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FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO
DIREITO
São Paulo
2022
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
São Paulo
2022
Para meus pais, Luís Carlos e Janie
Para meus irmãos, Júlia e Pedro
Este trabalho foi financiado por meio de bolsa dissídio, com apoio da Fundação de São Paulo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, Prof. Dr. Luís Carlos Ferreira de Almeida e a Profa. Dra. Janie
Maria de Almeida que sempre me apoiaram durante a graduação e que me proporcionaram
estudar em uma das melhores faculdades do país.
Ao meu irmão Pedro Luiz Ferreira de Almeida pelos valiosos conselhos e ajuda durante
toda a vida.
Aos meus amigos de infância, Bruno Baradel e Victor Queiroz, que foram suportes
essenciais durante toda a minha trajetória no curso de Direito da PUC-SP. Amizades que mesmo
com a distância nunca deixaram de apoiar e estarem presente em minha vida.
As minhas amigas Ana Melo e Érica Park, por toda a paciência e suporte durante a
graduação e conclusão do curso. Melhores amigas que tornaram meus dias mais engraçados e
leves.
Agradeço meus amigos Caio Macedo, Pietro Nastari e Davi Conte, mesmo com a minha
ida para o matutino nossa amizade nunca diminuiu, pelo contrário, apenas fortaleceu esse
vínculo que espero levar para a vida toda. A faculdade não teria sido 1% do que foi sem vocês.
Aos meus amigos João Dias, Matheus Juliani e Vitor Marques, fica meu agradecimento,
me acolheram quando mudei para o matutino e foram pessoas extremamente importantes para
meu crescimento e suas amizades serão levadas para a vida toda.
Ao meu amigo Matheus Pace pelas inúmeras risadas e apoio durante os últimos anos da
graduação.
Não posso deixar de falar do meu amigo Vinicius Brandão Crespschi. Sua amizade teve
papel importante não apenas para finalizar esse trabalho, mas também para terminar a
faculdade. O fim desse ciclo teve contribuição direta dele e por isso sou extremamente grato.
Finalmente agradeço o apoio dos colegas de trabalho, Stephanie Pereira, Filipe Nesi e
Vinicius Moreira por todo a ajuda durante a graduação e ensinamentos que levo para a vida.
If a machine, a terminator, can learn the value of human life, maybe we can, too.
Sarah Connor
RESUMO
The research aims to demonstrate how Public Administration has been using computational
technologies, with a focus on Artificial Intelligence to satisfy the Efficiency Principle. Thus, an
analysis is made approaching the concept of principle. Subsequently, it is analyzed in which
context the Efficiency Principle was incorporated by written law, approaching which
instruments the Administration has been using. standing out among these instruments, there is
Artificial Intelligence, in which it will be explained what it is, how it works and how the
legislation approaches the subject. Finally, practical cases are presented in which the Public
Administration used Artificial Intelligence to be more efficient.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 10
1.1 Justificativa do Tema ................................................................................................................ 11
1.2 Metodologia ............................................................................................................................... 12
1.3 Objetivos .................................................................................................................................... 12
2 CONCEITO DE PRINCÍPIOS NO DIREITO .............................................................................. 14
3 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA ....................................................................................................... 18
4 CONCEITO DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL ........................................................................ 24
5 TRATAMENTO NORMATIVO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO BRASIL ............... 29
6 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA SATISFAZER O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA ..... 34
7 CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 39
8 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................. 40
10
1 INTRODUÇÃO
Desde os primórdios da humanidade o ser humano vem buscando formas de tornar mais
eficiente suas atividades praticadas. A Primeira Revolução Industrial trouxe as máquinas a
vapor com o intuito de aumentar a eficiência de um trabalho que antes era exercido
normalmente por seres humanos. A Segunda revolução, durante a segunda metade do século
XIX até meados do século XX, popularizou o uso de petróleo como fonte de energia e a
substituição do ferro pelo aço nas cadeias produtivas. Na segunda metade do século XX ocorreu
a Terceira revolução, com a introdução da computação e da automação para fazerem trabalhos
minuciosos e que necessitassem de grande capacidade de processamento de dados.
Por fim, temos a Quarta revolução industrial, que ocorre hodiernamente tratando-se da
era das tecnologias, isso é, a aplicação da inteligência artificial pelo uso de machine learning,
no qual, por meio de algoritmos, exercem atividades intelectuais que antes eram exercidas pelos
humanos, tais como pesquisas, elaboração de planilhas, controle de prazos judiciais, entre
inúmero outros trabalhos. Ou seja, durante a primeira revolução buscava-se substituir a força
física do homem pela mecânica das máquinas, ao passo que na última busca-se substituir a força
intelectual do homem pela dos computadores.
Verifica-se que cada revolução sempre inovava os processos que existiam
anteriormente. Nesta dinâmica de evolução não somente os processos de produção eram
alterados, mas também se exigia que as relações de trabalho, sociais e econômicas se alterassem
igualmente, por conseguinte o direito também precisou evoluir frente às novas realidades que
surgiam.
