamenta o ato, é materialmente existente ou juridicamente adequada ao resultado
obtido, que nada mais é do que a execução do objeto para atender efetivamente a
finalidade.
Assim, o motivo ora será de fato, ora será de direito. Quando o motivo for deixado a
critério do administrador para decidir se pratica ou não o ato (discricionário), terá este
motivo de fato; quando o motivo for fixado em lei, que obriga o administrador a praticar
um ato administrativo (vinculado) determinado, será ele motivo de direito.
Exemplo do motivo de fato é a desapropriação comum, onde a decisão cabe ao
administrador. Já o motivo de direito teria como exemplo a desapropriação contida no art.
243 da Constituição Federal, pois aqui a lei está impondo à Administração o dever de agir
daquela maneira determinada.
Então, motivo é a circunstância de fato ou de direito que autoriza ou impõe ao agente a
prática do ato administrativo, que pode ser identificada como aquelas situações reais que
devem ser levadas em conta para o agir da Administração Pública competente. Uma
construção irregular, por exemplo, pode ensejar a edição de um ato (embargo) que
imponha a imediata paralisação da obra, da mesma forma que a necessidade de um
21
A única autora que entende que a forma não é elemento vinculado do ato administrativo é a Maria Sylvia Zanella Di Pietro, em
razão da mutabilidade da forma não gerar necessariamente a nulidade. Mas isso não é novidade, porque a competência também é
um elemento vinculado que se pode ratificar. Então, competência e forma são convalidáveis.
veículo para servir a Administração gera a edição de ato que determine a abertura de
licitação. Vemos assim que, nos dois casos, os motivos levaram a Administração Pública
a praticar os referidos atos.
Há, portanto, uma relação de causa e efeito entre motivo e finalidade. Finalidade é uma
razão genérica, motivo é uma razão específica. Ocorrido o motivo, aquilo que, em
abstrato, é a finalidade, torna-se necessário de se atender. Exemplo disto: não há vagas
em escola; então, desapropria-se para prestar educação pública. Desapropriação é objeto
e educação pública é a finalidade. Mas cabe observar que a educação pública só surgiu
nessa história porque não há vagas na escola (motivo).
A propósito, caberia então perguntar: por que razão de fato ou de direito?
Para responder a essa pergunta temos que observar o objeto do ato administrativo, que
pode ser vinculado (quando determinado) ou discricionário (quando indeterminado).
É claro que todo motivo fundado na realidade é uma razão de fato, mas a partir do
momento que o legislador elabora a lei e imagina, como real, a razão, colocando-a no
texto legal, esta razão se torna de direito, embora continue sendo uma razão de fato que
ocorre na realidade, mas, se está no texto legal, é razão de direito. Será uma hipótese de
motivo vinculado, motivo previsto no ato.
O caso de ato disciplinar, como o abandono de cargo, por exemplo, é um dado da
realidade, mas é um motivo descrito em lei. Assim, se cometido um crime funcional
(ofensa ao chefe, por exemplo), este será um motivo que, neste caso, é uma razão de
direito e, portanto, um motivo vinculado.
7.5.5. Objeto
O objeto tem íntima relação com o conteúdo do ato administrativo, por entendê-lo em um
conjunto, ou seja, por tratar-se da situação jurídica por ele criada, modificada, declarada
ou extinta no que concerne a pessoas, coisas, ou atividades sujeitas à atuação do Poder
Público. Em síntese, é a transformação jurídica que o ato provoca (criação, aquisição,
decisão, declaração, modificação, transformação comprovação ou extinção de situações
jurídicas).
Trata-se, portanto, do conteúdo do ato, através do qual a Administração manifesta seu
poder e sua vontade, ou simplesmente atesta situações preexistentes.
Objeto, como se observa facilmente, é aquilo que o ato almeja alcançar. Um ato de
nomeação para cargo público tem como objeto (objetivo), a ocupação de um cargo
público. O alvará de licença para construção tem por objeto permitir que o particular possa
edificar de forma legal. O objeto da multa é penalizar o transgressor de norma
administrativa.
É assim o resultado no mundo jurídico, ora o objeto é determinado, ora é determinável
(indeterminado), sendo certo que só será válido se reconhecidamente estiver sob o prisma
da licitude, moralidade e possibilidade. É o fim imediato do ato administrativo, verificado
no momento do ato, ao contrário do motivo, que é anterior. É o que deseja a
Administração Pública, isto é, é a realização de relações jurídicas, é a materialização do
ato administrativo.
Quando for determinado, o elemento será vinculado, quando define o conteúdo do ato,
reproduzindo a vontade do legislador e como exemplo teríamos a desapropriação do art.
243 da CF, que diz o que será expropriado. Já quando for indeterminado, o elemento será
discricionário, podendo o agente público definir o alcance, os limites do conteúdo do ato
administrativo, estabelecendo termos, condições e modos. Portanto, há uma margem de
liberdade do Administrador para preencher o conteúdo do ato. A título de ilustração, uma
autorização para passeatas de tantas a tantas horas em lugar tal. Outro exemplo, seria a
desapropriação em que o administrador elege discricionariamente o bem, segundo a
conveniência do interesse público.
Maria Sylvia Di Pietro22 indica, com precisão, a maneira de identificar o objeto de um
ato administrativo, bastando, para tanto, “verificar o que o ato enuncia, prescreve,
dispõe”, distinguindo-se o objeto do ato, do seu conteúdo. Para tanto, cita o exemplo de
uma desapropriação, onde o conteúdo do ato seria a desapropriação em si, ao passo que
22
DI PIETRO, op. cit., p. 171.
o objeto se identificaria pelo imóvel sobre o qual recairia o procedimento
administrativo. O ato administrativo de exoneração produz o desligamento do servidor
público.
Em suma, pode-se observar que os requisitos da competência, finalidade e forma devem,
impreterivelmente, estar prescritos em lei, ao passo que o motivo e o objeto são passíveis
de valoração pelo administrador, reduzidos ao seu poder discricionário para dispor sobre
sua aplicação. É de se destacar, no entanto, que, mesmo discricionária, a vontade do
agente deve encontrar os limites na lei, de modo a afastar o desvio de finalidade ou o
abuso de autoridade, repudiados pelo Direito.
Para o ato administrativo ser válido, o objeto deve ser lícito, possível e determinado ou
determinável. A licitude é o requisito fundamental. A possibilidade se dá quando é
suscetível de ser realizado. Hoje, o novo Código Civil é mais preciso, exigindo que o
objeto seja além de lícito e possível, determinado ou determinável.
Cabe ressaltar ainda que, em se tratando de atividade vinculada, o objeto deverá ser o
mesmo que a lei previamente estipulou. Aliás, diz-se vinculada porque a lei já determinou
o objeto a ser alcançado. Porém, quando se tratar de discricionariedade, onde a lei dá
margem de escolha para o Administrador, é permitido ao agente traçar as linhas que
limitam o conteúdo de seu ato, mediante a avaliação dos elementos que constituem
critérios administrativos.
7.6. Discricionariedade x Vinculação
Há que se considerar, aqui, a classificação do ato administrativo, no que tange à liberdade
de atuação do administrador. Assim, podemos dizer que os atos são vinculados ou
discricionários. Vinculados são aqueles em que a lei estabelece as condições de sua
realização; neles, não resta ao administrador uma liberdade de escolha, vez que sua
atuação fica adstrita às condições estabelecidas pela lei, que dará o contorno de validade
do ato. Como exemplo, podemos citar o momento da habilitação em um procedimento
licitatório, em que as regras para tal ato encontram-se normatizadas na Lei no 8.666/93.
ATO ADMINISTRATIVO
PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE
ATO ATO
VINCULADO DISCRICIONÁRIO
ADMINISTRADOR MARGEM DE
INTEGRAL ADMINISTRADOR
PÚBLICO APLICA ESCOLHA DADA
PREVISÃO LEGAL INTEGRA A LEI
A LEI PELA LEI
Na vinculação, portanto, são aqueles que, quando da sua prática, o agente público não
goza de qualquer margem de liberdade. O ato apresenta-se inteiramente vinculado às
determinações legais em toda sua trajetória e elementos constitutivos. Aqui, não há
espaço para emissão de juízos de conveniência ou oportunidade.
a vinculação se identifica pela impossibilidade de mais de um comportamento possível
por parte da Administração. A lei prevê, diante de uma situação concreta, uma única
atuação possível do agente. É o caso da licença para edificar. Se o projeto de construção
se encontra em conformidade com a legislação municipal, o agente público competente
não pode deixar de deferi-la.
Observa-se que o motivo e o objeto do ato já constituíam elementos que o legislador quis
expressar. Logo, o agente irá apenas reproduzir os elementos no próprio ato. Assim, não
há que se falar em mérito administrativo no tocante a vinculação.
Já no tocante a discricionariedade, os atos apresentam maior liberdade ao administrador,
que decidirá pela conveniência, oportunidade, conteúdo, destinatário e modo de sua
realização.
A existência da discricionariedade dá-se em razão da impossibilidade jurídica, que se
justifica em razão do artigo 2º da CF, isto é, devido à tripartição dos Poderes, que prega
a independência e a harmonia entre os Poderes. Não existiria independência entre os
Poderes Executivo e Legislativo se só existissem atos vinculados.
Então, para que o Executivo exerça com plenitude sua independência prevista no art. 2 o
da Constituição Federal, é necessário que ele tenha uma forma de agir discricionária, que
lhe dê liberdade de atuação em relação ao Poder Legislativo.
A discricionariedade nasce da própria lei, que atribui a faculdade de atuação ao
administrador. A lei entrega o juízo de valor ao administrador.
Deve-se observar, contudo, que na Administração Pública não existe ato inteiramente
discricionário. Toda a discricionariedade é vinculada em pelo menos alguns dos seus
aspectos. Assim, o ato discricionário é vinculado quanto à competência, ou seja, deve ser
praticado por agente público competente, sob pena de nulidade.
Importa destacar que ao se analisar a discricionariedade, depara-se somente com dois
requisitos: o motivo e o objeto, posto que a competência, a finalidade e a forma serão
sempre regradas pela norma legal. Pode, todavia, ocorrer de o motivo e o objeto também
se apresentarem na lei que autorizou o ato, não se admitindo ao administrador a
possibilidade de escolha quanto à adequação daquele ato.
7.6.1. Mérito Administrativo
Mérito administrativo é juízo de valor, pautado na conveniência e oportunidade do ato. E
quando se fala em conveniência e oportunidade, entramos num campo bem amplo, dada
a sua inconstância, pois conveniente e oportuno hoje, poderá não sê-lo amanhã.
Desse modo, o mérito é encontrado em apenas dois elementos do ato administrativo:
motivo e objeto, pois só estes dois elementos podem ser discricionários. Já a vinculação
é destinada sempre à competência, finalidade e forma e, eventualmente, ao motivo e ao
objeto.
