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DIAMANTINA
2022
DANILO HENRIQUE DA SILVA
DIAMANTINA
2022
Dedico este à minha mãe Luciana, meu
pai Magno e à minha namorada Taís, que são a
minha razão da busca pelo sucesso.
AGRADECIMENTOS
Um homem sem gratidão é um homem sem alma, por isso não poderia deixar de
externar aqui a minha gratidão pela Universidade do Estado De Minas Gerais, principal
responsável pela minha forja como futuro operador do Direito, faculdade onde eu adquiri os
mais notáveis conhecimentos para progredir na sociedade acadêmica.
A graduação em Direito sempre foi o meu maior sonho, e se não fosse a minha
mãe que sempre lutou exaustivamente para me conferir forças durante essa jornada, talvez
não estivesse aqui agradecendo a maior amiga que tenho, e que sempre tive, durante a jornada
acadêmica. Sou grato ao meu pai por sempre ser solícito quando os momentos difíceis
surgiam, e pelo apoio moral imprescindível.
Não poderia deixar de agradecer a minha querida Vovó Lica, por me proporcionar
o maior conforto emocional e as melhores risadas nos momentos de descontração. Ao meu
irmão Hugo que independente do momento sempre se fez presente. Aos meus avós paternos
pelo carinho e atenção de sempre.
Agradeço imensamente à minha namorada Taís, que soube compreender os
momentos ausentes devido a rotina de estudos necessários para realizar a minha monografia,
sua companhia e o seu carinho foi de grande contribuição. Todos os meus colegas, amigos e
familiares que estão presentes no meu dia-a-dia, convivendo, conversando e aconselhando
sempre com o intuito de transmitir energias positivas, especialmente, destino essas palavras
aos meus amigos do Escritório Azevedo & Souza Dr.Luan e Dr. Gabriel, por sempre me
ajudarem com o vasto conhecimento ofertado durante o estágio no escritório.
Por fim agradeço a Gerais Criptoativos, especialmente ao amigo e professor
Erinaldo Barbosa Silva, que despertou a ideia de um tema tão interessante para este trabalho,
ao meu orientador, Reinaldo Silva Pimentel Santos, que me proporcionou conhecimento para
a elaboração dessa monografia.
“Eu não acredito que teremos um bom dinheiro de
novo antes de tirá-lo das mãos do governo, isto é,
não podemos tirá-los violentamente das mãos do
governo. Tudo o que podemos fazer é, por algum
caminho indireto, introduzir algo que eles não
podem parar”.
(Hayek)
RESUMO
Esta monografia tem como objetivo analisar a utilização das criptomoedas como meio de
troca e compreender como o Direito brasileiro influencia na utilização, a fim de que seja
identificada qual a melhor maneira o estado deve tratar o tema. Através do método de
abordagem dedutivo, o trabalho foi realizado com base em pesquisas bibliográficas, foram
consultadas, teses, comunicados e instruções de instituições financeiras, projetos de lei e
jurisprudência. O problema inicial propõe compreender o funcionamento da tecnologia por
trás das criptomoedas e seu impacto na economia. Como hipótese inicial apresenta-se que a
regulamentação das criptomoedas se faz necessária para existir o alcance do Direito. A
pesquisa apresentou os pontos positivos e negativos do uso das criptomoedas, seus impactos,
relevância, adiante da ótica dos legisladores e economistas. Identificou como as instituições
econômicas adotam e abordam o problema sem o apoio da regulamentação, além de mostrar
como a obscuridade da lei pode tornar muito difícil o tratamento do tema, visto que, tribunais
se declaram incompetentes em tratar o mérito. Para além, verificou-se como os legisladores
interpretam o tema e como eles pretendem regulamentar as criptomoedas. Por fim, constatou-
se que é de suma importância os legisladores tratarem o tema munidos de conhecimento,
cautela e pacificidade. Deve estar presente uma definição acerca da natureza jurídica para as
entidades financeiras não conduzirem o tema na obscuridade da lei, construir a
regulamentação através de uma legislação especial, o que impõe a comprovação de que o
Brasil está preparado para regulamentar as criptomoedas.
