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Nº 333 Maio de 2017 Órgão Oficial do Corecon-RJ e Sindecon-RJ

Contrarreformas
Luiz Filgueiras, Eduardo
Costa Pinto, Sara Granemann,
Antonio José Alves Junior,
Fernanda Stiebler e Luiz
Mario Behnken analisam
as “reformas” do
governo Temer

Artigo do FPO sintetiza debate sobre a previdência dos servidores municipais e estaduais
2 Editorial Sumário

Contrarreformas Contrarreformas ................................................................................ 3


Luiz Filgueiras
As reformas do governo Temer, que podem ser mais apropriadamen- O golpe e as contrarreformas neoliberais
te designadas de contrarreformas, são o objeto de análise desta edição.
O bloco temático começa com Luiz Filgueiras, da UFBA, que afirma Contrarreformas ................................................................................ 5
que as leis do Teto de Gastos e terceirização e as contrarreformas do en- Eduardo Costa Pinto
sino médio, trabalhista e da Previdência são iniciativas que têm o mesmo Consenso da insensatez, reformas e crescimento:
objetivo: aumentar o lucro do grande capital e o espaço privado da acu- as formas da luta de classe no Brasil
mulação, possibilitando a abertura de novas áreas de negócio e/ou redu-
zindo os custos com a força de trabalho. Contrarreformas ................................................................................ 7
Eduardo Costa Pinto, do IE/UFRJ, defende que os empresários, o Sara Granemann
sistema político, a grande imprensa e o governo atual criaram o seguin- Contrarreforma da previdência: a disputa entre o
te “consenso da insensatez”: o ajuste recessivo e as reformas neoliberais lucro e a vida
(teto dos gastos e reformas trabalhista e previdenciária) gerariam cresci-
mento econômico. O consenso tem uma racionalidade, a da domina- Contrarreformas ................................................................................ 9
ção de classe. Antonio José Alves Junior
Sara Granemann, da UFRJ, ressalta que a contrarreforma da Previ- Lei do Teto dos Gastos: não pode durar!
dência investe sobre os direitos de toda a classe trabalhadora de uma só
vez – ao contrário das contrarreformas nos governos FHC e Lula, que Contrarreformas .............................................................................. 11
atacaram os direitos em separado – e pode desencadear uma forte reação.
Fernanda Stiebler e Luiz Mario Behnken
Antonio José Alves Junior, da UFRRJ, prevê que a Lei do Teto de
Terceirizar para quê?
Gastos acarretará cortes na Saúde, Educação, Defesa, Polícia Federal,
Cultura, Relações Exteriores, Ciência e Tecnologia e programas sociais
Fórum Popular do Orçamento ........................................................ 13
e o engessamento da política fiscal. Ele defende a abolição da emenda
A questão previdenciária no Rio de Janeiro
constitucional pelo próximo governo.
Os economistas Fernanda Stiebler e Luiz Mario Behnken acreditam
que as mudanças na legislação da terceirização fragilizam a proteção ao Corecon-RJ abre inscrições para Prêmio Monográ-
trabalhador. Eles analisaram os impactos nos empregados e na arrecada- fico e Gincana .......................................................................... 16
ção de impostos causados pelo calote de R$1,4 bilhão do governo do Es- Agenda de cursos
tado do Rio de Janeiro em empresas fornecedoras de mão de obra ter-
ceirizada. Balanço Patrimonial
Fora do bloco temático, o artigo do FPO sintetiza o conteúdo do de-
bate “Previdência do município e do estado do Rio de Janeiro: questões O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Pas-
sarinho, de segunda à sexta-feira, das 9h às 10h30, na Rádio Livre, AM, do Rio, 1440
e perspectivas”, que aconteceu no Corecon-RJ e contou com palestras de khz ou na internet: www.programafaixalivre.org.br ou www.radiolivream.com.br
Mirelli Malaguti e Mauro Osório.

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Conselho Editorial: Sidney Pascoutto da Rocha, Carlos Henrique Tibiriçá Miranda, Marcelo Pereira José Antônio Lutterbach Soares. Conselheiros Suplentes: 1º TERÇO: (2014-2016) Andréa Bas-
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Contrarreformas 3

O golpe e as contrarreformas neoliberais


Luiz Filgueiras* de, em grande medida, da desfi- vas do Poder Judiciário, por forças
guração da Constituição Brasileira políticas de direita e por prepostos

A partir dos anos 1990, quan-


do do início da onda neolibe-
ral no Brasil, a palavra reforma, ori-
de 1988; não por acaso o seu diag-
nóstico é o de que “o país não cabe
nessa Constituição”: os direitos so-
do grande capital.
Entretanto, o tempo, como
sempre, é o “senhor da razão”:vão
ginalmente constitutiva do ideário ciais e trabalhistas aí previstos não se tornando cada vez mais cla-
da esquerda desde os anos 1950, seriam compatíveis com a capaci- ros o real significado e o objeti-
foi sequestrada e reinterpretada pe- dade do país em bancá-los. Adicio- vo maior do golpe, mesmo para os
la direita, que lhe deu um sentido nalmente, pela natureza social re- que apoiaram o impeachment in-
exatamente oposto ao do seu signi- gressiva desse programa, ele não é duzidos pelo falso moralismo ude-
ficado histórico. Isso decorreu do factível de ser defendido eleitoral- nista, por ignorância política e/
apelo popular que essa palavra ad- mente; simplesmente porque não é ou pelo descontentamento com
quiriu e que ainda hoje tem. possível esconder o seu caráter e a a piora da economia no segundo
Tradicionalmente, as reformas sua opção de classe: a favor do capi- Governo Dilma.
sempre expressaram a necessidade tal (em especial o grande capital, o
da realização das chamadas “tare- capital financeiro e o capital estran- As contrarreformas
fas democráticas” nos países capi- geiro) e contra o trabalho. neoliberais to de terceirização aprovado na Câ-
talistas periféricos, tal como havia Depois do Plano Real, quando mara, as contrarreformas do ensino
ocorrido, historicamente, na maior o combate à inflação serviu de pre- A abertura comercial-financei- médio, trabalhista e da previdên-
parte dos países capitalistas cen- texto e instrumento para a amplia- ra já foi feita, embora possa ser ain- cia são iniciativas que têm o mes-
trais. Isso implicaria mudanças nas ção e consolidação das políticas e da mais aprofundada; com as con- mo objetivo: aumentar as taxas de
estruturas políticas, econômicas e contrarreformas neoliberais do pri- sequências deletérias, amplamente lucro do grande capital e ampliar
sociais, que democratizassem, pa- meiro Governo FHC, tornou-se conhecidas, em relação à vulnera- o espaço privado da acumulação,
ra a grande massa da população, o mais difícil encontrar-lhe um subs- bilidade externa e à instabilidade possibilitando a abertura de novas
acesso à terra, à seguridade social, tituto que permitisse a continuação da economia, à dívida e às finanças áreas de negócio e/ou reduzindo os
ao emprego e aos direitos trabalhis- desse programa regressivo e antipo- públicas, ao processo precoce de custos com a força de trabalho.
tas, à participação política, à educa- pular. Mais recentemente, a alter- desindustrialização e à “reprimari- A contrarreforma trabalhis-
ção e saúde públicas etc. nativa encontrada foi o combate ao zação” da pauta de exportações, à ta– resumida na “prevalência do
A partir do Governo Collor, no déficit público (primário), que vol- redução da capacidade do país de negociado sobre o legislado” – é
entanto, as reformas passaram a ser tou a ocorrer nos últimos três anos adotar e executar políticas macro- a extinção da CLT e de todos os
sinônimo das contrarreformas ne- em razão, fundamentalmente, da econômicas, industriais, tecnológi- direitos trabalhistas previstos na
oliberais: abertura comercial-finan- desaceleração do crescimento e da cas e de comércio exterior. Constituição. Juntamente com a
ceira da economia, privatização/ recessão (queda das receitas). A privatização/redução do pa- terceirização, unifica todas as fra-
redução do patrimônio e dos ser- Mas o instrumento de fato es- trimônio e dos serviços públicos– ções da burguesia brasileira contra
viços públicos, redução da seguri- sencial para transformar o comba- iniciada ainda no Governo Collor, o trabalho; revelando o ethos mais
dade social e privatização da previ- te ao déficit público em política ampliada no primeiro Governo profundo dessa classe e a cultura
dência social, redução/extinção de prioritária do governo e retomar as FHC e continuada, embora não de seus integrantes, qual seja: a ta-
direitos trabalhistas, privatização contrarreformas foi o “golpe jurí- admitida enquanto tal, no Gover- ra pela super exploração da força
da saúde e educação etc. Todas de dico/parlamentar/midiático” exe- no Lula – é um processo amplo de trabalho sem limites ou qual-
natureza regressiva, social e politi- cutado em 2016 contra a escolha que não se resume apenas à venda quer tipo de regulação, num pa-
camente, mas defendidas com o ar- democrática do povo brasileiro. de empresas públicas, em grande ís com uma das piores distribui-
gumento de que seriam “condição Golpe este possibilitado por erros medida já efetivada; agora focaliza ções de renda e da propriedade no
para o crescimento econômico e a de política econômica do Gover- o estratégico e bilionário setor de mundo. Ambas apoiadas no argu-
geração de empregos”. no Dilma e, principalmente, pela petróleo, os bancos públicos, aero- mento de que a redução dos cus-
O problema, para a direita ne- captura de instituições estratégicas portos, infraestrutura, a educação, tos trabalhistas propiciaria o cres-
oliberal e o grande capital, é que do Estado brasileiro, em especial a saúde e a previdência social. cimento do emprego.
a adoção de seu programa depen- o Parlamento e instâncias decisi- A PEC 55 já aprovada, o proje- Os estudos realizados (inclu-

