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Caso prático n.º 1(Reserva de propriedade – cláusula.

)
Análise de jurisprudência Assento do Supremo Tribunal de Justiça de Portugal de 31.01.1996
(CARDONA FERREIRA), Proc. N.º 87495.
b) Qual a qualificação do contrato de fornecimento de elevadores com serviço de montagem: compra e
venda ou empreitada? (ii) Qual a relevância da questão? A propósito, comente esta passagem do acórdão:
“[…] um elevador é com podem o um puzzle que só tem sentido no seu conjunto, mas quer as partes, quer
o todo são – ou ser – alienados pelo fornecedor. O que, todavia, dá o toque específico ao contrato é a
colocação, é o por a funcionar e o que daí juridicamente decorra”. Será que esta linha de argumentação
não levaria a considerar que todos os contratos de compra e venda com obrigação de montagem seriam
contratos de empreitada?
R: A qualificação do contrato de fornecimento com serviço de instalação é uma verdadeira vexata
quaestio tanto na doutrina como na Jurisprudência que passa por identificar qual é a sua natureza:
contrato de compra e venda ou contrato de empreitada. Entretanto, apoiando-se na posição do prof. José
Manuel Vilalonga, o contrato de fornecimento com serviço de instalação configura-se numa união de
contratos. A união de contratos é uma classificação que não tem acolhimento legal, mas é aceite pela
doutrina e pela jurisprudência, neste caso, de acordo com o Ac. TRC de 08-02-2011 ‘’ ... a união ou
coligação de contrato em que cada um deles (contrato) conserva a sua individualidade, configurando-se
numa união extrínseca (em que o único facto de ligação reside na circunstância de se celebrarem na
mesma ocasião (constando por exemplo do mesmo escrito), uma união com dependência (entre os
contratos existe um vínculo traduzido no facto de a validade e vigência de um depender da validade e
vigência do outro), uma união alternativa ( são celebrados dois contratos em termos tais que conforme
ocorrer ou não certo evento, considerar-se-á celebrado apenas um). ’’
Segundo Menezes Cordeiro, dizem respeito ao ‘’ fornecimento ‘’ de bens, as prestações de coisa
v.g. arts. 874.º e 879.º.do CC; e segundo o mesmo autor dizem respeito à realização de serviço as
prestações de facto v.g. arts. 1207.º e 120º do CC. No contrato de fornecimento com serviço de instalação
podemos verificar duas prestações de contratos diferentes, o de fornecimento (compra e venda) e a
instalação (contrato de empreitada) que se separados ambos mantêm a sua individualidade, validade e
vigência, onde o contrato de instalação dependeu do contrato de compra e venda configurando-se numa
união interna.
A questão é de suma relevância ao passo que permite determinar o regime jurídico contratual que
vai regular o contrato em questão a partir do enquadramento deste numa das classificações contratuais
juridicamente sistematizadas . Ou seja, a qualificação jurídica, segundo Antunes Varela, consiste em
saber se nos contratos existem dois ou mais contratos (típicos ou atípicos), se estão fundamentalmente
correlacionados entre si, ou se há, pelo contrário, um só contrato atípico de diversas prestações.

