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DIREITO COMERCIAL I

1. Fontes e Integração de Lacunas em Direito Comercial


1.1. Fontes do Direito Comercial

O direito comercial, partilha com os demais ramos de direito as mesmas fontes e/ou factos
que criam e revelam as normas jurídicas 1, sejam elas internacionais ou internas, a saber:
Fontes Internacionais

 Os tratados e acordos internacionais, validamente aprovados e ratificados, vigoram na


ordem jurídica moçambicana apos a sua publicação no B.R e enquanto vincularem
internacionalmente o nosso Estado, conforme o estabelecido no artigo 18º, conjugado
com as alíneas t), u), do artigo 178º, todos da C.R.M.
 Convenções de Genebra, Bruxelas, Varsóvia e as Recomendações referentes às boas
práticas na área da legislação comercial dos Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa (PALOP).
 Instrumentos jurídicos aprovados a nível da SADC: Tratado da SADC, ratificado pela
resolução n.º 3/93, de 1 de junho, pela A.R; O Protocolo de Trocas Comerciais na
SADC, ratificado pela resolução n.º 44/99, de 28 de Dezembro, aprovada pelo
conselho de Ministros.

Fontes Internas
Como fontes internas temos:
Lei Constitucional
 C.R.M prevê normas com alcance directo no exercício da actividade comercial,
conforme o previsto nos artigos 96º, 97º, 99º, 106º e 107º, todos da C.R.M.2
Lei Ordinária
Cuja competência para a sua aprovação é da A.R (artigo 182º C.R.M).
 Código Comercial, aprovado pela Lei n.º 2/2005, de 27 de Dezembro, constitui o
principal instrumento de regulamentação da actividade comercial no nosso Pais e nos

1
ABUDO, José Ibrahimo. Direito Comercial, Maputo, 2009, pág.65.
2
Constituição da Republica de Moçambique, Actualizada pela Lei n.º 1/2018, de 12 de Junho.
1
DIREITO COMERCIAL I

termos do disposto no seu artigo 1º, “a lei comercial regula a actividade dos
empresários comerciais, bem como os actos considerados comerciais”. 3
A lei comercial constitui fonte da maior parte das normas de direito comercial, de acordo com
o que se pode extrair do artigo 7º do C.com, segundo o qual, os casos que o presente Código
não preveja, são regulados segundo as normas desta lei aplicáveis aos análogos e, na sua
falta, pelas normas do Direito civil que não forem contrários aos princípios do Direito
Comercial.

Decreto-lei e o Decreto
Cuja aprovação compete ao Conselho de Ministros evidenciam-se, igualmente, como fonte de
muitas normas de Direito Comercial, vide o artigo 180º da C.R.M.

Usos e Costumes
Diferentemente do que sucede nos outros ramos do Direito, os usos e costumes, constituem
fonte do Direito Comercial, conforme o previsto no artigo 480º, n.º 1, admite-se como fonte
do Direito Comercial os usos e costumes em certas disposições, desde que estes tenham
relevância jurídica quando a lei para eles remeta, conforme estabelece o n.º 3, do artigo 560º
C. civil, aplicável por força do artigo 7º, do C.com. A lei civil é aplicável subsidiariamente
nas relações comerciais desde que as normas a aplicar, não sejam contrárias aos princípios do
Direito Comercial, vide o artigo 4º, da C.R.M.
Assim, segundo Jorge Coutinho de Abreu, os usos e costumes embora sejam considerados
menos significativos (…), têm elevada importância para o direito comercial, na medida em
que, podem manifestar regras jurídicas, tanto quando se trate de usos referidos pela própria
lei (cfr. Os artigos 1º e 3º, n.º 1 do C.com), ou seja, constituem fonte mediata do direito
comercial, quando se trate de “usos solicitados para a interpretação e integração dos negócios
jurídico-mercantis). 4

4
DE ABREU, Jorge Manuel Coutinho, Curso de Direito Comercial, cit.págs.27 e 28.
2
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Jurisprudência
Em regra, a jurisprudência não constitui fonte do direito comercial, excepto quando
produzida por força do que vem estabelecido no artigo 2º, do C.C.

