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Contrarreformas
Luiz Filgueiras, Eduardo
Costa Pinto, Sara Granemann,
Antonio José Alves Junior,
Fernanda Stiebler e Luiz
Mario Behnken analisam
as “reformas” do
governo Temer
Artigo do FPO sintetiza debate sobre a previdência dos servidores municipais e estaduais
2 Editorial Sumário
Órgão Oficial do CORECON - RJ Presidente: José Antonio Lutterbach Soares. Vice-presidente: Sidney Pascoutto da Rocha. Con-
E SINDECON - RJ selheiros Efetivos: 1º TERÇO: (2014-2016) Arthur Câmara Cardozo, Gisele Mello Senra Rodrigues
Issn 1519-7387 - 2º TERÇO: (2015-2017) Antônio dos Santos Magalhães, Gilberto Caputo Santos, Jorge de Olivei-
ra Camargo - 3º TERÇO: (2016-2018) Carlos Henrique Tibiriçá Miranda, Sidney Pascoutto Rocha,
Conselho Editorial: Sidney Pascoutto da Rocha, Carlos Henrique Tibiriçá Miranda, Marcelo Pereira José Antônio Lutterbach Soares. Conselheiros Suplentes: 1º TERÇO: (2014-2016) Andréa Bas-
Fernandes, Gisele Rodrigues, Wellington Leonardo da Silva, João Manoel Gonçalves Barbosa, Pau- tos da Silva Guimarães, Regina Lúcia Gadioli dos Santos, Marcelo Pereira Fernandes - 2º TERÇO:
lo Passarinho, Sergio Carvalho C. da Motta, José Ricardo de Moraes Lopes e Gilberto Caputo San- (2015-2017) André Luiz Rodrigues Osório, Flavia Vinhaes Santos, Miguel Antônio Pinho Bruno - 3º
tos. Jornalista Responsável: Mar celo Cajueiro. Edição: Diagrama Comunicações Ltda-ME (CNPJ: TERÇO: (2016-2018) Arthur Cesar Vasconcelos Koblitz, José Ricardo de Moraes Lopes, Sergio
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sive um de 2015, da Organização reduziram – apesar de a terceiri- à de escravos, ocorridos no estado se resumem apenas à contribui-
Internacional do Trabalho – OIT) zação ter continuado a se expan- da Bahia entre 2003 e 2016, con- ção de trabalhadores e empresá-
não evidenciam a existência de dir. Conforme seria de se esperar firmando resultados anteriores: rios à Previdência. A manipulação
uma relação entre redução de cus- pelo “Princípio da Demanda Efe- 76,7% de todos os casos envol- que subestima o cálculo da recei-
tos trabalhistas e crescimento eco- tiva”, que é o que explica, em úl- viam trabalhadores terceirizados. tada Previdência, com o objetivo
nômico – o que seria compatível tima instância, o nível de empre- Por fim, o argumento esgrimi- de demonstrar a existência de um
com a desacreditada “Lei de Say”. go: o mercado de bens e serviços, e do no passado pelo capital – de que déficit estrutural, é feita separan-
No caso do Brasil, a experiên- não o mercado de trabalho, é que a terceirização seria uma forma das do-a dos demais componentes da
cia indica exatamente o contrário: está no centro da dinâmica econô- empresas se especializarem e au- Seguridade e omitindo a existên-
nos anos 1990, quando o salário mica e da geração de emprego; o mentarem a sua produtividade – cia de outras receitas.
e os direitos reduziram-se e a ter- segundo ajusta-se ao movimento foi jogado no lixo, pois ele não casa As alterações previstas na con-
ceirização foi ampliada para todos do primeiro e não o contrário. com a permissão agora dada às em- trarreforma da Previdência Social
os setores, o desemprego e a infor- Evidentemente, o objetivo da presas para terceirizarem sua ativida- são todas para dificultar o exercí-
malidade cresceram fortemente. terceirização e da contrarreforma de-fim: se uma empresa terceiriza a cio do direito à aposentadoria e re-
Na década seguinte, quando hou- trabalhista não é o de gerar mais sua atividade-fim, ela é especializada duzir o valor dos benefícios.