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4 Contrarreformas

sive um de 2015, da Organização reduziram – apesar de a terceiri- à de escravos, ocorridos no estado se resumem apenas à contribui-
Internacional do Trabalho – OIT) zação ter continuado a se expan- da Bahia entre 2003 e 2016, con- ção de trabalhadores e empresá-
não evidenciam a existência de dir. Conforme seria de se esperar firmando resultados anteriores: rios à Previdência. A manipulação
uma relação entre redução de cus- pelo “Princípio da Demanda Efe- 76,7% de todos os casos envol- que subestima o cálculo da recei-
tos trabalhistas e crescimento eco- tiva”, que é o que explica, em úl- viam trabalhadores terceirizados. tada Previdência, com o objetivo
nômico – o que seria compatível tima instância, o nível de empre- Por fim, o argumento esgrimi- de demonstrar a existência de um
com a desacreditada “Lei de Say”. go: o mercado de bens e serviços, e do no passado pelo capital – de que déficit estrutural, é feita separan-
No caso do Brasil, a experiên- não o mercado de trabalho, é que a terceirização seria uma forma das do-a dos demais componentes da
cia indica exatamente o contrário: está no centro da dinâmica econô- empresas se especializarem e au- Seguridade e omitindo a existên-
nos anos 1990, quando o salário mica e da geração de emprego; o mentarem a sua produtividade – cia de outras receitas.
e os direitos reduziram-se e a ter- segundo ajusta-se ao movimento foi jogado no lixo, pois ele não casa As alterações previstas na con-
ceirização foi ampliada para todos do primeiro e não o contrário. com a permissão agora dada às em- trarreforma da Previdência Social
os setores, o desemprego e a infor- Evidentemente, o objetivo da presas para terceirizarem sua ativida- são todas para dificultar o exercí-
malidade cresceram fortemente. terceirização e da contrarreforma de-fim: se uma empresa terceiriza a cio do direito à aposentadoria e re-
Na década seguinte, quando hou- trabalhista não é o de gerar mais sua atividade-fim, ela é especializada duzir o valor dos benefícios.
ve crescimento do salário real, o emprego e formalidade; o objetivo em quê? É “especializada” em sub- Todas essas contrarreformas
desemprego e a informalidade se é liberar todas as formas e tipos de contratação de força de trabalho. promovidas pelo Governo Temer
exploração da força de trabalho, A contrarreforma da Previdên- têm um denominador comum: ao
reduzir a resistência dos trabalha- cia Social complementa o conge- beneficiarem o rentismo, reduzi-
dores e aumentar a taxa de lucro, lamento dos gastos correntes do rem e redirecionarem os gastos pú-
desvencilhando-se dos direitos governo por 20 anos, com o mes- blicos, concentrarem renda e dimi-
trabalhistas. Em pesquisa recen- mo objetivo: reduzir os gastos so- nuírem a capacidade de consumo
te, ainda em andamento, o Nú- ciais e ampliar o montante de re- da maior parte da sociedade, se co-
cleo de Estudos Conjunturais da cursos direcionados ao pagamento locam na contramão do crescimen-
Faculdade de Economia da UFBA dos juros e amortização da dívida to econômico. Além disso, estão
levantou todos os resgates de tra- pública – que em 2015 já absorvia sendo propostas e aprovadas, res-
balhadores em condições análogas mais de 42% do Orçamento Ge- pectivamente, por um governo e
ral da União –, empurrando para a um Parlamento desmoralizados,
previdência privada “complemen- que não têm qualquer legitimidade
tar” os que ganham benefícios aci- e credibilidade; os seus integrantes
ma de cinco salários mínimos. não foram eleitos e, para piorar, são
A Seguridade Social, segun- objeto de acusações, investigações
do a Constituição, é composta pe- e processos por variados crimes –
la Previdência Social, Saúde e As- frutos de suas relações promíscuas
sistência Social, cujas receitas não com o grande capital.
Por último, uma constatação
alentadora: a maioria do povo brasi-
leiro começou a reagir contra o des-
monte dos direitos sociais; reação
esta evidenciada pelas últimas mani-
festações ocorridas contra o Gover-
no Temer, pesquisas indicando forte
oposição às contrarreformas e a gre-
ve geral no dia 28 de abril.

* É professor titular da Faculdade de Eco-


nomia da Universidade Federal da Bahia
e autor dos livros História do Plano Real
(Boitempo) e A Economia Política do Go-
verno Lula (Contraponto), este último em
coautoria com o professor Reinaldo Gon-
çalves.

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Contrarreformas 5

Consenso da insensatez,
reformas e crescimento: as formas
da luta de classe no Brasil
Eduardo Costa Pinto* pacidade produtiva está tão baixo tanto nas questões institucionais/
como atualmente. Primeiro o em- jurídicas como na econômica. Nes-

O Brasil vivencia uma de suas


maiores crises. O PIB des-
pencou 3,6% em 2016, sendo que
presário vai utilizar a sua capaci-
dade produtiva, quando e se a de-
manda agregada reaparecer, para
se contexto, os gastos e os investi-
mentos do setor público poderiam
funcionar como as centelhas para
o consumo das famílias e o in- depois tomar a decisão de investir, reativar a economia em virtude dos
vestimento (FBCF) caíram ainda que leva em conta, como observou seus efeitos multiplicadores e ace-
mais (4,2% e 10,2%, respectiva- Keynes, a eficiência marginal do leradores. No entanto, há uma in-
mente). Essa forte queda da FBCF capital (EMgK) – taxa interna de terdição ideológica/neoliberal desse
foi puxada pela redução de 23% retorno do novo empreendimento tipo de alternativa.
nos investimentos do setor públi- – e a taxa de juros. Os empresários, o sistema po-
co (administração pública e em- A questão é que não há ne- lítico, a grande imprensa e o go-
presas estatais). nhum sinal de recuperação da de- verno atual criaram um “consenso
A equipe econômica do atual manda agregada. O consumo das da insensatez” em torno da se-
governo, bem como os analistas famílias segue ladeira abaixo, sem guinte ideia: o ajuste recessivo e as
e jornalistas econômicos neolibe- sinais de reversão, em decorrência reformas neoliberais (teto dos gas-
rais, têm argumentado que o pior da elevação da taxa de desempre- tos públicos, reformas trabalhista
já passou e a economia iria se re- go, da estagnação da renda média e previdenciária) gerariam cresci-
cuperar em 2017. A melhora nos e do endividamento das famílias. mento econômico. Uma completa
índices de confiança empresarial Os gastos e investimentos do setor falácia na atual conjuntura crítica.
seria o sinal que os investimen- público (gastos autônomos) en- A reforma do Teto dos Gastos,
tos privados estariam por apare- contram-se em queda expressiva. já aprovada, estabeleceu um “no-
cer. No entanto, não existem si- Os investimentos privados sofrem vo regime fiscal” por 20 anos que
nais disso. O que se observa é que uma hecatombe, uma vez que seus congela o crescimento real das des-
a economia parou de cair, devido principais indutores (consumo das pesas primárias da União ao limi-
aos estabilizadores automáticos. famílias e os gastos autônomos) tá-las à variação do IPCA do ano
Para esses analistas neoliberais, despencaram. anterior. Além disso, essa emenda
a queda do PIB decorreria da fal- Além disso, os investimentos reduziu os pisos dos gastos míni-
ta de “credibilidade/confiança” no privados também estão sendo afe- mos nas áreas de saúde e educação
governo Dilma em virtude de sua tados negativamente pelo efeito da –estabelecidos na Constituição de
gestão econômica. A retomada da Lava Jato. Essa operação gerou uma 1988 – e vedou novas concessões e
credibilidade, com o impeachment expressiva insegurança jurídica/ins- ampliações de renúncias de recei-
da Dilma e com a aprovação das titucional ao criminalizar qualquer tas, sem realizar uma revisão geral
reformas neoliberais (teto dos gas- tipo de relação entre o privado e o dessas renúncias de receitas.
tos públicos, reformas trabalhista público. Quer gostemos ou não, o O argumento para a adoção
e previdenciária), restabeleceria o capitalismo trava sem as relações/ desse regime partiu de um diag-
crescimento. A “fada da confian- negociações regulares entre os em- nóstico equivocado dos desafios
ça” iria aparecer em breve. presários e o Estado. fiscais de curto prazo que enfren-
A confiança por si só não ge- Portanto, a economia não vai ta a administração pública. Partiu-
ra mais investimentos privados destravar, pois estamos vivendo um -se da ideia que os resultados fis-
quando o nível de utilização da ca- momento de incerteza estrutural, cais negativos em 2015 e 2016

