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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -

Porto

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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
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Com o inicio da pandemia COVID-19 em 2020, em Portugal, veio também mais tempo livre no
sentido em que nos encontrávamos em confinamento geral obrigatório. Com mais tempo livre,
já que, por exemplo, as horas despendidas em transportes diariamente para a faculdade
podiam ser agora direcionadas para outras questões. Decidi então, literalmente de um dia
para o outro, criar a CAD, Comunidade de Aficionados de Direito. Com que objetivo? Queria
ligar os estudantes de Direito de todo o país, queria divulgar e criticar as mais recentes notícias
jurídico-políticas, queria levar a cabo iniciativas que aproveitassem a todo e qualquer jurista,
professor, estudante, advogado, etc… Criei o site, a página no Instagram e assim se começou a
erguer o projeto. Entretanto, com as aulas online, pensei também em elaborar apontamentos
semanais e divulgar com os meus colegas, utópico para um trabalho a sós, mas perfeitamente
possível com a entreajuda dos meus colegas porque cada grupo de estudantes faria os
apontamentos semanais de cada cadeira. Porque fazer os apontamentos semanais? A resposta
é extensa, mas simples. Com a “obrigação” de preparar esses mesmos apontamentos, tenho
também um duplo dever de assistir às aulas, de perceber e apontar as mesmas, porque não o
fazendo, falharia comigo e com os restantes colegas com quem me comprometi a partilhar os
apontamentos. Desta forma, dividimos até pelos vários estudantes a tarefa de recolher os
escritos relativos às diversas matérias. É trabalhoso, mas, inevitavelmente, ao preocuparmo-
nos com nos próprios estamos também a ajudar todos os outros alunos. Ou seja, no 1º ano,
começamos apenas a partir de março com os apontamentos semanais, mas no 2º ano, ano
letivo 2020/2021, os apontamentos semanais começaram no inicio e acabaram apenas no fim
do ano letivo! Dito isto, pode conter falhas de escrita ou de direito, foi feito ao longo do tempo
por juristas em formação, entregue semanalmente, portanto, é compreensível e pedimos
também que quando notada alguma falha grave nesse sentido, que nos seja comunicado. Este
projeto ajudou também a impulsionar um ambiente saudável no curso de Direito na nossa
universidade, não que já não o houvesse, mas esta iniciativa só o veio melhorar. Esperamos
ainda que esta iniciativa inspire ad aeternum o maior número de estudantes possíveis, já que
ficou demonstrado que a entreajuda tem efeitos positivos para todos nós. Se tiveres interesse
em colaborar connosco, envia-nos mensagem no Instagram. Somos vários estudantes da
licenciatura em Direito com vontade de mudar, ajudar e com disponibilidade em ser ajudados.
Obrigado a todos aqueles que todos os dias se esforçam por uma comunidade melhor,
saudavelmente competitiva, consciente e dedicada.

João Paulo Silva, Fundador da Comunidade de Aficionados do Direito.

TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES


PRÁTICA
CP 1
A vendeu a C um quadro por 15 000 euros, a ser pago em 10 prestações, iguais,
mensais e sucessivas.
Ficou convencionado que o quadro seria entregue contra o pagamento da
5ªPrestação.

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Responda às seguintes questões:


A). Já depois de pagas as duas primeiras prestações, o quadro ficou reduzido a cinzas
em virtude de um incêndio por causa fortuita. Quid Juris?
B). Pressuponha agora, que chegada a 5ª prestação, Carlos (C) não paga. António(A)
terá de entregar o quadro? Que poderá fazer A?
R: estamos perante um contrato de compra e venda nos termos do artigo 874º, com os
efeitos essenciais do 879º, sendo que por mero efeito do contrato, a propriedade do
quadro passou de A para C, nos termos do 408º/1. Há ainda liberdade de forma, a
contrário senso do 875º, aplicamos o 219º, não se tratando de um bem imóvel.
Produzem-se efeitos reais, transferência da propriedade de A para C e efeitos
obrigacionais, sendo um contrato sinalagmático, produzindo obrigações para ambas as
partes, C está adstrito ao pagamento do preço, dividido em 10 prestações de igual
valor, mensais e sucessivas. São fracionadas porque o montante global é dividido em
várias frações, mas existe uma única obrigação A está adstrito à entrega da coisa com
o pagamento da quinta prestação.
a) Como o quadro ficou reduzido a cinzas significa que há uma impossibilidade de
cumprimento da obrigação da entrega do quadro. Havendo essa
impossibilidade de cumprimento importa perceber se é imputável ou não
imputável ao devedor. Temos a presunção de culpa no 799º, se não tivermos
factos presume-se que a impossibilidade é imputável e o não cumprimento é
imputável ao devedor. Na matéria de facto diz que o incendio deu-se por causa
fortuita, ora ficando-se a dever a causa fortuita, quer isto dizer que a
impossibilidade é não imputável. Sendo a impossibilidade da prestação não
imputável, isso quer dizer que não há responsabilidade contratual e a questão
terá que ser resolvida no âmbito das normas do 790º ao 797º. Caso a
impossibilidade de cumprimento ou o incumprimento fossem imputáveis ao
devedor, estaríamos perante a aplicação dos artigos 798º a 808º. Dito isto,
estamos perante uma impossibilidade objetiva, nos termos do 790º do Código
Civil, sendo que a obrigação de entrega do quadro se extingue. É importante,
sabendo que a extinção de obrigação da entrega do quadro não tem
consequências para A, saber o que acontecerá à obrigação de C de pagamento
do preço. Aplica-se assim o preceituado no artigo 795º/1 do Código Civil,
tendo-se tornado impossível a prestação de A, a contraprestação de C
extingue-se e C tem ainda o direito de exigir a restituição do que tiver prestado.
Nos contratos reais quod efectum, isto é, nos contratos que produzem efeitos
reais, nomeadamente nos contratos em que há transmissão do direito de
propriedade como a CV, há uma norma especial respeitante ao risco que é a
norma do artigo 796 e dessa norma resulta uma regra que é a regra que nos diz
que havendo a transmissão da propriedade há também a transmissão do risco
para o adquirente. No nosso caso concreto aquilo que aconteceu é que o A
transmitiu a propriedade para o C e o risco também se transmitiu para o C e a
partir do momento em que celebraram o contrato de CV o risco, por força do
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artigo 796º/nº1 passou a correr por conta do C, assim sendo o que há a dizer é
que a obrigação do pagamento do preço mantem-se tal e qual como estava e o
C vai ter que pagar o restante do preço.
b) As obrigações são distintas (obrigação da entrega do quadro e obrigação de
pagamento do preço). Um contrato sinalagmático significa que há obrigações
para as duas partes, mas significa muito mais do que isso, significa que há uma
interdependência, elas são interdependentes. Uma parte só se vincula porque a
outra parte se vincula e depois as obrigações caminham par a par e um
problema numa das obrigações vai afetar a outra. Há vários institutos que são
tributários desta ideia do sinalagma funcional e um desses institutos é a
exceção do não cumprimento, artigo 428º do CC. Isto significa que quando
temos um contrato sinalagmático, há uma reciprocidade entre as obrigações e
elas têm de ser cumpridas ao mesmo tempo. Se uma não é cumprida, vai abrir
hipóteses à contraparte de excecionar o seu cumprimento, isto é, de recusar o
seu cumprimento. E esta recusa do cumprimento, à sombra do 428º, é
efetivamente uma recusa de cumprimento perfeitamente lícita (temos um
incumprimento licito). Aliás, podemos dizer que o 428º funciona como uma
causa da exclusão da ilicitude no âmbito da responsabilidade civil contratual e,
como tal, eu recuso-me (licitamente em conformidade com a lei, em
conformidade com o 428º), a cumprir a minha prestação porque a outra parte
não está a cumprir a dela. E quanto à primeira questão diríamos que o A não
estava obrigado a entregar o quadro porque podia apelar à aplicabilidade do
artigo 428º e excecionar o seu cumprimento. Na segunda pergunta: temos aqui
uma prestação que está em falta pelo lado do comprador, temos que ir ao
934º, que não se aplica porque não houve a entrega da coisa e falta o requisito
que é comum quer à 1º, quer à 2º parte e, por isso, não se aplica o 934º.
Consequentemente, pode-se dizer que por força do artigo 781º houve
vencimento das restantes prestações que é o mesmo que dizer que o C perdeu
o beneficio do prazo e, perdendo o beneficio do prazo, terá que, de imediato,
pagar quer a 5º, quer as restantes prestações, ou seja, o restante do preço. Por
outro lado, importava perceber se eventualmente o A podia caminhar para a
resolução do contrato. Chegamos ao artigo 934º e não se aplica, devido à não
entrega da coisa, teríamos de passar pelo 886º para ver se havia algum limite e
o 886º também não se aplica porque não houve a entrega da coisa, quer isto
dizer que o caminho estava aberto também para resolução. Ou seja, aplicando-
se o 886º ou 934º, A não poderia resolver o contrato, não se aplicando, este
poderá resolvê-lo a contrario senso. E, por isso, se o A pretendesse resolver o
contrato aquilo que teria de fazer era converter a mora em incumprimento
definitivo, teria que interpelar o C dizendo-lhe que não tinha pago a 5º
prestação e, como tal, por força do artigo 781º, perdeu o beneficio do prazo.
Está em mora quanto ao pagamento do restante do preço e como tal A dar-lhe-
ia 15 dias (um prazo razoável fixado jurisprudencialmente) para cumprir sob
pena de incumprimento definitivo e resolução do contrato nos termos do
artigo 801º/nº2 do CC. Depois teriam duas hipóteses, ou C cumpria dentro do
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prazo ou não cumpria e, não cumprindo, havia incumprimento definitivo e


resolução do contrato. Havendo resolução do contrato, por aplicação do artigo
433º com remissão ao 289/nº 1 e o 434º/nº1 a resolução vai operar
retroativamente e as partes têm que restituir uma à outra tudo aquilo que tiver
sido prestado. Isto significaria que o A teria que restituir as 4 prestações já
recebidas, mas em consequência voltava a ser proprietário do quadro e teria
eventualmente direito a uma indemnização pelo interesse contratual negativo,
isto é, pelos danos que não teria sofrido se não tivesse celebrado aquele
contrato nos termos do artigo 801º/nº2.
CP 2
Prestações duradouras. Contrato de arrendamento. Incumprimento.
Nuno arrenda a Jorge um imóvel pelo valor de € 6.000,00 anuais a pagar em 12
prestações mensais e sucessivas de € 500,00 cada.
Nuno entrega o locado a Jorge que cumpre escrupulosamente as primeiras 5
prestações acabando, no entanto, por falhar a sexta. Nuno, revoltado, pretende
resolver o contrato, fazendo suas as prestações já recebidas.
a). Poderá fazê-lo?
R: estamos perante um contrato de locação nos termos do 1022º do Código Civil, com
remissão para o 1023º que determina que estamos perante um contrato de
arrendamento já que versa sobre bens imoveis. A celebração desde contrato produz os
efeitos previstos nos artigos 1031º e 1038º do Código Civil. Trata-se de uma prestação
duradoura continuada por parte de Nuno já que existe sem interrupção, não podem
ser interrompidas. Quanto ao Jorge, este tem a obrigação de prestação duradoura
periódica, havendo uma pluralidade de obrigações, dependendo o valor total da
prestação do decurso do tempo, sendo ainda exercida de X em X tempo. Não poderá
resolver o contrato, nos termos do 886º já que o direito pessoal de gozo sobre a coisa
já foi transmitido para Jorge e mesmo que pudesse resolver, nos termos do 434º/2 não
poderia fazer suas as prestações já recebidas.
b). Poderá em alternativa exigir as prestações vincendas?
R: No caso concreto temos um contrato de execução continuada pelo que a obrigação
pecuniária do devedor é uma obrigação periódica cujo vencimento está dependente
do decurso do tempo e da efectividade de cumprimento da obrigação do credor, ou
seja, o efectivo gozo da coisa que, não existindo, não importa vencimento da obrigação
equivalente. A resolução só tem efeitos prospectivos (ex nunc): art. 434º, 2 do CC. Ao
contrário do que se passa nas prestações fraccionadas em relação às quais a resolução
tem efeitos retroactivos (ex tunc): 434º, 1 CC.
CP 3
Nuno vendeu a Jorge 50 fardos de bacalhau, de entre aqueles que tinha em
armazém. Acordaram que o preço, de € 2.500,00, fosse pago em cinco prestações
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mensais, iguais e sucessivas, vencendo-se a primeira de imediato e as seguintes no


primeiro dia dos meses subsequentes. Ficou, ainda, convencionado que a entrega do
bacalhau seria efetuada daí a um mês, aquando do pagamento da segunda
prestação.
1º questão: quinze dias depois de celebrado o contrato, todo o bacalhau existente no
armazém foi furtado.
Quid juris?
2º questão: A segunda prestação do preço foi paga e o bacalhau entregue, tendo
Jorge faltado ao pagamento da terceira prestação. Que direitos tem Nuno?
R (1º questão):
Compra e venda artigo 874º CC
Liberdade de forma 219º a contrario senso 875º
Transmissão da propriedade
Obrigação de pagar o preço
Obrigação da entrega da coisa,
Compra e venda com prestações fracionadas. Estamos perante uma obrigação
genérica, sabemos a quantidade e o género, mas não estão individualizados,
concretizados os exemplares.
O oposto da obrigação genérica é a obrigação especifica. Compro esta cadeira, este
carro, arrendo este apartamento. O objeto da prestação está claramente identificado.
Neste caso, temos um armazém cheio de bacalhaus e vamos comprar 50 fardos que
não sabemos quais são. Artigo 539º - determinação quanto ao género e quanto ao
numero, mas não quanto às espécies dentro do género.
Concentração – é o momento em que a obrigação genérica se transforma em
especifica. Para que se produza os efeitos típicos da compra e venda, nomeadamente
o efeito real, é necessário que a obrigação genérica se concentre. Em principio, a
obrigação genérica torna-se especifica no momento do cumprimento, com a entrega
da coisa, 541º a contrario sensu. A prestação tornara-se especifica um mês após a
celebração do contrato, com o pagamento da segunda prestação e entrega da coisa.
15 depois de celebrar o contrato, o armazém foi roubado, a obrigação ainda era
genérica nesse momento. A propriedade não se tinha transferido e também não se
tinha transferido o risco. Assim, o risco continuaria a correr sobre o alienante, o
devedor, o vendedor do bacalhau.
Devedor – Nuno
Comprador – Jorge

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A prestação que vai falhar é a da venda do bacalhau. O Nuno não vai poder cumprir.
Estamos perante uma impossibilidade superveniente objetiva. Artigo 790º e seguintes.
Impossibilidades supervenientes subjetivas – ex: Nuno era pintor, magoou-se e não
podia pintar o quadro.
Impossibilidade superveniente objetiva – 790º/1 – extingue-se a prestação do Nuno.
Quanto ao credor, aplica-se o 795º, não se aplica o 796º porque ainda não se tinha
efetuado a transferência da propriedade. 796º só se aplica aos contratos onde houve
transferência da propriedade.
Aplicando o 795º, o Jorge não vai ter de pagar o bacalhau. E se já tiver pago tem
direito a ser reembolsado daquilo que já tiver entregue.

2º questão:
Jorge faltou ao pagamento da terceira prestação, já depois de lhe ter sido entregue a
coisa.
Relação jurídica obrigacional complexa que contem vários vínculos.
Nesta situação Nuno é agora credor. Não se aplica o 934º porque a prestação em falta
excede 1/8 (é o valor máximo para se dar cobertura do devedor) do preço da coisa.
Não aplicando o 934º, significa que temos o regime geral – 781º/1 ou 801º/2.
Não se pode aplicar o 801º/2 devido ao 886º. A entrega da coisa deu-se com a
segunda prestação e a transmissão da propriedade deu-se com a entrega.
Restam-lhe duas alternativas: 781º pode pedir as prestações vincendas ou pode optar
pela manutenção do contrato tal como foi concebido, exigindo a prestação vencida e
não paga e os juros de mora nos termos do artigo 804º, 805º e 806º. Pode pedir os
juros do não pagamento, mais do que os juros, não pode pedir. Pode pedir as
prestações vincendas. Falamos do 804º, 805º e 806º porque enquanto não houver
uma interpelação admonitória estamos perante uma situação de mora. A mora vem
definida no artigo 804º. O artigo 805º diz-nos que o devedor só está em mora depois
de interpelado a menos que estejamos perante uma indemnização de prazo fixo.
Atualmente os juros legalmente previstos são de 4%.
Quando estamos perante obrigações pecuniárias, os juros são fixados pelo próprio
legislador.
3º questão: as prestações eram 10 e não 5.
Não poderia haver resolução do contrato pelo 886º.

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Poderíamos aplicar a 934º segunda parte, porque esta não depende da existência da
reserva de propriedade, não perdendo assim Jorge o beneficio do prazo, o 781º ficava
excluído.
Nuno tem direito a receber a prestação em falta e os respetivos juros – 804º, 805º e
806º.
CP 4
Sofia tem uma herdade no Alentejo na qual produz vinho. Da sua produção, Sofia
vendeu a Jorge e Nuno, dois irmãos, 500 litros de vinho tinto da reserva de 2012, de
entre aqueles que tinha no seu armazém, tendo ficado acordado que o vinho seria
entregue daí a 30 dias na casa dos adquirentes e que o pagamento seria efetuado em
8 prestações mensais, iguais e sucessivas, vencendo-se a primeira na data de
celebração do contrato.
a). Acontece que, três dias antes da celebração do contrato, houve uma inundação
que levou à perda de todo o vinho que estava no armazém, facto que Sofia
desconhecia.
Quid Iuris?
No caso concreto há uma impossibilidade originária uma vez que, na data da
celebração do negocio jurídico, a prestação é impossível pelo que, nos termos do art.
401.º do CC, o contrato é nulo (286º e 289º CC). Se já algo tivesse sido prestado, teria
que ser restituído.
b). Pressuponham que na véspera da entrega do vinho ocorreu um forte vendaval
que fez abater o teto do armazém onde Sofia tinha a colheita de vinho tinto de 2012,
ficando destruídas as cubas onde o mesmo se encontrava armazenado e perdida
toda a colheita. Quid iuris? Trata-se de uma obrigação genérica (art. 539º CC), logo a
regra é que a concentração apenas se dá com o cumprimento, ou seja, com a entrega
(art. 541º a contrario). Assim sendo, como ainda não tinha havido concentração, não
se transferiu a propriedade nem o risco (art. 879º a), 408º/1 e 796º/1 não se aplicam).
Estamos perante impossibilidade objetiva do devedor que fica exonerado da prestação
(790º, 1), bem como o credor (795º, 1).
c). Imagine-se que o que foi acordado foi que os irmãos iriam levantar o vinho no dia
10 de fevereiro, mas facilitaram e foram só no dia 12. No dia 11, o tal vendaval fez
abater o telhado sobre ao armazém e perdeu-se todo o vinho que lá se encontrava.
Deu-se a concentração da obrigação por mora do credor (813º e 541º), transferindo-se
a propriedade e o risco (art. 879º a), 408º, 1 e 796º,1). Logo, estamos perante
impossibilidade objectiva do devedor que fica exonerado da prestação (790º, 1), mas o
credor terá de realizar a sua prestação, uma vez que o risco já corre por sua conta
(796º, 1).
d). Imagine que o vinho foi entregue e, na data da entrega, os irmãos pagaram a
primeira prestação, pagaram a segunda e falharam a terceira prestação. O que é que

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Sofia pode fazer? O contrato de compra e venda produziu os seus efeitos reais e
obrigacionais (art.º 879.º). Com a celebração do contrato e entrega da coisa (art.º
408.º e 541º) Jorge e Nuno passaram a ser proprietários do vinho. Nos termos do art.
934.º do Código Civil vendida a coisa a prestações e feita a sua entrega ao comprador,
a falta de pagamento de uma prestação que não exceda a oitava parte do preço, como
é o caso, obsta a que o vendedor resolva o contrato. Logo, o art. 934º, 1º parte, não se
aplica porque não há reserva de propriedade. Porém, não pode haver resolução do
contrato (801º, 2), por causa do 886º. Aplica-se o 934º, 2ª parte, que inviabiliza a
perda do benefício do prazo (781º). A única coisa a fazer é exigir a prestação vencida
com os respetivos juros de mora (arts. 804º a 806º).
e) A quem e em que termos poderá Sofia, se for esse o caso, exigir o pagamento?
Assim, neste caso, Sofia não pode resolver o contrato nem importa, a omissão de
cumprimento atempado da obrigação, a perda do benefício do prazo. Face ao exposto,
restaria a Sofia ser compensada pela mora da obrigação vencida e não pagamento no
prazo estabelecido, nos termos do disposto nos arts. 804º a 806.º, correspondendo
aos juros contados da data da constituição em mora (sendo obrigação com prazo certo
de acordo com art. 805.º) até efetivo e integral cumprimento. Estamos perante um
caso de pluralidade passiva (mais do que um devedor). Os irmãos responderiam
conjuntamente pela dívida, ou seja, cada um deles só seria responsável pelo
pagamento de metade da quantia em divida: obrigação conjunta – art. 512º a
contrario.
Enquadramento teórico:
Impossibilidade superveniente 790º =/= impossibilidade originária – 401º
Consequência da concentração (541º CC) – transferência da propriedade,
transferência do risco e a obrigação passa de genérica a especifica.
A exceção é a solidariedade, a regra é a conjunção. A conjunção dá-se quando ambos
respondem pelo preço, mas conjuntamente. Ex: Preço – 1000€, cada um é responsável
por 500€, podendo a Sofia pedir 500€ a cada um.
São consideradas obrigações solidarias as obrigações em que o credor pode exigir a
qualquer um dos devedores a totalidade da divida. A Sofia pede aquele que estiver
economicamente mais estável, tendo entre eles direito de regresso.
Neste caso, a pluralidade passiva é conjunta. Para ser um caso de solidariedade tem
que estar previsto no caso prático, ou na lei.
CP 5
Nuno vende à sociedade “Casas Grandes, Lda.”, de que Jorge é sócio, um prédio
urbano. O contrato de compra e venda é celebrado, nos termos legais, e a sociedade
compromete-se a proceder ao pagamento do preço no prazo de 15 dias a contar
daquela data, o que Nuno aceita.

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Na data acordada, a sociedade “Casas Grandes, Lda.” recusa proceder ao pagamento.