ve crescimento do salário real, o emprego e formalidade; o objetivo em quê? É “especializada” em sub- Todas essas contrarreformas
desemprego e a informalidade se é liberar todas as formas e tipos de contratação de força de trabalho. promovidas pelo Governo Temer
exploração da força de trabalho, A contrarreforma da Previdên- têm um denominador comum: ao
reduzir a resistência dos trabalha- cia Social complementa o conge- beneficiarem o rentismo, reduzi-
dores e aumentar a taxa de lucro, lamento dos gastos correntes do rem e redirecionarem os gastos pú-
desvencilhando-se dos direitos governo por 20 anos, com o mes- blicos, concentrarem renda e dimi-
trabalhistas. Em pesquisa recen- mo objetivo: reduzir os gastos so- nuírem a capacidade de consumo
te, ainda em andamento, o Nú- ciais e ampliar o montante de re- da maior parte da sociedade, se co-
cleo de Estudos Conjunturais da cursos direcionados ao pagamento locam na contramão do crescimen-
Faculdade de Economia da UFBA dos juros e amortização da dívida to econômico. Além disso, estão
levantou todos os resgates de tra- pública – que em 2015 já absorvia sendo propostas e aprovadas, res-
balhadores em condições análogas mais de 42% do Orçamento Ge- pectivamente, por um governo e
ral da União –, empurrando para a um Parlamento desmoralizados,
previdência privada “complemen- que não têm qualquer legitimidade
tar” os que ganham benefícios aci- e credibilidade; os seus integrantes
ma de cinco salários mínimos. não foram eleitos e, para piorar, são
A Seguridade Social, segun- objeto de acusações, investigações
do a Constituição, é composta pe- e processos por variados crimes –
la Previdência Social, Saúde e As- frutos de suas relações promíscuas
sistência Social, cujas receitas não com o grande capital.
Por último, uma constatação
alentadora: a maioria do povo brasi-
leiro começou a reagir contra o des-
monte dos direitos sociais; reação
esta evidenciada pelas últimas mani-
festações ocorridas contra o Gover-
no Temer, pesquisas indicando forte
oposição às contrarreformas e a gre-
ve geral no dia 28 de abril.
Consenso da insensatez,
reformas e crescimento: as formas
da luta de classe no Brasil
Eduardo Costa Pinto* pacidade produtiva está tão baixo tanto nas questões institucionais/
como atualmente. Primeiro o em- jurídicas como na econômica. Nes-
seriam fruto da gastança. Os dados bre a lei, o que permitirá, por meio (c) a reprovação às mudanças so- ii) taxar os lucros e os dividendos;
não evidenciam isso, pelo contrá- de acordos coletivos, flexibilizar a ciais e políticas resultantes da ma- eiii) regulamentar e criar impostos
rio: o que se observa é que ocorreu jornada de trabalho, banco de ho- nutenção do pleno emprego” (KA- sobre as grandes fortunas e as he-
uma deterioração das receitas fis- ras, redução salarial, adicional no- LECKI, 1987, p. 55). ranças, aumentando a incidência
cais, decorrente da queda do PIB turno, entre outros itens. O argu- Ou seja, há sim uma racionali- de impostos sobre a propriedade.
com a manutenção de expressivos mento é que essa flexibilização das dade no “consenso da insensatez”: a Pelo lado dos gastos, é preciso re-
subsídios aos empresários. leis trabalhistas modernizará as re- da dominação de classe no Brasil. A duzir de forma expressiva as despe-
No entanto, assumiu-se, ain- lações entre empresários e emprega- luta de classe nunca esteve tão viva! sas financeiras com juros por meio
da em 2015, que o problema era o dos e ainda gerará mais empregos. Trata-se de manter os trabalhadores da redução da taxa Selic.
