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Petrobras e petróleo
Entrevista exclusiva
com Guilherme Estrela,
o descobridor do pré-sal,
e artigos de Paulo Metri, Claudio
Abramo, Mauro Santayana
e Wadih Damous discutem
Petrobras, pré-sal, mercado
mundial de petróleo
e impactos da Lava Jato.
Órgão Oficial do CORECON - RJ Presidente: José Antonio Lutterbach Soares. Vice-presidente: Sidney Pascoutto da Rocha.
E SINDECON - RJ Conselheiros Efetivos: 1º TERÇO: (2014-2016) Arthur Câmara Cardozo, Gisele Mello Sen-
Issn 1519-7387 ra Rodrigues, João Paulo de Almeida Magalhães – 2º TERÇO: (2015-2017) Antônio dos Santos
Magalhães, Gilberto Caputo Santos, Jorge de Oliveira Camargo – 3º TERÇO: (2013-2015) Car-
Conselho Editorial: Carlos Henrique Tibiriçá Miranda, José Ricardo de Moraes Lopes, Sidney Pas- los Henrique Tibiriçá Miranda, Sidney Pascoutto Rocha, José Antonio Lutterbach Soares. Con-
coutto da Rocha, Gilberto Caputo Santos, Marcelo Pereira Fernandes, Gisele Rodrigues, João Paulo selheiros Suplentes: 1º TERÇO: (2014-2016) Andréa Bastos da Silva Guimarães, Regina Lúcia
de Almeida Magalhães, Sergio Carvalho C. da Motta, Paulo Mibielli Gonzaga. Jornalista Responsá- Gadioli dos Santos, Marcelo Pereira Fernandes – 2º TERÇO: (2015-2017) André Luiz Rodrigues
vel: Marcelo Cajueiro. Edição: Diagrama Comunicações Ltda-ME (CNPJ: 74.155.763/0001-48; tel.: Osório, Flavia Vinhaes Santos, Miguel Antônio Pinho Bruno – 3º TERÇO: (2013-2015) Cesar
21 2232-3866). Projeto Gráfico e diagramação: Rossana Henriques (rossana.henriques@gmail. Homero Fernandes Lopes, José Ricardo de Moraes Lopes, Sérgio Carvalho Cunha da Motta.
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Antonio Lutterbach, José Jannotti Viegas e André Luiz Silva de Souza.
Conselho Fiscal: Regina Lúcia Gadioli dos Santos, Luciano Amaral Pereira e Jorge de Oliveira Camargo
quista, pela terceira vez, a única em- te corrupta está finalmente a ser história adquiriu a independência e to dos países, quando não períodos
presa petrolífera do mundo a atin- identificada e devidamente puni- a autonomia para cumprir sua mis- de recessão e demolição das econo-
gir este feito: o prêmio maior da da pela justiça brasileira, num pro- são constitucional. Está definitiva- mias nacionais, como vimos prin-
indústria petrolífera mundial, na cesso criminoso que atinge a com- mente enterrada a era do “Engave- cipalmente na Europa, com as trá-
conferência de tecnologia offsho- panhia há décadas – como tem tador Geral da República”. gicas consequências sociais que
re (OTC), pelo megaprojeto de ex- sido confessado por muitos dos Resumo da ópera, os extraor- todos conhecemos. Logo, o petró-
ploração e produção do pré-sal. envolvidos – e que só agora está dinários resultados empresariais leo deveria estar em patamares bai-
É inquestionável, portanto, sendo corrigido exemplarmente. da Petrobras na última década, co- xos em relação ao passado pré-crise.
que o que está a acontecer justifica Na verdade, a repetir opinião mo de resto ao longo de seus mais O que diferencia o momen-
não a desconfiança, mas o contrá- de cidadãos brasileiros muito im- de 60 anos, desmascaram e põem to que estamos a atravessar são as
rio, o integral apoio do chamado portantes, reflexivos e conscientes a nu os reais objetivos desta cam- importantes descobertas de óleo e
“mais amplo público de interesse” de nossa importância como na- panha lesa-pátria em que insistem gás de “xisto” nas bacias sedimen-
da Petrobras nos destinos da com- ção neste século XXI, esta “crise” os poderosos defensores de interes- tares interiores norte-americanas,
panhia, ainda mais quando gen- – isso mesmo, entre aspas – é uma ses não brasileiros na tentativa de que passaram a desempenhar um
tentativa de desconstrução não só desestabilizar a Petrobras e o Brasil. item importante no suprimento
da Petrobras, mas do Brasil. do maior – de longe – consumi-
Há amplo reconhecimento in- P: Qual é a sua análise do mer- dor de energia do planeta.
ternacional que o nosso país es- cado mundial do petróleo no to- Neste contexto há dois pontos
tá destinado a transformar-se cante ao preço do barril? O pre- críticos para se refletir sobre um
num decisivo protagonis- ço tende a se estabilizar no baixo cenário prospectivo minimamen-
ta da cena geopolítica patamar atual ou se recuperar? te confiável.
mundial. Qual o custo de produção do O primeiro é que a demanda
Sem querer ser repe- barril do pré-sal hoje e como es- mundial não caiu – as previsões
titivo, não se está aqui a su- se custo deve evoluir nos próxi- continuam a apontar para o cres-
bestimar a total negatividade mos anos? O Brasil corre o risco cimento do consumo apesar da
da imoralidade que ocorreu na de “micar” com o pré-sal? crise econômica mundial.
Petrobras, mas este é o campo R: O registro histórico exibe uma O segundo é que preços baixos
de atuação da justiça brasileira marca incontestável, que é a peri- como o que estamos a praticar in-
que pela primeira vez em nossa ódica oscilação, para cima e para viabilizam a produção do óleo/gás
baixo, do preço do petróleo. de “xisto” norte-americano. As em-
A causa principal para as gran- presas de serviços especializados na
des altas é a instabilidade política indústria petrolífera já indicam que
das regiões produtoras mais im- as atividades de E&P nas bacias se-
portantes – leia-se Oriente Médio. dimentares norte-americanas estão
A causa maior das baixas mais ex- decrescendo significativamente, o
pressivas são as crises econômicas que traz certo realismo na previsão
globais. de que a produção do maior con-
O Oriente Médio está mergu- sumidor mundial chegou ao limi-
lhado numa crise sem fim, provo- te econômico e pode diminuir ra-
cada pela descarada intervenção pidamente.
de potências militares estrangeiras Estas considerações levam-
nas políticas internas dos países da -nos a considerar o atual pata-
região. Logo, o preço do petróleo mar de preços baixos como um
não deveria ter despencado. “ciclo”, que, repito, como nos
O mundo atravessa há mais mostram os dados históricos,
de uma década uma profunda cri- passará. Retornaremos a preços
se econômica que começou com a em patamares bem mais eleva-
criminosa crise do sistema financei- dos num futuro próximo.
ro norte-americano e se espalhou Um fato que reforça esta previ-
planeta afora, produzindo acentu- são é a manutenção, por parte do
ada queda nas taxas de crescimen- governo norte-americano, da proi-
bição de exportação do óleo pro- das mais importantes e estraté- sa e na competência de seu quadro
duzido em seu território nacional, gicas riquezas da nossa pátria, de empregados para a transforma-
que dá a entender que há incerte- absolutamente indispensável ção de seus imensos recursos em
zas concretas quanto à sustentabili- para que o Brasil, como nação riquezas que garantam o retorno
dade de sua produção interna. soberana e detentora real de au- adequado de seus investimentos.
