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TRABALHO I:
ANO LECTIVO
2017/2018
Joana Mil-Homens
b) ATIVIDADE HUMANA:
- Só fazem parte do objeto do contrato de trabalho as atividades humanas lícitas.
- Não abrange, por isso, as atividades de animais ou de máquinas. Qualquer produção obtida
mediante o “trabalho” deu m animal ou de uma máquina encontra-se fora do âmbito do
direito do trabalho.
- Excluído serão os casos em que é o homem que trabalha com a máquina ou com o animal,
aí temos uma atividade humana.
- Mas, se a máquina estiver programada para trabalhar sozinha. A atividade por ela
desenvolvida não fará parte do objeto do direito do trabalho. O mesmo quanto às atividades
naturais (como a energia eólica ou solar) que são fatores de produção, mas não se incluem no
objeto do direito do trabalho, sendo que não são atividades humanas.
c) ATIVIDADE PRODUTIVA:
- As atividades em conta terão de ser atividades produtivas, excluindo assim atividades lúdicas
(Ex: Alguém exercer atividade para seu prazer).
- A prática de desporto, por exemplo, pode ser vista como uma atividade lúdica, mas também
pode estar relacionado com um contrato de trabalho – ex: futebolistas profissionais. Quanto
aos desportistas amadores, como o direito do trabalho apenas regula as atividades
consideradas produtivas (ou sejas, as que se qualificam como atividade profissional), estes
exercer uma atividade que o direito do trabalho não abrange.
- Apesar do facto de a atividade ter de ser produtiva, isto não significa que tenham de existir
resultados. Aliás, a atividade pode ser, por natureza, improdutiva e continuar a enquadrar-se
na noção de direito o trabalho. Apenas tem de ser potencialmente produtiva.
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e) ATIVIDADE EXERCIDA LIVREMENTE:
- Só existirá contrato de trabalho na medida em que a atividade seja exercida de forma livre.
- Estamos no domínio de uma figura obrigacional que apresenta particularidades. Como figura
obrigacional parte dos mesmos pressupostos de liberdade na formação do contrato (405º CC).
- Tanto o artigo 47º da CRP como o artigo 8º do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e
Políticos apontam no sentido de a ninguém poder ser imposta a obrigação de desenvolver
uma atividade.
- Tem de haver tanto a liberdade de formação de contrato como a liberdade de realização da
atividade. Depois de celebrado o contrato de trabalho, o trabalhador ficará subordinado à
realização da atividade a que se vinculou, tal como à prossecução continuada da prestação
acordada, mas isso é diferente de ser imposto a celebração de um contrato de trabalho.
- Também importa referir que apenas no domínio do direito do trabalho pode haver poder
disciplinar. Algo que não acontece nas atividades autónoma – o paciente não tem poder
disciplinar sobre o médico, poderá demandá-lo por incúria médica, nos termos gerais da
responsabilidade civil, mas não poderá impor sanções disciplinares ao médico.
Joana Mil-Homens
3. ASPETOS COMPLEMENTARES:
- Na noção de direito do trabalho, para além de situações jurídicas emergentes do contrato de
trabalho, existem outras regras que estão relacionadas com o trabalho subordinado.
- Visando uma disciplina global da atividade laboral, o legislador estabeleceu certas normas e
princípios jurídicos que não se aplicam diretamente ao contrato de trabalho, mas que mesmo
assim condicionam a relação contratual emergente deste negócio jurídico.
- No contrato de trabalho existem normas reguladoras das atividades humanas exercidas
livremente, mas para além e associadas a estas, existem outras regras que não regulam
diretamente o contrato de trabalho, mas que antes disciplinam aspetos que também se encontra
em conexão com a relação coletiva de trabalho.
Exemplo: Contrato de trabalho entre um motorista e uma empresa de camionagem – deste
contrato de trabalho constam regras disciplinadoras específicas. Porém, a relação jurídica será
ainda regulada por normas legais, imperativas e dispositivas, aplicáveis a todo o vínculo laboral.
- Também importam ainda as convenções coletivas que foram ajustadas entre as associações
sindicais representativas daquela atividade e as associações de empregadores daquele ramo de
atividade.
- As associações sindicais e as associações de empregadores podem ter celebrado uma convenção
coletiva que estabelece princípios básicos que os contratos de trabalho terão de respeitar.
- O disposto nas convenções coletivas também valem para que não faça parte das mesmas.
Mesmo que o trabalhador não esteja sindicalizado, o instrumento poder-se-á aplicar à sua relação
laboral se, por exemplo, uma portaria de extensão assim o determinar.
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- Tem de se ter em conta as regras que disciplinam a constituição e atividades dos sujeitos
coletivos laborais, tanto associações de trabalhadores como associações de empregadores.
- Também se terá de ter em conta as normas que disciplinam a relação coletiva, ou seja, as
que dizem respeito aos instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho, como seja as
convenções coletivas de trabalho, elaborados pelas pessoas coletivas de âmbito laboral,
tendo por base as atribuições conferidas por lei.
- Também cabem as relações laborais estipuladas no âmbito da empresa, dentro da
organização empresarial. Ex: relação que se estabelece entre a empresa e a comissão de
trabalhadores;
- Também importa referir os conflitos laborais coletivas, com especial ênfase na greve.
- Por fim, serão consideradas as regras relativas à composição amigável de conflitos, tais como
a conciliação, a mediação e a arbitragem.
d) O processo de trabalho:
- Abrange as normas processuais, onde se estabelecem particularidades com respeito ao
direito processual civil.
- Preceitos são direito instrumental relativamente ao direito do trabalho, constituindo direito
adjetivo. Mas nem todas as regras processuais se encontram no Código de Processo do
Trabalho.
- Assim, o direito do trabalho abrange as regras substantivas e adjetivas que incidem sobre
matéria laboral. As nomas processuais de trabalho, onde se estabelecem particularidade com
respeito ao direito processual civil, constituem direito instrumental (adjetivo) quando ao
direito do trabalho (substantivo).
- Também e de referir que o Direito de Trabalho se relaciona com outros ramos do Direito.
Exemplos: Direito penal – multas, coimas e sanções penas por violação de regras de direito do
trabalho ou mesmo infrações que podem constituir crime | Direito fiscal – Tributação de
complementos salariais e até com o pagamento de gorjetas aos trabalhadores. | Direito
Administrativo – Regras relativas à fiscalização do trabalho ou relacionadas com a segurança
social (regula relações laborais dos funcionários públicos) | Direito Internacional Público – OIT
(Organização Internacional do Trabalho) está vocacionada para resolver problemas laborais.
CAPÍTULO II
V. SUJEITOS:
1.
2. TRABALHADOR:
a) DETERMINAÇÃO:
- Trabalhador será aquele que presta livremente uma atividade produtiva para outrem,
estando subordinado a este último na realização dessa prestação.
- No contrato de trabalhado será o devedor (sujeito passivo) da atividade e o credor (sujeito
ativo) da retribuição.
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- Há quem conteste esta crítica, afirmando que as normas destinadas a regular o
contrato de trabalham que visam o prestador como uma pessoa singular, seriam
aplicadas à pessoa singular “por detrás” da pessoa coletiva, ou seja, a que presta a
atividade – figura da desconsideração/levantamento da personalidade coletiva.
- Porém, então que sentido faz admitir que o trabalhador possa ser uma pessoa
coletiva para mais tarde termos de desconsiderar a sua personalidade? Isto seria
desnecessário e complicaria uma situação que à partida é simples.
- Assim, o professor Romano Martinez conclui que o trabalhador seja uma pessoa
singular, não havendo possibilidade ser uma pessoa coletiva. Doutrina que concorda:
Monteiro Fernandes; Mário Pinto; Fernando Martins; Nunes de Carvalho.
- Admitir que o trabalhador pudesse ser uma pessoa coletiva também complicaria a
distinção entre o contrato de trabalho e figuras afins, como o contrato de prestação
de serviços.
Exemplo: “A” encarrega o seu emprego de limpar as janelas – domínio do contrato de
trabalho | “A” contrata uma empresa para realizar o mesmo trabalho – embora o
trabalho seja efetuado através dos seus empregados, este será um contrato de
prestação de serviços. Havendo contrato de trabalho entre a empresa que limpa as
janelas e os seus trabalhadores.
- Se admitíssemos que uma pessoa coletiva pudesse ser o trabalhador, isso
complicaria a distinção entre os contratos.
- Tanto a jurisprudência como a doutrina nacional concordam que a pessoa coletiva
deva ser uma pessoa singular, tanto que o legislador esclareceu isso no art.º 13 do CT.
- Exceções: atividades artísticas e desportivas – contrato de trabalho poderá ser
celebrado com a equipa.
c) TIPOS:
- Trabalho intelectual vs. Manual – Consideravam-se trabalhadores intelectuais aqueles que
desenvolviam uma atividade predominantemente intelectual, os colaboradores de direção da
empresa ou da entidade patronal, os gerentes, os empregados de balcão, os contabilistas, os
dactilógrafos, etc. Os trabalhadores manuais seriam aqueles indispensáveis para a realização
da atividade, designados assalariados ou trabalhadores manuais.
- Depois de 1966, tentou-se não distinguir os prestadores de trabalho subordinados. Deixou-
se de estabelecer diferenças de regime entre os vários tipos de trabalhadores.
- Assim, a lei hoje prevê uma figura genérica de trabalhador, se bem que este entendimento
possa levantar certas dificuldades, como quanto à subordinação exigível.
- O grau de subordinação relativamente às atividades manuais pode não ser equiparável
àquele verificado no domínio de atividades intelectuais, onde se deve ponderar a autonomia
técnica – 116º CT.
Exemplo: Médico contratado por hospital privado – a subordinação que ele, como
trabalhador, tem quanto à entidade patronal não é equiparável à situação de um empregado
encarregado da limpeza desse mesmo hospital. O empregador (hospital) não pode impor ao
médico uma conduta quanto ao modo de curar um determinado doente. Porém, pode impor
ao empregado de limpeza que limpe, por exemplo, as escadas de uma certa forma com
determinados produtos. | Advogado de um banco – poderão ser-lhe dadas ordens no sentido
de agir ou não agir caso, por exemplo, o banco esteja (ou não) interessado em reclamar um
crédito, mas o advogado não receberá ordens quando ao modo de elaborar uma petição
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inicial ou uma reclamação de créditos, pois isso está no âmbito da sua autonomia técnica
(autonomia técnica não é característica de uma atividade intelectual, mas costuma estar associada a esta).
- Atendendo à visão unitária da lei laboral, cabe aos tribunais, consoante as situações
concretas, averiguar as diferenças existentes e decidir em conformidade.
- A lei admite certas particularidades com respeito a diferentes categorias de trabalhadores.
No CT estabeleceu-se o regime comum e, em outros diplomas, encontram-se regimes
especiais para certos prestadores de trabalhado – trabalhadores rurais; domésticos;
portuários; da função pública. Esta distinção leva a contrapor o contrato de trabalho de
regime comum aos contratos de trabalho sujeitos a regime especial. Os contratos de
trabalhado com regime especial estarão sujeitos às regras do CT sempre que estas não sejam
incompatíveis com a especificidade desses contratos (9º CT).
- Também cabe diferenciar os trabalhadores com um contrato de trabalho (de regime comum
ou especial) daqueles que estão obrigados a prestar uma atividade para outrem por via de um
contrato equiparado ao contrato de trabalho – 10º CT e Lei nº101/2009.
- Também se podem distinguir os trabalhadores consoante, no exercício da sua atividade,
atuem ou não como representantes do empregador – 115º/3 CT.
Isto é uma exceção às regras gerais, sendo que o trabalhador, quando a sua atividade implicar
a celebração de negócios jurídicos por conta do empregador, tem automaticamente poderes
de representação, não precisando de uma procuração.
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- Outra classificação possível poderá estar relacionada com a qualificação de trabalhador.
Quando a atividade a praticar implica uma determinada aptidão, conferida, pela categoria
profissional, pode estar em causa a validade do contrato de trabalho. Exemplo: 117º
3. EMPREGADOR:
a) DETERMINAÇÃO:
- Empregador/entidade patronal/ patrão é aquele que, no contrato de trabalho, ocupa a posição
de credor da atividade que é a prestação de trabalho, sendo devedor da renumeração.
- O artigo 1º/2/a) da LAP esclarecia que entidade patronal seria: “a pessoa, individual ou coletiva,
de direito privado, titular de um empresa que tinha, habitualmente, trabalhadores ao seu serviço”.
Esta norma, suprimida no CT de 2003, é alvo de várias críticas pois suscita várias dúvidas.
- Empregador pode ser uma pessoa singular ou coletiva – ao contrário do que acontece com o
trabalho, não existe nenhuma norma que só faça sentido se o beneficiário da atividade for pessoa
singular.
Exceção: contratos de trabalho em que predomina a relação pessoal, como o contrato de
serviço doméstico, em que a pessoa terá de ser singular (DL Nº 235/92 de 24 de Out – 2º/1 e 2).
- Em princípio, o empregador será uma única pessoa (singular ou coletiva), mas também pode ser
celebrado por várias pessoas na qualidade de empregador com um único trabalhador (≠
pluriemprego).
Exemplo: Técnico de informática pode prestar trabalho, de forma indiferenciada e
simultaneamente, a várias empresas segundo diferentes modelos contratuais, recebendo ordens
de todos | As atividades laborais também são um bom exemplo como no caso de vários médicos
que contratam uma secretária para trabalhar no consultório que partilham
- Normas de direito do trabalho aplicam-se tanto a entidades patronais de direito privado, bem
como às de direito público, desde que estas ajustem os contratos de trabalho
Não são apenas as pessoas de direito privado que podem ser empregadores. Por vezes,
as pessoas coletivas de direito público, para além de terem ao seu serviço funcionários
públicos, podem celebrar contratos de trabalho regulador pelo direito privado.
- Também não será necessário ter mais do que um trabalhador, ou seja, trabalhadores. Para se
ser considerado entidade patronal, basta o empregador ter um só trabalhador.
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b) TERMINOLOGIA:
- Há preferência legislativa pelo termo empregador (e doutrinária) mas o termo “entidade
patronal” também é utilizado.
c) EMPRESA:
- O empregador, seja pessoa singular ou coletiva, será normalmente entendido como uma
empresa.
- No CT, associa-se, por via de regra, o empregador ao título de empresa, assentado no
pressuposto, que nem sempre se verifica, de os contratos de trabalho pressuporem um
empregador que também é empresário.
- A noção de empresa serve para resolver um problema concreto: o da configuração de
empregador, que a tradicional contraposição entre pessoas singulares e coletivas não
resolvia.
- Tornou-se necessário ultrapassar o paradigma do contrato de trabalho baseado na
perspetiva comunitário-pessoal entre duas pessoas singular (patrão e trabalhador) e colocar
em igualdades as situações jurídicas que advêm de relações jurídicas laborais,
independentemente de o empregador ser uma singular ou coletiva.
- Ou seja, o termo “empresa” surge de forma a ultrapassar a ideia de que apenas pessoas
singulares podiam ser empregadoras. Surge então com o objetivo de uniformizar e de não
“discriminar”, sendo que é um conceito capaz de abranger tanto pessoas singulares como
coletivas.
- Artigo 100º CT distingue os tipos de empresa:
Microempresa (menos de 10 trabalhadores);
Pequena empresa (entre 10 e 50 trabalhadores);
Média empresa (entre 50 e 250 trabalhadores);
Grande empresa (250 ou + trabalhadores).
a) COMISSÕES DE TRABALHADORES:
- 54º CRP – é direito dos prestadores de trabalho subordinado constituírem comissões de
trabalhadores, com vista à defesa dos seus interesses e à intervenção democrática da vida da
empresa.
- 415º e ss CT.
- Apesar de constitucionalmente consagradas e a extensão regulamentação constante do CT,
as comissões de trabalhadores têm vindo a ter um papel francamente reduzido: são poucas
as empresas portuguesas onde se constituíram comissões de trabalhadores e as que
realmente foram constituídas não têm as funções pretendidas (há menos de 400 no país).
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- Comissões de trabalhadores têm personalidade jurídica (416º/1 CT), tendo capacidade para
o exercício de direitos e obrigações necessários ou convenientes para a prossecução dos seus
fins (416º/1 e 2 CT).
c) ASSOCIAÇÕES SINDICAIS:
- Historicamente, nas relações coletivas de trabalho, os sindicatos têm precedência sobre as
organizações de empregadores.
- Previstas nos artigos 55º e 56º da CRP e reguladas no DL nº 215-B/75, de 30 de Abril (Lei
Sindical).
- 440º e ss CT.
- 440º/3: a expressão “associação sindical” engloba: o sindicato (associação de base), a união
(com suporte regional), a federação (de base profissional) e a confederação geral (de âmbito
nacional), sendo mais abrangente do que o termo sindicato (apesar de muitas vezes usados
como sinónimos, o sindicato é uma espécie dentro do género associação sindical).
- 442º/a) CT – Sindicato é a “associação permanente de trabalhadores para a defesa e
promoção dos seus interesses socioprofissionais”. Daqui retiramos 4 conclusões:
O sindicato é uma associação de pessoas à qual se aplicam as regras gerais do CC (157º
e ss e 167º e ss – com as exceções previstas no 447º. 449º e 450º CT, bem como a
ressalva da inconstitucionalidade determinada quanto à aplicação dos artigos 162º/2ª
parte e 175º/2, 3 e 4 do CC às associações sindicais.
Sindicatos têm de ser associações de carácter permanente.
- Logo, associações ocasionais não se admitem.
Exemplo: Trabalhadores que se associam num determinado momento, visando uma
defesa acidental dos seus interesses profissionais -> não constituem um sindicato.
Associados têm de ser necessariamente trabalhadores.
- 11º CT – Trabalhador será aquele que presta a sua atividade a outra pessoa sob
direção desta.
- Logo, só poderão estar filiados em sindicatos trabalhadores subordinados.
Sindicato prossegue uma finalidade específica: promoção e defesa dos interesses
socioprofissionais dos associados.
- Destaca.se a negociação de convenções coletivas de tralhado e a condução de lutas
coletivas (particularmente a greve).
- Cabe ainda referir a intervenção dos sindicatos nas decisões políticas, tanto por via
da concertação social, como pela participação (consultiva) na elaboração de legislação
de trabalho.
- Nos termos dos artigos 157º e ss e, em especial, os artigos 167º e ss do CC os sindicatos são
pessoas coletivas do tipo associativo e de direito privado.
- Poder-se-ia considerar o sindicato como uma pessoa coletiva de direito público tendo em
conta, por um lado, a intervenção estadual (na sua constituição) e o facto de participarem na
elaboração de convenções coletivas de trabalho, de onde constam normas jurídicas.
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MAS, não se pode concluir por isto que o sindicato seja uma pessoa coletiva de direito público:
As associações previstas nos artigos e 167º e ss do CC, para terem personalidade
jurídica, também devem preencher os requisitos constantes desses preceitos, como
ser constituídas perante notário (168º e ss CC) – o facto de ser constituída perante
notário não a transforma numa pessoa coletiva de direito público.
Tal como o próprio artigo 447º/1 CT não confere às associações sindicais caráter
público.
E apesar de terem o poder de celebrar convenções coletivas não lhes foi atribuído
qualquer poder legislativo. Apenas têm o poder de, por via convencional, impor regras
em determinadas relações laborais.
A liberdade de constituição, de adesão e de exercício da sua atividade conforma-se
com princípios de direito privado e não com os de direito público, daí que os sindicatos
devem ser considerados como associações de direito privado:
Trabalhadores têm liberdade de iniciativo quanto à constituição de
associações sindicais (55º/2/a) CRP e 440º/1 e 444º CT).
Os trabalhadores não estão obrigados de se filiarem a sindicatos (55º/2/b) e
444º CT.
Também existe liberdade no que respeita à constituição e quanto à
organização e regulamentação interna das associações sindicais (55º/2/c) CRP
e 445º ss CT).
Também há liberdade quanto ao exercício das suas funções – as associações
sindicais têm a liberdade de negociar, nos termos que entenderem, dentro
dos pressupostos legais, as convenções coletivas de trabalho (56º CRP).
De qualquer forma, o próprio artigo 267º/4 contrapõem as associações sindicais às
associações públicas para efeito de delimitação do âmbito de competências.
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Daí, fazer mais sentido considerar que os delegados sindicais, as comissões sindicais
e as comissões intersindicais são meros representantes dos sindicatos dentro das
empresas.
d) ASSOCIAÇÃO DE EMPREGADORES:
- 440º/2 e 506º e ss CT.
- Consiste na possibilidade de vários empregadores se associarem para a defesa e promoção
de interesses empresariais.
- Associação de empregadores corresponde a um agrupamento de empresários que são
empregadores.
- Das associações de empregadores só podem fazer parte entidades privadas (442º/2/a) CT).
Ou seja, o empregador que se pretenda se agrupar numa associação de empregadores terá
de ser uma entidade de direito privado. Entidades de direito público não se podem filiar nestas
associações.
- 440º/4: associações de empregadores agrupam-se em:
Uniões (de base regional);
Federações (do mesmo ramo de atividade);
Confederações (de âmbito nacional).
Dever de obediência;
- Referências no CT: 128º/1/e) + 128º/2 + 97º, etc.
- O dever de obediência, na estrutura da relação laboral, tal como foi concebido
na lei, faz parte do princípio da boa fé – deste princípio resulta o dever de o
trabalhador obedecer ao emprego.
- Obediência significa uma obrigatoriedade de acatar as ordens emitidas pelo
empregador, mas não pressupõe uma emissão permanente de comandos – basta
que o trabalhador esteja na disponibilidade de receber ordens.
- Tanto o poder de direção como o dever de obediência encontram-se limitados –
o empregador não pode, ilimitadamente, emitir ordens, tal como o trabalhador
terá direito à desobediência legítima - 128º/e) 2ª parte e 331º/1/b) CT.
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- Quanto aos limites, há 2 tipos:
Limites de ordem genérica: resultam da lei (331º/1/b) CT) e das convenções
coletivas de trabalho (determinam como o poder de direção deve ser
exercido);
Limites específicos: Constam de cada contrato de trabalho, tendo em conta as
particularidades da relação laboral em causa. Também podem ser
determinados, não por contrato de trabalho, mas em função das
particularidades daquela relação de trabalho e da própria atividade que é
realizada (dever de obediência altera-se consoante as circunstâncias).
- 128º CT: Poder de direção pode ser exercido pelo empregador e pelos trabalhadores
devido à forma hierárquica de como as empresas estão estruturadas – os
trabalhadores que ocupam postos mais elevador dão ordens aos que se encontram
“abaixo do seu nível).
VII. RETRIBUIÇÃO:
- Termos como retribuição/renumeração/salário/ordenado/vencimento são sinónimos.
- Retribuição é a prestação que deve ser efetuada pelo empregador ao trabalhador, sendo a
contrapartida da atividade por este desenvolvida.
- A retribuição é um pressuposto do contrato de trabalho (11º CT + 127º/1/b) + 258º e ss CT).
- Logo, o contrato de trabalho será um negócio jurídico oneroso e sinalagmático.
- Sinalagmático, porque a renumeração funciona como contrapartida da atividade desenvolvida pelo
trabalhador. Mas esta natureza sinalagmática tem particularidades:
O risco, relativo à prestação da atividade e o pagamento do salário, corre por conta do
empregador. (correrá por conta do trabalhador quando o salário for pago em função do lucro da empresa
ou se o empregador falir). Também há um regime especial quanto à mora no pagamento da
retribuição.
126º e ss – princípio de boa fé, baseado no dever clássico de assistência. Daí que o artigo
127º/1/b) a retribuição não é vista verdadeiramente como um preço, estabelecido pelas
regras de mercado – há que ponderar as exigências do bem comum, tal como a justiça e
a sua adequação ao trabalho realizado. (Muitos autores defendem que o direito do
trabalho dá prevalência ao critério social (salário como meio de subsistência) face ao critério
económico (custo de produção do fator trabalho).
O artigo 59º/1 da CRP aponta vários critérios de justiça que têm de ser ponderados na
renumeração. E incumbe ao Estado, no número 2/a), o dever de estabelecer e atualizar o
salário mínimo nacional tendo em conta as necessidades do trabalhador, o aumento do
custo de vida, etc.
Estas regras constitucionais são completadas pelo artigo 23º/3 da DUDH e pelo artigo 7º
do Pacto sobre Direitos Económica Sociais e Culturais e pela Convenção nº 131 da OIT.
- Apesar desta política socioeconómica, é indiscutível que na fixação do trabalho também epsa a lei
do mercado. Tal como se deve ter em conta que a retribuição do trabalhador não cobre todo o custo
do facto de produção trabalho, havendo que ponderar outros custos como: segurança social,
seguros do trabalho, higiene e segurança no trabalho, obras realizadas para conforto dos
trabalhadores, etc.
- Daí a retribuição surgir como contrapartida do trabalho, numa perspetiva sinalagmática.
Mas, também há fatores externos que a condicionam, tal como a politica socioeconómica do Estado
onde o salário corresponde, muitas vezes, à única fonte de rendimento das famílias.
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CAPÍTULO III
1. CONSTITUIÇÃO:
- Da constituição constam direitos fundamentais dos trabalhadores, que visam assegurar condições
de vida dignas, em grande parte, direitos sociais, apesar de também incluírem direitos de participação
e liberdades.
- Cabe relembrar os direitos fundamentais dos trabalhadores existem mesmo sem estarem
consagrados na CRP.1
- Cabe distinguir entre as normas da CRP que regulam matérias laborais e as que apesar de
referenciarem trabalho ou trabalhadores não têm aplicação direta no domínio laboral (trabalho
subordinado).
Por vezes, a CRO usa os termos «trabalhadores» ou «trabalho» quando se tratam de aspetos
económicos e não, propriamente, questões laborais.
Exemplo: 93º/1/b) CRP: “promover a melhoria da situação económica, social e cultural dos
trabalhadores rurais” – aqui, o termo «trabalhadores» é utilizado numa perspetiva
socioeconómica. O artigo, apesar de aludir a trabalhadores, não regula aspetos do direito do
trabalho.
Também há referências constitucionais ao trabalho que são feitas em sentido amplo, como
atividade, ainda que exercida de modo autónomo.
Exemplo: Artigos como o 47º/1 ou o 58º/1 abrangem tanto o trabalho subordinado como o
trabalho independente (que não se inclui no direito do trabalho).
- Quanto às normas constitucionais interessam as regras que disciplinam questões laborais e que se
aplicam diretamente no domínio do direito do trabalho.
- Entre estes preceitos constitucionais podemos fazer a seguinte distinção:
Normas programáticas: Normas que carecem de uma conformação posterior;
Normas percetivas: Normas que valem independentemente de qualquer concretização.
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Direitos fundamentais não consagrados na CRP: direito à indemnização em caso de acidente do trabalho; direito à não
redução da retribuição.
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- Normas programáticas:
58º/1 CRP: “Todos têm direito ao trabalho”:
- É programática porque, apesar de realmente terem todos esse direito, não significa que
todos tenham um contrato de trabalho.
- Há quem opte por trabalhar por conta própria e também há desempregados (voluntários ou
involuntários). Estes não têm o direito de exigir de outrem uma ocupação renumerada.
59º CRP:
- 59º/1/a): Nem o dever de pagar a retribuição nem a obrigação de o salário ser fixado em
função da quantidade, natureza e qualidade necessitam de conformação.
Mas, a obrigação de garantir uma existência condigna é programática.
A entidade patronal terá de pagar o salário mínimo estabelecido por lei, mas não cabe ao
empregador determinar qual é o mínimo que garante a existência condigna
- 59º/1/b): Norma que não vincula diretamente os empregadores.
- Normas precetivas:
As normas precetivas que se referem a matéria laboral tanto podem respeitar às relações individuais
de trabalho como às relações coletivas.
- Quanto às relações individuais de trabalho:
47º/1 – ninguém pode ser coagido a seguir uma profissão, atividade etc.
53º;
59º/1/c), d), e), f);
59º/2/a), b), d);
68º/3;
- Quanto às relações coletivas de trabalho:
54º;
55º (corolário da liberdade de associação (46º));
56º;
57º.
De forma indireta: 63º e 92º
- Estas normas constitucionais precetivas já foram regulamentas por lei da AR e DLs do Governo,
encontrando-se assim, quase todas, concretizadas em legislação ordinária, em particular no CT.
- Também o 18º/1 CRP determina que nas relações laborais, mesmo na falta de legislação ordinária,
as normas constitucionais que digam respeito a direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores,
como são precetivas, são aplicáveis às entidades patronais.
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A vinculação das entidades privadas (18º/1 CRP) apenas determina a eficácia dos direitos constitucionais na origem
jurídica privada,
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2. LEIS ORDINÁRIAS:
- Cabe ter em conta, especialmente as leis da Assembleia da República e os decretos-leis do Governo.
Mas para além destas teremos os decretos regulamentares e os decretos legislativos regionais e os
decretos regulamentares regionais. 3
- Parte das normas da chamada “Constituição Laboral” inserem-se na regulamentação constitucional
sobre direitos, liberdades e garantias (Parte I, Título II, Capítulo III) tendo por epígrafe -> “Direitos,
liberdades e garantias dos trabalhadores”.
Os artigos 47º e 53º a 57º regulam questões laborais e são normas que fazem parte da
competência relativa da AR (165º/1/b), podendo autorizar o Governo a legislar sobre estas
matérias.
- Por outro lado, os artigos 58º e 59º regulam os direitos e deveres económicos (Parte I, Título III,
Capítulo I) não estão no domínio da reserva relativa da AR, por isso são matérias que podem ser
legisladas pelo Governo, sem autorização do Parlamento.
- As restantes matérias (58º e 59º) são regulamentadas diretamente pelo Governo, por decreto-lei.
- Quanto à feitura das leis ordinárias, existem particularidades no direito do trabalho visto que
encontramos interferência de entidades privadas na elaboração legislativa (54º/5/d) e 56º/2/a) CRP).4
- Daí, os artigos 469º e ss do CT regularem a participação das organizações representativas de
trabalhadores (comissões de trabalhadores e associações sindicais) e de empregadores na legislação
do trabalho:
Legislação laboral carece de uma prévia apreciação pública, pressupondo a consulta das
referidas organizações representativas dos trabalhadores (472º e 473º).
A apreciação pública visa a que as organizações representativas de trabalhadores e de
empregadores emitam um parecer (meramente consultivo).
3. COSTUME:
- Fonte imediata de direito que advém de uma prática reiterada (uso) com convicção de
obrigatoriedade.
- No domínio do direito de trabalho existem várias situações de costume contra legem e de costume
praeter legem.
Exemplos:
Contra legem: Antes de 1891, existiam associações de trabalhadores (que só foram permitidas
em 1891), ou seja, constituídas ilegalmente que, inclusive, algumas delas tinham os seus
estatutos aprovados pelo Ministério das Obras Públicas – contra a própria lei, havia um
costume de constituir associações de trabalhadores.