aumento das despesas e adotou-se Em primeiro lugar, não ne- brasileiros no “seu devido lugar”, e Esses elementos permitirão a
o ajuste fiscal como medida. Essa nhum estudo consistente que su- para isso o setor dominante brasi- configuração de um novo regime
estratégia agravou ainda mais os gira uma relação direta entre flexi- leiro adota uma resistência “[...] ul- fiscal, em prol do desenvolvimento,
problemas, pois a redução das des- bilização do mercado do trabalho traintensa à mudança social” e vol- que (i) leve em conta o ciclo econô-
pesas da administração pública, as- e elevação do nível de emprego. ta-se de forma “sociopática” para “a mico, permitindo que em um mo-
sociada à redução dos investimen- Além do que, as modificações par- preservação pura e simples do status mento de crise, como a que vivemos
tos da Petrobras, provocou uma tem do suposto que tanto os em- quo [defesa de privilégios e do lucro hoje, seja possível ampliar o endivi-
redução da demanda, o que afetou presários como os trabalhadores a qualquer custo]” (FERNANDES, damento no curto prazo para esti-
de forma negativa a arrecadação têm o mesmo poder de negocia- 1962, p. 211). mular a economia; e que (ii) garan-
tributária, que caiu numa propor- ção. Esse suposto é negado até Sem a ruptura com a interdi- ta, como alertou Orair (2016), um
ção maior do que os gastos. mesmo por Adam Smith, o pai do ção neoliberal a respeito do papel tratamento fiscal diferenciado para
O argumento de que as despe- liberalismo. dos gastos e investimentos do setor os investimentos públicos. É eviden-
sas sociais não cabem no orçamento Na verdade, essas reformas têm público, não conseguiremos reto- te que essa proposta somente é pos-
brasileiro é uma falácia. A principal como objetivos reduzir o custo da mar o crescimento. É preciso rom- sível com a completa revogação da
despesa da administração pública força de trabalho e a capacidade do per com a narrativa de que o setor emenda Constitucional 95/2016.
é a financeira (cerca de R$ 407,02 Estado de realizar políticas de ple- público está quebrado e que hoje Em linhas gerais, pode-se afir-
bilhões em 2016), que não foi in- no emprego. Um claro caminho de não teria capacidade/dinheiro para mar que o “consenso da insensa-
corporada no teto dos gastos. Es- irracionalidade econômica, pois is- puxar o crescimento. Não há dú- tez”, assim como os efeitos da Lava
sa despesa com juros irriga as altas so não gerará crescimento. Entre- vida que o setor público enfrenta Jato, impede qualquer possibili-
rentabilidades do setor bancário/fi- tanto, tem subjacente uma racio- desafios fiscais de curto prazo, que dade de retomada do crescimen-
nanceiro (Itaú Unibanco, Bradesco, nalidade de dominação de classe. precisam ser enfrentados, manten- to econômico. A alternativa pos-
Santander, BTG Pactual etc.) e de Kalecki (1987[1943]) já havia do o seu papel de indutor do de- sível é criar as condições políticas
parte da elite não financeira que es- identificado esse tipo de compor- senvolvimento nacional e regional. – rompimento da interdição neoli-
pecula nos mercados de títulos. tamento, ao mostrar que os gran- Como o setor público pode fa- beral das políticas de pleno empre-
O ajuste fiscal permanente es- des empresários de diversos países, zer isso? Vejamos algumas propo- go – e econômicas para que a ad-
tabelecido por esse “novo regime durante a crise de 1930, se opuse- sições possíveis tecnicamente, mas ministração pública (por meio de
fiscal” impactará negativamente os ram às estratégias de políticas de que implicam forte tensão entre um novo regime fiscal) possa indu-
gastos em saúde e educação (com a pleno emprego estatal (via emis- forças sociais em suas disputas pe- zir o processo de recuperação eco-
redução do piso); em cultura, ciên- são de títulos da dívida), mesmo los fundos públicos (orçamento nômica com inclusão social.
cia e tecnologia e assistência social sabendo que essa política os bene- público) brasileiros.