Quanto ao pré-sal brasileiro, tonomia de decisão, se desen- São inúmeras as opiniões
nada a ameaçar sua produção. O volva social, econômica, tecno- que indicam haver outros inte-
chamado “CTPP” – custo total do lógica e politicamente. resses por detrás desta avalia-
petróleo produzido – da Petrobras ção e que o foco central destas
não só é muito atrativo em rela- P: Considerando a perda do avaliações seria concretamente
ção aos preços atuais como tende grau de investimento, a Petro- enfraquecer a empresa e tentar
a diminuir a partir dos resultados bras terá recursos para fazer os extinguir o marco regulatório
obtidos pelos programas de desen- investimentos necessários para do pré-sal, centrado na opera-
volvimento tecnológico e de me- cumprir as condições estipula- ção única por parte da Petro-
lhorias operacionais, iniciados há das no modelo atual de partilha bras. Portanto a Petrobras tem
mais de 10 anos, cujos impactos de exploração do pré-sal, que todas as condições necessárias
positivos no CTPP já são sentidos. prevê que a empresa será a ope- e suficientes para obter o finan-
Em relação a reservas de petró- radora e terá 30% de todos os cano, salvo pela módica mesada, ciamento destinado à implan-
leo e gás natural, a primeira e bási- campos? A Petrobras conseguirá durante anos, de US$ 85 bilhões tação de seus projetos e para o
ca, elementar lição que a realidade cumprir os cronogramas estipu- mantida pelo governo daquele pa- integral cumprimento de todos
geopolítica mundial concernente lados pela ANP? ís para empresas, bancos e outros. os seus compromissos, mais que
à segurança energética estratégi- R: Muito me impacta, como cida- Pois bem, estas mesmas “agências com a ANP, com o Brasil.
ca das nações nos dá é que não há dão brasileiro, a importância que de risco” avaliaram continuamen-
“micos” neste assunto. se dá, entre nós, às avaliações das te papéis do mercado financeiro in- P: Como você avalia a proposta
Ao contrário, as grandes potên- chamadas “agências de risco” e ou- ternacional como “AAA”, “triple de mudança do modelo de par-
cias mundiais surgidas ao longo do tros prestigiados analistas de mer- A” na língua deles, até que estes pa- tilha para o de concessão? O que
século passado têm nos ensinado à cado a respeito do Brasil e de nossas péis valessem zero! Esse pessoal não é melhor para a sociedade brasi-
exaustão que a identificação e apro- maiores empresas. O que são estas tem demonstrado competência pa- leira? Por quê?
priação de reservas petrolíferas no instituições e quem estas pessoas? ra cumprir, exercer minimamente R: Primeiro vamos analisar os fun-
planeta Terra, onde quer que exis- A que interesses se subordinam e o papel de avaliadores confiáveis a damentos básicos que diferenciam
tam, necessárias para a sustentabi- servem? Eu mesmo – pessoalmen- que se propõem. os dois modelos – concessão e par-
lidade e preservação de suas hege- te e num evento interno – cheguei Mesmo que se conceda con- tilha de produção – o que é muito
monias globais, são prioritárias em a ouvir a declaração de um destes siderar a opinião destas agências, simples. O ponto central de ambos
suas estratégias de segurança nacio- “profissionais” a recomendar que não faz qualquer sentido, agri- é representado pelo risco explora-
nal. E os exemplos estão aí a nos se comprassem ações da OGX e da de a mais rudimentar racionali- tório para se descobrir uma acumu-
mostrar à exaustão que as soluções HRT, “mais atrativas que as da Pe- dade econômica que a Petrobras, lação de óleo/gás cuja produção se-
adotadas para que isto lhes seja as- trobras”. Uma barbaridade sem ta- a maior empresa petrolífera mun- ja economicamente viável.
segurado extrapolam frequente- manho, mas acatada pela sinistra dial com ações em bolsa, com mais A estatística mundial apon-
mente o trabalho de seus geólogos, entidade chamada de “mercado”; de 30 bilhões de barris de reservas ta para índice de sucesso de poços
e passam a ser tratadas por seus ge- e muita gente honesta acreditou e totais de petróleo e gás natural e a exploratórios em torno dos 10%.
nerais e almirantes. Simplesmente colocou suas economias naquelas produzir mais 2,8 milhões de bar- Quer dizer, para cada 10 poços ex-
porque energia – leia-se petróleo e ações. Deu no que deu. ris equivalentes, tenha sua “avalia- ploratórios que as empresas pe-
gás natural – é ponto central da so- É indispensável que se veja o ção” diminuída. trolíferas perfuram, somente um
berania de qualquer nação impor- filme Trabalho Interno, do diretor Prova disto foi, no ano pas- resulta em descoberta que vai desa-
tante no mundo, como o Brasil. Charles Ferguson, premiado em sado, a Petrobras ter ido ao exte- guar num campo com produção de
Aliás, na opinião de muitos ana- 2010 em Cannes, Toronto e No- rior buscar financiamento e con- óleo/gás economicamente viável.