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seriam fruto da gastança. Os dados bre a lei, o que permitirá, por meio (c) a reprovação às mudanças so- ii) taxar os lucros e os dividendos;
não evidenciam isso, pelo contrá- de acordos coletivos, flexibilizar a ciais e políticas resultantes da ma- eiii) regulamentar e criar impostos
rio: o que se observa é que ocorreu jornada de trabalho, banco de ho- nutenção do pleno emprego” (KA- sobre as grandes fortunas e as he-
uma deterioração das receitas fis- ras, redução salarial, adicional no- LECKI, 1987, p. 55). ranças, aumentando a incidência
cais, decorrente da queda do PIB turno, entre outros itens. O argu- Ou seja, há sim uma racionali- de impostos sobre a propriedade.
com a manutenção de expressivos mento é que essa flexibilização das dade no “consenso da insensatez”: a Pelo lado dos gastos, é preciso re-
subsídios aos empresários. leis trabalhistas modernizará as re- da dominação de classe no Brasil. A duzir de forma expressiva as despe-
No entanto, assumiu-se, ain- lações entre empresários e emprega- luta de classe nunca esteve tão viva! sas financeiras com juros por meio
da em 2015, que o problema era o dos e ainda gerará mais empregos. Trata-se de manter os trabalhadores da redução da taxa Selic.
aumento das despesas e adotou-se Em primeiro lugar, não ne- brasileiros no “seu devido lugar”, e Esses elementos permitirão a
o ajuste fiscal como medida. Essa nhum estudo consistente que su- para isso o setor dominante brasi- configuração de um novo regime
estratégia agravou ainda mais os gira uma relação direta entre flexi- leiro adota uma resistência “[...] ul- fiscal, em prol do desenvolvimento,
problemas, pois a redução das des- bilização do mercado do trabalho traintensa à mudança social” e vol- que (i) leve em conta o ciclo econô-
pesas da administração pública, as- e elevação do nível de emprego. ta-se de forma “sociopática” para “a mico, permitindo que em um mo-
sociada à redução dos investimen- Além do que, as modificações par- preservação pura e simples do status mento de crise, como a que vivemos
tos da Petrobras, provocou uma tem do suposto que tanto os em- quo [defesa de privilégios e do lucro hoje, seja possível ampliar o endivi-
redução da demanda, o que afetou presários como os trabalhadores a qualquer custo]” (FERNANDES, damento no curto prazo para esti-
de forma negativa a arrecadação têm o mesmo poder de negocia- 1962, p. 211). mular a economia; e que (ii) garan-
tributária, que caiu numa propor- ção. Esse suposto é negado até Sem a ruptura com a interdi- ta, como alertou Orair (2016), um
ção maior do que os gastos. mesmo por Adam Smith, o pai do ção neoliberal a respeito do papel tratamento fiscal diferenciado para
O argumento de que as despe- liberalismo. dos gastos e investimentos do setor os investimentos públicos. É eviden-
sas sociais não cabem no orçamento Na verdade, essas reformas têm público, não conseguiremos reto- te que essa proposta somente é pos-
brasileiro é uma falácia. A principal como objetivos reduzir o custo da mar o crescimento. É preciso rom- sível com a completa revogação da
despesa da administração pública força de trabalho e a capacidade do per com a narrativa de que o setor emenda Constitucional 95/2016.
é a financeira (cerca de R$ 407,02 Estado de realizar políticas de ple- público está quebrado e que hoje Em linhas gerais, pode-se afir-
bilhões em 2016), que não foi in- no emprego. Um claro caminho de não teria capacidade/dinheiro para mar que o “consenso da insensa-
corporada no teto dos gastos. Es- irracionalidade econômica, pois is- puxar o crescimento. Não há dú- tez”, assim como os efeitos da Lava
sa despesa com juros irriga as altas so não gerará crescimento. Entre- vida que o setor público enfrenta Jato, impede qualquer possibili-
rentabilidades do setor bancário/fi- tanto, tem subjacente uma racio- desafios fiscais de curto prazo, que dade de retomada do crescimen-
nanceiro (Itaú Unibanco, Bradesco, nalidade de dominação de classe. precisam ser enfrentados, manten- to econômico. A alternativa pos-
Santander, BTG Pactual etc.) e de Kalecki (1987[1943]) já havia do o seu papel de indutor do de- sível é criar as condições políticas
parte da elite não financeira que es- identificado esse tipo de compor- senvolvimento nacional e regional. – rompimento da interdição neoli-
pecula nos mercados de títulos. tamento, ao mostrar que os gran- Como o setor público pode fa- beral das políticas de pleno empre-
O ajuste fiscal permanente es- des empresários de diversos países, zer isso? Vejamos algumas propo- go – e econômicas para que a ad-
tabelecido por esse “novo regime durante a crise de 1930, se opuse- sições possíveis tecnicamente, mas ministração pública (por meio de
fiscal” impactará negativamente os ram às estratégias de políticas de que implicam forte tensão entre um novo regime fiscal) possa indu-
gastos em saúde e educação (com a pleno emprego estatal (via emis- forças sociais em suas disputas pe- zir o processo de recuperação eco-
redução do piso); em cultura, ciên- são de títulos da dívida), mesmo los fundos públicos (orçamento nômica com inclusão social.
cia e tecnologia e assistência social sabendo que essa política os bene- público) brasileiros.
(que nem piso possuem); e, sobre- ficiava na medida em que o estí- Pelo lado da receita fiscal, faz- Referências
tudo, os investimentos do governo mulo à renda e ao emprego pro- -se necessário engendrar uma re- FERNANDES, F. A sociologia nu-
federal. Portanto, o ajuste vai re- porcionam maiores lucros. A forma tributária que simplifique a ma era de revolução social. Rio de Ja-
cair sobre o andar de baixo, afetan- explicação para isso se deve à di- estrutura, aumente a arrecadação e neiro: Zahar, 1962.
do fortemente os mais pobres. mensão política (da dominação de a progressividade. O andar de ci- KALECKI, M. Os aspectos polí-
Além do teto dos gastos, está em classe) e está associada a três ele- ma do capitalismo brasileiro preci- ticos do pleno emprego. In: Cres-
tramitação no congresso o Projeto mentos: “(a) a reprovação à inter- sa arcar com os custos da constru- cimento e ciclo das economias capi-
de Lei 6787/2016 da reforma traba- ferência pura e simples do Gover- ção de uma sociedade um pouco talistas. 2. ed. São Paulo: Hucitec,
lhista (aprovado na Câmara de De- no no problema do emprego; (b) mais igualitária. Para isso, o go- 1987. p. 54-60.
putados no dia 26/04) que tem co- a reprovação à direção da despesa verno deve: i) ampliar as faixas do
mo eixo geral que o negociado entre governamental (para investimento imposto de renda, aumentando as * É professor do IE/UFRJ. eduardo.pin-
patrões e empregados prevaleça so- público e subsídio ao consumo); e alíquotas para os topos superiores; to@ie.ufrj.br

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Contrarreformas 7

Contrarreforma da previdência:
a disputa entre o lucro e a vida
Sara Granemann* de Fernando Henrique Cardoso lação com as contrarreformas ante-
(FHC), foi promulgada a Emen- riores, conjugar continuidade com
“Não cante vitória muito cedo, não; da Constitucional nº 20/98, que aprofundamento. O aprofunda-
nem leve flores para a cova do inimigo feriu severamente os direitos da mento consiste numa importante
que as lágrimas dos jovens são força de trabalho empregada pe- alteração na tática política; se nas
fortes como um segredo; los diferentes capitais (agrário, co- contrarreformas anteriores a apos-
podem fazer renascer o mal antigo. mercial, industrial, bancário), as ta dos governos na divisão política
(…) Meu bem, é difícil saber trabalhadoras e trabalhadores do- da classe trabalhadora exigiu reali-
o que acontecerá. mésticos e os autônomos filiados zar os ataques aos direitos em se-
Mas eu agradeço ao tempo; ao Regime Geral de Previdência parado e em momentos diferen-
o inimigo eu já conheço. Social (RGPS); sem que suas me- ciados, para evitar-se a unificação
Sei seu nome, sei seu rosto, didas tenham sido exclusivamente das lutas da classe trabalhadora, a
residência e endereço. dirigidas ao RGPS, foi a este regi- contrarreforma hoje em curso in-
A voz resiste. A fala insiste: me que a EC 20/98 frontalmen- veste sobre os direitos de toda a
você me ouvirá. te golpeou. Antes que se comple- classe trabalhadora de uma só vez.
A voz resiste. A fala insiste: tassem cinco anos da promulgação Impulsionado – e em alguma me-
quem viver verá”. da EC nº 20/98, Luiz Inácio Lula dida, ofuscado – pelo verde-ama- que a sua exploração (de classe) é
(Belchior 1946-2017) da Silva, na continuidade da divi- relo das ruas e por sonantes caça- proveniente de sua relação com as
são do trabalho dos governos para rolas noturnas, o cálculo político mulheres e, com isto, encoraja-se,
os capitais, derruirá, pela Emenda empenha-se em opor uns aos ou- cada vez mais, a violência contra as

