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CURSO DE DIREITO
FORTALEZA
2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO FARIAS BRITO
CURSO DE DIREITO
Orientador:
FORTALEZA
2021
Esta monografia foi submetida ao curso de Direito do Centro Universitário Farias Brito
como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.
A citação de qualquer trecho desta monografia é permitida, desde que seja feita de
acordo com as normas científicas.
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Geovane Plácido Silva
Banca Examinadora:
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Prof. M.e Aldemar Monteiro da Silva Neto
ORIENTADOR
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Prof. Renato Espindola Freire Maia
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Prof. Dr. Samuel Miranda Arruda
Este trabalho tem como objetivo trazer à luz dos fatos o atual estágio de andamento da evolução
do ordenamento jurídico perante os avanços da Inteligência Artificial, com maior enfoque nas
possibilidades quanto ao cometimento de atos ilícitos, que atentem contra a proteção dos
estatutos legais aos bens juridicamente tutelados. Para tal, poderemos ver a evolução da
tecnologia conhecida como Inteligência Artificial, e as técnicas de Aprendizado Profundo, que
podem levar ao cometimento de delitos por parte destes dispositivos autônomos. O trabalho
realiza uma revisão dos estudos de caso no que tangem os aspectos legais, de casos concretos
que podem nos fazer pensar em um cenário onde tais situações poderão se tornar comuns, e que
nos leva ao questionamento, de o quão preparado o ordenamento jurídico brasileiro está para
enfrentar tais situações. Nesta senda, trazemos à baila, casos concretos que podem fornecer
subsídios legais e jurisprudência estrangeira , uma vez que tais eventos ocorridos, demandaram
um esforço legal de interpretação das normas vigentes de maneiras diversas, muitas vezes por
analogias, ou pelo puro bom senso. Além disso, o trabalho visa relatar a forma atual de visão
dos estudiosos acerca da culpabilidade de equipes, empresas e pessoas que desenvolvem tais
inteligências, e de que modo e até onde podemos definir autorias e analisar a culpabilidade de
terceiros em crimes cometidos por Inteligências Artificiais. Por fim, estudaremos o panorama
atual de nosso ordenamento, e quais iniciativas estão sendo previstas no curto e médio prazo
para abarcar possíveis lacunas legais deste aspecto tão atual .
This work have a purpose bring to light some facts of the current state of progress of the
evolution of the legal system in the face of the advances of Artificial Intelligence, with a greater
focus on the possibilities regarding the commission of illegal acts, which attempt against the
protection of the legal statutes to the assets legally tutored. To this end, we can see the evolution
of the technology known as Artificial Intelligence, and the Deep Learning techniques, which
can lead to crimes by these autonomous devices. The work carries out a review of the case
studies in terms of the legal aspects, of concrete cases that can make us think of a scenario
where such situations may become common, and which leads us to question, how prepared the
Brazilian legal system is. is about to face such cases. In this path, we bring up concrete cases
that can provide legal subsidies and foreign jurisprudence, since such cases have required a
legal effort to interpret norms often by analogies, or by pure common sense. In addition, the
work aims to report the current view of scholars about the culpability of programmers,
companies and people who develop such intelligences, and how and to what extent we can
define authorship and analyze the culpability of third parties in crimes committed by Artificial
Intelligence. . Finally, we will study the current panorama of our order, and what initiatives are
being planned in the short and medium term to cover possible legal gaps in this very current
aspect.
5- Considerações Finais 46
6- Referências 49
INTRODUÇÃO
Esta era Digital citada pelo autor, é um período marcado por um cenário
mundial bastante volátil no que tange ao desenvolvimento de novos meios de
desenvolvimento, que se altera constantemente pelo fluxo imenso de informações ,
proporcionada pela imensa capacidade que os novos computadores ofertam, e
também, em decorrência de alterações contextuais que são frutos do progresso
tecnológico e científico tais como novas técnicas, novos métodos e estudos,
proporcionado por esta nova geração de máquinas.