Sendo assim, quanto à conveniência e à oportunidade, vê-se que cabe ao administrador
exercer esse controle, de índole eminentemente administrativa.
Contudo, vício de competência e forma acarretam ofensa ao princípio da legalidade, bem
como à finalidade. Como sabemos, então, que um ato é imoral? Quando ocorre um vício
de finalidade, ou melhor, quando se pratica o ato para fins pessoais ou para favorecer
terceiros.
7.6.2. Controle judicial dos atos administrativos discricionários
Analise-se a hipótese de um determinado Prefeito pretender construir um hospital.
O juiz não poderá adentrar no mérito administrativo, controlar o juízo da oportunidade e
conveniência na questão, se será construído hospital ou metrô. Há insindicabilidade
(inquestionável) do mérito, não se podendo questioná-lo em razão da independência e
harmonia dos Poderes (art. 2o da Constituição).
Com tal natureza, percebe-se que o agente poderá mudar sua concepção quanto à
conveniência e oportunidade da conduta. Desse modo, repita-se: é a ele que cabe exercer
esse controle, de índole eminentemente administrativa.
Assim, se a conveniência e a oportunidade, durante a vigência do ato, forem alteradas,
cabe ao agente competente desfazer o mesmo e cancelar a autorização, utilizando-se,
assim, do controle a ele pertinente.
Tal ocorre quando, por exemplo, o chefe de uma repartição remove servidor com
intuito de prejudicá-lo. A jurisprudência do STF já fixou que “é inadmissível a interdição
de estabelecimento ou a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para cobrança
de tributo” (Súmulas 70 e 323).
Teoria dos Motivos Determinantes
No ato discricionário, esta teoria nasceu defendendo a motivação facultativa, pois como
o Administrador tem vários caminhos a seguir, não lhe é necessário dar a motivação de
forma obrigatória.
Se no ato discricionário, porém, o administrador apresentar a motivação, esse motivo será
determinante para a legalidade do ato, ficando esta atrelada à veracidade do motivo. E,
em não sendo o motivo verídico, pode-se recorrer ao Juízo para prová-lo inexistente e,
consequentemente, anular o ato administrativo discricionário.
Tem-se que esta teoria é mais eficiente do que a teoria do desvio de finalidade, pois nesta,
questiona-se o elemento motivo discricionário, em razão de uma motivação.
Nesta hipótese, a motivação passa a ser condicionante para a validade do ato. Se se provar
em juízo que a motivação é falsa, nulo será o ato.
Teoria do Conceito Jurídico ou Legal Indeterminado
Essa recente teoria não tem o intuito de invadir o mérito ou a discricionariedade, mas
busca evitar o aparecimento do mérito, ou seja, que determinada situação seja resolvida
discricionariamente. Não quer questionar, também, a razoabilidade da feitura do ato.
Diferentemente das outras, é a única teoria que não procura analisar o ato discricionário,
mas tão somente evitar o aparecimento do mérito administrativo. Tenta equacionar, na
real verdade, a dúvida em relação ao conceito jurídico indeterminado, com critérios
objetivos, e evitando assim que o caso venha a ser solucionado pela discricionariedade,
por critérios subjetivos.
A decisão política é abandonada e se substitui o critério subjetivo por outros palpáveis,
como perícias, jurisprudências, pareceres etc, facilitando a decisão do magistrado. Então,
percebe-se que esta teoria tem o intuito de diminuir a discricionariedade do
Administrador, substituindo a integração administrativa (critérios subjetivos) por uma
interpretação da lei, com base em elementos na legislação brasileira.
Merece destaque a questão concernente à saúde pública. Deve-se questionar a extensão
de seu risco, ao se aplicar critérios meramente subjetivos.
O conceito jurídico indeterminado é bem aplicado em questões que envolvam a saúde
pública, posto que restringe a discricionariedade do agente público, haja vista a relevância
que merece ser trazida a assuntos que envolvam Segurança Nacional, não parecendo,
sequer razoável, o uso da conveniência e da oportunidade, tampouco de atos políticos
nesta esfera.
Deve-se, ao contrário, impor ao agente público a estreita observância à interpretação da
lei e à prática de critérios objetivos. Portanto, o conceito jurídico indeterminado será o
limiar da discricionariedade, quando a questão versar sobre saúde pública, restringindo a
liberdade do Administrador e levando-o a buscar a solução que mais se coadune com a
justiça social.
Essa teoria não perpassa o mérito. Na verdade, cria limites na atuação discricionária. Já
se tem o limite legal, portanto, ela agrega o limite razoável.
Maria Sylvia Di Pietro afirma que tal teoria apenas pode ser aplicada em casos extremos,
que beira o ridículo. Já Celso Antônio Bandeira de Melo, dita que a teoria da
razoabilidade, por si só, é um conceito jurídico indeterminado.
A razoabilidade, de acordo com a primeira autora, encontra uma chamada “zona
cinzenta”, onde o questionamento político é saudável. Extrapolou essa zona cinzenta,
chegou ao extremo do irrazoável.
É bom frisar que a Constituição abre espaço para a razoabilidade, em seu artigo 70,
quando fala no controle do gasto público. Este art. 70 não fala em Poder Judiciário, mas
sim em Congresso Nacional. Fala em legitimidade e economicidade. Como se questionar
a legitimidade e economicidade? Com a razoabilidade não há dúvida. É por isso que, com
base no art. 70, entendemos que hoje é possível controlar ato administrativo
discricionário.
A razoabilidade23 significa, em linhas bastante gerais, agir de acordo com o senso comum
(não confundir com “bom senso”, que é juízo subjetivo) em uma determinada sociedade.
24 25
Portanto, até prova em contrário, presumem-se legais todos os atos emanados do Poder
Público. Daí se dizer que prevalece a presunção juris tantun, por ter sido realizado o ato
23
“[...] O princípio da razoabilidade é conducente a presumir-se o que ocorre no dia-a-dia e não o extravagante. [...]”.
(STF, RE 199066 ED/PR. Rel. Ministro Marco Aurélio, 2a Turma).
24
Conforme delineado por Luis Roberto Barroso: O princípio da razoabilidade é um parâmetro de valoração dos atos do Poder
Público para aferir se eles estão informados pelo valor superior inerente a todo ordenamento jurídico: a justiça [...].
[...] É razoável o que seja conforme a razão supondo equilíbrio, moderação e harmonia, o que não seja arbitrário ou caprichoso, o
que corresponda ao senso comum, aos valores vigentes em dado momento ou lugar. (Interpretação e aplicação da constituição. São
Paulo: Saraiva, 2002, p. 204-205).
25
Confira-se, também, a lição de Celso Antônio Bandeira de Mello: A razoabilidade – que, aliás, postula a proporcionalidade – a
lealdade e boa-fé, tanto como o respeito ao princípio da isonomia, são princípios gerais do Direito que também concorrem para
conter a discricionariedade dentro de seus reais limites, sujeitando os atos administrativos a parâmetros de obediência inadversável.
[...] Também não se poderiam admitir medidas desproporcionadas em relação às circunstâncias que suscitaram o ato e, portanto,
assintônicas com o fim legal – não apenas porque conduta desproporcional é, em si mesmo, comportamento desarrazoado, mas
também porque representaria um extravasamento da competência. (grifos nossos). (Discricionariedade e controle jurisdicional. São
Paulo: Malheiros, 2006, p. 96-97).
em conformidade com o Direito. Essa característica decorre do próprio ato
administrativo, não dependendo de lei expressa.
Fique ligado
Exemplo de legalidade e legitimidade seria o caso de um cidadão ter sido multado por
dirigir com o braço para fora do carro. Ao postular recurso administrativo, alega que seu
carro possui ar condicionado e que nunca dirigira de vidro aberto, muito menos com o
braço para fora. Não logrará efeito, pois o Poder Público tem a presunção de legalidade
e legitimidade. Ademais, a viabilidade de êxito do seu recurso estaria condicionada à
apresentação de provas e não somente a argumentos.
Todavia, pode ocorrer de o ato administrativo apresentar-se
eivado de ilegalidade, o que, por si só, não basta para desnudar a sua presunção de
legalidade.
Em razão de sua própria natureza, não se faz necessária a autorização judicial para a
execução ou operatividade do ato, que acontece de imediato. É o que se denomina de ato
de pronta execução, salvo se a parte interessada vier a obter, mediante recursos internos
ou por via judicial, a suspensão de tal execução, sob a alegação de ilegalidade deste. No
entanto, até que tal suspensão ocorra, os atos são válidos e produzirão todos os efeitos,
posto que ainda existentes no mundo jurídico.
Quando se afirma que o ato administrativo não pode ser controlado previamente, não se
está fechando às portas para os remédios constitucionais. Apenas, está a se afirmar que o
ato não pode ser questionado previamente quanto a sua existência.
Por outro lado, a Administração não tem necessidade de realizar a prova de legitimidade
do ato praticado, visto que o ônus da prova é transferido à parte atingida pelo ato
supostamente ilegal.
Nos termos do art. 19, inciso II, da Constituição de 1988, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios recusar fé aos documentos públicos. É um
voto de confiança a favor da administração púbica.
De fato, os atos administrativos, tendo em vista o exercício regular das funções
administrativas, que, em muitos casos, não pode sofrer interrupção, têm em favor de si a
presunção de legitimidade, a presunção de constituírem exercício legítimo de poder, por
parte da autoridade administrativa.
Por conseguinte, toda resistência a tais atos, toda invocação de nulidade contra eles deve
ser necessariamente alegada e provada em juízo, quando tal alegação não é aceita na
própria esfera administrativa.
Uma ordem de interdição de um restaurante, por exemplo, sob alegação de insalubridade,
tem a seu favor a presunção de legitimidade. O titular do estabelecimento não pode opor
resistência privada a tal ordem, como poderia fazê-lo se se tratasse de um título particular,
como um contrato. Se a ordem for ilegítima, deverá o referido titular desconstituí-la na
via administrativa, ou, no seu malogro, na via judicial.
A consequência mais direta dessa presunção que milita em prol dos atos administrativos
é que as decisões administrativas podem ser executadas imediatamente, e têm, ademais,
a possibilidade de criar obrigações para o particular, independentemente de sua
concordância.
O caso acima mostra muito bem a força, no aspecto prático, que essa característica
tem para o ato administrativo.
Tal conteúdo tem presunção de veracidade, ou seja, até prova em contrário, deve
ser tido e considerado verdadeiro. Trata-se de um instrumento de trabalho colocado à
Administração Pública, não necessitando sua autenticidade ser declarada por autoridade
judicial ou administrativa de hierarquia superior.
Já pensaram se a Administração tivesse que provar: “Aquele fato aconteceu, aconteceu...”
Se assim não fosse, seria embaraçada toda a atividade administrativa, causando sérios prejuízos
ao interesse público.
