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Privatização escancarada
Primeiro artigo da série do Fórum sobre o orçamento da cidade analisa a dívida carioca
2 Editorial Sumário
Órgão Oficial do CORECON - RJ Conselheiros Efetivos: 1º TERÇO: (2017-2019) Arthur Camara Cardozo, João Manoel Gon-
E SINDECON - RJ çalves Barbosa, Regina Lúcia Gadioli dos Santos - 2º TERÇO: (2018-2020) Antônio dos Santos
Issn 1519-7387 Magalhães, Flávia Vinhaes Santos, Jorge de Oliveira Camargo - 3º TERÇO: (2019-2021) Carlos
Henrique Tibiriçá Miranda, Thiago Leone Mitidieri, José Antônio Lutterbach Soares. Conselheiros
Conselho Editorial: Sidney Pascoutto da Rocha, João Manoel Gonçalves Barbosa, Carlos Henrique Suplentes: 1º TERÇO: (2017-2019) Andréa Bastos da Silva Guimarães, Gisele Mello Senra Rodri-
Tibiriçá Miranda, Marcelo Pereira Fernandes, Gisele Rodrigues, Wellington Leonardo da Silva, Pau- gues, Marcelo Pereira Fernandes - 2º TERÇO: (2018-2020) André Luiz Rodrigues Osório, Gilberto
lo Passarinho, Sergio Carvalho C. da Motta, José Ricardo de Moraes Lopes e Gilberto Caputo San- Caputo Santos, Miguel Antônio Pinho Bruno - 3º TERÇO: (2019-2021) José Ricardo de Moraes
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Conselho Fiscal: Jorge de Oliveira Camargo, Luciano Amaral Pereira e Regina Lúcia Gadioli dos
Presidente: João Manoel Gonçalves Barbosa. Vice-presidente: Flávia Vinhaes Santos. Santos.
termediários financeiros, comer- trabalho dos outros é mais confor- A indústria emprega apenas 10% cas sociais, que hoje adquirem pe-
ciais e jurídicos, cujo papel é, de tável. Aqui precisamos manter sis- da população ocupada, sendo que so fundamental no conjunto de
certa forma, de “azeitar” as intera- temas mistos, com no mínimo al- apenas 5% são operários. atividades econômicas, funcio-
ções entre os diversos atores. Aqui, ternativas públicas que reduzam As políticas sociais funcio- nam bem quando são apropriadas
com as novas tecnologias, a oligo- os efeitos de oligopólio do setor nam de maneira descentralizada em cada cidade e com forte con-
polização avançou radicalmen- privado, além de fortes mecanis- e participativa. Educação ou saú- trole por parte de organizações da
te em todo o planeta, e os inter- mos de regulação. de não se importam da China, co- sociedade civil.
mediários se transformaram em E tanto as atividades produ- mo brinquedos de plástico, nem Essas quatro grandes áreas de
atravessadores, cobradores de pe- tivas como as infraestruturas e os se colocam numa prateleira de su- atividades – unidades produtivas
dágio sobre qualquer transação. serviços de intermediação, para permercado. Trata-se de atividades empresariais, infraestruturas, ser-
Os gigantes financeiros se torna- funcionarem, dependem de pes- capilares, chegando a cada pessoa. viços de intermediação e políti-
ram agiotas, o grande comércio e soas com saúde, educação, rique- Onde funcionam bem, são orga- cas sociais – exigem por natureza
as plataformas de venda online en- za cultural, segurança, riqueza de nizados em sistemas públicos, de sistemas de propriedade, gestão e
golem o pequeno comércio, hoje convívio. Aliás, é o que mais que- acesso local gratuito e universal. controle diversificados, forman-
é preciso recorrer a um advogado remos da vida, são atividades fins, Simplesmente porque é mais efi- do uma articulação inteligente do
para cada espirro. Nesta área que ao contrário, por exemplo, das fi- ciente e mais barato. Nos Estados setor privado, do setor público e
hoje se agigantou, é que se reali- nanças. As políticas sociais ho- Unidos, com saúde paga do bol- das organizações da sociedade ci-
zam hoje os grandes lucros. A in- je se tornaram os principais eixos so (out-of-pocket), o custo por ha- vil. O presente governo está apa-
termediação é hoje o grande ne- de atividade. Há um deslocamen- bitante é de 9.400 dólares por pes- rentemente muito mais interessa-
gócio, produzir rende pouco e dá to profundo da composição in- soa e por ano. O Canadá, com do em facilitar a apropriação dos
trabalho, enquanto intermediar o tersetorial das nossas atividades, saúde pública, gratuita e de aces- recursos públicos do que assegurar
com forte crescimento das políti- so universal, obtém resultados in- uma gestão competente do pro-
cas sociais, de consumo coletivo. comparavelmente superiores com cesso de desenvolvimento. Aliás,
Nos EUA, por exemplo, a saúde, menos da metade dos custos: tra- neste campo, precisaria de pesso-
com 20% do PIB, representa de ta-se de política de saúde, em vez as competentes.
