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International Biocentric Foundation

Escola de Biodanza Sistema Rolando


Toro Rio-Barra

A IMPORTÂNICA DA BIODANZA NA SOCIEDADE


TECNOLÓGICA EM QUE ESTAMOS INSERIDOS
COMO FORMA DE PRESERVARMOS NOSSA
IDENTIDADE

Monografia apresentada à Escola de


Biodanza Rio-Barra, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Facilitador de Biodanza.

Orientadora:
Erika Mendel Ferreira
Facilitadora Didata pela IBF
Registro IBF . RIOB 1201

Rio de Janeiro, 26 de maio de 2019


Obra Síntese apresentada à Escola de Biodanza Rio-Barra e aprovada pela
comissão julgadora formada pela didata:

_____________________________________________
Orientadora e Supervisora: Erika Mendel Ferreira
Facilitadora Didata de Biodanza pela International Biocentric Foudantion
Registro IBF . RIOB 1201

Visto e permitido a impressão

DATA

__________________________________________
Eliana Almeida
Diretora Escola de Biodanza Sistema Rolando Toro Rio-Barra International
Biocentric Foudantion
Reg. RJ, nº 9717
AGRADECIMENTOS E DEDICATÓRIAS

Por vias diretas e transversais, perambulei na existência na busca de


objetivos. Fui fisgada pela Biodanza no primeiro encontro, e a minha gratidão é
direcionada à Eliana por ter me aberto as portas de um novo mundo com sua
maneira simples e espetacular de conduzir sua vasta experiência de modo que
uma senhora, um tanto resistente à novidades, entregou-se ao chamado, de
coração escancarado.

Agradeço ao meu marido, que embora não tenha mergulhado nessa


experiência, esteve sempre presente, respeitando a minha escolha e abrindo
mão do nosso tempo de convívio para que eu me aprimorasse.

A minha orientadora Erika, sempre paciente com minhas inseguranças


quanto ao momento de me lançar, adiando através de alguns anos o início da
monografia, meu profundo reconhecimento pleno de gratidão.

Todos os amigos e companheiros que participaram comigo de


momentos muito especiais tanto na formação quanto em aulas regulares, por
terem incentivado meu aprofundamento nessa nova maneira de ser, também
agradeço.

Aos meus alunos, bem como aos amigos e parentes que possibilitaram
minha estreia como facilitadora em fase de estágio, da mesma forma,
agradeço.

À minha filha, que sem querer, me serviu de estímulo na busca de


alguma atividade que viesse me transformar em um ser humano mais criativo,
amoroso, autêntico, com maior consciência enfim, de forma a poder servir de
exemplo, profunda gratidão.

E, finalmente, ao Deus que conheci em mim e no meu próximo, através


das vivências realizadas em uma fase onde convívio presencial é mais que
sagrado, GRATIDÃO!
RESUMO

O objetivo desse trabalho é traçar um paralelo entre a prática da


Biodanza e o consequente aprimoramento de uma identidade integrada, uma
vez que seu método didático/terapêutico, propicia maior refinamento na
qualidade das relações humanas ao estimular a afetividade, autoestima, e
autenticidade, dentre outras virtudes. Por outro lado, o uso indiscriminado da
tecnologia, onde a falta de critério para a conscientização de quais seriam as
oportunidades adequadas à sua finalidade, faz com que a maior parte da
sociedade torne-se adicta dessa mesma tecnologia, causando um fosso cada
vez mais extenso e profundo entre o que é comunicado e sentido nas trocas
no formato real.

Palavras chave: Biodanza, integração, identidade, redes sociais, autoestima,


relações virtuais, relações presenciais.
SUMÁRIO
Página

Introdução ................................................................................................ 07

CAPITULO I - O USO INDISCRIMINADO DAS MÍDIAS


SOCIAIS COMO FATOR DE MAL-ESTAR PSICOLÓGICO,
FÍSICO E EMOCIONAL NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

1.1. O Cenário Cibernético atual que desfavorece a expressão da


Identidade integrada ...................................................................... XX
1.2. O uso abusivo das mídias digitais e as novas patologias
cibernéticas ................................................................................. XX
1.3. O incremento do Narcisismo ........................................................ XX
1.4. A Tentativa de Aplacar a Solidão ................................................. XX
1.5. Aspectos negativos dos aplicativos de mensagens instantâneas XX
1.6. Conclusão do Capítulo I ............................................................. XX

CAPÍTULO II - BIODANZA E IDENTIDADE

2.1. Definição de Biodanza ..................................................................... XX


2.2. Como se situa a Biodanza no tempo e espaço................................. XX
2.3. Modelo Teórico da Biodanza............................................................ XX
2.4. Ação da Biodanza no Organismo ..................................................... XX
2.5. Como a Identidade é compreendida em Biodanza. .......................... XX
2.5.1. Os conceitos de Identidade através dos múltiplos
saberes científicos .............................................................. XX
2.5.2. Definição de Identidade em Biodanza ................................. XX
2.5.3. Na corporeidade encontra-se a consciência da Identidade .. XX
2.5.4. Como se estrutura a autoestima e a autoimagem
na Identidade
2.5.5. O Esquema dinâmico da Identidade em Biodanza .............. XX

2.6. Principio Biocêntrico (NOVO)


CAPÍTULO III - O FORTALECIMENTO DA IDENTIDADE
ATRAVÉS DA METODOLOGIA DA BIODANZA, COMO
FORMA DE DIMINUIR A ADIÇÃO ÀS MIDIAS SOCIAS E
AMENIZAR OS MALEFÍCIOS POR ELAS CAUSADOS.

3.1. O Fortalecimento da Identidade ........................................................ XX


3.2. A Biodanza como Metodologia Vivencial para o Fortalecimento da
Identidade ........................................................................................... XX
3.2.1. Definição de Vivência em Biodanza .................................... XX
3.2.2. Uma Metodologia Vivencial .................................................. XX
3.2.3. Mundo Digital x Mundo Vivencial ......................................... XX
3.3. No caminha de uma Identidade saudável ....................................... XX
3.4. Identidade e diversidade ................................................................... XX
3.5. A necessidade da vinculação para o fortalecimento da Identidade .... XX
3.6. O grupo como fundamento para o fortalecimento da Identidade ...... XX
3.6.1. Importância do instinto gregário para a Identidade ............. XX
3.7. Corporeidade e o Fortalecimento da Identidade ............................... XX
3.7.1. A Corporeidade e o contato, facilitando novas possibilidades
existenciais.................................................................................. XX
3.7.2. Como o contato e a carícia podem contribuir para nos
sentirmos mais humanos na era em que se privilegia as
relações intermediadas pelas máquinas...................................... XX
3.8. Afetividade como princípio norteador da amizade ......................... XX
3.9. Biodanza e o Neurônio Espelho ......................................................... XX
3.9.1. Não existe mais lugar para a separação mente-corpo
segundo a ciência.......................................................................... XX

CAPÍTULO III – A PRÁTICA COMO FACILITADORA

CONCLUSÃO ....................................................................................... XX
INTRODUÇÃO

Uma pequena justificativa e a motivação para escrever o trabalho.

Este trabalho está dividido em três capítulos:

Serão apresentados no primeiro capítulo os aspectos negativos


propagados pelas ferramentas tecnológicas utilizadas de forma indiscriminada
mantendo os usuários como reféns de comportamentos compulsivos em uma
contemporaneidade que privilegia o consumo, o narcisismo e relações
humanas “líquidas”. Essa forma de uso abusivo da tecnologia vem abrindo
portas infinitas para o surgimento da solidão sistemática onde o homem é
projetado a uma vivência antinatural. Como consequência, vem sendo vítima
dos efeitos epidêmicos de patologias tais como depressão, ansiedade,
síndrome do pânico, dentre outras.

No segundo capítulo, será dado ênfase à metodologia que faz da


Biodanza uma prática promotora da saúde no seu aspecto físico, mental e
emocional. Apresentaremos para esse fim, como se processa a ação da
Biodanza no organismo, enfocando sua importância na compreensão da
identidade. Daremos ênfase ainda, ao Princípio Biocêntrico, e a Definição de
Biodanza, por entendermos ser esta estruturação de fundamental importância
para a sequência do presente trabalho.

Por fim, apresentaremos no terceiro capítulo, variados aspectos que


atravessam a identidade e influenciam o posicionamento do praticante de
Biodanza na sua forma de existir. Tal atitude, promotora da vida, privilegia a
autenticidade, o encontro afetivo com o outro, a comunhão com todo o universo
que por sua vez contém todas as formas de seres. Será abordada ainda,
questão relacionada à evolução da Neurociência, onde se constata que o
sentimento precede à razão. Sendo assim, é de suma importância estarmos
sempre conscientes das informações que nosso corpo reiteradamente nos
passa quando vivenciamos total estado de presença. E, finalmente, a
importância da amizade para o desenvolvimento humano pleno de sentido.
CAPÍTULO I

O USO INDISCRIMINADO DAS MÍDIAS SOCIAIS COMO


FATOR DE MAL-ESTAR PSICOLÓGICO, FÍSICO E
EMOCIONAL NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Esse capítulo pretende ressaltar o uso indiscriminado das mídias sociais


como fator de mal-estar psicológico, físico e emocional, na sociedade
contemporânea. Uma vez que seus usuários são cooptados, como
participantes de uma “manada”, onde o movimento de todo o grupo prevalece
em detrimento do pensamento e escolhas individualizadas.

Os movimentos autênticos do indivíduo são atrofiados nesse ambiente


através de círculos viciosos que fomentam o esgarçamento dos laços
comunais, produzindo-se de forma veloz um cenário cuja proliferação das
patologias que desintegram as famílias, a sociedade e, dentro do cenário global
que hoje é a realidade, a cultura de quase todo o planeta.

Nesse capítulo vamos apresentar como o uso abusivo das mídias


digitais estão gerando novas patologias cibernéticas, e os novos conceitos que
foram criados para melhor se fazer entender as consequências de sua má
utilização.

Posteriormente, vamos apresentar de que forma, a partir da auto


exposição estimulada pelas mídias sociais, assistimos ao incremento do
comportamento narcisista, devido ao uso frequente dos aparelhos que facilitam
o exibicionismo em rede.

Na sequência, explicaremos como no imaginário da maior parte da


sociedade, a solidão das pessoas poderia ser aplacada com o uso contínuo
da nova tecnologia em redes sociais, e que os efeitos, no entanto, são
paradoxalmente contrários.
Vamos também apresentar os aspectos negativos dos aplicativos a de
mensagens instantâneas, responsáveis por causarem verdadeiras paranoias,
em seus usuários, sofrendo a sociedade como um todo, as agruras de um
mundo que estará mais propício ao desserviço das verdades factuais em
escala exorbitante.

1.7. O Cenário Cibernético atual que desfavorece a expressão da


Identidade Integrada

Nenhuma tecnologia é neutra, já que de algum modo, afeta ou afetará a


humanidade. Especificamente, movimentos propiciados pelo avanço das
mídias sociais, ao mesmo tempo que nos beneficia, poderá paradoxalmente,
nos afetar negativamente. É o caso, por exemplo, da hiperexposição a que nos
submetemos, transformando qualquer ato banal do dia-a-dia em uma
representação quase teatral.

Além de nos afastar uns dos outros, a nova tecnologia do relacionamento


é responsável por usarmos a mídia social como plataforma de transmissão de
nossas personalidades de forma narcísica, na maioria das vezes. Somando-se
a isso, a incidência da solidão na vida hipervisível dos dias atuais, atrelados
que nos encontramos à tecnologia de forma irrefreada, vem sendo objeto de
estudo científico dos mais variados ramos do saber

A identidade individual do homem analógico operava-se de forma coerente


e centrada, enquanto o indivíduo “conectado” da contemporaneidade apresenta
um “self” flexível, que reflete o fluxo infinito de informações produzidas pelas
mídias sociais.

Dessa forma esse “intravíduo”, membro de uma sociedade que elimina a


distância geográfica, reproduz internamente a distância no sentido de uma
fragmentação infinita do ser, na medida que abarca todas as informações
através de uma miríade de conexões.
Ao nos atermos aos constantes estímulos das conexões virtuais de forma
compulsiva, passaremos a ter nossa capacidade reflexiva sobre nossas
emoções enfraquecida uma vez que, estaremos abrindo mão dos necessários
momentos de solitude. Daí, a terminologia “criança confinada”, em que
perpetuando um estado de ser juvenil, dita criança carrega a crença de que se
o Facebook for deletado ela também será.

Acreditamos que na era digital, o grau de aceitação e popularidade dos


indivíduos é medido pelo número de amigos angariados, quantidade de
“curtidas”, bem como comentários e compartilhamentos conseguidos. Tal fato,
poderá causar a falsa impressão de que quanto mais amigos se faz no
Facebook, mais valioso se tornará como indivíduo.

Isso porque, no mundo real, para ter amigo é preciso uma certa
qualidade de investimento, o que leva tempo. Em contrapartida, no mundo da
internet, podemos criar, de imediato, uma sensação de ligação.

Acrescentamos ainda, que nos tempos presentes, a tecnologia veio a se


tornar nosso “membro fantasma”, apresentando-se como arquiteta de nossa
intimidade. Por essa razão, os telefones e e-mails já não são mais utilizados,
por serem talvez uma forma de comunicação particular demais, enquanto a
comunicação por textos simples e curtos, vem a servir como um escudo a
proteger a vulnerabilidade dos sentimentos, nessa altura, reprimidos à
exaustão.

Na sociedade conectada às mídias sociais sobressai a “epidemia de


narcisismo”, cuja característica vem a ser a frenética promoção pessoal
estimulada pela necessidade de fabricar em ato contínuo nossa própria fama
através da busca incessante de likes.

Em razão da constituição dessa sociedade fragmentária, onde vivemos


sozinhos juntos, os pioneiros no estudo da realidade virtual vislumbram o
potencial perigo de se criarem necessidades que venham a transformar as
pessoas cada vez mais em adictas tecnológicas. Nesse sentido, se argumenta
que não há vacina contra os males das redes sociais, sendo necessária que se
estabeleça a urgência em interromper o vício.

Vislumbra-se que a Internet venha conduzir a humanidade a uma


espécie de “maoísmo digital”, que é a visão de quem acha que as máquinas
são mais relevantes que as pessoas. Daí, atribuir-se especial importância a
que se coloque tudo na Internet, contribuindo para esse cérebro global que
deve ter prioridade sobre qualquer indivíduo.

Encontramos críticas também no sentido de que apesar de divertida,


ajudar a arrumar namoro etc., a nova tecnologia deveria também ser capaz de,
em uma sociedade capitalista, ajudar a fazer dinheiro a partir dela, e não a
desestabilizar o mundo ligado ao cinema e a música, dentre outros.

Descrevemos a seguir, alguns argumentos que destrincham as


consequências nefastas da forma como as empresas digitais ganham dinheiro
e mantêm seu poder: propagação de mentiras como vírus, manipulação do
comportamento, redução do livre arbítrio, estimulo de emoções negativas,
destruição da empatia, aumento da infelicidade, transforma profissões dignas
em atividades precárias, com remuneração exígua ou inexistente, torna a
democracia inviável, aniquila qualquer sentido de espiritualidade, substituída
pela visão mecânica de que seres humanos não passam de máquinas
programáveis, como os computadores.

