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Aulas práticas lecionadas pelo Professor Pedro Vinagre, na Regência do Professor Pedro de

Albuquerque
Ano letivo 2021/2022
Matilde Pereira Jesus

Aulas práticas de Direito dos Contratos I

Conteúdo
AULA DE 06/10/2021 – Introdução e compra e venda ................................................................. 1
AULA DE 18/10/2021 – transmissão da posse .............................................................................. 6
AULA DE 20/10/2021 – reserva de propriedade ........................................................................... 8
AULA 03/11/2021- venda de bens futuro; compra e venda de coisas sujeitas a pesagem,
medição e contagem ................................................................................................................... 21
AULA 09/11/2021 – Venda a contento ....................................................................................... 27
AULA EXTRA 13/11/2021 – VENDA A PRESTAÇÕES .................................................................... 30
AULA 15/11/2021 VENDA DE BENS ALHEIOS .............................................................................. 32

AULA DE 06/10/2021 – Introdução e compra e venda


Ficha A4 em papel com fotografia até quarta-feira.

A empresta gratuitamente o seu CC a B. Depois o B emite uma proposta de compra do CC. A


aceita. Não há lugar à entrega. Pode suceder que a obrigação de entrega não seja necessária.

Aplica-se a 939.º.

Subsidiariedade do regime do 879.º à luz de outros contratos (?).

• Sistema do título e do modo → há uma relação causal entre os dois negócios. Se o


título afetar a própria entrega.
• Sistema do modo

Qual é a relevância de distinguir entre um contrato oneroso e gratuito? P.e. o 237.º

Caso Prático 1 – Livro do Professor Tiago Soares da Fonseca

A, residente em Coimbra, vendeu a B, amigo de infância a viver em Estremoz, por


telemóvel, no início do mês, o seu smoking guardado na sua casa de férias, na
Ericeira. Ficou combinado que o preço seria pago no fim do mês, depois de B
receber o seu ordenado.

Analise, de forma autónoma das demais, cada uma das seguintes situações:
a) B recebe o smoking em casa uma semana depois.
1. interpelado para pagar, B diz que não tem o dever de o fazer, quer por não ser
o fim do mês, quer ainda, sobretudo, porque não foi fixado preço algum, motivo
pelo qual nada é devido. Terá razão?

Refira-se, em primeiro lugar, que embora as partes tenham convencionado em


relação ao momento em que o preço foi pago, nada foi dito em relação ao
momento da entrega da coisa.
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Porém, quando se fala de um contrato de compra e venda (874.º), há que ter em


consideração que este tem 3 efeitos essenciais, sendo 1 deles o efeito real, e os
outros dois, efeitos obrigacionais (artigo 879.º). Deste modo, a partir do
momento em que as partes celebram um contrato de compra e venda, dá-se o
efeito real do contrato. Por outras palavras, dá-se a transferência da propriedade
do smoking da esfera jurídica de A para a esfera jurídica de B, mesmo que, até à
semana seguinte fosse A a deter a sua pose.
A partir do momento em que B recebe o smoking em sua casa, foi cumprido o
segundo efeito obrigacional descrito no artigo 879.º/b) CC, faltando agora B
cumprir com a sua obrigação de pagar o preço, tendo ficado estipulado que o
mesmo seria pago no final do mês.
Em relação ao primeiro argumento dado por B tem-se que, no momento em que
B é interpelado para pagar o preço, o mesmo ainda não incumpriu o contrato,
não estando em mora, de acordo com o estipulado por ambas as partes (804.º/2).
A obrigação só se consideraria como não cumprida nos casos do 808.º, o que não
se verifica. Sendo assim, o mesmo não era obrigado a pagar naquele momento.
777.º. Afasta o regime do 779.º? Não, afasta o regime do 885.º/1 aplicando-se o
885.º/2.
No que diz respeito ao segundo argumento relacionado com o facto de não ter
sido estipulado preço, refira-se que, antes de tudo que, embora a «obrigação de
pagar o preço» (ou mesmo até a existência de um preço) seja um efeito/
elemento essencial da compra e venda, a verdade é que a fixação do preço já
não é um elemento essencial, bastando que o mesmo seja determinável. 883 .º
Sendo assim, quando o preço não se encontra fixado por entidades publicas ou
pelas partes, o preço será, em primeiro lugar, aquele que é normalmente
praticado pelo vendedor, em segundo lugar, o preço de mercado ou bolsa, e, por
ultimo, estabelece-se o critério geral da equidade do artigo 400.º, cabendo a
decisão do tribunal. Desde que o preço seja determinável, o contrato nunca seria
nulo por falta de fixação do preço.
2. Depois de examinar o smoking, B constata que o mesmo não veio
acompanhado de um certificado, da conhecida marca “Herodes Boss”, nem de
dois botões nos bolsos interiores, Por ser extremamente vaidoso, B reclama a sua
entrega. Quid iuris?

Segundo os 882.º/2, os documentos teriam de ser entregues a B. Já quanto aos


botões teríamos de perceber se era parte integrante ou acessória. Se
considerarmos que é integrante, deve ser entregue (882.º/2), se for apenas
acessória nada obriga a que tenha de ser entregue (201.º/2).
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Só se pretende saber se a obrigação de entrega engloba os botões e documentos


ou não. Se os botões que se fala fossem os botões de substituição, seria coisa
acessória; todavia, sendo botões cozidos, já seriam parte integrante.
E se está, mas não entregou, então há um cumprimento meramente parcial.
b) onde deve ser pago o preço? 885º. Como o preço não foi pago no momento e
as partes nada estipulam, o pagamento deverá ser efetuado no local de domicilio
do credor (Coimbra) (885.º/2).
E onde deve ser entregue o smoking? Já o smoking deveria ser entregue no sitio
onde se encontrava a data da venda.
c) A e B acordam 600 euros pelo smoking. Contudo, ao verificar que o smoking estava
com alguma sujidade, A mandou limpá-lo numa lavandaria, gastando 25 euros.
Pretende agora, que B lhe pague, afinal 625 euros. Quid iuris?

878.º → o comprador apenas suporta as despesas relativas à celebração do


contrato e não relativas à sua execução, situação na qual quem suporta as
despesas é o vendedor. Desta forma, correrão pelo devedor as despesas ligadas
à guarda e conservação. Ademais, o 882.º/1 diz-nos que deve a coisa ser entregue
no estado em que se encontrava ao tempo da venda.
O devedor, tem um dever de custódia da coisa (sujidade, arranjos…) - se a coisa
é vendida sem estar suja e no momento da entrega a coisa está suja → presunção
de culpa 799.º. Teria da afastar se não quisesse pagar.
Neste caso quem suporta os 25€ é o vendedor.
Caso 2
Ambrósio vende a Bento o seu relógio Patek, ficando acordado que o preço seria
afixado pelo arbítrio de Célio, avô de Ambrósio e anterior proprietário do Patek.
Célio pretende que o relógio continue a pertencer ao espólio familiar, assim indica
que o preço devido é de 100 mil euros (dez vezes superior ao valor de mercado
do bem).
Quid iuris?

No que respeita à determinação do preço, estipula o artigo 883º que, na falta de


determinação pelas partes, cabe determinação supletiva do preço, pela ordem
determinada: (1). Preço fixado por entidade pública (2). Preço normalmente
praticado pelo vendedor à data da conclusão do contrato. (3). Preço do mercado
ou bolsa no momento do contrato e no lugar que o comprador deve cumprir. (4).
Preço estipulado pelo tribunal, segundo juízos de equidade.
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Não obstante, a determinação do preço pode ser cometida a terceiro, que tem
apenas como função completar o negócio, ou a uma das partes – conforme, aliás,
estipula o artigo 400º. Não tendo sido outros critérios estabelecidos, estabelecer-
se-ia o preço através de juízos de equidade.
Equidade em sentido forte → justiça no caso concreto
Equidade em sentido fraco → atende às valorações do Direito positivo
ML e companhia → aplicam o 280.º/1 com o 400.º/2 – sob pena do 280.º/1 ser
inútil o negócio indeterminável é nulo
Nunca haverá indeterminabilidade dado que o objeto é determinável através de
critérios de equidade.
Poder-se-ia considerar haver aqui abuso de Direito. O terceiro não tem o direito
a determinar o preço – está a exercer uma posição jurídica (234.º).
Então devem ser aceites os 100 mil euros? Perturbação da determinação.
Existiam critérios → o 3º não os seguiu → então o ato do 3.º é inválido (nulo) →
a determinação nunca chegou a existir → tribunal determina de acordo com
juízos de equidade.
É uma situação análoga a uma determinação defeituosa.
O abuso de direito seria se o terceiro estivesse a exercer uma posição jurídica
legalmente(?). Ele tem de ter o direito, mas não o poder exercer – neste caso ele
nem tinha direito.
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A CP segue o sistema do título → mera celebração do contrato transfere o direito.

Aula 13/10/2021
Caso 3
No início do mês, Anacleto venda a Bento o seu apartamento e automóvel. Ficou
acordado que a entrega seria realizada na semana seguinte e o pagamento do
preço no fim do mês.
Considere as seguintes questões de forma autónoma:
1. Bento recusa cumprir o contrato, invocando que o negócio foi celebrado por
documento escrito.

874.º → O automóvel é um bem móvel, por isso não é necessária forma para que
o negócio seja válido, seguindo a liberdade de forma do 219.º.
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No entanto o apartamento é um bem imóvel, necessitando de forma, nos termos


do 875.º, para que seja válido. Ora, neste caso não se observou a forma exigida
para o contrato CP do apartamento.
Assim, ainda que a propriedade da mota já se tenha transmitido, a do
apartamento não.
Como apenas houve um documento escrito, não foi cumprida a forma requerida
para o contrato de compra e venda → o contrato é nulo quando à compra e venda
do apartamento - 875.º e 220.º.
Pode haver uma redução do negócio (292.º), visto que há uma nulidade parcial
→ a parte interessada teria de provar que o negócio era divisível.
884.º → depois de feita a redução do negócio, havia que reduzir o preço.
Possibilidade de abuso de direito se uma das partes já soubesse que era preciso
o documento particular autenticado ou a escritura publica, vindo depois invocar
a nulidade do negócio por inobservância da forma legalmente exigida – venire
contra factum proprium.
2. No prazo convencionado, Anacleto procede à entrega das chaves do automóvel
e do imóvel. No entanto, Bento não procede ao pagamento do preço no fim do
mês. Anacleto pretende agora recuperar o imóvel e o veículo. Será possível?

Havia que considerar aqui que havia uma declaração de incumprimento definitivo
e que, portanto, já não se estaria em mora, mas em incumprimento definitivo.
Segundo o 886.º, transmitida a propriedade (que se transmitiu por mero efeito
do contrato) e feita a sua entrega, o vendedor não pode resolver o contrato por
falta de pagamento do preço. Esta regra é uma exceção ao 801.º e 808.º.
Só se poderia resolver o contrato de compra e venda com fundamento no não
pagamento em 3 situações:
• Tendo isso sido convencionado
• Não tendo ainda havido entrega da coisa
• No caso de o vendedor reservar a propriedade para si nos termos do 409.º
Já se verificou a entrega da coisa e/ou a transferência do direito de propriedade,
então não há lugar à resolução do contrato, apenas poderá, o credor do
pagamento do preço, recorrer à ação de incumprimento para pagamento do
preço (817º) e exigir os juros moratórios (806º).
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Nota: tudo isto está correto se resolvermos estas questões de forma autónoma
uma das outras. Todavia, se tivéssemos em conta a nulidade quanto ao imóvel,
já teríamos de resolver através do artigo 289.º e 286.º.
3. Anacleto contratou uma transportadora para proceder ao envio das chaves do
apartamento e do automóvel. Agora, pretende que Bento suporte o valor
correspondente.

O comprador é responsável pelas despesas de celebração do contrato nos termos


do 878.º. Todavia, quanto às despesas de execução do contrato, é o vendedor
que por elas é responsável.
3 formas de resolver:
1. Segundo o Professor Batista Lopes, o transporte deve-se incluir nas
despesas acessórias do contrato sendo por isso o comprador que tem de
o pagar.
2. Se considerássemos esta despesa uma despesa de execução, como o faz o
Professor Pedro Vinagre, já seria o vendedor. Isto principalmente se não
tinham convencionado tal transporte (a convenção do transporte seria
uma promessa de envio).
3. Não estávamos perante uma promessa de envio. Assim, a entrega das
chaves fazia parte da obrigação principal do vendedor, tendo, por isso, de
ser este a suportar o preço.
3.1 Quem deve suportar as despesas respeitantes à escritura pública,
registo e IMT?

Nos termos do 878.º, o comprador.


Nota: 878.º → O vendedor se tivesse que as suportar podia haver situações em
que não teria o lucro ou as vantagens pretendidas. Há, assim, que o proteger.

AULA DE 18/10/2021 – transmissão da posse


Quando é que se transmite a posse?
• PA → a posse transfere-se com o contrato através do constituto
possessório (1263.º/c e 1264.º) – porque é que a transmissão da
propriedade é acompanhada da transmissão da posse? 2 argumentos:

o Argumento histórico: historicamente a propriedade e a posse


transmitiam-se com a entrega; a posse sempre acompanhou a
transmissão da propriedade – ou seja, devem ser transferidas em
simultâneo.
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o Argumento de proteção do comprador: se vendedor tiver a posse,


pode usar as ações possessórias; se não tivesse não poderia →
então temos aqui uma situação em que o comprador teria mais
direitos (propriedade sobre a coisa) e menos tutela (porque não
poderia recorrer às ações possessórias, dado a não ter a posse, não
podendo assim proteger tão eficazmente a sua propriedade) – não
pode ser → daí que se tenha de atribuir a posse ao comprador para
que este possa recorrer a tais ações.
Aqui a causa é o contrato de compra e venda em si.

• Para a maioria da Doutrina → com a tradição material da coisa (1263.º/b).

Aqui até haver tradição da coisa só se podem recorrer a ações de


reivindicação e de incumprimento.

Aqui a causa seria um segundo negócio jurídico (p.e. primeiro um contrato


de CV e depois um de locação).

Nota:
• Ação de reivindicação → proteção da propriedade e outros direitos reais.
• Ações possessórias → proteção da posse
Se houver um contrato de CV sobre um bem futuro, quando é que a posse se transmite?
Quando o vendedor adquira a coisa desde que esteja preenchido o requisito de ter a
posse da coisa.
Caso 4
No dia 1 de setembro de 2020, Ana, residente em Lisboa, compra a Beatriz,
residente no Porto, uma guitarra portuguesa que pertencera à Amália Rodrigues,
por 5 mil euros.
1. No dia 2 de setembro, há um incêndio no prédio de Beatriz que destrói por
completo a guitarra. Pode Ana recusar o pagamento do preço?

• Houve transferência da propriedade


• Não houve entrega da coisa
• Houve transferência da posse?
• Quem é o possuidor e quem é o detentor?
• Por quem corre o risco?
• Ana pode recusar?
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Nos termos do 408.º, 874.º e do 879.º, a propriedade transfere-se por mero efeito
do contrato válido.
No que toca à transferência da posse, se não se assistir a uma tradição,
simbólica e material da coisa, a posse só poderá ser transferida por constituto
possessório1 (1263.º e 1264.º).
Esta não é uma opinião linear na Doutrina.
→ ML afirma que o cumprimento da obrigação da entrega opera a transmissão
da respetiva posse para o comprador. Assim, será efetivamente se ele não for já
possuidor. O problema suscitado está em saber se, por norma, a CV não opera
a transmissão da coisa por constituto possessório, mesmo sem a entrega da
coisa (1263.º/c e 1264.º). Esta possibilidade é admitida por ML, mas não como
regra. Face à conceção objetivista da posse (1251.º), entende ser de considerar
o vendedor como possuidor em todas as hipóteses nas quais exerce poderes de
facto sobre a coisa, apenas passando a detentor se for convencionado q passará
a possuir em nome do comprador (1253.º/c). No entanto a conceção objetivista
da posse está longe de ser dominante na doutrina.
Regente crê que nada impede a possibilidade de o constituto possessório operar
sem necessidade de qualquer convenção nesse sentido, não havendo nenhum
impedimento à transmissão da posse com base no simples contrato/consenso
sem dependência de qualquer convenção reconhecendo ao antigo titular a
possibilidade de continuar a deter a coisa.
Aqui estávamos perante uma impossibilidade objetiva (790.º). Neste caso o risco
corria pela compradora nos termos do 796.º/1, assim Ana não poderia recusar o
pagamento do preço.
a. Suponha que as partes acordaram a entrega da coisa até ao fim do mês, já
que Beatriz pretendia colocar a peça em exposição, num museu, por 15 dias. A
sua resposta seria diferente?

Sim. Dado que a coisa ficou em poder da alienante em consequência de termo


constituido a seu favor, o risco só se transfere no com a entrega da coisa ou com
o vencimento do termo (796.º/2).

AULA DE 20/10/2021 – reserva de propriedade


Caso 5
No stand de automóveis Carros Novos Lda., Anacleto decide comprar um carro por 20
mil euros. Como não tinha dinheiro suficiente para pagar a pronto, um funcionário
proveu pela celebração de um empréstimo de 20 mil, a uma taxa de juro de 10% durante
5 anos.

