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CURITIBA
2021
ALVARO LUIZ PRIMÃO LOPES
CURITIBA
2021
ALVARO LUIZ PRIMÃO LOPES
Curitiba, de de 2021
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia ao meu bisavô, in memorian, Cerilo Primão, que sempre
esteve presente para apoiar e dar seus dois centavos de opinião em relação a vida e
como deixa-la mais bela, independente das dificuldades.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus por estar guiando minha vida, minhas escolhas
e principalmente, iluminar meu caminho para realizar o que é certo e bom, sem
nenhum tipo de distinção.
Aos meus pais, Luiz e Cassia, por sempre me apoiarem e me instruírem a ser
correto, com carinho e atenção, amor e suporte.
Ao meu orientador, Professor Edimar Inocêncio Brígido, por aceitar esse projeto
de pesquisa, pela atenção e paciência durante a elaboração desta monografia,
destacando e orientando o que tinha que ser corrigido ou melhorado.
Ao meu amigo, Valter Junior, que me incentivou a escrever sobre um tema que
tem um grau de dificuldade bem elevado, mas que sempre deu seus dois centavos de
informação que levaram a várias vertentes de pesquisa e que algumas foram
escolhidas a estar presente neste trabalho.
Por fim, porém não menos importante, ao meu melhor amigo e irmão, Lucas
Rocha Hashimoto, que sempre esteve comigo desde 2007, independentemente da
distância, sempre me apoiando e me incentivando a ser mais que somente uma
pessoa melhor, e sim, ser A PESSOA MELHOR. A ele sou grato eternamente, por ter
sido meu amigo na época, e hoje ser meu irmão, minha segunda família, se é que
existe isso, pois família não tem distinção de sangue. Meu irmão de coração. Sempre
estaremos juntos e sempre vai ter um ‘kept you waiting, hum?’.
Aqueles que abrem mão da liberdade essencial
por um pouco de segurança temporária não
merecem nem liberdade nem segurança –
Benjamin Franklin
Não há fatos, apenas interpretações – Friedrich
Nietzsche
RESUMO
This monograph aims to understand the ethical implications arising from the
advancement of digital law. To this end, the analysis was adopted from the perspective
of Brazilian law in conjunction with Ethics, relating the technological evolution from the
post-war to the present day, together with the development of laws related to the
theme, with their due analysis and criticism. In addition, it demonstrates how Artificial
Intelligence is in the main pillars of Brazilian justice, presenting its functioning and its
objective within the judicial system. It was verified in this work that the technological
evolution, the Ethics and the Brazilian Law, glimpse presumed dilemmas before the
technological peak and new theories after this evolution, under which they question
whether the rising technology can replace the figure of the Law operator. In this, Law,
in its digital aspect, in a meeting with Ethics, explains its understanding and
demonstrates that the introduction of Artificial Intelligence in the legal sphere, is a new
way to evolve and facilitate the service of those who operate the pillars of Justice.
Keywords: Ethic; Right; Justice; Digital World; Artificial Intelligence
LISTA DE SIGLAS
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................12
2. ÉTICA E A DISCUSSÃO NO MUNDO DIGITAL.....................................................14
2.1 A MÁQUINA DE TURING E SUA EVOLUÇÃO.....................................................14
3. AS REGRAS ESTABELECIDAS NO MUNDO DIGITAL........................................17
3.1 O QUE VOCÊ VÊ E O QUE TE OFERECEM?......................................................17
3.2 A RELAÇÃO ENTRE ÉTICA E O MUNDO DIGITAL.............................................19
4. AS PRINCIPAIS FERRAMENTAS UTILIZADAS PELO DIREITO
BRASILEIRO.............................................................................................................22
4.1 SISTEMA VICTOR................................................................................................22
4.2 PROJETO SÓCRATES........................................................................................24
4.3 SISTEMAS ALICE, SOFIA E MONICA.................................................................26
5. AS PRINCIPAIS LEIS VIGENTES DO DIREITO DIGITAL.....................................28
5.1 MARCO CIVIL DA INTERNET..............................................................................28
5.1.1 A Guarda Dos Registros De Conexão e Sua Utilização......................................31
5.1.2 O Artigo 15 e a Ausência De Limite De Ampliação De Prazo Superior Ao Previsto
No Parágrafo Segundo...............................................................................................34
5.1.2.1 Os Três Problemas Do Parágrafo Terceiro.....................................................37
5.1.3 A Responsabilidade Por Danos Causados Por Terceiros Segundo o Artigo
19...............................................................................................................................38
5.1.4 Artigo 20: Preconceito Contra as Culturas?........................................................40
5.2 LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS..........................................42
5.2.1 Evolução Histórica e Suas Leis Setoriais...........................................................43
5.2.2 Considerações Iniciais e Aplicabilidade.............................................................45
5.2.2.1 Exceções de aplicabilidade.............................................................................47
5.2.2.2 Privacidade paradigmática..............................................................................48
5.2.2.3 Segurança da informação e dos dados...........................................................52
6. OS LIMITES ÉTICOS PARA A APLICAÇÃO DAS IAs NO MUNDO E NO DIREITO
DIGITAL.....................................................................................................................56
6.1 A ÉTICA E A RESPONSABILIDADE DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL.................56
6.2 A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL INCLUÍDA NA JUSTIÇA E NA PROFISSÃO
JURÍDICA...................................................................................................................60
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................65
REFERÊNCIAS..........................................................................................................67
12
1. INTRODUÇÃO
1
Define que há alguns desses dados sujeitos a cuidados ainda mais específicos, como os sensíveis e
os sobre crianças e adolescentes, e que dados tratados tanto nos meios físicos como nos digitais estão
sujeitos à regulação. Disponível em: http://www.serpro.gov.br/lgpd/menu/a-lgpd/o-que-muda-com-a-
lgpd/
13
2 HODGES, Andrew. Turing: um filósofo da natureza; tradução Marcos Barbosa de Oliveira. – São
Paulo: Editora UNESP, 2001. (Coleção grandes filósofos) p. 7.