A série de ficção científica britânica, “Black Mirror”, provoca o


espectador ao apontar para previsíveis rumos funestos a acometer uma
sociedade cada vez mais conectada às mídias sociais.

A tela fria e escura da TV, do i Pad, do smartphone ou do monitor a que


vivemos ligados, ou viciados quase todas as horas do dia, é o pano de fundo
para o título dessa comovedora série, que nos retrata desde agora, e nos
reflete num futuro distópico em questão de pouquíssimo tempo.
Explora a forma como as novas tecnologias vieram compensar
encontros ao vivo com amigos, tendo sido substituídas as demonstrações de
carinho e admiração, pelo que antes era de praxe se realizar presencialmente.

1.8. O uso abusivo das mídias digitais e as novas patologias


cibernéticas

Muito se tem estudado a respeito do o uso abusivo das mídias digitais, e


como conclusão, se percebe que as mesmas trazem como consequência o
aumento expressivo de doenças físicas e mentais.

Em épocas atuais, tem-se a impressão de que a vida se dá de forma


mais confortável, por estarmos mais conectados. Não devemos deixar de
atentar, no entanto, para as cobranças ou autocobranças a que somos
impostos em virtude de passarmos um tempo excessivo on-line, nos
anestesiando no momento presente e perdendo o controle das horas que
dispomos para fazer algo verdadeiramente significativo e gratificante em nosso
dia-a-dia.

Em razão do acima exposto, síndromes tais como: depressão,


ansiedade e estresse estão sendo as maiores demandas nos consultórios
médicos na atualidade.

O vício em internet criou, devido ao número dos acometidos, um


problema de saúde pública. Sendo certo que, em diversos países, já existem,
há alguns anos, centros de reabilitação para tratamento.

No Rio de Janeiro, temos o Instituto Delete – Primeiro núcleo brasileiro


especializado em ”Detox” digital, onde são tratados os transtornos e
dependências em redes sociais.

O Instituto propõe uma espécie de cartilha onde são sugeridos dez


passos para o DETOX :
1- Utilizar o bom senso para que o uso não se torne abuso no cotidiano.
2- Ficar atento às consequências físicas (como privação do sono, dores
na coluna, problemas de visão) e psicológicos (como depressão,
angústia, ansiedade,) devido ao uso abusivo.
3- Dosar a prática de uso de tecnologias no cotidiano e verificar se o
desempenho acadêmico ou no trabalho estão sendo prejudicados.
4- Refletir sobre os hábitos cotidianos e fazer diferente.
5- Não trocar atividades ao ar livre para ficar conectado.
6- Preferir uma vida social real à virtual, escolhendo relacionamentos e
amizades reais ao invés das virtuais.
7- Praticar exercícios físicos regularmente e fazer intervalos regulares
durante o uso de tecnologias.
8- Não abalar o humor com publicações virtuais e não acreditar em tudo
que é postado.
9- Valorizar as relações familiares.
10-Pensar no meio ambiente, reciclar os aparelhos e evitar a troca
frequente sem necessidade.

Quanto ao aspecto bioquímico, essa dependência ocorre porque, ao nos


conectarmos de modo virtual, nosso cérebro reage de forma semelhante ao de
alguém que consome algum tipo de droga. Oito minutos depois, uma dose
considerável de dopamina, neurotransmissor ligado à transmissão de prazer,
começa a ser liberada.

Sob o ponto de vista psicológico, na medida em que o usuário se


envolve, buscando a sensação renovada de euforia, se anestesia dos aspectos
negativos do seu entorno, fugindo insistentemente, portanto, da realidade.

As dependências tecnológicas da atualidade são abordadas com


conceitos precisos. Com base no uso frenético das novas tecnologias, cujos
aparelhos estão à nossa mão, em qualquer situação que possamos imaginar,
já qualificou-se o Iphone como “prótese” de uma parcela expressiva da
humanidade atual.
Novos conceitos foram criados para melhor se fazer entender as
consequências de sua má utilização. Assim, podemos citar algumas dessas
patologias da atualidade que ganharam nomes específicos e descrições
detalhadas, como por exemplo: Nomofobia, Síndrome do toque fantasma,
FOMO, Cibercondríaco, Google effect, Sleep texting, Phubbing e, “Transtorno
do déficit de natureza”, “Narciso on-line autoabsorvido”.

Atentando-se para o hábito dos usuários ficarem o tempo todo checando


o celular, na esperança de um novo compartilhamento, de uma mensagem, de
um post, surgiu a denominação Nomofobia ou medo de ficar sem celular, para
classificar tal comportamento disfuncional.

Isso ocorre porque o cérebro recebe uma gratificação química e


passamos a viver nessa expectativa. (Trata-se de um reflexo condicionado, a
exemplo das experiências que Pavlov - Fisiologista russo - fazia com os
cachorros, utilizando uma sineta ao serem alimentados. O estímulo provocado
pelo som era condicionado ao prazer do alimento). Nessa espécie de vício, o
indivíduo entra em pânico ao perceber que o telefone vai ficar sem bateria,
crédito ou sinal.

À semelhança da Síndrome do membro fantasma (ocorre quando se


perde uma perna por exemplo, e o indivíduo relata continuar a sentir dor
naquele membro), na Síndrome do toque fantasma, algumas pessoas
sentem o celular vibrando e só então se dão conta de que não estão com o
aparelho ligado ou por perto. Ou seja, trata-se de um comportamento
obsessivo.

Ao ser constatado que a tecnologia atual virou uma extensão do nosso


corpo, à medida que cada vez mais conectados com o mundo e desconectadas
se si mesmas e do que se passa ao seu redor, as pessoas parecem mais
preocupadas em não perder um post no Facebook, ou em se distrair com
qualquer outra oferta que as mídias sociais apresentam, foi criado o conceito
de FOMO – Fear of missing out ou Medo de ficar de fora.
Essa impressão de estarem perdendo alguma coisa deve-se ao fato de
que se exibem usualmente o lado mais “brilhante”, onde há tempo para se
elaborar a mensagem mais adequada e o look mais perfeito para “sair bem na
foto”.

Para minorizar o impacto do chamado Fear of missing out nas relações


sociais, terapeutas têm introduzido várias regrinhas de etiqueta no sentido de
conter o vício, além de jogos e exercício lúdicos, que ajudarão na
“desintoxicação”.

E por fim, estão sendo criados novos programas de ajuda mais efetivos,
visando aqueles que não conseguem largar a vida on-line, ou seja, auxiliando
às pessoas dependentes a suportar a vida off-line. Isso fará com que seus
cérebros voltem a se conectar com o mundo real de forma positiva.

A medida do grau de felicidade aferido através de pesquisas, é feito a


partir de dois quesitos que geram a tristeza: comparação e falta de
reconhecimento. Sendo que a redes sociais evidenciam esses dois aspectos à
exaustão, através do uso do Facebook, com a ideia por ele gerada, de
reconhecimento e aprovação. Isso porque, sendo a opinião do outro o que
importa, obter aquele tão sonhado reconhecimento social gera um processo de
estresse e ansiedade.

Se perder a conta, no entanto, no afã de se fazer visualizado postando


inúmeras fotos, poderá sofrer a evitação do grupo por ser considerado um
chato. O que redundará em frustração e baixa autoestima como possíveis
consequências.

Outro novo conceito, relacionado ao indivíduo proativo, que se recusa a


esperar um diagnóstico de uma autoridade médica, procurando inteirar-se de
sua mazela através do Google, é o de Cibercondríaco . Assim, ao se tratar de
um sujeito hipocondríaco, que acha que sofre de tudo que lê, correrá um sério
risco de aumentar essa característica com o uso indiscriminado dessa
facilidade tecnológica ao seu dispor.
Foi introduzido ainda o termo Google Effect, relacionado aos efeitos
específicos causados pelo uso contínuo das informações disponíveis no
Google que estão sempre à mão dos usuários.

Uma vez acreditando que não precisa mais reter informações, na


confiança de que irá achar qualquer coisa, a qualquer momento, consultando a
internet, o usuário deixará de exercitar o cérebro de modo efetivo, fazendo com
que as sinapses cerebrais se realizem de forma cada vez mais deletéreas,
trazendo consequências prejudiciais ao processo cognitivo.

Com relação ao comportamento, principalmente entre os adolescentes,


do sujeito que continua a utilizar o computador, nas horas em que já deveriam
estar dormindo, tem-se a expressão Sleep Texting.

Deve-se, portanto, ao fato de que a consolidação da memória acontece


à noite, quando o organismo desacelera, liberando melatonina. Achando que
não pode perder nada do que ocorre on-line, o usuário costuma encontrar
dificuldade em se desconectar das mídias sociais.

Sabendo-se que as células dos olhos mandam informações de que


ainda há luz, e com esse comportamento o corpo não consegue entrar em
sono profundo, o sono REN, no momento adequado, privar-se-á de ter um
sono reparador, por horas suficientemente necessárias ao reequilíbrio corporal
e mental, agindo em decorrência, nas atividades rotineiras ao longo do seu dia,
de forma pouco atenta, insensível, e com consequências funestas a qualquer
desempenho que for chamado a realizar.

Veio a ser criado ainda o conceito de Phubbing, expressão que vem da


junção das palavras phone (telefone) e snubbing (esnobar) para caracterizar a
existência de uma ansiedade e uma leitura deturpada que, por vezes, leva
alguém a se sentir esnobado ou rejeitado no celular.
Imaginando que a mensagem enviada já foi lida, mas não respondida,
ou que a pessoa poderia estar on-line mas não quis ler a mensagem, o usuário
consulta indefinidamente o aparelho, deixando de dar atenção aqueles que
porventura estejam sendo sua companhia presencial no momento. O que nos
leva ao questionamento: que nível de perda isso traz na relação com o outro,
quando você finge que está e não está? E, o quanto essa atitude compromete
a relação humana na vida real?

Para caracterizar o comportamento das crianças urbanas que usam I


Pad desde a mais tenra idade, funcionando os mesmos como verdadeiras
babás eletrônicas, o que propicia um distanciamento abissal na relação com os
pais, ou qualquer outra pessoa que esteja no desempenho desse papel, foi
concebida a expressão “Transtorno do déficit de natureza”.

Esse novo estilo de vida impede a escuta necessária mais profunda das
crianças e o contato físico através da manifestação de carinho, realizações de
brincadeiras e jogos corroborando seu desenvolvimento de forma mais
humanizada.

Restringe, de forma semelhante, o desenvolvimento social promovido


através da interação com os amiguinhos, na criação conjunta de brincadeiras
lúdicas necessárias à essa fase do desenvolvimento.

Tendo o tempo preenchido apenas com atividades estruturadas, ficam


escassas as oportunidades para alcançarem a autonomia necessária à etapa
específica que vivenciam.

E, somando-se a isso, brincadeiras excessivas com aparelhos


eletrônicos ocorrerão, necessariamente, em ambientes internos que asseguram
estilo de vida sedentário, disseminador de hipertensão, hiperatividade,
agressividade e depressão, dentre outras mazelas identificadas por médicos e
psicólogos na atualidade.
1.9. O incremento do Narcisismo

A partir da autoexposição estimulada pelas mídias sociais, assistimos ao


incremento do comportamento narcisista, devido ao uso frequente dos
aparelhos que facilitam o exibicionismo em rede.

Antes de nos aprofundarmos na questão, necessário um pequeno


recorte para melhor explicitar a origem do termo Narcisismo: trata-se de um
conceito da Psicanálise que define o indivíduo que admira exageradamente a
sua própria imagem e nutre uma paixão excessiva por si mesmo.

Segundo o psicanalista Sigmund Freud, o Narcisismo é uma conduta


normal dos seres humanos, estando relacionado com o desenvolvimento da
libido. No entanto, pode se transformar em patologia quando entra em conflito
com ideias culturais e éticas, tornando-se excessivo e dificultando as relações
normais do indivíduo no meio social. Os indivíduos Narcisistas são
frequentemente fechados, egocêntricos e solitários.

Voltar de uma viagem de poucos dias com inúmeras fotos digitais,


tornou-se uma forma alienante de registrar os momentos com o prejuízo do
deleite de experienciar a vivência em si. Ao nos tornarmos avatares perfeitos
de nós mesmos com essa prática, temos a sensação de que nosso ego
conquista uma posição central no mundo das nossas relações.

A vida on-line, portanto, vem a ser o paraíso narcísico onde se


evaporam todos os limites, onde todas as dimensões da vida tornam-se
subsidiárias da conversão dos indivíduos em aplicadores aplicados de
aplicativos que os submetem assumidamente aos dispositivos que o controlam.

Assim, capturados irresistivelmente pela gratificação narcísica, os


indivíduos usam e são usados pelos mesmos sistemas em rede que acumulam
dados sobre suas inclinações mínimas, abrindo mão de sua privacidade para
alimentar a vaidade. Sendo esse modo de vida afinal, o modelador de sua
identidade egóica e dissociada.
Nas mídias sociais a impressão que se tem é que ao serem postadas as
mensagens, são desapercebidas as autorreferências sinalizadoras de
comportamentos egóicos que caracterizam a vaidade inerente à personalidade
daqueles que postam suas ideias e imagens, de forma exaustiva.

O que significa, que vivemos hoje em dia num círculo eterno de grande
exibicionismo, através de uma exibição pública de amor-próprio, onde o
narcisista encontra a oportunidade de autoapaixonamento inúmeras vezes.
Daí, a nova conceituação de “Narciso on-line autoabsorvido”.

Por outro lado, a busca desenfreada de seguidores, com a perseguição


do maior número possível de Likes, almejando a admiração de suas postagens
de forma obsessiva, seria uma forma de escamotear a baixa autoestima
subjacente a tal prática.

Para quem se encontra inserido no mundo virtual, e se preocupa com a


quantidade de likes de uma foto no Instagram, por exemplo, o episódio
“Nosedive”, da série, anteriormente citada, “Black Mirror”, em sua quarta
temporada, nos apresenta uma realidade distópica em que os humanos são
constantemente avaliados por suas condutas na esfera pública.

Os habitantes, naquela sociedade futurística, têm mais privilégios por


serem melhor avaliados, desde melhores localizações na fila do aeroporto, até
conseguir uma preferência na ordem do atendimento médico. O que vem a
gerar uma expressiva pressão social, uma vez que é preciso estar sempre de
acordo com certos padrões estéticos e de comportamento para atingir todo e
qualquer objetivo, sempre sujeito à avaliação social.

A naturalidade, nesse tipo distópico de sociedade é completamente


descartada, tanto que as pessoas só levantam o rosto dos seus aparelhos,
para por exemplo, cumprimentar mesmo sem desejo para tal, uma vizinha no
elevador.
O comportamento naquela sociedade ficcional é caracterizado por
completa dissociação na personalidade de seus membros onde inexiste
qualquer autenticidade tão necessária às relações humanas harmônicas e,
portanto, saudáveis. O que não difere muito do que já estamos começando a
experimentar nos dias atuais.