Inconformado, Nuno, pretende receber de Jorge o referido pagamento.
Quid iuris?
R: temos uma relação jurídica entre 2 sujeitos jurídicos (Nuno e Casas Grandes Lda)
logo o credor apenas pode exigir o cumprimento deste efeito obrigacional à empresa e
não ao sócio (característica da relatividade, ou seja, o negocio é relativo a Nuno e a
empresa, produzindo-se efeitos apenas relativamente às partes e não sobre os
restantes sujeitos jurídicos.
António vende a Belarmino um imóvel por 150.000 €. No dia seguinte, António
vende o mesmo imóvel a Carlos que regista de imediato a aquisição.
Quid iuris?
R: estamos perante uma compra e venda de um bem imóvel entre A e B. A compra e
venda está prevista no artigo 874º, produz os efeitos essenciais previstos no artigo
879º, como os efeitos obrigacionais da obrigação de pagar o preço para B e a
obrigação de entrega da coisa para A. Produzem-se ainda efeitos reais, nos termos do
408º/1, passando a propriedade de A para B por mero efeito do contrato. Está ainda
sujeito este negocio a escritura nos termos do 875º do Código Civil. Sendo assim,
dando-se depois a venda de A a C, aplica-se excecionalmente as regras do Código de
Registo Predial e, nos termos do artigo 6º deste mesmo Código, o direito inscrito em
primeiro lugar prevalece sobre os que lhe seguem. Apesar de a venda entre A e C ser a
venda de um bem alheio, C registou, o que nos termos deste artigo, confere a
propriedade a C.
António vende a Belarmino uma obra de arte, desconhecendo que a mesma pereceu
num incêndio que, na noite anterior, destruiu o apartamento onde aquela se
encontrava. Quid iuris?
R: Impossibilidade originária – 401º tendo como consequência a nulidade deste
negocio jurídico. Com remissão para o 286º e 289º.
Imagine que António vende a mesma obra de arte a Belarmino que fica de a levantar
dali a três dias, data em que procederá ao pagamento da mesma. No mesmo dia à
noite, um incêndio destrói a referida obra de arte.
Quid iuris?
R: Impossibilidade superveniente – 790º/1 extinguindo-se assim a obrigação de
entregar o quadro por parte de António. Belarmino continua obrigado a pagar o preço,
já que o risco se chegou a transferir, nos termos do 796º/1.
A solução seria a mesma se a obra de arte tivesse ficado em poder de António
porque aquele pretendia exibi-la a outros clientes?
R: Não, nos termos do 796º/2, o risco permaneceu em António. Mas como o risco
estava do lado do alienante, e a sua prestação torna-se impossível, o comprador
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também fica desobrigado de pagar o preço podendo, porém, acionar o vendedor para
indemnização. (Havia termo a seu favor - não fosse o vendedor querer mostrar o
quadro a outros clientes, já o teria entregue ao comprador e não teria ardido.
Sofia, afilhada de Cristina, anuncia à madrinha que pretende tatuar um buda nas
costas. Cristina, senhora conservadora e de princípio rígidos, fica escandalizada com
a intenção da sua única afilhada e teme o falatório na pequena aldeia onde vive,
sobretudo do padre da paróquia. Perante tal situação e uma vez que não a consegue
demover, por mais que se esforce, propõe pagar-lhe umas férias prolongadas pela
Austrália e Nova Zelândia, que sabia que Sofia tanto desejava, caso ela desista de
mandar fazer a tatuagem. Sofia, seduzida com a proposta, aceita e parte de viagem,
mas, quando regressa, exibe orgulhosamente a tatuagem que mandou fazer nas
férias, junto de uns nativos locais. Inconformada, Cristina pretende receber de Sofia
o dinheiro que gastou na viagem.
Quid iuris?
R: 398º/ a prestação tem de corresponder a um interesse pretensão de cristina não
reflete um interesse do credor tutelado pela lei, logo, Sofia nada tem de pagar.
CP 7
Nuno comprou a Jorge um faqueiro de prata pelo preço de 10.000,00 Euros a pagar
em 10 prestações mensais e sucessivas de € 1.000,00 cada uma, vencendo-se a
primeira com a celebração do negócio e as seguintes, em iguais dias, dos meses
subsequentes.
Jorge entrega o faqueiro a Nuno, reservando a propriedade até ao pagamento da
terceira prestação.
Nuno cumpre as quatro primeiras prestações, mas acaba por falhar a quinta.
Quid juris?
R: estamos perante uma compra e venda, nos termos do artigo 874º, a prestações,
celebrada entre Nuno (comprador) e Jorge (vendedor), com o montante global
previamente definido, 10.000,00€, dividido em 10 prestações, ou seja, estamos
perante prestações fracionadas, já que o montante global é dividido em varias frações,
havendo, no entanto, apenas uma obrigação. Produziu-se os efeitos obrigacionais
previstos no artigo 879º, a obrigação de entrega da coisa adstrita a Jorge e a obrigação
de pagamento do preço adstrita a Nuno. Não se produziu, no entanto, os efeitos reais,
ou seja, não se aplica o 408º/1, a propriedade não se transferiu por mero efeito do
contrato, mantendo-se esta em Jorge até ao pagamento da terceira prestação. É de
salientar ainda que não se aplica aqui o 875º, aplicando-se o 219º do principio da
liberdade de forma. O instituto da reserva da propriedade está previsto no artigo 409º
e Nuno passou então a ser proprietário do faqueiro com o pagamento da terceira
prestação, tendo ainda pago a quarta, tendo falhado a quinta.

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Nos termos do artigo 886º, não poderá Jorge resolver o contrato por falta de
pagamento do preço já que os requisitos para aplicação do 886º foram preenchidos,
sendo estes a transmissão da propriedade, a entrega da coisa e a falta do pagamento
do preço. Ou seja, Jorge não poderá resolver o contrato.
Aplica-se o 934º na sua totalidade, ou seja, Jorge não poderia resolver o contrato nos
termos da primeira parte, nem poderia sequer exigir o pagamento da totalidade do
preço restante, nos termos do 781º.
Dito isto, Jorge poderia apenas exigir o pagamento dos juros relativos à prestação
vencida ainda não paga, nos termos do artigo 806º do Código Civil.
CP 8
Prestações fracionadas. Compra e venda a prestações. Reserva de propriedade.
Risco.
Nuno compra a Jorge um computador em segunda mão, pelo preço de € 600,00, a
pagar em 6 prestações mensais e sucessivas de € 100,00 cada uma, havendo reserva
de propriedade até integral pagamento do preço. Acordam entre eles que Jorge
procederá à entrega do computador, cinco dias depois, data em que se vencerá a
primeira prestação.
Na véspera da data acordada, um incêndio, por causa fortuita, destrói o computador.

Estamos perante uma compra e venda nos termos dos artigos 874º e seguintes,
produzindo-se os efeitos essenciais previstos no artigo 879º, como os efeitos
obrigacionais de entrega da coisa adstrita a Jorge e a de pagamento do preço adstrita a
Nuno. Não se produz, no entanto, efeitos reais, já que este contrato foi celebrado sob
reserva de propriedade nos termos do 409º, mantendo-se o computador na
propriedade de Jorge até pagamento integral do preço. Desta forma, não se aplicam os
artigos 408º/1, 879º/a) e ainda o 796º/1. Ou seja, a propriedade não passou
imediatamente, por mero efeito do contrato de Jorge para Nuno. As prestações são
fracionadas já que o montante global está previamente definido, dividindo-se em
várias frações.
a) Quando Nuno se dirige para levantar computador é informado, por Jorge, que a
sua obrigação se extinguiu, mas que ele terá de proceder, de qualquer maneira, ao
pagamento do preço.
Quid Iuris?
R: estamos assim perante uma impossibilidade superveniente já que se se constitui
posteriormente ao momento da constituição da obrigação e obrigação constitui-se por
via do contrato, ou seja, a impossibilidade surgiu em momento posterior ao contrato.
Nos termos do artigo 790º/1 a prestação extingue-se. Sendo por causa fortuita, os
factos levam-nos a definir que a impossibilidade da prestação se deu por não culpa do

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Jorge, aplicando-se assim o disposto nos artigos 790º a 797º do código Civil. Como foi
aposta uma reserva de propriedade, a propriedade ainda não se tinha transferido, não
se aplicando assim o disposto no artigo 796º, mas sim o disposto no artigo 795º.
Aplicando-se este artigo, Nuno fica também desobrigado ao pagamento do preço.
Nuno, não estará então obrigado ao pagamento do preço.
b). Imagine que Jorge entrega a Nuno o computador conforme acordado e que Nuno
cumpre as três primeiras prestações, acabando por falhar a quarta.
Quid Iuris?
R: Estamos perante uma compra e venda a prestações, com reserva de propriedade,
tendo já sido feita a entrega ao comprador. Estamos ainda perante uma venda a
prestações dividida em 6 prestações, sendo cada uma superior a 1/8 do preço. Ou seja,
desde logo, a proteção concedida ao devedor pelo artigo 934º, não é, perdoando-me a
expressão, ativada, ou seja, o artigo 934º deixa desde já de poder ser aplicado. Ou
seja, Nuno não está protegido pelo 886º, pois ainda não se deu a transferência da
propriedade, não está protegido pelo 934º o que significa que Jorge poderia optar pela
perda do beneficio do prazo, nos termos do artigo 781º, exigindo o pagamento da
totalidade do preço em falta. Podia ainda transformar a mora em incumprimento
definitivo, nos termos 808º/1, dando ao Nuno um prazo razoável para pagamento
desta prestação estando o prazo jurisprudencialmente fixado em 15 dias e caso Nuno
não cumpra nesse prazo, a mora passa a incumprimento definitivo e nos termos do
801º/2, resolver o contrato devendo Nuno restituir o computador a Jorge e Jorge
restituir as prestações vencidas pagas a Nuno. O que aconteceria é que teria de aplicar
o regime geral da resolução: 432º e seguintes e, por força do 433º, com remissão ao
289º e 434º/1 a resolução operaria de forma retroativa e as partes tinham de restituir
uma a outra tudo aquilo eu tivesse sido prestado
CP 9
A 27 de fevereiro de 2016 Sofia vendeu a Jorge um automóvel, pelo preço de €
8.000,00 tendo ficado acordado que o pagamento seria efetuado em dezasseis
prestações, mensais, iguais e sucessivas, vencendo-se a primeira no dia da
celebração do negócio e as seguintes, em iguais dias, dos meses subsequentes.
Sofia, reservou para si a propriedade até ao pagamento integral e efetivo das oito
primeiras prestações tendo o automóvel sido entregue após o pagamento da
primeira.
a). Qualifique o contrato celebrado entre Sofia e Jorge.
R:
b). Suponha que Jorge não pagou a quarta e a quinta prestações. Sofia pretende
resolver o contrato e reter as prestações já recebidas. Poderá fazê-lo?
R: aqui o que muda é que temos 2 prestações e, como já sabem, havendo 2 prestações
em falta seguidas, independentemente do valor das mesmas, há um comportamento
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reiterado por parte do devedor e ele deixa de merecer a tutela que lhe é dada pelo
934º que é o mesmo de dizer que os requisitos do 934º não estão preenchidos e, por
isso, o 934º não se aplica. Não se aplicando o 934º, o 781º aplica-se e, por isso, há
perda do beneficio do prazo e, consequentemente, Sofia pode exigir a Jorge o
pagamento do restante do preço e, depois, importa perceber se poderá haver um
incumprimento definitivo, ou seja, dando lugar à resolução do contrato. Temos de ir ao
886º, uma vez que o 934º não se aplica, e chegados ao 886º, temos os requisitos,
então aplica-se e aplicando-se significa que o Sofia não poderia resolver o contrato.
Nesta situação, Sofia “apenas” poderia exigir, desde logo, o pagamento da totalidade
do preço. Se não pagar terá que recorrer à garantia da relação jurídico obrigacional, ou
seja, ação creditória. Sofia vai ter que lançar mão dos meios coercivos para receber o
preço, nomeadamente, vai ter que propor uma ação quando vai pedir a condenação
de Jorge ao pagamento do restante do preço acrescido de juros de mora e, depois, se
B continuar a não pagar, paga na sentença, que é um titulo executivo, e a ação
executiva para pagamento de quantia certa, no âmbito da qual vai agredir o
património da B. Artigo 601º do CC penhora os bens do património de B, esses bens
serão vendidos e do resultado da venda executiva será pago o crédito do vendedor
(Sofia). Sofia não poderia resolver o contrato, mas poderia reter as prestações já
recebidas e exigir o pagamento da totalidade do preço em falta acrescido dos juros das
prestações vencidas não pagas, nos termos do 806º.
CP 10
António fez anunciar nas redes sociais que dava 100 euros a quem pudesse dar
informação sobre o seu cão que estava desaparecido.
Um dia depois, Carlos, amigo de António, viu o animal e reconheceu-o.
De imediato, pegou nele e resolveu levá-lo ao veterinário uma vez que se encontrava
ferido.
Ainda nesse dia levou o animal a casa de António.
Analise a situação determinando os efeitos produzidos pelos factos enunciados.
R:
Primeiro facto: A ter feito anunciar que deva 100 euros a quem desse notícias do cão.
Agora temos de aferir se o facto se torna logo relevante, ou seja, se começa logo a
produzir efeitos jurídicos ou se não a partir do momento em que o C encontra o animal
e o entrega ao António e então só a partir desse momento é que temos relevância
jurídica, isto no sentido de saber se foi constituída a obrigação já lá atras ou se
obrigação só se constitui no momento em que C encontra e entrega o animal.
No artigo 459, o facto de A ter anunciado que dava 100 euros a quem desse
informações sobre o animal consubstancia uma promessa pública, isto é, estamos face
um negócio jurídico unilateral que por força da lei é fonte de obrigações e se estamos
face um negócio jurídico unilateral que por força da lei é fonte de obrigações, então
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desde logo podemos concluir que a obrigação se constitui a partir do momento em


que estão preenchido os requisitos normativos do 459. Os requisitos normativos do
459 consubstanciam- se no facto de ter feito um anúncio publico prometendo uma
determinada prestação e isso verificou-se no momento em que o A anunciou nas redes
sociais, portanto, nesse momento constitui-se a obrigação.
Ora se nesse momento se constitui a obrigação quer isto dizer que o sujeito passivo é o
A (devedor de 100 euros) e o sujeito ativo no momento da constituição da obrigação
não se sabe quem é, não se sabendo quem é então temos uma relação jurídica de
sujeito ativo indeterminado. Isto é possível face à ordem jurídica atentemos no artigo
511 do CC e, por isso, é inequívoco que face à ordem jurídica é possível constituirmos
obrigações de sujeito ativo indeterminado.
Já não é possível constituirmos relações jurídicas obrigacionais de sujeito passivo
indeterminado porque não se pode impor obrigações a alguém sem a sua intervenção,
agora já possível atribuir diretos a alguém sem a sua atuação depois tem sempre a
hipótese de renunciar a esse direito se o entender, mas mesmo em termos de sujeito
ativo indeterminado as situações são excecionais estão devidamente tipificada e tem 1
requisito: o sujeito ativo pode estar indeterminado no momento da constituição da
obrigação, mas tem que ser determinável, isto é, os parâmetros / requisitos de
determinação tem que ficar devidamente previstos de forma a que no futuro se saiba
como vamos determinar o sujeito ativo, caso contrária a obrigação não se chega a
constituir porque é nula por falta de determinação.
Por isso, a primeira questão estaria ultrapassada, ou seja, num primeiro momento
constitui-se uma obrigação, por via do artigo 459, em que o sujeito passivo é o A e o
sujeito ativo está ainda indeterminado.
Segundo facto: o C encontra o animal viu que o animal esta ferido e leva-o ao
veterinário e C paga a conta.
Significa isto que o facto de o C ter levado o animal ao veterinário está a tratar de um
assunto/interesse que não é dele e que é do António e não está autorizado para tal (o
A não o autorizou a levar o animal ao veterinário), sendo que C não o fez no seu
próprio interesse, mas no interesse do A.
Assim sendo parecem estar preenchidos os requisitos do 464 e estando preenchidos os
requisitos do 464 podemos concluir no sentido de que o C atuou em gestão de
negócios. Ele como gestor de negócios e o A o como dono de negócio.
Terceiro momento: C vai levar o animal a casa do A e entrega o animal.
Nesse momento tem por consequência um efeito jurídico que é facto de haver uma
modificação naquela relação jurídica inicial decorrente do anúncio porque nos
tínhamos um sujeito ativo indeterminado e com esta atuação do C ao entregar o
animal ele ingressa na posição de sujeito ativo da relação jurídica, que é o mesmo que
dizer que ingressa na esfera jurídica de dele o direito de crédito a receber os 100
euros.
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Se tivermos cuidado e olharmos para o 459,nº 2 vemos que o conhecimento ou


desconhecimento por parte daquele que partilha o facto é completamente irrelevante
em termos de adquirir o direito de crédito e sendo irrelevantes, desde logo, se afasta
qualquer tese contratual à volta da promessa pública porque eventualmente “dizem
que isto é um contrato porque de uma lado faz a promessa e do outro lado o credor
tem uma atuação em tacitamente aceita”, não porque o 459, nº2 vem retirar qualquer
ideia neste sentido, uma vez que, aquele que atua no desconhecimento adquire na
mesma o direito, não há aqui qualquer possibilidade de consubstanciar nisto um
contrato, a promessa publica é um negócio jurídico unilateral que por si só produz os
efeitos, este efeito de ver o direito ingressar na sua esfera jurídica por parte de Carlos
é decorrente da sua atuação (encontrar o animal e de o ir entregar ao A).
Conclusões
Por isso diríamos que o C tem direito, por força do artigo 459, a receber 100 euros do
A porque efetivamente praticou o facto que leva a ingressar na sua esfera jurídica o
direito de crédito ao recebimento desses 100 euros.
No que diz respeito às despesas que C possa ter tido, nomeadamente no veterinário, o
facto de ele levar o cão ao veterinário é subsumível ao instituto da gestão de negócio,
nos termos do 464, e havendo gestão de negócios é dentro deste regime que veremos
se o C terá direito a receber as despesas que teve ou não por parte de A.
Olhando para o artigo 468 podemos retirar o seguinte: se o C atuou em conformidade
com a vontade presumível ou real do A então terá direito a que lhe sejam pagas as
despesas ou se o A aprovar aquilo que ele fez. Neste caso, não custa a admitir que pelo
menos ele tenha atuado em conformidade com a vontade presumível do A, uma vez
que o animal estava ferido, um homem médio colocado naquelas circunstancias tempo
e lugar e até porque quem oferece 100 euros para quem encontrar o animal com
certeza é uma pessoa preocupada com o animal e gostaria que o animal fosse tratado
e como tal parece ser aplicado o artigo 468 e aplicando este artigo o C teria direito a
receber do A os gastos que teve com o animal, nomeadamente o veterinário e (diria o
professor) relativamente ao transporte do animal.
Tivemos aqui duas fontes a gerar obrigações:
Negócio jurídico unilateral: promessa pública
Gestão de negócios
Duvida: o 1323, nº5 aplicar-se- á aqui se não resolvêssemos o problema desta forma,
resolvendo por este caminho não precisamos deste artigo. Este artigo não resolveria o
problema do veterinário, quanto muito poderia resolver o problema do transporte
(fala nas despesas que se teve quando se encontra um animal perdido e a ida ao
veterinário vai muito alem dessas despesas normais).
CP 11

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A empresa “Demolições, Lda.” vendeu a Nuno, construtor civil, um potente


Caterpillar, de elevado valor.
Ficou convencionado que a propriedade só se transferiria com o pagamento integral
do preço, a efetuar em 24 prestações, de igual montante, que se venceriam
mensalmente, durante o período de dois anos a contar da data da celebração do
negócio jurídico.
Nuno pagou pontualmente as doze primeiras prestações, mas não as duas seguintes.
a). Qualifique este incumprimento e diga se a vendedora pode resolver de imediato
o contrato;
R: estamos perante uma situação de mora, ou seja, incumprimento por mora já que
houve um atraso no pagamento, nos termos dos artigos 804º e seguintes. Só poderá
haver resolução do contrato quando o incumprimento passa a definitivo. O
incumprimento passa de mora a incumprimento definitivo através de uma
interpelação admonitória nos termos do 808º/1 CC. Face à mora, a empresa notifica o
devedor dando-lhe um prazo (15 dias é razoável), para que ele cumpra e não
cumprindo, resolve o contrato. Dito isto, imediatamente, a vendedora nunca poderia
resolver o contrato.
b). A “Demolições, Lda.” pretende reter as prestações recebidas invocando, para o
efeito, o disposto no art. 434.º, n.º 2, do Código Civil. Poderá fazê-lo?
R: Não, pois o 434º/2 aplica-se as prestações continuadas e a Compra e venda a
prestações caracteriza-se por prestações fracionadas, ou seja, o quantum não depende
do decurso do tempo (foi pré-definido no momento da celebração do contrato). Sendo
que, nestes casos, aplica-se o 434/1. Com remissão para o artigo 289º, deve ser
restituído tudo o que tiver sido prestado.
CP 12
António vendeu, por escritura pública, um imóvel a bento, pelo preço de 100 mil
euros, pago de imediato.
No dia seguinte, também por escritura pública, António, noutro cartório notarial
vendeu aquele mesmo imóvel a Carlos, pelo preço de 125 mil euros, também pago de
imediato.
Responda as seguintes questões:
a. Pressupondo que Carlos registou o ato aquisitivo antes de Bento: Quid iuris.
b. Pressuponha, agora, que a venda a Bento foi feita através de documento particular.
Quid iuris.
CP 13

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António é proprietário de uma quinta no Douro. C propôs a A comprar-lhe um painel


de azulejos que revestia uma das paredes da casa senhorial da quinta, bem como
toda a produção de uvas da próxima colheita.
A 15 de janeiro fizeram o respetivo contrato de CV, tendo ficado convencionado que
o painel de azulejos e as uvas seriam entregues no decurso da segunda quinzena de
setembro.
Entretanto, no dia 1 de agosto, A vendeu a quinta a D.
Quid iuris?
R: Qualificação do contrato entre o A e o C?
Temos um contrato de compra e venda, nos termos do artigo 874, quanto aos efeitos
por força do 879 potencialmente o contrato de CV produz efeitos reais e efeitos
obrigacionais, diríamos que normalmente produz logo efeitos reais e efeitos
obrigacionais, por isto e por aquilo pode ser que não o seja. No nosso caso temos uma
situação em que eventualmente fugimos a essa normalidade da imediata produção de
efeitos reais e também à produção dos efeitos obrigacionais típicos.
O que foi vendido pelo A ao C um painel de azulejos que revestia uma parede da casa,
quer isto dizer fazia parte da parede da casa e foram vendidas as uvas da produção de
vinho desse ano, tendo ficado convencionado que quer o painel de azulejos quer as
uvas seriam entregues na segundo quinzena de setembro, por isso, daí a quase 9
meses.

Quando falamos na CV falamos no 408,nº1 e deste artigo resulta uma regra do direito
civil no que diz respeito aos direitos reais e essa regra é que por mero efeito de
contrato verificam-se os efeitos reais, isto significa duas coisas cumulativamente:
Basta o contrato não é preciso outro ato, não é preciso entregar, não é preciso pagar,
basta o acordo de vontades.
O efeito real dá-se no momento em que o contrato está concluído.
Ora o contrato está concluído quando as partes chegam a acordo quanto a todos os
pontos que consideraram essenciais, ou seja, nos intérpretes olhamos foi naquele
momento em que eles chegaram a acordo, naquele momento dá-se o efeito real que
na CV é a transmissão do direito de propriedade. Portanto adaptando a regra do
408,nº1 ao contrato de CV diríamos que basta o contrato de CV e o contrato de Cv está
celebrado no momento em que as partes chegam a acordo, basta esse contrato e é
nesse momento que se verifica a transmissão do direito de propriedade do vendedor
para o comprador.
Ora, mas para que esta regra se verifique assim na plenitude é preciso que estejam
preenchidos cumulativamente 3 requisitos (3 requisitos que dizem respeito ao objeto
da CV, isto é, à coisa vendida):
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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
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Coisa seja presente


Coisa seja autónoma
Coisa esteja determinada
E percebe-se isto porque o direito de propriedade sendo um direito real é um poder
imediato sobre uma coisa, ora para ser um poder imediato sobre uma coisa e é isso
que se transmite através do contrato de CV para eu ter um poder imediato sobre uma
coisa é preciso que essa coisa exista seja minha, é preciso que essa coisa esteja
determinada e é preciso que ela tenha autonomia, por isso, preenchidos este 3
requisitos e nada mais havendo um contrato de CV conjugando o 879 e o 408,nº1
produz desde logo os seus efeitos reais, isto é, desde logo a transmissão do direito de
propriedade.
A não ser neste caso desde que estejam preenchidos os requisitos quanto à coisa, a
não ser que as partes por acordo tenham obstado à verificação do efeito real
nomeadamente aplicando uma clausula de reserva de propriedade, artigo 409. Porque
o 409 funciona como exceção ao 408,nº1 é uma exceção convencional por acordo das
partes.

E falha um daqueles 3 requisitos aí não há desde logo a transmissão do direito de


propriedade, se a coisa não for presente transmissão do direito de propriedade só se
vai dar quando a coisa se tornar presente, se a coisa não está determinada, mas é
determinável (porque se for indeterminável o contrato é desde logo nulo) temos que
aguardar que haja determinação e quando houver a determinação é que haverá
transmissão do direito de propriedade, se não tiver autonomia só quando ganhar
autonomia é que haverá a transmissão do direito de propriedade, artigo 408,nº2.

Por isso, aquilo que é vendido e foi vendido em janeiro foi o painel de azulejos que
revestia uma parede, ora um painel de azulejos que reveste uma parede importa
perceber o que é isso em termos legais, ou seja, se isto tem autonomia ou não.
E se olharmos para nº3 do artigo 204, nós poderemos concluir que o painel de azulejos
porque está fixada à parede, tem uma ligação fixa à casa, por isso faz parte daquela
casa e a casa faz parte de todo o imóvel da quinta se a quinta incluindo a casa e o
painel de azulejos fazem parte de um todo sobre qual recai o direito de propriedade.
Ora o painel de azulejos fazendo parte do todo, nos dizíamos que é parte integrante do
imóvel, ora sendo parte integrante do imóvel o painel de azulejos não goza de
autonomia, só gozará de autonomia quando for desafetado do imóvel.
Quando foi feita a CV, o painel de azulejos ainda estava na parede e só seria retirado
em setembro significa que foi vendida uma parte integrante do imóvel, não foi vendida
uma coisa que gozasse desde logo de autonomia.