3 A nova forma do problema pode ser descrita em termos de um jogo que chamamos de 'jogo da
imitação ". É jogado com três pessoas, um homem (A), uma mulher (B) e um interrogador (C) que pode
ser de qualquer sexo. O interrogador fica em uma sala separada em frente aos outros dois. O objetivo
do jogo para o interrogador é determinar qual dos outros dois é o homem e qual é a mulher. Ele os
conhece pelos rótulos X e Y, e no final do jogo ele diz "X é A e Y é B" ou "X é B e Y é A." O interrogador
pode fazer perguntas a A e B assim: C: X, por favor, pode me dizer o comprimento de seu cabelo?
Agora, suponha que X seja realmente A, então A deve responder. O objetivo de A no jogo é tentar fazer
com que C faça a identificação errada. Sua resposta pode ser:
"Meu cabelo tem cascalho e os fios mais longos têm cerca de vinte centímetros de comprimento."
Para que os tons de voz não ajudem o interrogador, as respostas devem ser escritas, ou melhor,
datilografadas. O arranjo ideal é ter um teleimpressor comunicando as duas salas. Alternativamente, a
pergunta e as respostas podem ser repetidas por um intermediário. O objetivo do jogo para o terceiro
jogador (B) é ajudar o interrogador. A melhor estratégia para ela provavelmente é dar respostas
verdadeiras. Ela pode acrescentar coisas como "Eu sou a mulher, não dê ouvidos a ele!" às suas
respostas, mas de nada valerá, já que o homem pode fazer comentários semelhantes.
Agora fazemos a pergunta: "O que acontecerá quando uma máquina fizer o papel de A neste jogo?"
Será que o interrogador decidirá erroneamente com a mesma frequência quando o jogo é disputado
dessa forma ou quando o jogo é disputado entre um homem e uma mulher? Essas perguntas
substituem nosso original, "As máquinas podem pensar?"
4
HODGES, 2001. p. 10.
5 Turing interpreta a palavra “computador” como uma pessoa dedicando-se a computação.
15
Visto que a inteligência artificial está contribuindo com a melhoria da saúde das
pessoas, com novas formas de erradicar doenças e a melhoria na qualidade de vida,
6 SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial/ tradução Daniel Moreira Miranda. São Paulo:
Edipro, 2016, p. 19.
7 HAWKINGS, 2014, apud SCHWAB, 2016, p. 104.
16
A Internet, no sentido técnico, é uma rede formada pela conexão entre máquinas,
ligadas por diversos cabos de redes ao redor do mundo, conectando e possibilitando
a troca de dados entre sistemas. Esse processo é realizado pela utilização do
protocolo TCP/IP8.
8 [...] um computador envia solicitações, como carregar uma página da web, a um outro computador. O
TCP (Protocolo de Controle de Transmissão) é o responsável por quebrar uma mensagem em partes
menores, enviando-as pela internet. O computador que recebe esses pacotes de informação utiliza
outra ferramenta do TCP para reunir estes dados na mensagem original. Disponível em:
http://www.canaltech.com.br/produtos/o-que-e-o-protocolo-tcpip/.
9 Os cookies são pequenos arquivos criados por sites visitados e que são salvos no computador do
usuário, por meio do navegador. Esses arquivos contêm informações que servem para identificar o
visitante, seja para personalizar a página de acordo com o perfil ou para facilitar o transporte de dados
entre as páginas de um mesmo site. Cookies são também comumente relacionados a casos de violação
de privacidade na web. Disponível em: https://www.techtudo.com.br/noticias/2018/10/o-que-sao-
cookies-entenda-os-dados-que-os-sites-guardam-sobre-voce.ghtml.
10 Diretiva 2002/58/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de julho de 2002 relativa ao
Assim como Turing usou sua máquina para decifrar os códigos nazistas durante
a segunda guerra mundial, referenciando como computador as pessoas que se
dedicam a computação, assim, dando início ao desenvolvimento de máquinas cada
11 Em dezembro de 2017, o programa de xadrez AlphaZero foi criado para substituir as técnicas de
“handcrafted knowledge and domain-specific augmentations used in traditional game-playing programs
with deep neural networks and a tabula rasa reinforcement learning algorithm” (SILVER et al., Mastering
Chess and Shogi by SelfPlay with a General Reinforcement Learning Algorithm, 2017, p.1, disponível
em https://arxiv.org/abs/1712.01815. Praticou contra si mesmo por 4 horas, sabendo apenas as regras
do jogo, e enfrentou o programa mais avançado já criado, Stockfish, derrotando-o em 100 partidas,
sem perder nenhuma. Stockfish possui um rating ELO (método de comparar a força relativa de
enxadristas) de 3400, enquanto que o maior rating alcançado por um ser humano foi de 2882.
12
SCHWAB, 2016. p. 105-106.
13 O sapo fervente é uma fábula que descreve um sapo sendo lentamente fervido vivo. A premissa é
que, se um sapo for colocado repentinamente em água fervente, ele saltará, mas se o sapo for colocado
em água morna que depois for levada a ferver lentamente, ele não perceberá o perigo e será cozido
até a morte.
19
vez mais eficazes, em âmbito militar ou civil, ainda assim, havia presente o fator
humano para a tomada de decisões perante a ética. O século XXI, com seu avanço
tecnológico, está possibilitando uma nova forma de integração e interação entre a
inteligência artificial e o ser humano. É possível encontrar essa interação com o
sistema Siri, da Apple; Cortana, da Microsoft; aplicativos como Waze; buscadores
como Google; Bing; Yahoo; redes sociais, como o Facebook; Twitter; Instagram;
YouTube; além de aplicativos de comunicação, como o WhatsApp, com sua aplicação
WhatsApp Business; Telegram.
Se essa tentativa permitiu essa sugestão de que a mente humana poderia ser
descrita como uma execução de um software, então o questionamento para tal ato
seria sobre a relação que se deve fazer entre a ética e o mundo digital.
14
BRAGA, Adriana Andrade; CHAVES, Mônica. A dimensão metafísica da Inteligência Artificial.
Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, n. 119, p. 99-120, set. 2019.
20
A imersão do mundo digital está mais que presente no cotidiano do ser humano.
Com um clique é possível registrar uma conta nas redes sociais, mas também com o
mesmo clique é possível disseminar notícias e informações falsas.