This monograph aims to analyze the use of cryptocurrencies as a means of exchange and to
anderstand how Brazilian Law influences the use, in order to identify the best way the State
should approach the subject. Through the deductive approach method, the work was carried
out based on bibliographic research, thesis, announcements and financial institutions’s
instructions, law’s projects and jurisprudence. The initial problem proposes to understand the
operation of the technology behind cryptocurrencies and their impact on the economy. As an
initial hypothesis it is presented that the regulation of cryptocurrencies is necessary to covered
it by the Law. The research showed the positive and negative points of the use of
cryptocurrencies, their impacts, relevance, ahead of the perspective of legislators and
economists. It identified how economic institutions adopt and address the problem without the
support of regulation, in addition to showing how the obscurity of the law can make it very
difficult to deal with the subject, since courts declare themselves incompetent in dealing with
the subject. Furthermore, it was verified how legislators interpret the topic and how they
intend to regulate cryptocurrencies. Finally, it was found that it is of paramount importance
for legislators to deal with the subject with knowledge, caution and pacificity. A definition of
its legal nature is necessary to financial entities not deal with it in the obscurity of the law, to
build regulation through special legislation, which proves that Brazil is prepared to regulate
cryptocurrencies.
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 11
2.1 CRIPTOMOEDAS........................................................................................................ 15
2.2 CRIPTOATIVOS .......................................................................................................... 16
2.3 O PROTOCOLO BITCOIN .......................................................................................... 16
2.4 COMPREENDENDO A BLOCKCHAIN ....................................................................... 18
2.5 ETHEREUM................................................................................................................. 23
CONCLUSÃO .................................................................................................................... 46
1 INTRODUÇÃO
O que se tem como a primeira utilização de moeda foi a cunhagem das primeiras
moedas no século VII A.C na Ásia Menor pelo rei Creso da Lídia, que era um costume de
marcar barras de metal para comprovar a pureza destes metais. No império romano foi
consolidada de fato a cunhagem das moedas, o que se desenvolveu em outros governos como
uma fonte e arma de poder dos governos. A cunhagem das moedas geralmente representavam
símbolos e imagens de autoridades para reforçar a sua autenticidade, uma vez que por meio
delas os governantes afirmavam sua soberania e denominava ao povo quem era seu rei ou
senhor.
Com o passar do tempo de uso das moedas na Idade Média, os governos exauriam
do povo uma custosa taxa de senhoriagem, a fim de cobrir os custos da cunhagem e também
obter lucros. Recolhiam as moedas para cunhá-las novamente com um menor teor de ouro ou
prata, nesse momento deixava de ter a finalidade de diminuir o peso ou pureza da moeda e
passavam a controlar a quantidade de dinheiro seria emitida.
A moeda como meio de troca começou a gerar acúmulo, desse modo, gerou uma
preocupação de como guardar em segurança essas moedas, foi nesse momento que surgiram
os bancos e juntamente com eles as cédulas de banco, em que a pessoa guardava no banco as
moedas e recebia um papel como recibo da quantia guardada, que poderia ser retirado em
algum momento, esse é o primeiro aparecimento do “papel moeda”. Esse recibo de quantia
guardada também servia como pagamento, por apresentar uma segurança e comodidade a sua
utilização. A Suécia foi o primeiro país a possuir um banco reconhecido oficialmente, no ano
de 1656 (HAYEK, 1977).
Esse foi o longo caminho de mais de 2000 anos da moeda e que hoje a sociedade
caminha para o uso de moedas virtuais criptografadas descentralizadas. O método de utilizar
dinheiro evoluiu também, com o passar dos dias utiliza-se menos o papel moeda, haja vista
que o cartão de crédito é uma das formas de pagamentos convencionais mais presente na vida
do homem do século XXI, sendo o cartão o tipo de dinheiro virtual. Nos últimos anos, têm se
consolidado, através de grandes comunidades, as moedas virtuais de criptografia, conhecidas
como criptomoedas.
2.1 CRIPTOMOEDAS
2.2 CRIPTOATIVOS
Não tem como iniciar a abordagem sobre criptomoedas sem falar da primeira e a
mais conhecida de todas como o Bitcoin. Em 2008 por meio de um artigo escrito por uma
pessoa ou grupo, de pseudônimo denominado Satoshi Nakamoto, surge uma moeda digital de
nome Bitcoin, a qual através de um sistema permite que uma pessoa em qualquer lugar do
mundo envie pagamentos sem a necessidade de um intermediário para outra pessoa.
Parece ser uma invenção simples, porém, é o resultado de muitas décadas de
pesquisa em criptografia, especialmente por um grupo chamado de Cypherpunks o qual estuda
como as formas de comunicação podem ser melhoradas e aprimoradas com segurança na
internet.
