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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

DANILO HENRIQUE DA SILVA

CRIPTOMOEDAS: ANÁLISE CRÍTICA À POSSIBILIDADE DE SUA


REGULAMENTAÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

DIAMANTINA
2022
DANILO HENRIQUE DA SILVA

CRIPTOMOEDAS: ANÁLISE CRÍTICA À POSSIBILIDADE DE SUA


REGULAMENTAÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Monografia apresentada ao Curso de Direito da


Universidade do Estado de Minas Gerais – Unidade
Diamantina, como requisito à obtenção do título de
Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Reinaldo Silva Pimentel Santos

DIAMANTINA
2022
Dedico este à minha mãe Luciana, meu
pai Magno e à minha namorada Taís, que são a
minha razão da busca pelo sucesso.
AGRADECIMENTOS

Um homem sem gratidão é um homem sem alma, por isso não poderia deixar de
externar aqui a minha gratidão pela Universidade do Estado De Minas Gerais, principal
responsável pela minha forja como futuro operador do Direito, faculdade onde eu adquiri os
mais notáveis conhecimentos para progredir na sociedade acadêmica.
A graduação em Direito sempre foi o meu maior sonho, e se não fosse a minha
mãe que sempre lutou exaustivamente para me conferir forças durante essa jornada, talvez
não estivesse aqui agradecendo a maior amiga que tenho, e que sempre tive, durante a jornada
acadêmica. Sou grato ao meu pai por sempre ser solícito quando os momentos difíceis
surgiam, e pelo apoio moral imprescindível.
Não poderia deixar de agradecer a minha querida Vovó Lica, por me proporcionar
o maior conforto emocional e as melhores risadas nos momentos de descontração. Ao meu
irmão Hugo que independente do momento sempre se fez presente. Aos meus avós paternos
pelo carinho e atenção de sempre.
Agradeço imensamente à minha namorada Taís, que soube compreender os
momentos ausentes devido a rotina de estudos necessários para realizar a minha monografia,
sua companhia e o seu carinho foi de grande contribuição. Todos os meus colegas, amigos e
familiares que estão presentes no meu dia-a-dia, convivendo, conversando e aconselhando
sempre com o intuito de transmitir energias positivas, especialmente, destino essas palavras
aos meus amigos do Escritório Azevedo & Souza Dr.Luan e Dr. Gabriel, por sempre me
ajudarem com o vasto conhecimento ofertado durante o estágio no escritório.
Por fim agradeço a Gerais Criptoativos, especialmente ao amigo e professor
Erinaldo Barbosa Silva, que despertou a ideia de um tema tão interessante para este trabalho,
ao meu orientador, Reinaldo Silva Pimentel Santos, que me proporcionou conhecimento para
a elaboração dessa monografia.
“Eu não acredito que teremos um bom dinheiro de
novo antes de tirá-lo das mãos do governo, isto é,
não podemos tirá-los violentamente das mãos do
governo. Tudo o que podemos fazer é, por algum
caminho indireto, introduzir algo que eles não
podem parar”.

(Hayek)
RESUMO

Esta monografia tem como objetivo analisar a utilização das criptomoedas como meio de
troca e compreender como o Direito brasileiro influencia na utilização, a fim de que seja
identificada qual a melhor maneira o estado deve tratar o tema. Através do método de
abordagem dedutivo, o trabalho foi realizado com base em pesquisas bibliográficas, foram
consultadas, teses, comunicados e instruções de instituições financeiras, projetos de lei e
jurisprudência. O problema inicial propõe compreender o funcionamento da tecnologia por
trás das criptomoedas e seu impacto na economia. Como hipótese inicial apresenta-se que a
regulamentação das criptomoedas se faz necessária para existir o alcance do Direito. A
pesquisa apresentou os pontos positivos e negativos do uso das criptomoedas, seus impactos,
relevância, adiante da ótica dos legisladores e economistas. Identificou como as instituições
econômicas adotam e abordam o problema sem o apoio da regulamentação, além de mostrar
como a obscuridade da lei pode tornar muito difícil o tratamento do tema, visto que, tribunais
se declaram incompetentes em tratar o mérito. Para além, verificou-se como os legisladores
interpretam o tema e como eles pretendem regulamentar as criptomoedas. Por fim, constatou-
se que é de suma importância os legisladores tratarem o tema munidos de conhecimento,
cautela e pacificidade. Deve estar presente uma definição acerca da natureza jurídica para as
entidades financeiras não conduzirem o tema na obscuridade da lei, construir a
regulamentação através de uma legislação especial, o que impõe a comprovação de que o
Brasil está preparado para regulamentar as criptomoedas.

Palavras-chave: Direito. Tecnologia. Descentralizada. Economia.


ABSTRACT

This monograph aims to analyze the use of cryptocurrencies as a means of exchange and to
anderstand how Brazilian Law influences the use, in order to identify the best way the State
should approach the subject. Through the deductive approach method, the work was carried
out based on bibliographic research, thesis, announcements and financial institutions’s
instructions, law’s projects and jurisprudence. The initial problem proposes to understand the
operation of the technology behind cryptocurrencies and their impact on the economy. As an
initial hypothesis it is presented that the regulation of cryptocurrencies is necessary to covered
it by the Law. The research showed the positive and negative points of the use of
cryptocurrencies, their impacts, relevance, ahead of the perspective of legislators and
economists. It identified how economic institutions adopt and address the problem without the
support of regulation, in addition to showing how the obscurity of the law can make it very
difficult to deal with the subject, since courts declare themselves incompetent in dealing with
the subject. Furthermore, it was verified how legislators interpret the topic and how they
intend to regulate cryptocurrencies. Finally, it was found that it is of paramount importance
for legislators to deal with the subject with knowledge, caution and pacificity. A definition of
its legal nature is necessary to financial entities not deal with it in the obscurity of the law, to
build regulation through special legislation, which proves that Brazil is prepared to regulate
cryptocurrencies.

Keywords: Law. Technology. Decentralized. Economy.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Bitcoin ................................................................................................................. 21


Figura 2 - Ethereum ............................................................................................................. 25
Figura 3 - Ranking das Criptomoedas................................................................................... 26
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BACEN Banco Central


CVM Comissão de Valores Mobiliários
PL Projeto De Lei
RF Receita Federal
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 11

2 ORIGEM DA MOEDA ................................................................................................. 14

2.1 CRIPTOMOEDAS........................................................................................................ 15
2.2 CRIPTOATIVOS .......................................................................................................... 16
2.3 O PROTOCOLO BITCOIN .......................................................................................... 16
2.4 COMPREENDENDO A BLOCKCHAIN ....................................................................... 18
2.5 ETHEREUM................................................................................................................. 23

3 ANÁLISE DOS CRIPTOATIVOS ............................................................................... 27

3.1 ASPECTOS POSITIVOS .............................................................................................. 27


3.2 ASPECTOS NEGATIVOS ........................................................................................... 28

4 REGULAMENTAÇÃO JURÍDICA DOS CRIPTOATIVOS NO ORDENAMENTO


JURÍDICO BRASILEIRO ................................................................................................ 31

4.1 CRIPTOMOEDAS SEGUNDO O BANCO CENTRAL ................................................ 34


4.2 RECEITA FEDERAL ......................................................................................................... 35
4.3 CRIPTOMOEDAS SEGUNDO A COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS ............................... 37
4.4 PROJETO DE LEI N.º 2.303 DE 2015 ................................................................................ 40
4.5 PROJETO DE LEI N.º 2060 DE 2019 ................................................................................. 42
4.6 ENTENDIMENTOS DOS TRIBUNAIS .................................................................................. 43

CONCLUSÃO .................................................................................................................... 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 49


11

1 INTRODUÇÃO

As Criptomoedas se tornaram nos últimos anos uma forma de investimento digital


ainda desconhecida e duvidosa para muitas pessoas. Basicamente, é uma moeda virtual
descentralizada, sendo que a mesma pode ser trocada instantaneamente entre pessoas ao redor
do mundo em uma rede chamada Blockchain, a qual é protegida por uma criptografia para
validar as transações.
Quando se fala em Criptomoeda associa-se em um primeiro momento ao Bitcoin,
claramente por ter sido a pioneira no ramo de troca instantânea de valores, criada por um
grupo ou pessoa de pseudônimo Satoshi Nakamoto, haja vista que a mesma está consolidada
no mercado de criptoativos e, por conseguinte, é a mais valiosa do mundo.
Deve-se entender que a segurança no manuseio das criptomoedas tem duas vias,
uma positiva em virtude da sua extrema velocidade em transação e, por outro lado, outra
negativa, haja vista a sua imutabilidade após executada a transação, ou seja, uma vez
consolida sua transferência jamais será estornada. Uma de suas controvérsias é a sua livre
negociação sem o controle do governo, mas para o usuário se torna benéfico, pois é uma
transação de baixo custo.
Com a popularização das criptomoedas, especialmente após o sucesso da bitcoin,
muitas pessoas passaram a utilizar a moeda descentralizada para pagamentos. Esse
crescimento gerou dúvidas às entidades financeiras do governo brasileiro, dúbio ao tema
legisladores procuraram dar uma resposta rápida ao povo para cumprir a esfera do interesse
coletivo.
O objetivo desta pesquisa é esclarecer como funciona a tecnologia e como ela é
tratada pelo ordenamento jurídico brasileiro. Contribuir com a comunidade acadêmica com
uma abordagem nova, e esclarecer de forma concisa até àqueles leigos no assunto.
Nessa toada, como será explicado durante o estudo o Direito brasileiro tem um
desafio em tratar o tema, pois se deve enquadrar uma natureza jurídica para efetivação da
regulamentação das criptomoedas, visto que alguns legisladores tem se empenhado na criação
de uma lei singular para nortear o tema.
Dado ao tema, questiona-se se há necessidade de urgência para a regulamentação
das criptmoedas, visto que alguns legisladores no primeiro momento trataram o tema com
nítido desconhecimento ou se os pareceres e tratamentos por parte das entidades financeiras
seriam competentes em abordar o tema.
Por esse ângulo, a monografia aborda a origem da moeda e sua evolução,
explicando as criptomoedas, os criptoativos e sua função dentro da Blockchain e Exchanges.
Em sequência, abordar-se-á a origem e o funcionamento do Bitcoin, o primeiro
protocolo de criptomoeda e a rede Blockchain. Ademais, foi levantada uma alternativa ao
Bitcoin, qual seja, a rede Ethereum, que é a segunda maior criptomoeda.
Por derradeiro, foi analisado como são tratadas as criptomoedas no ordenamento
jurídico pátrio, uma vez que órgãos se adaptaram à sua maneira para conviver com os
criptoativos, pois existe uma obscuridade legal. Os desafios enfrentados em regulamentar
legalmente a natureza jurídica das criptomoedas, bem como as tentativas dos legisladores em
criar projetos de leis adequados.
A conclusão do trabalho foi que o direito brasileiro está pronto para regulamentar
as criptomoedas, isso porque alguns legisladores amadureceram o pensamento sobre o tema,
mas mesmo assim a matéria deve ser tratada com cautela, pois a nova tecnologia tem
capacidade de funcionar sem se apoiar ao estado, por isso o tratamento deve ser pacífico.
O método utilizado para essa pesquisa foi de pesquisa bibliográfica, com
disposição do registro disponível, seguido de pesquisas precedentes, como o estudo
desenvolvido pelo economista austríaco Hayek em seu livro “Desestatização do Dinheiro,”
tratando a influência do governo com a moeda fiduciária e a possível regulamentação das
criptomoedas no ordenamento jurídico brasileiro.
Neste trabalho o objetivo geral é compreender como as Criptomoedas funcionam
e como elas podem influenciar na coletividade, entender seus êxitos e suas controvérsias no
direito econômico. Verificar sua efetividade frente a sua não regulamentação estatal, e
também se seria compreensível o estado fiscalizar e regulamentar aquilo que funciona em sua
total harmonia sem a necessidade de um interventor.
São objetivos específicos deste trabalho:
Compreender o funcionamento das Criptomoedas e sua influência no mundo e no
Direito Econômico.
Verificar se há devida necessidade de uma regulamentação do governo frente à
utilização das criptomoedas, havendo necessidade qual seria a melhor maneira.
Identificar se há segurança no uso.
Do ponto de vista teórico, evidenciar possíveis divergências e/ou conflitos em
relação aos conceitos.
Do ponto de vista empírico, analisar o mérito de ambos os conceitos na
implementação do direito e decisões contrárias.
O presente trabalho se justifica na tentativa de entender o atual cenário onde a
tecnologia facilita a utilização de pagamentos como a troca de moedas por meio virtual,
considerando seu funcionamento sem a mercê de sua regulamentação onde os usuários não
terão a imposição do estado controlando-os, e se há necessidade do controle estatal sobre a
circulação das criptomoedas. Como a utilização deste método de troca financeira influencia
no mundo e no Direito Econômico, o seu uso de boa fé e seu uso para esconder meios ilícitos
sem deixar rastros para uma fiscalização.
2 ORIGEM DA MOEDA

