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Nº 362 Outubro de 2019 Órgão Oficial do Corecon-RJ e Sindecon-RJ

Privatização escancarada

Ladislau Dowbor, Marcio Pochmann,


Antonio Lacerda, Adhemar Mineiro
e Marcelo Carcanholo discutem
o processo de privatização,
radicalizado no governo atual.

Primeiro artigo da série do Fórum sobre o orçamento da cidade analisa a dívida carioca
2 Editorial Sumário

Privatização escancarada Privatização ....................................................................................... 3


Ladislau Dowbor
Esta edição volta ao tema da privatização, processo radicalizado no go- Privatizações: além do discurso demagógico
verno Bolsonaro, que pretende vender até empresas lucrativas e estratégi-
cas como a Eletrobrás, para não citar os planos de entrega da Petrobrás. Privatização ....................................................................................... 5
Ladislau Dowbor, da PUC-SP, critica o maniqueísmo do debate en- Marcio Pochmann
tre privatização e estatização. Há atividades que funcionam melhor no Sobre o papel do Estado na economia
setor privado e outras que precisam ficar com o Estado. Mas não é essa
a racionalidade que guia as privatizações atuais, em geral negociatas pa- Privatização ....................................................................................... 7
ra que grupos privados, nacionais e internacionais, se apropriem de pa- Antonio Corrêa de Lacerda
trimônio público. Neoliberalismo, privatização e autoengano
Marcio Pochmann, da Unicamp, faz um interessante histórico do li-
beralismo e processos de estatização e privatização no Brasil. Os pres- Privatização ....................................................................................... 9
supostos do anarcocapitalismo ganharam relevância no governo Bolso- Adhemar S. Mineiro
naro, engajado em desfazer, não reestruturar, o setor produtivo estatal,
entregando-o a empresas privadas nacionais ou estrangeiras. A Evolução do PIB em 2019:
Antonio Lacerda, do Cofecon, entende que a privatização não é a o país já está comprometendo 2020
solução para os problemas econômicos do país, porque gera receitas de
uma só vez, que apenas financiam gastos correntes; não origina novos in- Privatização ..................................................................................... 11
vestimentos; tende a aumentar as despesas em dólar sem produzir recei- Marcelo Dias Carcanholo
tas na mesma moeda; e pode criar monopólios privados. Desestatização e a panaceia
Adhemar Mineiro, da UFRRJ, ressalta que a venda de empresas pú-
blicas dará aos investidores externos e internos a chance de se apropria- da privatização
rem de ativos, sem que haja expansão da capacidade produtiva. Os nú-
meros e a política econômica em curso indicam que 2020 será mais um Fórum Popular do Orçamento ........................................................ 13
ano – o sexto – de crise. A evolução da dívida municipal:
Marcelo Carcanholo, da UFF, critica a panaceia da privatização, sorte ou planejamento?
apresentada como solução, por exemplo, para o déficit fiscal, mesmo no
caso da venda de estatais lucrativas. Ou para a redução da dívida públi- Agenda de cursos................................................................... 16
ca, desconsiderando que ela tem outros determinantes. A privatização é Balanço patrimonial
um grande negócio... para quem compra.
Fora do bloco temático, publicamos o primeiro artigo de uma série
do Fórum sobre o orçamento da cidade do Rio de Janeiro, motivada pela O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Passa-
rinho, às segundas de 9h às 10h e de terça a sexta de 8h às 10h, na Rádio Bandei-
proximidade das eleições municipais de 2020. O primeiro texto analisa a rantes, AM, do Rio, 1360 kHz ou na internet: www.aepet.org.br.
evolução e a composição da dívida carioca entre 2010 e 2019.

Órgão Oficial do CORECON - RJ Conselheiros Efetivos: 1º TERÇO: (2017-2019) Arthur Camara Cardozo, João Manoel Gon-
E SINDECON - RJ çalves Barbosa, Regina Lúcia Gadioli dos Santos - 2º TERÇO: (2018-2020) Antônio dos Santos
Issn 1519-7387 Magalhães, Flávia Vinhaes Santos, Jorge de Oliveira Camargo - 3º TERÇO: (2019-2021) Carlos
Henrique Tibiriçá Miranda, Thiago Leone Mitidieri, José Antônio Lutterbach Soares. Conselheiros
Conselho Editorial: Sidney Pascoutto da Rocha, João Manoel Gonçalves Barbosa, Carlos Henrique Suplentes: 1º TERÇO: (2017-2019) Andréa Bastos da Silva Guimarães, Gisele Mello Senra Rodri-
Tibiriçá Miranda, Marcelo Pereira Fernandes, Gisele Rodrigues, Wellington Leonardo da Silva, Pau- gues, Marcelo Pereira Fernandes - 2º TERÇO: (2018-2020) André Luiz Rodrigues Osório, Gilberto
lo Passarinho, Sergio Carvalho C. da Motta, José Ricardo de Moraes Lopes e Gilberto Caputo San- Caputo Santos, Miguel Antônio Pinho Bruno - 3º TERÇO: (2019-2021) José Ricardo de Moraes
tos. Jornalista Responsável: Marcelo Cajueiro. Edição: Diagrama Comunicações Ltda-ME (CNPJ: Lopes, Clician do Couto Oliveira.
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Privatização 3

Privatizações: além do discurso demagógico


Ladislau Dowbor* um ano, é simplesmente absurdo termediação financeira que usam
em termos econômicos, e um des- os seus recursos para dinamizar a

P ara ir direto ao fato principal,


a realidade é que quando es-
tamos “privatizando”, trata-se em
falque em termos de equilíbrio das
contas públicas. Operação seme-
lhante foi feita com a Vale do Rio
produção e o desenvolvimento do
país. Não há como não ver que a
paralisia econômica que vivemos,
geral de uma negociata que permi- Doce, exemplos não faltam. Eu com queda do PIB de mais de 7%
te a grupos privados, nacionais e considero o que estão fazendo um entre 2015 e 2016, e a estagnação
internacionais, se apropriarem de crime contra a economia nacional. desde então, está diretamente liga-
patrimônio público. Este patri- As farsas hoje têm nome mais da à agiotagem generalizada que
mônio público foi financiado pe- digno, quase profissional: são nar- assola o país. A ANEFAC (Asso-
los nossos impostos. Vendido por rativas. Assim as privatizações pas- ciação Nacional de Executivos de
uma bagatela a um grupo privado, sariam empresas da mão do Esta- Finanças, Administração e Contá-
é o patrimônio de cada um de nós do, notoriamente corrupto, para beis) apresenta juros médios ao to-
que vai parar em bolsos privados. corporações privadas, menos cor- mador final: em março de 2013,
Em nome da eficiência, do com- ruptas. As grandes empresas de uma taxa média para pessoa físi-
bate à corrupção, da redução do construção no Brasil são privadas. ca de 87,97%, e para pessoa jurí-
tamanho do Estado, estas são as Alguma dúvida quanto à corrup- dica 43,58%. Em junho de 2019,
narrativas utilizadas. Mas se trata ção? Os donos de fortunas no Bra- portanto após 5 anos de “conser-
essencialmente de uma apropria- sil guardam lá fora, em paraísos to”, 118,00% para pessoa física e zação. No estudo O pão nosso de
ção indébita. Na esfera jurídica, fiscais, algo da ordem de 520 bi- 49,19% para pessoa jurídica. Te- cada dia: processos produtivos no
apropriação indébita parece mais lhões de dólares, 2 trilhões de re- mos hoje, segundo o SPC (Ser- Brasil, disponível online1, siste-
técnico e elegante, mas se eu me ais, equivalentes a quase um terço viço de Proteção ao Crédito), 64 matizamos o óbvio: há atividades
apropriar da carteira de alguém, do PIB brasileiro. É fruto de cor- milhões de adultos negativados, que funcionam melhor no qua-
também se trata de uma apropria- rupção, evasão fiscal e lavagem de incapazes de saldar as suas dívidas. dro de empresas privadas e outras
ção indébita. dinheiro em grande escala. É di- Lembremos que os juros corres- que precisam ficar nas mãos do
A primeira farsa é de que se nheiro privado. Os fluxos são in- pondentes nos países da OCDE Estado. Produzir carros, camisas
trata de uma venda, não de uma termediados por bancos privados, estão na faixa de 2% a 5% ao ano. ou tomates, por exemplo, é natu-
simples apropriação. Uma exce- que sabem perfeitamente o que Não só não devemos priva- ral que seja assegurado no quadro
lente entrevista de Alessandro Oc- estão fazendo nos seus departa- tizar o que nos resta de interme- de empresas privadas, devidamen-
taviani, professor de direito eco- mentos chamados de “otimização diação financeira de interesse pú- te controladas em termos de segu-
nômico e economia política da fiscal”. O BTG Pactual, nos orga- blico, mas precisamos retomar o rança dos produtos, impactos am-
USP, concedida ao jornalista Pau- nogramas publicados pelo Valor papel dos bancos públicos ofere- bientais e pagamento de impostos.
lo Henrique Amorim, nos traz da- Econômico, tem 38 filiais em pa- cerem financiamento com juros Mas o conjunto das unidades em-
dos claros. O ministro da econo- raísos fiscais. O atual ministro da mais decentes, como instrumen- presariais do país depende de uma
mia declara que pretende levantar economia foi cofundador do ban- to de reintrodução de mecanismos outra área que são as infraestrutu-
75 bilhões de reais com a venda co. Dizer que vamos privatizar pa- de concorrência no oligopólio fi- ras, como transportes, energia, co-
das cinco principais estatais. Essas ra reduzir a corrupção é mais que nanceiro que paralisa o país. E o municações, água e saneamento,
estatais não só não geraram défi- farsa, é conivência. Banco Central deve voltar a re- essenciais para a própria produ-
cit, como tiveram lucros elevados Particularmente escandalosa gular a intermediação financeira. tividade do mundo empresarial.
em 2018: 26 bilhões na Petrobrás, é a proposta de privatizar o Ban- Dever ser independente sim, mas Aqui se trata de planejamento pú-
12 bilhões no Banco do Brasil, 13 co do Brasil, a Caixa e o BNDES. independente dos bancos. blico de médio e longo prazo, pa-
bilhões na Eletrobrás, 10 bilhões São praticamente as únicas insti- Tomando um certo recuo, de- ra se assegurar a coerência do con-
na Caixa Econômica Federal, e 7 tuições financeiras que financiam, vemos pensar de forma mais am- junto. É papel do Estado.
bilhões no BNDES. Vender uma de maneira competente, a produ- pla nas transformações da econo- A base produtiva, por sua vez,
empresa lucrativa, que pode gerar ção rural, a construção de mora- mia moderna. Somos complexos precisa de intermediários, facili-
recursos públicos anos seguidos, dias e as grandes infraestruturas. demais para ficarmos na briga ide- tadores de fluxos entre as diversas
pelo preço equivalente ao lucro de Ou seja, são instituições de in- ológica entre privatização e estati- atividades e interesses: são os in-