listas, a reativação da quarta frota va Iorque. O DVD está nas lojas já seguir US$ 8 bilhões e ter oferta Para correr este risco – que não
norte-americana – para o Atlântico há algum tempo. Conta nua e cru- de US$ 22 bilhões, a significar de é pequeno, principalmente pelo
Sul – está aí para não deixar dúvi- amente a história da crise econômi- forma inconteste a confiança dos elevado custo de perfuração dos
das quanto a isto. ca mundial que resultou na falência investidores externos na saúde fi- poços no mar, a maioria maior
O pré-sal brasileiro é uma do sistema financeiro norte-ameri- nanceira e econômica da empre- que US$ 60 milhões, não raro ex-
trapolando US$ 100 milhões – há geiras, mas foi a Petrobras que, de participação nos consórcios ven- nacional com extrema rapidez, co-
que se atrair o investidor com con- longe, conseguiu a maioria deles e cedores das licitações; e participar meçando pelo setor petrolífero, a
dições compensadoras. a empresa que, também de longe, – o governo brasileiro – nos con- exigir que a Petrobras “contrate no
No caso das concessões, este mais investiu em exploração na ba- sórcios através de uma empresa Brasil o que pode ser feito no Bra-
atrativo é a propriedade integral cia de Santos desde então. pública – a Petróleo Pré-sal. sil”. Logo em seguida surge o pré-
do petróleo e gás produzidos sem a Como resultado direto desta Esta estruturação do modelo -sal, a aprofundar a demanda por
imposição de condicionante polí- decisão de concreta retomada pe- garante ao país, tendo sua empre- novos equipamentos.
tica, social ou econômica por parte la Petrobras das atividades explo- sa como operadora – que é quem Certamente não é fácil dar es-
do poder concedente, no nosso ca- ratórias na bacia de Santos, logo tudo decide nos consórcios – o te pulo a partir de uma “terra ar-
so o Estado brasileiro. surgiram descobertas do pós-sal cumprimento de políticas gover- rasada” como era a situação da in-
O modelo de concessão tem co- (campos de Mexilhão – o maior namentais voltadas ao desenvolvi- dústria naval brasileira. Muitos
mo coluna de sustentação negocial campo de gás brasileiro – Uruguá mento científico, tecnológico e in- “avaliadores do contexto nacio-
o risco exploratório que o investi- e Tambaú, com óleo pesado “ti- dustrial brasileiro e a promoção de nal” externaram seu total ceticis-
dor enfrenta. Em caso de sucesso, po Campos”, mais tarde os cam- empresas genuinamente brasileiras mo quanto à possibilidade disso
ele é proprietário integral do petró- pos de Baúna e Piracaba) e depois em todo o amplo espectro da in- se materializar. Quebraram a cara,
leo e gás produzidos, sem qualquer – em águas ultraprofundas, mais dústria petrolífera. Assegura desta como sabemos. Estão aí os inúme-
interferência do concedente. de 2.000m de lâmina d’água – vá- forma a consolidação da engenha- ros navios de produção, barcos de
Agora considero importante rios megacampos (mais de um bi- ria verdadeiramente brasileira num apoio e navios petroleiros fabrica-
para a compreensão integral do ca- lhão de barris de reservas) de óleo setor estratégico para o país ao lon- dos nos estaleiros aqui localizados.
so brasileiro falar algo sobre o que leve no pré-sal – Lula, Sapinhoá, go deste século XXI. Mas o pré-sal trouxe uma novi-
aconteceu na nossa bacia de San- “Franco”, “Libra” e tantos outros. A proposta de desmonte des- dade entre suas necessidades mais
tos. Objeto de pesados investi- As descobertas do pré-sal por te modelo e retorno ao modelo essenciais: diferentemente dos na-
mentos exploratórios por parte da parte da Petrobras se deram em de concessão é lesiva, portanto, vios de produção – equipamentos
Petrobras, ainda sob o regime do todos os poços perfurados com aos reais interesses estratégicos cuja construção emprega tecnolo-
monopólio, as águas rasas desta aquele objetivo específico, revelan- nacionais e por isso representa gias correntes, dominadas – para
imensa bacia sedimentar brasilei- do que os exploracionistas da com- um inaceitável retrocesso pela perfurar em águas ultraprofundas
ra hoje totalmente submersa, sem panhia haviam construído com in- nação brasileira. exigem-se sondas de perfuração
dúvida a mais extensa bacia marí- questionável sucesso geocientífico superespeciais, de tecnologia ultra-
tima de nosso país, mostraram-se o que se denomina de “sistema pe- P: Considerando os problemas -avançada, principalmente na au-
em sua maior parte estéreis com trolífero”. A partir daí o risco ex- enfrentados pela Sete Brasil e ou- tomação e nos requisitos de segu-
respeito às condições geológicas ploratório desapareceu, eliminan- tros fornecedores e a queda no rança operacional.
mínimas para a ocorrência de acu- do o pilar principal do modelo de preço do barril, é viável manter as Como a faixa de águas ul-
mulações de petróleo e gás natural. concessão. Quando isto ocorre, em exigências de conteúdo nacional? traprofundas é a última frontei-
Aberta aos chamados contratos qualquer parte do planeta, o mo- R: O Brasil parou por décadas. ra exploratória para petróleo e gás
de risco na década de 70 do sécu- delo de concessão é imediatamen- Atravessou um longo período de natural do planeta, estas sondas es-
lo passado, houve apenas uma pe- te substituído pelo de “partilha de desindustrialização, mais do que peciais serão extremamente requi-
quena descoberta de gás em águas produção”, segundo o qual, em li- isso, de desnacionalização do par- sitadas ao longo deste século XXI
rasas – merluza – pela Shell, cuja nhas bem gerais, os governos na- que industrial que sobrou após e as dificuldades iniciais da Petro-
economicidade foi muito discuti- cionais tornam-se proprietários do este período. O país foi submeti- bras em contratar estes equipa-
da à época, mas que afinal foi de- petróleo e gás produzidos pelos do a um processo de privatização mentos comprovam isso.
senvolvida. Pouco mais tarde a campos descobertos e ressarcem as de suas empresas estatais acompa- Para permitir a produção
Petrobras descobriu óleo leve no empresas operadoras pelos gastos nhado pelo criminoso desmon- desta imensa riqueza nacio-
Paraná/Santa Catarina, os campos operacionais. te de seus respectivos órgãos de nal é indispensável a capacita-
de Coral, Estrela-do-mar e outros Mas o modelo de partilha es- pesquisa, desenvolvimento e en- ção da indústria naval brasilei-
campos pequenos, muito proble- colhido pelo governo brasileiro genharia (P,D&E). Só sobrou o ra, de maneira que o Brasil não
máticos e com baixas produtivida- adota características especiais: le- Cenpes, da Petrobras, que a onda dependa dos estaleiros no exte-
de e atratividade econômica. vando em conta ter sua empresa neoliberal-colonialista não conse- rior para construir estas sondas.