A falta da ética no mundo digital poderia dar vazão a insegurança para quem
navega pela Internet, com o acesso irrestrito a dados pessoais para o
compartilhamento e vendas ilegais desses. Além dos crimes cibernéticos, tais como
15 A iniciativa é um convite à reflexão de usuários para que possam se certificar de que o material que
divulgam é verdadeiro e de fonte fidedigna combatendo assim as notícias falsas ou “fake news”. A
iniciativa Pause #TakeCarebeforeyouShare ou Pare para Pensar antes de Compartilhar, numa
tradução livre, é parte da campanha “Verificado”, lançada pelo Departamento de Comunicação Global
da ONU em parceria com empresas privadas. Disponível em
https://news.un.org/pt/story/2020/06/1718572
16
BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias;
tradução Carlos Alberto Medeiros. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008. p. 20.
17 Máquinas hipotéticas que reutilizariam infinitamente a energia gerada por seu próprio movimento.
Disponível em https://super.abril.com.br/ciencia/o-que-sao-maquinas-de-movimento-perpetuo/.
21
18
HERMAN, Susan N. Os Desafios do Crime Cibernético. Revista Eletrônica De Direito Penal e
Política Criminal – UFRGS VOL. 1, N.º 1, 2013.
22
STF no primeiro semestre, seriam necessárias quase 22 mil horas de trabalho de servidores e
estagiários. Lembrou, ainda, que o tempo que os servidores dedicavam a essas tarefas de
classificação, organização e digitalização dos processos será transferido para etapas mais complexas
do processamento judicial. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=388443
23
21 O Tribunal Superior do Trabalho, em parceria com a UnB, está desenvolvendo o seu programa de
inteligência artificial que fará a triagem automática de processos, com a apresentação de julgados
relativos à questão jurídica discutida, para a sugestão do voto a ser proferido pelo julgador. Disponível
em: https://www.jota.info/justica/judiciario-desenvolve-tecnologia-de-voto-assistido-por-maquinas-
05012018
22 SALAMA, Bruno M. O Demand Pull por Tecnologia no Direito Brasileiro. Distrito – Legaltech
e que seja ampliado para executar outras tarefas de auxílio ao trabalho dos ministros do STF, como a
identificação de jurisprudência, por exemplo. Disponível em:
[www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=390818].
24
O Ministro Luiz Fux declarou que o sistema, ao identificar os temas mais comuns
de repercussão geral, poderá dar rápida solução a aproximadamente dez mil
processos por ano, visto que grande maioria desses sequer chegaram ao STF, mas
que seriam processados de forma muito mais lenta e burocrática26.
26 No tocante ao quarto ponto, outra demonstração de sucesso de tal iniciativa diz respeito ao potencial
auxílio na resolução de cerca de 1/8 dos REs que chegam ao STF. Dos aproximadamente 80 mil
recursos que chegam ao Supremo a cada ano, 40 mil, em média, são devolvidos aos tribunais de
origem. Desses, metade (20 mil) volta por não atender a requisitos formais de admissibilidade e a outra
metade (20 mil) por se enquadrar em algum tema de repercussão geral definido pelo STF. Tendo em
vista o fato de o Victor ter sido ensinado a identificar os 27 temas mais comuns, que dizem respeito a
cerca de 50% de todos os casos entre os 1020 temas com repercussão geral, a tecnologia pode dar
solução para, em média, 10 mil processos a cada ano. Disponível em: https://www.jota.info/coberturas-
especiais/inova-e-acao/stf-aposta-inteligencia-artificial-celeridade-processos-11122018
27 O STJ chega aos seus 30 anos em um momento no qual o mundo derruba barreiras tecnológicas e
caminha definitivamente para a virtualização da vida, ao mesmo tempo em que a humanidade exige
respeito às diferenças, atenção às questões ambientais e justiça social. Para um novo tempo, um novo
Tribunal: trabalhamos por um STJ que julgue cada vez melhor e em menos tempo, que ofereça
oportunidades iguais para homens e mulheres, e que cumpra seu papel na gestão sustentável do
planeta. Disponível em:
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/SiteAssets/documentos/noticias/Relat%C3%B3rio%20de%20gest%
C3%A3o.pdf
28 Embora o ato de julgar não dispense o olhar humano e a análise criteriosa do magistrado, o uso de
Visto que a versão inicial trouxe resultados positivos com maior facilidade a
análise de informações e classificação dos temas, houve também um novo desafio
encontrado nos gabinetes ministeriais, o de identificar de forma antecipada de
controvérsias jurídicas do recurso especial.
enquadra nos repetitivos do tribunal, a legislação aplicada e até mesmo processos semelhantes com
sugestões de decisões. Disponível em: https://blog.sajadv.com.br/inteligencia-artificial-justica/
26
31 Python é uma linguagem de programação criada por Guido van Rossum em 1991. Os objetivos do
projeto da linguagem eram: produtividade e legibilidade. Em outras palavras, Python é uma linguagem
que foi criada para produzir código bom e fácil de manter de maneira rápida. Entre as características
da linguagem que ressaltam esses objetivos estão: baixo uso de caracteres especiais, o que torna a
linguagem muito parecida com pseudo-código executável; o uso de identação para marcar blocos;
quase nenhum uso de palavras-chave voltadas para a compilação; coletor de lixo para gerenciar
automaticamente o uso da memória; etc.
32 O Elasticsearch é um mecanismo de busca e análise de dados distribuído e open source para todos
que são atualizadas semanalmente. Além disso, a tecnologia permite que sejam feitas buscas rápidas
27
36
GONÇALVES, Victor Hugo Pereira. Marco civil da internet comentado - 1. ed. – São Paulo: Atlas
2017. p. 1-2.
29
primeiramente por não dever se tratar de internet, e sim por tecnologias de informação
e comunicação, deixando de lado o conceito formulado na década de 1990 37.
37 A web pode ser definida como um conjunto de recursos que possibilita navegar na Internet por meio
de textos hipersensíveis com hiper-referências em forma de palavras, títulos, imagens ou fotos, ligando
páginas de um mesmo computador ou de computadores diferentes. A web é o segmento que mais
cresce na internet e a cada dia ocupa espaços de antigas interfaces da rede. VILHA, Anapatrícia
Morales; DI AGUSTINI, Carlos Alberto. E-marketing para bens de consumo durável. Rio de Janeiro.
Editora FGV. 2002, p. 20.