Esse episódio do seriado mencionado, pode não impactar aos que não
se importam muito com a imagem que passam para os outros, ou para aqueles
não muito ligados em redes sociais. Mas, para quem se encontra inserido
nesse mundo, e se preocupa com a quantidade de likes de uma foto no
Instagram, por exemplo, o episódio poderá servir de profunda reflexão.

1.3. A Tentativa de Aplacar a Solidão

No imaginário da maior parte da sociedade a solidão das pessoas pode


ser aplacada com o uso contínuo da nova tecnologia em redes sociais, no
entanto, os efeitos são paradoxalmente contrários.

Isso é constatado no fato de que o contato social vem diluindo-se e


dando lugar à comunicação entre os humanos, cada vez mais, através das
máquinas. E, a substituição do encontro presencial, pela internet criou-se
espaço para que a solidão ganhasse um imenso território.

Ficando isoladas em suas aparelhagens, amigos e mesmo parentes, não


vão mais às casas uns dos outros, tendo em decorrência desse
comportamento, cada vez menos tempo também para entrar em contato
consigo mesmo, suas dores, seus desejos, o que realmente nos fazem
humanos.

Assim, o modelo de comunicação por Skype, que chega até aos


atendimentos psicoterápicos, não servem à trocas humanas efetivas de
comunicação, uma vez que é necessário presença corpórea das pessoas para
que se realize verdadeiramente um encontro em um sentido amplo, de forma
salutar.
As redes sociais, à moda das praças do interior, não têm espaço para
que circulem as verdadeiras questões íntimas, mas tão somente aquelas com
aparência de intimidade. As grandes infelicidades (conflitos intrapessoais, por
exemplo) bem como as grandes felicidades, também não aparecem nas redes.
São postados à exaustão, o que dá para ser mostrado na praça: o que se
comeu, onde foi a viagem, ao que assistiu, ou seja, são apenas aparência de
intimidade.

Existe uma demanda por contato social físico em nossa espécie, e isso
não pode ser substituído, pois foi dessa forma que ocorreu sua evolução como
espécie. E, mesmo que se pense em uma interação face a face via internet,
essa jamais substituirá a necessidade humana de ser confortada pelo olhar
amigo e o abraço terno do seu semelhante.

À falta do abraço, necessário entre os humanos para seu


desenvolvimento saudável, a tecnologia apresentou já nos idos de 2002 como
paliativo, ou substituto mesmo, a HUGSHIRT. Inventada pela CuteCircuit, com
sensores que simulam a sensação do abraço via bluetooth.

Usamos o celular, o Facebook e outra mídias sociais como uma forma


de preencher o vazio e ter a impressão de que estamos sempre ocupados e
cheios de gente em volta. No entanto, nosso crescimento como pessoa dá-se
mais completamente com o desenvolvimento da aptidão da escuta. E isso
implica em esvaziar-se por dentro e deixar-se tomar pelo olhar do outro.

O excesso de informação é o contrário de escutar, pois o sujeito se


perde em meio a um grande ruído, uma vez que ouvir o outro não é ouvir tudo
o que ele faz e sim o que teve importância de fato.

A banalização da publicação de qualquer coisa no Facebook, por


exemplo, não abarcaria momentos realmente significativos da vida, porque
ainda não foi criada máquina que os captasse.
Dessa forma, usando o celular, o Facebook e outra mídias sociais como
uma forma para preencher o vazio e ter a impressão de que estamos sempre
ocupados e cheios de gente em volta, somente estaremos bloqueando nosso
crescimento como pessoa.

1.4. Aspectos negativos dos aplicativos de mensagens instantâneas

As matérias de cunho jornalístico que circulam na internet e as próprias


confabulações dos grupos de Whatsapp, ao invés de promover a integração
dos homens, costumam desviar das funções mais elementares servindo aos
propósitos de mais desinformar e difundir atrito.

As informações falsas que são divulgadas e repetidas por esse veículo,


ad nauseam, como verdadeiras, são as mentiras nas quais muitas pessoas
tendem a acreditar porque são funcionais para os seus preconceitos, medos ou
suas convicções religiosas. Da mesma forma que, os membros de redes que
têm confiança uns nos outros, dado às relações de amizade ou parentesco,
acreditarão nas informações partilhadas nesse grupo.

Responsáveis por causarem verdadeiras paranoias, tais rumores nas


redes sociais além de criar universos paralelos no presente, também tentam
alterar o passado. Sofrendo em decorrência, a sociedade como um todo, as
agruras de um mundo que estará mais propício ao desserviço das verdades
factuais em escala exorbitante.

Uma vez capturados para fazer parte de um grupo no whatsapp, tanto


familiar, como de trabalho ou de amigos, somos bombardeados com Fake
News, e uma série de outros inconvenientes tais como: mensagens em
horários impróprios, correntes, áudios intermináveis, fotos sensíveis e belas,
onde são desejados bons dias ininterruptamente.

Soma-se ainda, as parabenizações por conquistas, datas especiais, ou


ritos de passagem enviadas por todos ou quase todos os componentes de
grupos muitas vezes numerosos, para simplificar o ato de cumprimentar
através de uma ligação telefônica ou um abraço afetivo, que possivelmente
geraria trabalho excessivo no planejamento estratégico e efetivação do
encontro presencial.

Acredita-se ainda, que tem acontecido uma “adolescentização” dos


adultos com a chegada das redes sociais e do Whatsapp. Dessa forma, apesar
de sentirem que o grupo não agrega nem soma emocionalmente, têm medo de
estar em contato com a sensação de solidão se desistirem de fazer parte do
mesmo. Ou mesmo, por temerem desagradar, imaginando que sua atitude de
“sair do grupo” possa ser tomada como arrogante.

Subjacente à questão de sair ou ficar, em um plano inconsciente, por


razões subjetivas, há o temor de desagradar os demais integrantes, como se
os mesmos representassem outras pessoas que foram muito importantes nas
suas existências. Somente com a autoestima bem fortalecida a decisão que
possa trazer maiores benefícios para a saúde psicológica e física poderá ser a
escolhida.

1.5. Conclusão do Capítulo I

Pretendemos enfatizar nesse capítulo a necessidade de que a


sociedade venha a refletir, com mais afinco, sobre o comportamento de
“manda” que a impulsiona, no que diz respeito ao uso indiscriminado das
tecnologias digitais, causadoras de inúmeros malefícios ao indivíduo e à sua
relação com o outro.

E isso decorre dos incentivos embutidos na tecnologia contemporânea


à comportamentos narcisistas, à fomentação da ilusão de que a amizade é
representada em números, e de que as relações virtuais podem servir como
escudo protetor, abrindo espaço à atitudes cada vez mais individualistas.

Induzindo-nos ainda, à desconexão de um viver de forma natural


porque real. E, ao consequente retraimento com relação aos relacionamentos
humanos presenciais, onde os sentidos oferecem todos os estímulos
necessários às trocas que estimulam o desenvolvimento, ou pelo menos à
manutenção, da nossa humanidade.

O autoconhecimento na contemporaneidade é fundamental para nossa


sobrevivência, portanto, precisamos acessar a nossa consciência em busca do
que nos faz sentir efetivamente humanos. As máquinas que até agora vêm
dando a oportunidade de o indivíduo extremamente conectado se desconectar
de si e da vida ao seu redor, parecem ainda estar no seu início de
aperfeiçoamento.

E, o que mais necessitamos para a autorrealização e aprofundamento


de nossa autoestima é a conquista de ideais que nos unam a todos. No
entanto, não parece ser esse tipo de auxílio que poderemos esperar do
contanto irrestrito com o mundo virtual.

Por estar quase toda a sociedade sofrendo do mesmo vício, difícil se


torna identificá-lo individualmente, no sentido de exercer pelo menos um
mínimo controle sobre essa adição, e resguardar com isso a plena integridade
de nossa existência.

Os distúrbios que vemos aumentar em forma de depressão, ansiedade,


transtorno do pânico entre outros, vêm sinalizando que nos falta acessar vida,
entrega, confiança, presença, realidade, ao nossos encontros diários. O que só
se dará quando estivermos realmente conscientes no que fomos transformados
pelas mudanças de hábitos que são nossa realidade on-line nos dias de hoje.
CAPÍTULO II

BIODANZA E IDENTIDADE

Nesse capítulo serão tratados os temas referentes à Biodanza e a


Identidade, sua definição, seu modelo teórico, sua posição no tempo e espaço
e sua ação no organismo.

Nosso objetivo é fazer a ligação dos aspectos nocivos da tecnologia


em nossa sociedade à oportunidade de acessar vivências integradoras que
tragam o sentido de humanidade ao homem contemporâneo “conectado”,

2.1. Definição de Biodanza

A definição acadêmica de Biodanza é bem formulada, para nossa


compreensão da importância de seu sistema como um todo, através da
seguinte citação:
“Biodanza é um sistema de integração afetiva, renovação
orgânica e reaprendizagem das funções originais da vida
baseadas em vivências induzidas pela música, dança e
situações de encontro em grupo.” (RolandoToro)

Observamos que se efetiva a integração afetiva quando é restabelecida


a unidade entre o homem e a natureza. Sendo certo que, as vivências têm
também a característica de induzir os participantes à uma integração afetiva
que ativa o sistema límbico-hipotalâmico influenciando os instintos, vivências e
emoções.

A organização biológica do ser é o que se entende por renovação


orgânica. Sendo, portanto, a regulação das células pela função de
autorregulação. As vivências integradoras acessam o inconsciente celular de
modo que acontece uma reparentalização das células e uma regulação de
todas as funções biológicas, promovendo uma organização, uma harmonização
de todo o ser.
Ocorre a reaprendizagem das funções originais da vida através do
aprendizado de um estilo de vida de acordo com nossos impulsos primordiais.
É aprender a viver de acordo com a nossa natureza biológica, de maneira que
estaremos conservando a vida e permitindo sua evolução.

A base da metodologia da Biodanza é a chamada vivência. Tratando-se


de uma sensação intensa de viver o aqui-agora, que envolve a cinestesia, as
funções viscerais e emocionais. Os exercícios em Biodanza estão direcionados
a induzir vivências, cujos efeitos correspondem aos objetivos metodológicos
para o processo de integração do ser.

Ela baseia-se, ao contrário das terapias cognitivas, no percurso que vai


das vivências aos significados. Constituindo-se na experiência original de nós
mesmos, da nossa identidade, anterior a qualquer elaboração simbólica ou
racional.

Por gerarem situações de prazer, as vivências experimentadas na


prática da Biodanza geram um reforço dos sistemas que resulta em uma
integração do ser.

A importância da música deve-se ao poder que tem a mesma de


deflagrar emoções e com isso invocar vivências. As músicas em Biodanza
passaram por um estudo de seus conteúdos emocionais e são utilizadas de
acordo com os efeitos orgânicos e o tipo de vivência que provocam.

Essas vivências constituem a experiência original de nós mesmos, da


nossa identidade, anterior a qualquer elaboração simbólica ou racional,
podendo favorecer, a elevação do grau de vitalidade e saúde aqueles que
conseguem estabelecer naquele momento um profundo nível de conexão
consigo, com o outro e com a totalidade.

Assim, ocupam-se as músicas de ritmo alegre e eufórico cujas danças


com elas realizadas promovem uma ação que estimula o sistema nervoso
autônomo simpático ou seja, seus efeitos serão de ativação. Já as músicas
lentas, suaves e danças com movimentos lentos, estimulam o sistema nervoso
autônomo parassimpático, ativando os estados de transe e regressão ou seja
têm o efeito de induzir a um estado de relaxamento. Sendo adequadamente
aplicados, os exercícios e músicas, terão os efeitos harmonizador e regulador
do equilíbrio neurovegetativo.

Em 2009, Rolando toro formula uma nova definição para a Biodanza de


forma a abarcar ainda mais os conceitos biológicos e fisiológicos do sistema:

“Biodanza é um sistema de aceleração de processos


integrativos à nível celular, metabólico, neuroendócrino,
imunológico e existencial, mediante a ambiente enriquecido
com músicas específicas, movimentos integradores e carícias
que deflagram vivências.” (Rolando Toro, 2009)

Existem evidências na atualidade indicativas de que o sistema nervoso


não se desenvolve isoladamente, sendo, portanto, indispensável a
estimulação proveniente do meio ambiente para a formação adequada da
arquitetura cerebral. E isso é decorrente das influências dos fatores
educacionais, sociais, nutricionais, dentre outros, nas atividades neuronais.

Assim, nossas experiências de vida, pensamentos, emoções e


comportamentos podem moldar no correr de nossa existência, os neurônios
que constituem o nosso cérebro. Tendo a Biodanza a propriedade de nos
ajudar como civilização a experimentar comportamentos que privilegiam a vida,
possibilitando reconfigurações neuronais promotoras de saúde.

Nesse sentido, nosso Sistema Nacional de Saúde, reconheceu a


importância do sistema Biodanza, implantando a sua metodologia como prática
integrativa em suas unidades. O que veio a atender às necessidades da
população como um todo, pois observa-se que apenas as práticas da medicina
tradicional não estão dando conta da complexidade do mundo atual, onde o
homem tem que a atender à demandas para a sobrevivência, em concorrência
com um número excessivo de habitantes ao mesmo tempo em que compete
com as máquinas pelas possibilidades de emprego entre muitos outros
desafios da civilização moderna.
2.2. A Biodanza no tempo e no espaço

O criador do Sistema Biodanza, Rolando Toro nasceu em Concepción,

,
Chile, em 1924 Em 16 de fevereiro de 2010, vindo a falecer aos 85 anos em
Santiago do Chile. Foi psicólogo, antropólogo, poeta e pintor. Tendo iniciado a
vida de professor ministrando aulas em escola primária.

Posteriormente, torna-se professor de psicologia da criatividade, de arte


e expressão no Instituto de Estética da Pontifícia Universidade Católica do
Chile em 1964.

No ano de 1965, enquanto trabalhava como membro docente do Centro


de estudos de antropologia médica da Escola de Medicina da Universidade de
Santiago do Chile, iniciou os primeiros trabalhos de dança com pacientes do
Hospital psiquiátrico da referida universidade, experimentando técnicas que
pudessem “humanizar a medicina” .

O ponto de partida para criar o modelo teórico e o sistema Biodanza


deveu-se às suas primeiras experiências com danças ao descobrir que alguns
tipos de música tinham o efeito de facilitar o estado de transe enquanto que
outras músicas, aumentavam o sentimento de identidade e a consciência
corporal.

Nomeou de Psicodanza o sistema que veio a aplicar no ano de 1970, em


pacientes que lutavam contra o câncer e, foi na mesma época, admitido como
professor emérito da Universidade Aberta Interamericana de Buenos Aires.

