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GRANDE DO SUL
BRUNA MARAFIGA
BRUNA MARAFIGA
The main objective of this work is the study of the institutes of fiduciary alienation
and mortgage in the Brazilian legal system, firstly making a historical survey of said
institutes, also explaining about ownership, social function of ownership, characteristics, the
procedure for recording the guarantees, their effects, forms of extinction and types of
mortgage. Particular emphasis is placed on matters such as the theory of substantial default,
which deals with cases in which the contract has been almost all completed, with negligible
delinquency and by this theory will not terminate the contract, as it approximates considerably
of the final result of the contract. Likewise, the Martian pact, which allows the fiduciary
creditor to become full owner of the thing given in guarantee by reason of non-payment by
the debtor. Also, the possibility of seizure of the rights of the debtor as well as those of the
creditor-fiduciante, the institution of allotment or condominium in the mortgaged property,
where as a rule, the mortgage is indivisible and records the property in its entirety. The art.
1,488 of the CC/02 provides two exceptions that are: in the case of the institution of
subdivision or condominium building. Finally, a brief comparison between the two institutes,
pointing out the main advantages and disadvantages.
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 08
CONCLUSÃO............................................................................................................................. 52
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 55
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INTRODUÇÃO
A alienação fiduciária trouxe muito mais garantia ao credor, comparado aos outros
direitos reais de garantia, com a possibilidade de satisfazer o crédito em caso de
inadimplemento na forma extrajudicial, isto é, forma mais rápida, realizando-se diretamente
no Registro de Imóveis competente.
A hipoteca foi uma das formas mais recente de garantia conhecida no direito romano,
porém a origem do instituto da hipoteca há controversas e é difícil precisar com exatidão o
momento do advento dela, entretanto, é sabido que foi no direito romano que obteve êxito. As
características teriam originado no meio rural, quando o rurícola deixava os bens de seu
trabalho afetados ao cumprimento de uma dívida. Ainda, a hipoteca se confundia com a
origem do penhor, sendo sua dissemelhança o fato de que no penhor a posse do bem é
mantida com o credor, e na hipoteca permanecia com o devedor.
No Brasil, a primeira lei tratando sobre o instituo foi a Lei nº 317/1843, a qual ainda não
estabelecia os princípios de especialização e publicidade, mais tarde a Lei nº 1.237/1864
trouxe importantes alterações, estabelecendo princípios tais como o da especialização,
publicidade, prioridade, entres outros. O código Civil de 1916, disciplinou a hipoteca como
direito real de garantia, deu mais segurança jurídica e utilidade, e atualmente, o Código Civil
de 2002 regula o instituto da hipoteca do art. 1.473 até o art. 1.505.
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Quanto à origem da alienação fiduciária, há controvérsias. Não existe uma única fonte
segura e precisa a respeito. Alguns doutrinadores acreditam que a origem se deu no direito
romano, como é o exemplo de Nader (2016, p. 351, grifo do autor) que afirma “a propriedade
fiduciária surgiu em Roma e nas modalidades fiducia cum amico e fiducia cum creditore” e
que a alienação fiduciária contemporânea teria relação com a fidúcia romana. Assim nos
ensina Chalhub (2017, p. 9, grifo do autor).
Consoante entendimento de Miranda, citado por Diniz (2009, p. 600, grifo do autor),
no direito romano existia a figura da fidúcia cum amico, que se resumia em um contrato de
confiança e não de garantia, em que o fiduciante alienava (transferia) seus bens a um amigo,
mediante a condição de que esses bens fossem restituídos no momento que terminasse as
circunstâncias de risco, tais como: risco de perecer em guerra, viagem, entre outros. Também
existia a fidúcia cum creditore, a qual tinha caráter assecuratório ou de garantia, pois o
vendedor (o fiduciante) transferia seus bens ao credor (o fiduciário) sob a condição de
recuperá-los, dentro de certo prazo, caso efetuasse o pagamento do débito. Tais modalidades
tiveram aplicação na era clássica, entretanto, foram abolidas na Idade Média com o código de
Justiano, também não foram adotadas pelos códigos filiados ao sistema romano.
No direito germânico também havia a fidúcia, mas diferia quanto à natureza e aos
limites do poder jurídico do fiduciário sobre o objeto da fidúcia. Nas palavras de Negratto
(2010, p. 03).
