Você está na página 1de 27

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFAAT

CURSO DE PSICOLOGIA

VIVIANE APARECIDA CARDOSO DE CAMPOS

AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS INFANTIS E A DEPENDÊNCIA


EMOCIONAL NA FASE ADULTA

ATIBAIA – SP
2020
VIVIANE APARECIDA CARDOSO DE CAMPOS

AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS INFANTIS E A DEPENDÊNCIA


EMOCIONAL NA FASE ADULTA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Centro Universitário UNIFAAT, como
exigência parcial para a obtenção do grau de
Bacharel em Psicologia. Orientador: Prof° Me.
Rafael da Nova Favarin

ATIBAIA – SP
2020
CURSO DE PSICOLOGIA

TERMO DE APROVAÇÃO

VIVIANE APARECIDA CARDOSO DE CAMPOS

Título: “As primeiras experiências infantis e a dependência emocional na fase


adulta”.

Trabalho apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia, para apreciação do


Professor Orientador Me. Rafael da Nova Favarin, que após sua análise considerou
o Trabalho ________________________, com Conceito _____________________.

Atibaia, SP, ______ de ________________ de 2020.

____________________________________________
Prof. Orientador Me. Rafael da Nova Favarin
“Para que os bebês se convertam em
adultos saudáveis, independentes,
dependem totalmente que lhe seja dado um
bom princípio: amor é o nome desse
vínculo.”
(Donald W. Winnicott)
RESUMO

O presente trabalho aborda as primeiras experiências infantis na vida de um


indivíduo e a relação que mantém com o quadro de dependência emocional na fase
adulta deste. Diante disso, este estudo se desenvolveu de modo a responder a
seguinte indagação: de que maneira a ausência ou excesso de cuidados
direcionados à criança na primeira infância pode influenciar no desencadeamento de
uma futura dependência emocional, já na fase adulta deste indivíduo? Aclara-se
aqui, que o objetivo geral desta pesquisa consiste em traçar uma compreensão sob
o viés psicanalítico acerca da dependência emocional do indivíduo em sua vida
adulta, já os objetivos específicos consistem em apresentar os primeiros estágios da
vida do indivíduo e como podem refletir na vida adulta deste e identificar as
possíveis falhas ambientais vividas pelo indivíduo ainda na infância e que podem
corroborar com a ocorrência da dependência emocional em sua vida adulta. Esses
objetivos foram apresentados em forma de eixos, abordados separadamente em
forma de dois capítulos. A pesquisa realizada possui caráter bibliográfico, sendo
assim, para sua confecção, conteúdos e conhecimentos já publicados por outros
autores foram utilizados; além disso, a pesquisa se deu de forma qualitativa,
envolvendo assim, aspectos internos e externos ao sujeito em questão. Como
resultado, evidenciou-se que os primeiros estágios da vida do indivíduo são
fundamentais no que diz respeito às tendências de desenvolvimento deste, embora
não determinantes; tendo isso, quando os primeiros estágios da vida deste indivíduo
são perpassados de forma satisfatória, há uma grande probabilidade de um
desenvolvimento sadio e o alcance de uma vida adulta de mesmo cunho. Constatou-
se também que, ao mesmo modo, as falhas ambientais perpassadas nesses
primeiros estágios de desenvolvimento, podem gerar consequências significativas
para o sujeito, como a dependência emocional deste para com seu parceiro/cônjuge.
Em suma, há uma relação direta entre as primeiras experiências infantis com as
figuras parentais e o modo que esses sujeitos estabelecerão relacionamentos
interpessoais já na vida adulta.

Palavras-chave: Relação Parental. Experiências Infantis. Dependência Emocional.


ABSTRACT

The present work deals with the first childhood experiences in the life of an individual
and the relationship he maintains with the emotional dependence in his adult life.
Therefore, this study was developed in order to answer the following question: how
can the absence or excess of care directed at children in early childhood influence
the triggering of a future emotional dependence, already in the adult phase of this
individual? It is clarified here, that the general objective of this research is to trace an
understanding under the psychoanalytic bias about the emotional dependence of the
individual in his adult life, the specific objectives are: to present the first stages of the
individual's life and how they can reflect in their adult life and to identify the possible
environmental failures experienced by the individual in childhood and which may
corroborate the occurrence of emotional dependence in their adult life. These
objectives were presented in the form of axes, addressed separately in the form of
two chapters. The research carried out has a bibliographic character, so, for its
preparation, contents and knowledge already published by other authors were used;
in addition, the research took place in a qualitative way, thus involving internal and
external aspects to the subject in question. As a result, it became evident that the
first stages of an individual's life are fundamental with regard to the development
trends of the individual, although not determinant; having this in mind, when the early
stages of this individual's life are passed through satisfactorily, there is a high
probability of healthy development and the achievement of an adult life of the same
nature. It was also found that, at the same time, the environmental failures pervaded
in these early stages of development, can generate significant consequences for the
subject, such as his emotional dependence on his partner / spouse. In short, there is
a direct relationship between early childhood experiences with parental figures and
the way that these subjects will establish interpersonal relationships already in adult
life.

Keywords: Parental Relationship. Childhood Experiences. Emotional Dependence.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................07

METODOLOGIA........................................................................................................10

PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS INFANTIS E A RELAÇÃO PARENTAL....................11

FALHAS AMBIENTAIS NA INFÂNCIA E A RELAÇÃO COM A DEPENDÊNCIA


EMOCIONAL NA VIDA ADULTA..............................................................................16

DISCUSSÃO..............................................................................................................21

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................24

REFERÊNCIAS..........................................................................................................25
7