Mudou para o Brasil no ano de 1979 e alterou a denominação de


Psicodanza para Biodanza, “A Dança da Vida”. Tendo instalado nessa
oportunidade, o primeiro instituto de Biodanza, e expandido o sistema, agora
com um novo nome, por toda América Latina.
Em 1989 emigra para Milão, Itália, onde realizou trabalhos com
enfermos de Parkinson e de Alzheimer. Oportunidade que veio a criar diversas
escolas em toda Itália e na Europa.

Em 1998 regressa a Santiago do Chile onde dirige todo o movimento de


Biodanza constituído por centros e escolas de formação deste sistema,
distribuídas na Europa, América Latina, Estados Unidos, Sul da África, Japão e
Nova Zelândia.

Além da expansão da Biodanza pelo mundo, formulou em 1970 a


Educação Biocêntrica, cujo desenvolvimento nos nossos dias beneficia um
grande número de praticantes.

No ano de 2001 é nomeado como candidato do prêmio Nobel da paz por


seus trabalhos em Biodanza e Educação Biocêntrica na Casa de América em
Madri, Espanha. No ano de 2006 é nomeado Doutor Honorário da Causa na
Universidade Federal da Paraíba. Em 2008 é também nomeado professor
emérito pela Universidade Metropolitana do Peru.

-La Noche - Poemas. Editorial Carmelo Soria - Santiago de Chile, 1952.


(Español)
- Projeto Minotauro. Abordagem Terapéutico do Sistema Biodanza, Editora
Vozes - Petrópolis (RJ), Brasil, 1988. (Portugues)
- Éxtasis del Renacido - Poemas - 2da Edición - Editorial Galac - Caracas,
Venezuela, 1992. (Español)
- Tras los Pasos de Afrodita - Poemas. Editorial Oasis - Oaxaca - México, 1995
(Español)
- Lo Imposible Puede Suceder - Poemas. Editorial Oasis - Oaxaca - México,
1995 (Español)
- Auf Den Spuren von Aphrodite. Uberstsetzung: Susanne Okotie, Melanie
Delval, Gabriele Langmeyer. Lonopono - Viena, Austria, 1997.(Alemán)
- L´Alfabeto della Vita - Poemas escritos conjuntamente con Giovanna Benatti y
Nicola Franceschiello, Edición Privada, 1997 (Italiano)
- Biodanza. Editorial Rede - Como - Itália, 2000. (Italiano)
- Biodanza. Editora Olavobrás, EPV - Brasil, 2002. (Portugues)
- Balada del Ángel Caido - Poemas, Edición Privada, Santiago de Chile, 2005.
(Español)
Inteligência afetiva, Precentimento do Anjo

Deixou um legado através de sua poesia e da Biodanza, de uma


riqueza imensa para a humanidade, pois o sistema Biodanza é capaz de
resgatar o que se perdeu em nossa cultura: o sentimento da sacralidade da
vida e o prazer de viver.

Em todo o seu trabalho, sempre visando o pleno desenvolvimento do ser


humano, distribuía esperanças no sentido de ensinar que é possível a cada um
tirar o melhor de dentro de si. Em consequência, ao ser nutrido com uma
alimentação de qualidade, oferecer ao outro, fará com que todos desfrutem do
melhor, em todas as oportunidades.

Entendia, por fim, que a melhoria mundo se faz necessariamente com


pessoas de melhor qualidade, baseando-se para isso no sentido de que uma
revolução é feita a partir da evolução do ser.

O que nos deixa maravilhados com a idéia da necessidade de


atravessarmos as fronteiras de nós mesmos, na busca de um ideal que nos
proporcione em toda a caminhada a realização de plenitude, que somente pode
ser alcançada por movimentos que reflitam o sentido mais nobre da nossa
existência.

2.3. Modelo Teórico de Biodanza

O modelo teórico de Biodanza, considera o indivíduo em completa


conexão com o “todo”, ou seja, como um indivíduo que comporta em si as
dimensões biológicas, psicológicas e cósmica.
Esse modelo tem como objeto facilitar a expressão da identidade,
constando de dois eixos virtuais colocados dentro de uma espiral. O eixo
vertical é estável e ascende desde o potencial genético (desenvolvimento
ontogênico), sendo que o eixo horizontal que é pulsante (consciência da
identidade-regressão).
Em Biodanza trabalha-se potenciais humanos que foram arranjados em
cinco linhas, as chamadas “Linhas de Vivência”, a saber: a vitalidade, a
sexualidade, a criatividade, a afetividade e a transcendência. Sendo que,
através das práticas reiteradas dessas cinco linhas se expressam os
potenciais genéticos.

Tais linhas de vivência são representativas das cinco modalidades de


expressões genéticas que se desenvolvem em espiral em torno do eixo vertical
do modelo teórico. Descrevemos de modo sucinto as linhas de vivência:

A vitalidade caracteriza-se pela harmonia biológica, refletida pelo bom


nível de saúde, forte motivação para viver e homeostase . Já a sexualidade,
configura-se pela capacidade de se sentir desejo e prazer na vida. Enquanto a
criatividade, reflete a capacidade de renovação e criação no sentido de recriar
a própria vida. E, a afetividade abarca a capacidade de amor por todos os
seres, sentimento de empatia, solidariedade, altruísmo, amizade. Por fim, a
transcendência, nos remete à capacidade de superar a força do ego, indo
além da autopercepção, identificando-se com a totalidade.

As linhas de vivência, descritas no parágrafo anterior são estimuladas


pela música, dança e situações de encontro que estimulam o sistema
integrador-adaptativo-límbico-hipotalâmico (SIALH). Sendo que, em torno das
linhas de vivência, que se entrelaçam em forma de espiral ascendente,
encontra-se um eixo horizontal virtual que oscila entre os dois polos em forma
pulsante. Os potenciais genéticos se expressam dentro desse campo pulsante.

Os potenciais genéticos poderão também sofrer influência dos


ecofatores, (fatores ambientais), positivos ou negativos que atuarão como
estimulantes ou inibidores, conforme o caso, da expressão desses potenciais.

Ainda com relação ao Modelo Teórico, há certos termos que requerem


maior aprofundamento para melhor compreensão:

Dessa forma, o potencial genético vem a ser o conjunto de características


únicas que cada indivíduo possui e, que estão contidas em cada uma das
células, expressando-se ao longo da vida. Algumas características dependem
de uma ação conjunta dos genes para serem expressadas. Outras existem,
mas não são expressadas. A Biodanza, através do seu mecanismo de ação,
possibilita a expressão desses potenciais genéticos, funcionando como um
gerador de ecofatores positivos através de vivências específicas em ambiente
nutritivo.

O desenvolvimento evolutivo da espécie desde o seu aparecimento é


configurado pela filogênese. Enquanto protovivências são as sensações que o
bebê experimenta durante os seis primeiros meses de vida, e que determinarão
o desenvolvimento das cinco linhas de vivência durante a sua vida
(ontogênese).
A integração vem a ser um processo de crescimento em que os potenciais
genéticos altamente diferenciados se organizam em sistemas cada vez mais
amplos no nível orgânico e emocional em uma forma de sintonização cada vez
mais perfeita com a unidade cosmo biológica. As linhas de vivência assim, se
interagem num processo dinâmico e criativo, se desenvolvem, resultando na
integração do ser, em um processo que ocorre durante toda a sua vida. A
trânstase, seria a ascensão a um novo nível de integração na escala evolutiva.

Eixo Horizontal:

IDENTIDADE -------------transe-------------------REGRESSÃO

A regressão, ocorre à medida que diminui a vigilância e a noção do próprio


limite corporal, entrando-se em um estado que se manifesta pela diminuição da
atividade voluntária e cortical. Trata-se de uma regressão biológica onde são
reativados os modelos fisiológicos primordiais, sendo, portanto, esse estado
regressivo saudável, integrador e harmonizador.

A identidade é única e ao mesmo tempo diversa mas, que em estado de


regressão, a consciência de nossa identidade diminui e se dissolve na
totalidade. Na experiência de retorno há uma expansão da consciência e um
sentimento de plenitude e conexão com a própria identidade.

E, o transe, servindo como veículo que leva o indivíduo, da consciência de


si, para a regressão.

2.4. Ação da Biodanza no Organismo

O sistema nervoso autônomo (SNA) é a parte do sistema nervoso que


comanda as diversas funções involuntárias que servem à conservação da vida
tais como atividades do coração, dos pulmões, aparelho digestivo, dos órgãos
sexuais, etc. Ele regula cada uma dessas funções entre si, mantendo o
equilíbrio entre elas e a atividade psíquica. Quando ocorre o desequilíbrio,
aparecem os distúrbios psicossomáticos. É constituído por dois subsistemas: o
simpático e o parassimpático.

O Sistema Nervoso Simpático está relacionado ao estado de vigília e


aos mecanismos de luta e fuga. Através da noradrenalina age estimulando o
metabolismo, aumentando a circulação, o ritmo cardíaco e a pressão arterial,
promove a broncodilatação para permitir maior ventilação pulmonar e maior
fluxo de sangue aos músculos, predispondo o organismo a situações de
defesa.

Já o Sistema Nervoso Parassimpático, com a produção de acetilcolina,


está relacionado aos mecanismos de repouso, estados de relaxamento,
renovação orgânica, onde acontece a diminuição da pressão arterial e do ritmo
cardíaco, aumento das secreções glandulares, etc.

Quando um desses sistemas está em funcionamento, o outro está em


repouso, e por isso podemos estimulá-los separadamente com exercícios de
Biodanza. Se ativa o Sistema Nervoso Simpático com músicas alegres,
eufóricas, potentes, buscando a alegria, o prazer, a vitalidade, etc. Se ativa o
Sistema Nervoso Parassimpático, com músicas lentas e suaves,
desaceleradas, buscando o estado de relaxamento predispondo ao sono e ao
repouso.

O estilo de vida em que vivemos, condicionado pela nossa cultura,


estimula predominantemente a atividade simpática, induzindo a um
desequilíbrio neurovegetativo. A Biodanza, por sua vez, com sua atuação no
Sistema Nervoso, promove este equilíbrio pois existe uma íntima relação entre
a psique, sistema nervoso, glândulas endócrinas e sistema imunológico.

2.5. Como a Identidade é Compreendida em Biodanza

2.5.1. Os conceitos de Identidade através dos múltiplos saberes


científicos
O conceito de Identidade foi objeto de estudo da Biologia e da Psicologia
contemporâneas. Sendo que filosofia do idealismo especulativo configurada
por Leibniz e Kant, fundou novos esclarecimentos sobre a essência da
Identidade.

Fiche, Schelling e Hegel também trouxeram sua contribuição ao


aprofundamento do exame filosófico da Identidade.

Depreende-se, pelas formulações dos estudiosos no assunto que a


Identidade se faz patente só através de “o outro”. (Esta estruturação superava
em profundidade e dinamismo a antiga divisão entre “Mesmidade e Alteridade”,
ainda influenciada pelo Neo-platonismo e Cartesianismo dissociativos).

Entende-se também que a Identidade tem uma essência invariável já


que se transforma constantemente, devido a sua dimensão espaço-temporal.
Assim, a Identidade é sempre única e, ao mesmo tempo, muda de aspecto
frequentemente.

A dinâmica dessa noção é ainda expressada por Fisher quando aduz


que a Identidade é “a experiência de si mesmo como centro de percepção do
mundo”.

René Spitz sustenta que a Identidade começa com o contato afetivo com
a mãe. Enquanto Lacan considera que a linguagem na estruturação de
Identidade tem que ser considerada, mas deve ser integrada a seus
antecedentes primais: as protovivências de comunicação e as linguagens pré-
verbais.

Segundo Arnold Gesell, nos primeiros anos de vida é iniciada a


expressão psicológica da Identidade, fase em que a criança começa a perceber
seu corpo independente e separado do mundo. O que ocorre em torno das 28
semanas, quando suga o polegar de seu próprio pé.
A Identidade do próprio corpo, a Identidade dos objetos e as outras
pessoas estão sujeitas a uma evolução que não termina a não ser com a
morte.

Segundo Piaget a Identidade psicológica não se dá como uma totalidade


desde o começo da vida mental, posto que, para o lactente, a realidade (sem
delimitações entre um mundo exterior e o vivido imediato) começa sendo nada
mais que quadros móveis suscetíveis de reabsorver ou desaparecer ou voltar a
aparecer.

2.5.2. Definição de Identidade em Biodanza

Trata-se a Identidade do que cada pessoa “é” essencialmente, frente a


qualquer outro sistema de realidade. Podendo ser entendida ainda, como um
conjunto de característica psicobiológicas que faz de uma pessoa um ser único
e inconfundível.

Sendo certo que, a vivência da identidade surge na integração afetiva,


uma vez que inclui o outro na percepção de si mesmo. O que significa que do
ponto de vista psicológico, a identidade se faz patente através do outro.

A manifestação da Identidade se dá não somente a nível celular e


visceral mas, a nível psicológico existencial, tendo suas raízes na estrutura
genética e sua expressão biológica mais dramática é o sistema imunológico e a
incompatibilidade com estruturas estranhas.

2.5.3. Na corporeidade encontra-se a consciência da Identidade

A consciência de si mesmo, dá-se pela consciência do próprio corpo e


ao mesmo tempo pela consciência de ser diferente.

A percepção do próprio corpo é atingida quando através das


experiências de vida o observamos como fonte de prazer, ou como fonte de
dor, sofrimento ou mal-estar. Já as primeiras noções de ser diferente, se dão
no contato com o grupo.

Desse modo, as primeiras noções de ser diferente conduzem à


consciência da própria singularidade e ao ato de pensar-se a si mesmo frente
ao mundo. Sendo certo que, o pensar-se a si mesmo configura a autoimagem.

Ocorre que, ambos os padrões (fonte de prazer ou fonte de dor)


desenvolvem uma estrutura de seletividade bastante estável, que permitem ao
indivíduo saber o que quer e buscar sua autorrealização.

O homem é, possivelmente, de todas as criaturas, a única que tem


consciência de sua Identidade. Não se trata tão somente de um pensamento,
mas sim de uma vivência corporal, a comovedora experiência de sentir-se vivo.

O conceito de Identidade tem seu surgimento a partir da grande questão


que sempre nos intrigou: - “quem sou eu?”. Sendo objeto da investigação
clínica, nesse sentido, a estreita relação entre a percepção corporal e a
percepção de si mesmo.

A Consciência de Identidade é, portanto, a capacidade para


experimentar-se a si mesmo como entidade única e como centro da percepção
do mundo.

Por outro lado, a vivência de si surge também a partir da “convivência”,


ou seja, de viver na alegria de “ser com o outro”, oportunidade em que se
formam os vínculos afetivos.

A importância de dançar em grupos, nos modelos apontados pela


metodologia da Biodanza onde se descortina, progressivamente, os rituais de
aproximação, permite a integração da Identidade. E isso se deve ao fato de
que “Nossa Identidade se revela na presença do outro”.

2.5.4. Como se estrutura a autoestima e a autoimagem na Identidade


Autoestima é uma variável psicológica importante e muito se tem
estudado sobre ela nos últimos anos. Este termo, no entanto, tem sido definido
de formas diferentes e até mesmo de forma conflitante por vários autores.

