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DPCD – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte - Porto

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DPCD – 2º ano Licenciatura em Direito na Universidade Lusíada Norte - Porto

Com o inicio da pandemia COVID-19 em 2020, em Portugal, veio também mais tempo livre no
sentido em que nos encontrávamos em confinamento geral obrigatório. Com mais tempo livre,
já que, por exemplo, as horas despendidas em transportes diariamente para a faculdade
podiam ser agora direcionadas para outras questões. Decidi então, literalmente de um dia
para o outro, criar a CAD, Comunidade de Aficionados de Direito. Com que objetivo? Queria
ligar os estudantes de Direito de todo o país, queria divulgar e criticar as mais recentes notícias
jurídico-políticas, queria levar a cabo iniciativas que aproveitassem a todo e qualquer jurista,
professor, estudante, advogado, etc… Criei o site, a página no Instagram e assim se começou a
erguer o projeto. Entretanto, com as aulas online, pensei também em elaborar apontamentos
semanais e divulgar com os meus colegas, utópico para um trabalho a sós, mas perfeitamente
possível com a entreajuda dos meus colegas porque cada grupo de estudantes faria os
apontamentos semanais de cada cadeira. Porque fazer os apontamentos semanais? A resposta
é extensa, mas simples. Com a “obrigação” de preparar esses mesmos apontamentos, tenho
também um duplo dever de assistir às aulas, de perceber e apontar as mesmas, porque não o
fazendo, falharia comigo e com os restantes colegas com quem me comprometi a partilhar os
apontamentos. Desta forma, dividimos até pelos vários estudantes a tarefa de recolher os
escritos relativos às diversas matérias. É trabalhoso, mas, inevitavelmente, ao preocuparmo-
nos com nos próprios estamos também a ajudar todos os outros alunos. Ou seja, no 1º ano,
começamos apenas a partir de março com os apontamentos semanais, mas no 2º ano, ano
letivo 2020/2021, os apontamentos semanais começaram no inicio e acabaram apenas no fim
do ano letivo! Dito isto, pode conter falhas de escrita ou de direito, foi feito ao longo do tempo
por juristas em formação, entregue semanalmente, portanto, é compreensível e pedimos
também que quando notada alguma falha grave nesse sentido, que nos seja comunicado. Este
projeto ajudou também a impulsionar um ambiente saudável no curso de Direito na nossa
universidade, não que já não o houvesse, mas esta iniciativa só o veio melhorar. Esperamos
ainda que esta iniciativa inspire ad aeternum o maior número de estudantes possíveis, já que
ficou demonstrado que a entreajuda tem efeitos positivos para todos nós. Se tiveres interesse
em colaborar connosco, envia-nos mensagem no Instagram. Somos vários estudantes da
licenciatura em Direito com vontade de mudar, ajudar e com disponibilidade em ser ajudados.
Obrigado a todos aqueles que todos os dias se esforçam por uma comunidade melhor,
saudavelmente competitiva, consciente e dedicada.

João Paulo Silva, Fundador da Comunidade de Aficionados do Direito.

Direito Processual Civil Declarativo

1.Fases da ação declarativa comum.


Fases do Processo Declarativo Comum e a sua função: A dedução de uma pretensão em juízo
vai sempre depender da observância de determinadas regras e preceitos legais, de cariz
adjetivo, que tem de ser conhecimento das partes, quer dos mandatários, quer do tribunal,
quer do conhecimento da secretaria. Todos os intervenientes processuais devem ter
conhecimento das regras de devem pautar o seu comportamento processual.

Por outro lado, estas regras têm um cariz imperativo, sob pena de sofrer inevitavelmente as
consequências jurídico-processuais devido à inobservância das regras.

A indispensabilidade de as partes cumprirem os ônus ou os deveres que sobre elas recaem, ou


seja, ninguém é obrigado a fazer nada, mas se não fizer aquilo que, em princípio, lhe está

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indicado a fazer, a parte ira sofrer uma consequência desvantajosa do facto de não ter
cumprido com essa determinação que estava em sede de código processo civil. Ex: o réu não é
obrigado a contestar, porém, é estabelecido no artigo 569º, nº1, pode protestar no prazo de
30 dias. Porém, se ele não o quiser fazer, ele tem de ter a consequência que pode sofrer
determinadas consequências, uma delas é a Revelia, previsto no 566º e ss.

O processo declarativo ao nível da sua tramitação consubstancia em numerosos atos


processuais, ora esses atos sejam das partes, dos seus mandatários, sejam da secretaria ou do
magistrado judicial. O conjunto desses atos processuais vão então formar a tramitação do
formalismo do processo declarativo, e devemos ter conhecimento das fases que compõem o
processo declarativo comum. Essas fases classicamente são 5 fases, começa no artigo 552º até
ao 626º. A instrução está no 410º e ss.

Pese embora, o processo declarativo comum percorra estas 5 fases, em certas situações, isso
poderá não ocorrer. Se logo na fase dos articulados, o reu é citado para contestar e entra em
contacto com o mandatário do autor e lhe propõe um determinado acordo para fazer cessar a
relação jurídico processual de imediato, e na pratica, as partes fazem uma transação -
referência legal, artigo 283º ss.

A transação na pratica é um acordo entre o autor e o réu, mediante o qual eles cedem
reciprocamente no âmbito dos seus próprios interesses. Se o autor prevê e pede a condenação
do reu de 25mil e se o reu não estiver na disposição de pagar essa quantias, mas propõe o
pagamento de 15 mil euros e o autor aceita, as partes vão chegar a acordo e celebrar uma
transação- Artigo 277º, d). Idêntico raciocínio pode ser usado em fases mais posteriores, nos
termos do artigo 595º, n.1, b) - vamos ter uma figura chamada despacho saneador-sentença.
Ele poderá ser concluído não numa fase de sentença, mas numa fase preparatória.

Sendo assim temos processos que ocorrem em diferentes fases. A prova documental, em
principio, não ocorrerá na fase de instrução, mas na fase dos articulados. A prova testemunhal
não ocorrerá na fase da instrução, mas na fase da audiência final. 604º.

1.1. Primeira fase: Fase dos Articulados.


Os articulados são peças escritas que apresentam as suas pretensões, expõe os respetivos
argumentos perante o tribunal, assim definindo e limitando os termos do litigio.

Denominam-se de articulados porque as deduções processuais são efetuadas por artigos. Esta
dedução por artigos é obrigatória nas ações, incidentes e procedimentos cautelares. É ainda
obrigatória quando houver mandatário a constituir.

É a fase introdutória do processo. É aqui que se vão delimitar os termos da ação. É no âmbito
dos articulados que se delimitavam os contornos fácticos da ação.

Nos termos do artigo 5º, nº1, as partes devem alegar os factos essenciais que constituem a
causa de pedir e aqueles em que se baseiem as exceções invocadas. A exposição de razões de
facto incide sobre as partes. Contrariamente ao que se segue à chamada matéria de direito,
que pese embora que possam ser expostas pelas partes, normalmente, incumbe não as partes,
mas ao tribunal ou ao juiz titular do processo- artigo 5º, nº3.

Consequência da não exposição das alegações de facto - Nós podemos ter uma falta total de
alegação das razões de direito, a parte não é obrigada a indicar as razões de direito, mas já não
podemos ter uma falta de exposição das alegações de facto, porque isso levará à ineptidão da
petição inicial por inexistência da chamada causa de pedir.

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A petição inicial e a contestação podem acontecer em todo e qualquer processo declarativo


comum e os outros, a replica e os articulados supervenientes, são articulados excecionais.
Porque só mediante observância de determinados requisitos é que as partes poderão lançar
mãos dos mesmos (relativamente aos articulados excecionais).

Se tivermos uma contestação de defesa, quer por impugnação, quer por exceção, isso não vai
possibilitar ao autor que ele use a réplica para dar resposta a essas mesmas exceções, poderá
utilizar a contestação. Mas se, pelo contrário, tiverem uma contestação-reconvenção, a réplica
vai servir para impugnar essa contestação-reconvenção.

Esta dedução por artigos pelos factos que interessam à fundamentação do pedido ou da
defesa é obrigatória nas ações, nos seus incidentes e nos seus procedimentos cautelares.
Também é obrigatória quando houver mandatário constituído. Naquelas circunstâncias, do
artigo 40º do CPC, onde há a possibilidade de em determinadas ações, designadamente onde
não é admissível o recurso ordinário, têm um valor compreendido até à relação da primeira
instância, nessas ações é possível que as partes não estejam representadas por mandatários e
então podem representarem-se a si mesmas e nesse caso concreto não é obrigatório a forma
articulada e daí resulta que a narração articulada implica determinados conhecimentos
técnico-jurídicos.

Remetemos ao artigo 147º, nº1, a definição dos articulados. Quando falamos em peças, neste
caso, falamos em peças processuais e não procedimentais.

O numero 1, diz que tanto são articulados as peças que são apresentadas pelo sujeito ativo da
relação jurídico processual, isto é, o autor. Também são articulados aqueles que são
apresentadas pelo sujeito passivo da relação jurídico processual, ou seja, pelo réu. É nessa
medida que vemos nesta definição legal a exposição dos fundamentos da ação e da defesa.
Essas peças, normalmente, culminam com uma formação de um pedido. O pedido, em
princípio, será distinto se estivermos perante o autor ou o réu. Por exemplo, é usual petição
inicial a terminar das seguintes formas «nestes termos e nos melhores de direito, requer-se a
vossa excelência que julgue procedendo por provada a presente ação.» e o réu também vai no
âmbito da sua resposta, no seu contraditório, vai pedir a improcedência da ação que contra si
foi instaurada.

O numero 2 do presente artigo refere os meios jurídicos processuais em que é obrigatória a


dedução ou narração de forma articulada. A chamada dedução por artigos.

O nome articulado deriva de cada uma das alegações factuais serem deduzidas por
intermédios de artigos.

1.1.1 Espécies de articulados.


Articulados normais dividem-se em petição inicial e contestação podendo estes surgir em
todas as ações, caso as partes o queiram.

Petição inicial é apresentada pelo autor, marca o inicio da ação. Termina esta pedindo que seja
julgada procedente.

Contestação é apresentada pelo réu, onde este aduz a sua defesa. Na contestação pede-se que

Articulados excecionais dividem-se em réplica e articulados supervenientes, só em


determinadas situações poderão ser apresentados.

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Aos articulados supervenientes, estes existem quando estamos perante a verificação de factos
supervenientes, ou seja, factos que ocorreram posteriormente a um determinado momento e
este momento é exatamente a ultrapassagem do prazo para apresentar os articulados, ditos
normais, ou então, podemos estar também perante um conceito de superveniência que diz
respeito à cognoscibilidade, ou seja, os factos até podem ter acontecido antes, mas a parte só
tomou conhecimento dos mesmos depois de ter apresentado os articulados normais. Sendo
relevante para o mérito da causa, isto é, sendo relevante para a descoberta da verdade, essa
factualidade venha a ser induzida no processo posteriormente. Portanto, são estas as
circunstancia que permitem a aplicação destes dois

Se determinados factos podem ser importantes para a descoberta da verdade material e não
tiverem sido alegados porque a parte não tinha conhecimento dos mesmos ou então porque
não tinham ocorrido à data da apresentação dos articulados, ditos normais, então os
articulados supervenientes vão servir para alegar esses factos supervenientes. Só nestes
contextos específicos é que podemos ter estes articulados especiais.

A alteração das circunstancias permitem que sejam apresentados articulados supervenientes.


Estes podem ocorrer quando determinados factos ocorrem posteriormente ao prazo para
apresentação dos articulados normais ou quando, apesar de os factos terem ocorridos antes
do prazo para apresentação dos articulados normais, as partes só tiveram conhecimento dos
mesmos depois.

Em que circunstancias podem ser utilizados estes articulados supervenientes?

Para podermos apresentar estes articulados temos que estar perante o conceito de
superveniência, nos termos do nº2 do 588º.

São supervenientes não só os factos que ocorrem posteriormente, mas também aqueles que
ocorrem antes, mas só são conhecidos posteriormente. Devendo estes factos ser relevantes,
essenciais para aquela causa, para aquele processo, um facto que ira contribuir para a
descoberta da verdade material. O réu toma conhecimento de um desses factos depois de ter
oferecido a sua contestação.

1º situação – o facto ocorre posteriormente à contestação.

2º situação – o facto ocorre antes da contestação, mas tem-se conhecimento apenas após a
contestação, não o incluindo no momento da apresentação deste articulado.

Pese embora, os articulados supervenientes sejam articulados, deviam ser levados a cabo no
âmbito da fase dos articulados, no entanto, são levados a cabo numa das fases subsequentes.

Conceito de contraditoriedade – parte final do nº4 do artigo 588º.

Principio da oralidade – artigo 589º/2.

588º nº1 CPC - até ao encerramento da discussão (limite máximo para a apresentação de
articulados supervenientes).

Ex: O facto de a parte só tomar conhecimento desse facto quando a audiência está aberta.

A réplica existe sempre que tivermos uma contestação-reconvenção, porque a replica vai
servir para deduzir defesa quanto à matéria da reconvenção. Podemos também ter uma ação
declarativa de simples apreciação negativa que também irá possibilitar a utilização da réplica.

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Nem sempre se pode utilizar a réplica.

Artigo 584º e seguintes CPC – Réplica

Artigo 3º/4 CPC.

Nesta circunstancia, da ação de simples apreciação negativa, a réplica também irá servir para o
autor impugnar os factos constitutivos que o reu tenha alegado e para alegar os factos
impeditivos ou extintivos do direito invocado pelo reu.

Artigo 585 º - a réplica é apresentada no prazo de 30 dias, a contar daquele em que for ou se
considerar notificada a apresentação da contestação. Ainda é possível que haja uma
prorrogação deste prazo, nas situações previstas nos números 4 a 6 do artigo 569º.

Consequência jurídica da falta de réplica – tem o efeito previsto no artigo 574º do CPC, nos
termos do 587º/1 CPC.

A réplica carece de ser articulada, nos termos do 147º/2.

Artigo 530º/2 - Quando o pedido reconvencial é um pedido distinto do pedido formulado pelo
autor, obriga também à liquidação da taxa de justiça.

Articulados supervenientes – artigos 588º e 589º

A réplica é um articulado excecional, os articulados supervenientes são excecionalíssimos. Em


principio, não é assim tao usual que se utilize estes articulados supervenientes.

1.1.2. Petição inicial.


Petição inicial é o ato fundador do processo declarativo, é um ato fundamental, inserindo-se
nesta primeira fase. A petição inicial é ainda uma concretização do principio do dispositivo. O
simples facto de haver uma ininteligibilidade ou uma falta de indicação do pedido poderá ter
como consequência a ineptidão da petição inicial.

A secretaria recebe a petição inicial passando à distribuição. Esta está sobretudo destinada à
repartição igualitária, uma repartição aleatória do serviço por todos os juízes que compõem o
tribunal. Teremos uma repartição igualitária e aleatória do expediente que deu entrada no
tribunal cumprindo assim a distribuição o seu desidrato.

Na maioria das situações o juiz só tem intervenção na ação apenas na segunda fase do
processo, na fase da gestão. Porém, em situações excecionais, poderá ter que prolatar um
despacho, um despacho de indeferimento liminar.

O artigo 3º, n. º1: a petição inicial é a materialização do principio do dispositivo que é através
dela que se dá a consagração ao ónus do impulso processual inicial. A petição inicial é o
articulado fundador de uma ação declarativa, de um processo declarativo comum. Se
estivermos perante a uma AÇÃO EXECUTIVA ou PROCESSO EXECUTIVO não temos petição
inicial, temos o REQUERIMENTO EXECUTIVO. Se tivemos perante um INCIDENTE OU
PROCEDIMENTO CAUTELAR temos um REQUERIMENTO INICIAL.

A par dos requisitos comuns, há os requisitos específicos de cada articulado.

Para a petição inicial, ver o artigo 552º todo, particularmente, o número 1, 6 e 7.

Elementos complementares:

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552º, nº1, alíneas f) e g). Por outro lado, os números 6, 7 e 8 do mesmo artigo 552º do CPC.

Começando pela alínea f) - declaração do valor da causa: desde logo esta temática do valor da
causa é matéria remetida para os incidentes da instância, que se encontram nos artigos 296º e
seguintes. Esta matéria do valor da causa, que é um requisito da petição inicial, serve uma
série de finalidades, como por exemplo, para determinar a forma do processo se estivermos
no âmbito de ação executiva, mas, como no caso em concreto, estamos a analisar a tramitação
da ação declarativa sobre a forma de processo comum em juízo, portanto, não tem relevância
para este fim.

No entanto, o valor da causa é relevante para determinar em certas circunstâncias a


competência do tribunal, logo para preencher a parte inicial da petição inicial,
designadamente, o endereço, com o objetivo de direcionar a petição inicial a um tribunal-
temos que lançar mão do pressuposto processual da competência. E no que diz respeito aos
processos comuns de declaração é importante saber qual é o valor da ação, porque se nós
tivermos um valor até 50 mil euros inclusive, nós podemos ter a competência de um juízo local
cível ou, caso não haja o juízo local cível, o juízo de competência genérica. Se tivermos um
valor, no mínimo, de cinquenta mil euros e um cêntimo, já passamos a ter a competência de
um juízo central cível.

Segunda implicação que decorre da alínea f): remissão para o artigo 296º/2, isto é, saber se há
ou não admissibilidade a recurso, porque se o valor que nós vamos indicar na petição inicial for
superior aos 5000 euros, haverá hipótese de recurso para o tribunal da relação e se esse valor
for superior aos 30 mil euros haverá a possibilidade de recurso até ao supremo tribunal de
justiça, pese embora, tendo em mente a possibilidade que existe a não admissibilidade ao
recurso para o supremo tribunal de justiça, caso a decisão da primeira instância e a decisão de
segunda instância sejam conformes, a isto chama-se, o sistema da dupla conforme, que
inviabiliza o recurso para o supremos tribunal de justiça.

Expressão legal da dupla conforme: artigos 671º/3 e 629º/1 do CPC.

Em terceiro lugar, apela-se ao regulamento das custas processuais, mais precisamente, à


Tabela I (Regulamento das Custas Processuais (dre.pt))

Alínea g) - necessidade que existe de designar o agente de execução incumbido de efetuar a


citação, o mandatário judicial responsável pela sua promoção: faz parte da citação e esta
traduz-se no ato pelo qual se dá conhecimento ao réu que contra ele foi instaurada uma
determinada ação. Portanto, a partir do momento em que instauramos a ação e
apresentamos em juízo a petição inicial é preciso levar ao conhecimento do réu que, de facto,
contra ele foi instaurada uma determinada ação, para que ele exerça o seu contraditório. Esta
citação é feita, via de regra, pessoalmente (mais comum) ou edital, que é feita por via postal. A
secretaria vai expedir a citação por intermédio de correio registado com aviso de receção para
o citando e a partir do momento em que é citado, passa a adquirir qualidade de citado e de
réu.