1
O constituto possessório é uma forma de aquisição da posse sem necessidade de ato material ou
simbólico que a revele e que assenta em acordo no sentido da manutenção da detenção da coisa pelo
antepossuidor ou por terceiro.
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O contrato de concessão de crédito foi celebrado com uma sociedade financeira,


parceira comercial do stand.
O automóvel foi entregue, mas ficou acordado que a propriedade sobre o veículo
seria transferida quando o capital em dívida e os juros fossem pagos.
Considere as questões isoladamente:
1. Aprecie a validade das cláusulas do contrato de compra e venda.

Estaria aqui em causa uma cláusula de reserva de propriedade, prevista no art.


409.º/1, segundo a qual, é "lícito ao alienante reservar para si a propriedade da
coisa até ao cumprimento total ou parcial das obrigações da outra parte ou até à
verificação de qualquer outro evento.”
Qual é a natureza da reserva de propriedade?
Não podemos considerar que o pagamento do preço seja uma condição já
que a condição tem de ser exterior ao contrato, tem de ser um evento
futuro e incerto – ora o pagamento do preço não se pode considerar
incerto já que há ma obrigação de pagamento do preço.
TEORIA DA EFICÁCIA TRANSLATIVA DIFERIDA AO MOMENTO DO
PAGAMENTO DO PREÇO, COM A CONCESSÃO AO COMPRADOR, NO
PERÍODO ENTRE A CELEBRAÇÃO DO CONTRATO E O PAGAMENTO, DE
UMA POSIÇÃO JURÍDICA DIVERSA DA PROPRIEDADE (PA e ML):
(1) O vendedor mantém a propriedade: mas esta fica restringida pela
posição jurídica do comprador (não tem a propriedade plena).
(2) O vendedor tem um direito real de garantia: apesar de se tratar de uma
figura próxima da propriedade, substancialmente, o que está em causa é
a garantia do preço ou de cumprimento de uma outra prestação.
(3) O comprador também tem um direito real: o comprador é possuidor
(pode recorrer às ações possessórias); A posição jurídica do comprador é
de expectativa real de aquisição.
Raul Ventura → “A cláusula de reserva de domínio, como parte do contrato,
está sujeita à forma legal do contrato e em princípio é dispensada de exigências
de forma quando o mesmo suceda para o contrato” → no caso estava em causa
uma coisa móvel, não sujeita a forma especial, pelo que também a cláusula não
estaria sujeita a forma.
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Assim, tendo sido aceite, o alienante reserva para si a propriedade do referido


automóvel até, ao que o enunciado parece indicar, seu pagamento total. Até aqui
parece uma situação normal de cláusula de reserva de propriedade.
Contudo, é necessário atentar nos factos que:

• A cláusula parece ter sido negociada e aceite após o contrato de compra e


venda já estar concluído e em execução, já que parece ter sido no momento
da entrega que tal ficou acordado.
Cabe então saber se é permitido clausular a reserva de propriedade depois
de celebrado o contrato.
Pedro de Albuquerque refere que “via de regra, os contratos são
livremente alteráveis mediante acordo das partes. À primeira vista
poderia, pois, parecer possível inserir (...) Sucede, todavia, gozar a compra
e venda de eficácia real. Uma vez celebrada assiste-se à transmissão da
propriedade (...) Donde, celebrada a venda deixa de ser possível, mesmo
com a anuência do comprador, o vendedor reservar para si algo que não
lhe pertence.”
No mesmo sentido, Raul Ventura: “(...) mas não resolvemos o problema de
saber se a estipulação da cláusula deve ser contemporânea da celebração
do contrato (...) O obstáculo à inserção da cláusula em contrato de venda
já existente consiste no efeito real do contrato; se este já transferiu a
propriedade para o comprador, não pode ter efeitos uma sua modificação
no sentido de a propriedade ser mantida temporariamente no vendedor.”
E ainda Menezes Leitão: “Assim, se a venda já foi celebrada, não poderá
posteriormente ser nela inserida uma cláusula de reserva de propriedade,
dado que a propriedade nesse caso já foi transferida para o comprador.”

• A clausula só é válida desde que a reserva de propriedade seja a favor do


alienante, ainda que seja terceiro a financiar – reserva de propriedade a favor
do alienante, mas sujeita ao pagamento a terceiro. Não poderia ser a favor do
financiador (PA).

Admissibilidade da reserva de propriedade a favor do alienante, mas sujeita


ao pagamento a terceiro [Nuno Pinto de Oliveira e Isabel Menéres Campos]:
a. Pedro Albuquerque:
i. Crítica a Gravato Morais: os seus argumentos, em parte, só se aplicam à
venda de veículos automóveis;
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ii. Havendo união interna voluntária entre o contrato de compra e venda


e o contrato de mútuo23: as vicissitudes de um refletem-se no outro; logo,
o incumprimento do contrato de mútuo, permitiria ao vendedor exigir a
entrega da coisa. Nota: normalmente tem de haver aqui uma relação entre
o vendedor e a sociedade financeira; pq se assim não for, não interessa
nada para o vendedor que o comprador não pague ao financiador, já que
o vendedor já recebeu o preço.
iii. A própria letra do 409.º

Inadmissibilidade [Gravato Morais]: para argumentar, apresenta uma série


de situações que resultariam do incumprimento
a. O financiador resolve o contrato de mútuo, mas não poderia exigir a
restituição da coisa.
b. O vendedor não pode resolver o contrato de compra e venda, porque não
houve incumprimento do adquirente relativamente a esse contrato; assim
como não pode resolver o contrato de empréstimo.
c. O financiador não pode socorrer-se do procedimento cautelar de
apreensão de veículo automóvel, pois não é titular do registo de reserva de
propriedade.
d. O vendedor não pode socorrer-se do procedimento cautelar de apreensão,
porque, apesar de já titular do respetivo registo, não tem motivo para propor
a ação de resolução do contrato de compra e venda (artigo 18º/1 do DL
54/85).
Nota: a transferência está dependente do pagamento do capital em divida + juros
à sociedade financeira.
AULA 25/10/21
Oponibilidade – quando o devedor é insolvente:
• Contrato escrito (104.º/4)
• Entrega (104.º/1)
• Registo (409.º/2)
2. Suponha que o stand de automóveis apresenta dívidas avultadas e os
credores da sociedade nomeiam à penhora o automóvel vendido.

2
Contrato de mútuo é aquele que trata da transferência de bens fungíveis, móveis, que podem ser
substituídos por outros de mesma espécie, qualidade e quantidade. As partes envolvidas são chamadas
mutuante e mutuário. O mutuante é aquele que empresta ou transfere a propriedade do bem fungível.
3
Se tivéssemos dois contratos autónomos um do outro, o vendedor não podia alegar o incumprimento
do contrato de mútuo para resolver o contrato de CV.
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O problema aqui em questão é saber da oponibilidade da clausula de reserva de


propriedade perante os credores do vendedor, dada a insolvência deste.
O bem em questão é um bem móvel sujeito a registo. ORA, ocorrendo a
insolvência do comprador, o artigo 104º/4 do CIRE impõe a forma escrita como
pressuposto da oponibilidade à massa insolvente. Ademais, sendo este um bem
sujeito a registo a oponibilidade da clausula depende deste, como nos indica o
409.º/2 CC.
Assim, desde que tivesse havido (1) entrega (104/1CIRE), (2) forma escrita
(104.º/5 CIRE) e (3) registo (409.º/2 CC) a clausula de reserva de propriedade
era oponível a terceiros não podendo estes executar o bem em questão devido
a insolvência do alienante.

Artigo 104.º
Venda com reserva de propriedade e operações semelhantes

1 - No contrato de compra e venda com reserva de propriedade em que o vendedor seja o insolvente, a outra
parte poderá exigir o cumprimento do contrato se a coisa já lhe tiver sido entregue na data da declaração da
insolvência. NORMA EXCECIONAL
2 - O disposto no número anterior aplica-se, em caso de insolvência do locador, ao contrato de locação financeira e
ao contrato de locação com a cláusula de que a coisa locada se tornará propriedade do locatário depois de
satisfeitas todas as rendas pactuadas.
3 - Sendo o comprador ou o locatário o insolvente, e encontrando-se ele na posse da coisa, o prazo fixado ao
administrador da insolvência, nos termos do n.º 2 do artigo 102.º, não pode esgotar-se antes de decorridos cinco
dias sobre a data da assembleia de apreciação do relatório, salvo se o bem for passível de desvalorização
considerável durante esse período e a outra parte advertir expressamente o administrador da insolvência dessa
circunstância.
4 - A cláusula de reserva de propriedade, nos contratos de alienação de coisa determinada em que o comprador seja
o insolvente, só é oponível à massa no caso de ter sido estipulada por escrito, até ao momento da entrega da coisa.
5 - Os efeitos da recusa de cumprimento pelo administrador, quando admissível, são os previstos no n.º 3 do
artigo 102.º, entendendo-se que o direito consignado na respectiva alínea c) tem por objecto o pagamento, como
crédito sobre a insolvência, da diferença, se positiva, entre o montante das prestações ou rendas previstas até final
do contrato, actualizadas para a data da declaração de insolvência por aplicação do estabelecido no n.º 2 do artigo
91.º, e o valor da coisa na data da recusa, se a outra parte for o vendedor ou locador, ou da diferença, se positiva,
entre este último valor e aquele montante, caso ela seja o comprador ou o locatário.

Nos termos do artigo 342.º CPC o comprador poderá opor a expectativa de


aquisição aos credores do vendedor. O mesmo sucede em relação aos
adquirentes sucessivos legitimando-se a aplicação a estes o regime da CV de
bens alheios. Na verdade, a titularidade do vendedor é apenas para efeitos de
garantia não lhe assegurando já a plenitude dos poderes contidos no seu direito.
Artigo 342.º (art.º 351.º CPC 1961)
Fundamento dos embargos de terceiro
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1 - Se a penhora, ou qualquer ato judicialmente ordenado de apreensão ou entrega de


bens, ofender a posse ou qualquer direito incompatível com a realização ou o âmbito
da diligência, de que seja titular quem não é parte na causa, pode o lesado fazê-lo
valer, deduzindo embargos de terceiro.
2 - Não é admitida a dedução de embargos de terceiro relativamente à apreensão de
bens realizada no processo de insolvência.

a. Se o bem vendido fosse uma joia preciosa, ao invés de um veículo a


motor, a sua resposta permanecia a mesma?
Para ser oponível era necessário que o contrato se apresentasse escrito
(104.º/4) e tivesse havido entrega (104.º/1). O que se questiona é a necessidade
de registo, dado que estaríamos perante um bem móvel não sujeito a registo.
No que toca aos bens não sujeitos a registo a Doutrina diverge, já que a lei não
nos dá uma solução direta como dá para os bens sujeitos a registo.
Pedro Romano Martinez [seguindo o Vaz Serra]: a clausula de reserva de
propriedade tem eficácia inter partes, mas não é oponível a terceiros4.
i. Necessidade de tutela da aparência e o paralelismo com o penhor (669º
e ss.) e com a compra e venda a comerciante (1301.º).
ii. Relatividade dos contratos (artigo 406º/2 CC) – a eficácia da clausula
ser inter partes; sendo a reserva de propriedade uma clausula contratual
sem registo, não poderia ser oposta a 3º
iii. Não faria sentido que, nos imóveis, dependesse do registo, a
oponibilidade da clausula, e que, nos móveis, fosse oponível erga omnes.
iv. Na hipótese de incumprimento, designadamente por falta de
pagamento: cabe ao vendedor resolver o contrato (nos termos do 886º),
no entanto, essa resolução não prejudica terceiros de boa-fé (435º/1).
Opinião Maioritária (PA): não havendo obrigatoriedade de registo, a clausula é
sempre oponível a terceiros de boa-fé.
i. Não há analogia nas situações: penhor e compra e venda a comerciante
e reserva de propriedade (argumento que MC também defende). O
beneficiário da reserva pode exigir na mesma o bem. Pode é ter de
restituir o preço pago pelo 3º, beneficiando depois do direito de regresso
perante o alienante.
ii. Relatividade dos contratos: significaria que a transferência da coisa e a
titularidade não poderiam ser alegadas perante terceiros. Isso não
acontece, porque se trata de direito real oponível perante terceiros.

4
Não parece ser o que resulta do artigo 104.º CIRE (PA).
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iii. Levada às últimas consequências os negócios sobre coisas móveis


nunca poderiam ser oponíveis perante terceiros de boa-fé.
iv. No caso da compra e venda com reserva de propriedade, o vendedor
mantém a propriedade, logo não afeta nenhum direito adquirido por
terceiro; isto porque como o comprador não é proprietário, não pode
transmitir ou alienar mais do que os próprios direitos de que é titular.
vi. Finalmente, contra a posição de PRM depõe, claramente o artigo
104º/4 do CIRE admitindo, mesmo nos casos de insolvência do
comprador, a oponibilidade da cláusula de reserva de propriedade apenas
com subordinação ao requisito da sua estipulação por escrito.
3. Após receber as chaves da viatura, Anacleto envia uma carta ao stand, onde
diz recusar-se a pagar o preço devido. Pode a Sociedade em questão resolver o
contrato e exigir o pagamento do preço?

Nos termos do 886.º seria possível resolver o contrato.


Para resolver o contrato, o vendedor teria de interpelar primeiro o
comprador exigindo o cumprimento. A simples mora no cumprimento de
um contrato não gera imediatamente o direito de resolução do contrato:
apenas a transformação da mora em incumprimento definitivo nos termos
do 808º/1 → o que se faz através da fixação de um prazo para o devedor
cumprir (808.º/1)5. OU SEJA, é a interpelação que permite o surgimento de
um direito de resolução.
Assim, mesmo que considerássemos haver aqui uma declaração de não
cumprimento (séria e consciente):
• Maioria da Doutrina → passa logo para incumprimento
definitivo;
• MC → não se passava automaticamente para incumprimento
definitivo, tendo o credor de interpelar o devedor primeiro,
estabelecendo um prazo admonitório. Expirado o prazo já
estará o devedor em incumprimento definitivo nos termos do
798.º, o que permite ao credor recorrer às ações de
cumprimento e execução (817.º) ou à execução específica
(827.º).

5
Relembre-se que só não será assim, e portanto a resolução operará de um modo automático, sem
necessidade de interpelação admonitória, na hipótese de as partes terem estipulado uma clausula
resolutiva, uma condição resolutiva ou termo essencial.
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O credor não pode simultaneamente resolver o contrato e exigir o


cumprimento. O que o credor pode fazer é intentar uma ação de
cumprimento (817.º) ao invés de resolver o contrato. Ainda assim, nada
impede que posteriormente a ter intentado a ação de cumprimento ainda
se venha a resolver o contrato.
a. Considere que Anacleto é condenada ao pagamento do preço e, na ação
executivo, o stand nomeia à penhora o veículo.

A questão aqui presente traduz-se em saber se o alienante beneficiário da


reserva da propriedade pode nomear o bem para a execução.
Ora, tem-se entendido em inúmeras decisões jurisprudências que o exequente
estaria a renunciar tacitamente à reserva de propriedade ao requerer a penhora
do bem.
DNB:
1. Jurisprudência (AUJ 2008) + maioria doutrinária: tal equivale a uma renúncia tácita
à Reserva de Propriedade.
2. Raúl Ventura: do pedido de execução não se pode retirar a intenção de renunciar.

➢ Não é direito que se pode renunciar pois Reserva de Propriedade é apenas


um indeferimento de um dos efeitos.
3. Isabel Campos: pode haver renúncia, mas tem de ser expressa e nos bens registáveis
dá-se quando se cancela o registo.
Para quem entenda estar-se diante de uma condição resolutiva a favor do
alienante não parece existir, aqui, nenhum embaraço em virtude do facto de, por
força do artigo 601º do CC e 735º do CPC, pelas dívidas de execução apenas
responderem os bens abrangidos no património do executado. Isto porque
considerando a reserva de propriedade uma condição resolutiva, a propriedade
já se transferiu, simplesmente volta a ser do vendedor se se verificar a condição.
Já no caso de quem entende que seja uma condição suspensa, já não seria
possível, dado que a propriedade seria ainda do vendedor.
Artigo 735.º
Objeto da execução

1 - Estão sujeitos à execução todos os bens do devedor suscetíveis de penhora que, nos
termos da lei substantiva, respondem pela dívida exequenda.
2 - Nos casos especialmente previstos na lei, podem ser penhorados bens de terceiro,
desde que a execução tenha sido movida contra ele.
3 - A penhora limita-se aos bens necessários ao pagamento da dívida exequenda e das
despesas previsíveis da execução, as quais se presumem, para o efeito de realização da
penhora e sem prejuízo de ulterior liquidação, no valor de 20 %, 10 % e 5 % do valor da
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execução, consoante, respetivamente, este caiba na alçada do tribunal da comarca, a


exceda, sem exceder o valor de quatro vezes a alçada do tribunal da Relação, ou seja
superior a este último valor.

Artigo 601.º
(Princípio geral)

Pelo cumprimento da obrigação respondem todos os bens do devedor suscetíveis de penhora, sem prejuízo dos
regimes especialmente estabelecidos em consequência da separação de patrimónios.