• “[…] um elevador é como um puzzle que só tem sentido no seu conjunto, mas quer as partes,
quer o todo são – ou podem ser – alienados pelo fornecedor. O que, todavia, dá o toque específico
ao contrato é a colocação, é o pôr a funcionar e o que daí juridicamente decorra”.
O elevador é uma máquina que transporta pessoas de um andar para outro. Juridicamente falando,
o elevador classifica-se como uma coisa móvel nos termos do art. 205.º do CC. Ora, coisa é definida na
doutrina como ‘’ toda a realidade autónoma, que não sendo pessoa em sentido jurídico, é dotada de
utilidade e susceptível de dominação pelo homem’’.
O elevador, sendo uma realidade autónoma com a possibilidade de ser apropriada
exclusivamente por alguém e com aptidão para satisfazer interesses ou necessidades humanas, ou seja,
dotada de utilidade, classifica-se ainda como uma coisa composta nos termos do art. 206 ao passo que são
compostas as coisas que integram na sua unidade uma pluralidade de coisas que enquanto não forem
separadas não podem ser tratadas como coisas, mas quando separadas, constituem verdadeiras coisas
móveis susceptíveis de serem objeto de relações jurídicas. Entretanto, a passagem do acórdão, não
retirando a possiblidade do elevador ser susceptível de alienação ressalta que por si só, o elevador não tem
utilidade, pois depende da sua instalação (de uma obra) para funcionar e depois de instalado, se torna
parte integrante do edifício e perde a sua individualidade (cfr. Art.204.º do CC) se tornando propriedade
do proprietário do edifício.
Com esta linha de argumentação dando ênfase ao facto que um elevador só tem eficácia e nesse
caso, utilidade quando for instalado, sabendo nós que a instalação de alguma máquina faz-se por mera
prestação de serviço e consubstancia-se na realização de uma prestação de facto, faz deduzir que sim,
todo contrato de fornecimento com montagem é um contrato de empreitada, pelo que, não conduz com a
verdade. Ora, pode se dar o caso de a montagem, além de ser resultado da união de contratos como acima
foi referido.
b) O tribunal aborda uma interessante questão: em contratos de empreitada, é possível apor uma cláusula
de reserva de propriedade, nos termos do artigo 409.º do CC? Analise a resposta dada pelo Tribunal e os
argumentos que a suportam.
R: A cláusula de reserva de propriedade vem regulada no art. 409.º do CC onde faz menção que ‘’ no
contrato de alienação é lícito ao alienante reservar para si a propriedade da coisa até ao cumprimento total
ou parcial das obrigações da outra parte ou até a verificação de qualquer outro evento.’’, ora, é expressa a
faculdade de apor a cláusula no contrato de alienação. A alienação é a forma voluntária de perda de
propriedade. É o acto pelo qual o titular transfere sua propriedade a outro interessado. E pode ser,
voluntária como a dação em pagamento e compulsória como a arrematação. Ainda pode ser a título
oneroso como a compra e venda e a título gratuito como a doação. Cumpre ressaltar que na alienação a
transferência da propriedade opera-se por mero efeito contrato, neste afã, fica excluído do âmbito de
aposição da cláusula de reserva de propriedade o contrato de empreitada mesmo o com eficácia real (cfr.
art. 1212,º do CC) por não ser uma forma de alienação.
O Tribunal a essa questão responde negativamente a aposição da cláusula de reserva de
propriedade no contrato de empreitada com os seguintes fundamentos:
1. ‘’ ... a cláusula de reserva de propriedade possa ser válida e eficaz quando o elevador é uma coisa
móvel por natureza, a partir do momento em que passa a ser parte componente ou integrante de
um prédio urbano e, juridicamente, imóvel, ao serviço e sob a propriedade de quem é dono de
todo o imóvel, e dos respectivos utentes, tal cláusula torna-se, seguramente, ineficaz e inoponível
ao proprietário e aos utentes do imóvel, sem prejuízo da responsabilidade de quem tenha
contratado com o fornecedor do elevador, seja qual for essa responsabilidade’’.
Ora, este argumento tem como fundamento o art. 204.º n.º1 alínea e) em combinação com o n.º 3
do mesmo artigo e 1421.º n.º2 alínea b) ambos do CC, que alude que são coisas imóveis toda coisa móvel
ligada materialmente ao prédio com carácter de permanência. Nesta situação, a cláusula de reserva de
propriedade torna-se ineficaz pelo facto de que, a cláusula de reserva de propriedade não ser oponível ao
proprietário que não seja o alienante.
2. ‘’ Tudo isto em consonância com o direito real de propriedade sobre o imóvel.’’
Este argumento é fundamentado como base no art. 1212.º mediante aceitação do dono da obra o que tem
como efeito a transmissão imediata a propriedade da coisa ao dono da obra. Já o art. 1305.º estabelece o
conteúdo do direito de propriedade o que faz com que a cláusula de reserva de propriedade perca a
eficácia tão logo seja entregue ou concluída a obra.