38 JESUS, Damásio de. Marco Civil da Internet: comentários à Lei n. 12.965/14 - São Paulo: Saraiva,
2014, p. 22.
39 A hipótese de que a futura computadorcracia, como tem sido chamada, permita o exercício da
democracia direta, isto é, dê a cada cidadão a possibilidade de transmitir o próprio voto a um cérebro
eletrônico, é uma hipótese absolutamente pueril. A julgar pelas leis promulgadas a cada ano na Itália,
o bom cidadão deveria ser convocado para exprimir o seu próprio voto ao menos uma vez por dia. O
excesso de participação, produto do fenômeno que Dahrendorf chamou depreciativamente de cidadão
total, pode ter como efeito à saciedade de política e o aumento da apatia eleitoral. O preço que se deve
pagar pelo empenho de poucos é frequentemente a indiferença de muitos. Nada ameaça mais matar
a democracia que o excesso de democracia. (BOBBIO, Norberto. Futuro da democracia: uma defesa
das regras do jogo. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1984, p. 39).
30
40 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25ª Ed. Malheiros Editores. São
Paulo. 2005. p. 246.
41 SILVA, 2005 apud GONÇALVES, 2017, p. 246.
42 GONÇALVES, 2017, p. 7.
31
são excluídos dela.43 Com isso, os excluídos digitais ficam impossibilitados de exercer
seu direito à liberdade de expressão nem de pensamento. Em contrapartida, existe
aqueles que estão incluídos no mundo digital, porém não podem desfrutar da sua
liberdade de expressão por não terem cultura, educação ou, meramente, são
impedidos pelo vigilantismo estatal, privado44 ou judicial45.
43O uso da Internet continua a crescer globalmente. Atualmente, 4,1 bilhões de pessoas utilizam a rede
mundial. O número de usuários corresponde a 53,6% da população de todos o mundo. Segundo a
União Internacional de Telecomunicações, UIT, 3,6 bilhões de pessoas continuam excluídas da
comunicação online. Disponível em:
https://news.un.org/pt/story/2019/11/1693711#:~:text=Atualmente%2C%204%2C1%20bilh%C3%B5e
s%20de,continuam%20exclu%C3%ADdas%20da%20comunica%C3%A7%C3%A3o%20online.
44 O Google admitiu que rastreia e-mails privados de usuários do seu serviço Gmail para vender
publicidade. A empresa utilizava as informações trocadas e armazenadas no serviço (Google Apps for
Education) para oferecer publicidade dirigida a seus usuários – assim como acontece com o restante
dos usuários de serviços Google. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/tec/2014/04/1447589-
google-deixara-de-rastrear-e-mails-de-estudantes-por-publicidade-dirigida.shtml>
45 As informações a serem guardadas deverão estar não necessariamente criptografadas, mas
codificadas a ponto de um usuário não ter acesso a elas. Só deverá ter acesso a autoridade, judicial
ou não, que a requerer, delimitado o prazo de seis meses, mas que podem ser mais. GONÇALVES,
2017, p. 123.
32
46
BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres
para o uso da Internet no Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2014/lei/l12965.htm
47 Quando falamos em endereço físico estamo-nos a referir ao endereço MAC (Media Access Control)
que é composto por 48 bits (12 caracteres hexadecimais). Numa LAN, uma vez que o meio físico é
partilhado por todas as máquinas e estas trocam tramas (PDU da camada 2 do modelo OSI) entre si,
o endereço MAC é que identifica a máquina de destino. Disponível em:
https://pplware.sapo.pt/tutoriais/networking/redes-afinal-endereco-mac-mac-address/
48 GONÇALVES, 2017. p. 115.
49 BRASIL, TJ-SP, Agravo de Instrumento no: 2114774-24.2014, Relator: Salles Rossi, Data de
marco regulatório, violando a primeira parte do artigo 5º, inciso LIV, da Constituição
da República, o que expressa que ninguém será privado da liberdade sem o devido
processo legal.
Por outro lado, qualquer infração que envolva dados pessoais, privacidade,
intimidade e vida privada de uma pessoa é gravíssima e deve ser coibida em
alta monta para o infrator. (...) O antecedente será um benefício (...), mesmo
tendo cometido algo tão grave. E o mesmo pensamento pode se aplicar ao
critério de reincidência. Diariamente, vemos empresas que têm os seus
dados furtados, sem falar na administração pública. 52
53 BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres
para o uso da Internet no Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2014/lei/l12965.htm
54 BRASIL, Recurso Especial nº1.398.985 MG, Relator: Ministra Nancy Andrighi, Data de Julgamento:
57 O prazo indeterminado de guarda dos dados nos remete à investigação do jovem Josef K., do livro
O processo, de Franz Kafka, ao questionar os guardas pela investigação que se iniciava: “Que deseja?
Porventura acredita que poderá acelerar o curso de seu maldito processo discutindo conosco, que
somos apenas guardas, sobre os seus documentos de identidade e a ordem de prisão? Nós somos
apenas empregados inferiores que pouco sabemos de documentos já que nossa missão neste assunto
consiste somente em montar guarda junto a você durante dez horas diárias e cobrar nosso soldo por
isso. Aí está tudo o que somos; contudo, compreendemos bem que as altas autoridades a cujo serviço
estamos, antes de ordenar uma detenção, examinam muito cuidadosamente os motivos da prisão e
investigam a conduta do detido. Não pode existir nenhum erro. A autoridade a cujo serviço estamos, e
da qual unicamente conheço os graus inferiores, não indaga os delitos dos habitantes, senão que,
como o determina a lei, é atraída pelo delito e então somos enviados, os guardas. Assim é a lei, como
poderia haver algum erro?”
58 GONÇALVES, 2017, p. 129.
59
GONÇALVES, loc. cit.
38
conteúdos que hospedavam”, o que hoje, sabe- se, é tarefa difícil de ser
realizada.62
Os pedidos pelos advogados, para que seja expedido mandado judicial contra
os provedores, em grande maioria, são mal formulados, visto o desconhecimento do
funcionamento dos serviços oferecidos e a internet, tanto que, nas decisões judiciais,
ao determinar o cumprimento ao provedor de retirar determinado conteúdo, ignoram
o funcionamento do serviço, implicando sobre o seu funcionamento tecnológico,
65Quando a prova do fato exigir, o Juiz poderá inquirir técnicos de sua confiança, permitida às partes a
apresentação de parecer técnico. Parágrafo único. No curso da audiência, poderá o Juiz, de ofício ou
a requerimento das partes, realizar inspeção em pessoas ou coisas, ou determinar que o faça pessoa
de sua confiança, que lhe relatará informalmente o verificado.
