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da SPE
Janeiro de 2020
Boletim MacroFiscal
da SPE
Brasília
Janeiro de 2020
02 - Conjuntura 6
05 - Projeção de inflação 9
Panorama Macroeconômico
O Panorama Macroeconômico é um conjunto amplo de indicadores de conjuntura e
de projeções da Grade de Parâmetros para o processo orçamentário, produzido pela
SPE. Apresenta dados selecionados de atividade econômica: PIB, produção setorial,
emprego e renda, preços e inflação, crédito e mercado financeiro, política fiscal, setor
externo e economia internacional.
Resumo
Panorama geral
Os indicadores de emprego e atividade têm apre-
l PIB para 2019: 1,12% (projeção no úl- sentado um cenário consistente para a retomada da
timo Boletim era de 0,90%). economia em 2020. O emprego formal tem apresen-
tado aceleração nos últimos meses, dando sinais
l PIB para 2020: 2,40% (anteriormente de aquecimento da economia, o que é fundamental
era de 2,32%) para a atividade, uma vez que a produtividade no
setor formal é maior que a do setor informal. Nesse
l IPCA para 2020: 3,62% (anteriormente sentido, destaca-se a elevada correlação histórica
era de 3,53%) entre o resultado de criação líquida de empregos for-
mais e o PIB, que leva a uma aceleração na previsão
l INPC para 2020: 3,73% (anteriormente de crescimento.
era de 3,54%)
Conforme será destacado em um box específico
l Indicadores de emprego e atividade neste Boletim, a produtividade intrínseca dos setores
indicam uma retomada consistente da apresenta-se relativamente estável. Dessa forma, a
economia para 2020. queda na produtividade agregada tem se dado pelo
efeito de composição entre setores formal/informal.
l É essencial manter a trajetória de ajuste Mediante a aceleração de contratações no empre-
fiscal para manter o juro real de equilíbrio go formal, espera-se um aumento da produtividade,
baixo e estimular o crescimento. Além que impulsionará o crescimento.
disso, as reformas que visam elevar a
produtividade são fundamentais para Os indicadores de atividade têm apresentado boas
promover o crescimento sustentável. surpresas, especialmente nos setores de serviços,
comércio e construção civil. Diversos resultados vie-
ram acima da expectativa de mercado, o que explica
Projeções 2019 2020 as sucessivas revisões para cima das projeções para
PIB real (%) 1,12 2,40 o crescimento econômico para 2019 e 2020.
PIB nominal (R$ bilhões) 7.237,1 7.743,3
No segundo semestre de 2019 uma parcela funda-
PIB real per capita (%) 0,33 1,62 mental da retomada do crescimento veio dos estí-
IPCA acumulado (%) - 3,62 mulos dados pela liberação de recursos do FGTS,
INPC acumulado (%) - 3,73 que deve se estender ao longo do primeiro trimestre
IGP-DI acumulado (%) - 4,32 de 2020. Além disso, a criação do saque aniversário
tem o potencial de mudar as perspectivas nos mer-
cados de trabalho e crédito, impulsionando a econo-
mia nos próximos anos.
crédito livre é alocado para investimentos com maior retorno. Assim, a substituição de crédito direcionado
por livre, além de contribuir para a redução efetiva dos juros de equilíbrio, tende a favorecer o aumento da
produtividade.
As medidas estruturais de ajuste fiscal, redução de direcionamento de crédito, eliminação de custos e cunhas
ao setor privado e no mercado de trabalho produzirão efeitos permanentes na produtividade e na renda do
país. A retomada de produtividade pode não ser imediata, mas está garantida.
Crédito livre
às famílias
Crédito livre
às empresas
Conjuntura
No segundo semestre de 2019, a economia brasileira Recuperação do Setor Agrícola
apresentou sinais mais fortes de recuperação do ritmo IBC-Br, Produção Industrial, Safra Agrícola, Venda no
de crescimento da atividade. Houve aumento do em- Comércio e Volume de Serviços
prego e da renda, com consequente redução da taxa IBC-Br PIM (Produção Industrial)
de desocupação. A inflação manteve-se controlada, a LSPA (Safra Agrícola MM12) PMC (Vendas no Comércio Ampliado)
despeito dos choques recentes, e os juros chegaram PMS (Volume de Serviços)
em seus menores patamares históricos. Com a melho-
ra do desempenho macroeconômico, houve melhora
das expectativas em relação à economia brasileira, que
se traduziu em queda do risco-país e aumento da con-
fiança de empresários e consumidores.