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A indagação acerca de atos de ilicitude que pudessem ser lavados a cabo por
essas máquinas exige um esforço maior de reflexão, uma vez que o debate se
aprofunda, nos aspectos jurídicos e éticos vigentes em nossa sociedade. É cediço que
o direito deve estar atendo à evolução sociológica. Assim, conforme argumenta
AZEVEDO (2017, pg 01), “esse desenvolvimento tecnológico que cresce com
complexidade e rapidez faz aparecer riscos a sociedade e cada vez mais com maiores
impactos sem que possam ser limitados no tempo ou espaço”.
Este trabalho, desse modo, visa à discussão do tema que se segue: Até que
ponto nosso ordenamento jurídico ˗ com base em nosso modelo de sociedade ˗ está
vislumbrando este futuro? No sentido de estar preparado para essa realidade. É um
questionamento que se torna necessário, pois já não se circunscreve mais apenas no
campo da imaginação, já existem casos práticos. Porém, para que se possa discutir
tais questões, alguns pontos relevantes devem ser levantados. Quando se procura a
definição e descrição típicas de crimes, sempre veremos a previsão do cometimento
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de tais condutas, por uma ou mais pessoas, autor e partícipe, as ferramentas usadas,
as circunstâncias, as motivações.
Se na prática a capacidade das máquinas interagir com nosso mundo antes era
relegada apenas às obras literárias ou cinematográficas, do gênero de ficção
científica, - cito como exemplos os filmes Eu, Robô (1950), de Isaac Asimov, ou filmes
como 2001 - Uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick, e o clássico Blade
Runner (1982), do diretor Ridley Scott nos quais a narrativa estava pautada em futuros
distópicos – hoje, está cada vez mais ganhando contornos de realidade, munindo o
mundo e a sociedade de grande ansiedade e expectativa, exigindo profundas
reflexões sobre a nova realidade que inaugura.
Nas próximas páginas, poderemos ter uma noção de casos práticos que já
envolvem as máquinas e suas interações com os bens jurídicos tutelados. Os enredos
variam, porém, mantem a unificação no aspecto legal, na qual os ordenamentos
jurídicos terão o desafio de buscar no campo legal, os estatutos capazes de conseguir
interpretar os anseios de uma evolução que está só no começo. A expectativa, tendo
em vista a velocidade das revoluções, é de que será difícil acompanhar .
limitado)
correspondem poderes finitos e limitados. À diferença dos mecanismos
operacionais de uma máquina (que não podem se opor às determinações de
seu construtor), a razão, segundo Descartes, embora seja lógica e
ontologicamente determinada por seu criador, não opera como uma máquina.
Ou seja, não pode ser reduzida a um dispositivo automático. Seus processos
ou movimentos não são mecânicos (regidos pelas leis mecânicas). Ao
contrário, enquanto as máquinas produzem (quando não possuem defeitos),
invariavelmente sempre os mesmos resultados, a razão humana é livre para
querer e não querer, para acertar e errar, podendo, portanto, extrair
conclusões diferentes sobre o mesmo problema. É a capacidade de pensar e
de conhecer (aprender), ou seja, o fato de possuir uma mente, que permite
ao homem pensar criativamente. Disso se seque que se as máquinas não
podem pensar, é porque não possuem mente.(Grifo nosso)
Porém, temos que entender que esta ruptura, de máquinas dotadas de atributos
como memória e processamento, para o advento da capacidade de emulação do
raciocínio, houve uma evolução constante. E que o tema de IA já não se restringe
mais aos meios acadêmicos nem presos à uma parte do mundo, mas em qualquer
lugar no globo hoje, a IA é debatida. Nas palavras de KAI FU LEE (2019, pg 13), “a IA
tende a ser a 3º Revolução Industrial, que poderá ser muito mais rápida que as
demais”.
