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ECONOMIA
2023
1
Rio de Janeiro
NOVEMBRO de 2023
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Centro Universitário Ibmec
Gerado automaticamente mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
1. inflação. 2. crescimento econômico. 3. equilíbrio fiscal. 4. Plano Real. 5. Nova Matriz Econômica.
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José Ronaldo de Castro Souza Júnior
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José Maria Machado Gomes
2023
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RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar a relação entre o desequilíbrio fiscal e o
crescimento econômico no contexto brasileiro, discutindo sobre os impactos de um sobre
o outro. O Brasil tem uma história de inflação alta e persistente, que afetou
negativamente seu desenvolvimento econômico ao longo de décadas. Para melhor
compreensão do debate em questão, discutiremos duas políticas econômicas específicas
adotadas nos últimos 30 anos: o Plano Real e a Nova Matriz Econômica.
LISTA DE TABELAS
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
1. Introdução..............................................................................................................................8
2. Breve História Econômica do Brasil................................................................................. 10
2.1 Período Colonial e Império........................................................................................... 10
2.2 República Velha.............................................................................................................11
2.3 Era Vargas..................................................................................................................... 12
2.4 Anos Dourados e a Crise dos Anos 60..........................................................................14
2.5 Período Militar.............................................................................................................. 15
2.6 Nova República: Crise da Dívida Externa e Hiperinflação.......................................... 17
3. Referencial Teórico............................................................................................................. 18
3.1 Teoria Econômica..........................................................................................................18
3.2 Impacto no Brasil.......................................................................................................... 21
4. A Dinâmica do Controle Inflacionário vs Crescimento Econômico............................... 24
4.1 Relação entre Crescimento Econômico e Inflação....................................................... 24
4.2 O Debate Político.......................................................................................................... 25
5. Plano Real............................................................................................................................ 27
5.1 Ajuste Fiscal..................................................................................................................28
5.2 Desindexação................................................................................................................ 30
5.3 A Nova Moeda.............................................................................................................. 31
5.4 Análise de Resultados................................................................................................... 33
5.5 O Período Imediatamente Após o Plano Real...............................................................37
6. Nova Matriz Econômica..................................................................................................... 39
6.1 Mudanças na Política Econômica................................................................................. 39
6.2 Objetivos e Metas..........................................................................................................39
6.3 Os Três Pilares.............................................................................................................. 40
6.4 Análise de Resultados................................................................................................... 43
7. Conclusão.............................................................................................................................49
8. Referências Bibliográficas.................................................................................................. 50
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1. Introdução
inflacionários de suas políticas. Essa polarização vem induzindo a uma política econômica
errática ao longo dos anos, o que prejudica o crescimento a longo prazo.
Esse debate evidencia a complexidade dessa relação. Embora seja desejável manter a
inflação sob controle para promover um ambiente econômico estável, também é importante
reconhecer a necessidade de estimular o crescimento econômico, principalmente em países
não plenamente desenvolvidos, como é o caso do Brasil. A busca por um equilíbrio adequado
entre esses objetivos é fundamental para o nosso desenvolvimento sustentável, levando em
consideração as especificidades da economia e as condições sociais do país.
O objetivo desta pesquisa é discutir a polarização entre aqueles que defendem o
controle inflacionário como premissa para o crescimento econômico e aqueles que focam tão
somente no crescimento econômico. A pesquisa tenta esclarecer o debate apresentando os
diversos pontos de vista. Para tal, nos baseamos em uma revisão bibliográfica acerca do tema,
analisando duas políticas econômicas desenvolvidas ao longo dos governos Itamar
Franco/Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff- o Plano Real e a Nova Matriz
Econômica - apresentando dados macroeconômicos obtidos no Instituto Brasileiro de
Geografia Estatística (IBGE), Fundação Getulio Vargas (FGV) e Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA).
Este trabalho é dividido em 5 seções. Inicialmente apresentaremos uma breve história
econômica do Brasil, do período colonial à Nova República, focando na trajetória da inflação
e nos níveis de crescimento econômico. Em seguida, uma seção na qual apresentaremos os
principais teóricos que escreveram sobre esses temas. Na terceira seção explicaremos os
impactos da inflação sobre o crescimento econômico e vice-versa. Por fim, será feita uma
análise de duas políticas econômicas específicas, uma de combate à inflação (Plano Real) e
outra de estímulo ao crescimento econômico (Nova Matriz Econômica).
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O Brasil tem uma história econômica marcada por períodos de inflação elevada e
persistente. A seguir, será apresentado o desenvolvimento do contexto histórico da inflação e
do crescimento no país, destacando os principais momentos e fatores que contribuíram para
esse cenário.