Fique de olho
Tome nota
IMPERATIVIDADE
Impõe o
cumprimento/
execução do Ato
(Obrigatoriedade)
EXCEÇÕES
Defesa do Execução forçada
INTERESSE PÚBLICO e pela Administração
Atos que não impõe
COLETIVO ou pelo Judiciário.
obrigações a terceiros
7.6.3.3. Autoexecutoriedade
A auto-executoriedade complementa a imperatividade.
Apesar de a auto-executoriedade ser a regra no Direito Administrativo, ela possui uma
série de requisitos que a relativiza, posto que só pode existir auto-executoriedade quando
prevista expressamente em lei ou houver risco público iminente.
Alguns entendem que, salvo nos casos em que realmente não for possível, a auto-
executoriedade não pode levar a ausência do contraditório e da ampla defesa. Então, a
Administração até pode auto-executar, o que equivale a não recorrer ao Judiciário, mas
se obriga a oferecer, antes, o contraditório e a ampla defesa.
Contudo, se o risco público iminente, que já deu respaldo à auto-executoriedade, for
considerado muito grave, exime-se a Administração da imediata apresentação do
contraditório e da ampla defesa, podendo, logo, executar o ato e posteriormente oferecer-
lhes.
A própria lei poderá dispor, em seu texto, que a Administração poderá praticar
o ato e apenas depois conceder o contraditório e ampla defesa. É o que se dá, por exemplo,
na apreensão do veículo.
Então, o contraditório e a ampla defesa condicionam a auto-executoriedade. Outro é o
desfecho se a lei já faz menção ou se o interesse público exigir, ocasião em que estes
serão sobrepostos ao ato. Primeiro auto-executa e depois concede o contraditório e a
ampla defesa.
Importante
Um exemplo, muito frequente está no cultivo de plantas psicotrópicas. Imagine uma
viatura da polícia que, ao passar casualmente, descobre uma lavoura com essas plantas.
O policial para a viatura e, executoriamente, pode e deve penetrar na propriedade, fazendo
a apreensão da maconha, sem a necessidade de recorrer ao órgão jurisdicional. Por óbvio,
o policial deve ter todas as suas atividades devidamente documentadas, circunstanciado
para evitar a arbitrariedade. Não precisa, pois, o Poder Público solicitar, junto ao Poder
Judiciário, um alvará de autodestruição.
O fato de a Administração ter a auto-executoriedade não isenta o administrado de buscar
a tutela jurisdicional, como poderá fazê-lo numa ação cautelar. Como exemplo, no caso
de um prédio que precisa ser demolido, poderá a Administração valer-se dessa
prerrogativa e auto-executar o ato. Não obstante, tem a opção de recorrer a uma
autorização judicial, objetivando se resguardar de futuras contendas, como pedidos de
indenização dos ex-moradores do prédio.
Destituída está a Administração Pública do poder de auto-executar os valores pecuniários,
pois a este fato não se aplicam os princípios que condicionam a auto-executoriedade
(previsão legal ou risco público iminente).
Por exemplo, não há que se falar em risco público iminente no pagamento de um tributo.
Tampouco existe amparo legal que justifique a Administração auto-executar valores
pecuniários. Com isso, descaracterizada está a auto-executoriedade administrativa no
tocante a valores pecuniários, sendo certo que a sua cobrança deverá se submeter ao que
dispõe a Lei de Execução Fiscal, que estabelece o procedimento de cobrança judicial que
disciplina a execução fiscal, e a qual está obrigada a Administração Pública.
Todavia, mister se faz distinguir, neste contexto, auto-executoriedade de exigibilidade.
Conforme exposto, não dispõe a Administração de auto-executoriedade quanto aos
valores pecuniários. O mesmo não se aplica à exigibilidade, eis que esta não está atrelada
aos princípios da previsão legal ou do risco público iminente.
Desta forma, nada impede que a Administração constitua um título executivo, e isto ela
pode fazer, posto que possui exigibilidade, e o inclua na Dívida Ativa, submetendo-o aos
trâmites do adequado procedimento judicial de cobrança administrativa (execução fiscal),
independente de processo de conhecimento.
Nos variados atos que a Administração Pública executa, rotineiramente, muitas das vezes
auto-executoriedade e exigibilidade se confundem e se atropelam, pela falta de
observância legal do administrador.
A auto-executoriedade confere poderes à Administração Pública para que esta possa
executar o ato diretamente, sem necessidade do crivo do Poder Judiciário, sob a pertinente
alegação da necessidade da prestação imediata e continuada do serviço público, de forma
a não prejudicar o seu bom andamento e, consequentemente, o interesse coletivo.
Com isso, constata-se a existência do Poder inerente à Administração Pública, que a
permite levar seus atos às últimas consequências. Exemplo da auto-executoriedade é o
caso de um fiscal de salubridade que, na prática rotineira de suas atividades, se dirige a
um supermercado e se depara com uma mercadoria de data de validade vencida. O fiscal,
valendo-se de seu poder de polícia, inutilizará o material imediatamente, não precisando,
para tanto, de autorização do Poder Judiciário.
Oportuno mencionar que auto-executoriedade não pode caminhar de braços dados com a
famigerada arbitrariedade, devendo esta última ser repudiada pelos administrados. O
administrador, por seu turno, a fim de demonstrar lisura nos seus atos auto-executáveis,
deve valer-se, sempre que possível, da forma escrita para consigná-los.
Neste particular, releva considerar que, se submetido o ato do Poder Executivo ao controle
do Poder Judiciário, restaria vulnerado o princípio constitucional básico da tripartição das
funções estatais, consagrado no art. 2o da Constituição Federal.
Vale dizer que o art. 5o, LV, da CF/88, restringiu a intensidade deste atributo, ao estender
as garantias do contraditório e da ampla defesa para os procedimentos administrativos.
A característica da auto-executoriedade é usada normalmente quando o Estado exerce o
poder de polícia.
Quando o Poder Público, no exercício de seu poder de polícia, entende de eliminar
mercadorias deterioradas, por exemplo, realizando fiscalização de um bar, o ato se reveste
do caráter de autoexecutoriedade.
Como exemplos, destacamos os seguintes:
a) Embargos e demolição de obras clandestinas;
b) Apreensão de gêneros alimentícios ou medicamentos, impróprios para o
consumo, para posterior inutilização;
c) Apreensão de mercadorias vendidas ilegalmente (guardas municipais,
policiais civis e federais contra “camelôs”);
d) Internação compulsória de ébrios, loucos, portadores de doenças
infectocontagiosas, que ponham em risco a saúde pública e o meio ambiente;
e) Interdição ou fechamento de estabelecimentos comerciais ou industriais que
não atendam às normas de segurança, higiene e meio ambiente;
f) Envio, para depósito público, de bens móveis que estejam impedindo a
passagem de pedestres nas calçadas, e de veículos nas vias públicas;
g) Polícia Civil ou Militar realizando uma busca pessoal em um traficante por
portar arma ou substâncias psicotrópicas.
Atenção!!
26
MADEIRA, José Maria Pinheiro. Administração Pública – Tomo I. Rio de Janeiro: Elsevier, 11ª ed., p. 546 e 547.
Atos normativos são comandos de ordem geral e abstrata que funcionam como leis em
sentido material, com a finalidade de suprir a lacuna da norma jurídica formal ou
explicitar a sua execução.
Exemplos de atos normativos são os decretos; os regulamentos que não sejam postos em
vigor por decreto, como o regulamento (edital) de concurso público e também o edital de
licitação; os regimentos, como o Regimento Interno do STF, que é ato normativo emitido
pelo Poder Judiciário; as resoluções (emitidas pelo Judiciário), que também têm caráter
de atos normativos, quando a norma da resolução se dirige aos jurisdicionados
genericamente.
São eles atos administrativos que coercitivamente são impostos à coletividade, aos
administrados. Eles estabelecem uma relação jurídica que obriga um determinado
comportamento, uma forma de comportamento abstrato aplicado genericamente sob
coerção, sob pena de sanção, no caso de desobediência destes atos.
Significa que eles têm caráter material de norma, sem, contudo, se constituir em lei. Ou
seja, não é formalmente lei, porque não resulta do processo legislativo previsto no art. 59
da Constituição Federal. Não é emitido pelo Poder Legislativo, como poder político.
As leis previstas no art. 59 da Constituição da República têm o mesmo caráter (salvo raras
exceções, das chamadas leis de efeito concreto) de abstração, generalidade e coerção. Em
tese, estabelece-se uma norma de comportamento que se dirige a todos de forma geral, e,
em caso de desobediência, haverá a sanção e a coerção.
Em regra, a anulação gera efeitos retroativos (ex tunc), exceto quando inviável ou
impossível essa plena retroação, justamente por causar algum dano importante ao
interesse público. Imagine, ao se descobrir ilegalidades na investidura de um servidor,
ocorrida há vinte anos passados, fosse a Administração Pública anular tudo o que esse
suposto servidor fez ou do que participou, ainda que venha a ser agora exonerado ou
demitido?
A anulação pode ser decretada pela própria Administração Pública (com base no seu
poder de autotutela) ou pelo Poder Judiciário (controle judicial da legalidade
administrativa).
Sobre a anulação dos atos pela própria Administração, merece destaque o Verbete no 473,
da Súmula do Supremo Tribunal Federal, que assim o permite, mas desde que observados
os direitos adquiridos. Entende a jurisprudência mais atualizada que a Administração tem
a faculdade e não o dever de anular os atos ilegais, decisão esta a ser tomada à luz do
interesse geral.
Considerando a pacificação sobre o tema, frente à Súmula editada, vale analisarmos mais
detidamente o entendimento sumulado, elegendo em destaque alguns dos elementos que
o compõe, erigindo seus efeitos.
Cabe inicialmente conceituar Administração para sabermos que é o destinatário na
Súmula. A Administração pode ser entendida como o aparelhamento do Estado
preordenado à realização de seus serviços, visando à satisfação das necessidades
coletivas.
A Administração Pública designa tanto pessoas e órgãos governamentais, como a
atividade administrativa em si mesma. Assim sendo, pode-se falar em Administração
Pública aludindo-se aos instrumentos de governo, como à gestão mesma dos interesses
da coletividade.
Há uma particularidade interessantíssima, que consiste em se saber se pode a
Administração Pública impugnar judicialmente seus próprios atos.
Outro elemento que merece destaque é o que se refere à anulação. Conforme já
demonstrado, à anulação vinculam-se as questões de inobservância aos requisitos de
legalidade para a perfeição do ato, cabendo tanto à Administração quanto ao Judiciário
declará-la.
O que vale aqui ser comentado são os efeitos de tal declaração. Os efeitos da
anulação dos atos administrativos retroagem, consistem em fulminar
retroativamente o ato viciado, desfazendo todos os vínculos originados do ato,
operando efeitos ex tunc, como se nunca tivesse existido, exceto em relação a
terceiros de boa-fé.