[...] uma vez que nesta o bem era dado em garantia sob condição resolutiva
que, cumprida, determinava o retorno da propriedade ao antigo proprietário,
enquanto que no direito romano o poder jurídico conferido ao fiduciário era
ilimitado, embora se comprometesse a restituir a coisa transmitida tão logo
fosse implementada a obrigação do devedor.
Para Washington Carlos de Almeida (2013, p. 45), a propriedade pode ser definida
como “a situação jurídica consistente em uma relação dinâmica entre uma pessoa, o dono, e
a coletividade, em virtude da que são assegurados àquele os direitos exclusivos de usar,
fruir, dispor e reivindicar um bem, respeitados os direitos coletivos”.
que tal função “é mais evidente na posse e muito menos na propriedade”; daí falar-se em
função social da posse. Na mesma linha, Fredie Didier Júnior (s.d, s.p) menciona que “a posse
é, pois, o instrumento de concretização do dever constitucional de observância da função
social da propriedade”. E ainda, Tartuce (2014, p. 30) apresenta que foram as teorias
sociológicas da posse que deram origem a função social da propriedade, pois a posse era
considerada a exteriorização da propriedade.
Por conseguinte, a posse é indispensável à propriedade para que esta cumpra sua
função social e receba a proteção do sistema. A posse por si só é importante para a sociedade,
pois é através dela que o homem tem possibilidade de atender necessidades, tais como a
moradia, cultivo, desenvolver atividades econômicas e sociais relevantes, a posse é
instrumento essencial de satisfação das necessidades humanas, independente de titularidade.
Daí surgem as chamadas posse moradia e posse trabalho. (TORRES, 2008).
De acordo com Oliveira, citado por Ana Rita Vieira Albuquerque (2002, p. 54), a
Constituição Federal discorre sobre a função social da propriedade, verdadeira norma
principiológica que obriga o proprietário na medida em que integra o próprio conteúdo do
conceito de propriedade. A Constituição Federal, através do seu artigo 6º1, também amplia e
dá relevo aos direitos sociais, às políticas de habitação, de saúde, de segurança social, de
trabalho, de educação e cultura, entre outras, garantindo o conteúdo mínimo dessas políticas,
ainda que entendidas como diretivas da legislação, direito a prestações ou pretensões
jurídicas. Desta forma, os estudos acerca da função social da posse têm sua base teórica não
apenas na compreensão do Direito Privado conforme traçado no Código Civil, mas,
1
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.
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Ana Rita Vieira Albuquerque (2002, p. 15, grifo do autor), justificando a existência e
necessidade de uma função social da posse, esclarece que:
Destarte, não é fácil conceituar o instituto da posse, devido ao fato deste se confundir
com outros institutos, como o da propriedade e o da detenção, motivo pelo qual surgiram
teorias a respeito, dentre elas, a Teoria Subjetiva, de Friedrich Karl Von Savigny, a qual
entende que a posse se configura quando houver a apreensão física, mais o animus, isto é, o
desejo de ter a coisa como própria, e ainda, acredita que a posse é um fato e um direito.
(GONÇALVES, 2011, p. 49).
Maria Helena Diniz (2015, p. 39) explica que “o possuidor é, portanto, o que tem o
pleno exercício de fato dos poderes constitutivos de propriedade [...]”.
A Teoria Objetiva, de Rudolf Von Ihering, que dispõe que a posse se confira com a
simples conduta de dono, independente do corpus e animus. Um exemplo é comodato e que a
posse é um direito (GONÇALVES, 2011). Ainda, “o animus não tem tanta importância em
referência à intenção do agente, exigindo somente a presença do corpus.” (OLIVEIRA, J., 2016
p. 115).
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A alienação fiduciária de bem imóvel é uma forma de garantia real, na qual o devedor
fiduciante transmite a propriedade ao credor fiduciário. Esta propriedade é resolúvel, pois
com o pagamento da dívida ou cumprimento da obrigação que constitui objeto do contrato, a
propriedade volta ao devedor fiduciante. Conforme conceito de Chalhub (2009, p. 220).
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Art. 1.225. São direitos reais: I - a propriedade; II - a superfície; III - as servidões; IV - o usufruto; V
- o uso; VI - a habitação; VII - o direito do promitente comprador do imóvel; VIII - o penhor; IX - a
hipoteca; X - a anticrese; XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; XII - a concessão de
direito real de uso; e XIII - a laje.