Em determinadas circunstâncias não se consegue efetuar a citação por via postal registada,
então há necessidade de se levar a cabo a citação pessoal, mas por intermédio de contacto
pessoal, normalmente pelo agente de execução. À cautela, deve-se indicar o agente de
execução que ficará incumbido de levar a citação no âmbito da ação. Ver número 11, do artigo
552º.

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Artigo 231º/9, que serve de remissão a partir do 552º/11, estabelece aqui uma outra
possibilidade de configurar uma exceção que é a citação ser efetuada por intermédio de
funcionário judicial e não pelo agente de execução.

Esta alínea g) do 552º estabelece ainda outra possibilidade, que é a citação ser efetuada por
intermédio do próprio mandatário judicial. Quando é que se justifica fazer isto? Quando
temos a certeza que o potencial réu, o citando, é muito difícil de citar, mas o cliente dá a
indicação ao mandatário de que, por exemplo, ele em determinados dias da semana está num
determinado estabelecimento comercial.

Por outro lado, também entre os elementos complementares, temos o número 7 do mesmo
artigo: remete para o pagamento da taxa de justiça devida (tabela I) ou então não sendo
possível fazê-lo ou estando nós perante a chamada situação de concessão de apoio judiciário,
pelo menos, o documento comprovativo do pedido desse apoio judiciário. O número 7 remete
para o número 9 deste mesmo artigo. Portanto, quando não é junta o documento
comprovativo do pagamento da taxa de justiça, em alternativa, número 7, deve juntar-se o
documento comprovativo da concessão do benefício do apoio judiciário, na modalidade da
dispensa do pagamento da taxa de justiça e demais encargos com o processo.

Porém, em determinadas circunstâncias, não é possível desde logo juntar o comprovativo da


concessão do apoio judiciário, porque podemos estar nas situações identificadas no número 9.
Situações de citação urgente, as situações em que à data da apresentação da petição em juízo
faltem menos de 5 dias para o termo do prazo de caducidade do direito da ação, quando
tivermos outra razão de urgência, porque nestas circunstancias a única coisa que se deve
juntar à petição inicial é o documento comprovativo do pedido de apoio judiciário e, quando a
posteriori, o autor vier a ser notificado da concessão ou da falta de concessão do apoio
judiciário, deve respetivamente juntar o documento da concessão ou então no prazo de 10
dias, juntar o documento comprovativo do pagamento da taxa de justiça devida por esta ação,
presente no número 10 do artigo 552º.

Número 6 do artigo 552º: diz respeito ao requerimento probatório, ao chamado Meios de


prova. Porquê? A petição inicial deve ser acompanhada pela prova documental, porque deve-
se juntar os documentos no momento em que se alegam os factos cujos documentos
tencionam provar. Mas relativamente aos outros meios de prova, de acordo com o número 6,
eles devem ser requeridos no final da petição inicial (ex: prova testemunhal, sem prejuízo a
posteriori podemos vir a aditar ou alterar esse rol de testemunhas; por exemplo o
requerimento da prova pericial; etc…). A contestação, nos termos do 572º/d) deve seguir o
mesmo molde.

Uma coisa é termos a vir a ter a possibilidade de aditar ou alterar o rol de testemunhas que é
diferente de apresentar o rol de testemunhas a posteriori. Portanto, o que a lei permite é que
haja um aditamento ou alteração e não que haja outro momento que não os articulados para
apresentar esse rol. 598º/2.

Tendo os requisitos observados, vamos dar entrada da petição inicial junto da secretaria.

Como é que se faz esta apresentação da petição inicial junto da secretaria ou junto do
tribunal? Artigo 144º/1, ou seja, por via eletrónica. (Aspetos da tramitação eletrónica dos
processos judiciais (dre.pt)) feito pelo sistema CITIUS -- https://citius.tribunaisnet.mj.pt

3 considerações sobre esta portaria:

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O artigo 4º/1: a apresentação de peças processuais e documentos por transmissão eletrónica


de dados dispensa a remessa dos respetivos originais, duplicados e cópias, nos termos da lei.
Isto é, já não há necessidade de dar entrada em suporte de papel a não ser que o tribunal
considere que quer ter acesso a um determinado documento em original e em suporte de
papel e isso terá de ser notificado à parte respetiva.

Artigo 7º/2: em caso de desconformidade entre o conteúdo dos formulários e o conteúdo dos
ficheiros anexos, prevalece a informação constante dos formulários, ainda que estes não se
encontrem preenchidos.

Artigo 10º/1: A peça processual e os ficheiros que a acompanham, que devem ser
apresentados em PDF, têm uma limitação máxima de 10MB. Esta alteração foi efetuada pela
portaria numero 170/2017, porque antes a dimensão das pecas processuais apresentadas pelo
CITIUES era de 3MB.

Retornando ao artigo 144º/1 do CPC: a entrada da petição inicial é através do CITIUS.

Porém, é importante também referir o artigo 144º/7, porque partindo do pressuposto que
estamos perante uma ação que não obriga à constituição de advogado (artigo 40º) e no
âmbito dessa ação não estar constituído mandatário judicial ou advogado, porque se esses
requisitos se verificarem (a ação ter um valor até à alçada do tribunal de primeira instância),
podendo a parte patrocinar-se a si mesma, ela pode dar entrada À petição inicial por uma das
formas que se encontram previstas nas alíneas a), b) c) e d) desse número 7.

Qual é a data que devemos, nestes casos, considerar a instância como iniciada? O raciocínio
que subjaz está presente no artigo 259º. – momento em que a ação se considera proposta.

Se aplicarmos a alínea a) do artigo 144º, ou seja, a entrega em mãos à secretaria judicial,


valerá como data da pratica do ato a da respetiva entrega. E será a secretaria, por imposição
de um carimbo na cópia da petição inicial que vai atestar essa entrada da mesma junto da
secretaria.

Quando a petição inicial tenha sido remetida por intermédio de correio, sob registo,
obviamente, que a petição inicial não chega no próprio dia, chagará no dia seguinte, em
principio, ou se estivermos a falar de comarcas diversas e distanciadas, mais tarde ainda. Mas
então qual é a data que se considera como data de entrada da petição inicial? Será a data da
efetivação do registo postal, não é a data que o correio chega ao tribunal, é a data em que se
procedeu ao registo e ao envio da petição inicial, como refere na alínea b) – data em que se
considera como entrada da petição inicial.

Ao envio da telecópia, isto é, fax, valerá como data da pratica do envio do ato, valerá a
respetiva expedição.

Justo impedimento: 144º/8 e 140º- a parte pode estar patrocinada por mandatário judicial e
ainda assim possa dar entrada da petição inicial ou por entrega em mãos junto da secretaria
judicial ou por remessa por correio registado ou por telecópia.

Consequências jurídico-processuais da data de apresentação da petição inicial em juízo:

Importância da data quando a petição inicial deu entrada em juízo.

Artigo 136º/2: a forma de processo aplicável se determina pela lei vigente à data em que a
ação é proposta- Consequências no que diz respeito à forma processual.

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Artigo 38º/1 da LOSJ: a competência que se fixa no momento em que a ação se propõe, sendo
irrelevantes as modificações de facto que ocorram posteriormente, portanto, para efeitos de
competência é relevante saber o momento em que a ação se considera proposta.

Artigo 44/3 da LOSJ: a admissibilidade de recursos por efeito das alçadas também é regulada
pela lei em vigor ao tempo em que se instaurou a ação. - Consequência quanto à
admissibilidade de recursos.

Artigo 331/1 do Código Civil (não é o CPC, desta vez): que estabelece como causa impeditiva
da caducidade do exercício do direito que o autor pretende fazer valer na ação.

Vamos agora partir do seguinte pressuposto: a petição inicial, por não observar determinados
requisitos, vai ser recusada pela secretaria. Estamos perante a recusa da petição inicial no
artigo 558º/1 do CPC, nas suas varias alíneas.

Os fundamentos da recusa encontram-se nas alíneas.

O papel tem de obedecer aos requisitos regulamentares, artigos 558º/1, alínea i; artigo 24º/1
(https://dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-/lc/107547988/view?
consolidacaoTag=Administra%C3%A7%C3%A3o+P%C3%BAblica)

artigo 558º/2- se o meio preferencial da apresentação em juízo é através do CITIUS, então os


fundamentos de rejeição são efetuados através do sistema. Se isso não foi tecnicamente
possível, pela secretaria.

Se estivermos perante as circunstâncias identificadas pelas alíneas a), b) e c), do artigo 144º/7,
ou seja, se a petição inicial tiver dado entrada por entrega em mãos junto da secretaria, por
correio registado ou por fax, nesses casos competirá à secretaria recusar o recebimento da
petição inicial sendo certo que essa recusa terá de ser uma recusa motivada ou fundamentada
(artigo 558º/3).

A petição foi recusada. Então qual é o modo que eu tenho de reagir? Temos que equacionar 2
modos/meios de impugnação de recusa de petição. – Reação à recusa da petição inicial.

Desde logo, o meio identificado no 559º, ou seja, nós temos aqui a possibilidade de reclamar
do ato de recusa de recebimento por parte da secretaria para o juiz, sendo certo que se o juiz
através de despacho vier confirmar a recusa de recebimento da petição, há possibilidade de
impugnar esse despacho por intermédio de recurso para o tribunal da relação. – 1º tipo de
reação.

2º tipo de reação - Segundo meio de impugnação - artigo 560º: para haver aplicabilidade deste
artigo e para apresentarmos uma outra petição inicial nos 10 dias subsequentes à recusa de
recebimento ou de distribuição de petição e para se poder ver a ser considerada a ação
proposta na data em que a primeira petição foi apresentada é preciso agora que estejamos
perante os seguintes requisitos:

- Temos que estar perante uma causa que não importe a constituição de mandatário (Até 5 mil
euros e não seja admissível recurso, porque podemos estar perante uma causa até 5 mil euros
e ser admissível a recurso, nos termos do artigo 629º/2 e 3 do CPC.

-A parte não pode estar patrocinada por mandatário judicial;

- a petição inicial teve de ser apresentada por uma das formas previstas nas alíneas a) a c) do
artigo 144º/7;

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Vamos partir do principio, agora, que a nossa petição inicial ao invés de ter sido recusada foi
aceite.

Qual é o ato processual que a seguir realizará? É o ato da distribuição, previsto no artigo 203º
e ss. como forma de repartir deforma igualitária entre os juízes o trabalho no tribunal, nós
vamos distribuir a petição inicial a um dos juízes que compõem esse tribunal.

Atualmente, nos termos do 208º, a distribuição é feita 2 vezes por dia.

A portaria 280/2013 contém o artigo 16º/2 (Aspetos da tramitação eletrónica dos processos
judiciais (dre.pt)) relativamente a este assunto.

O artigo 212º/1, em que ação de processo comum está integrante de primeira espécie.

A atuação vem depois da distribuição.

Definição: A atuação é aquela operação que consistia na formação do caderno ou dos autos
que eram cozidos a fio. Hoje desapareceu essa técnica.

A mesma portaria 280/2013 contém o artigo 28º, onde nos mostra vários exemplos do que
não precisa de estar nos suportes físicos dos autos, a não ser que seja pedido pelo juiz,
designadamente os requerimentos para a alteração para audiência final, os despachos de
mero expediente, etc…. se o nosso processo é tramitado por intermédio do CITIUS, se a
petição e as demais peças processuais são tramitadas através do CITIUS, então é natural que o
processo integral esteja no CITIUS e que esteja disponibilizado em PDF. No entanto, a
secretaria deve ter em suporte físico esse mesmo processo para efeitos de consulta só
devendo integrar esse processo em suporte de papel as tais peças que sejam consideradas
relevantes e, normalmente, as peças consideradas relevantes serão os articulados, os
documentos que tribunal notifica às partes para apresentar em original também serão
relevantes e também têm que fazer parte do caderno em suporte físico, mas tudo mais dessas
alíneas desse artigo da portaria, não consta do suporte físico do processo.

Quando há Intervenção liminar do juiz: artigo 590º/1, 560º e 224º/6 será relevante para
entender esta intervenção. por estes artigos, o despacho liminar nos dias de hoje é algo de
excecional (antes era a regra). Só temos o despacho liminar se tivermos uma exigência legal
para a verificação do mesmo (226º/4), mas também, naquelas situações que é claro que a
petição inicial padece de vícios de tal forma graves que não há a possibilidade de aproveitar
minimamente e o juiz tem como única coisa a fazer o despacho de indeferimento liminar. Ou
seja, quando a petição inicial tenha deficiências graves que não permite que ela seja utilizada e
as situações do 226º/4.

Para apelar à atualidade é importante entender o passado, desde logo com este quadro.

Sempre que falamos em despacho, referimo-nos a uma decisão do juiz. Também pode ser a
sentença, mas esta só existe uma vez no processo, mas despachos podem existir vários ao
longo do processo.

Quando nós estávamos no âmbito do regime anterior, a petição inicial dava entrada e o
processo era sempre presente a juiz a partir do momento que havia distribuição. Só que em
grande parte das situações a Petição inicial não padecia dos tais vícios de tal modo gravoso
que impossibilitavam o seu aproveitamento. O que o juiz fazia no despacho liminar? Dava
ordem à secretaria para ela proceder à citação do réu. Atualmente, temos um principio que se
encontra no artigo 226º/1, que permite que o juiz não precise de dar ordem à secretaria para

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proceder à citação porque a citação oficiosamente vai ser promovida pela secretaria. Portanto,
na pratica não se incomoda o magistrado judicial com esta tarefa burocrática e o processo
atualmente só chega às mãos do juiz na segunda fase, na fase da gestão inicial do processo e
da audiência prévia. A intervenção liminar do juiz, é atualmente excecional.

Partes da petição inicial:


Primeira parte: diz respeito ao cabeçalho/preâmbulo ou introito, que normalmente está
sempre na primeira folha da petição inicial, de forma destacada. É aquilo que está
representado nas alíneas a), b) e c).

Vamos então explicar o introito, cabeçalho ou preâmbulo: começa na alínea a)- a petição
inicial tem de ser endereçada a alguém, normalmente, o juiz, titular do tribunal onde a ação
deveria ter sido instaurada. Depois de o fazer, temos de indicar os nomes das partes, isto é,
dizer quem é a parte ativa da relação jurídica processual, o autor, e a pessoa que vem em
segundo lugar será o sujeito passivo da relação jurídico processual, isto é, o réu. Falar do
domicilio, o estado civil, a profissões e o local de trabalho até, porque aí será provavelmente
mais fácil à notificação. A par isto, temos de colocar o número de identificação civil e o número
de identificação fiscal (para evitar a confusão de identidade entre pessoas e o estado quer ter
consciência dos valores que possam estar a ser discutidos, para que posteriormente, caso haja
necessidade, cobrar os devidos impostos). Também será necessário indicar o IBAN, quer do
réu, quer do autor, para a devolução de taxas de justiça.

Alínea c): é obrigatório no âmbito da petição inicial indicar a forma do processo. Na pratica, é
preciso dizer que aquela ação judicial que foi instaurada vai correr sobre forma de processo
comum ou sob a forma de processo especial. (O artigo 548º).

Quanto ao processo especial, não é preciso dizer o processo especial em causa, bastando a
designação processo especial. Isto está relacionado com o artigo 212º.- porque na distribuição
existem espécies: as ações de processo comum e as ações de processo especial.

Alínea b): este requisito é facilmente cumprido através da utilização de um papel timbrado,
portanto, na nota rodapé, constando o escritório do mandatário, já se identifica o domicilio do
mandatário judicial. Não havendo papel timbrado, mas na ultima folha utilizando-se um
carimbo, também resulta.

Segunda parte: que se destina à narração, prevista na alínea d). Parte da Narração, alínea d): a
parte substancial. Aqui conta-se a história dos factos, expõem-se as razões nas quais assenta a
sua pretensão. Portanto, podemos dizer que a parte considerável é a causa de pedir (diz
respeito aos factos nos quais assenta a pretensão que é formulada ao tribunal, então é nesta
parte da narração que eu vou inserir a causa de pedir). O legislador tem a preocupação de falar
relativamente aos factos essenciais, porque o artigo 5º, n.º 1 e 2 opera uma distinção entre os
factos essenciais e os demais factos, os factos instrumentais, os factos complementares, os
factos concretizadores ou os factos de conhecimento público do tribunal em virtude do
exercício da função jurisdicional a diferença é que relativamente aos factos essenciais, ao
numero 1, são as partes que têm alegar esses factos no processo, sob pena do tribunal não os
poder tomar em consideração e, no limite, sob pena da ação ser julgada desfavoralmente que
tinha a incumbência de alegar os factos essenciais e não os alegou. Também o artigo 186º, n.º
2, a), diz respeito à figura da ineptidão da petição inicial que ocorre sempre que falte a causa
de pedir.

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Os demais factos, que pesem embora possam ser alegados pelas partes, não o tendo sido,
poderão ainda assim ser utilizados pelo tribunal.

O que é isto dos factos? Os factos são as chamadas ocorrências concretas da vida real. Ex: se
eu alegar que hoje está um dia extremamente chuvoso e ventoso, isto é um facto. Pergunta?
Eu posso levar este facto para o processo? Obviamente que não, eu não consigo transportar a
chuva e o vento para o tribunal. Ex2: se um individuo A estiver a atravessar a ponte da
arrábida-gaia e fruto do excesso de velocidade embateu noutro veiculo, isto são factos. Posso
levar isto parar o processo, o acidente de viação? Não. O facto em si apesar de ser um conceito
fundamental no âmbito do direito processual não é passível de ser transportado para o
processo. Então o que posso levar para o processo? A alegação, a exposição da matéria de
facto, isso sim deve constar da petição inicial.

Há uma diferença de tratamento entre aquilo que é a matéria de direito e a matéria de facto.
Os exemplos dados dizem respeito à matéria de facto, mas por exemplo, se eu vier referir que
a culpa do acidente é do condutor A ou ao outro, ou se eu vier dizer que o A e B celebraram
um contrato de locação, não diz respeito à matéria de facto. Isto diz respeito à matéria de
direito. Na alínea d), prende-se com as razoes de direito e com as exposições de facto.
Remetendo para o artigo 5º, n.º 3. Se a falta de alegação de um facto essencial, no limite, pode
conduzir à improcedência da ação e à ineptidão da petição inicial, a matéria de direito não tem
consequência algum, porque o juiz tem é de aplicar os factos que tenham sido dados como
provados. Na confrontação entre estas duas matérias, no que diz respeito às partes, é
essencial a matéria de facto.

Como é que eu vou contar a historia na petição inicial, isto é, quais são os factos que tenho de
levar para o processo? Primeiro, podemos ver na seguinte perspetiva jurídica - tenho de
analisar se estou perante uma causa de pedir simples ou complexa. Porque se for complexa, é
importante que tenha a consciência que eu tenha de alegar mais do que um facto.

O mandatário só vai alegar os factos que o seu cliente lhe tenha transmitido.