longe o maior setor econômico. de indústria da doença. As políti- E fazer negociatas com patri-
mônio público é criminoso.
1 Disponível em http://dowbor.org/blog/
wp-content/uploads/2012/06/Ladislau-
-DOWBOR-O-P%C3%A3o-Nosso-de-
-Cada-Dia.pdf
Neoliberalismo, privatização
e autoengano
Antonio Corrêa de Lacerda* privados, agravados pelo fato de da indústria de média e alta tec-
inexistência ou insuficiência de nologia no PIB, que recuou de
nhado o crescimento dos custos suas interconexões com os seto- ciamento para projetos torna- ra fazer um contraponto à crise.
de itens representativos da ces- res agropecuário e de serviços. -se ainda mais relevante. Desde 2015, já houve a devolu-
ta de consumo da classe média, Restringir os repasses do FAT ção de R$ 330 bilhões, restando
como taxas de planos de saúde, “Caixa-preta” do ao BNDES, além de limitar a um saldo equivalente a R$ 250
de condomínio e mensalidades BNDES e outras lendas sua própria atuação, representa- bilhões, considerando correção
escolares, como exemplo. Fato- ria mais uma daquelas pseudos- e juros. O plano anterior à mu-
res que comprimem o orçamen- Um dos mitos que segue sen- soluções simples para problemas dança de governo previa que o
to familiar e restringem a capaci- do disseminado é sobre a existên- complexos, mas longe de serem BNDES restituísse cerca de R$
dade de consumir. cia de uma suposta “caixa preta” adequadas. O banco historica- 25 bilhões anualmente. No en-
Há ainda os fatores de com- que esconderia os dados sobre os mente tem exercido um impor- tanto, o atual ministro da Eco-
petitividade desfavoráveis, co- desembolsos do Banco Nacional tante papel no desenvolvimento nomia, Paulo Guedes, pressiona
mo burocracia, custo da logísti- de Desenvolvimento Econômi- brasileiro. Ao longo dos 67 anos para que R$ 126 bilhões sejam
ca e infraestrutura, impactos da co e Social (BNDES). Embora de existência, sempre exerceu devolvidos ainda este ano.
tributação, além de outros pio- reiteradas vezes desmentida por papel relevante no financiamen- A sustentabilidade das opera-
res do que a maioria dos nossos vários ex-presidentes que passa- to do desenvolvimento brasilei- ções do banco depende das su-
competidores. A desvalorização ram pelo banco e a despeito do ro, embora em diferentes perí- as fontes de financiamento. Des-
ocorrida com o real relativa- fato de o banco manter em seu odos suas funções tenham sido taque-se que não há substituto
mente às demais moedas deveria site expressiva transparência, es- mais especificas, a depender das para a atuação do BNDES. No
compensar parte dessas desvan- sa “lenda urbana” segue sendo prioridades das políticas econô- mercado privado inexistem fon-
tagens, mas isso não é imediato, repetida. Na verdade, o episódio micas em vigor. tes de financiamento de longo
nem automático. revela grande preconceito e total A Constituição de 1988 de- prazo e a custos (juros) compatí-
O desempenho exportador é desconhecimento da forma de termina que 40% do PIS-Pasep, veis com a rentabilidade espera-
algo que requer uma estratégia operação desse importante órgão principal fonte do FAT, seja des- da das atividades e projetos. As-
mais ativa de forma a vir a repre- de Estado para o Brasil. tinado ao BNDES. Com o efeito sim, a atuação do banco se revela
sentar uma parcela maior do que É preciso ficar claro que to- da Desvinculação de Receitas da imprescindível, especialmente
a atual. Diante da crise global, das as operações do banco pre- União (DRU), criada em 1994, em face da longa crise enfrenta-
as “guerras” comercial e cambial cedem de avaliação criteriosa do os repasses foram reduzidos a da pela economia brasileira. Di-
estão acirrando a disputa pelos seu corpo técnico, formando por 28% do total. O banco repassa, ficultar ou buscar inviabilizar
mercados, tornando mais árdua profissionais concursados e alta- via empréstimos, esses recursos a sua atuação representaria, na
a tarefa de quem deseja obter ga- mente qualificados. Supor que ao setor produtivo, no financia- prática, adiar a saída da crise e
nhos de participação. um determinado presidente, mento de investimentos para in- postergar as condições para a re-
A agenda da política indus- ou diretor, teria autonomia pa- fraestrutura, novos empreendi- tomada do desenvolvimento na-
trial em um sentido mais am- ra conceder empréstimos de ris- mentos e compras de máquinas e cional.