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Importante atentar ao fato de que a Lei da Alienação fiduciária não faz restrição sobre
quem pode ser credor fiduciário, permitindo a qualquer pessoa física ou jurídica tornar-se
titular da propriedade fiduciária com função de garantia3. (CHALHUB, 2017; BRASIL,
1997).
Nesta mesma linha o artigo 51 da Lei nº 10.931/2004 discorre: “Sem prejuízo das
disposições do Código Civil, as obrigações em geral também poderão ser garantidas, inclusive
por terceiros (...), por alienação fiduciária de coisa imóvel”. Com base neste artigo, a
propriedade fiduciária de bens imóveis tem sido empregada em garantia de obrigações em
geral, tanto nas operações no mercado financeiro, como garantia de empréstimos de capital de
giro, quanto em garantia de cumprimento de obrigações de dar ou fazer, esta última com
menor frequência. (CHALHUB, 2017; BRASIL, 2004).
O artigo 22 da Lei de Alienação Fiduciária dispõe que a referida lei regula “o negócio
jurídico pelo qual o devedor, ou fiduciante, com o escopo de garantia, contrata a transferência
ao credor, ou fiduciário, da propriedade resolúvel de coisa imóvel”. (BRASIL, 1997).
Também sobre negócio jurídico, Karl Larenz citado por Carlos Roberto Gonçalves
dispõe: “Negócio jurídico é um ato, ou uma pluralidade de atos, entre si relacionados, quer
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Art. 22. A alienação fiduciária regulada por esta Lei é o negócio jurídico pelo qual o devedor, ou
fiduciante, com o escopo de garantia, contrata a transferência ao credor, ou fiduciário, da propriedade
resolúvel de coisa imóvel. § 1o A alienação fiduciária poderá ser contratada por pessoa física ou
jurídica, não sendo privativa das entidades que operam no SFI, podendo ter como objeto, além da
propriedade plena.
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sejam de uma ou de várias pessoas, que tem por fim produzir efeitos jurídicos, modificações
nas relações jurídicas no âmbito do Direito Privado”. (2011, p. 320).
Assim sendo, ao devedor fiduciante cabe a posse direta do imóvel, podendo usar o
imóvel e exercer todos os direitos de legítimo possuidor e a expectativa de receber sua posse
indireta, qual seja, a propriedade do bem, sendo apenas necessário seu adimplemento, ao
credor, por sua vez, como garantia do crédito que conferiu ao devedor fiduciante, cabe a posse
indireta.
Motivo pelo qual, a propriedade é resolúvel, pois o devedor transfere ao credor com
escopo de garantia em caráter temporário, a propriedade é inerente ao próprio instituto, que é
o cumprimento da obrigação por parte do devedor e obviamente a extinção de débito.
Entretanto, não pode ser confundida com cláusula resolutiva da propriedade, como
menciona Rizzardo (2009, p. 461) em que “resolve-se e revoga-se a propriedade em razão de
uma lei ou de uma cláusula contratual. No próprio título está inserida a possibilidade de sua
extinção”. O artigo 121 do Código Civil dispõe que “considera-se condição a cláusula que,
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A alienação fiduciária pode ser extinta pelo pagamento da dívida e seus encargos, na
qual a propriedade plena do imóvel retorna ao devedor fiduciário revertendo a propriedade ao
seu patrimônio. O credor fiduciário deverá no prazo de trinta dias, a contar da data de
liquidação da dívida, fornecer o respectivo de termo de quitação ao devedor fiduciante, sob
pena de multa, à vista do referido termo, o Oficial competente do registro de Imóveis
procederá com a averbação do cancelamento do registro da alienação fiduciária. (BRASIL,
1997).
Por outro lado a alienação fiduciária pode ser extinta pelo inadimplemento da
obrigação, de forma que, quando vencida e não paga a dívida, no todo ou em parte,
transcorrido o prazo de carência, o credor deve requerer ao Oficial do Registro de Imóveis
competente (aquele em que estiver matriculado o imóvel objeto da garantia) a intimação do
devedor fiduciário para que purgue a mora no prazo de quinze dias (BRASIL, 1997).