Esta compreensão tem sido atenuada pela jurisprudência no sentido de manter efeitos
originados de atos ilegítimos em relação a terceiros de boa-fé. A presença de terceiros de
boa fé no raio de incidência do ato anulado, considerando-se a necessidade da segurança
jurídica, a presunção de legitimidade, que envolve as atividades da Administração, tem
guardado o entendimento de que em relação a estas pessoas, os efeitos do ato sejam
respeitados e mantidos.
A anulação se dará por vícios que tornem o ato ilegal. Daqui se impõe sabermos no que
consistem os vícios que definem tão significativa consequência aos atos administrativos.
Para compreendermos o que são os vícios é válido iniciar pela verificação da perfeição e
consequente validade do ato administrativo.
Resumidamente, podemos dizer que um ato será perfeito quando possuir todos os
elementos de procedimento e forma definidos em lei. Os vícios, então, se originam do
não atendimento do ciclo pré-definido para a formação do ato administrativo. Quer nos
parecer que a ilegalidade anunciada na Súmula não se resume a inobservância da lei, mas
abrange a necessidade de atendimento a todos os princípios informadores da
Administração Pública e a todos os elementos constitutivos dos atos administrativos.
Dos atos nulos não se originam direitos. Ressalvadas as atenuações anunciadas no
parágrafo anterior, é uma consequência lógica. A todos os atos se impõe a legalidade
como condição para sua validade e eficácia.
Revogação
Traduz, assim, disposição administrativa para o futuro. Não terá uma retroatividade
dos efeitos, ou seja, a partir da revogação é que deixará de produzir efeitos aquele ato
revogado. Os efeitos que já haviam sido produzidos são mantidos.
Ora, como é uma avaliação que se faz em torno da conveniência e oportunidade, o
Judiciário não vai poder revogar ato administrativo, a não ser que o ato administrativo
tenha sido oriundo do próprio Poder Judiciário.
Por exemplo, o Tribunal de Justiça resolve fazer uma licitação, podendo o Poder
Judiciário revogá-la por se tratar de âmbito interno do próprio Poder Judiciário. Por
caracterizar incursão no próprio mérito da decisão administrativa anteriormente tomada,
a revogação somente pode ser feita por autoridade administrativa competente.
7.10. Convalidação ou Sanatória.
Convalidação é corrigir, suprindo um ato que possui uma ilegalidade sanável.
A sanatória, na real verdade, ocorre porque há um entendimento de que, em alguns atos
ilícitos, a anulação pode trazer piores consequências à coletividade e ao Poder Público do
que a sua manutenção.
Merece destaque, a respeito do tema, a preponderação do interesse público é que vai
equacionar a situação diante de um determinado caso concreto.
Vamos supor que estamos diante de um ato ilegal, mas o conteúdo desse ato interessa o
interesse coletivo e do Estado. Confrontando, pela adequação, temos, de um lado o
princípio da legalidade pedindo a anulação do ato; do outro lado, há o princípio da
supremacia do interesse público postulando para manter os efeitos do ato. O que fazer?
Faz-se a ponderação de interesses. Ou seja, faz-se a sanatória, onde se retira o vício e
mantém o conteúdo.
Uma questão doutrinária a ser enfrentada é se identificar se a convalidação é ato
discricionário ou vinculado. Há autores afirmando que se trata de ato discricionário. No
entanto, ficamos com aqueles que a consideram ato vinculado, pois se trata de um poder-
dever que tem a Administração Pública de suprir o vício do ato.
Diante de uma ilegalidade, a Administração pode ou deve anular seus atos? Esta é a
grande polêmica.
O raciocínio majoritário, pacífico, entre os grandes administrativistas, sustentam que a
sanatória é um ato discricionário. Quem vai fazer essa avaliação e mérito, da conveniência
e oportunidade, é o administrador público. Conclui-se, então, que o Poder Judiciário não
poderá fazer sanatória do Executivo.
Explicando melhor: suponha que o ato discricionário tenha sido praticado por servidor
que não era competente. Trata-se de um ato nulo, porque a autoridade que proferiu o ato
não era competente para tanto. Como há juízo de discricionariedade, o agente competente
pode ou não convalidar o ato. Declarar a nulidade do ato ou preservá-lo seria uma opção
discricionária nesse caso. Mas não é assim em qualquer ato discricionário, porque, se
mudou o interesse público, o que cabe é revogação e não invalidação.
Há, em nossos anais, uma situação particularizante, que despertou grandes interesses: um
juiz, portador de um diploma falso, decretou a prisão de um traficante. O ato tem natureza
legal ou é ilegal? A partir da Lei 9.784/99, é possível convalidar um ato nulo
administrativo, ou seja, viciado, desde que não cause prejuízo ao interesse público.
O que seria melhor para o interesse público, transformar o ato ilegal em legal,
convalidando-o, deixando o traficante preso ou soltá-lo?
Sobre este aspecto, o art. 55 da Lei no 9.784/99 aduz o seguinte:
“Todo ato nulo viciado pode ser convalidado, desde que não acarrete
prejuízo ao interesse público, nem prejuízos para terceiros”.
A Prefeitura permitiu ponto de táxi e linha de ônibus nas proximidades, além de expedir
inúmeros alvarás para padarias, farmácias etc. Criou-se um bairro totalmente urbanizado.
Nascerá um conflito entre os dois princípios: o da Legalidade e o da Supremacia do
Interesse Público.
Nesse caso, os efeitos da anulação serão piores do que a manutenção do ato ilegal.
Anulando-se o loteamento, é lógico que trará piores consequências do que a manutenção
dos efeitos do ato ilegal.
PROCESSO ADMINISTRATIVO
2. PROCESSO OU PROCEDIMENTO;
Atenção:
Exceções:
IMPORTANTE:
ATENÇÃO:
O STJ admite a aplicação, por analogia, da Lei 9.784/1999 aos demais Entes
federados que não possuem legislação específica (RMS (Recurso Ordinário
em Mandado de Segurança) nº 21.070-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, 5ª Turma,
DJe 14.12.2009).
2. PROCESSO OU PROCEDIMENTO
O processo administrativo, por sua vez, tem como objetivo final a prática de
um ato administrativo.
- PROCESSO LEGISLATIVO;
- PROCESSO JURISDICIONAL;
- PROCESSO ADMINISTRATIVO.
3. PRINCÍPIOS DO PROCESSO ADMINISTRATIVO
O princípio do devido processo legal está enunciado no art. 5º, LIV (54), da
Constituição Federal:
Mesmo nas hipóteses em que a lei for omissa quanto à determinada etapa do
procedimento, o que vai regular a situação será a regra geral ou os princípios,
como da proporcionalidade e razoabilidade, que limitarão a
discricionariedade do administrador.
Para o autor Rafael Carvalho Rezende Oliveira, o Devido Processo Legal
(due process of law), consagrado no art. 5º, LIV (54), CRFB, possui 02
sentidos:
Esse princípio garante o direito das partes serem ouvidas e informadas sobre
os fatos, argumentos e documentos relacionados ao processo administrativo,
bem como impõe o dever de motivação das decisões administrativas.
Em regra, a prova que será utilizada pelas partes e pelo juiz no processo é
produzida dentro do próprio processo. No entanto, é possível que uma prova
que foi produzida em um processo seja levada (transportada) para ser
utilizada em outro processo.
(...)
Ex: Não é proporcional uma sanção de exclusão para um policial militar que
está na briosa há 20 anos, no comportamento excepcional, sem nenhuma
alteração, só porque no dia da sua folga, manobrou a viatura deixada no meio
da rua por um colega que estava de serviço, mas que passava mal e teve que
se dirigir imediatamente ao banheiro de um estabelecimento comercial.
Por essa razão, o art. 2º, parágrafo único, VI, da Lei 9.784/1999 exige a
“adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições
e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao
atendimento do interesse público”.
Em âmbito federal, por exemplo, o art. 49, da Lei 9.784/1999, determina que,
após a instrução de processo administrativo, “a Administração tem o prazo
de até trinta dias para decidir, salvo prorrogação por igual período
expressamente motivada”.
Vide art. 2º, caput, e parágrafo único, VII e 50, todos da Lei 9.784/1999.
Vide art. 2º, caput; 48, caput, § 1º, § 3º, da Lei 5.427/2009.
LEMBRETE:
5. DECADÊNCIA ADMINISTRATIVA
Existem 03 entendimentos:
ATENÇÃO:
Ex: O Autor pode recorrer, é uma faculdade processual que ele tem, porém,
se não o fizer dentro do prazo, ele perde essa concessão, essa faculdade.
Nunca esqueçam:
(próxima apostila)
APOSTILA 4
9. AGENTES PÚBLICOS
ROTEIRO:
9.1 – Conceito;
9.2 – Espécies.
9.1 – CONCEITO:
9.2 – ESPÉCIES:
Os agentes públicos podem ser divididos em, pelo menos, dois grupos:
Segunda posição: conceito restritivo: agentes políticos são aqueles que ocupam
local de destaque na estrutura estatal, responsáveis pelas decisões políticas
fundamentais do Estado. Esse é o entendimento majoritário. Nesse sentido: José
dos Santos Carvalho Filho, Celso Antônio Bandeira de Mello, Maria Sylvia
Zanella Di Pietro, Diógenes Gasparini
a) o acesso ao cargo político ocorre por meio de eleição (ex.: chefes do Executivo)
ou pela nomeação por agentes eleitos para ocuparem cargos em comissão (ex.:
Ministros e Secretários estaduais e municipais);
Os agentes públicos de fato são os particulares que não possuem vínculos jurídicos
válidos com o Estado, mas desempenham funções públicas com a intenção de
satisfazer o interesse público. São os particulares que exercem a função pública
sem a investidura prévia e válida.
Da mesma forma, em relação aos atos dos agentes de fato necessários, os atos
devem ser, em regra, convalidados quando beneficiam os terceiros de boa-fé.
APOSTILA 3
10.1 – Conceito;
CONCEITO:
EM ÂMBITO MILITAR
- CONSELHO DE DISCIPLINA:
- CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO:
SINDICÂNCIA ADMINISTRATIVA
IMPORTANTE:
INQUÉRITO ADMINISTRATIVO:
ATENÇÃO:
- O acusado tem o direito de requerer a produção das provas que quiser para provar
a sua inocência, desde que essas provas sejam admitidas pelo ordenamento
jurídico.
Muito importante esse tema, pois não é só na caserna, mas em todo processo
administrativo disciplinar.
NO CONSELHO DE DISCIPLINA:
NO CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO:
A Comissão encerra suas atividades com a elaboração do parecer final, sem decidir
o processo. O parecer final elaborado pela Comissão será encaminhado à
autoridade competente para prolação da decisão administrativa. Nesse caso, o
parecer da Comissão NÃO é vinculante, uma vez que a autoridade competente
poderá contrariar as conclusões da Comissão e decidir de maneira diversa com
fundamento nas provas constantes dos autos (art. 168 da Lei 8.112/1990).