Durante o período colonial do Brasil, de 1500 a 1822, Portugal exercia total controle
sobre as atividades econômicas, enxergando a colônia como uma fonte de riquezas para
equilibrar as contas do reino. Inicialmente, a exportação do pau-brasil dominou a economia
brasileira. Portugal mantinha uma relação de escambo com os nativos, trocando produtos
manufaturados de qualidade inferior por mão de obra indígena.
À medida que o interesse pelo pau-brasil diminuiu devido ao alto custo de transporte, a
economia colonial se voltou para a produção de cana-de-açúcar, algodão, tabaco e mineração.
A partir da década de 1580, o Brasil emergiu como o principal produtor global de
açúcar, sustentado pelo trabalho de escravos africanos, uma posição que conservou até
meados do século XVII. No entanto, a economia açucareira brasileira sofreu com a
competição de colônias inglesas, francesas e holandesas no Caribe nas últimas décadas do
século, levando à perda de sua supremacia.
Nesse cenário, a descoberta de ouro na década de 1690 impulsionou uma nova era de
prosperidade para o Brasil. No século XVIII, o Brasil tornou-se o principal produtor mundial
de ouro, contribuindo com cerca de 40% do volume total produzido entre 1701 e 1800
(Morrisson, Barrandon e Morrisson, 1999).
Entre a chegada da família real ao Brasil em 1808 e a independência, o café iniciou
sua ascensão à condição de principal produto exportado pelo Brasil. Em 1821-22, as
exportações totais brasileiras atingiram uma média de 4,2 milhões de libras, um aumento
significativo em relação aos £3,4 milhões registrados em 1801-1803 (IBGE, 1990 e Lago,
1978). Entre o início e o fim do Império, a participação das exportações de café nas
exportações totais aumentou de menos de 20% para mais de 60% (Abreu e Lago, 2001).
A predominância da agricultura na economia brasileira durante o período imperial era
inegável. Apesar do governo imperial ter fornecido incentivos significativos a várias empresas
industriais, a indústria no Brasil imperial desfrutava de uma presença econômica modesta,
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contribuindo possivelmente com cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) (Suzigan,
2000).
Ao longo do Império, a receita do governo central foi fundamentalmente sustentada
por meio de impostos vinculados ao comércio internacional, especialmente os aplicados a
importações e exportações (Straten-Ponthoz, 1854). Isso evidencia como a nossa economia
era dependente das receitas de exportações geradas por um produto: do pau-brasil ao café.
O mercado interno é tido como de pouca relevância por nossa historiografia
tradicional, no entanto, há estudos recentes que apontam no sentido contrário. A produção de
alimentos e de manufaturas de primeira necessidade fizeram a fortuna de muitos comerciantes
e fazendeiros (Caldeira, 2017).
Há evidências, embora baseadas em índices de qualidade variável, de que os preços
aumentaram substancialmente no Brasil entre 1830 e 1889. Portanto, a inflação foi
consideravelmente mais alta do que nas economias desenvolvidas (Abreu e Lago, 2001).
Optando por visão de muito longo prazo Coatsworth (1978) sugere uma taxa média
anual de crescimento do PIB per capita do Brasil de 0,36% ao ano entre 1800 e 1860.
oferta de moeda cresceu 3,5 vezes e a inflação, que pode ter alcançado algo como 20% ao
ano, emergiu como uma das mais nefastas inovações trazidas pela República (Franco, 2019).
Os governos seguintes tentaram solucionar o problema e as tentativas alternavam-se
entre as mais ortodoxas (metalistas) e as menos ortodoxas (papelistas) (Franco e Lago, 2011).
O outro grave problema que assolava nossa economia era a constante desvalorização
do preço do café devido ao excesso de produção. Para combatê-lo, a principal tentativa do
governo foi o Convênio de Taubaté, o qual consistia em uma política de aquisição financiada
e retenção de estoques excedentes de café.
Durante o período coberto por esta seção, o PIB per capita cresceu a uma taxa de cerca
de 0,9% a.a, sendo que em 1900 foi inferior em cerca de 20% ao de 1890. Após uma década
de estagnação, entre 1900 e 1913 o PIB voltou a crescer cerca de 4% a.a. (Goldsmith, 1986).
Dentre as nações de maior porte na região, o Brasil destacava-se pelo menor
coeficiente de abertura, representando a soma das exportações e importações em relação ao
PIB, que era inferior a 38,8%. Suas exportações equivaliam a cerca de 17% do PIB em 1928,
em contraste com os números de outras nações, como 29,8% da Argentina, 35,1% do Chile,
31,4% da Colômbia e 31,4% do México (Bulmer-Thomas, 1994).
A experiência macroeconômica do período da República Velha, quando consideramos
tanto o crescimento econômico quanto a estabilidade, revela-se pouco positiva, especialmente
quando ponderada em relação ao ambiente internacional favorável na maior parte do período.