Doutrina
Alguns autores entendem que a doutrina não é fonte do direito comercial, ela tem um papel
efectivamente importante, mas como mero auxiliador na interpretação da lei. 5 Entretanto,
segundo Jorge DE ABREU, a doutrina é fonte do direito comercial, porque ela importa à
mediada que se apresenta “dogmaticamente complementar” e “heurístico-normativamente
antecipante” do “direito jurisprudencial”6

Analogia em Direito comercial


A aplicabilidade das normas civis, ao Direito Comercial, pressupõe um conjunto de
requisitos, a saber:
Existência de uma lacuna jurídica, ou seja, a inexistência de uma norma concreta
aplicável a certa situação que reclama regulamentação em matéria comercial;
Existência de uma norma civil análoga ou semelhante, susceptível de ser aplicada
para regular o caso descoberto;
A não contrariedade desta norma aos princípios e valores do Direito Comercial (…),
vide o artigo 7º C.com, conjugado com o artigo11, do C.C.

2. Relação entre o Direito Comercial e outros Ramos do Direito


Direito Comercial e o Direito civil
O direito civil é um direito privado comum e geral, porque regula a generalidade das
relações jurídico-privadas. O direito comercial regula uma parte destas relações
privadas, as que compõem o exercício da empresa comercial e a prática dos actos de
comércio. O direito civil é subsidiário do direito comercial, na medida em que,
havendo uma lacuna em direito comercial, recorrer-se-á ao jus civile.

5
ABUDO, José Ibrahimo in cit DE ABREU, Jorge Manuel, op.cit, pág.72
6
ABUDO, José Ibrahimo, op.cit, pág.72
3
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Direito comercial e o Direito constitucional


O direito constitucional tem por sede a C.R.M, cujas normas prevalecem sobre todas
as restantes normas do ordenamento jurídico (n.º 4, do artigo 2º). Portanto há uma
relação de subordinação entre o direito constitucional e o direito comercial, na
mediada em que, os princípios que regem o direito comercial estão, necessariamente,
conformados com os princípios constitucionais relativos à organização política e à
ordem jurídica e os direitos e deveres dos cidadãos.7

Direito comercial e o Direito penal


O direito penal fixa normas de aplicação de sanções criminais (sanção e multas), nas
situações, por exemplo, em que um empresário comercial que pratica actos de
concorrência desleal, sujeita-se a sofrer sanções previstas no código penal e
consequentemente incorrer na indemnização por perdas e danos;
Por outro lado, nas situações em que os empresários comerciais no exercício da sua
empresa pratica actos de falência dolosa, emissão de cheque sem cobertura, burla,
etc, sofrearão as mesmas sanções e multas, vide os artigos 295º e seguintes do Código
penal. 8

Direito comercial e o Direito do trabalho

O direito de trabalho regula as relações de trabalho (os direitos e as obrigações dos


trabalhadores perante o empregador, assim como os direitos e as obrigações de ambos perante
o Estado). Assim, no exercício da sua actividade normal, as pessoas singulares ou colectivas
e as sociedades comerciais que nos termos do artigo 2º, do C.com, são consideradas
empresários comerciais, contam com a participação e colaboração dos trabalhadores
subordinados através de contratos de trabalho, podendo alguns deles praticar actos de
comércio, como nos casos, por exemplo, de contrato de prestação de serviços mercantis, vide
o artigo 509º e seguintes do C.com.
Nota:
Para além das disciplinas aqui elencadas a título exemplificativo, o Direito comercial
relaciona-se também com o Direito Fiscal, o Direito Internacional Privado, o Direito
Processual, o Direito Económico, o Direito Administrativo, Teoria Geral do Direito Civil,
etc.

