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Índice

Introdução………………………………………………………………………….…pág..2
Noção…………………………………………………………………………….pág.3
Figuras afins da empreitada……………………………………………………...pág.3
Sujeitos do Contrato da empreitada……………………………………………...pág.4
Objeto da empreitada…………………………………………………………….pág.5
Classificação……………………………………………………………………..pág.6
Efeitos do contrato (direitos e obrigações das partes)…………………………...pág.7
Subempreitada…………………………………………………………………...pág.11
Vicissitudes da empreitada………………………………………………………pág.12
Responsabilidade do empreiteiro………………………………………………..pág.14
Extinção do contrato…………………………………………………………….pág.16
Conclusão………………………………………………………………………. pág.17

1
CONTRATO DE EMPREITADA

Introdução
Antes de iniciar uma abordagem pormenorizada sobre o Contrato de Empreitada,
importa, antes de mais, saber da origem deste contrato. A empreitada vem do direito
romano, nomeadamente faz parte de uma das modalidades da locatio conductio
(locação), concretamente, locatio conductio operis.
Na locatio conductio operis, o locator entregava a coisa ao conductor para que este
efetar uma obra e pagava-lhe o preço em contrapartida. Este se encarregava de efetuar o
trabalho corretamente, diretamente ou por intermédio de terceiros.
Um estudo autonomizado desta figura começou no direito Português com o Código de
Seabra, nos arts. 1396.° a 1408.°. Isto porque até ao aparecimento do Código de Seabra
era estudado dentro de um vasto campo da locação.
No código civil guineense esta matéria enquadra-se no livro II (o das obragações), dos
artigos 1207.º e ss.

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Noção
O contrato de empreitada vem regulado nos artigos 1207.º e segts do CC. É uma das
modalidades de Contrato de prestação de serviços e é definido como sendo “ contrato
pelo qual uma das partes se obriga em relação à outra a realizar certa obra, mediante um
preço. ”
Desta noção pode-se retirar dois elementos constitutivos do contrato de empreitada:
1. Obrigação de realizar uma obra;
2. Pagamento de um preço.
Análise dos elementos constitutivos
Para isso, importa analisar o conceito de empreitada constante do art. 1207. º CC.
O contrato de empreitada tem, essencialmente, duas caraterísticas: assunção da
obrigação de resultado pelo empreiteiro e autonomia e independência com que ele
realiza a sua atividade.
Para Vaz Serra só é empreiteiro quem investe capital e trabalho na execução da sua
atividade que consiste na realização da obra a favor de outra pessoa.
O empreiteiro pode ser profissional ou amador. Se exerce a atividade a título
profissional, a atividade do contrato constitui um ato de administração ordinária. Se
exerce a atividade a título não profissional a qualificação depende do objeto do contrato
em causa, isto é, se produz ou não alterações essenciais no patrimônio do empreiteiro.
Em relação ao dono da obra, para se aferir se se trata de um ato de administração
ordinário ou extraordinário (de disposição), deve-se ter em conta o objeto do contrato de
empreitada. Assim sendo, se o objeto do contrato de empreitada é reparação ou
manutenção, estaríamos perante um ato de administração ordinário. Se se tratar de
construção ou demolição de uma casa, por exemplo, estaríamos perante um ato de
administração extraordinário ou de disposição.

Figuras afins
Contrato de trabalho
No contrato de trabalho existe uma subordinação do trabalhador ao empregador, em que
o trabalhador assume uma obrigação de meios, enquanto que no contrato de empreitada
não existe a subordinação, pelo contrário o que existe é uma autonomia e independência
do empreiteiro em relação ao dono da obra e assume uma obrigação de resultado.
Contrato de mandato
No mandato o que há é a obrigação de praticar atos jurídicos, embora se possa praticar
atos materiais acessórios ou complementares. Na empreitada existe a obrigação de
praticar atos materiais, embora acessoriamente possa praticar atos jurídicos. No
mandato, o mandatário atua por conta de outrem, enquanto na empreitada o empreiteiro
atua por conta própria.

3
Contrato de compra e venda
Em princípio, pode-se dizer que não existe relação alguma entre estes contratos, mas a
partir do momento em que o empreito se obriga a construção e ao mesmo tempo a
fornecer os materiais para a obra1 pode dizer que existe sim uma relação.
Nesta situação, embora seja mais correto qualificar a situação como sendo um contrato
misto de compra e venda e empreitada, mas este facto é negado pela maioria da
doutrina.

