O direito comercial, partilha com os demais ramos de direito as mesmas fontes e/ou factos
que criam e revelam as normas jurídicas 1, sejam elas internacionais ou internas, a saber:
Fontes Internacionais
Fontes Internas
Como fontes internas temos:
Lei Constitucional
C.R.M prevê normas com alcance directo no exercício da actividade comercial,
conforme o previsto nos artigos 96º, 97º, 99º, 106º e 107º, todos da C.R.M.2
Lei Ordinária
Cuja competência para a sua aprovação é da A.R (artigo 182º C.R.M).
Código Comercial, aprovado pela Lei n.º 2/2005, de 27 de Dezembro, constitui o
principal instrumento de regulamentação da actividade comercial no nosso Pais e nos
1
ABUDO, José Ibrahimo. Direito Comercial, Maputo, 2009, pág.65.
2
Constituição da Republica de Moçambique, Actualizada pela Lei n.º 1/2018, de 12 de Junho.
1
DIREITO COMERCIAL I
termos do disposto no seu artigo 1º, “a lei comercial regula a actividade dos
empresários comerciais, bem como os actos considerados comerciais”. 3
A lei comercial constitui fonte da maior parte das normas de direito comercial, de acordo com
o que se pode extrair do artigo 7º do C.com, segundo o qual, os casos que o presente Código
não preveja, são regulados segundo as normas desta lei aplicáveis aos análogos e, na sua
falta, pelas normas do Direito civil que não forem contrários aos princípios do Direito
Comercial.
Decreto-lei e o Decreto
Cuja aprovação compete ao Conselho de Ministros evidenciam-se, igualmente, como fonte de
muitas normas de Direito Comercial, vide o artigo 180º da C.R.M.
Usos e Costumes
Diferentemente do que sucede nos outros ramos do Direito, os usos e costumes, constituem
fonte do Direito Comercial, conforme o previsto no artigo 480º, n.º 1, admite-se como fonte
do Direito Comercial os usos e costumes em certas disposições, desde que estes tenham
relevância jurídica quando a lei para eles remeta, conforme estabelece o n.º 3, do artigo 560º
C. civil, aplicável por força do artigo 7º, do C.com. A lei civil é aplicável subsidiariamente
nas relações comerciais desde que as normas a aplicar, não sejam contrárias aos princípios do
Direito Comercial, vide o artigo 4º, da C.R.M.
Assim, segundo Jorge Coutinho de Abreu, os usos e costumes embora sejam considerados
menos significativos (…), têm elevada importância para o direito comercial, na medida em
que, podem manifestar regras jurídicas, tanto quando se trate de usos referidos pela própria
lei (cfr. Os artigos 1º e 3º, n.º 1 do C.com), ou seja, constituem fonte mediata do direito
comercial, quando se trate de “usos solicitados para a interpretação e integração dos negócios
jurídico-mercantis). 4
4
DE ABREU, Jorge Manuel Coutinho, Curso de Direito Comercial, cit.págs.27 e 28.
2
DIREITO COMERCIAL I
Jurisprudência
Em regra, a jurisprudência não constitui fonte do direito comercial, excepto quando
produzida por força do que vem estabelecido no artigo 2º, do C.C.
Doutrina
Alguns autores entendem que a doutrina não é fonte do direito comercial, ela tem um papel
efectivamente importante, mas como mero auxiliador na interpretação da lei. 5 Entretanto,
segundo Jorge DE ABREU, a doutrina é fonte do direito comercial, porque ela importa à
mediada que se apresenta “dogmaticamente complementar” e “heurístico-normativamente
antecipante” do “direito jurisprudencial”6
5
ABUDO, José Ibrahimo in cit DE ABREU, Jorge Manuel, op.cit, pág.72
6
ABUDO, José Ibrahimo, op.cit, pág.72
3
DIREITO COMERCIAL I
7
ABUDO, J.Ibrahimo, op.cit, pág.48.
8
DE SOUSA, Elísio, Código penal Moçambicano Anotado e Comentado, 2ª edição, Escolar Editora.
4
DIREITO COMERCIAL I
3. Actos de Comércio
Noções Gerais
O acto de comércio é um acto jurídico que permite distinguir os actos que
pertencem ao direito comercial daqueles que se encontram sob a alçada do direito
civil. 9
Os actos de comércio são um conjunto de actos definidos no código comercial.
Não há nenhuma designação específica para actos de comércio, mas pode-se dizer
que são parte essencial da matéria mercantil10
Comerciantes- são pessoas singulares (comerciantes em nome individual) ou colectivas
(sociedades comerciais) que, tendo capacidade para praticar actos de comércio, fazem
deste a sua profissão, vide o artigo 2º C.com.