Neste passo, a última grande revolução, aquela que envolve o uso de tecnologias, como
a Inteligência Artificial em vários setores da ciência, será o foco deste estudo. O direito, como
uma ciência social aplicada, na figura do Poder Público, pode – e deve – utilizar-se dessas
inovações, a qual destaco o uso da Inteligência Artificial.
Na ausência de uma definição legal de Inteligência Artificial, iremos nos valer da
definição utilizada em outros campos de estudo além do direito. A definição utilizada pelo
pioneiro da Inteligência Artificial, Edward Feigenbaum1 pode ser assim descrita:
1
FERNANDES, Anita Maria da Rocha. Inteligência Artificial: noções gerais. Florianópolis: Visual
Books, 2003.
11
Este projeto tem como objetivo principal analisar como ocorre o uso da Inteligência
Artificial pela Administração Pública, especialmente em que medida o Princípio da eficiência
administrativa se relaciona a esse conceito. Para tanto, iremos analisar a extensão da
aplicabilidade desse referido conceito ao princípio e como isso tem sido feito.
O presente tema se mostra extremamente pertinente na medida em que a informática
dominou a vida do ser humano, por consequência de alguns seres humanos serem servidores da
Administração Pública, esse fenômeno faz parte da Administração. Assim, é essencial
analisarmos em que medida o uso dessas tecnologias podem ser benéficas e como elas
interagem com o Princípio da eficiência administrativa, focando apenas nesse princípio
positivado na Constituição Federal. Não abordando os princípios criados pela doutrina, uma
vez que são muitos e de difícil limitação teórica.
Logo, é indiscutível a relevância do estudo acerca do impacto da Inteligência Artificial
gerada na atuação da Administração Pública, em observância aos Princípios que a norteiam.
2
Cada nome corresponde aos acrônimos “Análise de Licitações e Editais”, “Sistema de Orientação
sobre Fatos e Indícios” e “Monitoramento Integrado para Controle de Aquisições” respectivamente.
12
1.2 Metodologia
1.3 Objetivos
Para tanto, o presente Trabalho de Conclusão de Curso irá expor a evolução do conceito
de Princípios e qual dessas concepção será utilizada no trabalho, em qual contexto o Princípio
da Eficiência foi positivado na Constituição Federal de 1988 e o que se extrai dessa ideia de
eficiência dentro da Administração Pública. Além de tratarmos da incorporação de novas
tecnologias ao cotidiano dos servidores públicos.
13
Também será falado como a Inteligência Artificial foi concebida e como tem sido o
tratamento normativo acerca dessa tecnologia e, por fim, como ocorre esse uso com enfoque no
Tribunal de Contas da União.
Todos esses pontos visam demonstrar como a Administração Pública faz uso da
Inteligência Artificial para satisfazer o Princípio da Eficiência.
Dessa forma, todos esses pontos visam demonstrar como a Administração Pública faz
uso da Inteligência Artificial e como essa ferramenta propícia a satisfação do Princípio da
Eficiência na maior medida possível, esse que é o norteador de toda a atividade da
Administração Pública.
14
3
Mello, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 31. Ed. São Paulo: Malheiros Editores,
2014. p. 54, nota de rodapé.
15
4
FERRAZ, Danilo Santos; SOUSA, Thaís Cruz. Princípios constitucionais: do jusnaturalismo ao póspositivismo
à luz da hermenêutica constitucional. In: XIX Encontro Nacional do CONPEDI, 2010, Fortaleza, Anais do XIX
Encontro Nacional do CONPEDI, Florianópolis: Fundação José Boiteux, 2010, p. 5886
5
MARTINS, Ricardo Marcondes. Efeitos dos vícios do ato administrativo. São Paulo: Malheiros Editores, 2008.
p. 27-28.
6
MARTINS, Ricardo Marcondes. Efeitos dos vícios do ato administrativo. São Paulo: Malheiros Editores, 2008.
p. 27-28. Apud ALMEIDA, Pedro Luiz Ferreira de. Improbidade Administrativa e o Princípio da Insignificância.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2020
16
Dessa forma, nos valendo mais uma vez dos ensinamentos de Pedro Almeida, essa
segunda fase pode ser assim definida pelos conceitos expostos, é evidente o caráter normativo
e axiológico dos princípios jurídicos. Essa noção foi, inclusive, recepcionada pela CF, que
positivou uma gama de princípios jurídicos, tornando sua observância impositiva.
Por fim, na terceira fase os princípios são passíveis de aplicação direta por possuírem
uma estrutura lógica de normas jurídicas, consistindo de manifestações irredutíveis do
deôntico9.