INTRODUÇÃO

O presente trabalho buscará compreender a dependência emocional na fase


adulta percorrendo as experiências infantis no decorrer do seu desenvolvimento.
Busca-se a partir deste tema, responder à seguinte indagação: de que maneira a
ausência ou excesso de cuidados direcionados à criança na primeira infância pode
influenciar no desencadeamento de uma futura dependência emocional, já na fase
adulta deste indivíduo? Através desse questionamento, o referente estudo pretender
trazer para o leitor, uma compreensão geral das possíveis consequências que uma
pessoa pode apresentar a partir dos cuidados que recebe ainda quando criança, em
especial no que diz respeito aos laços interpessoais que esta estabelece e a
dependência emocional que neles a deposita.
Para que este estudo seja desenvolvido a partir do problema de pesquisa
acima colocado, é necessário o estabelecimento de algumas hipóteses que poderão
ou não serem confirmadas após o levantamento bibliográfico. Deste modo, aqui
serão mencionadas as possíveis causas da dependência emocional na vida adulta,
correlacionadas aos cuidados parentais na primeira infância.
Supõe-se que quando criança, o indivíduo necessite de cuidados que
atendam às suas necessidades, cuidados providos especialmente de seus
genitores. Caso essa criança seja submetida à cuidados em excesso possivelmente
quando atingir a fase adulta, poderá esperar das relações construídas,
principalmente no âmbito conjugal, o mesmo cuidado excessivo, manifestando-se
através da dependência emocional com o cônjuge. Do mesmo modo, se a criança
sofrer negligências de seus genitores, provavelmente em sua vida adulta haverá
falhas em seu desenvolvimento emocional.
Sabe-se que o ser humano ao longo de sua vida, estabelece diversos
vínculos, vínculos estes, transparecidos pelas relações sociais, afetivas e
profissionais; os vínculos amorosos merecem uma atenção maior, dado que são
consequências de determinações sociais e históricas, sendo assim, a maneira como
uma relação se configura é resultado de aspectos históricos e sociais que permeiam
o indivíduo (FERREIRA; FIORINI, 2009). Por esse motivo, compreende-se que o
modo como as relações ocorrem, está associado ao que o indivíduo já viveu.
8

Ally (2013) pontua que a dependência emocional nos indivíduos é um


fenômeno que deve ser compreendido além das premissas de ordem médica, já que
deste modo é insuficientemente delimitada. Acrescenta que se trata de uma
problemática que deve ser continuamente estudada, pois assim, profissionais da
Psicologia e demais relacionados à área da saúde, podem acolher de modo
satisfatório sujeitos que sofrem em virtude desta questão.
Bution e Wechsleri (2016) colocam que a pessoa que sofre com a
dependência afetiva, tem sua existência baseada e sustentada pelo amor, de modo
a sujeitar-se à submissão frente ao objeto amado. Há uma necessidade constante
de afetividade extrema e continuada, por parte do objeto amado, o que ocasiona nos
dependentes afetivos, a procura por manutenção dos níveis de satisfação da
dependência. Os autores ainda, colaboram com considerações a respeito da
influência que o desenvolvimento afetivo da infância tem sobre as relações
amorosas futuras do indivíduo.
As colocações citadas acima, contribuem para um entendimento introdutório
acerca do tema, assim como sua relevância para o leitor. Ao decorrer da presente
pesquisa, buscar-se-á apresentar referenciais teóricos que contribuirão com o
esclarecimento da problemática e contextualização de sua ocorrência. Diante do que
já foi explicitado até aqui, considera-se que a temática deste apresenta sua
importância, pois é recorrente na contemporaneidade, a identificação de
relacionamentos interpessoais e conjugais em que há pessoas que demonstrem
uma dependência afetiva, logo mostram-se submissas aos seus parceiros. Sendo
assim, é necessário pontuar aqui, algumas áreas que se beneficiarão com o
desenvolvimento do referente estudo.
O âmbito social se beneficiará com este trabalho, pois através dele, pessoas
que sofrem com a dependência emocional podem ser melhor instruídas e assim
procurarem uma ajuda profissional para resolverem suas questões. Da mesma
forma, os cônjuges das pessoas que sofrem com essa dependência podem também
compreendê-las melhor e assim auxiliá-las com essa questão.
Ademais, o presente estudo poderá contribuir com o aprendizado de casais
que planejam ter filhos, ou mesmo que tiveram recentemente, dado a ligação dos
cuidados parentais para com a criança e o possível desencadeamento de problemas
de ordem emocional que podem suceder no decorrer da vida adulta. Esses casais
poderão atentar-se mais aos cuidados a serem providos aos seus filhos, já que,
9

conforme será apresentado neste estudo, a construção de uma narrativa afetiva


tende a repetição de suas posições sociais e sintomas projetados sobre os filhos.
A área acadêmica poderá beneficiar-se com o presente trabalho, pois com o
desenvolvimento das referentes pesquisas, novos conteúdos e informações
importantes surgirão, as quais poderão ser utilizadas em outros trabalhos
acadêmicos, investigações ou servirem apenas como informações complementares.
Além disso, estudantes das áreas de Psicologia e Pedagogia, que se empenham em
compreender o desenvolvimento infantil, terão grandes contribuições, pois neste
estudo haverá autores de obras clássicas como Winnicott e Freud.
O desenvolvimento do presente estudo também trará contribuições pessoais
para a autora que irá desenvolvê-lo, uma vez que se interessa por essa área e
gostaria de compreender como se dá o processo de dependência emocional na vida
adulta e qual a relação que se estabelece com os cuidados que a pessoa recebe de
seus pais quando criança.
Para a realização deste estudo, o método adotado será qualitativo, com base
no levantamento da literatura científica pesquisada em diversas bases de dados,
entre as quais: Scielo, Google Acadêmico, BVS-Psi, Catálogo de Teses e
Dissertações da CAPES, privilegiando a leitura de artigos, capítulos de livros, teses
e dissertações, bem como textos de autores clássicos.
Por fim, cabe aqui ressaltar que este trabalho terá como objetivo geral, traçar
uma compreensão sob o viés psicanalítico acerca da dependência emocional do
indivíduo em sua vida adulta. Para isso, a pesquisa se desdobrará em dois objetivos
específicos, sendo eles, apresentar os primeiros estágios da vida do indivíduo e
como podem refletir na vida adulta destes e identificar as possíveis falhas
ambientais vividas pelo indivíduo ainda na infância e que podem corroborar com a
ocorrência da dependência emocional em sua vida adulta. Esses objetivos serão
apresentados como forma de eixos, os quais serão abordados separadamente em
dois capítulos.
Desta forma, no primeiro capítulo deste trabalho serão apresentadas as
primeiras experiências infantis, os fatores que a elas estão relacionados, os
diferentes ambientes e relações parentais que a criança pode experienciar. Já no
segundo capítulo, será apresentada e conceituada a dependência emocional do
indivíduo, bem como as possíveis falhas ambientais vivenciadas por ele ainda na
infância que podem estar associadas à ocorrência deste problema.
10