Com a quebra do monopólio, estatal como a principal operadora guiu arrastar, apesar dos enormes Dentro deste contexto absoluta-
em 1997, blocos em águas profun- em águas ultraprofundas de todo o esforços para isto. mente estratégico foi constituí-
das e ultraprofundas foram adqui- mundo, designá-la como operado- O governo que entra em 2003 da a empresa Sete Brasil. Trata-
ridos por várias empresas estran- ra única, com no mínimo 30% de decide retomar o desenvolvimento -se, portanto, de uma iniciativa
Modelos de organização
do setor de petróleo
Paulo Metri* lio, para evitar o seu uso políti- US$12, para reduzir a dependên- uma camada de sal de 2.000 me-
U
co e corporativo. A afirmação que cia do Brasil ao petróleo impor- tros. Só uma petrolífera do Esta-
m modelo de organização “o monopólio é prejudicial à socie- tado, que chegava a 85%. De- do, que tem como lógica o benefí-
do setor de petróleo, para dade, porque a empresa monopolis- senvolveu fornecedores nacionais cio da sociedade, realiza este feito.
ser adotado por um país, ta fixa livremente o preço de venda para evitar compras no exterior. Por interferência do capital in-
deve conter o máximo de impactos dos seus produtos” só é verdade para Priorizou desenvolver tecnologia ternacional, através de políticos en-
sociais positivos e o mínimo de ne- um monopólio privado. Um mo- no país, o que já lhe rendeu três treguistas, o monopólio foi extin-
gativos. Alternativas de modelo não nopólio estatal controlado pela so- premiações da Offshore Technology to em 1995. Havendo a imposição
devem ser analisadas olhando-se só ciedade não a extorque. Conference e muita economia de de empresas privadas participarem
um aspecto, como é o caso frequen- O monopólio estatal pode ser divisas. Se o monopólio não tives- da exploração e produção de pe-
te do uso do aumento da atividade usado como instrumento eficaz se sido criado, o Brasil seria, desde tróleo, existem no mundo três mo-
econômica, resultante dos modelos, para a consecução de políticas pú- 1953, o paraíso das empresas es- delos de contratação delas: a con-
para que a decisão seja tomada. As- blicas, o que é impossível através trangeiras. Aí, o Pré-Sal ainda não cessão, o contrato de partilha da
sim, a melhor opção pode ser lucra- de empresas privadas. Por exem- teria sido descoberto, pois o petró- produção e o de prestação de servi-
tiva para as empresas e não acarretar plo, a Petrobras foi explorar petró- leo não está escasso a ponto de elas ço. Como não existe, no Brasil, pe-
grande benefício social. leo na bacia de Campos, nos anos irem buscá-lo a 7.000 metros de trolífera privada nacional que con-
Os seguintes critérios de ava- 1970, quando o barril custava só profundidade, tendo que transpor siga competir com a Petrobras e as
liação dos modelos, para apoiar o
processo de escolha, são sugeridos
a seguir. O modelo deve: (1) prio-
rizar a posse pelo Estado brasileiro
do máximo de petróleo produzido,
visando à realização de ações estra-
tégicas; (2) maximizar a arrecada-
ção de tributos para permitir ao Es-
tado suportar programas sociais;
(3) minimizar o preço de venda dos
derivados de maior consumo pela
classe pobre; (4) gerar o máximo de
compras e empregos no país, com
ênfase na fase de implantação dos
empreendimentos; (5) contratar
ao máximo no Brasil os serviços de
desenvolvimento tecnológico e de
engenharia; (6) minimizar a possi-
bilidade de acidentes em unidades
operacionais e de transporte e os
impactos ao meio ambiente.
O primeiro modelo do setor
do petróleo a ser considerado é o
do monopólio estatal, que maxi-
miza os benefícios sociais em um
país em desenvolvimento, des-
de que haja controle social sobre
a estatal executora do monopó-
estrangeiras em águas profundas, Noruega e Reino Unido, que têm das reservas para alavancar seu de- al da Petrobras satisfaz a deman-
a contratação aqui é destas duas, reservas e adotam o modelo da senvolvimento. da nacional. Contudo, pode-se
consorciadas ou não. concessão, porque a maioria das Olhando as escolhas pela con- aumentar a produção do Pré-Sal,
Nas concessões, a empresa pe- petrolíferas de porte, muitos for- cessão ou o contrato de partilha, acima do acréscimo de demanda,
trolífera fica com a posse total do necedores e centros de desenvol- já feitas pelos países em desenvol- para permitir ao Brasil exportar e
petróleo descoberto e paga tributos. vimento tecnológico do setor pe- vimento, a regra que pode ser de- acumular divisas. Mas, para a ex-
Se não descobrir petróleo, os inves- trolífero têm sede nestes países. Os duzida é que aqueles com maior portação ocorrer com o máximo
timentos realizados não são ressarci- Estados Unidos proíbem a expor- grau de soberania escolhem os con- usufruto da nossa sociedade, a em-
dos pelo Estado. Nos contratos de tação do seu petróleo, não permi- tratos de partilha e os com baixo presa exportadora precisa ser a Pe-
partilha da produção, a empresa pe- tindo que empresas, visando uma grau se subordinam às concessões. trobras. Os entreguistas argumen-
trolífera, descobrindo petróleo, terá maior lucratividade no curto pra- A argumentação de que em áreas de tam que ela não tem capacidade
posse só da sua parcela da produção, zo, contribuam para um desabas- maior risco, as empresas estrangei- financeira para explorar sozinha a
constante do acordo de partilha. O tecimento futuro. Isto não ocorre ras só se motivam a participar se ti- região, o que é verdade para os ní-
restante do petróleo ficará com o no Brasil, pois, quando só exis- verem concessões, é compreensível. veis de produção que eles não ex-
Estado. A empresa poderá ainda pa- tiam reservas garantidas para 17 Mas isto não significa que elas não plicitam. Ao nível de produção de
gar tributos sobre a sua parcela. Se anos, empresas estrangeiras expor- venham a fechar contratos de par- máxima satisfação da sociedade, a
não descobrir petróleo, os investi- tavam suas produções do Brasil. tilha. Com dados de 2004, África Petrobras tem capacidade.