Sujeitos
Capacidade das partes
Quanto a isso, haverá que distinguir entre as empreitadas de reparação e as empreitadas
de nova construção. As primeiras correspondem a atos de administração ordinária, pelo
que podem ser celebrados por quem tenha capacidade para a prática de atos de mera
administração, como é o caso dos inabilitados (art.º 153.º CC). Já as segundas
correspondem a atos de administração extraordinária ou de disposição, pelo que só
podem ser celebrados por quem tenha capacidade para a sua prática.
Legitimidade do dono da obra
No que diz respeito a legitimidade do dono da obra, neste contrato, importa salientar
que há uma particularidade: a falta de legitimidade como dono da obra, isto é, se a parte
que manda fazer uma obra não tinha poderes enquanto tal, não afeta a validade do
contrato de empreitada. Exemplo de uma pessoa que furta um objeto e depois manda
reparar. O que pode acontecer nestes casos é a responsabilidade do dono da obra.
Um outro exemplo tem a ver com a situação onde o arrendatário manda fazer reparação
sem a autorização do senhorio. Aqui, não obstante a eventual responsabilização que
pode até dar-se na resolução do contrato, mas tudo isto não afeta a validade do contrato.
Pluralidade de empreiteiros
Pode dar-se o caso do dono da obra celebrar vários contratos de empreitada com
diversos empreiteiros (Co-empreitada)2, nestas situações a obrigação não é solidária,
embora haja uma relação com a mesma pessoa. Pode-se ver que há uma independência
entre os empreiteiros, porque há tantos contratos quanto ao número de empreiteiros.
A situação inversa seria nos casos em que o dono da obra celebra um contrato de
empreitada com vários empreiteiros, nestes casos a obrigação dos empreiteiros é
solidária, art.º 513º CC._________________________________
1. É o que alguma parte da doutrina chama de empreitada de lavor e material.
Cfr. José Manuel Vilalonga, compra e venda e empreitada, contributo para
distinção entre os dias contratos, Seminário do Direito Civil I do curso de
mestrado da faculdade de Direito de Lisboa, ano letivo 1992/93, pág. 194.

2. Mestre Leonel Lopes Batista

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Objeto da Empreitada

Obrigação de realizar uma obra


A obrigação de realizar uma obra pode consubstanciar numa construção, manutenção,
reparação ou demolição de um bem imóvel, por exemplo, um edifício, numa
construção. Manutenção ou reparação de bens móveis, como por exemplo de um navio,
viatura… bem como a remoção de terras, dranagem de portos.
Discute-se na doutrina o alcance do conceito da obra que o artigo 1207.º CC refere. Será
que abrange tanto obra material e imaterial, como obra incorpórea.
Parte da doutrina (mais estrangeira), segue uma ideia mais abrangente, considerando
que o artigo 1207.º inclui obras incorpóreas (inteletuais), como é o caso de um parecer
jurídico. Entende que, embora seja incorpórea pode haver uma matrialização. Como o
caso de um parecer jurídico num papel.
Uma outra em que se destaca o Professor Romano Martinez, entende que o conceito não
abrange coisas incorpóreas. Para sustentar a sua posição invoca os seguintes arguntos:
1. O facto de haver uma materialização não transforma a coisa incorpórea em
corpórea;
2. Ao contrário do empreiteiro, o criador de uma coisa incorpórea pode desistir a
todo o momento de a executar, coida que o empreiteiro não pode fazer;
3. O regime jurídico da empreitada não se adequa com a criação de coisas
incorpóreas. Por exemplo, como se poderia fiscalizar a realizaçao dessa obra
inteletual (parecer jurídico), ou como é que poderia exigir a eliminação do
defeito;
4. Se se aceitar admitir a tese dessa doutrina estaríamos a cometer o erro de tornar
o contrato de empreita impreciso e excessivamente amplo.
Esta última posição é também defendida pelo Prof. Menezes Leitão para quem a obra
inteletual não pode ser objeto do contrato de empreitada, que se restringe a obras
corpóreas. Entende que alguns regimes da empreitada não se enquadram com as
criações inteletuais, pois, estas exigem uma maior liberdade ao criador. Regimes como:
da fiscalização da obra, transferência de propriedade, das alterações e dos defeitos da
obra.
O Mestre Leonel Lopes Batista defende a ideia do Prof. Menezes Leitão e Prof. Romano
Martinez que afirmam que ficam de fora do conceito as coisas incorpóreas, como é o
caso de traduzir um livro, escrever um parecer, escrever um livro, fazer um projeto,
compor uma música. Entram no conceito, todos os serviços que se traduzem num
resultado material correspondente a criação, modificação, reparação, fabrico,
manutenção, manufactura, benfeitoria, etc, de uma coisa.