A autoestima elevada pode fazer a diferença na vida de uma pessoa,


onde são enfocados o bem-estar, a qualidade de vida e os relacionamentos
interpessoais. Mas, o que vem a ser realmente a autoestima?

Para a Biodanza, o conhecimento que o indivíduo tem de si próprio,


pode se dividir em dois componentes distintos: um descritivo, de como nos
vemos, chamado autoimagem, e outro valorativo vivencial de como nos
sentimos, que se designa autoestima.

Dessa forma, a autoestima é vivencial, ou seja, está relacionada ao que


o indivíduo sente e como vivencia o seu valor e a sua autoaceitação. É sentir,
visceralmente, o seu valor pessoal, é acreditar em si, é respeitar a si mesmo e
ter autoconfiança.

A autoestima se estrutura com base na qualificação afetiva dos pais e


das pessoas próximas, e é definida na forma como a pessoa percebe os outros
em direção a si mesma, através da expressão de afeto, elogios e atenção.
Rolando Toro define seguinte forma a autoestima:

A vivência do próprio valor e da auto aceitação é complexa. Provém


da intensa sensação de estar vivo, de sentir-se a si mesmo, de sentir
o corpo como fonte de prazer e de saber o que se quer. (TORO)

Em Biodanza, a autoestima está intimamente ligada ao prazer, gostar


de sentir-se vivo, de ser quem se é, de valorizar o que se tem, e
principalmente, valorizar as pessoas que nos cercam. Assim, aprender a
desfrutar todos os pequenos e grandes prazeres que a vida oferece é a mais
importante das aprendizagens.
Já a autoimagem, para a Biodanza, trata-se de uma imagem mental
(interna e externa) que se tem de si mesmo. Esta imagem se estrutura no
confronto com o espelho, que mostra a aparência e os traços pessoais, mas
também apresenta certas análises introspectivas sobre o que se representa
para os demais e para si mesmo.

O que vem a ser também o conjunto de ideias, conceitos, opiniões e a


imagem que alguém tem de si mesmo, bem como a imagem que supõem
projetar para os outros.

Podemos resumir então que autoimagem tem um caráter conceitual e


formal enquanto que a autoestima tem uma raiz vivencial. Sendo que a
segunda é estimulada nas práticas de Biodanza, fazendo com que a
consciência de si mesmo seja elevada a níveis incomuns. De modo que, ao
sentirmo-nos vivos “com o outro” e simultaneamente qualificados em nossas
características únicas, reforçaremos necessariamente, o sentido de uma
Identidade saudável.

2.5.5. O Esquema dinâmico da Identidade em Biodanza


A complexidade de componentes e estruturas que constituem a
Identidade é o que, de certo modo, faz dela uma noção difícil de operar. Se
prestarmos atenção ao esquema apresentado (Figura), descobrimos uma via
de acesso às estruturas da Identidade que poderíamos chamar a “via régia”, o
instrumento mais sutil e poderoso para penetrar no integrado mecanismo da
Identidade: a Dança.

A Dança ativa o núcleo central da Identidade: a comovedora sensação


de estar vivo e a percepção da unidade de nosso corpo com as vivências e
emoções.

A partir dessa sensação visceral são reatualizadas as primeiras noções


do corpo e sua perfeição como fonte de prazer. Ao mesmo tempo, se acentua a
noção de ser diferente e único, ao entrar em contato com outras pessoas.

2.6. Principio Biocêntrico (NOVO)


CAPITULO III

O FORTALECIMENTO DA IDENTIDADE ATRAVÉS DA METODOLOGIA DA


BIODANZA, COMO FORMA DE DIMINUIR A ADIÇÃO ÀS MIDIAS SOCIAS E
AMENIZAR OS MALEFÍCIOS POR ELAS CAUSADOS

Nesse capítulo serão apreciadas as características que estruturam uma


Identidade saudável e a importância da Biodanza para se atingir tal intendo, em
uma época caracterizada pelo estímulo constante à frenética utilização de
tecnologias disseminadoras de comportamento dependente.

3.1. O Fortalecimento da Identidade

As práticas de Biodanza, quando realizadas de forma sistemática, poderão


atuar diretamente no sistema bio-psico-emocional do seu praticante gerando
benefícios que servirão a homeostase de todo o organismo uma vez que atuará
no sentido de fortalecer sua identidade

Para melhor caracterizar o que se entende por Identidade, sob o viés do


sistema Biodanza , achamos oportuna a transcrição das sete ideias
fundamentais a baixo transcritas, norteadoras do princípio biocêntrico:

(1) A Identidade de um indivíduo só se revela em presença de outro:

Conviver significa a alegria de “ser com outro”, de adquirir a capacidade


de vínculo afetivo. A maior vivência de si mesmo surge durante a “convivência”,
ou seja, quando vivemos em harmonia com o outro.

Por outro lado, ao percebermos a presença do “outro”, estaremos


valorizando-o e fazendo com que o poder da vinculação aí se estabeleça. Em
consequência, à simultaneidade que se dá nessa forma especial de dar e
receber poderemos estar criando a oportunidade de fortalecimento da
identidade.

“Estamos demasiado sós no interior de um caos coletivista. Há


um modo de estar ausente com toda nossa presença. O ato de
não olhar, não escutar e não tocar o outro, o despojamos
sutilmente da sua identidade. Não reconhecemos nele uma
pessoa: estamos com ele mas o ignoramos. Esta
desqualificação, consciente ou inconsciente, tem um sentido
pavoroso que involucra todas as patologias do ego. Celebrar a
presença do outro, exaltar nele o encanto essencial do
encontro é, talvez, a única possibilidade saudável” (TORO).

(2) A identidade possuiu um caráter sempre flexível, mutável, provisório

O que corresponde às mudanças contínuas ocorridas tanto no plano das


relações sociais quanto nas articulações da história de vida pessoal com o
funcionamento da sociedade.

Ela também é imutável, embora esteja em permanente transformação. Ou


seja, ela se produz em constante transformação. O que nos faz buscar a
consciência de todas as mudanças que necessariamente iremos enfrentar pela
vida a fora.

(3) Nossa Identidade também é reforçada pela relação erótica tornando-a


vulnerável, mediante o contato. E isso ocorre porque o contato a torna
vulnerável.

A vulnerabilidade está ligada a poder ser tocado, estimulado,


transformado. Sendo certo que, em Biodanza consideramos a “função de
contato” como terapêutica na medida em que o contato corporal, e em especial
a carícia, ativa, mobiliza, transforma e reforça nossa identidade.

A percepção de limite através da nossa pele também serve de


caracterizador de identidade. De forma que ao estarmos com o nosso limite
corporal insensível, estaremos em consequência com nossa identidade
verdadeira alterada, oculta ou aprisionada.

(4) A “via régia” para compreender a Identidade é o transe musical

(5) A Identidade é permeável aos agentes externos, em especial, à música,


Esta tem o poder de transformar a nossa existência. Ao desenvolver a
sensibilidade musical e ampliar a registro seletivo, são estimuladas outras
capacidades psicológicas como: sensibilidade global, capacidade estática,
prazer cenestésico, e capacidade de aceitar estímulos diferenciados, induzindo
a uma harmonia interior, sentido de ritmo e reeducação, o que vem a afetar
diretamente a Identidade.

Por esse motivo, utiliza-se em Biodanza critérios rigorosos na seleção


musical em relação aos exercícios e às vivências que se pretende alcançar,
trabalhando-se com estruturas coerentes de “música-movimento-vivência” com
potencial deflagrador de respostas emocionais.

(6) A música e o movimento, que constituem o ato de dançar, são os


principais elementos deflagradores das vivências em Biodanza.

Por constituir tal movimento a expressão de nossa Identidade, temos a


oportunidade de acessar com a dança, as modificações necessárias ao nosso
crescimento como pessoa. E isso ocorre, necessariamente, quando há a
entrega ao convite de nos colocarmos por inteiro enquanto dançamos.

(7) O conceito de Identidade está intimamente relacionado ao conceito de


Regressão,

Entendendo-se regressão como um estado de retorno psicofisiológico à


etapa fetal ou perinatal, isto é, imediatamente anterior ou posterior ao
nascimento, de forma que, durante esse estado de regressão, o indivíduo
reedita condições psíquicas e biológicas da infância podendo nessa
oportunidade reparar conceitos relacionados a sua identidade.

As redes sociais nos estimulam a operar no modo fake, mostrando ao


mundo que somos os melhores, ou pelo menos tão bons como os demais.
Agindo desse modo, podemos estar desenvolvendo comportamentos
inautênticos, aumentando nosso sentimento de vazio existencial e profunda
solidão.

Ao promoverem a integração dos centros afetivo e motor as práticas de


Biodanza nos permitem experimentar um contato íntimo com a vida que pulsa
em nosso interior e que isso faz parte de um processo natural de viver. Sendo
essa, a forma de construção da autoimagem mais real a que se pode aspirar.

Para reforçar o que já foi abordado sobre o papel da prática da Biodanza


na influência da Identidade, trazemos os seguintes itens para maior reflexão:

1- A Identidade de um indivíduo se revela só em presença de outro.


2- A Identidade é imutável, mas está em permanente transformação (“Gênese
atual”)
3- A “via régia” para compreender a Identidade é o transe musical.
4- Ao mesmo tempo em que a vivência é reveladora da identidade, ela é
formadora.
5- A Identidade é permeável aos agentes externos, em especial, à música.
6- A Identidade é aprendida como a essência do ser, na prática do contato
com o outro.
7- A Identidade saudável é verificada onde se encontram integrados elementos
éticos, psicofísicos, emocionais e consciência ecológica.
8- A ampliação do sentido da Identidade através do transcendência alcançada
pela autoentrega nas vivências onde prevalece o sentido do aqui-e-agora
como a única possibilidade do ser.

E finalmente, a citação seguinte, poderá nos servir de resumo ao que foi


visto no transcorrer desse item específico do capítulo III:

“A identidade já foi pensada na Biodanza de diversos


modos...Em Biodanza a identidade é concebida como um todo,
composto pelo potencial Genético, pelos sistemas nervoso,
endócrino e Imunológico e também pelo inconsciente coletivo,
que acontece através das linhas de vivência e que tem
plasticidade de pulsar entre um estado de consciência
intensificada e regressão. O que possibilita esta pulsação é a
qualidade de identidade de ser permeável à música e à
presença do outro. A música e o encontro são vias de acesso à
identidade” (Ferreira, 1997)

3.2. A Biodanza como Metodologia Vivencial para o Fortalecimento da


Identidade

Nas redes sociais a realização humana se esgota nos moldes de ser


capacitado para chamar atenção. Os assim chamados comportamentos
narcisistas são evidenciados pela autoexposição de fotos pessoais, exibição
dos pratos que servem de refeição, lugares que se frequenta, dentre outras
manobras que apontam para o desejo do sujeito ser constantemente admirado
como celebridade.

Nesse aspecto, o ambiente físico em que as práticas de Biodanza se


materializam, pode servir para corroborar a ideologia do modo de vida simples
e natural, onde “o menos é mais”. O que se caracteriza pela ausência de
espelhos nas paredes, e práticas realizadas com os pés descalços e sem uso
de adereços.

Oportunidades como essas, permitem que o encontro humano se realize


de forma integrada, realizado pelos estímulos a movimentos autênticos, livres
da censura social, em que cada participante é admirado na sua singularidade
ao expressar a sua forma de ser em relação com o outro que da mesma forma
também se expressa.

Por fim, nesse encontros onde a manifestação de gestos afetuosos,


brotam de forma espontânea porque confiante na certeza do poder
transformador da entrega, poderemos alcançar o sentido do que é ser único
com o diverso.

3.2.1. Definição de Vivência em Biodanza

Trata-se a Vivência de uma sensação intensa de estar vivo “aqui e


agora”. Portanto, é uma experiência vivida com grande intensidade por um
indivíduo, em um lapso de tempo aqui-agora que abarca as funções
emocionais, cenestésicas e orgânicas.

As vivências induzem efeitos modificadores profundos uma vez que não


comportam racionalizações que venham servir de reforço aos mecanismos de
defesa do praticante.

Antes do pensamento devemos nos ater a linguagem do nosso corpo, o


que ele nos diz com relação às nossas sensações e nossos sentimentos, por
isso a Biodanza preconiza que devemos orientar nossa vida a partir da
vivência. E o faz, dando prioridade ao fluxo das vivências e a seu poder
integrador.

As vivências elaboradas na prática da Biodanza sustentam o valor no


contato das relações humanas bem como a expressão dos potenciais criativos
e transcendentes dos praticantes, propiciando a homeostase necessária ao
organismo.

3.2.2. Uma Metodologia Vivencial

O modelo racional, tradicional das ciências, encontra-se ampliado nos


saberes contemporâneos de forma que a cognição abarca os aspectos
instintivos, místicos e poéticos. Assim, as informações de natureza emocional e
cenestésica também servem a complementar o conhecimento do humano.

É nessa sentido que a Biodanza propõe um conhecimento profundo de


si, com relação ao seu praticante e do mundo, através da vivência, que a partir
de todas as suas conotações cenestésica, constitui um modelo de exploração
das origens do conhecimento.

Nossa percepção não depende apenas dos órgãos dos sentidos, pois
somando-se a eles existe o contexto emocional da percepção e dos substratos
biológicos.
A característica essencial da vivência contemplada pela metodologia da
Biodanza é a capacidade de provocar a integração corpo-mente-emoção,
sendo por isso reconhecidas como Vivências Integradoras. Sua prática regular
capacitará a expressão da identidade, modificação do estilo de vida e
restabelecimento da ordem biológica.

A metodologia da Biodanza prioriza a vivência sobre a consciência, o


que a diferencia radicalmente das terapias que dão prioridade à consciência e
a linguagem. Sendo que dita vivência deverá tomar conta da pessoa de
maneira tal que as iniciativas existenciais dela decorram.

O aprendizado teórico, ao contrário, ao manter-se em nível cognitivo


não se converte em realidade , impedindo a transformação e até mesmo
retardando o processo. Isto porque, na medida em que gera conflitos
interiores, fornece subsídios para justificativas e faz a pessoa se fechar.

Em Biodanza o processo terapêutico se faz através da vivência para, só


depois, levar essa percepção até a compreensão da consciência,
espontaneamente. Assim, a vivência, com características nutritivas e
integradoras é o principal mecanismo de operação da Biodanza, trazendo o
sentido pleno de estar vivo no presente momento, como totalidade única em
relação com o todo universal.
Ativando e amplificando o que existe de saudável dentro de nós na
medida em que promove a depuração do que nos foi instilado de forma nociva,
danificando o programa original, a vivência se transporta para além do espaço
físico e temporal, em que está sendo realizada a sessão, concretizando-se nas
diversas dimensões que compõem nosso ser (físico, emocional, mental, etc.).