Parte conclusiva: diz respeito ao Pedido, e aparece de forma destacada. Traduz-se na


pretensão que o autor vai formular ao tribunal. A ininteligibilidade do pedido, artigo 186º, b), a
falta do pedido, a contradição do pedido com a causa de pedir, o facto de termos pedidos
inconciliáveis ou incompatíveis entre si, também poderá gerar a ineptidão da petição inicial.

1.1.3. Características/requisitos do pedido:


1º: A existência: o pedido deve existir, deve ser expressamente referido. Só desta forma se
manifesta a vontade do autor.

2º: O da inteligibilidade: o nosso pedido deve ser apresentado de uma forma clara e inteligível.
Não se admite pedidos vagos, obscuros, ininteligíveis ou ambíguos.

3º: a determinação: o nosso pedido deve ter um conteúdo determinado ou pelo menos que
seja determinável em sede de liquidação de sentença. Nos termos do artigo 556º, não
podemos confundir os pedidos genéricos com os pedidos vagos, obscuros, não determinados.
Porque os pedidos genéricos podem suceder, quando tenhamos, por exemplo, uma
universalidade de facto ou de direito, ou quando tenhamos determinadas consequências de
um facto ilícito e não temos possibilidade de auferir de todas essas consequências no
momento em que estamos a elaborar a petição inicial. Eu posso ter uma Petição inicial que
tenha na sua génese a verificação de um acidente de viação, eu posso saber que determinados

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danos e prejuízos já se verificaram, então eu posso alega-los, mas eu posso mesmo depois da
ação ter sido instaurada, a verificação de outros danos que tenham de ser quantificáveis e que
tenham de ser determinados a posteriori.

4º característica: compatibilidade: o artigo 186º, fala entre a compatibilidade entre a causa de


pedir e o Pedido que é formulado, isto é, não podemos ter uma causa de pedir que se
apresente em contradição com o pedido.

5º: Licitude: o pedido deve ser licito.

6º: viabilidade, o pedido deve ser viável.

7º: Juridicidade: deve representar uma forma de tutela de um direito ou de um interesse


juridicamente relevante.

A par dos pedidos genéricos, previstos no 556º cpc, nós temos também o artigo 553º-os
pedidos alternativos; 554º-os pedidos subsidiários; 555º- pedidos cumulativos; 557º- os
pedidos de prestações vincendas (p.e: se eu aquando da instauração de ação, por falta de
pagamento de rendas, e se no momento em que eu o faço, já tenho vencidas as rendas do mês
de dezembro e de janeiro, estamos perante uma prestação vencida, mas no decurso da ação
ainda se irão vencer mais rendas, essas são as vincendas).

O artigo 297º estabelece uma regra quanto à verificação do valor da causa, relativamente aos
pedidos alternativos e aos pedidos subsidiários.

Uma terceira parte, designada de conclusão, na alínea e).

Uma ultima parte, os elementos complementares, os elementos das alíneas f) e g), e nos
números 6 e 7 desse artigo 552º.

Quais são os aspetos que são comuns a todos os articulados? Comuns porque veremos cada
um dos articulados pode ter requisitos próprios. Se virem o 552º do CPC, estão lá plasmados os
requisitos da petição inicial. No artigo 572º do CPC estão lá plasmados os requisitos para a
contestação, por exemplo.

1.1.4. Aspetos comuns a todos os articulados.


i) Temos o requisito da redação dos articulados em língua portuguesa. Onde é que
podemos verificar a materialização legal desde requisito da língua portuguesa? No
artigo 133º, n. º1 e no artigo 558º, nº1, h), que pese embora, esteja na parte da
petição inicial, também aplicável aos restantes articulados. Também há um
fundamento para rejeição do articulado se o mesmo não estiver redigido em
português. Isto sem prejuízo, havendo necessidade de utilizar uma língua
estrangeira, usarmos a figura de um tradutor, por exemplo, uma das partes que
não entende a língua portuguesa e que quer acompanhar determinada audiência
pode requerer a nomeação de um tradutor.
ii) Em segundo lugar, esses articulados têm de ser assinados, isto é, têm de ser
subscritos pela parte, quando a parte se está a representar a si mesma ou então
subscritos como é normal pelo mandatário judicial. Uma vez mais, temos um
artigo que pese embora de estar previsto na petição inicial tem aplicabilidade aos
demais articulados, que é a alínea g), n. º1, do artigo 558º do CPC. Até há algum
tempo atrás havia uma habitualidade da assinatura manuscrita e a peça processual
era sempre assinada de forma manuscrita. Porém, isto conjugado com o artigo

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147, n. º2, a peça não vai poder dar entrada em suporte de papel quer seja por
intermédio de entrega em mãos quer seja pelo correio. Então de que forma dá
entrada? Através da transmissão eletrónica de dados e da utilização do sistema de
apoio dado aos tribunais, designado por CITIUS. Se a peça processual dá entrada
pelo CITIUS, em formato de PDF, em principio, não há assinatura autógrafa, a não
ser que a parte imprima a peça, assine e digitalize, ou então, eventualmente que
tenha uma foto da assinatura e que coloque a referida assinatura na peça, há
normalmente, a utilização da assinatura digital ou de um certificado digital.
iii) Terceiro aspeto: relacionado com a questão de termos articulados a serem
entregues pela parte que não está devidamente representada por mandatário no
processo. Acontece no rol de situações em que ação vai de 0.01€ até 5000€, até ao
limite da alçada do tribunal da primeira instância e que não é uma das situações
admite sempre recurso independentemente do valor. Se tivermos a conjugação
destes fatores a parte poderá representar-se a si mesmo.
iv) Quarto aspeto: a exigência do duplicado. O articulado, a petição inicial ou a
contestação, vai ter que ser apresentado em duplicado. Temos uma primeira via e,
pelo menos, uma segunda via. Está previsto no artigo 148º do CPC. Para que
servem os duplicados? Para que uma via seja a via destinada a formar o processo.
Mas a outra(s), vão destinar-se a serem entregues a cada uma das partes que
aparecem na parte contrária da relação jurídica processual. Se instauro uma ação
contra três réus, e se todos esses três têm uma morada em lugares distintos, então
eu tenho que apresentar 3 duplicados, um por cada corréu. Numero 3 do 148º
estabelece a consequência por a parte não ter procedido à entrega dos duplicados
a que estaria obrigado. Se a parte não fizer a entrega dos duplicados e das cópias
exigidos no numero anterior é notificada oficiosamente no prazo de 2 dias, desde
que, pague a titulo de multa a quantia que está afixada na alínea a) do número 5,
do artigo 139º. Um exemplo: a parte, que não esta representada por mandatário
judicial, deu entrada do articulado através de suporte de papel ou então por
remessa por correio e deve fazer acompanhar essa peça de tantos duplicados
quantos aqueles que seja necessário para que a secretaria envie esses duplicados
à parte contrária ou ao numero de partes contrárias que existem. Se a parte que
não está devidamente representada por mandatário judicial, não cumpre com esta
obrigatoriedade legal de entregar os duplicados, a consequência está no 139º, nº5,
a).

Ato de citação: na prática, citar o réu é levar ao conhecimento do mesmo, que contra ele foi
instaurada uma determinada ação judicial e se vai dar a oportunidade ao réu de, dentro de um
determinado prazo, de exercer o seu direito ao contraditório através do segundo articulado
que é a contestação. Se não houver citação no âmbito do processo, o processo não seguirá a
sua ulteriora tramitação.

1.2. Segunda Fase: Gestão Inicial do Processo e da Audiência Prévia.


Pode servir em determinadas circunstâncias para concluir desde logo o processo. Se de facto já
existirem elementos suficientes para a decisão, pode-se seguir para o julgamento da ação.
Porém, esta fase recai principalmente para possibilitar a correção de determinadas
irregularidades formais que ainda possam existir no âmbito do processo. Destina-se ainda à
expurgação de processo das questões que sejam supérfluas ou inúteis e a fixar as questões
essenciais da questão da causa, desde logo, para dar consagração ao despacho do 596º e de
enunciação dos temas da prova.

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Audiência-Prévia – tem como principal interesse a preparação da audiência final, art.591º CPC.

A ideia que subjaz a esta audiência prévia é a ideia de participação de todos os elementos, algo
que pode ser interpretado como a “cultura de diálogo” entre as partes – em especial os
mandatários das partes.

A audiência prévia assim designada surgiu em 2013.

Existe a obrigação do juiz marcar a audiência prévia, no entanto existem exceções legais,
previstas nos arts.592º (não realização), 593º (dispensa da audiência prévia), no entanto, nos
casos de dispensa, observando o nº3 do referido preceito, as partes podem impor a audiência
prévia, sendo esta denominada de audiência prévia potestativa e, nos termos do art.597º, nas
ações de valor não superior a metade do valor da alçada da relação o juiz poderá ou não
convocar a audiência prévia se o juiz não interpretar como necessária a mesma. Finalidades da
audiência prévia:

Observando o preceituado no nº1 do art.591º vemos que a Audiência Prévia será feita apenas
posteriormente ao despacho pré-saneador, num prazo de 30 dias subsequentes. No entanto,
este prazo de 30 dias é meramente indicativo, não se verificando o efeito de preclusão no caso
de passar o prazo.

No nº2 do art.591º, vemos que o despacho que convocar a audiência prévia indica o seu
objeto e finalidade.

Uma das principais finalidades da audiência prévia observa-se no art.591º/1/b), “apreciar o


mérito da causa”.

A falta das partes ou mandatários não constitui adiamento da audiência, nos termos do nº3 do
referido artigo.

A audiência prévia é, sempre que possível, gravada nos termos do nº4 do artigo. As finalidades
principais são as estabelecidas nas alíneas a) a g) do nº1 do artigo 591.

a). Tentativa de conciliação, que remete para o 594º. Só existirá a mesma se estivermos
perante direitos disponíveis. Se a nossa ação tiver a ver com ações não disponíveis, não poderá
haver tentativa de conciliação. O que se visa aqui é a chegada a acordo. Pretende-se que as
partes cheguem ao negócio jurídico da transação – na prática isto significa chegar a acordo,
havendo uma cedência de ambas as partes, art.287º/d), 283º/2, 284º, art.289º/1 e 290º. Só
poderá ser feita esta tentativa de conciliação 1 vez.

Nos termos do nº3 o juiz deve empenhar-se ativamente em encontrar a situação de equidade
mais adequada à resolução do litígio. Mas não constituindo algum tipo de perseguição de a
parte não quiser chegar a consenso.

b). Facultar às partes das razões de facto e direito, ou permitir ao juiz julgar o mérito da causa,
quando o juiz tencione conhecer imediatamente da mesma, no entanto, terá que já ser feito o
contraditório, nos termos do nº3 do art.3º. Esta alínea remete para o 595º/1.

c). Discutir as posições das partes e suprir insuficiências. Uma vez mais se faz apelo ao
despacho do pré-saneador e despacho saneador. Devemos dividir esta fase em 2. Pelo que
deveria o juiz olhar a esta alínea? Não, já que a parte já teve oportunidade para suprir estas
imprecisões, mas se não o fez, deverá sofrer das consequências dessa inação. No entanto, se a

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parte foi convidada a suprir estas insuficiências e não o fez de forma tão completa quando o
juiz queria, então poderá fazer-se alusão a esta alínea.

d) Prolação do despacho-saneador, remete para o art.595º, sendo este obrigatório, mesmo


sem audiência prévia temos despacho saneador, sendo este autónomo, como se observa na
alínea b) do nº1 do art.592º.

Este despacho tem o objetivo de retirar do processo questões que evitam que o juiz possa
proferir decisão quanto ao mérito da causa. É aqui que vemos uma das principais funções do
despacho saneador, nos termos da alínea a) do nº1 do art.595º.

O tribunal conhece oficiosamente das exceções dilatórias nos termos do art.578º, salvo alguns
casos.

O nosso despacho saneador também tem o objetivo de conhecer imediatamente no todo ou


em parte do mérito dos pedidos formulados, nos termos da alínea b) do nº1 do art.595º. Assim
o despacho saneador assume a designação de despacho saneador-sentença, já que tem o
mesmo valor da sentença, art.607º.

Logo que este despacho seja proferido, este assume caso julgado, nos termos do nº3 do
art.595º.

Caso julgado formal (art.620º) produz efeitos fora do caso, caso julgado material (619º) só
produz efeitos Intra processuais.

e). Simplificar o processo, se o juiz entender por bem simplificar, não levando a cabo os
trâmites normais processuais ou se decidir levar a cabo essa tramitação ele poderá fazê-lo no
âmbito da audiência prévia e no diálogo franco e aberto com os mandatários das partes.

f). Proferir despacho. Este despacho tem existência autónoma relativamente ao despacho
saneador. Na prática temos dois despachos com duas finalidades distintas, o saneador e o do
art.576º. Nesta altura podemos já ter factos tomados como certos ou assentes porque em
princípio a prova só será feita no âmbito da audiência final – podemos ter documentos já
juntos aos autos; não pode haver prova testemunhal sobre factos que só podem ser provados
por via documental ou factos confessados pelas partes.

Este despacho substituiu os requisitos – antes de 2013 – constituindo os factos do tema da


prova.

g) Programação dos atos a realizar na audiência final (alínea muito importante) por motivos de
celeridade processual e economia processual. Na altura haviam muitas audiências que eram
adiadas e recalendarizadas vezes sem contas.

No entanto, não têm que ser todas levadas a cabo, pelo que na indicação da finalidade o juiz
pode não levar todas estas finalidades a cabo, daí a importância do despacho proferido pelo
juiz a explicar o que se fará na audiência prévia.

Finalidades secundárias da audiência prévia, estão previstas:

1. a possibilidade de a audiência prévia dar resposta às exceções deduzidas no âmbito do


último articulado – art.3º/4, pelo que se não tiver havido oportunidade de deduzir resposta a
essas exceções, a parte poderá fazê-lo no âmbito da audiência prévia;

2. possibilidade de apresentação de um articulado superveniente – art.588º/3;

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3. possibilidade de alteração do requerimento probatório, art.598º/1;

4. haver um despacho de admissão ou rejeição de um meio de prova constituendo (meios de


prova ainda a constituir ou prova ainda a constituir);

5. possibilidade de se prestar depoimento de parte no âmbito desta audiência prévia,


art.456º/3 e 604º/3/a).

Temos 2 despachos, o pré- saneador, enquadrado na gestão inicial do processo e que muitas
vezes é um despacho convite às partes para que elas supram imprecisões que os articulados
contêm e depois temos o despacho saneador que entra dentro do contexto restrito da
audiência prévia e pode finalizar o processo, com o despacho saneador-sentença.

Artigo 596º CPC.

Até ao CPC de 2013, esta fase era denominada de fase do saneamento e de condensação do
processo.

Artigo 590º/2 – objetivos do despacho pré-saneador.

a) Suprimento das exceções dilatórias – as insupríveis não provocarão qualquer intervenção.

b) Aperfeiçoamento dos articulados.

c) Junção de documentos.

Em que circunstâncias é que nós podemos ter a não realização da audiência prévia? A regra-
geral, no âmbito comum do processo comum de declaração pós CPC de 2013, a audiência
prévia é de realização obrigatória. No entanto, temos só que considerar determinadas
circunstâncias que podem levar a que essa audiência prévia não se realiza. Essas circunstâncias
estão previstas nos artigos 592 e 593. O artigo 592 diz respeito às situações de não realização
de audiência prévia (a; b). O artigo 593 estabelece determinada possibilidade ou faculdade ao
juiz de dispensar a audiência prévia, no entanto, as partes podem provocar a realização da
mesma ainda assim. Posteriormente, temos um terceiro rol de situações que está previsto
para as ações que têm um valor até á metade da alçada da Relação, ou seja, até aos 15.000
euros.

- Artigo 592 – Não realização da audiência prévia

1 - A audiência prévia não se realiza:

a). Nas ações não contestadas que tenham prosseguido em obediência ao disposto nas alíneas
b) a d) do artigo 568.º. Voltando à matéria da contestação e às consequências da falta de
apresentação da contestação, a principal consequência é a situação da revelia, e nesta temos
as situações de revelia operante ou inoperante. Quando estávamos perante uma situação de
revelia operante, operava o efeito principal da revelia, ou seja, consideravam-se como
confessados os factos articulados pelo autor. No entanto, nos termos artigo 568, há 4 exceções
à verificação desse efeito da revelia, e quando a situação em causa recai sobre uma das
exceções deste artigo dizemos que a revelia é inoperante, ou seja, não produz esse efeito, os
factos articulados pelo autor não se consideram confessados.

Estas 4 situações excecionais são:

“a). Quando, havendo vários réus (pluralidade de réus), algum deles contestar, relativamente
aos factos que o contestante impugnar, ou seja, havendo contestação do réu e podendo a

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contestação do mesmo aproveitar aos demais, não temos a produção do dito efeito. Contudo,
este caso está excluído da alínea a) do artigo 592.

b). Quando o réu ou algum dos réus for incapaz, situando-se a causa no âmbito da
incapacidade, ou houver sido citado editalmente e permaneça na situação de revelia absoluta;

c). Quando a vontade das partes for ineficaz para produzir o efeito jurídico que pela ação se
pretende obter, as tais situações dos direitos indisponíveis.

d). Quando se trate de factos para cuja prova se exija documento escrito.”

Nestas situações o juiz não deve levar a cabo a audiência prévia, no caso da alínea a) é possível
ter uma situação de pluralidade de réus em que nenhum deles contesta, se nenhum deles
contesta também, em princípio, não haverá necessidade de levar a cabo a audiência prévia.

Nestes casos, aplica-se o que se encontra previsto no artigo 593/2, ou seja:

“2 - No caso previsto no número anterior, nos 20 dias subsequentes ao termo dos articulados,
o juiz profere:

a) Despacho saneador, nos termos do n.º 1 do artigo 595.º;

b) Despacho a determinar a adequação formal, a simplificação ou a agilização processual, nos


termos previstos no n.º 1 do artigo 6.º e no artigo 547.º;

c) O despacho previsto no n.º 1 do artigo 596.º;

d) Despacho destinado a programar os atos a realizar na audiência final, a estabelecer o


número de sessões e a sua provável duração e a designar as respetivas datas.

É isto que decorre da primeira circunstância que conduz à não realização da audiência prévia.”

b). Quando, havendo o processo de findar no despacho saneador pela procedência de exceção
dilatória, esta já tenha sido debatida nos articulados.

Nesta alínea b) podemos constatar duas circunstâncias.

1º: só se faz alusão às exceções dilatórias. O despacho saneador pode também conhecer de
uma exceção perentória, nesse caso em concreto, conhecerá também do mérito e, sendo
assim, temos o despacho saneador-sentença. No entanto, esta não é a situação aqui prevista,
ou seja, só no caso de exceções dilatórias.