Empreitada de direito público

5
É por influência francessa que o Direito Português qualifica a empreitada de obras
públicas como contrato administrativo, isto porque, na França certos contratos
celebrados entre a administração pública e o particulares eram subordinados ao Direito
Adminitrativo.
Natureza civil ou comercial da empreitada de direito privado

Galvão Teles sustentou a ideia da natureza comercial da empreitada, defendendo que


tratasse de um contrato economicamente produtivo e pressupõe uma organização
empresarial, e que não deveria figurar no Código Civil, mas pelo contrário no Código
Comercial. Mesmo assim, o legislador optou por enquadrá-la no Código Civil.
A empreitada revestirá natureza comercial, sempre que se realizar através de uma
organização empresarial (art. 230, n.º 6 Ccom), adquire, pelo contrário, natureza civil,
se o contrato for realizado no âmbito de uma atividade artesanal (art. 230, 1.º Ccom).

Classificação do contrato da empreitada


1. É um contrato nominado e típico, uma vez que a lei reconhece a sua categoria
e estabelece o seu regime nos arts. 1207.º e ss do Código Civil.
2. É um contrato consensual, porque a lei não exige a entraga de uma coisa.
Pode-se ver que a entrega poderia vir a ser necessária com a execução do
contrato. Acontece que pode haver entrega do solo, na empreitada de construção
de um imóvel, mas em caso nenhum esta entrega seria um pressuposto da
constituição do contrato, assim conclui-se que é um contrato consensual.
3. É um contrato oneroso, uma vez que gera sacrifícios económicos para ambas
as partes. O dono da obra tem que pagar o preço, enquanto que o empreiteiro
tem o sacrifício do valor do seu trabalho e dos materiais que eventualmente
forneça.
4. É um contrato sinalagmático, isto porque faz surgir obrigações recíprocas para
ambas as partes: a do empreiteiro a de reallizar a obra e a do dono da obra a de
pagar o preço. Pode-se ver que estas duas obrigações têm ligações entre si em
termos causais no momento da constituição do contrato (é a designada
sinalagma genético), permanece essa ligação durante a execução do contrato (é o
que se diz sinalagma funcional).
5. É um contrato comutativo, não aleatório, uma vez que tanto a atribuição
patrimonial do dono da obra como a do empreiteiro se apresentam como certass
quanto à sua existência.
6. É um contrato de execação instantânea, ainda que prolongada: entende-se
deste modo porque apesar de a execução da empreitada se poder prolongar
durante um longo período (obras de longa duração), a verdade é que a
empreitada não pode ser qualificada como sendo um contrato de execução
continuada. Efetivamente, o que acontece neste tipo de contrato é que o tempo
não influi no conteúdo e extensão da obrigação, dado que apenas interessa ao
credor a execução da onbra3.
7. É sempre um contrato obrigacional, uma vez que, é fonte de obrigações,
sendo a obrigação do empreiteiro a realização da obra, e a obrigação do dono da
obra o pagamento do preço.

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3. Cfr. Romano Martinez, obrigações, pp. 362 e ss.

O Professor Menezes Leitão entende que a empreitada pode ser um contrato real quoad
effectum, isto nos casos em que a propriedade da obra pertence ao empreiteiro, e esta
venha a transmitir para o dono da obra. É o que acontece na empreitada de coisa móvel
realizada com materiais que pertencem ao empreiteiro, em que é a aceitação da coisa
que transmite a propriedade para o dono da obra (art. 1212.º n.º 1), regime que se afasta
do geral quanto a transmissão de direitos reais sobre as coisas futuras e por isso mesmo
constitui uma exceção ao artigo 408.º, n.º 2.

Forma do contrato de empreitada


O contrato de empreitada obedece o princípio de consensualidade (art.º 291.º CC), pelo
que a lei não exige formalidade alguma.

Processo de formação do contrato de empreitada


O contrato de empreitada obedece o regime geral de formação do contrato previsto no
art.º 224.º e ss CC. Normalmente, as negociações começam com o pedido ao
empreiteiro de um projeto da obra, embora, muitas das vezes é encomendado a um
terceiro, pedido de orçamento ao empreiteiro. Também a obra é normalmente
antecedida de estudo dos materiais, de solo e de ambiente, aprovação do projeto pelas
autoridades, consubstanciando assim na atribuição de licença ou autorização
administrativa. Geralmente o arranque da obra depende da aceitação do orçamento do
empreiteiro pelo dono da obra.

Efeitos do contrato de empreitada

A- Direitos do dono da obra


Aquisição e receção da obra
O primeiro direito que resulta do contrato para o dono da obra na empreitada é que a
obra venha a ser por ele adquirida e recebida. Face aos princípios vegentes em sede de
cumprimento (arts. 762.º e 406.º, n.º1).
Fiscalização da obra
Esse direito que a lei concede ao dono da obra para fiscalizar a execução da obra visa
essencialmente o seguinte:
1. Confirmar se o empreiteiro está a respeitar as regras de arte vigente na área da
obra em causa;
2. Aferir da existência de defeitos na obra e da qualidade dos materiais utilizados
ou a utilizar pelo empreiteiro.