É na vivência enfim, que o praticante aprende, entre outras coisas, a


contornar as situações do dia a dia com mais flexibilidade, ampliando a sua
visão de mundo a partir da redescoberta de potenciais interiores antes
inexplorados, possibilitando-lhe encontrar soluções mais criativas para antigos
problemas.
Nos tempos atuais, a internet passou a ter uma função muito importante
em nossas vidas, e nela passamos a construir nossa imagem, sempre
obedientes aos valores da sociedade que observamos estampados na tela.
Dessa forma, acabamos por viver em todos os lugares ao mesmo tempo e,
consequentemente em lugar nenhum.

O que nos faz crer, que as patologias da atualidade são disseminadas


pela forma de vida que nos obriga a correr o tempo todo da forma mais
acelerada possível. A exemplo das máquinas, que utilizamos como nossos
guias em eficiência e, que paradoxalmente nos faz esquecer de maneira ainda
mais veloz daquilo que realmente nos faz humanos.

Em contrapartida, há sempre um convite em todos os encontros nas aulas


de Biodanza para que os participantes estejam plenamente presentes,
totalmente envolvidos nas atividades que realizam. Isso porque, a interação
que impulsiona a integração do nosso ser necessita de plena presença, foco no
aqui-e-agora para que se dê o mergulho existencial necessário.

O que nos faz acreditar que o convite de se praticar regularmente a


Biodanza é no sentido de que nos observemos com mais profundidade, e o
façamos da mesma forma em relação aos nossos semelhantes e ao universo
que nos serve a todos.
Para tanto, seria um presente a si próprio a oportunidade do desfrute de
um espaço para dançar e conviver de forma a se reconectar com o que ainda
nos resta de humano, nos possibilitando levar o que foi vivenciado nos salões
de Biodanza a qualquer ambiente, ou lugar.

Uma vez que incorporamos à nossa maneira de ser as qualidade


específicas deflagradas por esse experimento vivencial, poderemos usufruir do
que nos traz o verdadeiro sentido de estarmos vivos, de nos percebermos de
corpo inteiro, de nos sentirmos integrados a um todo maior numa relação
pulsante de identidade.
Assim, à retomada de nossa sensibilidade, da nossa capacidade de
perceber a poesia contida na sutileza dos pequenos gestos, que nos permite
vincular-nos ao outro através das trocas afetivas que acontecem principalmente
nas trocas do olhar será sempre o convite de cada sessão de Biodanza.

3.2.3. Mundo Digital x Mundo Vivencial

O Mundo Digital, em que a sociedade contemporânea encontra-se


imersa na maior parte do seu tempo é estruturado de forma a causar
dependência em seus usuários, estimulando comportamentos antinaturais
onde o contato entre as pessoas é prejudicado em razão do excessivo
relacionamento virtual.

O contato físico estabelecido no mundo em que prevalece a tecnologia,


é do homem com a máquina. As conversas com nossos semelhantes são
substituídas por trocas de mensagens de texto ou áudios, dando-se pouco
espaço para que se estabeleçam trocas presenciais.

Cada qual “armado” com seu aparelho, sente-se protegido para


disparar contra o outro qualquer julgamento que o seu estado de espírito
naquele momento determinar. Os elogios da mesma forma, são trocados à
exaustão, em um grande número de oportunidades do modo fake, pois,
navegando no mundo virtual não nos comprometemos com os sinais corporais
que dão notícia do nosso verdadeiro sentir.

As aulas de Biodanza, vêm num sentido inverso, promover vivências


que visam reorganizar as respostas dos praticantes frente à vida, estimulando
a posições que buscam a autenticidade nas trocas humanas.

Para tanto, são organizados exercícios específicos, no sentido de


estimular a manifestação de cinco tipos de vivência, que se relacionam entre si
e se potencializam reciprocamente, uma vez que são responsáveis pelo
processo de integração.
Tais linhas de vivência expressam o potencial genético e representam a
expressão da identidade, sendo elas, portanto: Vitalidade, Sexualidade,
Criatividade, Afetividade e Transcendência.

A Linha da vitalidade está relacionada com a nossa capacidade de


estarmos vivos e de agirmos no mundo com energia e disposição, sendo
preciso, no entanto, que para isso, que nossos sistemas estejam integrados e
funcionando em perfeita sintonia.

Ante uma situação de perigo, o sistema orgânico em estado de


homeostase nos colocam em estado de alerta e disposição física para uma
reação de luta ou fuga, reagindo de acordo com o que lhe é mais benéfico,
saudável e prazeroso.

Compreendendo-se também a Vitalidade como a linha que abarca os


sistemas de autopreservação em perfeito funcionamento, os quais têm no
repouso a possibilidade de reparação de energias despendidas e de
manutenção do equilíbrio interno, realizando assim um constante pulsar entre
atividade e repouso, conservando a homeostase e permitindo a ação do
potencial genético.

Na Linha da sexualidade pode ser observada a nossa relação com o


prazer, transcendendo os espaços restritos em que ele foi aprisionado pela
cultura. Daí, o prazer que advém do ato de se beber um simples copo de água,
de banhar-se, de tomar sol, de caminhar, de fundir-se com outra pessoa,
dentre tantos outros.

A Linha da criatividade, por sua vez, está relacionada com a livre


expressão da nossa identidade e com a nossa curiosidade exploratória,
relativamente ao nosso contexto existencial; da nossa habilidade em inovar,
quer seja pela transformação do já existente, ou criação do novo. E, por fim, ter
a capacidade de encontrar soluções para problemas e de perceber um
fenômeno a partir de ângulos variados.
Já a Linha da afetividade dirá do nosso potencial de vinculação com a
espécie e com a natureza, bem como com a nossa capacidade de dar e
receber carinho, aconchego, como consequência de uma amorosidade interna
que flui livremente através de nossos gestos que se manifestam em todas as
interações a que dermos vida.

Finalmente, a Linha da transcendência nos fará conscientes de que a


nossa vinculação amorosa se estende até o universo cósmico, no qual nos
sentimos plenamente integrados, nas mínimas ações.

E, que para que tenhamos uma experiência de transcendência não será


necessário empreender atividades espetaculares em termos de desafios, nem
participar de práticas exotéricas que vislumbrem um olhar para o infinito em
busca de respostas para a existência. O ser integrado terá a capacidade de
maravilhar-se com a percepção da totalidade em qualquer ambiente, mesmo
os inóspitos, e em situações que pareçam a princípio incontornáveis.

Os exercícios que compõem todas a linhas de vivência citadas


anteriormente, atuam principalmente na região límbico-hipotalâmica, onde se
originam as emoções. O que nos faz aprofundar o sentido do nosso ser em
relação consigo, com o outro e com o cosmos.

Acrescente-se ainda, que durante os exercícios de Biodanza, os alunos


serão, mais que nunca, eles mesmos; respeitados, valorizados, queridos e
aceitos. Experimentam seus corpos como fonte de prazer e, ao mesmo tempo,
como potencialidades capazes de expressarem-se criativamente. Os dois
grandes polos entre os quais se recicla o processo de Identidade são, assim,
fortemente ativados dentro de Biodanza.

E, que as danças de amor e acariciamento, e os exercícios de dar e


receber continente ativam a seletividade sexual e a intimidade afetiva. Os
praticantes nessa comunicação descobrem, progressivamente, sua Identidade
sexual e sua capacidade de amor comunitário.
3.3. No caminho de uma Identidade saudável

Em busca incansável de “curtidas”, as pessoas seguem, acompanhando


os movimentos de uma manada, enfraquecendo assim sua autonomia na
medida em que se afastam mais e mais do seu sentido de si, sua maneira
autêntica de atuar no mundo, em decorrência de atitudes autocentradas e
competitivas.

A prática regular de Biodanza, em sentido inverso, nos incentiva ao


desnudamento de nosso ser autêntico, pois somos orientados à realização de
encontros afetivos em que o autoconhecimento é a meta principal.

Rolando defende que Identidade saudável vai sempre unida a uma


percepção corporal, de limites definidos, com tendência à autonomia. A
percepção corporal e a percepção dos objetos mantêm coerência e unidade. A
vivência de constituir uma criatura única, em ressonância e intimidade com
todo o vivente, é a característica anímica da Identidade sã.

Desse modo, foi verificada de forma científica a estreita relação entre a


percepção corporal e a percepção da realidade. Constatando-se em
decorrência, que nos enfermos, a alteração da Identidade própria implica na
alteração da Identidade dos objetos e das outras pessoas.

Dentro do sistema Biodanza há uma proposição em que se pretende


relacionar criteriosamente a Identidade normal ou saudável. São elas: Alto
nível de Vitalidade, Motricidade com equilíbrio, energia e sinergismo,
Capacidade de fuga frente a uma força superior, Resposta em “feedback” com
realidade, Autodeterminação do limite de contato, Capacidade de intimidade,
Capacidade criativa, Vivência de consistência, Capacidade para por limite à
agressão externa, Percepção do semelhante como único, diferente e com valor
intrínseco, Ausência de espírito competitivo, Ausência de autoritarismo,
Ausência de agressão gratuita, Percepção de si mesmo como criatura com
valor intrínseco, Consciência ética.
3.4. Identidade e diversidade

Nas redes sociais acabamos perdendo a relação com o diferente, uma


vez que os grupos são compostos pelos que nos assemelham em
pensamentos e atitudes. Buscando-se trocas com pessoas afins, acabamos
por sucumbir a uma forma de alienação com relação aquele que não
corresponde à nossa visão de mundo formatada previamente.

Podemos dizer por essa razão, que o gênio da espécie não é a


inteligência, mas a afetividade orientada para a tolerância, a compaixão, a
amizade e o amor. E, que numa posição oposta, observaremos como uma
grave alteração da identidade o medo à diversidade, que vem a ser o produto
da insegurança despertada pelos estranhos, os quais são tomador por
“diferentes”.

O medo à diversidade revela um profundo transtorno da Identidade e


gera formas de intolerância, racismo, medos fóbicos e delírios persecutórios.
Pois ela se renova em atos permanentes de comunhão com o estranho.

A vinculação com o mundo significa, perder e ganhar a Identidade, ou


seja, ser ou deixar de ser, organizando e reorganizando o trato com a
realidade. O que nos aponta que a Identidade é estável e dinâmica. É o que em
mim permanecer, apesar das mudanças que ocorrerão a partir dos “encontros”,
transubstanciados de Identidades diferentes.

De nossa Identidade brota a percepção do diferente e a capacidade para


identificar os objetos. Na vivência de nós mesmos se organiza nossa
percepção. Do “talo único” de nossa Identidade brotam os frutos da
diversidade.

Quem vive aferrado mesquinhamente para defender os limites de sua


Identidade, se priva do sabor dos frutos, se esgota em si. As raízes da
Identidade se nutrem no seio do estranho.
A identificação de objetos e pessoas só pode ser feita em um jogo
dialético e de aproximação empática e de distanciamento formal a respeito do
dito objeto.

Acrescente-se ainda, que perder a consciência da Identidade representa


um ato de regressão que pode ser dissociativo ou integrativo. A regressão
integrativa é o abandono de si ao indiferenciado, desde onde provêm os signos
mais arcaicos e as mensagens cósmicas de renascimento.

Nos encontros promovidos em sessões de Biodanza, abre-se a


oportunidade de interações afetivas e íntimas com os companheiros de grupo
onde as diferenças são respeitadas e acolhidas. Sendo que essa ambiência,
plena de sentido, abre-nos a percepção de que pertencemos a uma mesma
família humana.

3.5. A necessidade da vinculação para o fortalecimento da Identidade

A necessidade que criamos de reiterar continuamente nossa existência


on-line, incrementando o sentido de controle, nos torna separados de nós
mesmos. Desse modo, como seres fragmentados, atuamos no mundo real
também separados dos nossos semelhantes.

Em sentido oposto, a harmonia gerada pelos exercícios e o dançar em


grupo, que a Biodanza promove, não dá espaço para comportamento
autocentrado e competitivo. Resultando dessas práticas, o sentido de
comunhão, solidariedade, qualificação da presença do outro, necessários para
o efetivo desenvolvimento bio-psico-social .

No processo de integração do ser, os vínculos são fundamentais, razão


pela qual a metodologia adotada pela Biodanza buscar que seus praticantes
realizem o sentido da unidade perdida.
A vinculação, para a Biodanza, se dá de três modos: pessoal,
interpessoal e transpessoal. Sendo que, no vínculo pessoal (consigo mesmo) o
objetivo é o resgate da unidade psicofísica, sendo privilegiadas as sensações
corporais, pensamentos, sentimentos e ações.

Já no vínculo interpessoal (com o semelhante) , tem-se em foco o


resgate ou restabelecimento de identificação com o outro, ocasião em que irão
se desenvolver a capacidade de empatia, solidariedade, cooperação, afeto,
limites claros e precisos, etc.

E, no vínculo transpessoal (com a totalidade), por abranger a relação


com o cosmos, objetiva-se o restabelecimento da conexão homem-natureza,
promovendo o seu reconhecimento como parte de uma totalidade maior ao
experimentar-se integrado ao universo. Percebendo em decorrência, o
sentimento de fusão com a totalidade, o verdadeiro retorno ao paraíso perdido.

Desse modo, a vinculação nesses três níveis remete à sacralidade da


vida, uma vez que, os exercícios e vivências desenvolvidos em grupo, abrirão
caminho até a formação do “ninho ecológico”, onde cada participante pode
conectar-se livremente com suas emoções, percebendo-se no desfrute do
acolhimento e amorosidade nas trocas realizadas nesse espaço.

3.6. O Grupo como Fundamento do Fortalecimento da Identidade

Ao contrário do que nos leva a crer, as redes sociais mais nos divide do
que nos une. Sendo certo que, em uma sociedade que já traz a característica
de heterogeneidade, são observados pelo uso desenfreado das tecnologias
digitais, efeitos cada vez mais devastadores ao bem estar de toda a
comunidade humana.

O exercício em forma de roda que é experimentado nas aulas de


Biodanza, nos leva ao sentimento de que todos somos um. Assim,
vislumbramos a igualdade, fraternidade e união, no lugar de hierarquias
cristalizadas fazendo-nos experimentar o sentimento de que há uma irmandade
fundamental entre os humanos.

O termo grupo é de origem alemã e significa cacho, molho, pilha. Tais


palavras que sugerem um conjunto de coisas ou pessoas, vem a ser algo
muito mais complexo do que um simples agrupamento de pessoas.

“Todos os animais que vivem juntos precisam coordenar


as ações, e a sincronicidade é o elemento-chave para isso.
Trata-se da forma mais antiga de ajustamento aos membros do
grupo. A sincronia, por sua vez, baseia-se na capacidade de
fazer um mapeamento entre o próprio corpo e o corpo de um
outro e de incorporar os movimentos desse outro, que é
exatamente a razão por que a risada ou o bocejo do outro nos
faz rir ou bocejar” (Frans de Waal)

“Somos interligados aos nossos semelhantes, tanto do


ponto de vista corporal quanto do ponto de vista emocional. A
prontidão com que o Homo sapiens é impelido numa ou noutra
direção emocional pelos seus companheiros é verdadeiramente
impressionante.” (Frans de Waal)

Os peixes que formam cardumes mantêm distâncias muito precisas um


do outro e sincronizam perfeitamente a velocidade e a direção de seu
movimento, numa fração de segundo. São milhares de indivíduos agindo
praticamente como se fossem um só organismo, para se protegerem dos seus
predadores.