7
ABUDO, J.Ibrahimo, op.cit, pág.48.
8
DE SOUSA, Elísio, Código penal Moçambicano Anotado e Comentado, 2ª edição, Escolar Editora.
4
DIREITO COMERCIAL I

3. Actos de Comércio
Noções Gerais
O acto de comércio é um acto jurídico que permite distinguir os actos que
pertencem ao direito comercial daqueles que se encontram sob a alçada do direito
civil. 9
Os actos de comércio são um conjunto de actos definidos no código comercial.
Não há nenhuma designação específica para actos de comércio, mas pode-se dizer
que são parte essencial da matéria mercantil10
Comerciantes- são pessoas singulares (comerciantes em nome individual) ou colectivas
(sociedades comerciais) que, tendo capacidade para praticar actos de comércio, fazem
deste a sua profissão, vide o artigo 2º C.com.
Não podem ser comerciantes, as Associações ou corporações que não tenham por objecto
interesses materiais e os impedidos por lei especial, conforme o previsto no artigo 14º
C.com.
A aquisição da qualidade de comerciante é sempre originária, não se transmite inter vivo,
nem mortis causa.
Características dos actos de comércio11
 Acto jurídico
 Bilateral
 Oneroso (todo o acto de comércio está vinculado ao lucro)
 Lícito (os actos de comércio devem ser legais ou lícitos, não devem ir contra a lei,
nem prejudicar terceiros, nem ofender a moral e aos bons costumes).
 Tributário (os actos de comercio podem implicar a arrecadação de impostos, que são
rendimentos obrigatórios exigidos pelo Estado que resulta de um facto que a lei
vincula o dever de contribuir)
 Regido pela Lei Comercial
 Voluntário.

9
www.euston96.com, acessado aos 28 de Outubro de 2020, pelas 18horas.
10
SANTOS, Rui Teixeira, Lições de Direito Comercial.
11
www.maestrovirtuale.com˲Direito, acessado aos 28 de Outubro, pelas 20horas.
5
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3.1. Actos de Comércio previstos no Código Comercial Moçambicano


- Do disposto no artigo 4º C.com entende-se que, são considerados comerciais, certos
actos jurídicos, ou, certos acontecimentos juridicamente relevantes.
- Os actos praticados pelos comerciantes, no exercício da sua actividade comercial e
aquele considerado como tal pela lei, são tidos como Actos de comércio, artigo 1º
C.com.
Nos termos do disposto no artigo 4º C.com, os actos de comércio abrangem vários
acontecimentos que consubstanciam actividades comerciais que por sua vez, cria
efeitos jurídicos comerciais, nomeadamente:
Os factos jurídicos voluntários lícitos ou ilícitos, ou ainda simples negócios
jurídicos12
a) Factos jurídicos voluntários lícitos, ex., artigos 180º, 293º, n.º 2, do
C.com;
b) Factos jurídicos ilícitos, ex., artigo 24º, do C.com;
c) Simples negócio jurídico, ex., artigo 477º, C.com;
d) Actos jurídicos lícitos, os que são praticados com a observância da lei
Exemplo: Quando a administração da sociedade interpela o sócio em mora,
para realizarem a quota (n.º 2, artigo 293º, C.com);
e) Actos jurídicos ilícitos, quando são praticados sem a observância da lei
e implicam a aplicação de sanção ao infractor;
Exemplo: O uso ilegal da firma, referido no artigo 25º C.com que confere aos
interessados o direito de exigir a sua proibição, bem como uma indeminização
pelos danos daí emergentes, sem prejuízo da correspondente acção criminal, se
ela houver lugar.
f) Negócios jurídicos que são manifestações de vontade humana que nos
termos da lei, visam a criar, modificar ou extinguir um direito ou conjunto de
direitos;
Exemplo: a compra e venda mercantil (artigo 477º C.com), negócios jurídicos
unilaterais (os que constituem as sociedades comerciais), os negócios
cambiários, etc.