c) A reserva de propriedade em contratos de fornecimento de bens móveis não sujeitos a registo é


oponível a terceiros de boa-fé que a desconhecessem? Recorde essa discussão ao nível da doutrina das
Obrigações. Comente a afirmação constante das alegações de uma das partes no processo, onde se refere
que, “em regra, a posição do proprietário prefere a posição dos terceiros, mesmo que de boa-fé”.
R: A nível da doutrina das Obrigações há uma vexata quaestio quanto a oponibilidade da cláusula de
reserva de propriedade a terceiros. Ora, segundo Romano Martinez, a cláusula de reserva de propriedade
é inoponível a terceiros baseando-se no princípio de que “posse vale título” pelo facto de que com a
reserva de propriedade, o adquirente contrai os direitos de uso e fruto actuando como se proprietário
fosse, o que significa que na ignorância da cláusula,a coisa pertence ao terceiro comprador. Entretanto,
para Menezes Leitão, Antunes Varela e Orlando Rodrigues a oponibilidade a terceiros desconhecidos
mesmo que boa fé é automática, isto porque, por exclusão de partes, o art. 409º do CC não sujeita o
registo aos bens móveis para efeitos de oponibilidade a terceiros desconhecidos mesmo que de boa-fé.

• “em regra, a posição do proprietário prefere a posição dos terceiros, mesmo que de boa-fé”.
No processo em causa, verificou-se que o proprietário do prédio é terceiro ao contrato de fornecimento
com instalação de serviço de elevadores ao passo que tal contrato foi estabelecido entre o contraente
forncedor e o contraente comprador. Nesta senda, o contraente comprador foi um mero intermediário do
proprietário do prédio urbano em questão providenciando (concedendo, fornecer, pôr à disposição para
uso) ao proprietário o elevador (cfr. art. 1880º CC).

d) A dada altura, o tribunal questiona: o que são, juridicamente, os elevadores? Como é respondida essa
questão?
R: O Tribunal a esta questão, define o elevador como uma coisa móvel e composta quando isoladamente
nos termos dos arts. 204.º a 206.º do CC. Ou seja, define como um conjunto de elementos que antes de
comporem ou integrarem o elevador, são elas mesmas, no todo ou em parte, passíveis de negócios
jurídicos autónomos. Mas quando integrados, compõem o elevador.
e) Em que momento passam os elevadores para a propriedade do proprietário do prédio onde os mesmos
se incorporam? Qual o papel do artigo 1212.º, n.º 2 do CC a esse propósito?
R: O elevador, segundo o art. 1212.º do CC, passam para a propriedade do proprietário do prédio no
momento da aceitação deste se o forem fornecido pelo empreiteiro não dependo assim que a mesma se
incorpore na obra nem que seja feita a entrega.
O art. 1212.º n.º 2 quanto a esse propósito, tem o papel de determinar o momento da transmissão
da coisa na construção de imóvel na propriedade do dono da obra que diferente da coisa móvel, não basta
a aceitação, mas que a coisa se incorpore no solo ou na superfície pertencente ao dono da obra.
f) Considera a decisão do tribunal aceitável, do ponto de vista da tutela do titular da reserva de
propriedade? Ou considera que esse titular deveria pura e simplesmente ter encontrado outros meios mais
adequados de garantir o seu crédito do preço do que uma reserva de propriedade de um bem que está, por
sua natureza, destinado a fazer parte integrante (ou componente) de uma coisa imóvel? Quais poderiam
ser esses outros meios de garantia do crédito do preço?
R: Considero que o titular deveria pura e simplesmente ter encontrado outros meios mais adequados de
garantir o seu crédito do preço. Ora, a cláusula de reserva de propriedade constitui uma garantia para o
vendedor em caso de incumprimento da obrigação, mas não garante que o vendedor não venha a perder
essa garantia e que se sucedesse, segundo Menezes Cordeiro, o vendedor deve suportar o risco dessa
perda. Um outro meio para garantir o crédito ao preço ser a aposição de uma condição resolutiva no
contrato e na falta desta, accionar a o direito de Acção e exigir judicialmente o seu cumprimento a partir
de executar o património do devedor nos termos dos arts. 817.º do CC, 2.º e 4.º n.º2 alínea a) todos do
CPC. O que permitiria que, o Tribunal, decidisse em nome do inadimplente e o obrigasse coercivamente a
cumprir a obrigação.
g) O que sucederia, de acordo com o caminho argumentativo seguido pelo tribunal, se os elevadores
fossem desligados do prédio? Relacione a resposta a essa questão com a defesa, feita pelo tribunal, de que
a reserva de propriedade se torna ineficaz quando se concretiza a instalação dos elevadores nos prédios.
R: De acordo com o caminho argumentativo seguido pelo Tribunal, se os elevadores fossem desligados
do prédio, estes deixariam de ser parte integrante do prédio voltando a ser uma coisa móvel. Se, segundo
o Tribunal, a condição de ineficácia da cláusula de reserva de propriedade em um contrato de
fornecimento e instalação do elevador, se o elevador fosse desligado do prédio, isto é, desconectado, a
clásula de resrva de propriedade se tornaria eficaz e produziria os efeitos correspondentes.

