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Noção de comerciante

16. Noção de comerciante e a sua importância


O legislador não deu uma definição legal de comerciante, mas sim, indica
quais sãos as categorias legais de comerciantes (art. 13º CCom).

Tem-se segundo o entendimento tradicional do art. 13º CCom, por um


lado os comerciantes que são pessoas singulares – geralmente designados
por comerciantes em nome individual – e os comerciantes que são
pessoas colectivas – as sociedades comerciais.

No domínio do Direito Comercial, deve prevalecer, em geral, a noção de


comerciante que resulta do art. 13º CCom: comerciante é quem,
enquadrando-se numa das duas categorias do art. 13º CCom, seja titular
de uma empresa que exerça uma das actividades comerciais, tais como
as qualificam o art. 230º CCom, e as demais disposições avulsas que
caracterizam e englobam no Direito Comercial certas actividades
económicas.
A aquisição da qualidade de comerciante é sempre originária, não
podendo transmitir-se nem inter vivos, nem mortis causa.
Portanto, quem organizar ou adquirir uma empresa comercial terá de
preencher, em si mesmo, os requisitos necessários para obter de si a
qualidade de comerciante.

O art. 13º/1 CCom, refere-se a pessoas. Em geral, entende-se que aquele


n.º 1, só abrange pessoas singulares: os chamados comerciantes em nome
individual.

17. Os comerciantes em nome individual. A matrícula


O art. 13º/1 CCom, só abrange pessoas físicas: os usualmente
denominados comerciantes em nome individual.

Quando é que uma pessoas física se diz comerciante?

Em face do CRC, constata-se que a matrícula não é uma condição nem


necessária, nem suficiente, para a aquisição da qualidade de comerciante.
Não basta estar matriculado como comerciante mesmo sem matrícula.
Esta não é, portanto, condição nem suficiente nem necessária da
aquisição da qualidade de comerciante em nome individual.

18. Requisitos de acesso à qualidade de comerciante


a) Personalidade jurídica
Quanto a este requisito, não há aqui a considerar quaisquer
especialidades face ao regime geral do Direito Civil.

Assim, além de assumir a personalidade jurídica das pessoas singulares


(art. 66º CC), a lei comercial atribui-a às sociedades comerciais (art. 5º
CSC) e às sociedades civis em forma comercial (art. 1º/4 CSC).

b) Capacidade comercial
A capacidade jurídica constitui a medida dos direitos e obrigações de que
uma pessoa é susceptível de ser sujeito (art. 67º CC) e que a doutrina
distingue entre a capacidade de gozo e a capacidade de exercício. Dos
arts. 14º/1 e 17º CCom, resultam restrições à capacidade comercial sem
fim lucrativo e de Direito Público.

Quanto à capacidade de exercício, deverá ter-se em conta o art. 7º CCom,


que enuncia dois princípios fundamentais: o da liberdade de comércio e o
da coincidência entre a capacidade civil e a capacidade comercial.
A plena capacidade comercial depende de uma pessoa – singular ou
colectiva – ter capacidade civil e não estar abrangida por alguma norma
que estabeleça uma restrição ao exercício do comércio.

Podem os menores e os demais incapazes ser comerciantes?

O art. 13º/1 CCom, ao exigir capacidade para a prática de actos de


comércio, pretende referir-se à capacidade jurídica de exercício, tanto
mais que alude ao carácter profissional do comércio, o que pressupõe
uma prática habitual de actos geradores, mediadores ou extintivos de
direitos e obrigações.

Assim, parece que não pode conceber-se o exercício de uma profissão


deste jaez por um incapaz: o próprio conceito de profissão e, no caso, a
circunstância de ela se traduzir numa contínua e habitual prática de actos
e negócios jurídicos, sendo, portanto, absorvente e responsabilizante,
afigura-se incompatível com a situação jurídica de incapacidade.
A inclusão dos menores e interditos no art. 13º/1 CCom, deve entender-
se cumgrano salis quanto ao exercício profissional do comércio: considera-
se que tal exercício será a prática habitual de actos comerciais, não directa
e pessoalmente pelos incapazes, mas pelos seus representantes em nome
e por conta daqueles. Isto, evidentemente, desde que os representantes
obtenham a autorização judicial eventualmente necessária, face aos arts.
1889º e 1938º CC.
c) Exercício profissional do comércio
Pressupõe e concretiza-se através da prática de actos de comércio. Mas
não qualquer prática: só a prática em termos de profissão.