TODAVIA, o Professor Pedro de Albuquerque considera que não se trata de uma


condição. Na CV com reserva de propriedade o efeito translativo é diferido ao
momento do pagamento, permanecendo, todavia, e desde logo o comprador
investido, com a realização do contrato, numa posição especifica traduzida numa
expectativa real de aquisição.
Segundo o Regente, com a renúncia – a ser admissível – a coisa ou direito
transfere-se para a titularidade do adquirente. Não há, pois, nenhum prejuízo
efetivo. O bem passaria a ser suscetível de penhora para efeitos de obtenção do
pagamento em processo de execução, mas já não poderia haver apreensão,
reivindicação ou defesa através das ações possessórias ao alcance do
vendedor. O Professor considera os argumentos contra a renuncia
improcedentes. Assim, considera não haver nenhum impedimento à renúncia.
Importa agora saber se se pode aplicar neste caso o 824.º/CC e se a ação é
suscetível de prosseguir, não obstante a existência de registo de reserva de
propriedade em favor do exequente6.
Artigo 824.º
(Venda em execução)

1. A venda em execução transfere para o adquirente os direitos do executado sobre a


coisa vendida.
2. Os bens são transmitidos livres dos direitos de garantia que os onerarem, bem como
dos demais direitos reais que não tenham registo anterior ao de qualquer arresto,
penhora ou garantia, com exceção dos que, constituídos em data anterior,
produzam efeitos em relação a terceiros independentemente de registo.
3. Os direitos de terceiro que caducarem nos termos do número anterior transferem-se
para o produto da venda dos respectivos bens.

6
Isto é: independentemente do respetivo titular pedir o cancelamento do registo.
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Normativamente, porém, o 824.º abrange estas situações. Do ponto de vista


funcional a reserva de propriedade é um direito real de garantia7 e mesmo
recusando-se que o direito do vendedor com reserva de propriedade seja um
direito real de garantia, o 824.º apenas refere garantia sem a qualificar e a
reserva de propriedade é uma garantia.
Opinião PA: não é necessário, ao prosseguimento da ação, o cancelamento do
registo de propriedade. Vale, então, solução semelhante à do 827.º8.
TODAVIA, o acórdão uniformizador do STJ (n.º 07A3965) de 9, de outubro de
2008, veio colocar-se a favor da necessidade do exequente, com reserva de
propriedade a seu favor sobre o bem executado, proceder à extinção da reserva
no registo. Concluiu afirmando que nestes casos, não se pode prosseguir para
as fases de concurso de credores e da venda, sem que o exequente (que tem a
reserva a seu favor) promova e comprove a inscrição, no registo automóvel, da
extinção da reserva.
Como já foi percetível, o Professor Pedro de Albuquerque diverge da solução
dada por este acórdão. Todavia, não deixa de reconhecer que como
consequência deste acórdão uniformizador e outros que vão no mesmo sentido
e apesar das soluções uniformizadoras não serem vinculativas (não deixando os
tribunais de se sentir por elas limitados), é difícil surgir uma decisão judicial que
admita a execução do bem sujeito a registo, sem o titular do direito à reserva de
propriedade proceder ao cancelamento do registo. OU SEJA, por uma questão
de eficiência, para que não se estejam a ter recursos atras recursos, fa
Concluindo, por uma razão de prudência, se o stand queria nomear à execução
o automóvel, deveria renunciar à reserva e proceder ele próprio ao
cancelamento do registo, embora, segundo a opinião do Senhor Professor
Pedro de Albuquerque, não seja essa solução que parece resultar do Direito
positivo.
Já o professor PRMartinez diverge no sentido de que na sua opinião é
exatamente esta a solução que resulta da lei.
Uma via alternativa, e pesada, ao apelo à execução, com renuncia expressa e
cancelamento do registo a cargo do alienante como sustenta o Acórdão
uniformizador, é a ação de reivindicação da coisa subordinada a reserva e a sua
posterior venda pelo titular da referida reserva.
AULA 27/10/2021
Mesmo se considerássemos a clausula de reserva de propriedade uma condição
potestativa provocada → o 275.º nunca seria aplicado. A condição retroage nos

7
Na reserva de propriedade assiste-se realmente à afetação de uma coisa corpórea ao beneficiário da
reserva com vista à satisfação de um crédito.
8
O 827.º indica que se a prestação consistir na entrega de coisa determinada, o credor tem a faculdade
de requerer, em execução, que a entrega lhe seja feita.
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termos do 270.º e ss (276.º) → consideramos que no contrato com reserva de


propriedade os efeitos retroagem? Claro que não, se não a propriedade ficaria
do alienante.
Domínio → controlo material especialmente qualificado (temos o controlo da
coisa)
PA -_> o legislador pretendeu abster-se da natureza da clausula de reserva; ptt
pelo “constituem” serve para estes caso; a partir do momento da celebração do
contrato transmite-se o risco para o comprador mas numa lógica de repartição.
Outros autores consideram necessário a entrega para
Difreença entre domínio, propriedade e posse !!!!
796.º/1 é aplicável a esta situação.
4. Passado um mês, devido a uma forte tempestade, cai uma árvore em cima
do carro, ficando este completamente destruído. Anacleto entende que não deve
suportar na sua esfera jurídica o perecimento da coisa e recusa-se a cumprir as
obrigações assumidas.

Compra e venda Vendedor tem a Comprador tem o (2) Divergência


com reserva de propriedade domínio Doutrinária
propriedade

(2) Várias posições para esta questão.


§ 1 Para as Doutrinas que consideram que o pagamento do preço é uma
condição suspensiva, o risco corre por conta do vendedor: por via do artigo
796º/3/2ª parte (a reserva de propriedade é uma condição suspensiva) e o risco
corre por conta do proprietário do bem (796º/1).
§ 2 – o risco corre por conta do comprador [Menezes Leitão, Romano Martinez]
(a) O risco corre por conta de quem adquire a vantagem: tendo em
conta que o comprador adquire o gozo e fruição da coisa, então adquire
ele próprio a vantagem.
(b) Princípio do domínio: verifica-se uma transmissão do domínio da
coisa, logo, nos termos do artigo 796º/1, a transferência do risco.
(c) A cláusula de reserva de propriedade seria em simultâneo uma
condição suspensiva e uma condição resolutiva (nos termos do artigo
886° do CC), desta forma, sendo a condição resolutiva e tendo havido
tradição da coisa, o risco corre pelo adquirente. O artigo 796º/3/2ª parte
estipula que, em caso de estipulação de condição suspensiva, o
risco corre por conta do alienante: no entanto, este preceito, ao
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contrário do que acontece na 1º parte do mesmo, não esclarece dos


efeitos quando haja entrega da coisa; assim, havendo entrega da coisa
(caso da reserva de propriedade) o caso não é já o estipulado, mas o
oposto (o risco corre por conta do adquirente).
§ 3 – o risco é distribuído pelas duas partes (PA):
O professor concorda com a maioria dos argumentos do Professor
PRMartinez, menos com o argumento que decorre da conceção de que a
clausula de reserva de propriedade é uma condição – conceção que PA
afasta, já que para si esta clausula nunca poderia ser uma condição, mas sim
uma clausula eficácia translativa diferida ao momento do pagamento do preço,
com a concessão ao comprador, no período entre a celebração do contrato e o
pagamento, de uma posição jurídica diversa da propriedade.
Assim, conclui dizendo que no caso de deterioração da coisa, na compra e venda
com reserva de propriedade, o comprador perde a coisa e continua obrigada
obrigado a pagar o preço; o vendedor, por outro lado, perde a sua garantia de
pagamento do preço.
5. Suponha que os contraentes acordaram que a instituição financeira reserva
para si a propriedade do automóvel até ao pagamento integral do empréstimo.
Esta estipulação é válida?

Estaríamos aqui perante uma cláusula de reserva da propriedade a favor de


terceiro. Ora a análise da jurisprudência e Doutrina no que toca ao tema permite,
identificar tanto posições no sentido da admissibilidade da figura como posições
no sentido da inadmissibilidade da figura.
(b) Admissibilidade [Isabel Menéres Campos, Pedro Romano Martinez, Pedro
Fuzeta da Ponte e Nuno Pinto de Oliveira].
i. Interpretação atualista: se o legislador pudesse ter previsto, teria
inserido aquela realidade/circunstancia na previsão normativa. Fala-se
inclusivamente na necessidade de se preverem novas formas de tutela de
crédito.
ii. Liberdade contratual (princípio geral).

(a) Inadmissibilidade [Abrantes Geraldes, Gravato Morais, Paulo Duarte,


Menezes Leitão e Pedro Albuquerque].
a. Argumentação – Pedro Albuquerque:
i. Quem não é proprietário não pode reservar para si a propriedade da
coisa que não é sua
i. Não vigora o princípio da autonomia privada, mas o princípio da
tipicidade dos direitos reais (1306º): o comprador adquire com a reserva
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de propriedade uma expetativa jurídica real de aquisição, limitando o


âmbito de direito de propriedade do alienante. Não é lícito ao interprete-
aplicador vir criar figuras jurídicas novas com essa natureza.

Artigo 1306.º
(«Numerus clausus»)

1. Não é permitida a constituição, com carácter real, de restrições ao direito de propriedade ou de figuras
parcelares deste direito senão nos casos previstos na lei; toda a restrição resultante de negócio jurídico, que não
esteja nestas condições, tem natureza obrigacional. → O QUE FARIA COM QUE Não TIVESSE OS EFEITOS REAIS QUE
DECORREM DOS ARTIGOS 408.º, 874.º E 879.º/a (transmissão da propriedade)
2. O quinhão e o compáscuo constituídos até à entrada em vigor deste código ficam sujeitos à legislação anterior.

ii. A reserva de propriedade a favor do financiador teria um efeito


semelhante à convenção das garantias reais de crédito9; também teria
efeitos semelhantes a transmissão da reserva de propriedade ou a
reserva de propriedade a favor do alienante sujeita a pagamento a
terceiro.
iii. O artigo 409º não admite a reserva de propriedade a favor de
terceiro, em virtude da proibição de pacto comissório (694º CC). A
proibição do pacto comissório (694.º) deve-se estender às outras
garantias e depõe manifestamente em oposição a um entendimento
amplo do 409.º no sentido de se entender estar aí incluída uma reserva
de propriedade a favor do alienante.

Artigo 694.º
(Pacto comissório)

É nula, mesmo que seja anterior ou posterior à constituição da hipoteca, a convenção pela qual o credor fará sua a
coisa onerada no caso de o devedor não cumprir.

6. Imagine que o automóvel não foi entregue a Anacleto e que o stand decide
vender e entregar a viatura a Carlos. Pode Anacleto reivindicar o automóvel?

Na compra e venda de bens móveis como na de imóveis, ela terá de obedecer


para ser oponível a terceiros às regras de registo a que se mostrarem sujeitos
os próprios bens alienados (409º/2).
Assim a venda do bem poderia ser oponível a C, desde que a coisa tivesse sido
registada.

9
Ou seja, portanto porque não utilizar simplesmente essa figura?
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Neste caso o stand vendeu o carro a um terceiro sem qualquer coisa em


contrário, neste caso seria transmitido para C um direito real de aquisição,
sendo que poderia aqui sempre se reinvindicar este direito.
Tendo o stand vendido a um terceiro sem ónus ou encargos, a compra e
venda seria nula porque pelo 892º, o vendedor não teria legitimidade para o
fazer, sendo o negócio nulo.
Aplicava-se o regime dos bens alheios → não pode alienar como se fosse
propriedade plena.
1311.º e 1315.º → Seria possível a ação de reivindicação.
a. Ao tomar conhecimento da situação, Anacleto entende que o stand não foi
honesto consigo. Decidiu, assim, vender o veículo a Carros Velozes Lda.
(concorrente de Carros Novos), que agora o pretende reivindicar a Carlos.

Vendendo o detentor o seu direito a terceiro, sendo que o adquirente não é titular
de propriedade plena, aqui teríamos uma venda de bens alheios pelo art. 892º
adquirindo aqui, todavia, um direito real de aquisição pelo que ficaria pelo menos
aqui um espelho desse direito real.
Se o comprador restituir o capital em divida e fizer o pagamento dos juros
remuneratórios → convalidação do contrato 885.º

AULA 03/11/2021- venda de bens futuro; compra e venda de


coisas sujeitas a pesagem, medição e contagem
Caso 6
Aníbal, agricultor, vendeu a Beatriz, comerciante, a totalidade da sua produção
mensal de alface, a mil euros mês, durante um ano. É sabido que Aníbal, por via
de regra, produz cerca de 1 tonelada de alface por mês.
a) Porém, no mês de abril, em razão do mau tempo prolongado, Aníbal apenas
produziu 700 kg de alface. Apesar disso, Aníbal exige de Beatriz o pagamento dos
mil euros relativos aquele mês. Quid iuris?

A celebrar um contrato de compra e venda com a totalidade da sua produção mensal de


alface, ou seja, de bem jurídico futuro, a alface ainda não existe no momento da
celebração e aquisição da incapacidade depende da colheita, nos termos do art. 880º/1.
Neste caso teríamos um bem absolutamente futuro, porque não existe de todo (880º).
Nos casos de bem relativamente futuro já existe alguma materialidade (pense-se que as
alfaces já teriam sido plantadas e já estão a crescer). A propriedade transfere-se por
efeito do contrato mas com translação no tempo, só se dando realmente a transferência
da propriedade com a colheita(408.º/2).
Nestes casos as partes podem ou não ter atribuído caráter aleatório ao contrato de CV
de bens futuros → Se for atribuído caráter aleatório (fazer com que o objeto seja a mera
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esperança) o preço é devido mesmo que não se efetive a transmissão total da coisa, a
risco da não concretização da esperança pertence ao comprador.
Coloca-se a questão de saber se é necessário que as partes declarem expressamente
que quem atribuir caráter aleatório ao negócio? O prof. Pedro Albuquerque considera
que não bastando extrair da interpretação do negócio segundo o artigo 236º e ss. No
caso parece que as partes quiseram atribuir o caráter aleatório ao negócio, na medida
em que não é certo que A tenha a mesma produção todos os meses. O que B compra é
uma esperança. Nestes termos seria o comprador que acarreta com o risco do negócio,
sendo devida a totalidade do preço ao vendedor. A culpa neste caso presumir-se-á, mas
será ilidível (799º) - devia afastar a presunção de culpa. O Professor PA diz que na dúvida,
devemos considerar ser CV de bem futuro.
Neste caso, havia que interpretar o contrato no sentido de ser aleatório, nos termos
do 880.º/2, dado que as partes não convencionaram CV de x toneladas por mês, mas
sim da produção de cada mês. ORA, saber a produção de cada mês é aleatório, não se
sabe qual será o volume de produção de cada mês que virá – tendo contratado apenas
sobre o total da produção mensal, seja qual for o seu volume, convenciona-se sobre
bens futuros aleatórios. O objeto da venda é uma mera esperança (neste caso até
podíamos considerar que a esperança era de ser 1 tonelada já que era sabido que por
mês era o que produzia em médio) e o preço será devido mesmo se a efetiva transmissão
da coisa ou bem futuro se não efetivar (na CV normal de bens futuros, o preço só é
devido se a coisa vier a existir; nos contratos aleatórios, o risco da não concretização da
esperança pertence ao comprador). O preço é devido por inteiro 880.º/2.
O contrato era de compra e venda da produção. Não de 1 tonelada por mês. A obrigação
do vendedor é uma obrigação de meio → só fica obrigado às diligencias necessárias, não
fica obrigado ao resultado. Ele cumpriu com a prestação dele, por isso não se pode dizer
que houve uma impossibilidade parcial, já que houve um cumprimento total.
CV de bens futuros aleatória → PA: a natureza aleatória do contrato não abrange
os defeitos da coisa (o comprador admite o pagamento do preço mesmo se a
coisa não chegar a existir).
Não havia sequer aqui uma impossibilidade parcial não imputável ao vendedor, e,
portanto, não se aplicaria o 793º/1, que determina o cumprimento parcial e redução do
preço na medida proporcional.
b) Imagine agora, em alternativa que Aníbal apenas tinha produzido 700 kg de
alface no mês de abril por não ter utilizado nos meses de fevereiro e de março as
dosagens adequadas de pesticidas. Quid iuris?

É um dos efeitos decorrentes da compra e venda de bens futuros a obrigação de exercer


as diligências necessários para o comprador adquirir os bens, segundo o estipulado ou
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resultante das circunstâncias do contrato10: o vendedor tem de adquirir o bem alienado,


momento no qual se verifica a transmissão automática da propriedade (artigo 408º do
CC).
Em caso de impossibilidade imputável ao vendedor: extinção do contrato ou
cumprimento parcial → (1) Ou o vendedor perde direito à prestação (795º/1), (2) ou há
redução na medida da impossibilidade (793º/1).
Ademais, responderá por inadimplemento – problema de saber se responde pelo
interesse contratual negativo ou positivo11:
a. Raul Ventura: entende a venda de bens futuros como um negócio incompleto,
pelo que, em caso de incumprimento, a indemnização fica limitada ao interesse
contratual negativo (repor o lesado na situação em que estaria se não houvesse
celebrado o contrato).

b. Menezes Leitão: entende que se está diante de um contrato completo,


validamente celebrado, logo, a indemnização não poderia ser limitada pelo
interesse contratual negativo.
c. Pedro de Albuquerque: está em causa um negócio incompleto, mas que
produz alguns efeitos jurídicos12; ao incumprimento culposo deve corresponder
uma indemnização pelo interesse contratual positivo.