66 THEODORO JR., Humberto. Curso de direito processual civil. 31. ed. Rio de Janeiro: Forense,
67 Existem projetos na internet que tentam melhorar a percepção dos usuários aos termos de uso e
privacidade. Um deles é o Terms of Service; Didn’t Read (Termos de serviço que não lemos. Disponível
em: <https://tosdr.org/>). Esse serviço possui um aplicativo que informa quais são os pontos fortes e
fracos dos termos de uso e de privacidade dos sites que o usuário está acessando.
68 Disse o Ministro Juca Ferreira: “Para nós é grave, porque é uma agressão à nossa soberania, à
nossa legislação. É um desrespeito à nossa diversidade cultural e aos índios do Brasil. Se os índios
não podem aparecer como são, o recado é que precisam se travestir de não indígenas, o que é uma
crueldade muito grande – afirmou o ministro da Cultura, Juca Ferreira, acrescentando: – Em nenhum
momento, o Facebook recebeu o aval para censurar o Estado brasileiro ou o Ministério da Cultura.”
Disponível em: <http://oglobo.globo.com/sociedade/midia/ministerio-da-cultura-vai-entrar-na--justica-
contra-facebook-por-foto-de-india-bloqueada-1-15910229>.
69 Uma ONG argentina de combate à doença lançou um vídeo bem-humorado, criativo e muito irônico
onde ensina a identificar possíveis anormalidades nos seios e axilas. No entanto, como as redes sociais
não permitem a exposição de seios nem mesmo por esta ótima causa, a campanha avisa:
“Encontramos um par de tetas incensuráveis: as do Henrique!”. Disponível em:
42
Embora seja uma campanha argentina, está implícito a censura feita, mesmo o tema
seja de relevância mundial.
Com isso, a evidência de violações dos direitos humanos contra a cultura torna
evidente o preconceito contra a cultura de um país e de um mal que acomete as
mulheres de todo o mundo, tão somente por não adequar os princípios de direitos
humanos em suas práticas tecnológicas e nos Termos de Uso e Privacidade. Virgílio
Afonso da Silva argumenta sobre um julgado do STF sobre o sentido de defender a
aplicação dos princípios de direitos humanos aos sujeitos de direito privado:
Nesse sentido, os direitos humanos não devem ser aplicados de forma absoluta,
e sim analisados pelo provedor ao aplicar as sanções presentes em seus termos de
uso, de forma a ser condição primordial, segundo o Marco Civil, o respeito aos direitos
humanos, para o atendimento e execução das práticas de retirada de conteúdo,
informando sobre a possível infração, para que seja instaurado o devido processo
legal, contraditório e ampla defesa, sendo ressalvado que a não ocorrência gerará
responsabilização do provedor por abuso de direito.
https://www.hypeness.com.br/2016/10/campanha-usa-humor-e-criatividade-para-burlar-censura-a-
seios-nas-redes-sociais-e-falar-sobre-cancer-de-mama/.
70SILVA, Virgílio Afonso. Constitucionalização do direito: os direitos fundamentais nas relações
entre particulares. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 93.
43
Ao longo dos anos, diversos modelos de organização social foram passados pela
sociedade, sendo que, em cada período, segundo Bioni, “existiu um elemento central
para o seu desenvolvimento, sendo o modo pelo qual ele se estruturou o fator
determinante para se estabelecer os seus respectivos marcos históricos” 71. Após a
Segunda Guerra Mundial, as informações pessoais dos cidadãos ganharam
relevância para a programação de ações com o intuito de um crescimento constante72.
proteção de dados pessoais no Brasil e sua otimização pela Lei 13.709/2018. In: TEPEDINO,
Gustavo; FRAZÃO, Ana; OLIVA, Milena Donato. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais e suas
repercussões no Direito Brasileiro. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 65.
78 BIONI, op. cit. p. 129.
45
Mesmo com a proteção dos dados pessoais estarem em leis esparsas, houve a
necessidade da criação de uma norma capaz de observar os princípios
internacionalmente aderidos. O tema repercutiu na União Europeia, ocorrendo a
aprovação do Regulamento Geral de Proteção de Dados, versando sobre a proteção
de dados pessoais das pessoas físicas e o modo de como é realizada as operações
com tais informações.
Cabe ainda que, se for violado os direitos de terceiros, acerca das operações
não permitidas de dados pessoais, deve-se dar a prioridade para a proteção da
79 COTS, Márcio; OLIVEIRA, Ricardo. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais Comentada. 2. ed.
São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, p. 35.
80 COTS, OLIVEIRA, 2019. p. 49.
46
Essa Lei possui abrangência quanto aos seus destinatários, vez que sua
aplicação incidirá em qualquer operação de tratamento de dados realizados por
pessoa natural ou jurídica de direito privado ou público na qualidade de controladora
ou operadora, recaindo, ainda, sua aplicação independente do meio o qual os dados
estejam alocados e operados. Ou seja, a lei incidirá até mesmo no meio físico, off-
line, não apenas nos meios digitais como estabelece o Marco Civil da Internet83. A
não se aplica. In: TEPEDINO, Gustavo; FRAZÃO, Ana; OLIVA, Milena Donato. Lei Geral de Proteção
de Dados Pessoais e suas repercussões no Direito Brasileiro. São Paulo: Thomson Reuters Brasil,
2019. p. 192.
47
direitos autorias e dá outras providências. Brasília, DF: Presidente da República, 1998. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm
88 COTS, OLIVEIRA, 2019, p. 66.
89 Ibid., p. 67.
48
90 BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Brasília, DF: Presidente da República, 2018. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- 2018/2018/Lei/L13709.htm
49
Deve-se levar em conta que o sigilo também visa proteger aspectos mais
utilizáveis como informações, senhas e segredos que se expostos podem causar
danos ou por a vítima em alguma situação desfavorável, e é este paradigma da
privacidade: a proteção do indivíduo contra invasões para roubo de informações que
possam ser usadas ou que possam gerar vantagem ardilosa para terceiros. Com o
Estas duas faces, muitas vezes confundidas, conjuntamente formam aquilo que
se entende a privacidade em lato sensu, unindo duas frentes distintas sobre os dados
pessoais: o acesso e a circulação. “Essa confusão de duas ideias bem diferentes. A
94 “This confusion of two quite diferrent ideas. The first is controlo of access to the person. This is privacy.