plo, considerando as políticas de co é desconhecer por completo o equipamentos. Esses recursos re- A dispersão em falsas soluções
competitividade comercial e de trâmite dos projetos na institui- presentam cerca de 35% das fon- e a ausência de um projeto de Na-
ciência, tecnologia e inovação, ção. Uma simples visita ao site tes de financiamento do banco. ção nos joga no limbo da depres-
precisa fazer parte das discussões do banco evitaria a disseminação O saldo atual em carteira monta são e suas terríveis consequências
das alternativas para o fortaleci- de verdadeiras fake news a respei- R$ 268,7 bilhões, 83,7% supe- como o desemprego ou exclusão
mento da indústria. Nesse senti- to da sua atuação. rior ao de 2011, de acordo com de 28 milhões de pessoas do mer-
do, ao contrário do esperado por Outro assunto correlato o boletim do FAT. Para o ano em cado de trabalho, o aumento da
alguns, a junção do antigo Mi- igualmente relevante é quanto curso está previsto o repasse de pobreza e a deterioração dos ser-
nistério da Indústria e Comércio ao funding do banco, que con- R$ 18,8 bilhões. viços públicos, afetando princi-
(MDIC) ao atual Ministério da ta com repasses do PIS/Pasep ao Com as alterações promovi- palmente os mais pobres, os que
Economia parece ter ocultado a Fundo de Amparo ao Trabalha- das pelos governos Temer e ago- mais dependem deles!
temática. dor (FAT), dos quais parte são ra, Bolsonaro, está em curso um
O desafio da retomada da destinados aos seus financiamen- processo de devolução de recur- * É professor-doutor e diretor da FEA-
economia passa necessariamen- tos. Especialmente em um mo- sos ao Tesouro por parte do BN- -PUCSP, conselheiro e atual vice-presi-
dente do Conselho Federal de Economia
te pela recuperação da indústria, mento de crise e atrofia de in- DES, um montante de R$ 416 (Cofecon) e autor, entre outros livros, de
tendo em vista sua relevância pa- vestimentos como o atual, a bilhões tomados entre 2008 e Economia Brasileira (6ª Edição: Saraiva,
ra a geração de valor agregado e preservação de fontes de finan- 2014 que foram utilizados pa- 2018). Site: www.aclacerda.com
de privatização costuma ocorrer. de áreas de petróleo e gás, portos e Além da questionável eficiên- ma, com a expectativa de uma no-
A venda não é normalmente feita aeroportos, dentre outros serviços. cia microeconômica (aumento dos va manifestação da crise da econo-
com recursos próprios do setor pri- Nem abatemos nossa dívida públi- preços de serviços/produtos, co- mia mundial, parece improvável.
vado que compra as empresas esta- ca com essas receitas, nem alavan- mo combustíveis, passagens aére- A forte expansão do endividamen-
tais. Linhas de crédito costumam camos a elevação das taxas de in- as, planos de saúde, etc.) a razão to das famílias retira o consumo
ser a base desse financiamento. vestimento para o crescimento da macroeconômica de que as priva- como possível fonte de retomada.