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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
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Por aplicação do nº2 do artigo 408 não pode haver, desde logo, transmissão do direito
de propriedade sobre o painel de azulejos. Haverá transmissão do direito de
propriedade quando o painel de azulejos for desafetado do imóvel porque ganha
autonomia.
Quanto às uvas, reparem, em janeiro ainda não existem uvas e, por isso estou a vender
em janeiro as uvas desse ano, as significa que as uvas começam a aparecer lá para
maio até que estão prontas a ser colhidas em setembro/ outubro. O que significa que
aquilo que estava a ser vendido em janeiro as uvas desse ano ainda não existiam, ora
aquilo que não existe não é presente sendo uma coisa futura, isto significa que, artigo
211, quando se fala em coisas futuras pode-se falara em coisas:
Coisas relativamente futuras- existindo fisicamente não estão na titularidade do
vendedor.
Coisas absolutamente futuras- não existem no mundo ontológico, não existem
fisicamente, prevê-se que venham a existir.
No nosso caso estamos perante uma coisa absolutamente futura, ora não sendo por
isso uma coisa presente, sendo uma coisa futura dir-vos-ia que não está novamente
preenchido um requisito que é a coisa ser presente e como não está preenchido esse
requisito diríamos também que quanto às uvas não houve a transmissão do direito de
propriedade, nem se quer existem uvas, nem se quer existe o direito de propriedade
porque o direito de propriedade tem um objeto e as uvas ainda não existiam, sendo
que para haver direito de propriedade sobre as uvas, as uvas tem que crescer, maturar
e serem colhidas para ganharem autonomia.
Em conclusão por aplicação do 408,nº2 quer na venda do painel de azulejos, quer na
venda das uvas não houve transmissão do direito de propriedade, desde logo, não
houve produção de efeitos reais desde logo.

Estamos perante um caso de aplicação do artigo 880, face uma CV de parte integrante
e de coisa futura. É possível fazer a CV de uma parte integrante e de uma coisa futura.
Da aplicação do nº1 do artigo 880 resulta para o vendedor a obrigação de diligenciar
para que a coisa que não tenha autonomia ganhe autonomia, isto é, aquilo que é parte
integrante deixa de ser parte integrante e passe a gozar de autonomia e tem que
diligenciar para que aquilo que é coisa futura (as uvas) se torne uma coisa presente,
isto é, tem de tratar da linha de forma ás uvas vingarem e depois colher as uvas para
que a coisa que é uma coisa futura em janeiro venha a tornar-se numa coisa presente
em setembro.
Esta obrigação de diligenciar para que a coisa se torne presente ou ganhe autonomia,
artigo 880,nº1, é uma obrigação de meios e não uma obrigação de resultado, isto
significa que o vendedor tem que diligenciar como um homem médio diligenciaria e

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para que o painel ganhe autonomia e que as uvas se tronem presentes. E diligenciando
dessa forma ele cumpre a obrigação se não diligenciar não cumpre a obrigação.
Está qualificado o contrato feito em janeiro.
Depois um meses depois, mas ainda antes da entrega dos azulejos e das uvas o A
vende a quinta ao D. quando o A vende a quinta ao D, temos um contrato de CV, artigo
874, artigo 879 e 408nº1 efeitos, ora o 408,nº1 aqui vai-se aplicar na plenitude isso
significa que o CV entre o A e o D produz todos os seus efeitos jurídicos.
Produzindo todos os seus efeitos jurídicos quer isto dizer que o direito de propriedade
sobre a quinta, sobre a totalidade do imóvel transmite-se da esfera jurídica do A para a
esfera jurídica do D com a consequente obrigação da entrega da coisa e consequente
obrigação de pagamento do preço, ou seja, gera ai uma relação jurídica obrigacional.
Nesse momento o D passa a ser proprietário do imóvel da quinta e ao ser proprietário
do imóvel passa a ser proprietário das partes do imóvel, nomeadamente do painel de
azulejos, nomeadamente das uvas que ainda estão nas videiras, mas significa isto que
quando chegarmos a setembro o C não pode opor a sua posição ao D porque o
Adquire o direito de propriedade sobre tudo e tem o direito real que é um direito
oponível erga omnes , mas enquanto que o C tem apenas tem uma posição de crédito
face ao A e a posição de crédito de C não é oponível porque os direitos de crédito são
direitos oponíveis apenas pelo credor ao devedor, a posição jurídica de C é apenas
oponível ao A, não é oponível ao é ao D. Enquanto que a posição de D sendo uma
posição jurídica real é titular de um direito real é oponível erga omnes, é oponível a
todas as outras pessoas e, por isso, é também oponível naquele momento quer ao C
quer ao A, como a todos nós.
Consequentemente no fim desta história o D vai ficar com o imóvel e com o painel de
azulejos e vai ficar com as uvas. É obvio que esta atitude de A ao vender o imóvel a D
não precavendo a posição jurídica de C vai levar a um incumprimento do contrato da
CV de bens futuros e CV de partes integrante, artigo 880, que ele tinha com o C, assim
sendo o C vai ter direito a ser indemnizado pelo âmbito da responsabilidade civil
contratual.
CP 14
A prometeu vender a B um valioso quadro, por 50 mil euros, ficando
convencionando que contrato de CV realizar-se ia dai a 1 mês.
1 semana depois, sabendo da existência do contrato de promessa, C proposta B
comprar-lhe de imediato o quadro por 75 mil euros, tendo B aceitado a proposta e
recebido o respetivo preço.
1 semana depois disso, A vendeu aquele mesmo quadro a D, por 100 mil euros,
preço esse pago de imediato e o quadro entregue ao comprador.
1 mês depois, A descobre que as notas entregues por D são falsas.

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Analise a posição jurídica de cada um dos intervenientes determinando os seus


direitos e as suas obrigações.
R:
Primeiro facto: contrato entre o A e a B
entre o A e a B foi celebrado um contrato de promessa de CV, nos termos do artigo
410 do CC, ora de um contrato de promessa de CV apenas resultam efeitos
obrigacionais, isto é, nasce uma obrigação constituída por dois vínculos em que por um
lado o A se obriga a no futuro vender e B se obriga a no futuro comprar o quadro, isto
quer dizer que aqui não há qualquer produção de efeitos reais, apenas efeitos
obrigacionais constituídos por esta obrigação anteriormente referida.
Consequentemente o direito de propriedade mantem-se na esfera jurídica do A.
Segundo facto: B e C celebram um contrato de CV
Este contrato de compra e venda mais uma vez um pouco à imagem do que acontecia
no CP anterior, tem uma vicissitude que é que a B está a vender algo que não lhe
pertence ora estando a vender algo que não lhe pertence, é verdade que é uma CV de
bens alheios, mas é uma CV de bens alheios em que quer o vendedor, quer o
comprador tem essa noção e fazem essa CV nesse pressuposto, o C sabia que a B tinha
apenas celebrado um contrato de promessa com A e como tal ainda não era
proprietário, mas mesmo assim quis celebrar a CV e a B também sabia que ainda não
era proprietária e mesmo assim quis celebrar a CV, portanto, foi nesse pressuposto.
Artigo 893, quando a venda de bens alheios é feita nesse pressuposto da coisa não
pertencer ao vendedor e é feita por acordo entre vendedor e comprador. Nós
devemos aplicar-lhe o regime da compra e venda de bens futuros do artigo 880, sendo
que estamos face a um bem relativamente futuro, artigo 211 do CC, estamos face a um
bem que existe, mas que ainda não está na titularidade do vendedor.
Por isso, a CV entre B e C é perfeitamente válida e é uma CV de coisa futura, artigo 880
conjugado com o artigo 893.
Sendo uma CV de bens futuros mutatis mutandis, B está obrigado a diligenciar para
que a coisa se torne presente e neste caso a coisa tornar-se-ia presente quando a B
celebrasse o contrato de CV com o A, isto é, adquirisse o quadro.
Em termos de direito de propriedade, este continua na esfera jurídica do A.

Terceiro facto: o A vendeu o quadro ao D.


Contrato de CV, artigo 874, efeitos, artigos 879 e 408, nº1, significa que houve
transmissão do direito de propriedade da esfera jurídica de A para a esfera jurídica do
D, efeitos obrigacionais nasce a obrigação da entrega da coisa e a obrigação do
pagamento do preço e são estes os efeitos do contrato entre o A e o D.

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O D passa a ser proprietário do quadro e consequentemente há a obrigação da entrega


do quadro que foi cumprida, porque o A entregou o quadro a D, e a obrigação do
pagamento do preço, pareceria estar cumprida, mas depois veio-se a constatar que as
notas eram falsas, logo a obrigação do pagamento do preço não está cumprida.
No fim desta história temos aqui os factos qualificados e está à vista a posição jurídica
de cada um dos intervenientes, agora face a essa posição jurídica importa retirar as
consequências de tudo isto.
Primeira consequência
Em termos de direito de propriedade sobre o quadro a posição ganhadora é a posição
do D, o D ficará proprietário do D. O CV entre o A e o D teve o efeito real de transmitir
a propriedade, a transmissão de propriedade não está minimamente dependente do
pagamento do preço e como não está dependente do pagamento do preço isso é
apenas um efeito do contrato a obrigação do pagamento do preço tal e qual é a
transmissão do direito de propriedade, significa que o não ter pago o preço não vai
bulir com a titularidade do direito de propriedade.
É obvio que poderia questionar-se o facto de ele não ter pago o preço não poderá
legitimar o A a eventualmente por fim a este contrato? Por fim a este contrato
significara, grosso modo, havendo incumprimento definitivo do contrato que o A
resolvesse esse contrato nos termos do artigo 801, nº 2 do CC, só que no âmbito da CV
há uma regra que está plasmada no artigo 886 do CC e há uma regra neste artigo:
Vendida a coisa, portanto, transmitida a propriedade e feita a entrega da mesma o
vendedor já não pode resolver o contrato por falta de pagamento do preço.
E no nosso caso foi isso que se passou, o. transmitiu a propriedade ao D e entregou-lhe
o quadro como tal por força do artigo 886, o A não pode resolver o contrato e não
podendo resolver o contrato já não terá mais o quadro de volta, não consegue
“desfazer” o contrato que fez com o D.
Resta ir em busca de receber o preço através da ação creditória, artigos 817 e ss, neste
caso teria de propor uma ação declarativa condenatória, onde iria pedir a condenação
do D ao pagamento do preço e depois se o D continuasse a não pagar teria de propor
uma ação executiva onde iria executar o património do D sendo o património a
garantia geral dos credores, artigo 601 e nessa ação executiva seriam penhorados bens
que depois seriam vendidos para com o resultado da venda ser pago o crédito do A.
2 consequências: relação entre A e B
O A como vimos tinha-se vinculado a vender através um contrato de promessa o
quadro a B e a B tinha-se vinculado a comprar o quadro a A. O A a vender o quadro ao
D impossibilitou o cumprimento do contrato de promessa sendo que a B como é obvio
tem um direito de crédito que não é oponível a terceiros é apenas oponível a A. e
como tal já vimos que é o D que fica com o quadro. B caber-lhe-á ser indemnizada no
âmbito da responsabilidade civil contratual, artigo 798 e ss do CC, em virtude do

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incumprimento contratual do A que com a venda do quadro ao D impossibilitou o


cumprimento do contrato de promessa.
3 consequência: relação entre B e C
Tínhamos a tal CV de bens futuros importa, a coisa que era futura já não se torna
presente porque a B já não vai adquiri ao A e o A ao tornar aqui impossível o
cumprimento do contrato de promessa consequentemente também levou a que o
contrato entre a B e o C não chegue a bom porto. A coisa futura nunca se tornando
presente, importa resolver o relacionamento entre B e C. parece que neste caso não
há qualquer responsabilidade de B, até porque a responsabilidade aqui é de A
(terceiro) e como tal não parece que C possa de alguma forma ser indemnizado pela B,
também não poderá ser indemnizado pelo A porque A é terceiro relativamente a esta
relação de crédito.
Há uma impossibilidade não imputável e não havendo uma impossibilidade não
imputável é uma impossibilidade objetiva o que significa que a obrigação de B se
extingue face ao C, artigo 790.
Quanto ao preço que já tinha sido pago por C a B, importa perceber se a B tem ou não
que restituir esse preço, nº2 do artigo 880.
Artigo 880, nº2: se as partes tiverem atribuído carater aleatório ao contrato o preço é
devido mesmo que a coisa não se torne presente. A contrário da norma: se as partes
não tiverem atribuído carater aleatório é porque o contrato tem carater comutativo e
tendo carater comutativo o preço só é devido se eventualmente tiver sido atribuído
carater aleatório, não tendo sido atribuído carater aleatório tendo carater comutativo
não há ugar ao pagamento do preço e só se daria lugar ao pagamento do preço se a
coisa se tornasse presente.
Carater aleatório – aleatório vem de alia que significa incerteza. Um contrato aleatório
é um contrato em que as partes ab início não sabem todas as vantagens e
desvantagens que vão ter com aquele contrato, isto é, há um risco, incerteza inerente
aquele contrato. Paradigma disso é o contrato de seguro e o contrato de jogo e aposta.
contrato comutativo- as partes sabem desde início todas as vantagens e desvantagens
que vão ter. Ex: uma CV normal.

Aqui no fundo diz que se as partes disseram de alguma forma, não é preciso
expressamente, mas se de alguma forma concluímos que as partes quiseram que o
preço fosse pago mesmo que a coisa não se tornasse presente, o contrato foi feito com
o risco atribuído ao comprador de ficar ali na incerteza de que se a coisa não se tornar
presente vou na mesma ter de pagar o preço. Se foi atribuído esse carater aleatório é

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devido o preço, se não foi atribuído este carater aleatório o contrato tem carater
comutativo e tendo cara ter comutativo significa que só há pagamento do preço se a
coisa se tornar presente (só há desvantagem se houver vantagem).
No nosso caso nada foi dito, e como nada foi dito significa que o contrato tinha carater
comutativo (interpretação a contrária do nº 2 do artigo 880) tendo carater comutativo
isto quer dizer que o preço só é devido se a coisa se tornasse presente, ora como. A
coisa não se tornou presente, então o C não estava obrigado a pagar o preço. Quer isto
dizer que se voluntariamente a B não lhe restitui o preço ao C, quanto mais não seja
por via do enriquecimento sem causa do artigo 473, o C terá direito a que esse
montante lhe seja restituído uma vez que não há a obrigação do pagamento do preço.
CP 15
A, no dia 1 de fevereiro, vendeu a C o quadro X. ficou convencionado que o quadro
seria entregue no dia 20 e o preço pago também nessa data. Responda
autonomamente às seguintes questões:
Contrato de Compra e Venda, pelo artigo 874º, efeitos: 408º/1. Significa que o
contrato produz efeitos reais, transmissão do direito de propriedade por mero efeito
do contrato e efeitos obrigacionais, constituição da obrigação complexa composta pelo
vínculo da entrega e o vínculo do pagamento do preço, artigo 879. São estes os efeitos
decorrentes do contrato de CV e o A e o C celebraram um contrato de CV que quanto à
forma também não há aqui nada a dizer até porque vigora o princípio da liberdade
forma por força do artigo 219º.
Enquadramento teórico:
Impossibilidade originária - Se a impossibilidade se verifica em momento anterior à
celebração do contrato.
Impossibilidade superveniente – se se constitui posteriormente ao momento da
constituição da obrigação e obrigação constitui-se por via do contrato, ou seja, em
momento posterior ao contrato.
E isto depois leva a aplicação de regimes diferentes:
Impossibilidade originária - não há uma impossibilidade de cumprimento porque
nunca se chega a constituir a obrigação, ora se nunca se chega a constituir a obrigação
nunca ninguém esteve obrigado a cumprir, por isso não temos uma impossibilidade de
cumprimento. Na impossibilidade originária nós vamos aplicar o regime do 401º do CC
isso significa que o negócio é nulo, ora se o negócio é nulo não produz efeitos jurídicos,
e se eventualmente houve alguma prestação tem de ser restituída 289º do CC.
Impossibilidade superveniente - constituiu a obrigação, há uma impossibilidade de
cumprimento dessa obrigação. temos uma impossibilidade de cumprimento havendo
uma impossibilidade de cumprimento importará perceber se essa impossibilidade é
uma:

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Impossibilidade imputável
Impossibilidade não imputável ao devedor
Ora o que é que significa ser imputável ou não imputável ao devedor?
Se culposa ou não culposa. Se a impossibilidade for culposa, for imputável ao devedor,
então entramos no regime da responsabilidade civil contratual.
Mas se a impossibilidade for não imputável, não culposa, nós temos um regime
específico que não gera responsabilidade civil contratual.
Como é eu nós sabemos se a impossibilidade é imputável ou não imputável?
Temos que aferir a culpa, artigo 799º deste artigo decorre uma presunção de culpa.
Presunção é uma técnica legislativa que o legislador utiliza e que consubstancia de um
facto conhecido para retirar dele uma ilação desconhecida, ou seja:
1. Facto conhecido: aqui é que houve uma impossibilidade de cumprimento (não
cumprimento)
2. Facto desconhecido (presunção): presume-se que é culposa essa impossibilidade, ou
seja, por força do 799º nós temos uma presunção de culpa do devedor sempre que
alguém não cumpra atempadamente. Sempre que a prestação se torne impossível
presume-se que é por culpa do devedor, então, em termos de ónus da prova, inverte-
se o ónus e caberá ao devedor demonstrar que não teve culpa.
a). Pressuponha que no dia 5 A e C vieram a constatar que o quadro em causa tinha
perecido em virtude de um incendio que lavrou no dia 25 de janeiro. Quid iuris?
R: A Compra e Venda é feita no dia 1 de fevereiro, no dia 5 de fevereiro eles
descobrem que o quadro tinha perecido em virtude de um incêndio no dia 25 do mês
anterior, ou seja, no dia do contrato já não havia quadro. Ora, se no dia do contrato já
não havia quadro, isto não é um problema de incumprimento da obrigação porque a
obrigação não se chega a constituir. Dessa forma, aqui temos uma impossibilidade
originária da prestação e a prestação para se constituir validamente tem que ser: licita,
determinável e possível. E por isso, como temos uma impossibilidade originária da
obrigação, vamos aplicar-lhe o artigo 401º e, aplicando este artigo, vamos dizer que o
contrato entre o A e B é nulo por força deste preceito. Ora, sendo nulo, nunca
produziu efeitos jurídicos, não produzindo efeitos jurídicos não se chegou a constituir a
relação jurídico-obrigacional, logo a situação está resolvida. Se o A soubesse que o
quadro tinha ardido?
Era precisamente a mesma coisa. O que poderia acontecer aí era responsabilidade civil
pré-contratual por parte do A porque ele tinha violado os ditames da boa-fé, o dever
de informação e de lealdade, o dever de correção e o dever de proteção.
b). Pressuponha, agora, que no dia 5, em virtude de causa fortuita, lavrou um
incendio que acabou por destruir o quadro em causa. Quid iuris?

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R: O quadro desapareceu depois da constituição da relação jurídica obrigacional,


portanto, o contrato, neste caso, produziu todos os seus efeitos, constitui-se a relação
jurídica obrigacional e no dia 5 é que o quadro desaparece em virtude de um incendio
e fica reduzido a cinzas.
Temos aqui uma impossibilidade superveniente da prestação, isto já é o
incumprimento da obrigação. Agora importa saber se neste caso temos uma
impossibilidade imputável ou não imputável e diríamos que neste caso a presunção do
799 é afastada é ilidida porque da matéria de facto consta que o incendio se ficou a
dever a causa fortuita, assim sendo vamos concluir que temos uma impossibilidade
não imputável. Ora, havendo uma impossibilidade não imputável, caímos no regime
dos artigos 790º a 797º e reparem como nós temos aqui uma relação jurídica
obrigacional complexa (temos dois vínculos: entrega do quadro e o pagamento do
preço), nós vamos ter que olhar para os dois vínculos e ver qual a consequência nos
dois vínculos.
E vamos começar pela prestação que se tornou impossível que foi a entrega do
quadro, ora nós aqui temos uma impossibilidade objetiva, artigo 790º, porque nem o
A, nem qualquer outra pessoa colocada na posição dele conseguiria cumprir esta
obrigação. O que decorre da aplicação do artigo 790 é que a obrigação se extingue, a
obrigação da entrega do quadro, sem qualquer consequência para o devedor, neste
caso o A.
Quanto à obrigação do pagamento do preço, o comprador vai ter que pagar o preço
porque temos uma regra prevista no artigo 796º que é a regra quanto ao risco de
perecimento da coisa e dessa regra resulta que havendo transmissão do direito de
propriedade e junto com a transmissão do direito de propriedade transmite-se
também o risco de perecimento para o comprador. Eu vendo, mesmo que não lhe
entregue, o risco transferiu-se para o comprador, só não será assim em situações
excecionais, mas a regra é esta que decorre do artigo 796/nº 1 que afasta a regra do
795º.
A regra do 795 é nos contratos bilaterais, tornando-se impossível uma prestação, essa
extingue-se. A contraprestação também se extingue. Ora a regra do 796º/1 que se
aplica no âmbito dos contratos reais quod efectum, aqueles contratos que produzem
efeitos reais (ex: CV) essa regra do 796, nº1 vai excecionar a do 795º dizendo que, em
regra, a contraprestação não se extingue (a outra obrigação não se extingue).
Assim sendo, se a obrigação da entrega da coisa se extinguir por força do 790 a
obrigação do pagamento do preço não se extingue por aplicação do nº 1 do 796. O que
quer dizer que, neste caso, o C vai ter que pagar o preço, mesmo ficando sem o
quadro.
CP 16
A vendeu a B um quadro por 5 mil euros, ficando convencionado que o preço seria
pago daí a 1 mês.

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A reservou a propriedade até integral pagamento do preço.


Uma semana depois, B vendeu esse mesmo quadro a C.
15 dias depois, A vendeu também esse quadro a D.
Chegado o dia aprazado para o pagamento deverá B pagar o preço?
R: No primeiro contrato entre o A e o B temos uma Compra e venda nos termos do
874º, com os efeitos previstos no 879º e aqui vamos ter um desvio à regra do 408º/1
que é um desvio convencional, ou seja, as partes apuseram no contrato uma cláusula
de reserva de propriedade nos termos do artigo 409º do CC. Por isso, na semana
passada, nós vimos os desvios legais à regra do 408º/1 e que estão previstos no nº 2,
nomeadamente quando a coisa não é recente, quando a coisa não é determinada ou
quando a coisa não tem autonomia. Agora, estamos aqui a ver um desvio convencional
que é a cláusula de reserva de propriedade que é uma cláusula acessória e que está
prevista no artigo 409º, por isso, quando as partes apõem num contrato uma cláusula
de reserva de propriedade isso significa que o efeito real não se verifica no momento
da celebração do contrato, fica suspenso à espera que se verifique um evento futuro
que neste caso seria o pagamento. Quando houvesse o integral pagamento do preço
verificava-se o efeito real e haveria a transmissão do direito de propriedade.
Qual é a função desta cláusula de reserva de propriedade?
É obstar ao direito real, mas a sua função vai para além disso. O professor diria que a
cláusula de reserva de propriedade tem nitidamente uma função de garantia, isto é,
garante a posição do vendedor e é utilizada a maior parte das vezes em situações de
venda com espera do pagamento do preço e nesses casos utiliza-se a cláusula de
reserva de propriedade como garantia do devedor e, por isso, tem uma função de
garantia.
Importa agora percebermos no que é que se traduz tecnicamente essa função de
garantia. E dir-vos-ia que esta função de garantia se concretiza essencialmente nos
seguintes planos:
Afasta a aplicação do artigo 886º, ou seja, o artigo 886º é aquele preceito que diz que
vendida a coisa, transmitida a sua propriedade e feita a sua entrega já não há lugar à
resolução do contrato por falta de pagamento do preço, ou seja, o vendedor que
vende transmitindo a propriedade entregando a coisa, se não houver pagamento do
preço já não pode resolver o contrato, já não pode ter a coisa de volta.
Ora havendo reserva de propriedade significa que o 886º não se aplica, significa que
havendo falta do pagamento do preço e depois de preenchidos todos os requisitos
legais, pode-se resolver o contrato nos termos do 801º/2. Por isso a clausula de
reserva da propriedade neste plano funciona como garantia porque possibilita-me a
mim, vendedor, resolver o contrato coisa que eu não poderia fazer se não tivesse
clausula de reserva de propriedade, por força do artigo 886º. Neste sentido, o 409º, a
clausula de reserva de propriedade, afasta a aplicação do artigo 886º.