Caso prático nº4(Contrato com eficácia Real):


António vendeu a Bernardo uns tantos metros cúbicos de cortiça, que o adquirente viria carregar
a certo montado de António «o mais tardar daqui a três dias». Durante esse tempo e nos dias seguintes,
António teve sempre cortiça disponível em quantidade suficiente para satisfazer Bernardo, embora a
cortiça fosse mudando, à medida que outros compradores levavam os seus carregamentos e mais cortiça
ia sendo cortada.
1. Ao sexto dia, e sem que Bernardo aparecesse, todo aquele montado e toda a cortiça aí armazenada
foram destruídos num incêndio fortuito. Dias depois, sabendo do sucedido, Bernardo diz a António que,
não obstante, este tem de lhe entregar cortiça vendida. António contrapõe que nada tem de entregar e
exige que lhe seja pago o preço acordado. Quem tem razão?
R:António tem razão, uma vez que nos termos do nº1 do art. 408.º do CC nos é apresentada a regra geral
dos contratos com eficácia Real (basta que o contrato seja celebrado para operar a constituição ou
transferência de direitos reais, independentemente de qualquer acto posterior de entrega ou de registo).
Sendo assim, bastou a celebração do contrato para que o adquirente (Bernardo) se convertesse em
proprietário. O risco da perda ou deterioração da coisa passa também a correr por conta do adquirente a
partir do momento da celebração do contrato (n.º1 do art. 769.⁰ do CC).Tratando-se de um icêndio fortuito
é de conhecimento geral que António não teve nenhuma vinculação ao incêndio que destruiu as cortiças
de Bernardo e, por outro lado, houve mora por parte do adquirente na busca das cortiças.
2. Suponha que o incêndio ocorreu no dia seguinte ao da celebração do contrato. A resposta seria a
mesma?
R: Ainda em sede do caso em análise, continuaríamos a atribuir razão a António, tendo como
fundamento o "Sistema de título" tal como afirma o professor Menezes Leitão, consagrado o regime regra
no n.º1 do art. 408.° do CC, onde subsumiu-se que a transmissão das cortiças deu-se por mero efeito do
contrato e isso é indiferente à entrega da coisa, portanto Bernardo é considerado proprietário a partir da
celebração do contrato, sofrendo o risco da sua perda ou deterioração nos termos do n.º1 do art. 796.⁰ do
CC. Seguimos esta ideia porque o quid sobre o qual incidia o contrato preenchia os requisitos citados no
n.º1 do art. 408⁰ do CC.
Caso prátio nº 8
Henrique, proprietário de um andar em Ondjiva, escreve em 10/12/19 a Joaquim propondo a
venda daquele seu andar. Joaquim responde a 23 de Dezembro do mesmo ano dizendo que está
interessado, mas que não poderá dar mais do que 12.500.000 Kwanzas, tendo ainda que conseguir
6.000.000 Kwanzas junto de um seu familiar.
Henrique aceita e uma semana depois envia a Joaquim um contrato-promessa assinado, nos
termos do qual a escritura de compra e venda teria lugar dentro de 6 meses a contar daquela data. Joaquim
guarda o contrato, esquecendo-se de o assinar.
Entretanto, em conversa com Luís, Henrique conclui que este pagará pelo andar 13.500.000
Kwanzas, pelo que, em 15/01/20, celebra com aquele um contrato-promessa de compra e venda do
mesmo andar, tendo naquele momento recebido 2.500.000 Kwanzas a título de antecipação de
pagamento; o contrato foi reduzido a escritura pública e objecto de inscrição no registo.
Responda, fundadamente, às seguintes questões:
1. Qual a possibilidade de Joaquim obter sentença judicial que substitua a declaração negocial de
Henrique, não querendo este celebrar o contrato de compra e venda?
R: Supondo que Joaquim, ao esquecer de assinar não agiu de má fé, o que nos remete à redução do
contrato nos termos do (292.º do CC) e com base no princípio “utile per inutile non vitiatur” , tornando-o
num contrato unilateral, este contrato é válido.
Tratando-se de incumprimento definitivo (808.ºn.º1 do CC), pois Henrique repudiou a promessa
celebrada com Joaquim ao celebrar a escritura pública de compra e venda com Luís agindo, assim, de má
fé (227.º do CC) e sabendo que a promessa, por regra gera apenas efeitos obrigacionais (no caso, a
obrigação de exarar a declaração negocial correspondente ao contrato prometido), e se não cumprida, ao
promitente pode recair a responsabilidade(798.º e 801.º n.º1 do CC) contratual estando sujeito ao
pagamento de uma indemnização nos termos do 562.º do CC. No entanto, Joaquim pode, no prazo de 3
anos (497.º do CC) pedir ao Tribunal, por meio de uma acção declarativa de condenação, que condene
Henrique ao pagameno de uma indemnização nos termos do 483º. CC, já que, em realação à Luís nada
pode fazer, pois o contrato que este celebrou com Henrique tem eficácia real pois foi reduzido à escritura
pública e é oponível a terceiros, nos termos do 413.º do CC e do 7.º Cod. Reg. Predial, pois foi objecto de
registo.
2. Quid iuris se o contrato celebrado entre Henrique e Luís não tivesse sido objecto de inscrição no
registo predial, descobrindo Joaquim, entretanto, no dia 19/05/20, que a escritura de compra e venda foi
datada para 01/06/20?
R: Se a situação procedesse deste modo, Joaquim ao aperceber-se, poderia dirigir-se à Henrique e sugerir
a celebração do contrato prometido e, se assim procedesse, registar a compra para que esta seja oponível à
Luís (413.ºdo CC) tornando a promessa celebrada entre os dois (Henrique e Luís) inadimplente, ficando
este sujeito ao regime da indemnização nos termos já abordados na questão anterior e ao pagamento do
sinal em dobro (442.º n.º2 do CC). Pois, “em matéria de promessa, vinga o que primeiro obter a
celebração do contrato prometido”.
Mas,se Henrique recusar celebrar o contrato definitivo e o prazo estipulado (6 meses) prescrever
Henrique vai incorrer ao incumprimento moratório o que dá à Joaquim o direito de propor em Tribunal
uma acção de execução específica(817.º e 830.º n.º1 do CC) e uma indemnização moratória.

