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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E PROTEÇÃO DE DADOS NO

SETOR PÚBLICO
Luís Manoel Borges do Vale - Procurador do Estado de Alagoas,
nomeado Procurador Federal, Ex-Advogado da Petrobras, Presidente
da Comissão de Inteligência Artificial aplicada à Advocacia Pública,
Doutorando pela UNB, Mestre em Direito Processual pela
Universidade Federal de Alagoas, Especialista pela Ohio University,
Professor de Direito Processual Civil na Escola Superior da
Magistratura de Alagoas - ESMAL e na Escola da Advocacia-Geral da
União - EAGU, membro da Internacional Association of Privacy
Professionals - IAPP, da Comissão Nacional de Advocacia Pública da
OAB, do Instituto Brasileiro de Direito Processual – IBDP e da
Associação Norte e Nordeste de Professores de Processo - ANNEP.
1. Contexto da quarta revolução industrial.

1.1. Evolução da capacidade computacional (Lei de Moore)

1.2. Big Data. Dados estruturados e não estruturados.

1.3. Novas tecnologias (Inteligência Artificial, internet das coisas IoT,


Blockchain, dentre outras).
“Hoy se estima que en los dos últimos
años se ha creado más información que
em toda la historia de la humanidade:
según IBM cada día se generan 4,7
quintillones bytes de datos.” (José
Ignácio Solar Cayón)”
2. Inteligência Artificial: aspectos relevantes.
2.1. Panorama histórico. Primórdios: Alan
Turing: Computing Machinery and
Intelligence. Conferência em Darmouth
College (John McCarthy, M.L Minsky, N.
Rochester e C.E. Shannon). Invernos da IA.
2.2. Inteligência artificial fraca (específica)
e Inteligência artificial forte (geral ou
singularidade).
2.3. Algoritmo: noção estruturante.
2.4. Machine learning: a) supervisionado;
b) não supervisionado; c) por reforço.
2.5. Deep learning: redes neurais.
2.6. Processamento de linguagem natural.
2.7. Jurimetria e modelos preditivos.
2.8. 4 problemas centrais relacionados ao uso da
inteligência artificial:
A) Opacidade algorítmica.
B) Enviesamento algorítmico
C) Dataset viciado.
D) O respeito ao devido processo legal tecnológico.
2.8. PL 21/2020 - Estabelece princípios, direitos e deveres para o uso de inteligência artificial no Brasil:
Art. 6º São princípios para o uso responsável de inteligência artificial no Brasil:
I - finalidade: uso da inteligência artificial para buscar resultados benéficos para as pessoas e o planeta, com o
fim de aumentar as capacidades humanas, reduzir as desigualdades sociais e promover o desenvolvimento
sustentável;
II - centralidade no ser humano: respeito à dignidade humana, à privacidade e à proteção de dados pessoais e
aos direitos trabalhistas;
III - não discriminação: impossibilidade de uso dos sistemas para fins discriminatórios, ilícitos ou abusivos;
IV - transparência e explicabilidade: garantia de transparência sobre o uso e funcionamento dos sistemas de
inteligência artificial e de divulgação responsável do conhecimento de inteligência artificial, observados os
segredos comercial e industrial, e de conscientização das partes interessadas sobre suas interações com os
sistemas, inclusive no local de trabalho;
V - segurança: utilização de medidas técnicas e administrativas, compatíveis com os padrões internacionais,
aptas a permitir a funcionalidade e o gerenciamento de riscos dos sistemas de inteligência artificial e a garantir
a rastreabilidade dos processos e decisões tomadas durante o ciclo de vida do sistema; e
VI - responsabilização e prestação de contas: demonstração, pelos agentes de inteligência artificial, do
cumprimento das normas de inteligência artificial e da adoção de medidas eficazes para o bom funcionamento
dos sistemas, observadas suas funções
RESOLUÇÃO Nº 332/2020 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

Art. 7o As decisões judiciais apoiadas em ferramentas de Inteligência Artificial devem preservar a igualdade, a
não discriminação, a pluralidade e a solidariedade, auxiliando no julgamento justo, com criação de condições
que visem eliminar ou minimizar a opressão, a marginalização do ser humano e os erros de julgamento
decorrentes de preconceitos.