CUIDADO:
Art. 14.
- Sindicância;
- Verdade Sabida; e
O art. 142 da Lei 8.112/1990 estabelece três prazos prescricionais que variam de
acordo com a gravidade da sanção disciplinar:
b) 2 anos: suspensão;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro)
anos nos demais casos;
b.2) Absolvição Penal – não há influência na esfera administrativa, inexistindo
sanção disciplinar a ser aplicada, uma vez que não houve infração ao estatuto
funcional.
ROTEIRO
10.1 – CONCEITO
10.2 – RESPONSABILIDADE CIVIL E SACRIFÍCIO DE DIREITOS
10.3 – RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA: ATO LÍCITO E ILÍCITO
10.4 – FUNDAMENTOS DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA: Teoria do
Risco Administrativo e Repartição dos Encargos Sociais
10.5 – PESSOAS RESPONSÁVEIS À LUZ DO ART. 37, § 6º, DA CRFB/88
(pessoas jurídicas de direito público)
10.6 – RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR OMISSÃO
10.7 – AGENTES PÚBLICOS E A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
10.7.1 – Dualidade de regimes de responsabilidade civil no art. 37, § 6º, da
CRFB/88: Responsabilidade Objetiva do Estado e Responsabilidade Subjetiva do
Agente Público
10.7.2 – REPARAÇÃO DO DANO E AÇÃO REGRESSIVA EM FACE DO
AGENTE PÚBLICO
10.1 – CONCEITO
ATO ILÍCITO – é qualquer ato que seja contrário ao direito. Ato proibido pela
lei.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do
indispensável para a remoção do perigo.
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188,
não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que
sofreram. (O Estado será responsabilizado e deverá indenizar).
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro,
contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver
ressarcido ao lesado.
Pela Teoria do Risco Administrativo, a atuação estatal que cause dano a terceiros
faz nascer para a administração pública a obrigação de indenizar,
independentemente da existência de falta do serviço ou de culpa de determinado
agente público. Basta que exista o dano decorrente de atuação administrativa, sem
que para ele tenha concorrido o terceiro prejudicado.
Como o dano causado a terceiros pela atividade administrativa deverá ser
indenizado independentemente de perquirição (indagação, questionamento) a
respeito da existência de culpa – seja “culpa administrativa”, seja culpa pessoal de
um determinado agente público -, diz-se que essa modalidade de responsabilidade
civil é do tipo OBJETIVA.
Em resumo, presente o fato do serviço e o nexo direto de causalidade entre o fato
e o dano ocorrido, nasce para o poder público a obrigação de indenizar.
Caso a Administração pública demonstre que houve culpa recíproca, isto é, dela e
do particular, concomitantemente, a sua obrigação de indenizar será
proporcionalmente atenuada.
Segundo essa teoria, em razão dos benefícios gerados à coletividade pelo
desenvolvimento das atividades administrativas, os eventuais danos suportados
por determinados indivíduos devem ser suportados, igualmente, pela coletividade.
O ressarcimento dos prejuízos é efetivado pelo Estado com os recursos públicos,
ou seja, oriundos das obrigações tributárias e não tributárias suportadas pelos
cidadãos. Dessa forma, a coletividade, que se beneficia com a atividade
administrativa, tem o ônus de ressarcir aqueles que sofreram danos em razão dessa
mesma atividade. Trata-se da adoção do Princípio da Repartição dos Encargos
Sociais, vinculado ao princípio da igualdade (isonomia).
Outra teoria que procura justificar a responsabilidade civil do Estado é a Teoria
do Risco Integral
A responsabilidade civil do Estado é objetiva e não se admite nenhuma forma de
exclusão. Há quem entenda que essa teoria é aplicável excepcionalmente, caso haja
previsão em lei e a natureza do dano o admita.
Por essa teoria, a Administração Pública responderá integralmente dano
independentemente de qualquer coisa, independentemente de qualquer excludente.
A Administração Pública sempre vai responder independentemente se o particular
(vítima) agiu com culpa ou não.
Ex: danos nucleares (art. 21, XXIII, “d”, da CRFB); danos ambientais ou
ecológicos na lei de crime ambiental (art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/1981) e no (art.
225 § 3º, da CRFB); atentados terroristas em aeronaves brasileiras (art. 1º, da Lei
nº 10.744/2003).
Teoria do Risco Integral que é uma teoria extremada do risco administrativo, que
não admite qualquer forma excludente da responsabilização do Estado, devendo
esse a indenização em todos os casos que ocorra o dano. É uma teoria que beira o
absurdo e, portanto, não é aceita pelo nosso ordenamento, salvo em raríssimos
casos.
Assim, quando o servidor público (policial militar) atua, considera-se que o Estado
atuou.
PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO:
As pessoas jurídicas de direito público, que respondem de forma objetiva, com
fundamento no artigo 37, § 6º, da CRFB, são as entidades integrantes da
Administração Direta (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) ou da
Administração Indireta (autarquias e fundações autárquicas).
Art. 43. C.C. “As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente
responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a
terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver,
por parte destes, culpa ou dolo.”
Ainda que a omissão não seja causa do resultado danoso, como afirma a segunda
posição, certo é que a inação (inércia) do Estado contribui para a consumação do
dano.
Nas omissões genéricas, em virtude das limitações naturais das pessoas em geral,
que não podem estar em todos os lugares ao mesmo tempo, e da inexistência do
nexo de causalidade, não há que falar em responsabilidade estatal, sob pena de
considerarmos o Estado segurador universal e adotarmos a teoria do risco integral.
Por exemplo: o Estado não é responsável pelos crimes ocorridos em seu território.
Porém, se o Estado é notificado sobre a ocorrência de crimes constantes em
determinado local e permanece omisso, haverá a responsabilidade.
Ex: Uma moradora do Grajaú que alegou ter ligado para a polícia reclamando do
barulho do vizinho, e alegando que a polícia nada fez, se ficar provada a alegação
da moradora, o Estado será responsabilizado por omissão.
DA BALA PERDIDA
Como se sabe, o dever de indenizar do Estado pelo dano sofrido pelo cidadão,
embora prescinda da demonstração de culpa, exige a existência de prática de ato
por agente público no exercício da função, dano e o nexo de causalidade entre os
elementos anteriores.
Ora, admitir ser o Estado responsável pelo simples fato de entrar em uma
comunidade, de responder pelo dano causado antes de qualquer disparo efetuados
por seus policiais é inviabilizar a ação das forças de segurança!
Enfim, lamentando o ora contestante o evento, há que se concluir que não há nexo
de causalidade entre a atuação dos agentes públicos e o dano alegado. Assim,
espera o réu a improcedência dos pedidos.”
Para tentar dirimir estas perguntas é que resolvi escrever este post, calcado nas
valiosas lições do Desembargador Sérgio Cavalieri filho, com base em seu
excelente artigo, intitulado “A Responsabilidade Civil Objetiva e Subjetiva do
Estado”, o qual ele publicou na Revista da EMERJ, de número 55.
Fácil, assim, perceber que não adianta o Estado alegar fato de terceiro ou
fortuito, especificamente nos casos de confronto entre marginais e agentes do
Estado, para se eximir da responsabilidade de indenizar, pois a responsabilidade
será objetiva e decorrerá do risco da atividade estatal. Excepcionalmente, quando
não houver intervenção do Estado no fato danoso é que sua responsabilidade estará
afastada. Espero ter sido claro nesta breve abordagem do assunto e coloco-me à
disposição para o debate sobre o tema.
Informativo nº 0386
Período: 9 a 13 de março de 2009.
PRIMEIRA TURMA
Cuida-se de ação de indenização por danos físicos, psicológicos e estéticos contra o Estado,
ajuizada por vítima de disparo de arma de fogo efetuado por policial militar, em razão de perseguição
policial contra assaltantes. Para o Min. Relator, a prescrição da ação indenizatória teve como lastro inicial
o momento da constatação das lesões sofridas e de suas consequências. Tendo a recorrida ajuizado a ação
em 13/1/2004, revela-se inocorrente a prescrição, porquanto o completo delineamento das lesões sofridas
e a constatação da irreversibilidade de seu quadro clínico deram-se no ano de 2002. Quanto à ofensa do art.
264 do CPC, sob o fundamento de que o acórdão recorrido entendeu pela conduta comissiva do Estado e
de que a parte alega, na inicial, a existência de omissão, transmudando-se de ofício a causa de pedir após
já contestada a lide, o Min. Relator entende que as razões não prosperam, uma vez que eventual modificação
do dispositivo legal aplicável ou a mudança de caracterização jurídica do fato base pedido não incidem
sobre o veto do art. 264 do CPC. Quanto à alegada ofensa dos arts. 603 e 610 do CPC, entendeu o Min.
Relator que a adoção do princípio tempus regit actum pelo art. 1.211 do CPC impõe obedecer ao fato de
que a lei em vigor regula os recursos cabíveis quando da prolação do ato decisório. No caso, o acórdão
recorrido que examinou a controvérsia foi proferido em 24/8/2006, posteriormente, portanto, à revogação
dos dispositivos indicados como violados. Os elementos de convicção já existentes nos autos permitem
configurar o fato administrativo (a perseguição policial e o tiroteio em via pública), o dano (lesões sofridas
pela vítima) e o nexo causal (que tais lesões decorrem de errôneo planejamento de ação policial, com
veementes indícios de que o projétil de arma de fogo que atingiu a autora teria sido disparado de armamento
utilizado pelos policiais militares). Diante disso, a Turma conheceu parcialmente do recurso do Estado e,
nessa parte, negou-lhe provimento. REsp 1.056.605-RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
10/3/2009.
Informativo nº 0364 Período: 18 a 22 de agosto de 2008.
PRIMEIRA TURMA
Trata-se de ação indenizatória em que se busca do Estado a reparação de danos materiais e morais
decorrentes da morte de menor que foi atingido por "bala perdida" disparada por outro menor que se
encontrava foragido de estabelecimento destinado ao cumprimento de medida sócio-educativa de
semiliberdade. Assim, no caso, não há como afirmar que a deficiência do serviço do Estado, de permitir
que o menor que vinha cumprindo medida sócio-educativa em regime de semi-liberdade permanecesse
foragido, tenha sido causa direta e imediata do tiroteio durante o qual a "bala perdida" resultou na morte
de outro menor, nem que esse tiroteio seja efeito necessário da referida deficiência. Logo, ausente o nexo
causal, afasta-se a responsabilidade do Estado. Com esse entendimento, a Turma, ao prosseguir o
julgamento, por maioria, negou provimento ao recurso. REsp 858.511-DF, Rel. originário Min. Luiz
Fux, Rel. para acórdão Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 19/8/2008.
