Você está na página 1de 16

Nº 309 Abril de 2015 Órgão Oficial do Corecon-Rj e Sindecon-Rj

Petrobras e petróleo
Entrevista exclusiva
com Guilherme Estrela,
o descobridor do pré-sal,
e artigos de Paulo Metri, Claudio
Abramo, Mauro Santayana
e Wadih Damous discutem
Petrobras, pré-sal, mercado
mundial de petróleo
e impactos da Lava Jato.

Escolas da Macroeconomia Fórum Popular do Orçamento

Quadro-síntese encerra publicações Terceiro artigo sobre o OCA


dos 12 artigos da série aborda combate ao uso de crack
2 Editorial Sumário

Petrobras e petróleo Entrevista: Guilherme Estrella............................................................ 3


“Qual crise pode abalar uma empresa petrolífera
A crise na maior empresa brasileira levou o JE a tratar do tema da Petro- que detém mais de 30 bilhões de barris de reservas
bras. Buscamos uma abordagem alternativa à manipulação rasa e monocór- e possui conhecimento, tecnologia e excelência
dia apresentada ao público por grupos de mídia vinculados a interesses eco- operacional para produzi-los com excepcional lu-
nômicos e partidários e travestidos de cruzados anticorrupção.
O bloco temático começa com a entrevista de Guilherme Estrella, di- cratividade?”
retor de exploração e produção da Petrobras no período de 2003 a 2012,
quando a empresa apresentou a imensa riqueza do pré-sal. Pouco afeito a en- Petrobras e petróleo........................................................................... 8
trevistas, Estrella concordou em falar ao JE e apresentou ao longo de cinco Paulo Metri
páginas sua visão abalizada sobre a situação e o futuro da Petrobras e do mer-
cado mundial de petróleo, além de avaliar o potencial do pré-sal, o modelo Modelos de organização do setor de petróleo
de partilha, a construção de refinarias e o escândalo de corrupção na estatal.
Paulo Metri, do Clube de Engenharia, defendeu a manutenção do mo- Petrobras e petróleo......................................................................... 10
delo de partilha com as atuais prerrogativas de conteúdo nacional e partici- Claudio Weber Abramo
pação da Petrobras como operadora única e detentora de 30% de todos os
consórcios. A discussão é pertinente considerando que há um projeto de lei Desgoverno estrutural
do senador José Serra que retira da Petrobras a exclusividade de operação dos
campos do pré-sal. Petrobras e petróleo......................................................................... 12
Claudio Abramo, da Transparência Brasil, ressalta que o escândalo da Mauro Santayana
Petrobras confirmou as piores previsões que se faziam desde que se determi-
nou, em 1998, que a estatal contaria com um regime especial de licitações. A Petrobras e o fator político
O autor defende uma emenda constitucional que reduza a nomeação de
pessoas indicadas por partidos políticos a cargos na administração pública. Petrobras e petróleo......................................................................... 13
O respeitado jornalista Mauro Santayana avalia que, em uma situação
Wadih Damous
em que fosse considerada apenas a lógica produtiva e de mercado, a Petro-
bras estaria vivendo um excelente momento, o que só não acontece em fun- Estado de direito ameaçado
ção do fator político.
Wadih Damous, ex-presidente da OAB/RJ, afirma que a Operação La- Fórum Popular do Orçamento......................................................... 14
va Jato atenta contra direitos constitucionais. Os danos econômicos à Petro-
bras produzidos pela operação já são maiores do que os das condutas crimi-
Crack, um problema de saúde e social, nunca de
nosas que se pretende punir. segurança
O artigo do FPO é o terceiro de uma série dedicada a avaliar as políti-
cas públicas relativas ao Orçamento Criança e Adolescente (OCA) no Rio. Escolas da Macroeconomia............................................................. 16
O tema é Assistência Social, com destaque para o combate ao uso de crack.
A série Escolas de Macroeconomia, um projeto institucional do Core- Escolas de Macroeconomia: Quadro-síntese
con-RJ que contou com 12 artigos, chega ao fim nesta edição com a publi-
cação de um quadro-síntese comparativo dos entendimentos de cada escola
em relação a questões-chave. O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Pas-
Em linha com o tema desta edição, gostaríamos de registrar o nosso sarinho, de segunda à sexta-feira, das 9h às 10h30, na Rádio Livre, AM, do Rio, 1440
profundo pesar com o falecimento de Maria Augusta Tibiriçá Miranda, 97 khz ou na internet: www.programafaixalivre.org.br ou www.radiolivream.com.br
anos, veterana da histórica campanha “O Petróleo é nosso”.

Órgão Oficial do CORECON - RJ Presidente: José Antonio Lutterbach Soares. Vice-presidente: Sidney Pascoutto da Rocha.
E SINDECON - RJ Conselheiros Efetivos: 1º TERÇO: (2014-2016) Arthur Câmara Cardozo, Gisele Mello Sen-
Issn 1519-7387 ra Rodrigues, João Paulo de Almeida Magalhães – 2º TERÇO: (2015-2017) Antônio dos Santos
Magalhães, Gilberto Caputo Santos, Jorge de Oliveira Camargo – 3º TERÇO: (2013-2015) Car-
Conselho Editorial: Carlos Henrique Tibiriçá Miranda, José Ricardo de Moraes Lopes, Sidney Pas- los Henrique Tibiriçá Miranda, Sidney Pascoutto Rocha, José Antonio Lutterbach Soares. Con-
coutto da Rocha, Gilberto Caputo Santos, Marcelo Pereira Fernandes, Gisele Rodrigues, João Paulo selheiros Suplentes: 1º TERÇO: (2014-2016) Andréa Bastos da Silva Guimarães, Regina Lúcia
de Almeida Magalhães, Sergio Carvalho C. da Motta, Paulo Mibielli Gonzaga. Jornalista Responsá- Gadioli dos Santos, Marcelo Pereira Fernandes – 2º TERÇO: (2015-2017) André Luiz Rodrigues
vel: Mar­celo Cajueiro. Edição: Diagrama Comunicações Ltda-ME (CNPJ: 74.155.763/0001-48; tel.: Osório, Flavia Vinhaes Santos, Miguel Antônio Pinho Bruno – 3º TERÇO: (2013-2015) Cesar
21 2232-3866). Projeto Gráfico e diagramação: Rossana Henriques (rossana.henriques@gmail. Homero Fernandes Lopes, José Ricardo de Moraes Lopes, Sérgio Carvalho Cunha da Motta.
com). Ilustração: Aliedo. Revisão: Bruna Gama. Fotolito e Impressão: Ediouro. Tiragem: 13.000
exemplares. Periodicidade: Mensal. Correio eletrônico: imprensa@corecon-rj.org.br Sindecon - Sindicato dos Economistas do estado do RJ
Av. Treze de Maio, 23 – salas 1607 a 1609 – Rio de Janeiro – RJ – Cep 20031-000. Tel.: (21)2262-
As matérias assinadas por colaboradores não refletem, necessariamente, a posição das entidades. 2535 Telefax: (21)2533-7891 e 2533-2192. Correio eletrônico: sindecon@sindecon.org.br
É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta edição, desde que citada a fonte.
Mandato – 2014/2017
CORECON - CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIA/RJ Coordenação de Assuntos Institucionais: Sidney Pascoutto da Rocha (Coordenador Geral),
Av. Rio Branco, 109 – 19º andar – Rio de Janeiro – RJ – Centro – Cep 20040-906 Antonio Melki Júnior, Jose Ricardo de Moraes Lopes e Wellington Leonardo da Silva
Telefax: (21) 2103-0178 – Fax: (21) 2103-0106 Coordenação de Relações Sindicais: João Manoel Gonçalves Barbosa, Carlos Henrique Tibi-
Correio eletrônico: corecon-rj@corecon-rj.org.br riçá Miranda, César Homero Fernandes Lopes, Gilberto Caputo Santos.
Internet: http://www.corecon-rj.org.br Coordenação de Divulgação Administração e Finanças: Gilberto Alcântara da Cruz, José
Antonio Lutterbach, José Jannotti Viegas e André Luiz Silva de Souza.
Conselho Fiscal: Regina Lúcia Gadioli dos Santos, Luciano Amaral Pereira e Jorge de Oliveira Camargo

www.corecon-rj.org.br Jornal dos Economistas / Abril 2015


Entrevista: Guilherme Estrella 3

“Qual crise pode abalar uma empresa petrolífera que


detém mais de 30 bilhões de barris de reservas e possui
conhecimento, tecnologia e excelência operacional para
produzi-los com excepcional lucratividade?”
P: Que Petrobras vai emergir da
crise atual? Como você vê a em-
presa em médio e longo prazos?
R: Qual crise pode abalar uma
empresa petrolífera que detém
mais de 30 bilhões de barris de
reservas de petróleo e gás natu-
ral, possui conhecimento, tec-
nologia e excelência operacio-
nal para produzi-los em grandes
e crescentes volumes (hoje mais
de 2,8 milhões de bbl equivalen-
tes) com excepcional lucrativi-
dade – mesmo aos atuais preços
internacionais? Acrescente-se a
isto 11 refinarias (mais uma em
construção), três terminais de
GNL, duas fábricas de fertilizan-
tes e certamente o mais impor-
tante ativo estratégico a garan-
tir a sua sustentabilidade a longo
prazo, que é sua posição hegemô-
O geólogo Guilherme Estrella trabalhou na Petrobras por mais de 40 anos, nica num mercado praticamente
cativo de um dos mais importan-
quando exerceu vários cargos no Brasil e no exterior. De 2003 a 2012, foi di-
tes países do mundo, em todos os
retor de exploração e produção da estatal. Foi neste período que a Petrobras sentidos, e com gigantescas oportu-
e o governo federal divulgaram as informações sobre as imensas reservas nidades de permanente e contínuo
crescimento econômico e social,
brasileiras de petróleo e gás em águas profundas, o que valeu a Estrella a como já vem acontecendo?
designação de “descobridor do pré-sal” ou “pai do pré-sal”. Crise seria se o corpo de empre-
gados da Petrobras não estivesse a
Os serviços prestados por Estrella à sociedade brasileira e uma trajetória pro- demonstrar através de excepcionais
fissional sem máculas não o livraram da fúria inquisitória da grande imprensa resultados empresariais a compe-
tência, a dedicação e o compromis-
brasileira. Na edição do Jornal Nacional de 5 de fevereiro, Estrella foi acusado so com o Brasil e com a empresa
de ligação com o esquema de corrupção de Pedro Barusco, inverdade que foi em níveis como sempre de excelên-
cia profissional. Se isto estivesse a
desmentida no mesmo programa quatro dias depois com direito a um pedido ocorrer, aí sim, investidores, acio-
de desculpas de William Bonner. nistas e, mais importante, os cida-
dãos brasileiros teriam razões para
Avesso à exposição pública, Estrella concedeu esta entrevista exclusiva ao JE, perder a confiança na Petrobras
em que detalhou sua visão sobre a Petrobras, o pré-sal e o mercado de petróleo. Vejamos a mais recente con-