12
JÚNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano, Vol.1, Escolar Editora, Maputo,
2013, pág.47
6
DIREITO COMERCIAL I

Nos termos previstos na alínea b), do n.º 1, do artigo 4º, C.com, são actos de comércio
os praticados no exercício de uma empresa comercial, ou seja, são actos de comércio,
não apenas os contratos ou negócios jurídicos, mas também os demais factos que
geram obrigações comerciais. Ou seja, os actos de comércio abarcam todos os factos
jurídicos praticados de forma isolada, ou ocasional por empresários comerciais, quer
por não empresários comerciais, assim como todos os actos associados à organização
da empresa comercial tendentes a obtenção de lucros.
Na determinação dos actos de comércio, excluem-se do artigo 4º C.com:
a) Os factos jurídicos naturais, os que não passam de obra da natureza, não obstante
poder verificar-se no próprio homem, exemplo, o falecimento de um socio (alínea a),
do artigo 260º e artigo 261º, do C.com);
b) Factos jurídicos involuntários, os factos estranhos que ocorrem independentemente da
vontade, exemplo, o decurso do tempo na prescrição das obrigações sociais, (artigo
252º C.com).
Estes factos ocorrem com repercussões na vida da sociedade, mas em si, não
consubstanciam qualquer fato que como tal se deva integrar como sendo acto de
comércio 13.
Na nossa lei comercial (artigos 4º e 5º), não se verifica um conceito unitário legal de acto de
comércio, mas sim a determinação ou indicação dos actos de comércio. Assim, são tidos
como actos de comércio:
Actos especialmente regulados na lei, em atenção às necessidades da empresa
comercial, designadamente os previstos no Código Comercial e aos actos análogos
(nos termos do disposto do artigo 7º);
Os actos praticados no exercício de uma empresa comercial;
Os actos praticados por um empresário comercial praticados no exercício da sua
empresa, se deles e das circunstâncias que o rodearam a sua pratica não resultar o
contrário.
Exemplos de actos de comércio:
- A compra e venda de bens móveis ou imóveis (artigo 874 o C.C e artigo 477º
C.com).
- Endosso de uma letra de câmbio, artigo 714º C.com.

13
JÚNIOR, Manuel Guilherme, Op.cit, pág.48.
7
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3.2. Tipos dos Actos de Comércio


Actos de comércio subjectivos- são aqueles classificados como tal em função do
sujeito que os pratica, ou seja, a qualificação do acto como sendo do comércio terá
como base, a pessoa que nos termos do artigo 3º C.com, pratica uma das actividades
aqui previstas.
Deste modo, os actos praticados pelo empresário comercial no exercício da empresa
comercial se presumem, sendo de comércio, salvo as circunstâncias que rodearam a
sua prática, resulte o contrário, n.º 2, do artigo 4º, C.com.
Exemplos:
1. O empresário XPTO usou o capital social da sua empresa para a compra de um
automóvel com a intenção de revenda.

2. O empresário XPTZ, no exercício da empresa comercial, compra uma quantidade


“X” de bens móveis para a colocação de produtos diversos.

Os actos de comércio subjectivos são praticados por um determinado tipo de pessoa, isto é,
comerciantes. Dependem do sujeito que os pratica.

Actos de comércio objectivos- é todo aquele acto que independentemente do sujeito


ou da qualidade de sujeito, encontra-se previsto no código comercial ou no código
civil, ou ainda em qualquer legislação extravagante que qualifica ao acto como de
comércio, vide a alínea a), do n.º 1,artigo 4º, C.com.
Exemplo:
Todos os contratos e obrigações dos comerciantes que não forem exclusivamente de
natureza civil (contrato de compra e venda mercantil, artigo 477º, contrato de adesão
artigo 474º, contrato de fornecimento artigo 497º, todos do C.com, etc), se o contrário
do próprio acto não resultar.
Os actos de comércio objectivos estão regulados na lei comercial, em razão do seu
conteúdo ou circunstâncias.
Se tivermos em atenção ao artigo 3º C.com, pode-se depreender que o corpo deste não
tem em vista os sujeitos que praticam os actos, mas sim aos actos. Não se verifica
qualquer elemento subjectivo; o preceituado neste artigo tem a sua origem nos actos,
independentemente de quem os pratica.