O desempenho insuficiente do Brasil nessa fase possivelmente estava mais relacionado a
deficiências internas, tais como a qualidade do capital humano, a produtividade, as
instituições e o ambiente de negócios, do que com a frequentemente criticada
"vulnerabilidade externa" (Franco e Lago, 2011).
Março de 64). Marca a continuação de um longo ciclo de crescimento econômico que teve
início com a recuperação relativamente precoce da economia brasileira dos efeitos da Grande
Depressão e continuou por todo o pós Guerra (Villela, 2005).
O período foi inicialmente marcado pelo ambicioso Plano de Metas de Juscelino
Kubitschek, que previa substanciais investimentos públicos e privados nos setores industrial e
de infraestrutura. Devemos lembrar que em 1956 o setor agrícola ainda representava 21% do
PIB, o que aos olhos de JK demonstrava um atraso econômico. O sucesso do plano é
representado pela média anual do crescimento do PIB durante seu mandato, de 8,1%. No
entanto, a inflação apresentou sinais de descontrole, com média anual de 24,7%, oscilando de
30% a 40% no final do mandato (Villela, 2005).
Ambos os governos, Quadros e Goulart, enfrentaram um panorama macroeconômico
consideravelmente mais desafiador do que o de JK. O aumento do nível inflacionário e da
relação entre a dívida externa líquida e as exportações entre 1961 e 1963 foi, em grande parte,
uma herança dos anos JK. Os desequilíbrios naturais resultantes de períodos de aceleração do
crescimento econômico geraram consequências macroeconômicas adversas, que os líderes
subsequentes não conseguiram corrigir. A situação macroeconômica deteriorou-se ainda mais
com a surpreendente renúncia de Quadros e mesmo o Plano Trienal não conseguiu reverter
esse quadro (Villela, 2005). A persistência desses desafios e a completa anarquia institucional
agravaram ainda mais um cenário político já instável, culminando no golpe civil-militar de
1964.
3. Referencial Teórico
A teoria quantitativa da moeda estabelece uma conexão direta entre a variação dos
preços e a quantidade de moeda em circulação. Em termos simples, essa teoria relaciona a
inflação à quantidade de moeda disponível em uma economia. Portanto, a quantidade de
moeda existente influencia a taxa de inflação. Segundo essa perspectiva, há um equilíbrio
entre a oferta e a demanda por moeda em uma economia que opera em um determinado nível
de produção. Assim, se houver uma alteração na oferta ou demanda por moeda, sem que
ocorram mudanças na capacidade produtiva da economia, isso resultará em variações nos
preços (Hume, 1752).
De acordo com Adam Smith, a busca pelo auto-interesse em uma sociedade livre é a
via mais eficaz para que uma nação alcance progresso e crescimento econômico. Em sua
perspectiva liberal, ele via a intervenção do Estado na economia como o principal obstáculo a
esse progresso. Smith acreditava na existência de uma "mão invisível" que, se deixada sem
interferências governamentais, regularia o mercado de forma equilibrada. Essa filosofia era
conhecida como "Laissez-Faire". Segundo Smith, o papel do Estado se limitaria a três funções
essenciais: (a) estabelecer e manter a justiça; (b) defender a nação; e (c) criar e manter obras e
instituições públicas que não estivessem ligadas a interesses privados. Ele se opunha
fortemente a qualquer forma de restrição à liberdade econômica que pudesse levar ao
surgimento de monopólios (Smith, 1776).
A teoria das vantagens comparativas argumenta que países devem se especializar na
produção dos bens que possuem uma vantagem comparativa na produção, ou seja, naqueles
em que têm uma relativa eficiência superior em relação a outros países. A principal
contribuição de David Ricardo foi mostrar que o comércio internacional baseado em
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A teoria das expectativas racionais enfatiza o papel das expectativas dos agentes
econômicos na determinação do comportamento econômico. No contexto do controle
inflacionário, essa abordagem destaca a importância de ancorar as expectativas de inflação
dos agentes para evitar a indexação de preços e salários, que pode perpetuar a inflação (Muth,
1961; Lucas, 1972).
A teoria do capital humano, desenvolvida por economistas como Gary Becker e
Theodore Schultz, argumenta que os indivíduos não são apenas recursos produtivos, mas
também investidores em si mesmos. O investimento em capital humano, como educação de
qualidade, formação profissional e desenvolvimento de habilidades, melhora a produtividade
dos trabalhadores e sua capacidade de contribuir para o crescimento econômico (Schultz,
1961). A principal contribuição de Becker foi modelar o capital humano como um ativo que
gera retornos ao longo da vida. Esses retornos vêm na forma de salários mais altos e maior
empregabilidade. Portanto, a educação e o desenvolvimento de habilidades são investimentos
que aumentam o capital humano e, por extensão, a riqueza de uma nação (Becker, 1993).