www.corecon-rj.org.br Jornal dos Economistas / Abril 2015


4 Entrevista: Guilherme Estrella

quista, pela terceira vez, a única em- te corrupta está finalmente a ser história adquiriu a independência e to dos países, quando não períodos
presa petrolífera do mundo a atin- identificada e devidamente puni- a autonomia para cumprir sua mis- de recessão e demolição das econo-
gir este feito: o prêmio maior da da pela justiça brasileira, num pro- são constitucional. Está definitiva- mias nacionais, como vimos prin-
indústria petrolífera mundial, na cesso criminoso que atinge a com- mente enterrada a era do “Engave- cipalmente na Europa, com as trá-
conferência de tecnologia offsho- panhia há décadas – como tem tador Geral da República”. gicas consequências sociais que
re (OTC), pelo megaprojeto de ex- sido confessado por muitos dos Resumo da ópera, os extraor- todos conhecemos. Logo, o petró-
ploração e produção do pré-sal. envolvidos – e que só agora está dinários resultados empresariais leo deveria estar em patamares bai-
É inquestionável, portanto, sendo corrigido exemplarmente. da Petrobras na última década, co- xos em relação ao passado pré-crise.
que o que está a acontecer justifica Na verdade, a repetir opinião mo de resto ao longo de seus mais O que diferencia o momen-
não a desconfiança, mas o contrá- de cidadãos brasileiros muito im- de 60 anos, desmascaram e põem to que estamos a atravessar são as
rio, o integral apoio do chamado portantes, reflexivos e conscientes a nu os reais objetivos desta cam- importantes descobertas de óleo e
“mais amplo público de interesse” de nossa importância como na- panha lesa-pátria em que insistem gás de “xisto” nas bacias sedimen-
da Petrobras nos destinos da com- ção neste século XXI, esta “crise” os poderosos defensores de interes- tares interiores norte-americanas,
panhia, ainda mais quando gen- – isso mesmo, entre aspas – é uma ses não brasileiros na tentativa de que passaram a desempenhar um
tentativa de desconstrução não só desestabilizar a Petrobras e o Brasil. item importante no suprimento
da Petrobras, mas do Brasil. do maior – de longe – consumi-
Há amplo reconhecimento in- P: Qual é a sua análise do mer- dor de energia do planeta.
ternacional que o nosso país es- cado mundial do petróleo no to- Neste contexto há dois pontos
tá destinado a transformar-se cante ao preço do barril? O pre- críticos para se refletir sobre um
num decisivo protagonis- ço tende a se estabilizar no baixo cenário prospectivo minimamen-
ta da cena geopolítica patamar atual ou se recuperar? te confiável.
mundial. Qual o custo de produção do O primeiro é que a demanda
Sem querer ser repe- barril do pré-sal hoje e como es- mundial não caiu – as previsões
titivo, não se está aqui a su- se custo deve evoluir nos próxi- continuam a apontar para o cres-
bestimar a total negatividade mos anos? O Brasil corre o risco cimento do consumo apesar da
da imoralidade que ocorreu na de “micar” com o pré-sal? crise econômica mundial.
Petrobras, mas este é o campo R: O registro histórico exibe uma O segundo é que preços baixos
de atuação da justiça brasileira marca incontestável, que é a peri- como o que estamos a praticar in-
que pela primeira vez em nossa ódica oscilação, para cima e para viabilizam a produção do óleo/gás
baixo, do preço do petróleo. de “xisto” norte-americano. As em-
A causa principal para as gran- presas de serviços especializados na
des altas é a instabilidade política indústria petrolífera já indicam que
das regiões produtoras mais im- as atividades de E&P nas bacias se-
portantes – leia-se Oriente Médio. dimentares norte-americanas estão
A causa maior das baixas mais ex- decrescendo significativamente, o
pressivas são as crises econômicas que traz certo realismo na previsão
globais. de que a produção do maior con-
O Oriente Médio está mergu- sumidor mundial chegou ao limi-
lhado numa crise sem fim, provo- te econômico e pode diminuir ra-
cada pela descarada intervenção pidamente.
de potências militares estrangeiras Estas considerações levam-
nas políticas internas dos países da -nos a considerar o atual pata-
região. Logo, o preço do petróleo mar de preços baixos como um
não deveria ter despencado. “ciclo”, que, repito, como nos
O mundo atravessa há mais mostram os dados históricos,
de uma década uma profunda cri- passará. Retornaremos a preços
se econômica que começou com a em patamares bem mais eleva-
criminosa crise do sistema financei- dos num futuro próximo.
ro norte-americano e se espalhou Um fato que reforça esta previ-
planeta afora, produzindo acentu- são é a manutenção, por parte do
ada queda nas taxas de crescimen- governo norte-americano, da proi-

www.corecon-rj.org.br Jornal dos Economistas / Abril 2015


Entrevista: Guilherme Estrella 5

bição de exportação do óleo pro- das mais importantes e estraté- sa e na competência de seu quadro
duzido em seu território nacional, gicas riquezas da nossa pátria, de empregados para a transforma-
que dá a entender que há incerte- absolutamente indispensável ção de seus imensos recursos em
zas concretas quanto à sustentabili- para que o Brasil, como nação riquezas que garantam o retorno
dade de sua produção interna. soberana e detentora real de au- adequado de seus investimentos.
Quanto ao pré-sal brasileiro, tonomia de decisão, se desen- São inúmeras as opiniões
nada a ameaçar sua produção. O volva social, econômica, tecno- que indicam haver outros inte-
chamado “CTPP” – custo total do lógica e politicamente. resses por detrás desta avalia-
petróleo produzido – da Petrobras ção e que o foco central destas
não só é muito atrativo em rela- P: Considerando a perda do avaliações seria concretamente
ção aos preços atuais como tende grau de investimento, a Petro- enfraquecer a empresa e tentar
a diminuir a partir dos resultados bras terá recursos para fazer os extinguir o marco regulatório
obtidos pelos programas de desen- investimentos necessários para do pré-sal, centrado na opera-
volvimento tecnológico e de me- cumprir as condições estipula- ção única por parte da Petro-
lhorias operacionais, iniciados há das no modelo atual de partilha bras. Portanto a Petrobras tem
mais de 10 anos, cujos impactos de exploração do pré-sal, que todas as condições necessárias
positivos no CTPP já são sentidos. prevê que a empresa será a ope- e suficientes para obter o finan-
Em relação a reservas de petró- radora e terá 30% de todos os cano, salvo pela módica mesada, ciamento destinado à implan-
leo e gás natural, a primeira e bási- campos? A Petrobras conseguirá durante anos, de US$ 85 bilhões tação de seus projetos e para o
ca, elementar lição que a realidade cumprir os cronogramas estipu- mantida pelo governo daquele pa- integral cumprimento de todos
geopolítica mundial concernente lados pela ANP? ís para empresas, bancos e outros. os seus compromissos, mais que
à segurança energética estratégi- R: Muito me impacta, como cida- Pois bem, estas mesmas “agências com a ANP, com o Brasil.
ca das nações nos dá é que não há dão brasileiro, a importância que de risco” avaliaram continuamen-
“micos” neste assunto. se dá, entre nós, às avaliações das te papéis do mercado financeiro in- P: Como você avalia a proposta
Ao contrário, as grandes potên- chamadas “agências de risco” e ou- ternacional como “AAA”, “triple de mudança do modelo de par-
cias mundiais surgidas ao longo do tros prestigiados analistas de mer- A” na língua deles, até que estes pa- tilha para o de concessão? O que
século passado têm nos ensinado à cado a respeito do Brasil e de nossas péis valessem zero! Esse pessoal não é melhor para a sociedade brasi-
exaustão que a identificação e apro- maiores empresas. O que são estas tem demonstrado competência pa- leira? Por quê?
priação de reservas petrolíferas no instituições e quem estas pessoas? ra cumprir, exercer minimamente R: Primeiro vamos analisar os fun-
planeta Terra, onde quer que exis- A que interesses se subordinam e o papel de avaliadores confiáveis a damentos básicos que diferenciam
tam, necessárias para a sustentabi- servem? Eu mesmo – pessoalmen- que se propõem. os dois modelos – concessão e par-
lidade e preservação de suas hege- te e num evento interno – cheguei Mesmo que se conceda con- tilha de produção – o que é muito
monias globais, são prioritárias em a ouvir a declaração de um destes siderar a opinião destas agências, simples. O ponto central de ambos
suas estratégias de segurança nacio- “profissionais” a recomendar que não faz qualquer sentido, agri- é representado pelo risco explora-
nal. E os exemplos estão aí a nos se comprassem ações da OGX e da de a mais rudimentar racionali- tório para se descobrir uma acumu-
mostrar à exaustão que as soluções HRT, “mais atrativas que as da Pe- dade econômica que a Petrobras, lação de óleo/gás cuja produção se-
adotadas para que isto lhes seja as- trobras”. Uma barbaridade sem ta- a maior empresa petrolífera mun- ja economicamente viável.
segurado extrapolam frequente- manho, mas acatada pela sinistra dial com ações em bolsa, com mais A estatística mundial apon-
mente o trabalho de seus geólogos, entidade chamada de “mercado”; de 30 bilhões de barris de reservas ta para índice de sucesso de poços
e passam a ser tratadas por seus ge- e muita gente honesta acreditou e totais de petróleo e gás natural e a exploratórios em torno dos 10%.
nerais e almirantes. Simplesmente colocou suas economias naquelas produzir mais 2,8 milhões de bar- Quer dizer, para cada 10 poços ex-
porque energia – leia-se petróleo e ações. Deu no que deu. ris equivalentes, tenha sua “avalia- ploratórios que as empresas pe-
gás natural – é ponto central da so- É indispensável que se veja o ção” diminuída. trolíferas perfuram, somente um
berania de qualquer nação impor- filme Trabalho Interno, do diretor Prova disto foi, no ano pas- resulta em descoberta que vai desa-
tante no mundo, como o Brasil. Charles Ferguson, premiado em sado, a Petrobras ter ido ao exte- guar num campo com produção de
Aliás, na opinião de muitos ana- 2010 em Cannes, Toronto e No- rior buscar financiamento e con- óleo/gás economicamente viável.
listas, a reativação da quarta frota va Iorque. O DVD está nas lojas já seguir US$ 8 bilhões e ter oferta Para correr este risco – que não
norte-americana – para o Atlântico há algum tempo. Conta nua e cru- de US$ 22 bilhões, a significar de é pequeno, principalmente pelo
Sul – está aí para não deixar dúvi- amente a história da crise econômi- forma inconteste a confiança dos elevado custo de perfuração dos
das quanto a isto. ca mundial que resultou na falência investidores externos na saúde fi- poços no mar, a maioria maior
O pré-sal brasileiro é uma do sistema financeiro norte-ameri- nanceira e econômica da empre- que US$ 60 milhões, não raro ex-