Caso 7 (corresponde à 2.ª hipótese do livro de caso práticos do Senhor Professor


Tiago Soares da Fonseca

Carlos vendeu a Diogo, um terreno para construção por 10 milhões de euros,


indicando, além da respetiva localização, que o mesmo tinha 10 mil m2.
a) Passado sete meses, Diogo verifica que o terreno apenas tinha 9 mil m2. Exige
de Carlos mais mil m2, ou em alternativa, aquilo que considera ter pago a mais,
mas este recusa.
O comprador adquire a propriedade antes de adquirir a coisa (408.º/1).

10
Significa poder em certos cenários faltar essa obrigação. Assim sucede, p.e., se a especificação depender
de um ato de terceiro ou do próprio comprador como, por hipótese, na eventualidade de competir a este
o corte das arvores compradas.
11
Ac. Proc. 3093/16.5T8AVR.P1: a indemnização pelo dano positivo destina-se a colocar o lesado na
situação em que se encontraria se o contrato fosse cumprido, reconduzindo-se, assim, aos prejuízos que
decorrem do não cumprimento definitivo do contrato ou do seu cumprimento tardio ou defeituoso; a
indemnização pelo dano negativo tende a repor o lesado na situação em que estaria se não houvesse
celebrado o contrato, ou mesmo iniciado as negociações com vista à respetiva conclusão, assistindo-lhe
o direito a ser ressarcido do que despendeu na expectativa da consumação do negócio.
12
Surge logo na esfera do vendedor a obrigação de adquirir a coisa.
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Compra a corpo → 888.º → Se na venda de coisas determinadas o preço não for


estabelecido à razão de tanto por unidade, o comprador deve o preço estipulado,
mesmo que no contrato se indique o número, peso ou medida das coisas vendidas e a
indicação não corresponda à realidade13. TODAVIA, se a quantidade efetiva divergir em
mais um vigésimo, o preço sofrerá uma redução ou aumento proporcional 14 (888.º/2).
A referência das partes à quantidade vai implicar uma futura operação de contagem,
pesagem ou medição, a qual coloca o problema de eventualmente se verificar uma
discrepância entre a referência no contrato e o resultado da operação de contagem, se
não houver referência contratual, não se pode aplicar o regime.
Sendo a coisa determinada, a venda considera-se concluída antes da operação de
contagem, pesagem ou medição, logo com a celebração do contrato, adquirindo o
comprador imediatamente a propriedade (art. 408º/1) e suportando imediatamente o
risco (796º/1) – a discrepância apenas tem reflexos para efeitos de apuramento do preço
devido.
No caso prático, não se verifica a fixação do preço em razão da unidade, como nos indica
o art. 887º, mas sim um preço global, correspondente aos 10 000 metros quadrados do
terreno- estamos perante uma venda ad corpus.
Quando se tenha estabelecido para o conjunto de coisas vendidas– 888º - o comprador
deve o preço declarado, mesmo que haja discrepância, a não ser que esta seja superior
a um vigésimo (5% ou quantidade convencionada a dividir por 20) da quantidade real
– aí sofrerá uma redução ou aumento proporcionais.
No caso de existir diferença superior a 5%, cabe perguntar se o aumento ou redução do
preço se destinam a cobrir toda a diferença ou apenas a diferença que excede o vigésimo
tolerado na disposição.
ANTUNES VARELA + PIRES DE LIMA → a solução mais adequada face à ratio do regime
é a segunda, considerando a diferença menor de 5% como uma espécie de tolerância
imposta pela lei. Para estes autores, o nº2 não tem, contudo, caráter imperativo.
Diogo não ficaria só a pagar 9 milhões (a diferença proporcional face à quantidade), mas
só 9,500 Milhões, que seria o suficiente para atingir a diferença dos 5%.
Aplicamos, portanto, o nº2 – o preço poderá ser reduzido proporcionalmente. Diogo
veria o preço reduzido igualmente para 9, 500 Milhões, em vez dos 10 inicialmente
acordados.
Contudo, há que atender aos prazos de prescrição de exercício deste direito, que foge à
regra geral do art. 309º. Nos termos do art. 890º/1, o direito à diferença do preço

13
P.e., vender-se um imóvel afirmando-se ter 2000m2, por 50 000€, mas dps observa-se que o imóvel tem
1950m2. O problema é solucionado segundo o 888.º.
14
O Ónus da divergência cabe a quem pedir correção do preço.
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caduca dentro de seis meses ou um ano, consoante seja móvel ou imóvel. Tratando-se
de um terreno, vale o prazo de um ano. Assim, Diogo exerceu o seu direito
atempadamente.
A resolução do contrato consta do art. 891º - se o vendedor exigir os 10 Milhões e não
aceitar apenas os 9 500, o comprador, Diogo, tem o direito de resolver o contrato (a não
ser que tenha agido com dolo).
Este direito caduca, contudo, no prazo de três meses a contar da data em que o
vendedor fizer por escrito a exigência desse excesso (prazo que se começa a contar na
altura em que o documento se torna eficaz por ter sido recebido o facto equivalente
224.º). Como Carlos ainda não fez essa declaração por escrito, Diogo pode resolver
livremente o contrato.
Então e no caso de ele vender um hectare por 1 milhão de euros, em razão de por cada
1000 metros o vender por 100 mil euros? Aqui é caso para usar o art. 236º, interpretado
o negócio como o professor Raúl Ventura indica para preponderar que tipo de venda é
compra ad mensuram, pois o declaratário normal haveria um critério por medida desse
mesmo negócio. Então e em relação à eletricidade e à água? O professor Pedro
Albuquerque diria que não porque não é uma coisa determinada e o professor Menezes
Leitão diria que sim mas é discutível sendo que seria aqui um contrato atípico.
b) Em que condições pode Diogo resolver o negócio?

Novamente a resolução do contrato consta do art. 891º - se o vendedor exigir os 10


Milhões e não aceitar apenas os 9 500, o comprador pode resolver o contrato. Assim
Diogo, teria o direito de resolver o contrato (a não ser que tenha agido com dolo).
Este direito caduca, contudo, no prazo de três meses a contar da data em que o
vendedor fizer por escrito a exigência desse excesso. Como Carlos ainda não fez essa
declaração por escrito, Diogo pode resolver livremente o contrato.
Então porque é que o vendedor não pode resolver? Porque a ratio do preceito seria
proteger o comprador que vendo um preço superior não tenha possibilidade de pagar
pois não tem fundos face ao aumento do preço, podendo resolver porque ele é a parte
que se encontrará na posição mais frágil.
Eventualmente se não pudesse exercer a resolução poder-se-ia inferir o erro do objeto
(251º), pelo que este seria difícil de provar e de comprovar o requisito da essencialidade.
Se isto estiver preenchido poder-se-á utilizar este regime.
Aula:
Requisitos:

• Direito do comprador
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• Se houver aumento de preço (nunca numa situação de diminuição de preço),


dado que a ratio é proteger o comprador
• Dolo(?)

c) Suponha que, no mesmo dia e no mesmo cartório, Carlos tinha vendido a Diogo
dois terrenos: um por 2 milhões de euros com 2 mil m2; outro por 1 milhão de
euros, com mil m2. Posteriormente, vem a verificar-se que, afinal, cada um dos
terrenos tem 1500 m2.
1m2 = 1000 €

1/20 de 2mil = 100 → ultrapassa para menos os metros declarados em 500m, logo
25%
1/20 de 1mil = 50 → ultrapassava para mais os metros declarados em 500m, logo
50%
Quid Iuris?
O problema levantado pela questão é ser uma área inferior àquela indicada pela venda, deste
facto se retira que o comprador pagou uma quantidade superior àquela que recebeu, temos de
saber se o Diogo tem de pagar o preço estipulado inicialmente ou não.

Temos um regime específico na compra e venda nos art. 887º e 888º que trata da venda de
coisas sujeitas a contagem, pesagem ou medição. Nesta hipótese, sabemos que C vendeu a D
um terreno para este construir.

Temos de perguntar qual o significado desta declaração, é de que o preço foi fixado à razão
de x por metro quadrado, ou foi fixado tendo em conta que ele vai comprar aquele terreno.
Pelas regras da interpretação declaração negocial 236º e ss, conseguimos chegar à afirmação de
que o que o D quis comprar foi aquele terreno, independentemente dos metros quadrados do
mesmo, e será mais acertado dizer que o tamanho é meramente um elemento incidental,
porque o que ele quer é comprar aquele terreno.

Aplica-se, por isso, o 888º.

887º — subsistência do negócio, modificação do preço

888º — subsistência do negócio, inalteração do preço, até certo limite

Aplicando o 888º/2, como se dá esse aumento ou redução, considera-se a totalidade da


discrepância ou o excesso em relação ao 888º/1.

ML diz a totalidade; PL + AV dizem ser apenas a diferença. Tendo em conta os valores deste caso,
a resposta final seria muito relevante.

O regente concorda com a posição de PL e AV de que é de um vigésimo para cima, porque o


nº2 não pode ser interpretado desconsiderando o nº1 e a lógica é de se o preço não foi fixado
por unidade, até um vigésimo é risco do negócio para o comprador e para o vendedor,
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consoante seja para mais ou para menos, quando ultrapassa um vigésimo, o legislador considera
que esse risco já não está regulado no negócio, ainda que as partes nada tenham dito.

Apenas poderia exigir 50k de volta.

Imagine-se que havia no caso um preço único e imagine-se também que aplicando o artigo 889º
(porque são coisas determinadas e homogéneas), mas chegando ao fim do processo se verifica
uma descorrelação de mais ou menos 1/20? Existindo ainda falta ou excesso poderá ser
suscetível de aplicação tanto o artigo 889º e se este não fosse suficiente aplicarmos o artigo
888º.2, se a diferença fosse superior a um 1/20.

AULA 09/11/2021 – Venda a contento

Caso 8
António, com o intuito de oferecer ao seu filho, compra a Bento um relógio.
Sabendo que o seu filho Martim podia não gostar do relógio, acordou com Bento
que o relógio seria devolvido, caso o filho não gostasse do artigo.
Adicionalmente, as partes acordaram que o pagamento do relógio ou a sua
devolução devia ser realizada até ao fim do dia seguinte.
1. Na semana seguinte, António regressa à loja para devolver o relógio e Bento
recusa. Quid iuris?
Estamos aqui perante uma compra e venda a contento, que deve observar os termos do
art.923º.

Neste caso o artigo 924º o comprador poderá resolver o contrato caso a coisa não lhe agradar.

Assim se o filho de A não gostar este poderá devolver, o artigo 923º/3, diz que a coisa pode ser
facultada por exame, pelo que o prazo afixado será de 1 dia para dizer se aceita ou não, não
tendo dito nada no prazo pelo artigo 923º.2 e 228º a compra e venda não iria produzir efeito. O
artigo 926º refere que no caso de dúvida temos de entender que estamos perante uma compra
e venda a contento da 1ª modalidade.

Tínhamos aqui um contrato preliminar porque já há a vinculação de uma parte para oferecer o
exame e da outra o direito de aceitar ou não.

Assim, concluindo, neste caso podia recusar? Não porque o prazo estipulado pelas partes já
tinha passado.

2. Admita que António compra um segundo relógio para a seu pai, ficando
acordado que o mesmo seria devolvido, caso a bracelete não tivesse o tamanho
adequado para o pulso do pai. Quid Iuris?
Colocar-se-á a questão de saber se estamos ou não perante uma condição resolutiva ( 925º.1).

Quanto ao prazo fixado pelo vendedor uma vez que não foi estabelecido o prazo ( 925º.2 2ª
parte), não se pode neste caso estabelecer um prazo que não seria razoável dependendo das
situações do caso concreto.
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A fixação do vendedor também teria de verificar os requisitos do artigo 224º e ss.

Teríamos aqui o problema de ter uma condição potestativa pelo que não estaria aqui fixada uma
condição a sério mas sim uma deste termo.

A prova deverá ser feita dentro do prazo, segundo o estabelecido pelo contrato ou pelos usos.
Se ambos forem omissos, observar-se-ão o prazo fixado pelo vendedor e a modalidade escolhida
pelo comprador segundo critérios de razoabilidade (925º/2).

Caso 9

Catarina tem avultadas dívidas e como tal decidiu vender o seu apartamento a Daniel, por 200
mil euros, no dia 1 de agosto de 2011. Como pretendia voltar a reaver o imóvel, quando tivesse
maior liquidez financeira, acordou com Daniel que podia resolver o contrato, no prazo de 10
anos, pelo pagamento de 250 mil euros.

a) Em 2015, Catarina telefona a Daniel, informando que conseguiu juntar dinheiro suficiente
para reaver a casa, no entanto, Daniel comunica que já vendeu a casa a Belmiro. Quid iuris?

Estamos aqui perante uma Venda a Retro. O vendedor reserva para si o direito de
reaver a propriedade da coisa ou direito vendido mediante a restituição do preço
(927º).
PA e Galvão Telles→ a venda a retro é, em muitos cenários, o único meio de atingir e
servir interesses sérios e perfeitamente legítimos. Como a situação de quem
necessitando de dinheiro não pretenda, todavia, valer-se do crédito nem se desfazer
definitivamente dos seus bens.
Quanto ao contrato celebrado entre C e D, há que notar que foi estabelecido que C, ou
seja, a vendedora, teria de restituir preço superior ao fixado para a venda, caso
quisesse resolver este contrato. Ora, nos termos do 928.º/2 esta clausula é nula quanto
ao excesso, estando C obrigada a pagar apenas os 200 mil se decidir resolver o contrato.
Há ainda que fazer alusão ao prazo estabelecido pelas partes para a resolução. Segundo
o artigo 929.º/1 a resolução pode ser exercida dentro de 2 ou 5 anos a contar da venda,
consoante sejam bens móveis ou imóveis. Neste caso tratava-se de um bem imóvel, e,
portanto, o prazo máximo para a resolução seria 5 anos. Nos termos do art. 929.º/2,
tendo as partes estabelecido um prazo de 10 anos, e, assim, excedendo o limite dos 5
anos, a convenção considera-se reduzida a esse limite, ou seja, o prazo estipulado
pelas partes ser a reduzido a 5 anos. Note-se que as partes poderiam ter estabelecido
o prazo mais curto que 5 anos, mas nunca prazo superior, como foi o caso (10 anos).
Quanto à pretensão de resolução do contrato, ainda se estava dentro do prazo, dado
só terem passado 4 anos e o prazo ser, neste caso, como vimos, 5 anos.
Há então que averiguar acerca da sua oponibilidade a terceiros. Em regra, a solução
dos contratos ou negócios jurídicos não atinge os direitos adquiridos por terceiros
(435º/1).
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TODAVIA, o artigo 932.º apresenta-se como uma exceção a esta regra geral
dizendo que, na venda a retro, se esta tiver por objeto coisas imóveis/móveis sujeitas
a registo, e a cláusula a retro tiver sido devidamente registada, a resolução já é
oponível a terceiro. A clausula tem eficácia real tratando-se de bens imoveis e moveis
sujeitos a registo, quando tenha sido registada; nas outras situações, tem eficácia inter
partes (435º/1). O bem em causa era um bem imóvel, a clausula seria, assim, oponível
a 3º caso tivesse havido registo.
Tratando-se de clausula oponível a terceiros, os bens regressariam livres de ónus ou
encargos sobre eles estabelecidos se, obviamente, tiver sido efetuado o registo
Se não tivesse havido registo, o que poderia haver em todo o caso seria
responsabilidade civil de D, pelo dano causado.
VENDA A RETRO VS PACTO DE REVENDA
(a) Venda a retro: uma única compra e venda, onde se estipula uma clausula acessória
que confere ao vendedor a faculdade de resolver o contrato.
Na venda a retro, o vendedor irá reserva a possibilidade de durante determinado tempo
reaver o bem que foi vendido, ou seja, apenas haverá o negócio.
(b) Pacto de revenda/retrovenda: verifica-se uma venda, por exemplo, de A a B, que,
no mesmo instante ou posteriormente, volta a vender a A.
Na retrovenda haverá uma venda a um comprador que depois se a venderá
posteriormente aplicando-se ao mesmo regime da compra e posteriormente em relação
aos prazos aplicar-se-á o regime da venda a retro. Neste caso haverá posteriormente
uma venda em sentido inverso, haverá uma primeira compra e venda em que o
comprador emite uma outra venda subsequentemente ( 927 º e 928º).
Os perigos da venda a retro: serão os negócios simulados nos termos do artigo 1146º
(p.e.).
b) Imagine que em 2015 o imóvel fica totalmente destruído num incêndio. Sabendo que o
imóvel tinha sido avaliado por 300 mil euros, Catarina pretende resolver o negócio e exigir
uma indemnização ao comprador pelo valor da avaliação.

Em relação à deterioração do imóvel haveria uma divergência em relação à condição


resolutiva:
Pedro Romano Martinez → o risco da deterioração incide sobre o comprador (796º.3).
PA → A resolução do contrato é situada na dependência da vontade de uma das
partes, não estamos diante de uma verdadeira condição resolutiva (as condições
têm de ser de factos externas ao contrato, futuros e incertos).
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Pedro Albuquerque → não há condição resolutiva (na opinião do Professor PA a venda


a retro tem natureza de contrato atributivo de um direito de resolução nos termos do
432.º - isto porque será esta a letra da lei do 927.º)
ASSIM, para o Regente aplicar-se-ia o artigo 1269º CC, ou seja, comprador possuidor de
boa-fé. Por isso responde pela perda/ deterioração da coisa apenas se tiver procedido
com culpa (1269º).