3. Tendo por base a questão anterior, quid iuris se Joaquim descobre que Henrique vendera o andar a
Luís, que ainda não o registara?
R: Joaquim ainda assim nada poderia fazer contra Luís pois, diferente de Joaquim este já celebrara o
contrato prometido tendo assim o direito sobre o andar (408.º do CC)e não há indícios de que Luís agira
de má fé. Portanto Joaquim terá que se sujeitar novamente ao regime da indemnização retratado na
questão 1.

Caso prático nº12(Pacto de Preferência)


Péricles é proprietário de certa quinta e titular de uma servidão legal de passagem sobre uma
quinta vizinha. Decidido a vender a quinta, mandou uma carta a Fídias, o dono do terreno onerado,
perguntando-lhe «se pretendia exercer por Kz. 100.000.000 o seu direito de preferência».
Tucídides tinha-lhe oferecido esse valor pela quinta. Fídias nada disse, de modo que, passados 15
dias, Péricles a vendeu de facto a Tucídides, por Kz. 100.000.000, declarando-se na escritura o preço de
Kz. 60.000.000.
Tucídides pagou ainda o imposto predial pela transmissão e os emolumentos notariais e registais.
Fídias resolve propor uma acção contra Fídias para exigir a propriedade sobre a quinta, depositando Kz.
60.000.000.
Quid iuris?
O caso em apreciação enquadra-se na matéria relativa as fontes das obrigações plasmada no livro
II do CC, art. 405.º e ss, (entendidas segundo o Professor Menezes Leitão como os factos jurídicos que
dão origem ao vínculo obrigacional) especificamente na secção I inerente aos Contratos e subseção III
relativa ao Pacto de Preferência, que a luz do art 414.º diz respeito a convenção pela qual alguém assume
a obrigação de dar preferência a outrem na venda de determinada coisa, ou seja, é um contrato preliminar
em que o obrigado a preferência se obriga a escolher como contraparte o preferente, desde que este lhe
ofereça as mesmas condições que o terceiro. Trata-se aqui de uma preferência legal (art 1555.°) cuja
titularidade pertence a Fídias.
O problema enunciado levanta inúmeras questões que desde já necessitam de uma especial
atenção;
No que diz respeito a comunicação, o nº 1 do art 416.º do CC estabelece que o obrigado deve
comunicar ao titular do direito o projeto de venda e as cláusulas do respectivo contrato, ou seja, esta deve
englobar a proposta, devidamente fundamentada e caracterizada como tal, os elementos essenciais para a
formação do contrato (preço e condições de pagamento) bem como a identidade do terceiro, que apesar de
ser objeto de divergência doutrinária entendemos ser um elemento importante. Ademais, deve entender-se
que são essenciais todos os fatores do negócio suscetíveis de influenciarem decisivamente na formação da
vontade do titular do direito de preferência, permitindo- lhe uma -consciente escolha entre preferir ou
abdicar do seu direito.
Concernente a simulação do preço (o preço declarado para a transmissão é inferior ao preço
efetivamente praticado) a lei veda aos simuladores a possibilidade de exigir que a preferência seja
efetuada pelo preço real, uma vez que, o preferente sustenta-se com base no negócio nulo cuja preferência