(que nem piso possuem); e, sobre- ficiava na medida em que o estí- Pelo lado da receita fiscal, faz- Referências
tudo, os investimentos do governo mulo à renda e ao emprego pro- -se necessário engendrar uma re- FERNANDES, F. A sociologia nu-
federal. Portanto, o ajuste vai re- porcionam maiores lucros. A forma tributária que simplifique a ma era de revolução social. Rio de Ja-
cair sobre o andar de baixo, afetan- explicação para isso se deve à di- estrutura, aumente a arrecadação e neiro: Zahar, 1962.
do fortemente os mais pobres. mensão política (da dominação de a progressividade. O andar de ci- KALECKI, M. Os aspectos polí-
Além do teto dos gastos, está em classe) e está associada a três ele- ma do capitalismo brasileiro preci- ticos do pleno emprego. In: Cres-
tramitação no congresso o Projeto mentos: “(a) a reprovação à inter- sa arcar com os custos da constru- cimento e ciclo das economias capi-
de Lei 6787/2016 da reforma traba- ferência pura e simples do Gover- ção de uma sociedade um pouco talistas. 2. ed. São Paulo: Hucitec,
lhista (aprovado na Câmara de De- no no problema do emprego; (b) mais igualitária. Para isso, o go- 1987. p. 54-60.
putados no dia 26/04) que tem co- a reprovação à direção da despesa verno deve: i) ampliar as faixas do
mo eixo geral que o negociado entre governamental (para investimento imposto de renda, aumentando as * É professor do IE/UFRJ. eduardo.pin-
patrões e empregados prevaleça so- público e subsídio ao consumo); e alíquotas para os topos superiores; to@ie.ufrj.br
Contrarreforma da previdência:
a disputa entre o lucro e a vida
Sara Granemann* de Fernando Henrique Cardoso lação com as contrarreformas ante-
(FHC), foi promulgada a Emen- riores, conjugar continuidade com
“Não cante vitória muito cedo, não; da Constitucional nº 20/98, que aprofundamento. O aprofunda-
nem leve flores para a cova do inimigo feriu severamente os direitos da mento consiste numa importante
que as lágrimas dos jovens são força de trabalho empregada pe- alteração na tática política; se nas
fortes como um segredo; los diferentes capitais (agrário, co- contrarreformas anteriores a apos-
podem fazer renascer o mal antigo. mercial, industrial, bancário), as ta dos governos na divisão política
(…) Meu bem, é difícil saber trabalhadoras e trabalhadores do- da classe trabalhadora exigiu reali-
o que acontecerá. mésticos e os autônomos filiados zar os ataques aos direitos em se-
Mas eu agradeço ao tempo; ao Regime Geral de Previdência parado e em momentos diferen-
o inimigo eu já conheço. Social (RGPS); sem que suas me- ciados, para evitar-se a unificação
Sei seu nome, sei seu rosto, didas tenham sido exclusivamente das lutas da classe trabalhadora, a
residência e endereço. dirigidas ao RGPS, foi a este regi- contrarreforma hoje em curso in-
A voz resiste. A fala insiste: me que a EC 20/98 frontalmen- veste sobre os direitos de toda a
você me ouvirá. te golpeou. Antes que se comple- classe trabalhadora de uma só vez.
A voz resiste. A fala insiste: tassem cinco anos da promulgação Impulsionado – e em alguma me-
quem viver verá”. da EC nº 20/98, Luiz Inácio Lula dida, ofuscado – pelo verde-ama- que a sua exploração (de classe) é
(Belchior 1946-2017) da Silva, na continuidade da divi- relo das ruas e por sonantes caça- proveniente de sua relação com as
são do trabalho dos governos para rolas noturnas, o cálculo político mulheres e, com isto, encoraja-se,
os capitais, derruirá, pela Emenda empenha-se em opor uns aos ou- cada vez mais, a violência contra as
que os dados não sejam ruins. Há co, não há, no horizonte, elemen- de que seja um movimento contí- sa é a única alternativa que se afigu-
que reformar as instituições e en- tos para induzir o crescimento. nuo. O crescimento global perma- ra para reconduzir o Brasil ao pleno
gessar a política fiscal em troca da Começando pelo consumo: em nece fraco, abaixo dos 2,5% a.a., emprego e dar suporte material pa-
confiança para aumentar os inves- queda há quase dois anos, se enfra- enquanto o crescimento do comér- ra a estabilidade democrática.