Robert Alexy10 diferencia os princípios das regras pela sua estrutura, no primeiro são
tratados como normas que ordenam a realização de algo na maior medida possível, ao passo
que as regras são normas exigentes de cumprimento pleno, sendo comente cumpridas ou
descumpridas. Podendo ser resumida na forma que os princípios são normas que estabelecem
um fim a ser atingido e as regras são os meios para que esse fim seja alcançado. Ou seja, o
princípio é o mandamento de otimização de todo o sistema jurídico em que está inserido11.
Dessa forma, os princípios possuem caráter axiológico ao expor um valor priorizado
pelo ordenamento jurídico e atualmente possuem um caráter normativo e, por conta de serem
normas jurídicas, são vinculantes. Entretanto, em razão de sua abstração, via de regra, não
podem ser aplicados sozinhos, pois, como dito, estabelecem um fim a ser atingido de modo que
7
REALE, Miguel. Filosofia do direito. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 60.
8
Mello, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 31. Ed. São Paulo: Malheiros Editores,
2014. p. 987. Apud ALMEIDA, Pedro Luiz Ferreira de. Improbidade Administrativa e o Princípio da
Insignificância. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2020
9
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário – Fundamentos Jurídicos da Incidência apud MARTINS,
Ricardo Marcondes. Efeitos dos vícios do ato administrativo. São Paulo: Malheiros Editores, 2008
10
ALEXY, Robert. Sitema jurídico, princípios jurídicos y razón práctica. apud MARTINS, Ricardo Marcondes.
Efeitos dos vícios do ato administrativo. São Paulo: Malheiros Editores, 2008
11
ALEXY, Robert. Conceito e validade do direito. Apud ALMEIDA, Pedro Luiz Ferreira de. Improbidade
Administrativa e o Princípio da Insignificância. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2020.
17
as normas jurídicas são os meios para se chegar a esse fim, de tal maneira a aplicação dos
princípios incide sobre casos concretos, não devendo ser uma atribuição exclusiva do poder
legislativo, o poder executivo deve nortear sua atuação conforme estabelecido pelos princípios.
É interessante destacarmos que uma nova conceituação de princípios não significa a
supressão da anterior, pelo contrário, há um dever do operador e do estudioso do direito em ter
um cuidado no momento que for optar por uma das conceituações para o caso prático ou o
objeto a ser estudado.
Nesse mesmo giro semântico, uma vez exposto as inúmeras conceituações de princípios,
o trabalho tomará como base a segunda conceituação exposta por Ricardo Marcondes, na qual,
conceitua o princípio como norteadores da aplicação do direito e, por consequência do Princípio
da Legalidade, a atuação da Administração Pública.
Passaremos a expor a respeito do Princípio da Eficiência, o que se extrai de seu
significado prático e em qual contexto a Administração Pública se encontrava para que
ocorresse a sua positivação no ordenamento jurídico brasileiro, embora já tivesse indícios de
sua positivação e aplicação.
A adoção dessa metodologia se dá, principalmente, pela enorme quantidade de
princípios estampados em normas infralegais e outros criados por doutrinadores. Assim, um
afunilamento dos princípios - isto é, tratar apenas do Princípio da Eficiência - se dá como
medida mais segura e correta para analisarmos sob a luz da Inteligência Artificial.
18
3 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA
12
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Os primeiros passos da reforma gerencial do Estado de 1995. Revista
Eletrônica sobre a Reforma do Estado. Salvador, n. 16, p. 1-36. dez.-fev. 2009. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/43782444_Os_primeiros_passos_da_reforma_gerencial_do_Estado_de
_1995. Acesso em: 17 out. 2022.
13
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Reflexões sobre a reforma gerencial brasileira de 1995. Revista do Serviço
Público. Brasília. v. 50, n. 4, p. 5-29.out-dez 1999. Disponível em:
<https://revista.enap.gov.br/index.php/RSP/article/view/354>. Acesso em: 17 out. 2022.
14
Art. 26. No que se refere à Administração Indireta, a supervisão ministerial visará a assegurar, essencialmente:
[...]
III – A eficiência administrativa: (BRASIL. Decreto-lei n° 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe
sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa
e dá outras providências. Disponível http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del0200.htm. Acesso em:
11 out. 2022
19
A inclusão desse ao rol de princípios apenas positivou uma situação que já se esperava
da Administração - em especial dos agentes públicos - isto é, a busca da maior eficiência em
suas atribuições.
Tal como o princípio da moralidade, a eficiência é rodeada de uma aura de abstração,
trata-se de uma tarefa árdua para o estudioso de direito fazer uma definição precisa e objetiva
acerca desse princípio.
Celso Antônio Bandeira de Mello traz valiosa lição acerca desse aspecto abstrato do
princípio da eficiência. Vejamos:
15
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:
Presidência da República, [2016]
16
Mello, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 31. Ed. São Paulo: Malheiros Editores,
2014. p. 111.