Em termos de emprego, a PNAD Continua (IBGE) re- midor também registrou alta (3,1%). Esse ambiente pro-
gistrou elevação de 1,6 milhão de postos de trabalho, porciona uma melhoria do cenário macroeconômico,
ajustado sazonalmente, no ano de 2019 até novem- com expectativas para 2020 mais favoráveis.
bro, quando comparado ao final de 2018. A criação
de novos postos de trabalho foi acompanhada pelo A inflação sob controle também contribuiu para esse
ganho real de 0,8% no rendimento médio, resultando ambiente favorável. O IPCA, medida oficial de in-
em aumento de 2,7% na massa salarial. Nota-se que flação, ficou abaixo do centro da meta (4,25%) ao
a taxa de desemprego tem recuado gradualmente, longo de todo o ano de 2019, tendo se elevado nos
atingindo o patamar de 11,2% em novembro/2019. meses de novembro e dezembro, devido ao impac-
to do aumento dos preços da carne e do feijão. No
Reforçando a melhora no mercado de trabalho, os entanto, é importante ressaltar que os preços con-
dados do CAGED mostram o melhor resultado para trolados permitiram a redução consistente dos juros
o emprego formal, desde 2014. No acumulado do básicos na economia, com a meta da Taxa Selic en-
ano até novembro de 2019, já foram contabilizados cerrando o ano em seu menor patamar (4,5% aa).
948,3 mil novos postos formais (total líquido de ad- O IPCA acumulou alta de 4,31% nos 12 meses em
missões já descontados os desligamentos), ante 889 dezembro/2019. Em 2020, espera-se que a inflação
mil no mesmo período em 2018. permaneça abaixo do centro da meta (4,0%).
A evolução favorável no ambiente econômico, na ativi- Para o 2020, há expectativa de elevação ainda maior
dade e no emprego se refletiu em melhora importante na no ritmo de atividade no País. Nessa direção, apon-
confiança ao longo de 2019, segundo a sondagem da tam fatores como a melhoria das expectativas em
FGV, tanto para as expectativas de empresários quan- relação ao desempenho da economia brasileira, os
to para as dos consumidores. Em 2019, houve alta nos efeitos da queda da taxa básica de juros, os resulta-
índices de confiança do comércio (3,0%), dos serviços dos das reformas estruturais e os impactos do ajuste
(3,6%) e da construção (4,6%). A confiança do consu- fiscal em andamento.
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Boletim MacroFiscal da SPE
Projeção de
curto prazo
A projeção de crescimento do PIB para o quarto
trimestre de 2019 (4T19) é de 1,61% em relação ao Var % sobre
Var % sobre
mesmo trimestre do ano anterior. Já o crescimen- mesmo
trimestre
to esperado em relação ao trimestre anterior (com trimestre do
Oferta anterior*
ajuste sazonal) é de 0,47%. Com este resultado, ano anterior
estima-se que o PIB de 2019 crescerá 1,12%.
3T 4T 3T 4T
19 19 19 19
Para o setor agropecuário, projeta-se crescimento
de 1,12% em relação ao mesmo trimestre do ano PIB 0,60 0,47 1,20 1,61
anterior. A projeção representa uma pequena desa-
celeração em relação ao último trimestre (2,1% no
Agropecuária 1,40 0,02 2,10 1,12
3T19). Em relação ao trimestre anterior, o resultado
representa uma estabilidade (dados ajustados sa-
zonalmente). Caso a projeção se confirme, o PIB Indústria 0,90 0,77 1,00 2,26
Agropecuário de 2019 terá crescido 1,4%, mesmo
valor de 2018. Serviços 0,40 0,32 1,00 1,24
Projeção de
médio prazo
As projeções dos indicadores macroeconômicos da
PIB - Projeção (Grade)* grade de parâmetros desta edição serão utilizadas
Data da projeção
para o primeiro decreto de programação orçamentá-
Ano ria e financeira de 2020. É necessário ressaltar que o
03/Set/19 29/Out/19 09/Jan/20 conjunto de informação dos dados econômicos e fi-
nanceiros utilizado para a estimação do PIB foi limita-
2019 0,85 0,90 1,12
do aos indicadores divulgados até o dia 10 de janeiro
2020 - 2,32 2,40 de 2020. Dessa forma, as séries utilizadas do Boletim
Focus são relativas à última divulgação disponível -
*(%) Percentual 03 de janeiro. Conforme calendário acordado com a
Fonte: SPE Secretaria de Orçamento Federal, as projeções dis-
ponibilizadas neste relatório serão para 2019 e 2020.