• Havendo, negligência/dolo, se o vendedor pretender exercer o direito de


resolução do contrato pode demandar o comprador pelos prejuízos
produzidos (432º.2)

• Neste caso tudo indica ter sido uma perda furtuita, ou seja, não havendo
dolo não se poderia dizer que estaríamos perante a situação do artigo
432º/2. Nestas situações a propriedade perde-se e o vendedor, em
princípio, não quereria exercer o seu direito de resolver o contrato;
ASSIM, a propriedade firmar-se-ia na esfera jurídica do comprador que
teria de suportar o risco desta perda15. CONQUANTO, C continua a
pretender exercer o direito de resolução:
i. Raul Ventura entende que não pode
ii. Pedro Albuquerque entende que pode e que caberá ao vendedor
suportar os efeitos da perda ou deterioração.
Desta forma, se C não quiser resolver o contrato, os riscos correm por B. Se C ainda
quiser resolver o contrato, terá de ter em conta que os riscos correm por sua conta, e,
portanto, não só não podia pedir uma indemnização, como correriam por si todas as
despesas.
424.º → a regra é de retroatividade da resolução.

AULA EXTRA 13/11/2021 – venda a prestações


CASO DE CV A PRESTAÇÕES

Andreia adquiriu a Bernardo uma máquina de lavar louça, tendo sido convencionada a reserva
de propriedade e acordo que o preço devido, no valor de 1000 euros, seria pago em vinte
mensalidades, de 50 euros.

Por último, convencionaram as partes que “em caso de incumprimento de Andreia, Bernardo
tem direito a receber 2000 em alternativa ao preço devido”. → CLAUSULA PENAL

Analise, de forma autónoma das demais, cada uma das seguintes situações:

15
Destarte, por motivos completamente distintos dos do 796.º/3
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1. Andreia esquece-se de pagar a primeira mensalidade. Responda fundamentando:

a. Pode Bernardo resolver o negócio?

Neste caso, estaríamos perante uma venda a prestações. Este contrato surge como forma de
tornar mais ativa a circulação de bens e de permitir o gozo dos benefícios por eles
proporcionados ao maior número possível de pessoas, admitiu a chamada a venda a prestações
(934º e ss.).

Pelo artigo 934º. 1ª parte não poderá haver resolução do contrato sendo o artigo absolutamente
perentório neste aspeto.

O 934º refere-se apenas à falta de pagamento. Tratando-se da exigência do cumprimento da


totalidade das prestações basta a mora. O exercício do direito da resolução apenas após o
incumprimento definitivo (808º).

b. E exigir o pagamento de todas as mensalidades por vencer?

Faltando uma prestação superior a 1/8 ou a 2 prestações, independentemente do preço,


o vendedor poderá interpelá-lo, exigindo o pagamento das prestações vincendas (934.º
e 781.º) – só a partir desse momento estará o comprador constituído em mora
relativamente a todas as prestações não pagas, podendo ela transformar-se em
cumprimento definitivo (artigo 808º)16.

PA considera que haverá uma exigibilidade antecipada, ou seja, o credor pode exigir as
outras (781.º), mas não é automático que haja um vencimento antecipado.

TODAVIA, não é o caso aqui dado que A não faltou com uma prestação superior a 1/8
nem com mais de uma prestação.

c. As respostas anteriores poderiam mudar de Bernardo fosse um comerciante?

Apesar de B ser um comerciante e aplicando-se o 934º CC e o DL 133/2009, pelo artigo 20º.1


este não poderia resolver o contrato. “ Em caso de incumprimento do contrato de crédito pelo
consumidor, o credor só pode invocar a perda do benefício do prazo ou a resolução do contrato
se, cumulativamente, ocorrerem as circunstâncias seguintes:

a) A falta de pagamento de duas prestações sucessivas que exceda 10 % do montante


total do crédito;

b) Ter o credor, sem sucesso, concedido ao consumidor um prazo suplementar mínimo


de 15 dias para proceder ao pagamento das prestações em atraso, acrescidas da
eventual indemnização devida, com a expressa advertência dos efeitos da perda do
benefício do prazo ou da resolução do contrato.”

Neste caso não estaríamos perante nenhuma de ambas as hipóteses.

16
Batista Machado: acrescenta em nota só ser assim se não se dever entender o prazo fixado para as
prestações como um prazo perentório ou prazo-limite que inclua o prazo suplementar referido no artigo
808.º/1 ou que seja igual a este. PA não segue esta orientação o autor a propósito deste ponto, por
estarem jogo, como se viu, apenas a perda do benefício do prazo.
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2. Andreia pagou a primeira mensalidade, apesar de tardiamente, e depois voltou a


esquecer-se de pagar a segunda mensalidade.

3. Andreia não pagou a terceira mensalidade, nem a seguinte.

4. Andreia falhou no pagamento de três mensalidades, Bernardo aceita o pagamento tardio


das três mensalidades, mas vem posteriormente a querer resolver o negócio.

5. Suponha que tinham sido acordadas, ao invés de vinte mensalidades, apenas cinco.
Resolva autonomamente cada uma das seguintes sub-hipóteses, mencionado os direitos de
Bernardo:

a. Andreia falta no pagamento de uma das mensalidades.

b. Andreia falta ao pagamento de primeira mensalidade, mas ainda não tinha havido a
entrega da máquina de lavar a louça.

c. Andreia falta ao pagamento da primeira mensalidade, mas não tinha havido reserva
de propriedade, nem entrega do eletrodoméstico.

6. Pronuncie-se sobre a admissibilidade da cláusula final inserida no contrato entre Andreia


e Bernardo.

AULA 15/11/2021 VENDA DE BENS ALHEIOS


Caso 10

Nuno e Maria zangaram-se um com o outro, tendo Nuno decidido sair do apartamento onde
morava, com a Maria. Por falta de espaço na nova casa, Nuno decidiu vender algumas das suas
coisas que tinha no apartamento, pedindo a Maria se as poderia mostrar a eventuais
interessados.
Resolva, de forma autónoma das demais, cada uma das seguintes hipóteses:

a) Óscar deslocava-se ao apartamento e fica interessado num armário de Nuno,


pretendendo comprá-lo e levá-lo. Maria, alegando que estava autorizado a “tratar do
assunto”, vende o móvel a Óscar.

Se o proprietário ratificar o negócio feito pelo gestor, ent pronto.

Se ele não quisesse. A pessoa que quem tivesse sido vendida a coisa tinha interesse negativo de
indm.

A obrigação de convalidar é de resultado.

Se não conseguir convalidar → 908.º

A pessoa que comprou bem alheio teria uma indemnização superior se utilizasse o regime dos
bens alheios

Direitos da compradora → exigir a convalidação; indemnização (898.º). eu não ia conseguir


convalidar se o vendedor não quisesse → 900.º indeminização e ainda a restituição do preço.

b) Pedro desloca-se à casa e gostou muito de um quadro. Maria diz a Pedro que aquele
quadro “era seu”, mas que poderia vendê-lo por 100 euros. Este aceita.
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Quando soube do sucedido, Nuno exige o quadro de volta a Pedro, que, por sua vez, se recusa.
Maria, contudo, diz que não pode fazer nada e se a pretensão de Nuno for a Tribunal, o mesmo
terá de declarar a nulidade do contrato.

Neste caso estamos perante a venda de bens alheios, transmissão onerosa , como próprios de
bens não pertencentes ao alienante, neste caso concreto temos Maria a vender a Óscar móvel
pelo qual não é proprietária mas sim Nuno.

Regime este previsto nos artº 892º ss CC vale assim apenas para hipóteses de alienação como
própria de uma coisa que não se mostre fora do comércio, específica e considerada presente,
fora do âmbito das relações comerciais. O que neste caso se encontra presente, pois temos aqui
perante a vontade de vender como própria a coisa alheia – Maria vende o móvel como se fosse
seu.

Com base no artº 892 – refere ser nula a compra e venda de bens alheios quando o vendedor
para além de vender como própria coisa careça de legitimidade para o fazer – o que é o caso.

Tem-se debatido na doutrina e jurisprudência se o proprietário que pretenda clarificar a situação


resultante da venda de um bem, por terceiro que lhe pertence deve servir-se de uma ação de
declaração de nulidade do negócio ou uma ação declarativa de ineficácia relativamente a ele.

Raúl Ventura afirma a prioridade da nulidade sobre a ineficácia. A falta de produção de efeitos
do negócio alheio relativamente ao proprietário seria consequência da nulidade e não da
ineficácia. Diz ainda que que numa ação declarativa contra o negócio teria que ser
necessariamente analisada a nulidade.

O professor Pedro de Albuquerque não segue esta posição, discordando do Professor Raul
Ventura – para o Regente:

1) A prova de que a falta de produção de efeitos relativamente ao proprietário não resulta da


nulidade é suscetível de ser extraída do regime de compra e venda de bens alheios em comércio.
Em que o contrato de compra e venda de bens alheios não é nulo, mas nem por isso deixa e ser
ineficaz relativamente ao proprietário.

2) por outro lado, o proprietário é titular de um direito absoluto, pelo que em ação declarativa
se irá fundamentar em razões absolutas – OU SEJA, iria provar a sua titularidade e não a
nulidade do negócio.

O resultado da sanção de nulidade é a restituição da coisa, pelo comprador, ao vendedor


(esteja ou não de boa-fé) – este ponto é importante, já que se determina que a coisa não é
entregue ao seu verdadeiro proprietário17 18. O proprietário podia, depois, intentar uma ação de
reivindicação ou uma ação possessória.

Quanto ao comprador – oq poderia este fazer?

17
Assim não será se, eventualmente, tiver sido intentada uma ação possessória ou de reivindicação pelo
proprietário.
18
Diogo Bártolo sublinha o facto de o verdadeiro titular dever ser avisado pelo comprador e/ou pelo
vendedor, por via dos deveres acessórios impostos pela boa-fé, que funcionam, nesta situação, como
proteção de terceiros.
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→ Podia arguir a nulidade (porque está de boa-fé)

→ pedir uma indemnização

→ pedir a convalidação da venda

A propriedade transfere-se para o comprador no momento em que o vendedor a adquira: assim


o estipula o artigo 895º do CC. Não obstante, o artigo 896º prevê exceções.

E, ainda, o artigo 897º/1 prevê um dever jurídico de validação do contrato de compra e venda
de coisa alheia, em caso de boa-fé do comprador (entendida por alguma doutrina como uma
obrigação de resultado – são-lhe aplicáveis as regras previstas nos artigos 798º e ss., existindo,
na eventualidade de incumprimento, uma presunção de culpa nos termos do 799º19).

c) Quirino desloca-se ao apartamento e compra a Maria, por 500 euros, a televisão que esta
tinha comprado numa promoção no Centro Comercial de Aljubarrota, juntamente com Nuno,
quando ainda estavam apaixonados um pelo outro e a viver juntos.

Bens vendidos só parcialmente alheios → ao artigo 902º deve aplicar-se o disposto no


artigo 292º:

• Se se mostrar que o negócio não teria sido realizado sem a parte alheia, o
contrato é totalmente nulo (vale a regra constante do artigo 892º).
• Se, por outro, tivesse sido realizado, independentemente de parcialmente
alheio: nos termos do artigo 902º, o contrato é reduzido.
Bens indivisos? Não.

Nem se aplicava o regime da compropriedade.

ASSIM, O CONTRATO SERIA NULO:

Em principio, a nser que seja possível recorrer à redução, o contrato será nulo.

Era possível a conversão do contrato de CV da televisão para uma CV de 50% da tv.

d) Maria vende a bicicleta de Nuno a Ruben, tendo dito a este último que Nuno lhe tinha
prometido, por contrato, vender-lha. Posteriormente, contudo, veio a suceder que Nuno
vendeu a referida bicicleta a Sara. Ruben pretende agora que Maria lhe devolva o preço que
pagou pela mesma, assim como uma indemnização que alega ter sofrido.

Ir-se-ia aplicar o regime dos bens futuros ao contrato celebrado entre M e R, nos termos do
893.º, já que M informou R que ainda não tinha o bem na sua posse.

Quanto a este contrato, ele seria possível e válido nos termos do 880.º/1 se M tivesse
efetivamente informado o comprador que não tinha titularidade do bem. M cumpriu os deveres
de informação.

Um dos efeitos decorrentes da CV de bens futuros é a Obrigação de exercer as diligências


necessários para o comprador adquirir os bens (880.º/1), segundo o estipulado ou resultante

19
Diogo Bártolo: havendo má-fé na conclusão do contrato deve considerar-se haver culpa no
incumprimento da obrigação de convalidação.
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das circunstâncias do contrato20: o vendedor tem de adquirir o bem alienado, momento no qual
se verifica a transmissão automática da propriedade (artigo 408º do CC)

Quando não exerça essas diligências, por facto imputável, responderá por inadimplemento.
Todavia, aqui parece ter sido cumprida as diligencias.

Também não parece que houvesse caracter aleatório, por isso o preço não era devido se a
transmissão dos bens não se chegasse a verificar (880.º/2 a contrario).

Assim, dava-se a extinção do contrato, e M perde o direito à prestação. Neste caso, R já tinha
pago, por isso tinha direito a ser restituído desse valor.

R podia pedir uma indemnização a N se se provasse que havia um contrato promessa entre M e
N. Todavia, devido á falta de eficácia real do contrato promessa, a proprietária seria sempre Sara
(o contrato promessa não lhe é oponível e só seria nos termos do 413.º).

e) Maria encontra no escritório o livro “A Teoria da Justiça”, pertencente a Nuno, e


autografado pelo próprio John Rawls. Liga de imediato a Emanuel e promete-lhe vender a obra
por 500 euros. Semanas mais tarde, após várias tentativas de contacto sem sucesso, Emanuel
pretende intentar uma ação em tribunal para receber o livro ou uma indemnização pelo
prejuízo causado.

Quanto à admissibilidade do contrato promessa de CV de bem alheio tem-se que

MC: CP de CV de bens alheios não é nulo pq não há uma eficácia real.

Admissibilidade: posição maioritária.

a. Argumentos: o objeto não é legalmente impossível, uma vez que o comprador pode adquirir
a coisa até ao momento da celebração do contrato definitivo (não adquirindo, haveria mero
incumprimento e não nulidade, pq não há eficácia real no contrato promessa, com exceção dos
casos em que as partes queiram que haja nos termos do 413.º).

2. Admissibilidade limitada:

a. Raul Ventura: apenas admissível se for afastada a execução específica

Seria nulo, exceto se houvesse convenção contrária à execução específica: noutra hipótese, o
artigo 830º não seria operável, dado que apesar de aplicável (pois a natureza do contrato não
se opõe à execução específica, dado que a coisa foi prometida vender como própria), não seria
operável, na medida de não poder nesta hipótese ter lugar uma sentença que produza os efeitos
negociais da declaração do faltoso, pois nessa eventualidade a decisão do tribunal teria a força
de uma compra e venda nula – ou seja, o tribunal acabaria por proferir uma decisão que não
poderia provocar os efeitos essenciais a que se destina.

20
Significa poder em certos cenários faltar essa obrigação. Assim sucede, p.e., se a especificação depender
de um ato de terceiro ou do próprio comprador como, por hipótese, na eventualidade de competir a este
o corte das arvores compradas.
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Albuquerque
Ano letivo 2021/2022
Matilde Pereira Jesus

ASSIM, o contrato de promessa de compra e venda de coisa alheia deve entender-se nulo,
exceto se existir convenção contrária à execução específica (com a equiparação operada pelo
830.º/2). O afastar da execução específica pode ser expressa ou tácita.

A admitir-se a validade da promessa de venda de bens alheios, havendo incumprimento desta,


ou promitente-comprador teria direito a uma indemnização pelo interesse positivo - isto é,
pelo interesse da conclusão da compra e venda.

Como aos contratos promessa que se aplicam, através do princípio da equiparação, as


disposições legais relativas ao contrato prometido, excetuando as relativas à forma e as
disposições que não devam ser aplicadas ao contrato de promessa (como será o caso do efeito
de transmissão da propriedade previsto no 879), então aplicavam se aqui as regras gerais do
incumprimento dos contratos de compra e venda, ou seja, a responsabilidade obrigacional
(798.º e 799.º e ss).

NOTAS DE AULA PRÁTICA SOBRE A MATÉRIA:

CONTRATO DE VENDA DE BEM ALHEIO; VENDEDOR INTENTA AÇÃO DE NULIDADE; COMPRADOR


DIZ Que ELE Não TEM LEGITIMIDADE NEM O TRIBUNAL PODE CONHECER OFICIOSAMENTE,
ADEMAIS EXIGE A ENTREGA DA COISA – PROBLEMA É O CUMPRIMENTO DE UM CONTRATO QUE
É NULO.

Devemos separar entre a nulidade do contrato e a nulidade do cumprimento. O TRIBUNAL Não


PODE CONHECER DA NULIDADE, MAS PDOE ABSTER-SE DE CONHECER DA OBRIGAÇÃO DE UM
CONTRATO NULO.

QUESTÃO DA RESTITUIÇÃO DO PREÇO:

Pa → não temos a aplicação do ESC; temos a aplicação direta do 289.º que permite a restituição
integral do preço

Se o comprador já souber que a coisa não é sua --< 1269.º (só nas relações entre o proprietário
real e o comprador)

Caso A (Retirado do livro de casos do Senhor Professor Tiago Soares da Fonseca)

Fernando comprou o apartamento a Joaquim, sito no último andar do edifício Tridente, em


Lisboa, por 650.000 euros.