METODOLOGIA

O desenvolvimento deste estudo ocorreu através de pesquisas de natureza


básica, que se caracteriza pela descoberta de novas informações e conteúdos que
colaboram com o andamento da ciência sem haver aplicações previamente
concebíveis, contudo envolvendo interesses gerias (PRODANOV; FREITAS, 2013).
Além disso, a pesquisa adotada para a realização deste trabalho fora a de caráter
qualitativa, que ainda segundo os autores estabelece uma conexão entre mundo
interno e externo do indivíduo, ou seja, envolvendo a subjetividade, interpretação de
fenômenos e atribuição de significados para ele.
Do ponto de vista dos objetivos desse estudo, a pesquisa realizada fora
exploratória, que se refere ao levantamento de hipóteses acerca da problemática do
trabalho, ou descobrir novos enfoques para o tema em questão através de fontes
bibliográficas, o que gera conhecimentos para o pesquisador ao mesmo tempo em
que gera para o leitor (GERHARDT, SILVEIRA, 2009).
Desse modo, foram realizadas pesquisas bibliográficas para a construção
deste trabalho, cujo foi elaborado através de materiais previamente publicados por
outros autores, como em livros, teses, artigos, dentre outros, diferentemente da
pesquisa de campo (PRODANOV; FREITAS, 2013). Os materiais publicados
utilizados para a construção do embasamento teórico do referido estudo, foram
consultados a partir de alguns bancos de dados, sendo eles a Biblioteca Científica
Eletrônica Scielo, BVS Psicologia Brasil, Google Acadêmico, Bibliotecas físicas,
dentre outros. Além disso, algumas obras clássicas e físicas utilizadas nessa
pesquisa são de aquisição pessoal da autora que a desenvolveu.
Autores como Sigmund Freud, Melanie Klein, estudiosos das teorias de
Donald Winnicott, John Bowlby, dentre os demais, foram utilizados para comporem o
desenvolvimento dessa pesquisa, que foi dividida da seguinte maneira: no primeiro
semestre do ano letivo de 2020, a introdução e primeiro capítulo foram
desenvolvidos. Já no segundo semestre deste mesmo ano, foram realizados o
segundo capítulo do estudo, a conclusão e, por fim, a confecção do resumo e
metodologia utilizada para tal. Ao decorrer de todo o ano, os materiais escritos foram
devidamente revisados e corrigidos de modo a atenderem os padrões estabelecidos
pela norma ABNT e pela Instituição de Ensino Centro Universitário UNIFAAT.
11

CAPÍTULO 1
Primeiras experiências infantis e a relação parental

Neste capítulo, será apresentado para o leitor o quão importante as


experiências infantis e a relação parental na infância apresentam-se na vida de um
indivíduo, especialmente no que tange ao desenvolvimento deste até a fase adulta
de sua vida. Vale lembrar que não se procura aqui, aprofundar em uma única teoria
que abarque essa questão, mas sim apresentar as considerações cabíveis ao tema
que alguns autores da psicanálise realizaram.
Introduzindo a relevância do período infantil da vida das pessoas Freud
(1905/2006) contribui com o tema quando pontua que é no período da infância que
surge os transtornos emocionais, que ao serem internalizados evoluem de tal
maneira que quando o sujeito atinge a vida adulta, é acometido por diversos
problemas. Ainda segundo o autor, o maior erro daqueles que estudam a teoria
clássica, se dá pelo fato de que não procuram compreender os problemas que o
indivíduo carrega dentro de si tendo como ponto de partida as suas experiências
infantis, conduzindo os estudos, em geral, partindo apenas da hereditariedade.
Sabe-se que é na infância que o indivíduo internaliza vínculos que percebe ao
seu redor, em especial os vínculos transmitidos pelas relações parentais de modo
verbal ou não verbal. Além do molde de relacionamento internalizado pela criança,
aspectos como crenças, percepções e representações também são mantidas e/ou
modificadas por ela ao longo de sua vida, em especial transmitidas nas relações
interpessoais/conjugais a serem estabelecidas já em sua fase adulta (GUEDES;
MONTEIRO-LEITNER; MACHADO, 2016).
Pode-se compreender que o desenvolvimento do psiquismo e da
personalidade de um sujeito podem ser compreendidos a partir das relações que
este estabelece na infância com seus cuidadores, ou seja, as primeiras experiências
infantis e as relações parentais são determinantes no que tange as relações futuras
que o indivíduo estabelecerá (KLEIN, 1926 apud GOI, 2012).
Segundo a teoria de Klein, o bebê nasce imerso à posição esquizoparanóide,
que abarca as seguintes características: fragmentação do ego; divisão do objeto
externo (seio da figura materna), em seio bom e seio mau; o seio bom gratifica
infinitamente as necessidades do bebê, já o seio mau apenas o frustra. Devido a
cisão do seio da figura materna, uma fantasia inconsciente, o bebê realiza ataques
12

sádicos ao seio mau (SIMON, 1986 apud OLIVEIRA, 2007). Quando o bebê elabora
e supera esses sentimentos e fantasias, surge a posição depressiva, na qual o ego
da criança se integra, assim como o objeto externo, ou seja, o bebê então percebe
que o seio bom e o seio mau correspondem a um único seio, parte da figura
materna. Em decorrência disso, a criança vivencia uma ansiedade depressiva, ou
seja, uma angústia de separação, pois percebe que, na posição anterior
(esquizoparanóide), atacou sua mãe, logo, teme colocá-la, então procura por
reparação, adquirindo, portanto, sentimentos de afeto e defesas para a possível
perda do objeto. Vale ressaltar que essas posições permanecem presentes ao longo
da vida do indivíduo, alternando conforme as circunstâncias vividas por ele,
configurando-se como um protótipo das demais relações objetais. (SIMON, 1986
apud OLIVEIRA, 2007).
Pode-se dizer então, que as vivências mais adequadas no período da infância
possibilita o desenvolvimento de defesas psicológicas mais maduras no indivíduo, o
que por consequência gera melhores padrões de adaptação da personalidade, uma
qualidade satisfatória nos relacionamentos interpessoais desse indivíduo, assim
como beneficia também o desenvolvimento cognitivo dele (RUSS, 2003 apud GOI,
2012).
Entende-se por vivência adequada, uma vivência equilibrada que se dê em
ambiente seguro; o equilíbrio deve existir entre a proteção e cuidados excessivos
que os pais dispõem aos seus filhos e a ausência constante de cuidado que o
indivíduo sente em relação à família (MARTINI, 2012).
Contribuindo com as considerações da autora, Figueiredo (2003) coloca que o
equilíbrio, acima citado, deve ser estabelecido entre o sufocar a individualidade da
criança, expresso pelos cuidados excessivos dos pais para com seus filhos e a
frustração atenuada pela falta de cuidado dos pais para com eles. Sendo assim, a
mãe exerce um papel fundamental no estabelecimento deste equilíbrio, pois deve
ajudar seu filho na conquista de autonomia mantendo uma distância segura para tal,
o que não consiste em uma tarefa fácil. Desse modo, ainda segundo o autor,
entende-se que quando os pais cuidam de seus filhos de modo a não priorizarem a
autonomia deles, exercem o chamado cuidado excessivo, visto que acaba por
sufocar a criança.
A partir disso, deduz-se que independentemente do tipo de experiência vivida
na infância, o indivíduo será constituído a partir do que experienciou. O mesmo
13