- A própria greve esteve proibida até 1910, mas verificou várias situações de greve, algumas
até com sucesso relativamente à reivindicação de direitos dos trabalhadores.
Praeter legem5: Caso dos instrumentos de regulamentação coletiva a que se recorria antes
de o Governo ter regulado a matérias respeitantes às convenções coletivas de trabalho.
Perante a omissão da lei, o costume praeter legem dava vida a estes instrumentos de
regulamentação coletiva.
3
Tanto o Código do Trabalho como a Legislação Especial foram aprovados por Lei da AR.
4
Interferência de comissões de trabalhadores e associação sindicais.
5
Não esquecer que se tratam de costumes utilizados pois verifica-se ausência de norma.
Joana Mil-Homens
- Hoje, torna-se difícil encontrar situações de costume pois sempre que, através de uma prática
reiterada, começa a criar-se uma nova norma com convicção de obrigatoriedade, o legislador intervém
imediatamente.
- Resta ao costume verificar que as normas não são aplicadas, ou seja, se ninguém respeita uma
determinada norma ou diploma, o costume pode «revogar» as disposições caídas em desuso.
Exemplo: A exigência do quorom mínimo para a constituição de uma associação sindical, norma
entretanto revogada.
4. USOS:
- Prática social reiterada sem convicção de obrigatoriedade, desde que não sejam contrários à lei,
mesmo que mais favoráveis ao trabalhador.6
- 3º CC – Os usos, que não forem contrários ao princípio da boa fé, serão relevantes quando a lei o
determinar.
- Artigo 1º do CT também remete para os usos.
- Quanto aos usos das empresas, por vezes é difícil distingui-los das liberalidades concedidas aos
trabalhadores7. A diferença poderá estar no animus que preside a tal concessão.
- Assim como o costume, também os usos vão perdendo relevância e atualidade, pois também é
provável que o legislador, ao verificar um uso, atue. E também temos de ter em conta que, para além
da intervenção legislativa frequente, as convenções coletivas de trabalho regulamentar também os
usos, passando estes a estar incluídos nas fontes de direito do trabalho, concretamente instrumentos
de regulamentação coletiva de trabalho.
- Subsistem apenas alguns usos locais, como certos usos empresarias, se é que ainda poderão ser
qualificados como usos.
- Mas, continuam a haver, no direito do trabalho, várias remissões para os usos:
258º/1 CT;
260º/1/a) CT;
260º/3/a) CT;
276º/2 CT;
278º/1 CT.
- Os usos também têm relevância no domínio de práticas laborais criadas no seio das empregas, tal
como em certas artes e ofícios. Os usos da profissão e das empresas podem ser afastados como
contrato de trabalho ou por regulamento interno da empresa.
- O prof. Romano Martinez defenda que o regulamento interno não constitui fonte do direito do
trabalho8 9. Do regulamento poderá resultar normas aplicáveis aos trabalhadores da empresa, mas o
regulamento fundamenta-se no contrato de trabalho e num poder do empregador que surge do
contrato. Seria estranho que uma fonte de direito do trabalho proviesse de uma parte, que impõe à
outra unilateralmente regras abstratas.
6
Há autores que duvidam que os usos sejam realmente fontes de Direito, defendendo que são um mero elemento
integrador. Porém, o prof Romano Martinez considera esta uma visão muito restrita tendo em conta o disposto no
artigo 1º do CT e do 12º/2 LCT e defende que os usos podem criar normas novas, especialmente para integrar lacunas
da lei ou do contrato de trabalho.
7
Ac, Rel. Pt de 3/12/1990 – decidiu-se que a mera tolerância da entidade patronal, que permitia que os trabalhadores
saíssem 2h mais cedo na véspera de feriados, apesar de ser uma prática seguida há 19 anos na empresa não podia ser
invocada e, por isso, tal direito não poderia ser adquirido mesmo que resultasse de uso da empresa. O prof. Romano
Martinez considera esta decisão criticável uma vez que o artigo 203º/4 do CT permite que a redução do período normal
de trabalho seja acordada pelas partes ou que provenha de uso da empresa.
8
No mesmo sentido -> Ac. Trib. Constitucional de 20/11/1996.
9
Os professores Menezes Cordeiro, Nunes de Carvalho e Rosário Palma Ramalho discordam.
21
5. JURISPRUDÊNCIA UNIFORMIZADA:
- Sempre que haja conflito entre decisões judiciais admite-se julgamento ampliado de revista, com
intervenção do plenário das secções cíveis, de forma a assegurar a uniformização da jurisprudência
(686º/1 CPC).
- O acórdão proferidos pelas secções reunidas no STJ (687º/5 CPC) não é vinculativo para os tribunais
que poderão sempre, em outro litígio, decidir de modo diverso à jurisprudência uniformizada, porém,
se tal acontecer, haverá sempre recurso para o STJ (629º/2/c) CPC).
- No direito do trabalho, quanto aos assentos, para além das regras do CPC, que valem no processo
de trabalho (por força do artigo 1º/a) do CPT) também importa atender às disposições do Código de
Processo do Trabalho.
- Por via de remissão do 79º CPT para o 629º CPC, em processo de trabalho também há recurso para
o STJ nos casos em que há contradição entre dois acórdãos.
- Ao lado da jurisprudência uniformizada acresce uma especificidade: o acórdão previsto no art. 186º
do CPT, por remissão para o art. 183º CPT.
Trata-se de um acórdão do STJ que se pronuncia sobre questões de anulação ou de
interpretação de cláusulas de convenções coletivas de trabalho, ao qual foi conferido o valor
de jurisprudência uniformizada. Não sendo necessário o recurso para o Tribunal Pleno, porque
é o próprio acórdão do STJ que tem esse valor.
- Quando num acórdão do STJ se considera uma determinada cláusula nula ou que deve ser
interpretada num certo sentido, esta tomada de posição relativamente à convenção coletiva valerá
para todos os contratos de trabalho por ela regulados, justificando a uniformização do acórdão.
- O acórdão uniformizador previsto no artigo 186º do CPT não está ferido da mesma
inconstitucionalidade que o artigo 2º do CC, na parte em que este se referia à força obrigatória geral
dos assentos. A inconstitucionalidade destes devia-se ao facto de estarem a violar o artigo 122º/6 da
CRP que não admite atos de natureza diferente da lei a interpretar, integrar, modificar ou revogar
preceitos legislativos (neste caso emanados do tribunal).
- Relativamente ao acórdão previsto no 186º do CPT, não está em causa nem a interpretação nem a
anulação de leis, mas sim cláusulas de convenções coletivas de trabalho, que não têm o valor de lei,
nem são considerados atos legislativos nos termos do artigo 112º/1 CRP.
- Logo, os argumentos de inconstitucionalidade não valem para este acórdão.
6. JURISPRUDÊNCIA E DOUTRINA:
- Aqui não há qualquer particularidade relativamente ao direito do trabalho.
- A jurisprudência no domínio do direito do trabalho terá o mesmo valor que nos outros ramos de
direito, com exceção dos assentos.
- O conjunto de decisões que exprimem a orientação seguida pelos tribunais do trabalho é
particularmente relevante, especialmente quando se trata de jurisprudência constante, que apesar
de não ser vinculativa, deve ser tomada em consideração para o conhecimento do direito do trabalho.
- Também a doutrina poderá ter um papel indireto quanto à revelação de normas, sem qualquer
particularidade relativamente aos outros ramos do direito. Porém, não é verdadeiramente fonte de
direito do trabalho, tal como é o caso da jurisprudência.
Joana Mil-Homens
7. FONTES COLETIVAS:
7.1. ASPETOS COMUNS:
- O direito do trabalho possui fontes de direito heterónomas (comuns a todos os ramos do direito)
e depois as fontes autónomas que são uma especificidade e são o produto da
autorregulamentação de interesses.
23
3) Acordos de empresa:
- Convenções coletivas entre associações sindicais e um único empregador.
Ex: Associações sindicais + Google
2) Quanto ao concurso entre várias convenções coletivas a alguns trabalhadores – 482º CT.
482º/1/a):
Convenção coletiva prevalece devido a um critério de especialidade, sendo a
especialidade avaliada em relação aos empregadores: Os acordos de empresa
prevalece obre os acordos coletivos e os contratos coletivos.
Ou seja, o que acontece é a prevalência da convenção coletiva celebrada entre
uma associação sindical e um único empregador face a uma convenção coletiva
celebrada entre uma associação sindical e uma associação de empregadores.
Porquê?
Porque, no acordo da empresa (associação sindical e único empregador) foram
tidas em conta as especialidades daquela única empresa. O contrato coletivo terá
em conta uma variedade de empresas.
482º/1/b):
Entre acordo coletivo e contrato coletivo prevalecerá o acordo coletivo, por ter
um campo de aplicação mais específico que o contrato coletivo.
482º/2:
Havendo conflito entre convenções coletivas celebradas por vários sindicatos, não
solucionado pelo critério de especificidade, prevalecerá a convenção coletiva
escolhida pelos trabalhadores, que depois comunicam a sua escolha ao
empregador.
10
Sem particularidades face ao regime dos negócios jurídicos de direito civil.
Joana Mil-Homens
- 2º/2 CT: Para além da convenção coletiva, a regulamentação coletiva do trabalho poderá ser
feita por: acordo de adesão; decisão arbitral; via administrativa.
11
O prof Mário Pinto defende que estes instrumentos têm um sentido diferente das convenções coletivas uma vez que
não são produto de negociação coletiva.
25
- O Governo também pode, através de portarias de condições de trabalho (517º e ss), em vez de
mandar aplicar convenções já celebradas, criar um conjunto de normas específicas para regular
situações concretas.
- Recorrer-se-á a estes regulamentos («portarias») quando:
Não for possível recorrer a uma portaria de extensão, por não se verificarem os
pressupostos destas;
Não existirem associações de empregadores ou sindicais naquele sector.
Têm de estar em causa circunstâncias económicas e sociais que justifiquem a emissão da
referida portaria.
- Ou seja, tanto a portaria de extensão como a portaria de condições de trabalho são semelhantes
às convenções coletivas, porém não assentam num acordo, sendo impostas pelo Governo.
- Apesar de ser frequente o recurso a portarias de extensão, o mesmo já não poderá ser dito
quando às portarias de condições de trabalho.
- A CRP parece aceitar a tese de um monismo moderado de direito internacional – 8º/2 CRP.
Nesta perspetiva, o direito internacional convencional não se aplica diretamente aos cidadãos. As
convenções internacionais só valerão na OJ do Estado após percorrido um processo interno.
- Importa determinar como se dá a aplicabilidade de normas de direito internacional convencional
em Portugal. Existem 3 situações:
Joana Mil-Homens
- Apesar de não ser unânime na doutrina, cá em Portugal parece prevalecer a ideia receção plena nos
termos do artigo 8º/2 CRP, uma vez que o direito internacional convencional passa a valer
automaticamente me Portugal, sem ser necessário transformação.12
- Tendo em conta estas regras, importa referenciar as convenções internacionais que regulam matéria
de Direito do Trabalho:
Declaração Universal de Direitos de Homem (DUDH):
Já foi referida a importância desta convenção internacional e do artigo 16º/2 da CRP.
12
Contudo, as convenções internacionais necessitarão de ser publicadas no Diário da República após aprovação ou
ratificação. E valem na ordem jurídica interno enquanto vigorarem na ordem jurídica internacional.
13
Existem, na DUDH, 3 artigos que respeitam ao direito do trabalho: 23º; 24º e 25º
14
Nos termos do artigo 16º/2 CRP, a DUDH tem aplicação na ordem interno com um valor diferente (e superior) aos
das restantes convenções internacionais.
15
O Estado deve proceder à denúncia da convenção internacional quando pretender pôr em prática na ordem interna
uma solução diferente da que decorre do Tratado.
27
Pacto Internacional sobre Direitos Económicos, Sociais e Culturais:
Artigos 6º a 10º e 12º.16
Convenção Europeia dos Direitos do Homem:
Artigos 4º/2 (e exceção no número 3) e artigo 11º/1.
Carta Social Europeia (Revista)
Contém um elenco de direitos dos trabalhadores. Artigos: 1º; 2º; 3º; 4º; 5º; 6º; 7º; 8º; 9º; 10º;
12º; 19º; 20º; 21º; 22º; 24º; 25º; 26º; 27º; 28º; 29º.
- Quanto às recomendações (19º/6 Constituição da OIT) estas, como o nome indicam, são meras
recomendações, ou seja, não são vinculativas e consequentemente não constituem legislação
internacional.
- A OIT tem tido um papel fulcral relativamente à evolução do direito do trabalho em vários países
da comunidade internacional (como Portugal). Esta evolução funda-se em razões de ordem
humanitária e de solidariedade a nível internacional, também se prende com aspetos de ordem
económica, como minimizar os efeitos da concorrência entre economias com condições de
trabalho desumanas e espaços económicos onde são salvaguardados direitos essenciais dos
trabalhadores. Porém, este último ponto não tem tido sucesso, pois contribuiu para o dumping
social (transferências de empresas para países ditos de 3º mundo, em que os salários e o preço
das condições de trabalho são mais atrativos para os empresários.
16
Aprovado para ratificação pela Lei nº 45/78, de 11 de Julho.
17
Como já foi referido, em Portugal as convenções terão de ser ratificadas nos termos do artigo 8º/2 da CRP e
publicadas no jornal oficial (Diário da República).
Joana Mil-Homens
3.2. TRATADOS:
- O tratado que instituiu a atual União Europeia (antiga Comunidade Europeia) foi o Tratado de
Roma, conhecido hoje como Tratado sobre o Funcionamento da EU (TFUE) tem, no domínio
do direito do trabalho, 5 aspetos a considerar:
Artigos 45º a 48º: Livre circulação de pessoas e capitais.
- A livre circulação de trabalhadores está na base da tentativa de uniformização do
direito do trabalho a nível europeu;
- Estas normas valem na ordem interna portuguesa nos termos do artigo 8º/2 da CRP, pois o
Tratado constitui uma convenção internacional ratificada pelo Estado Português e publicada
no jornal oficial.
29
3.3. INSTRUMENTOS JURÍDICOS PROVENINETES DA UNIÃO EUROPEIA:
- A UE põe em prática os seus objetivos através de 2 instrumentos: regulamentos e diretivas
(249º TFUE).
- Tanto as diretivas como os regulamentos podem ser adotados pelo Conselho (c/ ou sem PE)
ou pela Comissão (288º TFUE).
- Os regulamentos valem na ordem jurídica diretamente. Não é necessária a intervenção do
poder legislativo (288º TFUE e 8º/3 CRP).
- As diretivas vinculam o Estado Membro quanto ao resultado a alcançar. Há liberdade para
as instâncias nacionais escolherem a forma e os meios para alcançarem o tal resultado.
O Estado Português terá de pôr a diretiva em prática através de regulamentação legislativa18.
Se não o fizer poderá ser responsabilizado por omissão. Importa distinguir aplicabilidade
direta da aplicabilidade imediata:
Diretiva não tem aplicação direta aos cidadãos, mas tem aplicabilidade imediata uma
vez que vincula o Estado desde a sua entrada em vigor;
- No domínio comunitário, para além destes dois instrumentos também importam: as
recomendações (que não são vinculativas) e as decisões (que são obrigatórias – 288º TFUE) assim como
a jurisprudência do Tribunal de Justiça em matéria social.
- Os atos comunitários em matéria social são numerosos. Foca-se em 3 domínios interligados:
condições de trabalho; segurança dos trabalhadores e proteção do trabalhado no que respeita
ao modo da sua realização.
18
Através de lei, decreto-lei ou, eventualmente, por via de negociação coletiva (153º/3 TFUE).
19
Noção levanta dúvidas pois o trabalhador pode não ser efetivo no caso de estar à procura de emprego durante um
período razoável ou ser um desempregado à procura de outro emprego durante um período também razoável.
Joana Mil-Homens
1. INTERPRETAÇÃO:
1.1. ASPETOS GERAIS:
- Interpretação das normas de direito do trabalho está sujeita às regras gerais do artigo 9º CC,
encontrando-se igualmente na dependência do estabelecido nos artigos 236º e ss.
- Quanto à interpretação de leis – aplica-se o artigo 9º:
Ou seja, inclui as normas constitucionais, as leis da AR, os decretos-leis do Governo,
as convenções internacionais e as normas de direito europeu.
- Quanto às convenções coletivas de trabalho, pelo menos na parte obrigacional, deve-se ter
em conta os artigos 236º e ss. Se bem que na parte regulativa, as convenções coletivas de
trabalho assentam também em parâmetros de uma figura negocial, diferente da lei.
Na parte regulativa, como produzem efeitos que se aproximam da lei, deve-se
recorrer ao artigo 9º para a sua interpretação.
Porém, há que ter em conta que a convenção coletiva de trabalho se distingue da lei,
por ter características diferentes.
As normas de convenção coletiva surgem de negociações entre sujeitos privados
(associações sindicais e associações de empregadores), não emendando
unilateralmente do poder central ou regional.
- Quanto às convenções coletivas, por força do artigo 238º/2, não se aplica o disposto no
artigo 236º/2 que admite uma interpretação segundo a vontade real das partes, apesar de
não corresponder à vontade declarada. O 238º/1 dispõe que, sendo o negócio formal (e é –
477º CT) a vontade das partes terá de estar minimamente expressa no texto, não se podendo
interpretar uma convenção coletiva em sentido diverso do que consta no texto.
- Assim, devemos aplicar o disposto no artigo 9º às cláusulas da parte regulativa da convenção,
apesar de não serem normas legais. Porém, esta diferença não tem muita relevância.
20
A teoria subjetivista, por outro lado, pretendia que a interpretação fosse feita de acordo com a vontade ou intenção
do legislador, apreendendo e reconstruindo o pensamento deste.
21
Os casos de interpretação duvidosa relativamente às convenções coletivas de trabalho são raros, por isso uma
solução do recurso à solução mais equilibrada que consta do art.º 237 não seria chocante.
31
- Porém, há que ter em conta uma particularidade do direito do trabalho: princípio do
tratamento mais favorável ao trabalhador. Ou seja, no caso de situações dúbias não se
interpreta de forma a alcançar o maior equilíbrio, mas sim aplica-se a solução mais favorável
ao trabalhador.
- A própria segurança jurídica será posta em causa sempre que, contrariando a solução
legal/sentido da norma, se pretenda encontrar uma solução jurídica mais favorável ao
trabalhador22.
- Relacionado com a interpretação, também devemos ainda contestar o favor laboratoris
como modo de apreciação da prova, nos casos em que havendo dúvidas na produção da
prova, se presumir que ela foi feita a favor do trabalhador23.
22
Acórdão da Relação do Porto de 10/7/2013 aka melhor acórdão de sempre. “Note-se que, com álcool, o trabalhador
pode esquecer as agruras da vida e empenhar-se muito mais a lançar frigoríficos sobre camiões, e por isso, na alegra da
imensa diversidade da vida”. Fantástico.
23
Acórdão Relação do Porto de 21/10/1996 afasta o princípio “in dúbio pro operario”: “Quando ao princípio… a sua
invocação a propósito do ónus da prova é, no mínimo, despropositada, uma vez que o direito laboral não tem nenhuma
especialidade relativamente às regras do ónus da prova, tendo nela plena aplicação as regras gerais…”
Joana Mil-Homens
24
Então, quanto à repartição do ónus da prova o direito do trabalho não apresenta particularidades relativamente ao
direito civil.
25
O prof Menezes Cordeiro refere-se a estas normas como “normas convénio-dispositivas”, que não podem ser
afastadas pelas partes no contrato de trabalho, mas que estão na disponibilidade das partes coletivas.
33
2. INTEGRAÇÃO:
- À integração das lacunas de direito do trabalho aplicam-se os artigos 10º e 239º do CC.
- As lacunas das leis de trabalho (leis da AR; DLs do Governo, etc.) são integradas nos termos do disposto
no artigo 10º do CC, nos mesmos moldes em que se procede em outros ramos de Direito.
- A integração de lacunas de convenções coletivas de trabalho pode suscitar algumas dúvidas.
- Parece que em sede de integração da parte regulativa das convenções coletivas deverá valer o artigo 10º
do CC. Quanto à integração da parte obrigacional da convenção coletiva aplica-se o artigo 239º do CC.
- A integração de lacunas na parte regulativa do instrumento coletivo apresenta uma especificidade: não
se pode recorrer à analogia entre instrumentos diferentes: a lacuna de uma convenção coletiva não pode
ser integrada com base na solução análoga constante de outra convenção, sendo que cada instrumento,
devido à sua autonomia, não se compadece com uma visão unitária de forma a justificar tratamentos
análogos.
- Apesar da diferente distinção legal (10º e 239º CC), em termos práticos, as diferenças não serão
relevantes. Tanto o artigo 10º como o 239º apontam para a mesma solução: a integração deverá ser feita
numa perspetiva objetivista26.
- É de referir, também, que a boa fé objetiva, a que se recorre na integração de negócios jurídicas, vai
determinar a vontade hipotética de uma pessoa coletiva, ou seja, de uma associação sindical ou de uma
associação patronal. A vontade hipotética de uma pessoa coletiva resulta de uma perspetiva objetiva.
- Quanto às especificidades cabe salientar as regras já enunciadas a propósito da interpretação, que valem
igualmente quanto à integração (seguem o regime acima mencionado):
Integração de lacunas de uma convenção coletiva por parte da comissão paritária (492º/3 CT);
Integração de lacunas de convenções coletivas por via de um acórdão do STJ (186º CPT).
- Ainda quanto à integração das normas de direito do trabalho, há a referir ainda que no Direito do
Trabalho existem algumas omissões, as quais são imprescindíveis pois há aspetos não regulados no direito
do trabalho, visto que não se justificaria a sua previsão neste ramo do Direito. Essas situações que
poderiam ser consideradas lacunas, na verdade apenas representam a normal falta de plenitude de um
ramo do Direito que vai sendo preenchido pelo direito civil, especialmente pelas regras de teoria geral e
do direito das obrigações.
Exemplo: Problema da capacidade das partes não é naturalmente regulado no Direito do Trabalho e tem
de se recorrer ao Direito Civil.
- Ou seja, apesar da autonomia do Direito Civil, o direito do trabalho continua dependente das regras
gerais. Daí que, tais lacunas, por serem aparentes, serão preenchidas por normas de direito civil, não se
recorrendo às regras de integração.
26
Apesar do artigo 239º apontar para a vontade hipotética das partes não estamos perante uma perspetiva
subjetivista. Na leitura deste artigo é percetível perceber que a vontade hipotética das partes encontra-se na
dependência de uma boa fé objetiva, e como esta prevalece sobre a vontade hipotética, prevalece a conceção
objetivista.
Joana Mil-Homens
3. APLICAÇÃO:
- Importa tratar da aplicação das normas laborais no tempo, no espeço e do concurso hierárquico de
normas de direito do trabalho.
27
Com a exceção da lei criminal e fiscal (29º e 103º/3 CRP) a que acresce o limite do caso julgado (282º/3 CRP), não
existe nenhum imperativo legal respeitante à irretroatividade da lei.
35
3.1.3. SUCESSÃO NO TEMPO DE REGIMES JURÍDICOS:
3.1.3.1. APLICAÇÃO IMEDIATA DO NOVO REGIME:
- 12º/1/1ª parte e 12º/2/2ª parte CC.
- A sua consequência é que passa a reger os factos jurídicos que
ocorram posteriormente à data de início de vigência, regulando
igualmente os efeitos futuros.
- Novo regime também se aplicará a factos jurídicos constituídos
no passado (antes da vigência do novo regime) que subsistam no
tempo.
3.1.3.3. RETROATIVIDADE:
1) NOÇÃO:
- Retroatividade implica que o novo regime jurídico afeta a validade dos factos
ocorridos anteriormente, colidindo com os efeitos jurídicos produzidos antes da
alteração jurídica.
- Por outro lado, o princípio da não retroatividade, permite a aplicação do novo
regime a situações constituídas no passado que perdurem à data da entrada em
vigor deste novo regime. Este princípio assenta numa razão de segurança jurídica
e de previsibilidade.
- É o princípio da não retroatividade que vale, mas nada impede a fixação do efeito
retroativo (12º/1/1ª parte CC) e, por exemplo, no art.º 13/1 prescreve-se a
retroatividade.
- Ao abrigo da autonomia privada (405º CC), os interessados podem regular
situações jurídicas com efeitos retroativos.
Exemplo: Lei nova que se aplicar a um facto ocorrido (atropelamento) ou a um
efeito já produzido (compensação de créditos) é retroativa.
Joana Mil-Homens
Às vezes, alude-se à retroeficácia quando a lei impõe efeitos desde uma data
anterior, por exemplo, aumento salaria em Março com efeito desde 1 de Janeiro
-> retroatividade pretendida pelo legislador.
- A não retroatividade respeita os factos passados, mas sem pôr em causa que, no
presente, não devem haver estatutos diferenciados, sob pena de desigualdade.
- Não será defensável, ao abrigo da não retroatividade, manter a aplicação da lei
antiga28 a todas as situações que originaram no passado, durante a vigência de
anterior regime jurídico.
- Seria impraticável que em situações jurídicas duradouras (como o direito de
propriedade) fossem aplicáveis simultaneamente vários regimes que se
sucederam no tempo.
- Também seria inadequado a sobrevigência de regimes anteriores, pois levaria a
situações de desigualdade não permitindo a conformação das situações jurídicas
antigas às novas realidades jurídico-económicas.
- A não retroatividade implica que a lei só dispõe para o futuro, assim, os factos
ocorridos e os efeitos jurídicos - que integram o conteúdo da situação jurídica –
desde que verificados no domínio da lei anterior, não são postos em causa.
2) TIPOS DE RETROATIVIDADE:
- Existem 3 níveis/graus de retroatividade:
Retroatividade normal/ ordinária: art.º 12/1/2ª parte CC:
- Ressalva os efeitos já produzidos na situação jurídica ao abrigo do
anterior regime jurídico, manda aplicar o novo regime a aspetos que
seriam regulados pela lei antiga.
Exemplo: Manda aplicar um novo regime de juros aos juros vincendos
num contrato de mútuo celebrado com base noutro regime. Haverá
retroatividade caso se admita que, na situação concreta, o regime de juros
(vencidos e vincendos) não abstrai do contrato de mútuo que o fixou.
3) LIMITES À RETROATIVIDADE:
- Existem limites constitucionais ao princípio da não retroatividade:
28
Designada por ultra-atividade ou sobrevigência.
29
Com a exceção do caso julgado, onde tal retroatividade seria inconstitucional.
37
18º/3 CRP:
- Leis restritivas de direitos, liberdades e garantias não podem ter efeito
retroativo;
19º/6 CRP:
- Lei penal incriminatória não pode ser retroativa, tendo em conta a regra
nullum crimen sine lege/nulla poene sine lege (29º/1 e 3 da CRP e 1º/1 do
CP).
- Em contrapartida, em direito penal, prescreve-se como princípio a
retroatividade in mitius: lei penal posterior de conteúdo mais favorável
aplica-se ao arguido (29º/4/parte final CRP e 6º CP).
- Nessa mesma lógica, a lei reguladora da competência dos tribunais
criminais não pode ser retroativa (32º/9 CRP).
103º/3 CRP:
- Em sede fiscal, fixou-se a irretroatividade da lei que cria impostos.
282º/3/1ª parte CRP:
- Novo regime não afetará as situações jurídicas extintas na vigência do
regime anterior por via da tutela do caso julgado.
4) FACTO PASSADO:
- Quando nada se prescreve quanto ao efeito retroativo do novo regime, a regra
é de que este não afeta os factos e feitos jurídicos totalmente passados na vigência
do regime anterior – tempus regit actum.
- 12º CC - importa distinguir os factos e os efeitos jurídicos, por um lado, e a
ocorrência ou verificação de tais factos ou efeitos passada ou continuada, por
outro lado.
Exemplo: Facto (atropelamento ou celebração de um contrato) ocorrido
anteriormente, como é totalmente passado, estará sujeito ao regime anterior. |Se
o facto não for totalmente passado, por tratar-se de um facto continuado
(construção de uma casa) estará submetido ao novo regime.
- Solução será idêntica relativamente aos efeitos jurídicos referenciados no artigo
12/2 CC como conteúdo de certas relações jurídicas:
Se o efeito jurídico for de execução instantânea (ex: obrigação de
indemnizar decorrente de um facto ilícito ou pagamento o preço numa
compra e venda) e se tenha produzido, o novo regime não o afetará.
Caso se trate de efeitos jurídicos continuados ou de produção sucessiva
(ex: pagamento da rende num arrendamento, da comissão numa agência
ou do salário numa relação laboral), o novo regime afeta aqueles factos
que não se possam entender como totalmente passados.
- Não se consideram totalmente passados: efeitos jurídicos emergentes
de um direito subjetivo antes da respetiva constituição e, em alguns casos,
antes da sua exigibilidade ou do seu vencimento, desde que esse direito
dependa de situações passados.
Assim, para a atribuição da compensação a um trabalhador que vier a ser
despedido num despedimento coletivo, o cálculo de compensação deve
atender aos anos que tem de serviço que podem ser anteriores à entrada
em vigor da lei que prevê o modo de cálculo de tal compensação.
Joana Mil-Homens
30
MRS, Santos Justo e Sofia Galvão.
39
3.1.3.4. RETROCONEXÃO:
- Implicitamente referida no art.º 12/1/1ª parte CC.
- Relativamente à aplicação imediata da lei nova, pode ocorrer
do novo regime que este se aplica a factos que têm
pressupostos anteriores à sua vigência.
Exemplo: Prémio aos melhores alunos formados nos últimos
5 anos ou se permita a transmissão do arrendamento àqueles
que vivam com o arrendatário em economia comum há mais
de 3 anos. O novo regime terá em conta factos passados para
a sua aplicação.
- A retroconexão não altera o regime quanto a factos
passados, apenas significa que o novo regime jurídico assenta
em pressupostos ou situações do passado.
- A retroconexão encontra-se, normalmente associada a
regimes que pressupõem exercício continuado de direitos ou
manutenção de situações jurídicas.
Exemplo: Redução ou aumento do prazo para exercício de
certo direito.
- Apesar de diferente da retroatividade também tem limites
como ocorre em sede criminal.
Exemplo: O prazo da usucapião pode ser alargado, mas
alargar o prazo de prescrição de um crime de forma a aplicar
o aumento a quem tivesse praticado tal crime antes do início
da vigência do novo regime já seria inconstitucional.
31
Podem ser instantâneos (ex: celebração de um contrato/atropelamento) ou factos duradouros (ex: aquisição da
propriedade por usucapião ou doença do segurado).
32
Instantâneos no caso de transmissão da propriedade do bem vendido (879º/a) CC) e duradouros no caso do devedor
de o locador assegurar o gozo da coisa arrendada (1031º/b)).
Joana Mil-Homens
3) ALTERAÇÃO DE PRAZOS:
- 297º CC – regra especial para a eventualidade de sucessão de regimes
jurídicos com prazos distintos. 2 hipóteses:
Em caso de encurtamento do prazo:
- Novo prazo só se conta a partir do início, a não ser que,
atendendo ao anterior prazo, faltar período inferior para o
respetivo termo (297º/1 CC).