2º: para não se realizar a audiência prévia, a exceção dilatória que haja sido invocada pelas
partes (designadamente pelo réu), já deve de ter sido debatida nos articulados. Na prática isto
conduz ao facto de ser a rara a verificação desta alínea b) se tomarmos única e exclusivamente
em consideração o CPC de 2013, isto é, a réplica, atualmente, não serve o propósito de dar
respostas às exceções, como disposto no artigo 3/4 do CPC, as exceções apresentadas no
último articulado, que normalmente será a contestação, irão ser respondidos ou não audiência
prévia, ou, não havendo lugar à audiência prévia, na audiência final. Portanto, não haverá uma
exceção dilatória que tenha já sido debatida pelas partes no âmbito dos articulados. Só poderá
haver um caso em que isso pode ter acontecido, naqueles casos, que também admitem a
réplica, que são as ações de simples apreciação negativa.

Porém, a prática tem vindo um pouco a contrariar esta opção do legislador, os juízes, grande
parte das vezes, atendendo ao princípio da economia processual, para não ter que marcar

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obrigatoriamente uma audiência prévia só para que, em determinadas circunstâncias, permitir


que uma ou mais exceções dilatórias sejam debatidas pelas partes, vai possibilitar através de
um requerimento avulso que o autor dê resposta às exceções dilatórias que já tinham sido
aduzidas na contestação, logo se isto acontecer, devemos considerar que não há necessidade
da realização da audiência prévia.

Resumindo: Quando se utiliza a expressão “articulados” no âmbito do artigo 592/1 b), temos
que interpretar a expressão num sentido mais extensivo e não restritivo, ou seja, pode não ser
através de um articulado, porém, a parte contrária, já pode ter tido a oportunidade de exercer
o contraditório em sede de requerimento - quando isso acontecer, o juiz não vai estar a
realizar a audiência prévia.

- Artigo 593 - Dispensa da audiência prévia

Artigo 593 vs artigo 592

No caso do artigo 592 estamos perante uma imposição legal para que não se realize audiência
prévia. No caso no artigo 593, não há qualquer tipo de imposição, há a faculdade que o juiz
tem de realizar a audiência prévia – a expressão “pode”.

1) - Nas ações que hajam de prosseguir, o juiz pode dispensar a realização da audiência prévia
quando esta se destine apenas aos fins indicados nas alíneas d), e) e f) no n.º 1 do artigo 591.º
– nas alíneas a), b) e c) não há possibilidade de dispensa da audiência prévia, estas três
circunstâncias pressupõem a presença das partes, ou seja, pressupõem que a audiência prévia
seja levada a cabo.

alínea a) – temos a realização da tentativa de conciliação. A Tentativa de conciliação é


norteada pelos princípios da imediação e da oralidade, logo não faz sentido levara a cabo um
tentativa e conciliação por escrito, ou seja, as partes terão que estar no Tribunal e vai-se
realizar a audiência prévia.

alínea b) – “Facultar às partes a discussão de facto e de direito, nos casos em que ao juiz
cumpra apreciar exceções dilatórias ou quando tencione conhecer imediatamente, no todo ou
em parte, do mérito da causa”, discussão de facto e de direito que pressupõe a presença das
partes, e por isso, a realização da audiência prévia.

alínea c) – “Discutir as posições das partes, com vista à delimitação dos termos do litígio, e
suprir as insuficiências ou imprecisões na exposição da matéria de facto que ainda subsistam
ou se tornem patentes na sequência do debate”, nestas circunstâncias também se pressupõe a
realização da audiência prévia.

Restam-nos situações, presentes nas alíneas referidas no artigo, que podem ser tramitadas por
escrito e que habilitam o Tribunal, ao abrigo desta faculdade, mas também ao abrigo do
princípio da economia processual, a não realizar a audiência prévia.

alínea d) – a prolação do despacho saneador. O despacho saneador tem autonomia


relativamente à audiência prévia, portanto, não é necessário convocar uma audiência prévia
para proferir o despacho saneador – uma das circunstâncias que conduz à dispensa da
realização.

alínea e) “Determinar, após debate, a adequação formal, a simplificação ou a agilização


processual, nos termos previstos no n.º 1 do artigo 6.º e no artigo 547.º”. Não há necessidade
de as partes estarem em contexto de uma audiência para levar a cabo esta finalidade.

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alínea f) “Proferir, após debate, o despacho previsto no n.º 1 do artigo 596.º e decidir as
reclamações deduzidas pelas partes” – isto é, o tal caso do despacho tendente à identificação
do objeto de litígio e à iniciação dos temas da prova.

Por fim, temos ainda, a situação do despacho previsto no artigo 596. Quando temos estas
circunstâncias, o juiz poderá dispensar a audiência prévia.

Quando isto acontece, temos que seguir a tramitação processual do artigo 593º/2.

2 - No caso previsto no número anterior, nos 20 dias subsequentes ao termo dos articulados, o
juiz profere:

“a) Despacho saneador, nos termos do n.º 1 do artigo 595.º;

b) Despacho a determinar a adequação formal, a simplificação ou a agilização processual, nos


termos previstos no n.º 1 do artigo 6.º e no artigo 547.º;

c) O despacho previsto no n.º 1 do artigo 596.º;

d) Despacho destinado a programar os atos a realizar na audiência final, a estabelecer o


número de sessões e a sua provável duração e a designar as respetivas datas.”

Ou seja, o juiz ao dispensar a audiência prévia vai ter que proferir 4 despachos. Depois de
proferidos os despachos – nr.3.

“3 - Notificadas as partes, se alguma delas pretender reclamar dos despachos previstos nas
alíneas b) a d) do número anterior, pode requerer, em 10 dias, a realização de audiência
prévia; neste caso, a audiência deve realizar-se num dos 20 dias seguintes e destina-se a
apreciar as questões suscitadas e, acessoriamente, a fazer uso do disposto na alínea c) do n.º 1
do artigo 591.º.” – Aqui as partes podem reclamar, ou seja, nos termos deste nr.3 podem
requerer em 10 a realização da audiência prévia, e ao fazê-lo estão exercer um direito
potestativo. Embora o juiz tenha considerado que não há necessidade de audiência prévia, a
parte poderá, através da reclamação, obrigar o juiz a levar a cabo a audiência prévia. Portanto,
a reclamação deste caso em concreto, vai ser um disputador da realização da audiência prévia.
A fundamentação da reclamação tem que ser feita logo por escrito, aquando da manifestação
da prevenção de reclamação, ou pode ser feita na própria audiência prévia.

Resumindo: Esta reclamação, por exemplo, no que diz respeito ao despacho da alínea c), pode
ser uma reclamação por defeito, por excesso ou obscuridade, ou seja, a parte vai dizer que
determinado objeto que foi circunscrito pelo Tribunal é insuficiente ou está determinado por
excesso. A parte pode dizer que, naquela ação em concreto, falta a enunciação do tema da
prova. No entanto, não basta só fazer isso, é necessário expor as razões pelas quais considera
que aquele tema da prova, que não foi colocado no despacho do artigo 596, deve estar nesse
despacho, ou dizer que determinado objeto que o Tribunal circunscreveu não deve prefigurar
ou deve ser reformulado. A parte deve expor os motivos, deve expor a motivação.

- Artigo 597 - Termos posteriores aos articulados nas ações de valor não superior a metade da
alçada da Relação.

“Nas ações de valor não superior a metade da alçada da Relação, findos os articulados, sem
prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 590.º, o juiz, consoante a necessidade e a adequação do
ato ao fim do processo...”

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Nestas ações, com um valor até 15.000 euros, a audiência prévia nos termos da alínea b), não
só não é de realização obrigatória, como o Tribunal poderá dispensar a mesma – poder
discricionário.

Importante: nos termos do artigo 630/1:

“1) - Não admitem recurso os despachos de mero expediente nem os proferidos no uso legal
de um poder discricionário” – Se no âmbito de uma ação com um valor até 15.000 euros, o
Tribunal decidir não convocar audiência prévia, esta decisão do Juiz é irrecorrível. Além disto,
relativamente à possibilidade que as partes tinham de impor a realização da audiência prévia,
de termos a situação da audiência prévia potestativa, não podemos transportar esse artigo
593/3 para as situações de ações até 15.000 euros, há uma inaplicabilidade do artigo 593/3, a
parte não pode reagir por intermédio deste

Resumindo: A ideia que subjaz a este artigo 597 é que, em princípio, uma ação que tenha um
valor até 15.000 euros será uma ação que não implica grande complexidade. Portanto, o
legislador, neste caso, decidiu dar ao Tribunal ou ao juiz, a faculdade de ele adaptar o
processo, de ele fazer uso do princípio da adequação formal.

Artigo 598 – alteração do requerimento probatório e aditamento ou alteração ao rol de


testemunhas:

“1 - O requerimento probatório apresentado pode ser alterado na audiência prévia quando a


esta haja lugar nos termos do disposto no artigo 591.º ou nos termos do disposto no n.º 3 do
artigo 593.º.” – O requerimento probatório tem que constar expressamente dos articulados,
da petição inicial (artigo 552) e da contestação (artigo 572). É este o momento para se
apresentar o requerimento probatório, no entanto, se eventualmente se levar a cabo a
audiência prévia, essa audiência prévia servirá para alterar o requerimento probatório.
Contudo, não pode ser apenas este o fundamento para a audiência prévia potestativa. Na
parte final deste artigo 598, há uma remissão ao artigo 593/3, ou seja, a possibilidade de a
parte provocar a realização da audiência prévia. Daqui não se pode retirar a ideia de que é
possível obrigar o Tribunal a realizar a audiência prévia, a faculdade de audiência prévia
potestativa, para alterar o requerimento probatório, não é isso que decorre da lei. Há um
propósito específico para ser possível obrigar o Tribunal a realizar a audiência prévia, o
propósito previsto da reclamação das alíneas b) a d), como nestas alíneas não está disposto a
possibilidade de alteração do requerimento não há justificação autónoma para se obrigar o juiz
a realizar uma audiência prévia.

“2 - O rol de testemunhas pode ser aditado ou alterado até 20 dias antes da data em que se
realize a audiência final, sendo a parte contrária notificada para usar, querendo, de igual
faculdade, no prazo de cinco dias.” – regime próprio apenas para o rol de testemunhas. Alterar
ou aditar um rol de testemunhas não é apresentá-lo ad initio. O rol de testemunhas tem que
ser apresentado na petição inicial e na contestação respetivamente, ou, eventualmente, na
réplica (na parte que visa contestar o pedido reconvencional). Isto é, tem que ser sempre nos
articulados, sob pena de verificação do princípio da preclusão.

Resumindo: O Legislador está a conceder é a possibilidade desse rol de testemunhas, que foi
apresentado ad initio nos articulados, poder vir a ser alterado ou aditado, por exemplo,
testemunha (A), (B) e (C), mas a testemunha (B) já não é necessária, esta é substituída pela
testemunha (Z). Outro exemplo (aditamento), testemunha (A), (B) e (C) e vamos aditar a (D) e
a (E), quando isto acontece, a parte contrária vai ser notificada para usar de idêntica faculdade

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no prazo de 5 dias – manifestação do princípio do contraditório – a parte contrária tem a


oportunidade de fazer o mesmo, até porque, por exemplo, pelo simples factos de ser aditada
uma outra testemunha, isso pode provocar na parte contrária a necessidade de indicar ela
própria também uma outra para contraditar em princípio o depoimento que essa testemunha
irá fazer no âmbito do processo. Importante: quando há o aditamento ou a alteração ao rol, as
partes são obrigadas a apresentar as testemunhas na audiência final.

1.3. Terceira fase: Instrução.


Não basta, no âmbito do direito processual, alegar os factos (é importante), mas a par desta
alegação é preciso provar os factos. Aqui temos a diversidade dos factos da prova, ou seja, a
prova documental, as testemunhas, a prova pericial, por inspeção das partes, a questão do
depoimento de parte, etc…

Não basta alegar, é preciso provar, na prática vai destinar-se à assunção dos meios de prova,
permite a produção dos meios de prova sobre os factos alegados pela parte. Há determinados
factos que podem não carecer de prova posterior porque já se encontram provados. Como?
Por exemplo, já estão comprovados por prova documental, porque, p.e., não foi contestado e
a outra parte já confessou. É preciso ter noção que esta fase da instrução incide sobre toda a
matéria de facto que merece ser provada, ou seja, relativamente, à chamada matéria de facto
controvertida - 410º.

Na pratica, depois de ter sido produzida a prova, os mandatários judiciais vão fazer uma
analise critica e demonstrar ao tribunal que de facto o seu cliente tem razão na pretensão que
o levou a recorrer ao tribunal.

1º: A prova e a instrução são sinónimos. A instrução destina-se à solução dos meios da prova. É
no âmbito da instrução que as partes deverão levar a cabo a prova dos factos que alegam. Não
basta que as partes aleguem os factos essências nos quais assentam a causa de pedir (no caso
do réu), é essencial provar. Assim sendo, quando estamos a realizar um articulado, quando
estamos a alegar algo, tem sempre que haver a perceção de que aquilo que estamos a dizer
tem que ser provado.

2º: Só em determinados casos é que há a necessidade de provar os factos que estão a ser
alegados no âmbito da audiência final. Isto é, há certas provas ou meios de prova que já estão
constituídos num processo, ou então, pré-constituídos. Por exemplo, se foi alegado algo na
petição inicial que está suportado num documento, esse documento faz parte da prova
documental, faz parte da instrução e, sendo assim, já prova aquele facto em concreto. Como
tal, o Tribunal vai vedar a possibilidade da prova testemunhal quanto a esse facto que já está
alegado por intermédio de um documento.

3º: Artigo 410 - Objeto da instrução

“A instrução tem por objeto os temas da prova enunciados ou, quando não tenha de haver
lugar a esta enunciação, os factos necessitados de prova.” – a instrução tem por objeto esses
“factos necessitados de prova” – isto permito-nos excluir da instrução os factos que já estão
provados.

Artigo 412 - Factos que não carecem de alegação ou de prova:

“1 - Não carecem de prova nem de alegação os factos notórios, devendo considerar-se como
tais os factos que são do conhecimento geral.” – Por exemplo, uma situação de calamidade
pública, uma situação pandémica, uma inflação, um crash na bolsa.

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“2 - Também não carecem de alegação os factos de que o tribunal tem conhecimento por
virtude do exercício das suas funções; quando o tribunal se socorra destes factos, deve fazer
juntar ao processo documento que os comprove.”

Disto restam os factos que já se encontram provados nos autos, por exemplo, porque o réu já
os confessou. Se são confessados, os mesmos não carecem de prova. Por outro lado, os factos
que já estão provados por meios de provas pré-constituídos (documentalmente).

- Artigo 604 - Tentativa de conciliação e demais atos a praticar na audiência final

“a) Prestação dos depoimentos de parte;

b) Exibição de reproduções cinematográficas ou de registos fonográficos, podendo o juiz


determinar que ela se faça apenas com assistência das partes, dos seus advogados e das
pessoas cuja presença se mostre conveniente;

c) Esclarecimentos verbais dos peritos cuja comparência tenha sido determinada


oficiosamente ou a requerimento das partes;

d) Inquirição das testemunhas;

e) Alegações orais, nas quais os advogados exponham as conclusões, de facto e de direito, que
hajam extraído da prova produzida, podendo cada advogado replicar uma vez.

Concluímos assim que, normalmente, a produção da prova é feita na audiência final.”

Direito probatório material vs direito probatório formal

O direito probatório formal diz respeito às normas que se destinam a regular o modo de
oferecimento ou produção da prova em juízo. A esmagadora maioria das normas que temos
no CPC, são normas do direito probatório formal. Por exemplo, quando dizemos que as
testemunhas do autor são as testemunhas ouvidas em primeiro lugar, e num momento
posterior as testemunhas do réu – trata-se de uma norma de direito probatório formal.

O direito probatório material diz respeito às normas reguladoras das provas que fixam os
meios admissíveis de que o Tribunal se serve para apurar a realidade dos factos que
interessam ao exame e à decisão da causa. Em regra, são normas que constam do código civil.

Relativamente a este direito probatório material existem três problemas:

1). Relativo ao ónus da prova: Este problema traduz-se no encargo que recai sobre uma das
partes, e de esta fazer a prova dos factos que alega no sentido de sustentar a sua pretensão,
sob pena de não fazendo essa prova se julgar procedente a pretensão contrária –
essencialidade de se provar os factos que se aleguem nos autos.

Mesmo existindo dois princípios que poderão socorrer as partes caso elas não deem
cumprimento ao ónus da prova – é também por este motivo que se diz que o ónus da prova
funciona, na prática, como uma regra de julgamento. Por exemplo: a instauração de uma ação
de despejo pelo senhorio contra o seu arrendatário, dado a cessão da relação jurídica de
arrendamento, porque, segundo a visão do senhorio, o seu arrendatário esta a utilizar o locado
para um fim diverso daquele que constava no contrato de arrendamento, o contrato de
arrendamento destinava-se a habitação e o arrendatário está a utilizar o locado par fins
profissionais. Neste contexto, se o arrendatário vier alegar que nunca, em tempo algum,
utilizou o lado para fim diverso. A questão é a seguinte: sobre quem é que recai o ónus da

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prova da utilização do locado para fins diversos? Se recair sobre o senhorio, e este não provar
que o locado estava a ser utilizado para fim diverso, a ação vai ser jugada improcedente. Se for
sobre o arrendatário, e este não provar que não faz utilização do locado para fim diverso, a
ação será julgada favoravelmente aos interesses do autor e, sendo assim, a ação vai ser julgada
procedente.

Outro exemplo: A instauração de uma ação de cumprimento de uma obrigação pecuniária.


Portanto, o (C) instaura uma ação de crédito sobre (D) e o (D), réu, vem alegar que é pago a
quantia que está a ser reclamada. Sobre quem é que recai o ónus da prova? Sobre o (C) ou
sobre o (D)? Segue-se a teoria da ação/exceção, prevista no artigo 342 do CC – ónus da prova –

“1) Àquele que invocar um direito cabe fazer a prova dos factos constitutivos do direito
alegado.

2) A prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito invocado compete


àquele contra quem a invocação é feita.”, ou seja, nos termos 342/1 temos a parte da ação e
nos termos do 342/2 temos a parte da exceção.

Aplicando estes dois números aos dois exemplos anteriormente mencionados, no primeiro
caso, quem está a fazer uso de um direito é o senhorio – direito de resolução do contrato de
arrendamento, logo, o senhorio está a invocar um facto constitutivo do seu direito – é o
senhorio que tem que provar que há uma utilização diversa do locado, não fazendo, a ação é
jugada favoravelmente ao réu, a ação é julgada improcedente. Agora, se o arrendatário alega,
nos termos do artigo 1085 do CC, que o prazo de um ano para o exercício desse direito de
resolução já se encontra ultrapassado, é o réu/arrendatário que o tem que fazer.

Em relação ao segundo caso segue-se o mesmo raciocínio. O réu invoca o pagamento, uma
exceção perentória extintiva do direito invocado pelo autor. Neste sentido, se ele invoca o
pagamento tem que fazer a prova do pagamento, sob pena de não o fazendo a ação ser
julgada contrariamente à sua pretensão, ou seja, a ação é julgada procedente.