Caso o leilão resulte positivo, o credor, no prazo de cinco dias que se seguirem à
venda do imóvel, deduzido os valores da dívida e das despensas, inclusive encargos, entregará
o saldo remanescente, compreendido o valor da indenização de benfeitorias, ao devedor,
restando a reciproca quitação. Todavia, se no segundo leilão o maior lance for inferior ao
valor da dívida e as demais despesas, incluindo, os prêmios de seguro, dos encargos legais,
tributos e contribuições condominiais, o credor está desobrigado a entregar qualquer
importância mas no prazo de cinco dias a contar da data do segundo leilão, dará a quitação da
dívida ao devedor (BRASIL, 1997).
No próximo capítulo será exposto sobre o instituto da hipoteca, sua evolução histórica
no Brasil, características, espécies e entre outras informações.
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Art. 37-A. O devedor fiduciante pagará ao credor fiduciário, ou a quem vier a sucedê-lo, a título de
taxa de ocupação do imóvel, por mês ou fração, valor correspondente a 1% (um por cento) do valor a
que se refere o inciso VI ou o parágrafo único do art. 24 desta Lei, computado e exigível desde a data
da consolidação da propriedade fiduciária no patrimônio do credor fiduciante até a data em que este,
ou seus sucessores, vier a ser imitido na posse do imóvel.
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A hipoteca é um direito real de garantia por meio do qual uma coisa imóvel garante o
pagamento da dívida, não transferindo, entretanto, a propriedade, nem mesmo a posse indireta
do imóvel, conforme preceitua Gonçalves (2011, p. 592): “hipoteca é o direito real de garantia
que tem por objeto bens imóveis, navio ou avião pertencentes ao devedor ou a terceiro e que,
embora não entregues ao credor, asseguram-lhe, preferencialmente, o recebimento de seu
crédito” e Pereira (2016, p. 350): “hipoteca é o direito real de natureza civil, incidente em
coisa imóvel do devedor ou de terceiro, sem transmissão da posse ao credor”. Ainda, acerca
do conceito de hipoteca, Diniz nos traz o seguinte (2004, p. 527):
A hipoteca está regulamentada no código civil de 2002, inicialmente em seu art. 1.225,
que preceitua: “são direitos reais: IX - a hipoteca”. Ainda, o art. 1.473 elenca o que pode ser
objeto de hipoteca, conforme segue:
As garantias reais não foram comuns no cotidiano romano. A fiança era o meio mais
importante de garantia de créditos, pois, em virtude da inadimplência, se podia escravizar o
devedor ou até matá-lo. A hipoteca foi uma das formas mais recentes de garantia conhecida
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no direito romano. Mais próximo do advento do Império Romano, no século I a.C, ela podia
ser escrita ou verbal. Há, contudo, divergências quanto a origem do instituto da hipoteca e é
difícil precisar com exatidão o momento do advento dela, sabendo-se somente que foi no
direito romano em que o instituto passou a ter êxito. (PAIVA, 2015).
Venosa (2011) aduz que a hipoteca obteve as suas características no meio rural, quando
o rurícola deixava os bens de seu trabalho afetados ao cumprimento de uma dívida. A
hipoteca se confundia com a origem do penhor, sendo sua dissemelhança o fato de que no
penhor a posse do bem é mantida com o credor e na hipoteca permanecia com o devedor.
No Brasil, a primeira lei tratando sobre o instituo foi a Lei nº 317/1843, a qual ainda não
estabelecia os princípios de especialização e publicidade. A Lei nº 1.237/1864 trouxe
importantes alterações, estabelecendo os princípios da especialização, publicidade, inscrição e
prioridade, criando o registro geral hipotecário. Por sua vez, o código Civil de 1916
disciplinou a hipoteca como direito real de garantia, deu mais segurança jurídica e utilidade, e,
atualmente, o Código Civil de 2002 regula o instituto da hipoteca do art. 1.473 até o art.
1.505. (VENOSA, 2011).
pretende garantir; e) pode haver mais de uma hipoteca no imóvel (1º, 2º, 3º grau), mas a
satisfação do crédito deve respeitar a anterioridade no registro. (GONÇALVES, 2011).
Quanto ao instrumento contratual para instituição da hipoteca, ele pode ser público ou
particular. Público, quando o negócio jurídico for acima de 30 salários mínimos nacionais.