mentos realizados pelo contrata- A Noruega e o Reino Unido do Sul, Argentina e Peru tinham só Sendo politicamente difícil re-
do não são ressarcidos pelo Estado. adotam as concessões, mas tomam concessões. Angola, Bolívia e Egi- vogar a lei dos contratos de parti-
Nos contratos de prestação de ser- medidas de repercussão social. A to tinham só contratos de partilha. lha, o capital internacional busca
viços, a empresa petrolífera não terá Noruega destina as áreas com gran- Argélia, Colômbia, Nigéria e Rússia derrubar pontos positivos desta lei,
posse do petróleo descoberto e será de expectativa da existência de pe- tinham concessões e contratos de como a obrigatoriedade de a Petro-
remunerada pelos serviços prestados tróleo para a estatal Statoil, res- partilha. Países podem ter conces- bras ser a operadora única do Pré-
de prospecção, perfuração, produ- tando áreas menos nobres para as sões da época de administrações ne- -Sal, dela ter 30% em todos os con-
ção e outros. Se não for descoberto petrolíferas estrangeiras e, mesmo oliberais e contratos de partilha de sórcios desta área e as exigências de
petróleo, será remunerada da mes- assim, com a imposição eventual períodos com administrações sobe- conteúdo nacional. A operadora
ma forma pelo Estado. de participação da Statoil. No Bra- ranas, que deve ser o caso da Rússia. em qualquer consórcio é a respon-
A concessão tende a beneficiar sil, só recentemente, o artigo 12 da Os contratos de serviço podem sável pelas compras do consórcio e,
mais as petrolíferas em detrimen- lei do contrato de partilha foi usa- ser prestados para o Estado dire- sendo a Petrobras, sabe-se que as
to do Estado, enquanto, no contra- do, permitindo a entrega direta de tamente ou para estatais do setor. compras no Brasil serão maximiza-
to de partilha, o maior beneficiário áreas para a Petrobras, para tristeza Neste caso, tem-se grande controle das. E não existe operadora de con-
tende a ser o Estado. Supondo que do capital internacional, que que- do Estado sobre o setor. As petrolí- sórcio que detenha menos de 30%
este irá repassar o acréscimo de be- ria vê-las leiloadas. feras estrangeiras não gostam de ser de participação.
nefícios para a sociedade, então o No Reino Unido, quando a ex- assim contratadas porque isso res- A lei das concessões tem embu-
contrato de partilha é melhor para ploração do Mar do Norte come- tringe seus ganhos e não há o rece- tida a pressa de interesse das empre-
ela. Muitos porta-vozes de grupos çava, foi criado o órgão governa- bimento de parcela alguma do óleo sas estrangeiras. A ANP não busca
estrangeiros dizem, buscando con- mental Offshore Supplies Office, que produzido. O Irã só usa este tipo de baixar a frequência dos leilões, cuja
fundir a população, que os contratos determinava aos concessionários contrato. O México o usava, mas, necessidade não é explicada para a
de concessão são mais comuns entre onde, neste Reino, alguns equipa- como o monopólio estatal foi der- sociedade. Enfim, existe muito en-
os países desenvolvidos e os contra- mentos deveriam ser comprados. rubado recentemente, a concessão tulho neoliberal no setor. Um pon-
tos de partilha da produção são ado- Uma atitude análoga no Brasil seria deve estar sendo usada. A Venezuela to é crucial: não podem mais existir
tados com mais frequência por pa- considerada cerceamento da liber- tem contratos de partilha e de servi- leilões de áreas na região do Pré-Sal,
íses em desenvolvimento. Este fato dade empresarial. A política brasi- ços. Países do Oriente Médio, ainda que a Petrobras descobriu e conhece
realmente ocorre, mas a intenção ao leira de conteúdo local é baseada nos anos 70, nacionalizaram seus se- bem. Estas áreas devem ser entregues
divulgá-lo é dizer que a concessão é na indução para a compra no país e tores petrolíferos. A Líbia e o Iraque a ela diretamente, seguindo o artigo
melhor que o contrato de partilha. não veta a compra no exterior. Ain- invadidos têm seus setores de petró- 12 da lei da partilha, adequando a
A maioria dos países desenvol- da assim, é combatida pela mídia, leo tutelados, o que representa a op- necessidade de investimentos ao flu-
vidos não tem reservas, como é o que representa o capital internacio- ção de desorganização do setor. xo de caixa da empresa.
caso da Alemanha, Japão, Fran- nal, visando maximizar seus lucros O abastecimento do Brasil,
ça, Itália e Coréia do Sul. As exce- e pouco se importando com o pa- graças ao Pré-Sal, está garantido * É mestre em Engenharia Industrial e
ções são Canadá, Estados Unidos, ís que quer aproveitar a existência por muitos anos. A produção atu- conselheiro do Clube de Engenharia.
Desgoverno estrutural
Claudio Weber Abramo* noções de moralidade, melhor fa- vam exatamente as empresas que
O
ria se refletisse novamente. haviam sido indagadas.
escândalo da Petrobras, De volta à Petrobras, a existên- Semelhante comportamento,
posto a nu pela operação cia de um regulamento para licita- que não resiste à primeira análise,
Lava-Jato, confirmou as ções permissivo, aliada à consciên- é a norma no Brasil.
piores previsões que se faziam des- cia de que a eficiência em compras Outro aspecto que se constatou
de que se determinou, em 1998, é componente central da eficiência no caso Siemens foi a virtual ausên-
que a estatal contaria com um re- geral da empresa, deveria de for- cia de controles. Sequer há disponi-
gime especial de licitações. ma natural levar à implantação de bilidade dos documentos internos
Desde aquela época se tem mecanismos de acompanhamento de registro das decisões tomadas ao
apontado que o regulamento da e controle capazes de enfrentar os longo do processo de compra de
Petrobras contém inúmeras bre- riscos de direcionamento. É o que trens e encomenda de reformas em
chas para o direcionamento de su- se faria em qualquer empresa. composições existentes: as compa-
as compras. O que a Lava-Jato desvendou nhias não os arquivavam.
Compras são assunto estraté- é que tais mecanismos simples- Ignora-se se a Petrobras tem si-
gico em qualquer empresa, pois mente inexistem na estatal. Da- do gerida com o mesmo grau de
têm impacto direto em sua efici- do que as regras para encomen- irresponsabilidade, mas pelo sim,
ência alocativa. Comprar mal sig- dar refinarias são as mesmas que informações usadas nos processos pelo não, o mais prudente é ima-
nifica, no final das contas, erosão governam a compra de copinhos decisórios e a checagem sistemática ginar o pior.
de resultados. plásticos, papel para impressora e dos elos da cadeia decisória. As providências iniciais toma-
Em qualquer empresa é agu- todo o resto dos milhares de bens Assim, o levantamento per- das pelo governo federal na Petro-
da a consciência de que uma das e serviços necessários para tocar manente de preços praticados no bras parecem indicar intenção sa-
formas de pagar mais caro por al- uma empresa com mais de 70 mil mercado, a prospecção de forne- neadora. Criou-se uma diretoria de
go que poderia ser comprado mais funcionários, pode-se especular cedores onde quer que estejam e governança que, embora (ao tem-
barato se dá pelo mecanismo de com razoável dose de convicção a submissão de decisões de gesto- po em que estas linhas são escritas)
o vendedor do fornecedor de um que não há caneta esferográfica res à crítica são elementos que não ainda não se conheça os poderes, te-
bem ou serviço pagar um suborno usada na Petrobras que não car- podem faltar. ria como função instituir melhores
ao comprador da empresa para es- regue um sobrepreço oriundo de Observe-se que não é costumei- controles internos (além de outras
te direcionar-lhe as compras. propina paga ao funcionário res- ro, no poder público brasileiro, se responsabilidades cosméticas, do ti-
Por isso, os antigos códigos de ponsável pela compra. prospectar preços de mercado. Co- po compliance verbal, que de pouco
conduta de empresas sempre in- Como nesse tipo de coisa é so- mo se levantou no caso Siemens serve para qualquer coisa material).