Exemplo: Eventualidade de se estabelecer que a pensão de
reforma se obtinha ao cabo de 35 anos de trabalho, sendo o prazo
encurtado para 30 anos, há que distinguir:
a) Em relação a “A” tinham decorrido 2 anos, após a entrada
em vigor do novo regime inicia-se o prazo de 30 anos;
b) Em relação a “B” tinham decorrido 10 anos, completa-se
o prazo do anterior regime.
41
prazos convencionais, distintos dos legais (ex: 1225º/1 CC), a alteração
legislativa em princípio não os afetará.
33
≠ Retroatividade.
34
Ou seja, não são totalmente passados.
Joana Mil-Homens
- Não retroatividade implica que a lei nova não se aplica aos factos
constitutivos de situações criadas no passado35, mas como consta do
artigo 12º/2 aplicar-se-á o conteúdo das relações jurídicas estabelecidas
no domínio da lei antiga.
Significa que se o contrato de trabalho for celebrado na vigência da lei
antiga, no respeitante à sua constituição, especificamente em relação à
forma do NJ, vigora a lei antiga.
Mas quanto aos efeitos, aos direitos e obrigações das partes, a partir do
momento em que entra em vigor a lei nova, o contrato de trabalho
passará a estar-lhe sujeito.
- Há que ter cuidado pois a aplicação do artigo 7º/1 da Lei nº7/2009 possui
exceções que constam no artigo 10º desse mesmo diploma:
Quanto a um contrato de trabalho celebrado no domínio da lei
antiga, o ato de constituição e os efeitos produzidos não serão
postos em casas por alterações legislativas.
Porém, se entretanto, entrar em vigor uma lei nova que, por
exemplo, altera o regime de férias, é claro que as férias que o
trabalhador gozou no domínio da lei antiga, ou que se venceram
na vigência dista, não serão postas em causa pela lei nova. Apenas
as férias que o trabalhador terá nos anos seguintes serão
reguladas pela lei nova.
- Assim sendo, no que concerne às situações que derivam da relação
laboral, independentemente da data de celebração, importa averiguar
em que momento se constitui um direito, porque, relativamente ao
mesmo contrato de trabalho, pode estar em causa, ao mesmo tempo, a
aplicação da lei nova e da lei antiga.
2) DIREITOS ADQUIRIDOS:
- Pretende-se que o CT se aplique a todas as relações laborais,
independentemente da data da respetiva constituição, evitando as
assimetrias entre os diferentes sujeitos laborais.
- É preferível, mesmo as expetativas de uns possam ser postas em causa,
que não sejam estabelecidas desigualdades em função da data da
constituição do vínculo laboral.
35
Também se aplica aos atos modificativos e extintivos.
43
- Poder-se-ia admitir um princípio de manutenção dos direitos adquiridos
onde os direitos adquiridos pelo trabalhador seriam salvaguardados,
como consequência do princípio do tratamento mais favorável.
- De acordo com este princípio os direitos adquiridos pelos trabalhadores
à sombra da lei antiga, sendo mais favoráveis ao prestador de trabalho,
manter-se-iam depois da entrada em vigor da lei nova.
- Se ao trabalhador foram concedidas determinadas regalias na vigência
da lei antiga, essas vantagens seriam somadas àquelas que se
constituíram ao abrigo da lei nova, pois não pode ser retirado aquilo que
foi atribuído.
- Porém, não poderia nunca ser assim sob pena de se condenar a
possibilidade de adaptação legislativa a novas vicissitudes.
Em momentos de depressão ou de alteração de conjuntura
económico-política terão de ser verificadas modificações
legislativas que retiram regalias. Os trabalhadores, por exemplo,
cedem de certas regalias para evitar um despedimento coletivo.
Tal como é inadequado manter em vigor normas revogadas. Isso
traria complicações a nível jurídico.
Tal como seria totalmente inadequado manter-se normas de um
determinado diploma revogado em vigor ao mesmo tempo com
os preceitos da nova lei. Se por exemplo, 3 contratos fossem
celebrados na vigência de 3 leis, haveriam 3 leis em vigor.
Exemplo: Convenção coletiva de trabalho que estabelece que o
empregador tem de pagar um subsídio para uniforme. Convenção
é substituída por outras onde se determina que o empregador
tem de fornecer os uniformes aos trabalhadores. Não faz sentido
que o trabalhador possa exigir o subsídio mais o uniforme, porque
não faz sentido a existência da regalia anterior face à nova
convenção, a nova regalia compensa a anterior.
- O que foi dito até agora não significa que os direitos adquiridos em
determinado contrato, celebrado ao abrigo de uma lei antiga, sejam
salvaguardados.
- Isto deve-se devido ao princípio geral da não retroatividade da lei (12º
CC) – se, na vigência da lei antiga, foram constituídos direitos para uma
das partes, não serão postos em causa, a não ser que a lei nova disponha
em contrário.
- O que pode acontecer é uma lei nova inviabilizar os direitos adquiridos
à sombra da lei antiga, desde que pretenda ter efeito retroativo, mas, em
regra, a lei não é retroativa.
36
Argumentar que devia-se salvaguardar estas expetativas devido ao problema do tratamento mais favorável ao
trabalhador levaria à não aplicação do artigo 12º do CC, que dispõe que as meras expetativas não estão garantidas pelo
princípio da irretroatividade.
45
de origem contratual, relativa ao subsídio, não pode subsistir, pois foi
estabelecido tendo em conta a omissão da lei.
OU SEJA, se a lei nova põe em causa o pressuposto com base no qual o
contrato se celebrou (na altura uma condição sine qua non), a regra
estabelecida no negócio jurídico também não se pode manter. Assim, o
contrato de trabalho tem de se adaptar à lei nova, visto que o seu regime
estava indissociavelmente ligado à lei antiga.37
- Concluindo:
As regras contratuais mais favoráveis só subsistem na medida em
que forem toleradas pela nova lei, ou seja, dentro do âmbito de
37
Jurisprudência bitcheeeees: Ac. STJ de 10/11/1993 onde se estabeleceu que os trabalhadores não podiam exigir o
subsídio de refeição a partir do momento em que a empresa garantiu o fornecimento de refeições aos seus
trabalhadores.
Joana Mil-Homens
38
Porém neste último caso poder-se-á considerar que o facto de não haver despedimento coletivo é globalmente mais
favorável quanto à diminuição de regalias.
39
Este princípio poderia prejudicar, economicamente, o relançamento empresarial pois não poderiam ser retiradas
regalias aos trabalhadores.
40
-Basta, por fim, referir que depois de ser estabelecido o princípio de que os instrumentos de regulamentação coletiva
não têm eficácia retroativa (478º/1/c) CT) admite-se que cláusulas de natureza pecuniária (sobretudo as que fixam o
salário), possam ter efeitos retroativos (478º/1/c)/parte final CT).
47
- Hierarquia das fontes relacionada com a aplicação do Direito do Trabalho no espaço:
As questões de hierarquia de fontes que não são específicas do Direito do Trabalho não
importam ter em conta. Usa-se as regras comuns e não regras de Direito do Trabalho.
- Dificuldade na lógica de hierarquia relativa aos IRCTs – legislador trata desta questão no
que respeita ao contrato de trabalho. Dele resultam regras que vão vincular as partes. No
mecanismo de hierarquia das fontes tanto no art. 3º como no 476º o legislador inclui
também o contrato de trabalho neste âmbito, mesmo não sendo este uma fonte.
- Art.º 3 - Toma posição imparcial:
1) Norma que surge com o CTrabalho. Não havia norma idêntica antes do Código do
Trabalho.
2) Em primeiro lugar, este artigo dá-nos a ideia de que as leis (em sentido amplo), a
legislação que tenha aplicação à relação de trabalho/contrato de trabalho, são leis
que não são necessariamente imperativas, tendo que ver em que medida o
legislador as estabeleceu aceitando, ainda que não explicitamente, que as
soluções constantes da lei possam ser afastadas por IRCTs.
3) Distinção entre casos em que a lei diz que a convenção coletiva pode dispor
de maneira diversa (própria lei permite-o) e situações em que a lei nada diz:
Art. 3º/1 – ou resulta o contrário porque a lei diz que não pode ser
afastado ou porque se depreende que a lei pretende que aquela
situação seja imperativa, não podendo ser feitas alterações. Tem que
se ver se a norma é por natureza imperativa, não abrindo qualquer
hipótese de alteração.
Se a lei nada diz, dá abertura para alteração, então a convenção
coletiva pode dispor de modo menos favorável da lei. Se não se
encontra imperatividade explícita do legislador então o IRCT pode
favorecer ou desfavorecer. Autonomia dada aos sujeitos coletivos
para estabelecer regras para determinada situação
independentemente da solução legal porque não tem solução
imperativa.
Limites:
i. Art.º 3º/3 - matérias que o legislador considera de natureza
imperativa. Ainda que o legislador naquela previsão concreta não
tenha dito por exemplo, que o regime de trabalho de menores é
imperativo, o legislador vem dizer que mesmo que não diga que é
imperativo, é imperativo. A convenção coletiva não pode então
alterar em sentido menos favorável, ainda que a lei seja omissa ou
pudesse haver interpretações diversas).
ii. Art.º 3º/4 – no que concede à relação entre a lei e o contrato de
trabalho já há limitação. As normas legais que respeitam ao contrato
de trabalho só podem ser afastadas por relação entre trabalhador e
empregador se houver condições mais favoráveis. Se a norma legal
nada diz e, portanto, permite solução diferente, quando é no
contrato de trabalho, essa solução tem necessariamente que ser mais
favorável ao trabalhador.
Joana Mil-Homens
49
CAPÍTULO IV
CONTRATO DE TRABALHO
SECÇÃO I – ASPETOS GERAIS:
XI. NOÇÃO; ELEMENTOS:
1. NEGÓCIO JURÍDICO:
- Contrato de trabalho é um NJ obrigacional, ou seja, apresenta-se como um contrato de Direito
Civil, em particular de direitos das obrigações – 874º e ss CC.
Sendo um NJ obrigacional aplicam-se as regras gerais do NJ (217º e ss CC); dos contratos
(405º e ss CC), do cumprimento das obrigações (762º e ss CC) e do não cumprimento das
obrigações (790º e ss CC).
- No artigo 11º do CT encontramos a noção de contrato de trabalho41.
- O primeiro elemento constante da noção do artigo 11º respeita ao facto de se estar perante um
negócio jurídico, assente numa relação bilateral, sendo um produto de autonomia privada que
resulta do encontro entre uma proposta e uma aceitação.
- Como é um NJ bilateral pressupõe 2 declarações de vontade contrapostas, que estão na origem
do contrato de trabalho.
- Apesar de a definição não limitar a relação laboral a um tipo específico, muitas vezes o legislador
relacional o contrato de trabalho com a atividade realizada na empresa, partindo do pressuposto
que o contrato de trabalho é um NJ bilateral ajustado para produzir efeitos no seio empresarial.
3. RETRIBUIÇÃO:
- É o terceiro elemento retirado do artigo 11º CT. O contrato de trabalho tem carácter oneroso. -
- Atividade tem de ser prestada mediante retribuição. Contrato de trabalho não pode ser gratuito.
41
Transcreve, com ligeiras alterações, o disposto no 1152º CC.
42
Pelo contrário, a prestação de resultado é uma característica do contrato de prestação de serviços – 1154º CC.
Joana Mil-Homens
4. ATIVIDADE SUBORDINADA:
- Como quarto elemento da noção do artigo 11º – atividade deve ser exercida de forma
subordinada – subordinação apresenta-se como imprescindível, sendo uma necessidade técnica.
- A subordinação jurídica, para além da alienabilidade e do poder disciplinar, tem 2 facetas:
Dever de obediência – que recai sobre o trabalhador:
128º/1/e) CT;
XII. CARACTERÍSTICAS:
1. NEGÓCIO JURÍDICO DE DIREITO PRIVADO:
- Sendo o contrato de trabalho uma figura negocial de direito privado, encontra-se subordinado
ao princípio da autonomia privada, nas suas vertentes de liberdade de celebração e da liberdade
de estipulação de negócios jurídicos (405º CC).
- Há que, contudo, ter em conta as normas que não podem ser afastadas pela vontade das partes,
as quais limitam a liberdade contratual – conteúdo mínimo imperativo.
- No contrato de trabalho verifica-se a existência de um número elevado de normas
imperativas/injuntivas: os limites à liberdade contratual não implicam a sua exclusão
- Estas normas imperativas foram estabelecidas, muitas das vezes, em defesa do trabalhador,
tendo em conta as desigualdades factuais existentes entre o empregador e o prestador de
trabalho, de forma a salvaguardar uma efetiva igualdade jurídica.
51
- Tal como o resto dos negócios jurídicos, o contrato de trabalho está subordinado ao princípio da
consensualidade (219º CC), não precisando de revestir forma especial – 110º CT. Há, contudo,
exceções.
- A adoção do princípio da consensualidade facilita a celeridade negocial e visa a proteção do
trabalhador, não pondo em causa a validade dos contratos não formalizados. Daí que a
inobservância de forma, quando exigida, não leve à invalidade do contrato de trabalho.
- Nominado:
Lei lhe confere um numeri uris, designando-o «contrato de trabalho» (11º CT + 1152º CC);
- Típico:
Pois existe uma regulamentação própria e autónoma na lei para este. Como o CT e
diplomas avulsos relativos a contratos de trabalho com regime especial.
Contém várias normas injuntivas, porém não se pode concluir que todo o regime seja
imperativo.
- De entre as situações obrigacionais, constitui uma relação obrigacional complexa, uma vez que
dela emergem:
Deveres Principais:
- Especialmente, o de prestar uma atividade e pagar a retribuição;
Deveres Secundários:
- Como o que constam nos artigos 127º/1/d) e 128º/1/g) CT.
Deveres Acessórios de Conduta:
- Como, por exemplo, tratar com urbanidade e probidade o empregador, os superiores
hierárquicos e companheiros de trabalho e não divulgar segredos de produção –
128º/1/a) e f) do CT – ou proporcionar boas condições de trabalho – 127º/1/c) CT.
Joana Mil-Homens
53
2º: Existe uma multiplicidade de causas de cessão que não permitem que se conclua no
sentido de se estar perante um vínculo vitalício.
9. OUTROS ASPETOS:
- É erróneo encarar o contrato de trabalho como se este girasse em torno do trabalhador.
- Contrato de trabalho, como qualquer NJ, deve determinar direitos e deveres para ambas as
partes e não apenas os direitos de uma delas, que é o trabalhador.
- O contrato de trabalho deve ser visto em função das duas partes, indicando os respetivos direitos
e obrigações.
- É o que acontece, por exemplo, no Decreto-Lei nç 235º/92 de 24 de Outubro, vocacionado
especialmente para a defesa do trabalhador contra o empregador, omitindo a posição deste.
43
Acórdão Rel. Lx de 8/11/1998 – Ao acordarem que em caso de impossibilidade, a prestadora da atividade – a
bailarina – se poderia fazer substituir por outra indicia que a relação estabelecida não era laboral.
44
Acórdão STJ de 26/11/1997 – admite a transmissão sucessória de um crédito salarial da trabalhadora falecida.
Joana Mil-Homens
2) Onerosidade vs Onerosidade/Gratuidade
- O contrato de trabalho é, necessariamente, oneroso. Sem retribuição não há
contrato de trabalho.
- O contrato de prestação de serviços pode ser celebrado com ou sem retribuição.
Logo, sendo gratuito não será, obviamente, um contrato de trabalho.
45
Ac. Rel. Cb. De 23/2/1995 – é pressuposto do contrato de trabalho que o empregador possa, de algum modo,
orientar a atividade do trabalhador, dando-lhe orientações gerais de como exercer as suas funções.
55
2.2. CONCRETIZAÇÃO DA DIFICULDADE DE DELMITAÇÃO:
2.2.1. ATIVIDADES QUE PODEM SER EXERCIDAS COM AUTONOMIA:
- Uma das dúvidas que mais se coloca é de saber se a atividade foi, ou não,
desenvolvida de modo autónomo.
Exemplo: Contrato com um taxista onde este todos os dias vai buscar a contraparte a
casa às 9 da manhã, levando-a ao emprego e às 5 horas da tarde traga-a a casa.
- Em princípio este contrato deverá ser qualificado como um contrato de prestação de
serviço.
- Mas se, diferentemente, uma pessoa que tem automóvel próprio contratar um
motorista 2 horas por dia (das 9h às 10h e das 17h às 18h), ou seja, fazendo o mesmo
trabalho que o taxista, o contrato seria, em princípio, um contrato de trabalho.
- Qual é, então, o critério de distinção?
Não pode ser o da propriedade do automóvel, sendo que o direito de
propriedade sobre o veículo não deve ser o critério de distinção jurídica.
Devemos então recorrer ao critério da subordinação jurídica?
- É que em ambos os casos há um trajeto e um horário pré-determinados pelo
beneficiário da atividade.
- MAS, enquanto o cliente não tem poder disciplinar sobre o taxista, já o terá
sobre o seu motorista.
- Também devemos mencionar o contrato em que o motorista é concedido um
empréstimo pelo empregador antigo para a aquisição de um veículo próprio com o
qual passa a exercer a atividade que já desempenhava na empresa. O facto de o
motorista passar a exercer a sua atividade com utensílios fornecidos por ele próprio,
pretende-se que a atividade se enquadre dentro dos parâmetros de trabalho
autónomo, pois o motorista passou de trabalhador por conta de outrem, para, pelo
menos aparentemente, empresário em nome individual no ramo de transporte.
46
Por vezes integrados em subtipos do contrato de prestação de serviços designado por contratos de avença.
47
Desde que a relação laboral não afete a sua plena isenção e independência técnica, nem viole o estatuo.
48
É comum os Tribunais qualificarem as relações contratuais artísticas como contrato de prestações de serviço – ex: Ac.
STJ de 20/11/2013
49
Como o que foi estabelecido para o desportistas profissionais – Lei nº28/98, de 26 de Junho.
57
- Assim, é compreensível que a atividade liberal muito frequentemente suscite
duvidas.
- Perante estas dificuldades de identificação, dir-se-á que temos uma situação que o
direito do trabalho por um lado cresce (há um expansionismo visível, por exemplo, no
âmbito de proteção casos que tradicionalmente não seriam da sua proteção como é
o caso dos advogados. Hoje o nosso ordenamento jurídico não distingue) e por outro
lado diminui (através do out-sourcing).
50
O elemento da «organização» constante do artigo 11º do CT não permite, autonomamente, distinguir entre contrato
de trabalho e contrato de prestação de serviços pois é possível que um prestador de serviços encontre-se inserido
numa organização empresarial.
59
2.4.2. MÉTODO INDICIÁRIO: FIQUEI NA PÁGINA 333
- Solução jurisprudencial: o contrato de trabalho distingue-se do contrato de
prestação de serviços através de métodos indiciários.
- Há que distinguir entre os indícios negociais internos e os indícios negociais externos.
- Os indícios, analisados individualmente, não são determinantes para a qualificação
negocial, sendo necessário conjuga-los entre si atendendo a cada situação concreta.
- Deve-se identificar os indícios que apontam para cada um deles e, por aproximação,
ver se estes apontam para um sentido ou para outro.
- Que indícios são estes?
Artigo 12º CT – alguns aspetos para aludir à presunção (indícios negociais internos):
1) A 1ª indicação é o local onde a atividade é desempenhada:
- A regra é: se a atividade for desenvolvida na empresa, junto do empregador ou
em local por este indicado, estar-se-á perante um contrato de trabalho.
- Porém, é apenas um indício, porque mesmo alguém que desempenhe a sua
atividade numa determinada fábrica não significa que tenha um contrato de
trabalho.
Exemplo: determinada pessoa contactada em regime de prestação de serviços
para fazer a reparação na fábrica.
4) Tipo de Renumeração:
- Se alguém recebe em função do tempo de trabalho, isto é, um indicio que é um
contrato de trabalho. Se, pelo contrário, recebe em função do resultado indicia
que estamos perante um contrato de prestação de serviços.
- Não é um critério decisivo porque, no contrato de prestação de serviços o preço
poderá ser fixado tendo em conta o tempo de trabalho. E no próprio contrato de
trabalho poderão estar em jogo outros fatores como os prémios de
produtividade.
- Relacionado com este indício, é de pressupor que se são pagos os subsídios de
férias e de Natal, trata-se de um contrato de trabalho e não de prestação de
serviços.
Joana Mil-Homens
5) Recurso a Colaboradores:
- Partindo do pressuposto que o contrato de trabalho é um negócio jurídico
intuitu personae, não parece possível recorrer a trabalhador, sendo que quem foi
contratado mediante um contrato de trabalho, tem de exercer a atividade por si.
- Por isso, caso se recorra a colaboradores leva a crer que estamos perante um
contrato de prestação de serviços, pois aqui é admissível um subcontrato em que
o prestador de serviços encarrega terceiros de executarem parte ou a totalidade
da tarefa.
6) Repartição do Risco:
- No contrato de trabalho, o risco corre por conta do empregador, logo se o
trabalhador, por qualquer motivo que não lhe seja imputável, não puder
desenvolver a sua atividade, terá direito à retribuição.
- No contrato de prestação de serviços, a regra é de que o risco é assumo pelo
credor de cada uma das prestações. Ou seja, corre o risco por conta daquele que
presta um serviço/desenvolve a atividade. Caso a atividade seja inviabilizada, não
haverá retribuição.
8) Estrutura Organizacional:
- Outro indício é saber se aquele que exerce essa atividade está inserido numa
estrutura organizacional então deve ser um contrato de trabalho. Se esta
estrutura organizativa não existe (não tem de prestar contas ao chefe, por
exemplo) então não será um contrato de trabalho.
- A interpretação que fazemos dos indícios é que nos leva a concluir se o contrato é de trabalho
ou de prestação de serviços.
61
- Se o beneficiário da atividade inclui o nome do prestador do trabalho nas folhas de
segurança social é de presumir a existência de um contrato de trabalho.
iv. Finalmente, o facto de o prestador da atividade estar sindicalizado pode indiciar que
estamos perante um contrato de trabalho.
3. CONTRATO DE MANDATO:
- O contrato de prestação de serviços subdivide-se em: mandato, depósito e empreitada.
- O mandato é o primeiro dos subtipos de contrato de prestação de serviço (1155º CC).
- Mandato é o contrato mediante o qual alguém (mandatário) se obriga a praticar um ou mais atos
jurídicos (objeto do contrato), por conta de outrem (mandante) – 1157º CC e 231º CCom.
- Problemas que surgem quanto à distinção com o contrato de mandato:
i. Contrato de mandato também tem um objeto mais delimitado do que o contrato de
trabalho. Enquanto o contrato de trabalho tanto pode consistir na prática de atos jurídicos
como materiais, no contrato de mandato só se admite a prática de atos jurídicos.
ii. No caso do mandato, aquele que encarregou alguém da prática de atos jurídicos pode-lhe
ter sido dado, ou não, poderes de representação. O mandatário pode atuar com poder,
ou não. No âmbito do contrato de trabalho é diferente do há uma solução diferente à do
direito civil: O artigo 115º/3 CT fala naquele que realiza atos jurídicos, aquele que é
trabalhador e que no exercício da sua atividade pratica atos jurídicos, presume-se que lhe
foi conferido poderes de representação.
- Ou seja, no contrato de trabalho a representação é implícita, ao contrario do contrato
de mandato, onde só existe representação se for conferida.
51
Em comparação com a versão original do artigo 12º do CT2003 e com a alteração ao artigo 12º pela Lei nº9/2006.
Joana Mil-Homens
4. CONTRATO DE DEPÓSITO:
- Quanto à distinção entre os dois contratos verifica-se que o objeto é distinto: o contrato de trabalho
consiste em prestar uma atividade e o contrato de depósito consiste em guardar uma coisa.
- Mas, mesmo assim, podem surgir dúvidas: se alguém incumbe outrem de guardar um armazém, esta
situação pode conformar 3 negócios jurídicos distintos:
Quando o proprietário do armazém encarrega uma empresa de segurança de o guardar,
instalando um alarme, colocando guardas, etc, o contrato qualifica-se como prestação de serviço
atípico;
Se o proprietário do armazém entregou a chave do mesmo a uma pessoa singular com a finalidade
de guardar o local, o contrato poderá ser de depósito ou de trabalho. Teria de ser averiguar se
existe subordinação jurídica do prestador da atividade;
Se a pessoa encarregada de guardar o armazém realizar a atividade com autonomia, apesar de
executar a tarega no local indicada pelo beneficiário da atividade, estar-se-á perante um contrato
de depósito. Mas se existir um horário a respeitar e, especialmente, caso haja uma relação de
subordinação com respeito àquele que lhe entregar as chaves, o contrato já poderá ser de
trabalho.
- Mais uma vez, para se proceder à qualificação negocial, para além da vontade das partes, os critérios da
subordinação e da autonomia deverão ser coadjuvados com aspetos complementares, como a existência
de um contrato de trabalho.
5. CONTRATO DE EMPREITADA:
- A empreitada é outra modalidade do contrato de prestação de serviços (1207º e ss CC).
- É certo que a distinção entre contrato de trabalho e empreitada é evidentemente distinta:
Empreiteiro fica adstrito a realizar «certa obra», a obter um determinado resultado (obrigação de
resultado). No contrato de trabalho, o trabalhador obriga-se a desenvolver, diligentemente, uma
atividade (obrigação de meios). Empreiteiro fica adstrito ao cumprimento duma atividade, por
isso, desenvolve um trabalho autónomo, ou seja, não fica subordinado ao dono da obra.
63
Não há dever de obediência sobre o empreiteiro, característico do direito do trabalho (fiscalização
≠ subordinação pois na primeira continua a não haver poder de direção).
Vinculação jurídica do trabalhador relativamente ao empregador é o critério preponderante para
a distinção entre os contratos: no contrato de trabalho há subordinação jurídica e como já vimos,
no contrato de empreitada não há.
6. CONTRATO DE SOCIEDADE:
- Definição de sociedade: 980º CC;
- Não é uma distinção que causa muitos problemas, mas mesmo assim pode apresentar similitudes com o
contrato de trabalho.
- A sociedade tem por fim a repartição dos lucros resultantes da atividade (980º/parte final). A repartição
do lucro não é uma característica do contrato de trabalho.
7. CONTRATO DE AGÊNCIA:
- Agência é o contrato pelo qual uma das partes (agente) se obriga a promover por conta da outra
(principal) a celebração de contratos, de modo autónomo e estável e mediante retribuição, podendo ser-
lhe atribuída certa zona ou determinado círculo de clientes – art.º 1/1 do DL nº 178/86.
- O agente, apesar de atuar por conta de outrem, é um colaborador autónomo, não age na dependência
jurídica do principal. Não existe subordinação jurídica.
- Agente também assume o risco da sua atividade;
- Quanto à distinção entre os contratos, não existem soluções definitivas. Para se chegar a uma conclusão
temos de analisar o caso concreto, recorrendo, outra vez, à subordinação jurídica através do indícios já
Joana Mil-Homens
referidos e a vontade das partes, poais a intenção do prestar de atividade de passar a ser empresária
deverá ser relevante para efeitos de qualificação negocial.
65
a. Critério Socioeconómico: Dependência económica pressupõe que o prestador de
trabalho aufere do beneficiário da atividade uma renumeração, necessária ao seu
sustento e da sua família.
- Porém, este é um critério socioeconómico suscetível de várias criticas, pois, a
condição económico-pessoal de uma das partes não servir como modo de caracterizar
uma relação contratual, pois poucas são as hipóteses em que alguém trabalha para
outrem sem dependência económica.
- Aos contratos equiparados, além das regras dos institutos mencionados no CT, aplicam-se as regras
gerais dos contratos e o regime da prestação de serviços.
- O contrato equiparado não é um contrato de trabalho, mas normalmente um contrato de prestação
de serviços atípico.
1. TRABALHO NO DOMICÍLIO:
- As situações jurídicas equiparadas a que alude o artigo 10º do CT relacionam-se com o trabalho
no domicílio especialmente regulado na Lei nº 101/2009.
- O trabalho no domicílio tanto pode integrar uma relação de trabalho autónomo (prestação de
serviços) como de trabalho parassubordinado – é neste 2º sentido que nos vamos focar.
- Hoje, não há tratamento diferenciado em caso de trabalho manual ou intelectual, tendo os dois
o mesmo regime jurídico.
- Trabalho no domicílio é uma relação laboral (para)autónoma, sem subordinação jurídica, em que
não se deve negligenciar a proteção do prestador de trabalho.
- Também se deve aludir ao teletrabalho, onde o prestador da atividade não trabalha na empresa
beneficiário, mas, nomeadamente no seu domicilio conectado por meios eletrónicos à empresa
beneficiária da atividade.
- Importa distinguir o teletrabalho que constitui uma situação de trabalho no domicílio (onde a
atividade é desempenhada sem subordinação jurídica) do teletrabalho regulado nos artigos 165º
e ss do CT – nestes casos existirá verdadeiramente um contrato de trabalho pois a subordinação
jurídica, embora atenuada, existe de facto, embora seja difícil de provar.
Joana Mil-Homens
52
São direitos indissociavelmente ligados à dignidade humana, são absolutos, irrenunciáveis, intransmissíveis, sem
valor patrimonial, inatos, vitalícios, absolutos (eficazes por si mesmo) e gerais (no sentido de assistirem a todas as
pessoas).
53
Tanto que a violação dos direitos de personalidade gera responsabilidade civil.
54
Tal como acontece no CC
67
interesses constitucionalmente protegidos, segundo critérios de proporcionalidade e de
adequação.
- O regime de direitos de personalidade previsto no CT vista garantir o justo equilíbrio entre a
manutenção na esfera jurídica do trabalhador dos direitos que lhe assistem como pessoa e o princípio
da liberdade de gestão empresarial. Daí que se entenda algumas particularidades do regime:
a. A liberdade de expressão (14º CT e 37º CRP) não é absoluta nem ilimitada, pois é
reconhecida com respeitos dos direitos de outrem e não deve ser suscetível de afetar o
normal funcionamento da empresa;
b. O direito à integridade física e moral (15º CT), não abrange apenas o trabalhador, mas
também o empregador, incluindo as pessoas que o representam.
c. A reserva de intimidade da vida privada (16º) é bilateral, visa tutelar tanto os direitos de
personalidade do trabalhador, mas também do empregador.
d. Quanto a informações relativas à sua vida privada (17º/1) o empregador não pode, em
princípio, exigir ao candidato a emprego ou ao trabalhador que preste tais informações.
Porém o pedido será lícito quando tais informações sejam estritamente necessárias e
relevantes para avaliar a aptidão do trabalhador no que respeito à execução do contrato
de trabalho e seja fornecida por escrito a respetiva fundamentação.