acontece com eventos negativos na infância, os traumas. Goi (2012) alega que
várias ocorrências podem se configurar como trauma infantil, sendo elas:
desamparo, negligências, abusos sexuais, afastamento dos cuidadores, morte dos
pais, violência, falta de cuidado, superproteção, excesso de cuidados e controle,
rigidez, dentre outros.
A relação parental que envolve a criança na primeira infância é crucial no que
se refere ao desenvolvimento dela; os pais que se mostram atentos às necessidades
das crianças, que são presentes e sensíveis, sem deixar de considerarem a
autonomia delas, favorece o desenvolvimento satisfatório da sua personalidade. Por
outro lado, se os pais não são presentes com certa frequência no início da vida de
seus filhos, ou mesmo não conseguem identificar as necessidades destes, trarão
consequências para a vida dos mesmos, já que essas crianças poderão se tornar
excessivamente ansiosas no que se refere à separações e a exploração do mundo
(BOWLBY, 1989 apud GOI, 2012).
A consideração acima, assemelha-se com o que Dias (2003) expõe em sua
obra a respeito da Teoria do Amadurecimento de Donald W. Winnicott, na qual
postula que para que a criança atinja seu amadurecimento, ela precisa de um
ambiente facilitador e cuidados suficientemente bons. O ambiente facilitador da
criança, no início, corresponde à mãe suficientemente boa, que consiste naquela
que consegue reconhecer assim como atender as necessidades de seu bebê.
A mãe suficientemente boa possui características como espontaneidade, que
compreende seu bebê como parte de um processo que está em amadurecimento,
desta forma ajuda-o a atingir esse amadurecimento, porém compreende que esse
processo não pertence a ela. A mãe suficientemente boa atende as necessidades do
bebê na medida exata, e não de acordo com suas próprias necessidades (DIAS,
2003).
A autora ainda coloca que o bebê necessita de preocupação e cuidado de
sua mãe falível, e cria confiança em sua mãe justamente por ela ser falível, uma
mãe real, que saiba atender exclusivamente às necessidades de seu filho, por ela
identificadas, e não satisfazer meramente seus desejos.
Silva (2016), também em uma obra pautada em torno da teoria e
considerações realizadas pelo psicanalista Winnicott, em especial no que tange às
primeiras relações materno-infantis, discorre sobre a confiança que o bebê cria com
sua mãe suficientemente boa.
14

As primeiras relações materno-infantis, vão se constituir desde o


nascimento do bebê até os primeiros anos de vida. É uma relação na qual o
par mãe-bebê se comunicará pela relação recíproca que foi desenvolvida
desde a concepção, passando pelo desenvolvimento do bebê em útero, até
o instante do nascimento. A partir daí, uma relação de confiança e
mutualidade vai se estabelecendo, caso tudo corra bem. O bebê
reconhecerá a voz da mãe e o calor do seu corpo, assim como já vivenciava
tudo o que se passava na interioridade do corpo materno. A mãe, por sua
vez, desenvolverá uma relação simbiótica com seu bebê e estabelecerá,
com ele, uma comunicação pautada em experiências não verbais,
oferecendo-se como o primeiro ambiente do qual o bebê precisa para se
desenvolver emocionalmente (SILVA, 2016, p.31-32).

Ainda conforme este autor, segundo Winnicott, há uma gama de experiências


iniciais que o bebê passa com sua mãe, aquela suficientemente boa, que
compreende ações como a amamentação, a maneira em que a mãe direciona o seio
para seu filho, como o auxilia na liberação dos gases após ter mamado, a forma em
que realiza a higiene do bebê e a troca de suas roupas, o toque que direciona à pele
de seu filho despido na hora do banho, os momentos posteriores de enxuga-lo e
vesti-lo, a forma em que prepara e aquece seu bebê para colocá-lo para dormir,
dentre outras ações, que também podem ser realizadas pelo pai do bebê.
As experiências acima citadas correspondem ao cuidado ambiental para com
o bebê, o qual possibilita uma relação de confiança entre os envolvidos, propiciando
um adequado desenvolvimento emocional e maturacional para a criança (SILVA,
2016).
É sabido, a partir das contribuições tecidas até aqui, que a relação
estabelecida entre criança e seus pais, assim como as primeiras experiências que
essa criança perpassa logo na primeira infância, são fundamentais para o
desenvolvimento dela ao longo de sua vida, até que atinja a fase adulta, e, ainda
assim, sofrerá consequências, positivas ou negativas, das relações primitivas que
mantivera com seus pais e cuidadores. Quando a interação da criança com sua
mãe, ocorre de forma segura, em um ambiente responsivo e adequado, não há
sinais de preocupação de seus efeitos; por outro lado, quando há desvios nessas
interações, “abre-se a trilha de investigação para os sinais da psicopatologia”
(FOLINO, 2008, p.92).
Com isso, compreende-se enfim, que as atitudes, relações e circunstâncias
em que se encontram os indivíduos já na fase adulta, poderão ser compreendidos
como reflexo das primeiras experiências infantis, assim como a relação que tivera
com sua família ainda quando pequeno. Partindo desta perspectiva, a psicopatologia
15

adulta, muito é explicada a partir das relações infantis experienciadas, o que será
melhor tratado no segundo capítulo do referente estudo, tendo como foco principal a
dependência emocional que acomete muitos adultos em suas relações.
16