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4 Privatização

termediários financeiros, comer- trabalho dos outros é mais confor- A indústria emprega apenas 10% cas sociais, que hoje adquirem pe-
ciais e jurídicos, cujo papel é, de tável. Aqui precisamos manter sis- da população ocupada, sendo que so fundamental no conjunto de
certa forma, de “azeitar” as intera- temas mistos, com no mínimo al- apenas 5% são operários. atividades econômicas, funcio-
ções entre os diversos atores. Aqui, ternativas públicas que reduzam As políticas sociais funcio- nam bem quando são apropriadas
com as novas tecnologias, a oligo- os efeitos de oligopólio do setor nam de maneira descentralizada em cada cidade e com forte con-
polização avançou radicalmen- privado, além de fortes mecanis- e participativa. Educação ou saú- trole por parte de organizações da
te em todo o planeta, e os inter- mos de regulação. de não se importam da China, co- sociedade civil.
mediários se transformaram em E tanto as atividades produ- mo brinquedos de plástico, nem Essas quatro grandes áreas de
atravessadores, cobradores de pe- tivas como as infraestruturas e os se colocam numa prateleira de su- atividades – unidades produtivas
dágio sobre qualquer transação. serviços de intermediação, para permercado. Trata-se de atividades empresariais, infraestruturas, ser-
Os gigantes financeiros se torna- funcionarem, dependem de pes- capilares, chegando a cada pessoa. viços de intermediação e políti-
ram agiotas, o grande comércio e soas com saúde, educação, rique- Onde funcionam bem, são orga- cas sociais – exigem por natureza
as plataformas de venda online en- za cultural, segurança, riqueza de nizados em sistemas públicos, de sistemas de propriedade, gestão e
golem o pequeno comércio, hoje convívio. Aliás, é o que mais que- acesso local gratuito e universal. controle diversificados, forman-
é preciso recorrer a um advogado remos da vida, são atividades fins, Simplesmente porque é mais efi- do uma articulação inteligente do
para cada espirro. Nesta área que ao contrário, por exemplo, das fi- ciente e mais barato. Nos Estados setor privado, do setor público e
hoje se agigantou, é que se reali- nanças. As políticas sociais ho- Unidos, com saúde paga do bol- das organizações da sociedade ci-
zam hoje os grandes lucros. A in- je se tornaram os principais eixos so (out-of-pocket), o custo por ha- vil. O presente governo está apa-
termediação é hoje o grande ne- de atividade. Há um deslocamen- bitante é de 9.400 dólares por pes- rentemente muito mais interessa-
gócio, produzir rende pouco e dá to profundo da composição in- soa e por ano. O Canadá, com do em facilitar a apropriação dos
trabalho, enquanto intermediar o tersetorial das nossas atividades, saúde pública, gratuita e de aces- recursos públicos do que assegurar
com forte crescimento das políti- so universal, obtém resultados in- uma gestão competente do pro-
cas sociais, de consumo coletivo. comparavelmente superiores com cesso de desenvolvimento. Aliás,
Nos EUA, por exemplo, a saúde, menos da metade dos custos: tra- neste campo, precisaria de pesso-
com 20% do PIB, representa de ta-se de política de saúde, em vez as competentes.
longe o maior setor econômico. de indústria da doença. As políti- E fazer negociatas com patri-
mônio público é criminoso.

* É professor na pós-graduação da PUC-


-SP e consultor de várias agências da
ONU. Os seus estudos estão disponíveis
em dowbor.org, em particular A Era do ca-
pital improdutivo e O pão nosso de cada dia,
além do artigo A burrice no poder. Contato
ldowbor@gmail.com

1 Disponível em http://dowbor.org/blog/
wp-content/uploads/2012/06/Ladislau-
-DOWBOR-O-P%C3%A3o-Nosso-de-
-Cada-Dia.pdf

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Privatização 5

Sobre o papel do Estado na economia


Marcio Pochmann* e a oposição agrarista presente na de audiovisual (Encine Audiovisu-
perspectiva liberal do economista al), gráfica (editora José Olympio)

A s bases do liberalismo eco-


nômico e seu evolucionis-
mo mais recente (neoliberalismo
carioca Eugênio Gudin Filho.
O entusiasmo demontrado
inicialmente pelo governo de Du-
e de educação (Sindacta).
A receita gerada pela privatiza-
ção foi estimada em US$ 274 mi-
e anarcocapitalismo) assentam- tra (1946-1951) se mostrou ver- lhões à época e com impacto sobre
-se no pressuposto das forças de dadeiro “fogo de palha” frente à 157 mil empregos enquanto resul-
mercado suficientes para promo- imediata e profunda frustração tado direto da venda, em grande
ver e sustentar o desenvolvimen- econômica pronunciada pela libe- parte, das empresas privadas fali-
to no conjunto das atividades pro- ração na política econômica. Nem mentares que tinham sido recupe-
dutivas. No Brasil, o ideal liberal mesmo a passagem fulminante de radas anteriormente pelo BNDES.
traduzido por Silvestre Pinheiro Gudin pelo Ministro da Fazenda Por fazer parte da doutrina de Se-
Ferreira e Hipólito da Costa no entre setembro de 1954 e abril de gurança Nacional, a privatização
século 19 teve como principais 1955, no governo de Café Filho, na ditadura não contemplou em-
adeptos os segmentos voltados pa- permitiu que o liberalismo voltas- presas que eram consideradas fun-
ra a economia da exportação e im- se a triunfar na construção da so- damentais para o desenvolvimen-
portação, sendo a maioria forma- ciedade urbana e industrial. to nacional e o fortalecimento do
da de latifundiários e escravistas Outra presença ilustre de libe- Com a estatização da dívida setor privado.
interessados em combinar estru- ral no governo transcorreu com externa, o setor privado foi salvo Na segunda metade da déca-
turas tradicionais de produção do Roberto de Oliveira Campos na de sua ineficiência. Em contrapar- da de 1980, sob o governo civil de
agrarismo com o livre comércio. condição de ministro do Planeja- tida, os seus encargos foram trans- Sarney (1985-1990), que derivou
Essa perspectiva correspondeu mento no início da ditadura mi- feridos para o Estado, promoven- da aliança entre PMDB e PFL, se
a mais de um século de existência, litar (1964-1985), que se especia- do a recessão, a desorganização das estabelece o segundo movimento
uma vez que se prolongou des- lizou na criação de 274 empresas finanças públicas, a superinflação do ciclo de reestruturação do se-
de antes da Independência nacio- estatais. Antes disso, no período e o endividamento interno acom- tor produtivo estatal. Para tanto,
nal (1822) até o final da Repúbli- denominado de populista, Rober- panhado da ciranda financeira, a perspectiva de constituição de
ca Velha (1930). Sua persistência to Campos havia sido um dos ide- herdeira, em grande medida, do grandes holdings gestoras, confor-
no tempo, capaz de superar tan- alizadores da Petrobrás durante o regime autoritário. me modelo italiano, mas que se
to o ingresso no modo de produ- governo de Getúlio Vargas (1951- Assim teve início o ciclo de re- resumiu fundamentalmente na
ção capitalista, com a soltura legal 1954) e presidente do BNDES e estruturação do setor produtivo privatização de 18 empresas esta-
dos escravos a partir de 1888, co- participante do Plano de Metas no estatal constituído nas cinco dé- tais, gerando receita de US$549
mo a transição da monarquia para governo JK (1956-1961). cadas anteriores de promoção do milhões e impactos sobre 82 mil
a República, somente se mostrou Com a crise da dívida externa, projeto de industrialização nacio- empregos.
viável durante a predominância da logo no começo dos anos de 1980, nal. O primeiro movimento ocor- Na “Era dos Fernandos”, en-
sociedade agrária. as bases pelas quais a sociedade ur- reu entre os anos de 1981 e 1984, tre 1990 e 2002, a prevalência
Com a passagem para a socie- bana e industrial encontrava-se com a privatização de 20 empre- do receituário neoliberal demar-
dade urbana e industrial, a inefici- sustentada começaram a ruir. Pa- sas nos setores de papel e celulo- cou o terceiro movimento no ciclo
ência do Estado liberal tornou-se ra isso, o receituário do Fundo se (Rio Grande Cia. de Celulose de restruturação do setor produti-
cada vez mais explícita, incapaz de Monetário Internacional adotado do Sul, Florestal Rio Cell, Indús- vo estatal. Em realidade, profun-
justificar a continuidade do antigo pelo último governo da ditadu- tria Brasileira de Papel – Indra- da onda privatizante que produ-
e arcaico agrarismo. A incompati- ra militar (João Figueiredo, 1979- pel), têxtil (Cia. América Fabril, ziu grandes resultados efetivos,
bilidade ficou ainda mais explíci- 1985) gerou nos anos de 1980 a Fábrica de Tecidos Dona Isabel, assumindo a posição de segun-
ta ao final do Estado Novo (1937- primeira década perdida do sécu- Fiação e Tecelagem Lutfala), side- da maior privatização do mundo,
1945) com a polêmica gerada entre lo 20 na economia brasileira, res- rurgia (Nitriflex S/A – Indústria e somente inferior ao desmonte da
a necessidade da industrialização ponsável pelo distanciamento dos Comércio, Cia. Bras. de Cimento URSS, uma vez que foram vendi-
do país, defendida pelo líder indus- avanços da terceira Revolução In- Portland Perus), energético (Força das 123 empresas estatais, com re-
trial paulista Roberto Simonsen, dustrial e Tecnológica. e Luz Criciúma S.A) e complexo ceita de US$ 75 bilhões e impac-