No mesmo sentido o 17º/2 determina que o empregador não pode exigir ao
trabalhador/candidato a emprego que revele informações relativas à sua saúde
ou estado de gravidez. Porém, a exigência será admissível quando os requisitos
particulares inerentes à natureza da atividade profissional o justifiquem. A
fundamentação deve ser fornecida por escrito e tais informações deverão ser
comunicadas apenas ao médico que só pode comunicar ao empregador se o
trabalhador está ou não apto para desempenhar a atividade.
e. Quanto à realização ou apresentação de exames médicos para comprovação das
condições físicas ou psíquicas do trabalhador, o empregador não pode, em regra, para
efeitos de admissão ou permanência no emprego exigi-los.
Poderá exigi-los se os testes visados tiverem por finalidade a prestação e
segurança do trabalhador ou terceiros ou quando particulares exigências
inerentes à atividade o justifiquem. Deve, em qualquer caso, ser fornecida por
escrita ao candidato a emprego ou ao empregador a respetiva fundamentação e
ser solicitada a indeterminação de um médico do trabalho.
f. Quanto aos meios de vigilância a distância no local de trabalho mediante o emprego de
equipamentos tecnológicos com a finalidade de controlar o desempenho profissional do
trabalhador, o empregador, em regra, não pode.
A não ser que tenha por finalidade a proteção e segurança de pessoas e bens ou
quando particulares exigências inerentes à natureza da atividade o justifiquem.
g. Quanto ao direito de reserva e confidencialidade relativamente ao conteúdo das
mensagens de natureza pessoal e acesso a informação de carácter não profissional que o
trabalhador receba ou envie, este possui tutela deste direito.
Todavia, isto não impede que o empregador possa estabelecer regras de
utilização dos meios de comunicação na empresa.
- E, independentemente da existência de tais regras, o trabalhador não pode
cometer infrações disciplinares e depois abrigar-se com o direito de
confidencialidade, sob pena de abuso de direito.
Joana Mil-Homens
XVI. TRABALHADOR:
1. DETERMINAÇÃO; TIPOS (REMISSÃO):
- Quanto ao trabalhador importa fazer classificações, pois pode haver trabalhadores de vários
tipos e em função dessas diferenças o prestador de trabalho, na relação laboral, terá estatutos
diferentes.
- Por exemplo, cabe distinguir o trabalhador subordinado do autónomo equiparado, a que alude
o artigo 10º do CT; o trabalhador do setor privado do que presta a sua atividade no setor público,
assim como trabalhador especializado do trabalhador indiferenciado.
- E, quanto ao estatuto do trabalhador, importa explicar 2 situações: categoria e antiguidade do
trabalhador.
55
Relembrar que o princípio da igualdade não é absoluto e não impõe um tratamento completamente uniforme a
todos os trabalhadores, como se estes e as respetivas prestações fossem idênticos. Ex: Artigo 14º do CT – tutela da
liberdade de expressão encontra-se condicionada pelo normal funcionamento da empresa.
69
Antiguidade em sede renumeração (262º/3/b) CT);
Critérios de despedimento (368º/2 CT).
- A discriminação tanto pode ser (25º/1):
Direta – Ex: opção expressa e injustificada por trabalhadores de um ou outro sexo;
Indireta – Sempre que o critério, aparentemente neutro, prejudique de modo
desproporcionado, por exemplo, os indivíduos de um dos sexos.
- O incumprimento do dever de não discriminar candidatos a emprego ou trabalhadores faz
incorrer o empregado em responsabilidade civil, conferindo-se ao lesado direito de
indemnização pelos danos patrimoniais e não patrimoniais sofridos – 28º.
56
Ou mobbing – conduta continuada do empregador, com vários episódios lesivos e vexatórios, com finalidade
persecutória de molde a marginalizar o trabalhador.
57
Entre muitos, o Acórdão da Relação de Lisboa de 25/9/1996.
58
Não viola o princípio da igualdade a aplicação a um trabalhador filiado num sindicato a convenção coletiva outorgada
por este sindicato, quando, a mesma empresa, ajustar outra convenção coletiva com outro sindicato em que se
estabeleça renumeração diferente. A solução contrária violaria o princípio da liberdade sindical.
Joana Mil-Homens
ii. Faz uma aplicação do princípio da igualdade sem a conjugação com outros
princípios laborais, sobretudo o de intervenção coletiva. E, como já vimos, o
princípio da igualdade não é absoluto.
No plano interno:
30º e ss CT;
Intervenção da CITE (Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego)
que visa a promover e verificar a igualdade de género no plano laboral.
59
Muitas das vezes, as limitações à liberdade de contratação só valem no âmbito do emprego público.
71
- Como decorre dos artigos 25º/2 e 31º/3 CT só serão ilícitas as discriminações abusivas,
perversas e que não encontrem um motivo justificável.
- É de referir que, apesar da celebração do contrato de trabalho estar sujeita ao artigo 13º da
CRP e ao princípio de igual tratamento entre trabalhadores de ambos os sexos (58º/2/b); 30
e ss CT + 59º/1/a) CRP), existem certas discriminações baseadas no sexo que, em certos
contextos, podem ser admissíveis, desde que sejam assentes em critérios objetivos – 25º/2
CT.
Exemplo: Não constitui discriminação o facto de se condicionar o recrutamento a um ou outro
sexo nas atividades da moda, da arte ou do espetáculo. Ou nada impede que uma empresa
pretenda contratar uma modelo com menos de 25 anos, uma bailarina ou um jogador de
futebol.
- Este regime diferenciador, justificado e, por isso, não discriminatório, tem de ser conjugado
com um espaço de autonomia privada assente em valores sociais sem conotação
discriminatória.
Exemplo: Médico pretende contratar para o seu consultório uma enfermeira e não um
enfermeiro | Ou uma dona de casa pretende contratar uma mulher a dias e não um homem
a dias.
- O princípio da igualdade não pode deixar de atender à realidade subjacente e a valores
sociais justificados.
- Existem certas profissões que, em função do sexo, constituem estereótipos socialmente
implantados, não podendo a mentalidade fixada ser alterada por um diploma legal.
Contudo, esforços deverão ser feitos para alterar esta situação e a Portaria nº 1212/2000, de
26 de Dezembro, indica profissões significativamente marcadas por discriminação do género
e estabelece apoios financeiros para reforçar a igualdade.
- Dito isto, o prof Romano Martinez reitera que isto não significa que a um homem ou a uma
mulher possam ser impostos limites ao acesso a provisões que são normalmente
desempenhadas por trabalhador do sexo oposto.
- Apenas afirma que há caso em que, atendidas as circunstâncias, não parece legítimo
prescrever ao empregador a contratação de um trabalhador de outro sexo60.
- O professor exemplifica com o caso do empresário que pretenda contratar um moço de
forcados ou um jogador de futebol e que não se lhe pode impor a contratação de um
trabalhador do sexo feminino.
- Desde que a distinção não seja discriminatória é lícito que o empregador opte. A autonomia
privada tem como limite a discriminação. Sendo lícita a diferenciação baseada na natureza
das coisas ou na diversidade das circunstâncias; importa, de qualquer forma, justificar
objetivamente a distinção (25º/2 CT).
60
?????
Joana Mil-Homens
- Mesmo que a discriminação seja abusiva, arbitrária ou perversa, o sistema jurídico português
não prevê que o empregador seja obrigar a contratar o trabalhador discriminado. Cabe ao
empregador apenas, estando preenchidos os pressupostos, uma indemnização com base na
culpa in contrahendo (28º CT).
- A igualdade de tratamento nunca pode ser total, especialmente no direito privado onde deve
ser deixada uma margem para a autonomia contratual. Existe contudo um problema de
compatibilidade entre os princípios constitucionais, internacionais e comunitários que
apontam para a igualdade e, por outro lado, a autonomia privada. A compatibilidade poderá
ser encontrada no seguinte:
Desde que as diferenciações apontadas pela liberdade contratual sejam assentes em
critérios objetivos, não colidirão com o princípio da igualdade de tratamento. Se pelo
contrário, tiver por base critérios arbitrários e perversos já colidirá.
- Por fim, quanto à repartição do ónus da prova, a regra será a do 25º/5 CT.
61
Deu à luz recentemente.
62
Prof Jorge Leite designa estas medidas por «medidas preventivas».
73
4. MENORIDADE:
- Artigos 66º e ss CT e nos artigos 2º a 11º da Lei nº 105/2009.
- Condicionamento ao trabalho de menores vale relativamente aos contratos de trabalho celebrados com
menores, mas não no que respeita à prestação de atividades no seio familiar.
- 68º/2: Idade mínima de admissão para prestar trabalho é de 16 anos e este deve ter por concluída a
escolaridade obrigatória ou estar matriculado e a frequentar o nível secundário de educação e dispor de
capacidades físicas e psíquicas adequadas ao posto de trabalho (68º/1).
- O menor - que concluiu a escolaridade obrigatória antes dos 16 anos ou que esteja a frequentar o nível
secundário de educação – esta opção será a mais plausível sendo que será normal um aluno de 16 anos
não ter concluído a escolaridade uma vez que esta termina aos 18 - pode prestar trabalhos leves que não
prejudiquem a sua segurança e saúde, assiduidade escolar e o desenvolvimento físico, psíquico e moral…
(68º/3).
- As regras constantes do CT nesta sede são imperativas, não permitindo qualquer redução, mesmo que
por instrumento de regulamentação coletiva, da idade mínima para ajustar contratos de trabalho.
2) Quanto à celebração de contratos de trabalho, o artigo 70º do CT não segue o regime estabelecido
no CC, nos artigos 122º e ss.
- No CC, a menoridade corresponde a uma incapacidade de exercício, que pode ser suprida pelo
poder paternal ou pela tutela (124º CC) – ou seja, o menor, como incapaz, está impedido de
celebrar o ato, podendo o NJ ser ajustado pelo seu representante legal, em nome do menor. Se
for celebrado pelo próprio menor, o negócio será anulável (125º CC).
- No CT, estabeleceu-se um regime diverso, em que se distinguem algumas situações:
i. O menor, que preencha os requisitos já mencionados, pode celebrar, por si, o contrato de
trabalho. A lei permite, contrariando o disposto no CC.
- Apenas se admite que os representantes legais possam fazer uma oposição por escrito
(70º/1 parte final e /3 e /4 CT).
ii. Cabe relacionar esta matéria com o disposto no artigo 133º do CT, relativamente à
emancipação – Se o menor for emancipado, a oposição por parte dos representantes
legais não terá qualquer sentido, até porque deixa de haver representantes legais.
Por isso, a oposição escrita a que alude o 70º/1 CT só se justifica a menores não
emancipados.
iii. Também ficou por estabelecer se o menor (16 – 18 anos) ao celebrar o contrato de
trabalho se pode vincular-se a cláusulas acessórias, como a imposição de um termo
resolutivo (139º e ss CT); um pacto de não concorrência (136º CT) ou pacto de
permanência (137º CT).
A regra do artigo 70º só vale no domínio do contrato de trabalho de regime
comum, e sendo estabelecidas exceções há que recorrer às regras do artigos 122º
e ss, que pretende tutelar a falta de discernimento dos menores, sendo
necessário para o ajuste de tais cláusulas o suprimento da incapacidade, por via
da representação legal.
Joana Mil-Homens
iv. O menor que tenha idade compreendida entre os 15 e os 16 anos também pode celebrar
contrato de trabalho (para trabalhos leves e com a escolaridade obrigatória concluída),
mas carece de uma autorização escrita dos representes legais (70º/2 CT).
Enquanto no CC teria de ser o representante legal a celebrar o contrato em nome
do incapaz (menor), no direito do trabalho é o menor que ajusta o contrato com
autorização escrita dos representantes legais.
v. Regras estabelecidas no CT aplicam-se às situações laborais sujeitas ao regime comum,
assim como os contratos de trabalho especiais – como o contrato de serviço doméstico
ou o contrato de trabalho a bordo de embarcações de pesca, em tudo o que, nestes, não
constitua derrogação do disposto nos artigos 66º e ss.
vi. A falta de autorização quando exigida leva à anulabilidade do NJ nos termos gerais. Se a
autorização for revogada ou feita uma oposição superveniente (70º/4 CT), o
representante legal impede a prossecução, para o futuro, do vínculo laboral com o menor.
vii. Tratando-se de um contrato de formação (antes conhecido por contrato de
aprendizagem), sendo o aprendiz menor, segue o regime geral do CC e o contrato de
trabalho desportivo celebrado por menor deve ser também subscrito pelo seu
representar legal (artigo 4º/2 da Lei nº28/98, de 26 de Junho).
75
- Daí, o artigo 85º/2 CT conferir ao trabalhador, nessas circunstâncias, direitos idênticos aos dos demais
trabalhadores, tanto no acesso ao emprego, como na formação profissional e nas condições de trabalho.
- Contudo, deve-se ter em atenção a deficiência ou doença crónica, pois pode justificar, por exemplo, uma
redução da carga horária.
- Tal como no caso anterior, deve-se ter em conta que a empresa visa o lucro, pelo que os maiores encargos
com trabalhadores com deficiência ou doença crónica devem ser estimulados ou apoiados pelo Estado
(85º/2 CT).
- Podem justificar-se medidas de ação positiva quanto a estes trabalhadores, das quais resultem vantagens
no confronto com os outros trabalhadores (86º).
- Também fará sentido algumas adaptações do regime de tempo de trabalho, como a dispensa de trabalho
suplementar (87º e ss CT).
7. TRABALHADOR ESTUDANTE:
- 89º a 96º do CT;
- Noção: 89º/1 – é pressuposto que seja trabalhador subordinado e que frequente qualquer nível de
educação escolar, incluindo cursos de pós-graduação em instituições de ensino.
- Como requisitos para a manutenção do estatuto de trabalhador-estudante é exigido que o trabalhador
tenha aproveitamento escolar (89º/2), devendo fazer prova da condição de estudante, apresentando o
respetivo horário escolar (94º/1 CT), e comprovando o aproveitamento no final de cada ano letivo (96º/1).
- Ao trabalhador estudante por conta de outrem são concedidos alguns direitos na relação laboral:
Flexibilização de horário (90º);
Faltas justificadas até 4 dias para realização de cada prova (91º/1/d) e 91º/3);
Possibilidade de o trabalhador marcar férias de acordo com as necessidades escolares e de gozar
as férias interpoladamente, a não ser que daí resulta comprovada incompatibilidade com o plano
de férias do empregador, como no caso de encerramento da empresa para férias (92º/1);
Direito a requerer o gozo de uma licença sem vencimento até 10 dias úteis (92º/2).
8. TRABALHADOR ESTRANGEIRO:
- Importa distinguir 3 situações:
1) Hipótese de destacamento do trabalhador:
- Artigos 6º e 7º do CT – Trabalhador estrangeiro, contratado por empregador estabelecido noutro
Estado, presta a sua atividade em território português num estabelecimento do empregador ou
em execução de contrato celebrado entre este e o beneficiário da atividade.
Exemplo: Empresa belga com trabalhadores belgas e uma sucursal em Portugal com trabalhadores
belgas destacadas para trabalhador na sucursal eles são trabalhadores estrangeiros, mas não
estão sujeitos ao regime de trabalhador estrangeiro, ele está sujeito ao contrato de trabalho e às
leis belgas.
2) Cidadão estrangeiro que se encontra a trabalhar não está autorizado a exercer a sua atividade em
Portugal por não lhe ter sido dada a autorização de permanência em território português.
- A este trabalhador não se aplica o regime laboral estabelecido no CT, exceto no que respeita a
regras básicas de tutela, como acidentes de trabalho63 ou pagamento de retribuição.
3) Trabalhadores estrangeiros autorizados a exercer a sua atividade em Portugal, que não foram
objeto de destacamento – artigos 4º e 5º CT.
63
Lei dos Acidentes de Trabalho (LAT) – artigo 5º.
Joana Mil-Homens
9. CATEGORIA:
9.1. DIFERENTES ACEÇÕES:
- Categoria, em Direito do Trabalho, é um conceito polissémico.
- Existem várias aceções do conceito, entre as quais importa distinguir algumas, como:
1) Sentido Pré-Contratual/Subjetivo:
- Categoria aqui é entendida como a qualificação ou habilitação profissional do trabalhador.
- Trabalhador terá uma determinada categoria se tem a habilitação necessário para exercer uma
certa tarefa.
- Esta noção de categoria depreende-se, relativo à atribuição de carteira profissional ou outro
título.
- Neste caso, a categoria está relacionada com um aspeto subjetivo, com a pessoa do trabalhador,
inserindo-o num determinado grupo profissional.
- Esta noção de categoria em sentido subjetivo reporta-se a situações pré-contratuais, que estão,
relacionadas, eventualmente, com a formação do contrato, mas não com o seu conteúdo.
2) Categoria-Função/Objetivo:
- Corresponde ao objeto da prestação do trabalhador nesse contrato que já foi celebrado.
- Esta noção de categoria está relacionada com um aspeto objetivo, pois se relaciona com a tarefa
a desenvolver pelo trabalhador. O que, nos termos do contrato, está acordado como a atividade
a desempenhar.
- Tem que ver com o objeto do contrato nos termos ajustados (115º/1 e 118º/1 CT).
64 No mesmo sentido Convenções nº 19 e 143 da OIT e a Convenção Europeia relativa ao Estatuto de Trabalhador Migrante.
77
- Frequentemente, a categoria fica na dependência de uma ideia de trabalhador tipo, pressupondo
a existência de um trabalhador padrão falando-se então, em categoria tipo. Não se relaciona com
a habilitação do trabalhador.
Exemplo: Trabalhador contratado como marceneiro, ele irá exercer as atividades correspondentes
àquele tipo profissional.
- Cabe referir, e com grande importância, que a categoria não assenta numa lógica estática. O
trabalhador, à data da celebração do contrato, terá uma certa categoria, mas depois, mais tarde,
a categoria já poderá ser outra.
- No decurso da execução do contrato, o trabalhador pode mudar de atividade, levando a que se
prescindisse da noção de categoria objetiva.
- Mas a mudança de atividade e da correspondente categoria objetiva necessita do acordo das
vontades. Esta modificação não necessita de declarações de vontade formais, por isso se o
trabalhador passar a exercer outra atividade, estar-se-á perante o mesmo contrato com um novo
objeto, ainda que parcialmente alterado.
3) Aceção Real:
- Entende-se categoria como a atividade que, na realidade, o trabalhador desenvolve na empresa.
- Aquilo que ele realmente faz, independentemente do que consta do contrato de trabalho.
Também pode ocorrer que as funções exercidas sejam muito diversificadas, não correspondendo,
por isso, a nenhuma categoria tipo.
- Se o trabalhador exerce várias tarefas, que não se enquadram em nenhum tipo de trabalho,
interessa ter em conta quais, na realidade, são as tarefas que o trabalhador desempenha – sendo
esta a categoria entendida em sentido real.
- A determinação da categoria real está na dependência dos poderes de direção do empregador
porque a possibilidade de o trabalhador exercer uma certa atividade na empresa irá depender
daquilo que o empregador lhe ordene. Se o trabalhador for contratado para uma categoria tipo
muito ampla, que abrange várias atividades, o empregador pode, na execução do contrato, com
base no seu poder de direção, concretizar a atividade que o trabalhador vai exercer, limitando a
categoria tipo e estabelecendo a categoria real.
Exemplo: Trabalhador contratado para a categoria de eletricista. O empregador pode, na
execução do contrato, concretizar a atividade, incumbindo-o apenas das tarefas de eletricista das
instalações de baixa tensão.
4) Aceção Normativa/Escalão:
- Categoria será entendida como a enumeração de tarefas que, nos instrumentos de
regulamentação coletiva de trabalho ou, eventualmente, em regulamentos internos de empresa,
determinam a relação entre a função desempenhada e direitos mínimos do trabalhador onde se
incluem a retribuição devida, o tempo de trabalho e as promoções.
- Nalguns casos podemos encontrar a seguinte situação esquemática: à categoria “A”,
correspondem as tarefas “X” com o ordenado “Y”.
- Para esses efeitos, nas convenções coletivas de trabalho, agrupam-se os trabalhadores por letras,
grupos, classes, números aos quais se faz corresponder um determinado nível salarial.
- Classificação costuma ser feita tendo em conta as tarefas usuais naquela empresa ou naquele
setor de atividade, consoante se trate de acordo de empresa, ou acordo ou contrato coletivo de
trabalho.
- Tem em conta a posição hierárquica que o trabalhador ocupa na empesa, o seu enquadramento
na estrutura organizativa da empresa.
- Quanto às empresas com uma estrutura hierarquizada, os trabalhadores estão escalonados,
ocupando posições diferentes em função da categoria. O posto que o trabalhador ocupa na
empresa está relacionado com vários aspetos: a atividade desenvolvida, o salário percebido, etc
e irá ter repercussão a nível das promoções.
- Neste caso, a categoria é vista no plano da empresa, tendo em conta, a respetiva estrutura
hierárquica e, neste sentido, serve para determinar o escalão em que o trabalhador se insere na
empresa, para efeitos de atividade, renumeração, promoções, etc.
- De acordo com o artigo 118º/2 do CT, o trabalhador está obrigado a desempenhar atividades
acessórias que não se compreendem na respetiva categoria, desde que estejam funcionalmente
ligadas (afins) àquelas que correspondem à sua categoria.
- Estas funções afins integram o conteúdo do contrato de trabalho em sentido amplo, estando o
trabalhador obrigado a exerce-las desde que detenha a qualificação profissional adequada e a sua
realização não implique desvalorização profissional.
- ≠ não corresponde ao ius variandi do artigo 120º CT.
79
Hierarquia do trabalhador na empresa;
Salário recebido.
- Com a categoria pretende-se que subsista uma correspondência entre os elementos acima referidos:
Se o trabalhador foi contratado para desempenham uma determinada atividade (categoria objetiva),
deve exercer as respetivas funções (categoria real), sendo enquadrado no correspondente escalão da
empresa e recebendo o salário adequado à atividade e à hierarquia.
- A categoria profissional existe não apenas para a tutela do trabalhador no que respeita à atividade a
desenvolver ao nível salarial (aspetos + relevantes), mas também para a salvaguarda da posição do
trabalhador na hierarquia da empresa.
Pode inclusive ocorrer que, a diferentes categorias, corresponda o mesmo salário, e mesmo
assim, o trabalhador continua a ter direito à defesa da sua categoria.
Exemplo: Numa determinada empresa certas promoções não correspondem necessariamente
a aumentos salariais, o trabalhador tem, ainda assim, direito à categoria em função do escalão
hierárquico.
- Existem, contudo, 3 situações excecionais em que é possível fazer retroceder o trabalhador em termos
de categoria65.
1) Despromoção do trabalhador por via contratual – 119º CT:
- Aceita-se, por acordo entre empregador e trabalhador, que se proceda a uma despromoção
deste último.
- Só é possível recorrer a esta via se existir um interesse sério, um motivo relevante que
justifique a despromoção.
- Contrato só será válido se, para além do acordo do trabalhador, estiverem preenchidas 2
condições imperativas:
i. Necessidade premente da empresa:
- Pode ocorrer, por exemplo, devido a uma reestruturação da empresa, que impõe a
alteração de categoria.
- Se o trabalhador estiver de acordo em baixar de categoria não haverá nenhum
impedimento, desde que a reestruturação empresarial e a consequente despromoção
se justifiquem.
ii. Estrita necessidade do trabalhador:
- São as situações em que o trabalhador pode ter interesse em mudar de categorias,
interesse derivado, particularmente:
De fatores fisiológicos:
Exemplo: Motorista que ficou com dificuldade de visão e, em vez de se aposentar,
pretende continuar com um vínculo laboral na empresa, mas não podendo exercer a
atividade de motorista, será sua intenção passar a desempenhar outra tarefa com
categoria diferente, que pode ser inferior.
- São situações em que a manutenção do contrato, com a qualificação profissional
existente, se torna impossível.
2) Promoção Provisória:
- No caso de o trabalhador ter desempenhado determinadas funções que correspondem
a um escalão hierárquico e a salário superiores, sem ser de forma definitiva, mas apenas
temporariamente, pode retroceder à categoria anterior, não lhe sendo conferido um
direito de inamovibilidade (120º CT).
Exemplo: Substituição de outro trabalhador cujo contrato se encontra suspenso. Em tal
caso, o empregador pode promover temporariamente o trabalhador para ocupar aquele
lugar, mas quando o substituído regressa, o que foi promovido temporariamente
reocupará a antiga posição em termos hierárquicos e retributivos.
- Pois, sendo uma promoção provisória, o trabalhador não adquiriu direito à posição
hierárquica que desempenhou de modo transitório.
65
Tanto no aspeto da atividade a desempenhar como no plano retributivo e da posição hierárquica.
81
3) 164º/1/a) CT.
- Prevê o regresso do trabalhador que exerceu determinada tarefa em comissão de serviço
à atividade desempenhada antes da comissão de serviço.
- No regime de comissão de serviço (161º e ss) é permitido que, em certas circunstâncias,
um trabalhador exerça uma atividade em comissão de serviço, sem carácter temporário,
tendo em conta as necessidades da empresa.
- 164º: Se o trabalhador foi contratado para uma determinada atividade em comissão de
serviço, terminada esta, regressará à categoria que anteriormente tinha na empresa.
- Isto baseia-se numa especial relação de confiança – quando a confiança termina,
justifica-se que cesse a comissão de serviço.
- No total oposto, temos a promoção dos trabalhadores o que, em regra, implica alterações na
categoria. Quando o trabalhador é promovido na empresa ocorrerá uma alteração na categoria e,
consequentemente, da sua posição hierárquica, do seu salário, da atividade a desenvolver, etc.
- Existem 2 tipos de promoções: automáticas e acordadas.
i. Automáticas:
- Funcionam independentemente da vontade das partes, podendo estar, por exemplo,
relacionadas com a antiguidade, aquisição de habilitações por parte do trabalhador,
prestação de provas e aprovação das mesmas.
- A promoção pode resultar de convenção coletiva de trabalho, de contrato de trabalho
ou de regulamento interno de empresa.
- Ou seja, nas promoções automáticas, a promoção (consequência) decorre
automaticamente do preenchimento de pressupostos que podem estar previstos em
convenção coletiva, contrato de trabalho ou regulamento de empresa66.
ii. Acordadas:
- Derivam de acordo entre o empregador e o trabalhador.
- Promoção dependerá da escolha do empregador, sendo uma mera expetativa (e não um
direito) do trabalhador, mas o trabalhador não pode ser promovido sem o seu próprio
assentimento.
- O acordo implica uma alteração ao contrato de trabalho inicial – sendo um ajuste
modificativo do contrato de trabalho, do qual advém, entre outras coisas, uma nova
atividade a desempenhar ou uma nova posição hierárquica na empresa.
- Estamos no domínio da autonomia privada e, dentro dos limites estabelecidos na lei, o
contrato de trabalho pode ser alterado por via negocial.
- Mas se a modificação, porventura, implicasse uma despromoção na categoria salarial67
tal só seria possível na medida em que o artigo 119º o permitisse, uma vez que a mera
redução retributiva não pode resultar apenas do acordo das partes.
- Normalmente, a promoção é uma melhoria a todos os níveis (salarial, hierárquico), mas nas promoções
sectoriais só se altera a retribuição, mantendo o trabalhador a mesma categoria contratual.
10. ANTIGUIDADE:
- A antiguidade do trabalhador encontra-se relacionada com vários aspetos.
1. Pode estar na dependência da duração do contrato de trabalho.
66
Mesmo quando constem de contrato de trabalho, distinguem-se das promoções acordadas porque são automáticas e
não negociadas para cada promoção em concreto.
67
Trabalhador promovido em termos hierárquicos, mas com uma redução salarial. O que dificilmente ocorreria.
Joana Mil-Homens
- Neste caso, a antiguidade será aferida em função dos anos de serviço do trabalhador na
determinada empresa.
- Será a antiguidade na empresa.
2. Antiguidade na atividade:
- Consiste no número de anos que o trabalhador exerce certa atividade numa dada empresa.
3. Antiguidade na categoria:
- Consiste no número de anos que o trabalhador tem aquela categoria.
- Para efeitos de antiguidade tem-se em conta a duração do contrato de trabalho e não à sua execução:
A antiguidade de um trabalhador numa empresa, numa atividade ou numa categoria não será
determinada em função dos dias de trabalho efetivos, uma vez que para este cálculo contam os
dias de repouso68, os de faltas justificadas e os períodos de suspensão do contrato (255º/1; 295º/2
e 536º/3). Contudo, dias de faltas injustificadas não serão ponderados (256º/1).
Ou seja, a antiguidade não é igual ao número de dias de laboração efetiva, mas relaciona-se antes
com a duração da relação contratual.
O prazo iniciar-se-á com a admissão da empresa e não a partir da data em que se começa a
trabalhar.
XVII. EMPREGADOR:
68
Feriados, dias de repouso semanal, férias.
83
SECÇÃO IV – FORMAÇÃO:
XVIII. ENQUADRAMENTO:
- Formação do contrato de trabalho está dependente de 3 princípios básicos:
Princípio da Liberdade – correspondente à autonomia privada - 405º CC.
- 47º/1 CRP consagra quanto aos trabalhadores o princípio da autonomia privada, na vertente
escolha da profissão. Reiterando assim o princípio da liberdade contratual.
- Quanto ao empregador, vigora o artigo 405º do CC. De acordo com este princípio, o
empregador não é obrigado a celebrar contratos de trabalho com quem não queira.
- Quanto à capacidade de exercício: artigo 13º determina que a «a capacidade para celebrar
contratos de trabalho regula-se nos termos gerais (…)».
- O artigo 13º ao dispor que, quanto à capacidade para a celebração dos contratos de trabalho,
se aplicam as regras gerais, remete para os artigos 122º e ss do CC.
- Mas estas regras constantes dos artigos 122º e ss do CC sofrem exceções quanto ao contrato
de trabalho, que se encontram no Código do Trabalho.
capacidade de entender e querer, não devendo celebrar livremente contratos – esta falta de
capacidade pode ser suprida pelo poder paternal ou pela tutela.
- Daí, que no domínio do contrato do trabalho, a emancipação não implica modificações, ou
seja, não impede a aplicação das normas relativas à proteção da saúde, educação e formação
do trabalhador menor (≠ direito civil onde o menor emancipado é considerado como maior, tendo plena
capacidade de exercício).
- Estrangeiros/Apátridas:
Existem limitações, especialmente no plano das formalidades para o ajuste do
contrato, mas não há qualquer incapacidade negocial, pois vale o princípio
constitucional de equiparação entre estrangeiros e nacionais – 4º CT.
Ou seja, estas limitações burocráticas (5º CT) não devem ser vistas no sentido de se
estar perante uma falta de capacidade. Existem apenas limitações legais.
A não ser que se trata de trabalhadores estrangeiros não autorizados a exercer uma
atividade profissional subordinada em território português, a relação laboral que se
tenha estabelecido não é válida – porém, não é uma invalidade proveniente da falta
de capacidade destes cidadãos, mas sim da violação de disposição legal (294º CC).