The second is the control of the flow of information about the person. This is confidenciality”. FRANCIS,
L. (2013). On privacy. In: J. M. ADEODATO, Human rights and the problem of legal justice (p. 163-175).
São Paulo: Neoses.
95 “For confidentiality, the technologies of greatest concern are capabilities for information storage and
analysis. Data bases avaliable today are on an exponentially grander scale the those avaliable even
few years ago, and are only growing. Data can be copied, transferred, stored, erased, or downloaded
worldwide. It may be difficult or impossible to trace where data have gone and threats to data security
are becoming ever-more sophisticated.” FRANCIS, L. (2013). On privacy. In: J. M. ADEODATO, Human
rights and the problem of legal justice (p. 163-175). São Paulo: Neoses.
52
Os dados pessoais das pessoas são tão valiosos para o mercado que elas
mesmo não percebem, até o momento que uma simples falha de segurança as deixa
vulneráveis. Algoritmos são alimentados diariamente com informações pessoais que
indicam o modo de pensar e o desejo das pessoas, elaborando perfis de consumo
dos usuários, com fins de publicidade direcionada e venda desses dados para outras
empresas. De acordo com Ricardo:
Art. 18. O titular dos dados pessoais tem direito a obter do controlador, em
relação aos dados do titular por ele tratados, a qualquer momento e mediante
requisição:
I - confirmação da existência de tratamento;
II - acesso aos dados;
96 “Privacy, too, must be approached from the same design-thinking perspective. Privacy must be
incorporated into networked data systems and technologies, by default. Privacy must become integral
to organizational priorities, project objectives, design processes, and planning operations. Privacy must
be embedded into every standard, protocol and process that touches our lives. This document seeks to
make this possible by striving to establish a universal framework for the strongest protection of privacy
available in the modern era” CAVOUKIAN, A. Privacy by design: the 7 foundational principles -
implementation and mapping of fair information practicies. Disponível em Internet Achitecture
Board: https://iab.org/wpcontent/IAB-uploads/2011/03/fred_carter.pdf.
97 RICARDO, Sérgio. A regulação jurídica da proteção de dados pessoais no Brasil. Monografia
Essa regra é estabelecida pelo fato de que milhões de vidas estão conectadas e
são numeradas com esses algoritmos automatizados, sendo a grande maioria deles
feitos por inteligência artificial. As organizações que trabalham com os dados pessoais
devem observar o disposto na Lei, pois para elas é obrigatório está de acordo com as
normas e implantar os procedimentos necessários para garantir a segurança, para
evitar as penalidades sancionadoras previstas.
98
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Brasília, DF: Presidente da República, 2018. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- 2018/2018/Lei/L13709.htm
55
99É necessária uma adequação mais efetiva da legislação para que haja uma multipluralidade dentro
de uma organização. Para isso, é necessário que sejam indicadas pessoas com especialidade em
áreas pilares da LGPD, como segurança da informação, tecnologia da informação, administração,
comunicação e jurídico. ALVES, Fabrício. Proteção de dados pessoais é a evolução da privacidade.
2019. Disponível em: https://www.serpro.gov.br/lgpd/noticias/protecao-dados-evolucao-privacidade.
56
É lícito afirmar que se outro ente for encontrado dotado desses mesmos
elementos a conclusão lógica é a de se lhe atribuir o mesmo status jurídico
de pessoa. [...] Hoje as legislações vigentes em Portugal e no Brasil aboliram
adjetivos dos seus conceitos de pessoa, abrindo a porta para que se
compreenda como pessoa, como dotado de personalidade jurídica, não
apenas o Homem, mas à moda da visão oriental sobre a equiparação da
dignidade de todos os seres com o Homem, dando chances à teoria do direito
animal e, assim, também a do direito robótico para que um robô seja
juridicamente qualificado como Pessoa.100
100 CASTRO JÚNIOR, Marco Aurélio de. Personalidade jurídica do robô e sua efetividade no
direito. (Tese) – Doutorado em Direito, Programa de Pós-Graduação em Direito, Faculdade de Direito,
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2009. p. 205.
101 Resolução do Parlamento Europeu, de 16 de fevereiro de 2017, que contém recomendações à
Comissão sobre disposições de Direito Civil sobre Robótica (2015/2103(INL)), em que cria um estatuto
jurídico específico para os robôs a longo prazo, de modo a que, pelo menos, os robôs autónomos mais
sofisticados possam ser determinados como detentores do estatuto de pessoas eletrônicas
responsáveis por sanar quaisquer danos que possam causar e, eventualmente, aplicar a personalidade
eletrônica a casos em que os robôs tomam decisões autónomas ou em que interagem por qualquer
outro modo com terceiros de forma independente. Disponível em:
[http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?pubRef=-//EP//TEXT+TA+P8-TA-2017-
0051+0+DOC+XML+V0//PT].
57
tal proposição deve ser acompanhada de perto por um debate ético e jurídico maduro
e inclusivo nas esferas públicas.
102 COLE, George S. Tort Liability For Artificial Intelligence And Expert Systems. Computer/Law
Journal, v. 10, n. 2, 1990.
103 Caitlin Sampaio Mulholland abordou a problemática da irresponsabilidade distribuída (denominação
atribuída no presente trabalho para se referir ao efeito decorrente da falta de identificação do nexo
causal entre a conduta do agente e o dano produzido) em sua tese sobre presunção de causalidade.
