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Sugestão de resolução de casos práticos de contratos

Tutoria de Direito dos Contratos I 2023/2024 - Bernardo Pedro Santana

1. Ler as perguntas
Logo após receber o enunciado, é recomendado ler primeiro as perguntas. Isto pode ajudar
a identificar as informações que, posteriormente com a leitura do enunciado, sejam mais
relevantes reter, para cada uma das questões.

(Sendo um caso de “Quid juris” não se aplica este ponto, mas devem ser identificadas as
questões relevantes durante a leitura do enunciado.)

2. Ler o enunciado com a máxima atenção, e sublinhar todas as questões


relevantes. Tirar pequenas notas que apontem para a solução. Algumas
questões relevantes para sublinhar e reter podem ser:

• NOMES DOS SUJEITOS


Associar cada nome a uma letra. Pode ser importante para organizar o caso,
especialmente se for um caso extenso de modo a evitar confusões.

• DATAS
Geralmente, a ser dada a informação, é porque é relevante. É recomendável
sublinhar as datas de modo a perder menos tempo na verificação dos prazos.

• TIPO DE CONTRATO
Caso não venha no enunciado, assim que identificado, deve ser feita uma nota de
todos os contratos em questão e o seu tipo. (p.ex. CV (compra e venda);
E(empreitada). Vd. nota1.

• IDENTIFICAÇÃO DOS REGIMES E PROBLEMAS


Feita anteriormente a leitura das questões, sugere-se sublinhar informações que
sejam consideradas relevantes para cada problema e fazer pequenas notas dos
regimes aplicáveis. (p. ex. Regimes: A vende a B coisa X, que é propriedade de C =
venda de bens alheios; ou A contrata B para realização de obra, que por sua vez
contrata C = subempreitada); Problemas: A e B celebram contrato de empreitada
que se prolonga sem fim à vista = Obrigação de prazo natural (cfr. art. 777, nº2 CC).

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Nota: Conforme vão praticando, e de modo a evitar perder demasiado tempo na análise do problema
(apesar de ser a fase mais importante), podem e devem juntar vários destes passos num só, a fim de
abreviar este processo ao máximo. Por exemplo, sabendo que A celebra um contrato de compra e
venda com B, pode ser feita a nota:
CV (compra e venda),
A- C (comprador); O (objeto do contrato).
B- V (vendedor); P (preço).
• REGIMES GERAIS DE DIREITO CIVIL
Por fim, também os regimes gerais de direito civil devem ser identificados. (p. ex.
colocada uma questão onde se preveja um problema de interpretação, remeter logo
para o regime geral da interpretação – arts. 236 e ss. – ou, verificando-se uma
condição suspensiva, identificá-la logo no enunciado.

3. Formulação da resposta (Exemplos)

3.1 – Identificação do contrato e suas características


Está em causa um contrato de compra e venda celebrado por A, comprador,
e B, vendedor, cujo regime consta dos arts. 874º e ss. do CC. O contrato de
compra e venda é um contrato típico (ou nominado); sinalagmático,
oneroso, real quad effectum; entre presentes/ausentes; (e explicar
brevemente porquê).
O objeto do contrato é X, sendo, portanto, coisa móvel (art. 205, nº1);
Reportando-se a coisa móvel, é um contrato consensual (art. 875º a
contrario sensu), que, ao abrigo do princípio da liberdade de forma que
consta do art. 219º CC, celebra-se pelo mero consenso (nos termos do art.
232º CC).

3.2 – BREVE introdução factual (e teórica) para contextualização


In casu, é nos dito que A e B celebram contrato dia 01.01.2021. Sendo o
contrato de compra e venda real quoad effectum, a propriedade, regra geral
(art. 408, nº1), transfere-se com a celebração do contrato.
Não obstante, uma vez que X se trata de um bem futuro, aplica-se o art. 408,
nº2, 1ª parte, ao passo que a coisa só se transfere quando for adquirida pelo
alienante ou determinada com conhecimento de ambas as partes. Assim,
como consta do art. 880º, nº1, o vendedor fica obrigado a exercer as
diligências necessárias para que o comprador adquira os bens vendidos...

3.3 – Análise dos problemas juridicamente relevantes e tomada de


posição.
Coloca-se a questão de A alegar que X está onerado com uma hipoteca
(imaginando que X é um carro e, portanto, sujeito a registo), ao passo que
cabe aplicar o regime da venda de bens onerados, que consta do CC nos
arts. 905 e ss.
Discute-se na doutrina, se a aplicação deste regime deve ser efetivada
através do instituto do erro/dolo (artigo 247º do CC), caso em que seria
necessário que estivessem preenchidos os requisitos do erro (essencialdiade
do erro e cognoscibilidade pelo vendedor) e, caso assim fosse, remeter-se-ia
para o art. 287º e 289 do CC. Nesta posição vai, por exemplo, o Prof.
Menezes Leitão. Ou se, por outro lado como entende Menezes Cordeiro e o
Prof. Pedro de Albuquerque, na verdade, o erro a que do art. 905º, não o é
em sentido técnico-jurídico, devendo-se, antes, utilizar o regime do
incumprimento do contrato (art. 798º e ss.). Nesta linha de pensamento foi a
jurisprudência no acórdão STJ 31.05.2011.
Parece mais correta a solução anterior, defendida pelo Sr. Prof. regente,
onde se considera que o erro em questão não é um erro em sentido técnico-
jurídico, pelo que se aplica, para efeitos do caso prático, o regime do
incumprimento.

(E fazer esta análise à exaustão de todos os problemas juridicamente


relevantes, sendo que notas teóricas/doutrina são sempre valorizadas.
Referir sempre os artigos aplicáveis. Sem base legal a resposta está
incompleta.)

3.4 – Resposta stricto sensu


Neste sentido, B que efetuou a venda tem obrigação de convalescer o
contrato, nos termos do art. 907º CC, que é uma obrigação autónoma, com
regime de incumprimento previsto no art. 910º CC.
Não acatando a obrigação, e não se verificando as condições de aplicação
do art. 911º, pode o contrato ser resolvido nos termos das regras gerais do
incumprimento.
De resto, sendo que B vendeu a A com dolo, deve indemnizar a contraparte
no interesse contratual negativo (art. 908º CC).

Na falta de tempo, é o que se deve sacrificar.

Importante, mas não essencial. Abreviar em caso de falta de tempo.

Máxima importância. Não deve ser sacrificado em benefício dos anteriores.

4. Reler as perguntas e rever as respostas


Sobrando tempo, é aconselhado reler as perguntas e rever as respostas, de modo a detetar
problemas que ficaram por resolver, ou falhas/imprecisões na resolução.

NOTA: A primeira coisa a fazer, para efeitos de gestão de tempo, mesmo antes de ler as
perguntas, é olhar para as cotações das mesmas. Preferencialmente, deve começar-se a
avaliação pela que vale mais, uma vez que, naturalmente, haverá mais tempo para pensar
nesta. Ainda assim, não recomendo perder muito tempo numa pergunta deixando outras em
branco, uma vez que é mais fácil obter 1v. de 6v., do que 5v. de 6v.

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