cluíam advertências quanto a isso. cioeconomicamente impossível em São Paulo (por insistência da O governo também levou ao
A propósito, tipicamente, tais que indivíduos ajam de forma iso- Transparência Brasil, diga-se), “pre- Conselho dde Administração da
códigos jamais mencionavam a lada, pode-se também inferir que ços de mercado” costumam ser en- estatal o advogado Luiz Navarro,
situação complementar, a saber, as áreas de compras da Petrobras tendidos como “preços ofertados”, que foi durante anos o secretário-
vedações a seus próprios vende- são dominadas por quadrilhas es- e não “preços praticados”. -executivo da Controladoria-Ge-
dores pagarem propinas aos com- truturadas. Naquele escândalo, envolven- ral da União. De todas as pesso-
pradores de seus clientes. Usar Se existe real intenção do con- do o mercado metro-ferroviário, as envolvidas com o processo de
dois pesos e duas medidas pa- trolador da Petrobras (o governo, verificou-se que, para determinar saneamento da empresa, é o que
ra a mesma interação caracteriza representando a União) de sanear os preços de referência para suas li- mais experiência tem na preven-
uma situação que só se pode des- a empresa, a segunda providência citações, os compradores (a Com- ção e combate à corrupção.
crever como esquizofrênica, pois crucial a tomar (sobre a primeira ver panhia do Metrô e a Companhia Resta saber se tais medidas de
o conjunto geral de compradores mais abaixo) é montar mecanismos de Trens Metropolitanos) pergun- natureza administrativa não serão
e vendedores compõe uma só co- internos de prevenção e controle tavam aos fornecedores por quan- neutralizadas pela ausência da se-
munidade de indivíduos. que não sejam só para inglês ver. to ofereceriam bens e serviços nu- gunda providência que se exigiria:
É o caso de anotar: quem su- Qualquer mecanismo adminis- ma licitação. Usavam as respostas a eliminação da distribuição políti-
põe que a condução de negócios trativo desse tipo precisa basear-se para fixar os preços de referência ca dos cargos de responsabilidade na
incorpora, em alguma medida, em dois aspectos: a qualidade das para licitações de que participa- estatal, raiz do esquema Lava-Jato.
O loteamento de cargos na ca dos cargos, os partidos se com- lítico deseja ao controlar uma di- doleiros e fornecedores da estatal,
administração entre partidos po- prometem a votar com o gover- retoria de estatal, uma superin- enquanto na página ao lado trans-
líticos é o mecanismo de “gover- tno e, principalmente, eximir-se tendência regional do INSS ou do corria a descrição das idas e vindas
nabilidade” (como se costuma, de fiscalizá-lo. Departamento Nacional de Infra- do loteamento de cargos no go-
equivocadamente, dizer) central Isso não apenas comprome- estrutura de Transportes? Ou uma verno federal (quanto aos gover-
dos governantes brasileiros das te de modo terminal a eficiên- subprefeitura? nos estaduais recém-eleitos, afeta-
três esferas. Do último dos muni- cia administrativa como constitui Boa coisa não é, e o noticiário dos pelos mesmíssimos problemas
cípios ao governo federal, o gover- um dos elementos importantes na político, transmudado em crônica e condutores do mesmíssimo lote-
nante adquire o apoio de partidos desmoralização dos partidos polí- policial, mostra o que, de fato, a car- amento, manteve-se o usual silên-
nos respectivos parlamentos por ticos como representantes de ten- tolagem partidária e os membros do cio noticioso).
meio da distribuição de cargos. dências ideológicas na sociedade. Legislativo querem com tudo isso. O loteamento político é con-
O negócio é simples: em tro- O que, afinal, um partido po- É sintomático que, tendo o ca- sequência direta da liberdade que
so Lava-Jato eclodido no período governantes têm de nomear pesso-
pós-eleitoral, numa página se no- as livremente para ocupar cargos
ticiava sobre relações escusas entre na administração, por sua vez ga-
partidos, diretorias da Petrobras, rantida explicitamente na Consti-
tuição (Art. 37, Inciso V).
A partilha dos cargos é origina-
dora de ineficiências de toda na-
tureza, resultando em desempe-
nho governamental sub-standard.
É também responsável por mais
uma – ou várias – voltas no para-
fuso da falta de representatividade
de partidos políticos.
Por isso, é nada menos que es-
pantoso que a conversa sobre “refor-
ma política” deixe a questão de lado.
Que os políticos prefiram escamote-
ar o assunto é compreensível: nin-
guém quer mudar um estado de
coisas que o beneficie. Não é, contu-
do, inteligível que observadores do
Estado, e em particular a imprensa,
persistam em ignorar o assunto.
Caso a liberdade de nomea-
ção não seja drasticamente redu-
zida por emenda à Constituição,
nenhuma providência adminis-
trativa conseguirá contrabalançar
a ineficiência que provoca, não só
em estatais como em toda a admi-
nistração pública do país.
A
interno, com o aumento paulatino multiplicadas pela mídia e por to-
questão da Petrobras man- da produção nacional de petróleo e do o tipo de “fontes” e “analistas”
tém, neste momento, a si- a de refino, só tende a ajudar a Pe- – e que a está empurrando para a
tuação do país em suspenso. trobras, com a recuperação de suas realização de desinvestimentos. Is-
Trata-se não apenas de um proble- margens de lucro no futuro. so é muito mais grave do que as su-
ma jurídico, mas do futuro da nossa Com relação ao mercado in- as perspectivas reais de produção e
maior empresa nacional e de deze- ternacional, em médio prazo, a re- de mercado, mesmo quando leva-
nas de setores da economia brasi- composição do preço do petróleo da em consideração a situação vi-
leira, que vão da indústria naval à tende a ocorrer por várias razões. vida neste momento pela indústria
química, com implicações de toda Primeiro, a concorrência do petró- de óleo e gás em todo o mundo.