7
Esse direito visa impedir que o empreiteiro oculte vícios de difícil descobrimento no
momento da entrega da obra, por isso que se o dono da obra ou o seu comissário
acompanharem a execução assim seria mais fácil aperceberem-se de tais defeitos.
Importa dizer que estes objetivos da fiscalização devem ser conjugados com o artigo
1208.º CC que impõe ao empreiteiro realizar a obra de acordo com aquilo que foi
convencionado, devendo executar a obra sem vícios que excluem ou reduzem o valor da
obra ou a sua aptidão para o normal uso.
O artigo 1209.º coloca numa restrição ao direito da fiscalização, uma vez que diz que
pode-se fazer mas desde que não perturbe o normal andamento da obra. É uma
manifestação do princípio da boa fé.
Natureza injuntiva ou supletiva do direito de fiscalização
A maior parte da doutrina, onde se destacam os professores Pires de Lima e Antunes
Varela, Vaz Serra, Pereira de Almeida, Cardoso Guedes e Menezes Leitão entende que
o direito da fiscalização é injuntiva, sendo que a cláusula que o afaste seja considerada
nula. Para eles há uma necessidade imperativa para o dono da obra fiscalizar a sua
obra4.
Outra parte da doutrina na qual se destaca Romano Martinez nega esta tese,
considerando que, há casos em que o comitente poderia descobrir certos dados técnicos
confidenciais para o empreiteiro que ele não está interessado em revelar, como por
exemplo, novas técnicas de perfurar túneis, de fazer tectos, de cofragens, etc. porém,
quando houver motivos para tal as partes podem afastar a fiscalização.
O Mestre Leonel Lopes Batista é da opinião que o artigo 1209.º é uma norma supletiva
que as partes podem contratualmente afastar. No sentido contrário encontra-se a opinião
do Mestre Alcides Mendes que sustenta que com base nas ideias di Pires de Lima e
Antunes Varela sobre o fim principal da fiscalização é injuntiva.

B- Deveres do dono da obra


Obrigação de pagar o preço
O principal dever do dono da obra é o de pagar o preço fixado no momento da
celebração do contrato (art.º 1211.º CC).
Dever de colaboração (art.º 762.º e 813.º CC)
Este dever decorre do princípio da boa fé, incorre sobre o dono da obra o dever de
colaboração com o empreiteiro. Se é a ele que incumbe o fornecimento de materiais,
não o fazendo, incorre em mora, nos termos do art.º 813.º CC, podendo o empreiteiro
exigir uma indemnização pela violação dos deveres acessórios da boa fé.

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4. Agostinho Cardoso Guedes, A responsabilidade do construtor no contrato de
empreitada, AAVV, Contratos, actualidade e evolução, Ob. Cit. Pág.513

Dever de verifcação, comunicação e aceitação


Outro dever que recaie sobre o dono da obra é o de verificação e de comunicação dos
resultados desta ao empreiteiro, tendo ainda o ónus de aceitação da obra, o qual pode
corresponder mesmo a um dever, quando dela dependa o vencimento da obrigação de
pagamento do preço.
O dono da obra deve verificar a obra após a sua conclusão e antes da aceitação. O
objetivo é comprovar se a obra foi executada segundo o convencionado e isenta de
vícios, art.º 1218.º n.º 1.
Para isso é necessário que a obra fosse colacada à disposição do dono da obra para
verificar e a partir deste momento começa a contar o prazo para a verificação.
Há corrente que entende que é apenas um ónus que impende sobre o dono da obra, outra
que diz que é um direito próprio do dono da obra e a última que sustenta que estamos
perante um dever do dono da obra.
As despesas com a verificação correm por conta do empreiteiro, mas nos casos em que
se recorrem a um perito a responsabilidade fica com a pessoa que o chamou.
O dono da obra tem ainda o dever de comunicar o resultado da verificação ao
empreiteiro, n.º 4 do art.º 1218.º CC. O prazo aqui é o que for necessário de acordo com
o que resulta do n.º 2 do mesmo artigo. Esta comunicação visa informar o empreiteiro
de vícios aparentes ou de desvios de planos antes convencionado.
Quanto a aceitação da obra, importa referir que, se não existir motivos sérios, como é o
caso de não realização total da obra, defeitos, utilização de materiais não acordados, o
dono da obra tem dever de aceitar a obra. A aceitação da obra gera alguns efeitos:
1. Obrigação de pagar o preço (art.º 1211.º, n.º 2 CC);
2. Transmissão da propriedade da obra (art.º 1212.º CC);
3. Dever de receber a obra.
Ainda quanto a aceitação da obra, a comunicação pode significar aceitação, na medida
em que, fez-se no sentido de afirmar que a obra obedeceu todo o plano convencionado,
mas se pelo contrário, for no sentido de demostrar a existência de defeitos e de não
observância do plano acordado, assim teria o sentido de uma rejeição.

