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Análise de jurisprudência Assento do Supremo Tribunal de Justiça de Portugal de 31.01.1996
(CARDONA FERREIRA), Proc. N.º 87495.
b) Qual a qualificação do contrato de fornecimento de elevadores com serviço de montagem: compra e
venda ou empreitada? (ii) Qual a relevância da questão? A propósito, comente esta passagem do acórdão:
“[…] um elevador é com podem o um puzzle que só tem sentido no seu conjunto, mas quer as partes, quer
o todo são – ou ser – alienados pelo fornecedor. O que, todavia, dá o toque específico ao contrato é a
colocação, é o por a funcionar e o que daí juridicamente decorra”. Será que esta linha de argumentação
não levaria a considerar que todos os contratos de compra e venda com obrigação de montagem seriam
contratos de empreitada?
R: A qualificação do contrato de fornecimento com serviço de instalação é uma verdadeira vexata
quaestio tanto na doutrina como na Jurisprudência que passa por identificar qual é a sua natureza:
contrato de compra e venda ou contrato de empreitada. Entretanto, apoiando-se na posição do prof. José
Manuel Vilalonga, o contrato de fornecimento com serviço de instalação configura-se numa união de
contratos. A união de contratos é uma classificação que não tem acolhimento legal, mas é aceite pela
doutrina e pela jurisprudência, neste caso, de acordo com o Ac. TRC de 08-02-2011 ‘’ ... a união ou
coligação de contrato em que cada um deles (contrato) conserva a sua individualidade, configurando-se
numa união extrínseca (em que o único facto de ligação reside na circunstância de se celebrarem na
mesma ocasião (constando por exemplo do mesmo escrito), uma união com dependência (entre os
contratos existe um vínculo traduzido no facto de a validade e vigência de um depender da validade e
vigência do outro), uma união alternativa ( são celebrados dois contratos em termos tais que conforme
ocorrer ou não certo evento, considerar-se-á celebrado apenas um). ’’
Segundo Menezes Cordeiro, dizem respeito ao ‘’ fornecimento ‘’ de bens, as prestações de coisa
v.g. arts. 874.º e 879.º.do CC; e segundo o mesmo autor dizem respeito à realização de serviço as
prestações de facto v.g. arts. 1207.º e 120º do CC. No contrato de fornecimento com serviço de instalação
podemos verificar duas prestações de contratos diferentes, o de fornecimento (compra e venda) e a
instalação (contrato de empreitada) que se separados ambos mantêm a sua individualidade, validade e
vigência, onde o contrato de instalação dependeu do contrato de compra e venda configurando-se numa
união interna.
A questão é de suma relevância ao passo que permite determinar o regime jurídico contratual que
vai regular o contrato em questão a partir do enquadramento deste numa das classificações contratuais
juridicamente sistematizadas . Ou seja, a qualificação jurídica, segundo Antunes Varela, consiste em
saber se nos contratos existem dois ou mais contratos (típicos ou atípicos), se estão fundamentalmente
correlacionados entre si, ou se há, pelo contrário, um só contrato atípico de diversas prestações.
• “[…] um elevador é como um puzzle que só tem sentido no seu conjunto, mas quer as partes,
quer o todo são – ou podem ser – alienados pelo fornecedor. O que, todavia, dá o toque específico
ao contrato é a colocação, é o pôr a funcionar e o que daí juridicamente decorra”.
O elevador é uma máquina que transporta pessoas de um andar para outro. Juridicamente falando,
o elevador classifica-se como uma coisa móvel nos termos do art. 205.º do CC. Ora, coisa é definida na
doutrina como ‘’ toda a realidade autónoma, que não sendo pessoa em sentido jurídico, é dotada de
utilidade e susceptível de dominação pelo homem’’.
O elevador, sendo uma realidade autónoma com a possibilidade de ser apropriada
exclusivamente por alguém e com aptidão para satisfazer interesses ou necessidades humanas, ou seja,
dotada de utilidade, classifica-se ainda como uma coisa composta nos termos do art. 206 ao passo que são
compostas as coisas que integram na sua unidade uma pluralidade de coisas que enquanto não forem
separadas não podem ser tratadas como coisas, mas quando separadas, constituem verdadeiras coisas
móveis susceptíveis de serem objeto de relações jurídicas. Entretanto, a passagem do acórdão, não
retirando a possiblidade do elevador ser susceptível de alienação ressalta que por si só, o elevador não tem
utilidade, pois depende da sua instalação (de uma obra) para funcionar e depois de instalado, se torna
parte integrante do edifício e perde a sua individualidade (cfr. Art.204.º do CC) se tornando propriedade
do proprietário do edifício.
Com esta linha de argumentação dando ênfase ao facto que um elevador só tem eficácia e nesse
caso, utilidade quando for instalado, sabendo nós que a instalação de alguma máquina faz-se por mera
prestação de serviço e consubstancia-se na realização de uma prestação de facto, faz deduzir que sim,
todo contrato de fornecimento com montagem é um contrato de empreitada, pelo que, não conduz com a
verdade. Ora, pode se dar o caso de a montagem, além de ser resultado da união de contratos como acima
foi referido.
b) O tribunal aborda uma interessante questão: em contratos de empreitada, é possível apor uma cláusula
de reserva de propriedade, nos termos do artigo 409.º do CC? Analise a resposta dada pelo Tribunal e os
argumentos que a suportam.