apenas seria afastada através dessa invocação, porém o n.º 1 do art 243.º do CC proíbe a arguição da
nulidade proveniente da simulação por parte de simuladores contra terceiros de boa fé .
Nesta senda, entendemos que é legítima à pretenção de Fídias, podendo intentar uma Acção
Declarativa Constitutiva com fundamento na escritura pública, que constitui prova plena, uma vez que,
Péricles (o obrigado a preferência) transmitiu à quinta num preço distinto do que havia informado à Fídias
( n.°1 do art 416.° e 371.° do CC). Ademais, Fídias tem também o direito de exercer a sua preferência
pelo preço declarado na escritura pública (valor que já depositou), sendo que a lei veda a possibilidade de
lhe ser exigido o valor real (pois os simuladores não teriam como provar contra à escritura pública e é
inadimissível uma prova testemunhal) art 393.° do CC.
Concluímos que a comunicação de Péricles foi demasiado abstrata e vaga, o que impossibilitou
ao interessado construir um interesse contratual positivo, razão pela qual a comunicação foi ineficaz por
ausência dos elementos essenciais do negócio. A Fídias assiste o recurso à ação de preferência (art 1410.°
do CC), que é um mecanismo de reação reconhecido ao titular do direito de preferência que tem em vista
requerer para si a coisa transmitida a terceiro à qual tinha direito de preferência. Esta ação deve ser
intentada dentro do prazo de 6 meses a contar da data em que o preferente teve conhecimento dos
elementos essenciais da alienação e como condição da procedência da ação deve ser depositado o preço
devido nos quinze dias posteriores à propositura da acção..
Exercício n.º 19
António tem uma frustração doentia por nunca ter conseguido aprender a tocar bem piano, frustração que
aumentou quando Engrácia, filha de um amigo seu, começou a aprendê-lo. Engrácia foi evoluindo na sua
arte até que, aos 18 anos, entrou no curso superior da «Orquestra Sinfónica Kapossoca». António
ofereceu-lhe então Kz. 1 500 000 para que nunca mais tocasse. Engrácia aceitou e António pagou-lhe.
Passado um ano, Engrácia arrependeu-se.

R: O caso em questão aborda sobre os requisitos do objeto das obrigações, especificamente prestações de
facto do tipo negativa, tendo a obrigação por fonte um contrato bilateral. Esta é de facto negativa quando
o facto singe-se numa omissão, ou seja, no não agir da actividade .
No exercício da liberdade contratual as partes podem celebrar contratos atípicos e fixar
livremente o conteúdo destes desde que não vão contra o que está legalmente fixado (219º. e 223º. Do
CC).
“António celebrou um negócio com Engrácia,onde,de forma expressa ofereceu a Engrácia
1.500.000kz para que a mesma nunca mais tocasse piano e, Engrácia aceitou, depois de celebrado o
acordo, passou-se 1 ano e Engrácia arrependeu-se. Neste caso, poderá Engrácia descumprir com a
obrigação? Poderá António reaver o seu dinheiro ?“ Como devemos proceder quanto a essas questões,
visto que, Antônio está provido de garantia da obrigação (conjunto de obrigações que a lei impõe a
disposição do credor, em ordem à satisfação do seu crédito 601º. do CC ).