Os humanos, à semelhança dos peixes, somos habilidosos na sincronia,


pois quando alguém caminha ao lado da outra, seus passos seguem
automaticamente o mesmo ritmo, porém isso acontece se a pessoa tem um
caminhar integrado, e não perdeu essa habilidade inata do ser.

Daí chegarmos ao desenvolvimento da empatia, que é a capacidade de


se colocar no lugar do outro, de ajudar, compreendendo melhor seu
comportamento e suas decisões. E, que está intimamente ligada ao altruísmo-
amor e interesse pelo próximo. Vindo a ser também, uma espécie de
inteligência emocional: habilidade de experimentar reações emocionais por
meio de observação da experiência do outro.
Quando um fóssil de um hominídeo foi encontrado recentemente no
Cáucaso, os cientistas sugeriram que a sobrevivência desse indivíduo teria
sido impossível se ele não tivesse sido alimentado e cuidado pelos seus
semelhantes. Eles concluíram que esses ancestrais, que viveram há quase
dois milhões de anos, provavelmente se pareciam com os humanos, uma vez
que praticavam a compaixão.

Assim, Mac Lean (1913-2007) sugere que o sistema límbico, uma das
partes mais antigas do nosso cérebro, e suas conexões com o córtex pré-
frontal estaria envolvido na empatia, proporcionando aos homens a capacidade
de se colocar no lugar dos outros. E que, uma empatia primitiva estaria
presente desde cedo na evolução humana, e a partir da aquisição de novas
estruturas cerebrais e circuitos neurais, adicionou-se à mesma uma forma de
cognição, de tal forma que pôde ser experienciada em conjunto com uma
consciência social mais desenvolvida.

“A empatia faz parte de uma herança tão antiga quanto a


própria linhagem mamífera. Ela mobiliza regiões do cérebro
que existem há mais de cem milhões de anos. A capacidade de
sentir empatia pelo outro emergiu num passado extremamente
longínquo, com o mimetismo motor e o contágio emocional.
Depois disso a evolução foi acrescentando camada após
camada, até que nossos ancestrais se tornassem capazes não
apenas de sentir o que os outros sentem, mas também de
compreender os desejos e as necessidades de seus
semelhantes.” (Frans de Waal)

“Mêncio nos fez refletir sobre a origem da empatia e sobre a


sua dependência nas conexões corporais. Essas conexões
explicam também a nossa dificuldade de empatizar com as
pessoas estranhas. A empatia apoia-se na proximidade,
similaridade e na familiaridade, o que faz muito sentido, uma
vez que ela evoluiu para favorecer a cooperação entre os
membros do grupo. Juntamente com o nosso interesse na
harmonia social, que requer uma distribuição equitativa dos
recursos, a empatia levou a espécie humana a formar
sociedade em pequena escala, que enfatiza igualdade e a
solidariedade. Hoje em dia, a maioria de nós vive em
sociedade, muito maiores, onde essa ênfase é mais difícil de
manter , mas o nosso funcionamento psicológico permanece o
mesmo.” (Frans de Waal)

A fundamental importância da empatia é o fato de que promove a


ligação entre os indivíduos e favorece a cada um deles uma “participação” no
bem estar dos outros, encurtando a distância entre os benefícios diretos_ “que
vantagem isso me traz?” e os benefícios coletivos , cuja compreensão não é
imediata.

A empatia tem o poder, enfim, de nos apontar para a importância dos


benefícios que envolvem a coletividade como um todo, conferindo valor
emocional a eles.

3.6.1. Importância do instinto gregário para a Identidade

A palavra gregário vem do latim: “grex” e significa rebanho. Instinto, por


sua vez, é uma conduta inata hereditária que não requer aprendizagem e que
desencadeia frente a estímulos específicos, sendo sua finalidade biológica a
adaptação ao meio para a sobrevivência da espécie.

Portanto, instinto gregário é aquilo que faz as pessoas se sentirem


compelidas a estarem umas com as outras, formando grupos de influências
mútuas.

Vivemos numa cultura que desconsidera os instintos, tendo como


consequência as patologias da civilização. No entanto, a Biodanza veio nos
auxiliar através das práticas realizadas em grupo entrar em contato com
nossos instintos, que são uma manifestação biológica do ser.

Todos os instintos se organizam com base no instinto de sobrevivência.


Os instintos de sobrevivência e conservação da vida se relacionam
dinamicamente com a força da identidade.

Os instintos apresentam frequentemente aspectos complementares


entre si, e isso torna possível sua auto regulação. Esta complementaridade é
uma expressão lógica da vida, que permite resolver problemas de adaptação.
Como exemplo de instintos complementares temos: Instintos migratório e
regressivo, territorial e exploratório, fome e saciedade, luta e fuga, gregário e
isolamento dentre outros.
No correr da história das civilizações os instintos foram fortemente
reprimidos pelas religiões e ideologias, causando consequências negativas a
humanidade, de um modo geral. A Biodanza, no entanto, surge com a
proposta de que resgatemos os instintos de conservação, dando oportunidade
aos seus praticantes de comunhão e empatia, de união nos ideais de luta
contra preconceitos, no aumento da consciência ética, entre outras propostas
que poderemos resgatar através de trabalho em grupo.

Podemos dizer que a vida em sociedade faz parte da natureza humana


e que o grupo tem papel importante na vida das pessoas, de modo que só se
pode compreender o comportamento humano através das relações, já que as
pessoas em sua grande maioria vivem em grupo, trabalham em grupo e se
divertem em grupo.

Desde há muito tempo os processos de grupo levantam a curiosidade


dos investigadores e existem controvérsias sobre sua definição. Na verdade
quando se define um grupo é que se decide as características que se
considera realmente imprescindível a sua existência.

“O grupo de Biodanza constitui uma antecipação de um mundo


altamente evoluído do futuro. Não é a realização onírica de
uma utopia, mas o pôr em marcha, aqui e agora, as maiores
potencialidades humanas” (Rolando Toro)

“No grupo de Biodanza, as pessoas se encontram, se


necessitam e oferecem ao outro o melhor de si mesmas”
(Rolando Toro)

Dessa forma, para a Biodanza um GRUPO é muito mais do que reunião


entre pessoas que interagem, é uma matriz de renascimento na qual cada
participante se sente protegido, nutrido, cuidado e respeitado em sua
individualidade.

A alegria deflagrada pela aula de Biodanza é contagiante, curativa


provocando nos alunos a necessidade da continuidade dessa convivência .
Sendo afetividade na forma de empatia, vínculo e solidariedade o suporte para
que o grupo seja um núcleo onde os participantes se sintam num ambiente
acolhedor.

Podemos dizer que no grupo de Biodanza acontece uma energia


biológica renovadora e harmonizadora. Trazendo as situações de encontro a
possibilidade de mudança das pessoas em todos os seus níveis orgânicos e
existenciais.

Ressaltamos que em Biodanza, o GRUPO é imprescindível para o


trabalho específico de dissolução das couraças, através de exercícios de
carícias decorrentes do contato afetivo. Sendo , por conseguinte, o grande
facilitador para que o contato entre as pessoas possibilite a organização
biológica do ser.

O grupo, em fim, é um continente para que as identidades se


encontrem, se misturem e se transformam em identidades renovadas e
fortalecidas. Pois, a evolução saudável nossa espécie só poderá ocorrer no
contato harmônico entre os seres , já que inexiste a possibilidade de um
crescimento individual integrado em um ambiente solitário.

3.7. Corporeidade e o Fortalecimento da Identidade

É objeto de interesse da Biodanza a linguagem corporal, tanto que, são


oferecidos em suas práticas um amplo repertório através de exercícios e
vivências compilados através de investigações antropológicas, bibliográficas,
dentre outras experimentações efetivamente testadas.

3.7.1. A Corporeidade e o contato, facilitando novas possibilidades


existenciais

A Biodanza propõe que sejam alteradas as formas de nos inter-


relacionarmos, preconizando que, se pretendemos transformar nossa
sociedade dominadora em solidária, na forma da cultura matrifocal, focada no
amor, importante a mudança na maneira que nos comunicamos com os nossos
semelhantes. Em lugar de utilizarmos a linguagem verbal, utilizaríamos em
primeiro lugar, a linguagem corpo/emoção.

Nas vivência em Biodanza é utilizada basicamente a linguagem pré-


verbal, composta por suspiros, respirações acentuadas, gemidos, gritos,
murmúrios, risadas, cantos e outros sons que expressam estado de ânimo e
sensações corpóreas, experimentadas no momento, no aqui e agora.

Em outro extremo do que é observado em nossas sociedades, onde a


tendência da comunicação se dá pela desqualificação e agressão em todos os
níveis, ao ser utilizada a linguagem verbal, nas práticas de Biodanza , será feito
no sentido de dar ênfase a uma qualificação favorável do companheiro,
buscando para tanto, iluminar o melhor de cada um, no sentido de realçar seus
méritos e virtudes.

Deveríamos adotar essa forma de comunicação oral ao nos


expressarmos nas relações que travamos em sociedade de uma forma geral,
para que fosse plantada a harmonia necessária ao sucesso do convívio entre
os homens.

No sentido da comunicação, a Biodanza propõe práticas de


desenvolvimento de linguagem corporal amorosa, abrangendo continentes
mútuos, qualificações favoráveis etc. Com isso, pretende resgatar um período
de paz que fez parte de um período em que a humanidade valorizava os
vínculos através da manifestação de afeto e confiança.

Entendemos dessa forma, que para o surgimento e fortalecimento do


humano, na era cibernética que já nos encontramos inseridos, é necessário um
espaço em que as ações sejam coordenadas para uma linguagem corporal,
onde sobressaia um estado de ânimo em o sentido da amorosidade, da
nutrição e da paz prevaleçam entre nós.

Através de investigações antropológicas, bibliográficas e de campo, a


Biodanza compôs um vasto repertório de exercícios e vivências, onde se
prioriza a linguagem corporal, visando a satisfação das necessidades humanas
orgânicas e simbólicas.

Resulta daí a possibilidade do praticante usufruir de um desenvolvimento


integrado, com alteração significativa de sua qualidade de vida. Sendo certo
que, em ditas vivências utiliza-se basicamente a linguagem pré-verbal:
suspiros, respirações acentuadas, gemidos, gritos, murmúrios, risadas, cantos
e outros sons que expressam sensações corpóreas e estado de ânimo.

Pode ser observada a autêntica linguagem corporal, na coordenação


que se estabelece nas ações do bailado, por exemplo, onde as conversas são
realizadas entre os corpos, numa forma de conversação ou diálogo corporal, no
sentido expresso pela dança corpo/emoção.

Acrescente-se nesse sentido, que a Biodanza, por ter escolhido o prazer


corporal como a meta principal do seu método, estimula em cada praticante o
desenvolvimento da capacidade de sentir prazer nas diversas experimentações
que a vida for oferecendo a cada oportunidade, como por exemplo, ao banhar-
se, experimentando as sensações da temperatura da água, o seu toque suave
por toda a extensão da pele, o deleite ao saborear o que se come, a
percepção dos odores que afloram em nossas passagens, trazendo-nos, por
fim, a compreensão de que o ato de viver traz embutido em si mesmo o direito
ao prazer, e que é legítima a obtenção desse prazer através do corpo.

Daí a importância de estarmos sempre conscientes dos nossos


desejos, consultando a cada momento de vida, o nosso corpo. Estimulando
com essa atitude a autoescuta que necessariamente irá nos conduzir a nossa
fundamental autoestima, criando um circulo vicioso da melhor forma
atendermos ao nosso próprio desejo.

A dose de prazer que nos faz usufruir de uma boa vida redundará,
necessariamente, no prazer daqueles que conosco venham a conviver. Tanto
que, diversas pesquisas vêm sendo feitas no campo da Meditação, em que
têm suas práticas focadas no corpo/prazer uma vez que ele é levado à
sensações prazerosas de tranquilidade e harmonia .

A sensação de prazer que alcançamos, na prática da Biodanza, onde


nos encontramos plenamente presentes na vivência da dança e dos exercícios
com o grupo, dá-se como uma das formas de Meditação a que tanto se tem
comentado nos últimos tempos.

Experimenta-se, portanto, na vivência de exercícios específicos na


linha da Afetividade, no momento em que os corações se encontram nos largos
abraços que trocamos com os companheiros, o que o Instituto Heart Math vem
difundindo através das pesquisas em se mediu as ondas emitidas pelo coração
comprovando-se que não somente os nossos corpos são por elas afetadas.

Assim, o campo irradiado por nosso coração é captado pelos cérebros


e corações das pessoas ao nosso redor. Havendo inclusive a possibilidade de
se medir, quando duas pessoas se tocam ou estão próximas, como as batidas
do coração de uma delas são registradas pela outra, produzindo-se uma
sincronização de ondas. Comprovando-se que a proximidade e o contato entre
os membros do grupo, produz efeitos neurofisiológicos, o que é entendido por
diálogo psicotônico, originários de diálogos silenciosos.

A explicação para tanto advém das experiências que têm sido feitas
com receptores elétricos no corpo, para se verificar os diferentes níveis de
tensão muscular. Sendo que, de acordo com cada situação, somente a
presença de certas pessoas afeta a tensão muscular com um efeito orgânico
involuntário que pode ser medido. Restando evidente que a presença de cada
pessoa poderá representar por exemplo, um estímulo amoroso ou um perigo.

Com a linguagem corpo/emoção priorizada nas práticas de Biodanza ,


onde se enseja presença, movimentos, gestos, expressões, posturas, olhares,
contatos, etc poderão ser deflagradas novas atitudes perante a vida, que
resgatem nosso estado de ser original, não corrompido. Ou, que possa
estimular a mudança naquele que já foi afetado pela desintegração afetivo-
motora-existencial.

Na utilização da linguagem em seu sentido maior, que é pura ação,


estaremos aptos a construir vínculos mais saudáveis, elaborando estilo de vida
num sentido mais ecológico e com isso contribuindo para a formação de uma
cultura menos dissociada. Com essa atitude, promoveremos o fortalecimento
da solidariedade entre os seres, o que vem a ser fundamental, nos dias em
que vivemos, para nossa sobrevivência como espécie.

3.7.2. Como o contato e a carícia podem contribuir para nos sentirmos


mais humanos na era em que se privilegia as relações intermediadas
pelas máquinas.

O contato com carícia realizado de forma afetiva induz trocas a nível


orgânico e existencial, onde são despertadas as fontes de desejo, e o
desenvolvimento do nível de erotismo, favorecendo o bem-estar e a plenitude
do ser. Em consequência, facilitará a integração da identidade e o aumento da
autoestima.

Sob o aspecto orgânico, vários estudos têm demonstrado que o


acariciamento estimula uma série e processos neuroendócrinos que elevam o
tônus vital, incrementando a produção de hormônios que fortalecem o sistema
imunológico, dentre outros benefícios.