8
DIREITO COMERCIAL I

3.3. Classificação dos Actos de Comércio


a) Actos de comércio absolutos ou autónomos e por conexão
Actos de comércio absolutos ou autónomos- são aqueles actos que têm de per si ou por
si mesmo natureza comercial, ou seja, actos que devem a comercialidade à sua
natureza intrínseca, ou, mais claramente, comerciais dada à sua natureza fundar-se no
próprio comércio, na vida empresarial. 14 Não carecem de nenhum outro acto para
serem considerados como tal.
Exemplos:
- A compra e venda mercantil, prevista no artigo 477º C.com;
- O Contrato de reporte, previsto no artigo 487º C.com;
São actos de comércio absoluto, porque tendo em atenção à sua natureza,
características, o legislador qualificou-os como comerciais. São actos constitutivos ou
que surgem de operações ou trocas comerciais.

Actos de comércio por conexão ou acessórios -são aqueles actos cuja comercialidade a
lei outorga tendo em consideração a sua especial relação com certo acto de comércio
ou com o comércio. Isto é, estes actos passam a serem considerados como de comércio
somente em razão da sua peculiar ligação ou acessoria a um acto de comércio absoluto
ou a uma actividade classificada como comercial 15. Devem a sua comercialidade ao
facto de se ligarem a actos de comércio autónomos.
Exemplos:
 O depósito (artigo 1199º e seguintes do C. civil);
 O Mandato para a aquisição através da compra de mercadorias para a revenda (artigo
1157º e seguintes do C. civil);
 O empréstimo de uma certa quantia para a compra de mercadorias para a revenda
(artigo 1142º e seguintes do C. civil).
 Fiança (artigo 627º e seguintes do C. civil);
 Penhor (artigo 666º e seguintes do C. civil).
Estes actos para que se considerem mercantis ou de comércio, devem proceder de, ou
destinarem-se a actos de comércio.

14
ABUDO, J.Ibraimo, ob.cit, pág.91
15
Idem.
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DIREITO COMERCIAL I

Teoria do Acessório
Constando que determinados actos de natureza cível, poderem transformar-se em
comerciais, quando praticados em âmbito comercial, a jurisprudência francesa
chamou de actos de comércio acessórios, pelo facto de estes actos serem praticados
por um comerciante, seja ele pessoa singular ou pessoa colectiva (sociedade
comercial), no exercício do seu comércio e, não só, mas também os actos ligados a
um acto de comércio absoluto.16
Segundo PUPO CORREIA, a teoria do acessório divide-se em duas categorias a
saber:
1º Categoria:
Os actos de comércio conexos ou ligados à actividade comercial de um comerciante-
actos de comércio subjectivos; e
2º Categoria:
Os actos que adquirem a sua comercialidade em razão da relação existente entre eles
e o de um acto de comércio por natureza- actos de comércio objectivos e acessórios
ou de conexão.
Nesta última, poderão incluir-se os actos conexos com os de comércio objectivos e
absolutos praticados por um não comerciante17. Os chamados actos de comércio
ocasionais ou avulsos.
Se analisarmos os actos da segunda categoria, podemos verificar que a teoria do
acessório admite a analogia como forma de qualificar os actos de comércio. Isto
porque, os actos de comércio objectivos e acessórios ou por conexão, não podendo
serem considerados como subjetivamente comerciais, por não terem sido praticados
por um comerciante, só poderiam ser classificados como objectivos. E só podem
adquirir a qualificação de actos de comércio por analogia, por não se encontrar
regulados especialmente na lei comercial. 18

No nosso ordenamento jurídico, admite-se a teoria do acessório nos termos do


estipulado no n.º 2, do artigo 4º C.com, segundo o qual, os actos praticados por um
empresário comercial consideram-se tê-lo no exercício da respectiva empresa, se
deles e das circunstâncias que o rodearam a sua prática não resultar o contrário.