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Outro plano onde se verifica garantia porque a cláusula de reserva de propriedade


goza de oponibilidade erga omnes (quer do vendedor para o comprador, quer
vendedor a todos os terceiros) gozando desta oponibilidade significa que a posição do
vendedor está muito mais protegida do que estaria.
Nota: quando estamos face bens moveis não sujeitos a registo a clausula de reserva de
propriedade goza oponibilidade sem mais se estivermos face a imoveis ou moveis
sujeitos a registo para a clausula gozar dessa oponibilidade a terceiros tem que ser
levada a registo.
Como decorrência desta oponibilidade o 409º temos também a aplicabilidade do
artigo 435. O artigo 435 é norma inserida nas normas gerais da resolução do contrato e
diz-nos, grosso modo, que a resolução não é oponível a terceiros, ora não sendo
oponível a terceiros numa cadeia de transmissão, por exemplo, é uma norma
semelhante ao 291 que nos vimos a propósito das invalidades, o 435 é uma norma
gémea do 291, mas para a resolução e diz que a resolução não é oponível a terceiros
ora havendo clausula de reserva de propriedade o 409º afasta a aplicação do 435º,
sendo que nesse caso, no caso de resolução de um contrato que tem clausula de
reserva de propriedade a resolução já oponível a terceiros e significa que havendo
resolução a posição do vendedor é oponível aos terceiros, a quem, por exemplo o
comprador com clausula de reserva tenha vendido.
Ora do que acaba de dizer resulta a função de garantia da cláusula de reserva de
propriedade, por isso, tecnicamente, a clausula de reserva de propriedade obstaculiza
a transmissão do direito de propriedade por mero efeito do contrato ao efeito real e,
por outro lado, garante a posição do vendedor afastando a aplicabilidade do artigo
886º, do 435º e a clausula de reserva de propriedade tem oponibilidade face a
terceiros.
Por fim, aqui há alguma discussão, aqui o professor prefere a posição do Professor
Antunes Varela, mas na prática vai desembocar tudo na mesma vamos ver no CP. A
clausula de reserva de propriedade tem a natureza de condição suspensiva, atenção
que não quer dizer que é uma condição suspensiva, está a dizer que tem a natureza de
condição suspensiva.
Ora tendo a natureza de condição suspensiva isso significa à clausula de reserva de
propriedade poderemos com as devidas adaptações aplicar as normas relativas às
condições, nomeadamente no que diz respeito ao efeito retroativo e no que diz
respeito aos negócios celebrados na pendencia da condição.
Aqui chegados importa continuarmos a resolver o nosso CP, por isso, no negócio entre
A e B significa que nós temos uma CV que produz efeitos obrigacionais (obrigação da
entrega da coisa e obrigação do pagamento do preço), mas não produz desde logo
efeitos reais, os efeitos reais ficam suspensos por via da clausula de reserva de
propriedade nos termos do artigo 409.

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B vende a C na pendencia da condição, isto é, na pendencia da clausula de reserva de


propriedade, significa que B ainda não é proprietário (está a vender algo que ainda não
lhe pertence, mas na perspetiva que lhe venha a pertencer) e como tal este contrato
entre B e C não é apto ainda à transmissão do direito de propriedade porque o direito
de propriedade não está na esfera jurídica do B continua na esfera jurídica do A. Este
contrato entre B e C fica na expectativa de vir a adquirir o direito de propriedade
diríamos até que neste sentido o negocio entre B e C por enquanto pode ser
qualificado como venda de bens alheios ou se C sabia que B ainda não era proprietário
seria uma venda de bens futuros.

A vende a D, neste negocio nos temos um contrato de CV, artigo 874, quanto aos
efeitos:
Há a verificação do efeito real, a transmissão do direito de propriedade de A para D
porque o direito de propriedade manteve-se na esfera jurídica de A, quer dizer que se
transfere o direito da esfera jurídica do A para a esfera jurídica do D.

No entanto este contrato entre o A e o D padece de uma ineficácia relativa, isto


significa que o negocio é eficaz quanto a todas as pessoas menos a B, ou seja, quanto
ao B o negocio entre A e D é ineficaz porque o B comprando com reserva de
propriedade está também protegido quer pela oponibilidade da própria reserva quer
porque vamos aplicar aqui as normas da condição, nomeadamente, o artigo 274 e
deste artigo resulta que os negocio celebrados na pendencia da condição, nesta caso
na pendencia da reserva de propriedade, portanto, todos os negócios celebrados
nessa pendencia estarão dependentes da sorte desse negócio, por exemplo, se o
negocio entre A e B chegar a bom porto o negócio entre A e D tornar-se-á totalmente
ineficaz, se por acaso o negocio entre A e B não chegar a bom porto o negócio entre A
e D tornar-se-á totalmente eficaz.

Quer isto dizer que chegados à data em que B tem de pagar, pergunta-se o que é que
deve B fazer? E a questão é esta B sabendo que o A tinha vendido ao D deveria ou não
pagar?
B deve pagar porque B pagando a clausula de reserva de propriedade extingue-se e o
direito de propriedade passa da esfera jurídica do A para a esfera jurídica de B porque
tendo a natureza de condição suspensiva o pagamento feito por B corresponde ao
preenchimento da obrigação e opera retroativamente e, por força do 276 e do 274, o
negócio entre o A e o D estava dependente da sorte do negocio entre o A e o B
tornando-se por isso o negócio entre A e D totalmente ineficaz e assim sendo o B paga
e adquire o direito de propriedade e adquirindo o direito de propriedade
automaticamente o direito de propriedade passa para a esfera jurídica do C e, por isso,
no final a história o proprietário é C, sendo que o negócio entre A e D torna-se
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totalmente ineficaz e se por ventura o A recebeu o preço o D tem direito à restituição


do preço no âmbito do instituto do enriquecimento sem causa.
Sub hipótese: Se o B não pagasse abria-se aqui a hipótese do A, havendo
incumprimento definitivo do B, o A poderia resolver o contrato de CV que celebrou
com B.
Ora se isso acontecesse, a resolução opera retroativamente, nos termos do artigo
433º, 434º/1 e 289º, operando retroativamente é como se não tivesse existido este
contrato entre A e B, logo, o contrato entre A e D que era relativamente ineficaz torna-
se totalmente eficaz e nesse caso a posição jurídica do D, quanto ao quadro, seria a
posição jurídica ganhadora, depois entre B e C haveria aí a questão de eventual
incumprimento por parte B o que geraria responsabilidade civil contratual.
CP 17
A vendeu a C um automóvel pelo preço de 8 mil euros, a ser pago em 16 prestações,
mensais, iguais e sucessivas.
O veiculo foi desde logo entregue ao comprador.
Responda autonomamente às seguintes questões:
Qualificando: temos um contrato de CV nos termos do 874, efeitos: artigo879, efeitos
reais 408/1 transferência do direito de propriedade por mero efeito contrato não há
aqui nenhum desvio e quanto aos efeitos obrigacionais: obrigação do pagamento do
preço e a obrigação da entrega da coisa.
A obrigação da entrega da coisa foi imediatamente cumprida. Quanto à obrigação do
pagamento do preço temos aqui que o preço vai ser pago a prestações.
Nota de prestações: o quantum da prestação, o montante da prestação já está
determinado e o tempo não vai ter influencia nenhuma sobre esse montante global a
única coisa que o tempo vai ter influência é quanto ao momento do cumprimento e vai
ter influencia quanto ao momento do cumprimento porque as partes convencionaram
fracionar o cumprimento através de prestações mensais, nos temos aqui as prestações
fracionadas. Por isso a obrigação do pagamento do preço tem por objeto uma
prestação fracionada.
Quer isto dizer que estamos aqui perante um contrato de CV no qual o preço vai ser
pago em prestações e isso é importante no que diz respeito depois ao regime a aplicar.
a) C faltou ao pagamento da 5 prestação. A poderá, desde logo, exigir o
pagamento da totalidade do preço em divida ou resolver o contrato nos
termos do artigo 801, nº2?
R: Não se aplica o 801º já que C está protegido pelo 886º derivado do facto de já
ter dado a transferência da propriedade e a entrega da coisa. Aplica-se também a
segunda parte do 934º, sendo que a falta de pagamento de uma prestação,
quando se trate de uma compra e venda a prestações, tendo havido a entrega da
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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
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coisa, havendo ou não reserva de propriedade e havendo ou não reserva da


propriedade, não haverá lugar à perda do beneficio do prazo, ou seja, não poderá
exigir desde logo o pagamento da totalidade do preço em divida. C não poderá
nem resolver o contrato naquele momento, nem sequer exigir desde logo o
pagamento da totalidade do preço em divida.
Ele faltou ao pagamento da 5 prestação será que o A pode exigir já as restantes
prestações ou pode resolver já o contrato?
Primeiro vamos ao 934:
1. houve venda a prestações
2. Não houve reserva de propriedade (já falha um requisito)
3. foi entregue
4. falta o pagamento de uma só prestação que não exceda a oitava parte, no nosso
caso como são 16 prestações uma prestação só corresponde a uma oitava parte do
preço, por isso se corresponde a uma oitava parte do preço não excede uma oitava
do preço- (o que o stor quer dizer é que não excede uma 1/8 parte do preço, ele
não corresponde a 1/8)
Estão todos os requisitos preenchidos, menos 1 que é a reserva de propriedade, a
primeira parte do 934 não se vai aplicar porque falta preencher o requisito da
reserva de propriedade. A primeira parte é um obstáculo à resolução, mas para
aplicarmos a primeira parte tem de estar preenchidos todos os requisitos, para
aplicarmos a 2ª parte a reserva de propriedade independentemente de haver ou
não haver é preciso que os outros 3 prestações estejam preenchidas.
Então nesta alínea A a primeira parte do 934 não se aplica, mas aplica-se a segunda
parte, ora aplicando-se a segunda parte desde logo poderíamos dizer que o A não
tinha o direito a exigir as restantes prestações (não se aplica o 781), quanto à
primeira parte uma vez que não se aplica a 1º parte do 934 enquanto obstáculo à
resolução temos de seguir para o artigo 886 (norma geral da CV) que nos vai dizer
que vendida a coisa, transmitida a propriedade e feita a entrega da mesma não há
lugar a resolução do contrato por falta de pagamento do preço.
A conclusão a que temos de chegar neste caso é que por força do artigo 886 o
vendedor também não pode resolver o contrato, por isso, no nosso caso por força
da 2ª parte do 934 não se pode aplicar o 781 logo não há perda do beneficio do
prazo, o credor não pode exigir desde logo a perda das prestações em falta, e por
força do artigo 886 também não pode resolver o contrato.
b). Pressuponha, agora, que C faltou ao pagamento da 5 e da 6 prestação. A resposta
será a mesma da alínea anterior?
R: falhou a 2 prestações, não falhou só a uma, é obvio que o somatório destas duas
prestações não excede 1/8 parte do preço e podia-se argumentar aqui que como não

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excede a 1/8 parte do preço então a solução é exatamente a mesma da alínea


anterior. Só que quer da letra lei quer da ratio da lei e dir-vos-ia quer do trabalho
doutrinal maioritariamente aponta nesse sentido e jurisprudencial também, nós
concluímos que sempre que falta a 2 prestações seguidas independentemente do
valor, o devedor deixa de merecer a proteção do 934 porque há um comportamento
reiterado de não cumprimento e o 934 excecionalmente está a proteger aquele que
não cumpre e como já está excecionalmente a proteger aquele que não cumpre não
faz sentido aplicar uma norma quando aquele que não cumpre reiteradamente não
cumpre e como tal não se deve aplicar o 934 quando há um comportamento reiterado
num cumprimento, ou seja, quando falha a 2 ou 3 prestações seguidas. Quando falha a
mais de uma prestação seguidas falha o ultimo requisito e o devedor não merece a
proteção do 934, isto decorre também da letra da lei no 4º requisito que diz faltar a 1
prestação, neste caso, atento a ratio legis, parece ser esta a melhor conclusão. Por
isso, na alínea b, o comprador como falha a 2 prestações, independentemente do valor
das mesmas, tem um comportamento reiterado de incumprimento, significando que
não está preenchido o ultimo requisito da previsão normativa, ou seja, a falta a 1
prestação que não exceda a 8 parte do preço porque há falta a 2 prestações,
consequentemente o 934 não se aplica e não se aplicando podemos dizer que por
força do 781 o comprador perdeu o beneficio do prazo e então por força do 781 o
vendedor, credor, pode desde logo exigir a totalidade do preço. Quanto à possibilidade
de resolução, novamente teríamos de ir ao 886º e o que acontece é que o preceito se
aplica porque houve venda, transmissão da propriedade, entrega da coisa e como tal a
falta de pagamento do preço não possibilita a resolução do contrato. Resumindo e
concluindo, o vendedor aqui só podia apelar à aplicação do 781º e, desde logo, exigir o
pagamento da totalidade do preço em divida, isto é, vence as restantes prestações de
imediato. Quanto à possibilidade de resolução, ele não a tem, uma vez que o 886º não
possibilita a resolução deste contrato.
c). Pressuponha que, no caso da alínea anterior, A tinha reservado a propriedade.
Quid iuris?
R: Numa situação como esta, novamente, vamos olhar para o 934 aquilo que dissemos
na alínea anterior mutatis mutandis aplica-se agora na alínea C, ou seja, o comprador
não merece a tutela do 934 uma vez que faltou a 2 prestações logo o 4 requisito não
está preenchido e como tal o 934 não se aplica em nenhuma das partes,
consequentemente o vendedor pode exigir a totalidade do preço, artigo 781, e quanto
à resolução do contrato novamente íamos ao artigo 886 e como houve reserva de
propriedade o artigo 886 neste caso não se aplicaria e não se aplicando o artigo 886
podemos dizer em abstrato que cumpridos os requisitos legais que é o mesmo de dizer
que havendo o incumprimento definitivo deste contrato o vendedor poderia resolve-lo
nos termos do artigo 801/2 do CC.
Uma vez que não aplicava o 934 exigia de imediato ao comprador o pagamento da
totalidade do preço, por força do artigo 781, estipulando-lhe um prazo razoável para
tal sob pena de não havendo esse cumprimento dentro desse prazo razoável, o
33
Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
Porto

vendedor considerar o contrato incumprido definitivamente e resolver o contrato nos


termos do artigo 801/2 do CC.
Enquadramento teórico: se eu vendo algo e me vão pagar em x prestações e a
determinada altura me faltam ao pagamento de 1 prestação: eu, vendedor, pergunto-
me “eu deixei pagar em prestações e faltou ao pagamento? Vai é ter já que pagar
tudo.” ou então eu posso pensar assim: “Bem, falta ao pagamento eu quero é acabar
com esta história e ter a coisa que vendi de volta e resolver o contrato”. No fundo são
aqui dois caminhos possíveis que é eu desde logo ir exigir o pagamento da totalidade e
ou tentar resolver o contrato e no fundo é isto que nos perguntam se é ou não
possível.
Como estamos face a um contrato de CV temos de ver se no âmbito do regime da CV
há normas especificas que tratam do assunto e há uma norma especifica que é
aplicável no caso de CV a prestações que é o artigo 934.
A ratio legis do 934 é a de proteger o devedor, o que não é muito normal, as normas
das obrigações normalmente protegem o credor (o direito das obrigações tem um
principal objetivo que é a satisfação do interesse do credor através do cumprimento, o
regime de norma está construído de forma a beneficiar, de proteger o cumprimento),
esta norma é uma norma aplicável no incumprimento e que protege o incumpridor,
mas no fundo percebe-se, o que é que o legislador pretendeu através do 934?
Pretendeu que a relação contratual não implodisse à primeira falha, isso é o devedor
falha uma prestação e o 934 vai aparecer lá a protege-lo de forma a que o credor não
possa logo lançar mão dos remédios gerais (781 e ou 801/2), por isso, o 934 é um
obstáculo a aplicabilidade da possibilidade de resolução 801/2, por um lado e à
possibilidade de aplicação do 781 (perda do beneficio do prazo), sendo que o 934 tem
duas partes:
1º parte - obstáculo à aplicabilidade da possibilidade de resolução 801º/2.
2º parte - obstáculo à possibilidade de aplicação do 781º.
No 934 tem vários requisitos normativos que é preciso estarem preenchidos para se
aplicar a norma se aplique, para que a norma protege o devedor, caso contrário se
falharem requisitos o devedor não está protegido pelo 934 e não estando protegido
pelo 934 significa que o credor pode lançar mão dos remédios gerais, os requisitos
do934 são:
1. Exista uma CV a prestações
2. Entrega da coisa
3. Haja reserva de propriedade (Isto para a primeira parte do 934)
4. É preciso que a prestação em falta não exceda 1/8 parte do preço
Se faltar algum destes requisitos significa que o 934 não se aplica tendo aqui uma nota
quanto à reserva de propriedade porque a reserva de propriedade é requisito apenas
34
Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
Porto

para a aplicação da primeira parte do 934 porque quanto à segunda parte do 934 é o
próprio legislador a dizer quer haja quer não haja reserva de propriedade, por isso
basta que estejam os outros requisitos preenchidos para que efetivamente se aplique
a segunda parte do 934.
Eu, devedor, estou protegido numa Compra e Venda a prestações se a prestação que
eu faltar não exceder 1/8 parte do preço, se me foi feita a entrega da coisa e se houver
reserva de propriedade e estando preenchidos estes requisitos significa eu o credor
não vai poder nem me exigir já o pagamento das restantes prestações, nem resolver o
contrato, a única coisa que pode fazer é pedir juros de mora nos termos do artigo 806º
pela prestação que eu não paguei atempadamente. O que fazer caso não haja lugar à
resolução do contrato e nem sequer à perda do beneficio do prazo.
Conjugado com 934 temos que ter em atenção o artigo 886º, ora bem o artigo 886º é
uma norma geral da CV e sendo uma norma geral da CV significa que é uma norma
especial em relação às normas gerais das obrigações, daí que nos disse que o artigo
886º é uma exceção ao 801º/2, por isso, quando no âmbito da CV, quando há entrega,
transmissão da propriedade, por força do 886º, não se pode resolver o contrato, por
isso também temos de ter atenção ao artigo 886º.
CP 18
A vendeu a B um quadro, pelo preço de 10 mil euros, a ser pago em 10 prestações
iguais, mensais e sucessivas.
Responda às seguintes questões:
a). Pressuponha que ficou acordado que o quadro seria entregue com o pagamento
da quinta prestação. Nesse caso, B faltou ao pagamento da terceira prestação. O que
poderá A fazer?
b). Pressuponha, agora que Berta faltou ao pagamento da sexta prestação. O que
poderá, nesse caso, A fazer?
c) E se B tivesse faltado ao pagamento da sétima prestação? A solução ainda seria a
mesma da alínea anterior?
Qualificando o contrato de compra e venda previsto no artigo 874º, produzindo os
efeitos previstos no 879º, produzindo os efeitos reais previstos no 408º/1 traduzindo-
se na transferência do direito de propriedade por mero efeito do contrato e efeitos
obrigacionais (obrigação da entrega da coisa e obrigação do pagamento do preço),
quanto à obrigação do pagamento do preço estamos perante uma prestação
fracionada.
Quanto à obrigação da entrega da coisa foi colocado um prazo para o seu
cumprimento, isto é, a entrega do quadro iria ser efetuada com o pagamento da 5º
prestação.

35
Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
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a) Face a uma compra e venda a prestações, em termos gerais, em abstrato,


aquilo que o A poderia fazer (não quer dizer que em concreto o possa fazer)
seria exigir, desde logo, o pagamento das restantes prestações por aplicação do
781º e, eventualmente, e desde que houvesse incumprimento definitivo
resolver o contrato nos termos do 801º/2. É obvio que isto não é cumulativo,
ele não vai receber as prestações todas e resolver o contrato, senão estaríamos
perante um nítido enriquecimento sem causa, além de ficar com o preço
voltava a ter o quadro. Uma coisa é pedir a totalidade do pagamento do preço
porque o devedor perde o benefício do prazo nos termos do 781º e, se ele me
pagar a totalidade do preço, está encerrado o tema e não há resolução do
contrato. Outra coisa é: eu exijo o pagamento do restante do preço, ele não
paga e eu até lhe dou um prazo razoável para o pagamento. Não pagando,
converto a mora em incumprimento definitivo e vou resolver o contrato nos
termos do 801º (em abstrato). Como estamos perante uma compra e venda a
prestações, temos uma norma que se aplica na falta do cumprimento de uma
das prestações, artigo 934º. Ora, o 934º, quer a 1ª parte, quer a 2 ª parte, para
se aplicarem é necessário que estejam verificados os requisitos. Aqui na a) dizer
que faltou na 3º prestação e a coisa só seria entregue aquando do pagamento
da 5º, significa que ainda não tinha havido a entrega da coisa. Ora, não
havendo entrega da coisa, falta, desde logo, um requisito comum quer à
aplicabilidade da primeira parte, quer a aplicabilidade da segunda parte. Temos
de concluir no sentido de que o 934º não se aplica neste caso, porque, aquando
da falta de pagamento da prestação, não tinha havido ainda a entrega da coisa.
E, como tal, não se aplicando o 934º, significa que o devedor (B) não está
protegido no âmbito deste preceito legal e, desde logo, podemos dizer que o
781º se aplica neste caso e aplicando-se o 781º, B perde o beneficio do prazo.
Perdendo o beneficio do prazo, artigo 781º, significa que o credor pode, desde
logo, exigir o pagamento restante do preço, isto é, dá-se o vencimento das
restantes prestações, fica a totalidade do preço, ainda não paga, em divida, a
partir do momento que ela falta ao pagamento da terceira prestação. Quanto à
possibilidade de resolução, sabem que além da primeira parte do 934º, há
ainda uma norma que obsta a aplicabilidade do artigo 801º/2 e essa norma é o
artigo 886º. Olhando para o 886º resulta do preceito os seguintes requisitos:
compra e venda, transmissão de propriedade e entrega da coisa. Como não
houve entrega da coisa, o artigo 886º também não se aplica. Isto quer dizer que
o caminho para o 801º/2 está livre e é potencialmente aplicável desde que haja
incumprimento definitivo. Resumindo e concluindo, depois de afastada a
possibilidade de aplicabilidade do 934º e do 886º nós diríamos que, no caso
concreto, o A poderia, apelando à utilização do 781º, exigir o pagamento do
restante preço (B perdeu o beneficio do prazo) e se fosse essa a pretensão dele
poderia converter, através de uma interpelação admonitória, a mora em
incumprimento definitivo e assim revolver o contrato nos termos do artigo
801º/2. É o mesmo que dizer que, se ele quisesse seguir todo este caminho, ele
interpelaria a B para pagar o restante do preço, dando-lhe um prazo razoável
36
Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
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para tal, sob pena de considerar o contrato de compra e venda incumprido


definitivamente com a consequente resolução, artigo 801º/2 do CC. Como é
obvio, quando se chegasse a esse ponto, B no prazo razoável que lhe tinha sido
assinalado não pagava e ele resolvia o contrato nos termos do 801º/2. O que
aconteceria é que teria de aplicar o regime geral da resolução: 432º e seguintes
e, por força do 433º, com remissão ao 289º e 434º/1 a resolução operaria de
forma retroativa e as partes tinham de restituir uma a outra tudo aquilo eu
tivesse sido prestado. A tinha de restituir a B as 2 prestações que já tinha
recebido, sem embargo de ter direito a ser indemnizado no âmbito do
interesse contratual negativo, isto é, ser indemnizado pelos danos que não
teria sofrido se não tivesse celebrado aquele contrato.
b) Já houve a entrega da coisa (foi na 5º prestação). Quanto ao artigo 934º aqui
estão todos os requisitos preenchidos, menos a reserva de propriedade,
consequentemente a primeira parte do 934º não se aplica porque falta a
reserva de propriedade. No entanto, aplica-se a segunda parte e aplicando-se a
2ª parte do 934º, desde logo, podemos dizer que não se aplica o 781º, ou seja,
não houve perda do benefício do prazo. Quanto à resolução não se aplicando a
1ª parte do 934º, vamos ao 886º e, neste caso, o 886º vai aplicar-se porque já
houve a entrega da coisa (e os outros requisitos) e, por força do artigo 886º, o
vendedor não pode resolver o contrato por falta do pagamento do preço,
então, também não pode resolver o contrato. B está protegida nesta relação
contratual. Tem aqui uma consequência à mora na 6º prestação e ela vai ter de
pagar, além da prestação, os juros de mora dessa prestação nos termos do
artigo 806 do CC.
c) Aqui o que muda é que temos 2 prestações e, como já sabem, havendo 2
prestações em falta seguidas, independentemente do valor das mesmas, há um
comportamento reiterado por parte do devedor e ele deixa de merecer a tutela
que lhe é dada pelo 934º que é o mesmo de dizer que os requisitos do 934º
não estão preenchidos e, por isso, o 934º não se aplica. Não se aplicando o
934º, o 781º aplica-se e, por isso, há perda do beneficio do prazo e,
consequentemente, o A pode exigir a B o pagamento do restante do preço e,
depois, importa perceber se poderá haver um incumprimento definitivo, ou
seja, dando lugar à resolução do contrato. Temos de ir ao 886º, uma vez que o
934º não se aplica, e chegados ao 886º, temos os requisitos, então aplica-se e
aplicando-se significa que o A não poderia resolver o contrato. Nesta situação,
o A “apenas” poderia exigir, desde logo, o pagamento da totalidade do preço.
Se não pagar terá que recorrer à garantia da relação jurídico obrigacional, ou
seja, ação creditória. O A vai ter que lançar mão dos meios coercivos para
receber o preço, nomeadamente, vai ter que propor uma ação quando vai
pedir a condenação de B ao pagamento do restante do preço acrescido de juros
de mora e, depois, se B continuar a não pagar, paga na sentença, que é um
titulo executivo, e a ação executiva para pagamento de quantia certa, no
âmbito da qual vai agredir o património da B. Artigo 601º do CC penhora os

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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
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bens do património de B, esses bens serão vendidos e do resultado da venda


executiva será pago o crédito do vendedor (A).