2. IDONEIDADE DO OBJETO:
2.1. ASPETOS COMUNS:
- A atividade laboral corresponde, por via de regra, a uma prestação genérica, que, de certa forma,
está indeterminada, sendo necessária concretizá-la, mediante as ordens provenientes da entidade
85
patronal. Por outro lado, a habilitação do trabalhador pode condicionar a validade do contrato de
trabalho.
- Restantes requisitos dos artigos 280º e 281º do CC, não apresentam qualquer particularidade no
domínio do contrato de trabalho, nem carecem de esclarecimentos.
- 115º CT:
Objeto do contrato será definido pelas partes (115º/1);
Ainda que por remissão para categoria constante de instrumento de regulamentação coletiva
de trabalho (115º/2).
2.2. DETERMINABILIDADE:
- Quanto ao objeto do negócio jurídico exige-se, nos artigos 280º e 400º do CC a sua determinação.
- Contrato de trabalho, como qualquer NJ, será nulo se o objeto for indeterminado.
- Por isso, importa verificar em que medida a indeterminação da prestação laboral é admissível,
tendo em conta o disposto do CC, em confronto com o 115º do CT.
- Prestação laboral não pode ser indeterminável: indeterminabilidade da prestação de trabalho
implica a nulidade do negócio jurídico.
Já as prestações laborais indeterminadas, mas determináveis, ou seja, a sua determinação
se possa fazer no decurso da execução do contrato de trabalho.
Prestação genérica do trabalho é, em princípio, determinável – a indeterminação pode ser
concretizada através das ordens emanadas do empregador. Logo, não há nulidade.
2.3. HABILITAÇÃO:
- Existem outros aspetos a considerar na dependência da idoneidade do objeto, relacionados,
especialmente, com os requisitos negociais dependentes, simultaneamente, do trabalhador e do
objeto do contrato.
- Importa determinar em que medida tais requisitos podem pôr em causa a relação jurídica laboral
tendo em conta a situação jurídica do trabalhador no negócio jurídico em caus, isto é, qual a relevância
de elementos conexos à pessoa do trabalhador.
- É certo que existem profissões que só podem ser desenvolvem por quem tenha as respetivas
habilitações. Há que verificar se o trabalhador tem a habilitação necessária para celebrar o contrato
de trabalho em causa. Não se trata de um pressuposto de validade para toda e qualquer situação, pois
só se justifica no caso concreto.
- Não está em causa uma impossibilidade material, mas sim uma impossibilidade jurídica: permite a
lei que aquela pessoa exerça aquele trabalho? -> impossibilidade jurídica (280º/1 CC) e o contrato de
trabalho é nulo.
Joana Mil-Homens
- Entre as várias habilitações que podem ser exigidas, o título profissional tem uma particular
importância.
Contrato de trabalhado celebrado com um trabalhador sem título habilitante para a
profissão, sendo exigido, é nulo (117º/1 CT – condicionalismo idêntico ao 280º CC). Se o
pressuposto for o mesmo, deve-se relacionar os dois artigos.
Este condicionalismo não se aplica às profissões cujo exercício dependa de inscrição numa
ordem. São as respetivas ordens69 ou Câmaras70, dentro dos parâmetros do respetivo
estatuto, que determinam os requisitos para os interesses nelas se inscreverem e só pode
exercer a atividade própria dessa profissão quem estiver inscrito na correspondente ordem
ou câmara.
2. CONCURSO PÚBLICO:
- Celebração do contrato de trabalho não precisa de ser precedida por um concurso público.
No direito privado, não há nada que imponha nesse sentido, estando a abertura do concurso
dependente da vontade de alguns dos interessados.
- Mas é frequente que o empregador ambra um concurso de forma a poder escolher o
trabalhador que pareça mais adequado.
No direito público, por via de regra, é obrigatório abrir concurso para a contratação de
funcionários.
- Concurso público pode ser vinculativo ou meramente indicativo, consoante o seu autor fique ou não
vinculado a acatar o resultado mesmo. Se ficou na disponibilidade do autor a possibilidade de aceitar
o resultado do concurso, ele será meramente indicativo.
- Se nada constar do concurso público, pressupõe-se que se trata de um concurso vinculativo, se dele
não se depreender claramente o contrário.71
- No concurso público, para além das regras gerais e daquelas que constem desse NJ, temos de ter em
conta a aplicação do artigo 463º:
Se o autor do concurso não aceitar o resultado mesmo, terá de se averiguar se, perante as
regras gerais dos NJs, as normas desse mesmo concurso e o disponho artigo 463º do CC, se
verifica um incumprimento.
69
Ordem dos Médicos; dos Advogados; dos Engenheiros, etc.
70
Como os Solicitadores, mas hoje foi transformada em Ordem dos Solicitadores.
71
Não faria qualquer sentido proceder à abertura de um concurso só para ver quem concorre.
87
Sendo o concurso um NJ presumidamente vinculativo, se o seu autor não o cumpriu, estar-se-
á perante uma situação de incumprimento negocial – 798º e ss.
Mas, não parece aceitável, por analogia ao contrato-promessa (103º/3 CT) que se possa
recorrer à execução específica em caso de incumprimento de concurso público, até porque,
atendendo ao regime do período experimental, a execução específica seria uma solução
ineficiente.
- Concurso público pode ser limitado a um determinado número de interessados que, em princípio,
dessa limitação não advém qualquer ilegalidade.
Exemplo: Empresa de Bragança. Faz sentido que abra um concurso para contratar trabalhadores que
residam no distrito; será um concurso público limitado do ponto de vista regional.
- Contudo, estas limitações têm de se relacionar com o princípio da igualdade – 13º/2 CRP.
3. CONTRATO-PROMESSA:
- O empregador e o trabalhador podem preceder à celebração do contrato de trabalho um contrato-
promessa. Ou seja, é lícito que antes do contrato de trabalho se ajuste um contrato-promessa de um
contrato de trabalho.
- Existem várias razões para a celebração de um contrato-promessa de trabalho:
Trabalhador ainda estar empregado noutra empresa, cujo contrato só finda decorrido um
certo período;
Trabalhador está a aguardar a obtenção da carteira profissional;
Empregador não se encontra em condições de fornecer já o lugar de trabalho ao trabalhador,
como, por exemplo, no caso de o estabelecimento estar em obras, etc.
- Ao contrato-promessa de trabalho aplicam-se as regras gerais dos 410º e ss e 442º CC e 103º CT.
- 410º CC: Relativamente ao contrato-promessa de trabalho vale o princípio da equiparação, ou seja,
este NJ segue as regras do contrato definitivo. Princípio da equiparação tem 2 exceções:
1ª) Respeita à forma – regra diferente daquela que vigora no direito das obrigações.
- Nos termos do 103º/1 do CT, o contrato-promessa deverá ser sempre reduzido a escrito,
mesmo quando o contrato de trabalho não careça de forma escrita (110º CT).
Há uma razão de ser para isto: legislador admite a constituição de situações laborais que se
afastam do contrato de trabalho de regime comum, obrigam que esta sejam manifestadas por
escrito – há necessidade de forma sempre que há um enfraquecimento do vínculo laboral.
Ex: Contrato de trabalho a termo.
- A vontade de as partes – ou da parte, caso o contrato-promessa seja unilateral – se obrigarem
ao futuro contrato (contrato definitivo). Sendo igualmente necessário que esteja claramente
determinada qual a espécie de trabalho a prestar e a retribuição.
Joana Mil-Homens
- É visível que se impõem várias exigências quanto ao contrato-promessa de trabalho, que não
existem quanto ao contrato definitivo72.
- Quanto ao 411º do CC, não há qualquer particularidade. O contrato-promessa de trabalho pode ser
unilateral ou bilateral.
- Em princípio, poderão ser transmitidos os direitos e as obrigações resultantes do contrato-promessa
de trabalho que não seja exclusivamente pessoais, tanto por via sucessória como por ato inter vivos
nos termos do 412º CC.
Contudo, como o contrato de trabalho é um NJ intuitu personae, os direitos e as obrigações
terão, por via de regra, natureza pessoal e, nessa medida, intransmissíveis por via sucessória.
Quanto à transmissão inter vivos, esta pode efetivar-se mediante uma cessão da posição
contratual, com o acordo das partes. Uma das partes, no contrato-promessa, poderá
transmitir a sua posição nos limites em que se pode ceder a posição contratual num contrato
de trabalho.
- 413º CC não se aplica ao contrato-promessa de trabalho, pois este não pode ser celebrado com
eficácia real, sendo que nem há qualquer registo possível.
72
Por exemplo, neste não é necessário que conste o montante da retribuição, visto que esta pode ser determinada por
vários fatores.
89
- É vedada a possibilidade de se pedir a execução específica, prevista no artigo 830º CC, tal como
decorre do artigo 103º/3 CT.
Perante o incumprimento do contrato-promessa de trabalho, a lei não permite que uma das
partes – parte não faltosa – recorra à execução específica, isto é, que consiga, por via judicial,
a celebração do contrato definitivo.
Também se pode argumentar que, aceitando-se a execução específica de um contrato-
promessa de trabalho, colidir-se-ia com o disposto do 47º da CRP, pois pôr-se-ia em causa o
princípio da liberdade de trabalho. Em certa medida, esta afirmação é verídica relativamente
ao trabalhador, porque a execução específica levaria a que o «obrigassem» a celebrar o
contrato definitivo. Contudo, a execução específica nunca o obrigaria a executar o trabalho, o
contrato definitivo de trabalho considerar-se-ia celebrado e se o trabalhador não o
executasse, haveria incumprimento.
Mas isto são apenas considerações porque, na verdade, o legislador não admite a
possibilidade de execução específica no artigo 103º/3 CT.
2º) Proposta deve revelar uma intenção inequívoca de contratar, ou seja, tem de ser firme, não
podendo apresentar-se como dubitativa.
- A intenção inequívoca de contratar possibilitará que, mediante uma simples aceitação, se
conclua o contrato.
3º) Proposta terá de revestir a forma requerida para o contrato de trabalho em causa.
Joana Mil-Homens
2. CONTRATO DE ADESÃO:
2.1. CLÁUSULAS CONTRATUAIS GERAIS:
- Contrato de trabalho pode ser celebrado mediante a adesão do trabalhador a cláusulas
contratuais gerais, pré-elaboras pelo empregador (105º CT).
- Cave averiguar se o modelo contratual utilizado pelo empregador se enquadra no âmbito do
Decreto-Lei nº 446/85, de 25 de Outubro.
- Terá de ser apurar se as cláusulas contratuais gerais:
São pré-elaboradas;
São destinadas a valer relativamente a todos ou a grande parte dos contratos de trabalho
celebrados naquela empresa e;
Se, quanto às cláusulas propostas ao trabalhador, não há qualquer possibilidade de
negociação, ou seja, se elas se apresentam como rígidas, não podendo o trabalhador
propor uma alteração das mesmas. Ou aceita-as ou rejeita-as em bloco.
- Sempre que estas cláusulas não digam respeito a aspetos essenciais do contrato de trabalho,
devem ser ponderadas com base numa justificação de ordem empresarial, e aí a apreciação
própria decorrente do regime das cláusulas contratuais gerais será ponderada com a motivação
empresarial. Assim, uma cláusula que poderia ser proibida, será lícita porque não respeita a
aspetos essenciais do contrato e justifica-se nesse contexto.
- 105º/parte final CT: Regime das CCGs vale igualmente em relação a regras aplicáveis por
remissão para instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho. O instrumento de
regulamentação coletiva para o qual se remete no contrato de trabalho vale como se fosse um
formulário com cláusulas pré-estabelecidas. O que implica a derrogação do artigo 3º/e) da Lei das
CCGs, que prescreve a não aplicação do respetivo regime aos instrumentos de regulamentação
coletiva de trabalho.
- Serão inválidas, as cláusulas de instrumento de regulamentação coletiva de trabalho que
desrespeitem o regime constante das Lei das CCGs.
73
Valor da retribuição, forma de fixação de prémio, atribuição de viatura.
91
Ex: Norma de IRC, que exclua ou limite a responsabilidade por não cumprimento definitivo, mora
ou cumprimento defeituoso dos deveres contratuais do trabalho em caso de atuação deste com
dolo ou culpa grave será proibida e, por isso nula (18º/c) Lei das CCGs).
- Do regulamento interno podem constar regras que iriam ser impostas ao trabalho,
integrando o contrato de trabalho. Se este se opõe ao regulamento, este não poderá valer
quanto ao trabalhador em questão. Existem 3 soluções:
2ª) Se o regulamento interno entrar em vigor depois da celebração do contrato de trabalho, isto
corresponde uma proposta de modificação deste.
- Esta proposta de modificação carece de aceitação.
- 104º/2 admite que aceitação possa produzir efeito por via do silêncio, pois presume-se a
aceitação. Ou seja, se não se pronunciar, por escrito, no prazo de 21 dias contra o
regulamento, presume-se a aceitação.
- Se o trabalhador se pronunciar por escrito dentro do prazo contra o regulamento interno,
este não o vincula. E o contrato de trabalho mantém-se inalterado, não valendo quanto
àquele trabalhador. Isto não constitui fundamento para a resolução do contrato74.
- O artigo 105º do CT, determina a aplicação do regime geral das CCGs. Regime das CCGs aplica-se aos
aspetos essenciais do contrato de trabalho que não resultem de prévia negociação específica,
nomeadamente quanto a regras que decorrem de regulamento interno de empresa (104º/1 CT).
74
Conclusão só diz respeito às regras do regulamento interno que interferem com o conteúdo do contrato de trabalho
e não com as que correspondem a uma concretização da atividade laboral, no exercício do poder de direção.
93
3. RELAÇÕES LABORAIS DE FACTO:
3.1. CONTRATO DECLARADO NULO OU ANULADO:
- Sempre que uma situação jurídica laboral não tem por base um contrato de trabalho e, apesar
disso, há direitos e obrigações recíprocos para os intervenientes, como os que emergem de um
vínculo de trabalho, estamos perante uma relação laboral de facto.
- 122º/1 CT – o contrato declarado nulo ou anulado produz efeitos como se fosse válido em relação
ao tempo em que seja executado.
- Na realidade, não há contrato de trabalho, - porque é inválido – mas, quanto à sua execução,
produzem-se os efeitos como se o negócio jurídico fosse válido.
4. OBRIGAÇÃO DE INFORMAR:
4.1. DEVER DE INFORMAR NA FORMAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO:
- Na fase da formação negocial, as partes devem proceder de boa fé – 227º/1 CC – aplicam-se as
regras gerais do direito civil.
- Especificidade detetadas surgem devido às situações concretas constantes dos artigos 106º e ss
do CC.
- O dever de informação impõe-se tanto ao trabalhador (nº1) como ao empregador (nº2) – 106º.
- Se o contrato de trabalho é sinalagmático, faz sentido que, tanto na formação como na execução,
existam deveres recíprocos, nomeadamente quanto às informações a prestar pelas partes.
Joana Mil-Homens
- Porém, perguntas relativas a aspetos, direta ou indiretamente, implicados com a relação laboral
que não colidam com a tutela da personalidade do trabalhador são lícitas75.
- Nestes casos, é possível interrogar o candidato sobre a sua formação profissional, experiência,
idade, estado civil, filiação sindical, etc.
Por exemplo, dada às circunstâncias, será justificado que uma empresa de segurança exija
um certificado criminal ou um comprovativo do cumprimento do serviço militar.
Haverão casos também, em que se pode impor o dever de informação à mulher quanto à
sua gravidez (17º/1 CT), como nos casos em que o exercício da atividade seja
objetivamente impossível durante o estado de gravidez. Se a mulher mentir, podemos
estar perante um caso de erro sobre a base negocial; erro sobre a qualidade da pessoa ou
até de dolo omissivo.
- Há doutrina76 que atende ao «direito à mentira» por parte do trabalhador, mas uma
coisa é reagir a questões impertinentes que foram abusivamente colocadas pelo
empregador e a que o trabalhador não se encontra obrigado a responde, outra coisa é dar
informações falsas, violando o princípio da boa fé contratual.
Quanto ao estado de saúde do trabalhador, também existem dúvidas.
- Regra será o da não prestação de informações (17º/1 CT).
- Dever de informação relacionado com aspetos da vida privada pode ser exigido devido
à função do tipo de trabalho (ex: doenças contagiosas para um enfermeiro, prática de
crimes para um segurança), como resultado do 17º/1/a) 1ª parte.
- No que toca à verificação de doenças é necessário atender aos exames médicos a fazer
na empresa e aí a obrigação de segredo deontológico se impõe ao médico (17º/2).
Exemplo: candidato a um emprego de motorista deve prestar informações quanto à sua
capacidade de visão ou ao facto de ser alcoólico – nada impede que o empregador
imponha a realização de exames médicas para verificar se o trabalhador se encontra apto.
75
Por exemplo, perguntar pelo planeamento familiar será visto como uma pergunta ilegítima.
76
Profª Palma Ramalho.
95
- Cabe referir que o médico só tem de constar da (in)aptidão do trabalhador, se for inapto
não tem que justificar a inaptidão. Isto tem especial relevo para as doenças com óbvias
repercussões sociais (17º/2).
77
Por exemplo, por parte do trabalhador, mudança de residência. Por parte do empregador, por exemplo, a alteração na política
empresarial com repercussão nas relações laborais como a instalação de um relógio de ponto.
Joana Mil-Homens
- Quanto ao trabalhador, temos de novo, o problema de prestar certas informações sobre a sua
vida e estado de saúde na pendência da relação laboral.
Se a doença do trabalhador (como alcoolismo) dificulta ou prejudica a execução do
contrato de trabalho deve ser prestada a informação, a tal impõe o dever de lealdade.
Mas o controlo do estado de saúde do trabalhador por parte do empregador (19º) é um
tema muito complexo:
- Por vezes, devido às circunstâncias específicas da atividade, justificar-se-á que o
empregador exija a realização de exames médicos periódicos a efetuar por clínicos da
empresa (19º/1/2ª parte do CT).
- Mas já não parece possível que o empregador possa controlar a invocada doença do
trabalhador para efeitos de falta justificada.
Existe jurisprudência, para a qual, o atestado médico apresentado pelo trabalhador
não significará necessariamente que a falta se encontra justificada, cabendo ao
empregador controlar a doença por um médico da sua confiança.
Ou seja, o empregador pode considerar que não está feita prova dos factos
invocados, ou seja, da doença para a justificação da falta (254º/2), exigindo o
controlo da doença por medicado da empresa (254º/3 e ss).
4.6. INCUMPRIMENTO:
- Violação do dever de informação, tanto na celebração como na execução do contrato, faz
incorrer o faltoso em responsabilidade civil.
- Responsabilidade que, dependendo das circunstâncias, pode gerar:
Invalidade do negócio – ex: falsas informações sobre a qualificação profissional do
trabalhador;
Cessação do vínculo laboral – ex: despedimento ou rescisão com justa causa;
Obrigação de suportar os prejuízos, em princípio patrimoniais, mediante indemnização.
- Nos termos dos artigos 106º e ss, o não cumprimento do dever de informar, constitui
contraordenação grave (106º/5).
5. PERÍODO EXPERIMENTAL:
5.1. NOÇÃO:
- 111º a 114º CT.
- Em qualquer contrato de trabalho, há um acordo implícito do qual resulta a existência do período
experimental, que também pode ser alvo de acordo explícito das partes.
- Destes artigos, decorre que o período experimental se encontra implicitamente acordado em
qualquer contrato, mesmo que este não tenha sido ajustado por tempo indeterminado.
97
- Quanto ao contrato a termo, também se prevê um período experimental (112º/2 CT), sendo a
exceção o contrato em comissão de serviço, onde a existência do período experimental depende
de estipulação expressa no respetivo acordo (112º/3 CT).
- Existe apenas um contrato: que se inicia numa determinada data, a partir da qual começa a correr
a fase do período experimental; e terminada esta, o contrato continuará, mas com um vínculo
duradouro (definitivo). Daí, a antiguidade do trabalhar contar-se desde o início do período
experimental (112º/6 CT).
5.2. FUNDAMENTO:
- A admissibilidade do período experimental justifica-se porque, sendo a relação laboral
duradoura, as partes, antes de a iniciarem de forma definitiva, devem apreciar mutuamente as
respetivas qualidades: o empregador deve avaliar se o trabalhador possui as qualidades para a
execução do trabalho e o trabalhador deve verificar se o empregador respeita as condições de
trabalho, um tratamento condigno e ao pagamento atempado da retribuição.
- 111º/2: «(…) partes devem agir de modo que possam apreciar o interesse na manutenção do
contrato de trabalho». Ou seja, pretende-se obter um juízo de prognose quando ao modo como
decorrerá a relação laboral.
- Tendo em conta a estrutura da relação laboral, poder-se-ia pensar que o período experimental
foi conferido em benefício exclusivo do empregador. É certo que tendo o empregador a liberdade
de denúncia, este tem particular interesse no período experimental. O trabalhador também tem
a possibilidade de denunciar o contrato, mas já não será tão vantajoso para ele. Mas, o
trabalhador terá particular interesse no período experimental nos casos em que a liberdade de
denúncia se encontra limitada, como nos casos de ter sido ajustado um pacto de permanência ou
em vínculos especiais sem liberdade de denúncia, como o contrato de trabalho desportivo.
5.3. REGIME:
- Durante o período experimental, qualquer das partes pode denunciar o contrato de trabalho
sem aviso prévio, nem invocação de justa causa e não é devido pagamento a título de
indemnização (114º/1).
- Esta liberdade de desvinculação deve-se aos fundamentos do período experimental. Contudo, a
denúncia motivada por causas estranhas ao contrato de trabalho já poderá não ser lícita.
Ex: Empregador denunciar o contrato durante o período experimental pelo facto de a
trabalhadora ter, entretanto, engravidado – estamos perante um caso de abuso de direito (334º
CC), que enfrenta, porém, a dificuldade de prova do motivo ilícito, por não ser necessário
apresentar causa de cessação do contrato.
- Durante o período experimental valem os direitos e obrigações próprios do contrato de trabalho,
por isso, cessando o contrato, impõe-se ao empregador o dever de pagar as prestações vencidas
como, por exemplo, retribuição ou férias.
- Como exceção à liberdade de denúncia sem aviso prévio, após o decurso de 60 dias de período
experimental, o empregador tem de dar um aviso prévio de 7 dias para denunciar o contrato
(114º/2). O prazo é alargado para 15 dias se o contrato tiver durado por mais de 120 dias (114º/3)
– limitação que só vale quanto ao empregador. Ao trabalhador nunca é exigido aviso prévio para
denunciar o contrato durante o período experimental.
- Prazos do período experimental dos contratos de trabalho submetidos ao regime comum – que
não são celebrados a termos, mas sim por período indeterminado – vão de 90 dias (para a
generalidade dos trabalhadores – 112º/1/a) CT) até 240 dias (para pessoal da direção e quadros
Joana Mil-Homens
superiores – 112º/1/c) CT). Cabe ao empregador provar a complexidade técnica, para justificar a
aplicação de prazo mais alargados de período experimental.
- Para a contagem do prazo do período experimental, só se deve atender à execução efetiva da
prestação de trabalho e não à duração do contrato (113º). A execução da prestação pode ser
posterior à data da celebração do contrato, e só são ponderados:
Os dias de execução do contrato, não se atendendo ao período de suspensão e às faltas,
mesmo que justificadas (113º/2);
- Contudo, conta para o período experimental uma ação de formação ministrada pelo
empregador ou frequentada por determinação deste, desde que não exceda metade do
período experimental (113º/1 CT).
Para cálculo do tempo de período experimental tem de se recorrer ao disposto no artigo
279º/b) deste preceito, pelo que não se conta o dia em que se inicia o prazo.
- 112º/1 CT: No caso de ter sido estipulado um termo ao contrato de trabalho, o período
experimental poderá ser de 15 ou 30 dias, consoante o NJ tenha uma duração previsível inferior
ou superior a 6 meses.
- A sucessão de contratos entre os mesmos contraentes não é motivo para inviabilizar a existência
de um período experimental no segundo vínculo.
- Se o trabalhado celebra um contrato de trabalho com uma empresa depois de ter mantido um
vínculo de prestação de serviços com a mesma entidade não ficou excluído o período
experimental naquele contrato.
Ac. Rel. Lx de 8/11/2000 – decidiu-se que o período experimental só se conta a partir do início da atividade
laboral na empresa, independentemente do exercício anterior de outras funções na empresa sem
subordinação.
- Excecionalmente, a existência de um contrato de formação seguida de um contrato de trabalho
com a entidade formadora exclui o período experimental – artigo 11º/2 da Lei nº 28/98.
- Também no caso de sucessão de contratos de trabalho entre as mesmas partes com objeto
distinto impõe-se a existência de sucessivos períodos de experiência – casos em que o
trabalhador contratado sem termo para ma tarefa é contratado sem termo para outra.
- Mesmo que a sucessão de contratos de trabalho entre os mesmos contraentes tenha objeto
idêntico – a não ser que haja previsão legal específica (ex: 143º CT) ou genérica (ex: abuso de direito –
334º CC) haverá um novo período experimental em cada um dos vínculos.
Ac. STJ de 1/10/1997 – sucessão de contrato de trabalho entre um futebolista profissional e o mesmo clube.
O segundo contrato é autónomo.
99
coletiva de trabalho do que ao contrato de trabalho (3º/5 CT). Mas, neste caso, a solução é
inversa: o instrumento de regulamentação coletiva pode o menos (alteração do prazo) e o
contrato de trabalho pode o mais (alterar o prazo e excluir o período experimental).
- Frequentemente, a lei exige forma escrita sempre que se estabeleçam regimes especiais de
contrato de trabalho.
Exemplos:
Contrato de trabalho a termo – Em regra, o contato de trabalho deve ser celebrado por
tempo indeterminado, e se as partes quiseres ajustar um contrato de trabalho a termo,
torna-se necessário que o mesmo seja celebrado por forma escrita (141º/1 CT).
Contrato de trabalho a tempo parcial (153º/1) | Contrato de trambelho temporário
(181º/1) | Contrato de utilização de trabalho temporário (177º/1) | Contrato de
aprendizagem ou formação | Contrato de trabalho com estrangeiros (5º/1) | Contrato de
trabalho a bordo | Contrato de trabalho com desportistas profissionais | Etc.
- Outras vezes, a lei não exige forma para o contrato, mas sim para certas cláusulas contratuais.
78
Como formalidades externas ao vínculo pode indicar-se a inscrição do trabalhador na Segurança Social, a celebração do seguro de
acidentes de trabalho e a atualização do registo de pessoal (121º/1/j) CT).
Joana Mil-Homens
- Se as partes celebrarem um contrato de trabalho segundo o regime geral, ele será consensual,
mas se pretenderem apor um termo ou uma condição suspensiva, as cláusulas acessórias terão
de revestir forma escrita. | Tal como quando se pretende estabelecer um pacto de não
concorrência, esta cláusula terá de revestir forma escrita (136º/2/a)) | Também será necessário
acordo escrito para alterar a duração ou excluir o período experimental estabelecido na lei
(112º/5).
- Nestes casos, o contrato continua a ser consensual, porém terá cláusulas formais.
- Se a forma para as cláusulas não for respeitada, o contrato vale sem tais clausulas, verificando-
se uma redução negocial (292º CC).
- Já vimos que a inobservância das formalidades não pressupõe a nulidade do contrato sendo que
a falta pode ser suprida.
Em alguns casos, se as formalidades não forem cumpridas, o contrato mantém-se em vigor pois
não há invalidades, mas sobre o faltoso podem impender coimas, como no caso de falta de
comunicação do contrato de trabalho com estrangeiros -> 3º/7;
147º/1 e 181º/2 – conversão do negócio na falta da indicação do motivo justificativo;
Não sendo indicada a data de inicio do trabalho, vale a data da sua celebração (141º/2)
ou então a falta (ex: de indicação do local e período normal de trabalho) pode ser
preenchida por via de interpretação negocial ou por qualquer meio de prova.
Falta de certas menções podem implicar a aplicação de uma sanção, como no artigo
181º/5.
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SECÇÃO V – INVALIDADE:
XXIII. PARTICULARIDADES:
1. CAUSAS DE INVALIDADE:
- Contrato de trabalho, como qualquer outro NJ, pode ser inválido (nulo ou anulável), caso em que
encontram aplicação as regras gerais dos artigos 240º e ss e 285º e ss do CC.
- Entre as causas de invalidade do contrato de trabalho encontram-se situações próprias deste NJ,
que assentam em pressupostos idênticos aos do direito civil.
Por exemplo, a nulidade por falta de título profissional (117º/1 CT) tem por base o disposto
no artigo 280º CC.
- Assim, as especificidades do contrato de trabalho se reconduzem às regras gerais do direito civil79.
- Na falta de regime especial, aplicam-se diretamente as regras constantes do CC.
Por exemplo, havendo erro quanto à pessoa do trabalhador, o contrato de trabalho é
anulável nos termos do artigo 251º do CC.
- Perante a invalidade do contrato de trabalho recorre-se ao regime comum dos artigos 285º a 293º
do CC, sobre a nulidade e anulabilidade dos negócios jurídicas. Porém, é necessário atender às
regras que constam dos artigos 121 a 125 do CC.
2. FICÇÃO DE VALIDADE:
- Nos termos do 289º do CC, vale o princípio da retroatividade – se o contrato for inválido
destroem-se os efeitos até então produzidos, devendo ser restituído tudo o que tiver sido
prestado.
- Todavia, no contrato de trabalho, sendo este de execução continuada, com uma prestação de
facto material, seria difícil proceder-se à devolução da atividade realizada pelo trabalhador.
- Nos termos do 289º CC, se não for possível devolver as prestações, deverá ser entregue o
correspondente pecuniário.
- Invalidade do contrato de trabalho que tenha sido executado é invocável nos termos comuns:
Invalidade pode ser invocada a todo o tempo por qualquer das partes ou declarada
oficiosamente pelo tribunal (286º CC);
Se for celebrado um contrato de trabalho sem que o trabalhador tenha título
profissional habilitante para o exercício da profissão (117º CT), a nulidade pode
ser invocada tanto pelo empregador como pelo trabalhador (sem necessidade de
recurso a tribunal) implicando a imediata extinção, com efeitos para o futuro, do
contrato de trabalho.
79
Exemplo dos vícios na formação da vontade das partes no contrato de trabalho levam à invalidade do mesmo.
Joana Mil-Homens
- Regime estabelecido no artigo 122º/1 CT para os contratos de trabalho inválidos também pode
ser aplicado a situações laborais ineficazes, como aquelas em que houve falta de legitimidade
para emitir a declaração negocial80, sempre que a execução verificada justifique a proteção que
o 122º/1 CT pretende conferir ao trabalhador.
- 122º/2 CT: Estabelece que também quanto aos atos modificativos inválidos do contrato, a
invalidade não tem eficácia retroativa.