Em arejada análise, Caitlin Mulholland enfrenta o cenário de falta de clareza no nexo causal entre os
agentes reforçando o conceito de “causalidade alternativa”. O conceito de casualidade alternativa
permite identificar que o dano foi causado por uma única conduta que, devido à característica de coesão
do grupo, resta impossível de atestar. O objetivo desta responsabilidade é buscar o ressarcimento da
vítima, presumindo-se o nexo de causalidade. Segundo Mulholland: “No caso de existirem várias
atividades, sendo que cada uma delas, por si só, teria sido suficiente para produzir o dano, mas em
que persiste incerteza sobre qual efetivamente o causou, cada uma será considerada como causa do
dano até o limite correspondente à probabilidade de o ter causado. [...] existe um único nexo causal
que não pode ser identificado de forma direta. Daí a sua presunção em relação ao grupo como um
todo. [...] O que se busca com a causalidade alternativa é possibilitar a reparação dos danos causados
através da facilitação do ônus probatório. Ao invés de a vítima ter que provar que determinada pessoa
através de sua conduta causou o dano que a afligiu, poderá contar com a presunção da causalidade,
sendo suficiente que prove que sofreu um dano e que o dano foi consequência de determinada
atividade realizada por um determinado grupo”. A tese defendida por Mulholland vai além, portanto,
58
dos casos de: (a) responsabilidade solidária entre os imputados causadores do dano; (b)
responsabilidade atribuída de acordo com a contribuição causal de cada agente para a obtenção do
resultado danoso; (c) a responsabilidade atribuída somente a um dos agentes, quando for possível
identificar o rompimento do nexo de causalidade entre as condutas sucessivas. Quando pensamos, no
entanto, nos danos causados dentro de sistemas sociotécnicos, temos uma aplicação de nexo causal
e de responsabilidade ainda mais complexo. Isso porque estamos falando muitas vezes da ação
causada por um somatório de agências de seres humanos, instituições e coisas inteligentes com
autonomia e poder de agência próprio. Nesse caso, o foco no grupo econômico, apesar de conseguir
responder a diversos casos de dano, pode não ser suficiente para a atribuição justa de responsabilidade
na era de IoT e de Inteligência Artificial forte. MULHOLLAND, Caitlin Sampaio. A responsabilidade
civil por presunção de causalidade. Rio de Janeiro: GZ, 2010.
104 “The rapid development of highly intelligent autonomous robots, then, is likely to challenge our
current classification of beings according to their moral status, in the same or maybe even more
profound way as it happened with non-human animals through the animal rights movement. It may
even alter the way in which human moral status is currently perceived. Although still resembling
futuristic speculations, questions like these should not be dismissed lightly, specially in view of the fact
that the ‘human-machine divide’ is gradually disappearing and the likelihood of future appearance of
human-machine or animal-machine hybrids or cyborgs (robots integrated with biological organisms or
at least containing some biological components). […] In all of these
cases, there seems to be a ‘shared’ or ‘distributed’ responsibility between robot designers, engineers,
programmers, manufacturers, investors, sellers and users. None of these agents can be indicated as
the ultimate source of action. At the same time, this solution tends to dilute the notion of responsibility
altogether: if everybody has a part in the total responsibility, no one is fully responsible. This problem is
known as the ‘problem of the many hands’. […] Robots may be used for purposes intended by their
designers, but they may also be used for a variety of other purposes, especially if their ‘behaviour’ can
be ‘hacked’ or ‘reprogrammed’ by their end-users. Robots might have implications far beyond the
intentions of their developers. It is impossible for roboticists to predict entirely how their work might affect
society.” Disponível em: [http://unesdoc.unesco.org/images/0025/002539/253952E.pdf].
59
107 PERLINGIERI, Pietro. O direito civil na legalidade constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.
p. 764. Cf, também, TEPEDINO, Gustavo. Premissas metodológicas para a constitucionalização do
direito civil. Temas de direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p. 22.
108 TEPEDINO, Gustavo. Crise de fontes normativas e técnicas legislativa na parte geral do
109 PECK, Patrícia; ROCHA, Henrique. Direito digital. São Paulo: Ed. RT, 2018. p. 129.
110 É um conjunto de dados maior e mais complexo, especialmente de novas fontes de dados. Esses
conjuntos de dados são tão volumosos que o software tradicional de processamento de dados
simplesmente não consegue gerenciá-los. No entanto, esses grandes volumes de dados podem ser
usados para resolver problemas de negócios que você não conseguiria resolver antes. Disponível em:
https://www.oracle.com/br/big-data/what-is-big-data.html
111 VESTING, Thomas. A mudança da esfera pública pela Inteligência Artificial. In: ABBOUDY,
Georges; NERY JUNIOR, Nelson; CAMPOS, Ricardo. Fake news e regulação. São Paulo: Ed. RT,
2018. p. 106.
112
LOSANO, Mário. Informática Jurídica, Univ. de São Paulo, Saraiva, SP, 1976. p. 352.
62
113 Artificial Intelligence: the Limits of Technology Use and Automation in Advocacy Revista dos
Tribunais | vol. 1006/2019 | p. 357 - 373 | Ago / 2019 DTR\2019\37648.
114 SPERANDIO, Henrique. Desafios da inteligência artificial para a profissão jurídica. 2018. p. 99.
Dissertação (Mestrado em Direito) – Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, São
Paulo.
115 “Inteligência artificial é um caso raro em que precisamos ser proativos na regulamentação em vez
de reativos. Porque penso que quando estivermos reativos na regulamentação da IA, será muito tarde”.
Disponível em: https://www.theenemy.com.br/tech/elon-musk-pede-por-regulamentacao-de-
inteligencias-artificiais-antes-que-seja-tarde-demais
63
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
a união entre máquina e ser humano é cada vez mais próxima, mesmo havendo
discussões éticas e morais perante a independência das IAs.
67
REFERÊNCIAS
1/eventos/eventos-cej/2019/stj-apresentacao-enastic-junho-2019-2.pdf Acesso em 16
out. 2020
SPERANDIO, Henrique. Desafios da inteligência artificial para a profissão
jurídica. 2018. Dissertação (Mestrado em Direito) – Escola de Direito de São Paulo
da Fundação Getúlio Vargas, São Paulo. Acessado em:
[https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/23977/Disserta%C3%
A7%C3%A3o%20Henrique%20Sperandio%20%20May%202018.pdf].