Art. 28, da LINDB: “O agente público responderá pessoalmente por suas decisões
ou opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro”.
O Estado somente será responsabilizado se o dano for causado por agente público
“nessa qualidade” (art. 37, § 6º, da CRFB), ou seja, deve haver uma ligação direta
entre o dano e o exercício da função pública ainda que o servidor esteja fora de sua
jornada de trabalho. Dessa forma, os atos praticados por agentes em suas vidas
privadas, oriundos de sentimentos pessoais, sem relação com a função púbica, não
acarretam responsabilidade do Estado, mas responsabilidade pessoa do agressor
na forma do Código Civil.
(O STF condenou o Estado por atuação de policial que, em seu período de folga e
em trajes civis, efetua disparo com arma de fogo pertencente à sua corporação,
causando a morte de pessoa inocente (STF, RE 291.035/SP, Rel. Min. Celso de
Mello, DJ 06.04.2006, p. 104, Informativo de Jurisprudência do STF n. 421). Em
outra oportunidade, o STF afastou a responsabilidade do Estado na hipótese em
que policial, utilizando-se de arma da corporação, causa dano à amante por
motivos sentimentais (STF, 1ª Turma, RE 363423/SP, Rel. Min. Carlos Britto,
DJe-047 14.03.2008, p. 467, Informativo de Jurisprudência do STF n. 370). No
segundo caso, o agente atuou por sentimento pessoal sem exercer a função pública
ou praticar ato administrativo).
ATENÇÃO:
§ 5º, do art. 37, CRFB. “A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos
praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário,
ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento”.
Registre-se que a referida decisão da Suprema Corte foi proferida em ação de
ressarcimento proposta pela União em face de uma empresa de transporte
rodoviário e de motorista a ela vinculado, em virtude de acidente automobilístico,
mas a tese da prescritibilidade, em princípio, poderia ser aplicada às ações
propostas pelo Poder Público em face de seus servidores em situações semelhantes.
E- mail: leila_leiva@yahoo.com.br
(Item 11 do Edital)
11.5.1. Conceito;
(...)
B) CONTROLE CONCOMITANTE; e
C) CONTROLE POSTERIOR
a) CONTROLE PRÉVIO OU PREVENTIVO – também chamado de
controle a priori, é aquele realizado antes do ato controlado. É o
controle exercido antes da publicação do ato administrativo.
- Controle de Legalidade;
- Controle de Mérito.
(...)
Por fim, a súmula vinculante tem efeito erga omnes, isto é, “para
todos”. Assim, o conteúdo da súmula vinculante deve alcançar todos
os casos concretos idênticos.
O objetivo da criação da súmula vinculante é diminuir a insegurança
jurídica, causada por diferentes interpretações da mesma lei sobre
casos concretos idênticos.
CONTROLE DE LEGALIDADE
Pode ser realizado pela:
Administração Judiciário Legislativo
(Executivo)
Súmula 346 ART. 5º, XXXV, CRFB Quando a Constituição
Federal autorizar
STF 346: “A Art. 5º, XXXV, CRFB:
Administração Pública “A lei não excluirá da
pode declarar a nulidade apreciação do Poder
dos seus próprios atos”. Judiciário lesão ou
ameaça a direito”.
Atualmente fala-se em Controle de Legalidade em Sentido Amplo,
isto é, lei mais regras e princípios constitucionais. Sempre que há
ilegalidade no ato administrativo, deverá ocorrer a anulação do ato.
Outros exemplos:
(...)
CONTROLE ADMINISTRATIVO
LEGALIDADE MÉRITO
Verifica se o ato administrativo Analisa a conveniência e a
é lícito ou não. oportunidade de ato válido.
PODE SER REALIZADO
Pela própria Pela própria
Administração Pública; ou
Administração Pública.
Pelo Poder Judiciário.
11.5.1. Conceito
FISCALIZAÇÃO e REVISÃO
FUNDAMENTOS DO CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA:
LEGALIDADE e EFICIÊNCIA
INTERESSE PÚBLICO
CONTROLE ADMINISTRATIVO
REQUERIMENTO OFÍCIO
Assim, seus efeitos são proativos, “ex nunc”, sendo válidas todas as
situações atingidas antes da revogação. Se a revogação é total,
nomeia-se ab-rogação; se parcial, chama-se derrogação.
- HIERÁRQUICO; ou
- NÃO-HIERÁRQUICO
- HIERÁRQUICO
- NÃO-HIERÁRQUICO
* Direito de Petição
* Controle Ministerial – é o exercido pelos Ministérios sobre os
órgãos da Administração Pública Direta a eles vinculados e também
sobre as pessoas da Administração Indireta Federal - Na esfera
federal, esse controle é denominado de supervisão ministerial pelo
Decreto-lei nº 200, de 25-2-67.
* RECURSOS ADMINISTRATIVOS:
- Representação;
- Reclamação;
- Pedido de Reconsideração; e
- Revisão.
- Representação:
- Reclamação:
- Pedido de Reconsideração:
- Revisão:
LEMBRETE:
Art. 72. A Comissão mista permanente a que se refere o art. 166, §1º,
diante de indícios de despesas não autorizadas, ainda que sob a forma de
investimentos não programados ou de subsídios não aprovados, poderá solicitar
à autoridade governamental responsável que, no prazo de cinco dias, preste os
esclarecimentos necessários.
Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem
sede no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o
território nacional, exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 96.
§ 1º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomeados dentre
brasileiros que satisfaçam os seguintes requisitos:
Legislativa Municipal.
E-mail: leila_leiva@yahoo.com.br
Considerações iniciais
Objetivos Gerais:
Objetivos:
Nesse capítulo, você deverá ser capaz de:
Entender o funcionamento do procedimento administrativo
licitatório por meio da percepção de suas modalidades;
Compreender os casos de contratação direta, como exceções ao princípio
licitatório;
Identificar as cláusulas exorbitantes em cada contrato administrativo,
compreendendo sua inserção e sua importância, bem como captar a Teoria da Imprevisão
e interferências imprevistas.
1. Introdução
Sabemos que a Administração Pública, por suas entidades estatais,
autárquicas e paraestatais, realiza obras e serviços, faz compras, alienações e locação
de bens e, como qualquer pessoa que pretende fazer algum negócio, notadamente
procura a melhor proposta para concretizar tais tarefas.
art. 37, XXI/CF c/c art. 2º da Lei 8.666/93: Obras, serviços, compras e
alienações. O rol é exemplificativo, pois todo e qualquer contrato deve ser precedido de
licitação. Ex.: compra e venda; financiamento; seguro; concessão de direito real de uso,
concessão de uso.
Tome nota A lei exige, pelo art. 22, § 3º, no mínimo 3 escolhidos ou
convidados para o convite. Mas prevê que, desde que seja justificada a ocorrência, seja
admitida a hipótese de participarem menos do que este número (art. 22, § 7°).
Pregão
Pregão
1. Considerações Constitucionais
Pois bem. Partindo da norma geral disposta no art. 22, § 8o, da Lei no 8.666/93,
que veda a criação de outras modalidades licitatórias ou mesmo a combinação das já
contempladas no diploma legal, foi instituído o pregão como modalidade de licitação pela
Medida Provisória no 2.026, de 4 de maio de 2000 (diversas vezes reeditada, sendo a
última a de n o 2.182-18, de 23 de agosto de 2001), gerando, de pronto, discussões
doutrinárias acerca de sua constitucionalidade, não só por ter o legislador utilizado
medida provisória para instituir uma nova modalidade licitatória, mas também por ser
voltada somente ao âmbito da União, excluindo dos entes da Federação, portanto, a
prática dessa modalidade.
O primeiro aspecto a merecer registro, e que não se pode perder de vista, é o fato
de que compete privativamente à União legislar sobre normas gerais de licitação (art. 22,
XXVII, da CF/88); portanto, nada impediria que o legislador federal criasse uma nova
modalidade licitatória, tanto assim que o fez. Aliás, a bem da verdade, conforme tem
destacado a doutrina, tal modalidade em apreço já teria sido contemplada pela Lei n o
9.472, de 16 de julho de 1997, ao tratar da chamada “consulta” em seu art. 54, § 1 o,
aplicável restritamente ao âmbito da Agência Nacional de Telecomunicações, a
ANATEL.
Seguindo essa linha de raciocínio, também importante de ser registrado é o
aspecto referente às normas gerais, cujo assunto pode ser revisto, com mais minudência,
no item 3 deste trabalho. Assim, se considerarmos que norma geral somente é aplicável à
União, a regra contida no § 8o do art. 22, da Lei no 8.666/93, com efeito, não estará dirigida
ao legislador ordinário federal, e sim ao Poder Executivo, que não poderá inovar mediante
decreto regulamentar, e aos demais entes da Federação, bem assim a Administração
Pública, de um modo geral, que não poderão inovar a pretexto de editarem normas
específicas sobre a matéria (art. 24, § 3o, da CF/88).
Um esclarecimento necessário
O pregão é a modalidade licitatória adequada para a aquisição de bens ou serviços
comuns, independentemente do valor estimado do contrato. O problema é saber o que são
bens ou serviços comuns.
O art. 1°, § 1°, da medida provisória, dava parâmetros para se identificar o que
são ou não bens ou serviços comuns. E o fez dizendo que serão considerados comuns os
bens ou serviços "cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente
definidos pelo edital, por meio de especificações usuais no mercado".
Tais parâmetros dão ao intérprete a idéia de um bem ou serviço que possa ser
facilmente descrito, sem a necessidade de especificações complexas, a partir do que se
pode identificar o objeto inequivocamente e com facilidade. Afasta-se logo aquilo que
não se poderia descartar como um bem ou serviço complexo na identificação.
O trabalho, contudo, foi muito mal desempenhado, pois a lista de serviços comuns
era muito vaga. Mencionava espécies de serviços e bens que poderiam ou não ser
enquadrados no conceito de bens e serviços comuns, dependendo do caso. A título de
exemplo, veja-se que foi listado o "serviço de assistência". E aí se pergunta: que
assistência? Assistência a quem e para fazer o quê? Hipóteses há que seriam facilmente
enquadráveis no conceito em análise. Outras não!
LICITAÇÃO NA
MODALIDADE
PREGÃO
(LEI 10520/2002)
CONCEITO JURÍDICO
INDETERMINADO
DISCRICIONARIEDADE DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Feita a seleção, poderão os classificados dar lances verbais, que serão sucessivos,
distintos e decrescentes, até que se atinja o menor valor possível. Encerrada essa fase, o
pregoeiro avaliará a aceitabilidade da melhor proposta e, se for o caso, abrirá o envelope
de habilitação, como dissemos anteriormente.