timentos nacionais e estrangeiros1. quece com o desemprego e a redu- cio internacional desabou para al-
Essa tese, repetida à exaustão, ção da massa de salários. A queda go em torno de 1,5% a.a., compa-
carece de fundamentos teóricos e dos juros poderia contribuir para rado a 7% a.a. antes da crise. * É professor associado do Departamen-
to de Economia da UFRRJ e foi chefe da
empíricos, sendo desprovida de aumentá-lo, mas o grau de endi- O próximo governo eleito de- Assessoria Econômica do MPOG (2005),
valor científico ou prático. Ela não vidamento das famílias é um em- verá superar a austeridade ou “con- assessor-chefe da Casa Civil da Presidên-
só desmonta o Estado, como cri- pecilho. Quanto aos investimen- senso FHC”2, abraçado por Mei- cia da República (2005-2008) e assessor
minaliza a política fiscal expansio- tos, diante da elevada capacidade relles e sua equipe, apresentando do presidente do BNDES (2009-2015).
nista. Trata-se, apenas, de “priva- ociosa e da demanda enfraquecida, uma política fiscal expansionista
1 Conferir o prefácio, escrito por Edmar
tizar tudo o que for possível”, em continuarão cedendo, como ocorre para sustentar um programa emer- Bacha, do livro “Finanças Públicas – da
infraestrutura, objetivo declarado há dez trimestres. A TLP, que visa gencial de recuperação do emprego Contabilidade Criativa ao Resgate da Cre-
do atual governo, mas, também, a aproximar as taxas do BNDES dos combinado com um plano de in- dibilidade”, organizado por Felipe Salto e
educação, a saúde e a previdência. juros de mercado, não muda essa vestimentos públicos. Para tanto, Mansueto Almeida, editora Record, Rio
de Janeiro, 2016.
Está aí a razão do conselho dado à tendência. Por fim, as exportações a condição necessária é a abolição
2 Sintagma elaborado e definido com
Temer por Nizan Guanaes: apro- têm reagido, mas não há medidas da emenda do teto de gastos, o que maior precisão em texto a ser publicado
veitar a impopularidade para fazer concretas de apoio e o ambiente exigirá grande liderança política com o Professor Manoel da Motta, da
o necessário. Ocorre que as con- externo não dá sinais animadores consagrada pelo voto popular. Es- UFRRJ
dições para fazer o necessário es-
tão evaporando. E as políticas eco-
nômicas adotadas, que afundam a
economia, contribuem para isso.
O próximo governo
e a EC-95
Se o Estado eleva seu nível de quentemente na redução da arre- ca de R$62 bilhões, uma queda de sário um modelo mais elaborado
inadimplência com os serviços ter- cadação de impostos. Portanto, de 22% na arrecadação do Estado. A para tal. Entretanto, apenas anali-
ceirizados, o impacto na economia uma forma simples, um dos efei- previsão para 2017 é ainda pior: es- sando o comportamento do setor
é um efeito dominó. Em geral, es- tos da inadimplência do setor pú- tima-se que a receita bruta cairá pa- já é possível observar que o efei-
ses fornecedores atuam principal- blico recai sobre ele mesmo, com ra algo em torno de R$60 bilhões. to negativo retorna para o próprio
mente com entes públicos, cujos a queda na arrecadação. Considerando que a maioria Estado e só aprofunda ainda mais
prazos de pagamento são mais dila- Os indicadores macroeconômi- dos contratos de serviços terceiri- a crise fiscal.