STF investe em inteligência artificial para dar celeridade a processos. Disponível
em: https://www.jota.info/coberturas-especiais/inova-e-acao/stf-aposta-inteligencia-
artificial-celeridade-processos-11122018 Acesso em: 15 out. 2020
TEPEDINO, Gustavo. Crise de fontes normativas e técnicas legislativa na parte
geral do Código Civil de 2002. Disponível em:
http://www.egov.ufsc.br:8080/portal/sites/default/files/anexos/32350-38875-1-PB.pdf]
TRANSFORMAÇÃO DIGITAL. Ross, o primeiro robô advogado do mundo.
06.06.2018b. Disponível em: [https://transformacaodigital.com/advogado-4-0-quarta-
revolucao-industrial-impactando-advocacia/]. Acesso em 26 out. 2020
THEODORO JR., Humberto. Curso de direito processual civil. 31. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2007, v. III
VESTING, Thomas. A mudança da esfera pública pela Inteligência Artificial. In:
ABBOUDY, Georges; NERY JUNIOR, Nelson; CAMPOS, Ricardo. Fake news e
regulação. São Paulo: Ed. RT, 2018
VILHA, Anapatrícia Morales; DI AGUSTINI, Carlos Alberto. E-marketing para bens
de consumo durável. Rio de Janeiro. Editora FGV. 2002.
ZANINI, L. E. (2015). O surgimento e o desenvolvimento do right of privacy nos
Estados Unidos. Revista Brasileira de Direito Civil.
73
REFERÊNCIAS DE JURISPRUDÊNCIAS
TJ-SP. Agravo de Instrumento no: 2114774-24.2014, Relator: Salles Rossi, Data
de Julgamento: 1o-9-2014, 8a Câmara de Direito Privado. Disponível em: https://tj-
sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/137121283/agravo-de-instrumento-ai-
21147742420148260000-sp-2114774-2420148260000 Acesso em: 17 out. 2020
“RESPONSABILIDADE CIVIL EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS Autora que
pretende, com a presente medida, a exibição dos IP’s dos perfis indicados na inicial e
conversas promovidas pelo aplicativo Whatsapp dos grupos que também indica.
Deferimento ‘Conversas’ que apresentam conteúdo difamatório com relação à autora
(inclusive montagem de fotografias de cunho pornográfico). Alegação da agravante
de que não possui gerência sobre o Whatsapp (que, por seu turno, possui sede nos
EUA). Descabimento. Notória a aquisição, pelo FACEBOOK (ora agravante) do
referido aplicativo (que no Brasil, conta com mais de 30 milhões de usuários).
Alegação de que o Whatsapp não possui representação em território nacional não
impede o ajuizamento da medida em face do FACEBOOK (pessoa jurídica que possui
representação no país, com registro na JUCESP e, como já dito, adquiriu o aplicativo
referido). Serviço do Whatsapp amplamente difundido no Brasil Medida que, ademais,
se restringe ao fornecimento dos IP’s dos perfis indicados pela autora, bem como o
teor de conversas dos grupos (ATLÉTICA CHORUME e LIXO MACKENZISTA), no
período indicado na inicial e relativos a notícias envolvendo a autora – Medida passível
de cumprimento. Obrigatoriedade de armazenamento dessas informações que
decorre do art. 13 da Lei 12.965/14 Decisão mantida Recurso improvido.”
STJ, Recurso Especial nº1.398.985 MG, Relator: Ministra Nancy Andrighi, Data
de Julgamento: 19/11/2013. Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201302735178
&dt_publicacao=26/11/2013 Acesso em: 20 out. 2020
CIVIL E CONSUMIDOR. INTERNET. RELAÇÃO DE CONSUMO. CDC.
INCIDÊNCIA. PROVEDOR DE CONTEÚDO. USUÁRIOS. IDENTIFICAÇÃO. DEVER.
GUARDA DOS DADOS. OBRIGAÇÃO. PRAZO. 03 ANOS APÓS CANCELAMENTO
DO SERVIÇO. OBTENÇÃO DE DADOS FRENTE A TERCEIROS. DESCABIMENTO.
DISPOSITIVOS LEGAIS ANALISADOS: ARTS. 5º, IV, DA CF/88; 6º, III, e 17 DO CDC;
206, §3º, V, E 1.194 DO CC/02; E 358, I, DO CPC.
1. Ação ajuizada em 17.05.2010. Recurso especial concluso ao gabinete da
Relatora em 25.09.2013.
2. Recurso especial que discute a responsabilidade dos gerenciadores de fóruns
de discussão virtual pelo fornecimento dos dados dos respectivos usuários.
3. A exploração comercial da Internet sujeita as relações de consumo daí
advindas à Lei nº 8.078/90. Precedentes.
4. O gerenciador de fóruns de discussão virtual constitui uma espécie do gênero
provedor de conteúdo, pois esses sites se limitam a abrigar e oferecer ferramentas
para edição dos fóruns criados e mantidos por terceiros, sem exercer nenhum controle
editorial sobre as mensagens postadas pelos usuários.
5. Ao oferecer um serviço por meio do qual se possibilita que os usuários
divulguem livremente suas opiniões, deve o provedor de conteúdo ter o cuidado de
propiciar meios para que se possa identificar cada um desses usuários, coibindo o
74
anonimato e atribuindo a cada imagem uma autoria certa e determinada. Sob a ótica
da diligência média que se espera do provedor, do dever de informação e do princípio
da transparência, deve este adotar as providências que, conforme as circunstâncias
específicas de cada caso, estiverem ao seu alcance para a individualização dos
usuários do site, sob pena de responsabilização subjetiva por culpa in omittendo.
6. As informações necessárias à identificação do usuário devem ser
armazenadas pelo provedor de conteúdo por um prazo mínimo de 03 anos, a contar
do dia em que o usuário cancela o serviço.
7. Não há como exigir do provedor de conteúdo que diligencie junto a terceiros
para obter os dados que inadvertidamente tenha apagado dos seus arquivos, não
apenas pelo fato dessa medida não estar inserida nas providências cabíveis em sede
ação de exibição de documentos, mas sobretudo porque a empresa não dispõe de
poder de polícia para exigir o repasse dessas informações. Por se tratar de medida
cautelar de natureza meramente satisfativa, não há outro caminho senão reconhecer
a impossibilidade de exibição do documento, sem prejuízo, porém, do direito da parte
de buscar a reparação dos prejuízos decorrentes da conduta desidiosa.
8. Recurso especial parcialmente provido.