No caminho evolutivo da sociedade em seus primeiros passos não existia o


dinheiro. Antes da civilização o homem das cavernas ainda descobria como sobreviver e o
comércio era na base da troca de mercadorias, o que se pode chamar de escambo, ou seja,
quando a troca de mercadorias acontece sem a utilização da moeda.
O escambo começou a ficar ineficiente com o passar do tempo, pois em muitas
trocas o meio utilizado geralmente era material perecível, como carne, cevada, milho e outros.
Com a busca pelo conforto, o homem passou a entender que outros meios de trocas poderiam
atenuar o perecimento das mercadorias, em algumas regiões da África, como por exemplo, as
conchas eram utilizadas como meio de troca, pois era mais fácil para negociações, devido o
recebedor poder adquirir em outro momento o que fosse do seu desejo, evitando uma troca
desvantajosa se caso recebesse um produto que poderia se perder em um curto espaço de
tempo.
Adam Smith assevera sobre a origem do dinheiro:

Uma vez plenamente estabelecida a divisão do trabalho, é muito reduzida a parcela


de necessidades humanas que pode ser atendida pela produção individual do próprio
trabalhador. A grande maioria de suas necessidades, ele a satisfaz permutando
aquela parcela do produto de seu trabalho que ultrapassa o seu próprio consumo, por
aquelas parcelas da produção alheia de que tiver necessidade. Assim sendo, todo
homem subsiste por meio da troca, tornando-se de certo modo comerciante; e assim
é que a própria sociedade se transforma naquilo que adequadamente se denomina
sociedade comercial. (SMITH, 1776, p.81)

O que se tem como a primeira utilização de moeda foi a cunhagem das primeiras
moedas no século VII A.C na Ásia Menor pelo rei Creso da Lídia, que era um costume de
marcar barras de metal para comprovar a pureza destes metais. No império romano foi
consolidada de fato a cunhagem das moedas, o que se desenvolveu em outros governos como
uma fonte e arma de poder dos governos. A cunhagem das moedas geralmente representavam
símbolos e imagens de autoridades para reforçar a sua autenticidade, uma vez que por meio
delas os governantes afirmavam sua soberania e denominava ao povo quem era seu rei ou
senhor.
Com o passar do tempo de uso das moedas na Idade Média, os governos exauriam
do povo uma custosa taxa de senhoriagem, a fim de cobrir os custos da cunhagem e também
obter lucros. Recolhiam as moedas para cunhá-las novamente com um menor teor de ouro ou
prata, nesse momento deixava de ter a finalidade de diminuir o peso ou pureza da moeda e
passavam a controlar a quantidade de dinheiro seria emitida.
A moeda como meio de troca começou a gerar acúmulo, desse modo, gerou uma
preocupação de como guardar em segurança essas moedas, foi nesse momento que surgiram
os bancos e juntamente com eles as cédulas de banco, em que a pessoa guardava no banco as
moedas e recebia um papel como recibo da quantia guardada, que poderia ser retirado em
algum momento, esse é o primeiro aparecimento do “papel moeda”. Esse recibo de quantia
guardada também servia como pagamento, por apresentar uma segurança e comodidade a sua
utilização. A Suécia foi o primeiro país a possuir um banco reconhecido oficialmente, no ano
de 1656 (HAYEK, 1977).
Esse foi o longo caminho de mais de 2000 anos da moeda e que hoje a sociedade
caminha para o uso de moedas virtuais criptografadas descentralizadas. O método de utilizar
dinheiro evoluiu também, com o passar dos dias utiliza-se menos o papel moeda, haja vista
que o cartão de crédito é uma das formas de pagamentos convencionais mais presente na vida
do homem do século XXI, sendo o cartão o tipo de dinheiro virtual. Nos últimos anos, têm se
consolidado, através de grandes comunidades, as moedas virtuais de criptografia, conhecidas
como criptomoedas.

2.1 CRIPTOMOEDAS

Sabe-se que a tecnologia é um dos pilares da evolução da humanidade, de modo,


que um tema que está popularizado e presente em grandes discussões no mundo são as
criptomoedas. O Bitcoin é o motivo responsável pela discussão, por ser a primeira, bem como
a maior criptomoeda do mundo.
Partindo para uma correta compreensão, deve-se entender que ao tratar o Bitcoin
com o “B” maiúsculo significa que a abordagem é referente ao protocolo, quando mencionado
bitcoin com “b” minúsculo trata-se da criptomoeda que é transacionada dentro da rede
blockchain que é o protocolo de confiança.
As Criptomoedas são um tipo de criptoativo descentralizado usado como meio de
troca virtual, que não são controlados por um ente governamental, também denominadas
moedas digitais ou virtuais (CVM, 2021)
Diferente do governo que emite a moeda por meio de um banco central, as
criptomoedas são criadas em uma rede blockchain que funciona como um livro razão
responsável por registrar com segurança às transações.
As criptomoedas são moedas virtuais e existem somente na internet, sendo
impossível executar uma troca física. Por existirem somente na internet, não é possível
armazenar em conta corrente ou em cofres, apenas em carteiras digitais compatíveis.

2.2 CRIPTOATIVOS

Os criptoativos tal como as criptomoedas são representações de importâncias que


existem somente em registros digitais. As transações ocorrem sem a necessidade de um
terceiro de confiança, ou seja, não há necessidade de intermediação de uma instituição
financeira para transacionar. (CVM, 2021)
A negociação ocorre em plataformas digitais ou entre duas pessoas. Para fazer
operações com criptoativos, necessita possuir: wallet em tradução livre, a qual significa
carteira programada para gerenciamento de criptoativo; chave pública para executar as
transações; chave privada, ou seja, a senha que permite o acesso a carteira e confirma as
transações.
Toda criptomoeda será um criptoativo, mas nem todo criptoativo será uma
criptomoeda, uma vez que existem outros tipos de criptoativos, a saber:

NFTs (tokens não-fungíveis): criptoativos colecionáveis que representam ativos


tangíveis e intangíveis como obras de arte, itens de videogames, música, vídeos,
carros e imóveis. Atualmente, a blockchain mais usada na criação de NFTs é o
Ethereum.
Stablecoins: criptomoedas com lastro em algum ativo estável, controlando assim a
volatilidade. Elas podem estar vinculadas a moedas fiduciárias, metais preciosos ou
commodities.(BALDISSERA, 2021, p.A1)

2.3 O PROTOCOLO BITCOIN

Não tem como iniciar a abordagem sobre criptomoedas sem falar da primeira e a
mais conhecida de todas como o Bitcoin. Em 2008 por meio de um artigo escrito por uma
pessoa ou grupo, de pseudônimo denominado Satoshi Nakamoto, surge uma moeda digital de
nome Bitcoin, a qual através de um sistema permite que uma pessoa em qualquer lugar do
mundo envie pagamentos sem a necessidade de um intermediário para outra pessoa.
Parece ser uma invenção simples, porém, é o resultado de muitas décadas de
pesquisa em criptografia, especialmente por um grupo chamado de Cypherpunks o qual estuda
como as formas de comunicação podem ser melhoradas e aprimoradas com segurança na
internet.
O Grupo informal de pesquisadores em criptografia estudam as formas de
comunicação aprimorada em segurança, sendo que possui o objetivo de assegurar a
privacidade das comunicações utilizando a criptografia, os quais surgiram depois que a
criptografia RSA foi inventada, no final da década de 70. Cabe salientar, que um dos seus
grandes feitos foi inventar um protocolo chamado de PGP que permitia trocar mensagens com
qualquer pessoa ao redor do mundo de forma criptografada. (ULRICH, 2014)
A criptografia no começo era utilizada por governos e militares como uma arma
de guerra, porém, as demais pessoas não tinham acesso a esta tecnologia da época.
Atualmente, a criptografia é desfrutada de forma aprimorada com Peer-to-peer em diversos
aplicativos de comunicação como o E-mail, Facebook, Whatsapp, Telegram etc.
Peer to peer é um termo em inglês cuja tradução “ponto a ponto” ou (p2p), são
diversos computadores como “pontos” conectados entre si formando uma rede
descentralizada (CIRIACO, 2008).
A criptografia de ponta a ponta ou peer-to-peer é responsável pelo sigilo no
compartilhamento de arquivos, documentos e troca de mensagens, sem a necessidade de um
servidor central.
Essa não era a única ideia dos cyfherpunks, eles queriam criar uma forma de
moeda digital, que fosse possível mandar para qualquer lugar do mundo e de forma livre
semelhante ao funcionamento do e-mail.
Para os cyfherphunks o dinheiro era só mais uma forma informação, sendo que
eles queriam tornar a troca de valores mais rápida e segura. Mesmo com o passar dos anos tal
grupo não conseguiu consolidar a ideia de transacionar dinheiro sem um terceiro de
confiança, até que em 2008 surge Satoshi Nakamoto com White-Paper do Bitcon.
Um White Paper ou, em português, "livro branco" ou "relatório branco", é um
documento oficial publicado por um governo ou uma organização internacional, a fim de
servir de informe ou guia sobre algum problema e como enfrentá-lo.
O Bitcoin expandiu-se através de uma crescente de entusiastas da tecnologia e
programação, que passaram a utilizar a criptomoeda como forma de pagamento na internet
sem depender de um intermediário, até mesmo em transferência internacional, onde uma
pessoa nos EUA podia mandar em questão de segundos para outra pessoa do outro lado
mundo no Japão, o que demoraria cerca de dois dias se a transação acontecesse entre
instituições bancárias.
À medida que as pessoas foram utilizando a nova tecnologia, o preço da bitcoin
foi subindo e se consolidando acima de sua especulação, de modo, que hoje é visto como um
ouro digital e uma reserva de valor. Em seu White Paper Satoshi Nakamoto 2008 explanou:

O comércio na Internet tem dependido quase exclusivamente de instituições


financeiras que servem como terceiros confiáveis para processar pagamentos
eletrônicos. Enquanto o sistema funciona bem para a maioria das operações, ainda
sofre com as deficiências inerentes ao modelo baseado em confiança. Transações
completamente não reversíveis não são possíveis, uma vez que as instituições
financeiras não podem evitar a mediação de conflitos. O custo da mediação aumenta
os custos de transação, o que limita o tamanho mínimo prático da transação e
elimina a possibilidade de pequenas transações ocasionais, e há um custo mais
amplo na perda da capacidade de fazer pagamentos não reversível para serviços não
reversíveis. Com a possibilidade de reversão, a necessidade de confiança se espalha.
Comerciantes devem ser cautelosos com os seus clientes, incomodando-os para
obter mais informações do que seria de outra forma necessária. Uma certa
percentagem de fraude é aceita como inevitável. Estes custos e incertezas de
pagamento podem ser evitados ao vivo usando moeda física, mas não existe nenhum
mecanismo para fazer pagamentos ao longo de um canal de comunicação sem uma
parte confiável. (NAKAMOTO, 2008, p.01)

Devido ao sistema lento e oneroso para transacionar dinheiro, ainda mais quando
a transação ocorria na modalidade internacional, às pessoas clamavam por uma alternativa
mais rápida, vantajosa e segura. Após o artigo do Bitcoin publicado este problema passou a ter
solução, dessa forma, atualmente é a alternativa mais fácil para transacionar dinheiro.

2.4 COMPREENDENDO A BLOCKCHAIN

A bitcoin opera em uma rede chamada Blockchain (cadeia de blocos anexados um


ao outro, onde todas as transações são registradas), é um banco de dados constando o histórico
de todas as transações. Cabe salientar, que toda transação ocorre de forma pública.
Como mencionado anteriormente o peer-to-peer responsável pela criptografia,
está indexado ao protocolo do Bitcoin, tal fato acontece para evitar o gasto duplo, sendo essa
resolução o fortalecimento de segurança da criptomoeda, pois resolve o problema de utilizar
um terceiro para confirmar as transações dentro da blockchain (CIRIACO, 2008).
O Bitcoin distribui, através de uma rede peer-to-peer todo o registro histórico de
transações para todos os usuários, evitando assim o gasto duplo e, por isso, não é necessário
utilização de um terceiro para confirmar a transação. O próprio peer-to-peer com sua rede
extensa de usuários é o intermediário de confiança das transações na rede do Bitcoin.
O intermediário ou um terceiro de confiança seria uma instituição bancária ou o
governo com o Banco Central, sendo que tais entes atuam de maneira centralizada e, com
isso, representam o elo de confiança para executar as transações de pagamentos e, por
conseguinte, possuem o controle de informações de todos os seus usuários (ULRICH, 2014).
O sistema bancário é completamente sublevado pela intervenção governamental,
já o Bitcoin atua de maneira pura em sua essência sem o controle de pessoas jurídicas de
direito privado ou público.
O dólar, euro ou real com denominação própria são moedas ligadas à
representação monetária de uma nação, de modo, e podem ser operadas para transação
internacional dentro de redes como Visa, Mastercad e Paypal, sendo que estas redes são
centralizadas. Já a rede do Bitcoin as transações são denominadas em bitcoins, sem ligação
qualquer com moedas fiduciárias. Além de ser uma rede descentralizada de pagamentos é
também uma moeda virtual, diferente das supracitadas redes, as quais operam moedas de 160
países, a rede do Bitcoin administra a sua própria moeda denominada bitcoins.
Ao mencionar anteriormente que o Bitcoin é o novo “ouro digital”, sua ligação
não deriva do ouro, ou seja, o seu valor não implica ao valor do metal dourado valioso, mas
sim a especulação que as pessoas lhe conferem. A bitcoin não tem ligação ao real, mas é
determinado o valor para câmbio, o que na cotação de hoje 01 bitcoin equivale a
R$169.677,881.
As transações na rede do Bitcoin ocorrem com a utilização de chaves, sendo
composta por duas chaves, quais sejam: a chave pública que pode ser compartilhada com
todos e que serve para receber pagamentos, bem como a chave privada, sendo que deve ser
mantida em segredo, pois essa é uma senha para assinar a transação (BALDISSERA, 2021).
Todos os usuários têm duas chaves, quando é efetuada uma transação é possível
verificar através da chave pública quem assinou com a chave privada, mas não o conteúdo da
chave privada. A transação de bitcoins gera um registro dentro de um bloco da Blockchain
com a informação do dia e a hora que foi efetuada. Todas as transações são públicas, porém é
preservada a identidade dos usuários.