Projeção de
inflação
A projeção de inflação de preços ao consumidor para
2019 apresentou elevação em relação à última Grade de Inflação 2020 - projeção (Grade)*
Parâmetros (de 3,26% para 4,14%). O principal respon- Data base para
sável pela forte alteração foi o subgrupo “alimentação projeção da Set/19 Out/19 Jan/20
no domicílio”, impactada sobretudo pela pressão sobre inflação
o preço de carnes. A elevação do preço da carne bra-
sileira se deve ao forte aumento de demanda chinesa, IPCA 3,80 3,53 3,62
que busca suprir as perdas da produção interna resul-
INPC 4,00 3,54 3,73
tantes de gripe suína (proteína muito consumida pelos
chineses). IGP-DI 4,30 4,20 4,32
Decomposição da
Produtividade do Trabalho
Este Box tem como principal objetivo analisar no cálculo feito para todos os setores da econo-
a evolução, nos últimos anos, da produtivida- mia, a variação é mais suave e estabiliza após a
de do trabalho. Esta consiste em uma medi- recessão de 2014-2016, devido à forte elevação
da do valor gerado pelo trabalhador, em um da produtividade do trabalho nas atividades agro-
determinado período de tempo, na produção pecuárias e extrativas.
de bens ou na prestação de serviços. Uma
elevação da produtividade resulta em aumen- A variação da produtividade pode ser analisada a
to da oferta agregada, com o emprego da partir de 3 componentes:
mesma quantidade de trabalhadores, em um
dado intervalo temporal. Em parte, essa vari- I) Mudança de composição entre atividades;
ável explica a trajetória do produto da econo- II) Mudança de composição entre setores formais e
mia e, portanto, o seu crescimento. informais;
III) Evolução da produtividade estrita em cada ativi-
Uma das formas de mensuração empírica da dade ou setor.
produtividade do trabalho é obtida a partir da
razão entre o Valor Agregado Bruto (VAB) e a O primeiro componente diz respeito a mudanças na
População Ocupada (PO). A trajetória dessa alocação da população ocupada entre atividades
medida foi destacada pelos Relatórios de In- mais produtivas e menos produtivas. Nesse senti-
flação do Banco Central do Brasil de setem- do, um aumento da quantidade relativa de trabalha-
bro de 2017 e dezembro de 2018. dores em atividades produtivas resulta em elevação
da produtividade. O segundo componente se refere
O Gráfico 1 apresenta a evolução da produ- a variações na alocação da população ocupada in-
tividade do trabalho entre o primeiro trimes- trasetorial, entre trabalhadores formais e informais.
tre de 2013 e o terceiro trimestre de 2019, Mais precisamente, uma elevação da formalização
a partir de dois cálculos: um contemplando do trabalho se reflete em ganhos de produtivida-
todos os setores da economia; outro ex- de, dado o maior valor adicionado por empregado,
cluindo as atividades agropecuárias, a in- conforme apontado nas Contas Nacionais. Já o
dústria extrativa e os serviços imobiliários e terceiro componente consiste em variações da pro-
aluguel, em conformidade com a mensura- dutividade estrita no âmbito de cada atividade ou
ção feita pelo Banco Central do Brasil. Veri- setor, desconsiderando as mudanças ocorridas em
fica-se que ambas medidas possuem traje- termos de alocação intersetorial ou entre atividades
tória de queda a partir de 2014. No entanto, do fator trabalho.
1,00
Total
0,95
0,90
Setores Selecionados
0,85
mar/14
mar/15
mar/16
mar/17
mar/18
mar/19
jun/14
jun/15
jun/16
jun/17
jun/18
jun/19
dez/13
dez/14
dez/15
dez/16
dez/17
dez/18
set/13
set/14
set/15
set/16
set/17
set/18
set/19
01/set/13
01/set/16
01/set/19
01/dez/15
01/jun/14
01/jun/17
01/mar/18
01/dez/18
01/mar/15
do trabalho, na economia brasileira. Uma possível expli-
cação para o comportamento da produtividade agregada
é que, no início da recessão econômica, houve queda da
produtividade estrita. Devido à rigidez salarial, a queda da
produção por trabalhador elevou o custo unitário do traba-
lho, revertendo a tendência de formalização do trabalho,
impelindo vários trabalhadores para a informalidade. Este
setor normalmente é menos produtivo do que o formal, pois Gráfico 3 - Informalidade x
espera-se que as famílias sejam menos intensivas em capi- Custo Unitário do Trabalho
tal do que as firmas. Nesse sentido, cumpre destacar que o Formal
custo unitário de trabalho dos setores e atividades formais (var. em p.p. entre 2012 e 2017)
são cerca de 2,5 vezes maior que os informais. Dessa for-
9%
ma, o aumento da alocação da população ocupada para
Informalidade
8%
atividades informais tem levado à queda da produtividade.