www.corecon-rj.org.br Jornal dos Economistas / Abril 2015


6 Entrevista: Guilherme Estrella

trapolando US$ 100 milhões – há geiras, mas foi a Petrobras que, de participação nos consórcios ven- nacional com extrema rapidez, co-
que se atrair o investidor com con- longe, conseguiu a maioria deles e cedores das licitações; e participar meçando pelo setor petrolífero, a
dições compensadoras. a empresa que, também de longe, – o governo brasileiro – nos con- exigir que a Petrobras “contrate no
No caso das concessões, este mais investiu em exploração na ba- sórcios através de uma empresa Brasil o que pode ser feito no Bra-
atrativo é a propriedade integral cia de Santos desde então. pública – a Petróleo Pré-sal. sil”. Logo em seguida surge o pré-
do petróleo e gás produzidos sem a Como resultado direto desta Esta estruturação do modelo -sal, a aprofundar a demanda por
imposição de condicionante polí- decisão de concreta retomada pe- garante ao país, tendo sua empre- novos equipamentos.
tica, social ou econômica por parte la Petrobras das atividades explo- sa como operadora – que é quem Certamente não é fácil dar es-
do poder concedente, no nosso ca- ratórias na bacia de Santos, logo tudo decide nos consórcios – o te pulo a partir de uma “terra ar-
so o Estado brasileiro. surgiram descobertas do pós-sal cumprimento de políticas gover- rasada” como era a situação da in-
O modelo de concessão tem co- (campos de Mexilhão – o maior namentais voltadas ao desenvolvi- dústria naval brasileira. Muitos
mo coluna de sustentação negocial campo de gás brasileiro – Uruguá mento científico, tecnológico e in- “avaliadores do contexto nacio-
o risco exploratório que o investi- e Tambaú, com óleo pesado “ti- dustrial brasileiro e a promoção de nal” externaram seu total ceticis-
dor enfrenta. Em caso de sucesso, po Campos”, mais tarde os cam- empresas genuinamente brasileiras mo quanto à possibilidade disso
ele é proprietário integral do petró- pos de Baúna e Piracaba) e depois em todo o amplo espectro da in- se materializar. Quebraram a cara,
leo e gás produzidos, sem qualquer – em águas ultraprofundas, mais dústria petrolífera. Assegura desta como sabemos. Estão aí os inúme-
interferência do concedente. de 2.000m de lâmina d’água – vá- forma a consolidação da engenha- ros navios de produção, barcos de
Agora considero importante rios megacampos (mais de um bi- ria verdadeiramente brasileira num apoio e navios petroleiros fabrica-
para a compreensão integral do ca- lhão de barris de reservas) de óleo setor estratégico para o país ao lon- dos nos estaleiros aqui localizados.
so brasileiro falar algo sobre o que leve no pré-sal – Lula, Sapinhoá, go deste século XXI. Mas o pré-sal trouxe uma novi-
aconteceu na nossa bacia de San- “Franco”, “Libra” e tantos outros. A proposta de desmonte des- dade entre suas necessidades mais
tos. Objeto de pesados investi- As descobertas do pré-sal por te modelo e retorno ao modelo essenciais: diferentemente dos na-
mentos exploratórios por parte da parte da Petrobras se deram em de concessão é lesiva, portanto, vios de produção – equipamentos
Petrobras, ainda sob o regime do todos os poços perfurados com aos reais interesses estratégicos cuja construção emprega tecnolo-
monopólio, as águas rasas desta aquele objetivo específico, revelan- nacionais e por isso representa gias correntes, dominadas – para
imensa bacia sedimentar brasilei- do que os exploracionistas da com- um inaceitável retrocesso pela perfurar em águas ultraprofundas
ra hoje totalmente submersa, sem panhia haviam construído com in- nação brasileira. exigem-se sondas de perfuração
dúvida a mais extensa bacia marí- questionável sucesso geocientífico superespeciais, de tecnologia ultra-
tima de nosso país, mostraram-se o que se denomina de “sistema pe- P: Considerando os problemas -avançada, principalmente na au-
em sua maior parte estéreis com trolífero”. A partir daí o risco ex- enfrentados pela Sete Brasil e ou- tomação e nos requisitos de segu-
respeito às condições geológicas ploratório desapareceu, eliminan- tros fornecedores e a queda no rança operacional.
mínimas para a ocorrência de acu- do o pilar principal do modelo de preço do barril, é viável manter as Como a faixa de águas ul-
mulações de petróleo e gás natural. concessão. Quando isto ocorre, em exigências de conteúdo nacional? traprofundas é a última frontei-
Aberta aos chamados contratos qualquer parte do planeta, o mo- R: O Brasil parou por décadas. ra exploratória para petróleo e gás
de risco na década de 70 do sécu- delo de concessão é imediatamen- Atravessou um longo período de natural do planeta, estas sondas es-
lo passado, houve apenas uma pe- te substituído pelo de “partilha de desindustrialização, mais do que peciais serão extremamente requi-
quena descoberta de gás em águas produção”, segundo o qual, em li- isso, de desnacionalização do par- sitadas ao longo deste século XXI
rasas – merluza – pela Shell, cuja nhas bem gerais, os governos na- que industrial que sobrou após e as dificuldades iniciais da Petro-
economicidade foi muito discuti- cionais tornam-se proprietários do este período. O país foi submeti- bras em contratar estes equipa-
da à época, mas que afinal foi de- petróleo e gás produzidos pelos do a um processo de privatização mentos comprovam isso.
senvolvida. Pouco mais tarde a campos descobertos e ressarcem as de suas empresas estatais acompa- Para permitir a produção
Petrobras descobriu óleo leve no empresas operadoras pelos gastos nhado pelo criminoso desmon- desta imensa riqueza nacio-
Paraná/Santa Catarina, os campos operacionais. te de seus respectivos órgãos de nal é indispensável a capacita-
de Coral, Estrela-do-mar e outros Mas o modelo de partilha es- pesquisa, desenvolvimento e en- ção da indústria naval brasilei-
campos pequenos, muito proble- colhido pelo governo brasileiro genharia (P,D&E). Só sobrou o ra, de maneira que o Brasil não
máticos e com baixas produtivida- adota características especiais: le- Cenpes, da Petrobras, que a onda dependa dos estaleiros no exte-
de e atratividade econômica. vando em conta ter sua empresa neoliberal-colonialista não conse- rior para construir estas sondas.
Com a quebra do monopólio, estatal como a principal operadora guiu arrastar, apesar dos enormes Dentro deste contexto absoluta-
em 1997, blocos em águas profun- em águas ultraprofundas de todo o esforços para isto. mente estratégico foi constituí-
das e ultraprofundas foram adqui- mundo, designá-la como operado- O governo que entra em 2003 da a empresa Sete Brasil. Trata-
ridos por várias empresas estran- ra única, com no mínimo 30% de decide retomar o desenvolvimento -se, portanto, de uma iniciativa