A teoria monetária tem como ponto de partida os princípios da Teoria Quantitativa da
Moeda. O monetarismo argumenta que a inflação é essencialmente um fenômeno monetário,
resultante do crescimento excessivo da oferta de moeda. Os monetaristas acreditam que um
aumento excessivo na oferta monetária provoca inflação, enquanto uma redução nessa oferta
leva a uma recessão. Segundo a teoria, um aumento na oferta monetária estimula o consumo e
o investimento, resultando em um aumento do PIB. Por outro lado, uma oferta monetária
reduzida diminui o consumo e o investimento, levando a uma contração da atividade
econômica (Friedman, 1963; Schwartz, 1963).
Uma das principais críticas dos monetaristas em relação à intervenção governamental
na economia gira em torno da crença de que os governos possuem uma tendência inata ao
desequilíbrio fiscal, manifestada pelo aumento excessivo dos gastos públicos e a criação de
déficits orçamentários. Essa visão se baseia na ideia de que os políticos frequentemente têm
incentivos de curto prazo para buscar políticas expansionistas, mesmo que isso possa gerar
consequências adversas no longo prazo. Para os monetaristas, as políticas fiscais
expansionistas, que envolvem um aumento dos gastos governamentais financiados por meio
do endividamento, podem resultar em uma escalada da inflação. Isso ocorre pois o governo,
ao se endividar, estimula a demanda agregada na economia, o que, por sua vez, pode
desencadear pressões inflacionárias. Portanto, os monetaristas defendem a implementação de
políticas fiscais responsáveis e prudentes, com o propósito de evitar desequilíbrios
orçamentários e a inflação fora de controle (Friedman, 1963; Schwartz, 1963).
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Bacha, Pedro Malan, Gustavo Franco, Arminio Fraga e outros, vários deles tendo
desempenhado papel crucial na criação do Plano Real.
Por outro lado, existe a corrente que preconiza o desenvolvimento econômico com
inclusão social. Representada por economistas como Celso Furtado e fortemente influenciada
pela CEPAL, essa perspectiva adota uma abordagem mais intervencionista, buscando reduzir
desigualdades e promover o desenvolvimento. Economistas como Maria Conceição Tavares e
Luiz Carlos Bresser Pereira foram influenciados por essa visão, defendendo políticas mais
orientadas para o desenvolvimento econômico, incluindo a intervenção estatal direta e
políticas industriais.
Esse debate fica ainda mais evidente no período da redemocratização, pós governo
militar. À essa época a inflação estava descontrolada e o país apresentava baixíssimo
crescimento. Às vésperas do Plano Cruzado quatro propostas de combate à inflação estavam
sendo discutidas: (1) o ”Pacto Social”, proposto por economistas do PMDB e da Unicamp; (2)
o ”Choque Ortodoxo”, defendido por economistas da FGV; (3) o ”Choque Heterodoxo” de
Francisco Lopes; e (4) a ”Reforma Monetária” de André Lara Resende e Pérsio Arida,
também conhecida como “Proposta Larida” (Castro, 2005).
Os defensores do "Pacto Social" argumentaram que a inflação no Brasil era causada
por um "conflito distributivo", no qual diferentes setores buscavam uma fatia maior da renda
nacional. A solução proposta envolvia um acordo durante um período de estabilização,
alcançado em um governo de coalizão democrática, no qual empresários e trabalhadores
concordariam em não aumentar os preços para acabar com a inflação.
Havia também o grupo do "Choque Ortodoxo", que argumentava que a inflação no
Brasil era causada por uma expansão excessiva da oferta monetária, resultado do gasto
público exagerado. Eles propunham cortes de gastos, aumento de receitas e tributos, redução
da emissão de moeda e títulos da dívida, juntamente com a desindexação da economia e a
liberalização completa de preços.
Por fim, tanto a proposta do “Choque Heterodoxo” quanto a da “Reforma Monetária”
eram apoiadas por economistas da PUC-Rio. Elas se baseavam em estudos que indicavam que
a inércia inflacionária era a principal causa da inflação, enquanto as variações no hiato do
produto tinham pouca influência. O "Choque Heterodoxo" propunha um congelamento de
preços, enquanto a "Proposta Larida" sugeria desindexar a economia introduzindo uma moeda
indexada em paralelo à moeda oficial.
Essas correntes divergentes continuam a influenciar o debate econômico e as políticas
públicas no Brasil. A tensão entre estabilidade macroeconômica e desenvolvimento
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econômico com inclusão social persiste como uma das questões centrais na formulação de
políticas econômicas no país, refletindo a complexidade dos desafios enfrentados por uma
nação de vasta extensão territorial e diversidade socioeconômica. O embate entre essas
perspectivas desempenhou um papel significativo na determinação do rumo econômico do
Brasil e continuará a moldar seu futuro.