2). Relativo à admissibilidade dos meios de prova;

Admissibilidade dos meios de prova

Os meios de prova servem para demonstrar a realidade dos factos ao tribunal ou ao juiz. O
despacho do art.596º CPC fixa o objeto do litígio e depois faz a enunciação dos temas da
prova, nesta parte vamos ter em relação a cada um deles que os dá como provados ou não
provados. Embora não haja uma correspondência exata entre os temas da prova e os factos,
os meios de prova destinam-se a provar essa factualidade.

Temos de ter a perceção de que nem todos os meios de prova podem ser utilizados em todas
as circunstâncias. Nessa medida podemos falar em limitações de ordem substantiva ou em
limitações de ordem adjetiva.

No que diz respeito às limitações de ordem substantiva, estamos, sobretudo, perante algumas
normas do CC que inviabilizam determinada prova relativamente a determinadas
circunstâncias, por exemplo, no caso do contrato de compra e venda, presente nos art.874º e
ss, a prova nesse contrato só pode ser feita por intermédio de escritura pública ou documento
particular autenticado, nos termos do art.875º. Quer dizer que estamos, desde logo, a excluir
outros meios de prova para provar a celebração deste contrato.

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Depois, temos as limitações de ordem adjetiva e nessas, embora sejam várias, podemos dar o
exemplo da dita prova testemunhal, onde nos art.495º e 496º CPC, estabelecem que só pode
depor como testemunha aquele que tiver aptidão mental para depor sobre os factos que
constituam objeto da prova e, ainda, que as partes estão impedidas de serem testemunhas no
processo.

Identificação dos meios de prova e as regras pelas quais se regulam

Presunções

Este meio de prova não é designado como tal por vários autores como o professor Lebre de
Freitas e o Dr. Paulo Pimenta. Não consideram que seja um meio de prova, ainda que por
vezes seja muito importante para demonstrar a realidade dos factos.

Art.349º CC- quando faz referência às ilações que a lei tira, estamos a fazer referência as
presunções legais e quando se faz referência ao julgador, estamos a referir-nos às presunções
judiciais, respetivamente previstas nos art.350º e 351º CC.

Temos de fazer referência a outra classificação, as presunções ilidíveis ou inilidíveis e


presunções iuris tantum ou iuri et de iure. Quando referirmos a força probatória dos meios de
prova, vamos verificar que as presunções iuri et de iuri ou inilidíveis têm uma força probatória
superior relativamente às demais presunções e outros meios de prova.

Exemplos de presunções legais – art.441º e 493º nº2 CC.

Prova por confissão

352º CC – “confissão é o reconhecimento que a parte faz da realidade de um facto que lhe é
desfavorável e favorece a parte contrária”. Esta noção é relevante para fazermos a distinção
entre o depoimento de partes e as declarações de parte. Nas declarações de parte obtemos a
necessidade de a parte, por querer beneficiar de um facto que lhe é favorável, ter que
requerer essas declarações de parte ao tribunal. No âmbito do CPC, o meio através do qual se
vai extrair a confissão é através depoimento de partes.

354º CC - a confissão não é admissível em certas circunstâncias como, por exemplo, quando
estamos perante direitos indisponíveis (alínea b).

355º CC - a confissão pode ser judicial ou extrajudicial. É judicial quando é feita em juízo ou é
extrajudicial quando é feita de modo diferente (nº4).

358º CC - “a confissão judicial escrita tem força probatória plena contra o confitente”. O
mesmo se sucede quando a confissão extrajudicial é feita em documento autêntico ou
particular (nº2).

452º CPC – este artigo está inserido na secção I, prova por confissão das partes, mas tem como
epígrafe depoimento de parte, o que mostra o que foi dito anteriormente.

453º nº3 CPC - o depoimento de parte pode ser requerido pelas partes ou determinado
oficiosamente peplo tribunal. Relativamente às partes, temos ainda de nos referir ao facto de

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só se poder requerer o depoimento de parte da parte contrária ou, eventualmente, dos


compartes. Nunca se pode requerer o próprio depoimento de parte porque o objetivo deste é
extrair a confissão, ninguém vai requerer para confessar um facto que lhe é desfavorável. Isto
levanta um problema que se prende com o facto de ninguém requerer o depoimento de parte,
ninguém pode ter a iniciativa própria. Com o comparte, nas situações de corréus e coautores,
um dos coautores pode requerer o depoimento de parte do outro coautor ou um corréu
requerer o depoimento de parte do outro corréu, com o intuito de retirar um facto
desfavorável à comparte e possa beneficiar quem requereu.

452º nº2 CPC - ao requerer o depoimento de parte é necessário referir quais os factos sobre os
quais vai recair o depoimento de parte. Não é possível pedir o depoimento de parte de modo
genérico. A consequência de não indicar a factualidade é a recusa desse depoimento de parte.
Porém, alguns juízes convidam o requerente a indicar quais os factos sobre os quais o
depoimento vai recair. Se isso não se suceder, dá-se o indeferimento desse meio de prova.

456º nº1 e 604º nº3 a) CPC - em regra, este meio de prova é levado a cabo na audiência final.
Apesar de este depoimento de parte poder ser prestado antes, mais concretamente na
audiência prévia.

458º nº1 CPC - quando forem requeridos depoimentos de parte tanto do autor como do réu,
se o que se visa é a extração da confissão, de um facto que seja desfavorável, faz sentido que o
depoimento de parte se inicie com o réu.

459º CPC - o depoente antes de começar o depoimento vai ter que prestar juramento, sendo
que se se recusar, isso equivale a uma recusa a depor.

460º CPC - quem procede à inquirição das testemunhas é o advogado, mas quem leva o
depoimento de parte a cabo é o juiz. O papel dos advogados aqui é só pedir esclarecimento ao
depoente, não pode aproveitar para colocar questões que o juiz não tenha colocado, a não ser
que o juiz se tenha esquecido de interrogar o depoente sobre os factos sobre os quais recai o
depoimento.

462º CPC - o Dr. Paulo Pimenta dá a entender que estes esclarecimentos podem ser feitos
diretamente, mas nem sempre é assim, depende do juiz. O advogado não pode dirigir-se ao
depoente sem autorização do juiz, é necessário indicar ao juiz qual é o esclarecimento que
pretendemos e o juiz direciona o esclarecimento para o depoente, a não ser que o juiz prefira
que seja o advogado a fazê-lo, mas só é possível com esta autorização. Em princípio, os
esclarecimentos devem ser feitos indiretamente porque pode existir uma certa animosidade
do mandatário para com a parte contrária.

Declarações de parte

No capítulo III temos a prova por confissão e a prova por declarações de parte. A prova por
declarações de parte está prevista apenas no art.466º CPC. As declarações de parte foram
introduzidas no CPC de 2013 porque o legislador tomou consciência de que se tinha de
introduzir a possibilidade de se prestar declarações sobre factos que sejam favoráveis à
própria parte.

O professor Lebre de Freitas tem uma visão sobre esta temática, sobre a ligação entre o
depoimento de parte e as declarações de parte. Falamos em meios de prova distintos, mas

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tanto num como outro são as partes a prestar o depoimento e as declarações. Desde que a
parte requeira ao tribunal que do seu depoimento de parte se possam extrair os factos que
também lhe são favoráveis, desde que não haja oposição da parte contrária e esta esteja
presente, o tribunal pode valorar esse depoimento não só daquilo que é desfavorável, mas
também o que é favorável. Podemos ver isto como uma manifestação do princípio da
economia processual.

As declarações de parte têm uma especificidade em relação a outros meios de prova porque
os outros meios de prova têm de constar de requerimento probatório e este é apresentado
nos articulados, seja na petição, seja na contestação, seja na réplica. Pode ainda ser alterado
na audiência prévia, quer tenha sido marcada pelo tribunal quer estejamos perante uma
audiência prévia potestativa, mas as declarações de parte podem ser requeridas à posteriori,
designadamente até ao início das alegações orais em primeira instância. Na prática, isto
pressupõe que já tenha havido um requerimento das declarações de parte no momento
anterior porque se a parte se reservar ao momento prévio das alegações orais, não há
possibilidade de o tribunal o fazer. Imaginemos que requeremos o depoimento de parte no
requerimento probatório que consta do articulado inicial, o que vai suceder é que a audiência
final vai começar pelo depoimento de parte do réu (604º nº3 a) CPC), ouvem-se as
testemunhas e o mesmo réu pode decidir requerer as suas próprias declarações de parte (466º
nº1 CPC). Por vezes, a parte só toma consciência de que será útil prestar as suas declarações
depois de se aperceber se a prova vai de encontro às suas pretensões ou não. Agora, quando
temos o requerimento quer do depoimento de parte quer das declarações de parte, então fará
sentido cumular no mesmo momento as duas e extrair quer a factualidade que lhe seja
favorável, quer a factualidade desfavorável.

Isto levanta a questão de como é que o juiz perspetiva estas declarações de parte porque há
magistrados judiciais que preferem que a audiência comece logo pela prestação das
declarações e há outros que consideram que elas só devem ser prestadas depois de ouvida
toda a prova, sem a parte ter tido a possibilidade de ouvir a produção de prova que se
desenrolou até então.

466º nº3 CPC – “o tribunal aprecia livremente as declarações das partes”. Portanto, tem a
mesma validade em termos de força probatória que, por exemplo, a prova testemunhal.

Há uma divergência a nível da doutrina sobre este meio de prova. O professor Lebre de Freitas
considera que este meio de prova é supletivo e o Dr. Paulo Pimenta que é subsidiário e do,
outro lado, temos o Dr. Luís Filipe Pires de Sousa que considera que este meio de prova pode
ser produzido em qualquer circunstância.

Prova documental

362º CC – o documento é qualquer objeto que seja elaborado pelo homem com fim de
produzir ou representar uma pessoa, uma coisa ou um facto.

363º CC - quanto aos documentos podemos ter documentos autênticos ou particulares. Os


particulares são havidos como autenticados quando confirmados pelas partes.

371º e 376º - força probatória: “os documentos autênticos fazem prova plena dos factos que
refere como praticados pela autoridade ou oficial respetivo”, enquanto “o documento
particular cuja autoria seja reconhecida nos termos dos artigos antecedentes faz prova plena

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quanto às declarações atribuídas ao seu autor, sem prejuízo da arguição e prova de falsidade
do documento”.

444º e 446º CPC - meio de impugnação do próprio documento.

423º CPC – o documento deve ser apresentado no articulado onde faço a alegação cujo
documento irá provar. Se não forem juntos com esse articulado, podem ser apresentados até
20 dias antes da data em que se realiza a audiência final, mas a parte sujeita-se à condenação
em multa, exceto se provar que não pode apresentar o documento com o articulado. Após os
20 dias, só são admitidos os documentos cuja apresentação não tenha sido possível até àquele
momento bem como aqueles cuja apresentação se tenha tornado necessária em virtude de
ocorrência posterior. Não se verificando estes requisitos, os documentos não são aceites.

Temos ainda a possibilidade de fazer a junção da prova documental na própria audiência final
e é necessário justificar o porquê de só apresentar o documento a esta altura e o juiz pode
indeferir esta junção, não sendo aceite, ainda podemos ter outra situação que é o magistrado
através do citius dar entrada do documento e este ficar junto aos autos e então o tribunal
pode considerar que ele foi indevidamente apresentado e ordenar o desentranhamento dele e
a restituição da apresentação.

425 º CPC - Temos ainda a possibilidade de apresentar documentos em conjunto com o


recurso que haja sido interposto. Aí serão os documentos cuja apresentação não tenha sido
possível até esse momento. Aqui fazemos apelo tanto ao recurso da decisão de primeira
instância para o tribunal da Relação quer o recurso do tribunal da Relação para o STJ ou até a
possibilidade de fazer apelo ao recurso per saltum que é interposto no STJ sem passar pela
Relação.

426º CPC – temos a junção de pareceres que pode acontecer em tribunais de primeira
instância em qualquer parte do processo.

429º CPC - podemos ter circunstâncias em que não temos acesso a um documento, mas ele
existe estando na posse da parte contrária ou de um terceiro. “Quando se pretenda fazer uso
de documento em poder da parte contrária, o interessado requer que ela seja notificada para
apresentar o documento dentro do prazo que for designado”

432º CPC - podemos ter documentos na posse de terceiro e aí “a parte requer que o possuidor
seja notificado para o entregar na secretaria, dentro do prazo fixado”.

417º nº3 CPC - se houver uma recusa em relação à junção de um documento em poder da
parte contrária ou de terceiro, a parte contrária ou o terceiro “são condenados em multa sem
prejuízo dos meios coercitivos que forem possíveis; se o recusante for parte, o tribunal aprecia
livremente o valor da recusa para efeitos probatórios, sem prejuízo da inversão do ónus de
prova decorrente do preceituado no nº2 do art.344º CC”.

Prova pericial

388º CC – “a prova pericial tem por fim a perceção ou apreciação de factos por meio de
peritos, quando sejam necessários conhecimentos especiais que os julgados não possuem, ou
quando os factos, relativos a pessoas, não devam ser objeto de investigação judicial”.

389º CC – “a força probatória das respostas dos peritos é fixada livremente pelo tribunal”.

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467º CPC – podemos ter a perícia requerida pelas próprias partes ou oficiosamente decretada
pelo tribunal.

468º CPC - podemos ter uma perícia singular ou colegial. Dá-se a possibilidade às partes de,
por acordo, decidirem indicar apenas um perito ou, não havendo acordo, poderem requerer a
perícia colegial.

484º CPC – “o resultado da perícia deve ser expresso em relatório no qual o perito ou os
peritos se pronunciam fundamentadamente sobre o respetivo objeto”.

485º CPC – temos a possibilidade de as partes, caso não concordem com o relatório, poderem
reclamar do mesmo por deficiência, obscuridade ou contradição.

486º e 604º nº3 c) CPC – há a possibilidade de as partes quererem que os peritos compareçam
na audiência final para poderem explicar numa linguagem acessível o que consta do relatório
pericial.

Inspeção judicial

390º CC – “a prova por inspeção tem por fim a perceção de factos pelo tribunal”.

391º CC – “o resultado da inspeção é livremente apreciado pelo tribunal”.

490º CPC – “o tribunal, sempre que o julgue conveniente, pode, por sua iniciativa ou
requerimento das partes, e com ressalva da intimidade da vida privada e familiar da dignidade
humana, inspecionar coisas ou pessoas, a fim de se esclarecer sobre qualquer facto que
interesse à decisão da causa, podendo deslocar-se ao local da questão ou mandar proceder à
reconstituição dos factos, quando entender necessária”.

494º CPC – as verificações não judiciais qualificadas, em bom rigor, não são inspeções judiciais
porque a inspeção judicial tem de ser levada a cabo pelo juiz enquanto as verificações não
judiciais qualificadas implicam que não seja o juiz a levar a cabo as mesmas. Estas poderão ser
levadas a cabo por técnicos ou funcionários judiciais ou agentes de execução. Há situações em
que não há necessidade de ser o juiz a fazê-lo, podendo incumbir outros.

Prova testemunhal

392º CC – “a prova testemunhal é admitida em todos os casos em que não seja direta ou
indiretamente afastada”.

393º nº2 CC – inadmissibilidade da prova testemunhal “quando o facto estiver plenamente


provado por documento ou por outro meio com força probatória plena”.

396º CC – “a força probatória dos depoimentos das testemunhas é apreciada livremente pelo
tribunal”.

495º e 496º CPC – impedimento de uma pessoa ser testemunha quando é parte no processo.

497º CPC – estas pessoas podem recusar-se a depor.

498º CPC – “as testemunhas são designadas no rol pelos seus nomes, profissões e moradas e
por outras circunstâncias necessárias para as identificar”.

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500º CPC – as testemunhas depõem na audiência final, presencialmente ou através de


teleconferência, existindo algumas exceções.

507º nº2 CPC – “as testemunhas são apresentadas pelas partes, salvo se a partes que as
indicou requerer, com a apresentação do rol, a sua notificação para comparência ou se forem
inquiridas por teleconferência”.

508º CPC – consequências do não comparecimento das testemunhas.

510º CPC – faculdade de substituir uma testemunha.

511º CPC – temos a limitação de 10 testemunhas pelo autor e 10 testemunhas pelo réu.
Acrescem 10 testemunhas pelo reconvinte, exceto se estivermos perante uma ação de valor
não superior à alçada da primeira instância. Nesses casos, o limite do número de testemunhas
é reduzido para metade.

512º CPC – “antes da inquirição, as testemunhas são recolhidas a uma sala, donde saem para
depor pela ordem em que estiverem mencionadas no rol, primeiro as do autor e depois as do
réu, salvo se o juiz determinar que a ordem seja alterada ou as partes acordarem na
alteração”.

2 incidentes relativamente à produção de prova testemunhal

Contradita – acontece quando sabemos que a testemunha está, no âmbito daquele processo, a
dizer algo contrário àquilo que já manifestou no decurso de outro processo. Quando temos um
processo cível e um processo criminal, as testemunhas podem dizer coisas contrárias e nessa
circunstância é necessário pedir para se extrair uma certidão das declarações da testemunha
no âmbito do processo-crime, mostrando a contradição da testemunha – 521º CPC.

Acareação – “quando existe oposição direta, acerca de determinado facto, entre os


depoimentos das testemunhas ou entre eles e o depoimento da parte, pode ter lugar,
oficiosamente ou a requerimento de qualquer das partes, a acareação das pessoas em
contradição” – 523º CPC.

525º CPC – há testemunhas que podem requerer o pagamento das despesas e a fixação de
uma indeminização equitativa.

526º CPC – quando há testemunhas que não foram reveladas pelas partes, o juiz pode ordenar
que sejam notificadas quando o tribunal considera importante ouvir o seu depoimento.

3). Relativo à força probatória dos vários meios de prova.

Força probatória dos meios de prova

• Regra no que diz respeito à apreciação dos meios da prova

A regra é a chamada prova livre ou livre apreciação da prova – artigo 607º/5 CPC “O juiz
aprecia livremente as provas segundo a sua prudente convicção acerca de cada facto...”. Isto
traduz-se, por exemplo, se temos prova testemunhal e as testemunhas apresentam uma
versão distinta acerca desse facto em concreto, aqui o Tribunal vai ter que apreciar essa prova
testemunhal e vai ter que decidir se esse facto em concreto vai ser dado como provado ou
não. Na prática o juiz vai, com base na regra da livre apreciação da prova vai tentar aferir,
antes de mais, da credibilidade que a testemunha lhe apresenta, ou seja, da credibilidade do
depoimento, e depois vai também lançar mão das regras da experiência comum.