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6 Privatização

tos sobre 546 mil empregos. Estado empreendedor. A ascen-


O discurso privatista da época são da burguesia comercial,
tinha como argumento a inefici- mais preocupada em com-
ência das empresas públicas decor- prar barato para vender
rente da inoperância administra- caro, se viabilizou
tiva e incompetência burocrática através do recei-
a onerar o fundo público. Com a tuário neoliberal,
privatização, dizia-se que o recur- que permitiu expan-
so público alocado originalmente dir tanto o capital rentista
nas empresas estatais seria transfe- quanto do agronegócio, inte-
rido para as áreas sociais, em be- ressado nas teses do livre comércio.
nefício da população, sobretudo a Em síntese, a composição
mais carante. dominante atual passou a se
Mas isso não ocorreu, pelo con- aproximar mais, guardada
trário. Também foi disseminado a devida proporção, da vi-
que a desmontagem do setor pro- gente durante a arcaica
dutivo estatal viabilizaria a consti- sociedade agrária, origi-
tuição de grandes grupos privados nal defensora do libera-
com capacidade de competir no lismo no século 19.
âmbito da economia mundial. Talvez por isso que os pressu-
Pela inserção passiva e subor- postos do anarcocapitalismo ga-
dinada efetuada ao longo dos anos nharam relevância com repre-
de 1990, o Brasil perdeu o acesso sentantes no interior do governo
às cadeias globais de valor, o que Bolsonaro. Trata-se, em geral, de
tornou impraticável a transferên- desfazer, não reestruturar, o setor
cia de empresas estatais para o ca- produtivo estatal, entregando-o a
pital privado nacional. Por conta empresas privadas nacionais ou es-
disso que grande parte da privati- trangeiras, inclusive estatais per-
zação terminou sendo conduzida tencentes a outros países.
pela presença do capital externo e Exemplo disso está ocorrendo
de fundos públicos. no setor energético, justamente no
Sem ter gerado a difusão de país considerado o maior produtor
campeãs nacionais, parcela das de energia hidrelétrica do mun-
empresas privadas foi incorporada do e cuja principal empresa esta-
pelas corporações transnacionais. o desencadeamento antecipado da baixa inflação e redução da dívida tal foi constituída ainda no início
Além de elevar ainda mais consi- desindustrialização. pública em relação ao PIB. dos anos de 1960 devido às inefi-
deravelmente a presença do capital Nos governos do PT (2003- Tudo isso, contudo, se apre- ciências das empresas privadas que
externo no comando da economia 2016), a reestruturação do Estado sentou insuficiente para interrom- dominavam a oferta de energia elé-
nacional, o país perdeu a oportu- contou com a criação de 43 novas per o processo da desindustrializa- trica até então. Se viabilizado o re-
nidade de ampliar a sua capacida- empresas públicas, o que represen- ção precoce e terminou agilizando passe atual da Eletrobrás, através
de produtiva. tou a nítida reversão do sentido a passagem antecipada para a so- da privatização estimada em R$ 16
Ao longo dos anos 1990, o in- privatizante herdado dos governos ciedade de serviços. No desmon- bilhões, os interesses da burguesia
gresso dos Investimentos Diretos neoliberais anteriores. Ao mesmo te da antiga sociedade urbana e comercial de curto prazo deverão
Externos no Brasil se mostrou in- tempo em que constituiu a quar- industrial, os sujeitos históricos as- ser atendidos, mesmo que a em-
capaz de elevar a taxa interna dos ta fase do ciclo da reestruturação sociados à defesa do papel do Esta- presa gere lucros de R$ 5,5 bilhões
investimentos, o que se traduziu do setor produtivo estatal, mos- do na economia foram, por conse- ao trimestre para o setor público.
em baixo dinamismo econômi- trou ser fundamental para garan- quência, fragilizados.
co nacional e elevado desemprego. tir a expansão econômica mais ace- Sinal de que a alteração na corre-
* É professor do Instituto de Economia e
Ao mesmo tempo, o endividamen- lerada, com a elevação na taxa de lação de forças no interior da com- pesquisador do Centro de Estudos Sindi-
to do setor público alcançou iné- investimento e, por consequência, posição das classes dominantes tor- cais e de Economia do Trabalho, ambos da
dito patamar, concomitante com a aproximação do pleno emprego, nou-se menos favorável ao papel do Universidade Estadual de Campinas.

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Privatização 7

Neoliberalismo, privatização
e autoengano
Antonio Corrêa de Lacerda* privados, agravados pelo fato de da indústria de média e alta tec-
inexistência ou insuficiência de nologia no PIB, que recuou de

D iante da maior crise da nos-


sa história, a resposta ne-
oliberal apresentada pela atual
um marco regulatório para con-
viver com eles.
11,4% em 2009, para 8,1% em
2017, último dado disponível.
Vários foram e são os fatores
equipe econômica aposta em um Estagnação industrial que contribuíram para essa situ-
programa de politica econômi- já dura uma década ação. Há os de ordem macroeco-
ca ao gosto do mercado para, se- nômica, como também aqueles
gundo eles, resgatar e confiança e Enquanto se buscam saídas relacionados à ausência de uma
com isso convencer o setor priva- simplistas, nossos problemas e politica de competitividade fa-
do a investir. suas consequências se agravam. A vorável, como também outros de
A aposta na “fada da confian- produção industrial brasileira de ordem microeconômica.
ça” não deu certo em vários ou- julho passado caiu 0,3% em re- Os juros básicos estão no me-
tros países, e aqui não será dife- lação ao mês anterior, frustran- nor patamar nominal histórico,
rente. No entanto, segue o curso do expectativas de uma retoma- o que, em tese, contribuiria pa-
de um autoengano reverberado da, a partir dos dados do Produto ra um aumento do interesse na
pela mídia que, “dessa vez”, vai! Interno Bruto (PIB) do segun- produção e no investimento. No
A pergunta é, pra onde? do trimestre, divulgado anterior- entanto, outros aspectos jogam
Um dos pilares do receituá- mente, que apontava para um re- contra isso. O primeiro é que,
rio proposto está na privatização sultado global da economia um dada a distorção do mercado fi-
como solução para grande par- pouco melhor do que o esperado. nanceiro brasileiro, a distância
te dos problemas. Não se trata Mas o que chama atenção no entre o juro básico e aquele co-
de novidade. A privatização co- nível atual da produção indus- brado do tomador final ainda é
meçou no final do governo Sar- trial é que ele é equivalente ao de abissal e incompatível com a ren-
ney, 1989, avançou no governo dez anos antes, janeiro de 2009, tabilidade esperada de qualquer
Collor (1990-1992) e atingiu seu período marcado pelos efeitos da atividade produtiva. O segundo
auge no governo Fernando Hen- crise subprime nos EUA. A indús- aspecto é que investimento pro-
rique Cardoso (1995-2002). tria vive uma longa estagnação e dutivo é motivado pela expecta-
No entanto a privatização por processo precoce de desindus- tiva favorável de crescimento fu-
si só está longe de representar trialização, com perda substan- turo da demanda, bem como da
uma solução. Por vários fatores: cial de participação no produto. rentabilidade esperada.
i) tende a gerar receitas de uma A indústria de transformação, de Nada está a indicar uma re-
vez só, que financiam gastos cor- maior potencial de geração de va- tomada da demanda. Primeiro
rentes, sem gerar riquezas; ii) não lor agregado e empregos de qua- porque o crédito, como já men-
geram nova formação bruta de lidade, hoje se restringe a cerca cionado, é ainda mais proibiti-
capital, pois se tratam de trans- de 10% do PIB, contra uma mé- vo ao consumidor. Além disso,
ferências patrimoniais e não no- dia internacional de 16%, e bem o desemprego é dos mais eleva-
vos investimentos; iii) tendem a abaixo do verificado em países dos, especialmente consideran-
aumentar a dependência externa, como México (17,5%) e Coreia do um conceito mais amplo, in-
pois a desnacionalização que vem do Sul (27,6%). cluindo os desalentados e com
associada cria despesas perma- Além da perda da participa- ocupações precárias, um contin-
nentes em dólares, sem gerar re- ção relativa, observa-se também gente de quase 30 milhões de
ceitas na mesma moeda; iv) além uma queda da qualidade da pro- pessoas. A renda das pessoas ocu-
disso tende a gerar monopólios dução, medida pela participação padas também não tem acompa-