Direitos e deveres do empreiteiro


A. Direitos do empreiteiro
1. Direito de receber o preço (art.º 1211.º CC)

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Sendo um contrato oneroso e sinalagmático gera sacrifícios económicos e obrigações
recíprocas para ambas as partes. Assim por parte do dono da obra gera a obrigação de
pagar o preço em contrapartida do serviço e valor do trabalho do empreiteiro.

2. Direito de retenção
O empreiteiro pode reter a obra em consequência do não cumprimento integral por parte
do dono da obra. Este direito é uma garantia do seu crédito, que se justifica porque há
uma relação entre a coisa retida e o direito de crédito do empreiteiro.
3. Liberdade de atuação na execução da obra
Já refirimos que não existe uma relação de subordinação do empreiteiro ao dono da
obra, pelo que tem uma liberdade de atuação na execução da obra, podendo contratar
livremente trabalhadores, celebrar subempreitadas.
B. Obrigações do empreiteiro
1. Obrigação de realizar obra
Já falamos disso na abordagem dos elementos constitutivos do conceito, mas não é
demais referir que na realização da obra, o empreiteiro deve respeitar as regras da arte e
da profissão e as de segurança. Deve agir nos termos do art.º 1208.º CC, também deve
evitar vícios que excluem ou reduzem o valor da obra ou a sua aptidão para o uso
normal que se pretende. Deve respeitar o prazo, sob pena de entrar em mora.
2. Dever de fornecer materiasi e utensílios para a obra
Incorre sobre o empreiteiro, nos termos do art.º 1210.º a obrigação de fornecer materiais
e utensílios necessários para a execução da obra, salvo convenção contrária.
3. Dever de guardar e conservar a obra
Vê-se mais na empreitada de reparação ou de construção, nos casos em que a
propriedade se transmite, mas a coisa não foi entregue ainda, o empreiteiro deve guardar
a coisa. Se houver a violação responde nos mesmos termos que um depositário (art.º
1187.º CC).
4. Deve de entrega da obra
Incorre sobre o empreiteiro o dever de entregar a obra depois da aceitação ou dentro do
prazo acordado. A entrega que se refere aqui pode ser material ou simbólica. Este dever
pode não existir, isso acontece nas situações em que o empreiteiro está a exercer o seu
direito de retenção.
5. Deveres acessórios decorrentes do princípio da boa fé (art.º 762.º CC)
Decorrente deste princípio, incorre sobre o empreiteiro os deveres de informação, de
segurança e de lealdade.

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SUBEMPREITADA
A subempreitada enquadra-se no domínio de Subcontrato, onde se exige a observância
de seguintes requisitos essenciais:
1. Identidade de objeto;
2. Posterioridade cronológica;
3. Interdependência (cai o primeiro, extingue o segundo).
O art.º 1213.º traz uma definição da subempreitada, considerando que “é o contrato pelo
qual um terceiro se obriga para com o empreiteiro a realizar a obra a que este se
encontra vinculado, ou uma parte dela”. Aqui o empreiteiro assume a posição do dono
da obra em relação ao novo empreiteiro (subempreiteiro). Ou seja, é uma empreitada em
segunda mão. Apesar do empreiteiro criar uma nova relação, continua a sua relação com
o dono da obra.
Da definição resulta a ideia de que podemos ter subempreitada total ou parcial. Significa
que o empreiteiro pode não ser a pessoa que executa materialmente a obra, funcionando
como mero coordenador dos trabalhos. Pode ser que se encarregue a executar parte da
obra, deixando a outra parte para as pessoas contratadas (subempreiteiros).
A subempreitada é mais frequente nas obras de construção e isto justifica-se por causa
de ser uma atividade muito especializada, o que implica que algumas partes da obra
sejam executadas por peritos da área. Isso pode acontecer porque o empreiteiro não tem
conhecimentos naquela área. Por exemplo, numa obra de construção de um prédio, o
empreiteiro pode não ter conhecimentos da canalização, da eletricidade, da colocação de
janelas de vidros. Por isso, como não poderá realizar a obra integralmente, celebra com
outras pessoas com conhecimentos especializados nestas áreas. Outra razão, também
importante, tem a ver com o volume das obras, fazendo com que o empreiteiro não
possa realizar tudo sozinho dentro do prazo convencionado.
Liberdade de celebração do contrato de subempreitada (art.º 1213.º, n.º2)
Nos termos deste artigo, a subempreitada é admitida nos seguintes casos:
1. Se o dono da obra a permitir;
2. Se essa faculdade resultar do conteúdo do contrato ou da natureza da relação da
empreitada.
Acontece que há uma unanimidade na doutrina quanto a liberdade de celebração de
subempreitada e esta decorre da natureza da relação jurídica em causa. Como refirimos
algumas situações que justificam a subempreitada.
Para o Professor Menezes Leitão que cita Pereira de Almeida, a autorização para a
celebra do contrato de subempreitada não tem necessariamente que consntar
especificamente do contrato, porque entende que além de resultar dos usos, sempre que
a empreitada exigir tecnicidades específicas que o empreiteiro não tem, deve-se
considerar que existe uma autorização implícita para a subempreitada.