Quando Fernando entra na sua casa, depara-se com Luís dentro da mesma, em roupão de
banho, que começa aos gritos, exibindo um contrato de arrendamento na mão válido por mais
dois anos, a exigir a imediata saída de Fernando.

Fernando pretende que Joaquim lhe devolva 760.000 euros.

1. 650.000 euros correspondentes ao preço pago pela compra da casa;

2. 50.000 euros por despesas os advogados, a escritura e os impostos pagos para comprar a
casa;
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Matilde Pereira Jesus

3. Os restantes 60.000 euros por lucros cessantes, uma vez que tinha um comprador para casa
por 710.000 euros. (LUCRO CESSANTE = 650.00-710.00= 60.000)

Estamos perante um contrato de compra e venda de bens onerados nos termos do art. 905º. A
venda de bens onerados aplica-se às situações em que incidem, sobre o bem transmitido, ónus
que excedam os limites normais de direitos da mesma categoria21 (exemplos: servidão de
passagem; contrato-promessa com tradição da coisa, contrato de locação, hipoteca, etc.).

Antes de mais há que referir que para aplicar o regime dos bens onerados, (1) o ónus tem de
ser existente à data da celebração do contrato, (2) o comprado tem de desconhecer a sua
existência (se for declarado pelo vendedor já não se aplica este regime22) e (3) os ónus ou
limitações não podem estar dentro dos limites normais daquela categoria de direito, estes
serão o caso dos ónus que normalmente não se verificam aquando da transmissão de
determinado tipo de direitos, neste caso havendo transmissão do direto de propriedade, o ónus
que ultrapassa os limites normais será o facto da coisa ter sido locada a outrem.

Ao comprador são dadas sucessivas soluções:

1. Desde a anulação do contrato por erro ou dolo23, nos termos do 905.º;


2. Redução do preço, nos termos do 911.º, sendo que pode logo na ação de anulação pedir
subsidariamente a redução do preço;
3. Pode ser exigido do vendedor uma indemnização pelos danos causados.

Quanto à anulabilidade, determina-se nos termos do 905.º, que será possível a anulabilidade do
contrato com base no erro ou no dolo se se verificarem no caso os requisitos legais da
anulabilidade do contrato de compra e venda.

Face ao 905.º surgem duas teorias:

Teoria do erro: PIRES DE LIMA, ATUNES VARELA, ML

Olhando para este preceito, alguma doutrina, penso que a maioritária, considera ter-se
procurado reconduzir a tutela do comprador à doutrina geral do erro e do dolo – o que
significaria que o direito de anulação só se verificaria se estivessem reunidos os pressupostos
e requisitos da anulabilidade, a saber:

Quanto à anulabilidade por mero erro (que no regime dos bens onerados se encontra no artigo
909º) os requisitos para a anulabilidade são, nos termos do 247.º e 251.º:

1. Essencialidade do erro para o declarante (comprador) – O erro tem de ser essencial à vontade
de celebrar aquele negócio;

21
Tratando-se de uma situação em que há transmissão da propriedade sobre um imóvel “limitado” por
um contrato de arrendamento, de acordo com o Professor Romano Martinez estaremos já diante de um
cumprimento defeituoso por parte do vendedor e não uma venda de um bem onerado: o vendedor estava
adstrito a efetuar uma prestação conforme acordado, só assim vendo o credor o seu interesse satisfeito.
22
ratio da norma consiste em proteger o adquirente contra o risco de adquirir um bem que, por não estar
livre de uma intromissão limitadora, não corresponde à representação que, de acordo com o contrato
dele se teve.
23
A lei considera apenas admissível a anulação, e não a nulidade (desvalor menos grave para esta
modalidade do que para a venda de bens alheios).
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Matilde Pereira Jesus

2. Cognoscibilidade da essencialidade pelo vendedor pelo declaratário (vendedor):


conhecimento dessa essencialidade – Devia conhecer que o elemento era essencial para a
vontade de contratar do declarante;

i. Decorrente da natureza das coisas, esta pode ser uma suscetibilidade de conhecimento muito
forte: quanto mais “excessiva” ou “óbvia” a limitação ao direito transmitido for, mais essencial
à formação da vontade será: se a pessoa soubesse que estaria limitada de tal forma, ou não
comprava ou comprava a preço mais baixo (valendo aqui o Art.º 911 CC);

Já quanto à anulabilidade por dolo (no regime dos bens onerados encontra-se no artigo 908º);
os requisitos gerais para a anulabilidade são, nos termos do 253.º e 254.º:

1. Erro ou falsa representação da realidade pelo declarante (comprador);

2. Que esse erro tenha sido causado pelo declaratário (vendedor) ou terceiro;

3. Que este tenha recorrido a artifício, sugestão ou embuste para tal.

(A diferença entre os requisitos do erro-simples e do erro-dolo reside no facto de que no erro


simples, o negócio só é anulável se este recair sobre elemento essencial e se o declaratório
conhecia ou devia conhecer essa essencialidade (Essencialidade + Cognoscibilidade).

No erro-dolo, a anulabilidade surge se for determinante da vontade do declarante (254.º) (não


tendo de ser propriamente essencial), salvo se provier de terceiro, hipótese na qual se exige
também o conhecimento do dever de conhecimento do destinatário (254.º/2).)

Teoria do incumprimento MC PA PRM:

nomeadamente a defendida pelos Profs. Menezes Cordeiro e Pedro Romano Martinez, entre
outros autores, onde se inclui o Prof. Pedro de Albuquerque – concluem que a remissão do art.
905º CC deve ser enquadrada não no âmbito do erro mas antes numa hipótese de resolução.

ARGUMENTOS:

• Estaria aqui em causa um vicio na execução do contrato e não na formação para o


regente, na compra e venda de bens onerados não está em causa uma falsa
representação da realidade, mas antes uma má execução do contrato já que o
vendedor diz transmitir a) e acaba por transmitir b)24.

• O Regente evidencia que os restantes aspetos do regime se estribam no


incumprimento (redução do preço (911.º), expurgação do ónus (907.º), pedido de

24
Na verdade, aquilo que sucede quando se realiza um CCV de bem onerado é que o comprador pretende
adquirir o objeto A, manifestando de forma adequada e isenta de vícios a vontade de adquirir A – pois, ao
selecionar o bem, aquilo que o comprador faz é exprimir a sua vontade de adquirir um bem ou um direito,
dotado de conteúdo normal inerente a direitos da mesma categoria. No entanto, identifica um bem que
apenas possui as características de B, na convicção errónea de esse bem servir para cumprir o programa
obrigacional que foi expresso e delineado de forma correta e isenta de vícios.
Para usar um exemplo proposto pelo Prof. Menezes Cordeiro, podemos dizer que há erro se o comprador
disser que compra branco e na realidade quer comprar preto. Mas haverá já incumprimento se pactuar
comprar branco e o vendedor entregar preto – é isso que sucede quando há uma compra e venda de bem
onerado.
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Matilde Pereira Jesus

indemnização (908.º e ss., maxime o 910.º)), não faria sentido apelar às regras do erro
no art. 905.º e dps apelar às do incumprimento nos restantes efeitos.

• O regime do erro (vícios da vontade) não se sintoniza com a convalescença do contrato


em virtude da iniciativa do vendedor; não porque um contrato anulável não pode a ser
convalidado, mas porque a convalidação da nulidade ou confirmação, disposta no
288.º, estará na dependência da vontade do errante (o comprador), e não do
vendedor, quando nos termos do regime da CV de bens onerados é o vendedor que
deve fazer convalescer o contrato.

Segundo o Regente aquilo que, na verdade, temos quando falamos na compra e venda de bens
onerados é uma hipótese de cumprimento defeituoso, não uma hipótese de erro, pelo que
esta anulação de que fala o art. 905º na realidade deve ser convolada numa resolução.

Desta forma, o regente diz-nos que, a referência do artigo 905.º aos pressupostos legais da
anulabilidade tem de ser devidamente interpretada, ou seja:

• Por um lado, o comprador não pode ter a conhecimento efetivo do defeito no


momento da celebração do contrato (difere do regime do erro porque → num caso ele
até podia ter que saber, aplica-se sempre desde que não soubesse; no outro caso a
desculpabilidade (ptt haver razões para ele não saber quando devia saber) é requisito
para haver responsabilidade do vendedor)
• Se no regime do erro tem de haver essencialidade do erro, no regime do incumprimento
a gravidade do erro tem de ser de tal forma que nem sequer se permita a manutenção
do negócio jurídico (802.º/2). (portanto num caso a essencialidade é facto constitutivo,
noutro caso a falta de gravidade é facto impeditivo)

Aplica-se o regime geral da responsabilidade civil por incumprimento.

ASSIM, se F não sabia do defeito à data da conclusão do contrato e o defeito é realmente


grave, ou parece ser, de tal forma que não se permita a manutenção do negócio jurídico →
pode resolver o contrato, sendo lhe restituído desde logo o preço pago.

O cálculo da indemnização vai depender de saber se o vendedor estava em mero erro ou em


dolo:

No caso de estar em dolo há divergências doutrinárias quanto ao interesse contratual que é aqui
tutelado:

I. PL/AV – A dupla negativa indicia que se encontra aqui tutelado o interesse contratual negativo;

II. VS – Há tutela pelo interesse contratual positivo se este for superior ao interesse contratual
negativo, na eventualidade de dolo do vendedor;
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Matilde Pereira Jesus

III. MC – Defende dever a indemnização ser sempre pelo interesse contratual positivo, devendo
onde se lê “se a compra e venda não tivesse sido celebrada” que se leia antes “se não tivesse
havido onerações”25;

IV. Pedro de Albuquerque – A indemnização faz-se pelo interesse contratual positivo,


perfilhando a posição de Menezes Cordeiro. Se há uma stuação de má-fe ética do vendedor não
há razões para diferenciar da situação de venda de bem alheio.

i. Aproxima a noção de dolo aos 892.º, 898.º e 903.º, exprimindo antes a má-fé e não a existência
de subterfúgios ou silêncios intencionais do vendedor para enganar o comprador – Incorre em
dolo (má-fé) se o vendedor sabia ou devia saber da existência do ónus (abrangendo-se assim
também a negligência).

Má-fé subjetiva → estado do sujeito; alguém age sabendo que está a prejudiciar dts e
interesses de alguém

Ma fe ética → alguém age sabendo ou tedo o dever de saber prejudicando os direitos de


outros (dolo, neg conciente e inconsciente) (A SUA ALTERNATIVA SÃO OS CASOS DO 909.º
PARA CASOS DE RESP OBJETIVA)

Em caso de mero erro aplica-se o 909.º e não há direito a indemnização por lucros cessantes.
Há uma responsabilidade objetiva do vendedor que se fundamenta no facto deste, no momento
em que procede à venda do bem deve garantir, independentemente de culpa sua, que o bem
vendido se encontra livre de ónus ou limitações, respondendo pelos danos causados se tal se
verificar.

Concluindo, o comprador podia exigir a resolução e através desta era-lhe restituído desde logo
o preço pago (650 mil euros). Ele poderia sempre resolver o contrato (verificados os requisitos),
exceto se antes de ter pedido em juízo a anulação da CV ou antes de ter tido qualquer tipo de
despesas com o contrato, desaparecerem os ónus e ficar assim sanada a anulabilidade, como
dispõe o 906.º/ 1 e 906.º/2 a contrario..

O Regente equipara o dolo a que se refere o artigo 908.º a má-fé ética, dizendo que esta se
verifica quando o vendedor soubesse da existência do ónus, ou devesse saber. Parece-me difícil
que o vendedor não soubesse, mas pelo menos deveria saber. Assim, considerei que o vendedor
estava de má-fé, sendo a indemnização calculada desta forma nos termos do 908.º, e
abrangendo os lucros cessantes (interesse cont positivo) e os danos emergentes (eram por
interesse cont negativo) e, portanto, incluíam-se tanto o valor que deixou de receber por já não
ter vendido a casa como as despesas que efetuou.

Faltava perguntar se a obrigação de convalidação tinha sido incumprida; MAS o comprador


optou logo pela resolução; para haver convalescença tem de haver vontade do comprador.

Os lucros cessantes só seriam devidos se houvesse falta de convalidação nos termos do 910.º.

25
Não há grande diferença entre a posição de VS e MC se se tiver presente a noção de dolo do artigo
908.º. Ela exprime a má fé e não a existência de subterfúgios ou silêncios intencionais do vendedor para
enganar o comprador. Haverá dolo (má-fé) se o vendedor souber ou dever saber da existência do ónus.
A negligência está assim igualmente abrangida pelo artigo 908.º.
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Albuquerque
Ano letivo 2021/2022
Matilde Pereira Jesus

O vendedor assegura que há um direito de passagem contíguo. Mas esse direito de passagem
afinal não existe? Neste caso estaríamos perante uma compra e venda de bens onerados,
porque estaria aqui em causa uma limitação, sendo que não poderia ser venda defeituosa
porque seria um vicio material sobre a coisa e a venda de bens onerados será sobre um vício
do direito em si.

Têm de estar preenchidos os requisitos do dolo ou do erro? Não, o professor Pedro Albuquerque
diz que não seria necessário pois o que estaria aqui em causa seria a falta de cumprimento.

Quando há falta de expurgação do ónus → indemenização não deixa de ser pelo 908.º e 910.º

No caso de não expurgar o onus estamos perante uma situação de incumprimento mas não
deixaemos de estar sob um regime especial

Se ele optar pela expurgação -_ tribunal fixa → não cumpre → icumprimento definitivo →
regiem da venda de bens onerados 910.º

Em vez de recorrer a tribunal → ficam o prazo → não cumpre → mora → aí aplica-se o regime
geral da mora

Pode o F exigir os 760 mil euros?

A aplicação do 910:

• Prazo fixado pelo tribunal e não cumpriu


• Prazo fixado não cumpriu mora incump dfinitivo

AULA 24/11/2021 – BENS DEFEITUOSOS

Caso B (Retirado do livro de casos do Senhor Professor Tiago Soares da Fonseca)

Ana, através de uma plataforma de venda de produtos particulares usados on-line, vendeu a
Bernardo, por 300 euros, o seu telemóvel, metade do que custa novo.

Cinco meses e uma semana depois do negócio, por transvio dos correios, Bernardo lá recebeu
o aparelho em sua casa e verificou que o mesmo não liga. Após ter colocado o aparelho a
carregar, Bernardo constatou que, apesar de ligar e ter acesso à internet, o telemóvel não
permitia fazer, nem tão-pouco, receber chamadas.

Quatro semanas depois, na sequência de deslocação a uma loja de marca, as suspeitas de


Bernardo confirmaram-se: o processador do aparelho estava avariado e tinha de ser
substituído por um novo, no valor de 300 euros.

A) Bernardo escreveu a Ana a pedir-lhe o pagamento de 300 euros pelo arranjo do aparelho.
Esta, porém, recusa-se, alegando que já passou tempo demais, que hoje em dia os telemóveis
só servem para navegar na Internet, que Bernardo poderia fazer chamadas pelo Whatsapp e,
por fim, quem nem sequer sabia que o processador do telemóvel estava avariado, uma vez
que já não lhe dava uso há mais de dois anos.
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Matilde Pereira Jesus

Estamos perante uma venda de coisas defeituosas que se encontra regulada no art. 913º e
seguintes, visto que Ana vendeu a Bernardo, um telemóvel que não fazia chamadas. O art. 913º
diferencia quatro cenários distintos:

i) vícios determinantes de uma diminuição do valor da coisa;

ii) Vícios impeditivos da realização do fim a que o bem é destinado;

iii) Falha de qualidades asseguradas pelo vendedor;

iv) Falta de qualidades necessárias para a realização do fim a que se destina.

Surge-nos desta forma uma diferenciação entre vícios e falta de qualidades. O bem sofrerá de
um vício gerador de uma perda de valor se possuir uma imperfeição determinante do seu
posicionamento abaixo do habitual valor de troca ou de mercado. Está se desta forma diante
de uma situação objetiva. A qualidade é um aumento ou ampliação relativamente ao padrão
médio normal (ou um plus). A sua falta gera uma situação de desconformidade com o contrato.
O vendedor na celebração do negócio assegura determinadas qualidades. Na verdade, a
qualidade terá de ser expressa ou tacitamente aceite também pelo vendedor, e nessa medida,
ela integra o fim da compra e venda. Não estando elas efetivamente presentes na coisa vendida
e entregue há compra e venda defeituosa. Assim sendo, temos que “vício” – características da
coisa que levam a que seja valorada negativamente. “Qualidades” – não implica a valoração
negativa, mas coloca-a em desconformidade com o contrato. Neste caso teríamos um vício
impeditivo da realização do fim.

Por aplicação e interpretação do artigo 913º/1 podemos dizer que Ana não certificou a
Bernardo a existência de certas qualidades na coisa, sendo que essa certificação não poderia
corresponder à realidade para que se desse a aplicação do artigo em questão (a certificação
pode ser expressa ou tácita – 217º). Estamos, então, perante uma conceção subjetiva do defeito
(“qualidades (...) necessárias para a realização daquele fim”), pois estão em causa as utilidades
específicas que o comprador pretende que lhe sejam proporcionadas pela coisa. Para tal é
necessária uma aceitação, pelo menos tácita, do vendedor, que neste caso não pareceu existir,
logo, temos que atender à função normal das coisas da mesma categoria. Quando compramos
um telemóvel é de esperar que o mesmo faça e receba chamadas.