A Proposta de Emenda Cons-


titucional (PEC) nº 287/16,
encaminhada pelo Executivo ao
Constitucional nº 41/03, os direi-
tos da força de trabalho empregada
no Estado em seus diferentes mo-
tros por meio da culpabilização e
pelo cultivo da desconfiança entre
os iguais, como se à classe traba-
mulheres ao invés da busca de reais
condições de igualdade e de salário
e da supressão das múltiplas jorna-
Congresso Nacional no dia 5 de de- mentos (município, unidades fe- lhadora e aos seus erros ou privi- das assumidas pelas mulheres.
zembro, foi substituída, alterada e derativas e federação). A linha de légios se devesse a contrarreforma. Argumentos como estes obscu-
corrigida pelo seu proponente nos continuidade entre estas duas con- Assim, aos jovens há que se di- recem as determinações das con-
dias 6 e 7 de dezembro de 2016. trarreformas e a do governo Temer zer: os idosos são remunerados trarreformas, mas também, contra-
Sua matéria convoca-nos a lan- expressa-se no renitente diagnós- com aposentadorias acima do que ditoriamente, podem desencadear
çar um olhar retrospectivo sobre tico do déficit, do envelhecimen- se lhes seria possível pagar e isto reações articuladas dos que pade-
a Constituição da República Fe- to demográfico da população bra- converterá a vida em um horizon- cem e sofrem pelos ataques. A con-
derativa do Brasil de 1988, qua- sileira e dos privilégios de frações te de dificuldades aos recém-che- juntura, parece-nos, doravante não
se (apenas) trinta anos passados da classe trabalhadora, mais enfati- gados ou por chegar ao “mercado somente se desenhará em jantares,
de sua elaboração, e a conclusão zados em um ou outro momento, de trabalho”. Aos trabalhadores ur- gabinetes, ideias e votos ampara-
mais evidente a que se pode chegar por um ou outro governo, conso- banos deve-se fazer acreditar: são dos em moedas e privilégios; as ru-
é: a desconstrução da Carta Mag- ante ao que se objetiva contrarre- os trabalhadores rurais os respon- as, quase vazias de automóveis e
na opera na velocidade oposta à de formar. Amparados em diagnós- sáveis pela iminente (2060?) que- transportes coletivos, abrigou pe-
sua formulação; vagarosa em reco- ticos com horizontes comuns, a bra das aposentadorias públicas; destres e atos que estão em uma es-
lher as demandas dos trabalhado- solução também sempre se enca- nos trabalhadores e às trabalhado- piral de crescimento desde o 08M1,
res, tem sido célere em retirar-nos minha para ampliar deveres e re- ras empregados/as pelos capitais aprofundaram-se em 15 de março e
as parcas conquistas sociais. baixar direitos. cultiva-se a aversão aos “servidores desembocaram na importante gre-
A PEC nº 287/16 do governo A PEC nº 287/16 operada pe- públicos”, sempre acusados, injus- ve de 28 de abril de 2017. Com-
de Michel Temer guarda continui- lo governo de Michel Temer, por tamente, por enormes privilégios; portou igualmente brutal violência
dades e aprofundamentos em rela- amparar-se em golpe jurídico/par- aos homens (esta é uma pérola da policial/estatal contra os que pro-
ção às contrarreformas efetuadas lamentar que o alçou à Presidência ignomínia machista e misógina) testaram no Rio de Janeiro, em São
nos dois anteriores governos; no da República, permitiu-lhe, na re- estimula-se a brutal impressão de Paulo e em Goiás. A violência do

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8 Contrarreformas

dústria (CNI); trata-se da urgente


necessidade dos capitais em con-
verter o fundo público (a riqueza
socialmente construída e materia-
lizada nos “recursos” do Estado)
em instrumentos (incontornáveis)
para a realização de seus lucros. A
crise dos capitais elevou à (uma
sua) necessidade o corte dos direi-
tos (trabalhistas e previdenciários,
mas não somente estes) da classe
trabalhadora. Como se pode con-
cluir da leitura da “Agenda”, esta-
mos diante de uma urgente disputa
(a categoria analítica é a da luta de
classe) por uma grande quantida-
de de riqueza socialmente constru-
ída e condensada no Estado. Se es-
ta riqueza se transmutará em meio
de realização dos já gigantescos lu-
cros dos capitais ou se tal riqueza,
conforme o que se estabeleceu na
Constituição Federal, se metamor-
foseará em direitos da classe traba-
lhadora, não está previamente esta-
belecido, apesar das vontades em
oposição. Na história e no con-
fronto entre o lucro e a vida, nada
há de “irrevogável e irretratável”. A
Estado de classe da burguesia não teriores é que aquelas foram feitas Comissão Especial. Mudanças sig- resolução dos contraditórios e coli-
é um dado episódico: antes é uma “às fatias”: cada uma de uma vez. nificativas somente ocorrerão se os dentes interesses revelará o quanto
disposição e uma pedagogia para Sob o governo Temer, o projeto de parlamentares de oposição ao go- a toupeira tem tido força para se-
desencorajar aqueles e aquelas que realizar tudo de uma vez só se po- verno conseguirem derrotá-lo no guir com suas escavações.
ousam incidir sobre o desdobra- de cogitar quando a desconstrução debate e na votação do relatório.
mento das contrarreformas . da Constituição Federal e da legis- A indagação a se fazer é: por * É docente da Escola de Serviço Social
A aparente força da PEC lação protetiva da força de traba- que no plano da política, o Esta- da UFRJ.
287/16, ao desferir um ataque tão lho é igualmente um ato de força, do, por meio de seu ilegítimo e
1 Dia das lutas internacionais das mulhe-
frontal aos direitos da classe traba- como o foi o próprio golpe jurí- desacreditado governo, continua a res, que, em muitas partes do mundo, pas-
lhadora, pode deixar ver seus pés dico/parlamentar que o elevou ao combinar violência e indisposição sou a ser conhecido por um número 08
de barro, porque a reação que po- cargo presidencial. para o diálogo com os trabalhado- acrescido de um M. Na língua portuguesa
de desencadear é aquela na qual é O relatório do Deputado Ar- res justamente nas questões que – mas não só – o M porta dupla simbolo-
difícil prever os movimentos dos thur Oliveira Maia (PPS-BA) de- lhes (nos) são tão cruciais, como gia: escreve Mulher e Março, mês referên-
cia dos muitos capítulos nas lutas por li-
oponentes, porque com eles não monstra a inexistência de inten- a proteção ao trabalho (a vida no bertação feminina.
se combinou as regras do jogo. Em ções, da parte do governo, de presente) e à velhice (a vida no fu- 2 https://static-cms-si.s3.amazonaws.com/
tais situações, há que se ter sabedo- estabelecer negociações com os turo)? A resposta só pode ser: jus- media/filer_public/59/da/59da2e37-
ria e cuidado ao praticar o mal todo trabalhadores e suas organizações. tamente por serem tão cruciais! A -b6c9-4b72-a2c7-7f80f1caea50/agenda_
de uma vez, para que a muita cora- As mais duras medidas constantes intransigência do governo Temer para_o_brasil_sair_da_crise_2016-2018_
apos_um_ano.pdf (neste link já agregou-se
gem não derive em temeridade. da PEC 287/16 em nada sofreram reside, conforme é possível infe- uma avaliação ao documento original, um
Outro ponto diverso desta alterações no parecer do Relator rir da leitura de um dos “estudos”2 ano após sua divulgação). Consulta em
contrarreforma em relação às an- da Proposta em apresentação na da Confederação Nacional da In- 01.05.2017.

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Contrarreformas 9

Lei do Teto dos Gastos: não pode durar!


Antonio José Alves Junior* 18% da arrecadação de impostos. cionamento e investimentos dos
A partir de 2018, no entanto, as demais ministérios. Já em 2026,