CAPÍTULO 2
Falhas ambientais na infância e a relação com a dependência emocional na
vida adulta

Antes deste capítulo apresentar os estudos realizados acerca das possíveis


falhas ambientais presenciadas pelo indivíduo na infância e sua correlação com a
dependência emocional desencadeada, mostra-se fundamental que se esclareça
aqui a definição da dependência emocional.
Entende-se que a dependência emocional corresponde a um padrão crônico
de insatisfação das demandas emocionais e afetivas, as quais procuram ser
atendidas posteriormente por meio de relacionamentos interpessoais, em sua
maioria relacionamentos conjugais compostos por apegos patológicos (JIMÉNEZ;
RUIZ, 2008).
Segundo Martini (2012), o indivíduo dependente emocional apresenta
características próprias relacionadas à patologia, sendo elas: autoestima inferior,
baixa autonomia, baixa tolerância às frustrações, insegurança elevada, ciúmes em
excesso, ancoragem no que já passou ao longo da vida, autocontrole comprometido
e vulnerabilidade ao sofrimento. Ainda segundo a autora, quando se trata de relação
conjugal, o casal absorve um ao outro, suga a pessoalidade do cônjuge, o que por
consequência faz com que um seja a extensão do outro, ocasionando assim
desgaste relacional e o comprometimento da individualidade, dado a renúncia da
liberdade e autonomia.
A partir dos conceitos aclarados acima, poder-se-á enfim adentrar à questão
específica desse capítulo, ou seja, a correlação das vivências infantis com o
desencadeamento da dependência emocional no indivíduo. Guedes, Monteiro-
Leitner e Machado (2016), esclarecem que as relações primárias vivenciadas pelo
indivíduo são de suma importância, pois caso tenham sido desenvolvidas em um
ambiente seguro podem colaborar com o desenvolvimento do sujeito, já que é
grande a probabilidade deste, ter facilidade em se comunicar, expressar o que
sente, o que pensa e ter confiança e autenticidade nos vínculos que estabelece. Por
outro lado, se o ambiente não for seguro, o indivíduo poderá apresentar dificuldades
em seus futuros relacionamentos, através das falhas de comunicação, pelas
interpretações errôneas de emoções e repetições das situações negativas que tivera
com seus cuidadores/pais na infância.
17

Contudo, a psicanálise de Freud, realiza considerações importantes a respeito


do assunto. O autor pontua que é raro a criança perpassar por uma frustração
universal e absoluta, no sentido de necessariamente, resultar em patologias. Isso se
deve pelo fato do indivíduo poder reagir perante a frustração que o acomete, ou
seja, suportar a privação de sua satisfação sem adoecer; esse indivíduo pode não
ser feliz, pode sofrer devido anseios que possui, mas não adoece (FREUD, 1916-
1917/1976).
Em continuidade, o autor elucida que o indivíduo que aceita um substituto
para sua satisfação, atuará, mesmo sem saber, contra efeitos patogênicos, tendo
isso, entende-se que a passividade do indivíduo frente a frustração é que resulta,
especificamente falando, na patologia. A precondição para a patologia, é a
personalidade do indivíduo recusar-se a tentar outros caminhos e substituições para
sua satisfação, o que acaba por ocasionar sintomas. Em outras palavras, entende-
se que para uma frustração externa tornar-se patologia, o indivíduo deve-se-ar ter
uma frustração interna, que impossibilite outras saídas.
Tornando-se a falar de vivências adequadas, Martini (2012), coloca que caso
o ambiente que a criança esteja inserida apresenta-se seguro, em outras palavras,
se houver para o indivíduo vivências satisfatórias, já especificadas no primeiro
capítulo, é evidente que esse indivíduo consiga se distinguir das demais pessoas, e
assim, estabelecer relações sociais com caráter adaptativo. No entanto, caso a
criança não usufrua de um ambiente que transmita segurança, poderá ter
consequências futuras, expressas na possibilidade deste indivíduo tornar-se
dependente emocional de suas relações interpessoais, o que acaba por prejudicar
sua autonomia, discernimento, julgamento e tomada de decisão.
Boscardin e Kristensen (2011) consideram a infância essencial no que se
refere ao desenvolvimento do sujeito, pontuam também que nesse período algumas
necessidades expressas pela criança devem ser supridas, como por exemplo a
autonomia, a liberdade de expressão, a segurança dos vínculos estabelecidos e o
autocontrole. Contudo, os autores compreendem que nem sempre é possível que
estas necessidades sejam atendidas satisfatoriamente pelos pais, o que leva a
criança a exercer papeis e responsabilidades que não condizem à posição familiar
que se encontra, tudo isso como meio de receber reconhecimento, amor, atenção e
carinho. Essa posição que a criança assume, acaba se tornando familiar para ela,
que por conseguinte a mantém, influenciando de modo negativo nos
18

relacionamentos afetivos que estabelece em sua vida adulta, ocasionando por vezes
a dependência emocional para com o cônjuge.
De acordo com a teoria sistêmica familiar de Bowen, os sujeitos são movidos
por duas forças, sendo elas a individualidade e proximidade. A primeira se refere à
necessidade que o indivíduo apresenta em manter sua intimidade, autonomia e
independência em certos momentos de sua vida; já a segunda refere-se à
capacidade em manter relações interpessoais, assim como criar vínculos com as
demais pessoas (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998).
Segundo os autores, quando essas forças se encontram em equilíbrio, o
indivíduo apresenta-se saudável, já que é necessário que se estabeleça vínculos
com as pessoas e que, ainda assim, tenha independência e a autonomia individual;
a forma como a pessoa concilia ambas as forças é aprendida por meio da família.
Pode-se dizer que existem características fundamentais que envolvem o nível
de diferenciação/indiferenciação da individualidade no indivíduo, são elas:
reatividade emocional, posicionamento do eu e fusão com os outros; a primeira
refere-se à maneira como o sujeito reage frente aos comportamentos intensos
vindos de outras pessoas, sendo assim, quanto mais indiferenciado o sujeito é, mais
sentimentos irá aparecer; o posicionamento do eu diz respeito à postura que o
indivíduo assume quando sente-se pressionado por outra pessoa a tomar alguma
decisão, pois questiona-se se defende suas próprias crenças ou se as cede; por fim,
a fusão corresponde ao sujeito que ainda é muito ligado emocionalmente à família
de origem (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998).
Ainda de acordo com os autores, caso o processo separação-individuação
não fora perpassado na infância por meio das vivências adequadas, o sujeito
provavelmente estará fusionado emocionalmente com sua família de origem e, para
que se identifique isso, basta se atentar à característica principal da indiferenciação
da pessoa, que consiste na ausência de autonomia pessoal que se transparece no
cotidiano do sujeito através de diversos modos, sendo um deles, passível de
observação, corresponderia quando esse indivíduo leva muito em consideração a
opinião alheia ao tomar alguma atitude.
Os autores ainda colocam que sujeitos indiferenciados são facilmente
influenciados pela reatividade emocional, em outras palavras, influenciados pela
emotividade de outras pessoas, o que consequentemente ocasiona nesses
19