Registre-se, aqui, que também será possível aquela negociação entre o pregoeiro
e o segundo colocado, se a sua habilitação estiver em condições, mas mesmo assim o seu
preço estiver fugindo aos critérios de aceitabilidade previamente fixados pela
Administração.
LICITAÇÃO NA
MODALIDADE APLICÁVEL A TODOS OS ENTES FEDERATIVOS
PREGÃO (ART. 2o, §1o, Lei 10520/02)
(LEI 10520/2002)
DA
JULGAMENTO DA
COMERCIAL
PROPOSTA COMERCIAL
DISCRICIONARIEDADE DA
DE JULGAMENTO
LOCAÇÕES IMOBILIÁRIAS E
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ALIENAÇÕES PROPOSTA COM PREÇOS
ESCRITOS E POSSIBILIDADE
DE LANCES VERBAIS
PROPOSTA
REGRA: SELECIONA AS PROPOSTAS COM
FASE DE
VALOR MENOR OU IGUAL A 10% DO
FASE
CLASSIFICAÇÃO DAS VALOR DA MELHOR CLASSIFICADA
PROPOSTAS CONFORME
VALOR
Principal característica do EXCEÇÃO: MÍNIMO DE 3 PROPOSTAS
Pregão é a inversão entre
as fases de habilitação e
julgamento da proposta
CADASTRO PRÉVIO
VERIFICAÇÃO DA
DO
HABILITAÇÃO DO
HABILITAÇÃO SOMENTE DO
VENCEDOR
LICITANTE VENCEDOR
DE HABILITAÇÃO
VENCEDOR POSSIBILIDADE DE APRESENTAÇÃO DE
DOCUMENTOS NO ENVELOPE DE
HABILITAÇÃO
LICITANTE
HABILITAÇÃO
FASE DE
OK
FASE
Não
A própria Lei n° 10.520 dispõe, em seu art. 9°, que aplicam-se subsidiariamente,
para a modalidade de pregão, as normas da Lei n° 8.666/93. Isto significa que o pregão
estará sujeito a todas as normas da Lei n° 8.666/93 que se mostrem necessárias para a sua
exeqüibilidade e aplicação, nos momentos em que a Lei do Pregão tratou
insuficientemente ou mesmo nada falou. Conseqüentemente, onde a Lei do Pregão foi
expressa, suas normas excluirão as normas da Lei que lhe sejam eventualmente contrárias,
devendo prevalecer o princípio da especialização.
Cabe ressaltar que, mesmo nos casos onde a Lei do Pregão for omissa, ao utilizar
a legislação subsidiária, deve-se manter prudência no sentido de não afrontar os princípios
que regem o pregão. Essa é a proposta deste trabalho. Quando, no momento em que a Lei
do Pregão for omissa, será aplicado subsidiariamente a Lei n° 8.666/93 sem desconsiderar
os avanços alcançados com a instituição da nova modalidade.
Assim, por exemplo, será obrigatória a presença pessoal dos licitantes (ou de seus
representantes) para acompanhar o certame. O procedimento recursal também é
específico. E outras questões poderiam ser apontadas, tal como se extrairá da exposição
seguinte.
Embora seja parecido, o pregão não é igual ao leilão. Pode-se dizer que o leilão é
para venda, o pregão para compra. O leilão pode ser conduzido por um leiloeiro oficial
ou por um senador público, enquanto que o pregão só pode ser conduzido por um servidor.
O leilão é para venda, a princípio de qualquer bem, o pregão é modalidade para compra
ou contratação de bens e serviços comuns.
Quando se fala em comprar uma mesa, todos sabem de que se trata. Quando a
compra é de tijolos, telhas ou tubos para conexão, todos sabem de que se trata, ainda que
não seja um engenheiro. Essa é a idéia que a lei quis passar quando fala em bens comuns.
São aqueles bens que se conhece e identifica pelo simples nome, pois é assim sabido no
mercado.
Um esclarecimento necessário
Um exemplo permite compreender melhor a distinção. Um programa de
computador pode ser um bem comum, quando se tratar do chamado software de
prateleira. Suponha-se que a Administração resolva adquirir um aplicativo para
processamento de texto, reconhecendo a ausência de necessidade de qualquer
especificação determinada. Existem diversos produtos no mercado, que podem ser
fornecidos à Administração sem qualquer inovação ou modificação. A hipótese configura
um bem comum.
Se ainda houver dúvida se alguma coisa é ou não bem comum, pode-se recorrer
ao Anexo II do Decreto 3555, onde há uma listagem exemplificativa, uma vez que pode-
se ter outros bens e serviços que não estão ali, mas que podem ser considerados comuns.
O Pregão não pode ser utilizado para obras e serviços de engenharia, para
locações, vendas e alienações, sendo a razão disto a vedação do art. 5° do regulamento.
Um esclarecimento necessário
Os serviços de duração continuada também foram alvo de dúvidas. Serviços
contínuos são aqueles que não podem ser suspensos ou interrompidos. A interrupção ou
suspensão poderia causar dano ou prejuízo, sendo imprescindível a continuação de sua
execução. O inc. II do art. 57 da Lei n° 8.666/93 impõe, porém, certas restrições que não
podem ser esquecidas. Essa prorrogação somente poderá ser feita se os preços dos
serviços e as condições forem vantajosos. Portanto, poderá a administração utilizar-se do
pregão, em se tratando de serviços de duração continuada? Acredita-se que, tendo em
vista a filosofia que norteou o legislador (presteza, desburocratização, melhor preço e
condições) e a redação do inc. II do art. 57 da citada Lei Geral n° 8.666/93, que autoriza
a prorrogação do contrato de prestação de serviços a serem executados de forma
continuada por iguais e sucessivos períodos, desde que os preços e as condições sejam as
melhores e mais proveitosas, seria viável sua utilização.
O pregão também é composto de uma etapa interna e uma etapa externa, como em
qualquer outra modalidade de licitação.
A subsidiariedade da Lei 8.666/93 faz-se bastante presente nesta fase. Como dito
anteriormente, itens necessários, conforme o caso do art. 40 da referida lei estarão
presentes na elaboração do edital de pregão. As exigências de habilitação, os critérios de
aceitação das propostas, as sanções por inadimplemento, as cláusulas contratuais fixando
as condições ou os prazos para fornecimento são alguns dos dispositivos essenciais e
imprescindíveis na sequência lógica dos fatos próprios da modalidade pregão.
Quanto ao número de membros que devem compor a equipe de apoio, nada foi
dito nas normas sobre pregão, igualmente a Lei de Licitações, que não se pronunciou
quanto a quantidade de pessoas que integram a Comissão de licitação. Assim, definiu-se
a prática de três, sempre que possível, utilizando-se aí o costume (adquirido pela prática
contumaz) da Lei Federal n° 8.666/93.
Assinale, ainda, que o pregoeiro deve, juntamente com a equipe de apoio, registrar
todos os incidentes à medida que vão acontecendo; portanto, é importante ter uma equipe
de apoio para elaboração da ata.
8. Exigências de Habilitação
Pode-se considerar, também, que a Lei do pregão foi omissa. Neste caso, caberia
a aplicação subsidiária da Lei n° 8.666/93, o que, pensa-se, seria mais adequado.
A fase externa do pregão tem início com a convocação dos interessados por meio
de publicidade adequada. O caput do art. 4° da Lei n° 10.520 dispõe que a fase externa
do pregão será iniciada com a convocação dos interessados e observará as seguintes
regras:. A interpretação do referido artigo deve ser feita seguindo-se as regras e princípios
da Lei n° 8.666/93, significando dizer que as normas gerais ali contidas acerca de
procedimento licitatório deverão ser aplicadas subsidiariamente.
Há uma discussão sobre se o pregoeiro estaria ou não autorizado pela lei a permitir
que participasse da licitação o licitante não credenciado. Há quem entenda que só pode
participar do pregão licitante que estiver presente a sessão, o representante legal, ou ainda
a pessoa que receba deste uma procuração que o autorize a fazer lances, desistir ou
recorrer em nome da empresa.
O Tribunal de Contas da União examinou a questão do licitante que não quer fazer
lance, entendendo que não há irregularidade em abdicar deste direito. Ora, se o licitante
presente tem o direito de não dar lances verbais, mantendo assim sua proposta escrita, por
que não aceitar as propostas escritas dos que não estão presentes? E por que não aceitar
as propostas encaminhadas via postal? Por isso, deve-se admitir a participação de
empresas que encaminham as propostas pelo correio, ressaltando que o referido licitante
estará abdicando do direito de fazer lance como do direito de recorrer, pois estará
fisicamente ausente.
Uma vez que a Administração cumpriu com o dever de garantir a isonomia, poderá
iniciar o procedimento da contratação direta sem licitação.
Um esclarecimento necessário
Caso alguém, nos lances verbais, lance 60% abaixo do valor estimado, aceita-se
ou não este preço? E se o vencedor depois não executar?
Um pregoeiro deve se acautelar não apenas como servidor, mas também como
profissional, uma vez que este, assim como qualquer agente da Administração que tome
decisões, tem que dar um motivo para tais. E quais seriam os motivos para que o pregoeiro
aceite um valor 60% abaixo do valor de mercado, correndo o risco de não ser executado
ou de vir a administração a sofrer um prejuízo?
Assim, Jessé Torres está acompanhando os que entendem que o pregoeiro tem que
tomar decisões fundadas em motivos, razões de fato e de direito concretos, demonstrados
(diferentemente daqueles que entendem que o pregoeiro não pode inquirir preço cotado
no pregão). É lógico que o prazo exige presteza por parte do pregoeiro (24h, 48h). Caso
seja uma documentação que continue a deixar o pregoeiro em dúvida? Não poderá decidir
de qualquer maneira, pois é servidor público, concursado, com a fé de ofício de seu cargo,
no exercício de função relevante para a administração e que importa despesa. Se a
explicação verbal lançada em ata nada lhe disse de seguro, se o documento exigido não
lhe dá segurança para decidir, Jessé Torres aconselha a aplicação subsidiária do § 3° do
art. 43 da Lei n° 8.666/93, prevendo que o pregoeiro ainda poderia converter este julga-
mento em diligência fazendo uso de regra geral das licitações, que admite a conversão do
julgamento em diligência, a qualquer tempo do procedimento licitatório. Com isso,
poderá colher o parecer de órgãos da própria Administração que sejam especializados
naquela matéria. O pregoeiro decidirá à vista destes pareceres. Talvez perca uns 5 (cinco)
dias, mas, para o jurista, vale diante da segurança de uma decisão que envolve recursos
públicos. Será mais segura e mais prudente, não sendo garantido que foi esta certeza que
pôs a salvo a Administração de qualquer aborrecimento, mas permitindo ao pregoeiro
rebater qualquer tipo de insinuação em relação a sua conduta funcional, pois terá em ata
e nos autos do processo os motivos concretos que o levaram a decidir deste ou daquele
modo.