CP 19
Jorge vendeu a Sofia um relógio de coleção pelo preço de € 2.500,00. Ficou
convencionado que o preço seria pago daí a seis meses e foi aposta no contrato uma
cláusula de reserva de propriedade até pagamento integral do preço.
Um mês depois de celebrada a compra e venda, Jorge vendeu aquele mesmo relógio
a Nuno.
Entretanto, Sofia não cumpriu a obrigação de pagamento do preço.
O que poderá Jorge fazer?
R: O contrato de CV celebrado entre Jorge e Sofia (874) produziu os seus efeitos
obrigacionais (879 - b) e c)), mas não os efeitos reais (alínea a) do 879) por força das
partes terem convencionada incluir no contrato uma clausula de reserva de
propriedade. até pagamento integral do preço. a transferência de propriedade sobre o
relógio está, assim, suspensa. Quando Sofia incumpre na sua obrigação de pagar o
preço (obrigação cujo conteúdo é uma prestação instantânea ainda que diferida no
tempo para dali a 6 meses), gera-se imediatamente um incumprimento definitivo
(mora não se verifica porque a prestação que, decorridos os 6 meses, já não seria
possível). Em face deste incumprimento definitivo, pode o Jorge resolver o contrato
por força da clausula de reserva de propriedade. Aqui não se aplica o limite
estabelecido pelo 886º porque não se deu ainda a transferência de propriedade. A
resolução tem efeitos retroativos (434/1). que significa que a propriedade do relógio,
que nunca saiu da esfera jurídica de Jorge, com a resolução do contrato celebrado com
Sofia, transita imediatamente para a esfera jurídica do Nuno a quem Jorge vendeu o
relógio com condição suspensiva decorrente da reserva de propriedade. Conclusão: o
incumprimento de Sofia gera a resolução do contrato que, por sua vez, sendo
retroativa, permite que o posterior contrato de compra e venda celebrado entre Jorge
e Nuno produza, a partir desse momento (da resolução) os seus efeitos reais (879-a).
CP 20
No dia 1 de fevereiro de 2020, Aloísio vendeu a Belchior o seu automóvel, pelo preço
de 2.000 €. Ficou convencionado que o preço seria pago em 10 prestações mensais,
iguais e sucessivas (no valor de 200 € cada), com início no dia 10 de fevereiro de
2020. Belinda foi constituída fiadora da obrigação em causa.
1). Qualifique a prestação de Belchior. Prestação fracionada em que o montante
global está previamente definido sendo o valor dividido em várias frações estando, no
entanto perante apenas uma só obrigação.

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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
Porto

2). Admita que Aloísio tinha prometido vender, em janeiro de 2020, o automóvel a
Inácio. Qual a situação jurídica de Inácio e de Belchior a 2 de fevereiro de 2020?
Haverá aqui um confronto entre um direito real constituído anteriormente e um
direito de crédito constituído posteriormente. Belchior obteve a propriedade no dia 2
de fevereiro de 2020, sendo um direito erga omnes, Inácio tem apenas um direito
relativo face a Aloísio. Inácio é credor de um direito de crédito sobre Aloísio. Aloísio
tinha uma obrigação de indemnizar Inácio nos termos das regras da responsabilidade
civil contratual, 798º e seguintes. O direito real de Belchior sobrepõe-se ao direito de
credito de Inácio.
3). Admita agora que Aloísio tinha hipotecado (e procedido ao respetivo registo) o
automóvel, na sequência de um empréstimo bancário, em dezembro de 2019. Qual a
situação jurídica no dia 2 de fevereiro de 2020. Aqui temos em causa dois direitos
reais. Direito real de garantia (hipoteca) e um direito real de propriedade. No dia 2 de
fevereiro Belchior é proprietário do carro hipotecado.
4). Admita que a 1 de janeiro de 2020, Aloísio tinha dado em locação o automóvel a
Diana pelo período de 3 meses. Qual a situação jurídica de Diana após a celebração
do contrato de compra e venda? Direitos em confronto são o de Aloísio, direito real, o
de Diana é um direito pessoal de gozo, direito especial de crédito. A Diana mantém-se
locatária nos termos do 1057º. E se se tratasse de um contrato de comodato? No caso
do comodato, embora seja um direito pessoal de gozo, não existe uma norma igual ao
1057º, não podendo o comodatário continuar com o gozo do bem. Belchior seria assim
um pleno proprietário. Diana teria de devolver o automóvel.
5) Belchior não pagou a quarta prestação. Aloísio, no dia 15 de maio de 2020, remete
uma carta a Belchior e a Belinda “exigindo todas as prestações vincendas”. Aprecie a
situação em causa. Poderia recorrer à perda do beneficio do prazo, nos termos do
781º.
6). Admita agora que, aquando da conclusão do contrato, foram apostas as seguintes
cláusulas:
- “o vendedor reserva para si a propriedade do automóvel – que foi de imediato
entregue - até integral pagamento do preço” (cl. 2ª);
- “a falta de pagamento de uma prestação, independentemente do seu valor, confere
ao vendedor a faculdade de declarar imediatamente a perda do benefício do prazo
ou a resolução do contrato, prescindido as partes da interpelação admonitória” (cl.
5ª).
Artigo 294º.
7). Imagine que, porque Belchior não pagou a quinta prestação, Aloísio dirige-se a
casa de Belchior e, à revelia deste, apropria-se do automóvel em causa. O que pode
fazer Belchior? Belchior e só detentor, mas pode acionar os meios de tutela da posse

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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
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8). Admita que Aloísio vende o automóvel a Carla a 10 de março de 2020. Quid juris?
Artigo 274º, Carla é proprietária, caso Aloísio cumpra o contrato, a propriedade
passará para este.
9) Belinda, amiga de Belchior, dirige-se a casa de Aloísio para pagar a sexta e a
sétima prestações em nome de Belchior. Aloísio recusa-se a receber as prestações.
No dia seguinte, Aloísio declara resolvido o contrato. Quid juris? Artigo 767º. Trata-se
de uma prestação fungível. Aplica-se o artigo 768º, Aloísio incorre em mora, artigo
813º e seguintes. Belchior não estava em mora, não pode assim Aloísio resolver o
contrato.
10) Belchior não pagou a prestação dos meses de abril e de maio de 2020. O que
aconselharia Aloísio a fazer? Explicite, analisando a cl. 5ª do contrato. Belchior não
encontra proteção no 934 porque se tratam de duas prestações e não apenas uma
como preceitua o artigo. Assim, Aloísio pode optar tanto pelo regime da perda de
benefício de prazo quer pela resolução do contrato por força da reserva de
propriedade que tem. No entanto, tem de primeiro declarar o contrato resolvido
(carta a ser enviada ao devedor, tal como se faz na interpelação admonitória, mas aqui
não se dá prazo extra para regularizar as prestações em incumprimento; apenas se
comunica a resolução do contrato. A resolução é retroativa (434/1) devendo o devedor
restituir o carro e o credor restituir as prestações já recebidas.
CP 21
No dia 1 de fevereiro de 2020, Aloísio vendeu a Belchior o seu computador, pelo
preço de 3.000 €. Ficou convencionado que o preço seria pago em 12 prestações
mensais, iguais e sucessivas (no valor de 250 € cada), com início no dia 10 de
fevereiro de 2020. Belinda foi constituída fiadora da obrigação em causa. O
computador foi, de imediato, entregue a Belchior.
1). Admita que a 25 de janeiro de 2020, Aloísio tinha dado em comodato o
computador a Diana pelo período de 3 meses. Qual a situação jurídica de Diana após
a celebração do contrato de compra e venda? (3 v.)
2) Belchior encarregou Belinda de pagar a segunda prestação junto de Aloísio.
Todavia, Belinda esqueceu-se de proceder ao pagamento. Aloísio, no dia 15 de
março de 2020, remete uma carta a Belchior e a Belinda, onde “exige, de ambos, o
pagamento imediato das prestações vincendas”. Imagine que, em vez disso, Belchior
“declara a resolução do contrato”. Analise, justificando, as duas situações invocadas.
(4 v.)
Admita agora que, aquando da conclusão do contrato, foram apostas as seguinte
cláusulas:
- “o vendedor reserva para si a propriedade do computador até integral pagamento
do preço” (cl. 2º);

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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
Porto

- “se o comprador faltar ao pagamento de duas prestações sucessivas, o vendedor só


pode resolver o contrato se as mesmas, globalmente, excederem 1/5 do preço; para
o efeito, é bastante uma declaração resolutiva dirigida à contraparte, prescindindo
as partes da via admonitória” (cl. 5ª).
3) Belchior não pagou as prestações dos meses de abril e de maio de 2020. O que
aconselharia Aloísio a fazer? Explicite, analisando especialmente a cl. 5ª do contrato
e fundamente a sua resposta legalmente. (8 v.)
4) Admita que, a 2 de junho de 2020, o computador foi furtado de casa de Belchior,
na sequência de um assalto. Este alega o facto de o assalto não lhe ser imputável
para - baseando-se na figura da exceção de não cumprimento do contrato - deixar de
pagar as prestações seguintes. Terá razão? (5 v.)
CP 22
Jorge vendeu a Sofia um relógio de coleção, pelo preço de € 2.500,00. Ficou
convencionado que o preço seria pago daí a seis meses e foi aposta no contrato uma
cláusula de reserva de propriedade até pagamento integral do preço.
Um mês depois de celebrado o contrato, Jorge vendeu aquele mesmo relógio a
Nuno.
Dois meses depois de celebrado o contrato de compra e venda com Jorge, Sofia,
verbalmente, prometeu vender aquele relógio a Cristina e esta prometeu comprar.
a). Chegado o momento do pagamento, Nuno tem dúvidas se deve ou não proceder
ao pagamento do preço.
Quid Iuris?
b). Pronuncie-se sobre a validade substancial e formal do contrato celebrado entre
Sofia e Cristina.
R:
CP 23
Sofia, emigrante em França, possui uma casa em Arcos de Valdevez, localidade de
onde é natural. Na sua ausência, e após um forte temporal, o seu tio mandou
restaurar o telhado da casa por as infiltrações de águas pluviais e a humidade
estarem a danificar todo o seu recheio. Porque o empreiteiro fez um preço de amigo,
deu também uma pintadela ao exterior, sendo certo que era conhecida a
repugnância de Sofia pela cor rosa com que a casa foi pintada.
Quid Iuris?
R: na mesma situação, temos uma gestão regular na medida em que a primeira parte
corresponde ao interesse e à vontade presumível da dona do negocio, neste caso o imóvel de
Sofia, nos termos do artigo 468º/1 CC. Na segunda parte, temos uma gestão irregular porque
não corresponde nem ao interesse nem à vontade real da Sofia, nos termos do artigo 468º/2.

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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
Porto

Temos uma gestão de negocio alheio, sem autorização de Sofia e no interesse e por conta
desta, estando assim perante uma gestão de negócios nos termos do artigo 464º do Código
Civil. A ausência de Sofia e a sua impossibilidade de contactar demonstra que não houve
autorização de Sofia na sua gestão. A ausência da autorização tem de resulta não só da
ausência física, da impossibilidade de contactar e da emergência da situação. A pintura de cor
de rosa é uma gestão irregular, o seu património em nada acresceu com a pintura de cor de
rosa se esta a pintar de outra cor, no entanto o gestor teve despesas. Só interessam as
situações de urgência ou de emergência. Uma questão é evitar que se estrague o recheio,
pintar a casa de alguém não é algo ponderoso, que faça sentido, tem de ser situações
extremas. A condução do negocio alheio tem de ser feita no interesse do dono do negocio e
não no interesse do gestor. Verificam-se os três elementos da noção do 464º.

No caso da restauração do telhado trata-se de uma gestão regular, indo ao encontro da


vontade e interesse presumível da Sofia, que era evitar que o recheio da casa se estragasse.
Quanto à pintura da casa estamos perante uma gestão irregular porque não vai de encontro
ao interesse da Sofia, não sendo o valor gasto pelo seu tio devolvido. O tio de Sofia era assim
responsável nos termos do artigo 466º/2 e aplica-se ainda a primeira parte do artigo 466º/1 do
Código Civil.

Quanto à questão da pintura, se for considerado representação sem poderes por parte do tio,
nos termos do artigo 268º, o negocio é ineficaz face a Sofia até que esta a ratifique (ou não).
Representação sem poderes dá-se quando ele se intitula gestor do negocio alheio e compra
para a Sofia.

Mandato sem representação ele compra em seu próprio nome e depois é que tem que
transmitir os efeitos do negocio.

Quem contratou o serviço foi o tio da Sofia em nome próprio, tendo este de pagar o valor ao
empreiteiro transferindo os efeitos do negocio para a Sofia e “fazer contas com ela”. A gestão
representativa deixa o terceiro numa posição mais sensível.

Não havendo aprovação por parte de Sofia, tio poderia demonstrar a regularidade da sua
gestão tendo direito a receber tudo o que tiver despendido acrescido de juros, na parte que
diz respeito à pintura, estamos perante uma gestão irregular, não sendo aprovado por Sofia, o
tio só teria direito a receber aquilo com que injustamente a dona do negocio tenha
enriquecido.

Quanto aos efeitos entre o dono do negocio e terceiros, aplica-se as regras da representação
sem poderes, produzindo efeitos caso seja ratificado por aquele, ou seja, se o gestor atuar a
seu nome, o negocio fica sujeito às regras do mandato sem representação, aproveitando o
gestor os efeitos que terá que transmitir ao dono do negocio nos termos dos artigos 471º,
268º e 1180º.

CP 24
Em janeiro de 2020, Carlota celebrou com uma entidade exploradora de um parque
de campismo um contrato nos termos do qual esta se obriga a ceder o gozo
temporário de um dado espaço, conjuntamente com a prestação de dados serviços
em condições de conforto, higiene e segurança (incumbindo-lhe especialmente um
dever de vigilância), mediante o pagamento por aquela de uma retribuição pelo

42
Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
Porto

campista. O contrato tinha a duração de um ano, sendo renovável automaticamente,


se nada fosse dito em sentido contrário. No dia 10 de julho de 2020, foram furtados
diversos objetos da caravana de Carlota. Quid juris?
R:
CP 25
Gertrudes celebrou com o banco Y, por escrito, um negócio que designaram por
“contrato de locação de cofre-forte”.
Nesse contrato, foi convencionado o seguinte:
- “O banco coloca à disposição do cliente um cofre-forte, para nele serem colocados
objetos em segurança”;
- A perda ou deterioração desses objetos serão sempre da responsabilidade do
cliente, pelo que a CAIXA apenas se responsabiliza pela segurança dos mesmos”.
Ocorreu um furto nos cofres-fortes do banco, tendo sido furtado todo o conteúdo do
cofre de Gertrudes. Veio-se a provar que o sistema de alarme estava no dia em causa
desligado. Qualifique o contrato celebrado e diga se o banco é responsável pelo furto
dos bens em causa do cofre de Gertrudes.
CP 26
A empresa X celebrou um contrato de compra e venda de pneus novos com a
empresa Y, com montagem dos respetivos pneus pelos funcionários da referida
empresa X. Os pneus foram efetivamente montados no dia aprazado. Dois meses
volvidos, ocorreu uma rutura do pneu dianteiro, o que levou à perda de controlo do
veículo e ao seu despiste, causando, no mesmo, danos graves que impossibilitaram a
reparação do veículo. A causa do rebentamento deveu-se à aplicação dos pneus, já
que o tipo de pneu era desaconselhado. Qualifique o contrato em causa e diga se a
empresa X está obrigada a indemnizar a empresa Y.

CP 27
António, fabricante de artigos de cerâmica, vendeu por catálogo a Bernardo,
proprietário de um hotel, 10 estatuetas de barro, com as mesmas características,
embora de cores diversas.
O contrato foi celebrado em 1 de abril do ano em curso, tendo ficado acordado que
António, entre os dias 15 e 30 desse mês, colocaria as estatuetas num armazém seu e
que Bernardo aí as iria levantar. Dois dias antes da data aprazada para o acto de

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Porto

levantamento (15 de maio) dos objectos, um pequeno incêndio fortuito atingiu


precisamente o sector onde aqueles se encontravam, destruindo-os. Quid juris?
R:
CP 28
Jorge vendeu a Sofia um relógio de coleção, pelo preço de € 2.500,00. Ficou
convencionado que o preço seria pago daí a seis meses e foi aposta no contrato uma
cláusula de reserva de propriedade até pagamento integral do preço.
Um mês depois de celebrado o contrato, Jorge vendeu aquele mesmo relógio a
Nuno.
Dois meses depois de celebrado o contrato de compra e venda com Jorge, Sofia,
verbalmente, prometeu vender aquele relógio a Cristina e esta prometeu comprar.
a). Chegado o momento do pagamento, Nuno tem dúvidas se deve ou não proceder
ao pagamento do preço.
Quid Iuris?
b). Pronuncie-se sobre a validade substancial e formal do contrato celebrado entre
Sofia e Cristina.
CP 29
António pretende adquirir um automóvel de colecção, propriedade de Bento. Para
esse efeito, encontra-se com este num bar, onde discutem o negócio. Bento diz a
António que não pretende vender o automóvel uma vez que necessita dele para
transportar a filha no dia do casamento, quando esta resolver casar. Mas, diz-lhe
também que, nos próximos dois anos, se vier a vender o automóvel, será António o
comprador, desde que este esteja disposto a pagar-lhe o mesmo preço que outro
qualquer interessado venha eventualmente a oferecer. E isso mesmo é redigido, de
forma muito clara, por Bento num guardanapo de papel, que depois de por ele
assinado é entregue a António.
Responda de forma autónoma às seguintes questões:
1. Um mês depois da reunião no bar, Bento pretende alugar o automóvel a Inês
pelo prazo de dois anos. Pode fazê-lo? (2 val.)
R: estamos perante um pacto de preferência. No contrato promessa as partes
obrigam-se a contratar. No pacto de preferência as partes não se obrigam a
celebrar a compra e venda, obrigam-se a, na eventualidade de celebrar a
compra e venda, dar preferência a determinado individuo. Não se obrigaram a
contratar neste caso. Pode fazê-lo, não há qualquer tipo de incompatibilidade.
Esta situação tem a ver com o principio da relatividade, o vinculo entre António
e Bento, é um determinado vinculo que vigora apenas entre aquelas partes.
Não tem efeitos para com Inês, nem tem efeitos em relação ao Bento no que

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diz respeito a outro tipo de obrigação que este venha a contrair. São contratos
totalmente distintos que não estão em colisão.
2. Pressuponha agora que, um mês depois da reunião no bar, Bento telefonou a
António dizendo-lhe que Carlos lhe tinha proposto comprar o automóvel por
€20.000,00 e se António estava interessado em adquirir o veículo por esse
preço. Três semanas depois, na falta de notícias de António, Bento vende o
automóvel a Carlos, ficando declarado o preço de € 20.000,00. Oito meses
passados sobre esta venda, António obteve elementos probatórios de que o
preço real efectivamente pago foi € 10.000,00. António, indignado com toda
esta situação, pretende saber se pode reagir e de que forma. (3 val.)
R:
3. Dois meses depois da reunião no bar, Bento telefonou para casa de António,
o qual se encontrava de férias em África, tendo o telefone sido atendido por
Pedro irmão deste. Bento disse-lhe que queria vender o automóvel por €
20.000,00. Atenta a ausência do irmão, que estaria incontactável durante um
mês, e para que António não perdesse a possibilidade de adquirir o
automóvel, Pedro dirigiu-se a casa de Bento e disse-lhe que não conseguiu
contactar António, mas que, como presumia que o seu irmão queria comprar
o automóvel, se prontificava a adquirir o veiculo em nome de António e a
entregar um cheque para pagamento do preço. Bento aceitou e Pedro levou o
automóvel para casa de António. Quando António regressou, posto ao
corrente da situação, declarou não estar interessado em tal negócio; Bento,
por seu lado, afirmou que o negócio estava feito; e Pedro queria ter de volta a
quantia que pagou a Bento. Quid iuris? ( 4 val.)
R: estamos perante uma gestão de negócios nos termos dos artigos 464º e
seguintes. Teremos de analisar esta gestão nas relações entre Pedro e António,
gestor e dono do negocio, e nas relações entre Pedro, António e Bento, gestor,
dono do negocio e terceiro. A gestão é regular ou quando há aprovação, ou nos
termos do artigo 468º/1. Temos a situação do 468º/1, a despesa foi feita no
interesse e de acordo com a vontade presumível do dono do negócio.
Consideraríamos a que diz respeito de Pedro, uma gestão regular. Pedro
conseguiria aprovar até através do testemunho de Bento e do pacto de
preferência de António de que este ultimo pretendia adquirir aquele
automóvel, ou seja, o homem medio teria feito este negocio. Na gestão de
negócios, a culpa do gestor afere-se em concreto, não tem de atuar de acordo
com os termos do homem medio, pessoa razoável, nem demasiado diligente,
nem demasiado preguiçosa. O instituto da gestão de negócios dá voz à
solidariedade, ao altruísmo, à entreajuda das pessoas, não é exigível ao gestor
mais cuidado ou mais diligencia do que aquela que aquele utiliza na gestão dos
seus próprios assuntos. António teria que dar ao seu irmão, Pedro, os 20,000€,
ou seja, o montante que Pedro despendeu e os respetivos juros. Na relação
entre Pedro e Bento, estamos perante uma gestão representativa, nos termos
do artigo 471º, já que Pedro atuou efetivamente em nome do seu irmão. Para
que o negocio produza efeitos entre o dono do negocio e terceiro, é necessário
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Porto

que o dono ratifique, senão não produzira os seus efeitos típicos. Ou seja, não
tendo António ratificado, o negocio não operou os seus efeitos, não houve
transmissão da propriedade, ou seja, Bento teria de devolver os 20.000€ a
Pedro. Se fosse mandato sem representação, o Pedro tivesse apresentado
apenas per si, o Bento poderia dizer que o negocio estava feito, ou seja, não
seria necessário que António ratificasse. O negocio neste caso não estaria
concluído até que António o ratificasse. Não ratificando ficava por concluir. Só
um terceiro pouco esclarecido é que aceitaria uma gestão representativa já que
seria necessário que o terceiro ratificasse sempre o negocio. Na gestão de
negócios é essencial que se faça a distinção das relações entre gestor e dono do
negocio (efeitos internos, sendo regular ou irregular, nas internas falamos de
aprovação, feita nos termos do 469º) e relações entre o gestor, dono do
negocio e terceiro (efeitos externos, aqui fica mais complicado porque o
terceiro é alheio à situação podendo ser prejudicado se não for ratificado o
negocio, nas externas falamos de ratificação, feita nos termos do 268º).
CP 30
André vende a Belarmino 100kg da sua produção de laranjas. Embora o preço tenha
sido pago de imediato, ficou acordado que Belarmino, por questões logísticas, só iria
recolher as laranjas no dia seguinte. Naquela noite, um forte temporal abateu-se
sobe a zona onde se localizava o armazém de André, fazendo abater o telhado do
mesmo. Toda a produção de André ficou destruída. Quando Belarmino se
apresentou para levantar as laranjas, André diz-lhe que não tem laranjas para
entregar e que também não tem de devolver o dinheiro, uma vez que a Lei está do
seu lado.
Belarmino procura um advogado para resolver a situação e este diz-lhe que
efetivamente André não violou o contrato celebrado com Belarmino.
Quid iuris?
R: estamos perante um contrato de compra e venda, nos termos dos artigos 874º e
seguintes, com os efeitos essenciais previstos no artigo 879º do Código Civil. Os 100kg
de laranjas são uma obrigação genérica já que apenas se encontra determinada
quanto ao peso dentro de um género, neste caso, 100kg de laranjas, como previsto no
artigo 539º do Código Civil. Como ainda não tinha sido efetuada a entrega da coisa,
não se tinha igualmente transferido o risco. E ainda, a obrigação é genérica e não
especifica porque não se deu a entrega nem qualquer outra circunstancia prevista no
artigo 541º que concentrasse a obrigação. Não é considerado termo a favor de André
já que as bananas continuaram em seu poder por simples razão de questões logísticas.
Dito isto, o risco permaneceu em André, nos termos do 796º/1. Com a destruição de
toda a produção de laranjas, estamos perante uma impossibilidade superveniente
objetiva como previsto no artigo 790º/1. Tendo-se tornado a prestação de André
impossível, Belarmino fica também desobrigado da sua prestação, que é, neste caso, o
dinheiro. Nos termos do artigo 795º/1, André terá que devolver o dinheiro a