1
De acordo com o site de negociações Biscoint https://biscoint.io/biscointbuy/learn-more acessado no dia 13 de
julho de 2021.
O Bitcoin surgiu para simplificar a forma de pagamento do comércio na internet,
ele soluciona a necessidade de um terceiro de confiança para processar pagamentos
eletrônicos, sendo uma das maiores revolução pós internet. As transações ocorrem de maneira
segura, mas uma vez transacionada jamais será revertida e isso gera confiança para quem
recebe, pois o destinatário fica ciente que o dinheiro recebido jamais será estornado
(ULRICH, 2014).
Como já foi explicado o Bitcoin é a rede Blockchain e bitcoins são as moedas
transacionadas, as quais que funcionam de forma segura sem a necessidade de uma autoridade
central como terceiro de confiança para confirmar as transações.
O Bitcoin utiliza em sua rede o peer-topeer, que é o responsável pela não
necessidade de uma autoridade centralizada incumbida de criar unidades monetárias e nem de
verificar as transações. Por trás dessa rede existem usuários com força computacional para
realizar registros e transações, esses usuários são chamados de mineradores, pois são
recompensados pelo trabalho em resolver o problema matemático e que com o resultado
geram novos bitcoins.
Os Mineradores são aqueles que detêm computadores que processam os
problemas matemáticos em troca de recompensas financeiras e que também criam os blocos
na rede.
A força computacional são milhares de computadores anexados na rede que
resolvem problemas matemáticos de alta complexidade e que ao mesmo tempo verificam as
transações na Blockchain. Pensando em possíveis aumentos de mineradores e
consequentemente a alta capacidade computacional, o protocolo do Bitcoin anexa mais
dificuldade ao problema matemático, isso acontece para preservar que as bitcoins sejam
mineradas em uma taxa de tempo definido e limitadas.
Como Fernando Ulrich explana em seu livro Bitcoin A Moeda Na Era Digital:

Esse processo de mineração de bitcoins não continuará indefinidamente. O Bitcoin


foi projetado de modo a reproduzir a extração de ouro ou outro metal precioso da
Terra – somente um número limitado e previamente conhecido de bitcoins poderá
ser minerado. A quantidade arbitrária escolhida como limite foi de 21 milhões de
bitcoins. Estima-se que os mineradores colherão o último “satoshi”, ou 0,00000001
de um bitcoin, no ano de 2140. Se a potência de mineração total escalar a um nível
bastante elevado, a dificuldade de minerar bitcoins aumentará tanto que encontrar o
último “satoshi” será uma empreitada digital consideravelmente desafiadora. Uma
vez que o último “satoshi” tenha sido minerado, os mineradores que direcionarem
sua potência de processamento ao ato de verificação das transações serão
recompensados com taxas de serviço, em vez de novos bitcoins minerados. Isso
garante que os mineradores ainda tenham um incentivo de manter a rede operando
apósa extração do último bitcoin. (ULRICH, 2014, p.20)
Nota-se que o Protocolo Bitcoin tem em sua programação o limite definido de
produção de 21 milhões de unidades, ao contrário das moedas fiduciárias que não possuem
um limite de emissão. Para manter o funcionamento da rede os minerados são recompensados
com novas bitcoins, recompensa essa que cai pela metade a cada quatro anos, tornando, desse
modo, uma criptomoeda deflacionária. O aumento de mineradores e da força computacional
faz com que o Protocolo Biticoin se adeque, e a resolução do problema matemático fica
consequentemente mais difícil.
Gráfico da bitcoin desde o seu lançamento até o início do semestre de 2022
segundo o site CoinMarketCap:

Figura 1 - Bitcoin

Fonte: CoinMarketCap, 2022.

O gráfico acima concerne na evolução que o Bitcoin teve nos últimos anos desde
as suas primeiras transações, o crescimento é muito expressivo por se tratar de uma inovação
ainda muito recente. O valor de mercado do Bitcoin chega ao incrível número de
R$4.326.085.162.523,002, uma criptomoeda que sofre muitas represálias e desconfianças por
parte de alguns, está na casa do trilhão.

2
Segundo o site: CoinMarketCap. https://coinmarketcap.com/currencies/ethereum/. Acesso em: 05 fev. 2022.
Não pode a maior cripotomoeda do mundo ser tratada meramente como uma nova
moeda do mundo virtual. Há de se reconhecer que isso não é uma brincadeira feita por
entusiastas de programação, e merece o devido respeito por aqueles que não conhecem o
protocolo. Dessa forma, deve ser tratado com cautela pelos representantes do povo que
querem dar uma resposta rápida sem pensar nas consequências.
A inflação em moedas fiduciárias é recorrente da má influência do governo em
controlar o dinheiro, bem como em função de emissão da moeda, de modo que na maioria das
vezes utiliza da oferta monetária para satisfazer interesses políticos, gerando como
consequência negativa, qual seja, elevação dos preços (HAYEK, 1977).
Como frisava um dos maiores representantes da Escola Austríaca, o economista e
filósofo austríaco Friederich August von Hayek:

Se o público compreendesse o quanto lhe custa, em termos de inflação e


instabilidade periódicas, a conveniência de ter de lidar apenas com um tipo de
dinheiro nas suas transações cotidianas e a comodidade de não ter que,
ocasionalmente, analisar as vantagens de usar um dinheiro de tipo diferente daquele
que lhe é familiar, provavelmente acharia este custo exorbitante. E, no entanto, essa
conveniência é muito menos importante do que a possibilidade de usar um dinheiro
confiável, que não perturbe periodicamente a tranquilidade do fluxo econômico –
possibilidade de que o público foi privado pelo monopólio governamental. Mas as
pessoas jamais tiveram a possibilidade de descobrir essa vantagem. Os governos
sempre tiveram, em todos os tempos, um grande interesse em persuadir o público de
que o direito de emitir dinheiro lhes pertence com exclusividade. Durante o tempo
em que, na prática, isto significou a emissão de moedas de ouro, prata e cobre, não
foram gerados tantos problemas quanto os que enfrentamos hoje, quando sabemos
que há vários outros tipos possíveis de dinheiro, dentre eles principalmente o papel-
moeda, com o qual os governos demonstram capacidade ainda menor de
administração, e do qual tendem a abusar ainda mais que do dinheiro metálico.
(HAYEK, 1977, p.31)

O problema apresentado por Hayek na década de 70 ainda perpassa no novo


milênio. Hoje é possível fugir da inflação e proteger o patrimônio com o uso das
criptomoedas, mas com exposição ao risco devido à alta volatilidade do mercado.
A inflação é terrível e gera um efeito dominó quando o governo tenta controlar a
todo custo aumentando a oferta monetária, alguns governos irresponsáveis usam dessa
manobra para estancar o sangramento cometido por eles mesmo (HAYEK, 1977).
Com a democratização e facilidade no acesso à internet, as pessoas estão se
engajando mais com mercado das criptomoedas, o que tem gerado uma disseminação de
conhecimento propagado por influenciadores das mídias sociais. O compartilhamento e troca
de informações nas mídias sociais é um fator que também explica o crescimento das
criptmoedas como a bitcoin.
2.5 ETHEREUM

Ethereum é a segunda maior criptomoeda, sendo que ao contrário do Bitcoin tem


uma pessoa exposta por trás de sua criação, qual seja, o programador russo-canadense Vitalik
Buterin, o qual a criou em 2013. Em prática, o Ethereum não é uma criptomoeda, mas, sim,
um protocolo atrelado na tecnologia blockchain, o ether é a criptomoeda que é transacionada
na rede Ethereum.
O Ether criptomoeda da rede Ethereum é uma alternativa ao Bitcoin, sendo que
toda criptomoeda criada após o protocolo Bitcoin é conhecida como uma Altcoin. Como
preceitua Tiago Reis:

O que são altcoins?


Altcoins são criptomoedas alternativas ao Bitcoin. Ou seja, toda moeda digital é uma
Altcoin, exceto o próprio Bitcoin.
Existem no mercado diversos tipos de altcoins, sendo alguns baseados em
mineração, outros em token de segurança, stablecoin e tokens de utilidade.
Como funcionam os altcoins?
Tudo começou com o surgimento de um grupo na internet chamado Cyberpunks que
procurava uma forma de criar um modelo de moeda alternativa ao sistema monetário
atual.
Assim, alguns eventos aconteceram e modelos começaram a ser desenhados, se
destacando o Bitcoin que possui qualidade em suas transações financeiras.
Algum tempo após o surgimento do Bitcoin, nasceu a Namecoin que foi a primeira
proposta substituta ao Bitcoin. Depois dela, vieram outras.
Um altcoin possui sempre uma proposta diferente do Bitcoin, embora algumas usem
o ”protocolo de confiança” conhecido como blockchain que é a mesma tecnologia
usada pelo Bitcoin.
Cada altcoin possui o seu próprio funcionamento, sendo que algumas podem usar
um sistema completamente diferente do blockchain, enquanto outras usam essa
mesma tecnologia. (REIS, 2021, p.A1)

Diferente do Bitcoin, a Ethereum não é só uma rede de negociações de


criptomoedas. Enquanto o Bitcoin surgiu com a proposta de descentralizar a moeda, a rede
Ethereum surgiu para descentralizar a internet. Além de descentralizar a moeda, a Ethereum
compõe a possibilidade de programação de aplicativos descentralizados e contratos
inteligentes (REIS, 2021).
Contratos inteligentes são programas que executam automaticamente as ações
necessárias para cumprir um acordo entre partes. Foram projetados para evitar a necessidade
de intermediários de confiança.
A proposta da Ethereum é revolucionar a utilização da internet (REIS, 2021),
possibilitando a criação de aplicativos descentralizados, fato que manterá a privacidade dos
usuários, diferente do que acontece com aplicativos centralizados como: Google, Whatsapp,
Facebook e Instagram, haja vista que estes rastreiam as atividades dos usuários. As novas
redes sociais que utilizarem a Blockchain da Ethereum serão descentralizadas, o que significa
maior privacidade, segurança, extinção de censura e monetização dos usuários que
contribuírem pelo fortalecimento da comunidade.
Outro papel fascinante da Ethereum é no movimento DeFi (abreviação de
decentralized finance) em tradução livre significa finanças descentralizadas. Como define
Fuller 2021:

DeFi é a abreviação de decentralized finance, termo em inglês para finanças


descentralizadas. Esse ecossistema surgiu em 2015 com uma premissa bastante
parecida com a do bitcoin — moeda digital que pretende descentralizar o dinheiro e
as transações monetárias —, mas seu foco são os serviços financeiros. Por meio
dessas plataformas, é possível simplificar a contratação de empréstimos e seguros e
facilitar a negociação de ativos, removendo a figura dos intermediários — bancos,
corretoras e demais instituições financeiras.
Dessa forma, as plataformas DeFi permitem que investidores, financiadores,
tomadores de empréstimo, vendedores e compradores negociem e interajam entre si
diretamente. Trata-se de um sistema interconectado e com código-fonte aberto —
também conhecido como open source —, cujas aplicações ficam armazenadas
dentro da blockchain. O DeFi funciona por meio dos chamados smart contracts,
contratos inteligentes digitais programáveis que permitem executar de forma
automática um código previamente definido.
Hoje, a principal rede descentralizada de DeFi é a Etherum. O ecossistema, contudo,
ainda não é capaz de atender todos os usuários interessados em utilizar a plataforma.
Por isso, ela deve passar por um plano de atualização que, se bem-sucedido,
removerá o limite de pessoas que podem integrar o sistema. (FULLER, 2021, p.A1)

O potencial que a Ethereum demonstra com a sua inovação é tão grande, porque
simplifica a burocracia enfrentada pelos bancos convencionais em questões contratuais e, por
isso, minimiza custos e automatiza todas as ações da relação contratual.
Se for pensar em tamanho, valor e capitalização de mercado da rede como algo
que indique confiança a Ethereum seria a segunda maior rede confiável dentro do universo
dos criptovativos. Isso confirma com o seu valor de mercado e seu volume de capitalização.
Na figura abaixo é possível verificar o seu preço de mercado desde o seu lançamento:
Figura 2 - Ethereum

Fonte: CoinMarketCap, 2022.