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deve estimular o crescimento econômico, mantendo a inflação sob controle, evitando que o
aumento do consumo e do investimento gere pressões inflacionárias descontroladas, o que
poderia prejudicar a estabilidade econômica do país. Encontrar esse equilíbrio delicado é
crucial para o desenvolvimento econômico sustentável e a melhoria das condições de vida da
população.
5. Plano Real
Em maio de 1993, após três nomeações infrutíferas de ministros em apenas sete meses
de governo, o presidente Itamar Franco escolheu Fernando Henrique Cardoso (FHC) como
seu novo Ministro da Fazenda. À época, a inflação estava em disparada, atingindo quase 30%
ao mês, e a crescente insatisfação popular tornava urgente a necessidade de formar uma
equipe econômica capaz de elaborar um plano de estabilização (Goulart, 2017).
Entre os nomes notáveis que se juntaram a essa empreitada, destacam-se figuras como
Pérsio Arida e André Lara Resende, que também haviam desempenhado papéis fundamentais
no Plano Cruzado da década de 1980, juntamente com Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar
Bacha e Winston Fritsch.
Nos meses que se seguiram, uma série de ideias e propostas foram debatidas, até que
finalmente o Plano Real começou a tomar forma. Esse plano inovador se distinguiria das
tentativas anteriores de estabilização. Não se basearia em congelamentos de preços e salários,
como visto em experiências anteriores, mas adotaria uma abordagem transparente. Isso
implicava em que todas as medidas a serem implementadas fossem discutidas, aprovadas pelo
Congresso e divulgadas ao público (Abreu, 2014; Werneck, 2014). A aprovação desse
programa não só concederia reconhecimento à equipe econômica envolvida, mas também
injetaria na sociedade a confiança tão necessária para o sucesso do plano. Essa era a promessa
de um novo caminho para a economia brasileira.
O Plano Real foi fortemente influenciado pelas diretrizes do Consenso de Washington
e, em particular, pela experiência anterior do Plano Cruzado, com o objetivo de aprender com
os equívocos cometidos àquela época e aprofundar a discussão em torno da "Inflação Inercial"
(Filgueiras, 2012). O cerne do Plano Real residia em corrigir a inflação inercial ao adotar uma
nova moeda e abordar o descontrole fiscal, sendo este o principal causador da inflação.
Note-se os dados da Tabela 1 (página 35), na qual se observa uma queda do déficit nominal de
24,67% em 1994 para 6,55% em 1995.
A abertura comercial iniciada no governo Collor também foi fundamental para a
implementação do Plano Real, pois tornava a economia brasileira mais competitiva (Lanzana,
2002).
Esse programa de estabilização foi estruturado em três etapas estratégicas: a primeira
consistia em implementar um ajuste fiscal com o objetivo de restabelecer o equilíbrio nas
finanças do governo; a segunda envolvia a desindexação da economia, por meio da introdução
de uma unidade de conta estável conhecida como Unidade Real de Valor (URV); e a terceira
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fase determinava a consolidação dessa unidade de conta como a nova moeda do país,
realizando sua conversão a uma taxa de paridade com o dólar (Bacha, 1998).
O Plano Real teve sua primeira divulgação oficial na publicação denominada
"Exposição de Motivos n° 395" em 7 de dezembro de 1993. Nesse documento, foram
apresentadas suas linhas gerais. Sua trajetória seguiu adiante com a promulgação da Medida
Provisória n° 434 em 28 de fevereiro de 1994, posteriormente, transformada na Lei n° 8.880,
sancionada em 27 de maio de 1994. Esse processo legislativo marcou o avanço formal do
plano de estabilização.
O ajuste fiscal era necessário e fundamental para a implementação do plano real, pois
lhe conferiria maior credibilidade: “O plano identificava no descontrole fiscal e monetário a
causa da doença e atacou o problema de frente, encolhendo o sistema bancário público,
reformando o Conselho Monetário Nacional, além de medidas mais convencionais na área
fiscal” (Franco, 2019; Correio Braziliense, 2019).
O governo havia se tornado excessivamente dependente das receitas provenientes da
inflação. Isso se devia ao fato de que o orçamento aprovado frequentemente excedia o que de
fato se materializava ao final do ano fiscal, resultando em um considerável déficit
orçamentário. Esse descompasso entre despesas e receitas era, de certa forma, compensado
pela inflação. A raiz desse desajuste residia no fato de que as despesas eram fixadas em
termos nominais, enquanto os impostos eram indexados com base nos preços, os quais eram
afetados pela inflação. Em outras palavras, a inflação medida em termos nominais não
correspondia à inflação efetiva, que era mais alta do que a considerada nos cálculos, criando
uma diferença que financiava os gastos públicos (Bacha, 1998).