indivíduos, dificuldades em diferenciar seus próprios sentimentos de pensamentos,


pois não possui a clara certeza do que de fato pensa ou sente.
Além dessas consequências, o indivíduo é acometido por um predomínio de
emoções, visto que essas emoções tomam conta de todas as situações vividas, o
que por conseguinte leva o indivíduo a reagir emocionalmente, já que a razão se
mantém em segundo plano. Um exemplo claro disso seriam situações em que o
casal possui um conflito conjugal e, ao invés de haver conversas para que então
possam encontrar uma solução mutuamente, desencadeiam desentendimentos e
perdem o controle da emoção, que acaba por dominar a situação conflituosa sem
que haja resolução para o problema em questão (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998).
De acordo com Andrada e Irigonhe (2008), pessoas diferenciadas, por outro
lado, conseguem manter relacionamentos interpessoais/conjugais saudáveis, nos
quais é possível observar que ambos os lados conservam sua autonomia, opiniões e
crenças pessoais. Esses sujeitos possuem uma capacidade adaptativa, sendo
assim, lidam mais facilmente com eventos estressores de ordem externa e
incertezas, além de conseguirem manter um relacionamento íntimo sem misturar ou
fusionar com o outro, o que garante a manutenção da individualidade de cada um.
As autoras ainda esclarecem que o grau de diferenciação do indivíduo para
com sua família de origem fora aprendido na infância, através dos pais, irmãos ou
figuras de maior proximidade, o que posteriormente, na vida adulta, permite-lhe a
formação de uma família nuclear com grau de diferenciação parecido com o que
antes foi aprendido/adquirido na infância.
Assim, é possível estabelecer uma relação entre o nível de diferenciação do
indivíduo com a satisfação adquirida das relações posteriormente estabelecidas
deste, em especial as conjugais. Em outras palavras, pode-se dizer que altos níveis
de diferenciação podem gerar pessoas com maturidade psicológica adequada, logo,
satisfação conjugal, enquanto pessoas indiferenciadas possuem maior probabilidade
de desenvolver sintomas psicológicos, ocasionando muitas vezes a dependência
emocional (ANDRADA; IRIGONHE, 2008).
Pode-se compreender, através de todos os estudos realizados e tecidos até
aqui, que as vivências na infância estão diretamente relacionadas com a maneira em
que o indivíduo se constitui e se relaciona posteriormente. Ademais, buscou-se
esclarecer que quando criança, o indivíduo que recebe de seus pais/cuidadores um
acolhimento que atenda sua necessidade mantendo o respeito para com sua
20

autonomia, como a mãe suficientemente boa descrita por Winnicott, tem maior
probabilidade de se relacionar com outras pessoas de maneira saudável, já que
mantém sua independência e autonomia diante os demais.
21

DISCUSSÃO

O desenvolvimento do presente trabalho contou com bibliografias de


diferentes autores, os quais foram fundamentais para a composição teórica do
estudo. No decorrer dos capítulos apresentados, essas bibliografias conduziram o
tema abordado de modo a traçar uma compreensão sobre ele. Cabe aqui ser
ressaltado novamente, algumas das principais ideias já transcritas anteriormente,
bem como relacioná-las, destacando quais dentre elas se condizem e se apoiam,
assim como quais apresentam conteúdos divergentes.
Como apresentado nos capítulos, alguns autores como Guedes, Monteiro-
Leitner e Machado (2016), Boscardin e Kristensen (2011) e Martini (2012) partilham
da ideia de que as experiencias primárias do indivíduo, ou seja, as vivências que ele
possui na primeira infância com as figuras parentais, estão diretamente associadas
às características que comporão o indivíduo em sua vida adulta, assim como o modo
em que ele se relacionará com as demais pessoas, em especial tratando-se dos
cônjuges, foco desse trabalho. Os autores também atribuem grande importância à
figura materna, já que os cuidados da mãe para com seu bebê determinam o perfil
de desenvolvimento que ele terá. Ressalta-se a seguir, algumas das teorias
utilizadas e seus respectivos autores, que identificam na figura da mãe e nas
experiências primárias, essa responsabilidade fundamental.
Guedes, Monteiro-Leitner e Machado (2016) dissertam a respeito da absorção
que o indivíduo, ainda quando criança, realiza dos vínculos que percebe ao seu
redor, principalmente os transmitidos pelas relações parentais. Segundo esses
autores, a criança internaliza o molde de relacionamento, crenças e representações,
as quais são mantidas e/ou modificadas ao longo da vida, assim como reproduzidas
nas relações interpessoais/conjugais. Consonantemente com os autores, Klein
(1926 apud GOI, 2012), aclara que as relações que o indivíduo quando criança
estabelece com seus cuidadores, são responsáveis pelo desenvolvimento de seu
psiquismo e personalidade, assim, essas experiências da primeira infância
determinam as relações futuras que o sujeito estabelecerá.
Russ (2003 apud GOI, 2012), colabora com o assunto, pois ressalta que
quando o indivíduo perpassa por vivências adequadas na infância, desenvolve
defesas psicológicas maduras, o que ocasiona, por conseguinte, melhores padrões
de adaptação de sua personalidade. Contribuindo, Martini (2012) conceitua as
22