20
Essa eficiência - ou “boa administração” como dizem os italianos - implica dizer que a
atividade da administração deve ser feita com maestria, respeitando a proporção entre o custo
da satisfação das atividades públicas e a intensidade da utilidade decorrente delas. Nesse sentido
exponho excerto da estimada jurista Maria Sylvia Zanella Di Pietro17:
Destarte, por todo o exposto, a eficiência deve ser analisada de modo amplo, isto é,
visando ser aplicada em todos as situações em que a Administração Pública faça parte, desde
contratações de projetos de infraestrutura de altos valores a simples atividades do cotidiano de
um servidor público no exercício de sua função.
Nessa lógica, como ensinado por Gabardo18, a eficiência não deve ficar restrita somente
ao aspecto econômico - em uma ideia de se alocar o melhor uso aos recursos financeiros -, esse
aspecto deve ser uma das consequências dos quatros atributos que o autor usa para definir a
eficiência. Quais sejam: racionalização, produtividade, economicidade e celeridade, ao ponto
do primeiro ser o alicerce de todos os outros. Isso é dizer que a eficiência é um ideal de
racionalização da ação humana, de modo que, a partir da análise dos atributos, a racionalização
é “como um processo de busca de modo ótimo ou do melhor modo possível na realização do
fim19”
A Reforma Administrativa de 1995 e, por consequência, a Emenda Constitucional n.º
19/1998, demonstrou as intenções do Estado em romper com o antigo modelo gerencial,
baseado em uma atividade totalmente controlada e burocratizada, a qual era demasiadamente
lenta e exigia um investimento financeiro tão grande quanto.
17
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
18
GABARDO, Emerson. A eficiência no desenvolvimento do Estado brasileiro: uma questão política e
administrativa. In: MARRARA, Thiago (Org.). Princípios de direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2012, p.
327-351.
19
GABARDO, Emerson. Princípio da eficiência. In: NUNES JUNIOR, Vidal Serrano et al. Enciclopédia Jurídica
da PUCSP, tomo II (recurso eletrônico): direito administrativo e constitucional. São Paulo: Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, 2017. Disponível em: <https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/82/edicao-2/principio-
da-eficiencia> Acesso em 10. out. 2022.
21
Ao passo que a atual, busca justamente o contrário, uma Administração mais produtiva
e imediatista, ou seja, uma Administração Gerencial, a qual cito Daniela Mello Coelho20 que
bem define tal modelo:
20
MELLO COELHO, Daniela. Elementos essenciais ao conceito de administração gerencial. Revista de
informação legislativa, v. 37, nº. 147, pág 257-262, jul./set. 2000 Disponível em:
<https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/622> Acesso em 30. set. 2022
21
ANTUNES DE SOUZA. Alexandre Magno. Administração pública 4.0 - a mudança por meio da blockchain e
da inteligência artificial. In: SADDY, André (coord). Inteligência Artificial e Direito Administrativo. Rio de
Janeiro: CEEJ, 2022, pág. 54
22
Esse é o objeto do presente trabalho e que será melhor explorada no próximo capítulo.
22
Dessa forma, a integração dessas novas tecnologias se faz necessária não somente pela
satisfação do princípio da eficiência, mas, também, para uma melhora na economia - refletido
no aumento no PIB -, bem como o papel de romper com a antiga forma de administração, como
uma clara necessidade de a Administração Pública incorporar novas tecnologias conforme elas
são criadas.
Nesse sentido, Alexandre Magno, citando os ensinamentos de Joseph Schumpeter,
mostra a necessidade de aderir a essas tecnologias.
23
Fabiane Stefano, de Talim, André Jankavski, de Copenhague, e Ernesto Yoshida. 2019. “A hora e vez do
Governo 4.0”. Exame, 23/05/2019.
24
SOUZA. Alexandre Magno Antunes de. Administração pública 4.0 - a mudança por meio da blockchain e da
inteligência artificial. In: SADDY, André (coord). Inteligência Artificial e Direito Administrativo. Rio de Janeiro:
CEEJ, 2022 apud SCHUMPETER, Joseph. Capitalism, Socialism, and Democracy. New York: Harper, 1950.
23
25
BLADE RUNNER. Direção: Ridley Scott. Produção de Michael Deeley. Estados Unidos: Warner Bros Pictures,
1982. 1 VHS.
26
O EXTERMINADOR DO FUTURO 2 - O JULGAMENTO FINAL. Direção: James Cameron. Produção de
James Cameron. Estados Unidos: TriStar Pictures, 1991. 1 VHS.
27
Há duas linhas de pensamento em que a Inteligência Artificial pode ser abordada, a primeira se trata da “baseada
em regras”, no qual é utilizada a lógica e a abordagem das redes neurais. - WEID, Irene von der. Inteligência
artificial: análise do mapeamento tecnológico do setor através das patentes depositadas no Brasil. Rio de Janeiro:
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Brasil) – INPI, Diretoria de Patentes, Programas de Computador e
Topografia Circuitos Integrados – DIRPA, Coordenação Geral de Estudos, Projetos e Disseminação da Informação
Tecnológica – CEPIT e Divisão de Estudos e Projetos – DIESP, 2020, p.8.