Desta abordagem, é que o impulso maior foi dado. De acordo com JORGE
MUNIZ BARRETO (1997, p. 64), “a construção de redes neurais artificiais tem
inspiração nos neurônios biológicos e nos sistemas nervosos”. Neste mesmo
contexto, é importante ressaltar que, na opinião do mesmo estudioso, “as redes
neurais artificiais consistem em sistemas complexos, cujos elementos são os
neurônios constitutivos e as conexões que eles realizam” (1997, p. 69). Portanto,
agindo desta forma, as unidades individuais ( que seriam os “neurônios”) como
entrada de dados, são inseridos os inputs de outras unidades, além de, no mesmo
sistema, passam a repassar outputs para demais “neurônios”, atuando assim, de uma
forma bem rudimentar, mimetizando as reações eletroquímicas, que são feitas em
nossos troncos cerebrais, semelhantes as alterações que ocorrem nas sinapses do
sistema nervoso humano, difundindo “informação” por toda a rede.
Entretanto, dois fatores no fim dos anos 90 foram impulsionadores de uma nova
onda de progresso: a massificação de dados decorrente do crescimento da internet e
o machine deep learning.
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Neste novo salto, uma nova área totalmente nova surgiu para a capacidade de
tomada de decisão por máquinas. Segundo SHABBIR e ANWER (2015, pg 33), se a
inteligência artificial se refere à capacidade de reprodução artificial da capacidade de
adquirir e aplicar diferentes habilidades e conhecimentos para solucionar problemas,
resolvendo-o e raciocinando, ela também deveria aprender com as situações. Esse
aparato, deveria estar suportado com êxito a partir do envolvimento de funções tais
como linguagem, atenção, percepção, planejamento, memória e direcionamento, tudo
de forma artificial. Tudo isso, foi aprimorado em uma técnica chamada deep learning,
na qual, para MAINI e SABRI (2017), isto é uma subárea da IA, destinada a permitir
que computadores possam aprender por conta própria, utilizando algoritmo de
identificação de padrões em dados fornecidos.
Nestes casos, dados rotulados não significam que eles foram necessariamente
gerados por um ser humano de forma consciente. As vezes basta apenas seu intuito
de navegar. Os próprios dispositivos fazem uma correlação de interesses, baseados
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em informações que talvez o usuário nem mesmo faça ideia. Por exemplo, um estudo
citado por MARQUEZ (2020, pg 12), cita que o Alibaba, site bastante difundido de
compras online na China, sabe que consumidoras chinesas, com idades entre 24 e
40 anos, que moram na região de Wubei, a partir das 20:00 da noite, em meses de
calor, tendem a comprar mais lingerie às terças-feiras. Com essas informações,
obtidas por Inteligência Artificial, traçadas por algoritmos que aprenderam com
toneladas de dados brutos, e por meio de diversas interações, conseguem rastrear e
encontrar esses paralelos. Com isso, o Alibaba, faz promoções a anúncios
direcionados nas terças feiras à noite, sugestionando às suas consumidoras, uma
maior oferta de produtos que agradem à este comportamento, sem explicação lógica,
mas que pela força dos hábitos traçados pela inteligência artificial, se mostram
poderosas ferramentas de propulsão de vendas.
Porém, existe o limite ético que deve ser observado. O aumento das teorias de
conspiração, propagadas por sites da Alt Rigth (direita alternativa, em tradução livre:
grupos de direita que utilizam de blogs, e sites para propagação de notícias falsas e
teorias conspiratórias) americana, utilizando o Youtube, mostra que a inteligência
artificial pode ser também um potente motor na propagação de discurso de ódio, de
fake news e radicalização de pessoas que , sem noção daquilo que consomem nas
redes, vão aprofundando cada vez mais neste universo. Segundo o estudo de
HEWEISS e ABBOTT (2020, pg 12), o algoritmo do YouTube, na ânsia de perceber
que deve manter o seu usuário ainda mais conectado em sua plataforma, sugere
vídeos cada vez mais obscuros. Esta otimização traduziu-se em fortes aumentos de
tráfego em perfis antes desconhecidos, que ganharam força a partir do momento que
a aprendizagem profunda de máquinas entregou aos usuários, materiais que eles
pesquisaram. Antes, talvez uma grande parcela de indíviduos não chegariam aos
cantos mais obscuros de teorias da conspiração, se a Inteligência artificial desta onda
não tivesse chegado aos computadores de tais indivíduos.