Partindo da premissa de que as obrigações não são para toda a vida, pois, elas se extinguem, no
caso em apreço não aconteceu diferente. O devedor que falta culposamente ao cumprimento da obrigação
torna-se responsável pelo prejuízo que causa ao credor (798º. do CC), mas, a natureza da arte que corre
que nas veias de Engrácia foi mais forte quanto a obrigação que ela se sujeitou, por isso incorre ao
incumprimento da obrigação então, não sendo a obrigação voluntariamente cumprida, o credor tem o
direito de exigir judicialmente o seu cumprimento e de executar o património do devedor nos termos do
art 817° CC.

Se o devedor (Engrácia) estiver obrigado a uma omissão (não tocar piano) e tiver a pretensão de
fazê-lo, tem o credor o direito de exigir que se faça, como se obrigou a não fazer, porém, este direito cessa
havendo apenas lugar à indenização (Engrácia terá de indenizar Antônio por não cumprir com a obrigação
art 829.°) visto que se a Engrácia voltar a dar utilidade a sua arte, Antônio sairá no prejuízo (a
probabilidade de aumentar a sua frustração por nunca ter conseguido aprender a tocar piano).

Chegamos a conclusão que, torna-se impossível prestação por causa imputável ao devedor, este é
responsável como se faltasse culposamente ao cumprimento da obrigação, então tendo a obrigação por
fonte um contrato bilateral, o credor independentemente do direito a indenização, pode Antônio resolver o
contrato, de forma convencional, é restituído o dinheiro por inteiro e o contrato é extinguido (art 801°
CC).
UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

FACULADADE DE DIREITO

TRABALHO DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES:


RESOLUÇÃO DE CASOS PRÁTICOS

Grupo nº
3º ano
Turma única
Período: Diúrno

Luanda, aos 27 de Março de 2023.


INT EGRANTES DO GRUPO

• Andreza dos Santos;


• Aícha Savaneh;
• Albertina Lupango;
• Augusta Odigie;
• Rita Nascimento.
Exercício n.º 19
António tem uma frustração doentia por nunca ter conseguido aprender a tocar bem piano,
frustração que aumentou quando Engrácia, filha de um amigo seu, começou a aprendê-lo. Engrácia foi
evoluindo na sua arte até que, aos 18 anos, entrou no curso superior da «Orquestra Sinfónica Kapossoca».
António ofereceu-lhe então Kz. 1 500 000 para que nunca mais tocasse. Engrácia aceitou e António
pagou-lhe. Passado um ano, Engrácia arrependeu-se.
R:O caso prático em questão aborda sobre o quid ou a prestação da relação obrigacional. Ora, no
exercício da liberdade contratual é conferida às partes, ao abrigo do art. 405.º do CC a faculdade de
celebrarem contratos atípicos, ou seja, de estipularem as cláusulas que lhes convier e os contratos
diferentes daqueles previstos na lei. Entretanto, essa liberdade não é absoluta, tendo algumas restrições
quanto ao quid, objecto da relação jurídica, que de acordo o art. 398.º/1 do CC, a prestação pode ser
positiva ou negativa, isto é, de facto negativo ou de facto positivo.
A relação contratual entre o António e a Engrácia teve como objecto uma prestação de facto
negativo a medida que Engrácia ficou obrigada a não exercer uma certa actividade. Entretanto, de acordo
com o n.º 2 do art. 398.º do CC, a prestação deve ter corresponder a um interesse do credor, digno de
protecção. Ora, Engrácia nunca mais poder tocar piano não passa de um mero capricho de António por
nunca ter aprendido a tocar, logo, não é digno de protecção legal e por não se enquadrar no leque de
valores aceites aceites pela sociedade fundadas na moralidade e na justiça, aqui, não se está perante um
atropelo a uma norma legal, mas a uma actuação que fere a consciência da própria sociedade... E não
poderia reconduzir isto a um outro conceito senão o da ordem pública ou bons costumes.
No entanto, Engrácia estando arrependida, pode a todo momento invocar a nulidade do negócio
nos termos do n.° 1 do art. 280. º do CC e pelo facto da nulidade ter efeitos ex tunc, Engrácia deve
restituir o que lhe foi prestado por António nos termos do art. 289.° do CC.

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