FALTA

Nota de aula prática:

Vicio – minus em relação ao normal. (eu vendo um rlogio e não da para ver as horas

Qualidade traduz um plus em relação à normalidade (esse plus no caso concreto era devido)

Má-fé ética → basta que devesse saber e há culpa

Se não houvesse culpa

Há substituição quando não der para reparar e tiver natureza fundível.

Mas a obrigação de substituição não existe se o vendedor estiver de boa-fé.

DIREITOS DO COMPRADOR:
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Ano letivo 2021/2022
Matilde Pereira Jesus

• Anulação/resolução → 913.º c remissão para o 905.º (o vicio tem de ser grave o suf que
o negócio não tenha manutenção)
• Reparação e substituição
• Redução do preço 911.º
• Indemnização por dolo 908.º
• Indemnização pela não reparação ou substituição

B) Bernardo, em alternativa ao pedido anterior, opta pela anulação do negócio, juntamente


com uma pretensão indemnizatória. Pode? Se sim, com que fundamento e até quando?

Para as situações de boa-fé (916.º) e má-fé (917.º) → 287.º

Estes prazos aplicam-se a anulação/resolução.

AULA 29/11/2021

Caso C

Em 2022, Célio, estudante de desenho, compra na loja, Equipamentos Inteligentes S.A., por
mil euros um tablet que incluía uma caneta stylus, dispositivo que permitia desenhar e tirar
notas das aulas.

Em 2023, o ecrã do tablet deixa de reconhecer a caneta digital. Consequentemente, Célio


dirige-se à loja exigindo a imediata devolução do preço pago. A loja propõe a reparação do
equipamento, o que é prontamente recusado por Célio, que afirma ir queixar-se junto da
ASAE.

NÃO SE APLICA O REGIME D0 913.º E SEGUINTES.

É CV DE BENS DE CONSUMO.

Âmbito temporal → 53.º do diploma + 55.º

Âmbito de aplicação subjetivo→ 3.º 2.º - relativo ao consumidor e tem de haver um vendedor
que se dedique profissionalmente à venda de produtos (é assim que se distingue do regime civi).

Âmbito objetivo → 3.º/1/c 2.º/1 - relativo ao objeto, enquadra-se na compra e venda; locação
de bens e empreitada de bens de consumo.

Existindo dois usos se o predominante for o profissional utiliza-se este regime.

Reparação, substituição e resolução + devolução do preço → há uma hierarquia

Art. 16.º - dto de rejeição nos primeiros 30 dias, sem ser necessário verificar-se a reparação

Requisitos do art 15.º/4

O vendedor deve entregar o bem em conformidade com o contrato.

Onus da prova → 13.º


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Matilde Pereira Jesus

Atualemnte há um período de 3 anos.

Esta ideia de alargar aos 3 anos mas dizer que passados os 2 anos o consumidor terá que provar
que o defeito já vinha com a entrega.

Art. 15 direitos do consumir

12.º → prazo de 3 anos – vendedor é responsavek por qualquer falta de conformidade c o


contrato que se manifeste nesses 3 ano + 13.º -→ so se presume existentes defeitos da entrega
do bem que se manifestem nos primeiros 2 anos.

12.º → prazo pode ser reduzido ate 1 anos por acordo; mas o vendedor é responsável durante
1 anos (?)

O celio não tinha razão pq a resolução é o ultimo direito, tinha de passar pelas outras
possibilidades antes da resolução. E há uma manifestação no sentidod e reparar o bem por isso
quem tinha razaõ era a loja.

Tinhamos de contrapor com o regime anterior.

Não é um regime que seja dogmaticamente complexo.

Aqui não esta em causa bens de serviços digitais (?). o que está em causa é a caneta que deixou
de funcionar. Os elemtnos digitaisesta pensado por exemplo para plataformas de streaming
(Netflix, software)

O diploma anterior aplica-se a todas as compras e vendas já realizadas.

Caso D (Retirado do livro de casos do Senhor Professor Tiago Soares da Fonseca)

Sara é uma ilustre advogada da nossa praça, com escritório em Lisboa.


Tendo perdido uma ação de Direito da Família, de uns largos milhares de euros, Sara envia a
referida sentença a Telmo Sabe de Família, professor de Direito. Analisada a referida
Sentença, Telmo Sabe de Família foi da opinião de que a mesma padecia de diversos erros de
Direito, justificando-se a interposição de recurso. Sara, depois de consultar o seu cliente,
decidiu contratar um parecer de Telmo.

Porém, atrapalhado com as aulas de faculdade, consultas jurídicas, mestrados e família (a


sua!), Telmo fez o dito parecer apressadamente, inclusivamente não atendendo aos factos
provados na sentença, extremamente relevantes para fundamentar a ilegalidade do aresto.
Sara, tendo recebido o parecer no último dia do prazo, limitou-se a junta-lo às suas alegações
de recurso, só se apercebendo das falhas do mesmo dois meses mais tarde, quando foi
notificada do acórdão da Relação de Lisboa e dos comentários no mesmo parecer.
Confrontada com um pedido de Telmo do pagamento de honorários, no valor de 10.000 euros,
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Ano letivo 2021/2022
Matilde Pereira Jesus

Sara marca uma reunião com os demais sócios da sociedade para decidir o que fazer.
Quid iuris?

Carlos acordou com Daniel a construção de uma estante em mogno, para guardar os seus
livros de direito, pelo preço de 8.000,00€. O preço foi imediatamente pago, tendo Daniel
acordado a entrega da estante no prazo de 3 meses.
1) Após a conclusão da estante, e antes da sua entrega, a mesma incendeia-se, fruto de um
curto circuito nas incitações de Daniel. Poderá Carlos reaver o preço pago?

2) Uma vez entregue, Carlos constatou que a estante era feita de pinho, e não de mogno.
Carlos pretende a restituição do preço pago. Quid iuris?
3) Ao fim de 3 anos, e pese embora as várias insistências de Carlos, Daniel não entrega a
estante, tal como acordado. Que tutela legal assiste a Carlos?
4) Ao fim de uma semana da celebração do negócio Carlos arrependeu-se do mesmo. Pretende
que Daniel devolva o preço pago. Daniel afirma que já iniciou a construção da estante, tendo
investido parte do dinheiro na compra de materiais. Quid iuris?
5) Ao fim de 1 anos após a entrega da estante Carlos nota que a estante apresenta uma
prateleira quebrada. Como Carlos nunca utilizou aquela prateleira, nem deu conta de nenhum
acidente, pretende responsabilizar Daniel e que este lhe devolva parte do preço pago. Quid
iuris?
II
Abel e Bruna celebraram um contrato mediante o qual o primeiro se obrigou a construir um
jardim de 10.000 m2 na moradia de Bruna, pelo preço de 100.000,00 €, a liquidar no momento
da entrega do jardim.

Abel entregou um orçamento para a execução dos trabalhos que incluía, para além do
trabalho de ajardinamento do espaço, o fornecimento de materiais e plantas.
No decurso dos trabalhos, Abel e Bruna acordaram a instalação de um sistema de rega e no
fornecimento de duas bombas de água para se colocar no jardim.

6) No fim do projeto, Bruna apresentou uma fatura de 100.000,00€ pela construção do jardim
e de 20.000,00€ pela instalação do sistema de rega e das duas bombas de água. Bruna recusa-
se a pagar a segunda fatura. Quid iuris?

Abel e Bruna celebraram um contrato de empreitada de acordo com o artigo 1207º.

DL 41/2015 → art. 26.º → é necessária forma escrita nas situações de construção civil. Mas a
nulidade não pode ser invocada pelo empreiteiro, só pelo dono da obra.

A questão ínsita neste caso é saber se a instalação do sistema de rega configura uma alteração
ao contrato inicialmente celebrado ou por sua vez é uma obra nova.

Os artigos 1214º a 1217º preveem e regulam alterações no plano convencionado, algo que se
justifica pela eventual complexidade da obra ou mesmo discrepâncias entre as estimativas e a
realidade.

Temos quatro tipos de alterações, nomeadamente:


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Matilde Pereira Jesus

• Alterações por iniciativa do empreiteiro


• Alterações necessárias exigidas pelo dono da obra
• Alterações exigidas pelo dono da obra
• Alterações posteriores à entrega e obras novas

O critério de aplicar o 1217º ou os restantes, é não ser uma obra oportuna. Pode existir um
jardim sem que exista um sistema de rega pelo que não é necessário nem oportuno para a
realização daquela obra.

O sistema de rega poder-se-á considerar uma obra nova isto porque estas são caracterizadas
como aquelas que, tendo ainda alguma relação com a obra contratada, não são necessárias para
a sua realização nem fazem parte da obra contratada. Reguladas no art. 1217º do CC, os
trabalhos extracontratuais respeitam a alterações posteriores à entrega e a obras novas, ou seja,
têm em comum alterações/obras situadas fora da relação contratual estabelecida.

Nas obras novas, a sua colocação fora do âmbito da relação contratual resulta de um juízo de
autonomia técnica ou funcional: são trabalhos suscetíveis de objeto de uma obra
independentemente (critério funcional); São obras novas aquelas que, tendo ainda alguma
relação com a obra contratada, não são necessárias para a sua realização nem fazem parte dela
(obra contratada) Neste caso parece mesmo que foi uma nova obra dado que o preço global da
obra era 100.000€ e vêm depois dizer que a rega é 20.000€.

i. Parece ter sido da iniciativa do empreiteiro, e, portanto, não vincula o dono da obra.

Quanto ao preço recorremos ao 1211º + 883.º.

Nas circunstâncias de o dono a autorizar, pergunta-se se deve haver compensação ao


empreiteiro e, a haver, em que termos. Solução maioritária: pode haver lugar a compensação,
por vários títulos – 473º e ss., por via do enriquecimento sem causa; 464º e ss., por via da gestão
de negócios; 1340º e 1341º, por via da acessão industrial.

A empreitada inicial era um jardim, mas

Aqui neste caso havia uma oportunidade subjetiva, dado que o dono da obra queria a alteração.

7) Após a construção do jardim, os canteiros instalados começaram a assentar. O


desnivelamento da estrutura montada deveu-se à inadaptação do solo para a instalação dos
concretos canteiros, que apresentavam um peso excessivo. A reparação da estrutura exige a
destruição dos canteiros, nivelamento e pavimentação reforçada do solo, e nova instalação
de estrutura. Abel declina qualquer responsabilidade e recusa-se a reparar a obra. Quid iuris?

Não se verificou uma situação do artigo 1219º, mas não se considera que há indícios de situação
e erro quanto a verificação do artigo 1228º.

Aplicávamos o regime das obras imóveis de longa duração (1225.º).

Mesmo que já tivesse sido aceite, não é defeito aparente na medida que na após a construção
este defeito se veio a revelar, pelo que em qualquer dos casos o empreiteiro não seria
desresponsabilizado. Estava preenchido o prazo do 1225º, nº1 e nº2.
Aulas práticas lecionadas pelo Professor Pedro Vinagre, na Regência do Professor Pedro de
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Ano letivo 2021/2022
Matilde Pereira Jesus

Neste sentido, seria necessário determinar me primeiro lugar se poderia ser uma eliminação e
uma nova construção, o que podia ser, no entanto, a reparação exige a destruição, etc, ou seja,
são despesas desproporcionais do artigo 1221º, pelo que cessaria o direito de exigir os novos

Caso o dono da obra pretendesse optar pela resolução do contrato, sendo o solo do empreiteiro

Quanto ao 1225º, este se aplica a vícios que não sejam graves? Aplica-se a todos os vícios.

PA → responsabilidade objetiva; não parece ser possível ilidir a culpa porque ele tinha de saber
que o solo não estava apto.

Prazos → 1225.º

8) Abel havia recorrido a Zélia,Lda, empresa que se dedica ao fornecimento e instalação das
bombas de água de jardim, para realizar esta parte da obra. Bruna veio a constatar que as
bombas de água, fruto de má instalação, apresentam-se degradadas e uma deixou totalmente
de funcionar. Bruna pretende que Zélia, Lda. repare as bombas. Quid iuris?

Salvo casos em que exista uma natureza intuito persone admite-se a possibilidade do
empreiteiro subcontratar.

1) Pode o subempreiteiro exigir o pagamento do preço da subempreitada ao dono da


obra, caso esta obrigação tenha ainda sido cumprida pelo empreiteiro?
i. Regência: admite a possibilidade, com algumas dúvidas, sustentando tal solução no
equilíbrio da relação e no facto de o dono da obra beneficiar diretamente do trabalho
realizado pelo empreiteiro; acresce, neste sentido, o facto de o subempreiteiro ter
direito de retenção da coisa e poder exercê-la mesmo contra o dono da obra, até ser
pago pelo trabalho e despesas.
2) Pode o dono da obra exigir ao subempreiteiro a reparação dos defeitos da obra?
i. Menezes Leitão: nega a ação direta – recorre ao art. 1226º para justificar que a relação
é entre o dono da obra e o empreiteiro; a única exceção a esta lógica seria o art. 1225º,
que admite a responsabilidade do empreiteiro perante o dono da obra ou terceiro
adquirente (se o empreiteiro é responsável pelo prejuízo infligido a um terceiro, então,
também o subempreiteiro o será diante do dono da obra, por ser também terceiro na
relação entre dono da obra e empreiteiro).
ii. Pedro Romano Martinez: admite a ação direta.
iii. Pedro Albuquerque/Miguel Assis Raimundo: admite a ação direta;
1. Entende não ser contrária, tal solução, ao previsto no art. 1226º, que postula
a opção de o dono da obra agir junto do empreiteiro ou junto do subempreiteiro
– o art. 1226º limita-se a regular as relações entre empreiteiro e subempreiteiro,
se o dono da obra tiver agido junto do empreiteiro.
O 1209º atribui ao dono da obra a faculdade de a fiscalizar, à sua custa, a execução dela, desde
que não perturbe o andamento ordinário da empreitada, de acordo com as regas da boa-fé.
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Matilde Pereira Jesus

Pedro de Albuquerque → afirma, se se verificar uma perturbação da obra, quer por intermédio
da ação do próprio dono, quer de terceiros a seu mando (por cujos atos o dono responde nos
art.800º), poderá justificar-se a atribuição ao empreiteiro do direito à revisão do preço e/ou
prorrogação do prazo de execução.

É assim permitido ao dono da obra controlar a forma como empreiteiro a vem executando,
designadamente quanto a materiais utilizados, respeito pelo plano acordado e ausência de
vícios na construção.

Através da fiscalização, o dono da obra pode inclusivamente aperceber-se de que se justifica


efetuar alterações ao plano convencionado e exigir que sejam efetuadas (art.1216º)

Esta conduta é sempre opcional, ainda que claramente traga benefícios a ambas as partes, não
podendo ser considerada ilícita a conduta do dono da obra que não fiscaliza a execução pelo
empreiteiro no caso de essa execução causar danos a terceiro.

AULA 11/12/2021

ML → não parece ser possível de afastar a presunção se se ficciona a verificação, nos termos do
n5 – se não verificou foi porque não quis

PA → presunção absoluta nunca se poderá afastar.

Contrato de empreitada. Dono fica desempregado. Pergunta se pode pagar depois.


Empreiteiro diz que pode pagara até ao fim do ano. Passam 5 anos. Pode recorrer a tribunal
para exigir o preço? E se fossem 10 anos?

Passou 4 anos do prazo que foi dado pelo empreiteiro para o pagamento do preço.

Prolema de prescrição e de caducidade dos direitos.

Quando é que prescreve?

317.º/b

Acórdão.

Podem as partes afastar a possibilidade das partes afastarem a fiscalização do dono da obra?
Tendo em conta que os materiais e métodos utilizados pelo empreiteiro são secretas.

Podem as partes afastar o direito à fiscalização?


I. Pires de Lima/Antunes Varela, Adriano Vaz Serra – A disposição é imperativa;
II. Menezes Leitão – A excluir o direito de fiscalizar a obra, falaremos de uma compra e
venda de coisa futura;
III. Romano Martinez – Admite a autonomia privada das partes que as partes possam
excluir o direito à fiscalização (ex: em situações de confidencialidade);
IV. Pedro de Albuquerque – Admite a injuntividade da fiscalização, no sentido de não
poder ser excluído pelas partes, dado constituir um traço essencial da empreitada;
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Matilde Pereira Jesus

contudo, trata-se aqui de uma faculdade, pelo que o dono da obra, embora não o
podendo excluir, pode escolher não o exercer.
TODAVIA, salvaguarda os casos em que os materiais são secretos dizendo que
nesses casos pode não haver fiscalização; conquanto, n ão havendo fiscalização
seria compra e venda de bens futuros ou prestação de serviços atípicas.

ML → A clausula que afasta a fiscalização é nula; logo depois o dono da obra pode ir fiscalizar e
ter conhecimento das técnicas sigilosas.

PA → se não houver fiscalização, não temos um contrato de empreitada, mas o contrato não
deixa de ser válido.

O dono da obra é um leigo muito exigente e preocupado, não percebe nada de construção,
mas todos os dias acompanha o empreiteiro na construção do imóvel. Observou toda a
execução todos os dias. O empreiteiro utilizou betão em vez de cimento e o dono da obra viu
mas não percebe nada daquilo. O empreiteiro concluiu. Dono da obra achou que estava tudo
bem. Aceitou. Passado um mês o imóvel ruiu. O dono quer pedir responsabilização do
empreiteiro, mas este diz que aquele nada disse.