de países como EUA e Cina, que hoje são disparados os líderes em IA. Ambos,
possuem um aparato legal que estimulam o desenvolvimento de IA. Porém, pode-se
ver uma leve vantagem chinesa neste quesito. Hoje, a IA é uma política de Estado, e
os chineses avançam em passos largos no intuito de automatizar sua economia, gerar
riquezas e garantir um ambiente competitivo. Mas mesmo nestes países, os desafios
são os mesmos que deveremos ter aqui no Brasil. No estudo de FARO (2019, pg 01),
“A busca por uma regulamentação adequada das relações humanas em ambiente
digital enfrenta diversos desafios, que não podem ser apartados da tecnologia e do
Direito. O primeiro problema que deveremos lidar é a Insegurança Jurídica gerada
pela ausência de legislações especificas. FARO (2019,pg 01) diz “O cenário atual está
cercado por dúvidas sobre como pensar o Direito em uma sociedade tecnológica e
cada vez mais ampla. Sem contar que as leis responsáveis por regulamentar as
relações digitais ainda são escassas e carecem de maior clareza.” Outro fator
complicador é a Agilidade das Transformações, uma vez que o nível de
desenvolvimento está impressionante. A cada dia novos paradigmas são quebrados,
e as barreiras de onde a Inteligência Artificial pode chegar não estão claras.
Associadas à estes fatores, ainda está uma visão pragmática e tradicionalista do
Direito. Nos dias de hoje, o apego formal aos conceitos sedimentados poderá ser uma
sentença fatal, que poderá causar muitos problemas.
Para chegarmos aos projetos de lei em tramitação, uma vez que a matéria aqui
discutida ainda não possui nenhum diploma legal específico, é importante ressaltar
que o Direito digital, comumente conhecido no Brasil, já possui um histórico que
remota à 1976 no Brasil, onde os primeiros estudos começaram por volta de 1976,
com Mario G. Losano.
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Há, portanto, campo aberto para que o Direito Informático surja, com absoluta
autonomia, possuindo princípios específicos e abrangendo o disciplinamento,
com regras próprias, das seguintes situações fáticas:a) as fraudes
provocadas por manipulação de dados e programas;b) o furto, a apropriação
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LIMA (2014), cita em seu artigo, que além da referida Lei, ainda na mesma
época, no esteio das alterações promovidas pelo diploma legal citado, vieram novas
regulamentações que buscaram ampliar a segurança jurídica dos consumidores que
estavam já adotando o comércio eletrônico para realizar suas compras. O Decreto Nº
7.962/2013, veio de encontro aos anseios que se esperavam os consumidores, que
pela primeira vez , tiveram um dispositivo que pudesse versar sobre os novos meios
de compras. O decreto, homologado, trouxe a regulamentação do Código de Defesa
do Consumidor, com o objetivo de “dispor sobre a contratação no comércio eletrônico.
Traz diversos esclarecimentos sobre atendimento ao consumidor em relação às
compras realizadas pela internet, direito de arrependimento em comércio eletrônico,
abordando até mesmo o tema das compras coletivas;”
obscuridade, omissão e erro material, pois o ato impugnado não diria respeito
à atuação da Corregedora Nacional de Justiça no âmbito do Pedido de
Providências de nº 0010321-26.2020.2.00.0000, mas sim à própria edição do
Provimento nº 88/2019, pela mesma Corregedoria. Assim recolocada a
questão, entende afastado o óbice da Súmula nº 266/STF, porque, nos
termos da petição de embargos, “o citado Provimento (...) já está produzindo
efeitos na medida em que criou o referido banco de dados e delegou poderes
ao Colégio Notarial do Brasil” (doc. 19, fl. 3). Nesse contexto, afirma-se,
ainda, que “a cada dia de vigência do Provimento 88, pratica-se violação a
garantias constitucionais” (fl. 4), e que “o efeito concreto é inerente ao próprio
ato impugnado” (fl. 10). É o relatório. Decido. 1. Tratando-se de embargos de
declaração opostos contra decisão unipessoal de minha lavra e com
apontamento de supostos vícios de obscuridade, omissão e erro material,
previstos nos incisos do art. 1.022 do CPC/2015, cabe-me examiná-los
também de forma monocrática, consoante expressamente disciplinado no art.