O Grupo informal de pesquisadores em criptografia estudam as formas de
comunicação aprimorada em segurança, sendo que possui o objetivo de assegurar a
privacidade das comunicações utilizando a criptografia, os quais surgiram depois que a
criptografia RSA foi inventada, no final da década de 70. Cabe salientar, que um dos seus
grandes feitos foi inventar um protocolo chamado de PGP que permitia trocar mensagens com
qualquer pessoa ao redor do mundo de forma criptografada. (ULRICH, 2014)
A criptografia no começo era utilizada por governos e militares como uma arma
de guerra, porém, as demais pessoas não tinham acesso a esta tecnologia da época.
Atualmente, a criptografia é desfrutada de forma aprimorada com Peer-to-peer em diversos
aplicativos de comunicação como o E-mail, Facebook, Whatsapp, Telegram etc.
Peer to peer é um termo em inglês cuja tradução “ponto a ponto” ou (p2p), são
diversos computadores como “pontos” conectados entre si formando uma rede
descentralizada (CIRIACO, 2008).
A criptografia de ponta a ponta ou peer-to-peer é responsável pelo sigilo no
compartilhamento de arquivos, documentos e troca de mensagens, sem a necessidade de um
servidor central.
Essa não era a única ideia dos cyfherpunks, eles queriam criar uma forma de
moeda digital, que fosse possível mandar para qualquer lugar do mundo e de forma livre
semelhante ao funcionamento do e-mail.
Para os cyfherphunks o dinheiro era só mais uma forma informação, sendo que
eles queriam tornar a troca de valores mais rápida e segura. Mesmo com o passar dos anos tal
grupo não conseguiu consolidar a ideia de transacionar dinheiro sem um terceiro de
confiança, até que em 2008 surge Satoshi Nakamoto com White-Paper do Bitcon.
Um White Paper ou, em português, "livro branco" ou "relatório branco", é um
documento oficial publicado por um governo ou uma organização internacional, a fim de
servir de informe ou guia sobre algum problema e como enfrentá-lo.
O Bitcoin expandiu-se através de uma crescente de entusiastas da tecnologia e
programação, que passaram a utilizar a criptomoeda como forma de pagamento na internet
sem depender de um intermediário, até mesmo em transferência internacional, onde uma
pessoa nos EUA podia mandar em questão de segundos para outra pessoa do outro lado
mundo no Japão, o que demoraria cerca de dois dias se a transação acontecesse entre
instituições bancárias.
À medida que as pessoas foram utilizando a nova tecnologia, o preço da bitcoin
foi subindo e se consolidando acima de sua especulação, de modo, que hoje é visto como um
ouro digital e uma reserva de valor. Em seu White Paper Satoshi Nakamoto 2008 explanou:
Devido ao sistema lento e oneroso para transacionar dinheiro, ainda mais quando
a transação ocorria na modalidade internacional, às pessoas clamavam por uma alternativa
mais rápida, vantajosa e segura. Após o artigo do Bitcoin publicado este problema passou a ter
solução, dessa forma, atualmente é a alternativa mais fácil para transacionar dinheiro.
1
De acordo com o site de negociações Biscoint https://biscoint.io/biscointbuy/learn-more acessado no dia 13 de
julho de 2021.
O Bitcoin surgiu para simplificar a forma de pagamento do comércio na internet,
ele soluciona a necessidade de um terceiro de confiança para processar pagamentos
eletrônicos, sendo uma das maiores revolução pós internet. As transações ocorrem de maneira
segura, mas uma vez transacionada jamais será revertida e isso gera confiança para quem
recebe, pois o destinatário fica ciente que o dinheiro recebido jamais será estornado
(ULRICH, 2014).
Como já foi explicado o Bitcoin é a rede Blockchain e bitcoins são as moedas
transacionadas, as quais que funcionam de forma segura sem a necessidade de uma autoridade
central como terceiro de confiança para confirmar as transações.
O Bitcoin utiliza em sua rede o peer-topeer, que é o responsável pela não
necessidade de uma autoridade centralizada incumbida de criar unidades monetárias e nem de
verificar as transações. Por trás dessa rede existem usuários com força computacional para
realizar registros e transações, esses usuários são chamados de mineradores, pois são
recompensados pelo trabalho em resolver o problema matemático e que com o resultado
geram novos bitcoins.