Do ponto de vista psicológico, as carícias reduzem a repressão sexual e


a tendência ao autoritarismo. Ela é um ato de íntimo reconhecimento e
valorização da pessoa como um todo e pode manifestar-se de inúmeras
formas, desde um leve roçar intencional nos cabelos até as infinitas formas do
abraço e do encontro sexual.

Todo corpo que não é acariciado começa a morrer. O contato é uma


fonte de saúde e é a ação terapêutica mais importante. Encontrar os caminhos
para que todas as pessoas tenham acesso às carícias, desde as crianças até
os anciãos, é a única revolução que tem sentido.

É importante notar, no entanto, que o contato realizado de forma


mecânica, não é terapêutico, devendo acontecer dentro de um processo
progressivo de comunicação afetiva e de empatia, alcançando como
consequência a qualidade de carícia integrativa.

Daí, a importância de diferenciarmos o contato e a carícia, pois para que


se produza a conexão afetiva, plena de sentido recíproco, mediante a carícia,
necessário se faz que o contato que a originou não seja mecânico, semiológico
ou cognitivo. Abarcando com isso, o sentido terapêutico que propiciará a
dissolução das couraças crônicas.

Nossa pele é o umbral de um mistério maravilhoso e aterrador. A pele


não somente cumpre a função de separar, mas também de unir. O contato,
carregado de intenção erótica, está assinalando o circuito criador da energia
vital.

A emoção de um abraço tem uma qualidade ímpar, pois a proximidade


do outro em um ato recíproco de dar e receber afeto, fortalece o nosso sentido
de humanidade, onde são identificados em simultaneidade o corporal e o
espiritual expressando-se naquele momento.

O abraço em Biodanza é um meio supremo de perceber o outro, como


nosso semelhante, pois no ato do encontro de si com o outro, serão abertas
possibilidades de se alcançar o transe de fusão de duas identidades em uma
identidade maior.

Necessário que exista, no entanto, uma atitude permissiva, muito além


das formalidades culturais, e um sincero desejo de receber o outro. Mas, a
grande surpresa que decorre dessa atitude é a descoberta do nível de
humanização e o grau de evolução afetiva a que podemos chegar.
A prática da Biodanza, na troca dos abraços plenos de presença afetiva
que simboliza a poética do encontro humano, poderá promover, além das
integrações físicas e psicológicas, a expansão da consciência.

O corpo que se permite a troca de afetos em uma entrega autêntica,


ficará capacitado a identificar-se empaticamente com as pessoas,
experimentado ternura pelo outro, expressando-se e comunicando-se
sinceramente. E ainda, lutar pelo bem-estar do outro, escutando-o, valorizando-
o e qualificando-o, além de vincular-se com os membros da espécie humana
sem discriminação de raça ou outras formas de diversidade.

Afetividade é um estado de afinidade para com os seres, capaz de gerar


sentimentos de amor, amizade companheirismo, e seus opostos, como: ira,
ciúmes , inveja e insegurança, entres outros.

Sendo assim, ao nos identificarmos com outras pessoas através da


afetividade tenderemos a compreendê-las, amá-las, protegê-las, mas num linha
oposta, também seremos capazes de chegar ao rechaço e à agressão. Nesse
sentido, a afetividade abarca quaisquer das paixões de ânimo.

A afetividade pode alcançar o chamado “amor diferenciado”, quando é


dirigida a uma pessoa especificamente, e o “amor indiferenciado”, quando
alcança a humanidade como um todo.

As formas patológicas da afetividade são evidentes quando nos


deparamos com atitudes de discriminação social, racismo, injustiça e impulsos
autodestrutivos.

Por ser a expressão da identidade, a afetividade é delineada de forma


débil nas pessoas incapazes de amar, tementes da diversidade, e que
desenvolvem um padrão defensivo nos seus vínculos.

Tem-se ainda nesse sentido, uma patologia da afetividade pouco


conhecida, o “relativismo ético”, que consiste em justificar ações infames com
racionalizações inteligentes. Sendo um comportamento comum das pessoas
individualistas e governos totalitários.

Acrescente-se também, que a afetividade não está necessariamente


ligada à sensibilidade nem a inteligência, por tratar-se um estado evolutivo
superior. O que faz com que pessoas altamente inteligentes, por exemplo, mas
sem capacidade de amor atuem de forma dissociada.

Quando não se apresenta bem integrada, a identidade compromete,


enfim, a unidade completa do organismo, as funções orgânicas, o humor
endógeno, a percepção e o sentido ético.

As pessoas habituadas a uma comunicação que desqualifica o próximo


(vício que ocorre na maior parte das vezes de forma inconsciente), assim
procedem as vezes mascarando sua atitude de “crítica construtiva” e, outras
vezes gerando uma gentil qualificação como companheira da desqualificação a
que realmente pretende.

Podemos nos servir dos exemplos a seguir, para ilustrar essa importante
questão: “Tu és um diamante bruto, sem lapidar”, “És encantadora, só te falta
perder alguns quilinhos”, “ És muito inteligente, só que oportunista”.

Portanto, dançar com o outro, principal fundamento da Biodanza, nos


possibilita sentir a alegria de “ser com o outro”. E, a consistência do vínculo
manifestada nessa integração afetiva propiciará o desabrochar das
identidades, ampliando nossa percepção do eu integrado nas relações consigo,
com o outro e com o todo.

3.8. Afetividade como Princípio Norteador da Amizade

O sentido de “amigo” que passou a orientar as relações na era das


mídias sociais desvirtuou-se de sua origem pois, um número infinito de amigos
não conseguiria alcançar às demandas da amizade.
Como considerar amigos de forma quantitativa quando a qualidade da
relação é o que a define?

A formação de grupos virtuais, tanto para jogos como para conversas ou


namoros on-line acaba por produzir, quando seu uso ocorre de forma
excessiva, um desinteresse cada vez mais acentuado pelas relações
presenciais. Em consequência, sofrerão prejuízos inestimáveis o
desenvolvimento físico, psicológico e emocional do usuário.

As práticas de Biodanza convidam a uma forma de convívio em que a


presença estimulada pelas trocas afetivas e qualificações dos companheiros
complementam-nos em nossa humanidade , de forma que o sentido do ser é
dado pelo olhar do outro.

São oferecidas nessa oportunidade, a possibilidade do estreitamento


das relações sociais entre os integrantes do grupo, incrementando-se as
oportunidades de contato com o consequente aprofundamento da amizade no
seu sentido pleno, uma vez que baseada na confiança, gerada pelos laços de
afetividade estabelecidos.

Por ser motivo que impedirá uma convivência feliz, ao indivíduo que
desenvolve suas relações de forma inautêntica, apresentamos como
alternativa, os conceitos da chamada Ecologia Humana.

A Ecologia Humana vem servir de auxílio à investigação as relações


tóxicas ou nutritivas que modulam desenvolvimento do homem. Cabendo a
cada um, a tarefa de estudar sua estrutura ecológica, que vem a ser o
autoconhecimento, através do chamado Teste de Ecologia humana,
formulando-se as seguintes questões a cada praticante de Biodanza:

1- Quem são as pessoas com as quais tenho relações permanentes?


2- Qual é o nível de nutrição ou toxidade de cada uma delas?
3- Como depurar minha estrutura ecológica humana?
Na prática regular da Biodanza, tornamo-nos conscientes da necessidade
de nos separamos das pessoas tóxicas (agressivas, toxicômanas,
desqualificadoras, etc) com as quais nos relacionamos, por ser sempre
prejudicial, estabelecendo em decorrência, novas relações, chamadas
nutritivas.

Em decorrência dessa consciência, poderemos chegar ao sentimento da


importância da amizade em nossas vidas. Já que se trata de um dos
sentimentos mais profundos e nobres da humanidade.

Na amizade estão contidos o sentido de lealdade, sintonia da consciência,


bem como profundo respeito pelo sentimento do amigo. Trata-se também, de
desenvolver uma atitude que permite ao outro ser livre.

A amizade tem início a partir de um sentimento de simpatia de afinidade,


sendo que essa afinidade é focada na admiração ou complementação
psicológica. Sendo certo que, apesar de suas diferenças, os amigos
normalmente têm visão semelhante sobre o mundo.

Os verdadeiros amigos, conforme o exposto no parágrafo anterior, sentem


satisfação em compartilhar a companhia uns dos outros, pois ao
experimentarem um relacionamento autêntico de trocas afetivas, estarão
verdadeiramente acompanhados, o que propiciará momentos plenos e,
portanto felizes.

Entre os verdadeiros amigos não há rigidez de comportamento, tanto


que, necessariamente irão chegar a um consenso após o surgimento de um
desacordo, pela capacidade que ambos adquiriram de identifica-se com o
sentimento do outro. Estando capacitados, em decorrência, a conservar a
fidelidade do sentimento original e a consequente gratidão pela lembrança de
tudo que já fora vivenciado juntos.

Podemos resumir, por fim, que as principais características afetivas da


amizade são: a empatia, compreensão e comunhão. E, que para vencer o
medo de entrar em intimidade, a Biodanza propõe exercícios em que as
emoções são expressas de forma espontânea e sincera.

Em consequência do que foi desfrutado nos encontros regulares de sua


prática, abre-se a oportunidade para que os encontros na vida não se dêem de
maneira superficial e emocionalmente pobre, pois o outro passará a ser
percebido a partir de seu valor intrínseco, tão humano como nós.

3.9. Biodanza e o Neurônio Espelho

A dependência da tecnologia que se instalou nos dias atuais, a exemplo


dos jogos programados para criar uma sociedade de adictos, com o
consequente malefício gerado por sua natureza sedentária, tem levado um
número expressivo de cientistas a se interessar por suas implicações na saúde
da sociedade como um todo, tendo em vista o crescente número de usuários.

Essa adição em tecnologia vem comprometendo nosso contato com a


natureza, nossos relacionamentos presenciais e, criando uma dependência em
termos químicos de se assemelham à adição por utilização de substâncias
químicas, como a cocaína, por exemplo.

Em uma via oposta, as vivências em Biodanza ativam os circuitos


neurológicos, interferindo diretamente no sistema imunológico e neuro-
endócrino . E isso faz com que os efeitos psicológicos da ação dos
neurotransmissores venham a se manifestar em forma de entusiasmo, prazer
cenestésico, desaceleração, bem estar enfim, tudo em promoção da saúde.

Os neurônios espelho tornaram-se conhecidos por ser um grupo de células


cerebrais fundamentais não só para a socialização entre os seres humanos,
como também para a empatia, entre o ser e o outro. Assim, podemos
exemplificar que os neurônios espelho atuam de forma similar ao cérebro
humano funcionando como uma sala de espelhos, ou seja, ele reflete as ações
que enxergamos em outras pessoas.
São estruturas neurológicas que entram em atividade não apenas quando
o ser humano executa uma determinada ação, mas também quando este
observa alguma determinada ação dentro de um ambiente. Tendo a
responsabilidade básica, de imitar o comportamento de outro ser humano,
como se aquele que estivesse observando, estivesse a praticar a ação.

E, é exatamente por isso que ele tem tanta importância para o


comportamento social do ser humano, pois é por meio da imitação que
aprendemos a andar, a falar, nos comunicando e interagindo com o mundo ao
redor.

Os neurônios espelho foram descritos inicialmente em macaco Rhesus,


disparando quando o macaco realizava ações específicas (como pegar uvas
passa) ou quando ele observava a mesma ação realizada por outro macaco ou
por um pesquisador.

Assim, esse neurônios possibilitam a compreensão da ação e/ou da


intenção de outro animal pela ativação subliminar desta ação nos circuitos
frontoparietais. Esses neurônios estariam envolvidos com a origem da
linguagem humana e sua disfunção poderia causar autismo. Acresça-se ainda,
que os neurônios espelho também podem estar envolvidos com o
reconhecimento da lateralidade de partes do corpo.

Os mecanismos de ação da Biodanza, por sua vez, sofrem a influência


dos neurônios espelho, nesse mesmo sentido. Pois, a interação do grupo, em
que não se utilizam as palavras, faz-se através do movimento.

Esse movimento promoverá a comunicação em uma integração viscero-


motora, enriquecedora das experiências emocionais ao mesmo tempo que
promove o desenvolvimento da integração entre os participantes através de um
vínculo empático.

Importante ressaltar que, ao nos relacionarmos com os outros,


compartilhamos emoções, ficando nosso esquema corporal sujeito a
sensações somáticas táteis, olfativas, prazerosas, dolorosas, etc. Sendo que,
em razão dessa multiplicidade de tipos de sensações compartilhadas, temos a
experimentação direta dos outros humanos como idênticos a nós mesmos,
tanto sob o aspecto sensorial como emocional.

Ao serem repetidos os movimentos com significado emocional, ampliar-


se-á nossa consciência motora juntamente com os aspectos da comunicação.
Sendo que esta ampliação de experiências motoras e integração víscero-
motoras promovidas pela vivência, permitirão o enriquecimento das funções
dos neurônios espelho pela experiência.

Sendo esse tipo de aprendizado inconsciente ocorrendo tanto por


imitação como por repetição, tornará mais enriquecida a base biológica do
comportamento humano, uma vez que o homem está integrado com o todo que
o cerca.

Se por um lado, as alterações nos neurônios espelho podem provocar


graves patologias, como autismo e esquizofrenia, seu perfeito funcionamento,
muitas vezes estimulados por práticas regulares de Biodanza, trará implicação
no desenvolvimento da empatia (capacidade de experienciar aquilo que
experiência nosso semelhante) entre os praticantes.

3.9.1. Não existe mais lugar para a separação mente-corpo segundo a


ciência

O neurocientista Damásio, Antonio R., contradiz a máxima de Descartes


“Penso, logo existo”, colocando o seguinte raciocínio: “Existo (e sinto), logo
penso. Justificando que existimos e depois pensamos, e só pensamos na
medida que existimos, uma vez que o pensamento é na verdade causado por
estruturas e operações do ser. Rolando Toro, traz uma outra máxima,
complementar e aprofundada: “Sinto, logo existo”.
Dessa maneira, dando vida a um novo modelo científico, onde a emoção
caminha de mãos dadas com a razão enfatiza a importância de ambos para o
melhor funcionamento corporal.

Em épocas atuais, novo termo foi cunhado para definir as prioridades que
afetam a sociedade de uma maneira geral: “Posto, logo existo”. Onde estariam
as emoções aí colocadas, para se integrar à razão e produzir algo mais do que
escolher emoji em uma época em que os encontros reais estão minguando?

A título ilustrativo, para corroborar a importância do sentimento para e


evolução do homem, em época em que as relações sofrem devastadoras
influências tecnológicas, transcrevemos a seguinte citação: “As pessoas
quando sentem, fazem-no com o coração, é no trajeto para a cabeça que se
perde a informação.”

FALTA A CONCLUSAO DO TRABALHO


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tela. Apenas pare - e leia. – Bolivar Torres e Jan Niklas Vício frenético- Carol
Luck
Phubbing – uma doença moderna: Jornal O Globo - Revista da Barra, Saúde –
Psicóloga Elizabeth Carneiro

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