Art. 8o Para os efeitos da presente Resolução, transparência consiste em:


I – divulgação responsável, considerando a sensibilidade própria dos dados judiciais;
II – indicação dos objetivos e resultados pretendidos pelo uso do modelo de Inteligência Artificial;
III – documentação dos riscos identificados e indicação dos instrumentos de segurança da informação e
controle para seu enfrentamento;
IV – possibilidade de identificação do motivo em caso de dano causado pela ferramenta de Inteligência
Artificial;
V – apresentação dos mecanismos de auditoria e certificação de boas práticas;
VI – fornecimento de explicação satisfatória e passível de auditoria por autoridade humana quanto a qualquer
proposta de decisão apresentada pelo modelo de Inteligência Artificial, especialmente quando essa for de
natureza judicial.
3. Blockchain.
Tecnologia blockchain é uma forma de tecnologia distribuída de livro-
razão, a qual atua como um registro (uma lista) aberto e autenticado de
transações de uma parte para outra (ou múltiplas partes), que não são
armazenadas por uma autoridade central. Em vez disso, uma cópia é
armazenada por cada usuário rodando um software blockchain e
conectado a uma rede blockchain – também conhecido como nó. Ao
invés de uma autoridade central manter exclusivamente a base de dados,
todos os nós têm uma cópia do livro-razão, sendo que as atualizações do
livro-razão blockchain são propagadas através da rede em minutos ou
segundos (tradução livre) (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico – OCDE).
FONTE – TCU – ACÓRDÃO 1.613/2020 –
PLENÁRIO.
FONTE – TCU – ACÓRDÃO 1.613/2020 –
PLENÁRIO.
FONTE – TCU – ACÓRDÃO 1.613/2020 –
PLENÁRIO.
4. Internet das coisas.

“A IoT é um elemento central da infraestrutura da


Quarta Revolução Industrial. Trata de uma gama de
sensores inteligentes conectados que coletam,
processam e transformam os dados de acordo com a
necessidade; os dados são, então, enviados para
outros dispositivos ou indivíduos para atender aos
objetivos de um sistema de usuário.” (Klaus Schwab)
5. Bases da Administração Pública
Digital

6.Processo administrativo e
inteligência artificial. O redesenho do
setor consultivo.
Art. 14. A prestação digital dos serviços públicos deverá ocorrer por
meio de tecnologias de amplo acesso pela população, inclusive pela de
baixa renda ou residente em áreas rurais e isoladas, sem prejuízo do
direito do cidadão a atendimento presencial.
Parágrafo único. O acesso à prestação digital dos serviços públicos
será realizado, preferencialmente, por meio do autosserviço.
Art. 15. A administração pública participará, de maneira integrada e
cooperativa, da consolidação da Estratégia Nacional de Governo Digital,
editada pelo Poder Executivo federal, que observará os princípios e as
diretrizes de que trata o art. 3º desta Lei.
Art. 16. A administração pública de cada ente federado poderá editar
estratégia de governo digital, no âmbito de sua competência, buscando
a sua compatibilização com a estratégia federal e a de outros entes.
Art. 5º A administração pública utilizará soluções digitais para a gestão de suas
políticas finalísticas e administrativas e para o trâmite de processos administrativos
eletrônicos.
Parágrafo único. Entes públicos que emitem atestados, certidões, diplomas ou
outros documentos comprobatórios com validade legal poderão fazê-lo em meio
digital, assinados eletronicamente na forma do art. 7º desta Lei e da Lei nº 14.063,
de 23 de setembro de 2020.
Art. 6º Nos processos administrativos eletrônicos, os atos processuais deverão ser
realizados em meio eletrônico, exceto se o usuário solicitar de forma diversa, nas
situações em que esse procedimento for inviável, nos casos de indisponibilidade do
meio eletrônico ou diante de risco de dano relevante à celeridade do processo.
Parágrafo único. No caso das exceções previstas no caput deste artigo, os atos
processuais poderão ser praticados conforme as regras aplicáveis aos processos em
papel, desde que posteriormente o documento-base correspondente seja
digitalizado.
ENUNCIADO 12 – I JORNADA DE DIREITO
ADMINISTRATIVO DO CJF A decisão
administrativa robótica deve ser
suficientemente motivada, sendo a sua
opacidade motivo de invalidação.
(APROVADO EM 07/08/2020)
7. Licitações e contratos e IA.