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Belarmino, podendo este exigir a entrega do dinheiro aquele e André não terá,
obviamente, de entregar as bananas. Caso André não devolva o dinheiro poderá
responder pelo regime do enriquecimento ilícito, nos termos dos artigos 473º e
seguintes. Quanto ao enriquecimento ilícito:
473ºss CC
Carater subsidiário
468º gestão negocio
583/2 cessão de créditos
645/1/2 fiança
1336º acessão industrial
1340º + 1341º
Requisitos:
- Enriquecimento de uma pessoa (vantagem de carater patrimonial, aumento do ativo
patrimonial, diminuição do passivo, uso ou consumo de coisa alheia, exercício de
direito alheio ou a poupança de despesa)
- Não pode ter causa justificativa (ou nunca teve fundamento que justificasse o
aumento daquele património ou eventualmente perdeu o fundamento que tinha
inicialmente) - falta de causa (alegada e provada nos termos do 342º) por quem
pretende a restituição do individuo
- Enriquecimento à custa de quem pretende a restituição: tem que ter sido privado do
seu ativo patrimonial ou da diminuição do seu passivo
- O prazo é curto: 482º (remeter para 309º - prazo de 20 anos)
CP 31
Sofia, emigrante em França, possui uma casa em Arcos de Valdevez, localidade de
onde é natural. Na sua ausência, e após um forte temporal, o seu tio mandou
restaurar o telhado da casa por as infiltrações de águas pluviais e a humidade
estarem a danificar todo o seu recheio. Porque o empreiteiro fez um preço de amigo,
deu também uma pintadela ao exterior, sendo certo que era conhecida a
repugnância de Sofia pela cor rosa com que a casa foi pintada.
Quid Iuris?
R:
R: na mesma situação, temos uma gestão regular na medida em que a primeira parte
corresponde ao interesse e à vontade presumível da dona do negocio, neste caso o
imóvel de Sofia, nos termos do artigo 468º/1 CC. Na segunda parte, temos uma gestão

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irregular porque não corresponde nem ao interesse nem à vontade real da Sofia, nos
termos do artigo 468º/2.
Temos uma gestão de negocio alheio, sem autorização de Sofia e no interesse e por
conta desta, estando assim perante uma gestão de negócios nos termos do artigo 464º
do Código Civil. A ausência de Sofia e a sua impossibilidade de contactar demonstra
que não houve autorização de Sofia na sua gestão. A ausência da autorização tem de
resulta não só da ausência física, da impossibilidade de contactar e da emergência da
situação. A pintura de cor de rosa é uma gestão irregular, o seu património em nada
acresceu com a pintura de cor de rosa se esta a pintar de outra cor, no entanto o
gestor teve despesas. Só interessam as situações de urgência ou de emergência. Uma
questão é evitar que se estrague o recheio, pintar a casa de alguém não é algo
ponderoso, que faça sentido, tem de ser situações extremas. A condução do negocio
alheio tem de ser feita no interesse do dono do negocio e não no interesse do gestor.
Verificam-se os três elementos da noção do 464º.
No caso da restauração do telhado trata-se de uma gestão regular, indo ao encontro
da vontade e interesse presumível da Sofia, que era evitar que o recheio da casa se
estragasse. Quanto à pintura da casa estamos perante uma gestão irregular porque
não vai de encontro ao interesse da Sofia, não sendo o valor gasto pelo seu tio
devolvido. O tio de Sofia era assim responsável nos termos do artigo 466º/2 e aplica-se
ainda a primeira parte do artigo 466º/1 do Código Civil.
Quanto à questão da pintura, se for considerado representação sem poderes por parte
do tio, nos termos do artigo 268º, o negocio é ineficaz face a Sofia até que esta a
ratifique (ou não). Representação sem poderes dá-se quando ele se intitula gestor do
negocio alheio e compra para a Sofia.
Mandato sem representação ele compra em seu próprio nome e depois é que tem que
transmitir os efeitos do negocio.
Quem contratou o serviço foi o tio da Sofia em nome próprio, tendo este de pagar o
valor ao empreiteiro transferindo os efeitos do negocio para a Sofia e “fazer contas
com ela”. A gestão representativa deixa o terceiro numa posição mais sensível.
Não havendo aprovação por parte de Sofia, tio poderia demonstrar a regularidade da
sua gestão tendo direito a receber tudo o que tiver despendido acrescido de juros, na
parte que diz respeito à pintura, estamos perante uma gestão irregular, não sendo
aprovado por Sofia, o tio só teria direito a receber aquilo com que injustamente a dona
do negocio tenha enriquecido.
Quanto aos efeitos entre o dono do negocio e terceiros, aplica-se as regras da
representação sem poderes, produzindo efeitos caso seja ratificado por aquele, ou
seja, se o gestor atuar a seu nome, o negocio fica sujeito às regras do mandato sem
representação, aproveitando o gestor os efeitos que terá que transmitir ao dono do
negocio nos termos dos artigos 471º, 268º e 1180º.
CP 32
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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
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Contrato promessa compra e venda prédio urbano (fração autónoma)


A 27 de fevereiro de 2015, através de documento escrito, redigido e assinado em
casa
de Jorge, foi acordado o seguinte:
Nuno prometeu vender a Jorge, o qual prometeu comprar, uma fracção autónoma
destinada a escritório, pelo preço de € 50.000,00, tendo sido logo paga a quantia de €
25.000,00, ficando convencionado que a escritura pública de compra e venda se
realizaria no dia 7 de setembro de 2015 no Cartório Notarial de Matosinhos, pelas
15:00.
a) Suponha que Nuno não compareceu à escritura pública de compra e venda. Como
e de que forma poderá Jorge reagir?
b) Suponha que aquando da outorga do documento Nuno ainda não era proprietário
da fracção autónoma que prometeu vender a Jorge.
Aprecie a validade do negócio jurídico.
CP 33
Contrato promessa compra e venda prédio urbano (terreno para construção)
Nuno, que se dedica à compra e venda de imóveis, encetou negociações com Jorge
para lhe adquirir um lote de terreno, para aí construir um armazém.
Entretanto, aparece Sofia, uma cliente de Nuno, que pretende adquirir um terreno
com as
características daquele. Perante o bom negócio que se apresenta e, apesar de ainda
não o ter adquirido a Jorge, Nuno vê uma boa oportunidade de ganhar dinheiro e
decide celebrar um contrato de promessa de compra e venda com Sofia, através do
qual se vinculam a vender e comprar, respetivamente, o terreno pelo preço de €
50.000,00.
Redigiram e assinaram o contrato no escritório do Nuno, sem qualquer outro
formalismo e Sofia entrega-lhe, como principio de pagamento do preço € 10.000,00.
Pronuncie-se quanto à validade formal e substancial do contrato de promessa de
compra e venda.
CP 34
Contrato promessa compra e venda prédio urbano (fração autónoma) A 27 de
fevereiro de 2015, através de documento escrito, redigido e assinado em casa de
Jorge, foi acordado o seguinte: Nuno prometeu vender a Jorge, o qual prometeu
comprar, uma fracção autónoma destinada a escritório, pelo preço de € 50.000,00,
tendo sido logo paga a quantia de € 25.000,00, ficando convencionado que a
escritura pública de compra e venda se realizaria no dia 7 de setembro de 2015 no

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Cartório Notarial de Matosinhos, pelas 15:00. a) Suponha que Nuno não compareceu
à escritura pública de compra e venda. Como e de que forma poderá Jorge reagir? b)
Suponha que aquando da outorga do documento Nuno ainda não era proprietário da
fracção autónoma que prometeu vender a Jorge. Aprecie a validade do negócio
jurídico.
CP 35
Contrato promessa compra e venda prédio urbano (terreno para construção) Nuno,
que se dedica à compra e venda de imóveis, encetou negociações com Jorge para lhe
adquirir um lote de terreno, para aí construir um armazém. Entretanto, aparece
Sofia, uma cliente de Nuno, que pretende adquirir um terreno com as características
daquele. Perante o bom negócio que se apresenta e, apesar de ainda não o ter
adquirido a Jorge, Nuno vê uma boa oportunidade de ganhar dinheiro e decide
celebrar um contrato promessa de compra e venda com Sofia, através do qual se
vinculam a vender e comprar, respetivamente, o terreno pelo preço de € 50.000,00.
Redigiram e assinaram o contrato no escritório do Nuno, sem qualquer outro
formalismo e Sofia entrega-lhe, como principio de pagamento do preço € 10.000,00.
Pronuncie-se quanto à validade formal e substancial do contrato de promessa de
compra e venda.
CP 36
Sofia herdou um valioso quadro por morte da sua tia. Nuno está interessado em
adquiri-lo pelo que de imediato redigiram um documento através do qual a Sofia
promete vender a Nuno e Nuno promete comprar a Sofia o aludido quadro pelo
preço de 10.000,00€.
a) Qual a forma exigível para o contrato celebrado entre Sofia e Nuno.
b) 3 dias depois de celebrado o contrato, sofia constata que o quadro estava
numa casa de família e tinha sido destruído já há 2 semanas em virtude de
um pequeno incendio.
c) Depois de celebrado o contrato, Cristina, famosa galerista abordou Sofia
oferecendo-lhe 20.000,00€ pela pintura. Sofia afirmou que já estava
comprometida com Nuno em virtude de contrato promessa celebrado.
Cristina insistiu até que convenceu Sofia a vender-lhe o quadro.
CP 37
A prometeu vender a B e este prometeu comprar pelo preço de 100 mil euros, B
entregou a A 10 mil euros. Ficou convencionado que a escritura pública de CV
realizar-se ia no dia 14 de abril de 2021. Uma semana depois de celebrado o contrato
promessa, A vendeu o apartamento a C.
Quid iuris?
Pressuponha que as partes tinham, nos termos do artigo 413 atribuído eficácia real
ao contrato promessa. A resposta seria a mesma?

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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
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R: temos um contrato promessa bilateral nos termos do artigo 410 e seguintes houve a
entrega de uma determinada quantia (10 mil) sem se dizer a que titulo como estamos
perante um contrato de promessa de CV, por força do artigo 441 presume-se que essa
quantia foi entregue a titulo de sinal, por isso não há nenhum facto que leve à ilição
dessa previsão e, por isso temos 10 mil euros entregues a titulo de sinal.
Efeitos jurídicos: apenas efeitos obrigacionais, neste caso uma obrigação composta por
2 vínculos e também já sabem que o objeto dessa obrigação é a prestação de facto
jurídico.
Tinham convencionado que a data seria dia 14 de abril sendo que uma semana apos a
celebração do contrato de promessa o A vendeu o apartamento do C. olhando para
este ato temos um contrato de CV 879, 408, nº1 transmissão de propriedade da esfera
jurídica do A para a do C, C passou a ser proprietário do imóvel.
Ora a questão aqui é qual a consequência disto no contrato de promessa?
O contrato de promessa só cria efeitos obrigacionais e a posição jurídica do B é apenas
oponível ao A ele não pode opor a C.
Já o contrário pode acontecer o C como proprietário por via da aquisição derivada que
fez tem posição erga omnes incluindo ao B.
Desta venda a terceiro o A tornou impossível o contrato de promessa ao tornar
impossível o cumprimento contrato de promessa há automaticamente incumprimento
definitivo do mesmo e havendo incumprimento definitivo do contrato de promessa o
que B tem de fazer é resolver o contrato pelo 801, nº2 e depois por regime do sinal do
442 teria direito ao sinal em dobro.

Sub hipótese
A resposta não seria a mesma. Ora bem se o contrato de promessa entre o A e o B
tivesse eficácia real nos termos do 413 quer dizer que as partes lhe quiseram atribuir
esse valor jurídico e para tal teriam de preencher determinados requisitos. Desde logo
um requisito formal o contrato de promessa quando e quer atribuir eficácia real os
requisitos de forma estão no artigo 413 e se olharem para o nº2 tem lá os requisitos de
forma do contrato de promessa com eficácia real (leu) isto se para o contrato
prometido se exigir a mesma forma. Reparem aqui no âmbito do 413 há equiparação
de forma, mas isto é atribuir eficácia real significa se para o contrato de prometido a lei
exige escritura púbica ou documento particular autenticado então o contrato de
promessa com eficácia real vai ter que seguir a mesma forma, se eventualmente para
o contrato prometido não for necessário este tipo de documento então para o
contrato de promessa é preciso um documento particular com reconhecimento das
assinaturas.
No nosso CP como estávamos face a um contrato de promessa de CV de um
apartamento ele teria de ser reduzido a um documento particular autenticado ou
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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
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escritura pública e como é obvio já estão preenchidos todos os requisitos de forma do


410, nº2 e 3. Para além deste requisito de forma, para a eficácia real ainda é preciso
mais dois requisitos, é preciso: as partes declarem expressamente no contrato que
querem atribuir a eficácia real e por fim é necessário que o contrato seja levado a
registo, neste caso a conservatória do registo predial.
Preenchidos estes requisitos o contrato tem eficácia real, ou seja, o contrato
excecionalmente por força do artigo 5 e 6 do C Registo Predial com o 413 a posição das
promitentes passa a ser oponível a terceiros, neste caso a posição de B é oponível a
terceiros e goza de prioridade de tempo (é uma característica de um direito real e não
aos de crédito). A posição de B é oponível a todas as posições que venham a ser
constituídas sendo que se essas posições não lhe são oponíveis a ele são ineficazes
quanto a ele.
Logo o contrato entre A e C padeciam de uma ineficácia relativa, isto é, é um contrato
que não sofre de nenhuma invalidade o problema é que ele sofre de uma ineficácia
relativa, o problema é que o contrato entre A e C é ineficaz quanto ao B porque o B por
via do contrato de promessa com eficácia real a sua posição jurídica goza de
oponibilidade face a terceiros e a posição de B é oponível a C e como tal a CV entre A e
C não é oponível ao B.
B iria efetivar essa oponibilidade através de uma ação de execução especifica, artigo
830 do CC (ação declarativa no âmbito da qual o tribunal através da sentença vai
substituir a declaração do promitente faltoso, isto é, na própria sentença que é
declarada a venda. A ação aqui seria contra A, a posição de B retroage ao momento do
contrato e todas as posições que estão para a frente são inoponíveis a B.
CP 38
A prometeu vender a B e este prometeu comprar, um apartamento por 100.000
euros. B entregou, na assinatura do contrato, a quantia de 10 mil euros a A.
Ficou convencionado que o contrato definitivo de CV realizar-se-ia no dia 13 de abril
de 2021.
Chegados ao dia 13, A não compareceu para realizar a escritura publica de CV, tendo
enviado uma mensagem de correio eletrónico na qual informava a B que o contrato
era nulo porque a mulher dele (A) não tinha assinado o contrato e ainda porque não
houve reconhecimento presencial das assinaturas.
Quid iuris?
Temos um contrato de promessa de CV, artigo 410 do CC. Do contrato de promessa
resultam apenas efeitos obrigacionais e neste caso o contrato de promessa gera uma
obrigação formada por 2 vínculos, portanto, estamos face um contrato de promessa
bilateral em que as duas partes se obrigam. O objeto desta prestação é uma prestação
de facto jurídica, isto é quer o A quer o B vinculam-se a no futuro celebrarem a CV.

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Para celebrarem a CV um vai ter de declarar que vende e o outro vai ter de declarar
que compra e é a isto que estão obrigados no futuro.
O B entregou aquando da celebração do contrato de promessa 10 mil euro ao A
importa qualificar esta entrega de dinheiro, artigo 441 (regime do sinal), aí temos uma
presunção ilidível (comporta prova em contrário). Quanto à presunção ilidível o
legislador presume que todas as quantias entregues no âmbito de um contrato de
promessa de CV essas quantias são entregues a titulo de sinal, quer isto dizer que as
partes podem dizer no contrato de promessa que o promitente-comprador entrega X a
titulo de sinal. Se nada disserem presume-se, pelo artigo 441, que essa quantia foi
entregue a título de sinal e em caso de incumprimento um dos mecanismos
eventualmente aplicáveis ao incumprimento do contrato de promessa é o regime do
sinal do artigo 442 (se aquele que deixa de cumprir definitivamente o contrato de
promessa é o promitente vendedor vai ter que devolver ao promitente comprador
aquilo que recebeu e outro tanto, o sinal em dobro, se aquele que incumpre
definitivamente o contrato de promessa é o promitente comprador vai perder a
quantia que entregou a titulo de sinal daí a importância da qualificação da quantia
entregue ser a titulo de sinal por isso vai em caso de incumprimento definitivo vai
despoletar o regime do sinal do 442).

No nosso CP as partes nada disseram a única coisa que sabemos é que o promitente-
comprador entregou ao promitente vendedor a quantia de 10 mil euros assim sendo
vamos aplicar a presunção do artigo 441 e presume-se que aquela quantia foi entregue
a nível de sinal.
O A NÃO COMPARECEU….
Temos de pensar que se ele não comparece para celebrar a escritura pública no dia 13
das duas uma ou tem uma causa que legitime essa sua atuação ou então vamos estar
aqui presente uma questão de incumprimento do contrato de promessa.

Certo é que ele não foi, mas mandou uma mensagem a dizer que o contrato é nulo…
Se o A tiver razão e o contrato for nulo então nunca produziu efeitos, ora se nunca
produziu efeitos quer isto dizer que ele não comparecendo à escritura publica não
está a incumprir porque não há nada para cumprir e assim sendo das duas uma ou o A
tem razão ( em 1 ou nos 2 argumentos) e aí o contrato é nulo e nunca produziu efeitos
e como tal tem de restituir tudo o que foi prestado ou então o A não tem razão na sua
fundamento e isso terá como consequência que ele não cumpriu o contrato de
promessa porque não apareceu no dia marcado.
Vamos analisar cada argumento:

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1. A mulher deveria ter assinado o contrato de promessa- 1687 o contrato nunca


seria nulo o que seria era anulável, sendo que se for anulado a consequência continua
a ser a mesma da nulidade.
Quando ele diz que a mulher deveria ter assinado o contrato e quando ele o diz ele
esta a referir-se à norma que o 1682- A que nos diz que na alienação de bens imoveis
é sempre preciso o consentimento do outro conjunge a não ser que entre eles vigore a
separação de bens no silencio o regime supletivo é o da comunhão de adquiridos e
como tal pelo 1682- A efetivamente se um dos cônjuges alienar um imóvel, mesmo
que seja bem próprio precisa sempre do consentimento do outro sob pena do negócio,
artigo 1687 ser inválido.
Temos de ver se aplicamos o 1682 ao contrato de promessa porque esta norma tem a
ver com a alienação, neste caso à venda, se eu vender eu preciso do consentimento,
mas e se eu prometer continuo a precisar do consentimento? (principio da
equiparação 410, nº1)
Do principio da equiparação resulta que ao contrato de promessa vamos aplicar as
normas do contrato prometido com duas exceções: normas quanto à forma (o
contrato promessa tem forma própria) e normas que pela sua natureza não se devam
aplicar ao contrato de promessa.
O artigo 1682-A é uma norma de legitimidade no sentido de que eu para transmitir um
bem imóvel preciso do consentimento do meu cônjuge sob pena de invalidade. Norma
direcionada à transmissão de propriedade sobre um imóvel, ora como sabem sob
forma alguma nos estamos a transmitir a propriedade sob um imóvel. Assim sendo
esta norma pela sua natureza também não parece se aplicar ao contrato de promessa
é uma norma aplicável ao contrato prometido que não faz sentido aplicar ao contrato
de promessa. Esta norma do 1682- A é uma norma que está nas exceções do princípio
da equiparação é uma norma que pela sua ratio não deve ser aplicável ao contrato de
promessa e consequentemente o A não tem razão e o A podia ter prometido vender o
apartamento sem que a mulher tivesse intervenção.
A mulher depois se não assinar escritura pública temos um incumprimento do
contrato, importará perceber se isso levará a uma impossibilidade culposa ou não
culposa do A e que remete para o facto de saber se ele teria uma obrigação de meios
ou de resultado, isto é, se ele ficou obrigado a diligenciar para que depois a mulher
desse consentimento na venda ou se estava mesmo obrigado a que a mulher desse
consentimento na venda.
2. Não houve reconhecimento das assinaturas- forma do contrato promessa- o
nosso contrato promessa era um contrato promessa de CV. Do 875 resulta que a forma
para a CV é documento particular autenticado ou escritura publica logo temos uma
forma especial e se assim é para o contrato de promessa vamos ter de aplicar o nº2 do
410 e daí resulta que a forma exigível é documento particular assinado por uma ou
pelas duas partes consoante seja unilateral ou bilateral. No nosso caso temos um
contrato de promessa era bilateral, logo deveria ser um documento particular assinado
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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
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pelo A e pelo B. Estamos face um contrato promessa de transmissão de direito real de


titulo oneroso sob edifício ou fração autónoma do mesmo e como tal acrescer aos
requisitos do nº2 temos os formalismos do nº3 que são reconhecimento presencial das
assinaturas mais certificação que existe uma licença de habitabilidade (neste caso)
emitida pela CM. A entidade que efetuasse o reconhecimento presencial das
assinaturas e quem reconhece ainda vai dizer que foi transmitida a licença municipal…
e fazendo isto estavam preenchidos os requisitos dos 2 números.
Ora o que parece é que eles assinaram o contrato promessa, mas não houve
reconhecimento presencial das assinaturas e também não houve a certificação que
existisse a licença.
Parece que o A tem razão e se ele tiver razão faltando formalismo à uma violação da
forma e pelo 220 o contrato é nulo e neste caso faltando formalismo o contrato é nulo
e até ai ele tem razão. Só que esta nulidade decorrente da falta de formalismo
decorrente do 410 é aquilo que a doutrina tem vindo a designar como uma nulidade
atípica.
É uma nulidade atípica porque há aqui um desvio pelo menos a 2 características gerais
da nulidade.
Falando da nulidade em termos gerais por força do 286 e ss a nulidade é invocável por
qualquer interessado e é mais é de conhecimento oficioso do tribunal e depois aquilo
que é nulo nunca produziu efeitos e como tal tem por natureza a nulidade é insanável.
E quanto a esta duas características há um desvio da nulidade decorrente do 410, nº3
porque quanto à legitimidade para invocar esta nulidade a regra é que só o promitente
adquirente é que tem legitimidade e não é de conhecimento oficioso. O promitente
alienante só poderá invocar essa nulidade se a falta de formalismos decorrer por falha
exclusiva do promitente adquirente porque se nada for dito o legislador presume que
a culpa aqui é sempre do promitente alienante e, por isso é que o promitente
adquirente é que pode invocar essa nulidade.
(estes formalismos acrescidos visam essencialmente proteger aquilo que se designa a
parte mais fraca(adquirente) e como tal em princípio e em regra é que só ele é que
pode invocar esta nulidade)
(Quanto à certificação da licença além de haver aqui a proteção da parte mais fraca o
legislador também visa é que não entrem no comercio jurídico imoveis que não
estejam deviamente licenciados, os imoveis clandestinos, para entrar no comercio
jurídico o imóvel tem que estar licenciado pela entidade competente que é a CM
territorialmente competente) e não havendo certificação o contrato também será
nulo, mas aqui é sanável se a licença for apresentada a posteriori.
Nesta perspetiva esta nulidade é atípica quanto à legitimidade e quanto à hipótese de
sanação.

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No nosso CP no segundo argumento o A tem razão efetivamente o contrato é nulo


porque faltam os requisitos de forma do 410, nº3 só que ele não poderia invocar essa
nulidade quem poderia invocar essa nulidade é o B e não é o B que a está invocar.
E assim aqui também o A não tem razão.
Assim sendo o A não tem razão em nenhum dos argumentos ( na segunda tem meia
razão) aqui chegados só nos resta dizer é que a falta dele na escritura no dia 13 porque
ele não tem razão no que diz a falta dele consubstancia incumprimento do contrato de
promessa, incumprimento esse que é imputável, não há nada que nos leve a afastar a
presunção do artigo 799, e pelo 804 temos aqui mora isto é a prestação ainda é
possível e mantem-se o interesse do credor quer isto dizer que o A está em mora
desde o dia 13.
CP 39
A, pressupondo que, por morte de seu avo tinha herdado um terreno para
construção, situado junto à praia, prometeu vender aquele imóvel a B, que, por sua
vez, prometeu comprar.
B entregou a A a quantia de 5 mil euros.
Responda as seguintes questões autonomamente:
a). Pressuponha que, uns dias depois de celebrado aquele contrato, A prometeu
vender aquele mesmo terreno a C. Analise as posições jurídicas, em confronto de B e
C.
b). Pressuponha, agora, que A veio invocar a a nulidade do contrato de promessa em
virtude de no momento em que o mesmo foi celebrado o imóvel ainda não lhe
pertencer e, ainda, porque B não assinou o contrato.
Quid iuris?