www.corecon-rj.org.br Jornal dos Economistas / Abril 2015


Entrevista: Guilherme Estrella 7

do mais alto interesse nacio- presas estatais e privadas, pequenas


nal brasileiro, e todas as medi- e gigantescas, instituições religio-
das que sejam necessárias pa- sas, bancos de todos os tamanhos,
ra torná-la realidade devem ser países organizados com este fim,
tomadas pelo governo brasilei- como um todo – alguns são cha-
ro, levando em conta que preços mados de “lavanderias” – enfim, é
atuais do petróleo não devem uma mazela que caracteriza a so-
afetar a imperativa necessidade ciedade humana, inclusive nos ór-
do Brasil de ser um país sobera- gãos que a sociedade criou para fa-
no e autossuficiente em energia. zer cumprir as leis e combatê-la.
Repito, todos sabemos disto.
P: Você acredita na retomada da Mas ter consciência desta rea-
construção das refinarias no Ma- lidade não significa aceitá-la, pe-
ranhão e Ceará e das ampliações lo contrário, e longe de mim que-
no Coperj e na Abreu e Lima ou rer ensinar isso a qualquer pessoa.
o abandono destes projetos é de- Trabalhei a vida inteira numa
finitivo? grande empresa e construí uma
R: O Brasil está entre as dez maio- opinião que – da mesma forma
res economias do mundo. Mas – nada tem de inédita tampouco
nosso consumo de energia per ca- Logo, novas refinarias deverão (re) estudos ou não. inovadora: são as pessoas, os se-
pita é extremamente pequeno. ser construídas para atender a O Comperj – localizado em res humanos os agentes, os cria-
Em dados de 2010 – não devem demanda doméstica de deriva- nossa região industrial mais desen- dores de um ambiente em que a
ser muito diferentes hoje – os va- dos. Como a produção nacional, volvida – é um importante ativo corrupção possa se instalar.
lores em tep/ano eram: mundo com o pré-sal e demais desco- em construção da Petrobras para a Minha experiência de vida en-
(1,83); OCDE (4,56); América bertas em águas ultraprofun- produção de matéria prima petro- sina-me uma realidade concreta: a
Latina (1,24); China (1,60); Rús- das ao longo de nosso mar ter- química e para a produção de com- simples existência de leis rigorosas
sia (7,50); Brasil (1,29). ritorial, excederá este volume, o bustíveis, principalmente diesel, ou “mecanismos” não evitam, por
Como consumo de energia Brasil deverá exportar, na mes- de que somos carentes. Seu projeto si só, a corrupção. Há que man-
equivale a qualidade de vida, po- ma época, cerca de um a dois original foi modificado para aten- ter-se um esforço permanente na
demos deduzir o abismo que exis- milhões de barris/dia de petró- der a estas exigências, e a produ- criação, preservação e valorização
te entre a qualidade de vida de um leo bruto. Agregar valor, pelo ção do óleo do pré-sal da bacia de coletiva de ambientes de trabalho
brasileiro e a de seu igual em qual- refino, a este excedente nacional Santos, com sua elevada razão gás/ – no caso das instituições de todos
quer dos países que compõem o será indispensável e estas novas óleo, é crítica, decisiva para garan- os tipos – cuja cultura rejeite, por
grupo das 10 maiores economias refinarias atenderão a estas im- tir a viabilidade do projeto. princípio e valores fundamentais,
mundiais, o que é uma realidade posições econômicas para valo- qualquer iniciativa que, de algu-
concreta. rizar nossas exportações. P: Que medidas a Petrobras de- ma forma, facilite o desvio de con-
Logo, mantido o processo de As regiões nordeste e norte- veria ter tomado no passado, e duta que desague em corrupção e
desenvolvimento econômico-so- -oceânica brasileiras carecem de não tomou, visando o combate à que, paralelamente, na mesma in-
cial que estamos a experimentar refinarias para suprir seu próprio corrupção na empresa? A Petro- tensidade, seja completamente in-
na última década, nosso consumo consumo. Ao mesmo tempo, por bras criou mecanismos para im- tolerante com qualquer postura de
de energia per capita deve crescer localizarem-se ao longo da linha pedir a repetição destes casos? impunidade em relação a atos de
em taxas muito elevadas ao longo do Equador e às portas do Atlânti- R: Corrupção é um problema corrupção. De modo que seja por
da primeira metade deste século. co Norte, com suas economias al- universal, como sabemos todos. todos muito bem entendida a ideia
Dentro deste contexto, leia-se con- tamente consumidoras de energia, Existem inclusive “agências” que de que toda e qualquer tendência
sumo de gás natural e de derivados refinarias ali localizadas – além da “medem” índices de corrupção. de qualquer pessoa a atos ilegais
de petróleo. Abreu e Lima – serão importantes Corrupção ocorre nas famílias – não será de forma alguma aceita
Gente do ramo conside- para exportar seus produtos. Não famílias reais, inclusive, e por que - mais do que isso, será exemplar-
ra que o Brasil – um país sobre tenho dúvidas quanto a estas pre- não? – clubes, instituições e gru- mente punida. E que todos, verda-
pneus – deverá consumir entre missas. Agora, capacidade produ- pamentos humanos de todos os ti- deiramente todos saibam, enten-
cinco e seis milhões de barris de tiva, (re) localização e época de pos, governos também de todos os dam, conheçam e pratiquem estas
petróleo/dia por volta de 2030. construção podem ser objeto de tipos, democracias, ditaduras, em- diretrizes.

www.corecon-rj.org.br Jornal dos Economistas / Abril 2015


8 Petrobras e petróleo

Modelos de organização
do setor de petróleo
Paulo Metri* lio, para evitar o seu uso políti- US$12, para reduzir a dependên- uma camada de sal de 2.000 me-

U
co e corporativo. A afirmação que cia do Brasil ao petróleo impor- tros. Só uma petrolífera do Esta-
m modelo de organização “o monopólio é prejudicial à socie- tado, que chegava a 85%. De- do, que tem como lógica o benefí-
do setor de petróleo, para dade, porque a empresa monopolis- senvolveu fornecedores nacionais cio da sociedade, realiza este feito.
ser adotado por um país, ta fixa livremente o preço de venda para evitar compras no exterior. Por interferência do capital in-
deve conter o máximo de impactos dos seus produtos” só é verdade para Priorizou desenvolver tecnologia ternacional, através de políticos en-
sociais positivos e o mínimo de ne- um monopólio privado. Um mo- no país, o que já lhe rendeu três treguistas, o monopólio foi extin-
gativos. Alternativas de modelo não nopólio estatal controlado pela so- premiações da Offshore Technology to em 1995. Havendo a imposição
devem ser analisadas olhando-se só ciedade não a extorque. Conference e muita economia de de empresas privadas participarem
um aspecto, como é o caso frequen- O monopólio estatal pode ser divisas. Se o monopólio não tives- da exploração e produção de pe-
te do uso do aumento da atividade usado como instrumento eficaz se sido criado, o Brasil seria, desde tróleo, existem no mundo três mo-
econômica, resultante dos modelos, para a consecução de políticas pú- 1953, o paraíso das empresas es- delos de contratação delas: a con-
para que a decisão seja tomada. As- blicas, o que é impossível através trangeiras. Aí, o Pré-Sal ainda não cessão, o contrato de partilha da
sim, a melhor opção pode ser lucra- de empresas privadas. Por exem- teria sido descoberto, pois o petró- produção e o de prestação de servi-
tiva para as empresas e não acarretar plo, a Petrobras foi explorar petró- leo não está escasso a ponto de elas ço. Como não existe, no Brasil, pe-
grande benefício social. leo na bacia de Campos, nos anos irem buscá-lo a 7.000 metros de trolífera privada nacional que con-
Os seguintes critérios de ava- 1970, quando o barril custava só profundidade, tendo que transpor siga competir com a Petrobras e as
liação dos modelos, para apoiar o
processo de escolha, são sugeridos
a seguir. O modelo deve: (1) prio-
rizar a posse pelo Estado brasileiro
do máximo de petróleo produzido,
visando à realização de ações estra-
tégicas; (2) maximizar a arrecada-
ção de tributos para permitir ao Es-
tado suportar programas sociais;
(3) minimizar o preço de venda dos
derivados de maior consumo pela
classe pobre; (4) gerar o máximo de
compras e empregos no país, com
ênfase na fase de implantação dos
empreendimentos; (5) contratar
ao máximo no Brasil os serviços de
desenvolvimento tecnológico e de
engenharia; (6) minimizar a possi-
bilidade de acidentes em unidades
operacionais e de transporte e os
impactos ao meio ambiente.
O primeiro modelo do setor
do petróleo a ser considerado é o
do monopólio estatal, que maxi-
miza os benefícios sociais em um
país em desenvolvimento, des-
de que haja controle social sobre
a estatal executora do monopó-