a) Não basta a prática de actos de comércio isolados ou ocasionais: para


se adquirir a qualidade de comerciante é indispensável a prática regular,
habitual, sistemática, de actos de comércio;
b) Não basta a prática, mesmo que habitual de quaisquer actos de
comércio: nem todos estes actos têm a mesma potencialidade de atribuir
a quem os pratique a qualidade de comerciante;
c) É indispensável para que haja profissionalidade que o indivíduo
pratique os actos de comércio de forma a exercer como modo de vida
uma das actividades económicas que a lei enquadra no âmbito do direito
mercantil;
d) Deve entender-se como indispensável que a profissão de
comerciante seja exercida de modo pessoal, independente e autónomo,
isto é, em nome próprio, sem subordinação a outrem;
e) É indispensável que o comerciante organize factores de produção
com vista à produção das utilidades económicas resultantes de uma
daquelas utilidades económicas que a lei considera como comerciais.
Portanto, é comerciante quem possui e exerce uma empresa
comercial: quem é titular de uma organização daquelas que a lei
qualifica como empresas comerciais para através dela exercer uma
actividade comercial.

19. Situações duvidosas quanto à aquisição da qualidade de comerciante


O art. 14º e 17º CCom, pretende evitar um alargamento excessivo da
categoria de comerciante. O art. 14º/2 CCom, aplica-se aos acasos do art.
13º/1 CCom.

Quer as pessoas de fim desinteressado, quer as pessoas colectivas de fim


interessado não económico, não podem ser comerciantes.
Mandatário comercial, a doutrina entende que não são comerciantes,
são sujeitos que a título profissional executam um mandato comercial
com representação.
Mandato mercantil, traduz-se na execução do mandato, pratica um
conjunto de actos (um ou mais) de comércio, realizados pelo mandatário
comercial, produzem efeitos jurídicos na esfera jurídica do mandante
representado (art. 231º; 258º CCom).
a) Gerente (arts. 248º a 250º CCom)
Quem em nome e por conta de um comerciante trata do comércio desse
comerciante, no lugar onde esse comerciante tenha ou peça para actuar.

Tem um poder de representação (art. 249º CCom), é um poder geral e


compreensivo de todos os actos pertencentes e necessários ao exercício
do comércio para que tenha sido dado, não são comerciantes.
b) Auxiliares de comércio (art. 256º CCom)
São encarregados de um desempenho constante em nome e por conta
dos comerciantes de algum (s) dos ramos de tráfico.

c) Caixeiros (art. 257º CCom)


São empregados do comerciante, encarregados de várias funções. O
poder de representação do caixeiro (e dos auxiliares) é um poder de
representação menor que dos gerentes (arts. 258º e 259º CCom).

São classificados no Código Comercial como mandatários com


representação. Os poderes de representação podem resultar de outros
negócios jurídicos sem ser o contrato de mandato. Sendo subordinados,
praticam actos de comércio, por nome e por conta do empregador – para
aquele negócio não são comerciantes.
d) Comissários (dos comerciantes) – art. 266º CCom, contratos de
comissão, art. 268º CCom)
Fica directamente obrigado com as pessoas com quem contratou como se
o negócio fosse seu.

O comissário pratica os actos para o comitente, repercutem-se na esfera


jurídica do comissário, fica o titular dos bens adquiridos. Há uma segunda
negativa que regula a relação que o comissário tem com o comitente. O
comissário vai receber do comitente além da sua remuneração (ordinária)
um outro montante.
Se o comissário, praticar actos de forma comercial, faz do comércio
profissão para efeitos do art. 13º CCom, é irrelevante se ele os pratica
para ele ou por conta de outrem – ele é comerciante – fica obrigado pela
prática dos seus actos.
e) Mediadores
Pessoa colectiva ou singular, que servem de elo de ligação entre diversos
sujeitos jurídicos, promovem a celebração de negócios entre duas
pessoas. Executam actos de comércio, a sua actividade está incluída no
art. 230º/3 CCom.

f) Agentes comerciais
Promove por conta de outrem a celebração de contratos. Operador
independente mediante retribuição. O essencial da sua actividade é a
promoção do contrato, pode celebrar também se tiver mandato para isso.

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