A hipótese de Bacha sugeria que, no Brasil, as receitas fiscais estavam, de certa forma,
mais protegidas da inflação, indexadas de maneira mais eficaz do que as despesas (Castro,
2016). Nesse contexto, o objetivo das medidas de ajuste fiscal era demonstrar a capacidade do
governo em cumprir com as despesas previstas no orçamento sem depender das receitas
geradas pela inflação. Esses cortes no orçamento público eram uma forma de o Estado
mostrar seu compromisso em se desvencilhar da dependência da inflação, representando um
passo crucial na busca pela estabilidade econômica (Bacha, 1998).
O ponto de partida do plano antecedeu sua implementação efetiva, visando estabelecer
as bases sólidas necessárias. Em 14 de junho de 1993, foi lançado o Programa de Ação
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5.2 Desindexação
A segunda fase do plano tinha como objetivo principal eliminar o elemento inercial da
inflação, alimentado pelo mecanismo descoordenado de indexação dos preços e salários na
economia, que prevalecia até aquele momento (Modenesi, 2005). Essa etapa buscava encerrar
o ciclo da memória inflacionária e interromper a retroalimentação da inflação. Com o intuito
de alcançar esse objetivo, foi promulgada a Medida Provisória n° 434 em fevereiro de 1994,
estabelecendo as bases do Plano Real e introduzindo a Unidade Real de Valor (URV). A URV,
uma unidade de conta estável com paridade em relação ao dólar, foi concebida para ajustar os
preços relativos na economia por meio de um sistema de indexação mais eficiente. Não se
recorreu a congelamentos de preços e salários, mas sim à desindexação da economia por meio
da URV, reduzindo o período de reajuste dos preços (Goulart, 2017).
A reconstrução da moeda brasileira teve como ponto de partida a URV, que serviu
como um precursor do Real, a nova moeda. A URV era, por assim dizer, uma "moeda de
conta" com capacidade de representação, mas seu pleno status como meio de pagamento só
seria alcançado após seu lançamento e a subsequente mudança de nome para Real (Franco,
1995).
Essa transição implicou uma divisão das funções da moeda. A URV assumiu o papel
de unidade de conta, empregada para o ajuste de valores, enquanto o Cruzeiro Real, a moeda
então em circulação, permaneceu como meio de pagamento. A distinção entre essas funções
pode ser observada no trecho da Lei 8.880 de 1994:
Art. 1º - Fica instituída a Unidade Real de Valor - URV, dotada de curso
legal para servir exclusivamente como padrão de valor monetário, de acordo com o
disposto nesta Lei. § 1º - A URV, juntamente com o Cruzeiro Real, integra o Sistema
Monetário Nacional, continuando o Cruzeiro Real a ser utilizado como meio de
pagamento dotado de poder liberatório, de conformidade com o disposto no art. 3º.
(...) Art. 2º - A URV será dotada de poder liberatório, a partir de sua emissão pelo
Banco Central do Brasil, quando passará a denominar-se Real (Brasil, 1994, art. 1 e
art. 2).
O cálculo da URV era realizado diariamente e se baseava na variação proporcional de
três índices: o Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) da Fundação Getúlio Vargas, o
Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE e o Índice de Preços ao Consumidor
(IPC) da FIPE/USP. A escolha desses índices estava diretamente relacionada ao fato de que a
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trajetória média deles se assemelhava à evolução histórica das taxas de câmbio, o que
justificava a decisão de estabelecer a URV em paridade com o dólar (Filgueiras, 2012).
A partir do dia 1º de março de 1994, entrou em vigor a URV, marcando o início de
uma transformação no cenário monetário. O Banco Central passou a estabelecer diariamente a
paridade entre o cruzeiro real e a URV e rapidamente se observou uma erosão no poder de
compra da antiga moeda. Consequentemente, os contratos foram atualizados em termos da
URV, permitindo que os reajustes fossem realizados de maneira voluntária e flexível (Goulart,
2017).
Essa mudança dos contratos para uma unidade de conta constante representou o
primeiro passo rumo a uma moeda estável. Os contratos se beneficiaram da indexação diária
com paridade em relação ao dólar, embora ainda não fosse permitida a realização de contratos
nessa nova moeda (Bacha, 1998).
Para garantir que a conversão dos salários ocorresse de maneira equitativa, evitando
desequilíbrios sociais, e preservando a chamada "neutralidade distributiva", adotou-se um
método que calculava a conversão com base na média do salário real do quadrimestre anterior.
Esse cálculo excluía tanto a conversão pelo valor mais elevado, que poderia gerar um
aumento abrupto no consumo devido a uma ilusão monetária, quanto pelo piso salarial, que
prejudicaria os trabalhadores (Lacerda, 2010). Além disso, foi introduzida a ideia de que os
salários passariam a ser denominados em URV e seriam pagos com base na URV do dia de
pagamento, o que implicava em uma correção mensal dos salários. Esse conjunto de medidas
visava assegurar uma transição suave no processo de estabilização econômica.