Não podem ser comerciantes, as Associações ou corporações que não tenham por objecto
interesses materiais e os impedidos por lei especial, conforme o previsto no artigo 14º
C.com.
A aquisição da qualidade de comerciante é sempre originária, não se transmite inter vivo,
nem mortis causa.
Características dos actos de comércio11
Acto jurídico
Bilateral
Oneroso (todo o acto de comércio está vinculado ao lucro)
Lícito (os actos de comércio devem ser legais ou lícitos, não devem ir contra a lei,
nem prejudicar terceiros, nem ofender a moral e aos bons costumes).
Tributário (os actos de comercio podem implicar a arrecadação de impostos, que são
rendimentos obrigatórios exigidos pelo Estado que resulta de um facto que a lei
vincula o dever de contribuir)
Regido pela Lei Comercial
Voluntário.
9
www.euston96.com, acessado aos 28 de Outubro de 2020, pelas 18horas.
10
SANTOS, Rui Teixeira, Lições de Direito Comercial.
11
www.maestrovirtuale.com˲Direito, acessado aos 28 de Outubro, pelas 20horas.
5
DIREITO COMERCIAL I
12
JÚNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora, Maputo,
2013, pág.47
6
DIREITO COMERCIAL I
Nos termos previstos na alínea b), do n.º 1, do artigo 4º, C.com, são actos de comércio
os praticados no exercício de uma empresa comercial, ou seja, são actos de comércio,
não apenas os contratos ou negócios jurídicos, mas também os demais factos que
geram obrigações comerciais. Ou seja, os actos de comércio abarcam todos os factos
jurídicos praticados de forma isolada, ou ocasional por empresários comerciais, quer
por não empresários comerciais, assim como todos os actos associados à organização
da empresa comercial tendentes a obtenção de lucros.
Na determinação dos actos de comércio, excluem-se do artigo 4º C.com:
a) Os factos jurídicos naturais, os que não passam de obra da natureza, não obstante
poder verificar-se no próprio homem, exemplo, o falecimento de um socio (alínea a),
do artigo 260º e artigo 261º, do C.com);
b) Factos jurídicos involuntários, os factos estranhos que ocorrem independentemente da
vontade, exemplo, o decurso do tempo na prescrição das obrigações sociais, (artigo
252º C.com).
Estes factos ocorrem com repercussões na vida da sociedade, mas em si, não
consubstanciam qualquer fato que como tal se deva integrar como sendo acto de
comércio 13.
Na nossa lei comercial (artigos 4º e 5º), não se verifica um conceito unitário legal de acto de
comércio, mas sim a determinação ou indicação dos actos de comércio. Assim, são tidos
como actos de comércio:
Actos especialmente regulados na lei, em atenção às necessidades da empresa
comercial, designadamente os previstos no Código Comercial e aos actos análogos
(nos termos do disposto do artigo 7º);
Os actos praticados no exercício de uma empresa comercial;
Os actos praticados por um empresário comercial praticados no exercício da sua
empresa, se deles e das circunstâncias que o rodearam a sua pratica não resultar o
contrário.
Exemplos de actos de comércio:
- A compra e venda de bens móveis ou imóveis (artigo 874 o C.C e artigo 477º
C.com).
- Endosso de uma letra de câmbio, artigo 714º C.com.
13
JÚNIOR, Manuel Guilherme, Op.cit, pág.48.
7
DIREITO COMERCIAL I
Os actos de comércio subjectivos são praticados por um determinado tipo de pessoa, isto é,
comerciantes. Dependem do sujeito que os pratica.
8
DIREITO COMERCIAL I
Actos de comércio por conexão ou acessórios -são aqueles actos cuja comercialidade a
lei outorga tendo em consideração a sua especial relação com certo acto de comércio
ou com o comércio. Isto é, estes actos passam a serem considerados como de comércio
somente em razão da sua peculiar ligação ou acessoria a um acto de comércio absoluto
ou a uma actividade classificada como comercial 15. Devem a sua comercialidade ao
facto de se ligarem a actos de comércio autónomos.
Exemplos:
O depósito (artigo 1199º e seguintes do C. civil);
O Mandato para a aquisição através da compra de mercadorias para a revenda (artigo
1157º e seguintes do C. civil);
O empréstimo de uma certa quantia para a compra de mercadorias para a revenda
(artigo 1142º e seguintes do C. civil).
Fiança (artigo 627º e seguintes do C. civil);
Penhor (artigo 666º e seguintes do C. civil).
Estes actos para que se considerem mercantis ou de comércio, devem proceder de, ou
destinarem-se a actos de comércio.