Não raro, a linha de crédito vem economia, que só teve um suspiro tizações são condições necessárias Os gastos públicos (incluindo os
de bancos de financiamento. No no período em função do cenário para a retomada dos investimentos investimentos) estão comprometi-
caso brasileiro, bancos públicos! externo favorável, e obtivemos ga- e, portanto, do crescimento, não se dos pelo forte arrocho fiscal. Sobra
O BNDES cumpriu esse papel ao nhos de eficiência microeconômi- sustenta. A produção da economia apenas a expansão dos investimen-
longo dos anos 90, continuou par- ca questionáveis, no mínimo. só é acrescida se os produtores es- tos privados.
ticipando do processo neste século Em sua retomada do neolibe- timam que ela seja vendida. A de- Chegamos à brilhante con-
nos processos de parcerias público- ralismo mais ensandecido, o atu- manda agregada da economia po- clusão de que os investimentos
-privadas e de concessões públi- al governo resgata as privatizações de ser reativada pelo crescimento (privados) serão retomados pe-
cas (neologismos para as privati- como a panaceia do desenvolvi- do consumo das famílias, dos gas- la expectativa de crescimento dos
zações). No atual governo, desde a mento brasileiro. Em sua já habi- tos do governo, dos investimentos investimentos (privados). Uma
campanha, sustenta-se que o BN- tual inabilidade em conceber, di- e pela demanda externa. Esta últi- panaceia costuma significar um
DES voltará a cumprir o seu pa- fundir, sustentar e implementar remédio mágico, quase transcen-
pel de financiador de privatizações uma estratégia econômica, as pri- dental, capaz de curar definitiva-
como no final do século passado. vatizações já sinalizadas englo- mente a doença em questão. Em
De uma forma ou de outra, o re- bam desde os Correios, Petrobrás tempos de questionamento a qual-
sultado é interessante. O governo (ao menos parte de seus setores), quer coisa que se aproxime de um
vende suas empresas para o setor Eletrobrás, Banco do Brasil, Caixa argumento científico, onde reina a
privado, sob o argumento de que Econômica Federal, dentre outras. “terra plana”, por que não devería-
é necessário para o ajuste fiscal, já Em julho o governo vendeu 30% mos acreditar em panaceias?
que ele passa por problemas orça- de suas ações na BR Distribuido-
mentários, mas ao mesmo tempo ra, perdendo seu controle acioná- * É professor associado da Faculdade de
é o governo que financia a compra rio em uma transação de cerca de Economia da Universidade Federal Flumi-
nense (UFF).
(pelo setor privado) de suas pró- R$ 8,5 bilhões. Só no primeiro tri-
prias empresas. De fato, um gran- mestre deste ano a empresa repor-
de negócio, para quem compra. tou um lucro líquido de R$ 477
Como as privatizações não são milhões. Como se vê, parece re-
uma panaceia apenas do atual go- almente um ótimo negócio, para
verno, a história também nos per- quem compra.
mite fazer avaliação dos proces-
sos anteriores. Ainda no período
do governo FHC passamos pela
privatização do sistema Telebrás e
da Companhia Vale do Rio Doce,
dentre outras. A eficiência microe-
conômica – sem falar da ambien-
tal, no segundo caso – fala por si só.
Mesmo assim, em seus governos, a
dívida pública passou de US$ 78
bilhões para US$ 245 bilhões. Um
fracasso também do ponto de vis-
ta macroeconômico. Nos governos
do PT passamos pela privatização
(concessão, ou Parcerias Público-
-Privadas) de rodovias e ferrovias
federais, hidrelétricas, exploração
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www.corecon-rj.org.br JornalJornal
dos Economistas / Outubro
dos Economistas 2019
/ Julho 2019
14 Fórum Popular do Orçamento
Fonte: Parecer do TCM-RJ (2010-2017); Secretaria do Tesouro Nacional. Fonte: Parecer do TCM-RJ 2010-2018.
deu a R$ 28,5 bilhões (gráfico 4), ou seja, não houve geração de um A disponibilidade de caixa e e criteriosa avaliação. O Ministério
ou seja, foi 127 vezes maior do que bem ou serviço. As despesas liqui- a suficiência financeira são ain- Público do Rio de Janeiro chegou,
o saldo dos precatórios (passivo ju- dadas/realizadas, mas não pagas, são da menores quando consideramos inclusive, a mover ação civil públi-
dicial do município). denominadas restos a pagar processa- a existência, a partir de 2016, de ca por improbidade administrativa
Ademais, devemos atentar pa- dos (RPP). Observamos que, apesar despesas liquidadas sem o prévio contra o ex-prefeito Eduardo Paes.