ordem e a ameaça de eliminação de leo saudita mais barato com o óleo Essa é uma situação que só po-
milhares de empresas e empregos. e o gás de xisto dos EUA, que pode deria ser minorada, por exemplo,
Mas os problemas vão além diminuir a oferta de produção lo- se a empresa tomasse uma deci-
dos casos de corrupção na empre- cal no maior mercado do mundo. são que revertesse as expectativas e
sa? Como poderia estar sua situa- Em segundo lugar, pela pres- tensão na Ucrânia, que pode vir a contornasse os problemas que tem
ção se não fosse isso? são de outros membros da OPEP prejudicar o fornecimento russo tido nas bolsas ocidentais e com a
Do nosso ponto de vista, a que- para que haja corte na produção. de gás para a União Europeia. má vontade de agências de qualifi-
da do petróleo não atrapalha a ex- Em terceiro lugar, pela diminui- Em uma situação normal, em cação como a Moody´s.
ploração do pré-sal para a Petro- ção dos estoques norte-americanos que fosse considerada apenas a ló- Esse seria o caso, por exemplo,
bras, porque o grande mercado da e chineses, que deve ocorrer devido gica produtiva e de mercado, a Pe- do estabelecimento de uma alian-
Petrobras é o brasileiro. O que ba- ao aquecimento da economia dos trobras estaria vivendo um exce- ça que lhe garantisse a obtenção
liza o preço que a Petrobras obtém EUA e das exportações chinesas, lente momento. de recursos e de apoio alternativos
pelo óleo extraído no pré-sal ou pe- como já se viu no início deste ano. A expectativa negativa criada – para a execução dos projetos que
lo óleo que ela troca pelo petróleo Depois, vem a possibilidade em torno da empresa, no entan- estão em andamento – com par-
do pré-sal lá fora é o custo final do de recuperação da economia euro- to, gerou uma posição institucio- ceiros alternativos que fossem fi-
combustível no mercado nacional. peia, caso seja bem sucedido o pa- nal que não condiz com as perdas nanceira e tecnicamente podero-
É a Petrobras que forma o pre- cote de estímulo do BCE, e, por efetivamente detectadas até agora sos, como a China.
ço do petróleo no mercado brasi- último, a de haver um aumento da com os casos de corrupção desco- A Petrobras tem excelente tec-
leiro, e essa condição de formação nologia (acaba de ganhar, pela ter-
de preço só se veria ameaçada se ceira vez, o maior prêmio do mun-
houvesse importação de combus- do, outorgado pela OTC, nessa
tível em enorme escala por empre- área), produção e gigantescas re-
sas concorrentes, para substituir a servas de petróleo e gás, em as-
produção nacional da empresa. censão neste momento, e uma si-
Essa é uma possibilidade dis- tuação predominante em um dos
tante, que não poderia se dar sem maiores mercados do mundo.
um tremendo esforço logístico, A única coisa que pode atrapa-
que implicaria, por sua vez, no lhá-la é o fator político.
aumento do custo, diminuindo a
margem de lucro de suas concor- * Vencedor do Prêmio Esso de Reporta-
rentes, o que neste momento não gem de 1971 e ex-correspondente no ex-
terior do Jornal do Brasil e da Folha de
interessaria a ninguém. São Paulo, trabalhou em várias publica-
O grande problema é o câm- ções como Gazeta Mercantil, Correio Bra-
bio, considerando-se que muitos ziliense, Última Hora e Revista Manchete.
dos insumos e serviços da Petro- É articulista do Jornal do Brasil Online, da
Revista do Brasil, da Carta Maior e do Jor-
bras são importados. Mas ainda as-
nal Hoje em Dia e mantém o blog www.
sim, a manutenção desse quadro, maurosantayana.com.
E
ma em espetáculo. O juiz do pro- ção do tesoureiro do PT, já que ele
m nome do combate à cor- cesso vira herói nacional sob a luz não havia se recusado a compare-
rupção cometem-se aten- dos holofotes e afagos da mídia. cer para prestar depoimento; 6)
tados de toda sorte à or- As “confissões” obtidas se trans- desconsideração das consequên-
dem jurídica. formam automaticamente em ver- cias sociais e econômicas das de-
O desenvolvimento da cha- dade e ganham as manchetes dos cisões, pois os danos econômicos à
mada Operação Lava Jato mostra jornais. Permitem-se vazamentos Petrobras produzidos com a con-
como, de forma paulatina, o es- criminosos e seletivos que man- dução do procedimento e divul-
tado de exceção vai contaminan- charão por toda a vida a honra dos gação seletiva das investigações já
do as práticas judiciais, os atos do atingidos, ainda que considerados, são maiores do que os das condu-
Ministério Público e o comporta- ao final, inocentes. tas criminosas que se pretende pu-
mento da polícia. Além dessas máculas, alguns nir; 7) provas produzidas sem res-
Mas as consciências também colegas advogados apontam ou- peito ao devido processo legal.
vão sendo contaminadas. Boa par- tras diversas irregularidades prá- E diga-se mais. A delação pre-
te da população está convencida ticas na condução da ação penal: miada é abertamente inconstitu- de provar os fatos que ensejam a
de que contra a corrupção vale tu- 1) prisões desnecessárias, sem que cional porque fere, entre outros, os acusação cedem lugar à teoria do
do. Direitos constitucionais dura- existisse risco à efetividade do pro- princípios da moralidade pública, domínio fato, mal e porcamente
mente conquistados pela demo- cesso, ou seja, o sucesso das inves- da isonomia e do contraditório, já importada do direito alemão.
cracia são tidos como obstáculos tigações não requer a efetivação de que os delatados e a sua defesa não A esperança de que isso não
à “santa cruzada”. Amplo direito prisões; 2) as prisões são utiliza- têm acesso ao ato de delação nem a aconteça é o Ministro Teori Za-
de defesa, presunção de inocência das como instrumento de coação chance de confrontar o delator. Le- vascki, que se mostra bastante di-
e outras garantias individuais, na para obter confissões e delações; gitima-se a hipótese da pena sem ferente – ainda bem! – de Joaquim
prática, estão revogados. 3) violação de regras de compe- obediência a limites éticos e jurídi- Barbosa. O ministro Teori é aves-
A grande imprensa cumpre um tência: nem todos os fatos investi- cos, como nos “velhos tempos”. so a holofotes e, ao que se sabe,
papel lamentável nesse cenário. A gados são da competência do juiz Tenta-se consolidar um padrão não se intimida com clamores da
mídia transformou-se em partido Sergio Moro; 4) desconsideração jurisprudencial inaugurado no “opinião pública” insuflados pela
político. E de oposição. Fomenta de formalidades processuais que julgamento do chamado “mensa- grande mídia.