Um esclarecimento necessário
Conforme o inc. XVIII do art. 4°, declarado o vencedor do certame, qualquer
licitante poderá manifestar imediata e motivadamente a intenção de recorrer sobre
qualquer ato praticado durante as etapas do pregão, devendo registrar verbalmente na
sessão quais são os atos de que discorda, bem como o motivo pelo qual discorda. Estas
manifestações deverão ser consignadas em ata e ao recorrente deverá ser concedido o
prazo de três dias corridos, conforme previsto no art. 110 da Lei n° 8.666/93 (não dias
úteis como prevê o decreto) para que, se desejar, apresente por escrito as razões de
recurso, ficando os demais licitantes desde logo intimados a apresentar as contra-razões
(impugnações aos recursos) em igual número de dias, que começam a fluir do término do
prazo do recorrente, sendo-lhes assegurada vista imediata aos autos. Cabe ressaltar que
durante a sessão o pregoeiro detém amplos poderes para fazer um juízo de admissibilidade
do recurso, avaliando se de fato as alegações verbais levantadas por algum licitante são
substanciais ou se são meramente protelatórias. Os pressupostos de recorribilidade são
semelhantes aos consagrados na Lei n° 8.666/93.
A decisão sobre recurso será instruída por parecer do pregoeiro e homologada pela
autoridade competente responsável pela licitação. O acolhimento do recurso implica tão
somente na invalidação daqueles atos que não sejam passíveis de aproveitamento.
27
A respeito, temos a decisão do STJ, Resp. Nº 817422/RJ, Rel. Min. Castro Meira, 2ª Turma: “ADMINISTRATIVO.
LICITAÇÃO. PREGÃO. RECURSO ADMINISTRATOVO. TEMPESTIVIDADE. 1. O recurso administrativo no procedimento
licitatório na modalidade pregão deve ser interposto na própria sessão. O prazo de três dias é assegurado apenas para oferecimento
das razões. Dessarte, se manejado a posteriori, ainda que dentro do prazo de contra-razões, revela-se intempestivo. Inteligência do
artigo 4º, XVIII, da Lei nº 10.520/02. 2. Recurso especial provido”.
A dispensável e a inexigível são as mais conhecidas. Não confundir licitação
dispensada com dispensável (dispensa de licitação), cada uma prevista em dispositivo
legal próprio.
Outro comentário necessário à licitação vedada diz respeito à escolha da marca.
Apesar do artigo mencionar "salvo nos casos em que for tecnicamente justificável", não
há impedimento. Se for provado que escolha de determinada marca (havendo outras
similares) é justificável porque torna o projeto viável, não se estará ferindo a lei. É o caso,
por exemplo, de um projeto de padronização, onde uma marca é escolhida para ser
utilizada em todas as obras. Não é uma escolha arbitrária, foi feito um estudo que
justificou esta decisão. Isto vale não somente para o art. 7º, § 5º, mas também para
qualquer outro dispositivo desta lei. É possível a escolha da marca, o que é vedado é a
escolha arbitrária, sem motivação, sem fundamento técnico que o justifique.
Procedimento licitatório
Toda licitação tem início através de um instrumento convocatório: edital ou carta-
convite. O edital é para concorrência, tomada de preços, concurso e leilão. A carta-convite
é somente para a modalidade convite, ou seja, das cinco modalidades, quatro começam
com edital.
Publicado o edital, ele poderá ser impugnado dentro de cinco dias úteis antes da
abertura dos envelopes da habilitação (art. 41), tanto pelo cidadão (parágrafo 1º) quanto
pelo licitante (parágrafo 2º). O parágrafo 1º nos remete ao art. 113, §1°, o que significa
que, feito o edital, qualquer cidadão pode, concomitantemente, entrar com impugnação e
encaminhar ao Tribunal de Contas, na mesma representação. Hipoteticamente, o
licitante, ao ler o edital, entende que a exigência de determinado documento é
desnecessária, pois foi dirigida apenas a uma empresa, pois só ela que poderá cumpri-la.
Habilitação
O interessado em participar da licitação, em regra, terá que entregar dois
envelopes lacrados à Administração: o primeiro conterá a documentação relativa à
habilitação da empresa (CND, CRS, Contrato Social da empresa, Balanço) e o segundo,
os documentos relativos à proposta (preço).
O aspecto mais interessante da habilitação refere-se ao art. 43, § 6º: uma
vez habilitado, o licitante estará realizando uma promessa de contrato, ou seja, caso seja
o vencedor, não poderá mais desistir — salvo exceções a cargo da Administração. Até
quando a Administração pode impor ao habilitado a obrigação de aceitar o contrato? Até
60 dias da data da entrega da proposta (anterior à habilitação), e não do resultado da
habilitação (art. 64, § 3º). Em regra, os editais reduzem este prazo para 30 dias. E se o
licitante for chamado dentro do prazo e não assinar o contrato? Sofrerá sanções
administrativas: advertência, multa, suspensão temporária de participação em licitação
(impedindo-o de contratar com a Administração por 2 anos) e, a mais grave, declaração
de inidoneidade para contratar com o poder público (que é por prazo indeterminado). O
art. 81 diz que tal fato caracteriza o descrumprimento total da obrigação assumida, e as
penalidades constam do art. 87.
Caso alguém recorra (Art. 109, I, a), tem-se que esperar o julgamento do recurso
para encerrar a fase da habilitação. Assim, somente os licitantes habilitados irão à fase do
julgamento. Os não habilitados recebem de volta seus envelopes contendo as propostas
lacrados e vão embora.
Homologação e adjudicação
A homologação se assemelha muito ao despacho saneador em um processo. A
autoridade superior analisa todas as propostas, vê tudo o que foi feito para trás, a fim de
verificar se houve algum problema, alguma irregularidade, algum ilícito. Se encontra um
ilícito, anula. Se houve problema, devolve à comissão solicitando o cumprimento de
diligências.
Ficando satisfeito com tudo o que foi feito, ocorre a homologação. E parte-se para
adjudicação, que nada mais é do que a análise se aquela proposta vencedora realmente é
conveniente e adequada para a Administração. O fato de ser a melhor proposta, não
significa, necessariamente, que ela é boa para a Administração. Por isso diz-se que no
julgamento não se resolve nada. É na adjudicação que isto vai ocorer.
CONTRATO ADMINISTRATIVO
1.Fato do príncipe.
Não tem nada a ver com a alteração unilateral do contrato. É uma outra história.
Fato do príncipe quebra o equilíbrio financeiro inicial do contrato. Quebra, mas de forma
diferente da alteração unilateral do contrato. Na alteração unilateral do contrato, o Poder
Público mexe no contrato. No fato do Príncipe, o ente da federação contratante não mexe
nas cláusulas de serviço. Fato do príncipe é um ato genérico do Poder Público que vai
repercutir no contrato administrativo, incidindo mesmo até a quem não faz parte do
contrato.
É importantíssimo ler o art. 65 § 5º da lei 8666/93 que trás o conceito legal do fato
do príncipe, embora a lei de licitação não utilize tal expressão.
2.Fato da Administração.
O que seria? É uma medida adotada pelo estado contratante, diferente do fato do
príncipe em que a medida geral é adotada não pelo estado contratante.
3.Fatos imprevistos
O que seriam fatos imprevistos? Seriam fatos materiais ligados diretamente à
execução do contrato que acaba por onerar o contratado e, consequentemente, esse
contratado fará jus a revisão de preços.
Caso Concreto - O contratado começa a executar o serviço e surge uma
camada rochosa que não apareceu no estudo de sondagem. Haverá a elevação do custo da
execução do serviço.
ser:
6. Ocupação temporária
Ocupação temporária é outra cláusula exorbitante (art. 58, V, Lei 8666/93). A
Administração Pública pode ocupar provisoriamente bens móveis, imóveis e pessoal no
caso de rescisão do contrato, sob pena de prisão. A ocupação temporária é muito comum
no caso de rescisão, no caso de apuração de faltas administrativas. Portanto, a
Administração pode ocupar o pessoal e os bens da empresa, que deu causa ao rompimento
do contrato.
Art. 71 § 1º, da lei 8666/93 não trabalha com encargos previdenciários, trabalha
apenas com encargos trabalhistas, fiscais e comerciais e não há como transferir para o
ente da federação contratante. Só que esse § 1º do art. 71 da lei entra em choque com o
Enunciado 331 do TST, que diz que há responsabilidade subsidiária do ente da federação.
O art. 71 diz uma coisa e o Enunciado diz outra. Qual vai prevalecer?
Posição do STF: Segundo o STF, nenhum enunciado pode prevalecer sobre o texto
legal. Recentemente houve a declaração de constitucionalidade do § 1º do art. 71 da CF.
Por votação majoritária, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a
constitucionalidade do artigo 71, parágrafo 1º, da Lei 8.666, de 1993 (Lei de Licitações).
O dispositivo prevê que a inadimplência de contratado pelo Poder Público em relação a
encargos trabalhistas, fiscais e comerciais não transfere à Administração Pública a
responsabilidade por seu pagamento, nem pode onerar o objeto do contrato ou restringir
a regularização e o uso das obras e edificações, inclusive perante o Registro de imóveis.
A decisão foi tomada no julgamento da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC)
16, ajuizada pelo governador do Distrito Federal em face do Enunciado da súmula 331
do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que, contrariando o disposto no § 1º artigo 71,
da Lei 8.666/93, responsabiliza subsidiariamente tanto a Administração Direta quanto a
indireta, em relação aos débitos trabalhistas, quando atuar como contratante de qualquer
serviço de terceiro especializado. Ao decidir, a maioria dos Ministros se pronunciou pela
constitucionalidade do artigo 71, § 1º da lei nº 8.666/93.
Art. 71 § 2º da lei 8666/93 diz que a Administração pública responde
solidariamente. A Administração Pública ao fazer o pagamento de uma parcela
contratual, tem que tomar o seu devido cuidado. A Administração vai reter a dívida que
o empreiteiro tem junto ao INSS.
Fique
Súmulas do STF/STJ
Resposta sugerida
A) O examinando deverá responder que o prefeito poderia realizar a contratação
direta de músicos, uma vez que se trata de uma das hipóteses de inexigibilidade de
licitação, à luz do Art. 25, inciso III, da Lei n. 8.666/93. Todavia, em relação à contratação
de agência de publicidade, deveria o examinando indicar não ser possível a contratação,
diante da vedação legal constante do Art. 25, inciso II, da referida Lei n. 8.666/93.
B) O examinando deverá analisar cada meio de contratação. No caso da licitação
dispensada e da licitação dispensável, as hipóteses legais são taxativas, ou seja, não pode
o administrador extrapolar o legalmente previsto.
Resumo:
REFERÊNCIAS
* MADEIRA, José Maria Pinheiro. Administração pública centralizada e
descentralizada, Tomo I.13ª.ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2016.