28
TURING, A. M. Computing Machinery and Intelligence. Mind a Quarterly Review of Psychology and
Philosophy. Vol. LIX. nº. 236. October 1950.
29
Nas palavras de Alan Turing: “An important feature of a learning machine is that its teacher will often be very
largely ignorant of quite what is going on inside, although he may still be able to some extent to predict his pupil's
behavior. This should apply most strongly to the later education of a machine arising from a child machine of
25
well-tried design (or programme). This is in clear contrast with normal procedure when using a machine to do
computations one's object is then to have a clear mental picture of the state of the machine at each moment in the
computation. This object can only be achieved with a struggle. The view that "the machine can only do what we
know how to order it to do,"appears strange in face of this. Most of the programmes which we can put into the
machine will result in it’s doing something that we cannot make sense (if at all, or which we regard as completely
random behaviour. Intelligent behaviour presumably consists in a departure from the completely disciplined
behaviour involved in computation, but a rather slight one, which does not give rise to random behaviour, or to
pointless repetitive loops. Another important result of preparing our machine for its part in the imitation game by
a process of teaching and learning is that "human fallibility" is likely to be omitted in a rather natural way, i.e.,
without special "coaching." (The reader should reconcile this with the point of view on pages 23 and 24.) Processes
that are learnt do not produce a hundred per cent certainty of result; if they did they could not be unlearnt. [...]
We may hope that machines will eventually compete with men in all purely intellectual fields.” TURING, A. M.
Computing Machinery and Intelligence. 1950.
30
SOUZA. Alexandre Magno Antunes. Administração pública 4.0 - a mudança por meio da blockchain e da
inteligência artificial. In: SADDY, André (coord). Inteligência Artificial e Direito Administrativo. Rio de Janeiro:
CEEJ, 2022, pág 68
31
Alan Turing chama de tabela de instruções (“table of instructions”) - TURING, A. M. Computing Machinery
and Intelligence. 1950. Disponível em https://www.csee.umbc.edu/courses/471/papers/turing.pdf.
32
Nas palavras de Paulo Sá Elias: Algoritmo (algorithm), em sentido amplo, é um conjunto de instruções, como
uma receita de bolo, instruções para se jogar um jogo, etc. É uma sequência de regras ou operações que, aplicada
a um número de dados, permite solucionar classes semelhantes de problemas. Na informática e telemática, o
conjunto de regras e procedimentos lógicos perfeitamente definidos que levam à solução de um problema em um
número de etapas. Em outras palavras mais claras: são as diretrizes seguidas por uma máquina. Na essência, os
algoritmos são apenas uma forma de representar matematicamente um processo estruturado para a realização de
uma tarefa. Mais ou menos como as regras e fluxos de trabalho, aquele passo-a-passo que encontramos nos
processos de tomada de decisão em uma empresa, por exemplo. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/dl/algoritmos-inteligencia-artificial.pdf.> Acesso em: 11 out. 2022.
26
outros programas, nos quais o programador deve escrever códigos para que o software faça
determinada tarefa, o aprendizado nada mais é do que um treinamento, que é realizado a partir
de uma grande quantidade de informações que são inseridas no algoritmo, permitindo que ele
se desenvolva e melhore seus resultados.
Em relação a esse treinamento, há várias formas em que o aprendizado de máquina pode
ocorrer, sendo as mais utilizadas: (i) supervisionada, quando existe uma classificação criada
pelo programador, ou seja, por meio de dados rotulado; e (ii) não supervisionada, na qual não
depende de dados rotulados, de maneira que a distinção de ambos recai na forma em que os
dados são carregados como input no sistema33.
A título exemplificativo, trago o exemplo trazido por Paulo Sá Elias34 que bem define o
treinamento supervisionado:
33
SADDY, André. GALIL, João Victor Tavares. O processo de tomada de decisão administrativa e o uso da
Inteligência Artificial. In: SADDY, André (coord). Inteligência Artificial e Direito Administrativo. Rio de Janeiro:
CEEJ, 2022, pág. 150
34
ELIAS, Paulo Sá. Algoritmos, Inteligência Artificial e o Direito. pág. 2. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/dl/algoritmos-inteligencia-artificial.pdf.> Acesso em: 11 out. 2022.
35
Obtido em <https://www.tibco.com/pt-br/reference-center/what-is-unsupervised-learning> acesso em 12. out.
2022
27
36
Nos ensinamentos de Paulo Sá Elias: Outras abordagens incluem aprendizagem por meio de árvores de decisão
(decision tree learning), programação de lógica indutiva (inductive logic programming), agrupamento (clustering),
aprendizagem de reforço (reinforcement learning), redes bayesianas (Bayesian networks), entre outros. Disponível
em: <https://www.conjur.com.br/dl/algoritmos-inteligencia-artificial.pdf.> Acesso em: 11 out. 2022.