TEORIA
RESERVA DE PROPRIEDADE
Reserva de propriedade tem uma função de garantia que permite por exemplo ao
vendedor a prestações guardar para si a propriedade até cumprimento da prestação
por parte do comprador.
O vendedor não suporta o risco de perda ou deterioração da coisa, porque ele não a
usa.
O comprador, apesar de não ser proprietário pode usar a coisa, não pode, no entanto,
fruir nem sequer alterar a substancia da coisa.

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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
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Ex: o vendedor entregou o telemóvel defeituoso, vindo mais tarde a descobrir-se. O


comprador pode reagir perante o vendedor pedindo a restituição da prestação ou até
a resolução do contrato.
O comprador a prestações, porque usa a coisa, porque tem o gozo da coisa, pode
utilizar os meios de defesa possessórios.
O comprador a prestações pode vender a coisa, de todo o modo jamais transmite a
propriedade, está limitado pelo principio nemo plus juris. Ex: A não é proprietário. Não
sendo proprietário não pode transmitir o bem a B. Se A é proprietário a titulo
provisório, então ele se quiser alienar o bem a terceiro, só pode transmitir a
propriedade a titulo provisório igualmente.
O que temos na realidade é que o modo como se encara aqui a clausula de reserva de
propriedade nós veremos que o vendedor é proprietário com especifica função de
garantia. O comprador por sua vez não é titular de nenhum direito real, mas sim de um
direito obrigacional forte. Aproxima-se do direito real quando pode utilizar os meios de
defesa da posse e quando corre o risco de perda ou deterioração da coisa.
Artigo 934º - falta de pagamento de uma prestação. Sem embargo de convenção em
contrario – significa que não é possível afastar o regime do artigo 934º; 934º é uma
norma imperativa. É uma imperatividade a favor do comprador a prestações.

Premissas de base da norma e pressupostos (do artigo 934º):


1. Vendida a coisa a prestações.
2. Feita a reserva de propriedade.
3. Entrega da coisa ao comprador.
Só se aplica este artigo caso a prestação em falta não exceda a 1/8 parte do preço.
Falta de pagamento de uma só prestação não implica a resolução do contrato.
Mora do devedor – atraso imputável ao devedor no cumprimento da prestação.
Perda do beneficio do prazo – 781º CC
Nos termos da lei pode transformar-se a mora em incumprimento definitivo pelas
seguintes vias:
1. Impossibilidade de cumprimento.
2. Perda de interesse na prestação.
3. Recusa séria e definitiva em cumprir – recuso-me perante o devedor a cumprir o
contrato, passando a incumprimento definitivo, dando lugar à extinção do contrato.
4. Interpelação admonitória – forma de transformação da mora em incumprimento
definitivo e para que se possa falar desta interpelação, ou seja, a carta que será
remetida ao devedor para o efeito. Tendo que ter 3 pressupostos:

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a). Dar lugar a uma intimação para cumprimento. Ex: celebrado cv a prestações. Não
cumprindo uma prestação, estou a intimá-lo para cumprir a prestação em falta.
b). Fixar um prazo razoável para o cumprimento – fixado jurisprudencialmente em 15
dias.
c). Cominação – consequência que se vai operar por via do decurso do prazo.
O contrato não se extinguiu pela interpelação admonitória, mas posso resolver o
contrato na própria interpelação.
Ex: no dia 10 não houve cumprimento, no dia 11 há atraso, dia 15 envio da carta, dia
17 recebe a carta, ao fim de 10 dias, estamos perante incumprimento definitivo caso o
comprador não cumpra a sua prestação.
Se seguirmos o caminho do incumprimento temporário, invocando a perda do
beneficio do prazo. Não podendo mais tarde ir resolver contrato.
Se estiverem em causa duas prestações em atraso o regime que se aplica não é o do
934º. Para que se considere resolvido o contrato, o incumprimento contratual tem que
ser grave. O incumprimento de duas prestações é um incumprimento grave, sendo
considerado reiterado. Artigo 802º/2.
Regime geral resolutivo – artigos 432º e seguintes.
A compra e venda a prestações é um contrato de cariz fracionado tendo a resolução
efeito retroativo, artigo 434º.
934º protege o comprador a prestações.
886º - falta de pagamento do preço. – Norma supletiva.
796º - numa situação de venda com reserva de propriedade, o vendedor tem o direito
real sobre a coisa, o comprador tem a expectativa real, ou seja, o risco correrá por
aquele que estiver a usar a coisa, a dispor da mesma. Se o comprador está a usar a
coisa, é inaceitável que o risco corra pelo vendedor. Tendo a reserva de propriedade
natureza de condição suspensiva.

PRESTAÇÕES
1. Prestações instantâneas ou integrais =/= 2. prestações
fracionadas =/= 3. prestações duradouras.
1. Executam-se num só momento. Ex: compra e venda de um carro, com pagamento e
entrega da coisa no momento.
2. O montante global é dividido em várias frações, mas existe uma única obrigação.

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Ex: Montante global de 1000€ em prestações de 100€. Só nas prestações fracionadas é


possível aplicar a figura da perda do beneficio do prazo. Temos uma única obrigação
cujo montante global é dividido em varias frações.
3. Dentro das prestações duradouras temos ainda dois tipos de prestações:
continuadas – existem sem interrupção, são ininterruptas, são continuas, ex:
fornecedor do serviço de eletricidade; periódicas – pluralidade de obrigações distintas,
vou consumindo e vou pagando. Imaginem que eu celebro com a EDP um contrato de
prestação de serviços de eletricidade e de gás, do lado da EDP temos uma prestação
duradoura de execução continuada porque o fornecimento da energia elétrica não se
pode interromper em nenhum momento do contrato. A prestação do cliente é
duradoura de execução periódica já que a prestação é exercida uma vez de x em x
tempo. A duração do contrato faz naturalmente estender o valor da prestação,
aumentando em função do decurso do tempo. Nas prestações duradouras não é ainda
invocável a perda do beneficio do prazo. Artigo 1022º - senhorio – prestação
duradoura continuada. Arrendatário – prestação duradoura periódica. O senhorio não
pode invocar a perda do beneficio do prazo, mas pode resolver o contrato. Artigo
434º/2 – no caso dos contratos de execução continuada ou periódica, a resolução não
abrange as prestações já efetuadas. Ex: A vai ao banco e pede um empréstimo. Banco
empresta 12.000€ durante um prazo de 1 ano, ficando obrigados a restituir o valor em
causa no fim desse ano. Estando ainda obrigados a pagar 100 euros de juros todos os
meses. Prestação do banco é instantânea integral e tem ainda a obrigação de renuncia
temporária ao capital. Prestação do mutuário é uma prestação fracionada no que toca
à restituição do montante global de 12.000€ e prestação duradoura periódica no que
toca aos juros, está obrigado ao pagamento mensal de 100€, havendo uma pluralidade
de obrigações distintas. A obrigação de restituição do capital é fracionada e a
obrigação de restituição do juro remuneratório é periódica. Se eu resolver o contrato o
que acontece? Há efeitos retroativos quanto ao capital de 12.000€, mas não relativos
aos juros. Havendo apenas obrigação de restituição de capital, mas não se poderia
exigir o pagamento dos juros. E não se poderia exigir o pagamento dos juros vincendos
porque não foi proporcionado o gozo do capital nesses meses seguintes.

Prestações de resultado =/= prestações de meios


Obrigação de um médico ou advogado é a de fazer tudo o que lhe é exigível para que o
seu paciente fique curado ou que o seu cliente ganhe a ação, mas não está obrigado a
curar o paciente ou a ganhar a ação. É uma prestação de meios.
Na prestação de resultado estaria obrigado a curar o paciente e a ganhar a ação. Ex:
Contrato um pintor para me pintar a casa. Há aqui uma prestação de resultados, o
pintor tem a obrigação de pintar a minha casa.

Prestações fungíveis e infungíveis (artigo 767º CC): artigo 207º


do Código Civil – fungíveis.
Artigo 767º - quem pode fazer a prestação.
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Prestações fungíveis são aquelas que podem ser realizadas por outra pessoa alem do
devedor.
Prestações pecuniárias – se um amigo meu cumprir esta prestação, o credor não se
pode recusar a receber, porque a prestação não o prejudica, no caso concreto.
Caso de contrato de arrendamento para habitação – o fiador interessado no
cumprimento pode intervir pagando o valor em causa. Um amigo pode também
cumprir.

1. Prestações determinadas =/= 2. Prestações indeterminadas


1. São aquelas que se encontram determinadas no momento da constituição da
obrigação.
2. As prestações indeterminadas não se encontram determinadas no momento da
constituição da obrigação. Pode haver critérios de determinação da prestação.
Artigo 883º - determinação do preço; três critérios.
Artigo 1158º/2 e 1211º.x
Artigo 400º - determinação da prestação.

Obrigações genéricas
objeto da prestação esta apenas determinada quanto ao género, peso ou medida. –
Artigo 539º e seguintes – obrigações genéricas.
As obrigações genéricas são aquelas em que o objeto da prestação se encontra apenas
determinado por referencia a certa quantidade de peso ou medida dentro de um
género, mas não está ainda concretamente determinados quais os espécimes daquele
género que irao servir para o cumprimento daquela obrigação.
Não é que o objeto da prestação não esteja determinado, ela está é apenas
determinado quanto ao género, competindo ao devedor a escolha do objeto com o
qual ira cumprir a obrigação, nos termos do 539º.
Um direito real só pode ter por objeto coisas corpóreas e determinadas. Diz-nos o
artigo 408º/2 que no caso da coisa indeterminada a transferência ocorre quando a
coisa for determinada com o conhecimento de ambas as partes. Mas notar que nas
obrigações genéricas compete ao devedor a determinação do objeto, podendo este
determina o objeto com que cumpre a obrigação sem o conhecimento da outra parte.
Efetivamente, a transmissão da propriedade e consequentemente a transferência do
risco ocorre no momento da concentração. Reparar que até que não haja a
concentração o risco corre por conta do devedor – artigo 540º, exatamente por não se
ter transferido a propriedade.
Teorias relativas à concentração da obrigação:

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1. Teoria da escolha – a concentração ocorre no momento em que o devedor


procede à separação das coisas com que pretende cumprir a obrigação.
2. Teoria do envio – não basta que o devedor tenha escolhido os espécimes com
as quais vai cumprir a obrigação. É necessário que proceda ao envio para que o
credor das coisas com que pretende cumprir a obrigação.
3. Teoria da entrega – propõe que a concentração da obrigação ocorra com o
cumprimento da obrigação. A nossa lei consagra a teoria da entrega no artigo
541º contrario sensu.
Artigo 542º - concentração por facto do credor ou de terceiro – número 1 - compete
ao credor a escolha, podendo caber ao credor ou terceiros. Número 2 - Caso credor
não o faça no tempo devido, a escolha caberá ao devedor.
Quando se dá a concentração nas obrigações genéricas? Ocorre com o cumprimento
da obrigação, com o exato momento da entrega. Resulta da lei a contrario senso, nos
termos do artigo 541º. Referindo este artigo os momentos em que a obrigação passa
de genérica a especifica. A obrigação concentra-se antes do cumprimento quando isso
resultar da vontade das partes ou quando o género se extinguir a ponto de restar
apenas uma das coisas nele compreendidas (Ex: perderam-se 90 litros de azeite, num
universo de 100, foram vendidos 10 a X, concentra-se a obrigação antes do
cumprimento), quando o credor incorrer em mora (artigo 813º), ou ainda nos termos
do artigo 797º.
Artigo 540º - Ex: A tinha 2 barris de vinho e tinha a intenção de retirar 10 litros de
determinado barril. Esse barril fica destruído, no entanto, ainda tinha o outro barril, ou
seja, o devedor terá de qualquer das formas de cumprir, não ficará exonerado.

Artigo 543º a 549º - obrigações alternativas – tem uma única obrigação, mas
pelo menos duas escolhas. No número 2 do 543º, na falta de determinação em
contrario a escolha pertence ao devedor.
Artigo 544º - indivisibilidade das prestações.
Artigo 545º - impossibilidade não imputável às partes, a obrigação considera-se
limitada às prestações que forem possíveis.
Artigo 546º - impossibilidade imputável ao devedor.
Artigo 547º - impossibilidade imputável ao credor.
Obrigações pecuniárias – são aquelas que têm dinheiro por objeto. Não são obrigações
pecuniárias por exemplo a obrigação de entregar uma moeda de coleção, as dividas de
valor (indemnização em dinheiro, obrigação de restituição de valor em causa no
âmbito de enriquecimento sem causa).
Artigo 550º e seguintes – obrigações pecuniárias de quantidade.
Artigo 550º - principio nominalista.

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Artigos 552º e seguintes – obrigações pecuniárias de moeda especifica.


Artigo 558º - obrigações em moeda com curso legal apenas no estrangeiro.
Artigos 559º e seguintes – obrigações de juros.
Artigo 212º - os juros são frutos civis. Os juros podem ser legais (quando resultam da
lei) ou convencionais (quando resultam da vontade das partes). Podem ainda ser
moratórios ou remuneratórios (visam remunerar o capital emprestado) ou
indemnizatório.

Obrigações solidárias
512º e seguintes. 513º - a solidariedade só existe quando resulte da lei ou da vontade
das partes. B e C devem 500€ a A, tendo estabelecido B e C uma clausula de
solidariedade, há uma identidade da prestação em relação a todos os sujeitos, ou seja,
B e C são responsáveis pelo pagamento da totalidade da prestação. Se o B pagar a
totalidade, extingue também a obrigação de C perante A, resolvendo-se a situação no
quadro do direito de regresso. A solidariedade pode ser ativa, passiva ou mista.
Solidariedade ativa – Ex: A e B vão abrir uma conta no banco, depositando 10.000,00€
no banco. A e B são credores daqueles 10.000,00€. Significa assim que qualquer deles
podem levantar os 10.000,00€ dessa conta.
Artigo 467º - solidariedade dos gestores.
Na obrigação conjunta (obtida a contrario senso do regime da solidariedade),
imaginando que há 2 devedores, cada um responde pela sua parte. B e C devem 500€
a A.
Ex: Imaginem que A arrendou a B e C um imóvel para fins habitacionais. Aplica-se o
regime da conjunção, pagando 500€ cada um.
Ex: A arrendou a B um imóvel para fins habitacionais e foi constituído fiador, D. Na
falta de pagamento por B, D como é fiador, tem de pagar. A fiança tem natureza
subsidiaria, devido ao artigo 638º do Código Civil.
Ex: A celebrou um contrato com B e C e neste contrato temos uma convenção de
solidariedade. B e C são devedores solidários do preço e A é credor do preço. Estamos
aqui perante uma solidariedade passiva.
Artigo 518º - exclusão do beneficio da divisão. Imaginando que A exigia a B os 500€, B
não se poderia opor o beneficio da divisão.
Artigo 525º - meios de defesa oponíveis pelos condevedores.
Ex: A, B, C, D e E, e B pagou a A. Os con-devedores solidários podem opor ao que
satisfez o direito do credor a falta de decurso do prazo que lhes foi concedido para o
cumprimento da obrigação, bem como qualquer outro meio de defesa.

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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
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Artigo 526º - Beneficio da repartição. “quota-parte repartida proporcionalmente entre


todos os demais.
Ex: B, C, D, E e F. Divida de 1000€, B pagou a A o valor total. B extinguiu assim a divida
dos restantes indivíduos perante A. B tinha direito de regresso no valor de 800€. O que
sucede é que o C está em insolvência, portanto, não tem dinheiro para pagar. A valor
da quota-parte de C é 200€. Isto significa que os 200€ de C seriam repartidos por todos
os restantes devedores (incluindo o credor do regresso), ou seja, 50€ por devedor. B
teria agora apenas direito a 750€.

Prestações de facto
Prestações de facto podem ser de facto positivo: têm por objeto uma ação.
Prestações de facto podem ainda ser de facto negativo: têm por objeto uma omissão.
– Artigo 829º CC. Ex: A vendeu a B o seu estabelecimento comercial, a sua confeitaria,
transmitindo os bens da própria confeitaria. A não pode abrir uma confeitaria ao lado
da que vendeu.

Requisitos legais da prestação – 280º


1.Possibilidade. - Física ou legalmente possível. Ex: celebro um contrato em que me
comprometo a levantar 1 tonelada com as mãos. Nulo devido a impossibilidade física.
Ex: a venda de uma casa já vendida. Nula devido a impossibilidade legal.
2. Licitude. – Ex: alguém celebra um contrato para assassinar outrem. Ex: tratamento
de uma pessoa com desrespeito das regras da medicina.
3. Determinabilidade. – A prestação em principio é ou estará determinada. Artigo
400º.
4. Não contrariedade à ordem publica. – É sempre algo que tem a ver com os valores
em vigor em determinado momento em determinada realidade social.
Garantias pessoais – fiança e aval. - O património de um terceiro responde pelo
cumprimento da obrigação.
Garantias reais – penhor e hipoteca. – Um bem especifico responde pelo
cumprimento da obrigação.
Penhor – coisas moveis não registáveis. Penhor – 666º e seguintes
Execução do penhor – 675º
Hipoteca – coisas imoveis e moveis sujeitas a registo. Na hipoteca o registo é
constitutivo, sucede que só existe hipoteca por via de registo. Hipoteca – 686º e
seguintes

Fiança

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Em relação à fiança, a fiança tem duas caraterísticas:


1º - acessoriedade (637ºCC);
2º - subsidiariedade. Regra da subsidiariedade – beneficio da excussão prévia da
fiança. Artigo 638ºCC
Se é nulo o contrato, é nula a fiança.
Meios de defesa do fiador – artigo 637º CC.
Artigo 638º/1 – norma de natureza supletiva, podendo ser afastada pelas partes. O
fiador responde ao lado do devedor, estando assim plasmado o principio da
solidariedade

Aval
Devemos fugir do aval. Há bem mais meios de defesa do fiador, do que do avalista.
Ex: o que está por trás do aval é um contrato de compra e venda em que alguém se
comprometeu a pagar 10.000€. Imaginando que este contrato era nulo, o avalista teria
ainda que pagar. O único meio de defesa possível ao avalista é a falsidade da
assinatura.
O aval resulta da subscrição de títulos cambiários na qualidade de avalista
respondendo com o seu património. O titulo cambiário é um titulo executivo.
Exemplo: O avalista subscreve um titulo cambiário, sendo que, se o contrato fosse
nulo, ele teria na mesma que pagar.

Responsabilidade
Requisitos da responsabilidade extracontratual: facto, ilicitude, culpa, dano, nexo de
causalidade entre facto e dano.
Responsabilidade civil contratual – artigos 798º e seguintes
Artigo 562.º - Quem estiver obrigado a reparar um dano deve reconstituir a situação
que existiria, se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação.

Obrigação
397º CC
O objeto do direito de crédito é a prestação.
Patrimonialidade – avaliação em dinheiro; credor necessita sempre da colaboração do
devedor para o cumprimento da obrigação (colaboração ou mediação).

Direitos de crédito e direitos reais

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Direitos de crédito (direitos relativos) – operam inter partes, aquilo que eu posso exigir
da contraparte em relação ao negocio celebrado. O objeto do direito de crédito é a
prestação.
Direitos reais (direitos absolutos) – oponíveis erga omnes, o direito é oponível por si só
a toda a gente.
Ex: A prometeu vender a B o seu imóvel. Do contrato promessa só se produzem efeitos
obrigacionais, jamais se produzem efeitos reais no momento. O promitente vendedor
está obrigado a no futuro emanar uma declaração de venda. Mais tarde, A vendeu a C
o imóvel. Havendo assim um confronto entre um direito real e um direito de crédito.
No confronto entre o direito real e o direito de credito, prevalece o primeiro, ficando C
como proprietário.

Incumprimento
O incumprimento pode ser mora – mero atraso no cumprimento ou incumprimento
definitivo.
Estamos perante uma mora quando:
1. A prestação ainda é passível de ser cumprida.
2. O cumprimento da prestação tem ainda que ser do interesse do credor.
Através de uma interpelação admonitória a mora passa a incumprimento definitivo. O
contrato só pode ser resolvido em caso de incumprimento definitivo e não de mora.
A interpelação admonitória pretende pôr termo a uma insegurança jurídica. O prazo
está estabelecido jurisprudencialmente em 15 dias. Interpelação admonitória não tem
requisito formal, mas terá que servir como prova.

Gestão de negócios
Gestão de negócios – 464º e seguintes. É um instituto em que por qualquer razão não
é possível contactar ou pedir autorização ao chamado dono do negocio para atuar em
seu nome. Três caraterísticas:
1. Direção de negócio alheio.
2. No interesse e por conta do respetivo dono.
3. Sem autorização.
Tem um tratamento diferente porque a gestão de negócios é a face visível daquilo que
falamos a solidariedade humana, são atitudes espontâneas, de tentar ajudar no
interesse e por respetiva conta para evitar um mal maior.
Ex: X vai alimentar o cão que Y tem já que este está em parte incerta.

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A partir do momento em que a autorização é emanada, seja através de mandato, de


procuração, já extravasamos as situações da gestão de negócios e caímos no âmbito de
outros institutos jurídicos, como o mandato, empreitada, etc., só nos interessa as
situações em que ou o proprietário não foi passível de ser contactado ou porque é
desconhecido o seu paradeiro. O conceito de negocio alheio é um conceito amplo, no
sentido em que considera negocio alheio qualquer assunto ou interesse de natureza
material ou de natureza moral e espiritual. Qualquer situação que pertença ao
domínio jurídico de uma pessoa e possa ser gerida por outra, é considerada negocio
alheio. O gestor tem consciência de que se trata de um negócio alheio.
Artigo 472º do Código Civil.
Que tipo de atos podem estar inseridos na gestão de negocio alheio? Atos jurídicos,
ato meramente materiais (alimentar o animal, reparar o telhado).
A gestão de negócios normalmente corresponde a atos de mera administração, mas
também podem ser atos de disposição. Determinado individuo ausentou-se, está a
passar os períodos da colheita, um determinado vizinho colhe e vende, devolvendo
depois a venda desses frutos ao ausente, ou seja, neste caso é um ato de disposição.
O enriquecimento sem causa só se aplica quando não é possível aplicar outro instituto
de direito das obrigações.
Da gestão de negócios resultam três tipos de relações diferentes:
1. Deveres do gestor face ao dono do negocio. (artigo 465º, 466º Código Civil)
2. Obrigações do dono do negocio para com o gestor. (artigo 468º Código Civil).
3. Entre o dono do negocio e os terceiros com quem o gestor interagiu. Se o gestor
atua em nome do dono do negocio (gestão representativa 471º e 268º - o negocio
apenas será eficaz para o dono do negocio se este o ratificar, há um acréscimo de risco
para os terceiros porque aceitam contratar com alguém que se intitula como
representante de outrem); o gestor atua em nome próprio (mandato sem
representação – posição mais segura para os terceiros porque os efeitos do negocio se
refletem na esfera jurídica do gestor).
A gestão de negócios deve ser exercida em proveito alheio e não no próprio interesse
do gestor. Deve haver respeito pelo interesse e vontade presumível do dono do
negocio. Ex: Casa do vizinho está degrada e que há uma oportunidade de beneficiar de
determinados subsídios para reabilitação, o vizinho vai reabilitar, e decide pintar de
vermelho, sabendo que o vizinho era do sporting. Ou seja, apesar de ir no interesse da
reabilitação, o vizinho nunca teria interesse em pintar daquela cor, vai contra a
vontade do vizinho.
Artigo 487º do Código Civil.
A gestão de negócios não se deve estender mais que o necessário.
Há dois tipos de gestão:
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1. Regular. – Quando há aprovação, aprovação corresponde à concordância com a


gestão, não quer dizer que o dono do negocio tenha ficado satisfeito, o que significa
tao só é que a partir do momento da aprovação cessa a responsabilidade do gestor.
Ainda que não haja aprovação, a gestão pode ser considerada regular nos termos do
artigo 468º/1 e 469º Código Civil.
2. Irregular. – Artigo 468º/2 do Código Civil, respondendo o dono do negocio segundo
as regras do enriquecimento sem causa. O dono do negocio apenas tem de devolver o
montante em que o seu património aumentou em virtude da gestão de negócios.
Artigo 470º - a gestão não dá direito a qualquer remuneração a menos que
corresponda a exercício da atividade profissional do gestor.
Resumindo e recorrendo aos binómios relativos a este instituto, a gestão de negócios
pode dividir-se por um lado entre (A) regular e irregular e, por outro, entre (B)
representativa e não representativa:
A) 1. Regular – dono do negocio é obrigado a reembolsar o gestor das
despesas que este efetuou no âmbito da gestão de negócios, nos termos do
468º/1, já que a gestão foi exercida em conformidade com o interesse e
vontade, real ou presumível, do dono do negocio, ou quando, ainda que
não o seja, o dono do negocio a aprove, nos termos do artigo 469º.
2. Irregular – o dono do negocio responde apenas segundo as regras do
enriquecimento sem causa, como previsto no artigo 468º/2.
B) 1. Gestão representativa – quando o terceiro aceita contratar com outrem
que atua no nome do dono do negocio sem poderes de representação. Ou seja,
quando o gestor atua em nome do negocio, ainda que sem poderes de
representação. Se o negocio celebrado pelo gestor não for ratificado pelo dono
do negocio, então o negocio será ineficaz quanto ao dono do negocio. 2.
Gestao sem representação – situação em que o gestor atua em nome próprio,
no interesse e por conta do dono do negocio, como objetivo de transmitir os
efeitos do negocio do gestor para o dominus. No caso da gestão representativa
os efeitos, dependendo da ratificação, transmitem-se imediatamente para o
dominus. Aplica-se nesta situação os artigos 1180º e seguintes. O gestor
adquire todos os direitos e assume todos os deveres decorrentes dos seus atos.
Neste caso deverá transmitir os direitos que tenha adquirido – artigo 1181º/1.
Podendo o dono cobrar diretamente os créditos a terceiros. Quanto às
obrigações: ou são assumidas pelo dono do negocio através da assunçao de
dividas – artigo 595º, ou caberá ao dono do negocio, mandante, entregar ao
gestor as quantias necessárias para a sua satisfação, nos termos do 1182º.