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8 Privatização

nhado o crescimento dos custos suas interconexões com os seto- ciamento para projetos torna- ra fazer um contraponto à crise.
de itens representativos da ces- res agropecuário e de serviços. -se ainda mais relevante. Desde 2015, já houve a devolu-
ta de consumo da classe média, Restringir os repasses do FAT ção de R$ 330 bilhões, restando
como taxas de planos de saúde, “Caixa-preta” do ao BNDES, além de limitar a um saldo equivalente a R$ 250
de condomínio e mensalidades BNDES e outras lendas sua própria atuação, representa- bilhões, considerando correção
escolares, como exemplo. Fato- ria mais uma daquelas pseudos- e juros. O plano anterior à mu-
res que comprimem o orçamen- Um dos mitos que segue sen- soluções simples para problemas dança de governo previa que o
to familiar e restringem a capaci- do disseminado é sobre a existên- complexos, mas longe de serem BNDES restituísse cerca de R$
dade de consumir. cia de uma suposta “caixa preta” adequadas. O banco historica- 25 bilhões anualmente. No en-
Há ainda os fatores de com- que esconderia os dados sobre os mente tem exercido um impor- tanto, o atual ministro da Eco-
petitividade desfavoráveis, co- desembolsos do Banco Nacional tante papel no desenvolvimento nomia, Paulo Guedes, pressiona
mo burocracia, custo da logísti- de Desenvolvimento Econômi- brasileiro. Ao longo dos 67 anos para que R$ 126 bilhões sejam
ca e infraestrutura, impactos da co e Social (BNDES). Embora de existência, sempre exerceu devolvidos ainda este ano.
tributação, além de outros pio- reiteradas vezes desmentida por papel relevante no financiamen- A sustentabilidade das opera-
res do que a maioria dos nossos vários ex-presidentes que passa- to do desenvolvimento brasilei- ções do banco depende das su-
competidores. A desvalorização ram pelo banco e a despeito do ro, embora em diferentes perí- as fontes de financiamento. Des-
ocorrida com o real relativa- fato de o banco manter em seu odos suas funções tenham sido taque-se que não há substituto
mente às demais moedas deveria site expressiva transparência, es- mais especificas, a depender das para a atuação do BNDES. No
compensar parte dessas desvan- sa “lenda urbana” segue sendo prioridades das políticas econô- mercado privado inexistem fon-
tagens, mas isso não é imediato, repetida. Na verdade, o episódio micas em vigor. tes de financiamento de longo
nem automático. revela grande preconceito e total A Constituição de 1988 de- prazo e a custos (juros) compatí-
O desempenho exportador é desconhecimento da forma de termina que 40% do PIS-Pasep, veis com a rentabilidade espera-
algo que requer uma estratégia operação desse importante órgão principal fonte do FAT, seja des- da das atividades e projetos. As-
mais ativa de forma a vir a repre- de Estado para o Brasil. tinado ao BNDES. Com o efeito sim, a atuação do banco se revela
sentar uma parcela maior do que É preciso ficar claro que to- da Desvinculação de Receitas da imprescindível, especialmente
a atual. Diante da crise global, das as operações do banco pre- União (DRU), criada em 1994, em face da longa crise enfrenta-
as “guerras” comercial e cambial cedem de avaliação criteriosa do os repasses foram reduzidos a da pela economia brasileira. Di-
estão acirrando a disputa pelos seu corpo técnico, formando por 28% do total. O banco repassa, ficultar ou buscar inviabilizar
mercados, tornando mais árdua profissionais concursados e alta- via empréstimos, esses recursos a sua atuação representaria, na
a tarefa de quem deseja obter ga- mente qualificados. Supor que ao setor produtivo, no financia- prática, adiar a saída da crise e
nhos de participação. um determinado presidente, mento de investimentos para in- postergar as condições para a re-
A agenda da política indus- ou diretor, teria autonomia pa- fraestrutura, novos empreendi- tomada do desenvolvimento na-
trial em um sentido mais am- ra conceder empréstimos de ris- mentos e compras de máquinas e cional.
plo, considerando as políticas de co é desconhecer por completo o equipamentos. Esses recursos re- A dispersão em falsas soluções
competitividade comercial e de trâmite dos projetos na institui- presentam cerca de 35% das fon- e a ausência de um projeto de Na-
ciência, tecnologia e inovação, ção. Uma simples visita ao site tes de financiamento do banco. ção nos joga no limbo da depres-
precisa fazer parte das discussões do banco evitaria a disseminação O saldo atual em carteira monta são e suas terríveis consequências
das alternativas para o fortaleci- de verdadeiras fake news a respei- R$ 268,7 bilhões, 83,7% supe- como o desemprego ou exclusão
mento da indústria. Nesse senti- to da sua atuação. rior ao de 2011, de acordo com de 28 milhões de pessoas do mer-
do, ao contrário do esperado por Outro assunto correlato o boletim do FAT. Para o ano em cado de trabalho, o aumento da
alguns, a junção do antigo Mi- igualmente relevante é quanto curso está previsto o repasse de pobreza e a deterioração dos ser-
nistério da Indústria e Comércio ao funding do banco, que con- R$ 18,8 bilhões. viços públicos, afetando princi-
(MDIC) ao atual Ministério da ta com repasses do PIS/Pasep ao Com as alterações promovi- palmente os mais pobres, os que
Economia parece ter ocultado a Fundo de Amparo ao Trabalha- das pelos governos Temer e ago- mais dependem deles!
temática. dor (FAT), dos quais parte são ra, Bolsonaro, está em curso um
O desafio da retomada da destinados aos seus financiamen- processo de devolução de recur- * É professor-doutor e diretor da FEA-
economia passa necessariamen- tos. Especialmente em um mo- sos ao Tesouro por parte do BN- -PUCSP, conselheiro e atual vice-presi-
dente do Conselho Federal de Economia
te pela recuperação da indústria, mento de crise e atrofia de in- DES, um montante de R$ 416 (Cofecon) e autor, entre outros livros, de
tendo em vista sua relevância pa- vestimentos como o atual, a bilhões tomados entre 2008 e Economia Brasileira (6ª Edição: Saraiva,
ra a geração de valor agregado e preservação de fontes de finan- 2014 que foram utilizados pa- 2018). Site: www.aclacerda.com

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Privatização 9

A Evolução do PIB em 2019:


o país já está comprometendo 2020
Adhemar S. Mineiro* de recursos, além de sobre-endivi- Esse movimento, entretan-
dado. Como solução, cinco “des”: to, que vem sendo tentado desde

E m 9 de setembro, em uma en-


trevista ao jornal Valor Eco-
nômico1, o Ministro da Economia
desindexar, desvincular e desobri-
gar despesas, desinvestir e desmo-
bilizar ativos públicos.
2015, parece longe de qualquer
mínimo cheiro de sucesso. Isso se
por “sucesso” se entende efetiva-
Paulo Guedes reafirma a política É a desmontagem do pacto mente aumento dos investimen-
econômica contracionista que vem democrático da Constituição de tos e retomada do crescimento
sendo levada adiante desde o já dis- 1988, que criou mecanismos de econômico, ou minimamente a
tante ano de 2015, com o então financiamento para um Estado de retomada de superávits primá-
Ministro da Fazenda Joaquim Le- bem-estar social parcial e tardio rios que existiram até 2013. Se
vy e a presidente Dilma Rousseff. no Brasil (o que em outros mo- o objetivo é pura e simplesmen-
Política que, nos seus grandes ob- mentos o Ministro Guedes chama te ideológico, ou seja, a redução
jetivos, vem obtendo sucesso desde de desmonte da experiência de so- do papel do Estado e da partici-
então – já que o objetivo de uma cial-democracia no país, conside- pação do Estado, porque os ges-
política contracionista é segurar a rando o período dos governos do tores de plantão reconhecem sua
economia, e os momentos de reces- PSDB e do PT desde 1994) e a incompetência para fazerem o
são ou estagnação do PIB nacional venda de empresas, participações Estado e suas empresas operarem
que se seguem não são mais do em empresas e outros patrimô- de maneira eficiente, ou se é uma
que obter o sucesso do ponto de nios do Estado brasileiro. O ob- forma para oferecer negócios aos
vista dessa política. O diagnóstico jetivo é, segundo esse raciocínio, investidores internacionais que
está lá de novo reafirmado na en- abrir espaço e recursos para o ca- têm colocado seus recursos fora
trevista: o Estado brasileiro gasta pital privado, internacional e na- do país neste último período pa-
muito e está “engessado” do ponto cional, liderar um novo período ra tentar segurá-los, isso não está
de vista da destinação obrigatória de expansão econômica. sendo dito de forma clara.
A esse respeito, vale observar
que o saldo de transações corren-
tes vem ampliando rapidamente
seu déficit desde 2018, passando
de -0,38% do PIB em janeiro de
2018 a -1,31% do PIB em julho
de 2019. O número ainda não é
um sinal vermelho, mas mostra
o crescimento de quase 1% do
PIB nesse período. A busca de
investimentos externos pode ser
uma forma de tentar administrar
o crescimento desse déficit, mas
se é isso, precisa ser claramente
reconhecido que temos um pro-
blema no setor externo.
Neste setor, os números mos-
tram que temos problemas. Além
dos resultados de transações cor-
rentes, ou até talvez explicando