Os Mineradores são aqueles que detêm computadores que processam os
problemas matemáticos em troca de recompensas financeiras e que também criam os blocos
na rede.
A força computacional são milhares de computadores anexados na rede que
resolvem problemas matemáticos de alta complexidade e que ao mesmo tempo verificam as
transações na Blockchain. Pensando em possíveis aumentos de mineradores e
consequentemente a alta capacidade computacional, o protocolo do Bitcoin anexa mais
dificuldade ao problema matemático, isso acontece para preservar que as bitcoins sejam
mineradas em uma taxa de tempo definido e limitadas.
Como Fernando Ulrich explana em seu livro Bitcoin A Moeda Na Era Digital:
Figura 1 - Bitcoin
O gráfico acima concerne na evolução que o Bitcoin teve nos últimos anos desde
as suas primeiras transações, o crescimento é muito expressivo por se tratar de uma inovação
ainda muito recente. O valor de mercado do Bitcoin chega ao incrível número de
R$4.326.085.162.523,002, uma criptomoeda que sofre muitas represálias e desconfianças por
parte de alguns, está na casa do trilhão.
2
Segundo o site: CoinMarketCap. https://coinmarketcap.com/currencies/ethereum/. Acesso em: 05 fev. 2022.
Não pode a maior cripotomoeda do mundo ser tratada meramente como uma nova
moeda do mundo virtual. Há de se reconhecer que isso não é uma brincadeira feita por
entusiastas de programação, e merece o devido respeito por aqueles que não conhecem o
protocolo. Dessa forma, deve ser tratado com cautela pelos representantes do povo que
querem dar uma resposta rápida sem pensar nas consequências.
A inflação em moedas fiduciárias é recorrente da má influência do governo em
controlar o dinheiro, bem como em função de emissão da moeda, de modo que na maioria das
vezes utiliza da oferta monetária para satisfazer interesses políticos, gerando como
consequência negativa, qual seja, elevação dos preços (HAYEK, 1977).
Como frisava um dos maiores representantes da Escola Austríaca, o economista e
filósofo austríaco Friederich August von Hayek:
O potencial que a Ethereum demonstra com a sua inovação é tão grande, porque
simplifica a burocracia enfrentada pelos bancos convencionais em questões contratuais e, por
isso, minimiza custos e automatiza todas as ações da relação contratual.
Se for pensar em tamanho, valor e capitalização de mercado da rede como algo
que indique confiança a Ethereum seria a segunda maior rede confiável dentro do universo
dos criptovativos. Isso confirma com o seu valor de mercado e seu volume de capitalização.
Na figura abaixo é possível verificar o seu preço de mercado desde o seu lançamento:
Figura 2 - Ethereum
3
Segundo site CoinMarketCap. . https://coinmarketcap.com/currencies/ethereum/. Acesso em: 05 fev. 2022.
Uma porcentagem pequena de tokens é reservada geralmente para recompensas,
campanhas publicitárias e até para os desenvolvedores da moeda.
Uma vez que o ICO é concluído e o projeto lançado, você recebe suas moedas e
assim que uma exchange as listar você poderá vender, ou trocar por outras moedas,
ou simplesmente guarda-las em sua respectiva carteira.(SÁ, 2017, p.A1).
Talvez seja meio difícil entender uma moeda sem valor intrínseco, mas outras
moedas – como o real ou o dólar – também são assim. Desde que o padrão-ouro foi
abandonado em 1971 nos EUA, o valor do dólar depende da confiança naqueles que
a fabricam e distribuem: o Tesouro e os bancos. Da mesma forma, o real não tem
lastro: é uma moeda fiduciária.
Este é a falha que o Bitcoin tenta resolver. Teoricamente, se a economia de um país
entrar em colapso, o Bitcoin continuaria quase que sem restrições. Afinal, em vez de
confiar em uma autoridade superior, ele depende de matemática – um algoritmo
alimentado por uma rede descentralizada.
Em outras palavras, o Bitcoin poderia ser uma alternativa contra uma queda do
sistema financeiro mundial; isso se ele não colapsar por motivos próprios, é claro.