1.024, § 2º, do CPC/2015. 2. Em absoluto ressente-se a decisão embargada
dos vícios que se lhe imputam. A lide foi decidida a partir do que estritamente
veiculado na petição inicial, à consideração dos dados ali oferecidos.
Estabelecido óbice ao conhecimento do pedido conforme antes deduzido,
verifica-se que os presentes embargos propõem, na verdade, sensível
alteração no panorama fático-jurídico da impetração, em tentativa de
superação das razões de não conhecimento ensejadoras da extinção sem
resolução do mérito do writ. 3. A petição inicial havia destacado o fato de que
as impetrantes ajuizaram Pedido de Providências perante o Conselho
Nacional de Justiça e que, até o momento da impetração, havia sido
determinada, apenas, a notificação do Colégio Notarial do Brasil para
manifestação. Nesse contexto específico, a inicial salientou que, no entender
das impetrantes, haveria risco de perecimento do direito, porque a alegada
incompatibilidade entre o Provimento nº 88/2019 e a Lei Geral de Proteção
de Dados estaria a completar, no momento da impetração, cento e vinte dias
(contados, portanto, da data da entrada em vigor da LGPD – fls. 3 e 4 da
inicial), em clara referência ao prazo decadencial da impetração.
Textualmente, está consignado na inicial: “Não obstante o ato atacado
(Provimento 88 do CN/CNJ) seja de 01/10/2019, sua afronta à LGPD surge a
partir da sanção desta pela Presidência da República, aos 17/09/2020 (…).
Como o prazo de 120 (cento e vinte) dias para o ajuizamento do presente
Mandado de Segurança se encerra no dia 14 de janeiro deste ano de 2021,
aguardar a requisição de informações requisitada pela Corregedora Nacional
de Justiça implicaria no decorrimento do prazo para ajuizamento deste
mandamus” (fl. 4). A inicial, portanto, havia escolhido determinada causa e
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Ademais, além das legislações aqui citada, é necessário trazer à luz dos fatos,
que existem outros projetos em tramitação no Poder Legislativo que versam sobre
Inteligência Artificial. A proposta, de autoria do Deputado Eduardo Bismarck (PDT-
CE), foi apresentada e está em tramitação para conclusão dos relatórios, e será
analisada em caráter conclusivo, elaborado pelas comissões de Ciência e Tecnologia,
Comunicação e Informática; Trabalho, de Administração e Serviço Público; e
Constituição e Justiça e de Cidadania.
Crime, de acordo com Juarez Cirino dos Santos, as definições formais mostram
o crime como violação da norma penal respectiva – por exemplo, o homicídio como
violação da norma não deves matar. Segundo o mesmo autor, definições materiais
mostram o crime como lesão do bem jurídico protegido – por exemplo, o homicídio
como destruição da vida humana.
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Em suma, a doutrina de CAPEZ narra com bastante lucidez, que baseado neste
paradigma, na qual é identificada como a Teoria finalista da ação ou Teoria do
Domínio do Fato, há o fato autoral quando o agente que por sua ação ou omissão,
pratica o tipo penal previamente previsto em lei, e ainda, quando o mesmo age ciente
e com convicção do fato e dos efeitos que poderão advir de sua conduta, ciente de
sobre a função do fato criminoso, configura-se plenamente o conceito de autoria.
coautores serão aqueles que têm o domínio funcional dos fatos, ou seja,
dentro do conceito de divisão de tarefas, serão coautores todos os que
tiverem uma participação importante e necessária ao cometimento da
infração, não se exigindo que todos sejam executores, isto é, que todos
pratiquem a conduta descrita no núcleo do tipo
Ainda temos, nas palavras de NUCCI (2017), o autor é aquele que realiza a
função executiva, qual seja, a função principal do delito, a ação típica nuclear, sendo
que aquele que induziu ou auxiliou, não é partícipe, é autor mediato. Na mesma linha
de raciocínio, a autoria dentro de um sistema diferenciador, não pode-se ser limitada
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apenas a quem pratica pessoal e diretamente a figura do fato delitivo, mas também a
quem compreender para aquele que se serve de outros ou de instrumentos para
realização do fim delitivo.
de 9 minutos antes da colisão, com uma motorista guardiã, Rafaela Vasquez, que no
momento do choque, estava distraída, olhando para o celular.