vivências adequadas citadas anteriormente como sendo vivências equilibradas e


que ocorrem em ambiente seguro; o equilíbrio que cita, refere-se ao intermédio entre
cuidados excessivos e a ausência deles. Este equilíbrio corresponde a um aspecto
imprescindível nas vivências adequadas, pontuado não só por Martini (2012), como
também por Figueiredo (2003), quando o autor cita esse equilíbrio como ferramenta
de intermédio do sufocar da individualidade da criança devido ao excesso de
cuidados parentais, e a frustração sofrida pela falta deles. A ideia do equilíbrio
empregado nos cuidados parentais, remete à uma conquista da autonomia da
criança, a qual deve ter sua individualidade preservada, como citado por Bowlby
(1989 apud GOI, 2012).
Dias (2003), em seu estudo acerca das teorias de Donald D. Winnicott,
pontua um novo aspecto que julga ser fundamental na relação da criança com as
figuras parentais, em especial a figura materna: a confiança. A confiança para o
autor, só é possível de se atingir a partir de uma mãe suficientemente boa, que
atende às necessidades do filho, compreendendo o que para ele é melhor, e sendo
falível as vezes, como uma mãe real. A ideia de Dias (2003), embora não aclare
especificamente, também remete aos aspectos equilíbrio, autonomia e
individualidade.
Martini (2012) sintetiza os aspectos que compõem uma vivência adequada na
primeira infância, pontuados pelos autores identificados, e elucida que àquele que
tenha perpassado por experiências primárias adequadas, será capaz de se
diferenciar das demais pessoas, visto que fora preservado sua individualidade e
autonomia. Com isso, esse indivíduo estabelecerá relações sociais adaptativas.
Contudo, se a criança não possuir vivências primárias adequadas, futuras
consequências a acometerá, como a dependência emocional de suas relações
interpessoais, prejudicando assim sua autonomia, discernimento, julgamento e ação.
Nichols e Schwartz (1998) ainda postulam que se o sujeito não obtiver
vivências adequadas, ele estará fusionado com sua família de origem, ou seja, no
relacionamento interpessoal/conjugal, este indivíduo mostra-se isento de autonomia,
preocupado excessivamente com a opinião alheia, influenciado pela reatividade
emocional e dificuldades em diferenciar seus sentimentos e pensamentos.
A partir disso, traça-se uma compreensão da abrangência que representa a
ausência ou excesso dos cuidados parentais e ambientais na primeira infância, visto
23

que ela pode ocasionar ao sujeito diversas consequências no âmbito


relacional/conjugal deste.
Cabe ressaltar, portanto, que através deste estudo, pôde-se confirmar as
hipóteses levantadas no início do trabalho, as quais colocaram em questão se os
cuidados excessivos, ou a falta deles, não poderiam propulsionar a dependência
emocional em relacionamentos nos indivíduos. Cabe também ser pontuado aqui,
que os objetivos do referente trabalho também foram concluídos, visto que fora
apresentado uma compreensão geral das possíveis consequências que uma pessoa
pode sofrer a partir dos cuidados que recebe ainda quando criança, assim como fora
apresentado as primeiras experiências infantis e a relação parental, como também
as falhas ambientais na infância e a relação que estas estabelecem com a
dependência emocional na vida adulta do indivíduo.
Em suma, entende-se que o indivíduo se constitui a partir do que experienciou
em sua infância, ou seja, ele apresenta-se como beneficiário de ações que não
poderiam ser provindas dele próprio, mas sim de seus cuidadores/ambiente, e essas
ações contribuem no desenvolvimento e formação do indivíduo, porém não
determinam, pois como colocado por Freud (1916-1917/1976) o indivíduo pode
reagir perante as situações, em especial às frustração que o acomete, ou seja,
suportar a privação de sua satisfação sem adoecer. Isso porque, esse mesmo
indivíduo que aceita um substituto para sua satisfação, atuará de modo a combater
efeitos patogênicos. Por outro lado, apenas se a passividade do indivíduo se
sobressair perante a situação frustrante, as patologias aparecerão, embora na vida
adulta, esse sujeito também poderá caminhar para a superação dos efeitos
patogênicos.
Com isso, mostra-se evidente a possibilidade de a criança reagir em
situações conflituosas, e não apenas apresentar-se passivamente a elas. Além
disso, é passível de compreensão que o dependente emocional carrega consigo
sentimentos que o faz se sentir inseguro e incapaz de exercer qualquer tipo de ação
que demande sua autonomia.
24

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como aclarado anteriormente, a presente pesquisa atingiu os objetivos que


se propôs, e de acordo com os dados obtidos, de fato a dependência emocional
pode ser fruto de vivências primárias não adequadas, ou seja, àquelas que não
alcançaram o equilíbrio entre os cuidados parentais em excesso, força propulsora
para a falta da individualidade no sujeito e escassez de autonomia, e a ausência
desses cuidados, o que expõe a criança à frustrações e negligências. É de grande
valia que se pontue aqui novamente, que essa falta e excesso de cuidados primários
também compuseram as hipóteses iniciais do trabalho.
A pesquisa bibliográfica apresentou-se muito útil enquanto metodologia, uma
vez que forneceu respaldos teóricos consistentes e amplos, permitindo uma
investigação mais aprofundada a respeito do tema traçado. Além disso, os
conteúdos levantados, embora provindos de autores diferentes, formaram uma linha
tênue e coesa de compreensão, sendo assim, complementaram-se entre si.
O presente trabalho expõe o quão importante os cuidados parentais na
primeira infância se apresentam, embora o reflexo desses cuidados só será
evidenciado na vida adulta do sujeito, especificamente no campo relacional deste, já
que se trata do assunto principal dessa pesquisa; além disso, o trabalho também
apresentou uma perspectiva de indivíduo ativo, ou seja, àquele que não aceita
passivamente as condições que o meio lhe oferece, mas que age de modo a
superar, inconscientemente, sua frustração, atuando indiretamente, para um futuro
isento de patologias advindas dos cuidados parentais insatisfatórios.
Compreende-se enfim, que para um desenvolvimento sadio, sem que as
frustrações levem à psicopatologias, o indivíduo deve contar, na primeira infância,
com cuidados cautelosos e equilíbrio, pois nem mesmo os cuidados em demasia
das figuras parentais é saudável para o indivíduo, uma vez que resulta em uma
fusão família/indivíduo. Sugere-se, portanto, uma atenção maior ao cuidado provindo
dos pais/cuidadores para com seus filhos, pois estes poderão sofrer consequências
futuras advindas desses cuidados.
25

REFERÊNCIAS

ALLY, Elizabeth Zamerul. Codependência ou Dependência Emocional. Realize


Desenvolvendo Inteligências. São Paulo, v.1, n.1, 2013. Disponível em:
http://www.elizabethzamerul.com.br/palestras.php?id=12. Acesso em 07 de
novembro de 2019.