www.corecon-rj.org.br Jornal dos Economistas / Abril 2015


Petrobras e petróleo 9

estrangeiras em águas profundas, Noruega e Reino Unido, que têm das reservas para alavancar seu de- al da Petrobras satisfaz a deman-
a contratação aqui é destas duas, reservas e adotam o modelo da senvolvimento. da nacional. Contudo, pode-se
consorciadas ou não. concessão, porque a maioria das Olhando as escolhas pela con- aumentar a produção do Pré-Sal,
Nas concessões, a empresa pe- petrolíferas de porte, muitos for- cessão ou o contrato de partilha, acima do acréscimo de demanda,
trolífera fica com a posse total do necedores e centros de desenvol- já feitas pelos países em desenvol- para permitir ao Brasil exportar e
petróleo descoberto e paga tributos. vimento tecnológico do setor pe- vimento, a regra que pode ser de- acumular divisas. Mas, para a ex-
Se não descobrir petróleo, os inves- trolífero têm sede nestes países. Os duzida é que aqueles com maior portação ocorrer com o máximo
timentos realizados não são ressarci- Estados Unidos proíbem a expor- grau de soberania escolhem os con- usufruto da nossa sociedade, a em-
dos pelo Estado. Nos contratos de tação do seu petróleo, não permi- tratos de partilha e os com baixo presa exportadora precisa ser a Pe-
partilha da produção, a empresa pe- tindo que empresas, visando uma grau se subordinam às concessões. trobras. Os entreguistas argumen-
trolífera, descobrindo petróleo, terá maior lucratividade no curto pra- A argumentação de que em áreas de tam que ela não tem capacidade
posse só da sua parcela da produção, zo, contribuam para um desabas- maior risco, as empresas estrangei- financeira para explorar sozinha a
constante do acordo de partilha. O tecimento futuro. Isto não ocorre ras só se motivam a participar se ti- região, o que é verdade para os ní-
restante do petróleo ficará com o no Brasil, pois, quando só exis- verem concessões, é compreensível. veis de produção que eles não ex-
Estado. A empresa poderá ainda pa- tiam reservas garantidas para 17 Mas isto não significa que elas não plicitam. Ao nível de produção de
gar tributos sobre a sua parcela. Se anos, empresas estrangeiras expor- venham a fechar contratos de par- máxima satisfação da sociedade, a
não descobrir petróleo, os investi- tavam suas produções do Brasil. tilha. Com dados de 2004, África Petrobras tem capacidade.
mentos realizados pelo contrata- A Noruega e o Reino Unido do Sul, Argentina e Peru tinham só Sendo politicamente difícil re-
do não são ressarcidos pelo Estado. adotam as concessões, mas tomam concessões. Angola, Bolívia e Egi- vogar a lei dos contratos de parti-
Nos contratos de prestação de ser- medidas de repercussão social. A to tinham só contratos de partilha. lha, o capital internacional busca
viços, a empresa petrolífera não terá Noruega destina as áreas com gran- Argélia, Colômbia, Nigéria e Rússia derrubar pontos positivos desta lei,
posse do petróleo descoberto e será de expectativa da existência de pe- tinham concessões e contratos de como a obrigatoriedade de a Petro-
remunerada pelos serviços prestados tróleo para a estatal Statoil, res- partilha. Países podem ter conces- bras ser a operadora única do Pré-
de prospecção, perfuração, produ- tando áreas menos nobres para as sões da época de administrações ne- -Sal, dela ter 30% em todos os con-
ção e outros. Se não for descoberto petrolíferas estrangeiras e, mesmo oliberais e contratos de partilha de sórcios desta área e as exigências de
petróleo, será remunerada da mes- assim, com a imposição eventual períodos com administrações sobe- conteúdo nacional. A operadora
ma forma pelo Estado. de participação da Statoil. No Bra- ranas, que deve ser o caso da Rússia. em qualquer consórcio é a respon-
A concessão tende a beneficiar sil, só recentemente, o artigo 12 da Os contratos de serviço podem sável pelas compras do consórcio e,
mais as petrolíferas em detrimen- lei do contrato de partilha foi usa- ser prestados para o Estado dire- sendo a Petrobras, sabe-se que as
to do Estado, enquanto, no contra- do, permitindo a entrega direta de tamente ou para estatais do setor. compras no Brasil serão maximiza-
to de partilha, o maior beneficiário áreas para a Petrobras, para tristeza Neste caso, tem-se grande controle das. E não existe operadora de con-
tende a ser o Estado. Supondo que do capital internacional, que que- do Estado sobre o setor. As petrolí- sórcio que detenha menos de 30%
este irá repassar o acréscimo de be- ria vê-las leiloadas. feras estrangeiras não gostam de ser de participação.
nefícios para a sociedade, então o No Reino Unido, quando a ex- assim contratadas porque isso res- A lei das concessões tem embu-
contrato de partilha é melhor para ploração do Mar do Norte come- tringe seus ganhos e não há o rece- tida a pressa de interesse das empre-
ela. Muitos porta-vozes de grupos çava, foi criado o órgão governa- bimento de parcela alguma do óleo sas estrangeiras. A ANP não busca
estrangeiros dizem, buscando con- mental Offshore Supplies Office, que produzido. O Irã só usa este tipo de baixar a frequência dos leilões, cuja
fundir a população, que os contratos determinava aos concessionários contrato. O México o usava, mas, necessidade não é explicada para a
de concessão são mais comuns entre onde, neste Reino, alguns equipa- como o monopólio estatal foi der- sociedade. Enfim, existe muito en-
os países desenvolvidos e os contra- mentos deveriam ser comprados. rubado recentemente, a concessão tulho neoliberal no setor. Um pon-
tos de partilha da produção são ado- Uma atitude análoga no Brasil seria deve estar sendo usada. A Venezuela to é crucial: não podem mais existir
tados com mais frequência por pa- considerada cerceamento da liber- tem contratos de partilha e de servi- leilões de áreas na região do Pré-Sal,
íses em desenvolvimento. Este fato dade empresarial. A política brasi- ços. Países do Oriente Médio, ainda que a Petrobras descobriu e conhece
realmente ocorre, mas a intenção ao leira de conteúdo local é baseada nos anos 70, nacionalizaram seus se- bem. Estas áreas devem ser entregues
divulgá-lo é dizer que a concessão é na indução para a compra no país e tores petrolíferos. A Líbia e o Iraque a ela diretamente, seguindo o artigo
melhor que o contrato de partilha. não veta a compra no exterior. Ain- invadidos têm seus setores de petró- 12 da lei da partilha, adequando a
A maioria dos países desenvol- da assim, é combatida pela mídia, leo tutelados, o que representa a op- necessidade de investimentos ao flu-
vidos não tem reservas, como é o que representa o capital internacio- ção de desorganização do setor. xo de caixa da empresa.
caso da Alemanha, Japão, Fran- nal, visando maximizar seus lucros O abastecimento do Brasil,
ça, Itália e Coréia do Sul. As exce- e pouco se importando com o pa- graças ao Pré-Sal, está garantido * É mestre em Engenharia Industrial e
ções são Canadá, Estados Unidos, ís que quer aproveitar a existência por muitos anos. A produção atu- conselheiro do Clube de Engenharia.

www.corecon-rj.org.br Jornal dos Economistas / Abril 2015


10 Petrobras e petróleo

Desgoverno estrutural
Claudio Weber Abramo* noções de moralidade, melhor fa- vam exatamente as empresas que

O
ria se refletisse novamente. haviam sido indagadas.
escândalo da Petrobras, De volta à Petrobras, a existên- Semelhante comportamento,
posto a nu pela operação cia de um regulamento para licita- que não resiste à primeira análise,
Lava-Jato, confirmou as ções permissivo, aliada à consciên- é a norma no Brasil.
piores previsões que se faziam des- cia de que a eficiência em compras Outro aspecto que se constatou
de que se determinou, em 1998, é componente central da eficiência no caso Siemens foi a virtual ausên-
que a estatal contaria com um re- geral da empresa, deveria de for- cia de controles. Sequer há disponi-
gime especial de licitações. ma natural levar à implantação de bilidade dos documentos internos
Desde aquela época se tem mecanismos de acompanhamento de registro das decisões tomadas ao
apontado que o regulamento da e controle capazes de enfrentar os longo do processo de compra de
Petrobras contém inúmeras bre- riscos de direcionamento. É o que trens e encomenda de reformas em
chas para o direcionamento de su- se faria em qualquer empresa. composições existentes: as compa-
as compras. O que a Lava-Jato desvendou nhias não os arquivavam.
Compras são assunto estraté- é que tais mecanismos simples- Ignora-se se a Petrobras tem si-
gico em qualquer empresa, pois mente inexistem na estatal. Da- do gerida com o mesmo grau de
têm impacto direto em sua efici- do que as regras para encomen- irresponsabilidade, mas pelo sim,
ência alocativa. Comprar mal sig- dar refinarias são as mesmas que informações usadas nos processos pelo não, o mais prudente é ima-
nifica, no final das contas, erosão governam a compra de copinhos decisórios e a checagem sistemática ginar o pior.
de resultados. plásticos, papel para impressora e dos elos da cadeia decisória. As providências iniciais toma-
Em qualquer empresa é agu- todo o resto dos milhares de bens Assim, o levantamento per- das pelo governo federal na Petro-
da a consciência de que uma das e serviços necessários para tocar manente de preços praticados no bras parecem indicar intenção sa-
formas de pagar mais caro por al- uma empresa com mais de 70 mil mercado, a prospecção de forne- neadora. Criou-se uma diretoria de
go que poderia ser comprado mais funcionários, pode-se especular cedores onde quer que estejam e governança que, embora (ao tem-
barato se dá pelo mecanismo de com razoável dose de convicção a submissão de decisões de gesto- po em que estas linhas são escritas)
o vendedor do fornecedor de um que não há caneta esferográfica res à crítica são elementos que não ainda não se conheça os poderes, te-
bem ou serviço pagar um suborno usada na Petrobras que não car- podem faltar. ria como função instituir melhores
ao comprador da empresa para es- regue um sobrepreço oriundo de Observe-se que não é costumei- controles internos (além de outras
te direcionar-lhe as compras. propina paga ao funcionário res- ro, no poder público brasileiro, se responsabilidades cosméticas, do ti-
Por isso, os antigos códigos de ponsável pela compra. prospectar preços de mercado. Co- po compliance verbal, que de pouco
conduta de empresas sempre in- Como nesse tipo de coisa é so- mo se levantou no caso Siemens serve para qualquer coisa material).
cluíam advertências quanto a isso. cioeconomicamente impossível em São Paulo (por insistência da O governo também levou ao
A propósito, tipicamente, tais que indivíduos ajam de forma iso- Transparência Brasil, diga-se), “pre- Conselho dde Administração da
códigos jamais mencionavam a lada, pode-se também inferir que ços de mercado” costumam ser en- estatal o advogado Luiz Navarro,
situação complementar, a saber, as áreas de compras da Petrobras tendidos como “preços ofertados”, que foi durante anos o secretário-
vedações a seus próprios vende- são dominadas por quadrilhas es- e não “preços praticados”. -executivo da Controladoria-Ge-
dores pagarem propinas aos com- truturadas. Naquele escândalo, envolven- ral da União. De todas as pesso-
pradores de seus clientes. Usar Se existe real intenção do con- do o mercado metro-ferroviário, as envolvidas com o processo de
dois pesos e duas medidas pa- trolador da Petrobras (o governo, verificou-se que, para determinar saneamento da empresa, é o que
ra a mesma interação caracteriza representando a União) de sanear os preços de referência para suas li- mais experiência tem na preven-
uma situação que só se pode des- a empresa, a segunda providência citações, os compradores (a Com- ção e combate à corrupção.
crever como esquizofrênica, pois crucial a tomar (sobre a primeira ver panhia do Metrô e a Companhia Resta saber se tais medidas de
o conjunto geral de compradores mais abaixo) é montar mecanismos de Trens Metropolitanos) pergun- natureza administrativa não serão
e vendedores compõe uma só co- internos de prevenção e controle tavam aos fornecedores por quan- neutralizadas pela ausência da se-
munidade de indivíduos. que não sejam só para inglês ver. to ofereceriam bens e serviços nu- gunda providência que se exigiria:
É o caso de anotar: quem su- Qualquer mecanismo adminis- ma licitação. Usavam as respostas a eliminação da distribuição políti-
põe que a condução de negócios trativo desse tipo precisa basear-se para fixar os preços de referência ca dos cargos de responsabilidade na
incorpora, em alguma medida, em dois aspectos: a qualidade das para licitações de que participa- estatal, raiz do esquema Lava-Jato.