No gráfico demonstrado acima é nítido o crescimento que a Ethereum alcançou


desde a oferta inicial, uma única unidade de Ether já chegou a valer quase R$27.000,00 (vinte
e sete mil reais). A segunda criptmoeda mais valiosa do mundo com valor de mercado
ultrapassando 02 trilhões de dólares 3.
O ICO é uma abreviação do termo Initial Coin Offering (Oferta Inicial da
Moeda). Isso ocorre quando desenvolvedores de um criptoativo oferecem aos investidores
unidades de uma criptomoeda em troca da bitcoin ou Ether, podendo ser outras criptomoedas,
mas na maioria das vezes são as escolhidas. Como (SÁ, 2017) explica:

Como eles funcionam


Os ICOs são normalmente anunciados em vários fóruns de criptomoedas,
principalmente no Bitcointalk. O tópico do anúncio contém informações importantes
sobre o projeto, como um whitepaper, metas do projeto, cronogramas para o ICO e
desenvolvimento do projeto, equipe envolvida, experiência anterior dos membros da
equipe, características notáveis do projeto e outros detalhes do ICO.
Os fundos são normalmente coletados em Bitcoin, seja por meio de um endereço
público global (caso em que os participantes precisam enviar o Bitcoin de um
endereço para o qual eles controlam a chave privada) ou criando contas de cada
participante e fornecendo-lhes um endereço Bitcoin exclusivo.
A dinâmica específica de um ICO pode variar. Eles normalmente incluem algumas
semanas de arrecadação de dinheiro, pelo menos, e podem até aumentar dependendo
da demanda. Ocasionalmente, alguns ICOs, vão limitar o valor máximo angariado.

3
Segundo site CoinMarketCap. . https://coinmarketcap.com/currencies/ethereum/. Acesso em: 05 fev. 2022.
Uma porcentagem pequena de tokens é reservada geralmente para recompensas,
campanhas publicitárias e até para os desenvolvedores da moeda.
Uma vez que o ICO é concluído e o projeto lançado, você recebe suas moedas e
assim que uma exchange as listar você poderá vender, ou trocar por outras moedas,
ou simplesmente guarda-las em sua respectiva carteira.(SÁ, 2017, p.A1).

Percebe-se que o Bitcoin não é o único protocolo de sucesso, a Ethereum também


é impactante no cenário das criptomoedas, sendo que os dois são os responsáveis por mais da
metade da dominância em capitalização de mercado. Conforme a figura abaixo os oito
maiores criptoativos do mundo:

Figura 3 - Ranking das Criptomoedas

Fonte: CoinMarketCap, 2021.


3 ANÁLISE DOS CRIPTOATIVOS

3.1 ASPECTOS POSITIVOS

Com a constante evolução no mundo, muitas pessoas estão se familiarizando com


as facilidades que grupos de pessoas desenvolvem todos os dias, seja a moda smart com a
fabricação dos produtos inteligentes ou com os meios de pagamentos mais ágeis. Tudo que é
fácil é bem aceito, e as criptomoedas estão começando a entrar no gosto de seus novos
usuários.
Antes os ânimos da curiosa tecnologia eram voltados aos experts em computação
e programação, hoje atraem dos mais jovens aos mais velhos entusiastas, devido a sua total
desvinculação de uma figura estatal. Compreende-se que o principal atrativo pela adoção
massiva das criptomoedas se dá devido à descentralização, em outras palavras, a ausência da
intermediação de um terceiro (ULRICH, 2014).
As transações internacionais que antes eram morosas e excessivamente onerosas
dentro do sistema bancário, já no cenário das criptomoedas isso foi solucionado, e em questão
de segundos uma transação é executada com a devida segurança.
As criptomoedas ofertam segurança, independência de um terceiro de confiança,
velocidade em suas transações, e ainda o mais importante, o custo irrisório frente a uma
transação executada por sistemas financeiros convencionais (os bancos, por exemplo).
Por ser descentralizado Freinberg pondera:

Talvez seja meio difícil entender uma moeda sem valor intrínseco, mas outras
moedas – como o real ou o dólar – também são assim. Desde que o padrão-ouro foi
abandonado em 1971 nos EUA, o valor do dólar depende da confiança naqueles que
a fabricam e distribuem: o Tesouro e os bancos. Da mesma forma, o real não tem
lastro: é uma moeda fiduciária.
Este é a falha que o Bitcoin tenta resolver. Teoricamente, se a economia de um país
entrar em colapso, o Bitcoin continuaria quase que sem restrições. Afinal, em vez de
confiar em uma autoridade superior, ele depende de matemática – um algoritmo
alimentado por uma rede descentralizada.
Em outras palavras, o Bitcoin poderia ser uma alternativa contra uma queda do
sistema financeiro mundial; isso se ele não colapsar por motivos próprios, é claro.
Ele não é perfeito, mas está separado, e isso pode ajudar. (FREINBERG, 2013,
p.A1)
O Bitcoin, como a primeira criptomoeda, é responsável pela evolução e inovação
no cenário financeiro, pois foi além da internet e usou dela mesma para resolver um imbróglio
do sistema de pagamentos. Como esclarece Gravinez (2017):

Ao dizer que a Bitcoin possui menores custos de transação, compara-se ela às outras
moedas já utilizadas no sistema financeiro mundial. Este menor custo é devido ao
fato de que essa moeda não possui nenhum terceiro intermediando as transações, e
isso além de fazer com que as taxas sejam mínimas, também reduz o tempo das
operações financeiras. Pelo fato das transações realizadas com Bitcoins serem mais
baratas, é possível que micropagamentos aconteçam facilmente, além de que os
custos de pequenos comerciantes e das remessas de dinheiro globais sejam
reduzidos.
O Bitcoin pode ser visto também como um estímulo à inovações financeiras pois
como em sua essência são simplesmente pacotes de dados, esta tecnologia pode ser
utilizada para transferir não somente moedas, mas também ações de empresas, por
exemplo, facilitando, dessa forma, que muitas operações presentes no mercado
financeiro ocorram.
O Bitcoin é uma potencial arma à pobreza e opressão pois permite que regiões mais
pobres e, portanto, de difícil contato à sistemas financeiros convencionais (os
bancos, por exemplo) tenham acesso a um sistema capaz de realizar transações via
qualquer smartphone. Vale citar também que o sistema fechado de pagamentos por
celular M-Pesa tem sido particularmente exitoso em países como Quênia, Tanzânia e
Afeganistão. Este sistema permite, assim como falado anteriormente, que as
transações comerciais sejam realizadas com um auxílio de smartphones e,
atualmente, já foi desenvolvido um produto que permite que usário do M-Pesa
troquem bitcoins. Portanto, pode-se dizer que em regiões e países que sofrem de
algum tipo de opressão financeira, são muito beneficiados com a criptomoeda.
(GRAVINEZ, 2017, p.A1)

3.2 ASPECTOS NEGATIVOS

Discorrer pontos negativos sobre as criptomoedas é uma tarefa muito simples,


pois tudo que é novo gera desconfiança e acaba produzindo uma percepção negativa, o que
sempre acontece vindo de pessoas que sequer têm conhecimento do mérito.
A temida lavagem de dinheiro é um dos maiores medos por parte de alguns
legisladores brasileiros, o exemplo simplório é o Projeto de Lei nº 2303/2015. Proposto pelo
deputado Aureo Ribeiro, em seu primeiro texto o PL tratava criptomoedas e milhas de
companhias aéreas como arranjo de pagamento, e com grande potencial de meio de lavagem
de dinheiro, o que fica explícito na justificativa da PL:

Sendo assim, endereçamos no projeto de lei proposto três questões relacionadas às


moedas virtuais, uma em cada artigo: i) regulação prudencial pelo Banco Central, ii)
lavagem de dinheiro e outras atividades ilegais e iii) defesa do consumidor.
Deixamos claro no art. 1º que os “arranjos de pagamento” citados no inciso I do art.
9º da Lei 12.865, de 09 de outubro de 2013 inclui “aqueles baseados em moedas
virtuais e programas de milhagens aéreas”. Ademais, deixamos claro no art. 2º que
as operações que envolvem moedas virtuais estão incluídas na fiscalização do
COAF: Por fim, não deixamos margem a dúvida de que a legislação de defesa do
consumidor se aplica ao mundo das moedas virtuais no art. 3º. Contamos com o
apoio dos nobres pares para a aprovação desta importante medida para reduzir os
riscos das moedas virtuais contra a estabilidade financeira da economia, diminuir a
possibilidade delas financiarem atividades ilegais além de proteger o consumidor
contra eventuais abusos. (Brasil, 2015)

Com uma visão mais amadurecida, hoje é compreensível que na época o próprio
deputado não tinha conhecimento da matéria que pretendia legislar, ao tratar as criptomoedas
como arranjo de pagamento, além de frisar que o CDC seria competente, como dispõe o
Projeto de Lei nº 2303 de 2015:

Art. 1º Modifique-se o inciso I do art. 9º da Lei 12.865, de 09 de outubro de 2013:


“Art. 9º ........................................................................
I - disciplinar os arranjos de pagamento; incluindo aqueles baseados em moedas
virtuais e programas de milhagens aéreas;”
Art. 2º Acrescente-se o seguinte § 4º ao art.11 da Lei 9.613, de 03 de março de
1998:
“Art. 11 ........................................................................
§ 4º As operações mencionadas no inciso I incluem aquelas que envolvem moedas
virtuais e programas de milhagens aéreas”
Art. 3º “Aplicam-se às operações conduzidas no mercado virtual de moedas, no que
couber, as disposições da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, e suas
alterações.
Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. (Brasil, 2015)

O anonimato é outro aspecto negativo debatido por muitos opositores das


criptomoedas, o Bitcoin, por exemplo, tem um livro razão informando todas as transações,
mas este mesmo livro não permite que a identidade de seus usuários seja revelada. No
entanto, não é tão simples como parece este anonimato, com Gustavo Shiavon (2018):

O anonimato do bitcoin é real?


Quem observa o bitcoin de fora costuma ter a impressão de que se trata de uma
moeda completamente anônima. Isso oferece diversos atrativos para quem quer atuar
com mais segurança e privacidade em uma web cada vez mais capaz de monitorar
seus usuários. No entanto, não é bem assim.
Todas as transações efetuadas com bitcoin ficam disponíveis de forma transparente
em um registro público chamado de Blockchain. Apesar de nenhum usuário ser
identificado, não é o suficiente para garantir o completo anonimato do bitcoin.
Portanto, ao utilizar a moeda digital, você conta com mais anonimato e segurança do
que ao trabalhar com transações convencionais. No entanto, isso não pode ser
classificado como anônimo, já que, ainda dessa forma, há a transmissão de dados.
(SHIAVON, 2018, p. A1)

Antes mesmo da existência do Bitcoin o papel moeda era o meio de financiamento


do terrorismo, compra de drogas e outras práticas criminosas. O dinheiro em espécie não
deixa rastros se bem utilizado, já o protocolo do Bitcoin e o funcionamento da Blockchain
fazem com que este seja um meio indigesto para realizar transações relacionadas a atividades
ilegais, pois elas deixam rastros na rede. Então não seria conveniente dizer que a bitcoin ou
outra cripotmoeda seja responsável pelas práticas ilegais cometidas no mundo, antes mesmo
da tecnologia existir essas práticas aconteciam.
O economista Fernando Ulrich (2014) em seu livro Bitcoin A Moeda Na Era
Digital explica:

Uso para fins criminosos


Também há razões para os políticos ficarem apreensivos quanto a algumas das
aplicações não intencionadas do Bitcoin. Porque o Bitcoin permite o uso de
pseudônimos, políticos e jornalistas têm questionado se criminosos podem usá-lo
para lavagem de dinheiro ou para aceitar pagamentos da venda de produtos e
serviços ilícitos. De fato, e como o dinheiro vivo, ele pode ser usado tanto para o
bem quanto para o mal. Um exemplo notório é o caso do site de mercado negro em
deep web conhecido como Silk Road. Esse site se aproveitava da rede para
anonimato Tor e da natureza de se usar pseudônimo no Bitcoin para disponibilizar
um vasto mercado digital em que se podia encomendar drogas por correio, além de
outros produtos lícitos e ilícitos. Ainda que os administradores do Silk Road não
permitissem a troca de nenhum produto que resultasse de fraude ou dano, como
cartões de crédito roubados ou fotos de exploração de menores, era permitido aos
comerciantes vender produtos ilegais, como documentos de identidade falsos e
drogas ilícitas. O fato de se usar pseudônimo no Bitcoin permitia que compradores
adquirissem produtos ilegais online, da mesma forma que o dinheiro tem sido
tradicionalmente usado para facilitar compras ilícitas pessoalmente. Um estudo
estimou que o total de transações mensais no Silk Road alcance aproximadamente
1,2 milhão de dólares. Mas o mercado de Bitcoin acumulou 770 milhões de dólares
em transações durante junho de 2013; vendas no Silk Road, portanto, constituíam
uma quase insignificante parcela do total da economia Bitcoin. A associação do Silk
Road com o Bitcoin manchou sua reputação. Na sequência da publicação de um
artigo sobre o Silk Road em 2011, os senadores norte-americanos Charles Schumer
e Joe Manchin enviaram uma carta ao promotor-geral Eric Holder e ao
administrador do Drug Enforcement Administration, Michele Leonhart, pedindo por
uma caçada ao Silk Road, ao software de anonimato Tor e ao Bitcoin.(ULRICH,
2014, p.30)

Verifica-se que as atividades ilícitas podem ser fomentadas pela utilização de


criptomoedas, existe a possibilidade, mas os crimes praticados existem muito antes da criação
das criptomoedas. O problema em relação as criptomoedas não pode ser o principal ponto
negativo como justificativa, uma vez que, existem mecanismos para combater os crimes já
previstos em lei, o pagamento em criptomoedas é um método novo, mas não exclui o crime e
nem o alcance da legislação em combater as atividade ilícitas (ANDRADE, 2017).
4 REGULAMENTAÇÃO JURÍDICA DOS CRIPTOATIVOS NO ORDENAMENTO

JURÍDICO BRASILEIRO

O que é regulamentação? De acordo com o Direito, a regulamentação de uma


matéria tem como finalidade resguardar a necessária aplicação das leis. Garantir o equilíbrio
das relações jurídicas como salienta Alexandre Magno Fernandes Moreira (2011):

Poder regulamentar é a prerrogativa conferida à Administração Pública de editar


atos gerais para complementar as leis e possibilitar sua efetiva aplicação. Seu
alcance é apenas de norma complementar à lei; não pode, pois, a Administração,
alterá-la a pretexto de estar regulamentando-a. Se o fizer, cometerá abuso de poder
regulamentar, invadindo a competência do Legislativo.
O poder regulamentar é de natureza derivada (ou secundária): somente é exercido à
luz de lei existente. Já as leis constituem atos de natureza originária (ou primária),
emanando diretamente da Constituição.
2 Formalização
A formalização do Poder Regulamentar se processa, principalmente, por meio de
decretos. Nesse sentido é que o art. 84, IV, da Constituição dispõe que ao Presidente
da República compete expedir decretos e regulamentos para a fiel execução das leis.
Pelo princípio da simetria constitucional, o mesmo poder é conferido a outros chefes
do Poder Executivo para os mesmos objetivos.
Há também atos normativos que, editados por outras autoridades administrativas,
estão inseridos no Poder Regulamentar. É o caso das instruções normativas,
resoluções, portarias, etc. Tais atos têm, frequentemente, um âmbito de aplicação
mais restrito, porém, veiculando normas gerais e abstratas para a explicitação das
leis, também são meios de formalização do Poder Regulamentar.
Os decretos são considerados atos de regulamentação de primeiro grau; os outros
atos que a ele se subordinem e que, por sua vez, os regulamentem, evidentemente
com maior detalhamento, podem ser qualificados como atos de regulamentação de
segundo grau e assim por diante. O poder da Administração Pública de editar
normas de hierarquia inferior aos regulamentos é também é chamado de Poder
Normativo.
Embora, em regra, o Poder Regulamentar, expresso por atos de regulamentação de
primeiro grau, seja formalizado por meio de decretos, existem situações especiais
em que a lei indicará, para sua regulamentação, ato de formalização diversa, embora
idêntico seja seu conteúdo normativo e complementar. Ex.: resoluções do Conselho
Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público. (MOREIRA,
2011, p.A1)

Satisfazer o interesse público é o papel do Poder Público, que deve seguir o


princípio da legalidade, isto porque, paralelamente existe o limite e a garantia. A atuação do
Poder Público não deve deleitar totalmente ao interesse público e na busca incessante de
resposta à vontade coletiva, ele deve trabalhar com limite, cumprindo seu papel de acordo
com a lei, mesmo na obscuridade das normas.
Enquanto o administrado, em sua esfera privada, pode fazer aquilo tudo que a lei
não proíbe, no qual pondera o princípio da autonomia da vontade, princípio que norteia a
liberdade.
Em matéria de legalidade da Administração Pública, José dos Santos Carvalho
Filho (2014) apregoa que:

O princípio da legalidade é certamente a diretriz básica da conduta dos agentes da


Administração. Significa que toda e qualquer atividade administrativa deve ser
autorizada por lei. Não o sendo, a atividade é ilícita.45 Tal postulado, consagrado
após séculos de evolução política, tem por origem mais próxima a criação do Estado
de Direito, ou seja, do Estado que deve respeitar as próprias leis que edita. O
princípio “implica subordinação completa do administrador à lei. Todos os agentes
públicos, desde o que lhe ocupe a cúspide até o mais modesto deles, devem ser
instrumentos de fiel e dócil realização das finalidades normativas”.46 Na clássica e
feliz comparação de HELY LOPES MEIRELLES, enquanto os indivíduos no campo
privado podem fazer tudo o que a lei não veda, o administrador público só pode
atuar onde a lei autoriza.47 É extremamente importante o efeito do princípio da
legalidade no que diz respeito aos direitos dos indivíduos. Na verdade, o princípio se
reflete na consequência de que a própria garantia desses direitos depende de sua
existência, autorizando-se então os indivíduos à verificação do confronto entre a
atividade administrativa e a lei. Uma conclusão é inarredável: havendo dissonância
entre a conduta e a lei, deverá aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude. Não
custa lembrar, por último, que, na teoria do Estado moderno, há duas funções
estatais básicas: a de criar a lei (legislação) e a de executar a lei (administração e
jurisdição). Esta última pressupõe o exercício da primeira, de modo que só se pode
conceber a atividade administrativa diante dos parâmetros já instituídos pela
atividade legisferante. Por isso é que administrar é função subjacente à de legislar. O
princípio da legalidade denota exatamente essa relação: só é legítima a atividade do
administrador público se estiver condizente com o disposto na lei. (CARVALHO
FILHO, 2014, p.20)

Partindo do princípio da legalidade, é notável que não pode o administrador atuar


de maneira simplória na cegueira da lei. Com os criptoativos não é diferente, sendo
imprescindível a regulamentação para a atuação estatal, com o limite se faz a garantia.
O desafio da regulamentação dos criptoativos é definir a sua natureza jurídica,
pois primeiro deve-se entender como será tratada no ordenamento jurídico brasileiro. Para
uma compreensão coesa dos criptooativos é preciso entender o que é um criptoativo:

Adota-se o termo “ativos virtuais” em preferência a “criptoativos”. Embora este


último tenha sido a opção do legislador para a primeira redação do projeto de lei (PL
nº 2060/2019), preferimos o termo mais amplo, que engloba diferentes tecnologias.
O intuito é ampliar o alcance do dispositivo jurídico a quaisquer ativos virtuais, que
representem direitos intangíveis, para além dos criptoativos, que recorrem à
criptografia. Entendemos também que seria importante adotar uma abordagem
jurídica neutra em relação à tecnologia, para garantir que ativos e atividades
econômicas semelhantes estejam sujeitos aos mesmos padrões, independentemente
de seu “formato” tecnológico. Ademais, “ativos virtuais” foi a denominação
escolhida pelo Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o
Financiamento do Terrorismo (GAFI/FATF), órgão intergovernamental do qual o
Brasil é membro, com o objetivo de harmonizar seus padrões normativos no que se
refere a novas tecnologias (Recomendação 15, FATF, 2019). (em fase de
elaboração).4

Os ativos virtuais mencionados na citação acima foram a denominação escolhida


como tratamento jurídico adequado para criar mais credibilidade no ambiente da segurança
jurídica, o que pode estimular na ascensão do mercado. Esses ativos devem ser instrumentos
de relações jurídicas e se não for, haverá um conflito entre a finalidade do sistema jurídico e a
expectativa dos agentes econômicos.
A natureza jurídica das criptomoedas é um dos maiores desafios enfrentados pelo
Direito, por existirem dificuldades de inclusão às normas legais vigentes. Uma alternativa que
parece ser simples é definir as criptmoedas como moeda.
A título de exemplo, a bitcoin para ser considerada moeda, precisa cumprir três
requisitos: meio de troca, unidade de conta e reserva de valor. O primeiro requisito é simples,
pois se sabe da grande proporção de mercado que a bitcoin possui e o seu volume de
negociações juntamente com sua popularidade aumentando desde a sua criação. A reserva de
valor se justifica devido a sua escassez, já informada desde a criação do protocolo Bitcoin,
porque se sabe a quantidade que será emitida. A unidade de conta atualmente é um requisito
que não pode ser cumprido totalmente pela bitcoin devido à alta volatilidade, por mais que
tenha sua própria unidade ela depende de regulamentação. (ANDRADE, 2017)
Pontua-se que a bitcoin não cumpre os requisitos de uma moeda, porque o
principal responsável em ponderar que uma moeda servirá como unidade de conta de um país
é o governo, por deter autonomia em estabelecer a moeda corrente da nação.
A competência da emissão de uma moeda no Brasil é de inteira responsabilidade
da União, o que é previsto na Constituição Federal de 1988 no “Art.164. A competência da
União para emitir moeda será exercida exclusivamente pelo Banco Central”. O Real é a
moeda corrente do Brasil regulamentada pelo sistema monetário nacional desde julho de
1994, ano do plano real previsto no “Art. 1º A partir de 1º de julho de 1994, a unidade do
Sistema Monetário Nacional passa a ser o REAL (Art. 2º da Lei nº 8.880, de 27 de maio de
1994), que terá curso legal em todo o território nacional”.

4
Ativos virtuais no Brasil: o que são e como regular? Recomendações ao Projeto de
Lei nº 2060/2019, de autoria de Camila Villard Duran, Daniel Fideles Steinberg e Marcelo de Castro Cunha
Filho, artigo a ser publicado em: Da Costa e Prado (orgs.), "CryptoLaw: Inovação, Direito e Desenvolvimento",
v.1, Direito GV-Almedina (no prelo), 2019.
Nota-se que após o enredo acima, a bitcoin não tem natureza jurídica, por não ser
emitida através de uma autoridade central, não ter curso forçado e por ser uma criptomoeda
descentralizada, sendo um dinheiro eletrônico para transações ponto a ponto.

4.1 CRIPTOMOEDAS SEGUNDO O BANCO CENTRAL

O Banco Central foi o primeiro órgão a manifestar sobre as criptomoedas e foi


correto em diferenciar que as moedas virtuais não podem ser confundidas com moeda
eletrônica, por esta última ter respaldo legal. As moedas eletrônicas são representações da
moeda nacional emitida pelo governo no espaço eletrônico, que ficam armazenadas para o
usuário final transacionar pagamentos.
Diante disso, o BACEN foi tempestivo ao publicar o Comunicado 25.306 de 19
de fevereiro de 2014, dispondo o entendimento sobre criptomoedas:

O Banco Central do Brasil esclarece, inicialmente, que as chamadas moedas virtuais


não se confundem com a "moeda eletrônica" de que tratam a Lei nº 12.865, de 9 de
outubro de 2013, e sua regulamentação infralegal. Moedas eletrônicas, conforme
disciplinadas por esses atos normativos, são recursos armazenados em dispositivo ou
sistema eletrônico que permitem ao usuário final efetuar transação de pagamento
denominada em moeda nacional. Por sua vez, as chamadas moedas virtuais possuem
forma própria de denominação, ou seja, são denominadas em unidade de conta
distinta das moedas emitidas por governos soberanos, e não se caracterizam
dispositivo ou sistema eletrônico para armazenamento em reais.
2. A utilização das chamadas moedas virtuais e a incidência, sobre elas, de normas
aplicáveis aos sistemas financeiro e de pagamentos têm sido temas de debate
internacional e de manifestações de autoridades monetárias e de outras autoridades
públicas, com poucas conclusões até o momento.
3. As chamadas moedas virtuais não são emitidas nem garantidas por uma
autoridade monetária. Algumas são emitidas e intermediadas por entidades não
financeiras e outras não têm sequer uma entidade responsável por sua emissão. Em
ambos os casos, as entidades e pessoas que emitem ou fazem a intermediação desses
ativos virtuais não são reguladas nem supervisionadas por autoridades monetárias de
qualquer país.
4. Essas chamadas moedas virtuais não têm garantia de conversão para a moeda
oficial, tampouco são garantidos por ativo real de qualquer espécie. O valor de
conversão de um ativo conhecido como moeda virtual para moedas emitidas por
autoridades monetárias depende da credibilidade e da confiança que os agentes de
mercado possuam na aceitação da chamada moeda virtual como meio de troca e das
expectativas de sua valorização. Não há, portanto, nenhum mecanismo
governamental que garanta o valor em moeda oficial dos instrumentos conhecidos
como moedas virtuais, ficando todo o risco de sua aceitação nas mãos dos usuários.
5. Em função do baixo volume de transações, de sua baixa aceitação como meio de
troca e da falta de percepção clara sobre sua fidedignidade, a variação dos preços das
chamadas moedas virtuais pode ser muito grande e rápida, podendo até mesmo levar
à perda total de seu valor.
6. Na mesma linha, a eventual aplicação, por autoridades monetárias de quaisquer
países, de medidas prudenciais, coercitivas ou punitivas sobre o uso desses ativos
pode afetar significativamente o preço de tais moedas ou mesmo a capacidade de sua
negociação.
7. Além disso, esses instrumentos virtuais podem ser utilizados em atividades
ilícitas, o que pode dar ensejo a investigações conduzidas pelas autoridades públicas.
Dessa forma, o usuário desses ativos virtuais, ainda que realize transações de boa-fé,
pode se ver envolvido nas referidas investigações.
8. Por fim, o armazenamento das chamadas moedas virtuais nas denominadas
carteiras eletrônicas apresenta o risco de que o detentor desses ativos sofra perdas
patrimoniais decorrentes de ataques de criminosos que atuam no espaço da rede
mundial de computadores.
9. No Brasil, embora o uso das chamadas moedas virtuais ainda não se tenha
mostrado capaz de oferecer riscos ao Sistema Financeiro Nacional, particularmente
às transações de pagamentos de varejo (art. 6º, § 4º, da Lei nº 12.685/2013), o Banco
Central do Brasil está acompanhando a evolução da utilização de tais instrumentos e
as discussões nos foros internacionais
sobre a matéria - em especial sobre sua natureza, propriedade e funcionamento -,
para fins de adoção de eventuais medidas no âmbito de sua competência legal, se for
o caso.(BACEN, 2019)

Nessa toada, percebe-se que além de diferenciar moedas eletrônicas de moedas


virtuais, o comunicado do BACEN visou alertar os usuários de criptomoedas, denotando o
entendimento de acordo com as próprias normas e conhecimento daquilo que já era
estabelecido. O BACEN no primeiro momento não se aprofundou para buscar o
conhecimento da nova tecnologia de pagamento, mas trouxe um posicionamento precavido
em relação as criptomoedas.
O tratamento mais recente do BACEN foi em março de 2021com a publicação da
Resolução BCB 77/2021, que estabelece a criação do Comitê Estratêgico de Gestão do
Sandbox Regulatório (CESB).

4.2 RECEITA FEDERAL

A primeira manifestação da Receita Federal em relação às criptomoedas


aconteceu em 2014 após a grande repercussão do Bitcoin no Brasil e no mundo. Frente a um
fato novo, o que gerava dúvida em grande parte da população, a RF já começou impondo
imposto sobre os lucros advindos da venda:

Em abril de 2014, a Receita Federal do Brasil, estabeleceu como trataria a detenção


e o uso de bitcoins e outras moedas digitais. O Brasil está tratando as moedas
digitais como ativos financeiros, com a Receita Federal impondo um imposto de
15% sobre os ganhos de capital no momento da venda, no entanto, existem algumas
diferenças importantes que podem ser positivas para os usuários de bitcoins no país.
Aqueles que vendem menos moedas com um valor inferior a R$ 35.000,00, não
terão de pagar o imposto. Isso significa que os usuários de bitcoin no Brasil não
terão de calcular os impostos sobre ganhos de capital ao fazer pequenas compras. A
Receita Federal também exige declarações de contas anuais daqueles que possuem
mais de R$ 1.000,00 em participações em moeda digital. Em maio de 2017, A
Receita Federal do Brasil incluiu a bitcoin nas instruções da declaração anual do
Imposto de Renda de 2017, devendo ser declarado na Ficha Bens e Direitos como
“outros bens”, uma vez que pode ser equiparado a um ativo financeiro. Muitos
afirmam uma pontual preocupação com o efeito que a adoção de bitcoins em larga
escala pode ter sobre a estabilidade do sistema financeiro, especialmente pela
volatilidade dos preços, irreversibilidade das operações e anonimato de seus
usuários. (ANDRADE, 2017, p. 54)

Após as criptomoedas tomarem grandes proporções no espaço digital brasileiro, a


Receita Federal publicou uma Instrução Normativa de número 1.888 no dia 13 de maio de
2019, reconhecendo o criptoativo como uma representação digital de valor denominada em
sua própria unidade de conta que pode ser usada como investimento, mas que não constitui
moeda de curso legal. Além do criptoativo a IN nº 1.888 elenca as Exchanges de Criptoativo
que atuam como a pessoa jurídica mesmo que não financeira por responsável intermediação,
negociação de criptoativos.

Art. 5º Para fins do disposto nesta Instrução Normativa, considera-se:


I - criptoativo: a representação digital de valor denominada em sua própria unidade
de conta, cujo preço pode ser expresso em moeda soberana local ou estrangeira,
transacionado eletronicamente com a utilização de criptografia e de tecnologias de
registros distribuídos, que pode ser utilizado como forma de investimento,
instrumento de transferência de valores ou acesso a serviços, e que não constitui
moeda de curso legal; e
II - exchange de criptoativo: a pessoa jurídica, ainda que não financeira, que oferece
serviços referentes a operações realizadas com criptoativos, inclusive intermediação,
negociação ou custódia, e que pode aceitar quaisquer meios de pagamento, inclusive
outros criptoativos.
Parágrafo único. Incluem-se no conceito de intermediação de operações realizadas
com criptoativos, a disponibilização de ambientes para a realização das operações de
compra e venda de criptoativo realizadas entre os próprios usuários de seus serviços.
(RFB, 2019)

A RF de forma assertiva se preocupou em classificar e diferenciar o polo das


negociações, apresentando as verdadeiras nomenclaturas e funções de um criptoativo e
Exchange de criptoativo. Extrai-se da IN nº 1.888 que as criptomoedas são a própria unidade
de conta e não possuem curso legal.
Dessa forma, a RF não esperou a regulamentação das criptomoedas e foi incisiva
com a IN nº 1.888, além de classificar de maneira correta, ela impôs a prestação de
informações como demonstra no Capítulo III da referida IN:

CAPÍTULOIII
DA OBRIGATORIEDADE DE PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÕES
Art. 6º Fica obrigada à prestação das informações a que se refere o art. 1º:
I - a exchange de criptoativos domiciliada para fins tributários no Brasil;
II - a pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no Brasil quando:
a) as operações forem realizadas em exchange domiciliada no exterior; ou
b) as operações não forem realizadas em exchange.
§ 1º No caso previsto no inciso II do caput, as informações deverão ser prestadas
sempre que o valor mensal das operações, isolado ou conjuntamente, ultrapassar R$
30.000,00 (trinta mil reais).
§ 2º A obrigatoriedade de prestar informações aplica-se à pessoa física ou jurídica
que realizar quaisquer das operações com criptoativos relacionadas a seguir:
I - compra e venda;
II - permuta;
III - doação;
IV - transferência de criptoativo para a exchange;
V - retirada de criptoativo da exchange;
VI - cessão temporária (aluguel);
VII - dação em pagamento;
VIII - emissão; e
IX - outras operações que impliquem em transferência de criptoativos.

A RF foi precavida e resolveu entender o funcionamento dos criptoativos por não


deixar passar em branco e mostrar que estava acompanhando o mercado de criptomoedas. Foi
desta maneira que a RF tratou as criptomoedas e até hoje prevalece o posicionamento da
Instrução Normativa Nº 1.888 de 2019.

4.3 CRIPTOMOEDAS SEGUND O A COMISSÃO DE VALO RES

MOBILIÁRIOS

Criada para assegurar um ambiente protegido no mercado financeiro, a Comissão


de Valores Mobiliários é uma entidade pública e autárquica vinculada ao Ministério da
Fazenda. A entidade tem como maior objetivo o zelo na integridade de mercado de capitais,
garantindo que seja possível investir em lugares de segurança e transparência.
A Comissão de Valores Mobiliários em 2017 assimilou que a bitcoin não é um
valor mobiliário e tratou todas as transações que envolvessem a criptmoeda seriam fora da
alçada regulamentar da CVM, como é demonstrado no relatório semestral de julho a
dezembro de 2017:

Os consulentes buscavam orientação sobre dois projetos que estão desenvolvendo:


uma exchange de Bitcoin e uma plataforma de crowdfunding. A CVM explicou aos
representantes da consulente que a atividade de negociação de Bitcoins sob qualquer
formato situa-se fora do perímetro regulatório da CVM, dado que o Bitcoin não é
considerado atualmente um valor mobiliário. Foi mencionado também que o tema
está sendo acompanhado de perto tanto pela CVM quanto pelo Banco Central.
Foram expostos os desafios de se adaptar o modelo de crowdfunding da CVM à
realidade dos ICOs, dado que a Instrução CVM n.° 588/17 não foi concebida para
tais fins. Comentou-se sobre as principais Instruções CVM que poderiam ter relação
direta com a atividade pretendida (Instruções CVM n.º 400, 476, 461 e 588) e
enfatizou-se 1) a vedação imposta às plataformas quanto à realização de atividades
de intermediação secundária de valores mobiliários (Instrução CVM n.° 588/17, art.
28, inc. X); e 2) a necessidade de registro de emissor nos casos em que se pretenda
que os tokens sejam admitidos à negociação em Mercados Organizados de Valores
Mobiliários. (CVM, 2017, p.149)

Logo após a CVM declarar que o bitcoin não pode ser considerado um valor
mobiliário, em janeiro 2018 a autarquia publicou um ofício circular que diante de vaga
interpretação técnica em relação às criptomoedas, elas não podem ser classificada como ativos
financeiros e a compra via fundos de investimentos não seria permitida. Como institui o
Ofício Circular nº 1/2018/CVM/SIN:

Fazemos referência aos comunicados realizados pela CVM em 11/10/2017 e


16/11/2017, relacionados às operações de Initial Coin Offerings (“ICO”), e a
consultas, efetuadas por diversos participantes de mercado, acerca de possibilidade
de investimento, pelos fundos de investimento regulados pela Instrução CVM nº
555/14, nas atualmente denominadas “criptomoedas”.
Como sabido, tanto no Brasil quanto em outras jurisdições ainda tem se discutido a
natureza jurídica e econômica dessas modalidades de investimento, sem que se
tenha, em especial no mercado e regulação domésticos, se chegado a uma conclusão
sobre tal conceituação.
Assim e baseado em dita indefinição, a interpretação desta área técnica é a de que as
criptomoedas não podem ser qualificadas como ativos financeiros, para os efeitos do
disposto no artigo 2º, V, da Instrução CVM nº 555/14, e por essa razão, sua
aquisição direta pelos fundos de investimento ali regulados não é permitida.
Outras consultas também têm chegado à CVM com a indagação quanto à
possibilidade de que sejam constituídos fundos de investimento no Brasil com o
propósito específico de investir em outros veículos, constituídos em jurisdições onde
eles sejam admitidos e regulamentados, e que por sua vez tenham por estratégia o
investimento em criptomoedas. Ou, ainda, em derivativos admitidos à negociação
em ambientes regulamentados de outras jurisdições.
Entretanto, não custa repisar, mais uma vez, que as discussões existentes sobre o
investimento em criptomoedas, seja diretamente pelos fundos ou de outras formas,
ainda se encontram em patamar bastante incipiente, e convivem, inclusive, com
Projeto de Lei em curso, de nº 2.303/2015, que pode vir a impedir, restringir ou
mesmo criminalizar a negociação de tais modalidades de investimento.
Assim, no entendimento da área técnica é inegável que, em relação a tal
investimento, há ainda muitos outros riscos associados a sua própria natureza (como
riscos de ordem de segurança cibernética e particulares de custódia), ou mesmo
ligados à legalidade futura de sua aquisição ou negociação.
Dessa forma, esta Superintendência informa que todas essas variáveis vêm sendo
levadas em consideração na avaliação da possibilidade de constituição e estruturação
do investimento indireto em criptomoedas, sem que se tenha chegado, ainda, a uma
conclusão a respeito dessa possibilidade.
Por fim, diante dessas circunstâncias, julgamos conveniente que os administradores
e gestores de fundos de investimento aguardem manifestação posterior e mais
conclusiva desta superintendência sobre o tema para que estruturem o investimento
indireto em criptomoedas conforme descrito, ou mesmo em outras formas
alternativas que busquem essa natureza de exposição a risco.
No ofício circular da CVM é notório o afastamento da responsabilidade em
legislar sobre criptomoedas, uma vez que o artigo 2º, V, da instrução CVM 55 de 2014 não
abarca as criptomoedas. Fica mais nítido que houve cautela ao frisar que a matéria estava
sendo discutida pelo Projeto de Lei nº 2.305 de 2015, e o resultado poderia impedir ou
criminalizar o uso das criptomoedas.
Em 2021 a CVM mudou radicalmente seu posicionamento em relação às
criptomoedas, ela passou a reconhecer que ativos virtuais nas operações ICO podem
enquadrar na definição de valores mobiliários, mas para isso devem estar presentes alguns
requisitos.
Como concerne o Ofício Circular nº 1/2021/CVM/SRE:

6. ASSUNTOS GERAIS QUE ENVOLVAM A COMPETÊNCIA DA SRE 6.1.

Ativos virtuais e ofertas públicas - ICO

Os ativos virtuais e seus reflexos na estrutura na qual se baseiam os mercados de


capitais representam atualmente um grande desafio para os reguladores do mercado
financeiro e de capitais não apenas no Brasil mas também em outras jurisdições, por
decorrência da inovação inerente a este novo modelo de instrumento, suscitando
interpretações diversas e ainda em constante evolução, em relação a sua natureza
econômica e jurídica.
As operações conhecidas como Initial Coin Offerings (ICOs) podem ser
compreendidas como captações públicas de recursos, tendo como contrapartida a
emissão de ativos virtuais, também conhecidos como tokens ou coins, junto ao
público investidor. Tais ativos virtuais, por sua vez, a depender do contexto
econômico de sua emissão e dos direitos conferidos aos investidores, podem se
enquadrar na definição ampla de valores mobiliários positivada no inciso IX do art.
2º, da Lei nº 6.385/1976. Notadamente, respaldariam a interpretação de que
determinado ativo virtual se trata de valor mobiliário a presença, na relação
contratual, de direitos conferidos ao adquirente, tais como, participação no capital ou
em acordos de remuneração pré-fixada sobre o capital investido ou de voto em
assembleias que determinam o direcionamento dos negócios do emissor.
À luz de tal apreciação, em se verificando o enquadramento enquanto valor
mobiliário, estaria atraída a competência da CVM e nesse caso, a captação pública
de recursos por meio da oferta de tais tokens deve ser submetida ao rito da Instrução
CVM nº 400/2003 ou, alternativamente, à Instrução CVM nº 588/2017. Há de se
ressaltar que o modelo de distribuição em que se baseia tipicamente um processo de
ICO, notadamente com base na tecnologia de blockchain, pode implicar na
necessidade de solicitação de dispensas, sejam de registro da oferta ou de seus
requisitos, ou mesmo de outras obrigações normativas. Ademais, a base regulatória
que disciplina a infraestrutura das operações no mercado de capitais é fundada na
tríade registro, custódia e escrituração de valores mobiliários, arcabouço que não se
mostra aderente a uma operação típica nos moldes de ICO, de modo que é
necessário também atentar para as alternativas que poderiam ser implementadas com
vistas a eventualmente substituir tal infraestrutura e o que ela se propõe a resguardar
- a proteção aos agentes do mercado.
Dito isso, cabe, em um primeiro momento, a avaliação do próprio
empreendedor/ofertante sobre se o token ofertado representa um valor mobiliário ou
não (a qual não vincula a CVM, que pode, eventualmente, tomar providências
severas caso venha a discordar da análise do ofertante e conclua ter havido oferta
pública irregular de valores mobiliários). Em caso negativo, afasta-se a competência
da CVM, não sendo necessária a realização de nenhum procedimento junto a esta
Autarquia. Ademais é importante ressaltar que o registro da oferta pública de
distribuição de valores mobiliários não se presta a conferir “aval positivo da CVM”,
mas sim a viabilizar o que se julga como adequado fluxo informacional aos
investidores, os quais farão por si a avaliação do investimento.
É importante ressaltar que cabe ao empreendedor/ofertante estar atento ao que se
dispõe hoje em termos de regramentos das emissões públicas de valores mobiliários,
sem prejuízo de que a CVM possa vir a atuar na supervisão e sanção de eventuais
procedimentos irregulares, uma vez identificados.
As ofertas de ativos virtuais que se enquadrem na definição de valor mobiliário e
estejam em desconformidade com a regulamentação serão tidas como irregulares e,
como tais, estarão sujeitas às sanções e penalidades aplicáveis.

O reconhecimento atual da CVM, é de que os criptoativos são ativos virtuais,


protegidos por criptografia. Os criptoativos podem ser caracterizados como valores
mobiliários, quando configurarem um contrato de investimento coletivo, e a oferta ou ICO
deve cumprir a regulação da CVM.

4.4 PROJETO DE LEI N.º 2.303 DE 2015

A regulamentação das moedas virtuais no Brasil vem sendo discutida no Projeto


de Lei n.º 2303/2015 pelo deputado Aureo Ribeiro e no dia 08 de dezembro de 2021 foi
aprovado na Câmara dos Deputados.
A justificativa do PL é que ele visa diminuir os riscos que as moedas virtuais
possam oferecer contra a economia, proteger os usuários ou como é mencionado no texto o
“consumidor”, e por fim diminuir a chances de financiamento de práticas ilegais.
Como explicado anteriormente, as práticas criminosas existiam antes mesmo da
existência das criptomoedas, mas com o decorrer do tempo desde o início do PL até a
aprovação o texto, teve notáveis alterações. A mais notável foi a emenda do relator deputado
Expedito Netto, que, colocou as Exchanges que são as prestadoras de serviços de ativos
virtuais, como foco na regulamentação.
O foco principal do PL n.º 2303 de 2015 agora é proteger os usuários de ativos
virtuais que utilizem as Exchanges para negociar qualquer tipo de criptomoeda. Como as
criptomoedas não necessitam de um ente estatal para funcionar devido ao imensurável poder
criptográfico, algumas pessoas ou grupos podem criar Exchanges para induzir a erro e captar
dinheiro de usuários.
A subemenda do relator deputado Expedito Neto:
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre as diretrizes a serem observadas na prestação de
serviços de ativos virtuais e na sua regulamentação.
Parágrafo único. O disposto nesta Lei não se aplica aos ativos representativos de
valores mobiliários sujeitos ao regime da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e
não altera nenhuma competência da Comissão de Valores Mobiliários.
Art. 2º As prestadoras de serviços de ativos virtuais somente poderão funcionar no
País mediante prévia autorização de órgão ou entidade da Administração Pública
Federal a ser indicado em ato do Poder Executivo.
Parágrafo único. Ato do órgão ou entidade da Administração Pública Federal de que
trata o caput estabelecerá as hipóteses e os parâmetros em que a autorização de que
trata o caput poderá ser concedida mediante procedimento simplificado.
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, considera-se ativo virtual a representação digital de
valor que pode ser negociada ou transferida por meios eletrônicos e utilizada para
realização de pagamentos ou com propósito de investimento, não incluídos:
I- moeda nacional e moedas estrangeiras;
II - moeda eletrônica, nos termos da Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013;
III - instrumentos que provejam ao seu titular acesso a produtos ou serviços
especificados ou a benefício proveniente desses produtos ou serviços, a exemplo de
pontos e recompensas de programas de fidelidade; e
IV- representações de ativos cuja emissão, escrituração, negociação ou liquidação
esteja prevista em lei ou regulamento, a exemplo de valores mobiliários e de ativos
financeiros. (Brasil, 2015)

O ideal da regulamentação discutida pelos legisladores agora é mais assertivo,


pois com o reconhecimento das prestadoras de serviços e a autorização para funcionamento
deverá observar as diretrizes impostas pelo órgão ou entidade regulamentador, o que fica
explícito na subemenda do PL n.º 2303 de 2015:

Art. 4º A prestação de serviço de ativos virtuais deve observar as seguintes


diretrizes, segundo parâmetros a serem estabelecidos pelo órgão ou pela entidade da
Administração Pública Federal definido em ato do Poder Executivo:
I - livre iniciativa e livre concorrência;
II - boas práticas de governança e abordagem baseada em riscos;
III - segurança da informação e proteção de dados pessoais;
IV - proteção e defesa de consumidores e usuários;
V - proteção à poupança popular;
VI - solidez e eficiência das operações; e
VII - prevenção à lavagem de dinheiro, ao financiamento do terrorismo e ao
financiamento da proliferação de armas de destruição em massa, em alinhamento
com os padrões internacionais.
Art. 5º Considera-se prestadora de serviços de ativos virtuais a pessoa jurídica que
executa, em nome de terceiros, pelo menos um dos serviços de ativos virtuais,
entendidos como:
I - troca entre ativos virtuais e moeda nacional ou moeda estrangeira;
II - troca entre um ou mais ativos virtuais; III - transferência de ativos virtuais;
IV - custódia ou administração de ativos virtuaisou de
instrumentos que possibilitem controle sobre ativos virtuais; ou
V - participação em serviços financeiros e prestação de serviços relacionados à
oferta por um emissor ou venda de ativos virtuais. (Brasil, 2015)

O que antes era mal elaborado em 2015 ficou mais compreensível com as últimas
alterações até a sua aprovação na câmara dos deputados, mas será mesmo o caminho ideal
este clamor pela regulamentação? O que vem funcionando com excelência desde 2008, como
é o caso da Bitcoin sem nenhuma queda da rede, fraude ou erro de sua programação. O
problema não é a tecnologia, mas sim quem a utiliza, percebe-se que os legisladores não
enxergam da maneira adequada vendo somente o lado negativo sem entender como
funcionam as criptomoedas.
Deve-se reconhecer que existem sim, riscos com o uso dos ativos virtuais, e
regulamentar as prestadoras de serviços que são conhecidas popularmente como Exchange.
Com o texto do PL n.º 2303 de 2015 existirá uma garantia de proteção para os usuários que
forem lesados, o que exime o risco de golpes e fraudes, trazendo responsabilidades e possíveis
penalizações para aquelas prestadoras que não seguirem as diretrizes mencionadas no PL.
O Projeto de Lei n.º 2303 de 2015 foi aprovado com alterações no Plenário no dia
08 de dezembro de 2021, e agora encontra-se no Senado Federal.

4.5 PROJETO DE LEI N.º 2060 DE 2019

Em 2019 o Deputado Aureo Ribeiro, mesmo autor do PL nº 2303/2015 elaborou o


Projeto de Lei n.º 2060/2019, propondo um regime jurídico dos Criptoativos. A partir da
análise do novo PL, nota-se o amadurecimento do deputado em relação ao antigo projeto de
lei, que tinha uma intenção mais conservadora.
Como demonstra no texto do PL 2060/2019 em seu Capítulo II:

Art. 2º Para a finalidade desta lei e daquelas por ela modificadas, entende-se por
criptoativos:
I – Unidades de valor criptografadas mediante a combinação de chaves públicas e
privadas de assinatura por meio digital, geradas por um sistema público ou privado e
descentralizado de registro, digitalmente transferíveis e que não sejam ou
representem moeda de curso legal no Brasil ou em qualquer outro país;
II – Unidades virtuais representativas de bens, serviços ou direitos, criptografados
mediante a combinação de chaves públicas e privadas de assinatura por meio digital,
registrados em sistema público ou privado e descentralizado de registro,
digitalmente transferíveis, que não seja ou representem moeda de curso legal no
Brasil ou em qualquer outro país;
III – Tokens Virtuais que conferem ao seu titular acesso ao sistema de registro que
originou o respectivo token de utilidade no âmbito de uma determinada plataforma,
projeto ou serviço para a criação de novos registros em referido sistema e que não se
enquadram no conceito de valor mobiliário disposto no art. 2° da Lei nº 6.385, de 7
de dezembro de 1976;
Parágrafo único. Considera-se intermediador de Criptoativos a pessoa jurídica
prestadora de serviços de intermediação, negociação, pósnegociação e custódia de
Criptoativos. (Brasil, 2019)
O Projeto de Lei n.º 2.060 de 2019 encontra-se arquivado por ter sido declarado
prejudicado em face a aprovação da Subemenda Substitutiva Global ao Projeto de Lei nº
2303/2015 no final de 2020. Essa foi uma tentativa mais amadurecida sobre a regulamentação
dos criptoativos.
Existem outros três Projetos de Lei propondo regulamentação dos criptoativos,
esses projetos tem em seus textos muitas semelhanças. O Projeto de Lei nº 3825, de 2019,
com autoria do senador Flávio Arns (REDE/PR), concerne em propor a regulação do mercado
de criptoativos, a relação entre usuários e prestadores de serviços.
O Projeto de Lei nº 3949, de 2020, de autoria do Senador Styvenson Valentim
(PODEMOS/RN), estabelece condições para o funcionamento das exchanges de criptoativos,
e alteração de algumas leis como dispõe em seu texto:

Dispõe sobre transações com moedas virtuais e estabelece condições para o


funcionamento das exchanges de criptoativos; e altera a Lei nº 9.613, de 3 de março
de 1998, que dispõe sobre lavagem de dinheiro, a Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de
1976, que dispõe sobre o mercado de capitais, e a Lei nº 7.492, de 16 de junho de
1986, que define crimes contra o sistema financeiro nacional. (Brasil, 2020)

O Projeto de Lei nº 4207, de 2020, de autoria da Senadora Soraya Thronicke


(PSL/MS), concerne em propor a criação de normas para a emissão de criptomoedas e outros
ativos virtuais, como também alteração de algumas leis como descrito em seu texto:

Dispõe sobre os ativos virtuais e sobre as pessoas jurídicas que exerçam as


atividades de intermediação, custódia, distribuição, liquidação, transação, emissão
ou gestão desses ativos virtuais, sobre crimes relacionados ao uso fraudulento de
ativos virtuais, bem como sobre o aumento de pena para o crime de “pirâmide
financeira”, e altera a Lei nº 9.613, de 03 de março de 1998. (Brasil, 2020)

Nessa toada é possível verificar que os projetos de lei mencionados são


semelhantes com a intenção de incluir a natureza jurídica acerca dos criptoativos e também
alterações de leis. O foco principal desses projetos é na regularização das prestadoras de
serviços, que estão envolvidas diretamente com seus usuários.