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Conclui-se que a subempreitada é permitida. Apesar de existir situação em que não é
permitida: caso em que o contrato de empreitada seja de caráter intuitu personae.
Aceitação da subempreitada
A questão é saber quando é que o empreiteiro pode aceitar a obra. Isto é, se pode aceitar
a parte da obra que o subempreiteiro comprometeu a realizar antes de terminar a obra
principal. A aceitação pode ser com ou sem reserva e têm consequências distintas.
Se o empreiteiro aceitrar a obra sem reserva e depois o dono da obra verificar que existe
algum defeito, responde perante o dono da obra. Isto quer dizer que, terá que suportar as
despesas com a reparação, tendo apenas direito de regresso, nos termos do art.º 1226.º
CC.
Se o empreiteiro aceitar com reserva e depois o dono da obra verificar que existe
defeito, o empreiteiro pode exigir ao subempreiteiro a reparação dos defeitos.

A relaçaõ entre o dono da obra e o subempreiteiro


Importa dizer que quanto a este aspeto a doutrina diverge: por um lado o Professor
Menezes Leitão diz que não há nehuma relação entre o dono da obra e o subempreiteiro,
enquento que o Professor Romano Martinez entende que o dono da obra uma vez que
tem interesse na subempreitada pode subrogar o empreiteiro e ter com o subempreiteiro.
Pode exigir até a reparação dos defeitos que possam resultar da obra.

Vicissitudes do contrato de empreitada

Uma das vicissitudes que podem surgir no contrato de empreitada tem que ver com as
alterações ao plano convencionado. Normalmente, deve-se cumprir integralmente, mas
pode haver necessidade de haver alterações do plano convencionado, ou pprque são
exigidas por uma das partes ou é necessário, ou porque surge posterior a entrega. Assim,
distingue-se consoante se trata de alterações da iniciativa do empreiteiro, alterações
necessárias, alterações da iniciativa do dono da obra e alterações posteriores a entrega e
obra nova.
1. Alterações da iniciativa do empreiteiro (art.º 1214.º CC)
Nas alterações da iniciativa do empreiteiro temos que distinguir duas situações,
consoante haja ou não autorização do dono da obra.
a) Alterações sem autorização do dono da obra
O n.º 1 deste artigo diz-nos que são proíbidas. Uma regra que chama a colação o
princípio da estabilidade do contrato do art.º 406.º, n.º 1. Se violar esta proibição, as
alterações são tidas como defeituosas (art.º 1214.º, n.º 2), isto é, uma ficção, porque é
tida como defeituosa mesmo não havendo qualquer defeito da coisa.