www.corecon-rj.org.br Jornal dos Economistas / Abril 2015


Petrobras e petróleo 11

O loteamento de cargos na ca dos cargos, os partidos se com- lítico deseja ao controlar uma di- doleiros e fornecedores da estatal,
administração entre partidos po- prometem a votar com o gover- retoria de estatal, uma superin- enquanto na página ao lado trans-
líticos é o mecanismo de “gover- tno e, principalmente, eximir-se tendência regional do INSS ou do corria a descrição das idas e vindas
nabilidade” (como se costuma, de fiscalizá-lo. Departamento Nacional de Infra- do loteamento de cargos no go-
equivocadamente, dizer) central Isso não apenas comprome- estrutura de Transportes? Ou uma verno federal (quanto aos gover-
dos governantes brasileiros das te de modo terminal a eficiên- subprefeitura? nos estaduais recém-eleitos, afeta-
três esferas. Do último dos muni- cia administrativa como constitui Boa coisa não é, e o noticiário dos pelos mesmíssimos problemas
cípios ao governo federal, o gover- um dos elementos importantes na político, transmudado em crônica e condutores do mesmíssimo lote-
nante adquire o apoio de partidos desmoralização dos partidos polí- policial, mostra o que, de fato, a car- amento, manteve-se o usual silên-
nos respectivos parlamentos por ticos como representantes de ten- tolagem partidária e os membros do cio noticioso).
meio da distribuição de cargos. dências ideológicas na sociedade. Legislativo querem com tudo isso. O loteamento político é con-
O negócio é simples: em tro- O que, afinal, um partido po- É sintomático que, tendo o ca- sequência direta da liberdade que
so Lava-Jato eclodido no período governantes têm de nomear pesso-
pós-eleitoral, numa página se no- as livremente para ocupar cargos
ticiava sobre relações escusas entre na administração, por sua vez ga-
partidos, diretorias da Petrobras, rantida explicitamente na Consti-
tuição (Art. 37, Inciso V).
A partilha dos cargos é origina-
dora de ineficiências de toda na-
tureza, resultando em desempe-
nho governamental sub-standard.
É também responsável por mais
uma – ou várias – voltas no para-
fuso da falta de representatividade
de partidos políticos.
Por isso, é nada menos que es-
pantoso que a conversa sobre “refor-
ma política” deixe a questão de lado.
Que os políticos prefiram escamote-
ar o assunto é compreensível: nin-
guém quer mudar um estado de
coisas que o beneficie. Não é, contu-
do, inteligível que observadores do
Estado, e em particular a imprensa,
persistam em ignorar o assunto.
Caso a liberdade de nomea-
ção não seja drasticamente redu-
zida por emenda à Constituição,
nenhuma providência adminis-
trativa conseguirá contrabalançar
a ineficiência que provoca, não só
em estatais como em toda a admi-
nistração pública do país.

* Claudio Weber Abramo é vice-presi-


dente da Transparência Brasil. É bacha-
rel em Matemática (USP) e mestre em
Filosofia da Ciência (Unicamp). É au-
tor de artigos em publicações acadêmi-
cas nacionais e internacionais a respeito
do tema da corrupção e seu combate, e
colabora frequentemente para órgãos da
imprensa como articulista.

www.corecon-rj.org.br Jornal dos Economistas / Abril 2015


12 Petrobras e petróleo

A Petrobras e o fator político


Mauro Santayana* em que o grande foco é o mercado bertos – que têm sido várias vezes

A
interno, com o aumento paulatino multiplicadas pela mídia e por to-
questão da Petrobras man- da produção nacional de petróleo e do o tipo de “fontes” e “analistas”
tém, neste momento, a si- a de refino, só tende a ajudar a Pe- – e que a está empurrando para a
tuação do país em suspenso. trobras, com a recuperação de suas realização de desinvestimentos. Is-
Trata-se não apenas de um proble- margens de lucro no futuro. so é muito mais grave do que as su-
ma jurídico, mas do futuro da nossa Com relação ao mercado in- as perspectivas reais de produção e
maior empresa nacional e de deze- ternacional, em médio prazo, a re- de mercado, mesmo quando leva-
nas de setores da economia brasi- composição do preço do petróleo da em consideração a situação vi-
leira, que vão da indústria naval à tende a ocorrer por várias razões. vida neste momento pela indústria
química, com implicações de toda Primeiro, a concorrência do petró- de óleo e gás em todo o mundo.
ordem e a ameaça de eliminação de leo saudita mais barato com o óleo Essa é uma situação que só po-
milhares de empresas e empregos. e o gás de xisto dos EUA, que pode deria ser minorada, por exemplo,
Mas os problemas vão além diminuir a oferta de produção lo- se a empresa tomasse uma deci-
dos casos de corrupção na empre- cal no maior mercado do mundo. são que revertesse as expectativas e
sa? Como poderia estar sua situa- Em segundo lugar, pela pres- tensão na Ucrânia, que pode vir a contornasse os problemas que tem
ção se não fosse isso? são de outros membros da OPEP prejudicar o fornecimento russo tido nas bolsas ocidentais e com a
Do nosso ponto de vista, a que- para que haja corte na produção. de gás para a União Europeia. má vontade de agências de qualifi-
da do petróleo não atrapalha a ex- Em terceiro lugar, pela diminui- Em uma situação normal, em cação como a Moody´s.
ploração do pré-sal para a Petro- ção dos estoques norte-americanos que fosse considerada apenas a ló- Esse seria o caso, por exemplo,
bras, porque o grande mercado da e chineses, que deve ocorrer devido gica produtiva e de mercado, a Pe- do estabelecimento de uma alian-
Petrobras é o brasileiro. O que ba- ao aquecimento da economia dos trobras estaria vivendo um exce- ça que lhe garantisse a obtenção
liza o preço que a Petrobras obtém EUA e das exportações chinesas, lente momento. de recursos e de apoio alternativos
pelo óleo extraído no pré-sal ou pe- como já se viu no início deste ano. A expectativa negativa criada – para a execução dos projetos que
lo óleo que ela troca pelo petróleo Depois, vem a possibilidade em torno da empresa, no entan- estão em andamento – com par-
do pré-sal lá fora é o custo final do de recuperação da economia euro- to, gerou uma posição institucio- ceiros alternativos que fossem fi-
combustível no mercado nacional. peia, caso seja bem sucedido o pa- nal que não condiz com as perdas nanceira e tecnicamente podero-
É a Petrobras que forma o pre- cote de estímulo do BCE, e, por efetivamente detectadas até agora sos, como a China.
ço do petróleo no mercado brasi- último, a de haver um aumento da com os casos de corrupção desco- A Petrobras tem excelente tec-
leiro, e essa condição de formação nologia (acaba de ganhar, pela ter-
de preço só se veria ameaçada se ceira vez, o maior prêmio do mun-
houvesse importação de combus- do, outorgado pela OTC, nessa
tível em enorme escala por empre- área), produção e gigantescas re-
sas concorrentes, para substituir a servas de petróleo e gás, em as-
produção nacional da empresa. censão neste momento, e uma si-
Essa é uma possibilidade dis- tuação predominante em um dos
tante, que não poderia se dar sem maiores mercados do mundo.
um tremendo esforço logístico, A única coisa que pode atrapa-
que implicaria, por sua vez, no lhá-la é o fator político.
aumento do custo, diminuindo a
margem de lucro de suas concor- * Vencedor do Prêmio Esso de Reporta-
rentes, o que neste momento não gem de 1971 e ex-correspondente no ex-
terior do Jornal do Brasil e da Folha de
interessaria a ninguém. São Paulo, trabalhou em várias publica-
O grande problema é o câm- ções como Gazeta Mercantil, Correio Bra-
bio, considerando-se que muitos ziliense, Última Hora e Revista Manchete.
dos insumos e serviços da Petro- É articulista do Jornal do Brasil Online, da
Revista do Brasil, da Carta Maior e do Jor-
bras são importados. Mas ainda as-
nal Hoje em Dia e mantém o blog www.
sim, a manutenção desse quadro, maurosantayana.com.