Ele não é perfeito, mas está separado, e isso pode ajudar. (FREINBERG, 2013,
p.A1)
O Bitcoin, como a primeira criptomoeda, é responsável pela evolução e inovação
no cenário financeiro, pois foi além da internet e usou dela mesma para resolver um imbróglio
do sistema de pagamentos. Como esclarece Gravinez (2017):
Ao dizer que a Bitcoin possui menores custos de transação, compara-se ela às outras
moedas já utilizadas no sistema financeiro mundial. Este menor custo é devido ao
fato de que essa moeda não possui nenhum terceiro intermediando as transações, e
isso além de fazer com que as taxas sejam mínimas, também reduz o tempo das
operações financeiras. Pelo fato das transações realizadas com Bitcoins serem mais
baratas, é possível que micropagamentos aconteçam facilmente, além de que os
custos de pequenos comerciantes e das remessas de dinheiro globais sejam
reduzidos.
O Bitcoin pode ser visto também como um estímulo à inovações financeiras pois
como em sua essência são simplesmente pacotes de dados, esta tecnologia pode ser
utilizada para transferir não somente moedas, mas também ações de empresas, por
exemplo, facilitando, dessa forma, que muitas operações presentes no mercado
financeiro ocorram.
O Bitcoin é uma potencial arma à pobreza e opressão pois permite que regiões mais
pobres e, portanto, de difícil contato à sistemas financeiros convencionais (os
bancos, por exemplo) tenham acesso a um sistema capaz de realizar transações via
qualquer smartphone. Vale citar também que o sistema fechado de pagamentos por
celular M-Pesa tem sido particularmente exitoso em países como Quênia, Tanzânia e
Afeganistão. Este sistema permite, assim como falado anteriormente, que as
transações comerciais sejam realizadas com um auxílio de smartphones e,
atualmente, já foi desenvolvido um produto que permite que usário do M-Pesa
troquem bitcoins. Portanto, pode-se dizer que em regiões e países que sofrem de
algum tipo de opressão financeira, são muito beneficiados com a criptomoeda.
(GRAVINEZ, 2017, p.A1)
Com uma visão mais amadurecida, hoje é compreensível que na época o próprio
deputado não tinha conhecimento da matéria que pretendia legislar, ao tratar as criptomoedas
como arranjo de pagamento, além de frisar que o CDC seria competente, como dispõe o
Projeto de Lei nº 2303 de 2015:
JURÍDICO BRASILEIRO
4
Ativos virtuais no Brasil: o que são e como regular? Recomendações ao Projeto de
Lei nº 2060/2019, de autoria de Camila Villard Duran, Daniel Fideles Steinberg e Marcelo de Castro Cunha
Filho, artigo a ser publicado em: Da Costa e Prado (orgs.), "CryptoLaw: Inovação, Direito e Desenvolvimento",
v.1, Direito GV-Almedina (no prelo), 2019.
Nota-se que após o enredo acima, a bitcoin não tem natureza jurídica, por não ser
emitida através de uma autoridade central, não ter curso forçado e por ser uma criptomoeda
descentralizada, sendo um dinheiro eletrônico para transações ponto a ponto.
CAPÍTULOIII
DA OBRIGATORIEDADE DE PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÕES
Art. 6º Fica obrigada à prestação das informações a que se refere o art. 1º:
I - a exchange de criptoativos domiciliada para fins tributários no Brasil;
II - a pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no Brasil quando:
a) as operações forem realizadas em exchange domiciliada no exterior; ou
b) as operações não forem realizadas em exchange.
§ 1º No caso previsto no inciso II do caput, as informações deverão ser prestadas
sempre que o valor mensal das operações, isolado ou conjuntamente, ultrapassar R$
30.000,00 (trinta mil reais).
§ 2º A obrigatoriedade de prestar informações aplica-se à pessoa física ou jurídica
que realizar quaisquer das operações com criptoativos relacionadas a seguir:
I - compra e venda;
II - permuta;
III - doação;
IV - transferência de criptoativo para a exchange;
V - retirada de criptoativo da exchange;
VI - cessão temporária (aluguel);
VII - dação em pagamento;
VIII - emissão; e
IX - outras operações que impliquem em transferência de criptoativos.