Contrato-promessa

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Contrato promessa é um negócio mais do que fundamental na vida prática, é o


negocio, provavelmente, que mais se celebra. Existem tantos contratos promessa
quanto os contratos definitivos.
Artigos 410º a 413º do Código Civil.
Artigo 441º e 442º do Código Civil.
Artigo 830º do Código Civil – execução especifica do contrato promessa.
Regime do sinal – incumprimento definitivo (442º CC).
Regime da execução especifica – incumprimento temporário (830ºCC).
Regime do direito de retenção – incumprimento definitivo (755º/1 f)).
Um contrato-promessa apenas produz efeitos obrigacionais. Se se tratar de um
contrato-promessa de compra e venda de um lado do promitente vendedor é a
obrigação de este emitir mais tarde a sua declaração negocial de venda, do lado do
promitente comprador, a obrigação que dali decorre é a de declaração negocial de
compra. Não há lugar à produção de efeitos reais.
Quando se fala no artigo 413º no contrato-promessa com eficácia real, isto não
significa que essa promessa faça operar efeitos reais.
A matéria do contrato-promessa foi objeto de três alterações:
1. 1980.
2. 1986.
3. 2008.
A única alteração de fundo foi o facto de não haver a aliena f do numero do 755, pois
esta estava integrada no regime geral da promessa.
Noção de contrato-promessa – resulta do artigo 410º/1 CC. 2 requisitos fundamentais:
1. Existência de uma convenção. Tem de resultar de uma especifica convenção e a
completude e suficiência da mesma.
2. Obrigação a que alguém se encontra adstrito de celebrar um determinado contrato.
A celebração do contrato definitivo representa o cumprimento, a execução da
promessa.
Promessa unilateral (apenas uma das partes vinculada à celebração do contrato
definitivo) VS promessa bilateral. O critério seguido tem a ver com o numero de partes
vinculadas a promessa de celebração do contrato.
Artigo 411.º
(Promessa unilateral)

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Se o contrato-promessa vincular apenas uma das partes e não se fixar o prazo dentro
do qual o vínculo é eficaz, pode o tribunal, a requerimento do promitente, fixar à outra
parte um prazo para o exercício do direito, findo o qual este caducará.
Ex: A prometeu a B alienar um determinado bem, mas B não prometeu comprar. De
todo o modo, é que o beneficiário da promessa que não subscreveu a promessa,
entrega uma dada quantia ao promitente alienante. A quantia entregue deve
entender-se como equivalente funcional do sinal, da entrega dessa quantia, decorre
uma espécie de vinculação do beneficiário, de acordo com a maioria da jurisprudência.
Na promessa bilateral ambas as partes se vinculam, a situação aqui é muito diferente
da promessa unilateral. Numa promessa de compra e venda, não tem que
necessariamente constar do documento emergente da promessa a expressão promete
comprar ou promete vender, pode haver uma expressão afim. Também noutra nota
importante, a promessa bilateral pode resultar de documentos distintos.
O incumprimento do contrato-promessa pode ser temporário – podendo haver lugar à
(1.) execução especifica, nos termos do artigo 830º, ou à (2.) indemnização relativa à
mora.
O incumprimento do contrato-promessa pode ainda ser definitivo – podendo haver
lugar à aplicação do (1.) regime do sinal, nos termos do artigo 442º, ou do (2.) regime
da detenção, nos termos do artigo 755º/1 f).
Requisitos para a aplicação da execução especifica do contrato-promessa:
1. Mora ou atraso no cumprimento.
2. “na falta de convenção em contrario”, é possível a execução especifica, ou seja,
imaginemos que há uma convenção expressa no sentido de afastar a possibilidade de
execução especifica ou uma convenção tacita nesse sentido, por exemplo, quando
existir sinal, ou clausula penal, nos termos do artigo 830º/2. A existência do sinal como
sentido contrario ao da possibilidade da execução especifica é uma presunção ilidível.
3. “sempre que a isso não se oponha a natureza da obrigação assumida”.
O artigo 1682º-A não é extensivo ao contrato-promessa.
A ação de execução especifica é uma ação declarativa constitutiva de um direito.
Se temos uma sentença que produz os efeitos negociais, esta sentença vai, portanto,
declarar a venda daquele objeto. É preciso que depois de celebrado o contrato de
compra e venda através de uma decisão judicial seria necessária uma ação judicial
tendente à entrega? A doutrina entende que está implícita naquela decisão a questão
da entrega da coisa.
Acontece que no caso de bens registáveis é preciso ainda proceder ao registo da ação
de execução especifica. O registo tem por função dar publicidade à situação jurídica
dos bens.

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Ex: A vendeu a B um imóvel. O contrato quanto à forma está sujeito à escritura


publica. Tratando-se de um imóvel é preciso registar a aquisição. O registo é
meramente declarativo, não é constitutivo de direitos. O registo não tem por função
transmitir a propriedade. Há uma obrigação de registar e, portanto, com o registo eu
torno o meu ato/bem oponível a terceiros, alargo a eficácia do negocio a terceiros.
Regra da prioridade do registo – código do registo predial.
Artigo 6.º
Prioridade do registo
1 - O direito inscrito em primeiro lugar prevalece sobre os que se lhe seguirem
relativamente aos mesmos bens, por ordem da data dos registos e, dentro da mesma
data, pela ordem temporal das apresentações correspondentes.
Artigo 3.º
Ações, decisões, procedimentos e providências sujeitos a registo
1 - Estão igualmente sujeitos a registo:
a) As ações que tenham por fim, principal ou acessório, o reconhecimento, a
constituição, a modificação ou a extinção de algum dos direitos referidos no artigo
anterior, bem como as ações de impugnação pauliana;
Artigo 92.º
Provisoriedade por natureza
1 - São pedidas como provisórias por natureza as seguintes inscrições:
a) Das ações e procedimentos referidos no artigo 3.º;
Ex: o promitente comprador instaura uma AEE, sendo esta sujeita a registo, nos
termos do artigo 3º, sendo ainda provisoria por natureza, como previsto no artigo
92º/1 a) CRP.
AEE – Registo – Decisão no sentido da EE
Imaginem que foi celebrado entre A e B um contrato promessa de compra e venda.
Essa promessa de compra e venda tinha eficácia obrigacional.
A – B – contrato de compra e venda de um imóvel. 01/2018
A – C – contrato promessa de compra e venda do mesmo imóvel. 01/2020
B instaura uma ação de execução especifica e regista a ação. 02/2020
À partida, seria uma situação de incumprimento definitivo.
O imóvel seria propriedade C, porque o direito real passou de A para C no dia 01/2020.

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“A execução específica do contrato-promessa sem eficácia real, nos termos do artigo


830.º do Código Civil, não é admitida no caso de impossibilidade de cumprimento por
o promitente-vendedor haver transmitido o seu direito real sobre a coisa objecto do
contrato prometido antes de registada a acção de execução específica, ainda que o
terceiro adquirente não haja obtido o registo da aquisição antes do registo da acção; o
registo da acção não confere eficácia real à promessa”. Acórdão uniformizador de
jurisprudência 4/98.
Ex: A promessa bilateral reduzida a escrito e assinada por apenas um dos promitentes,
quando devia ter sido subscrita pelos dois. “E será a parte onerada com a prova
tendente a ilidir a presunção de vontade hipotética (demonstrando, por todos os
meios, que, apesar da falta da parte viciada do contrato, este teria sido querido por
ambos os contraentes, quanto à parte restante, como tal devendo ser mantido) aquela
interessada na validade parcial”.
Contrato-promessa apenas produz efeitos obrigacionais.
Promessa com eficácia obrigacional =/= promessa com eficácia real
As promessas em regra têm eficácia obrigacional, a contrario senso do artigo 413º. O
âmbito de aplicação do 413º do Código Civil é exigente.
Artigo 413º - eficácia real da promessa.
3 tipos de requisitos: (A) substanciais, (B) de forma e (C) de publicidade. Ao todo 5
requisitos (3 substanciais, 1 de forma e 1 de publicidade), sendo estes requisitos
cumulativos:
A) 1. Promessa de transmissão ou constituição de direitos reais. 2. Tendo por objeto
bens registáveis. 3. Mediante declaração expressa, ou seja, a promessa com eficácia
real só poderá operar mediante declaração expressa, não se basta com uma mera
declaração tácita
B) 4. 413º/2.
C) 5. Inscrição no registo. Está sujeita a registo “a promessa de alienação ou oneração
… se lhes tiver sido atribuída eficácia real”.
Ex: se A prometer vender a B um imóvel, se B se prometer a comprar e A falhar com a
promessa de venda, B poderá intentar uma ação de execução especifica com vista ao
cumprimento do contrato, nos termos do artigo 830º. Entretanto, A vende a C, indo ao
registo estaria lá uma promessa de venda registada.
Artigo 2º/1 f) Código Registo Predial
Artigo 2.º
Factos sujeitos a registo
1 - Estão sujeitos a registo:

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f) A promessa de alienação ou oneração, os pactos de preferência e a disposição


testamentária de preferência, se lhes tiver sido atribuída eficácia real, bem como a
cessão da posição contratual emergente desses factos;
O registo tem caraterística de publicidade e é condição de oponibilidade de terceiros.
O registo, neste caso, protege o promitente cumpridor. O promitente cumpridor, tem
a possibilidade de instauração de uma ação de execução especifica.
A prometeu vender a B, um determinado objeto registável, atribuindo eficácia real. No
entanto, mais tarde vendeu a C o mesmo objeto. A venda de A a C é valida, no
entanto, é ineficaz nos termos do artigo 2º/1 f). A venda não é nula porque não se
trata da venda de bens alheios.
Regime legal do contrato-promessa – normas gerais – artigo 410º e ss. Regime
aplicável ao contrato promessa é o do contrato definitivo tendo aqui o principio da
equiparação subjacente. Significa que vamos aplicar em principio as regras relativas à
compra e venda à promessa de compra e venda, etc…. Significando também que
iremos aplicar as normais gerais dos negócios jurídicos.
Quanto as disposições relativas à forma e aquelas que não se devam considerar
extensivas ao contrato-promessa não se aplica ao contrato promessa as disposições
relativas aos contratos definitivos. Ou seja, quanto aquelas não se aplica o principio da
equiparação.
Ex: A prometeu vender a B um terreno, B prometeu comprar. Ou seja, este negocio
está sujeito a escritura publica nos termos do artigo 875º do Código Civil. No entanto,
relativamente ao contrato promessa basta um documento escrito assinado pelas
partes em que estas se vinculam. Aqui não se verifica o principio da equiparação.
Ex: Imaginando que A e B celebram um contrato que só pede documento escrito só
vale também por documento escrito, aqui temos o principio da equiparação.
Ex: para o contrato definitivo o legislador basta-se com uma declaração verbal, o
mesmo vale para o contrato promessa.
Artigo 410º/3 – forma, reconhecimento presencial das assinaturas e certificação da
existência da respetiva licença.
Há regras que não se devem considerar extensivas ao contrato promessa.
Ex: Artigo 879º/a) do Código Civil é aplicável ao contrato promessa? Não.
Normas fundamentais: 1682º-A do Código Civil. Aplica-se esta norma ao contrato-
promessa? Sim. Um contrato promessa celebrado por um dos cônjuges é um contrato
perfeitamente valido. Porque? Porque o contrato promessa produz apenas efeitos
obrigacionais. O que daqui resulta para o promitente vendedor é que ele terá de obter
o consentimento do outro cônjuge para a outorga do contrato definitivo de compra e
venda. Se não há consentimento do outro cônjuge estamos perante uma situação de

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incumprimento contratual, a menos que faça tudo ao seu alcance para obter o
consentimento e caso não o obtenha não é responsável.
Tese da redução do negócio jurídico (tese dominante) – contrato promessa é
formalmente nulo, mas há lugar à conservação do negocio em relação aquele que
subscreveu o respetivo contrato promessa ao abrigo do artigo 292º do código civil.
O tribunal considera prevalente o direito real de C apesar de não ter registado a
aquisição, sobre o direito de crédito de B, ainda que registado. – Acórdão
uniformizador de jurisprudência 4/98
Imaginemos que B incumpre e que as partes acordaram que a sanção para o não
cumprimento é 5000,00€. Leva a que as partes façam de tudo para cumprir.
Do incumprimento temporário decorre a possibilidade de instaurar uma ação de
execução especifica.
Incumprimento definitivo, quando? Do ponto de vista da lei há 4 causas que podem
conduzir ao incumprimento definitivo:
1. Situação de impossibilidade de cumprimento – 801ºCC
2. Perda do interesse do credor – 808º/1CC – afere-se objetivamente.
3. Interpelação admonitória:
a) Intimação para o cumprimento.
b) Prazo suplementar, certo e razoável (adequado, e se o prazo não for razoável,
ou seja, não permitir, de forma objetiva, que a outra parte cumpra? Aquele que
interpelou admonitoriamente é o incumpridor, havendo a inversão do incumprimento)
para a outra parte cumprir.
c) Cominação.
O incumprimento definitivo não é o mesmo que resolução do contrato. O
incumprimento definitivo visa transformar a mora em incumprimento definitivo, sendo
que a declaração de resolução do contrato pode ser posterior à interpelação
admonitória ou a declaração de resolução pode ela própria integrar a interpelação
admonitória, ou seja, com o incumprimento definitivo, ocorre imediatamente a
resolução do contrato.
4. Recusa séria e definitiva em cumprir.
Podemos ter ainda convenções resolutivas. Ex: verificada a hipótese A, a consequência
é a do incumprimento definitivo.
Em quase todos os contratos-promessa há convenções resolutivas:

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Ex1: A e B prometem outorgar a escritura publica no dia 5 de maio – clausula de prazo


relativo, o que significa que a situação jurídica aqui é apenas de mora. Quando estiver
marcada uma data e uma das partes não comparecer.
Ex2: as partes podem dizer que o contrato definitivo deve ser celebrado no dia 5 de
maio, sob pena de incumprimento definitivo e resolução do contrato.
O local da escritura publica tem também de ser convencionado.

Regime do sinal
Incumprimento definitivo
Direito de retenção
Regime do sinal – 442º
Caso prático: A promitente vendedor, prometeu vender um imóvel por 200.000,00€ a
B, promitente comprador, que prometeu comprar. B entregou ainda a quantia de
40.000,00€ a titulo de sinal.
Hipótese1: B deixou de cumprir, perde os 40.000,00€. – 442º/2 primeira parte.
Hipótese2: A deixou de cumprir, B tem direito ao dobro do sinal, ou seja, 80.000,00€. –
442º/2 segunda parte.
Hipótese3: imaginemos que o imóvel valorizou até aos 300.000,00€ à data do não
cumprimento. De acordo com a formula de indemnização, nos termos do artigo 442º/2
ultima parte: valor da indemnização = (valor da coisa – preço convencionado) + sinal
pago. Ou seja, neste caso, o valor da indemnização seria = (300.000,00€ - 200.000,00€)
+ 40.000,00€ = 140.000,00€.
O artigo 442º/3 deve-se considerar uma norma não escrita.
A segunda parte do nº3 do artigo 442º pode até ser considero um abuso de direito,
venire contra factum proprio.
Quando o dobro do sinal for manifestamente excessivo, o tribunal pode, de acordo
com a equidade, reduzi-lo.
Direito de retenção – 755º/1 f).
3 requisitos:
1. Beneficiário de promessa de transmissão ou constituição de direito real.
2. Tradição da coisa a que se refere o contrato prometido.
3. Credito resultante do não cumprimento imputável à outra parte.

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O direito de retenção é real porque tem na sua base a coisa.


O regime do sinal (442º) é o regime indemnizatório. Quando o dobro do sinal for um
valor manifestamente excessivo, aplica-se analogicamente o regime do artigo 812º.
Regime do direito de retenção – 755º/1 f). – visa reter a coisa até que lhe seja paga a
indemnização. Jamais dá a propriedade. A norma pretende proteger o credor retentor
de um direito habitacional.
Documento autentico – ex: escritura publica.
Documento particular – ex: documento escrito elaborado por particulares.
410º/3:
1. Contrato oneroso.
2. Transmissão ou constituição de direito real.
3. Sobre edifício ou fração autónoma dele, já construído, em construção ou a construir
(exclui-se o terreno agrícola)
4. Reconhecimento presencial das assinaturas.
5. Certificação da licença.
CPCV de fração autónoma:
1. Documento escrito particular – forma (220º) – nulidade.
2. Reconhecimento presencial das assinaturas; certificação – formalidades (220º e
294º).
Ultima parte do 410º/3, exceção à regra do 286º. Só a contraparte, ou seja, o que
prometeu receber o direito, é que pode invocar a nulidade. E o C, que é um
interessado em invocar a nulidade, pode fazê-lo? Não, assento 15/94. E o tribunal,
oficiosamente? Não, assento 3/95. Nulidade atípica.
“as partes renunciam ao direito de invocar a nulidade decorrente da ausência de
formalidades”. Cláusula nula.
Abuso de direito – instituto geral e vale para qualquer direito e a consequência
imediata é a da paralisação dos efeitos desse direito, sem prejuízo de indemnização.
Ex: imaginem que o contato de arrendamento exige a forma escrita e as partes não
celebram segundo essa forma. O arrendatário, pagou a renda, um ano depois o
senhorio vem invocar a nulidade do contrato por falta de forma.
830º/3 – o direito à execução especifica não pode ser afastado pelas partes nas
promessas a que se refere o nº3 do artigo 410º.
Direitos de preferência podem ser legais ou convencionais.

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Sujeito vinculado à preferência (A) e o titular do direito de preferência (B). Ex: A


projetou a venda a C por 200.000,00€. O B por via do pacto de preferência terá o
direito a adquirir nos mesmos termos. A terá que notificar B para preferência e ainda
deve identificar o terceiro adquirente.
1. Diz que quer preferir.
2. Diz que não quer.
3. Ou o direito extingue-se.
Quanto à comunicação, a lei não faz nenhuma alusão. Carta registada com aviso de
receção é o meio mais eficaz para prova ou até um email.
A ação de preferência (1410º) tem uma função semelhante à da execução especifica. A
vendeu a C, quando devia ter vendido a B. B instaura uma ação de preferência para
tomar para si a quota alienada.
O contrato de doação não é compatível com o exercício do direito de preferência.

Tipos de contratos:
Contrato é um acordo dirigido à produção de efeitos jurídicos. É um facto humano,
voluntario, lícito, formado por 2 ou mais declarações concordantes que produzem
efeitos jurídicos conformes à intenção (vontade) manifestada.
Contratos podem ser (1.) quoad effectum ou (2.) quoad constitutionem:
1. Basta o mero consenso das partes. Ex: Compra e venda, arrendamento, empreitada,
etc.
2. Não prescindem, para alem do consenso, da forma, de um ato constitutivo. Ex:
mútuo não prescinde da entrega do dinheiro, como o penhor não prescinde da entrega
da coisa.
Contratos podem ser (1.) reais ou (2.) obrigacionais:
1. Transmissão da propriedade. Ex: Compra e venda, doação.
2. Direitos de gozo. Locação, aluguer, empreitada, prestação de serviços.
Contratos podem ser (1.) sinalagmáticos ou (2.) unilaterais ou (3.) bilaterais
imperfeitos.
1. Obrigações ligadas por um nexo de correspetividade. Ex: Compra e venda. Locador
está obrigado a ceder ao locatário o gozo da coisa, o locatário está obrigado ao
pagamento da renda. Artigo 428º.
2. Obrigações para apenas uma das partes. Ex: doação.
3. Obrigações para apenas uma das partes, podendo vir mais tarde a produzir-se
obrigações para ambas as partes. Ex: comodato.

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Contratos podem ser (1.) nominados ou (2.) inominados. (nos contratos atípicos
teremos que observar as clausulas desse contrato e em primeira linha avaliar a
validade das clausulas nesse especifico contrato, aplicando também as normas gerais
dos contratos).
1. Regime definido, típico: compra e venda, locação (típicos) e hospedagem (atípico).
2. Concessão comercial (atípico).
Contratos podem ser (1.) mistos ou (2.) coligados:
1. Apenas um contrato que podem englobar figuras de vários contratos.
2. Temos dois ou mais contratos ligados por um nexo especifico.

Enriquecimento sem causa


O artigo 473º/1 permite o exercício da ação de enriquecimento sem causa sempre que
alguém obtenha um enriquecimento, à custa de outrem, sem causa justificativa. De
notar que o artigo 474º lhe atribui natureza subsidiaria. O empobrecido só poderá
deitar mão deste instituto jurídico quando lhe esteja vedado outro qualquer
fundamento que lhe permita obter o que sem causa justificativa locupletara.
Pressupostos:
1. Enriquecimento: este enriquecimento deve ser entendido de vantagem de
carater patrimonial. Excluindo-se neste âmbito o que não seja suscetível de
avaliação pecuniária. O que pode ser objeto de uma prestação também pode
ser objeto de restituição nos termos do artigo 398º/2. O enriquecimento deve
ser identificado como uma aquisição injusta que deverá ser restituída.
2. Obtido à custa de outrem: isto é, o enriquecimento tem de ser imputável à
esfera de outra pessoa. Daí se justifique que se tenha de restituir.
3. Sem causa justificativa: há que verificar se no âmbito das relações jurídicas
entre o enriquecido e o empobrecido, existe alguma situação que legitime a
manutenção do enriquecimento na esfera do enriquecido.
Prazos: Artigo 482º - 3 anos a contar da data que o credor teve conhecimento do
Direito que lhe compete e da pessoa responsável. O prazo máximo é de 20 anos,
relativo à prescrição ordinária, nos termos do artigo 309º.
O ónus da prova recai sobre o alegado empobrecido que pretende a restituição do
que lhe foi locupletado sem causa justificativa, com a regra geral do artigo 342º/1.

Acórdãos relevantes:
Ac. STj, DE 8.9.2009 (URBANO DIAS) Processo 456/09.6YFLSB
A ilicitude no âmbito da responsabilidade civil contratual decorre da violação de um
dever negocial.

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Ac. STJ, de 17.10.2019 (CATARINA SERRA), Proc. 1565/16.0T8PNF.P1.S1


Ac. STJ, de 19.9.2019 (ROSA TCHING) Processo nº 1817/16.0T8PNF.P1.S2
Ac. Rel. Coimbra, de 1.3.2016 (MARIA JOÃO AREIAS), Proc. nº 2258/13.6TBFIG.C1
DL 133/2009

AGRADECIMENTOS:
Adriana Borges

Ana Rita Alves

David Silva

Eduardo Leão

Érica Araújo

Gabriel Pinho

João Paulo Silva

Manuela

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Teoria Geral das Obrigações – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte -
Porto

Marlene Ferreira

Matilde Campos

Miguel Ledo

Pedro Gomes

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