Particular, quando for inferior a 30 salários mínimos nacionais, ou quando autorizado por Lei.
Assim dispõe o Art. 108 do CC/02:
A hipoteca legal, como o próprio nome já diz, existe quando a lei exige a constrição de
um bem para garantir determinadas obrigações, objetivando proteger determinadas pessoas
que se encontram em certas situações, ou simplesmente, que por sua condição, merecem a
tutela. É a condição de credor e não do crédito, onde arrazoa a sua constituição, de acordo
com o art. 1.489 do CC/02:
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Por fim, temos a hipoteca cedular, consubstanciada em uma garantia real do pagamento de
dívida originária de uma operação de financiamento, formalizada através de cédula de crédito.
Encontrando-se em leis esparsas como: cédula de Crédito Rural - Decreto-Lei 167/69; Cédula
de Crédito Comercial: Lei nº 6.840/80; Cédula de Crédito Industrial: Decreto-Lei nº 413/69;
Cédula de Crédito Bancário: Lei nº 10.931/04; Cédula de Crédito Imobiliário: Lei nº
10.931/04; Cédula de Crédito à Exportação: Lei nº 6.313/75; Cédula de Produto Rural: Lei nº
8.929/94.
Da mesma forma que a alienação fiduciária, a hipoteca precisa ser registrada no órgão
competente. No caso de imóveis, como anteriormente já mencionado, a inscrição do registro
deverá ser efetivada no Registro de Imóveis da circunscrição que estiver localizado o bem,
conforme orienta o art. 1.492 do CC/02: “as hipotecas serão registradas no cartório do lugar
do imóvel, ou no de cada um deles, se o título se referir a mais de um. Parágrafo único.
Compete aos interessados, exibido o título, requerer o registro da hipoteca”. (BRASIL, 2002).
Quanto aos princípios que devem ser observados para o registro, tem-se os seguintes:
Princípio da Continuidade (arts. 195, 196, 197, 222, 223, 225, 228, 229 e 237 da
Lei n. 6.015/73 e Art. 315, VI da CNNR/RS): impede o lançamento de qualquer ato registral
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Art. 495. A decisão que condenar o réu ao pagamento de prestação consistente em dinheiro e a que
determinar a conversão de prestação de fazer, de não fazer ou de dar coisa em prestação pecuniária
valerão como título constitutivo de hipoteca judiciária. [...] § 5o Sobrevindo a reforma ou a invalidação
da decisão que impôs o pagamento de quantia, a parte responderá, independentemente de culpa, pelos
danos que a outra parte tiver sofrido em razão da constituição da garantia, devendo o valor da
indenização ser liquidado e executado nos próprios autos.
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Prioridade e Preferência (arts. 12, 174 e 182 ao 186 da Lei nº 6.015/73, e Art. 315,
VII da CNNR/RS: apresentado um título no serviço registral competente, o mesmo deverá
ser protocolado, garantindo a prioridade do direito, isto é, o primeiro que apresentar um título
no Registro de Imóveis terá assegurado seu direito posto em controvérsia com outro. Nesse
sentido, menciona o art. 1.493 do CC/02 (PAIVA, 2015).
Princípio da Especialidade Objetiva (arts. 176, § 1º, II, itens 3, e 222 e 225 da Lei
nº 6.015/73, e Art. 315, X da CNNR/RS): a lei exige a completa descrição do imóvel e a
referência à sua matrícula no título que ensejará um registro, com a finalidade de se alcançar a
certeza quanto ao bem, evitando que se realize um registro de forma equivocada. (PAIVA,
2015).
Especialidade Subjetiva (art. 176, § 1º, II, item 4 da Lei nº 6.015/73 e Art. 315, XI
da CNNR/RS): exige a qualificação completa das partes, isto é, devedor, credor, terceiro
garantidor. (PAIVA, 2015).
Ainda sobre o registro da hipoteca, o art. 1.494 do CC/02 apresenta uma peculiaridade,
conforme segue transcrição do dispositivo: “Não se registrarão no mesmo dia duas hipotecas,
ou uma hipoteca e outro direito real, sobre o mesmo imóvel, em favor de pessoas diversas,
salvo se as escrituras, do mesmo dia, indicarem a hora em que foram lavradas”. (BRASIL,
2002).