www.corecon-rj.org.br Jornal dos Economistas / Abril 2015


Petrobras e petróleo 13

Estado de direito ameaçado


Wadih Damous* O processo judicial se transfor- e desnecessárias, como a requisi-

E
ma em espetáculo. O juiz do pro- ção do tesoureiro do PT, já que ele
m nome do combate à cor- cesso vira herói nacional sob a luz não havia se recusado a compare-
rupção cometem-se aten- dos holofotes e afagos da mídia. cer para prestar depoimento; 6)
tados de toda sorte à or- As “confissões” obtidas se trans- desconsideração das consequên-
dem jurídica. formam automaticamente em ver- cias sociais e econômicas das de-
O desenvolvimento da cha- dade e ganham as manchetes dos cisões, pois os danos econômicos à
mada Operação Lava Jato mostra jornais. Permitem-se vazamentos Petrobras produzidos com a con-
como, de forma paulatina, o es- criminosos e seletivos que man- dução do procedimento e divul-
tado de exceção vai contaminan- charão por toda a vida a honra dos gação seletiva das investigações já
do as práticas judiciais, os atos do atingidos, ainda que considerados, são maiores do que os das condu-
Ministério Público e o comporta- ao final, inocentes. tas criminosas que se pretende pu-
mento da polícia. Além dessas máculas, alguns nir; 7) provas produzidas sem res-
Mas as consciências também colegas advogados apontam ou- peito ao devido processo legal.
vão sendo contaminadas. Boa par- tras diversas irregularidades prá- E diga-se mais. A delação pre-
te da população está convencida ticas na condução da ação penal: miada é abertamente inconstitu- de provar os fatos que ensejam a
de que contra a corrupção vale tu- 1) prisões desnecessárias, sem que cional porque fere, entre outros, os acusação cedem lugar à teoria do
do. Direitos constitucionais dura- existisse risco à efetividade do pro- princípios da moralidade pública, domínio fato, mal e porcamente
mente conquistados pela demo- cesso, ou seja, o sucesso das inves- da isonomia e do contraditório, já importada do direito alemão.
cracia são tidos como obstáculos tigações não requer a efetivação de que os delatados e a sua defesa não A esperança de que isso não
à “santa cruzada”. Amplo direito prisões; 2) as prisões são utiliza- têm acesso ao ato de delação nem a aconteça é o Ministro Teori Za-
de defesa, presunção de inocência das como instrumento de coação chance de confrontar o delator. Le- vascki, que se mostra bastante di-
e outras garantias individuais, na para obter confissões e delações; gitima-se a hipótese da pena sem ferente – ainda bem! – de Joaquim
prática, estão revogados. 3) violação de regras de compe- obediência a limites éticos e jurídi- Barbosa. O ministro Teori é aves-
A grande imprensa cumpre um tência: nem todos os fatos investi- cos, como nos “velhos tempos”. so a holofotes e, ao que se sabe,
papel lamentável nesse cenário. A gados são da competência do juiz Tenta-se consolidar um padrão não se intimida com clamores da
mídia transformou-se em partido Sergio Moro; 4) desconsideração jurisprudencial inaugurado no “opinião pública” insuflados pela
político. E de oposição. Fomenta de formalidades processuais que julgamento do chamado “mensa- grande mídia.
ódio, fabrica “inimigos do povo” são garantia contra a opressão do lão”, onde os direitos fundamen- O quadro sombrio que se de-
e articula e incentiva abertamente Estado; 5) medidas de força ilegais tais dos acusados e a necessidade senha é considerar o Estado de
manifestações de natureza golpis- Direito, a Democracia, a Consti-
ta. Aliás, o comportamento da im- tuição e as leis como incompatí-
prensa nos dias que correm é bem veis com o combate à corrupção.
parecido com o método que ado- A conclusão é enganosa. A nossa
tou nas vésperas do golpe de 1964. ordem jurídica contém um arsenal
de normas e princípios suficientes
para o enfrentamento, que se faz
necessário, dos saqueadores do di-
nheiro público.
Agredir o Direito não levará ao
êxito da empreitada. Antes, pelo
contrário: significará a derrota da
Democracia e o reconhecimento
absurdo de que o crime só se com-
bate se nos livrarmos da Consti-
tuição, que só “atrapalha”.

*Advogado. Ex-presidente da OAB/RJ.

www.corecon-rj.org.br Jornal dos Economistas / Abril 2015


14 Fórum Popular do Orçamento

Crack, um problema de saúde


e social, nunca de segurança
Em razão de sua conduta (com as samento pode ser ligado a pre- levadas forçosamente para abrigos ta e complexo, que envolve, além
drogas), a criança deverá ser inclu- conceitos bem antigos da cultura tiveram êxito no tratamento. Ou dos profissionais da saúde, a pró-
ída em programa de auxílio, orien- ocidental, como descreve Foucault seja, das 200 crianças já acolhidas, pria comunidade.
tação e tratamento a alcoólatras e (2004), dizendo que, antes do sé- apenas 50 alcançaram a tão fala- No caso da faixa etária em
toxicômanos. culo XVIII, “Hospital servia para da reinserção social. Os dados in- questão, existem os CAPS infan-
(Estatuto da Criança e do recolher pobres e proteger a socie- dicam ainda que outros 59,7% fu- tis (CAPSi), voltados para crian-
Adolescente, artigos 98 e 101) dade do perigo que eles represen- giram dos abrigos mantidos pela ças e adolescentes que possuem
tavam”. Ao longo da história, no Prefeitura do Rio para onde foram sofrimento mental. Desse modo,
entanto, a Luta Antimanicomial levados. Outra parcela – 15,42% – foram levantados dados sobre os
Introdução serviu para desconstruir tal con- refere-se aos transferidos para abri- CAPSis do município e demais
Em sequência às matérias pu- cepção, de modo a entender que o gos de outras cidades.” (Jornal do ações governamentais pertinentes,
blicadas nas duas últimas edi- processo de tratamento deve con- Brasil, março de 2013) que trataremos a seguir.
ções, visando avaliar as políticas tar com políticas públicas inclu- Coerentemente ao processo
públicas relativas ao Orçamento sivas e acolhimento humanitário. evolutivo citado anteriormente, o Políticas públicas
Criança e Adolescente (OCA), o Nessa perspectiva, cabe uma aná- tratamento de usuários se encami- A única ação destinada exclusi-
tema desta edição é Assistência lise dos problemas pessoais e fami- nha para ser na esfera psicossocial, vamente à criança e ao adolescen-
Social, com destaque para a po- liares sofridos pelo usuário. buscando a integração do pacien- te é o “Acolhimento especializado
lítica de combate ao uso de cra- Ainda não há um tipo de tra- te com a sociedade. Assim sendo, a crianças e adolescentes usuários
ck – questão eleita pelos conse- tamento consensual, porém as in- o plano de combate ao crack do de crack e outras substâncias”; no
lheiros como prioritária há dois formações disponíveis parecem município do Rio de Janeiro tem entanto, existem outras ações que
anos. Para analisar os valores re- corroborar com o tratamento aco- como carro-chefe o programa na- também podem atingir o jovem
ferentes a essa política pública, os lhedor; dados de 2013 da Fiocruz1 cional “Crack: é possível vencer”, indiretamente através do Programa
dados apresentados foram corri- mostram que quase 80% dos usu- que tem como objetivo a capaci- Atendimento Psicossocial, como
gidos monetariamente pelo IP- ários no país têm vontade de re- tação de profissionais do SUS, a por exemplo, a “Reforma, adequa-
CA de janeiro de 2015. ceber tratamento, o que esvazia a criação de estrutura adequada nos ção e estruturação de unidades de
retrógrada proposta de tratamen- locais de tratamento e a promoção atenção psicossocial”, que abran-
O tratamento e to via internação compulsória. De da inserção social, prevenção nas ge os CAPSis. Em 2010, a previsão
o combate ao crack fato, no Rio, de acordo com le- escolas e conscientização do pú- do gasto para essa área se dava por
Há uma enorme discussão em vantamento da Secretaria Muni- blico jovem. uma única ação, “Ações de Aten-
torno de como se pode combater e cipal de Desenvolvimento Social, Nesse contexto, os Centros de ção Psicossocial”, mas no decorrer
tratar o uso desta substância. É al- esse tipo de tratamento possui efi- Atenção Psicossocial (CAPS) se dos anos ela foi se dividindo, che-
go que na verdade vai muito além cácia duvidosa. mostram essenciais no procedi- gando em 2014 a quatro ações. Os
da simples busca pela cura do ví- “Às vésperas de completar dois mento de combate ao crack. Es- gastos realizados e a previsão para
cio, e passa por questões como o anos, a internação compulsória de ses centros dispõem de serviços 2015 estão na Tabela 1.
direito à cidade e inclusão social. crianças e adolescentes no Rio de comunitários para o tratamento Percebe-se um expressivo cres-
Durante muito tempo houve um Janeiro está surtindo pouco efeito de pessoas com transtornos men- cimento dos gastos até 2013 e uma
estigma muito forte de “loucu- na recuperação dos pequenos usu- tais graves e/ou com problemas retração em 2014, além de um no-
ra” que obrigava os pacientes com ários de crack e outras drogas. Le- mentais decorrentes do uso de vo aumento previsto para 2015.
problemas mentais a serem ex- vantamento obtido pelo Jornal do álcool e outras substâncias. Leva A diminuição no ano passado só
cluídos da sociedade, vivendo em Brasil junto à Secretaria Municipal em consideração o ambiente no pode ser entendida como decisão
manicômios e sendo basicamen- de Desenvolvimento Social reve- qual o usuário vive, construindo política, pois o patamar de recur-
te medicados. Esse tipo de pen- la que apenas 24,88% das crianças assim um modelo assistencialis- sos federais transferidos se man-

www.corecon-rj.org.br Jornal dos Economistas / Abril 2015


15

Tabela 1 – Ações Psicossociais


Em R$
AÇÃO 2010 2011 2012 2013 2014 PLOA 2015
2021 - ACOLHIMENTO ESPECIALIZADO
A CRIANÇAS E ADOLESCENTES USUÁRIOS 7.256.339,43 5.884.174,49 7.074.016,68
DE CRACK E OUTRAS SUBSTÂNCIAS 3.646.450,12 4.183.068,89
1766 - REFORMA, ADEQUAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO
2.042.889,37 0 0 1.044,13
DE UNIDADES DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
2746 - AÇÕES DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL 42.836.811,33 32.950.978,10 60.949.237,38
2748 - AÇÕES DE DESINSTITUCIONALIZAÇÃO 8.431.925,46 13.939.210,67
17.663.633,42 12.912.687,03 22.991.630,72
EM SAUDE MENTAL
SOMA 2.042.889,37 12.078.375,58 18.122.279,56 67.756.784,18 51.747.839,62 91.015.928,91

Fontes: Prestação de Contas 2010 -2013, Rio Transparente para 2014 e PLOA de 2015.