MOBILIÁRIOS
Logo após a CVM declarar que o bitcoin não pode ser considerado um valor
mobiliário, em janeiro 2018 a autarquia publicou um ofício circular que diante de vaga
interpretação técnica em relação às criptomoedas, elas não podem ser classificada como ativos
financeiros e a compra via fundos de investimentos não seria permitida. Como institui o
Ofício Circular nº 1/2018/CVM/SIN:
O que antes era mal elaborado em 2015 ficou mais compreensível com as últimas
alterações até a sua aprovação na câmara dos deputados, mas será mesmo o caminho ideal
este clamor pela regulamentação? O que vem funcionando com excelência desde 2008, como
é o caso da Bitcoin sem nenhuma queda da rede, fraude ou erro de sua programação. O
problema não é a tecnologia, mas sim quem a utiliza, percebe-se que os legisladores não
enxergam da maneira adequada vendo somente o lado negativo sem entender como
funcionam as criptomoedas.
Deve-se reconhecer que existem sim, riscos com o uso dos ativos virtuais, e
regulamentar as prestadoras de serviços que são conhecidas popularmente como Exchange.
Com o texto do PL n.º 2303 de 2015 existirá uma garantia de proteção para os usuários que
forem lesados, o que exime o risco de golpes e fraudes, trazendo responsabilidades e possíveis
penalizações para aquelas prestadoras que não seguirem as diretrizes mencionadas no PL.
O Projeto de Lei n.º 2303 de 2015 foi aprovado com alterações no Plenário no dia
08 de dezembro de 2021, e agora encontra-se no Senado Federal.
Art. 2º Para a finalidade desta lei e daquelas por ela modificadas, entende-se por
criptoativos:
I – Unidades de valor criptografadas mediante a combinação de chaves públicas e
privadas de assinatura por meio digital, geradas por um sistema público ou privado e
descentralizado de registro, digitalmente transferíveis e que não sejam ou
representem moeda de curso legal no Brasil ou em qualquer outro país;
II – Unidades virtuais representativas de bens, serviços ou direitos, criptografados
mediante a combinação de chaves públicas e privadas de assinatura por meio digital,
registrados em sistema público ou privado e descentralizado de registro,
digitalmente transferíveis, que não seja ou representem moeda de curso legal no
Brasil ou em qualquer outro país;
III – Tokens Virtuais que conferem ao seu titular acesso ao sistema de registro que
originou o respectivo token de utilidade no âmbito de uma determinada plataforma,
projeto ou serviço para a criação de novos registros em referido sistema e que não se
enquadram no conceito de valor mobiliário disposto no art. 2° da Lei nº 6.385, de 7
de dezembro de 1976;
Parágrafo único. Considera-se intermediador de Criptoativos a pessoa jurídica
prestadora de serviços de intermediação, negociação, pósnegociação e custódia de
Criptoativos. (Brasil, 2019)
O Projeto de Lei n.º 2.060 de 2019 encontra-se arquivado por ter sido declarado
prejudicado em face a aprovação da Subemenda Substitutiva Global ao Projeto de Lei nº
2303/2015 no final de 2020. Essa foi uma tentativa mais amadurecida sobre a regulamentação
dos criptoativos.
Existem outros três Projetos de Lei propondo regulamentação dos criptoativos,
esses projetos tem em seus textos muitas semelhanças. O Projeto de Lei nº 3825, de 2019,
com autoria do senador Flávio Arns (REDE/PR), concerne em propor a regulação do mercado
de criptoativos, a relação entre usuários e prestadores de serviços.
O Projeto de Lei nº 3949, de 2020, de autoria do Senador Styvenson Valentim
(PODEMOS/RN), estabelece condições para o funcionamento das exchanges de criptoativos,
e alteração de algumas leis como dispõe em seu texto:
Compreende-se que na esfera judicial ainda persiste a incompetência por parte dos
tribunais em relação ao tratamento do mérito das criptomoedas. Os conflitos dirimidos aos
tribunais precisam de base legal para auxiliar no devido processo legal. As motivações de
decisões nem sempre precisam de base legal, mas ao tratar um fato desconhecido os tribunais
devem estar apoiados à lei.
Pontua-se que pareceres, instruções e comunicados não podem ficar a todo tempo
tratando o tema, visto que a gravidade do problema está sendo ignorada e a solução é pequena
frente ao tamanho do litígio. Evidencia que a falta de legislação específica para o tratamento
adequado das criptomoedas, torna a problemática inalcançável, desse modo, a regulamentação
se faz necessária, pois assim terá o Direito alcançado a solução do tema.
CONCLUSÃO
ANDRADE, Mariana Dionísio de. Tratamento jurídico das criptomoedas: a dinâmica dos bitcoins e o crime de
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