- Importa atender a 3 situações:
1) Contrato de trabalho inválido com ato modificativo válido:
- Não tendo as partes detetado essa invalidade, se o alterarem, a modificação produz
efeitos até à declaração de nulidade ou de anulabilidade.
Ex: Contrato de trabalho nulo e durante o período da execução, o trabalhador foi
promovido. Esta promoção mantém-se com todas as suas consequências até o contrato
ser declarado inválido.
80
Por exemplo, falta de poderes de representação.
103
- Se num contrato de trabalho nulo, o empregador não invocar a invalidade e despedir
ilicitamente o trabalhador, haverá o dever de pagar uma indemnização, nos termos
previstos no artigo 489º/1/a) CT.
- Ou seja, aplicam-se as regras do despedimento como se o contrato fosse válido.
3. CONVALIDAÇÃO:
- 125º CT – nos termos deste artigo, verifica-se a convalidação se cessar a causa de invalidade
durante a execução do contrato.
- Contrato passa a válido se, na pendência da sua execução, cessar a causa de invalidade.
Ex: Determinado NJ inválido pelo trabalhador ter idade inferior a 16 anos, quanto este atinge a
maioridade laboral, o contrato convalidar-se-á. Tal como, se a invalidade (nulidade) advir da falta
de carteira profissional, se esta for obtida na pendência do contrato, haverá uma convalidação.
- No direito civil não há regra geral quanto à convalidação de atos nulos, como há no direito
laboral (125º/1). Contudo, a convalidação de NJs nulos nem sempre justifica o princípio de
eficácia automática.
Ex: Contrato de trabalho celebrado com base em coação física (246º CC), cessada esta causa de
invalidade, o contrato não se poderá considerar automaticamente convalidado. Porém, em casos
como na nulidade por falta de carteira profissional (117º/1 CT) a cessação da causa de invalidade
já permite a imediata convalidação do contrato.
Joana Mil-Homens
- Artigo 124º CT pressupõe a eventualidade de uma das partes desconhecer da ilicitude. Neste
caso, o NJ manter-se-á. Porém, sendo que se trata de um contrato de execução continuada, pode
ocorrer que, na sua execução, a outra parte venha a ter conhecimento do fim ilícito. A partir deste
momento o contrato será nulo, porque ambas as partes prosseguem um fim ilícito.
- Contudo, a parte que esteve de boa fé durante um período de tempo tem direito a fazer sua a
vantagem que a outra parte de má fé obteve.
Ex: Alguém trabalha numa garagem e não sabe que está a adaptar automóveis roubados, a sua
retribuição não reverterá para o Instituto referido acima até ao momento em que teve
conhecimento da verdadeira finalidade da atividade desenvolvida.
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SECÇÃO IV – CONTEÚDO
Subsecção I – Conteúdo característico do tipo contratual:
2. OBJETO:
- 115º CT – Trabalhador obriga-se a desempenhar a atividade para que foi contratado. Mas o
trabalhador está vinculado a desenvolver funções diversas daquelas para que foi contratado, desde
que sejam afins ou funcionalmente ligadas á atividade contratada e o trabalhador detenha a
qualificação profissional adequada e não impliquem desvalorização profissional (118º/2).
- Estas funções afins ou funcionalmente ligadas à atividade contratada devem ser apreciadas perante
o caso concreto, mas estas podem advir do facto de se encontrarem compreendidas no mesmo
grupo ou carreira profissional (118º/3).
- O requisito pode ficar preenchido através da complementaridade de tarefas.
Ex: Trabalhador cuja categoria determina o exercício de funções de secretariado, pode ser incumbido
de, acessoriamente, dar apoio ao telefonista.
2) Trabalhador deve deter a qualificação profissional para desenvolver a nova tarefa (118º/4
e 130º e ss).
- Mas, também se impõe que a função afim não pode levar a uma desvalorização
profissional, tanto no plano hierárquico como funcional.
Joana Mil-Homens
- Pelo facto de o trabalhador passar a exercer uma função diversa da atividade contratada não
decorrerá qualquer desvalorização profissional (118º/2/parte final CT), nem diminuição da
retribuição (120º/4 CT). Aliás se a “nova” função tiver uma retribuição mais elevada do que da
atividade contratada, o trabalhador terá direito a um acréscimo determinado de forma proporcional
às horas a que desempenha a função afim/funcionalmente ligada (120º/4).
3. DEVER DE URBANIDADE:
- O dever de urbanidade (128º/1/a)) corresponde a uma norma de conduta, a uma regra de atuação
social.
- Esta regra tem um triplo direcionamento:
Relações do trabalhador com o empregador e superiores hierárquicos:
Ex: Viola o dever o trabalhador que insulta o superior hierárquico | O trabalhador que,
ao sair de uma reunião com a Direção, bate com a porta e afasta-se a falar em tom alto
de forma a ser ouvido na sala de reunião | Ou o trabalhador que preenche uma etiqueta
com dizeres injuriosos para os superiores hierárquicos.
Relações do trabalhador com os companheiros de trabalho:
Relações do trabalhador com qualquer pessoa que entre em contato com a empresa, em
especial os clientes:
Ex: Trabalhador que introduziu um programa pornográfico no computador da empresa,
que se encontrava numa sala a que o público tinha acesso.
- Grau de exigência quanto ao dever de urbanidade depende das circunstâncias, visto que existem
situações em que se impõe um comportamento mais cuidadoso por parte do trabalhador.
Ex: Relativamente ao tratamento de clientes, o comportamento exigível a um empregador de um hotel de luxo
será diferente daquele que é devido por um empregado de uma pensão.
- Para averiguar a eventual violação do dever de urbanidade deverá ter-se em conta o
circunstancialismo em que se desenvolve a relação laboral como, por exemplo, ao meio em que o
trabalhador se insere.
Ex: Acórdão STJ de 19/2/1998 – a utilização de expressões grosseira, por serem normalmente utilizadas no
local de trabalho pelos trabalhadores, incluindo o gerente, não constituía justa causa de rescisão do contrato
pelo trabalhador. Mas por outro lado, no acórdão do STJ de 3/3/1998, já se considerava uma violação ao dever
de urbanidade e uma justa causa de despedimento o facto de o ajudante técnico da farmácia cheirar mal,
andar com a bata suja e limpar as unhas com a tesoura de balcão.
- O dever de urbanidade não se limita ao âmbito de execução do contrato de trabalho, sendo um
dever social existem certas situações em que pode ser exigível fora do local e tempo de trabalho.
Ex: Viola o dever de urbanidade o trabalhador que, num domingo, insulta o patrão que encontra na rua ou o
trabalhador que, fora da empresa, agride um colega de trabalhador que não aderiu à greve.
107
- Quanto à prática de crimes, quando a vítima não tem qualquer relação com a empresa, não é
pacífico que consubstancia a violação do dever de urbanidade.
Ex: É considerado de justa causa, o despedimento de um trabalhador condenado a 3 anos de prisão por fazer
parte uma rede de tráfico de heroína.
- O trabalhador que desenvolve a sua atividade sem zelo ou com falta de diligência, com consequente
perda de rendimento, é negligente, sendo o cumprimento defeituoso.
- As faltas de zelo e de negligência têm de ser aferidas por parâmetros objetivos, segundo o padrão
do bom pai de família, em face das circunstâncias de cada caso. Se a infração não for grave, não
integra justa causa de despedimento.
- Tanto a falta de zelo como negligência podem respeitar à execução da prestação principal, que foi
deficientemente executada, tal como ao cumprimento de deveres secundários e acessórios – como
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no caso de o trabalhador ter sido descuidado na guarda e conservação de bens que lhe foram
confiados pelo empregador para a execução da atividade,
- Relaciono com o zelo e a diligência, cabe aludir ao artigo 128º/1/h) do CT, esta obrigação do
trabalhador implica um empenhamento na realização da sua atividade, de molde a cumpri-la de
forma produtiva; obrigação igualmente relacionada com o zelo e a diligência. Se o trabalhador for
zeloso no exercício da sua atividade, a sua prestação será muito provavelmente produtiva para o
empregador. Se a falta de produtividade advir de um comportamento negligente do trabalhador
estar-se-á, de novo, perante cumprimento defeituoso.
6. DEVER DE LEALDADE:
- 128º/1/f) CT.
- Dever de lealdade corresponde a uma obrigação acessória de conduta, que advém da boa fé; ínsita
no princípio geral constante do artigo 126º do CT e 762º/2 CC.
- A nível laboral, o princípio do cumprimento das prestações contratuais de boa fé encontra
concretização, nomeadamente, no dever de lealdade.
- O dever de lealdade mesmo entendido numa relação anónima, massificada terá de ser apreciado
perante a situação concreta.
- No dever de lealdade incluem-se 2 situações exemplificativas: não entrar em concorrência com o
empregador e não divulgar informações – são normalmente designadas por dever de não
concorrência e dever de sigilo.
Porém, é uma enumeração exemplificativa, sendo que existem outras obrigações que os
trabalhadores têm de respeitar, como obrigações de conteúdo negativo e positivo, ou seja, que
pressupõem uma omissão ou uma ação:
Obrigações de conteúdo negativo é de indicar o dever de o trabalhador não se apropriar
de bens do empregador. Para além do furto há outros comportamentos negativos que
implicam a violação do dever de lealdade relacionados com situações que encontram
alguma similitude com o furto. Exs: trabalhador usa abusivamente o telefone da empresa
para fazer chamadas para uma linha erótica; ou trabalhador que se serve abusivamente
de veículo da empresa; ou se o vendedor da empresa vendeu produtos por valor inferior
ao da compra e não facultou ao empregador os elementos dos negócios realizados.
Obrigações de conteúdo positivo: poderá ser, eventualmente, o dever por parte do
trabalhador de informar o empregador sobre as suas condições física para realizar
determinada atividade, durante um certo período de tempo (106º), se bem que há que
ter em conta que as informações sobre o estado de saúde do trabalhador poderão
influenciar a prossecução da sua atividade (motorista com problemas de visão), por outro
lado, há que ter em conta uma determinada esfera da vida pessoal do trabalhador,
relativamente à qual não há a obrigação de prestar informações. Outros deveres de
conteúdo positivo poderá ser o dever que o trabalhador terá em reduzir os prejuízos que
possam ser causados ao empregador em caso de incêndio de outra situação de perigo.
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também adquire os conhecimentos técnicos necessários ao desenvolvimento daquela
atividade.
o termo das suas funções. Tal como os empregados bancários estão sujeitos ao dever de
segredo, depois dos termos das suas funções.
- Na falta de cláusula contratual ou de disposição legal que imponha uma obrigação pós-
contratual de sigilo, termina a relação laboral não subsiste o dever de lealdade para com o
empregador.
- Dever de sigilo prende-se como se indica no artigo 128º/1/f) 2ª parte, com aspetos
referentes à organização empresarial, aos métodos de produção e aos negócios do
empregador.
- Numa certa perspetiva, o dever de sigilo encontra-se relacionado com a não concorrência,
sendo que a respetiva violação pode conduzir a um mesmo resultado. Ao visar que o
trabalhador não divulgue os negócios, os métodos de produção e o estilo de organização
empresarial do empregador, tenta-se impedir que outras empresas entrem em concorrência
com a entidade patronal.
- Todavia, o dever de sigilo subsiste mesmo que a divulgação dos factos não implique ou não
facilite a concorrência. A obrigação de não prestar informações com a empresa não se limita
às hipóteses onde se colocam problemas de concorrência.
- Haverá dever de sigilo sempre que a divulgação de factos relacionados com a empresa, que
não são conhecidos ao público, possa implicar um prejuízo para o empregador.
Exemplo: Divulgar que o empregador está com dificuldades económicas, tal informação,
ainda que verdadeira, pode acarretar prejuízos para a entidade patronal, que não estão
diretamente ligados com a concorrência, designadamente, no caso de os fornecedores se
recusarem a vender produtos a crédito.
7. DEVER DE CUSTÓDIA:
- 128º/1/g) CT: resulta um dever de custódia e de utilização prudente dos bens que o empregador
tenha confiado ao trabalhador, para este executar a atividade.
- Tratam-se de deveres de cuidado e de proteção, assentes na boa fé, que derivam do facto de, para
o cumprimento da prestação laboral, ser necessário que uma parte (o empregador) confie à outra
(o trabalhador) certos bens.
Não é necessário que se descortine uma declaração negocial específica a consagrá-lo.
- Os deveres de cuidado e de proteção não se circunscrevem aos bens que o empregador tenha
entregado ao trabalhador, estando abrangidos por estes deveres todos os instrumentos da produção
empresarial com que o trabalhador tenha, direta ou indiretamente, de lidar na prossecução da sua
atividade.
Ex: Se o trabalhador se apercebe que uma caldeira está a funcionar mal deve, de imediato, avisar o
responsável.
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10. LOCAL DE TRABALHO; DETERMINAÇÃO:
- 193º CT.
- Local onde a prestação de trabalho deve ser executada depende de estipulação expressa ou tácita
das partes e, na falta desta, da interpretação do negócio jurídico, atendo às circunstâncias em que
o trabalho se desenvolve.
- Se não existir estipulação expressa ou tácita do lugar de cumprimento da prestação de trabalho,
há que ter em conta a natureza das coisas – tendo em conta o tipo de funções a desempenhar, o
local de trabalho será determinado, implicitamente, nos termos da interpretação negocial.
- A regra será de que a natureza das coisas aponta para que o local de trabalho seja na empresa,
junto do empregador, mas há atividades ambulatórias, como a do mecânico que é contratado para
reparar máquinas em casa dos clientes do empregador ou do motorista incumbido de conduzir
camiões TIR, em que o local de trabalho pode ser uma zona geográfica, como um distrito ou país.
- O local de trabalho deverá manter-se durante a execução do vínculo laboral, mas pode haver
vicissitudes que impliquem a sua alteração.
- Não se admite que a mudança de local de trabalho seja uma consequência de uma sanção
disciplinar aplicada ao trabalho, pois o elenco de sanções só poderá ser acrescentado por
instrumentos de regulamentação coletiva (328º CT).
- Princípio da inamovibilidade (129º/1/f) não tem caráter injuntivo, pois existem exceções no
CT, no IRCT ou por acordo das partes.
- A liberdade contratual é limitada pelo princípio da voa fé, daí a cláusula de mobilidade ter de
ter sempre uma justificação empresarial que se funda no interesse da empresa.
- A mudança do local de trabalho do trabalhador para outro estabelecimento, não pode causar
um prejuízo sério ao trabalhador (194º/5 CT).
- Há que distinguir 2 situações:
Mobilidade Geográfica:
- A mudança de local de trabalho é definitiva.
Transferência temporária de local de trabalho (194º/1):
- A ordem de transferência deverá ser dado por escrito e devidamente fundamentada pelo
empregador (196º CT).
- Do artigo 196º e da boa fé decorre que o empregador, tendo em conta os elementos de que
dispõe (como morada, agregado familiar, etc) e podendo até consultar o trabalhador antes de
proceder à mudança do local de trabalho, terá de demonstrar que não há eventuais prejuízos
para o trabalhador, devendo fazer prova dos factos constitutivos do direito de alterar o local de
trabalho (342º/1).
- Ao trabalhador, incumbe fazer prova de factos que possam contrariar a alegação do
empregador, demonstrando que tem prejuízo sério, o trabalhador terá de fazer prova dos
factos impeditivos (342º/2 CC).
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- A transferência de estabelecimento, prevista no artigo 194º/1/a) CT, é norma que afete vários
trabalhadores devido à mudança total/parcial das instalações. Transferência que está sujeita
a um parecer prévio da comissão de trabalhadores (425º/b) CT).
- Tal como a transferência individual, a de estabelecimento poderá ser temporária ou definitiva.
- Existem vários motivos para que a empresa queira transferir as suas instalações como:
incentivos fiscais, pôr em prática regras de segurança ou antipoluição ou melhorar a
localização em termos de vias de comunicação.
- Estas mudanças de localização da empresa não poderão ser impedidas pelos trabalhadores,
mesmo que estes invoquem prejuízo sério, pois o que está em causa é a liberdade de iniciativa
económica do empregador, no que respeita ao local onde decide exercer a atividade.
Mas o trabalhador não está totalmente desprotegido, sendo possível este resolver o
contrato com direito a indemnização (194º/5 CT).
Este direito à indemnização existe mesmo que a atuação do empregador não seja
culposa.
A resolução do contrato cumular-se-á, assim, com um pedido de indemnização previsto
no artigo 366º CT.
Porém, a resolução estará dependente da existência de um prejuízo sério, que se
determina de acordo com os parâmetros anteriormente indicados: 342º/2 CC – cabe ao
trabalhador alegar as circunstâncias de facto que integram o prejuízo sério invocado.
Se o prejuízo sério não for provado, o trabalhador não poderá resolver o contrato
invocando justa causa (394º/3/b) CT), pois entende-se que a alteração não seja
substancial.
- Depois de fixado, o período normal de trabalho, não pode ser unilateralmente alterado
quer por vontade do empregador quer por vontade do trabalhador. Contudo, parece que
nada impede à alteração unilateral do período de trabalho por parte do empregador, quando
se fala de uma redução pouco significativa (8h para 7h) e corresponder a uma necessidade
da empresa.
- Poderá haver um acréscimo do período normal de trabalho em 2 situações:
203º/2;
203º/3.
11.1.2. ADAPTATABILIDADE:
- O período normal de trabalho poderá ser adaptado, implicando aumentos e reduções do
valor de referência – 204º e ss CT.
- A adaptabilidade engloba 3 realidades:
Adaptabilidade grupal: 206º CT;
Banco de horas: 208º CT;
Horário concentrado: 209º CT.
- Em qualquer destas hipóteses visa-se que o período de trabalho diário seja aumentado até
4 horas diárias, compensando-se este acréscimo com redução de tempo de trabalho em
outros dias ou com pagamento em dinheiro.
- A adaptabilidade terá por fonte um IRCT (204º CT) ou um acordo entre empregador e
trabalhadores (205º), com regimes diversos. É possível que a adaptabilidade decorre de
decisão do empregador sem o acordo de todos os trabalhadores (206º CT), mas com um
número significativo de trabalhadores para a adaptabilidade ter relevo na vida empresarial.
- Adaptabilidade Individual – 205º - período normal de trabalhador pode ser aumentado e
esse acréscimo deverá depois ser compensado nos momentos de menor atividade, de forma
a que, em médio, o período de trabalho de referência não exceda as 8 horas diárias e as 40
horas semanais.
115
- Concluindo: o período de funcionamento é uma referência para efeitos da determinação do tempo
de trabalho na empresa, não impondo que as atividades sejam exclusivamente empenhadas nesse
intervalo de tempo, nem condicionando o horário de trabalho.
- Ainda que o estabelecimento esteja, por exemplo, encerrado ao público ou seja, fora do período
de abertura, isso não impede que haja atividade laboral. O funcionamento de estabelecimento de
venda ao público pode exceder o respetivo período de abertura, porque existem várias tarefas que
têm de ser desempenhadas antes da abertura e depois do encerramento ao público (201º/1).
- O respeito pelo período de funcionamento na organização dos horários de trabalho (212º/1) não
será violado pelo facto de alguns trabalhadores terem um horário de trabalho que não coincida com
o período de abertura ou de laboração, pois desempenham tarefas que têm de ser desenvolvidas
fora desses períodos.
- Cabe ter em conta também aos intervalos de descanso de cada jornada de trabalho – 212º/2,
213º e 214º.
- O horário de trabalho vigente na empresa deve constar de um mapa afixado nos termos do
artigo 216º/1.
Joana Mil-Homens
2ª) Trabalhador pode prestar mais algumas horas de trabalho do que aquelas que
resultariam do período normal de trabalho, mas esse acréscimo está definido.
- 219º/1/b).
3ª) Trabalhador, não tendo um horário fixo, não presta em cada dia mais do que o período
normal acordado.
- 219º/1/c).
- Aproxima-se das situações de flexibilidade.
- A não sujeição ao limite máximo do período normal de trabalho (219º/1/a)) tem de ser
interpretada criteriosamente, não se admitindo que, por via deste regime, o trabalhador fique
obrigado a trabalhar ininterruptamente, ou que constitua regra desempenhar a atividade 12
ou 14 horas por dia. O que neste caso caracteriza a isenção não é a falta de sujeição aos limites
máximos normas, mas sim a ausência de horários predeterminados para início, pausa de
descanso e termo do trabalho.
- Assim, mesmo que vigora a egra da isenção sem sujeição a limites máximos, o trabalhador
continuará a ter direito a férias, aos descansos semanais e feriados, tendo ainda de ser
respeitado o descanso interjornadas, que não poderá, por regra, ser inferior a 11 horas (214º).
117
- Normalmente, ajusta-se a isenção tendo em conta situações temporários ou durante um
período estipulado, mas se assim não for, deve dar-se prevalência ao acordo das partes (só
pode ser alterado por mútuo consenso).
- Há quem admita81 que caducando a isenção no fim do período e o empregador não renova
a isenção esta caduca, não sendo preciso o consentimento do trabalhador. Mas durante o
período acordado para vigorar o regime de isenção não poderá cessar unilateralmente.
81
Nunes de Carvalho, Mário Pinto e Furtado Martins.
Joana Mil-Homens
- A especial cautela que o legislador revela no regime do trabalho por turno rotativos (221º e ss)
justifica-se pelo facto de o ser humano estar sujeito a ciclos biológicos diários e a alternância entre os
períodos de trabalho e respetivos intervalos de descanso poderá ter consequências ao nível da saúde
do trabalhador e no próprio rendimento deste.
- Basicamente, estaremos perante trabalho suplementar quando a atividade for realizada em dia de
trabalho fora do horário, mesmo que compreendido no período normal, ou se for prestada em dia de
descanso.
- A tolerância de 15 minutos concedida pelo artigo 226º/3/c) para terminar a atividade iniciada, desde
que tenha carácter excecional (203º/3) já não integra a noção de trabalho suplementar. Tal como não
integra o trabalho prestado em regime de adaptabilidade (204º e ss), o trabalho prestado em dia de
trabalho normal por trabalhador isento de horário (218º e ss), o trabalho prestado para compensar
suspensões de atividade e as ações de formação profissional realizadas fora do horário de trabalho
que não excedam 2 horas.
119
aumento de trabalho). O trabalhador não será obrigado a prestar o trabalho suplementar quando se
integrar numa das categorias de trabalhadores protegida (ex: 59º) ou se solicitar a dispensava
invocando um motivo atendível (conceito indeterminado) – 227º/3.
- O trabalho suplementar implica um acréscimo retributivo determinado nos termos do artigo 268º. O
pagamento do trabalho suplementar depende de 2 requisitos:
Realização do trabalho suplementar deve ser prévia e expressamente determinada pelo
empregador;
Beneficiário da atividade pode não ter dado tal ordem, mas o trabalho suplementar foi
realizado de modo a não ser previsível a oposição do empregador.
- Caso a atividade realizada pelo trabalhador não se enquadrar na noção de trabalho suplementar não
decorrerão as consequências deste instituto, como o pagamento do acréscimo retributivo (268º) com
uma única exceção:
Se o trabalho for prestado num feriado que corresponda a dia normal de trabalho, porque a
empresa não encerra, não é trabalho suplementar, mas o trabalhador tem direito ao
acréscimo retributivo ou ao descanso compensatório (269º/2).
- O legislador tem vindo a reduzir as hipóteses em que o empregador possa recorrer a este tipo de
trabalho, daí as limitações estabelecidas no artigo 228º.
- Limite das 150 e 175 horas por ano (228º/1/a) e b)) e de duas horas por dia (228º/1/d)) não será tido
em conta sempre que o trabalho suplementar seja prestado em situações de força maior (como
227º/2), caso em que o limite será ficado pelo valor das 48 horas semanais (211º/1).
- A empresa que recorra a trabalho suplementar deve proceder ao registo das horas assim
desempenhadas (231 CT).
12.4. FERIADOS:
- Os feriados não visam conceder ao trabalhador um repouso. Porém, indiretamente, como no dia
de feriado o trabalhador não tem de prestar atividade poderá dedicar-se ao lazer, havendo nesta
medida uma relação entre os feriados e o repouso concedido ao trabalhador.
- Lei estabeleceu feriados obrigatórios, taxativamente indicados (234º).
- Admitem-se ainda 2 feriados facultativos: 3ª Feira de Carnaval e o Feriado Municipal, dependendo
o primeiro de determinação governamental e o segundo de decisão municipal (235º).
12.5. FÉRIAS:
- Direito a férias tem consagração constitucional – 59º/1/d) CRP. E 237º e ss CT.
- O período de férias tem a duração mínima de 22 dias úteis por cada ano de trabalho e reportar-
se ao ano anterior (237º/2 e 238º/1 CT).
- Direito a férias não depende de efetividade no trabalho (237º/2), mesmo que o trabalhador tenha
faltado justificadamente ou não tenha prestado atividade por a empresa não ter laborado, o direito
a férias manter-se-á por inteiro.
121
- Quanto aos trabalhadores que iniciarem ou cessarem a atividade no ano a que se reportam as
férias, o artigo 239º estabelece regras quanto à determinação de dias de férias. Há, todavia,
especificidades relativamente aos trabalhadores cujos contratos tenham uma duração inferior a 6
meses (239º/4 e ss).
- Em princípio, as férias deverão ser gozadas no ano civil imediato, mas admite-se excecionalmente
que o trabalhador goze cumulativamente férias de 2 anos (240º).
- O direito a férias é irrenunciável (237º/3); não sendo válido o acordo entre o empregador e o
trabalhador que vise renunciar o direito a férias, nem sequer se poderá substituir as férias por
prestações pecuniárias – estes acordos seriam nulos (294º CC). A renúncia encontra-se limitada a
2 dias, como decorre do artigo 238º/5.
- No caso de o empregador, culposamente, impede o gozo das férias do trabalhador pagará o triplo
da retribuição correspondente ao período em falta e o prestador da atividade gozará as férias de
que não usufruiu no primeiro trimestre do ano civil seguinte (246º CT). O impedimento deverá
consistir numa ordem ilícito no sendo de o trabalhador não usufruir de férias. A situação será
diferente se houver um acordo no sentido de o trabalhador prescindir do seu direito a férias,
mediante uma contrapartida monetária, o ajusto será nulo à mesma, mas não será devido o triplo
da retribuição.
- A marcação de férias é feita por acordo comum entre o empregador e o trabalhador, mas se,
eventualmente, não existir consenso, as férias serão determinadas pelo empregador dentro dos
parâmetros estabelecidos no 241º.
- Nos artigos 243º e 244º prevêem-se situações em que as férias poderão ser alteradas, por vários
motivos, feita a marcação para determinada data poder-se-ão fazer modificações ou, inclusive,
interromper as férias. Admite-se que as férias sejam suspensas, se o trabalhador adoecer no gozo
delas (244º).
- Durante o período em que o trabalhador goza das férias, em princípio, este não poderá
desenvolver outra atividade renumerada, não sendo, consequentemente, lícito trabalhar para
outrem (247º/1 CT). Contudo, na hipótese de pluriemprego, as férias poderão, ou não, ser
marcadas nas mesmas datas pelos diferentes empregadores e o trabalhador, estando em férias
numa empresa, pode continuar a trabalhar na outra empresa com retribuição (247º/1/ parte final).
No gozo das férias, o trabalhador poderá exercer atividades não renumeradas, porque se
pressupõe que não o vão fatigar, permitindo a sua recuperação física e psíquica.
12.6. FALTAS:
- As faltas justificadas podem, eventualmente, estar relacionadas com a recuperação física ou
psíquica do trabalhador.
- 248º/1: Definição de falta;
- 249º/1: Distinção entre faltas justificadas e injustificadas. O número 2 indica, de forma taxativa,
as faltas justificadas, sendo que as demais serão consideradas faltas injustificadas (/3).
- O elenco das faltas justificadas corresponde a uma tipicidade aberta, porque, para além da
indicação constante da alínea j) que remete para a lei indefinida, são também consideradas
justificadas as faltas autorizadas ou aprovadas pelo empregador (249º/2/i)). Ou seja, por acordo,
podem ser acrescentadas faltas justificadas ao elenco da lei e, em última análise, qualquer falta
poderá ser considerada justificada pelo empregador.
- Não será admitido, contudo, que o elenco de faltas justificadas, à exceção das que se relacionem
com as dadas por sindicalistas, possa ser alterado por IRCT (250º).
Joana Mil-Homens
- Para a falta ser justificada, esta deve-se enquadrar na enumeração do 249º/2 e também deve ser
comunicada ao empregador (253º), na qual se menciona a razão da mesma. Sendo indicado um
dos motivos legais de justificação, cabe analisar se o empregador pode averiguar e questionar a
validade da razão invocada.
- Quanto à prova do motivo justificativo da falta e à sua impugnação – 254º CT e 17º e ss Lei
nº105/2009.
- A comunicação sendo exequível, deverá ser feita com uma antecedência mínima de 5 dias, ou,
então, quanto a faltas imprevistas, a obrigação de comunicar será cumprida posteriormente,
dentro de um prazo curto.
- Comunicação da falta não carece de qualquer forma, basta que o trabalhador informe o
empregador da falta e apresente a respetiva prova, quando solicitada.
- Sendo as faltas justificadas estas, em princípio, não determinam uma perda de direitos por parte
do trabalhador como antiguidade, retribuição, etc (255º/1), ou seja, não deverão ter qualquer
repercussão na relação laboral.
Contudo, em caso de falta justificada, o empregador não terá de pagar a retribuição, se a
mesma for satisfeita por um seguro ou pela seguradora social (255º/2/a) e b)).
Também não serão retribuídas faltas justificadas de trabalhadores eleitos para estruturas de
representação coletiva (409º/1). Será, contudo, devida a estes trabalhadores a devida
renumeração quanto aos créditos de horas e de dias estabelecido para as comissões de
trabalhadores (422º) e associações sindicais (467º e 468º).
Faltas autorizadas ou aprovadas pelo empregador não são retribuídas (255º/2/d)).
123
- 271º/1: Retribuição horária é calculada tendo por base o período normal de trabalho semanal e
não os dias da semana ou do mês.
- Contudo, no caso de o trabalhador prestar a atividade num dia de descanso semanal obrigatório
ou complementar, a lei impõe que seja renumerado com um acréscimo de 50%, ou seja, metade
do que receberia por qualquer outro dia de trabalho (268º/1/b) CT). Tendo trabalhado num dia de
descanso semanal obrigatório, o trabalhador terá direito a gozar um outro dia de descanso nos 3
dias úteis seguintes (229º/4). Mesmo que o trabalhador tenha prestado trabalho suplementar
durante 2 horas num domingo, teria direito a um dia de descanso compensatório – esta solução
não é pacífica.
- Feriados são retribuídos. Não são descontados para efeitos de determinação do montante da
retribuição (269º).
- Se o trabalhador exercer atividade num feriado, terá direito a um acréscimo de 50% da
retribuição, tal como em relação ao trabalho desempenhado no dia de descanso obrigatório ou
facultativo (269º/2), com a diferença de que o dia do feriado já é renumerado. Em alternativa ao
acréscimo retributivo, o trabalhador poderá optar por descanso compensatório com duração de
metade do número de horas prestado (269º/2).