37
ELIAS, Paulo Sá. Algoritmos, Inteligência Artificial e o Direito. pág. 2. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/dl/algoritmos-inteligencia-artificial.pdf.> Acesso em: 11 out. 2022.
38
Como explicado por Danubia Desordi e Carla Della Bona apud PORTO, Fábio Ribeiro. O impacto da utilização
da inteligência artificial no executivo fiscal. Estudo de caso do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. In:
FERNANDES, Ricardo Vieira de Carvalho; CARVALHO, Angelo Gamba Prata de (Coord.). Tecnologia jurídica
& direito digital: II Congresso Internacional de Direito, Governo e Tecnologia. Belo Horizonte: Fórum, 2018. p.
109-144.
28
Por fim, apesar das ideias trazidas serem superficiais, elas servem apenas para mostrar
como a Inteligência Artificial funciona e como podem auxiliar os seres humanos - e, por
conseguinte a Administração Pública - em tarefas rotineiras. O seu uso prático será aprofundado
nos capítulos seguintes.
39
WIPO, “Revised Issues Paper on Intellectual Property Policy and Artificial Intelligence” (WIPO, May 21, 2020)
<https://www.wipo.int/edocs/mdocs/mdocs/en/wipo_ip_ai_2_ge_20/wipo_ip_ai_2_ge_20_1_rev.pdf.> p. 3.
Acesso em: 11. out. 2022.
29
40
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 31ª edição. São Paulo: Malheiros, 2014.
pág. 91
30
Assim, para o autor, fica claro que é necessário a aplicação de cláusulas gerais e dos
princípios para iniciarmos o tratamento dessas novas tecnologias que constantemente são
objetos de evoluções.
No âmbito internacional, em 2019, o Brasil aderiu aos princípios da OCDE
(Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para administrar de forma
responsável o uso da tecnologia da Inteligência Artificial, sendo, inclusive, este um dos
primeiros documentos transnacionais a abordar diretrizes para que os governos adotassem a
tecnologia da Inteligência Artificial respeitando os direitos humanos e a democracia 42. Os
cincos princípios afirmam, de forma resumida, o seguinte:
Interessante visualizar que tanto nos projetos de lei, quanto nos princípios da OCDE, há
um cuidado em definir os fins da Inteligência Artificial, bem como os limites de suas atuações
que devem ser baseadas na transparência, segurança, responsabilização por seus atos e
prestação de contas.
41
TEPEDINO, Gustavo. As tecnologias e a renovação do Direito Civil. Publicado em 12 de junho de 2019.
Disponível em: <http://www.oabrj.org.br/colunistas/gustavo-tepedino/as-tecnologias-renovacao-direito-
civil?fbclid=IwAR1PumT-lccIeKgJQzAbrV6o1Odgqzh1CkrA_va5UsHbu3RWyYgTkrn2V9M> Acesso em: 12
out. 2022.
42
TEFFÉ, Chiara Spadaccini de; MEDON, Filipe. Responsabilidade Civil e Regulação de Novas Tecnologias:
Questões acerca da Utilização de Inteligência Artificial na Tomada de Decisões Empresariais. Revista Estudos
Institucionais, v. 6, n. 1, jan./abr. 2020, p. 307.
43
OECD, Organization for Economic Co-operation and Development. Principles on Artificial Intelligence.
Publicado em 21 de maio de 2019 Disponível em: <https://www.oecd.org/digital/artificial-intelligence/>. Acesso
em 12 out. 2022.
31
44
BRASIL, Governo Federal, Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Estratégia
Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA). Brasília. Disponível em: < https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-
o-mcti/transformacaodigital/arquivosinteligenciaartificial/ia_estrategia_diagramacao_4-979_2021.pdf>.
45
Disponível em: <https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3429.> Acesso em 17. out. 2022
32
título normativo que melhor definiu o uso dessa tecnologia, tratando-se de um marco para o
tratamento normativo da aplicação da Inteligência Artificial, pois foi a primeira norma nacional
a tratar esse tema de forma específica.
Pela leitura da citada Resolução é possível identificar que as aplicações da Inteligência
Artificial, dentro do Poder Judiciário, têm objetivos bem definidos como estabelecido no seu
segundo artigo, no qual positiva o dever de promover o bem-estar dos jurisdicionados, a
prestação equitativa da jurisdição, bem como incentivar a descoberta de novos métodos e
práticas para alcançar o seu fim pretendido.