A Lei do Teto dos Gastos, ou a


Emenda Constitucional 95
(EC-95), foi aprovada sem que
dotações das duas áreas passarão a
ser corrigidas como as demais des-
pesas, acabando com a vinculação
caso a educação e a saúde tenham
seus orçamentos reais preservados,
o que é menos do que as vincula-
grande parte do povo brasileiro constitucional existente. ções previam, restariam cerca de
pudesse compreender sua nature- Não fossem essas desvincula- R$ 35 bilhões para que os demais
za e seus efeitos. A crise econômi- ções, as despesas de saúde e edu- ministérios invistam ou cubram
ca, a demonização do Estado e do cação inviabilizariam a execução suas despesas de funcionamento,
que é nacional, e o moralismo no do orçamento. Mas as desvincula- cerca de 10% do total executado
tratamento midiático das finan- ções serão insuficientes para evitar em 2016. Um cenário inviável.
ças públicas consolidaram a ideia a paralisia do Estado. Será necessá- Inevitavelmente, a Saúde, a
de que a “gastança” promovida pe- rio, ainda, que: a) as despesas previ- Educação, a Defesa, a Polícia Fe-
lo PT fora responsável pela per- denciárias sejam cortadas para ge- deral, a Cultura, as Relações Exte-
da da confiança e pelas dificulda- rar economia imediata de recursos; riores, a Ciência e Tecnologia e os
des econômicas. E consolidaram a b) a folha de salários do funciona- vários programas sociais serão cor-
ideia de que só uma reforma fis- lismo público não obtenha ganhos e outras obrigatórias”), serão pro- tados. O Estado ficará muito me-
cal recuperará a economia. A di- reais; c) que o salário mínimo seja gressivamente diminuídas até che- nor em uma década, enquanto a
reita, recém-chegada ao poder por congelado; d) que os demais gastos garem a 36% do total praticado população brasileira crescerá em
um atalho, confrontou a limitada do governo sejam comprimidos. em 2016, em termos reais. 21 milhões de pessoas. Para evi-
reação dos partidos e organizações A tabela 1, abaixo, é uma ver- Empregando dados da Execu- tar a paralisia do Estado, as des-
populares, aprovou, de forma su- são reelaborada de projeção rea- ção Orçamentária dos Orçamen- pesas previdenciárias e/ou os salá-
mária – menos de 4 meses depois lizada pelo Bradesco, com o ob- tos Fiscal e da Seguridade Social da rios dos servidores deverão ter seus
do impeachment de Dilma – a Lei jetivo de ilustrar as dificuldades União, por Órgão e grupo de natu- valores reais cortados por causa da
do Teto dos Gastos, desconside- da execução orçamentária depois reza de despesa (GND), disponibi- Lei do Teto dos Gastos.
rando suas gravíssimas consequ- da Lei do Teto. Ela foi construí- lizados no site da Secretaria de Or-
ências econômicas e sociais. da com as seguintes hipóteses: o çamento e Finanças no Ministério Engessamento
PIB cresce 3% a.a.; as despesas de do Planejamento, é possível esti- da política fiscal
A Lei do Teto de Gastos previdência obedecem às proje- mar que a saúde e a educação, jun-
ções correntes; o valor real da fo- tas, responderam pela execução de Os defensores da Lei do Te-
Aprovada em 15 de dezembro de lha de salários dos servidores fede- mais de R$ 140 bilhões, em 2016, to e das demais reformas do Esta-
2016, a Lei do Teto impõe, por um rais permanecerá congelado. em “discricionárias e outras obriga- do compactuam com a política de
prazo de dez anos, que as despesas Primeiro resultado: as despe- tórias”. Considerando que o mon- austeridade permanente. A ideia-
primárias sejam limitadas pelas des- sas primárias que respondem pe- tante executado por todo o gover- -força é que a “gastança” marca os
pesas pagas no ano anterior, incluin- lo funcionamento e pelos inves- no, nessa rubrica, foi de R$ 496 governos brasileiros e é a responsá-
do os restos a pagar, corrigidas pelo timentos de todos os órgãos do bilhões, restaram, aproximada- vel última pelas fragilidades de nos-
IPCA acumulado em 12 meses, até governo federal (“discricionárias mente, R$ 350 bilhões para o fun- sa economia. As sequelas deixadas
junho do ano anterior. A partir do pelo histórico de calotes, pela gene-
décimo ano, o presidente poderá re- rosidade da Constituição de 1988
ver o critério de recomposição do or- Tabela 1 – Despesas por classe de dispêndio e pelos governos do PT não foram
R$ milhões de dez/2016
çamento, uma vez a cada mandato, suficientemente contrabalançados
Despesa primária 2016 2026
enviando um projeto de lei comple- pelas iniciativas de organização do
mentar ao Congresso Nacional. Previdência 512.005 821.163 Estado, como a Lei de Responsa-
Excepcionalmente, a Saúde e Salários 261.329 270.352 bilidade Fiscal. É preciso mais para
a Educação, em 2017, receberão Discricionárias e outras obrigatórias 495.711 177.531 recuperar a confiança no país, que
tratamento especial. A Saúde terá Total 1.269.046 1.269.046
desaparece ao menor sinal de au-
15% da Receita Corrente Líquida, mento da dívida ou de piora nos re-
Fonte: Bradesco e Secretaria do Tesouro Nacional, elaborados pelo autor.
enquanto a Educação contará com sultados fiscais, pouco importando

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10 Contrarreformas

que os dados não sejam ruins. Há co, não há, no horizonte, elemen- de que seja um movimento contí- sa é a única alternativa que se afigu-
que reformar as instituições e en- tos para induzir o crescimento. nuo. O crescimento global perma- ra para reconduzir o Brasil ao pleno
gessar a política fiscal em troca da Começando pelo consumo: em nece fraco, abaixo dos 2,5% a.a., emprego e dar suporte material pa-
confiança para aumentar os inves- queda há quase dois anos, se enfra- enquanto o crescimento do comér- ra a estabilidade democrática.
timentos nacionais e estrangeiros1. quece com o desemprego e a redu- cio internacional desabou para al-
Essa tese, repetida à exaustão, ção da massa de salários. A queda go em torno de 1,5% a.a., compa-
carece de fundamentos teóricos e dos juros poderia contribuir para rado a 7% a.a. antes da crise. * É professor associado do Departamen-
to de Economia da UFRRJ e foi chefe da
empíricos, sendo desprovida de aumentá-lo, mas o grau de endi- O próximo governo eleito de- Assessoria Econômica do MPOG (2005),
valor científico ou prático. Ela não vidamento das famílias é um em- verá superar a austeridade ou “con- assessor-chefe da Casa Civil da Presidên-
só desmonta o Estado, como cri- pecilho. Quanto aos investimen- senso FHC”2, abraçado por Mei- cia da República (2005-2008) e assessor
minaliza a política fiscal expansio- tos, diante da elevada capacidade relles e sua equipe, apresentando do presidente do BNDES (2009-2015).
nista. Trata-se, apenas, de “priva- ociosa e da demanda enfraquecida, uma política fiscal expansionista
1 Conferir o prefácio, escrito por Edmar
tizar tudo o que for possível”, em continuarão cedendo, como ocorre para sustentar um programa emer- Bacha, do livro “Finanças Públicas – da
infraestrutura, objetivo declarado há dez trimestres. A TLP, que visa gencial de recuperação do emprego Contabilidade Criativa ao Resgate da Cre-
do atual governo, mas, também, a aproximar as taxas do BNDES dos combinado com um plano de in- dibilidade”, organizado por Felipe Salto e
educação, a saúde e a previdência. juros de mercado, não muda essa vestimentos públicos. Para tanto, Mansueto Almeida, editora Record, Rio
de Janeiro, 2016.
Está aí a razão do conselho dado à tendência. Por fim, as exportações a condição necessária é a abolição
2 Sintagma elaborado e definido com
Temer por Nizan Guanaes: apro- têm reagido, mas não há medidas da emenda do teto de gastos, o que maior precisão em texto a ser publicado
veitar a impopularidade para fazer concretas de apoio e o ambiente exigirá grande liderança política com o Professor Manoel da Motta, da
o necessário. Ocorre que as con- externo não dá sinais animadores consagrada pelo voto popular. Es- UFRRJ
dições para fazer o necessário es-
tão evaporando. E as políticas eco-
nômicas adotadas, que afundam a
economia, contribuem para isso.

O próximo governo
e a EC-95

Não se sabe exatamente quan-


do o governo atual acabará. É cer-
to que, em meio à prolongada de-
pressão econômica, o comando
tucano-pmdbista implode. O acú-
mulo das denúncias contra o go-
verno Temer e sua base no Con-
gresso, somado à persistência da
crise econômica e à insatisfação
popular, aponta para um cenário
político cada vez mais degradado.
Há vários desdobramentos pos-
síveis dessa grave crise política e eco-
nômica. A saída democrática passa-
rá por um novo governo eleito e a
recuperação do raio de manobra do
Estado na economia. É fundamen-
tal estabelecer políticas econômicas
diferentes das que vêm sendo ado-
tadas, desde Levy, para a retomada
da geração de empregos e de renda.
Hoje, com as reformas e os
ajustes que inibem o gasto públi-

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Contrarreformas 11

Terceirizar para quê?


Fernanda Stiebler* sas terceirizadas, principalmente administrativo de terceirização de
Luiz Mario Behnken** no âmbito de contratos com o po- mão de obra? Na teoria, a empresa
der público, são comuns e anterio- deveria manter o salário dos traba-
“Quando o emprego vira um luxo, o res ao debate atual acerca do tema. lhadores em dia, pois a obrigação
salário fica um lixo”. Até mesmo com intuito de se- trabalhista direta é com a empresa
José Maria de Jesus – boia-fria rem competitivas nas licitações e não com o governo. Contudo, o
e conseguirem os contratos com que ocorre na prática é que, com
o poder público, as empresas de a falta de pagamento dos contra-