16
ABUDO, J.Ibraimo, ob.cit. p.93.
17
Idem.
18
Idem.
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Resumo:
Teoria do acessório- todo e qualquer acto praticado por um não comerciante, seria
comercial quando conexo ou ligado aos actos objectivos de comércio (os previstos na
lei comercial).
Passam esses actos a serem aceites como de comércio se forem análogos ou
semelhantes a actos acessórios de comércio previstos na lei comercial.
Exemplo:
XPTO compra um carro para o revender (compra e venda mercantil-acto de comércio
absoluto), posto isto, contrata um guarda para que tome conta do carro, depois arrenda
uma garagem para guardar o referido carro;
A contratação do guarda e o arrendamento são actos acessórios e, como tal,
comerciais.
O acto acessório será qualquer acto que decorre de um acto comercial, sem ser
comercial.
b) Actos de comércio causais e abstractos
Actos de comércio causais- os actos que os contempla e regula de modo a
preencher ou realizar uma determinada causa-função jurídico-económica.
Exemplo:
A compra e venda tem por causa-função a transmissão inter vivos do direito de
propriedade de uma coisa, em troca de um preço.
Actos de comércio abstractos – aqueles que se revelam adequados a preencher uma
diversidade de causas-funções, podendo a relação jurídica que deles resultarem ter
uma vida independente das relações que lhes deram origem.
Exemplo:
O saque (artigo 706º C.com), aceite (artigo 724º C.com) e endosso (artigo 714º
C.com), são actos praticados no âmbito da letra de câmbio, os quais podem ter origem
numa compra e venda, um empréstimo, etc, estes geram uma relação jurídica
dependente daqueles que lhe deu origem.
c) Actos de comércio puros e mistos
Actos de comércio bilaterais ou puros – são actos cuja comercialidade se verifica à
todos os sujeitos, ou seja, ambas partes.

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DIREITO COMERCIAL I

Exemplos:
1. XPTY, proprietário de um estabelecimento comercial, celebra com a INDICO
SEGUROS, LDA um contrato de seguro (relativo ao seu estabelecimento
comercial).
Neste caso, quer pelo lado do XPTY, quer pelo lado da INDICO SEGUROS, LDA, o
contrato é comercial.

2. CD é produtor de ananás, no âmbito de um contrato de fornecimento, vende


ananases a EF, dono de um supermercado.
Nesta situação a venda assim como a compra são comerciais; as duas partes estão
a praticar actos como comerciantes (actos de comércio subjectivos).
3. JK compra um carro de LM com a intenção de revender a NO, que também quer
revender a PQ-
Neste caso, a venda assim como a compra são comerciais, neste caso todas as
partes estão a praticar actos de comércio objectivos.

Actos de comércio unilaterais ou mistos – são actos cuja comercialidade se verifica


apenas em relação a uma das partes.
Exemplos:
1. RS (jardineiro), compra a TU (empresário) uma motorizada para o seu uso.
Neste caso, a venda é comercial, mas a compra é civil.
2. A compra a B uma viatura para o seu uso pessoal.
Também nesta situação verifica-se que a venda é objetivamente comercial, a
compra é civil.

d) Actos formalmente comerciais e substancialmente comerciais


Actos formalmente comerciais – são os que estão regulados na lei comercial
como um esquema formal, que permanece aberto para dar cobertura a um qualquer
conteúdo, mas que abstraem no seu regime do objecto ou fim para que são
utilizados.
Actos substancialmente comerciais – os que têm a sua comercialidade em razão
da própria natureza, isto é, por representarem, em si mesmos, actos próprios actos
de actividade materialmente comerciais.

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Bibliografia Consultada
Manuais:
1. ABUDO, José Ibraimo, Direito Comercial, Maputo 2009;
2. CAMBULE, Gil, Teoria Geral do Direito Civil. Introdução Geral. Situação
Jurídica. As Pessoas. Os Bens, Volume I.
3. JÚNIOR, Manuel Guilherme, Manual de Direito Comercial Moçambicano,
Vol.I, Escolar Editora, 2013.
4. SANTOS, Rui Teixeira, Lições de Direito Comercial.
Legislação:
1. Constituição da Republica de Moçambique (2018);
2. Código Comercial Moçambicano, 4ª Edição (2019);
3. Código Civil Moçambicano, actualizado pelo Decreto-lei n.º 3/2006, de 23 de
Agosto, 3ª Edição.

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