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Logo, instituídas duas hipotecas ou mais, com credores diferentes, estas não serão
registradas no mesmo dia, para possibilitar a identificação de qual delas é prioritária, exceto
quando indicarem a hora em que foram lavradas, ficando apenas a ressalva de que o direito de
preferência e a ordem do registro se dá em conformidade com a ordem cronológica de
protocolo.
Como ensina Catarina Monteiro Pires, citada por Lima (s.d, s.p):
Portanto, ainda que não haja previsão legal sobre o Pacto Marciano, já existe doutrina
sobre tal assunto, mesmo que escassas, permitindo a sua estipulação em contratos de
alienação fiduciária. A estipulação do pacto marciano permite maior celeridade na
amortização da dívida nos casos em que o credor tenha interesse em adquirir o bem dado em
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garantia, evitando, por conseqüência, que o referido bem seja adquirido por preço vil em
prejuízo do devedor.
Como já foi visto no presente trabalho a alienação fiduciária é uma forma de garantia
real, na qual o devedor fiduciante transmite a propriedade ao credor fiduciário. Esta
propriedade é resolúvel, pois com o pagamento da dívida que constitui objeto do contrato, a
propriedade volta ao devedor fiduciante. Como a propriedade não é mais do devedor, não
pode haver penhora sobre a propriedade, entretanto, os direitos do devedor fiduciante são
penhoráveis bem como os direitos do credor fiduciário.
A teoria do adimplemento substancial trata-se dos casos em que o contrato tiver sido
quase todo cumprido, sendo a mora insignificante. Por esta teoria não caberá extinção deste,
pois aproxima-se consideravelmente do resultado final do contrato.
Na lição de Flávio Tartuce (2011, p. 251) pela teoria de adimplemento substancial “em
hipóteses em que o contrato tiver sido quase todo cumprido, não caberá a sua extinção, mas
apenas outros efeitos jurídicos, visando sempre a manutenção da avença”.
A teoria não está prevista na legislação, mas consubstanciada nos princípios da boa-
fé objetiva, consoante art. 422 do CC/02, “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na
conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”, da
função social dos contratos, art. 421 do CC/02 “A liberdade de contratar será exercida em
razão e nos limites da função social do contrato”, da vedação ao abuso de direito, art. 187 do
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Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se
faça pelo modo menos gravoso para o executado. Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a
medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob
pena de manutenção dos atos executivos já determinados.
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CC/02 “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes” e ao enriquecimento sem causa, art. 884 do CC/02 “Aquele que, sem justa
causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido,
feita a atualização dos valores monetários”. (BRASIL, 2002).
Por mais que a Lei n. 9.514/97 seja uma norma especial nova em relação ao código de
defesa do consumidor (CDC), inclusive prevalecendo sobre este, o CDC é aplicável nos
contratos de alienação fiduciária desde que atendidos os requisitos estabelecidos no código
consumerista, de relação de consumidor e fornecedor, até porque uma norma não exclui outra.
Mas há dúvidas sobre a aplicabilidade no que diz respeito ao art. 53 do CDC, pois a
Lei n. 9.514/97 prevê a restituição do montante que superar o valor da dívida no caso de
alienação, se retidos, esses valores constituiriam enriquecimento ilícito do fiduciário (credor).
É o que dispõe o art. 27, §4º da Lei n. 9.514/97:
Na opinião de Nelson Nery Junior, citado por Luiz Antonio Scavone Junior (s.d, s.p.):
Dito isso, o CDC proíbe a perda total das parcelas, o que não é impossível segundo a
Lei n. 9.514/97, pois das parcelas pagas pelo consumidor fiduciante, devem ser descontados
também os prejuízos causados ao credor, citando-se como exemplos, leilão, impostos ou
condomínios. Podendo haver a possibilidade de não restar quantia a ser devolvida para o
devedor.
Por isso, a regra do art. 53 do CDC não pode ser aplicada de maneira
invariável a todos os casos concretos de alienação fiduciária, mas somente
àqueles casos em que o valor do bem alienado fiduciariamente supere o
valor da dívida e encargos, e é nesses casos que o CDC que assegurar a
equidade e o equilíbrio das relações contratuais, evitando que o mutuante
venda o bem por valor superior ao do seu crédito e se aproprie do excesso.
(2017, p.347).