R: A cláusula de reserva de propriedade vem regulada no art. 409.º do CC onde faz menção que ‘’ no
contrato de alienação é lícito ao alienante reservar para si a propriedade da coisa até ao cumprimento total
ou parcial das obrigações da outra parte ou até a verificação de qualquer outro evento.’’, ora, é expressa a
faculdade de apor a cláusula no contrato de alienação. A alienação é a forma voluntária de perda de
propriedade. É o acto pelo qual o titular transfere sua propriedade a outro interessado. E pode ser,
voluntária como a dação em pagamento e compulsória como a arrematação. Ainda pode ser a título
oneroso como a compra e venda e a título gratuito como a doação. Cumpre ressaltar que na alienação a
transferência da propriedade opera-se por mero efeito contrato, neste afã, fica excluído do âmbito de
aposição da cláusula de reserva de propriedade o contrato de empreitada mesmo o com eficácia real (cfr.
art. 1212,º do CC) por não ser uma forma de alienação.
O Tribunal a essa questão responde negativamente a aposição da cláusula de reserva de
propriedade no contrato de empreitada com os seguintes fundamentos:
1. ‘’ ... a cláusula de reserva de propriedade possa ser válida e eficaz quando o elevador é uma coisa
móvel por natureza, a partir do momento em que passa a ser parte componente ou integrante de
um prédio urbano e, juridicamente, imóvel, ao serviço e sob a propriedade de quem é dono de
todo o imóvel, e dos respectivos utentes, tal cláusula torna-se, seguramente, ineficaz e inoponível
ao proprietário e aos utentes do imóvel, sem prejuízo da responsabilidade de quem tenha
contratado com o fornecedor do elevador, seja qual for essa responsabilidade’’.
Ora, este argumento tem como fundamento o art. 204.º n.º1 alínea e) em combinação com o n.º 3
do mesmo artigo e 1421.º n.º2 alínea b) ambos do CC, que alude que são coisas imóveis toda coisa móvel
ligada materialmente ao prédio com carácter de permanência. Nesta situação, a cláusula de reserva de
propriedade torna-se ineficaz pelo facto de que, a cláusula de reserva de propriedade não ser oponível ao
proprietário que não seja o alienante.
2. ‘’ Tudo isto em consonância com o direito real de propriedade sobre o imóvel.’’
Este argumento é fundamentado como base no art. 1212.º mediante aceitação do dono da obra o que tem
como efeito a transmissão imediata a propriedade da coisa ao dono da obra. Já o art. 1305.º estabelece o
conteúdo do direito de propriedade o que faz com que a cláusula de reserva de propriedade perca a
eficácia tão logo seja entregue ou concluída a obra.
• “em regra, a posição do proprietário prefere a posição dos terceiros, mesmo que de boa-fé”.
No processo em causa, verificou-se que o proprietário do prédio é terceiro ao contrato de fornecimento
com instalação de serviço de elevadores ao passo que tal contrato foi estabelecido entre o contraente
forncedor e o contraente comprador. Nesta senda, o contraente comprador foi um mero intermediário do
proprietário do prédio urbano em questão providenciando (concedendo, fornecer, pôr à disposição para
uso) ao proprietário o elevador (cfr. art. 1880º CC).
d) A dada altura, o tribunal questiona: o que são, juridicamente, os elevadores? Como é respondida essa
questão?
R: O Tribunal a esta questão, define o elevador como uma coisa móvel e composta quando isoladamente
nos termos dos arts. 204.º a 206.º do CC. Ou seja, define como um conjunto de elementos que antes de
comporem ou integrarem o elevador, são elas mesmas, no todo ou em parte, passíveis de negócios
jurídicos autónomos. Mas quando integrados, compõem o elevador.
e) Em que momento passam os elevadores para a propriedade do proprietário do prédio onde os mesmos
se incorporam? Qual o papel do artigo 1212.º, n.º 2 do CC a esse propósito?
R: O elevador, segundo o art. 1212.º do CC, passam para a propriedade do proprietário do prédio no
momento da aceitação deste se o forem fornecido pelo empreiteiro não dependo assim que a mesma se
incorpore na obra nem que seja feita a entrega.
O art. 1212.º n.º 2 quanto a esse propósito, tem o papel de determinar o momento da transmissão
da coisa na construção de imóvel na propriedade do dono da obra que diferente da coisa móvel, não basta
a aceitação, mas que a coisa se incorpore no solo ou na superfície pertencente ao dono da obra.
f) Considera a decisão do tribunal aceitável, do ponto de vista da tutela do titular da reserva de
propriedade? Ou considera que esse titular deveria pura e simplesmente ter encontrado outros meios mais
adequados de garantir o seu crédito do preço do que uma reserva de propriedade de um bem que está, por
sua natureza, destinado a fazer parte integrante (ou componente) de uma coisa imóvel? Quais poderiam
ser esses outros meios de garantia do crédito do preço?