7.1. Fiscalização do TCU e IA. (Alice, Sofia e


Mônica).

7.2. Smart contracts administrativos.


“Contratos inteligentes, ou smart contracts, são
código-fonte em linguagem de programação
(scripts), que podem ser definidos e auto
executados em uma infraestrutura de blockchain
ou DLT. A definição e execução de um contrato
inteligente nestes ambientes se dá sem a
necessidade de intermediários.” (TCU – ACÓRDÃO
1.613/2020 – PLENÁRIO.)
8. Câmaras de prevenção e resolução administrativas de conflitos
e ODR.
“Monitorada pela Secretaria Nacional do Consumidor - Senacon
- do Ministério da Justiça, Procons, Defensorias, Ministérios
Públicos e também por toda a sociedade, esta ferramenta
possibilita a resolução de conflitos de consumo de forma rápida
e desburocratizada: atualmente, 80% das reclamações
registradas no Consumidor.gov.br são solucionadas pelas
empresas, que respondem as demandas dos consumidores em
um prazo médio de 7 dias.”
DECRETO FEDERAL Nº 10.332, DE 28 DE ABRIL DE 2020
Objetivo 8 - Serviços públicos do futuro e tecnologias emergentes
Iniciativa 8.1. Desenvolver, no mínimo, seis projetos de pesquisa, desenvolvimento e
inovação com parceiros do Governo federal, instituições de ensino superior, setor
privado e terceiro setor, até 2022.
Iniciativa 8.2. Implementar recursos de inteligência artificial em, no mínimo, doze
serviços públicos federais, até 2022.
Iniciativa 8.3. Disponibilizar, pelo menos, nove conjuntos de dados por meio de soluções
de blockchain na administração pública federal, até 2022.
Iniciativa 8.4. Implementar recursos para criação de uma rede blockchain do Governo
federal interoperável, com uso de identificação confiável e de algoritmos seguros.
Iniciativa 8.5. Implantar um laboratório de experimentação de dados com tecnologias
emergentes até 2023.
9. Tratamento de dados pessoais pelo Poder Público.

9.1. Premissa constitucional.

Art. 5º. (...) LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito


à proteção dos dados pessoais, inclusive nos meios digitais.

XXVI - organizar e fiscalizar a proteção e o tratamento de dados


pessoais, nos termos da lei.
9.2. LGPD e Lei de Acesso à Informação: Como compatibilizar os diplomas legislativos?
9.3. Critérios para o tratamento de dados pelo Poder Público:

Art. 23. O tratamento de dados pessoais pelas pessoas jurídicas de direito público referidas no parágrafo único do art.
1º da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informação) , deverá ser realizado para o
atendimento de sua finalidade pública, na persecução do interesse público, com o objetivo de executar as
competências legais ou cumprir as atribuições legais do serviço público, desde que:
I - sejam informadas as hipóteses em que, no exercício de suas competências, realizam o tratamento de dados
pessoais, fornecendo informações claras e atualizadas sobre a previsão legal, a finalidade, os procedimentos e as
práticas utilizadas para a execução dessas atividades, em veículos de fácil acesso, preferencialmente em seus sítios
eletrônicos;
II - (VETADO); e
III - seja indicado um encarregado quando realizarem operações de tratamento de dados pessoais, nos termos do art.
39 desta Lei.
III - seja indicado um encarregado quando realizarem operações de tratamento de dados pessoais, nos termos do art.
39 desta Lei; e (Redação dada pela Lei nº 13.853, de 2019) Vigência
IV - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019) Vigência
9.4. Compartilhamento de dados pelo Poder Público:

Por maioria dos votos, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que órgãos e entidades
da administração pública federal podem compartilhar dados pessoais entre si, com a
observância de alguns critérios. A decisão ocorreu na sessão plenária desta quinta-feira
(15) na análise conjunta da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 6649) e da
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 695).

O voto condutor do julgamento foi o do relator, ministro Gilmar Mendes, no sentido da


possibilidade de compartilhamento, desde que observados alguns parâmetros. Segundo
ele, a permissão de acesso a dados pressupõe propósitos legítimos, específicos e
explícitos para seu tratamento e deve ser limitada a informações indispensáveis ao
atendimento do interesse público.
9.4. Compartilhamento de dados pelo Poder Público:

Por maioria dos votos, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que órgãos e entidades
da administração pública federal podem compartilhar dados pessoais entre si, com a
observância de alguns critérios. A decisão ocorreu na sessão plenária desta quinta-feira
(15) na análise conjunta da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 6649) e da
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 695).

O voto condutor do julgamento foi o do relator, ministro Gilmar Mendes, no sentido da


possibilidade de compartilhamento, desde que observados alguns parâmetros. Segundo
ele, a permissão de acesso a dados pressupõe propósitos legítimos, específicos e
explícitos para seu tratamento e deve ser limitada a informações indispensáveis ao
atendimento do interesse público. (ADI 6649 / ADPF 695)
Art. 26. O uso compartilhado de dados pessoais pelo Poder Público deve atender a finalidades específicas de execução
de políticas públicas e atribuição legal pelos órgãos e pelas entidades públicas, respeitados os princípios de proteção
de dados pessoais elencados no art. 6º desta Lei.
§ 1º É vedado ao Poder Público transferir a entidades privadas dados pessoais constantes de bases de dados a que
tenha acesso, exceto:
I - em casos de execução descentralizada de atividade pública que exija a transferência, exclusivamente para esse fim
específico e determinado, observado o disposto na Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à
Informação) ;
II - (VETADO);
III - nos casos em que os dados forem acessíveis publicamente, observadas as disposições desta Lei.
IV - quando houver previsão legal ou a transferência for respaldada em contratos, convênios ou instrumentos
congêneres; ou (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019)
V - na hipótese de a transferência dos dados objetivar exclusivamente a prevenção de fraudes e irregularidades, ou
proteger e resguardar a segurança e a integridade do titular dos dados, desde que vedado o tratamento para outras
finalidades. (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019) Vigência
§ 2º Os contratos e convênios de que trata o § 1º deste artigo deverão ser comunicados à autoridade nacional.
9.5. Responsabilidade do Poder Público pelo inadequado tratamento de
dados.

Art. 31. Quando houver infração a esta Lei em decorrência do tratamento


de dados pessoais por órgãos públicos, a autoridade nacional poderá
enviar informe com medidas cabíveis para fazer cessar a violação.

Art. 32. A autoridade nacional poderá solicitar a agentes do Poder Público


a publicação de relatórios de impacto à proteção de dados pessoais e
sugerir a adoção de padrões e de boas práticas para os tratamentos de
dados pessoais pelo Poder Público.
9.6. Policiamento preditivo e tratamento de dados.

9.7. Discriminação algorítmica.

9.8. Desafios das smart cities.


MUITO OBRIGADO!

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