O debate com relação à tercei-


rização de mão de obra foi
acentuado pela recente aprovação
mão de obra terceirizada traba-
lham com salários que seguem
exatamente o piso mínimo esta-
tos pelo ente público, as empresas
prestadoras de serviço não arcam
com as suas responsabilidades.
da Lei nº 13.429/2017, que tra- belecido para cada serviço. Como Nesse caso, voltamos a atenção es-
ta de alteração da Lei nº 6.019/74 os lucros dessas empresas vêm da pecialmente para o Estado do Rio
que dispõe sobre o trabalho tem- margem entre o valor que é pago de Janeiro, onde a crise fiscal tem
porário nas empresas urbanas e para o trabalhador e o valor cobra- levado à inadimplência ou cance-
sobre as relações de trabalho na do pelo serviço no contrato, se o lamento de inúmeros contratos de
empresa de prestação de serviços valor pago de salários aumenta, a terceirização de mão de obra.
a terceiros. Na verdade, essa lei é margem das empresas diminui. O Estado do Rio possui hoje
um resgate da agenda neoliberal diversos contratos de mão de obra
da década de 1990, implementa- Reflexo da crise que atuam em atividades-meio, co-
da pelo governo FHC. no Rio de janeiro mo serviços de limpeza, vigilância,
Dentre as principais mudan- A maioria dos contratos de ter- recepção, manutenção e preparo
ças advindas do projeto de lei en- ceirização da mão de obra com o de alimentação. Acrescidos a esses
contra-se a possibilidade de que as setor público refere-se a serviços contratos, temos ainda as organi-
empresas contratem trabalhadores como limpeza, conservação, ma- zações sociais, que atendem princi-
terceirizados para exercerem car- nutenção, vigilância e apoio ad- palmente à área de saúde, atuando
gos na atividade-fim. A lei ainda ministrativo, entre outros. No ca- tanto na área-meio quanto na área-
estabelece em seu Art.10 § 7º que: so do Estado do Rio de Janeiro, -fim, e que também é um caso de
“A contratante é subsidiariamente por exemplo, a Lei nº 7267/2016 terceirização da mão de obra.
responsável pelas obrigações traba- institui pisos salariais no âmbito O volume de despesa anual
lhistas referentes ao período em que do estado para todas essas as cate- envolvido nesses contratos, segun-
ocorrer o trabalho temporário(...)” gorias profissionais. do dados coletados do Portal de
Contudo, em decisão recen- Para os trabalhadores dos ser- Transparência do Estado do Rio
tíssima do Plenário do Supremo viços supramencionados, os sa- de Janeiro, alcançou cerca de R$
Tribunal Federal, definiu-se que lários variam de R$ 1.052,34 a 4,6 bilhões de reais. Nos últimos
não há responsabilidade subsidi- R$1.168,70, dependendo da espe- 12 meses (março de 2016 a feve-
ária da administração pública por cificação do serviço. Ou seja, qua- reiro de 2017), o montante que
encargos trabalhistas gerados pelo se que invariavelmente, a maioria deixou de ser pago a esses forne-
inadimplemento de empresa ter- dos trabalhadores terceirizados que cedores foi cerca de R$1,4 bilhão.
ceirizada, só cabendo sua condena- atuam hoje prestando serviço para Considerando a crise fiscal que
ção se houver prova inequívoca de o Estado do Rio de Janeiro tem es- o Estado do Rio de Janeiro atra-
sua conduta omissiva ou comissiva sa média salarial. Estamos tratando vessa, cujos atrasos salariais já são
na fiscalização dos contratos. de trabalhadores com rendimentos evidentes, a perspectiva de pa-
Todas essas mudanças recentes apenas um pouco acima do salário gamentos destes fornecedores se
no escopo legal com relação à ter- mínimo nacional. torna ainda mais distante. O que
ceirização de mão de obra fragili- O que ocorre, no entanto, consequentemente levará ao não
zam a proteção ao trabalhador. Os quando o ente público não ar- pagamento dos empregados ter-
problemas com relação às empre- ca com o pagamento do contrato ceirizados.

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12 Contrarreformas

Se o Estado eleva seu nível de quentemente na redução da arre- ca de R$62 bilhões, uma queda de sário um modelo mais elaborado
inadimplência com os serviços ter- cadação de impostos. Portanto, de 22% na arrecadação do Estado. A para tal. Entretanto, apenas anali-
ceirizados, o impacto na economia uma forma simples, um dos efei- previsão para 2017 é ainda pior: es- sando o comportamento do setor
é um efeito dominó. Em geral, es- tos da inadimplência do setor pú- tima-se que a receita bruta cairá pa- já é possível observar que o efei-
ses fornecedores atuam principal- blico recai sobre ele mesmo, com ra algo em torno de R$60 bilhões. to negativo retorna para o próprio
mente com entes públicos, cujos a queda na arrecadação. Considerando que a maioria Estado e só aprofunda ainda mais
prazos de pagamento são mais dila- Os indicadores macroeconômi- dos contratos de serviços terceiri- a crise fiscal.
tados, principalmente pelo fato do cos mostram claramente esse efei- zados paga, em média, o valor de O que fazer? É bem verdade
mesmo só poder ser realizado após to. No último trimestre de 2016 a piso salarial do Estado do Rio de que, para as proporções que a crise
a prestação do serviço e a compro- taxa de desemprego no Brasil atin- Janeiro para as atividades, e que o estadual tomou, com déficit anual
vação de execução do mesmo. giu 12%, enquanto no Estado do Estado deixou de pagar cerca de estimado em R$26 bilhões, não há
No momento em que o perí- Rio de Janeiro ficou em 13,4%. R$1,4 bilhão no último ano para solução de curto prazo que rever-
odo de inadimplência cresce, os Pelo lado das receitas, de acordo esses contratos, estima-se que cer- ta esse quadro. De qualquer mo-
fornecedores perdem o fôlego pa- com dados do IBGE, se considera- ca de 40 mil trabalhadores deixa- do, o rumo das decisões legais que
ra manter os pagamentos de seus mos a soma de todos os Estados da ram de receber seus vencimentos estamos vendo, isentando os entes
empregados em dia. Em algum Federação, a arrecadação do ICMS, em algum momento. Além disso, públicos de quaisquer responsabi-
momento, empresa terceirizada e principal fonte de tributo dos esta- as empresas contratadas também lidades sobre sua inadimplência,
empregado encerram sua relação. dos, teve um aumento nominal de não receberam repasses para arcar vai de encontro com qualquer me-
A demissão de funcionários e a 3,58% de 2015 para 2016, enquan- com o pagamento de seus tribu- dida anticíclica para uma tentativa
menor atividade no setor, tratan- to no Estado do Rio de Janeiro hou- tos, impactando a arrecadação do de retomada do crescimento eco-
do aqui apenas pelo efeito macro- ve uma queda de 3,23%. próprio ente, que deixa de arcar nômico e da necessária proteção
econômico, resultam no aumento O Estado do Rio de Janei- com suas obrigações. social. Transferir integralmente a
da taxa de desemprego e conse- ro1 tinha receita bruta que girava, No presente artigo, não pre- responsabilidade por encargos tra-
em valores constantes, em torno tendemos calcular o real efeito da balhistas unicamente ao emprega-
de R$80 bilhões em 2013; no ano inadimplência do Estado na sua dor, mesmos nos casos de inadim-
passado, esse número caiu para cer- própria arrecadação; seria neces- plência da administração pública,
pode gerar efeitos perversos para a
própria administração. Para discu-
tir políticas macroeconômicas e/
ou reformas estruturais, é preci-
so enxergar mais adiante, medin-
do seus impactos no curto, médio
e longo prazos. Caso contrário,
nos arrastaremos por alguns anos
com crescimento econômico pífio
e elevados níveis de desemprego.
Enfim, a terceirização é uma
agenda defendida por minorias,
mas que apresenta muitas fragili-
dades em termos de proteção ao
trabalhador e o cenário de crise
fiscal fará com que a “corda” arre-
bente, mais uma vez, para o lado
mais frágil da relação.

* É economista pela UFRJ e mestre em


Políticas Públicas pela UFRJ.
** É economista pela UFRJ e mestre em
Administração Pública pela FGV.

1 De acordo com dados do Boletim de


Transparência Fiscal.

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Fórum Popular do Orçamento 13

A questão previdenciária no Rio de Janeiro


E m 16 de março, realizamos o
debate “Previdência do muni-
cípio e do estado do Rio de Janei-
Gráfico 1: Disponibilidade em Caixa Bruta do FUNPREVI

ro: questões e perspectivas” no au-


ditório do Corecon-RJ. Durante o
evento, o Fórum Popular do Orça-
mento apresentou dados sobre re-
núncias fiscais, dívida pública e o
fundo de previdência dos servido-
res, todos referentes ao município
do Rio de Janeiro. Os convidados
Mirelli Malaguti e Mauro Osó-
rio apresentaram questões relacio-
nadas à previdência dos servidores
municipais e estaduais: as receitas,
as despesas e os resultados, bem co-
mo os fundamentos gerais do siste-
ma. Os dados ao longo deste texto
foram deflacionados pelo IPCA-E
de dezembro de 2016. Fonte: Prestação de Contas 2002-2015.