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10 Privatização

pectiva de que a crise econômica formação bruta de capital), mas


Saldo de transações correntes internacional, que segue crônica apenas os ativos trocam de mãos,
Valor (em US$ milhões) % PIB nesta década, se transforme em do setor público ao setor priva-
Mensal Últimos Últimos
uma crise aguda a qualquer mo- do. Nas duas vertentes, tanto do
mento, no meio de disputas geo- gasto público como dos possíveis
12 meses 12 meses
políticas, comerciais e financeiras, investimentos, nada de novo no
2018 Jan - 6 236 - 7 404 - 0,36
e tendo como pano de fundo as front, nenhuma novidade, e por
Fev - 1 964 - 9 710 - 0,48
tensões entre os dois gigantes eco- isso, também nenhuma esperan-
Mar - 525 - 11 602 - 0,58
nômicos, China e EUA. Ou seja, ça de crescimento.
Abr - 187 - 12 268 - 0,61 depender do comércio exterior, É possível que com esses nú-
Mai 984 - 14 389 - 0,73 ou do recebimento de investi- meros e essas perspectivas acena-
Jun 63 - 15 412 - 0,79 mentos externos, em um quadro das pela política econômica em
Jul - 4 396 - 17 050 - 0,88 de tensão no cenário internacio- curso, o desempenho do ano de
Ago - 1 246 - 18 783 - 0,97 nal, pode não ser uma política 2020 já esteja ficando compro-
Set 270 - 18 463 - 0,96 das mais prudentes. Agravar esse metido também. Assim, entrarí-
Out 77 - 17 544 - 0,92 quadro com a política de priva- amos no quarto ano seguido de
Nov - 778 - 16 008 - 0,85 tizações – ou “desinvestimento”, estagnação econômica, e o sexto
Dez - 1 031 - 14 970 - 0,80
como é denominada pelo atual de crise, a partir de 2015. Em um
governo – não parece beneficiar quadro em que os ministérios co-
o quadro desenhado. meçam a falar em governo paran-
2019 Jan - 7 023 - 15 757 - 0,84
Do ponto de vista da pro- do de funcionar e os níveis sub-
Fev - 1 533 - 15 326 - 0,82
dução, tanto o IBC-Br, índi- nacionais (estados e municípios)
Mar - 993 - 15 794 - 0,85
ce estimativo do Banco Central, negociam migalhas para continu-
Abr - 335 - 15 942 - 0,86 quanto os números trimestrais ar funcionando, a política de teto
Mai 57 - 16 869 - 0,91 das contas nacionais do IBGE de gastos começa a ser rediscuti-
Jun - 2 821 - 19 753 - 1,06 apontam para algo em torno de da, de forma aberta ou escondi-
Jul - 9 035 - 24 392 - 1,31 1% de taxa de crescimento nes- da, e mesmo por alguns analistas
Fonte: Banco Central do Brasil, Indicadores Econômicos Consolidados2.
te ano, mesmo índice registrado que historicamente a defendiam.
nos últimos dois anos. Ou seja, A esse questionamento, os gesto-
deste ponto de vista, a continui- res atuais da política econômica
o resultado de transações corren- afetando ainda mais as contas ex- dade da política econômica dos falam em desvinculação e deso-
tes, a balança comercial brasilei- ternas. Aliás, desse ponto de vis- governos anteriores pelo Gover- brigação de despesas, para evitar
ra saiu de um superávit de cerca ta, se desfazer das refinarias tem no Bolsonaro vai conseguindo que os gestores nos vários níveis
de US$ 67 bilhões no acumu- um efeito triplo sobre o setor ex- manter o desempenho pífio dos sejam responsabilizados judicial-
lado de 12 meses em janeiro de terno: de um lado, podem entrar últimos anos. A política de cor- mente pelo descumprimento das
2018 para um superávit de cer- no curto prazo capitais que “re- tes de despesas do governo e de- leis, por falta de recursos. É a ve-
ca de US$ 53 bilhões no acumu- frescam” a conta de transações sinvestimento/desmobilização lha história de administrar a trai-
lado de 12 meses em julho deste correntes, mas no médio e lon- de ativos públicos vai reforçar es- ção retirando o sofá da sala...
ano. Parte dessa redução do sal- go prazos aumentam as impor- se caminho. Na proposta de or-
do é explicada por um aumento tações de combustíveis e lubrifi- çamento para 2020, foram desti- * É economista e doutorando do PPGC-
de quase US$ 3 bilhões de dóla- cantes – em especial dependendo nados irrisórios R$ 19,3 bilhões TIA/Universidade Federal Rural do Rio
res nesse mesmo período da im- da complementariedade das em- para investimentos, valor histori- de Janeiro.
portação de combustíveis e lu- presas que entrarem com suas camente bastante baixo.
1 “Guedes quer desindexar e desvincu-
brificantes, resultado da política outras unidades já funcionando Por outro lado, a venda de lar o orçamento das três esferas de gover-
adotada para o setor de petróleo no exterior – e as empresas que empresas públicas prevista dá no” no link https://www.valor.com.br/
e gás no país, de reduzir a produ- entrarem ganham direito a re- aos investidores externos e inter- brasil/6426591/guedes-quer-desindexar-
ção nacional – e deve seguir ha- messas de lucros e dividendos, nos a chance de simplesmente se -e-desvincular-o-orcamento-das-tres-esfe-
vendo aumento de importações impactando as contas externas. apropriarem de ativos existentes, ras-de-governo.
nesse setor, com o indicativo de E esse quadro externo, que sem que haja expansão da capa- 2 Disponível em 09/09/2019 em https://
venda das refinarias da Petrobrás não vai bem, tem enorme possi- cidade produtiva – ou seja, não www.bcb.gov.br/estatisticas/indicadores-
fora da região Sudeste do país, bilidade de se agravar, com a pers- há crescimento (no conceito de consolidados.

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Privatização 11

Desestatização e a panaceia da privatização


Marcelo Dias Carcanholo* por reduzido grau de concorrên- Quando se pensa privatizações
cia na estrutura de mercados, den- para pagamento de dívida públi-