ódio, fabrica “inimigos do povo” são garantia contra a opressão do lão”, onde os direitos fundamen- O quadro sombrio que se de-
e articula e incentiva abertamente Estado; 5) medidas de força ilegais tais dos acusados e a necessidade senha é considerar o Estado de
manifestações de natureza golpis- Direito, a Democracia, a Consti-
ta. Aliás, o comportamento da im- tuição e as leis como incompatí-
prensa nos dias que correm é bem veis com o combate à corrupção.
parecido com o método que ado- A conclusão é enganosa. A nossa
tou nas vésperas do golpe de 1964. ordem jurídica contém um arsenal
de normas e princípios suficientes
para o enfrentamento, que se faz
necessário, dos saqueadores do di-
nheiro público.
Agredir o Direito não levará ao
êxito da empreitada. Antes, pelo
contrário: significará a derrota da
Democracia e o reconhecimento
absurdo de que o crime só se com-
bate se nos livrarmos da Consti-
tuição, que só “atrapalha”.
Fontes: Prestação de Contas 2010 -2013, Rio Transparente para 2014 e PLOA de 2015.
teve na casa dos R$30 milhões. usuários de drogas, principalmen- repassado de 2013 para 2014 foi te de recursos federais?
Destaque para as Ações de te de crack, onde vivem 20 jovens pelo aumento de usuários ou de • Por que o tema crack não cons-
Atenção Psicossocial, que rece- e crianças; são geridas pela ONG atendimentos. ta como prioridade no Plano de
bem o maior valor, cujos produ- Viva Rio e tinham como parcei- Ação para 2015 do Conselho Mu-
tos são a implantação de CAPS, ra também a Tesloo/ Obra Social Considerações finais nicipal dos Direitos da Criança e
capacitação de profissionais e nú- João Batista, que por algum tem- Ao revisitarmos os dados da do Adolescente – CMDCA?
mero de usuários matriculados na po ficou encarregada de realizar as política municipal de combate ao • Por que é difícil verificar se as
unidade de atenção. Já a ação es- internações compulsórias. uso do crack por crianças e ado- metas do Plano Plurianual estão
pecífica (2021) merece uma aten- Buscando dados no Rio Trans- lescentes, constatamos dois as- sendo cumpridas, como o núme-
ção especial pela execução tercei- parente, podemos encontrar os va- pectos positivos: o abandono da ro de usuários atendidos/matricu-
rizada, que será tratada a seguir. lores dos contratos da ONG Viva agressiva internação compulsória lados e crianças atendidas nas Ca-
Rio e da ONG Tesloo; no mesmo e a elevação dos recursos, com a sas Vivas?
Quem acolhe site podemos encontrar seu CNPJ ressalva da significativa queda em • Por que permanece a prática de
(e prendia) é ONG com outro nome (Obra Social 2014. Sem dúvida, duas postu- se terceirizar ações governamen-
A Prefeitura tem diversos con- João Batista). Esse dinheiro pro- ras governamentais necessárias e tais de caráter eminentemente so-
tratos com ONGs e empresas pri- vém do Fundo Municipal de As- urgentes. Todavia, algumas ques- cial com ONGs que acabam em
vadas no âmbito de gerir alguns sistência Social, onde também se tões colocam em risco e em dúvi- escândalos de corrupção?
projetos em conjunto. No assun- encontram muitos outros contra- da a efetividade da política públi-
to referente ao texto, podemos tos com a esfera privada (Tabela 2). ca, tais como: 1 http://www.icict.fiocruz.br/sites/www.
icict.fiocruz.br/files/Pesquisa%20Nacio-
destacar as Casas Vivas, especia- Não foi possível identificar se • Por que a adesão ao plano nacio- nal%20sobre%20o%20Uso%20de%20
lizadas no acolhimento de jovens a razão do crescimento do valor nal não significou um maior apor- Crack.pdf
estáveis, potencialmente
estáveis, com
Economias possibilidade potencialmente estáveis no estáveis já instáveis, com estruturalmente
estáveis estáveis estáveis possibilidades instáveis estáveis
capitalistas de crises instáveis LP (NUR) no CP (NUR) possibilidade instáveis
de crises
temporárias de crises
não há ten-
ajustes len-
preços das mer- dência ao ple- forte, com trajetó-
Ajustamen- rigidez nominal lento; ênfa- tos ou rápidos
cadorias flexí- no emprego, ria inerentemente
to mercado: aceita no curto fraco; debate fraco; ênfase se na rigi- (depende da muito fraco; de- lento, ênfa-
veis, preços de muito forte; mas a oferta se cíclica da acu-
preços/sa- prazo e flexibili- rigidez x flexibi- na rigidez do dez nominal estrutura do bate sobre rigi- se na rigi-
oferta de longo forte; flexível perfeitamen- ajusta à de- mulação de capi-
lários e ve- dade de preços lidade é irrele- salário no- de preços e mercado); in- dez não possui dez nomi-
prazo das mer- te flexível manda; preços tal, concentração
locidade do e salários no lon- vante minal real de sa- flação de cus- papel relevante. nal e real
cadorias e salá- determinados e centralização
ajustamento go prazo lários tos, conflito
rio real rígidos pelo grau de de capitais.
distributivo monopólio
Diretriz:
Livre mer-
cado (LM) intervencionis- INT intervencionis- superação da
LM LM INT INT LM LM INT (?) LM (?)
ou interven- mo em geral mo em geral ordem capitalista
cionismo
(INT)
ineficaz (no
curtíssimo eficaz no
prazo so-
Política mo- curto pra-
eficaz no curto eficaz no longo eficaz condicio- CP: eficaz mente se a eficaz (via cré-
netária eficaz Eficaz menos eficaz eficaz zo devido à NA
prazo prazo nalmente LP: ineficaz política não dito)
(Y, N) rigidez de
for antecipa- preços
da); LP: Ine-
ficaz
aproxima-se
Regra (R) mais de re- aproxima-
ou discri- R R D D R R gras do que D D D -se mais de NA
cionarieda- de discricio- regras
de (D) nariedade
Notas: (NA) não se aplica. (NUR) Taxa natural de desemprego. (OA) Oferta agregada. (DA) Demanda agregada. (CP) Curto prazo. (LP) Longo prazo. (D) Discricionariedade: as políticas macroeconômicas dependem das
avaliações e decisões dos formuladores de políticas. (R) Aplicação de regras na adoção de políticas macroeconômicas; regras anunciadas antecipadamente. Eficácia das políticas macroeconômicas refere-se ao impacto
sobre emprego e renda real.