FPO “perdoou” mais de R$ 6 bilhões da bre os recebimentos dos inativos, Após a exposição do fórum,
dívida municipal. reduzindo o benefício. cada participante apresentou da-
De 2010 a 2015, as renúncias Ao fim de sua fala, o FPO Uma opção para manter os dos e perspectivas. Ao final, foram
fiscais acumuladas somaram R$ questionou o modelo previden- pagamentos em dia seria assumir discutidos pontos de desencontro
5,66 bilhões. Todos os tributos de ciário implantado, que se propõe um sistema de repartição. Os pa- e dúvidas. Malaguti analisou o or-
arrecadação própria do município a ser o de capitalização4 desde a gamentos feitos aos beneficiários çamento público da última déca-
sofreram reduções oriundas des- criação do FUNPREVI. Porém, já são compostos pelas chama- da, enquanto Osório enfocou a si-
tas renúncias, sendo o ISS o maior em vez de tornar o sistema susten- das “Contribuições Suplementa- tuação socioeconômica do estado,
afetado, seguido pelo IPTU e fi- tável através da complementação res”. No gráfico 2, observamos o as possibilidades do poder público
nalmente o ITBI1. das contribuições via receita pa- quanto foi repassado pelo Tesou- frente a ela e vice-versa.
A dívida consolidada líquida trimonial, a gestão da previdência ro e o quanto seria necessário re- Mirelli Malaguti, professora de
municipal aumentou de R$ 8,4 empreendeu a descapitalização do passar se não houvesse outras re- economia da UFRJ, abriu a sua fa-
bilhões em 2009 para R$ 16,9 bi- seu próprio fundo, fazendo-se ne- ceitas além das contribuições dos la descrevendo sucintamente a his-
lhões em 2015, fechando 2016 em cessário maior apoio financeiro do servidores e patronal (Contribui- tória do sistema brasileiro de pre-
R$ 13,3 bilhões. Em 2010 e 2011 Tesouro para honrar os compro- ções Suplementares) para o siste- vidência social a partir de 1988,
houve uma troca de credores de missos. Devido a esta dependên- ma previdenciário. abordando o surgimento dos fun-
dívidas no valor de cerca de US$ cia, o sistema assemelha-se ao de A diferença entre os montan- dos previdenciários dos estados e
1 bilhão, gerando os maiores gas- repartição. Em 2011, uma nova tes, que aumenta ao longo do tem- dos maiores municípios.
tos do período com serviço da dí- lei tentaria “recapitalizar” o fundo, po, não significa poupança para o Ela lembra que os regimes pró-
vida2. O montante anteriormente mas seus propósitos fracassaram, município, e sim déficit acumula- prios de previdência social dos ser-
devido à União passou a ser devi- como observa-se abaixo. do, também coberto pelo Tesouro. vidores públicos começaram co-
do ao Banco Mundial a uma ta- Estima-se que hoje a disponi- Afinal, é o responsável último por mo uma enorme folha de passivos
xa de juros menor, aliviando o pe- bilidade em caixa do Fundo esteja honrar os pagamentos, já que a li- financeiros. O financiamento da
so das despesas com juros nos anos zerada ou muito próxima desta re- quidez do fundo secou. Fato que folha de aposentados, pensionistas
seguintes3. Em 2016, uma renego- alidade. Visto isso, o atual Prefei- pode ser analisado através da redu- e demais possíveis beneficiários te-
ciação nacional da dívida dos es- to Crivella afirmou que pretende ção da receita patrimonial, expres- ria de vir de novas receitas criadas
tados e municípios com a União adotar a contribuição de 11% so- sa no gráfico abaixo: para tal, da canalização de receitas

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14 Fórum Popular do Orçamento

já existentes ou, ainda, através da


criação de um fundo de capitali- Gráfico 2: O que o Tesouro paga e o que pagaria no Modelo de Repartição
zação, caso os recursos existissem.
Estes regimes pagariam, por déca-
das, os benefícios de pessoas que
não contribuíram para os novos
fundos. Somente após o tempo de
serviço exigido para aposentadoria
o fundo contaria com a participa-
ção integral daqueles que se apo-
sentavam. Julgamentos de valor
com relação a isso variam confor-
me o ponto de vista: alguns acre-
ditam que a previdência deveria
funcionar como um seguro, en-
quanto outros acreditam que, co-
mo direito, o amparo dado pela
previdência social deveria ser ofe-
recido a todos, independentemen-
te das contribuições individuais.
Malaguti afirma que, diferen- Fonte: Prestação de Contas 2002 e Relatórios da LRF 2016.

temente da maioria dos fundos de


previdência públicos criados na dé- Simultaneamente, as receitas ro (ERJ) para a sua recuperação. problemas de solvência do gover-
cada de 1990, o Rio Previdência do estado também padeciam por A precariedade do planejamento no, por motivos diferentes: a dívida
tinha boas chances de se manter; má gestão: no mesmo período, e estratégia regional, dos serviços teria muito “peso morto” (incobrá-
muitas fontes de receita foram di- tanto as renúncias fiscais quanto a públicos, da periferia metropoli- vel, devido a falências, por exem-
recionadas ao fundo, como as da dívida ativa cresceram. O valor re- tana de maneira geral, e, princi- plo), e as renúncias representariam
dívida ativa do estado, de aluguéis nunciado acumulado entre 2007 e palmente, da produção industrial fração pequeníssima das receitas.
de imóveis transferidos do estado 2015 somava, segundo a professo- privada, foram enfatizadas ao lon- Sobre a arrecadação, percebe-
ao fundo e dos rendimentos prove- ra, cerca de R$ 180 bilhões. go de toda a sua apresentação, dei- -se que o Rio de Janeiro sofre não
nientes do petróleo. Porém, assim Quanto aos gastos estaduais, xando claro que o problema fiscal só da crise econômica mais ge-
como ocorreu com os saldos do apesar da inexistência de explo- no estado não é do lado da despe- ral em que se insere, como tam-
Orçamento da Seguridade Social são nas despesas, a professora ar- sa, mas da receita. bém de consequências de decisões
no plano nacional, os saldos e re- gumentou que não há estudo téc- Isso não significa, todavia, que de outrora, realizadas em cenários
servas do fundo fluminense foram nico apropriado para avaliar os a despesa tenha sido bem plane- muito diversos do atual: a anteci-
utilizados pelo governo para co- rendimentos das políticas públicas jada ou executada, mas as cifras pação dos royalties do petróleo, a
brir seus próprios déficits e dívidas. empenhadas, e mesmo as políticas não mostram em si um excesso, renúncia de receitas sobre a ati-
Uma série de péssimos negócios e mais necessárias precisam ser re- e a falta de atendimento público vidade industrial petrolífera e a
decisões não apenas compromete- visadas em prol de eficiência. Co- de qualidade aponta para uma ne- ocorrência de cobrança de ICMS
ram o caixa do Rio Previdência co- mo exemplo, foi citado o Bilhete cessidade de revitalização. Toda- sobre a exploração e o refino de
mo os seus recebíveis, como foi o Único, um programa considerado via, houve, sim, má administração petróleo, excepcionalmente, no
caso da operação de antecipação bom, mas que, devido ao alto cus- tanto nas despesas quanto nas re- local de destino e não de origem.
dos royalties, negociada duas vezes to, deveria ser fiscalizado melhor. ceitas, agravando a atual crise. As expectativas da exploração
(1999 e 2015) em condições mui- Mirelli concluiu explicando O pesquisador descarta quais- do pré-sal mostraram-se muito
to mais generosas do que as prati- mais detalhadamente a formação quer receitas pontuais como solu- mais promissoras do que realmen-
cadas no mercado financeiro; a se- da folha de pagamentos do FUN- ções para a crise do estado ou da te seriam. Este equívoco nas proje-
curitização do FUNDES por R$ 1 PREVI5, complementando a apre- previdência, que foi agravada por ções deveu-se a erros de cálculo e
bilhão, quando sua carteira valia o sentação feita pelo FPO. fatores pontuais, mas que denun- análises dos próprios exploradores
dobro; o não repasse dos recursos Mauro Osório, professor e co- cia raízes estruturais. Para ele, a co- e à queda abrupta do preço inter-
da dívida ativa; e a não transferên- lunista do Jornal Extra, enfatizou brança da dívida ativa e a suspen- nacional do barril, apenas parcial-
cia de créditos parcelados, no valor a importância da estrutura pro- são das renúncias fiscais seriam mente contrabalanceada pela des-
de R$ 1,7 bilhão. dutiva do Estado do Rio de Janei- ambas insuficientes para sanar os valorização do real frente ao dólar.

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ção à saúde e educação e menos


Gráfico 3: Peso das Receitas Previdenciárias nas Despesas gastos com o Judiciário e o Legis-
lativo, onde se evidencia a despro-
porção entre as remunerações dos
profissionais de cada área.
Com relação às renúncias de
receitas, Mauro Osório afirma
que a apuração destas é equivo-
cada, pois contabiliza as transfe-
rências de material e mercadorias
entre sedes da mesma empresa lo-
calizadas em diferentes territórios.
O cancelamento destas, portanto,
não resolveria a crise e pioraria a
atratividade do estado perante as
empresas, possivelmente pioran-
Fonte: Prestação de Contas. do o quadro industrial, de parque
já reduzido.
Na fase das projeções, todos que- do petróleo, junto a uma dimi- Simultaneamente, o desem- Em suma, os pesquisadores
riam uma fatia das receitas do se- nuição geral da arrecadação tri- prego aumentou muito mais no concordam que a receita foi a der-
tor, e foi decidido que os royalties butária, graças à falta de um par- Rio de Janeiro do que em outros radeira questão, e também que a
seriam distribuídos entre todos os que industrial dinâmico, denso e estados. Em 2015 e 2016, Itaboraí despesa precisa ser avaliada e oti-
estados e municípios. Já a destina- amplo, e devido ao principal tri- perdeu 17.282 empregos formais, mizada. Ambos não veem saída da
ção fluminense dos royalties para buto, o ICMS, ser especialmen- e o estado, 429.882, correspon- crise via aumento da arrecadação
o fundo previdenciário mostrou-se te vulnerável a crises. A necessi- dendo a um quarto de todo o de- e nem via corte de despesas: uma
uma fraca ajuda na alta e um for- dade de adensamento produtivo e semprego gerado no país. No mu- ajuda federal será necessária. Pa-
te fardo na baixa. A posterior an- ampliação da base de arrecadação, nicípio do Rio de Janeiro, a perda ra o longo prazo, Mauro aponta o
tecipação dessas receitas foi uma com mais empresas e mais empre- foi de 138.168 postos. caminho. Tudo isto tange à previ-
saída viável para um problema ur- go formal, foi enfatizada, além da A desorganização dos servi- dência, pois foi justamente o apro-
gente, porém não era a única, e a consequente necessidade de aju- ços públicos foi outro tema abor- veitamento de créditos original-
operação mostrou-se gravemen- da federal para sair da crise, dado dado pelo professor, pois a capital mente destinados a ela para outros
te equivocada pelo exagero da re- que a estruturação e crescimento do estado é desproporcionalmen- usos (custeio, investimentos) que
dução das receitas futuras. Quanto que o estado necessita não ocor- te atendida em comparação com a descapitalizou e tornou-a insus-
ao ICMS, qualquer padronização rem com a devida velocidade para os outros municípios, e alguns ór- tentável. A Lei Orçamentária de
seria benéfica para o Rio: tanto a que o aumento das receitas ocor- gãos gastam muito em média, por 2017 já traz previsão de déficit de
sua cobrança sempre no local da ra a tempo de evitar a deteriora- funcionário, enquanto outros têm R$ 17 bilhões.
origem como sempre no destino ção das contas. Como o aumento funcionários sub-remunerados.
aumentaria a arrecadação flumi- da infraestrutura e da segurança, Temos a periferia mais desigual 1 Mais informações no Jornal dos Econo-
nense. A SEDEIS6 calculou o au- providos pelo Estado, se fazem com relação à capital do Sudeste, mistas (JE) N° 327 – Outubro/2016.
mento na receita em cerca de R$ necessários para que esta transfor- com o PIB per capita dos municí- 2 Mais informações: JE N° 323 – Ju-
nho/2016.
9,6 bilhões ao ano caso a cobrança mação ocorra, a omissão da União pios da Baixada não atingindo mil 3 Mais informações: JE N° 322 –
ocorresse na fonte, e a Sefaz7 afir- no combate às crises dos estados reais mensais (em São Paulo ultra- Maio/2016.
ma que o aumento seria o mesmo gerará mais incerteza e pobreza, passam os R$ 5 mil). Osório insis- 4 Mais informações: JE N° 319 – Feve-
no caso de cobrança no destino. impulsionando a inadimplência e te que a periferia do Grande Rio reiro/2016.
Segundo Mauro, a crise se de- a informalidade, e agravando ain- deve ser prioridade no combate à 5 Fundo de Previdência dos servidores pú-
blicos do município do Rio de Janeiro.
veu à acentuada queda nas recei- da mais a situação da arrecadação crise, com o fim das “cidades-dor- 6 Secretaria de Desenvolvimento Econô-
tas, causada justamente pela que- de qualquer ente federativo, em mitório”. As despesas precisam ser mico – Energia, Indústria e Serviços
da no recebimento de royalties um círculo vicioso. mais eficientes, com maior aten- 7 Secretaria de Fazenda