É curioso e sintomático que o


Ministério da Economia do
atual governo possua uma secreta-
tre outros, costumam compor es-
ses pseudoargumentos.
A razão macroeconômica para
ca, desconsidera-se que essa dívi-
da possui outros determinantes. A
política de esterilização monetária
ria especial de desestatização, de- as privatizações é normalmente a e as elevadas taxas de juros, além
sinvestimento e mercados. Afinal, mais propagandeada na atualidade de outros determinantes, aumen-
o próprio governo estaria relacio- e termina por confundir-se com tam essa dívida. Assim, corre-se o
nando a desestatização (privatiza- outra panaceia, o ajuste fiscal. A risco de vender ativos rentáveis pa-
ção) com a redução dos investi- venda de empresas estatais permi- ra aliviar, no melhor dos casos, a
mentos (desinvestimento), quando tiria, do ponto de vista do fluxo, dívida no curto prazo. Quando a
o que deveria ser o objetivo é a reto- a redução dos déficits fiscais, con- dívida voltar a crescer pelos seus
mada dos investimentos e do cres- tribuindo para o ajuste fiscal. Por outros determinantes, continua-se
cimento da economia. Qual seria outro lado, do ponto de vista do com o problema, e sem os ativos
o sentido da razão governista para estoque, as receitas obtidas com a já vendidos.
seu programa de privatizações? privatização possibilitam ainda o Assumindo que o ajuste fis-
Do ponto de vista microeco- pagamento de parte da dívida pú- cal seja realmente necessário, trata-
nômico a panaceia se define pe- blica, o que terminaria também -se de reduzir despesas e/ou elevar
lo postulado segundo o qual por aliviar os fluxos posteriores de receitas do Estado. A privatiza-
qualquer gerenciamento/admi- pagamento de seu serviço. ção certamente gera receitas (pon-
nistração de um negócio será tan- Submetidas a um confronto bá- tuais, isto é, apenas no momento
to melhor quanto menor for a in- sico com uma razão mais crítica, es- da venda) e corta despesas. Mas,
terferência do setor público. Logo, tas duas razões convencionais mos- se é assim, por que vender empre-
uma empresa estatal, por defini- tram seu caráter ilusório. Do ponto sas lucrativas? Afinal, e por defini-
ção, seria a pior forma de geren- de vista microeconômico, se a pre- ção, elas geram um saldo positivo
ciamento possível, o que justifica- ocupação sincera fosse com a ele- líquido nas contas estatais. Logo,
ria toda e qualquer privatização. vação do grau de concentração dos por esse lado, justificar-se-ia ape-
Se a empresa em questão ainda for mercados, por que a grita apenas nas a venda de estatais deficitárias.
deficitária, mais justificada ainda a contra o monopólio estatal? Por Curiosamente ou não, estas empre-
privatização, ganhando uma jus- acaso a eficiência e alocação dos re- sas não possuem (tanta) demanda
tificativa adicional, desta vez no cursos não seria menos eficiente em (do setor privado) e tampouco cos-
campo da razão macroeconômica. mercados privados e concentrados tumam aparecer no rol de empre-
Mas por que a gerência/adminis- em monopólios ou oligopólios? Por sas que o governo quer vender. O
tração estatal é pior que a privada? que é indiferente se a propriedade que a história nos mostra é que pa-
A razão econômica convencional (privada), nesses mercados concen- ra esse tipo de empresa – a que faria
não tem muito mais a oferecer do trados, é estrangeira ou não? Afinal, sentido vender – o governo realiza
que pseudoargumentos que bei- os programas de privatização termi- primeiro um amplo processo de sa-
ram um comum problema lógico: nam por direcionar empresas esta- neamento, sob o argumento de au-
assume-se como premissa exata- tais, mais estratégicas para o país ou mentar a demanda (preço) por ela.
mente o que deveria ser demons- não, para capitais de propriedade Mas, ao fazê-lo, o que o governo
trado. Argumentos de eficiência e estrangeira. Isso sem falar no caso está fazendo é justamente trans-
melhor alocação de recursos pro- corriqueiro de que estatais estran- formando a empresa deficitária em
movidos pela iniciativa privada, geiras terminam por adquirir as es- empresa lucrativa, o que não justi-
ineficiência/desmotivação e inte- tatais nacionais. ficaria mais sua venda.
resses meramente corporativos do No que se refere ao argumento A história ainda nos oferece
funcionalismo público, falta de macroeconômico via ajuste fiscal, um bom aprendizado de como o
produtividade/competitividade a inconsistência parece ser maior. financiamento dessas operações

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12 Privatização

de privatização costuma ocorrer. de áreas de petróleo e gás, portos e Além da questionável eficiên- ma, com a expectativa de uma no-
A venda não é normalmente feita aeroportos, dentre outros serviços. cia microeconômica (aumento dos va manifestação da crise da econo-
com recursos próprios do setor pri- Nem abatemos nossa dívida públi- preços de serviços/produtos, co- mia mundial, parece improvável.
vado que compra as empresas esta- ca com essas receitas, nem alavan- mo combustíveis, passagens aére- A forte expansão do endividamen-
tais. Linhas de crédito costumam camos a elevação das taxas de in- as, planos de saúde, etc.) a razão to das famílias retira o consumo
ser a base desse financiamento. vestimento para o crescimento da macroeconômica de que as priva- como possível fonte de retomada.
Não raro, a linha de crédito vem economia, que só teve um suspiro tizações são condições necessárias Os gastos públicos (incluindo os
de bancos de financiamento. No no período em função do cenário para a retomada dos investimentos investimentos) estão comprometi-
caso brasileiro, bancos públicos! externo favorável, e obtivemos ga- e, portanto, do crescimento, não se dos pelo forte arrocho fiscal. Sobra
O BNDES cumpriu esse papel ao nhos de eficiência microeconômi- sustenta. A produção da economia apenas a expansão dos investimen-
longo dos anos 90, continuou par- ca questionáveis, no mínimo. só é acrescida se os produtores es- tos privados.
ticipando do processo neste século Em sua retomada do neolibe- timam que ela seja vendida. A de- Chegamos à brilhante con-
nos processos de parcerias público- ralismo mais ensandecido, o atu- manda agregada da economia po- clusão de que os investimentos
-privadas e de concessões públi- al governo resgata as privatizações de ser reativada pelo crescimento (privados) serão retomados pe-
cas (neologismos para as privati- como a panaceia do desenvolvi- do consumo das famílias, dos gas- la expectativa de crescimento dos
zações). No atual governo, desde a mento brasileiro. Em sua já habi- tos do governo, dos investimentos investimentos (privados). Uma
campanha, sustenta-se que o BN- tual inabilidade em conceber, di- e pela demanda externa. Esta últi- panaceia costuma significar um
DES voltará a cumprir o seu pa- fundir, sustentar e implementar remédio mágico, quase transcen-
pel de financiador de privatizações uma estratégia econômica, as pri- dental, capaz de curar definitiva-
como no final do século passado. vatizações já sinalizadas englo- mente a doença em questão. Em
De uma forma ou de outra, o re- bam desde os Correios, Petrobrás tempos de questionamento a qual-
sultado é interessante. O governo (ao menos parte de seus setores), quer coisa que se aproxime de um
vende suas empresas para o setor Eletrobrás, Banco do Brasil, Caixa argumento científico, onde reina a
privado, sob o argumento de que Econômica Federal, dentre outras. “terra plana”, por que não devería-
é necessário para o ajuste fiscal, já Em julho o governo vendeu 30% mos acreditar em panaceias?
que ele passa por problemas orça- de suas ações na BR Distribuido-
mentários, mas ao mesmo tempo ra, perdendo seu controle acioná- * É professor associado da Faculdade de
é o governo que financia a compra rio em uma transação de cerca de Economia da Universidade Federal Flumi-
nense (UFF).
(pelo setor privado) de suas pró- R$ 8,5 bilhões. Só no primeiro tri-
prias empresas. De fato, um gran- mestre deste ano a empresa repor-
de negócio, para quem compra. tou um lucro líquido de R$ 477
Como as privatizações não são milhões. Como se vê, parece re-
uma panaceia apenas do atual go- almente um ótimo negócio, para
verno, a história também nos per- quem compra.
mite fazer avaliação dos proces-
sos anteriores. Ainda no período
do governo FHC passamos pela
privatização do sistema Telebrás e
da Companhia Vale do Rio Doce,
dentre outras. A eficiência microe-
conômica – sem falar da ambien-
tal, no segundo caso – fala por si só.
Mesmo assim, em seus governos, a
dívida pública passou de US$ 78
bilhões para US$ 245 bilhões. Um
fracasso também do ponto de vis-
ta macroeconômico. Nos governos
do PT passamos pela privatização
(concessão, ou Parcerias Público-
-Privadas) de rodovias e ferrovias
federais, hidrelétricas, exploração

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Fórum Popular do Orçamento Indústria 13

A evolução da dívida municipal:


sorte ou planejamento?
C onsiderando a proximida- valores de ambas, devido a uma re- do MRJ com a União compõe par- saneamento e urbanização também
de das eleições municipais de dução da disponibilidade de caixa te significativa de sua dívida total. aumentaram sua participação, em-
2020, elaboraremos uma série de do município ao longo dos anos. Contudo, em 2015, o governo fe- bora de forma menos expressiva.
artigos que terão como tema o pa- deral substituiu o indexador IGP- No mesmo sentido, é preciso
norama geral e o equilíbrio – ou Composição da dívida -DI, vinculado aos juros das dívi- destacar a contração, em 2018, de
não – do orçamento municipal. No que se refere à composi- das municipais, pelo IPCA, o que empréstimo junto ao Banco San-
Neste primeiro artigo, analisa- ção da dívida, é importante des- reduziu tanto o pagamento como tander a título de antecipação de
mos a evolução e a composição da tacar a queda na participação o estoque das referidas dívidas. Em royalties, no valor de R$ 300 mi-
dívida carioca, entre 2010 e 2019, da União enquanto credora: em termos absolutos, o Rio de Janei- lhões, com o intuito exclusivo de fi-
com base nos pareceres do Tribu- 2010, 68% da dívida do MRJ era ro foi um dos maiores beneficiários nanciar o déficit do Fundo Especial
nal de Contas do Rio de Janeiro com a União, em contraste com da medida, pois diminuiu seu sal- de Previdência do MRJ. Para 2019,
(TCM-RJ), no Relatório Resumido sua participação em 2017, de ape- do devedor com a União em R$ 8 está prevista uma nova antecipação
de Execução Orçamentária (RREO) nas 5%. (gráfico 2). Com efeito, bilhões. Em termos percentuais, a de royalties com este propósito, no
e no Relatório de Gestão Fiscal desde 1999, a União assumiu e re- redução foi de 90,55%. Cabe res- valor de R$ 987 milhões.
(RGF). Além disso, apresentamos negociou as dívidas de 180 muni- saltar que tal iniciativa da União
alguns indicadores de endividamen- cípios, inclusive a do MRJ, como estava coadunada à realização das Passivo e ativo
to retirados do Boletim de Finanças parte de um esforço maior de sa- Olimpíadas Rio/2016. no Judiciário
dos Entes Subnacionais de 2019. neamento fiscal dos estados e mu- Atualmente, a dívida consolida- Precatórios são ordens para pa-
Todos os dados estão deflacio- nicípios2. Naquela época, a pos- da do MRJ é composta, sobretudo, gamento de débitos dos órgãos pú-
nados pelo IPCA de julho de 2019. sibilidade dos entes subnacionais por obrigações decorrentes de con- blicos constituídos em decorrência
emitirem títulos públicos, somada tratos de empréstimo e de finan- de decisões judiciais transitadas em
Evolução da dívida à dificuldade que encontravam pa- ciamento. Segundo o parecer do julgado. O crédito necessário a este
A dívida consolidada se mante- ra efetuarem, na prática, a rolagem TCM-RJ de 2018, de 2014 para pagamento deve constar no orça-
ve estável entre 2010 e 2013, com dessa dívida mobiliária, gerou uma 2018, a participação de operações mento das entidades de direito pú-
um valor médio de R$ 16,6 bi- situação não afeita à sustentabili- de crédito com o objetivo de finan- blico. Dessa forma, os precatórios
lhões, para logo após sofrer dois dade fiscal do setor público como ciar estruturas de transporte e mo- fazem parte da dívida consolidada.
saltos consecutivos em 2014 e em um todo, segundo a política eco- bilidade urbana no total das opera- Em 2018, o saldo de precatórios
2015, ano em que atingiu R$ 21,4 nômica vigente. ções de crédito do MRJ elevou-se devidos pelo município chegou a
bilhões (gráfico 1). Em 2016, após Desde 1999, portanto, a dívida de 18,2% para 45,5%. As obras de R$ 225 milhões (gráfico 3).
a renegociação das dívidas munici- Por outro lado, a dívida ativa re-
pais e estaduais com a União, o Mu- presenta os créditos de proprieda-
nicípio do Rio de Janeiro (MRJ) foi Gráfico 1 – Dívida consolidada de da Fazenda Pública provenien-
beneficiado com uma queda acen- e dívida consolidada líquida: tes, principalmente, de obrigações
tuada em sua dívida, que se con- tributárias (embora possa ter ou-
traiu em 25,7%, para R$ 15,9 bi- tras origens, por exemplo, quando
lhões. Desde então, ela não passou oriunda de multas). Ou seja, a dívi-
por grandes variações e alcançou o da ativa é um ativo municipal e re-
valor de R$ 15,4 bilhões no primei- presenta uma potencial receita pú-
ro semestre de 2019. blica, caso efetuado o pagamento.
Por sua vez, a dívida consolidada A dívida ativa líquida, por sua
líquida1 acompanhou o movimen- vez, consiste na dívida ativa sub-
to da dívida consolidada durante traída da sua provisão de perdas e
o período analisado. Contudo, po- traduz melhor a receita em poten-
demos observar, no gráfico 1, uma cial existente. Em 2018, a dívida
progressiva aproximação entre os Fonte: Parecer do TCM-RJ (2010-2018); RREO (2019). ativa líquida municipal correspon-

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dos Economistas 2019
/ Julho 2019
14 Fórum Popular do Orçamento

Gráfico 2 - Composição da dívida municipal: Gráfico 3 – Saldo dos precatórios:

Fonte: Parecer do TCM-RJ (2010-2017); Secretaria do Tesouro Nacional. Fonte: Parecer do TCM-RJ 2010-2018.

deu a R$ 28,5 bilhões (gráfico 4), ou seja, não houve geração de um A disponibilidade de caixa e e criteriosa avaliação. O Ministério
ou seja, foi 127 vezes maior do que bem ou serviço. As despesas liqui- a suficiência financeira são ain- Público do Rio de Janeiro chegou,
o saldo dos precatórios (passivo ju- dadas/realizadas, mas não pagas, são da menores quando consideramos inclusive, a mover ação civil públi-
dicial do município). denominadas restos a pagar processa- a existência, a partir de 2016, de ca por improbidade administrativa
Ademais, devemos atentar pa- dos (RPP). Observamos que, apesar despesas liquidadas sem o prévio contra o ex-prefeito Eduardo Paes.
ra os problemas na base cadastral de apresentar leve aumento nos últi- empenho, ou seja, que não cons- Por conseguinte, a Controla-
da Procuradoria Geral do MRJ, mos dois anos, o total de restos a pa- tam nos Restos a Pagar. doria Geral do Município apurou
que impedem a correta apuração gar diminuiu mais de R$ 2 bilhões despesas incorridas (serviços pres-
de dívidas do IPTU relacionadas em relação a 2010 (gráfico 5). Despesas liquidadas tados e/ou materiais entregues) e
a imóveis de propriedade do pró- Já a disponibilidade de caixa lí- sem empenho não inscritas em Restos a Pagar en-
prio município. Sua inclusão le- quida – isto é, deduzidas as obriga- O Parecer do TCM-RJ de 2016 tre 2016 e 2018 no montante de
va à superavaliação da dívida ati- ções financeiras (RPP) – vem cain- informou que o Prefeito e o Con- 1,73 bilhão. Em 2016, 90% foram
va e, consequentemente, do ativo do desde 2014 (gráfico 6), sendo trolador-Geral do Município can- provenientes do procedimento su-
consolidado. Apesar das recorren- zerada a partir de 2017, quando celaram milhares de empenhos em pracitado, ou seja, foram realizadas
tes recomendações do TCM-RJ, os passou a ter saldo negativo. Isso sig- nome de diversos ordenadores de apesar do cancelamento do empe-
problemas persistem. nifica um aumento do risco de in- despesa sem que os mesmos sequer nho. O restante foi fruto de des-
solvência no que se refere às obriga- tivessem conhecimento de tais pesas realizadas sem cobertura or-
(In)suficiência ções de curto prazo do município. atos. Tal procedimento contraria çamentária, o que se repetiu nos
Financeira Por outro lado, a insuficiência fi- a Lei de Responsabilidade Fiscal exercícios seguintes. Isso configu-
A suficiência financeira pode nanceira, que inclui os RPN, atin- (LRF), que exige, como requisito ra ilegalidade nas contas públicas,
ser verificada a partir do Demons- giu R$ 1,18 bilhão em 2018. para o cancelamento, uma prévia pois a Lei nº 4.320/64 proíbe ex-
trativo da Disponibilidade de pressamente a realização de qual-
Caixa e dos Restos a Pagar3, que quer despesa sem a prévia forma-
visa dar transparência ao equilí- Gráfico 4 – Dívida Ativa Líquida: lização de empenho. A vedação
brio entre a geração de obrigações também está prevista na Consti-
e a disponibilidade de caixa. A se- tuição Federal e na LRF.
guir, analisaremos os dois concei- Além de resultar numa dimi-
tos presentes no demonstrativo: nuição da disponibilidade de cai-
os restos a pagar e a disponibili- xa líquida, as despesas não conta-
dade de caixa. bilizadas elevaram a insuficiência
As despesas empenhadas, mas financeira do município para R$
não liquidadas, são denominadas res- 2,91 bilhões, em 20184. Segundo
tos a pagar não processados (RPN). a LRF, é responsabilidade do pre-
Isso porque, apesar de já haver um feito garantir que, no último exer-
comprometimento de dispêndio pe- cício do mandato, haja disponibi-
lo poder público, nada foi realizado, Fonte: Parecer do TCM-RJ 2010-2018. lidades financeiras suficientes para

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Fórum Popular do Orçamento 15

satisfazer integralmente as obriga- pais, que mostra um valor de 7,2%,


ções de despesa contraídas, tanto segundo percentual mais alto em Gráfico 5 – Restos a Pagar:
as regularmente inscritas em Res- comparação com outras capitais.
tos a Pagar quanto as que não te- Outro índice importante é o de
nham passado pela execução or- investimentos com recursos pró-
çamentária. Embora o dispositivo prios. Ele representa a diferença
trate especificamente do fim do entre o total gasto pelo ente com
mandato, seu cumprimento de- investimento e as receitas de trans-
pende de um equilíbrio entre re- ferências de capital e de operações
ceitas e obrigações durante todo o de crédito. Percentuais altos de in-
período. Esse cenário é agravado vestimentos realizados com recursos Fonte: Parecer do TCM-RJ 2010-2018.
pelo fato de que a insuficiência fi- próprios representam baixa depen-
nanceira apurada em 2018 já cor- dência de fontes de financiamento
responde a mais de 9% da dotação provenientes de terceiros, o que não
para o exercício de 2019. é o caso do Rio, que apresentou 0% Gráfico 6 – Disponibilidade de caixa líquida:
Por fim, destaca-se que o De- de investimentos com recursos pró-
monstrativo da Disponibilidade prios, pior desempenho entre as ca-
de Caixa e dos Restos a Pagar foi pitais. Isso significa que o volume
o único anexo do RGF referente de investimento é menor que o to-
ao 1º quadrimestre de 2019 que tal de receitas de operações de cré-
ainda não foi publicado até o mo- dito e transferências de capital.
mento de fechamento do presen- Quando analisamos a despe-
te texto, o que demonstra falta de sa encontramos três indicadores re-
compromisso do Poder Executivo levantes: i) o de despesa de custeio
municipal com a transparência. em relação à totalidade da despesa,
que permite avaliarmos o nível de
Indicadores flexibilidade fiscal, aspecto necessá- Fonte: RGFs 2010-2018.