RESPOSTA:

Existe o problema de saber como deve ser tratada a hipótese de o dono da obra ter, não apenas
a possibilidade, mas o conhecimento efetivo de o empreiteiro se encontrar em desvio face ao
plano convencionado ou às regras de construção e nada dizer, vindo mais tarde a invocar direitos
relativamente a tais defeitos de execução.

PEDRO ROMANO MARTINEZ entende corresponder a invocação de direitos por parte do dono
da obra a abuso de direito na modalidade de venire contra factum proprium.

MENEZES LEITÃO defende ser o artigo 1209º/2 do CC claro no sentido de só na hipótese aí


prevista o dono da obra ficar impedido de invocar quaisquer direitos. A fiscalização visa
satisfazer o interesse do dono da obra, e não garantir ao empreiteiro, no interesse deste, uma
instância de controlo externo da qualidade da sua prestação.

A e B celebram um contrato de empreitada para a reparação de um telemóvel. Empreiteiro


comunica a finalização da reparação. Dono da obra vai lá buscar, o empreiteiro pede o preço,
o dono diz que não tem dinheiro. Pode recusar entregar enquanto o outro não pagar?

Hoje é consensual ter o empreiteiro direito de retenção sobre a obra e demais objetos que
deva entregar por força da execução do contrato. Assim, ele pode usar as defesas possessórias
contra terceiros e mesmo contra o próprio dono (670.º/a, ex vi 758.º ou 759.º/3 – consoante
falemos de coisa móvel ou imóvel).

Nem que venham credores do devedor é levantado o direito de retenção.

AV diz que não há direito de retenção do empreiteiro. Pq no 755.º não aparece o empreiteiro, e
aparecia nos trabalhos preparatórios. Diz que é só se houver despesas.
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Matilde Pereira Jesus

PA → é claro que realiza despesas para o preço, por isso o preço é só um conjunto de despesas.
Assim enquadrar-se-ia no 754.º porque temos uma noção de despesas que não deve ser
atendida no sentido restrito, mas mais lato e há efetivamente despesas.

Diz que foi suprimido porque já estava no 754.

Imaginando que a obra é da propriedade de retenção:

Discute-se ainda se o direito de retenção pode ser exercido sobre coisa própria, como no caso
da empreitada de coisa móvel construída com bens do empreiteiro(1212.º/1):

i. Galvão Telles e Pedro Romano Martinez → Não admitem essa possibilidade,


entendendo que o direito de retenção, pela sua natureza, só pode ser exercido sobre
coisa alheia.

ii. Menezes Leitão e Pedro de Albuquerque → admitem essa possibilidade – invocam o


lugar paralelo do artigo 871.º/4, ao admitir a reunião na mesma pessoa das qualidades
de proprietário do bem hipotecado e credor hipotecário o pignoratício.

Morte do empreiteiro:

Dono da obra pode colocar termo unilateralmente, se os herdeiros não são empreiteiros p.e.,
há uma razão legitima para cessar o contrato.

Os herdeiros podem subcontratar alguém.

Envio duas hipóteses a serem resolvidas na aula de dúvidas.

I
Bento assombrado por dívidas, decide abandonar o país, na esperança de
recomeçar uma nova vida no estrangeiro.
Para tal, pede de empréstimo ao irmão o automóvel, veículo elétrico de elevado
valor económico.

Na posse do automóvel, formula um novo plano. Pretende vender o bem,


avocando estar devidamente mandatado pelo proprietário, pagando, Comentado [MT1]: Venda de coisa alheia
posteriormente, as suas dívidas com o preço recebido. Assim, enceta
negociações com Carlos, desconhecendo este que Bento não tem poderes para
alienar o veículo. As partes chegam a acordo pelo preço de 50.000 euros, podendo Comentado [MT2]: O comprador não sabia que era venda
o automóvel ser entregue até ao fim do mês. O preço foi imediatamente pago por de bens alheios
Carlos. Comentado [MT3]: Propriedade transferiu-se? Não
porque não era dele
Uma semana após a transação, Bento recebe uma proposta de compra do
automóvel, por 75.000 euros, de Diana. Sabendo que este montante permitia pagar
todas as dívidas, aceita imediatamente.
António, irmão de Bento, ao tomar conhecimento dos negócios, pretende reaver
o automóvel.

Considere as seguintes questões de forma isolada:


Aulas práticas lecionadas pelo Professor Pedro Vinagre, na Regência do Professor Pedro de
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Matilde Pereira Jesus

a) Considere que Bento (VENDEDOR) intenta uma ação judicial para declaração
de invalidade do contrato celebrado com Carlos. Pode fazê-lo?
O tribunal pode conhecer a invalidade do negócio?
Imagine que Carlos formula pedido reconvencional para que o automóvel lhe seja
entregue, o seu pedido deve proceder?
Estamos perante um caso de compra e venda de bens alheios que corresponde à
alienação de coisa cuja propriedade pertence a terceiro, não tendo o vendedor
legitimidade para realizar a venda. Neste caso o vendedor sabia ser o bem que se
propunha a vender alheio, tendo ainda avocado estar legitimado para vender o
bem em nome do proprietário, o que não era verdade, e, portanto, encontrava-se de
má-fé.
Já em relação ao comprador, este desconhecia que a falta de legitimidade do vendedor,
estando, por isso, de boa-fé.
A venda de bens alheios é nula nos termos do 892.º/1ª parte. Há assim que averiguar
quem tem legitimidade para arguir a nulidade, ou seja, a legitimidade para intentar uma
ação judicial para a declaração de invalidade do contrato celebrado.
Se ambas as partes estivessem de boa-fé, seria sempre o comprador a poder arguir a
nulidade. Se estivessem ambas de má-fé, estaríamos perante uma compra e venda de
bens futuros segundo a Regência. Ora neste caso em concreto temos uma parte que
está de boa-fé, o comprador Carlos, e uma parte que está de má-fé, o vendedor Bento.
Em casos como estes, em que há uma parte de boa-fé e uma parte de má-fé, apenas a
parte de boa-fé pode arguir a nulidade
Sendo Bento (vendedor) a parte de má-fé, este nunca poderia arguir a invalidade do
negócio contra o comprador de boa-fé, como disposto no art. 892.º/2ª parte.
Já quanto a saber se o tribunal pode conhecer oficiosamente da nulidade, a Doutrina
diverge. Por um lado, defendem a admissibilidade da possibilidade de conhecimento
oficioso os Professores Pires de Lima e Antunes Varela, entre outros, bem como alguma
jurisprudência. Por outro lado, o Professor Pedro de Albuquerque, Porf. Menezes Leitão,
entre outros, defendem a inadmissibilidade do conhecimento oficioso, já que de outro
modo se estaria a afastar (ainda que indiretamente) as proibições de invocação da
nulidade. Ou seja, neste caso concreto o vendedor de boa-fé não tinha legitimidade para
arguir a nulidade, pretendendo-se com isto proteger a parte que se encontra de boa-fé.
Se o tribunal pudesse conhecer oficiosamente a nulidade, o vendedor não teria
legitimidade, mas depois de intentada a ação o tribunal viria a declarar oficiosamente a
nulidade, desprotegendo-se o comprador de boa-fé.
Por fim chegamos à questão de saber se o comprador pode exigir a entrega da
coisa alheia. O problema é a exigência de cumprimento de um contrato que é nulo.
No caso de o tribunal não poder conhecer oficiosamente da nulidade do contrato, a
doutrina diverge. Por um lado, o Professor Paulo Cunha vai no mesmo sentido do se
pudesse conhecer da nulidade, e, portanto, no sentido de não ser lícito ao julgador
obrigar o vendedor a entregar coisa que não lhe pertence.
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Já o Professor Diogo Bártolo diz-nos que devemos separar entre a nulidade do contrato
e a falta de cumprimento. O tribunal não pode conhecer da nulidade, mas pode conhecer
da obrigação de entrega da coisa derivada de um contrato.
Por fim, o Professor Pedro de Albuquerque afirma que não havendo conhecimento
oficioso da nulidade, pode o tribunal impor o cumprimento de um contrato nulo.
AULA PRÁTICA:
Ou o tribunal se recusa a decidir ou em alternativa terá de condenar o vendedor a
cumprir uma obrigação que decorre de um contrato nulo.
Umas das soluções possíveis e a distinção entre a nulidade do negócio e a nulidade do
cumprimento da obrigação de entrega da coisa. É possível o tribunal conhecer desta
segunda nulidade. O tribunal decide e decide com fundamento e assim não condena o
vendedor a entregar o automóvel ao vendedor porque é propriedade de terceiro. A
pretensão do vendedor é improcedente.

b) No decurso das negociações, Carlos realizou uma série de despesas,


pretendendo, agora, imputá-las a Bento. Entre elas variadas deslocações e um Comentado [MT4]: Indeminização? Benfeitorias?
exame ao estado de conservação do bem, no total de 2.000 euros. Além disso, já Despesas do contrato do 878.º?
prometeu vender o automóvel a Edmundo por 70.000 euros. Pronuncie-se sobre Comentado [MT5]: Deslocações e verificação do bem são
o dever de Bento indemnizar Carlos. despesas que não teria tido se nunca se tivesse celebrado o
contrato (danos emergentes, indeminização pelo interesse
Antes de mais, se arguisse a nulidade da compra e venda, teria direito à restituição do contratual negativo)
preço nos termos do 894.º (bem como teria a obrigação de restituição da coisa ao Comentado [MT6]: Lucros cessantes: o que já não vai
vendedor) e 289.º/1. receber dado o facto do contrato ser nulo.

Quanto à indemnização a que Carlos tem direito, dado que Bento estava de má-fé,
Carlos tem direito à indemnização nos termos do 898.º. Esta indemnização inclui os
danos emergentes e os lucros cessantes.
Quanto ao dolo do artigo 898.º há algumas doutrinas divergentes. Por exemplo o
Professor ML considera que se deve exigir que haja negligencia consciente para
se poder aplicar. Já o Professor PA considera que a negligencia inconsciente basta.
Depois as Doutrinas divergem também em saber qual é o interesse contratual que está
aqui a ser protegido. O Regente considera que é o positivo (todos os prejuízos que teria
sofrido se o contrato não fosse celebrado.
Nos termos do 898.º o comprador deveria ser indemnizado no montante de 2.000 pela
celebração de um contrato nulo.
Como o comprador estava de boa-fé, o vendedor tinha a obrigação de sanar a nulidade,
nos termos do 897.º. Não o tendo feito, o comprador pode ainda exigir uma
indemnização pelo não cumprimento da obrigação de convalidação nos termos do 900.º.
Assim, e definido que será indemnizado nos termos do 898.º e do 900.º, há que
comparar os diversos elementos ou rubricas do prejuízo em concreto para não duplicar
a exigência dos prejuízos comuns. Só se afere o prejuízo comum em relação aos danos
emergentes, nos termos do art. 900.º/1, já que em relação aos lucros cessantes não
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acumula a indemnização26. Assim, temos que os danos emergentes neste caso em


concreto são as despesas tornadas inúteis com deslocações e verificação de
qualidade, no valor de 2.000. Estas despesas são comuns tanto ao prejuízo que o
comprador não sofria se a compra não tivesse sido realizada (pois não as teria
realizado) como à falta de sanação do negócio (se o contrato fosse válido o comprador
teria incorrido nelas, mas não se teriam tornado inúteis). Assim, em termos de danos
emergentes só terá direito a 2.000, não havendo cumulação pois os prejuízos são
comuns. O Professor Raúl Ventura diz que a proibição de cumulação no 900.º
equivale a dizer que a obrigação de indemnizar fundada no incumprimento da
convalidação apenas cobre prejuízos que excedam os indemnizáveis com
fundamento na nulidade do contrato.
Quanto aos lucros cessantes, estes teriam aqui o valor de 20.000 (diferença entre o
que pagou e o que ia receber c a revenda), que será o lucro que C deixou de obter
devido por um lado à celebração de um contrato invalido, e por outro lado devido à não
convalidação do mesmo (já que se fosse convalidado passaria a ser válido e, portanto,
não haveria uma inutilização do negócio jurídico celebrado por C c 3º, podendo vender
o automóvel e com isso receber os 70.000). Ora aqui também apenas se contará o lucro
cessante uma vez, já que C teria de escolher entre ser indemnizado por lucros
cessantes pela celebração de um contrato inválido ou pelos lucros cessantes pela
inobservância do dever de convalidar.
Assim = 20.000+ 2.000+ 2.000 – 2.000 =22.000, valor ao qual acresce a restituição do
preço de 50.000.
II
A foi contratado por B para construir no terreno deste último uma casa e proceder
à pintura da mesma.
Analise, de forma autónoma das demais, cada uma das demais situações:

a) Para poupar dinheiro, A usa intencional e dolosamente tubagens sem qualidade


que, com o tempo, se estragam. B aceita a obra sem reservas, dado que A nada Comentado [MT7]: Má execução
lhe disse quanto à tubagem. Passados seis anos, a tubagem rebenta e a casa de Comentado [MT8]: B aceita sem reservas mas ele não é
B fica inundada. B pretende saber o que pode fazer, sendo que A afirma que não obrigado a conhecer dos defeitos
tem quaisquer deveres ou obrigações atendendo ao tempo decorrido.
Quid iuris?
Estamos perante um defeito da obra, e portanto, perante um cumprimento defeituoso
da obra. O defeito deve-se entender como uma desconformidade entre a prestação
devida e a prestação efetuada.
Os defeitos podem-se concretizar em vícios ou em desconformidades em sentido estrito
em relação ao plano acordado. Os vícios são as divergências da obra realizada e um
padrão comum, seria o caso aqui. As desconformidades em sentido estrito revelam uma
divergência entre o que foi estipulado pelas partes.

26
nos danos emergentes há uma acumulação de todos os danos emergentes, só se retirando aqueles
que são comuns; no caso dos lucros cessantes escolhe-se quais se vão indemnizar, ainda que nenhum
seja comum
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A prova da existência de defeitos tem de ser feita pelo dono da obra (342.º).
Estamos perante um cumprimento defeituoso e não um cumprimento parcial, dado que
o vicio é qualitativo e não quantitativo. Também não será um caso de incumprimento
definito já que a prestação foi cumprida, apesar de com defeitos. Assim, aplicar-se-ia o
regime especial do 1218.º e ss.
Não estávamos perante uma situação de irresponsabilidade do empreiteiro nos termos
do art. 1219.º, já que apesar de ter havido aceitação sem reservas, não havia
conhecimento dos defeitos, não se aplicando sequer a presunção do 1219.º/2 porque
não era defeitos aparentes, ou seja, não eram visíveis e permanentes e ademais nada
indica que o dono da obra fosse um técnico da área por isso não havia dever de
conhecer dos defeitos ainda que estes fossem visíveis, tendo de ser aqui feita uma
ponderação através do critério do bónus pater famílias no caso concreto do dono (ou
seja, se é leigo ou técnico, porque se for técnico há um dever de diligencias médias).
Tratavam-se sim defeitos ocultos, que apenas se vieram a dar conta depois da utilização
da obra.
Ora, B devia denunciar os defeitos nos 30 dias que se seguiram ao descobrimento dos
mesmos, nos termos do 1220.º/1. Mas estamos a falar de uma empreitada imóvel, por
isso, seria 1 anos nos termos do 1225.º/2. Todavia, há que ter em conta o prazo para a
descoberta dos defeitos, que seria 5 anos. Todavia a doutrina diz que havendo dolo com
intenção, provado, o prazo de 5 anos só se começa a contar a partir da cessação dos
vícios.
b) Dois meses depois de pintada, começam a surgir manchas nalgumas paredes
da casa. A procede a uma intervenção destinada a eliminar as manchas, mas as
mesmas subsistem. O que pode B fazer? Poderá recorrer a terceiros para eliminar
as manchas? Poderá, em última análise, resolver o contrato?
Defeito oculto superveniente.
Deveres do dono perante o empreiteiro.
Pediu o suprimento, o empreiteiro tentou, não conseguiu → incumprimento da obrigação
de suprimento dos defeitos.
Passamos para o 1222.º. Em princípio ficamos pela redução do preço pq as manchas
apareceram só em algumas paredes. Não há inaptidão da obra para os seus fins.
O dono pode recorrer a terceiros, desde que primeiro tente o empreiteiro. Mas dps disso
pode contratar c terceiros e imputar ao empreiteiro.
c) Terminada a obra, A informa B da respetiva conclusão e diz-lhe para proceder
à sua verificação, com vista à ulterior aceitação. B, porém, resolve ir passar férias
para as Seicheles durante um mês. A, cansado de esperar, pretende
responsabilizar B pelo atraso. B, no seu regresso, recusa-se a pagar qualquer
quantia adicional ao preço acordado, a título de indemnização.
Quid iuris?
É um ónus material, e, portanto, não é uma obrigação. O dono da obra se não proceder
a determinadas diligencias tem consequências, mas não há aqui um dever (o
empreiteiro não pode exigir a verificação).
Aulas práticas lecionadas pelo Professor Pedro Vinagre, na Regência do Professor Pedro de
Albuquerque
Ano letivo 2021/2022
Matilde Pereira Jesus

Se houver incumprimento definitivo → 1225.º


Mas aqui só havia mora, dado ainda não se ter dado um prazo admonitório, portanto a
única consequência seria a transferência do risco nos termos gerais do 807.º.

Se estivermos perante uma venda a prestações realizada entre comerciante e


consumidor não se aplica o 934.º
DL do crédito ao consumo 133/2009

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