4.6 ENTENDIMENTOS DOS TRIBUNAIS

O Superior Tribunal de Justiça no Conflito de Competência nº 161.123/SP,


decidiu que a competência para julgar crimes envolvendo criptomoedas e outras moedas
virtuais devem ser conferidas à Justiça Estadual. Isso porque, as criptomoedas não apresentam
natureza jurídica por não serem emitidas por uma autoridade financeira.
A decisão asseverou que se os criptotivos fossem compreendidos como moeda ou
valor mobiliário, a Justiça Federal seria competente em julgar qualquer crime contra o
Sistema Nacional Financeiro.
Este caso teve origem após a Justiça Federal e Estadual se declararam
incompetentes para julgar crimes empregados por meio das criptomoedas, que no caso em
questão era a bitcoin. O Relator do caso apoiou seu entendimento de acordo com o
comunicado 31.379/17 do BACEN, e as considerações da CVM. Isto porque o Banco Central
entendia que as criptomoedas não detinham garantia, por não serem emitidas através de uma
autoridade monetária, e a Comissão de Valores Mobiliários não consideravam a bitcoin como
um valor mobiliário.
A Ementa do Conflito de Competência nº 161.123/SP:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. INQUÉRITO POLICIAL.


JUSTIÇA ESTADUAL E JUSTIÇA FEDERAL. INVESTIGADO QUE ATUAVA
COMO TRADER DE CRIPTOMOEDA (BITCOIN), OFERECENDO
RENTABILIDADE FIXA AOS INVESTIDORES. INVESTIGAÇÃO INICIADA
PARA APURAR OS CRIMES TIPIFICADOS NOS ARTS. 7º, II, DA LEI N.
7.492/1986, 1º DA LEI N. 9.613/1998 E 27-E DA LEI N. 6.385/1976.
MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL QUE CONCLUIU PELA EXISTÊNCIA
DE INDÍCIOS DE OUTROS CRIMES FEDERAIS (EVASÃO DE DIVISAS,
SONEGAÇÃO FISCAL E MOVIMENTAÇÃO DE RECURSO OU VALOR
PARALELAMENTE À CONTABILIDADE EXIGIDA PELA LEGISLAÇÃO).
INEXISTÊNCIA. OPERAÇÃO QUE NÃO ESTÁ REGULADA PELO
ORDENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO. BITCOIN QUE NÃO TEM NATUREZA
DE MOEDA NEM VALOR MOBILIÁRIO. INFORMAÇÃO DO BANCO
CENTRAL DO BRASIL (BCB) E DA COMISSÃO DE VALORES
MOBILIÁRIOS (CVM). INVESTIGAÇÃO QUE DEVE PROSSEGUIR, POR
ORA, NA JUSTIÇA ESTADUAL, PARA APURAÇÃO DE OUTROS CRIMES,
INCLUSIVE DE ESTELIONATO E CONTRA A ECONOMIA POPULAR. 1. A
operação envolvendo compra ou venda de criptomoedas não encontra regulação no
ordenamento jurídico pátrio, pois as moedas virtuais não são tidas pelo Banco
Central do Brasil (BCB) como moeda, nem são consideradas como valor mobiliário
pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), não caracterizando sua negociação,
por si só, os crimes tipificados nos arts. 7º, II, e 11, ambos da Lei n. 7.492/1986,
nem mesmo o delito previsto no art. 27-E da Lei n. 6.385/1976. 2. Não há falar em
competência federal decorrente da prática de crime de sonegação de tributo federal
se, no autos, não consta evidência de constituição definitiva do crédito tributário. 3.
Em relação ao crime de evasão, é possível, em tese, que a negociação de
criptomoeda seja utilizada como meio para a prática desse ilícito, desde que o agente
adquira a moeda virtual como forma de efetivar operação de câmbio (conversão de
real em moeda estrangeira), não autorizada, com o fim de promover a evasão de
divisas do país. No caso, os elementos dos autos, por ora, não indicam tal
circunstância, sendo inviável concluir pela prática desse crime apenas com base em
uma suposta inclusão de pessoa jurídica estrangeira no quadro societário da empresa
investigada. 4. Quanto ao crime de lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei n.
9.613/1998), a competência federal dependeria da prática de crime federal
antecedente ou mesmo da conclusão de que a referida conduta teria atentado contra
o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em detrimento de bens,
serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas (art. 2º, III, a e b, da Lei n. 9.613/1998), circunstâncias não verificadas no
caso. 5. Inexistindo indícios, por ora, da prática de crime de competência federal, o
procedimento inquisitivo deve prosseguir na Justiça estadual, a fim de que se
investigue a prática de outros ilícitos, inclusive estelionato e crime contra a
economia popular. 6. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de
Direito da 1ª Vara de Embu das Artes/SP, o suscitado.(STJ - CC: 161123 SP
2018/0248430-4, Relator: Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Data de
Julgamento: 28/11/2018, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe
05/12/2018)

Compreende-se que na esfera judicial ainda persiste a incompetência por parte dos
tribunais em relação ao tratamento do mérito das criptomoedas. Os conflitos dirimidos aos
tribunais precisam de base legal para auxiliar no devido processo legal. As motivações de
decisões nem sempre precisam de base legal, mas ao tratar um fato desconhecido os tribunais
devem estar apoiados à lei.
Pontua-se que pareceres, instruções e comunicados não podem ficar a todo tempo
tratando o tema, visto que a gravidade do problema está sendo ignorada e a solução é pequena
frente ao tamanho do litígio. Evidencia que a falta de legislação específica para o tratamento
adequado das criptomoedas, torna a problemática inalcançável, desse modo, a regulamentação
se faz necessária, pois assim terá o Direito alcançado a solução do tema.
CONCLUSÃO

Construir o presente trabalho de pesquisa foi de extrema importância para dilatar


o conhecimento do autor sobre um tema muito novo para o ordenamento jurídico brasileiro.
Argumentar sobre as criptomoedas e dada a sua possível regulamentação, é muito relevante
para a compreensão dos criptoativos e as intenções do estado em tratar o problema.
Ao passo que homem evolui, o ambiente ao seu redor o acompanha, e em alguns
momentos as mudanças geram conflitos e dúvidas. O meio de troca vem acompanhando a
evolução do homem desde o escambo, e as necessidades geradas, a partir das dificuldades de
trocas, foram solucionadas nos últimos séculos por governos. Os reis monarcas começaram a
usar a moeda para controlar seus governados, o homem estava preso às amarras de controle
impostar por seus líderes.
Com a adoção do papel moeda o controle estatal serviu de ferramenta do governo
para deter a exclusividade de emissão do dinheiro. Nações impunham obrigações na utilização
da moeda emitida por elas, sem dar faculdade ao homem em escolher qual dinheiro seria
melhor e mais convencional a ser utilizado. As pessoas ficavam a mercê do dinheiro emitido
pelo Estado para fazerem as suas trocas. Muitas vezes esse dinheiro emitido por governos era
corroído por terríveis e longas inflações, frutos da má gestão de líderes irresponsáveis que
abusavam na emissão do dinheiro para resolverem interesses políticos.
Economistas da escola austríaca alertavam da má influência e do perigo de o
estado ter o poder e o controle da emissão do dinheiro. Inflações por décadas foram e ainda
são responsáveis pelos fracassos financeiros de alguns países, no qual o fruto da inflação é o
mau controle estatal sobre o dinheiro. A Venezuela, vizinha do Brasil é um grande exemplo
do que a falta de cautela em tratar a moeda do país pode resultar, um país com uma inflação
incontrolável.
A internet foi uma das grandes revoluções da humanidade, a criação dela abriu a
chancela de outras revoluções, e as Criptomoedas hoje é uma grande revolução no sistema
econômico e financeiro. Com o acesso a internet, criou-se um mundo de oportunidades para
os usuários, transformando a forma de comunicação mais rápida e eficiente, ao passo que
trouxe muitas inovações.
Trata-se a criptomoeda como revolução pelo problema solucionado a partir da sua
criação a qual facilitou a troca de valores entre pessoas ao redor do mundo. Não é um feito
simples por se tratar da complexidade de programação por trás do seu funcionamento, os
Cypherunks, entusiastas da criptografia em prol da liberdade entendiam a troca de dinheiro
como uma simples informação e essa troca poderia ser libertária sem necessidade de
intervenção estatal, mas não conseguiram resolver o problema do gasto duplo dentro da
criptografia. Satoshi Nakamoto que pode ser uma pessoa ou um grupo de pessoas resolveu
este problema ao criar o Protocolo Bitcoin.
Esta revolução tecnológica culminou não somente em revolver o problema da
troca de valores entre pessoas, mas também dar liberdade às pessoas em utilizar um tipo de
dinheiro descentralizado sem controle estatal. As criptomoedas são mais acessíveis e mais
baratas que as moedas fiduciárias, por serem puramente digitais e não precisarem de um
terceiro de confiança para intermediar transações. Podem ser uma arma contra a pobreza por
aumentarem o acesso a serviços financeiros básicos a custos baixos.
A regulamentação das criptomoedas no ordenamento jurídico brasileiro deve ser
tratada com cautela, e alguns órgãos estão atribuindo pareceres para o tratamento dos
criptoativos por existir a obscuridade da lei. Os legisladores devem tratar com cuidado um
tema que pode funcionar simplesmente sem o auxílio do estado mesmo com uma possível,
mas muito distante a proibição das criptomoedas.
Alguns projetos de lei estão buscando tratar os criptoativos atribuindo a devida
natureza jurídica, por mais que alguns projetos de lei em seu início demonstraram
desconhecimento acerca do tema, mas tudo acaba evoluindo e aprimorando com o tempo, e na
busca de conhecimento. Os legisladores devem ser pacíficos na busca da regulamentação,
pois as criptomoedas vieram para ficar mesmo sem o aval do estado, visto porque é uma
tecnologia incontrolável, a não ser que proíbam o uso da internet.
O estado e o Direito estão se preparando para conviver com os criptoativos, o que
se espera é uma regulamentação que seja possível utilizar com harmonia a nova tecnologia a
qual vem demonstrando segurança por parte de seus desenvolvedores. É claro que crimes
podem acontecer com o uso das criptomoedas, mas seu uso é neutro e não se deve atribuir a
atividades ilícitas. O que possivelmente, qualquer moeda é passível para fomentar atividades
criminosas, e atribuir essa possibilidade para tentar restringir a utilização seria um grande
erro, porque existe uma grande comunidade utilizando com finalidade legal.
Percebe-se que a maior intenção no Projeto de Lei n.º 2303 de 2015, aprovado em
dezembro de 2021 e encaminhado ao Senado Federal, visa a proteger os usuários da
tecnologia, por reconhecer as exchanges como prestadoras de serviços e impor requisitos para
o funcionamento no ordenamento brasileiro.
O Brasil está caminhando para uma possível regulamentação, o que parecia ser
quase impossível, devido à incompreensão da matéria por parte de alguns legisladores,
tornou-se possível dado ao amadurecimento dos membros do Congresso Nacional. Prever o
futuro é uma tarefa impossível, mas o ordenamento está pronto para regulamentar, mesmo que
não haja uma extrema necessidade por ser uma tecnologia que funciona sem a penúria do
estado.
Por fim, a partir das ideias desenvolvidas para esta monografia, é nítido o
potencial de possibilidades que a tecnologia por trás das criptomoedas pode oferecer aos seus
usuários, que ensejam a faculdade de novas vertentes de pesquisa. Como a Blockchain pode
contribuir para a proteção de dados dos sistemas governamentais brasileiro.
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