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Resumindo: o juiz consegue aferir da credibilidade de uma testemunha, por exemplo, através
da postura da testemunha no Tribunal, se aparenta estar nervosa ou se está absolutamente
calma, se a testemunha tem um discurso sem incorreções, ou se tem um discurso
contraditório. Tudo isto são indicadores que o juiz vai retirar desse depoimento para dar conta
de o facto de o depoimento daquela testemunha em concreto ter merecido determinada
credibilidade. É importante atribuir credibilidade à testemunha porque, desde logo, a decisão
que o juiz vai proferir quanto à matéria de facto vai ter que ser motivada, o juiz vai ter que
dizer expressamente que deu aquele facto como provado com base em determinados meios
de prova, entre os quais vai constar a tal testemunha que mereceu credibilidade. Há formas de
afetar a credibilidade da testemunha, dentro da prova testemunhal temos dois incidentes –
acareação e contradita – a contradita destina-se a afetar a credibilidade da testemunha ou a
colocar em causa a credibilidade da testemunha, agora para além disto não há essa
possibilidade – regra. Exemplos: art. 358º/4 CC “A confissão judicial que não seja escrita e a
confissão extrajudicial feita a terceiro ou contida em testamento são apreciadas livremente
pelo tribunal”; art. 389º CC “A força probatória das respostas dos peritos é fixada livremente
pelo tribunal.”; art. 391º CC “O resultado da inspeção é livremente apreciado pelo tribunal.”

Porém, em certas circunstâncias a prova não é apreciada livremente pelo Tribunal, porque a lei
estabelece expressamente qual é a força probatória de determinados meios de prova, e nestes
casos falamos na prova legal ou na prova tarifada, surgem então em oposição ao sistema regra
da livre apreciação da prova.

Segundo o grau de destrutibilidade dos resultados probatórios existe a prova bastante, a prova
plena e a prova pleníssima, ou seja, de que forma é que podemos pôr em causa determinados
meios de prova.

• Prova bastante. Esta prova pode ser afetada pela contraprova, ou seja, pode ser
destruída apenas pela criação do chamado estado de dúvida. – art. 346º “Salvo o disposto no
artigo seguinte, à prova que for produzida pela parte sobre quem recai o ónus probatório pode
a parte contrária opor contraprova a respeito dos mesmos factos, destinada a torná-los
duvidosos; se o conseguir, é a questão decidida contra a parte onerada com a prova”.

• Prova Plena. É necessário fazer a prova do contrário – art. 347º do CC “A prova legal
plena só pode ser contrariada por meio de prova que mostre não ser verdadeiro o facto que
dela for objeto, sem prejuízo de outras restrições especialmente determinadas na lei.
Exemplos: art. 371º/1 CC “fazem prova plena dos factos que referem como praticados pela
autoridade ou oficial público respetivo, assim como dos factos que neles são atestados com
base nas perceções da entidade documentadora”; as presunções legais iuris tantum – art
350º/2 “As presunções legais podem, todavia, ser ilididas mediante prova em contrário, exceto
nos casos em que a lei o proibir.”; art. 358º/1 CC “A confissão judicial escrita tem força
probatória plena contra o confitente”

• Prova Pleníssima. As presunções legais iuris et iuris são presunções inilidíveis por
admitirem sequer prova do contrário fazem prova pleníssima, não conseguem ser destruídas.

1.4. Quarta fase: Audiência final.


Audiência final – art 599º a 606º CPC

CPC 1961 – 4 partes

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• Discussão da matéria de facto

• Decisão da matéria de facto

• Discussão da matéria de direito

• Decisão ou julgamento da matéria de direito/sentença

- Em 2013 esta audiência de discussão e julgamento passa a chamar-se de audiência final,


também em linha com a audiência prévia, que antecede a audiência final.

- 1º aspeto: Estas 4 partes podem ser agrupadas em duas, em primeiro lugar, a primeira e a
segunda parte dizem respeito à matéria de facto, e a terceira e quarta partes dizem respeito à
matéria de direito, tal como acontece nas fases iniciais do processo comum de declaração,
nomeadamente na fase dos articulados, o processo não pode ser compartimentado, os atos
iniciais têm vários reflexos noutras fases, o processo está todo interligado. Se formos ao art.
5º/1 constatamos que as partes são obrigadas a carregar para os processos os factos
essenciais, isso é um ónus das partes, mas também é verdade (nr.2) que o Tribunal pode
socorrer-se de outros factos além daqueles que as partes trouxeram para os processos, mas o
ónus recaí sobre as partes, portanto, a tarefa essencial do réu e do autor é trazer para o
processo nos seus articulados a matéria de facto que vai ser relevante para aquele processo.
Só que muitas vezes as partes não se bastam com essa matéria de facto, as partes decidem
trazer também a matéria de direito, as razões jurídicas que sustentam a factualidade por elas
aduzida – art. 5º/3 “O juiz não está sujeito às alegações das partes no tocante à indagação,
interpretação e aplicação das regras de direito”, também a sentença vai ter uma especial
atenção de dizer, relativamente à matéria de facto, o que é que resultou da discussão, e
depois da discussão dizer qual dessa matéria de facto é que resultou como provada ou não
provada, portanto a decisão da matéria de facto tem apenas esse objetivo - o que é que foi
provado ou não com uma obrigação adicional, a obrigação de motivação, é preciso que o
Tribunal diga, relativamente aos factos dados como provados, qual foi o meio de prova em
concreto que lhe permitiu dar aquele facto como provado (ex: a testemunha X ou Y). Só desta
forma é que se consegue sindicar essa decisão quanto à matéria de facto, só dessa forma é
que o TR consegue ver se, de facto, aquelas testemunhas e aqueles documentos permitiam ao
Tribunal de 1ª instância ter dado como provado ou não. A segunda parte, relativamente à
matéria de direito, quando estamos no âmbito do direito aos factos isto vai traduzir-se na
prolação da sentença.

2º aspeto: Atualmente esta fase tem apenas uma parte, a discussão da matéria de facto, que
se alia à discussão da matéria de direito, esta fase da decisão da matéria de facto está
incorporada na quinta fase, na fase a sentença. A sentença destina-se quer da matéria de
direito, quer da matéria de facto – art. 607º/3 e 4 (o nr.4 quanto à motivação) “Seguem-se os
fundamentos, devendo o juiz discriminar os factos que considera provados e indicar,
interpretar e aplicar as normas jurídicas correspondentes, concluindo pela decisão final” (nr.3);
“Na fundamentação da sentença, o juiz declara quais os factos que julga provados e quais os
que julga não provados, analisando criticamente as provas, indicando as ilações tiradas dos
factos instrumentais e especificando os demais fundamentos que foram decisivos para a sua
convicção; o juiz toma ainda em consideração os factos que estão admitidos por acordo,

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provados por documentos ou por confissão reduzida a escrito, compatibilizando toda a


matéria de facto adquirida e extraindo dos factos apurados as presunções impostas pela lei ou
por regras de experiência” (nr.4).

O que se vai passar na audiência final é – 604º/3 a) – d):

“a) Prestação dos depoimentos de parte;

b) Exibição de reproduções cinematográficas ou de registos fonográficos, podendo o juiz


determinar que ela se faça apenas com assistência das partes, dos seus advogados e das
pessoas cuja presença se mostre conveniente;

c) Esclarecimentos verbais dos peritos cuja comparência tenha sido determinada


oficiosamente ou a requerimento das partes;

d) Inquirição das testemunhas”,

ou seja, a produção da prova que ainda não foi produzida e os debates entre os mandatários
das partes, as alegações. Essas alegações são quer de facto, quer de direito e são de modo oral
– e) art. 604º “Alegações orais, nas quais os advogados exponham as conclusões, de facto e de
direito, que hajam extraído da prova produzida”.

3º aspeto: A audiência final é levada a cabo por apenas 1 juiz, a regra é a do Tribunal singular –
art. 599º “A audiência final decorre perante juiz singular, determinado de acordo com as leis
de organização judiciária”.

No CPC de 1961 dependia da forma de processo. Atualmente, o facto de o Tribunal ser


sempre singular está relacionado com a gravação ou não da audiência, agora as audiências são
sempre gravadas – art. 155º CPC “A audiência final de ações, incidentes e procedimentos
cautelares é sempre gravada, devendo apenas ser assinalados na ata o início e o termo de cada
depoimento, informação, esclarecimento, requerimento e respetiva resposta, despacho,
decisão e alegações orais”, se há gravação da audiência não há necessidade de haver um
Tribunal coletivo, cujo objetivo era a apreciação da prova, com a gravação deixa de ser
necessário.

4º aspeto: Há uma maior restrição no CPC atual quanto às circunstâncias ou motivos que
possibilitam o adiamento da audiência, desde logo, ao abrigo do CPC de 61 as partes podiam,
por acordo, suspender a instância em qualquer estado do processo, o prazo máximo de
suspensão era 6 meses, bastava ter como motivo “estamos em vias de chegar a acordo” para a
instância ser suspensa. Atualmente, as partes podem pedir a suspensão a suspensão da
instância, mas desde que essa suspensão da instância não implique o adiamento da audiência
– art. 272º/4 “As partes podem acordar na suspensão da instância por períodos que, na sua
totalidade, não excedam três meses, desde que dela não resulte o adiamento da audiência
final”.

A audiência só pode ser adiada nas circunstâncias prevista no art. 603º (3 de 4):

“...impedimento do tribunal, faltar algum dos advogados sem que o juiz tenha providenciado
pela marcação mediante acordo prévio ou ocorrer motivo que constitua justo impedimento.”

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(Se se tiver dado cumprimento ao art. 151º a falta de advogado não determina adiamento da
audiência.)

A quarta circunstância está presente no art. 424º “A apresentação de documentos nos termos
do disposto no n.º 3 do artigo anterior não obsta à realização das diligências de produção de
prova, salvo se, não podendo a parte contrária examiná-los no próprio ato, mesmo com
suspensão dos trabalhos pelo tempo necessário, o tribunal considerar o documento relevante
e declarar que existe grave inconveniente no prosseguimento da audiência”, ou seja, tem a ver
com a apresentação de um documento no dia da realização da audiência final, e não basta
apresentar o documento, também é necessário que a parte contrária não tenha a possibilidade
de na própria audiência de contraditar o documento em questão, que não prescinda do prazo
de vista desse documento ( normalmente 10 dias) – só nestas circunstâncias é que há
adiamento.

Princípios que norteiam a audiência final

Primeiro, o princípio da imediação e da oralidade (art. 605º) – privilegia o contacto pessoal


entre as partes, o Tribunal, os mandatários, etc. Muitas vezes isto não acontece e as
testemunhas são inquiridas por videoconferência, desde que as testemunhas residam em
comarca diversa, desde que a parte não se comprometa a apresentar a testemunha
presencialmente no Tribunal da causa (também podem estar no domicílio profissional do
mandatário o que não costuma acontecer, normalmente estão no Tribunal da área da sua
residência).

Segundo, o princípio da publicidade (art. 606º/1), as audiências finais são públicas. Há


exceções, as ações que tenham a ver com o caráter privado das pessoas, por exemplo, ações
de direito da família.

Terceiro, princípio da concentração ou da continuidade da audiência (art. 606º/2 e 3), se não


houver condições para encerrar a audiência no próprio dia tem que haver continuação nos 30
dias seguintes, se acontecer que o Tribunal ou o mandatário não conseguir dar continuidade
no prazo de 30 dias tem que justificar identificando o processo que o impede de estar presente
num dia dentro do prazo.

- Não havendo adiamento, no dia da audiência final há lugar a uma chamada das pessoas que
foram convocadas para essa audiência, as partes, os mandatários, os peritos, as testemunhas,
etc. Se uma testemunha não aparecer, pode ser condenada em multa e pode ter que
comparecer na próxima data sob custódia, a não ser que o mandatário prescinda da
testemunha faltosa.

Feita a chamada, há uma tentativa de conciliação por parte do juiz, se der resultados o
processo termina, através da chamada transação (estando perante direito disponíveis), não
havendo possibilidade de conciliação inicia-se a audiência final com a produção dos factos
presentes no art. 604º/3.

1.5. Quinta fase: Sentença.


A sentença, em bom rigor, diz respeito à aplicação do direito aos factos dados como provados.
A sentença é a decisão final, mas também serve para decidir a matéria de facto. Antes do CPC
de 2013, havia uma separação entre a decisão de matéria de facto e uma decisão da matéria
de direito. A sentença em bom rigor só servia para decidir a matéria de direito. Atualmente, a

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sentença serve quer para decidir a matéria de direito como serve para decidir a matéria de
facto - 604º, n3 e 4.

Teremos a decisão final proferida pelo juiz singular que tem a seu cargo este processo.

Quinta e última fase do processo comum declarativo – Sentença

A sentença vai corresponder à decisão quanto à matéria da causa e é uma decisão que surge
após a audiência final e após a instrução que é levada a cabo no âmbito da audiência final.

Há outras formas de dar por concluída a ação numa fase anterior como, por exemplo, o
despacho saneador sentença na segunda fase da gestão inicial do processo e da audiência
prévia, este também consubstancia a decisão da causa, mas não surge após a audiência final.

A sentença pode pronunciar-se quanto a várias questões: quanto a questões processuais,


quanto a questões de mérito, quanto a questões processuais e de mérito, quanto à questão da
litigância de má-fé. Deve, ainda, pronunciar-se quanto à questão das custas.

1. Quanto às questões processuais (as exceções dilatórias), já foram mencionadas quer


no âmbito do despacho pré-saneador, quer no âmbito do despacho saneador. A sentença
ainda se pode versar sobre estas questões quando o juiz tenha deixado o conhecimento de
determinadas exceções dilatórias para o final, quando para o conhecimento destas seja
relevante, por exemplo, a produção de uma determinada prova testemunhal. Quando temos o
conhecimento de questões processuais, temos a formação do caso julgado formal com
validade intra processual apenas.

2. Quanto a questões de mérito, quando a sentença conhece do mérito, a decisão vai ser
a da absolvição do réu do pedido ou da condenação do réu do pedido, podendo ser uma
absolvição total ou parcial ou podendo ser uma condenação total ou parcial. O juiz só se
pronuncia quanto à questão que lhe foi trazida pelas partes para decisão, mas podemos ter
exceções perentórias, onde o juiz vai mencioná-las na sentença.

3. Quanto a questões processuais e de mérito, podemos ter este conhecimento quando


não se julgar como verificada a exceção dilatória que foi invocada. Não sendo julgada
verificada, o tribunal pode conhecer quanto ao mérito. À posteriori podemos ter a absolvição
ou condenação do réu do pedido.

4. Quanto à questão das custas, é uma obrigatoriedade porque o tribunal tem sempre de
se pronunciar quanto às custas (art.527º CPC). O normal é ser o réu a arcar com o pagamento
das custas, partindo do princípio que vai ser condenado. Na prática, é a parte vencida que irá
arcar com o pagamento das custas da ação. Por vezes pode haver um decaimento do autor no
âmbito da ação e quando isso acontece as partes vão ser proporcionalmente responsáveis pelo
pagamento das custas. Se houver um decaimento de 30% relativamente ao pedido formulado
pelo autor, o autor será responsável pelo pagamento das custas correspondentes aos 30% e o
réu será responsável pelos 70% restantes.

5. Quanto à questão da litigância de má-fé, pode haver um conhecimento quanto à


litigância de má-fé quando uma das partes tenha vindo requerer este instituto (542º e ss CPC).

Portanto, a parte decisória da sentença irá sempre corresponder a uma destas 5 hipóteses.

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Para a sentença ser prolatada tem que o ser dentro do prazo que decorre do art.607º nº1 que
é um prazo de 30 dias. Depois do encerramento da audiência final, o processo é concluso ao
juiz para mais tarde proferir a sentença. Os prazos perentórios têm a característica de
precludir ou extinguir o direito de praticar o ato uma vez decorridos ou ultrapassados.
Portanto, não poderíamos considerar que este fosse um prazo perentório porque senão
passados os 30 dias, fruto do princípio da preclusão, não poderia ser proferia sentença e tem
sempre que haver uma decisão.

Concluindo, este prazo costuma classificar-se como um prazo meramente ordenador ou


indicativo. Na prática, se o juiz não cumprir estes 30 dias não haverá grandes consequências a
nível processual, mas poderão existir outro tipo de consequências, designadamente, a nível
disciplinar sobretudo se houver alguma reiteração por parte do magistrado judicial do
incumprimento dos prazos da decisão, pode haver fruto de uma inspeção, ou fruto de uma
denúncia ou uma queixa por parte dos mandatários ao Conselho Superior da Magistratura
pode haver a instauração de um procedimento disciplinar ou então poderá ter uma
consequência a nível da avaliação que o juiz irá ter, avaliação esta que será muito importante a
nível de concurso a Tribunais superiores. Tirando estas consequências disciplinares ou a nível
de avaliação não se retiram grandes consequências e daí explicar-se o facto de haver bastantes
processos que não têm a decisão neste prazo de 30 dias, e aqui estamos a equacionar os casos
da jurisdição cível onde as coisas estão mais ou menos controladas, mas, por exemplo, na
jurisdição administrativas as sentenças podem demorar anos a ser proferidas. Nos termos
deste nº 1 há ainda uma hipótese de abertura de audiência, quando o Tribunal não se julgar
suficientemente esclarecido, podendo haver ainda a reabertura da audiência final ouvindo-se
as pessoas que o Tribunal entender e ordenando-se as demais diligências necessárias.

Estrutura da sentença

A parte decisória da sentença á apenas 1 das 3 partes que compõem a sentença em termos de
estrutura.

1. Relatório;

2. Fundamentação;

3. Decisão.

Quanto ao relatório – art. 607º nº 2 “A sentença começa por identificar as partes e o objeto do
litígio, enunciando, de seguida, as questões que ao tribunal cumpre solucionar”. Portanto,
depois de se identificar todas as partes intervenientes no processo, depois de fazer uma
espécie de transcrição de parte daquele despacho do art. 596º, onde houve uma identificação
do objeto do litígio, na prática, contando aqui a história que se passou nos autos até este
momento, depois existe uma expressão que normalmente é utilizada pelo magistrado “posto
isto cumpre apreciar e decidir”. Isto é, faz-se a transição da parte do relatório para a parte da
fundamentação.

Relativamente à fundamentação – art. 607º nº 3 e 4:

“3 - Seguem-se os fundamentos, devendo o juiz discriminar os factos que considera provados e


indicar, interpretar e aplicar as normas jurídicas correspondentes, concluindo pela decisão
final.

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4 - Na fundamentação da sentença, o juiz declara quais os factos que julga provados e quais os
que julga não provados, analisando criticamente as provas, indicando as ilações tiradas dos
factos instrumentais e especificando os demais fundamentos que foram decisivos para a sua
convicção; o juiz toma ainda em consideração os factos que estão admitidos por acordo,
provados por documentos ou por confissão reduzida a escrito, compatibilizando toda a
matéria de facto adquirida e extraindo dos factos apurados as presunções impostas pela lei ou
por regras de experiência”.