A conclusão bem-sucedida da segunda fase do plano tornou imperativa a
implementação de uma reforma monetária abrangente. Essa reforma não apenas visava conter
o processo inflacionário, mas também restaurar a estabilidade das taxas de nível de preços e
de inflação (Pastore, 1999; Pinotti, 1999).
A URV desempenhou um papel crucial durante um período de quatro meses e, em
seguida, em 1º de julho de 1994, cedeu lugar ao Real, dando início a terceira fase do plano.
Podemos identificar quatro fases distintas de declínio do PIB na Tabela 3, cada uma
relacionada a mudanças na abordagem da atividade econômica do país. Essas oscilações no
PIB criaram uma instabilidade durante esse período (Filgueiras, 2012).
Apesar do aumento na taxa de desemprego, entre 1993 e 1995 houve uma queda
acumulada de 18,47% da população miserável do país, um dos melhores índices da história
(FGV, 2006).
Contudo, como podemos observar nas seguintes tabelas: "o Plano Real alcançou seu
objetivo explícito e imediato, que era eliminar a inflação" (Filgueiras, 2012:149).
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Apesar dos impactos muitas vezes negativos e dos grandes problemas enfrentados, seu
objetivo principal foi, sem dúvida, atingido com muito êxito. A inflação, que chegou a
47,43% em junho de 1994, passou para 6,84% em julho, com a implementação da moeda.
Pouco tempo depois, em setembro do mesmo ano, esta chegou aos 1,53%.
O sucesso econômico do lançamento do Real foi tão grande que a moeda conseguiu se
consolidar por quase três décadas. E para um país que havia passado por tantas trocas
monetárias em tão pouco tempo e vivido uma história de luta contra a inflação tão
prolongada, essa consolidação foi uma grande conquista.
Essa conquista foi tão importante, que mesmo o governo seguinte, com viés
claramente esquerdista, manteve o tripé macroeconômico do Plano Real. Isso demonstra que a
estabilidade econômica passou a ser uma bandeira do povo brasileiro e não do partido A ou B.
39
O primeiro governo Lula, com Antonio Palocci como Ministro da Fazenda, avançou
ainda mais no ajuste fiscal, indicando claramente sua adesão à manutenção da estabilidade
macroeconômica. Algumas das medidas tomadas o demonstram: nomeação de Henrique
Meirelles para presidente do Banco Central, mantendo-se inicialmente toda diretoria anterior;
anúncio das metas de inflação para 2003-04 de 8,5% e 5,5% respectivamente, um forte
declínio em relação à taxa observada em 2002; elevação da taxa de juros básica (Selic);
aumento da meta de superávit primário, que passou de 3,75% para 4,25% do PIB de 2003 a
2006 e cortes do gasto público (Giambiagi, 2005). Como consequência, observou-se no
período 2003-06 crescimento médio do PIB de 3,5%a.a e inflação média de 6,4%a.a
(IPEADATA).
40
estrutura baseava-se em títulos públicos de curto prazo com retornos reais elevados e a
manutenção de uma taxa de câmbio valorizada (Holland, 2012).
No âmbito cambial, o governo empreendeu medidas com o intuito de reduzir a
oscilação da taxa de câmbio e gradualmente desvalorizar a moeda nacional.Para atingir esses
propósitos, o Banco Central implementou swaps cambiais em grande escala, resultando na
redução da volatilidade no mercado cambial (Rossi, 2015). Simultaneamente, o governo
introduziu um Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 1% sobre as posições vendidas
de derivativos de câmbio acima de 10 milhões de dólares, taxando, assim, as apostas em uma
queda do dólar em relação ao real no mercado futuro (Carvalho, 2018).
A política cambial do período foi bem-sucedida, uma vez que o Real efetivamente se
desvalorizou durante esse intervalo, apresentando uma tendência contínua de desvalorização.
Em 2014, outros fatores, tais como a volatilidade política e a antecipação de um aumento nas
taxas de juros nos Estados Unidos, desempenharam um papel significativo na desvalorização
do Real em relação ao dólar (Rossi, 2015).
Finalmente, o terceiro pilar da NME estava relacionado a uma política fiscal concebida
para ser mais favorável ao investimento privado. A implementação de medidas fiscais
voltadas para a redução da proporção da dívida pública em relação ao PIB, aliada à
desoneração de tributos em diversos setores da indústria, principalmente aqueles voltados
para a exportação, visava estimular o investimento privado. A justificativa residia na crença
de que a aplicação dessas medidas aumentaria a lucratividade das empresas e criaria um
ambiente de negócios mais sustentável, contribuindo para o equilíbrio das finanças públicas.