Relevante apontar que a norma ainda trouxe restrições e limitações para essa tecnologia
dentro do âmbito judiciário, tal como o respeito ao direitos fundamentais durante o
desenvolvimento, implantação e uso da Inteligência Artificial, bem como o uso dessa tecnologia
no contexto de reconhecimento facial, nesse caso é exigido a prévia anuência do CNJ para sua
implementação e uso46. Como visto no artigo 22, § 2º da Resolução em comento, in verbis:
Dessa forma, indubitável o destaque que essa Resolução merece, justamente por
apresentar um trabalho muito minucioso em comparação aos Projetos de Lei e, também, por
buscarem regulamentar a Inteligência Artificial dentro de suas competências.
Embora haja inúmeras tentativas de nacionais de colocarem uma luz acerca da
regulamentação do uso da Inteligência Artificial na Administração, fato é que nenhuma
conseguiu fazer isso de forma concreta e eficaz, muito em razão do baixo interesse da população
brasileira.
É certo que há um desafio enorme em regulamentar essa matéria, não somente no âmbito
nacional, mas também no internacional. Apesar dessas tentativas realmente serem passos na
direção correta, é possível identificar que o tratamento normativo ainda se encontra em um
estágio prematuro, devendo os legisladores e, principalmente, a população, desenvolverem um
amadurecimento no tratamento para que se alcance uma regulamentação especializada na
mesma proporção que sua importância exige.
33
47
Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/imprensa/noticias/tcu-avalia-uso-de-inteligencia-artificial-pelo-
governo-federal.htm>. Acesso em 13. out. 2022
35
Nota-se que mais do que um terço das organizações federais sequer utilizam essa
tecnologia para melhorar sua eficiência, ao passo que praticamente na mesma proporção há
instituições com alto nível de maturidade no uso da Inteligência Artificial.
O uso da Inteligência Artificial pode ocorrer tanto no âmbito operacional interno, quanto
no externo da Administração Pública. No primeiro, os meios informáticos podem ser utilizados
tanto em atividades informativas, que dizem respeito ao tráfego de informações entre os
sistemas, bem como em atividades decisórias, na qual a atuação humana é deixada de lado em
detrimento dessas tecnologias exercerem essas competências48.
Já no âmbito externo temos alguns serviços que não podem ser prestados mediante
sistemas informáticos, a Inteligência Artificial se mostra como uma tecnologia que pode agir
como uma ponte entre a administração e administrado quanto acesso a dados e serviços
públicos49.
Cabe destaque ao Tribunal de Contas da União que foi um dos precursores no
experimento do uso de Inteligência Artificial50, especialmente no procedimento de tomada de
contas, ocorrendo justamente no âmbito operacional interno - no qual o Tribunal de Contas atua
-, conforme estabelecido no artigo 71 da Constituição Federal. In verbis:
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o
auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante
parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento;
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e
valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e
sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que
derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário
público;
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a
qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e
mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em
comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões,
ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato
concessório;
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de
Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil,
48
BREGA, José Fernando Ferreira. Governo eletrônico e direito administrativo. 2012. 336 f. Tese (Doutorado em
Direito do Estado) - Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em:
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49
DESORDI, D.; BONA, C. D. A inteligência artificial e a eficiência na administração pública. Revista de Direito,
[S. l.], v. 12, n. 02, p. 01–22, 2020. DOI: 10.32361/202012029112. Disponível em:
https://periodicos.ufv.br/revistadir/article/view/9112. Acesso em: 10 set. 2022.
50
TEMER, Milena Cirqueira. Utilização da inteligência artificial - ia na atividade de fiscalização dos tribunais de
contas. In: SADDY, André (coord). Inteligência Artificial e Direito Administrativo. Rio de Janeiro: CEEJ, 2022,
pág. 510
36
51
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:
Presidência da República, 2016
52
Sofia e Mônica são acrônimos de “Sistema de orientações sobre fatos e indícios” e "Monitoramento
integrado para controle de Aquisições” respectivamente.
53
Disponível em: <https://bpoadvogados.com.br/robos-tribunal-contas-uniao/> Acesso em 19. out. 2022
37
vasculha as informações associadas aos CNPJs indicados neste documento e verifica se já foram
alvo de sanções ou de responsabilização em processos em trâmite no Tribunal de Contas.54
O robô Mônica é um painel que contempla informações sobre as compras dos três
Poderes da União - Executivo, Legislativo e Judiciário -, além do Ministério Público Federal,
bem como aquelas ignoradas pelo Alice, como contratações diretas e inexigibilidades de
licitação55.
Por fim, o Adele tem como função analisar pregões eletrônicos, aplicando filtros de
modo a analisar a ordem cronológicas dos lances, bem como informações das empresas
participantes, tais como composição societária e ramo de atuação), além de verificar se o IP
(Internet Protocol)56 de mais de uma licitante são iguais, visando coibir fraudes e conluios entre
os participantes do certame licitatório.
Todos esses robôs fazem parte de um sistema ainda maior, o Laboratório de Informações
de Controle (Labcontas) que integra 96 bases de dados e 55 organizações de controle, os quais
auxiliam no cruzamento de informações entre as bases de dados que a compõem. Essa base de
dados é obtida por meio de contratos de fornecimento, acordos de cooperação e acesso a sites
públicos do governo.