Tabela 2 – ONGs favorecidas


Em R$
ONG favorecida 2011 2012 2013 2014 2015
TESLOO/JOAO BATISTA 16.684.449,58 13.869.093,04 11.421.512,59-
VIVA RIO 3.802.884,69 55.251.431,93 40.371.658,33

Fonte: Rio Transparente - acesso 16/03/2015

teve na casa dos R$30 milhões. usuários de drogas, principalmen- repassado de 2013 para 2014 foi te de recursos federais?
Destaque para as Ações de te de crack, onde vivem 20 jovens pelo aumento de usuários ou de • Por que o tema crack não cons-
Atenção Psicossocial, que rece- e crianças; são geridas pela ONG atendimentos. ta como prioridade no Plano de
bem o maior valor, cujos produ- Viva Rio e tinham como parcei- Ação para 2015 do Conselho Mu-
tos são a implantação de CAPS, ra também a Tesloo/ Obra Social Considerações finais nicipal dos Direitos da Criança e
capacitação de profissionais e nú- João Batista, que por algum tem- Ao revisitarmos os dados da do Adolescente – CMDCA?
mero de usuários matriculados na po ficou encarregada de realizar as política municipal de combate ao • Por que é difícil verificar se as
unidade de atenção. Já a ação es- internações compulsórias. uso do crack por crianças e ado- metas do Plano Plurianual estão
pecífica (2021) merece uma aten- Buscando dados no Rio Trans- lescentes, constatamos dois as- sendo cumpridas, como o núme-
ção especial pela execução tercei- parente, podemos encontrar os va- pectos positivos: o abandono da ro de usuários atendidos/matricu-
rizada, que será tratada a seguir. lores dos contratos da ONG Viva agressiva internação compulsória lados e crianças atendidas nas Ca-
Rio e da ONG Tesloo; no mesmo e a elevação dos recursos, com a sas Vivas?
Quem acolhe site podemos encontrar seu CNPJ ressalva da significativa queda em • Por que permanece a prática de
(e prendia) é ONG com outro nome (Obra Social 2014. Sem dúvida, duas postu- se terceirizar ações governamen-
A Prefeitura tem diversos con- João Batista). Esse dinheiro pro- ras governamentais necessárias e tais de caráter eminentemente so-
tratos com ONGs e empresas pri- vém do Fundo Municipal de As- urgentes. Todavia, algumas ques- cial com ONGs que acabam em
vadas no âmbito de gerir alguns sistência Social, onde também se tões colocam em risco e em dúvi- escândalos de corrupção?
projetos em conjunto. No assun- encontram muitos outros contra- da a efetividade da política públi-
to referente ao texto, podemos tos com a esfera privada (Tabela 2). ca, tais como: 1 http://www.icict.fiocruz.br/sites/www.
icict.fiocruz.br/files/Pesquisa%20Nacio-
destacar as Casas Vivas, especia- Não foi possível identificar se • Por que a adesão ao plano nacio- nal%20sobre%20o%20Uso%20de%20
lizadas no acolhimento de jovens a razão do crescimento do valor nal não significou um maior apor- Crack.pdf

FÓRUM POPULAR DO ORÇAMENTO – RJ


(fporiodejaneiro@gmail.com / 2103-0121 e 2103-0120)
Coordenação: Econ. Luiz Mario Behnken. Assistentes: Est. Camila Bockhorny, Est. Karina Melo e Est. Mariana Vantine.
Esta matéria contou com a colaboração dos assessores parlamentares Pâmela Matos (Gab. Ver. Reimont) e Talita Araujo (Gab. Ver. Renato Cinco).

www.corecon-rj.org.br Jornal dos Economistas / Abril 2015


16 Escolas da Macroeconomia

Escolas de Macroeconomia: Quadro-síntese


n Em março de 2014 o JE iniciou a colas: Macroeconomia clássica; Ma- O último produto da série é um sabilidade de Fábio N. P. de Frei-
publicação mensal de uma série de croeconomia neoclássica (Macroe- quadro-síntese que envolve a com- tas, Maria Isabel Busato, Marcelo
12 artigos sobre Escolas de Macroe- conomia antes de Keynes); Keynes paração dos entendimentos de cada Carcanholo e Reinaldo Gonçalves.
conomia. Esse projeto institucional e a Teoria Geral; Síntese Neoclássi- escola em relação às questões-cha- Com a conclusão desse projeto, o
do Corecon-RJ contou com a cola- ca; Monetarismo; Novo-Clássica; ve da Macroeconomia. Vale desta- Corecon-RJ atinge seu objetivo de
boração de mais de uma dezena de Novo-Keynesiana; Sraffiana; Pós- car que esse quadro-síntese não está fornecer mais um serviço de utili-
economistas de diferentes estados. -keynesiana; Kaleckiana; Novo Con- isento de controvérsias. A organiza- dade pública para estudantes e pro-
Os artigos trataram das seguintes es- senso; e Macroeconomia Marxista. ção do projeto ficou sob a respon- fessionais na área de Economia.

Quadro-síntese das Escolas da Macroeconomia


Macroeconomia Keynes e
Questão/ Macroeconomia Síntese Monetarismo Novo- Novo- Pós- Novo
Neoclássica Sraffianos Kaleckianos Crítica Marxista
Escola Clássica (antes de Keynes) a Teoria Geral Neoclássica clássica keynesiana keynesiana Consenso

estáveis, potencialmente
estáveis, com
Economias possibilidade potencialmente estáveis no estáveis já instáveis, com estruturalmente
estáveis estáveis estáveis possibilidades instáveis estáveis
capitalistas de crises instáveis LP (NUR) no CP (NUR) possibilidade instáveis
de crises
temporárias de crises

distúrbios dissociação entre


monetários produção e con-
efeito dual do
(choques sumo causada
distúrbios distúrbios variações política variações investimento choques
Causa das variação não choques de variação na pela separação
monetários monetários e de gastos monetária de gastos e variação de oferta e
flutuações de investimento antecipados DA e OA DA entre as instân-
e reais distúrbios reais autônomos inapropriada autônomos; dos gastos de DA
DA) e reais cias da produção
autônomos
(choques e realização do
de OA) valor.

não há ten-
ajustes len-
preços das mer- dência ao ple- forte, com trajetó-
Ajustamen- rigidez nominal lento; ênfa- tos ou rápidos
cadorias flexí- no emprego, ria inerentemente
to mercado: aceita no curto fraco; debate fraco; ênfase se na rigi- (depende da muito fraco; de- lento, ênfa-
veis, preços de muito forte; mas a oferta se cíclica da acu-
preços/sa- prazo e flexibili- rigidez x flexibi- na rigidez do dez nominal estrutura do bate sobre rigi- se na rigi-
oferta de longo forte; flexível perfeitamen- ajusta à de- mulação de capi-
lários e ve- dade de preços lidade é irrele- salário no- de preços e mercado); in- dez não possui dez nomi-
prazo das mer- te flexível manda; preços tal, concentração
locidade do e salários no lon- vante minal real de sa- flação de cus- papel relevante. nal e real
cadorias e salá- determinados e centralização
ajustamento go prazo lários tos, conflito
rio real rígidos pelo grau de de capitais.
distributivo monopólio

repouso com não há! A nor- consistente


restrição de ca- tendência ao ple- repouso, pro- consisten- desemprego e repouso, prova- ma é flutu- com de-
pacidade pro- zeragem de zeragem de
Noção de no emprego (ca- abaixo do pleno vavelmente te com de- utilização nor- velmente abaixo ações sem semprego
dutiva e desem- mercado à mercado à inexistente
equilíbrio pital e trabalho) emprego abaixo pleno semprego mal da capa- tendência ao involuntá-
prego no longo taxa natural taxa natural pleno emprego
no longo prazo emprego involuntário cidade (com pleno em- rio no curto
prazo tendência) prego prazo

papel relevan- formadas sob razoáveis (sub- híbridas –


te nas flutuações incerteza, fre- papel secun- papel secun-
Expecta- jetivas, com racionais
papel secundário de curto prazo e quentemente adaptativas adaptativas racionais racionais dário na teoria dário na teoria papel secundário
tivas base na incer- e adapta-
pouca relevância baseadas em do produto do produto
teza) tivas
no longo prazo convenções

Horizonte curto e lon- curto, pre- curto, pre-


temporal longo longo curto curto longo=curto longo curto curto e Longo longo
go prazo dominante dominante
dominante

Diretriz:
Livre mer-
cado (LM) intervencionis- INT intervencionis- superação da
LM LM INT INT LM LM INT (?) LM (?)
ou interven- mo em geral mo em geral ordem capitalista
cionismo
(INT)
ineficaz (no
curtíssimo eficaz no
prazo so-
Política mo- curto pra-
eficaz no curto eficaz no longo eficaz condicio- CP: eficaz mente se a eficaz (via cré-
netária eficaz Eficaz menos eficaz eficaz zo devido à NA
prazo prazo nalmente LP: ineficaz política não dito)
(Y, N) rigidez de
for antecipa- preços
da); LP: Ine-
ficaz

Política ineficaz no longo


eficaz eficaz eficaz ineficaz ineficaz eficaz eficaz eficaz eficaz eficaz NA
fiscal (Y, N) prazo

aproxima-se
Regra (R) mais de re- aproxima-
ou discri- R R D D R R gras do que D D D -se mais de NA
cionarieda- de discricio- regras
de (D) nariedade

Notas: (NA) não se aplica. (NUR) Taxa natural de desemprego. (OA) Oferta agregada. (DA) Demanda agregada. (CP) Curto prazo. (LP) Longo prazo. (D) Discricionariedade: as políticas macroeconômicas dependem das
avaliações e decisões dos formuladores de políticas. (R) Aplicação de regras na adoção de políticas macroeconômicas; regras anunciadas antecipadamente. Eficácia das políticas macroeconômicas refere-se ao impacto
sobre emprego e renda real.

www.corecon-rj.org.br Jornal dos Economistas / Abril 2015

Você também pode gostar