R: Considero que o titular deveria pura e simplesmente ter encontrado outros meios mais adequados de
garantir o seu crédito do preço. Ora, a cláusula de reserva de propriedade constitui uma garantia para o
vendedor em caso de incumprimento da obrigação, mas não garante que o vendedor não venha a perder
essa garantia e que se sucedesse, segundo Menezes Cordeiro, o vendedor deve suportar o risco dessa
perda. Um outro meio para garantir o crédito ao preço ser a aposição de uma condição resolutiva no
contrato e na falta desta, accionar a o direito de Acção e exigir judicialmente o seu cumprimento a partir
de executar o património do devedor nos termos dos arts. 817.º do CC, 2.º e 4.º n.º2 alínea a) todos do
CPC. O que permitiria que, o Tribunal, decidisse em nome do inadimplente e o obrigasse coercivamente a
cumprir a obrigação.
g) O que sucederia, de acordo com o caminho argumentativo seguido pelo tribunal, se os elevadores
fossem desligados do prédio? Relacione a resposta a essa questão com a defesa, feita pelo tribunal, de que
a reserva de propriedade se torna ineficaz quando se concretiza a instalação dos elevadores nos prédios.
R: De acordo com o caminho argumentativo seguido pelo Tribunal, se os elevadores fossem desligados
do prédio, estes deixariam de ser parte integrante do prédio voltando a ser uma coisa móvel. Se, segundo
o Tribunal, a condição de ineficácia da cláusula de reserva de propriedade em um contrato de
fornecimento e instalação do elevador, se o elevador fosse desligado do prédio, isto é, desconectado, a
clásula de resrva de propriedade se tornaria eficaz e produziria os efeitos correspondentes.
3. Tendo por base a questão anterior, quid iuris se Joaquim descobre que Henrique vendera o andar a
Luís, que ainda não o registara?
R: Joaquim ainda assim nada poderia fazer contra Luís pois, diferente de Joaquim este já celebrara o
contrato prometido tendo assim o direito sobre o andar (408.º do CC)e não há indícios de que Luís agira
de má fé. Portanto Joaquim terá que se sujeitar novamente ao regime da indemnização retratado na
questão 1.
R: O caso em questão aborda sobre os requisitos do objeto das obrigações, especificamente prestações de
facto do tipo negativa, tendo a obrigação por fonte um contrato bilateral. Esta é de facto negativa quando
o facto singe-se numa omissão, ou seja, no não agir da actividade .
No exercício da liberdade contratual as partes podem celebrar contratos atípicos e fixar
livremente o conteúdo destes desde que não vão contra o que está legalmente fixado (219º. e 223º. Do
CC).
“António celebrou um negócio com Engrácia,onde,de forma expressa ofereceu a Engrácia
1.500.000kz para que a mesma nunca mais tocasse piano e, Engrácia aceitou, depois de celebrado o
acordo, passou-se 1 ano e Engrácia arrependeu-se. Neste caso, poderá Engrácia descumprir com a
obrigação? Poderá António reaver o seu dinheiro ?“ Como devemos proceder quanto a essas questões,
visto que, Antônio está provido de garantia da obrigação (conjunto de obrigações que a lei impõe a
disposição do credor, em ordem à satisfação do seu crédito 601º. do CC ).
Partindo da premissa de que as obrigações não são para toda a vida, pois, elas se extinguem, no
caso em apreço não aconteceu diferente. O devedor que falta culposamente ao cumprimento da obrigação
torna-se responsável pelo prejuízo que causa ao credor (798º. do CC), mas, a natureza da arte que corre
que nas veias de Engrácia foi mais forte quanto a obrigação que ela se sujeitou, por isso incorre ao
incumprimento da obrigação então, não sendo a obrigação voluntariamente cumprida, o credor tem o
direito de exigir judicialmente o seu cumprimento e de executar o património do devedor nos termos do
art 817° CC.
Se o devedor (Engrácia) estiver obrigado a uma omissão (não tocar piano) e tiver a pretensão de
fazê-lo, tem o credor o direito de exigir que se faça, como se obrigou a não fazer, porém, este direito cessa
havendo apenas lugar à indenização (Engrácia terá de indenizar Antônio por não cumprir com a obrigação
art 829.°) visto que se a Engrácia voltar a dar utilidade a sua arte, Antônio sairá no prejuízo (a
probabilidade de aumentar a sua frustração por nunca ter conseguido aprender a tocar piano).
Chegamos a conclusão que, torna-se impossível prestação por causa imputável ao devedor, este é
responsável como se faltasse culposamente ao cumprimento da obrigação, então tendo a obrigação por
fonte um contrato bilateral, o credor independentemente do direito a indenização, pode Antônio resolver o
contrato, de forma convencional, é restituído o dinheiro por inteiro e o contrato é extinguido (art 801°
CC).
UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO
FACULADADE DE DIREITO
Grupo nº
3º ano
Turma única
Período: Diúrno