ANDRADA, Edla Grisard Caldeira de; IRIGONHE, Cleusa Aparecida Dalpiaz.


Elaboração de escala de diferenciação do Eu. Revista Caminhos, v. 1, n. 9, 2008

BOSCARDIN, Marina Kayser; KRISTENSEN, Christian Haag. Esquemas iniciais


desadaptativos em mulheres com amor patológico. Revista de Psicologia da IMED,
v.3, n.1, p.517-526, 2011.Disponível em
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistapsico/article/view/85 Acesso em 20 de abril
de 2020.

BUTION, Denise Catricala; WECHSLER, Amanda Muglia. Dependência emocional:


uma revisão sistemática da literatura. Est. Inter. Psicol., Londrina, v.7, n.1, p.77-
101, junho de 2016. Disponível em
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2236-
64072016000100006&lng=pt&nrm=iso. Acesso em 31 de outubro de 2019.

DIAS, Elsa Oliveira. A teoria do amadurecimento de DW Winnicott. Rio de


Janeiro: Imago, 2003. Disponível em
ost&XAmzSignature=7c3104ecb955d782c8300c1c4a03205fbbf293d49886c0c52e24
b442e14ce41b. Acesso em 27 de março de 2020.

FERREIRA, Luis Henrique Moura; FIORONI, Luciana Nogueira. Concepções sobre


relacionamentos amorosos na contemporaneidade: um estudo com
universitários. Anais do XV Encontro Nacional da ABRAPSO, 2009. Disponível em
http://abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_XVENABRAPSO/580.%20concep%
C7%D5es%20sobre%20relacionamentos%20amorosos%20na%20contemporaneida
de.pdf. Acesso em 31 de outubro de 2019.

FIGUEIREDO, Bárbara. Os primórdios da construção do próprio no contexto de


interação mãe-bebê. Psicologia: teoria, investigação e prática. São Paulo, 2003.
Disponível em https://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/4230. Acesso em 25
março de 2020.

FOLINO, Cristiane da Silva Geraldo. Encontro entre a Psicanálise e a Pediatria:


impactos da depressão puerperal para o desenvolvimento da relação mãe-bebê e do
psiquismo infantil. São Paulo, 2008. Disponível em
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-16022009-
161643/publico/folino_me.pdf. Acesso em 25 de março de 2020.

FREUD, Sigmund. Um caso de histeria, Três ensaios sobre sexualidade e


outros Trabalhos. 1901-1905. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud Volume VII. Rio de Janeiro: Imago Editora, 2006.
26

GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de pesquisa. Porto


Alegre, 2009. Disponível em https://books.google.com.br/books?hl=pt-
BR&lr=&id=dRuzRyEIzmkC&oi=fnd&pg=PA9&dq=.+M%C3%A9todos+de+pesquisa&
ots=92WcX1qpLJ&sig=C5bSRhpvyZUUfQoeIWJpygR9HFY#v=onepage&q=.%20M
%C3%A9todos%20de%20pesquisa&f=false. Acesso em 1 de abril de 2020.

GOI, Júlia Domingues. Da dissociação à resiliência: a influência das experiências


infantis no estilo de defesa em adultos. Porto Alegre, 2012. Disponível em
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/55152/000856402.pdf?sequence=
1&isAllowed=y. Acesso em 24 de março de 2020.

GUEDES, Dilcio Dantas; MONTEIRO-LEITNER, Julieta; MACHADO, Karine Cardozo


Rodrigues. Rompimento amoroso, depressão e auto-estima: estudo de
caso. Revista Subjetividades, v. 8, n. 3, p. 603-643, 2016. Disponível em
https://periodicos.unifor.br/rmes/article/view/4879. Acesso em 8 de abril de 2020.

JIMÉNEZ, Maria da Villa Moral; RUIZ, Carlos Sirvent. Dependências sentimentais e


afetivas: etiologia, classificação e evolução. Departamento de Psicologia,
Espanha: 2008. Disponível em
https://www.researchgate.net/profile/Carlos_Sirvent/publication/274954114_Depende
ncias_sentimentales_o_afectivas_etiologia_clasificacion_y_evaluacion/links/552d035
60cf2e089a3ad1b68/Dependencias-sentimentales-o-afectivas-etiologia-clasificacion-
y-evaluacion.pdf. Acesso em 20 de abril de 2020.

MARTINI, Juliana Schwanke. Dependência emocional familiar: possíveis


manifestações nos filhos. Revista da Graduação, v. 5, n. 2, Porto Alegre: 2012.
Disponível em
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/graduacao/article/view/12430/0.
Acesso em 8 de abril de 2020.

NICHOLS, Michael; SCHWARTZ, Richard. Terapia Familiar: conceitos e métodos.


Porto Alegre: Artmed, 1998. Disponível em
https://books.google.com.br/books/about/Terapia_Familiar_Conceitos_e_M%C3%A9
todos.html?id=W6bqy8--
vDkC&printsec=frontcover&source=kp_read_button&redir_esc=y#v=onepage&q&f=f
alse. Acesso em 8 de abril de 2020.

OLIVEIRA, Marcela Pereira. Melanie Klein e as fantasias inconscientes. Winnicott


e-prints, v. 2, n. 2, p. 1-19, São Paulo: 2007. Disponível em
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-
432X2007000200005. Acesso em 8 de abril de 2020.

PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do


trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico-2ª
Edição. Editora Feevale, 2013.

SILVA, Sergio Gomes da. Do feto ao bebê: Winnicott e as primeiras relações


materno-infantis. Psicologia Clínica, v. 28, n. 2, Rio de Janeiro: 2016. Disponível
em https://www.redalyc.org/pdf/2910/291052545003.pdf. Acesso em 25 de março de
2020.

Você também pode gostar