Esses dados obtidos por meio dessa base auxiliam como subsídios para os auditores do
TCU durante o exercício de suas funções. Ou seja, esses robôs - e por consequência lógica o
Labcontas - tem como função apenas auxiliar e facilitar o entendimento e o serviço dos
auditores através da leitura de editais. Fato é que a discricionariedade existente no ser humano,
nesse caso o auditor, para validar - bem como tomar a decisão de aceitar ou não a licitação -,
não é passível de ser feita pela Inteligência Artificial. Isso porque a atividade cognitiva do ser
humano é imprescindível na análise do caso concreto57.
Os robôs utilizados pelo Tribunal de Contas da União são exemplos práticos da
utilização da Inteligência Artificial visando a satisfação do Princípio da Eficiência,
principalmente no âmbito operacional interno, no que tange às tarefas de cunho decisório. Mas
54
COSTA, Marcos Bemquerer. BASTOS, Patrícia Reis Leitão. Alice, Monica, Adele, Sofia, Carina e Ágata: o
uso da inteligência artificial pelo Tribunal de Contas da União. Controle Externo: Revista do Tribunal de Contas
do Estado de Goiás, Belo Horizonte, ano 2, n. 3, p. 3, jan./jun. 2020.
55
DESORDI, D.; BONA, C. D. A inteligência artificial e a eficiência na administração pública. Revista de Direito,
[S. l.], v. 12, n. 02, p. 01–22, 2020. DOI: 10.32361/202012029112. Disponível em:
https://periodicos.ufv.br/revistadir/article/view/9112. Acesso em: 20 out. 2022.
56
Um endereço de Protocolo da Internet, do inglês Internet Protocol address, é um rótulo numérico atribuído a
cada dispositivo conectado a uma rede de computadores que utiliza o Protocolo de Internet para comunicação.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Endereço_IP
57
Embora haja debates acerca da possibilidade de a Inteligência Artificial tomar decisões finais, não é essa a
proposta do trabalho. A proposta é apenas demonstrar como essa tecnologia pode ajudar na satisfação do princípio
da eficiência.
38
não só, essa tecnologia é aplicada igualmente no âmbito operacional externo, auxiliando a
população na prestação de serviços públicos com mais eficácia.
Dentro do Tribunal de Contas temos o robô Zello58, criado em 26 de julho de 2018,
consiste em um assistente virtual do tribunal que dialoga com os cidadãos por meio de
mensagens de texto, podendo consultar contas irregulares para fins eleitorais por meio do nome
ou CPF, consulta de processos, emissão de certidões, bem como respostas às principais dúvidas
recebidas pela ouvidoria. O uso da Inteligência Artificial ocorre meio da detecção das intenções
do cidadão extraídas das conversas e pela predição do fluxo do diálogo59.
Por fim, o emprego da Inteligência Artificial na administração pública é uma tendência
e, se baseando nos exemplos acima, é de se esperar que cada vez mais essa tecnologia seja
absorvida no dia a dia do administrador. O emprego desses robôs, concomitante a uma forte
regulação visando afastar treinamentos em que as máquinas possam se desvirtuar, tendem
apenas a agregar à população, reduzindo o tempo e a burocracia visando uma prestação de
serviços de forma mais eficiente.
Dessa forma, são evidentes os ganhos de eficiência que a utilização da Inteligência
Artificial pode gerar para a Administração Pública. Por outro lado, a exigência de uma
regulação firme se dá pela possibilidade dos dados em que a Inteligência Artificial se baseia,
bem como as interações dela com os usuários, podem vir a se tornarem lesivos ao ordenamento
jurídico, como o aprendizado de tratamentos racistas, por exemplo.60
O uso da Inteligência Artificial deve ser pautado em todos os outros princípios
administrativos que norteiam a Administração Pública, não somente os constitucionais, mas
também os infralegais, de modo que a popularização dessa tecnologia se dê de maneira saudável
e em respeito aos direitos dos cidadãos.
58
O nome foi dado em homenagem ao Inocêncio Serzedello Corrêa e é um jogo de palavras com a palavra “zelo”.
59
FELISDÓRIO, Rodrigo César Santos; SILVA, Luís Andre Dutra e. Inteligência artificial como ativo estratégico
para a Administração Pública. In: FERNANDES, Ricardo Vieira de Carvalho; CARVALHO, Angelo Gamba Prata
de (Coord.). Tecnologia jurídica & direito digital: II Congresso Internacional de Direito, Governo e Tecnologia.
Belo Horizonte: Fórum, 2018. p. 95-100.
60
Como visto em: https://teletime.com.br/12/05/2022/inteligencia-artificial-precisa-evitar-vies-racista-e-
discriminatorio-afirmam-especialistas/ Acesso em 21 out. 2022
39
7 CONCLUSÃO
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