b) Alterações autorizadas pelo dono da obra

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Aqui deve distinguir as duas situações que o artigo refere: se for fixado um preço global
para a obra, a autorização do dono da obra deve ser por escrito, devendo nela constar o
aumento. Se não se respeitar estas exigências, o empreiteiro só poderá exigir
indemnização por enrequecimento sem causa, não o aumento do preço (art.º 1214.º, n.º
3 CC).
2. Alterações necessárias (art.º 1215.º CC)
São situações em que a execução da obra impõe, em consequência de direitos de
terceiros ou de regras técnicas, que sejam efetuadas alterações ao plano inicialmente
convencionado. Sendo assim cabe as partes estabelecer as alterações, a revisão do preço
e o prazo de execução.
Prof. Menezes Leitão e Pereira de Almeida sustentam a ideia de que não carece de
qualquer forma o acordo da alteração, mas Mestre Leonel Lopes Batista é da opinião
que deve revistir a forma escrita, para previnir a situação de o empreiteiro não tiver
como provar a existência da autorização.
O artigo 1215.º CC aplica nas situações em que verifica os seguintes pressupostos:
1. Necessidade de alteração resultante de direitos de terceiros ou regras técnicas;
2. Falta de acordo entre as partes.
Se se verificar cumulativamente estes dois requisitos, a lei manda que seja o tribunal a
determinar quais as alterações serão feitas, bem como a revisão do preço e do prazo de
execução da oba.
O Prof. Menezes Leitão chama atenção para não se confundir as alterações necessárias,
das situações em que a obra torna mais onerosa ou difícil de executar, pois neste caso o
empreiteiro pode invocar a alteração de circunstâncias, nos termos do art.º 437.º CC.
São diferentes também das que são imputáveis às partes, caso em que se aplica o regime
de incumprimento das obrigações5.
3. Alterações exigidas pelo dono da obra (art.º 1216.º CC)
Estamos diante de uma exceção ao princípio de estabilidade do contrato (art. 406.º CC).
Ao contrário do que acontece com o empreiteiro, o dono da obra pode pedir alteração do
plano convencionado, sendo que aquele não poderá recusar. Mas, para que isso se
verificar tem que se observar os seguintes requisitos:
1. O valor das despesas não exceder 1/5 do preço;
2. A alteração implicar a modificação da natureza da obra.
Importa referir que tem que ser casuística e deve-se ter em conta as capacidades do
empreiteiro, porque não se pode exigir a um empreiteiro especialista na construção de
casas de madeira para fazer alterações para casa de blocos forçados. Para este caso
deve-se obedecer as exigências do n.º 2 do artigo 1216.º.

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13
4. Menezes Leitão, Ob. Cit. Pág. 537

3. Alterações posteriores à entrega e obra nova (art.º 1217.º CC)


O regime das alterações posteriores à entrega é diferente dos anteriores referidos, estes
não lhes é aplicável. Também não se aplicam às obras que tenham autonomia em
relação às previstas no contrato.
O Prof. Meneze Leitão explica o que são as alterações posteriores à entrega “são as
modificações ao plano convencionado que não lhe alterem a sua naturesa, nem
revistem autonomia em relação às obras inicialmente previstas no contrato –
modificações quanto a estrutura e dimensões da obra, tipo de materiais.” por sua
vez considera-se obras novas “aquelas que, embora tenham alguma relação com a
obra inicialmente projetada, não só não são necessárias para a sua realização,
como não podem considerar-se parte dela.”6 Significa isto dizer que as alterações
posteriores têm a ver com a continuidade de execução da obra inicilamente contratada,
já obra nova é para as situações de obra inicialmente contrada – Critério da
autonomia.

Responsabilidade do empreiteiro

Importa referir que a responsabilização do empreiteiro segue o regime geral. Regimes


como da mora (art. 804.º n.º 1 e 805.º n.º 2, a), do incumprimento parcial ou definitivo
do contrato (arts. 798.º e ss). A responsabilização neste caso contratual, mas pode ser
também extracontratual a partir do momento que viola disposições que protejam
interesses alheios.
Na empreitada o cumprimento defeituoso tem o seu regime próprio que é diferente do
geral. Fala-se do cumprimento defeituoso a partir do momento em que o empreiteiro
embora entregar a obra no devido tempo, mas não obedeceu o convencionado no
contrato, ou porque a própria coisa apresenta vícios.
Os defeitos podem ser aparente e ocultos.
1. Defeitos aparentes são aqueles que o dono da obra pode detetar a quando da
sua verificação com a normal deligência. Ainda são aparentes aqueles
defeitos que o dono da obra conhecia no momento da aceitação, art. 1219.º
CC.
2. Defeitos ocultos são aqueles que o dono da obra não conhecia e nem podia
conhecer com a normal deligência.

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6. Menezes Leitão, Ob. Cit. Pág. 540