Dessa forma, o governo federal assumia um papel mais limitado como impulsionador da
economia, transferindo essa responsabilidade para o setor privado.
Para formalizar a política de incentivos fiscais, o governo trabalhou em colaboração
com o Congresso Nacional para converter algumas das desonerações previamente concedidas
em legislação. Essa iniciativa foi concretizada com a promulgação da Lei 12.794/2013, que
estabeleceu a desoneração das contribuições previdenciárias sobre a folha de pagamento em
diversos setores produtivos (Souza, 2019).
Assim, a política de incentivos fiscais voltada para o setor privado ganhou força a
partir de 2013. Entre 2012 e 2014, o montante total das desonerações atingiu cerca de
R$221,6 bilhões. Comparando o início da NME em 2012 com 2014, o último ano antes da
crise econômica, fica evidente um crescimento significativo nas desonerações, que mais do
que dobraram, tanto em termos de valores absolutos quanto como proporção do PIB,
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criar um mercado de empréstimos a longo prazo, algo inédito no cenário econômico brasileiro
até então (Holland, 2012).
Analisando o período de 2012 a 2014, torna-se evidente que a tão esperada aceleração
do crescimento econômico não se concretizou conforme o planejado. A Tabela 7 reflete essa
realidade, revelando que nenhum dos componentes da demanda demonstrou um crescimento
robusto durante esse período.
Percebe-se também que o cenário poderia ter sido ainda mais desafiador, não fosse o
crescimento mais robusto da indústria extrativa em 2014 (9,1%), um segmento menos
dependente do mercado interno. Tanto o setor da construção civil quanto os Serviços
Industriais de Utilidade Pública (SIUP) experimentaram sutil aumento no crescimento entre
2012 e 2013, mas apresentaram declínio em 2014.
A indústria de transformação, principal foco da NME, não conseguiu sustentar a taxa
de crescimento observada em 2013. Ao contrário, após uma queda de -2,4% em 2012, esse
segmento enfrentou uma marcante contração de -4,7% em 2014, apesar de todos os estímulos
fiscais e da desvalorização cambial.
O setor agropecuário, mesmo diante da desaceleração econômica do país e da
demanda interna, foi o mais bem-sucedido no triênio examinado, com uma média de
crescimento de 2,7% ao ano. Já o setor de serviços, embora tenha registrado um crescimento
médio superior ao da indústria, também enfrentou uma desaceleração em 2014, em
consonância com a redução no consumo das famílias (Souza, 2019).
Conforme demonstrado na Tabela 10, nenhum dos componentes do PIB conseguiu
superar o rendimento observado nos quatro anos anteriores.
47
A maior queda ocorreu na FBKF, que, vale lembrar, era um dos principais focos da
Nova Matriz Econômica. O crescimento médio, que havia sido de 10% ao ano entre 2007 e
2010, caiu significativamente para apenas 2,3% ao ano no período de 2011 a 2014.
A desvalorização cambial, um elemento substancial na estratégia macroeconômica,
não logrou impulsionar as exportações de bens e serviços do Brasil. Entre 2011 e 2014, as
exportações cresceram a uma taxa inferior à dos quatro anos precedentes. Simultaneamente,
as importações seguiram um padrão semelhante, embora tenham mantido taxas de
crescimento mais elevadas. No período de 2007 a 2010, o aumento das importações de
produtos estrangeiros ocorreu a uma média anual de 15,7% a.a, enquanto durante o primeiro
mandato de Dilma Rousseff, esse crescimento foi reduzido para apenas 3,9% a.a. Essa
desaceleração foi influenciada pelo arrefecimento da economia brasileira como um todo e
pela reduzida capacidade interna de importar produtos e serviços (Souza, 2019).
Assim, tanto em 2011, durante o ajuste fiscal e as restrições ao crédito, quanto durante
a implementação da Nova Matriz Econômica, a equipe econômica escolhida pelo governo
federal não conseguiu manter, ou superar, as taxas de crescimento do governo anterior, com
exceção do setor de Agropecuária.
No seu segundo mandato, Dilma Rousseff buscou restaurar a confiança do mercado ao
designar Joaquim Levy como ministro da Fazenda, mesmo diante das expectativas
desfavoráveis em relação às suas políticas de austeridade. Em março de 2014, a Operação
Lava Jato entrou em cena, revelando vastos esquemas de corrupção envolvendo a Petrobras
(Ferraz, 2022). Conforme Gomes da Silva e Fishlow (2021) destacam, "Esses problemas
levaram a uma total falta de confiança entre os agentes econômicos, aliada à diminuição
significativa do poder político da presidente Dilma".
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7. Conclusão
8. Referências Bibliográficas
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