- Férias também são renumeradas (264º/1) e, além da retribuição, o trabalhador também terá
direito a um subsídio, que corresponde a um acréscimo salarial, em princípio, de montante igual
ao do ordenado (264º/2 e 3)
- Complementos da retribuição como os subsídios de refeição, transporte e de representação não
serão devidos sendo que não se justificam, pois eles são pagos de forma a fazer face a despesas
que só têm sentido quando realmente se presta a atividade.
- Existem dúvidas quanto a saber se, na retribuição de férias e no respetivo subsídio, se deva incluir
certos acréscimos de retribuição, como comissões de venda, prémios de produtividade, etc, na
medida em que estes complementos estão diretamente relacionados com a prestação da
atividade. Na dúvida, estes e outros subsídios como o de trabalho noturno, de turno ou de
isolamento, devem integrar a retribuição correspondente ao mês de férias, mas não o respetivo
subsídio.
- 264º/2: dispõe que o subsídio de férias só integra a retribuição base e as demais prestações
retributivas que sejam contrapartida do modo específico da execução do trabalho. Assim, o
subsídio de renda de casa não deverá integrar o subsídio se férias porque durante as férias não se
pagam duas rendas de casa.
- Para concluir, as faltas justificadas, à exceção das situações previstas no 255º/2 não levam à perda
de retribuição. No caso de faltas que impliquem perda de retribuição, por acordo, poderão ser
substituídas por dias de férias, desde que se assegure o gozo efetivo de 20 dias úteis de férias
(238º/5 por via do 257º/1) ou por trabalho suplementar não renumerado (257º/1/b)82).
Exemplo: 245º/1/b:
Não aproveitou das férias no ano de 2017, então ele vai receber 5000 pelas férias de 2016 mais um
subsídio de férias que corresponde às férias vencidas não gozadas (5000) e se ele só trabalhar só
meio ano, relativamente a 201, vai receber 2500 de férias e 2500 de subsidio (245º/1/b)).
82
Caso do dirigente sindical que, por 30 dias consecutivos, se encontra impedido de trabalhar para prestar funções no sindicato, dá
faltas justificadas não renumeradas – Ac. STJ de 22/10/1996.
Joana Mil-Homens
XXV. RETRIBUIÇÃO:
1. IDENTIFICAÇÃO:
- 258º e ss.
- Sendo o contrato de trabalho um contrato oneroso este é caracterizado pela existência de uma
contraprestação patrimonial por parte do empregador.
3.3. PERIODICIDADE:
- Este elemento leva à conclusão de que a retribuição deverá ser prestada de forma regular e
periódica, devido a 2 aspetos:
Trata-se de um contrato de execução continuada, significando que a atividade se
prolonga no tempo, logo a contraprestação também deverá ser efetuada com
periodicidade.
A ideia de periodicidade também se relaciona com a natureza sinalagmática do contrato
de trabalho pois o pagamento periódico da retribuição deve-se ao facto de a atividade
ser efetuada de forma contínua e sendo uma relação sinalagmática a sua
contraprestação deve-se protelar no tempo, sendo devida com periodicidade.
125
- A regularidade da prestação também se prende com o princípio da inalterabilidade do
vencimento. A ideia é a de que a retribuição deve ser constante, devendo o trabalhador ter
direito a uma prestação por vários motivos como o da previsibilidade de rendimentos.
- Contudo, devemos ter em conta que nem sempre a prestação auferida será de igual montante,
ou seja, nem toda a renumeração tem de ser certa. Por vezes, o trabalhador pode ser credor de
prestações incertas: prestações flutuantes:
Exemplo: Casos em que são pagas comissões de venda, se estas integrarem a
retribuição haverá flutuação pois as prestações ficam na dependência da atividade que
o trabalhador tenha realizado num determinado mês.
Contudo, e tendo em conta o disposto no artigo 273º do CT, relativo à retribuição
mínima mensal garantida, é imprescindível que parte da retribuição seja certa, a
designada «retribuição base». A qualquer pessoa será devida, como base
remuneratória, o salário mínimo. Na parte que exceda a retribuição mínima garantida,
o valor da retribuição já poderá ser variável.
- A retribuição em dinheiro tanto pode ser efetuada em euros, como em moeda estrangeira –
dependendo de acordo – e como o pagamento pode ser em moeda escritural, torna-se cada
vez menos frequente que os salários sejam pagos em papel-meda, sendo a retribuição, por via
de regra, efetuada por transferência bancária.
83
O automóvel fornecido pelo empregador só é de incluir na retribuição se acarretar um benefício económico para o
trabalho, por evitar, a aquisição de veículo próprio e as consequentes despesas que este se importa – Acórdão STJ de
15/6/1994.
Joana Mil-Homens
- Sendo uma gratificação irregular feita pelo empregador, mas não garantida, ainda que
de valor pecuniário, não integra o conceito de retribuição por não corresponder a uma
contrapartida da atividade (260º/1/b).
84
Subsídio de combustível só constitui retribuição caso se prova que a atribuição é feita aos trabalhadores com caráter
obrigatório (Ac. Rel. Cb. de 5/3/1992). Tal como constituem meras liberalidades a promessa de pagamento de um
complemento de reforma (Ac. Rel. Lx de 15/5/1991) ou o bónus instituído como prémio de produção no caso de ter
existido lucros (Ac. Rel. Ev de 14/7/1992).
127
- O facto de estarem antecipadamente garantias significa que estas prestações são
devidas assim que se verifiquem os respetivos pressupostos, não dependendo de uma
apreciação discricionário do empregador.
5. PRESUNÇÃO:
- Havendo dúvidas quanto aos elementos integrantes da noção de retribuição, presume-se que
constituem salário as prestações que o empregador efetua ao trabalhador (258º/3).
85
Possibilidade de usar veículo da empresa não constitui retribuição.
Joana Mil-Homens
- Trata-se de uma presunção ilidível que permite qualificar como retribuição os pagamentos que o
empregador faz ao trabalhador, mesmo que não se demonstre a respetiva relação sinalagmática e
a periodicidade do pagamento; ou seja, havendo dúvidas, cabe ao empregador provar que a
prestação efetuada não integra o conceito de retribuição.
- 272º/2 – compete ao julgar resolve a dúvida de qualificação.
- Quanto às prestações não retributivas, aplicam-se as regras gerais de direito civil, sendo um
trabalhador um credor comum.
129
- Tal como a retribuição em espécie não pode implicar a violação do disposto no artigo
129º/1/h), proibindo ao empregador de impo aos trabalhadores a aquisição de bens ou a
utilização de serviços fornecidos pela entidade patronal ou por terceiro por ela indicado.
Ex: Empresa de fornecimento de produtos alimentares não pode impor uma retribuição em
espécie a ser paga com esses mesmos produtos alimentares. Caso diferente será o caso do
empregador que tem uma cantina em que as refeições são confecionadas com bens produzidos
ou comercializados na empresa – será uma forma de pagamento em espécie que não viola o
129º/1/h).
- Os complementos salariais conduzem a desigualdades retributivas, mas não se pode dizer que
violem o artigo 59º/1/a) da CRP (270º/2ª parte CT) visto que os complementos visam renumerar
a diferença entre trabalhadores, porque há diversidades de produtividade, antiguidade, etc.
8. DETERMINAÇÃO:
8.1. ASPETOS COMUNS:
- A determinação da retribuição releva, pois, a sua fixação não depende apenas das regras de
mercado, tal como não deve correspondem apenas à contrapartida da atividade desenvolvida
pelo trabalhador. Ditam também aspetos sociais (59º/1/a) CRP e 23º/3 DUDH).
SUBSÍDIO DE FÉRIAS:
- 264º/2.
- O montante de subsídio de férias compreende a retribuição base e as outras
prestações retributivas que sejam contrapartida do modo específico da execução do
trabalho.
- Legislador determina que apenas devem ser incluídos no subsídio de férias os
complementos que se referem à própria prestação do trabalho (penosidade,
isolamento, toxicidade, trabalho noturno, turnos rotativas) e não os complementos
que pressupõe a efetiva prestação da atividade quer respeitem ao próprio
trabalhador ou ao seu desempenho (prémios, gratificações, comissões, etc) ou que
sejam despesas que o trabalhador teria por causa da prestação de trabalho, quando
devam considerar-se retribuição (subsídios de refeição, de transporte).
SUBSÍDIO DE NATAL:
- Corresponde a um mês de retribuição (263º).
- Só abrange a retribuição base e as diuturnidades, excluindo os complementos
retributivos que o trabalhador aufere, salvo disposição convencional em sentido
contrário (262º/1 e 263º).
131
- Como garantia do trabalhador, estabeleceu-se o princípio da irredutibilidade, que proíbe a
diminuição da retribuição.
10. CUMPRIMENTO:
10.1. VENCIMENTO:
- 278º/1.
- Por via de regra, a retribuição vence-se depois de decorrido o período a que respeita, ou seja,
só depois de o trabalhador prestar a sua atividade. Porém é regra e não corresponde a um
imperativo legal.
11. PRESCRIÇÃO:
- 337º e ss CT afasta-se do regime civil (300º e ss CC).
Joana Mil-Homens
- Prazo de prescrição de 1 ano a partir do dia seguinte àquele em que cessou o contrato de trabalho,
e não a partir da data do vencimento dos créditos ou do conhecimento pelo trabalhador.
- No demais, aplica-se o direito civil: regras de inderrogabilidade, necessidade de invocação,
irrepetibilidade da prestação, suspensão e interrupção e contagem do prazo (300º, 303º, 304º, 318º
e ss, 323º e ss, 279º e 296º do CC).
133
XXVI. DEVERES ACESSÓRIOS DO EMPREGADOR:
- Para além do dever de pagar a retribuição, sobre o empregador impendem vários outros deveres.
Tais obrigações acessórias foram integradas num designado dever de assistência.
- Os deveres acessórios do empregador constituem uma concretização do princípio da boa fé (126º
CT) e a enumeração constante do artigo 127º é exemplificativa, sendo completada pela especificação
do artigo 129º e 130º e ss.
- A violação destes deveres de assistência (ex: obrigação de proporcionar boas condições de trabalho)
constitui motivo de resolução do contrato com justa causa, nos termos do artigo 394º/2 CT.
1.1. CARACTERIZAÇÃO:
- 128º/1/e) e 97º.
- Poder de direção conferido ao empregador funda-se no contrato de trabalho.
- A subordinação jurídica assenta no poder de direção do empregador e no respetivo dever de
subordinação do trabalhador.
- 97º: empregador tem o poder de conformar a prestação do trabalho em função dos
interesses que pretende ver prosseguidos.
- Poder de direção não é ilimitado, sendo que o trabalhador não deverá obediência ao
empregador quando se trate de ordens ou instruções contrárias aos seus direitos e garantias,
nomeadamente as previsões do artigo 129º/1. Também há que atender à reserva de
intimidade da vida privada do trabalhador (26º/1 CRP) ou ao seu direito de personalidade (70º
e ss CC e 14º e ss CT). Pode, então, o trabalhador legitimamente desrespeitar a ordem
recebida, se esta colidir com as garantias que a lei lhe atribuiu.
2. PODER DISCIPLINAR:
2.1. CARACTERÍSTICAS:
- Poder disciplinar corresponde à faculdade que o empregador tem de impor sanções ao
trabalhador.
- Trata-se de uma forma de autotutela86 que o empregador pode exercer contra o trabalhador,
sujeita a fiscalização judicial.
- Não existindo uma tipificação de infração disciplinar, importa delimitar a faculdade de o
empregador impor sanções ao trabalhador.
- Poder disciplinar destina-se a fazer face a situações de responsabilidade disciplinar, ou seja,
atuações do trabalhador em violação do contrato de trabalho/obrigações contratuais, daí que
esta matéria se encontre regulada na parte do incumprimento do contrato de trabalho (323º
e 328º e ss).
- A ação disciplinar pode ser exercida contra qualquer trabalhador, independentemente da
posição hierárquica que ocupa na empresa, na pendência do contrato de trabalho, ainda que
suspenso.
- O poder disciplinar só se extingue com a cessação do vínculo laboral (98º/1/parte final),
cabendo ao empregador o recurso ao regime da responsabilidade civil para exigir uma
indemnização.
- Este regime só tem significado no seio empresarial, nas relações comunitário-pessoais (como
serviço doméstico) o exercício do poder disciplinar (98º e 328º e ss) perde o sentido.
86
Tal como a exceção de não cumprimento do contrato (428 e ss CC) ou a resolução do contrato com base em
incumprimento definitivo do mesmo (801º/2 CC).
135
- Infração disciplinar prescreve passado 1 ano a contar do momento da prática do facto ilícito,
a não ser que constitua igualmente crime (329º/1).
- Empregador procede às diligências necessário, incluindo as diligências probatórias, onde terá
de provar os factos alegados.
(…)
2.3. FUNDAMENTO:
- Duas teorias para fundamentar o poder disciplinar: contratualista e institucionalista.
(…).
Joana Mil-Homens
- O pacto de não concorrência, para além de reduzido a escrito (136º/2/a)) só poderá ser ajustado
se a atividade a exercer pelo trabalhador após a cessação do contrato, eventualmente para uma
empresa concorrente, puder causar prejuízo ao empregador (136º/2/b) CT).
Estão em causa eventuais danos económicos relacionados com o desvio de clientela, a utilização
do know-how, etc.
- Como condição da validade cláusula, impõe-se que se atribua ao trabalhador, durante o período
de limitação da liberdade de trabalho, uma compensação (136º/2/c)), que corresponde a um valor
de ressarcimento pela limitação à liberdade de contratar.
- A cláusula não tem de constar da versão inicial do contrato de trabalho, o acordo pode ser
incluído numa alteração ao negócio jurídico, inclusive de acordo revogatório do contrato de
trabalho.
87
«por acordo»; «as partes podem»; «pelo menos»; «pode ser instituído».
137
- Por regra, o pacto de não concorrência terá como duração máxima 2 anos, contados após a
cessação do contrato de trabalho (136º/2), pelo que, sendo estabelecido um período superior, o
acordo converte-se no prazo máximo legal. Contudo, relativamente a determinado tipo de
trabalhadores, a não concorrência poderá ser prolongada até 3 anos (136º/5).
- Parece também concluir-se que a limitação é geográfica, tal como no contrato de agência, pois
a empresa empregadora pode ter uma área limitada de implantação.
- O incumprimento do pacto de não concorrência constitui um facto gerador de responsabilidade
civil contratual em relação ao trabalhador faltoso (798º e ss CC) e, eventualmente, de
responsabilidade civil delitual com respeito á empresa que tiver contratado esse trabalhador, caso
se admita a eficácia externa das obrigações e estejam preenchidos os pressupostos da
responsabilidade do terceiro cúmplice.
- O desrespeito, por parte do trabalhador, do pacto de não concorrência, pode integrar uma
atuação lícita sempre que encontre aplicação o artigo 81º CC – se o pacto de não concorrência
constituir uma limitação lícita de um direito de personalidade do trabalhador, se este se
desvincular com base nesse pressuposto, o ato será lícito, mas leva à indemnização ao
empregador. É uma situação comum de responsabilidade objetiva por intervenções lícitas.
3. PACTO DE PERMANÊNCIA:
- 137º/1 – condiciona a liberdade de o trabalhador denunciar o contrato de trabalho nos termos
do artigo 400º.
- Todavia, o acordo não impede a que o trabalhador resolve o contrato com justa causa (394º/1)
ou seja despedido com justa causa (351º), caso em que não tem de compensar o empregador
(137º/2)88.
- O pacto de permanência só poderá ser acordado se o empregador tenha tido ou preveja ter
despesas avultadas com a formação profissional do trabalhador. Tratam-se de despesas
extraordinárias investidas na formação do trabalhador, por oposição às despesas correntes de
formação, que constituem um encargo do empregador (127º/1/d) e 130º e ss).
- Suportando o empregador os gastos de cursos dispendiosos, necessários à formação profissional
do trabalhador, é lícito estabelecer no contrato uma cláusula impondo um pacto de permanência
que não pode ter uma duração superior a 3 anos (137º/1).
- Esta cláusula pode constar da versão inicial do contrato de trabalho, ou em qualquer alteração
deste ou constar de um pacto autónoma, coligado com o contrato de trabalho.
- Cláusula de permanência não carece de forma escrita (≠ pacto de não concorrência).
- Encontra-se então excluída a opção de denúncia do contrato de trabalho, mesmo que com pré-
aviso, mas não estão excluídas outras formas de cessação, como a resolução.
- Trabalhador pode desobrigar-se restituindo ao empregador a importância despendida por este
na formação (137º/2).
- Sendo o pacto de permanência uma limitação voluntária dos direitos de personalidade, ainda
que legal, a sua revogação será libre, desde que indemnize os prejuízos causados às legitimas
expetativas do empregador (81º/2 CC).
- Quanto à violação do pacto de permanência, vale o que foi dito quanto ao pacto de não
concorrência.
88
Se o trabalhador manipular a situação de forma a ser despedido com justa causa para obter a desvinculação
antecipada do vínculo laboral, já é admissível que indemnize o empregador por violação do pacto.
Joana Mil-Homens
4. PACTO DE EXCLUSIVIDADE:
- Tal como os dois pactos anteriores, também corresponde a uma limitação voluntária dos direitos
de personalidade do trabalhador, pelo que, sendo legal, será sempre revogável, devendo o
empregador ser indemnizado (81º/2 CC).
- O pacto de exclusividade determina que o trabalhador fica impedido de desenvolver qualquer
outra atividade, por conta alheia ou por conta própria, em benefício de outrem. Não sendo
permitido, por isso, o pluriemprego (que já é permitido no pacto de não concorrência se não se
violar o dever).
- O pacto de exclusividade costuma estar associado a um acréscimo retributivo (como o subsídio
de exclusividade), mas também aqui vigora o princípio da autonomia privada.
- Se o trabalhador violar o pacto de exclusividade, para além da indemnização a ser feita nos
termos gerais da responsabilidade contratual, há que verificar se se encontram preenchidos os
pressupostos necessários para o despedimento (351º/1). Se o trabalhador se desvincular a
responsabilidade será objetiva (81º CC) o que leva à questão de saber se realmente estão
preenchidos os requisitos do 351º/1. De qualquer forma, a quebra do sinalagma poderá levar à
extinção do vínculo.
- A matéria do contrato de trabalho ao termo encontra-se regulada nos artigos 139º e ss na secção
das «Modalidades de Contratos de Trabalho».
139
- O artigo 140º determina um regime com várias particularidades, porém a imperatividade não
impede a derrogação de vários aspetos do regime por IRCT. Salvo situações especiais, este regime
não pode ser modificado por contrato de trabalho (3º/5).
- A admissibilidade do contrato a termo assenta numa cláusula geral (140º/1) que alude a 3
fundamentos/razões de ser para a celebração de um contrato a termo:
Transitoriedade do trabalho a efetuar:
- Como substituição temporária de trabalhadores, acréscimo temporário ou excecional de
atividade, atividade sazonal ou tarefa ocasional – 140º/2;
Recurso à contratação como meio de redução do risco empresarial estando em causa uma
inovação ou uma atividade que não se insere no objeto corrente da empresa
empregadora.
- Admite-se, então, que o trabalhador seja contratado a termo em caso de lançamento de
nova atividade ou de início de laboração da empresa ou estabelecimento – 140º/4/a);
Evitar ou reduzir o número de desempregados:
- Como a contratação de trabalhadores à procura de primeiro emprego u de
desempregados de longa duração – 140º/4/b).
- Também cabe referenciar outras situações excecionais em que a contratação a termo é imposta
pelo legislador:
Relações laborais com desportistas profissionais (8º da Lei nº 28/98, de 26 de Junho).
Trabalhador reformado ou que tenha completado 70 anos poderá manter a relação
laboral desde que o contrato seja a termo certo de 6 meses (348º CT).
Serviço doméstico (5º do DL nº 235/92, de 24 de Outubro);
Acresce também a liberdade de celebração de contratos a termos de muito curta duração,
não superior a 15 dias, em que não se requer nem forma para o contrato nem justificação
para a inclusão do termo (142º CT).
- Contrato a termo é formal (141º/1) e está sujeito a várias formalidades (141º/1/alíneas) que
ainda se devem conjugar com as obrigações de informação dos artigos 106º e ss e, em especial,
com a justificação do termo (140º/5). A exceção é o contrato a termo de muito curta duração
(142º) que não se encontra sujeito a forma escrita.
- Entre as indicações constantes do 141º/1, relevam a referência ao termo estipulado e a indicação
do motivo justificativo (141º/1/e)), pois a respetiva falta implica a invalidade do termo,
considerando-se que foi celebrado um contrato de trabalho sem termo (147º/1/c)), ou seja, o
contrato passa a subsistir sem a cláusula, sem termo.
Joana Mil-Homens
- De acordo com o artigo 141º/3, a indicação do motivo justificativo deverá ser feita mencionando
de forma expressa os factos que o integram. Não basta remeter para a previsão legal, deve-se
mencionar a situação concreta.
- Incumbe ao empregador fazer prova dos factos que justificam a aposição do termo no contrato
de trabalho (140º/5), tal como já fazia prever o regime geral de distribuição do ónus da prova.
- A falta de indicação da atividade contratada, retribuição, local e período normal de trabalho
(141º/1/b) e c)) não acarreta qualquer sanção. Veja-se, todavia, o disposto no artigo 106º/3.
- Pelo contrário, a falta de indicação da data de início do trabalho (/d)), tal como a data de
celebração da celebração do contrato e, eventualmente, do seu termo (/f)), individualmente, não
implicam qualquer consequência, mas se faltarem ambas as referências invalida-se a aposição do
termo (147º/1/c)).
- O termo também será nulo se o contrato não estiver assinado com a indicação do nome ou
denominação das partes (147º/1/c)), sendo que estão em causa razões de segurança na
identificação e vinculação das partes.
2. CONTRATO A TERMO:
2.1. CONTRATO A TERMO CERTO:
- CT pode ser celebrado a termo certo (140º/1) ou incerto (140º/3).
- Contrato de trabalho a termo certo será celebrado, em princípio, por um prazo de 6 meses
(148º/2) e, depois do decurso do prazo, contrariamente ao que determinam as regras gerais
de direito civil, não havendo comunicação em contrato, o contrato não caducará, pois, a
caducidade opera por manifestação de vontade receptícia (224º/1) CC).
- Apesar de não ser comum, também é possível que conste no contrato uma cláusula no
sentido de que este não se renovará no fim do prazo, o que fará com que a caducidade opere
de modo automático. O contrato perdura pelo período acordado, podendo ou não se renovar.
- Quanto ao período de vigência, na falta de regas específicas, recorrendo ao regime comum,
em particular ao artigo 279º/b) CC, na contagem do prazo, não se incluiria o dia em que o
contrato se começa a executar, mas essa solução levaria a que um dia trabalho efetivo não
fosse contabilizado.
- Relativamente à caducidade cabe distinguir consoante a declaração é emitida pelo
empregador ou trabalhador:
Se o empregador pretende pôr termo ao contrato, deverá enviar uma declaração de
vontade demonstrando intenção de não o renovar, declaração que deve ser feita por
escrito e com a antecedência mínima de 15 dias em relação ao prazo estabelecido no
contrato (344º/1), independentemente de a relação laboral se encontrar suspensa, a
denúncia tem de ser efetuada com a antecedência referida em relação ao termo do
contrato (295º/3).
141
- A invocação da caducidade é discricionária, podendo a declaração ser emitida
mesmo que o motivo para a contratação subsista.
- Se a caducidade do contrato for invocada pelo empregador, contrariamente às regras
gerais, implica o pagamento de uma compensação ao trabalhador, fixada nos termos
do despedimento coletivo (366º por força do 344º/2.
Se a caducidade resultar de declaração de vontade do trabalhador, a denúncia
também tem de revestir a forma escrita, mas a antecedência é reduzida para 8 dias
(344º/1). Sendo a caducidade desencadeada pelo trabalhador, este não tem direito à
compensação do 344º/2.
- Na falta de declaração de vontade, o contrato renova-se por igual período (149º/2),
considerando-se que o acordo inicial e o renovado correspondem a um único contrato
(149º/4).
- Mas a renovação só é válida na medida em que, no momento da sua verificação, o
motivo inicial da contratação a termo ainda subsista (149º/3).
- A declaração de vontade em sentido contrário à renovação tanto pode ser a denúncia
(344º CT) como uma cláusula aposta ao acordo nos termos da qual se determina que
o contrato a termo não está sujeito a renovação (149º/1).
- Não se pode renovar o contrato de trabalho a termo por mais de 3 vezes e, como limite não
poderá exceder 18 meses, 2 anos ou 3 meses (consoante os casos – 148º/1/a) a c)) sob pena
de conversão do contrato a termo em contrato por tempo indeterminado (147º).
- Nos casos previstos no 140º/4, a duração de contrato, independentemente de qualquer
renovação, não pode exceder os 2 anos (148º/1/b));
- E tratando-se de trabalhador à procura do primeiro emprego, o prazo de duração do contrato
não poderá exceder os 18 meses (148º/1/a)).
- O período máximo será de 3 anos, como se encontra estabelecido pelo artigo 148º/1/c)
quanto aos restantes tipos de contratos a termo certo.
XXXI. TELETRABALHO:
1. NOÇÃO:
- 165º CT – teletrabalho pressupõe que a prestação laboral seja realizada com subordinação
jurídica, habitualmente fora da empresa do empregador, e através do recurso a tecnologias de
informação e de comunicação.
- O teletrabalhador neste contexto (existência de subordinação jurídica) tem um contrato de
trabalho, pelo que o regime dos artigos 166º e ss do CT não se aplica a outros prestadores de
atividade que recorram a tecnologias de informação e de comunicação na realização da sua tarefa,
mas que não estejam vinculados pelo regime laboral.
Assim, um prestador de serviços ou mesmo um trabalhador com contrato equiparado (10º
CT), independentemente do modo realiza a sua atividade, não será qualificado como
teletrabalhador para efeitos dos artigos 165º e ss.
- Teletrabalho apresenta vantagens para as empresas pois leva á redução de custos devida à
menor exigência de espaço na empresa para instalar os empregadores. Também apresenta
vantagens quanto aos trabalhadores pois permite que estes não tenham de se deslocar para a
empresa, facilitando a execução de outras tarefas o que leva a uma flexibilidade de horário.
2. REGIME:
- Deve revestir de forma escrita (166º/4) e atender às outras formalidades indicadas nas alíneas
do artigo 166º/1.
- A falta de redução do contrato a escrito e a não indicação do cargo ou funções a desempenhar
com menção expressa do regime de teletrabalho implica que o contrato de trabalho não se
considera sujeito ao regime de teletrabalho (166º/2).
- O trabalhador pode ter sido inicialmente contratado no regime de teletrabalho ou, tendo já
contrato com a empresa, passar a regime de teletrabalho (166º/1).
- No regime de teletrabalho, o trabalhador está sujeito às regras gerais quanto ao período normal
de trabalho (169º/1), mas pode estar isento de horário (169º/1).
- O artigo 170º tenta conciliar o respeito pela privacidade do teletrabalhador com o controlo da
atividade por parte do empregar (poder de direção).
- O isolamento do trabalhador relativamente à empresa, como ao contato com os restantes
colegas e ainda à falta de inserção na estrutura organizativa leva a que não haja progressão da
carreira e, por isso, se admite, em certos casos, a reversão da situação, regressando o trabalhador
ao regime comum (166º/6) e a possibilidade de manter contatos com as estruturas de
representação coletiva (171º).
143
relativas aos titulares desses cargos de administração e direção. Instrumento de regulamentação
coletiva de trabalho, poderá acrescentar cargos.
De qualquer forma, será sempre necessário uma «especial relação de confiança» e o desempenho
de «funções de chefia».
- Podemos então concluir que este regime assenta na existência de uma organização empresarial,
para o exercício de atividades de administração, de direção ou de secretariado relacionado com
estas funções. Daí não serem abrangidas pelo regime atividades, que apesar de fundadas numa
relação especial de confiança, não se inserem nas funções de administração e direção. Logo, não
parece aceitável que o advogado contrate a sua secretária pessoal em regime de comissão de
serviço.
2. REGIME:
- Contrato tem de ser celebrador por escrito (162º/3), com as indicações constantes do 163º/3.
- Na inobservância da forma exigida ou se não for mencionado no texto escrito que o trabalhador
é contratado em regime de comissão de serviço, considerar-se-á que a relação laboral fica sujeita
ao regime comum (162º/4).
- Este regime apresenta uma particularidade no que toca à cessação das funções e,
eventualmente, do vínculo laboral estabelecido entre o trabalhador e a empresa.
Neste regime, a cessação de funções, corresponde a uma denúncia, que visa impedir
a prossecução do vínculo jurídico e será de exercício discricionário com eficácia ex
tunc.
Relativamente à denúncia neste regime, importa distinguir 2 situações:
i. Se um trabalhador que tinha um vínculo laboral na empresa for contrato em
regime de comissão de serviço, a cessação da comissão de serviço, que deverá
ser precedida por um avisa prévia de 30 ou 60 dias, consoante o tempo de
duração da atividade tiver durado 2 ou mais anos, é de exercício livre de ambas
as partes (163º).
- Mas, cessada a comissão, o trabalhador terá direito a regressar às antigas
funções na empresa (164º/1/a)), podendo resolver o contrato caso não queira
regressar à antiga função (164º/1/b)).
- Neste caso, o trabalhador não tem direito à indemnização determinada nos
termos do artigo 164º/1/b) (que remete para o 366º), pois esta pressupõe a
cessação da relação laboral como consequência da extinção da comissão. Só
haverá lugar a indemnização se o contrato de trabalho cessar e não se o
trabalhador continuar ao serviço nas suas antigas funções. Resulta do 164º/1/c)
que se deve atender à extinção do vínculo contratual em consequência do termo
da comissão de serviço como pressuposto da compensação.
ii. Mas, se o trabalhador resolver o contrato nos termos do 164º/1/b) já terá direito
a compensação idêntica em sede de despedimento coletivas mesmo apesar de a
cessação ter sido requerida pelo trabalhador. (Solução questionável na opinião
do Prof RM, sendo que se afasta da solução prescrita na alínea c) e porque
contraria o pressuposto comum de a resolução invocada pelo trabalhador com
causas objetivas não levar ao pagamento de compensação (394º/3 e 396º/1).
- Do contrato de comissão de serviço pode ainda constar uma clausula que preveja a recolocação
do trabalhador em outra atividade, caso termine a comissão. Aqui, cessada a comissão o
Joana Mil-Homens
trabalhador não receberá a indemnização estabelecida no artigo 164º/1/c) pois o vínculo laboral
subsiste, mas terá direito a ser colocado na categoria prevista na cláusula do contrato.
- Se o contrato for omisso, cessada a comissão por iniciativa do empregador, cessa também a
relação do trabalhador com o empregador, recebendo aquele a compensação prevista no artigo
164º/1/c).