Denúncia dos defeitos


O art. 1220.º CC fala da denúncia dos defeitos. Entende-se que está a referir os defeitos
aparentes. Aqui apesar de ter recebido a obra, a lei dá-lhe a possibilidade de denuncía-
los para poder exercer os direitos conferidos pela lei nos artigos seguintes.
O n.º 1 deste artigo diz que o dono da obra deve denunciar ao empreiteiro o defeito
dentro de 30 dias que se começa a contar apartir do dia que teve conhecimento do
mesmo. É fundamental a denúncia porque é condição para o dono da obra poder exercer
os direitos que a lei lhe confere, como o de pedir eliminação dos mesmos, pedir redução
do preço, resolução do contrato e indemnização.
No n.º 2, apartir do momento que o empreiteiro reconhece que a obra apresenta defeito
depois da aceitação do dono da obra, a denúncia por parte deste não torne a condição
para se exercer os direitos referidos, ou seja, poderá logo a isso pedir, por exemplo a
eliminação do defeito.
Eliminação dos defeitos, art.º 1221.º CC
Uma vez denunciado o defeito da obra, poderá o dono da obra pedir eliminação, caso
seja isso possível ou, não sendo possível, pedir nova construção. O primeiro a pedir tem
que ser sempre a eliminação e nunca pode começar com construção nova.
O n.º 2 fala de uma questão da justiça, isto porque, não quer sacrificar o empreiteiro
apenas para beneficar o dono da obra. Se a eliminação do defeito ou a obra nova forem
desproporcionais em relação ao proveito que o dono da obra vai retirar, o empreiteiro
não estará obrigado a proceder com o que for exigido.
Redução do preço, art. 1222.º CC
É uma situação que depende da anterior, isto é, só terá lugar a redução do preço nas
situações em que não se fez a eliminação do defeito ou a obra nova, então o dono da
obra para não ficar prejudico, a lei dá-lhe a possibilidade de pedir que o preço pago seja
reduzido. Faz-se nos termos do artigo 884.º CC.
Resolução do contrato, art. 1222.º CC
Isso tem mais a ver com o fim. Se o defeito apresentado pela obra vai tornar inadequada
o fim a que se destina a coisa e não sendo possível fazer a eliminação dos defeitos, nova
construção, o dono da obra pode pedir a resolução do contrato.
Indemnização, art.º 1223.º CC
O direito a pedir indemnização não depende de nenhum outro direito anteriormente
referido, mas poderá exigir a indemnização a pedir do momento que não forem
reparados os danos causados na sua totalidade.
Se o contrato for resolvido, a indemnização faz-se nos termos do art. 801.º CC.
Caducidade, art. 1224.º CC

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Os direitos conferidos ao dono da obra nos artigos 1221.º, 1222.º e 1223.º CC devem ser
exercidos no prazo de 1 ano a contar da recusa da aceitação da obra ou da aceitação com
reserva.
O n.º 2 do mesmo artigo fala nas situações do defeito ser oculto e o dono tiver aceitado
a obra, o prazo começa com a denúncia, que vai até 2 anos depois da denúncia.
Para imóveis destinados a longa duração o prazo é de 2 anos, mas que é estendido até 5
anos, n.º 1 do art. 1225.º CC.

Extinção do Contrato

Quanto a extinção do Contrato de empreitada o legislador fala: da desistência do


dono da obra (art.º 1229.º CC) e da morte ou incapacidade das partes (art.º 1230.º CC).
1. Desistência do dono da obra
Estamos perante uma faculdade que a lei dá ao dono da obra e pode exercê-la
livremente, sem necessidade de invocar qualquer motivo para tal.
Para Professor Romano Martinez é uma “situação sui generis” de extinção do contrato
de empreitada.
A desistência pode ser realizada a todo tempo, mas nunca pode ser depois da aceitação
da obra, isto porque se isso acontecer estariamos perante uma das modalidades do abuso
de direito que é venire contra factum proprium.
Com a desistência o dono da obra é obrigado a indemnizar o empreiteiro pelos gastos
efetuados, pelo trabalho realizado e pelo proveito que poderia retirar caso terminasse a
obra. É uma indemnização pelo interesse contratual positivo.
2. Morte ou incapacidade de qualquer das partes
Deste artigo resulta ideia de que a empreitada não é um contrato intuito personae nem
em relação a qualquer uma das partes, uma vez que não extingue com a morte de
qualquer uma delas. Mas pode resultar que extingue por estas causas na medida em que,
no ato da celebração, levou-se em consideração as qualidades do empreiteiro, neste caso
seria um contrato intuitu personea. O n.º 2 demostra que se se extinguir por causa da
morte ou incapacidade do empreiteiro, considera-se a execução impossível por causa
não imputada as partes.
3. Cumprimento do contrato
É a forma normal de se extinguir um contrato ou, deveria ser assim. Uma vez que o
empreiteiro realiza a obra e entrega ao empreiteiro e este verifica e aceitação sem
reserva, extingue o contrato pelo cumprimento do empreiteiro (art.º 762.º CC).

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Conclução
Em suma, pode-se notar que o estudo do contrato de empreitada é muito vasto que
ocupa várias páginas nos manuais de Direito, pelo que aqui tentei fazer um resumo dos
aspetos que considero serem mais essenciais, sem querer dizer que deve ser assim.
Outras explicações deixei de lado por entender que a lei explicou e que são de fácil
compreensão com base na leitura dos artigos respetivos.
Pode-se ver, com base neste estudo que é um contrato que tem a sua especificidade, em
certos aspetos, e em muitos outros vai ao regime geral das obrigações para se completar.

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