Depois de se terem identificado todos os factos que interessam à decisão da causa, o Tribunal
vai ter que, relativamente a cada um deles, os considerar provados ou não provados, e depois
vai ter que fazer apelo a todos os meios de prova que o processo contém, designadamente à
prova testemunhal, à prova documental, sem prejuízo de ter havido o depoimento de parte, a
prova pericial, e vai ter que relativamente a cada um dos factos indicar qual foi a prova que lhe
permitiu ter chegado a essa conclusão de ter dado como provado ou não provado esse
determinado facto. Esta é uma parte fundamental no âmbito da sentença porque vai haver
possibilidade de a parte que não se conforme com essa prova a nível da factualidade poder
impugnar a mesma junto do Tribunal da Relação. Para impugnar essa matéria de facto, a parte
vai ter que ver se, de facto, a prova que foi produzida permitia ou não ao juiz ter tomado a
decisão quanto à matéria de facto em causa, isto é, ter dado aquele facto como provado, ou se
pelo contrário teria que dar como não provado.

Também é importante – alínea b) art. 615º “Não especifique os fundamentos de facto e de


direito que justificam a decisão” – causa de nulidade da sentença, daí a relevância da parte da
fundamentação ou motivação.

Finalmente a parte da decisão, a parte final do nº 3 do art. 607º “concluindo pela decisão
final”. Na prática, vai haver uma subsunção o direito aos factos que foram dados como
provados, esses factos vão modificar-se numa decisão quanto aspeto jurídico da causa e aí
temos a parte decisória.

A decisão tem determinados limites – art. 609º, ou seja, há uma manifestação do princípio do
dispositivo no âmbito da sentença e essa manifestação traduz-se no facto de o Tribunal não
poder condenar em quantidade superior ou em objeto diverso relativamente ao que se pediu.
Se o fizer temos uma nulidade da sentença – e) nº 1 art. 615º “O juiz condene em quantidade
superior ou em objeto diverso do pedido” – remissão para Código Processo Trabalho art. 74º,
exceção a esta regra.

Proferida a sentença e esta feita de acordo com o art. 613º nº1, esgota-se o poder jurisdicional
do juiz quanto à matéria da causa, ou seja, o juiz não pode fazer qualquer alteração da mesma
no que diz respeito ao mérito. Pode é proceder a determinadas alterações relativamente a
determinados aspetos, designadamente os constantes do nº2 do art. 613º “É lícito, porém, ao
juiz retificar erros materiais, suprir nulidades e reformar a sentença, nos termos dos artigos
seguintes”. Os erros materiais estão previstos no art. 614º nº 1 “Se a sentença omitir o nome
das partes, for omissa quanto a custas ou a algum dos elementos previstos no n.º 6 do artigo
607.º, ou contiver erros de escrita ou de cálculo ou quaisquer inexatidões devidas a outra
omissão ou lapso manifesto, pode ser corrigida por simples despacho, a requerimento de
qualquer das partes ou por iniciativa do juiz”.

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Por outro lado, o suprimento de nulidades está previsto no art. 615º nº2 “A omissão prevista
na alínea a) do número anterior é suprida oficiosamente, ou a requerimento de qualquer das
partes, enquanto for possível colher a assinatura do juiz que proferiu a sentença, devendo este
declarar no processo a data em que apôs a assinatura”. Logo, é causa de nulidade da sentença
o facto de a mesma não estar assinada pelo juiz e esta hipótese pode ser suprida
oficiosamente por parte do magistrado enquanto for possível colher a sua assinatura.

Por outro lado, pode também haver alteração a nível da sentença prolatada nas situações de
reforma. As situações de reforma são as situações previstas no art.616º.

Tirando estas 3 hipóteses, a sentença não pode ser alterada e daí dizer-se que se esgota o
poder jurisdicional. Este é um dos efeitos processuais da prolação da sentença. No entanto, há
outros. Desde logo, o chamado trânsito em julgado que está previsto no art.628º, segundo o
qual “a decisão transita em julgado ou considera-se passado em julgado, quando não for
suscetível de reclamação ou interposição de recurso ordinário”. Na prática, isso pode ocorrer
pelo decurso do prazo, o que nos leva à questão de qual é o prazo que normalmente a parte
dispõe para interpor recurso. Esse prazo, normalmente, é de 30 dias de acordo com o art. 638
nº1. Prazo este que se vai aplicar quer ao recurso de apelação, quer ao recurso de revista.
Neste caso, interessa sobretudo quanto à apelação. Assim sendo, estando ultrapassado este
prazo de 30 dias, a sentença considera-se transitada em julgado. No caso, a partir do momento
em que a parte é notificada da decisão, temos que ver em que data em concreto em que se vai
dar como efetuada essa notificação. Já sabemos que, normalmente, se a notificação for feita
por intermedio do citius, considerar-se-á notificada a sentença no terceiro dia posterior ao da
elaboração do ato. No entanto, se este terceiro dia não for um dia útil, considerar-se-á no
primeiro dia útil subsequente à elaboração. Posteriormente, temos ainda que fazer apelo ao
art.139 nº 5 que possibilita a prática do ato, e no caso em concreto o que estamos a
equacionar é o ato de interposição do recurso, num dos 3 primeiros dias úteis subsequentes
ao termo do prazo, ou seja, ainda podemos, para além do 30º dia praticar o ato no primeiro,
segundo ou terceiro dia útil subsequente a esse desde que seja com multa. Só ultrapassada
esta última possibilidade é que teremos o transito em julgado na sentença.

Ainda teremos, porém, uma outra hipótese: A parte renunciar ao direito de recorrer
antecipadamente. Portanto, se a parte prescinde ao direito de recurso, a sentença vai transitar
em julgado antes mesmo de decorrida essa possibilidade de interpor recurso.

Um outro aspeto relevante: para além do prazo de 30 dias, pode, no entanto, haver uma
redução do prazo para metade – 15 dias – isto também decorre do nº 1 do art.638º. Por
exemplo, como acontece no caso dos processos urgentes.

Quando há sentença em julgado forma-se o caso julgado. Portanto, estamos perante outro
efeito processual.

Por outro lado, também se vai verificar um outro efeito processual. A extinção da instância,
isto é, uma vez proferida a sentença, a instância extingue-se. Art.277º – causa da extinção da
instância, mais precisamente na alínea a), quando se faz apelo ao julgamento.

Um outro efeito processual é a exequibilidade. Isto é, num caso específico de sentenças,


designadamente as sentenças condenatórias, a sentença proferida no âmbito de uma ação
declarativa de condenação, sendo título executivo por excelência, é dotada de exequibilidade.
Portanto, não havendo um cumprimento voluntario por parte do réu, o autor pode dar essa
sentença à execução. Pode instaurar uma ação executiva contra o réu/executado. Só são

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passiveis de dar à execução as sentenças que são proferidas no âmbito de uma ação
declarativa de condenação. Se tivermos uma ação de simples apreciação ou constitutiva, ela
não é passível de ser executada. Portanto, o efeito da sentença esgota-se só pela sua prolação.

Último efeito é o efeito lateral de direito material – efeito previsto no CC no art.829º A nº 4.

2.Citação
Inserção da citação no âmbito da tramitação de uma ação declarativa em juízo

A citação é um ato que compõe o processo.

Primeiro tivemos a elaboração da petição inicial, depois a apresentação da mesma no tribunal,


depois, partindo do pressuposto que a petição inicial foi aceite pela secretaria, tivemos a
distribuição, atuação e depois a citação.

Citação: Noção no artigo 219º/1. Se tivemos a apresentação da petição inicial e se a petição


inicial manifesta o princípio do dipositivo, será através da citação que se vai dar a conhecer
ao réu de que contra ele foi proposta essa determinada ação e se vai possibilitar que o réu
tomando conhecimento da propositura da ação exerça o seu direito ao contraditório através
da contestação. Na prática temos o conhecimento ao réu de uma propositura de uma
determinada ação judicial.

A citação exerce 3 funções, a tripla função da citação:

Primeiro: estamos a falar da transmissão de conhecimento. A secretaria está a dar a conhecer


o réu de que contra ele foi proposta uma determinada ação;

Segundo: O convite para a defesa. Porquê convite? Porque as normas do direito adjetivo, na
prática consubstanciam ónus a cargo das partes. Portanto, não há uma obrigatoriedade legal
de o réu apresentar a sua defesa ou contestação. Se ele não o fizer, ele vai sofrer uma
determinada consequência jurídico-processual.

Terceiro: A constituição do réu como parte. Só com o ato formal da citação é que deixamos de
ter o citando e passamos a ter o citado/réu.

Segundo o 227º verificamos a transmissão do conhecimento ao réu, conjuntamente com a


citação, o réu vai ter acesso à petição inicial e aos documentos que a acompanham.

O artigo 226º refere o principio da oficiosidade das diligências destinadas à citação. –


Atualmente é a secretaria que leva a cabo a citação sem necessidade do despacho do juiz.

Mas este artigo 226º tem ainda outra componente, não está só patente no mesmo o principio
da oficiosidade, como também o principio da celeridade, na vertente das diligências referentes
à citação. Onde podemos ver o principio da celeridade? No número 2 e 3 do mesmo artigo.

Citação urgente- artigo 226º/4, alínea f) faz remissão para o 561º

Na prática quando é que se leva a cabo uma citação urgente? Quando é necessário e tem de
ser o autor a requer essa citação urgente. E tem de o fazer de modo motivado ou justificado.
Nos termos do número 2 a citação urgente tem prioridade sobre as outras citações. É levada a
cabo antes das outras citações. Em que casos em que podemos ter citações urgentes? Quando
existam determinadas vicissitudes ligadas ao réu. Ex: se eu, autor, tomo consciência que o réu
se vai ausentar de Portugal, se eu tomo conhecimento que fruto da idade avançada e de uma
doença que pode determinar com o desaparecimento do réu, eu provavelmente terei o

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interesse em requerer a citação urgente, portanto, este é um primeiro leque que justificam um
pedido de citação urgente.

Ex.2: Por outro lado, posso ter necessidade de requer a citação urgente quando estiver em vias
de ver completado um determinado prazo.

2.1. Modalidades de citação.


existem duas, previstas no artigo 225º/1 do CPC.

Pode ser uma citação pessoal ou edital. Podemos estar perante uma terceira modalidade
prevista no artigo 225º/3, promovida por mandatário judicial.

2.1.1 Citação pessoal


A citação pessoal, nos termos do número 2, é feita por via eletrónica, por via postal ou pelo
agente de execução ou pelo funcionário judicial. Nestas alíneas não está a alusão mandatário
judicial, podemos afirmar que é uma outra modalidade de citação.

Em que medida é feita a citação pessoal e a citação edital?

Citação pessoal: nos termos do número 2, alínea a), diz que a citação pessoal pode ser feita de
via eletrónica.

Alínea b), citação pessoal por via postal: como é que se leva a cabo a citação por via postal?
Remetemos para o artigo 228º.

A citação pessoal por via postal pode dar-se não só na pessoa do citando como na pessoa de
outrem que se encontre ou não na sua residência de local de trabalho.

Não temos necessidade de ser o próprio a receber essa citação.

A citação pode ser recebida por terceiro? Em que moldes? A citação considera-se efetuada
mesmo que tenha sido recebida por terceiro.

Nos termos do número 2 do artigo 228º (2 - A carta pode ser entregue, após assinatura do
aviso de receção, ao citando ou a qualquer pessoa que se encontre na sua residência ou local
de trabalho e que declare encontrar-se em condições de a entregar prontamente ao citando ),
determina a data precisa em que se considera o citando como citado, «após assinatura do
aviso de receção». Daqui remetemos para o 230º/1 do CPC (Data e valor da citação por via
postal 1 - A citação postal efetuada ao abrigo do artigo 228.º considera-se feita no dia em que
se mostre assinado o aviso de receção e tem-se por efetuada na própria pessoa do citando,
mesmo quando o aviso de receção haja sido assinado por terceiro, presumindo-se, salvo
demonstração em contrário, que a carta foi oportunamente entregue ao destinatário.)

Este 230º/1 fica clarificado, mais uma vez, que não tem de ser o próprio a assinar o aviso de
receção.

O que acontece se o terceiro de má fá não entregar a citação ao citando? E se o terceiro de


má-fé não entregar a citação ao citando? A secretaria para evitar essa circunstância, no prazo
de dois dias uteis, envia uma carta registada, sem aviso de receção, para o citando, para
comunicar que a sua citação foi assinada na pessoa de um terceiro. A consequência para o
terceiro de má-fé, encontra-se no final do 228º/1 é que este vai ser responsabilizado por
litigância de má-fé, designadamente, pode vir ser aplicado numa multa, numa indemnização

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ao citado se efetivamente este tiver sofrido prejuízo pelo simples facto de não ter tido acesso à
citação no devido tempo.

Em relação à advertência que a secretaria faz em dois dias úteis ao citado esta referenciada no
artigo 233º (Sempre que a citação se mostre efetuada em pessoa diversa do citando, em
consequência do disposto no n.º 2 do artigo 228.º e na alínea b) do n.º 2 do artigo anterior, ou
haja consistido na afixação da nota de citação nos termos do n.º 4 do artigo anterior, é ainda
enviada, pelo agente de execução ou pela secretaria, no prazo de dois dias úteis, carta
registada ao citando, comunicando-lhe:

a) A data e o modo por que o ato se considera realizado;

b) O prazo para o oferecimento da defesa e as cominações aplicáveis à falta desta;

c) O destino dado ao duplicado; e

d) A identidade da pessoa em quem a citação foi realizada.)

O que acontece se não for possível a entrega da carta? Voltando ao 228º, desta vez no seu
número 5: por vezes não é possível a entrega da carta. Então o que acontece? Será deixado um
aviso ao destinatário, identificando-se o tribunal de onde provém e o processo de que
respeita, averbando-se os motivos de impossibilidade de entrega e permanecendo a carta
durante 8 dias à sua disposição em estabelecimento postal devidamente identificado, ou seja,
simplificando, se o carteiro (o distribuidor do serviço postal) não conseguir proceder à entrega
da carta, a única coisa que ele vai fazer é deixar um aviso a comunicar ao citando que fica à sua
disposição durante 8 dias a carta no estabelecimento postal devidamente indicado. (5 - Não
sendo possível a entrega da carta, será deixado aviso ao destinatário, identificando-se o
tribunal de onde provém e o processo a que respeita, averbando-se os motivos da
impossibilidade de entrega e permanecendo a carta durante oito dias à sua disposição em
estabelecimento postal devidamente identificado).

É possível não sequer deixar aviso ao destinatário? Ainda pode ser possível nem sequer
deixar um aviso ao destinatário. Porquê? Não tem caixa de correio ou não se teve acesso ao
interior da habitação do prédio, então nos termos do número 7, o distribuidor do serviço
postal lavra nota do que aconteceu e devolve o expediente ao tribunal.

Tudo isto está relacionado com pessoas singulares, porque relativamente a pessoas coletivas
temos outras regras, previstas no artigo 246º do CPC (1 - Em tudo o que não estiver
especialmente regulado na presente subsecção, à citação de pessoas coletivas aplica-se o
disposto na subsecção anterior, com as necessárias adaptações.

2 - A carta referida no n.º 1 do artigo 228.º é endereçada para a sede da citanda inscrita no
ficheiro central de pessoas coletivas do Registo Nacional de Pessoas Coletivas.

3 - Se for recusada a assinatura do aviso de receção ou o recebimento da carta por


representante legal ou funcionário da citanda, o distribuidor postal lavra nota do incidente
antes de a devolver e a citação considera-se efetuada face à certificação da ocorrência.

4 - Nos restantes casos de devolução do expediente, é repetida a citação, enviando-se nova


carta registada com aviso de receção à citanda e advertindo-a da cominação constante do n.º
2 do artigo 230.º, observando-se o disposto no n.º 5 do artigo 229.º.

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5 - O disposto nos n.os 3 e 4 não se aplica às citandas cuja inscrição no ficheiro central de
pessoas coletivas do Registo Nacional de Pessoas Coletivas não seja obrigatória).

Nos termos do 246º/1, diz que tudo o que não esteja especialmente regulado na subsecção
das pessoas coletivas, vai aplicar-se o disposto das subsecções anteriores, com as necessárias
adaptações.

Para onde deve ser endereçada a citação da pessoa coletiva? Verifica-se o facto de que a
carta tendente à citação deve ser endereçada para a sede da citanda, que consta no ficheiro
central de pessoas coletivas do registo nacional de pessoas coletivas.

E se houver recusa da assinatura do aviso de receção ou recebimento da carta por


representante legal ou funcionário da citanda? Existe uma regra especifica que consta do
número 3: se for recusada a assinatura do aviso de receção ou o recebimento da carta por
representante legal ou por funcionário da citanda, o distribuidor postal abre nota antes da a
devolver, mas a citação considera-se efetuada face à certificação da ocorrência.

Distinção entre as pessoas coletivas e pessoas singulares no que toca à recusa da assinatura
da citação ou recebimento da carta: nas pessoas singulares, quando se recusa a assinatura da
citação ou o recebimento da carta, esta não se encontra efetuada. Nas pessoas coletivas, essa
recusa de assinatura ou de recebimento seja de um representante legal ou de um funcionário
da citanda, a citação considera-se efetuada.

Nos restantes casos, diz o número 4, vai repetir-se a citação.

Quais são os restantes casos? Estão relacionados com o não recebimento da carta ou recusa,
que não é feito por representante legal ou por funcionário da citanda.

Quando estamos perante domicilio convencionado? - artigo 229º: estamos perante o


domicilio convencionado quando é apresentado uma determinada ação para o cumprimento
de obrigações pecuniárias emergentes de contrato que tenha sido reduzido a escrito. Há um
domicilio que as partes (tanto pode ser pessoa singular como pessoa coletiva) estabeleceram
como domicilio preferencial para efeitos de citação. Ou seja, é dito expressamente pelas
partes que em caso de litigio entre elas o local para onde deve ser expedida a citação é aquele
em concreto, o domicilio convencionado.

Porque é que é relevante? Nos termos do número 3 do 229º, quando o citando recuse a
assinatura do aviso de receção ou recebimento da carta, o distribuidor postal lavra nota do
incidente antes de a devolver e a citação considera-se efetuada face à certificação da
ocorrência, ou seja, é o mesmo raciocínio feito para as pessoas coletivas. Se nós tivermos
perante um domicilio convencionado, basta que o próprio citando se recuse ao recebimento
da citação para se considerar que a citação se encontre efetuada.

Para além da via postal, vimos que tínhamos possibilidade de levar a cabo uma citação pessoal
por intermédio de contacto pessoal do agente de execução ou funcionário judicial, artigo
225º/2/c) (remissão para o 552º/g).

Partindo do pressuposto que o autor designou o agente de execução que vai levar a cabo a
citação, vamos seguir o disposto do artigo 231º.

Para além desta possibilidade, temos a Frustração da via postal (número 1 do 231º). Portanto,
podemos ter a citação por contacto pessoal do agente de execução a ocorrer em duas
circunstâncias: ou porque eu o escolhi logo no âmbito da petição inicial ou então pelo facto de

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a citação por via postal não ter sido efetuada e temos de passar para a possibilidade do
contacto pessoal do agente de execução.

Se o agente de execução levar a cabo a citação os elementos que constam do artigo 227º isto
é, o duplicado da petição inicial e os documentos que a acompanham, têm também de ser
entregue ao citando, ao abrigo do artigo 231º/2.