14
ABUDO, J.Ibraimo, ob.cit, pág.91
15
Idem.
9
DIREITO COMERCIAL I
Teoria do Acessório
Constando que determinados actos de natureza cível, poderem transformar-se em
comerciais, quando praticados em âmbito comercial, a jurisprudência francesa
chamou de actos de comércio acessórios, pelo facto de estes actos serem praticados
por um comerciante, seja ele pessoa singular ou pessoa colectiva (sociedade
comercial), no exercício do seu comércio e, não só, mas também os actos ligados a
um acto de comércio absoluto.16
Segundo PUPO CORREIA, a teoria do acessório divide-se em duas categorias a
saber:
1º Categoria:
Os actos de comércio conexos ou ligados à actividade comercial de um comerciante-
actos de comércio subjectivos; e
2º Categoria:
Os actos que adquirem a sua comercialidade em razão da relação existente entre eles
e o de um acto de comércio por natureza- actos de comércio objectivos e acessórios
ou de conexão.
Nesta última, poderão incluir-se os actos conexos com os de comércio objectivos e
absolutos praticados por um não comerciante17. Os chamados actos de comércio
ocasionais ou avulsos.
Se analisarmos os actos da segunda categoria, podemos verificar que a teoria do
acessório admite a analogia como forma de qualificar os actos de comércio. Isto
porque, os actos de comércio objectivos e acessórios ou por conexão, não podendo
serem considerados como subjetivamente comerciais, por não terem sido praticados
por um comerciante, só poderiam ser classificados como objectivos. E só podem
adquirir a qualificação de actos de comércio por analogia, por não se encontrar
regulados especialmente na lei comercial. 18
16
ABUDO, J.Ibraimo, ob.cit. p.93.
17
Idem.
18
Idem.
10
DIREITO COMERCIAL I
Resumo:
Teoria do acessório- todo e qualquer acto praticado por um não comerciante, seria
comercial quando conexo ou ligado aos actos objectivos de comércio (os previstos na
lei comercial).
Passam esses actos a serem aceites como de comércio se forem análogos ou
semelhantes a actos acessórios de comércio previstos na lei comercial.
Exemplo:
XPTO compra um carro para o revender (compra e venda mercantil-acto de comércio
absoluto), posto isto, contrata um guarda para que tome conta do carro, depois arrenda
uma garagem para guardar o referido carro;
A contratação do guarda e o arrendamento são actos acessórios e, como tal,
comerciais.
O acto acessório será qualquer acto que decorre de um acto comercial, sem ser
comercial.
b) Actos de comércio causais e abstractos
Actos de comércio causais- os actos que os contempla e regula de modo a
preencher ou realizar uma determinada causa-função jurídico-económica.
Exemplo:
A compra e venda tem por causa-função a transmissão inter vivos do direito de
propriedade de uma coisa, em troca de um preço.
Actos de comércio abstractos – aqueles que se revelam adequados a preencher uma
diversidade de causas-funções, podendo a relação jurídica que deles resultarem ter
uma vida independente das relações que lhes deram origem.
Exemplo:
O saque (artigo 706º C.com), aceite (artigo 724º C.com) e endosso (artigo 714º
C.com), são actos praticados no âmbito da letra de câmbio, os quais podem ter origem
numa compra e venda, um empréstimo, etc, estes geram uma relação jurídica
dependente daqueles que lhe deu origem.
c) Actos de comércio puros e mistos
Actos de comércio bilaterais ou puros – são actos cuja comercialidade se verifica à
todos os sujeitos, ou seja, ambas partes.
11
DIREITO COMERCIAL I
Exemplos:
1. XPTY, proprietário de um estabelecimento comercial, celebra com a INDICO
SEGUROS, LDA um contrato de seguro (relativo ao seu estabelecimento
comercial).
Neste caso, quer pelo lado do XPTY, quer pelo lado da INDICO SEGUROS, LDA, o
contrato é comercial.
12
DIREITO COMERCIAL I
Bibliografia Consultada
Manuais:
1. ABUDO, José Ibraimo, Direito Comercial, Maputo 2009;
2. CAMBULE, Gil, Teoria Geral do Direito Civil. Introdução Geral. Situação
Jurídica. As Pessoas. Os Bens, Volume I.
3. JÚNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano,
Vol.I, Escolar Editora, 2013.
4. SANTOS, Rui Teixeira, Lições de Direito Comercial.
Legislação:
1. Constituição da Republica de Moçambique (2018);
2. Código Comercial Moçambicano, 4ª Edição (2019);
3. Código Civil Moçambicano, actualizado pelo Decreto-lei n.º 3/2006, de 23 de
Agosto, 3ª Edição.
13