7%
6%
É importante ressaltar que a variação da produtividade do
5%
trabalho decorrente da mudança de composição entre ativi-
4%
dades e setores tem se mantido relativamente estável desde
3%
o segundo semestre de 2016. Além disso, observa-se tam-
2%
bém que a produtividade estrita dentro de cada atividade e 1%
setor apresentou seu menor nível no segundo semestre de 0%
2017, na série histórica em consideração. Desde então, tem -1 % Custo Unitário
registrado aumento. Isso reforça o argumento de que a redu- -2 % do trabalho formal
ção inicial da produtividade foi influenciada pela diminuição -5% -3% -1% 1% 3% 5%
da produtividade estrita e a redução recente tem sido reflexo
do aumento da informalidade.
2024
2025
2026
2027
2028
2023
taxas de juros e do custo do endividamento público mais forte do
que esperado originalmente.
No que diz respeito ao cenário de juros mais baixos, que contribui Gráfico 2: Projeções de
para uma mais rápida estabilização e redução da dívida pública em mercado(*) para a Dívida
proporção do PIB, é importante ter em mente que a diminuição das bruta do governo geral
taxas de juros decorre, em grande medida, do próprio esforço de (em % do PIB) no período 2020-
consolidação fiscal em curso no país: ao aumentar a confiança na 2023 – Projeções realizadas
sustentabilidade da dívida, o ajuste das contas públicas se traduz entre jan/2018 e jan/2020
em menor percepção de risco e taxas de juros mais baixas (ver, a
este respeito, a seção “Ajuste fiscal estrutural e taxas de juros de 2023 2022 2021 2020
longo prazo no Brasil”). O cenário mais benigno em relação à traje-
tória da dívida não pode ser interpretado, portanto, como sinal de jan/20
que é possível algum grau de relaxamento do esforço fiscal neste
momento, sob pena de perdermos grande parte dos ganhos obti- set/19
dos até aqui.
mai/19
É interessante notar que as expectativas de mercado para a razão
DBGG/PIB, captadas pelo Prisma Fiscal/SPE, seguiram trajetória
jan/19
semelhante às projeções oficiais. Conforme mostra o Gráfico 2, a
razão dívida-PIB projetada para o período 2020-2022 caiu subs-
tancialmente ao longo de 2019, refletindo confiança crescente nas set/18
medidas de ajuste fiscal implementadas e encaminhadas pelo Go-
verno e na convergência rumo a uma trajetória de sustentabilidade mai/18
fiscal. De acordo com a última pesquisa junto às instituições de
mercado, realizada em janeiro/2020, espera-se relativa estabilida- jan/18
de do endividamento público entre 2020 e 2021 e queda a partir de
2022, em linha com as projeções oficiais. 75,0 80,0 85,0
(*) Mediana das projeções.
1 Relatório Quadrimestral de Projeções da Dívida Pública, 2º quadrimestre de 2019– Atualização. Fonte: Prisma Fiscal/SPE
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Boletim MacroFiscal da SPE
Informativo de crédito
Gráfico1 - Saldo de Crédito (%PIB)
Em novembro de 2019, o crédito ampliado a empresas e famílias1 somou 79,1% do PIB, tota-
lizando R$ 5,7 trilhões. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o crescimento foi
de 9,8%. Considerando-se os seus componentes, predominam empréstimos e financiamentos,
correspondendo a 61,2% do saldo total. A segunda fonte de financiamento mais relevante é o
crédito fornecido por não residentes, com 25,1%. O mercado de capitais local (títulos de dívida
privada e instrumentos de securitização no mercado doméstico) respondeu por 13,6% do total
do crédito ampliado destinado a empresas e famílias, com crescimento de 31,5% na variação
em 12 meses. Em relação ao mercado de dívida doméstico, destaca-se o crescimento do volume
das emissões de debêntures de infraestrutura no ano de 2019 no período de janeiro a novembro
em comparação ao ano inteiro anterior (janeiro a dezembro) de 15,3%2.
1 O crédito ampliado ao setor não financeiro corresponde ao somatório dos empréstimos e financiamento com os títulos de dívida ao
governo geral e empresas e famílias. São considerados nos empréstimos e financiamentos as operações de crédito do SFN somadas às:
(i) operações de outras sociedades financeiras (Finame, BNDESPAR e instituições do BNDES); (ii) saldos de operações de crédito dos
fundos de pensão e de empresas de consórcio; e (iii) operações dos fundos governamentais, como operações de crédito dos fundos
constitucionais e FIES. Já os títulos de dívida incluem os títulos públicos, títulos privados, instrumentos de securitização e dívida externa.
Ressalta-se que a dívida externa corresponde ao saldo dos recursos captados no exterior mediante a contratação de empréstimos ou a
emissão de títulos. Em outras palavras corresponde as operações de crédito concedidas por não residentes para residentes.
2 er o Boletim de debêntures incentivadas do Ministério da Economia em http://www.economia.gov.br/central-de-conteudos/publicaco-
es/boletim-de-debentures-incentivadas/arquivos/newsletter-infrastructure-debentures-november-2019.