O fato levanta uma série de questionamentos. Ficou claro que houve uma série
de fatores relevantes que culminaram com o fatídico acidente. Porém este é um
exemplo de que , sem a legislação adequada, e os princípios norteadores para o
desenvolvimento de algoritmos que possam ser orientados para obedecer ao critério
de transparência, outros fatos típicos poderão ser cometidos no futuro, com ou sem
intenção. No caso em tela, considera-se que não houve dolo da equipe de
desenvolvimento. Porém, poderá ser apurada a culpa, pois o softwares necessitou de
ajustes. Segundo BUSATO (2017), a essência da CULPA é, junto à ausência de
compromisso com o resultado (falta de intenção ou dolo), a infração de um dever
específico de cuidado. Dever de cuidado que corresponde ao atuar diligente, ao agir
de acordo com a experiência comum, com as normas socioculturais e normativa
vigente, que prescrevem uma atuação de acordo com ela, para afastar os perigos
derivados da conduta. Neste caso porém, a motorista guardiã, foi indiciada pelo
homicídio culposo, pois sua conduta displicente foi evidenciada ao rever as câmeras
internas do carro. O processo está em tramitação no Condado de Tempe.
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Em uma analogia fria, podemos entender que IA competiu para matar um ser
humano. Mesmo que em um combate simulado, o objetivo era claro: enquadrar seu
inimigo da mira, e eliminar. Ou seja, foi uma IA pensada com o objetivo claro de tirar
a vida de um ser humano. Neste caso, a intenção é clara. Há o dolo desde o
nascimento da IA. Segundo SANTOS (2015), o DOLO é a vontade consciente de
realizar um crime – ou, mais tecnicamente, vontade consciente de realizar o tipo
objetivo de um crime. O dolo é composto de um
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Mesmo que factualmente não tenha sido executado nenhum ato direto, o
cometimento desses atos realizados por meio de um robô, que é um sistema de
Inteligência Artificial, configuraria a autoria dos agentes, e o uso instrumental de um
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Por último, segundo HELLAVY, ainda teríamos mais um cenário, aquele na qual
a inteligência artificial comete deliberadamente o crime, visando alcançar seus
objetivos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após estas reflexões, e de acordo com o que foi apurado na pesquisa, viu-se
com o conceito de inteligência é bastante amplo. A questão precípua que devemos
encarar é: com os desafios atuais, estamos preparados para enfrentar os desafios ,
sociais, jurídicos e econômicos que se avizinham?
tais feitos são dignos de uma nova barreira rompida, Hoje, máquinas são melhores
que seres humanos onde estes se achavam imbatíveis: a capacidade cognitiva.
Por fim, é pertinente que ainda mais estudos da Moral Machine , uma área que
defende que valores morais devem ser incorporados aos algoritmos de AI, de forma a
conseguir que se obedeçam as regras morais e legais de nossa sociedade, para até
mesmos dispositivos autônomos, respeitando aquilo que se deseja como projeto de
estado democrático e justo.
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6 – Referências
HALLEVY, Gabriel - The Basic Models of Criminal Liability of AI Systems and Outer
Circles - Ono Academic College – ARTIFICIAL INTELLIGENCE UNDER CRIMINAL
LAW, Northeastern University Press, 2019
LEE, KAI-FU; Inteligência Artificial: Como os robôs estão mudando o mundo, a forma
como amamos, nos comunicamos e vivemos; Tradução Marcelo Barbão – 1 ed. – Rio
de janeiro -RJ, 2019
RESPO, Marcelo Xavier de Freitas. Crimes digitais. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 45-
69ROSSINI, Augusto Eduardo de Souza. Informática, telemática e direito penal. São
Paulo: Memória Jurídica, 2004, p. 110..