tados, principalmente pelo fato do cos mostram claramente esse efei- zados paga, em média, o valor de O que fazer? É bem verdade
mesmo só poder ser realizado após to. No último trimestre de 2016 a piso salarial do Estado do Rio de que, para as proporções que a crise
a prestação do serviço e a compro- taxa de desemprego no Brasil atin- Janeiro para as atividades, e que o estadual tomou, com déficit anual
vação de execução do mesmo. giu 12%, enquanto no Estado do Estado deixou de pagar cerca de estimado em R$26 bilhões, não há
No momento em que o perí- Rio de Janeiro ficou em 13,4%. R$1,4 bilhão no último ano para solução de curto prazo que rever-
odo de inadimplência cresce, os Pelo lado das receitas, de acordo esses contratos, estima-se que cer- ta esse quadro. De qualquer mo-
fornecedores perdem o fôlego pa- com dados do IBGE, se considera- ca de 40 mil trabalhadores deixa- do, o rumo das decisões legais que
ra manter os pagamentos de seus mos a soma de todos os Estados da ram de receber seus vencimentos estamos vendo, isentando os entes
empregados em dia. Em algum Federação, a arrecadação do ICMS, em algum momento. Além disso, públicos de quaisquer responsabi-
momento, empresa terceirizada e principal fonte de tributo dos esta- as empresas contratadas também lidades sobre sua inadimplência,
empregado encerram sua relação. dos, teve um aumento nominal de não receberam repasses para arcar vai de encontro com qualquer me-
A demissão de funcionários e a 3,58% de 2015 para 2016, enquan- com o pagamento de seus tribu- dida anticíclica para uma tentativa
menor atividade no setor, tratan- to no Estado do Rio de Janeiro hou- tos, impactando a arrecadação do de retomada do crescimento eco-
do aqui apenas pelo efeito macro- ve uma queda de 3,23%. próprio ente, que deixa de arcar nômico e da necessária proteção
econômico, resultam no aumento O Estado do Rio de Janei- com suas obrigações. social. Transferir integralmente a
da taxa de desemprego e conse- ro1 tinha receita bruta que girava, No presente artigo, não pre- responsabilidade por encargos tra-
em valores constantes, em torno tendemos calcular o real efeito da balhistas unicamente ao emprega-
de R$80 bilhões em 2013; no ano inadimplência do Estado na sua dor, mesmos nos casos de inadim-
passado, esse número caiu para cer- própria arrecadação; seria neces- plência da administração pública,
pode gerar efeitos perversos para a
própria administração. Para discu-
tir políticas macroeconômicas e/
ou reformas estruturais, é preci-
so enxergar mais adiante, medin-
do seus impactos no curto, médio
e longo prazos. Caso contrário,
nos arrastaremos por alguns anos
com crescimento econômico pífio
e elevados níveis de desemprego.
Enfim, a terceirização é uma
agenda defendida por minorias,
mas que apresenta muitas fragili-
dades em termos de proteção ao
trabalhador e o cenário de crise
fiscal fará com que a “corda” arre-
bente, mais uma vez, para o lado
mais frágil da relação.
FPO “perdoou” mais de R$ 6 bilhões da bre os recebimentos dos inativos, Após a exposição do fórum,
dívida municipal. reduzindo o benefício. cada participante apresentou da-
De 2010 a 2015, as renúncias Ao fim de sua fala, o FPO Uma opção para manter os dos e perspectivas. Ao final, foram
fiscais acumuladas somaram R$ questionou o modelo previden- pagamentos em dia seria assumir discutidos pontos de desencontro
5,66 bilhões. Todos os tributos de ciário implantado, que se propõe um sistema de repartição. Os pa- e dúvidas. Malaguti analisou o or-
arrecadação própria do município a ser o de capitalização4 desde a gamentos feitos aos beneficiários çamento público da última déca-
sofreram reduções oriundas des- criação do FUNPREVI. Porém, já são compostos pelas chama- da, enquanto Osório enfocou a si-
tas renúncias, sendo o ISS o maior em vez de tornar o sistema susten- das “Contribuições Suplementa- tuação socioeconômica do estado,
afetado, seguido pelo IPTU e fi- tável através da complementação res”. No gráfico 2, observamos o as possibilidades do poder público
nalmente o ITBI1. das contribuições via receita pa- quanto foi repassado pelo Tesou- frente a ela e vice-versa.