- Neste caso, parece que, do próprio contrato, para informação a prestar ao trabalhador, deverá
constar a previsão de cessação do contrato de trabalho como decorrência da extinção da comissão
de serviço; ou seja, o trabalhador deverá ser informado que cessando a comissão de serviço, cessa
automaticamente o contrato de trabalho.
- Neste âmbito, não vale a imperatividade constante do artigo 339º do CT, pelo que algumas
soluções poderão ser alteradas por acordo das partes (como a indemnização em caso do termo
da comissão mesmo que o vínculo não cesse).
145
SUBSECÇÃO III – SITUAÇÕES ESPECIAIS DE CONTRATO DE TRABALHO
1. IDENTIFICAÇÃO:
1.1. ENQUADRAMENTO:
- Esta figura pressupõe a existência de 2 negócios jurídicos, em princípio, sem qualquer
prioridade temporal entre eles:
Um primeiro negócio jurídico celebrado entre a empresa de trabalho temporário e o
trabalhador por ela contrato para executar atividades junto de terceiros.
- Subdivide-se em dois contratos: contrato de trabalho temporário (172º/a)), sujeito a
um regime especial, determinado, em grande parte, para uma remissão para o contrato
a termo; E contrato de trabalho por tempo indeterminado para cedência temporária
(172º/b)), a que também se aplica um regime especial.
Um segundo negócio jurídico ajustado entre a empresa de trabalho temporário e a
empresa utilizadora de mão-de-obra, designado «contrato de utilização de trabalho
temporário» (172º/c)).
- Este contrato é um contrato de prestação de serviço (172º/c)) e que, embora as
particularidades estabelecidas nos artigos 175 e ss, se encontra submetido ao regime
obrigacional comum, designadamente no que respeito à liberdade de cessação e de
estipulação da retribuição.
2. REGIME:
2.1. CONTRATOS:
- Tal como já foi dito, o regime de trabalho temporário assenta em 2 contratos: contrato de
trabalho temporário e o contrato de utilização.
- A ETT ajusta dois contratos: um contrato de utilização temporário com o utilizador e um
contrato de trabalho temporário (a termo ou por tempo indeterminado) com o trabalhador.
89
Decreto Lei, nº 260/2009, de 25 de Dezembro.
Joana Mil-Homens
- Contrato de utilização está sujeito à forma escrita (177º) e dele devem constar, além da sua
justificação (176º), as menções indicadas no artigo 177º/1.
- A falta de forma, tal como a falta de motivo, leva à nulidade (220º CC e 177º/4), considerando-
se que o trabalho é prestado pelo trabalhador ao utilizar em regime de contrato de trabalho
sem termo (176º/3). Solução será diferente se o utilizador ter contratado com uma ETT não
licenciada, pois, nesse caso, o vinculo definitivo estabelece-se entre a empresa de trabalho
temporário e o trabalhador (173º/1 e 3). Relação laboral também se estabelece entre o
trabalhador e o utilizador sempre que o trabalhador temporário continuar ao seu serviço
decorridos 10 dias após a cessação do contrato de utilização (178º/4).
- A preterição de algumas das formalidades do artigo 177º/1 (como as alíneas d) ou e)), não
podem ter como consequência a nulidade do contrato, podendo ser supridas posteriormente.
- Contrato de trabalho pode ser celebrado a termo certo ou incerto, dependendo do motivo
invocado para a celebração do contrato de utilização, apontado para a prioridade deste em
relação àquele.
- O termo certo e incerto rege-se pelo correspondente regime do contrato a termo, mas há uma
diferença relevante: enquanto a admissibilidade do contrato a termo assenta numa cláusula
geral (140º/1), com uma enumeração de situações exemplificativas (/2), por outro lado, para o
contrato de trabalho temporário há uma indicação de situações por remissão para algumas
alíneas do 140º/2, a que acrescem as previstas do 175º/1/a) a d) (por força do 180º/1).
147
- Contato de trabalho temporário está sujeito ao regime estabelecido nos artigos 180º e ss do
CT, com remissões para regras do contrato de trabalho a termo (182º/5), designadamente
quanto à respetiva caducidade (182º/6).
- Por outro lado, tendo em conta a dependência face ao contrato de utilização, a duração do
contrato de trabalho determina-se pelo prazo em que aquele contrato se estabelece (182º/1).
Mesmo que se trate de contrato de trabalho a termo incerto, dura pelo tempo necessário à
satisfação das necessidades temporários do utilizador, com os limites de 2 anos, 1 ano ou 6
meses (182º/4).
- Contrato de trabalho temporário tem um conteúdo especial: trabalhador obriga-se a prestar
a sua atividade, temporariamente, a um utilizador, diferente do empregador, mantendo o
vínculo laboral com este. Este NJ deve ser celebrado por forma escrita (181º/1) e com as
menções obrigatórias que constam do 181º.
Se a forma não for observada ou o motivo for insuficiente para justificação a celebração
do contrato, remete-se para a conversão do vínculo ajustado em contrato sem termo
(181º/2 e 147º/1/c)).
Diferentemente do artigo 176º/3 do CT, que determina que o contrato por tempo
indeterminado, se considera celebrado entre o trabalhador e o utilizador, neste caso o
contrato trabalho sem termo se estabelece com a empresa de trabalho temporário. A
solução será idêntica ao caso de contrato de trabalho celebrado com ETT não licenciada
(173º/3).
Deve entender-se que o vinculo se consolida entre a ETT e o trabalhador, pois não faria
sentido responsabilizar o utilizador por factos que não é imputável. Menezes Cordeiro,
diversamente, considera que o vinculo se considera com a empresa utilizadora
- Sendo o contrato de trabalho celebrado por tempo indeterminado (170º e ss), está sujeito a
determinadas formalidades (181º) e subsiste quando o trabalhador não se encontra em
situação de cedência temporário, podendo, então, ser reduzida a retribuição, porque há uma
suspensão – mesmo que parcial, do contrato de trabalho (184º/2).
- No trabalho temporário, a relação laboral – com ou sem termo – estabelece-se entre a ETT e
o trabalhador. Mas o poder de direção é atribuído ao utilizador (185º/2), cabendo o poder
disciplinar à ETT (185º/4).
Por isso, a ETT é o empregador formal, sendo atribuídos ao utilizado poderes específicos
do empregador, como determinação do local e tempo de trabalho.
- Trabalhadores temporários, por manterem o lanço contratual com a ETT, não se inserem no
efetivo do pessoal do utilizador (189º/1), mas no mapa do quadro de pessoal da ETT (189º/2).
- A retribuição base e subsídios e outras prestações retributivas serão determinadas em função
da categoria exercida na empresa utilizadora e nos moldes aplicáveis aos trabalhadores desta
(185º/5), assegurando-se o princípio da igualdade retributiva.
- Por via de regra, a retribuição deverá ser paga ao trabalhador pela ETT (2º/d) da LTT e 172º/a)
e 191º do CT), mas também poderá ser satisfeita diretamente pela empresa utilizadora, se o
contrato de utilização dispuser nesse sentido.
pelos acidentes de trabalho caso não tenha exigido da ETT a formalidade que consta do 177º/3
e sempre que o acidente tenha sido provocado por culpa do utilizador.
- Quanto à representação coletiva: repartição entre empresa de trabalho temporário e a
empresa utilizadora. Delimitação surge no 189º - se estiverem em causa matérias respeitantes
à ETT tem-se em conta a representação coletiva nesta empresa, estando em causa matérias
respeitantes ao utilizador atende-se à representação coletiva nesta empresa.
3. NATUREZA JURÍDICA:
- Trabalho temporário leva a uma fragmentação da posição jurídica do empregador, visto que os
poderes característicos do empregador (direção e disciplinar) são repartidos por 2 empresas.
- Quanto ao trabalhador, que tem vínculo laboral com uma empresa (ETT) e se integra na
organização empresarial de outra (utilizador) fica adstrito a deveres, como de lealdade, para com
ambas as empresas e a deveres em relação a cada uma delas (deveres do 128º).
- O incumprimento de tais deveres por parte do trabalhador, para além de fazer desencadear o
poder disciplinar da ETT, também poderá desencadear responsabilidade da ETT em relação à
empresa utilizadora. Responsabilidade que tanto pode assentar numa atitude culposa ou no risco
(500º e 800º CC).
- Relação triangular em que se baseia o trabalho temporário pressupõe uma união de contratos
funcionar e necessário, sendo, em princípio, unilateral ou parcialmente bilateral.
XXXV.
XXXVI.
XXXVII.
XXXVIII.
XXXIX.
XL.
XLI.
XLII.
XLIII.
XLIV.
XLV.
XLVI.
149
SECÇÃO VII – VICISSITUDES:
fosse alterado unilateralmente pelo empregador, caberia ao trabalhador opor-se; caso o não
fizesse presumir-se-ia que aderira.
- Contudo, no que toca ao conteúdo do regulamento interno cabe distinguir as normas
respeitantes ao contrato de trabalho – a que se aplica o 104º - das regras relativas à organização
empresarial. A estas últimas não pode o trabalhador opor-se. Por outro lado, o 217º/4 só
condiciona a alteração de horário individualmente acordada e o horário constante de
regulamento interno não foi ajustado para um determinado trabalhador.
- Mesmo assim, face a uma alteração fundamental das circunstâncias, o empregador poderá
alterar o horário de trabalho fixado individualmente com base no artigo 473º do CC, desde que os
respetivos pressupostos se encontrem previstos.
- A alteração do horário, como resulta do 217º/2 e 3, tanto pode ser definitiva como temporária.
A alteração temporária não superior a uma semana, encontra-se facilitada do ponto de vista
procedimental.
- Para proceder a uma alteração do horário de trabalho, o empregador deve, previamente,
informar e consultar os trabalhadores afetados e a comissão de trabalhadores ou, na sua falta, os
representantes sindicais (217º/2). A referida alteração deverá ser afixada na empresa com 7 ou 3
dias de antecedência em função da dimensão desta (217º/2).
- Cabe ainda o empregador comunicar à Autoridade para as Condições de Trabalho a alteração
(216º/3).
- Sempre que a alteração implique um acréscimo de despesas para o trabalhador serão as mesmas
compensadas pelo empregador (217º/5).
4. MUDANÇAS DE CATEGORIA:
- Quanto às alterações de categoria, importa distinguir as que derivam de uma promoção (que são
reguladas por acordo das partes ou IRCT), daquelas que implicam um retrocesso.
- Como resulta do 119º - que constitui um dos casos especiais em que esta garantia do trabalhador
pode ser afastada (129º/1/e)) - o trabalhador só pode ser colocado em categoria inferior àquela
para que foi contratado ou a que foi promovido com o seu acordo.
- A despromoção pressupõe mútuo consentimento e também se exige uma justificação:
necessidade premente da empresa ou estrita necessidade o trabalhador.
- Por fim, existe a formalidade que consiste na autorização da Autoridade para as Condições de
Trabalho relativamente à mencionada despromoção.
5. IUS VARIANDI:
- Poder de direção visa a conformação da prestação laboral (num sentido mais técnico). Num
sentido mais amplo, também abrange determinadas alterações ao programa contratual,
designadas por ius variandi.
- Mediante o ius variandi, é admitido que, em certos casos, o empregador introduza modificações
quanto a vários aspetos da atividade do trabalhador, como em relação ao modo de efetuar a
prestação. Havendo a obrigação das empresas de se adaptarem a novos condicionamentos, os
empregadores não podem ficar limitados quanto à possibilidade de reestruturação organizacional
da atividade laboral, como alterar o local, a atividade a desenvolver, o modo de execução, etc.
151
- O ius variandi pressupõe um desvio ao princípio pacta sunt servanda (406º CC), justificado por
motivos empresariais, que não constitui uma especificidade do Direito do Trabalho.
- As alterações impostas pelo empregador podem estar abrangidas pelo poder de direção (ex:
118º/2) e, nesse caso, não se incluem no ius variandi. Para existir ius variandi é necessário que a
alteração determinada pelo empregador esteja em contradição com o programa contratual, ou
seja, com as regras que direta ou indiretamente regem aquela relação laboral, deve-se impor a
realização de uma atividade diversa que não se compreende nas funções afins ou funcionalmente
ligadas.
Exemplo: Se o trabalhador foi contratado, simultaneamente, para motorista e mecânico de uma
empresa, apesar de só ter exercido as funções de motorista, caso lhe sejam incumbidas tarefas de
mecânico, não está perante o ius variandi. | Ou a alteração de funções para atividade afim ou
funcionalmente ligada (118º/2) também não corresponde ao ius variandi. |Mas, se o trabalhador
foi contratado para motorista e foi incumbido de servir no restaurante da empresa, estamos
perante ius variandi.
- Ius variandi encontra-se previsto no artigo 120º, que determina que cabe no poder de direção
do empregador encarregar temporariamente o trabalhador de desempenhar funções não
compreendidas na atividade contratadas. Poder que se encontra sujeito a vários pressupostos:
Primeiro, é um poder excecional do empregador, que não pode ser exercido de forma
discricionária. Tem de haver uma justificação no interesse da empresa, que deverá ser
indicado na ordem (120º/3).
Segundo, a lei só admite o ius variandi quando este implique uma alteração temporária,
para satisfação das necessidades esporádicas da empresa e não duradouras.
- Pode ser difícil determinar o que se deve estabelecer por «temporário», porém a
transitoriedade da alteração prende-se com o seu caráter excecional, por isso, se a
empresa recorrer habitualmente a alterações de duração prolongada, excede as
limitações do ius variandi.
- Contudo, a indefinição estará mitigada, pois exige-se que da ordem constem o tempo
previsível da alteração (120º/3).
Terceiro, o ius variandi não pode levar a uma modificação substancial da posição do
trabalhador. Será ilícito se a modificação implicar uma diminuição da retribuição,
contudo, se à nova tarefa corresponder uma renumeração mais elevada será esta a devida
(120º/4).
- Todavia, a alteração substancial temporária será admissível, sem perde de retribuição,
com o acordo do trabalhador.
- A modificação substancial da posição do trabalhador corresponde a um conceito
indeterminado, cuja concretização faz surgir dúvidas:
Trabalhador não pode ser obrigado a desempenhar uma tarefa diversa, que implique um
sacrifício excessivo, relativamente à atividade para a qual foi contratado. Assim, não lhe
poderão ser incumbidas tarefas mais penosas em termos físicos ou psíquicos.
Exemplo: Empregado de escritório de uma empresa de pesca não pode ser encarregado
de ir, alguns meses, para a faina no mar. | Trabalhador de funções que, tendo em conta a
sua posição na empresa, na sociedade, etc, sejam consideradas vexatórias.
- Também é de ponderar que não será lícita a ordem para desempenhar novas funções
para as quais o trabalhador não tenha preparação técnica.
- Contudo, não parece legítimo concluir que o exercício de uma função de categoria
inferior seja, necessariamente, uma modificação substancial.
Joana Mil-Homens
- O trabalhador não pode baixar de categoria, mas por via do is variandi, tem de
desempenhar as funções de uma categoria inferior, sempre que os pressupostos se
verifiquem. Só que em tais casos, o trabalhador terá direito à retribuição própria da sua
categoria, pois, do ius variandi, não pode resultar uma redução da renumeração base.
- Requisitos do ius varindi, a que se alude no 120º/1, têm de ser provados pelo empregador, nos
termos do 342º CC.
- Não estando verificados os respetivos pressupostos, o trabalhador poderá legitimamente
recusar a ordem de alteração de objetivo do contrato (128º/1/e)/2ª parte) e, em alguns casos,
podem estar preenchidos os requisitos para a resolução com justa causa (394º/2) ou para um
pedido de indemnização, sobretudo por danos não patrimoniais.
- Do 120º/2 resulta que podem haver alterações dos pressupostos da mobilidade funcional. Tanto
pode do acordo resultar que ao empregador não é lícito recorrer ao ius variandi como pode ser
possível ajusta o recurso a este mecanismo de forma mais simples como, por exemplo, sem
atender à posição do trabalhador na empresa.
- A alteração fundada em ius variandi pode ser total, passando o trabalhador a exercer a tempo
inteiro uma nova atividade, ou parcial. Neste último caso, o trabalhador, continua a desenvolver
a atividade correspondente à sua categoria, em parte. O caráter parcial da modificação, tanto
pode ser de algumas horas por dia, de alguns dias por semana, semanas por ano, etc.
- Salvo disposição em contrário, o trabalhador não adquire a categoria correspondente às funções
que exerce temporariamente (120º/5).
- Cabe averiguar, em que medida pode o empregador, no âmbito do seu poder de direção,
estabelecer um novo local de trabalho, atendendo aos limites dos artigos 129º/1/f) e 194º.
- Para que a mudança unilateral do local de trabalho seja admitida é necessário ponderar que o
trabalhador, muitas vezes, condiciona a sua vida pessoal em função do lugar onde trabalho
(arrendamento de casa, transportes, escola para os filhos). Por isso, a manutenção do lugar de
trabalho corresponde a um interesse fundamental do trabalhador e o artigo 129º/1/f) alude ao
princípio da inamovibilidade.
- Cabe então, atendendo ao regime dos artigos 194º e ss, averiguar em que medida pode o
trabalhador ser transferido de local de trabalho.
- Importa distinguir 2 situações de mudanças sujeitas a regimes distintos:
Mudança Interna do local de trabalho dentro da empresa ou estabelecimento) - o
poder de direção do empregador, relativamente à modificação do local de trabalho, não
153
está limitado, exceto nos casos em que o novo local de trabalho não proporcionar boas
condições de trabalho, o que pode levar a uma violação do artigo 127º/1/c).
- Quanto ao lugar físico onde o trabalhador desempenha a sua atividade, cabe ao
empregador decidir quanto à sua alteração dentro da área geográfica da empresa ou
estabelecimento, determinado, por exemplo, que o trabalhador deixa de exercer a sua
atividade no rés-do-chão passando para o 5º andar – nestes casos, não existe limitações
ao poder de direção, pois nem é necessário discutir a existência do prejuízo serio
aludido pelo artigo 194º. Não se está perante uma alteração do local de trabalho para
efeitos deste regime, cabendo, por isso, dentro do normal exercício do poder de
direção. Correspondem a uma normal gestão empresarial.
- Logo, estas alterações também não serão postas em causas pelo artigo 411º, que
estabelece o princípio de inamovibilidade dos trabalhadores eleitos para estruturas de
representação coletiva. O objetivo desta normal será que os dirigentes e delegados
sindicais não fiquem privados de contato com os colegas de trabalho, mas este tipo de
mudanças não põe em causa a prossecução de funções sindicais.
- Em qualquer caso, o critério do prejuízo sério será utilizado para aferir a legitimidade
da ordem ou para conferir ao trabalhador direito a resolver o contrato (194º/1/b) e /4).
Prejuízo sério terá de ser apreciado perante o caso concreto e dependerá,
nomeadamente, de uma deslocação muito mais morosa, de uma acrescida
dificuldade de transporte ou de a modificação ser temporário ou definitiva,
bem como a alteração ser individual ou do estabelecimento.
Para além de outros aspetos, o prejuízo sério deverá ser avaliado de acordo
com um parâmetro de boa fé no cumprimento do contrato.
O dever de colaboração impõe que o trabalhador sacrifique conveniências
pouco relevantes ao interesse da empresa, em contrapartida, tem de se
verificar, do ponto de vista empresarial, uma razão económica, técnica,
organizacional, etc, ponderosa, que justifique a mudança de local.
Exemplos: Prejuízo sério não corresponde a um incómodo sério ou transtorno,
como o que surge de mais horas de deslocação. Não se considera haver prejuízo
sério no caso em que o trabalhador demora mais 2 horas na deslocação. | Será
lícita a alteração do local de trabalho para uma distância de 20 km, se a empresa
fornecer viatura/combustível/transporte ao trabalhador. | Já se considerou
haver prejuízo sério no caso do trabalhador que exercia a sua atividade num
camião que circulava entre Lisboa e a Mealhada, residindo em Lisboa, se a
empesa o coloca a trabalhar na Mealhada. | Tal como no caso, em que o
trabalhador prestava a sua atividade em Lisboa e foi transferido para o Seixal,
obrigando-o a percorrer 50 km.
- A ordem de transferência deverá ser dada por escrito e deverá estar devidamente fundamentada
(196º CT). Deve identificar o interesse da empresa que justifica a transferência e a inexistência de
prejuízo sério para o trabalhador. Ao trabalhador cabe, se for caso disso, fazer contraprova de
que, afinal, existe um prejuízo sério, como deve provar os factos que integram este conceito.
Ou seja, ao empregador cabe fazer prova dos factos constitutivos do direito de alterar o
local de trabalho (342º/1 CC) e ao trabalhador cabe fazer prova de factos que possam
contrariar a alegação do empregador, tem de fazer prova dos factos impeditivos (342º/2).
- A transferência individual, mesmo que não cause prejuízo sério, não poderá ser ordenada a
trabalhadores eleitos para estruturas de representação coletiva (411º), pois o trabalhador poderá
ver assim frustrada a sua atividade sindical junto dos antigos colegas de trabalho. A transferência
só poderá ser feita com o acordo do trabalhador membro de estrutura de representação coletiva.
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- A transferência do estabelecimento pode ser temporária ou definitiva.
- A empresa pode transferir as suas instalações para outro local por vários motivos como isenções
fiscais, pôr em prática regras de segurança ou antipoluição ou melhorar a locação em termos de
vias de comunicação, etc.
- Mesmo invocando prejuízo sério, estas mudanças não poderão ser impedidas pelos
trabalhadores, podendo a empresa transferir as suas instalações sem acordo dos trabalhadores,
pois o que está em causa é a liberdade de iniciativa económica do empregador, no que toca ao
local onde decide exercer a atividade.
- Porém, havendo prejuízo sério causado ao trabalhador, este poderá, excecionalmente, resolver
o contrato com direito a indemnização, mesmo que a atuação do empregador não seja culposa
(194º/5 e 366º). É uma exceção pois resoluções fundadas em causas objetivas, por via de rega,
não atribuem direito a indemnização (396º).
A resolução do contrato encontra-se, contudo, dependente da existência de um prejuízo
sério, cuja determinação faz-se nos parâmetros já mencionados: na ordem de
transferência, o empregador justificará com os dados objetivos que disponha de que não
há prejuízo sério. O trabalhador alegra as circunstancias de facto que provam a existência
de tal prejuízo.
Se o prejuízo sério não for provado, o trabalhador não poderá resolver o contrato com
justa causa, pois não se entenderá que a alteração seja substancial (194º/5 e 394º/3/b)).
- O prejuízo sério implica a existência de uma alteração substancial e duradoura das
condições de trabalho. Não seria admissível que, sem a tal alteração substancial, o
trabalhador pudesse resolver o contrato. Poderá sempre recorrer à denúncia do contrato
com aviso prévio (400º).
- O empregador deve custear as despesas impostas pela transferência que decorram do acréscimo
de custos de deslocação e resultante de mudança de residência (194º/4). Exemplo: despesas de
mudança de casa ou mesmo o maior custo de transportes.
7. ALTERAÇÃO DA RETRIBUIÇÃO:
- Só poderá haver diminuição do montante da retribuição devida ao trabalho em determinadas
exceções – princípio da irredutibilidade salarial.
- Poderão haver alterações do valor retributivo por acordo.
Quanto ao aumento da retribuição devida ao trabalhador, não se prescreve entraves
legais, valendo a autonomia privada.
Para a redução do montante há que atender ao princípio da irredutibilidade salarial.
Atendendo ao disposto no artigo 129º/1/d), as reduções da retribuição que não resultem
de instrumento de regulamentação coletiva, necessitam de previsão legal.
No entanto, é admitido, por acordo autorizado pela ACT, que o trabalhador seja colocado
em categoria inferior (119º) com a consequente diminuição retributiva.
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XLVIII. REDUÇÃO DA ATIVIDADE E SUSPENSÃO DO CONTRATO:
1. REGRAS GERAIS:
- A redução da atividade laboral ou a suspensão do contrato de trabalho (294º e ss) pode assentar
no acordo das partes também podem, em determinadas situações, como as relacionadas com a
impossibilidade de realizar ou de receber a prestação, ser impostas a uma das partes.
- De qualquer forma, estar-se-á perante alterações ao programa contratual.
- A redução da atividade relaciona-se com a diminuição do período normal de trabalho,
distinguindo-se de outras modificações que respeitem às taregas ou ao horário de trabalho.
A redução do período normal de trabalho por facto que respeite ao trabalhador terá por base a
impossibilidade parcial de realização da atividade a tempo inteiro ou um acordo (294º).
2. SUSPENSÃO DO CONTRATO:
2.1. IDENTIFICAÇÃO:
- Apesar de os efeitos típicos da relação laboral não se verificarem durante um certo lapso de
tempo, pode admitir-se, por uma razão de estabilidade no emprego, que o contrato subsista.
- Ou seja, em casos de suspensão, o vínculo laboral subsiste, mas os seus efeitos principais,
em particular a prestação da atividade e o pagamento da retribuição, estão sustidos. Quanto
à retribuição, a suspensão poderá ser só parcial.
- Durante a suspensão, os direitos, deveres e garantias contratuais, que não pressuponham a
efetiva realização do trabalho, subsistem (295º/1) como os deveres de urbanidade, lealdade,
o dever do empregador «guardar o lugar», etc.
- Como o contrato de trabalho subsiste, o período de inatividade conta para determinação da
antiguidade (295º/2) e não se interrompe o prazo para efeito de caducidade (295º/3). Mas o
regime de férias já sofre modificações (245º).
- Existem 2 tipos de suspensão do contrato de trabalho:
A que resulta do acordo das partes – contratual;
A que é motivada por impossibilidade, não imputável às partes.
- Também haverá suspensão do contrato de trabalho, se ao trabalhador foi aplicada uma pena
de suspensão do trabalho com perda de retribuição e de antiguidade (328º/1/e)) ou uma
suspensão preventiva (354º), assim como no caso de ter aderido a uma greve (536º) ou de ter
requerido a suspensão do contrato por falta de pagamento da retribuição (294º/5; 323º/3 e
325º).
- Terminado o impedimento, deve o trabalhador apresentar-se para retomar o serviço, sob pena
de incorrer em faltas injustificadas (297º). Por isso, se possível, o trabalhador deve comunicar ao
empregador o motivo da suspensão, o tempo previsível da sua duração, eventuais prorrogações
e, com alguma antecedência, informar quando retoma o serviço. Estes deveres advêm da boa fé
na execução do contrato e da aplicação analógica adaptada do disposto no 253º.
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afetado gravemente a atividade normal da empresa, o empregador reduza os períodos
normais de trabalho ou suspensa a execução dos contratos de trabalho (298º/1);
Esta medida poderá ser também aplicada a empresas em situação económica difícil
(298º/3).
A redução do período normal de trabalho e a suspensão do contrato de trabalho
determinada nesses ermos será pelo período previamente definido, não podendo ser
superior a 6 meses e, eventualmente, a 1 ano, com prorrogação por mais 6 meses (301º).
Há uma situação parecida de suspensão parcial no regime de trabalho temporário em
relação aos trabalhadores contratados sem termo durante o período de inatividade
(184º/1 e 2);
Se o empregador preencher os requisitos para se aplicar o regime da redução da atividade
ou de suspensão contratual (299º e 300º), reduzir-se-á o período normal de trabalho ou
suspender-se-á o contrato, ficando, contudo com a obrigação de continuar a pagar a
compensação retributiva fixada no 305º.
Importa acrescentar que o lay off não prejudica o direito a férias do trabalhador cujo
contrato se encontra suspenso, assim como o direito ao pagamento do subsídio de férias
e de Natal (306º). Por outro lado, o dever de lealdade poderá sofrer uma restrição quando
se confere ao trabalhador o direito de exercer uma atividade renumerada fora da empresa
(305º/1/c)).
5. LICENÇA:
- Por acordo, poderá ser concedida ao trabalhador uma licença sem retribuição (317º/1). Em
regra, a licença é concedida pelo empregador a pedido do trabalhador.
- Porém, existem situações em que a licença pode ser concedida ao trabalhador sem acordo do
empregador – licenças obrigatórias (parentalidade – 41º e 42º); licenças a que o trabalhador tem
direito (relacionadas com formação por ser menor (67º/3) ou trabalhador estudante (92º).
- Quanto à licença relacionada com a formação, o empregador pode opor-se nas situações
indicadas no 317º/3.
- Sendo concedida a licença, aplica-se o regime de suspensão do contrato (295º).
6. PRÉ-REFORMA:
- Redução do período normal de trabalho ou a suspensão do contrato de trabalho pode decorrer
de um acordo de pré-reforma (294º e ss 318º e ss).
- Da inserção sistemática decorre que a pré-reforma constitui uma especificidade ao regime da
redução e suspensão do contrato de trabalho, o que significa que na ausência de regra especial,
se deve aplicar o quadro geral da suspensão, o que o artigo 294º/2/b) vem a confirmar.
- Ao abrigo da liberdade contratual (405º) o mútuo consentimento pode ser estabelecido de modo
tácito. Mas a pré-reforma, tal como as outras situações já analisadas acima, ainda que assente no
mútuo consentimento, apresenta determinados requisitos formais.
- A pré-reforma depende de 3 pressupostos constitutivos: ocorrência da redução ou suspensão da
prestação de trabalho; existência de um acordo entre as partes; trabalhador ter 55 ou mais anos.
- Ou seja, preenchidos os requisitos, pode o trabalhador, até à cessação do vínculo, em princípio
por reforma, prestar menos horas de trabalho ou deixar de realizar a atividade.
- O acordo de pré-reforma está sujeito a forma escrita e tem de conter as indicações do 319º.
- Trabalhador terá direito às prestações que forem acordadas, com o limite de redução da
retribuição do 320º (não pode receber menos de 25% da retribuição que auferia).
- A pré-reforma, resultando do acordo das partes, pode ser acordada com caráter transitório,
podendo ser reversível se o trabalhador retomar a atividade contratada (322º).
Joana Mil-Homens
XLIX. TRANSMISSÃO:
1. CESSÃO DA POSIÇÃO CONTRATUAL:
- Transmissão da posição contratual pode dar-se tanto pelo empregador como pelo trabalhador,
a segunda hipótese é incomum, mas possível.
- 424º e ss CC:
Empregador (cedente), com o consentimento do trabalhador (cedido), transmite a
terceiro (cessionário) a sua posição no contrato de trabalho. O cessionário, a partir do
momento em que a cessão produz efeitos, para a ser o empregador daquele trabalhador,
deixando o cedente de assumir essa qualidade.
Cessão de contrato de origem convenciona pressupõe 3 declarações de vontade:
A proposta e a aceitação do cedente;
A proposta e aceitação do cessionário;
Assentimento do trabalhador, que poderá ser anterior ou posterior à cessão.
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- Porém, em situações limite, a transferência, além de poder levar a uma alteração
substancial das condições de trabalho, que justifica a resolução (394º/3/b)), constitui
um facto ilícito de que se poderá responsabilizar o cedente.