Por sua vez, o loteamento é a divisão de uma grande área de terra (um imóvel) em
lotes menores destinados à edificação, esses lotes viram imóveis autônomos, consoante
art. 2º, § 7º, Lei nº 6.766/797.(BRASIL, 1979).
Necessário destacar que nada impede que o proprietário requeira o registro da hipoteca
sobre a sua parte ideal, pois os imóveis têm matriculas autônomas, não havendo impedimento.
A legislação não prevê prazo para as partes providenciarem o fracionamento da hipoteca, mas
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Art. 2º. O parcelamento do solo urbano poderá ser feito mediante loteamento ou desmembramento, observadas
as disposições desta Lei e as das legislações estaduais e municipais pertinentes. [...] 7o O lote poderá ser
constituído sob a forma de imóvel autônomo ou de unidade imobiliária integrante de condomínio de lotes.
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enquanto perdurar o ônus, nada impede que seja requerida a divisão. Sob outra perspectiva, o
credor somente poderá se opor ao fracionamento quando provar que este importa diminuição
na garantia. (VENOSA, 2011).
Ambos os institutos são formas de garantia real como anteriormente explanado, mas as
principais diferenças entre eles são: na hipoteca, o devedor detém a posse plena sobre o
imóvel, enquanto na alienação fiduciária a propriedade sobre o imóvel é desmembrada, de
modo que o devedor detém apenas a posse direta, sendo a propriedade transferida ao credor.
(CHALHUB, 2017).
desde o registro, as garantias reais estabelecidas por quem não era dono". A eficácia desta
nova garantia é subordinada ao advento de uma condição suspensiva, que é o total
cumprimento do primeiro contrato. Ressalta-se que não se trata de alienação em 2º grau, mas
sim de uma nova alienação que só terá eficácia quando averbado o cancelamento da primeira
alienação fiduciária pelo integral pagamento. (CHALHUB; DANTZGER, s.d.).
Os dois institutos poderão ser formalizados por instrumento público ou particular, mas
só no caso da alienação fiduciária terá efeito de escritura pública, ainda, para surtirem efeitos
perante terceiros é necessário o assentamento no Registro de Imóveis, devido aos princípios,
principalmente da publicidade, continuidade e prioridade. (BRASIL, 2002).
Em relação à execução, o bem objeto de hipoteca poderá apenas ser executado via
judicial, enquanto na alienação fiduciária poderá ser executado judicialmente ou
extrajudicialmente. Esse é o principal ponto para o enaltecimento da alienação fiduciária em
relação à hipoteca, pois o procedimento de execução extrajudicial é mais célere e menos
burocrático. (BRASIL, 2002; BRASIL, 1997).
CONCLUSÃO
No Brasil, a primeira lei tratando sobre o instituto da hipoteca foi a Lei nº 317/1843.
Mais tarde, a Lei nº 1.237/1864 trouxe importantes alterações e, meio século depois, o código
Civil de 1916 disciplinou a hipoteca como direito real de garantia, dando mais segurança
jurídica e utilidade. Atualmente, o Código Civil de 2002 regula o referido instituto.
Também, neste trabalho versou-se acerca do pacto marciano nos contratos de alienação
fiduciária, o qual permite que o credor fiduciário se torne proprietário pleno da coisa dada em
garantia, em razão do não pagamento pelo devedor fiduciário, obrigando-se a entregar a este a
diferença entre o valor da dívida e o justo valor da coisa. Frisou-se que o pacto marciano é
diferente do pacto comissório, vedado no ordenamento jurídico brasileiro.
Observou-se que o objeto de hipoteca poderá apenas ser executado via judicial,
enquanto na alienação fiduciária poderá ser executado judicialmente ou extrajudicialmente.
Esse é o principal ponto para o enaltecimento da alienação fiduciária em relação à hipoteca,
pois o procedimento de execução extrajudicial é mais célere e menos burocrático.
Analisou-se que o credor fiduciário não concorre com demais credores providos de
privilégios legais para satisfação do seu crédito, não integrando o bem dado em garantia
fiduciária no concurso de credores, ao passo que na hipoteca, o credor concorre com os
credores de crédito de origem trabalhista, fiscal e quirografários.
Isto posto, concluiu-se com o presente trabalho, que a alienação fiduciária está em
vantagem em relação à hipoteca, motivo pelo qual é a principal forma de garantia no
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