A dívida consolidada líquida trimonial, a gestão da previdência ro e o quanto seria necessário re- Mirelli Malaguti, professora de
municipal aumentou de R$ 8,4 empreendeu a descapitalização do passar se não houvesse outras re- economia da UFRJ, abriu a sua fa-
bilhões em 2009 para R$ 16,9 bi- seu próprio fundo, fazendo-se ne- ceitas além das contribuições dos la descrevendo sucintamente a his-
lhões em 2015, fechando 2016 em cessário maior apoio financeiro do servidores e patronal (Contribui- tória do sistema brasileiro de pre-
R$ 13,3 bilhões. Em 2010 e 2011 Tesouro para honrar os compro- ções Suplementares) para o siste- vidência social a partir de 1988,
houve uma troca de credores de missos. Devido a esta dependên- ma previdenciário. abordando o surgimento dos fun-
dívidas no valor de cerca de US$ cia, o sistema assemelha-se ao de A diferença entre os montan- dos previdenciários dos estados e
1 bilhão, gerando os maiores gas- repartição. Em 2011, uma nova tes, que aumenta ao longo do tem- dos maiores municípios.
tos do período com serviço da dí- lei tentaria “recapitalizar” o fundo, po, não significa poupança para o Ela lembra que os regimes pró-
vida2. O montante anteriormente mas seus propósitos fracassaram, município, e sim déficit acumula- prios de previdência social dos ser-
devido à União passou a ser devi- como observa-se abaixo. do, também coberto pelo Tesouro. vidores públicos começaram co-
do ao Banco Mundial a uma ta- Estima-se que hoje a disponi- Afinal, é o responsável último por mo uma enorme folha de passivos
xa de juros menor, aliviando o pe- bilidade em caixa do Fundo esteja honrar os pagamentos, já que a li- financeiros. O financiamento da
so das despesas com juros nos anos zerada ou muito próxima desta re- quidez do fundo secou. Fato que folha de aposentados, pensionistas
seguintes3. Em 2016, uma renego- alidade. Visto isso, o atual Prefei- pode ser analisado através da redu- e demais possíveis beneficiários te-
ciação nacional da dívida dos es- to Crivella afirmou que pretende ção da receita patrimonial, expres- ria de vir de novas receitas criadas
tados e municípios com a União adotar a contribuição de 11% so- sa no gráfico abaixo: para tal, da canalização de receitas
nia de premiação está prevista pa- regulamento da gincana em www. Economia e Mobilidade Urbana Sustentável
ra 11 de agosto. Outras informa- corecon-rj.org.br ou ligue para 21- 30 de agosto a 27 de setembro | Carga horária: 15h. Quartas | 18h30 às 21h30
Professora Natália G. de Moraes
ções podem ser obtidas na página 2103-0139 / 0146 / 0128.
BALANÇO PATRIMONIAL
ATIVO (EM R$) PASSIVO (EM R$)
REFERÊNCIAS MARÇO/2016 MARÇO/2017 REFERÊNCIAS MARÇO/2016 MARÇO/2017
ATIVO FINANCEIRO 8.732.326,19 8.686.435,10 PASSIVO FINANCEIRO 231.222,56 262.054,91
DISPONÍVEL 549.642,85 558.117,76 RESTOS A PAGAR - -
DISPONÍVEL VINCULADO A C/C BANCARIA 8.106.770,75 8.040.269,37 DEPÓSITOS DE DIVERSAS ORIGENS - -
REALIZÁVEL 35.749,26 47.520,03 CONSIGNAÇÕES 10.499,38 10.186,24
RESULTADO PENDENTE 40.163,33 40.527,94 CREDORES DA ENTIDADE 13.039,70 5.036,83
ATIVO PERMANENTE 18.115.835,96 24.399.035,68 ENTIDADES PÚBLICAS CREDORAS 207.683,48 246.831,84
BENS PATRIMONIAIS 1.686.792,57 1.701.669,20 RESULTADO PENDENTE 272.165,17 253.123,60
VALORES 54.166,17 47.436,22 DESPESAS DE PESSOAL A PAGAR 272.165,17 253.123,60
CRÉDITOS 16.374.877,22 22.649.930,26 PATRIMÔNIO(ATIVO REAL LÍQUIDO) 26.344.774,42 32.570.292,27
TOTAL GERAL 26.848.162,15 33.085.470,78 TOTAL GERAL 26.848.162,15 33.085.470,78