de endividamento rio para lidar com situações de con-


Os indicadores a seguir, que po- tração fiscal. O Rio de Janeiro é a Conclusão até o 3° bimestre de 2019, o MRJ
dem ser grandes aliados para a com- segunda capital com maior rigidez, Como vimos, a situação da dí- arrecadou R$ 14,6 bilhões e empe-
preensão do endividamento de um com 63,4%; ii) o de restos a pagar vida do MRJ melhorou significati- nhou R$ 19,5 bilhões, o que repre-
município, foram retirados do Bo- processados em relação à despesa li- vamente após a substituição do in- senta um déficit potencial de qua-
letim de Finanças dos Entes Subna- quidada, que aponta a transferên- dexador vinculado à dívida com a se R$ 5 bilhões. Se esta tendência se
cionais de 2019. O primeiro de- cia de despesas do exercício que se União. Se não tivesse ocorrido es- concretizar ao final do ano, o rombo
les demonstra a relação entre dívida encerra para o exercício seguinte. sa mudança, a dívida em 2016 te- orçamentário será sem precedentes.
consolidada e receita corrente líqui- Quanto maior for este índice maior ria sido de aproximadamente R$ Portanto, é necessário que o governo
da (RCL). Neste índice, o Rio apa- será a transferência, e o Rio encon- 24 bilhões. Além disso, confor- municipal envide esforços para ga-
receu como segundo pior dentre as tra-se em 3º lugar com 7,7%; iii) o me evidenciaram os indicadores de rantir um maior planejamento orça-
capitais do país, com um nível de de disponibilidade de caixa líquida endividamento, o MRJ apresen- mentário, que se reflita em uma dí-
75,1%. Isso é preocupante, uma em relação à despesa mensal líqui- ta diversos problemas estruturais vida controlada e descendente.
vez que uma RCL baixa em relação da média, que demonstra o quanto que podem conduzi-lo novamen-
à dívida consolidada aumenta os de caixa o município tem frente à te a uma escalada da dívida, como 1 Corresponde à dívida consolidada me-
riscos de insolvência do município. despesa líquida de um mês. Alguns o alto grau de rigidez das despesas, nos a disponibilidade de caixa e haveres fi-
Isso pode ser complementa- municípios apresentam disponibili- pouca ou nenhuma possibilidade nanceiros (deduzidos os restos a pagar pro-
do com o índice do serviço da dí- dade de caixa negativa, o que signi- de financiar investimentos com re- cessados).
2 Exposição da União à Insolvência dos
vida em função da RCL, onde evi- fica que são incapazes de arcar com cursos próprios e alto comprome-
Entes Subnacionais (Tesouro Nacional,
denciamos o comprometimento da despesas caso não obtenham novas timento da RCL com o pagamen- 2018).
receita para pagamento de juros e receitas, como é o caso do Rio, que to de juros e amortizações. 3 Anexo 5 do RGF.
amortizações das dívidas munici- apresentou -0,2%. Neste sentido, verificamos que, 4 Parecer TCM-RJ 2018

FÓRUM POPULAR DO ORÇAMENTO – RJ (21 2103-0121). Para mais informações acesse www.corecon-rj.org.br/fpo-rj e www.facebook.com/FPO.Corecon.Rj
Coordenação: Econ. Luiz Mario Behnken e Econ. Thiago Marques. Assistentes: Est. Amanda Resende, Est. Juliana Medeiros e Est. Laura Muniz

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Agenda de cursos

Tópicos em Economia da Saúde Orçamento Público – Módulo I


2/10 a 4/11/19 19/11 a 28/11/19
Carga horária: 30 horas Carga horária: 12 horas
18h30 às 21h30 | 2as e 4as feiras 18h30 às 21h30 | 3as e 5as feiras
Prof. Carlos Ocké Profª. Mirella Mirelli Malaguti

Gestão de Custos e Formação de Preços Atualização em Economia:


8/10 a 31/10/19 Preparatório para o exame da Anpec
Carga horária: 24 horas Janeiro a setembro de 2020
9h30 às 12h30 | 3as e 5as feiras INSCRIÇÕES ABERTAS
Prof. Fábio Frazão Carga horária: 521h - 2as a 6as feiras,
das 18h30 às 21h30,
Viabilidade de Projetos de Investimento e alguns sábados, das 9h às 12h30
com uso em Plataforma Excel Disciplinas:
8/10 a 7/11/2019 Macroeconomia, Microeconomia,
Carga horária: 30 horas Matemática, Estatística
18h30 às 21h30 | 3as e 5as feiras e Economia Brasileira.
Prof. Luiz Claudio Gutierrez Duarte

BALANÇO PATRIMONIAL
ATIVO (EM R$) PASSIVO (EM R$)
REFERÊNCIAS ATÉ JUN/18 ATÉ JUN/19 REFERÊNCIAS ATÉ JUN/18 ATÉ JUN/19
ATIVO FINANCEIRO 7.851.989,77 7.752.538,60 PASSIVO FINANCEIRO 350.915,67 361.433,41
DISPONÍVEL 86.338,18 120.161,41 DÍVIDA FLUTUANTE 58.279,97 56.372,82
DISPONÍVEL VINCULADO A C/C BANCARIA 7.699.881,19 7.531.097,23 RESTOS A PAGAR -
REALIZÁVEL 23.887,82 59.397,38 DEPÓSITOS DE DIVERSAS ORIGENS -
RESULTADO PENDENTE 41.882,58 41.882,58 CONSIGNAÇÕES 11.022,42 11.578,78
ATIVO PERMANENTE 26.093.617,40 25.772.290,11 CREDORES DA ENTIDADE 8.400,42 4.811,38
BENS PATRIMONIAIS 1.766.984,93 1.790.749,64 ENTIDADES PÚBLICAS CREDORAS 38.857,13 39.982,66
VALORES 55.883,44 55.390,20 RESULTADO PENDENTE 292.635,70 305.060,59
CRÉDITOS 24.270.749,03 23.926.150,27 PATRIMÔNIO(ATIVO REAL LÍQUIDO) 33.594.691,50 33.163.395,30
TOTAL GERAL 33.945.607,17 33.524.828,71 TOTAL GERAL 33.945.607,17 33.524.828,71

DEMONSTRATIVO DAS RECEITAS E DESPESAS


REFERÊNCIAS PERÍODO EM REAIS REFERÊNCIAS VARIAÇÕES
ABRIL A JUN/18 ABRIL A JUN/19 (EM R$) (EM %)
RECEITAS RECEITAS
ANUIDADES 235.079,27 343.046,14 ANUIDADES 107.966,87 45,9
PATRIMONIAL (59.868,38) 734.604,03 PATRIMONIAL 794.472,41 -1327,0
SERVIÇOS 21.356,69 19.143,54 SERVIÇOS (2.213,15) -10,4
MULTAS E JUROS DE MORA 12.797,29 6.526,04 MULTAS E JUROS DE MORA (6.271,25) -
DÍVIDA ATIVA 243.994,26 201.583,00 DÍVIDA ATIVA (42.411,26) -17,4
DIVERSAS 76.862,32 73.565,75 DIVERSAS (3.296,57) -4,3
TOTAL GERAL 530.221,45 1.378.468,50 TOTAL GERAL 848.247,05 160,0
DESPESAS DESPESAS
DE CUSTEIO 1.184.924,89 1.175.977,50 DE CUSTEIO (8.947,39) -0,8
PESSOAL 610.362,92 662.649,82 PESSOAL 52.286,90 8,6
MATERIAL DE CONSUMO 10.704,53 15.942,10 MATERIAL DE CONSUMO 5.237,57 48,9
SERVIÇOS DE TERCEIROS E ENCARGOS 563.857,44 497.385,58 SERVIÇOS DE TERCEIROS E ENCARGOS (66.471,86) -11,8
TRANSFERÊNCIAS CORRENTES 114.043,07 125.319,67 TRANSFERÊNCIAS CORRENTES 11.276,60 9,9
DESPESAS DE CAPITAL 2.789,15 3.196,13 DESPESAS DE CAPITAL 406,98 14,6
TOTAL GERAL 1.301.757,11 1.304.493,30 TOTAL GERAL 2.736,19 0,2
RESULTADO = RECEITAS - DESPESAS (771.535,66) 73.975,20 RESULTADO = RECEITAS - DESPESAS 845.510,86 -109,6

Atualize seu cadastro no Corecon-RJ


Manter o cadastro atualizado é fundamental para que o Conselho possa se comunicar com você. Solicitamos que você nos informe sobre qualquer mudança nos
seus dados cadastrais, tais como: e-mail, endereço residencial ou comercial, telefones fixo ou celular etc. Você pode utilizar os seguintes canais:
1) Site do Corecon-RJ, www.corecon-rj.org.br, seção “atualização cadastral” (na barra superior). 2) Telefones: 21-2103-0113; 2103-0114; 2103-0115; 2103-0116; 2103-0131.
3) E-mails: thiago@corecon-rj.org.br; karina@corecon-rj.org.br; silvia@corecon-rj.org.br; claudio@corecon-rj.org.br; samuel@corecon-rj.br; registro@corecon-rj.org.br.

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