ra os problemas na base cadastral de apresentar leve aumento nos últi- empenho, ou seja, que não cons- Por conseguinte, a Controla-
da Procuradoria Geral do MRJ, mos dois anos, o total de restos a pa- tam nos Restos a Pagar. doria Geral do Município apurou
que impedem a correta apuração gar diminuiu mais de R$ 2 bilhões despesas incorridas (serviços pres-
de dívidas do IPTU relacionadas em relação a 2010 (gráfico 5). Despesas liquidadas tados e/ou materiais entregues) e
a imóveis de propriedade do pró- Já a disponibilidade de caixa lí- sem empenho não inscritas em Restos a Pagar en-
prio município. Sua inclusão le- quida – isto é, deduzidas as obriga- O Parecer do TCM-RJ de 2016 tre 2016 e 2018 no montante de
va à superavaliação da dívida ati- ções financeiras (RPP) – vem cain- informou que o Prefeito e o Con- 1,73 bilhão. Em 2016, 90% foram
va e, consequentemente, do ativo do desde 2014 (gráfico 6), sendo trolador-Geral do Município can- provenientes do procedimento su-
consolidado. Apesar das recorren- zerada a partir de 2017, quando celaram milhares de empenhos em pracitado, ou seja, foram realizadas
tes recomendações do TCM-RJ, os passou a ter saldo negativo. Isso sig- nome de diversos ordenadores de apesar do cancelamento do empe-
problemas persistem. nifica um aumento do risco de in- despesa sem que os mesmos sequer nho. O restante foi fruto de des-
solvência no que se refere às obriga- tivessem conhecimento de tais pesas realizadas sem cobertura or-
(In)suficiência ções de curto prazo do município. atos. Tal procedimento contraria çamentária, o que se repetiu nos
Financeira Por outro lado, a insuficiência fi- a Lei de Responsabilidade Fiscal exercícios seguintes. Isso configu-
A suficiência financeira pode nanceira, que inclui os RPN, atin- (LRF), que exige, como requisito ra ilegalidade nas contas públicas,
ser verificada a partir do Demons- giu R$ 1,18 bilhão em 2018. para o cancelamento, uma prévia pois a Lei nº 4.320/64 proíbe ex-
trativo da Disponibilidade de pressamente a realização de qual-
Caixa e dos Restos a Pagar3, que quer despesa sem a prévia forma-
visa dar transparência ao equilí- Gráfico 4 – Dívida Ativa Líquida: lização de empenho. A vedação
brio entre a geração de obrigações também está prevista na Consti-
e a disponibilidade de caixa. A se- tuição Federal e na LRF.
guir, analisaremos os dois concei- Além de resultar numa dimi-
tos presentes no demonstrativo: nuição da disponibilidade de cai-
os restos a pagar e a disponibili- xa líquida, as despesas não conta-
dade de caixa. bilizadas elevaram a insuficiência
As despesas empenhadas, mas financeira do município para R$
não liquidadas, são denominadas res- 2,91 bilhões, em 20184. Segundo
tos a pagar não processados (RPN). a LRF, é responsabilidade do pre-
Isso porque, apesar de já haver um feito garantir que, no último exer-
comprometimento de dispêndio pe- cício do mandato, haja disponibi-
lo poder público, nada foi realizado, Fonte: Parecer do TCM-RJ 2010-2018. lidades financeiras suficientes para
FÓRUM POPULAR DO ORÇAMENTO – RJ (21 2103-0121). Para mais informações acesse www.corecon-rj.org.br/fpo-rj e www.facebook.com/FPO.Corecon.Rj
Coordenação: Econ. Luiz Mario Behnken e Econ. Thiago Marques. Assistentes: Est. Amanda Resende, Est. Juliana Medeiros e Est. Laura Muniz
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CRÉDITOS 24.270.749,03 23.926.150,27 PATRIMÔNIO(ATIVO REAL LÍQUIDO) 33.594.691,50 33.163.395,30
TOTAL GERAL 33.945.607,17 33.524.828,71 TOTAL GERAL 33.945.607,17 33.524.828,71