FÓRUM POPULAR DO ORÇAMENTO – RJ (21 2103-0121)


Para mais informações acesse: www.facebook.com/FPO.Corecon.Rj. Coordenação: Luiz Mario Behnken, Pâmela Matos e Talita Araújo. Assistentes: Est. Ana Krishna Peixoto,
Est. Bruno Lins, Est. Hellen Machado, Est. Thamyris Meirellis e Est. Victoria de Castro.

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Corecon-RJ abre inscrições para Agenda de cursos


Prêmio Monográfico e Gincana Matemática Financeira com HP 12C e Excel
3 de maio a 5 de junho | Carga horária: 30h.
Segundas e quartas | 18h30 às 21h30
As inscrições para o XXVII ou pelo telefone 21-2103-0105. Prof. Raul Murilo Chaves Curvo
Prêmio de Monografia Economis- A VII Gincana Estadual de
Economia Brasileira (Anpec)
ta Celso Furtado estão abertas até Economia do Rio de Janeiro, des- 16 de maio a 16 de setembro | Carga horária: 60h
2 de junho e devem ser realizadas tinada a estudantes de graduação Terças |18h30 às 21h30. Um sábado por mês | das 9h às 12h
Prof. Gilberto Carvalho
pelos coordenadores dos cursos de em Ciências Econômicas no Esta-
Ciências Econômicas das institui- do, acontecerá em 20 de julho às Gestão Financeira
ções de ensino do Estado do Rio 10h. Os participantes da competi- 24 de maio a 23 de agosto | Carga horária: 42h.Quartas | 18h30 às 21h30
Prof. Danilo Rennó
de Janeiro. O certame vai premiar ção terão que responder questões
trabalhos de fim de curso conclu- que englobam os diversos proble- Perícia Econômica
20 de junho a 21 de novembro | Carga horária: 69h. Terças | 18h30 às 21h30
ídos nos primeiro e segundo se- mas relacionados aos elementos de Prof. Roque Licks
mestres de 2016. Os estudantes política econômica, macroecono-
Os Cenários Econômicos e os Impactos na Estratégia de Negócios
vencedores receberão R$ 5 mil (1º mia, conhecimentos de economia 26 de junho a 24 de julho | Carga horária: 15h. Segundas | 18h30 às 21h30
colocado), R$ 3,5 mil (2º) e R$ em geral e mercado financeiro com Prof. João Teixeira de Azevedo Neto
2,5 mil (3º). O resultado será di- ênfase na questão cambial. As ins- Introdução à Economia Política em Smith, Ricardo e Marx - MÓDULO I
vulgado em 4 de agosto na página crições estão abertas até 7 de julho. 29 de junho a 28 de setembro | Carga horária: 39h. Quintas | 18h45 às 21h45
www.corecon-rj.org.br. A cerimô- Para outras informações, acesse o Prof. Marco Antônio M Coutinho

nia de premiação está prevista pa- regulamento da gincana em www. Economia e Mobilidade Urbana Sustentável
ra 11 de agosto. Outras informa- corecon-rj.org.br ou ligue para 21- 30 de agosto a 27 de setembro | Carga horária: 15h. Quartas | 18h30 às 21h30
Professora Natália G. de Moraes
ções podem ser obtidas na página 2103-0139 / 0146 / 0128.

BALANÇO PATRIMONIAL
ATIVO (EM R$) PASSIVO (EM R$)
REFERÊNCIAS MARÇO/2016 MARÇO/2017 REFERÊNCIAS MARÇO/2016 MARÇO/2017
ATIVO FINANCEIRO 8.732.326,19 8.686.435,10 PASSIVO FINANCEIRO 231.222,56 262.054,91
DISPONÍVEL 549.642,85 558.117,76 RESTOS A PAGAR - -
DISPONÍVEL VINCULADO A C/C BANCARIA 8.106.770,75 8.040.269,37 DEPÓSITOS DE DIVERSAS ORIGENS - -
REALIZÁVEL 35.749,26 47.520,03 CONSIGNAÇÕES 10.499,38 10.186,24
RESULTADO PENDENTE 40.163,33 40.527,94 CREDORES DA ENTIDADE 13.039,70 5.036,83
ATIVO PERMANENTE 18.115.835,96 24.399.035,68 ENTIDADES PÚBLICAS CREDORAS 207.683,48 246.831,84
BENS PATRIMONIAIS 1.686.792,57 1.701.669,20 RESULTADO PENDENTE 272.165,17 253.123,60
VALORES 54.166,17 47.436,22 DESPESAS DE PESSOAL A PAGAR 272.165,17 253.123,60
CRÉDITOS 16.374.877,22 22.649.930,26 PATRIMÔNIO(ATIVO REAL LÍQUIDO) 26.344.774,42 32.570.292,27
TOTAL GERAL 26.848.162,15 33.085.470,78 TOTAL GERAL 26.848.162,15 33.085.470,78

DEMONSTRATIVO DAS RECEITAS E DESPESAS


REFERÊNCIAS PERÍODOS EM REAIS REFERÊNCIAS VARIAÇÕES
JAN A MAR/2016 JAN A MAR/2017 (EM R$) (EM %)
RECEITAS CORRENTES RECEITAS
ANUIDADES 3.365.017,82 3.482.571,38 ANUIDADES 117.553,56 3,5
PATRIMONIAL 149.666,37 77.173,11 PATRIMONIAL (72.493,26) -48,4
SERVIÇOS 58.236,79 60.907,50 SERVIÇOS 2.670,71 4,6
MULTAS E JUROS DE MORA 5.249,70 7.286,16 MULTAS E JUROS DE MORA 2.036,46 -
DÍVIDA ATIVA 104.390,45 152.690,23 DÍVIDA ATIVA 48.299,78 46,3
DIVERSAS 149.927,11 120.190,31 DIVERSAS (29.736,80) -19,8
RECEITAS DE CAPITAL - - - -
TOTAL GERAL 3.832.488,24 3.900.818,69 TOTAL GERAL 68.330,45 1,8
DESPESAS DESPESAS
DE CUSTEIO 977.968,75 1.110.668,84 DE CUSTEIO 132.700,09 13,6
PESSOAL 561.812,33 572.693,76 PESSOAL 10.881,43 1,9
MATERIAL DE CONSUMO 23.338,00 13.424,76 MATERIAL DE CONSUMO (9.913,24) -42,5
SERVIÇOS DE TERCEIROS E ENCARGOS 392.818,42 524.550,32 SERVIÇOS DE TERCEIROS E ENCARGOS 131.731,90 33,5
TRANSFERÊNCIAS CORRENTES 728.359,36 756.383,81 TRANSFERÊNCIAS CORRENTES 28.024,45 3,8
DESPESAS DE CAPITAL 6.215,01 4.863,65 DESPESAS DE CAPITAL (1.351,36) -21,7
TOTAL GERAL 1.712.543,12 1.871.916,30 TOTAL GERAL 159.373,18 9,3
RESULTADO = RECEITAS - DESPESAS 2.119.945,12 2.028.902,39 RESULTADO = RECEITAS - DESPESAS (91.042,73) -4,3

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