No 231º/3, com estes atos formais descritos, considera-se, por fim, a citação efetuada.

Só que o agente de execução pode enfrentar um problema. Qual? O citando recusar a receber
a citação. Como se resolve? No número 4, o agente de execução vai dar conhecimento que o
mesmo fica à disposição na secretaria judicial, mencionando tais ocorrências na certidão do
ato.

Quando é que nós temos a citação promovida por um funcionário judicial ao invés de um
agente de execução? Quando, nos termos do número 9, o autor tenha declarado assim
pretender, na petição inicial, e desde que tenha pago para o efeito a taxa fixada no
regulamento das custas processuais (artigo 9º/1 do RCP), no valor de metade de uma UC, ou
seja, 51€, sem prejuízo das custas adicionais presentes no decorrer do mesmo artigo.

A citação levada a cabo por mandatário judicial está prevista nos artigos 237º e 238º, sendo
que não precisa de ser o próprio signatário da petição a levar a cabo a citação, poderá ser um
colega de escritório, um solicitador, um empregado forense, pese embora, qualquer problema
que possa existir com essa citação, qualquer prejuízo que possa ser incutido ao citando, vai ser
da responsabilidade do signatário - 238º/3 (3 - O mandatário judicial é civilmente responsável
pelas ações ou omissões culposamente praticadas pela pessoa encarregada de proceder à
citação, sem prejuízo da responsabilidade disciplinar e criminal que ao caso couber). Este
último artigo remete para o artigo 237º/2.

Porém, podemos ter um problema. Qual? É o facto do agente de execução ou do funcionário


judicial não encontrarem o citando, mas têm a certeza que o citando reside ou trabalha
naquele local. Então estamos perante que figura? Está identificada no artigo 232º. «pessoa
encontrada que estiver em melhores condições de a transmitir ao citando» pode ser, por
exemplo, um vizinho. Ou se não aparecer ninguém, afixa-se o aviso no local mais indicado.
Qual é o mais indicado? O mais indiciado é a porta de residência do citando, ou seja, fica um
aviso na porta (232º/4).

2.1.2 Citação edital


É aquela que se realiza por intermédio de édito.

E realiza-se porquê? Porque temos uma ausência do citando em parte incerta. Quando não é
possível, mesmo depois de ter esgotado todas as bases de dados que possam estar à
disposição da secretaria ou do próprio para descobrir qual é a morada do citando, e só
esgotando essa base de dados é que temos a ausência por parte do citando em parte incerta,
passar-se-á para a citação edital.

Só podemos passar para a citação edital esgotando as bases de dados. No artigo 236º assim o
diz, isto é, depois ter sido impossível averiguar ou obter informação de residência do citando
depois de esgotarmos as bases de dados dos serviços de Identificação civil, da segurança
social, da autoridade tributária e aduaneira, do instituto da mobilidade e dos transportes
terrestres e, quando o juiz o considerar indispensável, junto das autoridades policiais.

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Só depois de esgotar todas estas possibilidades e não se chegando à conclusão do seu efetivo
paradeiro é que podemos passar à citação edital.

Quando isso ocorre como é que levamos a cabo esta citação edital? Os artigos 241º, segundo
qual, o próprio edital deve especificar a ação para o qual o ausente é citado, o autor e, em
substância, o pedido deste- a);

O tribunal em que o processo corre- b);

O prazo para a defesa, para a dilação e qual é a cominação para a não apresentação dessa
defesa-c);

A data dessa respetiva afixação- d).

A par do edital existe um anúncio (artigo 240º/1): a citação edital é feita pela afixação desse
edital seguida da publicação de anúncio, em página informática de acesso público. Atualmente
essa página de acesso público para efeitos de citação edital - https://tribunais.org.pt , nos
termos do artigo 24º da Portaria n.º 280/2013, de 26 de agosto.

Antes tínhamos a necessidade de publicação do anúncio no jornal, mais concretamente, nos 2


jornais mais lidos da localidade e tinha que ser efetuada em dois números seguidos desse
jornal. Aparecia entre os Classificados e a necrologia.

Na prática era a consagração da publicação de anúncio que tinha de ser feita em suporte de
jornal de papel.

Isto obrigaria a parte a ter que comprar esses dois números de jornal, a ter que recortar esse
anúncio e colar numa folha A4, para devolver ao tribunal para que o tribunal visse que de facto
anúncio foi publicado no jornal.

O édito, agora, que é apenas feito numa única via, também há pouco tempo era feita em 3
vias.

Primeiro, a afixação do edital no tribunal por onde decorria ação. Depois tinha de se afixar um
édito na junta de freguesia da última residência do citando em território nacional. Por fim,
tinha que se afixar esse édito na porta da casa da ultima residência do citando em Portugal.

Atualmente, apenas se tem de afixar, nos termos do n.2 do artigo 240º, na porta de casa da
última residência ou sede que teve no país.

Nos termos do artigo 242º/1, temos a regra para se saber quando é que se considera efetuada
a citação edital. Nos termos do 230º/1, a citação pessoal considera-se efetuada no dia em que
se assinou o aviso de receção, mas neste caso, considera-se a citação por édito efetuada no dia
da publicação do anúncio.

3.Prazos
Dilação ou Prazo Dilatório- artigo 245º: à defesa do réu/citado, pode acrescer um prazo de 5
dias, 15 dias ou de 30 dias, consoante determinadas circunstâncias. Se nos termos do número
1, alínea a), a citação tiver sido realizada em pessoa diversa, nós temos um acréscimo de 5 dias
ao prazo de defesa.

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Se nos termos da alínea seguinte, tivermos uma citação em comarca diversa, temos um prazo
de acréscimo de 5 dias igualmente.

Ex: tenho uma ação pendente no tribunal judicial da comarca do porto, mas o réu reside no
concelho onde se situa o tribunal judicial da comarca de Leiria. No âmbito desta situação,
tenho um acréscimo de mais 5 dias relativamente ao prazo perentório.

Se tivermos uma residência do réu no território das ilhas, nas regiões autónomas, nos Açores e
Madeira, o processo estiver pendente no território de Portugal Continental, nós temos um
acréscimo de 15 dias.

Se tivermos um caso de citação edital, se tivermos um caso de residência no réu no


estrangeiro, se estivermos perante a situação do domicilio convencionado, 229º, n.º 5, a
dilação é de 30 dias.

Nós podemos ter, relativamente ao prazo de contestação (que são 30 dias, artigo 561º/1-
prazo perentório), um prazo de 35 dias, um prazo de 45 dias e um prazo de 60 dias.

Pese embora, possamos ter a chamada cumulação de Dilações, nos termos do n.º 4, do artigo
245º, ou seja, se eu tiver uma citação que é realizada em pessoa diversa e em comarca diversa,
eu vou ter uma cumulação das dilações que se encontram nas alíneas a) e b), 5+5 dias= 10
dias.

Mas se por exemplo, eu tiver uma ação pendente em Portugal continental e que o réu resida
na Madeira, mas que a citação não seja na pessoa do réu, mas num terceiro, eu vou ter uma
cumulação dos 15 dias mais os 5 dias, portanto, vou ter uma dilação de 20 dias.

E seu eu tiver uma citação a ser levada no estrangeiro, mas não é levada a cabo na pessoa do
citando, mas de um familiar, eu vou ter uma cumulação de 30 mais 5 dias.

Os prazos dilatórios e perentórios são prazos processuais por oposição aos prazos
substantivos. Os prazos substantivos encontram-se previstos no artigo 279º do código civil.

Os prazos processuais ou adjetivos encontram-se previstos nos artigos 138º e seguintes do


código de processo civil.

No artigo 139º, números 2 e 3, uma noção de prazo dilatório e de prazo perentório.

Importa referir o artigo 142º que nos estabelece uma regra de contagem relativamente aos
prazos perentórios e dilatórios. O prazo que se deve contar em primeiro lugar, pese embora os
dois são iguais, é o dilatório. Os dois contam-se como um só.

Quando um prazo perentório se seguir um prazo dilatório, os dois contam-se como só.

O prazo dilatório, então, protela para outro momento o inicio de contagem de um outro prazo,
o prazo perentório.

O artigo 139º/5 estabelece a possibilidade de pratica de um ato num dos 3 primeiros dias úteis
subsequentes ao termo do prazo perentório. Ex: nós temos 30 dias para oferecer a
contestação, termina hoje. Eu ainda tenho hipótese nos termos deste artigo de praticar o ato,
ou no dia de amanhã (alínea a),), ou dois dias depois ou três dias depois (sendo que são dias
uteis), desde que pague uma multa que vai aumentando de valor consoante os dias se vão
decorrendo.

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No primeiro dia a multa corresponde a 10%; no segundo dia a 25%; no terceiro dia
corresponde a 40%, relativamente à taxa de justiça. A isto chama-se prazos de complacência.

Este prazo não ocorre apenas no âmbito de oferecimento de uma contestação.

Não confundir os prazos de complacência do artigo 139º/5, que surge no final da contagem de
um prazo perentório, com os prazos que se encontram previstos com os prazos previstos no
artigo 248º/1 e 249º/1.

Estes dois últimos artigos, ocorrem não no final da contagem do prazo, mas no inicio da
contagem do prazo. Não dizer que estes prazos se aplicam à citação, porque não citação,
porque de acordo com o 230º/1, considera-se efetivada no dia em que se mostra assinado o
aviso de receção. Nestes prazos do 248º/1 (previsto com constituição de mandatário) e do
249º/1 (sem constituição de mandatário), como é que, por exemplo a parte vai ser notificada
sem mandatário constituído? Por intermedio de correio. Se a carta é expedida pela secretaria
do tribunal judicial da comarca do porto e a principio é expedida para a residência da parte
que reside no tribunal judicial da comarca de Braga, em principio, a parte vai receber essa
notificação no dia de amanhã. Mas por exemplo, se a parte residir no tribunal judicial da
comarca de faro, provavelmente, não receberá amanhã, então para essas circunstâncias o
legislador entendeu estabelecer uma presunção para o recebimento do registo, que nos diz
que a notificação se considera efetuada no terceiro dia posterior ao do registo ou no primeiro
dia útil seguinte a esse, quando não o seja. Simplificando: se a carta é expedida hoje, amanhã é
o primeiro dia útil, depois o segundo dia útil e, por fim, o terceiro dia útil. Se calhar ao
domingo, que não é considerado um dia útil, considera-se a notificação efetuada no próximo
dia útil. E o prazo começa a contar quando? Nos termos do artigo 279º, alínea b), do código
civil, começa a contar a partir do dia seguinte à data em que ocorre o evento.

E este raciocínio aplica-se nos casos em que exista um mandatário judicial constituído. Só que
aí as notificações não são realizadas por correio postal, mas feitas través do CITIUS. Só que a
secretaria vai elaborar a notificação e no canto superior direito vai aparecer a data de
elaboração. Se foi elaborada hoje, o mandatário vai considera-se notificado no terceiro dia útil
posterior à elaboração. O prazo começa a contar quando? No dia seguinte ao terceiro dia útil.

Dias não úteis: sábados, domingos, feriados, tolerâncias de ponto.

Artigo 140º: pode haver a pratica de um ato posterior ao último dia (que até pode ser o
139º/5, c), e o justo impedimento permite-nos isso.

4. Contestação
Contestação-Reconvenção: vamos reconduzir-nos entre a comparação de uma contestação
defesa e contestação reconvenção. Relativamente à contestação reconvenção temos um
género de contra-ataque por parte do réu, ou seja, contrariamente àquilo que se sucede no
âmbito da defesa, onde o réu tem sobretudo a preocupação de se pronunciar quanto aos
factos que estão a ser alegados pelo autor ou negando-os ou então dando um diferente
enquadramento a nível jurídico desses factos ou então ainda invocado contra factos
impeditivos, modificativos ou extintivos, na reconvenção temos um contra-ataque. Na prática,
o réu vai deduzir um pedido autónomo contra o autor, um pedido distinto. A esse propósito há
duas coisas a saber: 1) Não significa isto (que o réu vai deduzir o pedido contra o autor) que
em todos os casos que exista uma dedução de pedido no âmbito da contestação estejamos
sempre perante uma reconvenção. Ex: se nós temos uma alegação da verificação de uma
situação que conduz à nulidade ou anulabilidade de um negocio jurídico e se fruto dessa

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alegação o réu consequentemente vem pedir que se declare a nulidade do contrato (não deixa
de ser um pedido), mas como é obvio não é um pedido reconvencional, não temos uma
reconvenção. Este pedido é uma mera decorrência de uma exceção perentória. Portanto,
importa ter presente que o pedido que o réu dirige ao tribunal, se traduz sempre numa
reconvenção.

A segunda nota, é pelo facto que de haver este tal pedido reconvencional, aqui já estamos a
referir um verdadeiro pedido autónomo e distinto, que as partes assumem uma outra
designação no momento em que estamos perante uma reconvenção. A designação é a de
Reconvinte, aquele que deduz o pedido convencional e de reconvindo, aquele contra quem é
deduzido o pedido reconvencional.

Vamos ao artigo 583º/1, segundo qual, a reconvenção deve ser expressamente identificada e
deduzida separadamente na contestação, expondo-se os fundamentos e concluindo-se no
pedido, nos termos das alíneas d) e e) do 552º/1. Desta norma percebemos que a reconvenção
atualmente é formulada no âmbito da contestação. É relevante porque no sistema jurídico
anterior, a reconvenção não era deduzida no âmbito da contestação, ou seja, no fundo não era
modalidade de contestação, mas era um incidente, isto é, no código de processo civil de 1876,
a reconvenção funcionava como um incidente. Quando vemos os incidentes das Instancias que
estão tipificados no código de processo civil atual, não encontramos a reconvenção, não se
considera um incidente, hoje em dia. Considera-se uma modalidade de contestação. Ela é uma
modalidade de contestação e o legislador tem a preocupação para que haja uma
individualização desta reconvenção, ou seja, o réu/reconvinte, quando está a fazer o seu
articulado, dizer expressamente que estamos perante uma reconvenção, porque o simples
facto de não se tomar posição concreta quanto à factualidade que está a ser deduzida na
reconvenção, também vai ter determinadas consequências jurídico processuais. Portanto,
como consequência do principio da boa fé processual, há necessidade de destacar a
reconvenção no âmbito da contestação, portanto, se a contestação tivemos uma cumulação
de modalidades deverá ter várias partes, isto é, uma primeira parte que é a contestação de
defesa, das Exceções e da Impugnação e depois uma segunda parte da Contestação
Reconvenção, portanto, verifica-se uma individualização da reconvenção.

Vejamos o 583º/2: estabelece que o reconvinte deverá declarar o valor da reconvenção, não o
fazendo a contestação não deixará de ser recebida, mas o reconvinte deverá ser convidado a
indicar o valor, sob pena de a reconvenção não ser atendida. O 583º/1 faz uma remissão para
as alíneas d) e e) do 552º, ou seja, é mais uma prova da autonomia do pedido do
réu/reconvinte, porque se na prática temos um pedido autónomo, este pedido autónomo
deve seguir os mesmos requisitos que segue o autor no âmbito da petição inicial. Significa que
no âmbito da reconvenção temos de ter a preocupação de alegar os factos essenciais nos quais
se estrutura ou assenta o pedido reconvencional e por outro lado, temos de formular esse
pedido reconvencional.

No artigo 558º/1, e), uma das consequências que leva à recusa da petição inicial é a falta de
indicação do valor da causa. Ora, aqui relativamente à reconvenção, nos termos do artigo
583º/2, se não tiver sido atribuído um valor à reconvenção a contestação não deixa de ser
recebida, portanto, não podemos ter logo ter uma consequência igual à consequência do
558º/1, e). não há uma recusa do recebimento, esta é recebida, porém, se não houver, por
parte do reconvinte, uma resposta afirmativa relativamente ao convite que lhe foi formulado
para indicar o valor, a reconvenção não será atendida. Mas como a reconvenção faz parte da
contestação, única consequência é que não haja um desentranhamento total da peça

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processual, porque parte dela é admissível (a contestação de defesa), e na prática exista


apenas uma nulidade quanto a determinada matéria, mais precisamente quanto à matéria que
consta na reconvenção. no final da contestação teremos então dois valores, um primeiro valor,
que normalmente, o da Ação- significa que o réu não está a fazer uso do incidente da
instância, de impugnação do valor da causa, na prática aceita o valor que foi dado à ação por
parte do autor- só que depois temos outro valor, o valor da reconvenção, com isto dando
cumprimento a este numero 2 do artigo 583º, fazendo a remissão para o artigo 299º/2.

Este artigo 299º/2 estabelece que o valor do pedido formulado pelo réu só é somado ao valor
do pedido formulado pelo autor quando os pedidos sejam distintos. No final da contestação
quando temos os 2 valores indicados, o valor da ação e o valor da reconvenção, só teremos
uma soma de ambos, caso o pedido reconvencional seja considerado um pedido distinto,
porque se ele não for considerado um pedido distinto ele não vai ser somado ao valor da ação.
Isto tem consequências a que nível: tem consequências no que diz respeito ao pagamento de
uma taxa de justiça complementar e suplementar e poderá ter consequências no que diz
respeito à competência do tribunal. Do artigo 299º/2 fazemos a remissão para o artigo 530º/3,
onde é estabelecido neste ultimo, quando é que existe um pedido distinto. O legislador diz,
por exemplo, que não há um pedido distinto se estivermos apenas a operar a mera
compensação de crédito, ou então se o efeito jurídico que o autor se propõe a obter seja
exatamente o mesmo efeito que o reconvinte se proponha a obter, aí não há uma distinção a
nível dos pedidos, logo se não há distinção a nível dos pedidos, não há uma soma entre o valor
da ação e o valor da reconvenção. Nos termos do numero 2 do artigo 530º, só será devida taxa
de justiça suplementar quando o reconvinte deduza um pedido distinto, portanto, se não
temos um pedido distinto, escusamos de ter a preocupação da liquidação da taxa de justiça
suplementar. É relevante porque até à entrada em vigor deste CPC de 2013, sempre que
houvesse a dedução de um pedido reconvencional, dependendo do valor deste pedido, quer o
reconvinte quer o reconvindo quando apresentava a sua resposta à reconvenção tinham de ter
a preocupação de liquidar o valor suplementar da taxa de justiça, que também era calculado
com base no Reg.Custas.Process. e ia aumentado o seu valor da taxa de justiça à medida que o
valor da reconvenção era superior.

Neste caso, o legislador afirma que só sucede atualmente, no domínio deste CPC de 2013, se
tivermos perante pedidos distintos. Se não tivermos pedidos distintos, não temos soma dos
valores e segundo não há o pagamento de qualquer taxa de justiça suplementar.

Quais são os requisitos de admissibilidade de uma reconvenção?

Desde logo, fazemos uma referência ao passado, antes do CPC de 2013. Era o facto de só
poder haver um pedido reconvencional quando tivéssemos um processo com um valor
superior ao tribunal de primeira instância, ou seja, no âmbito dos processos sumaríssimos não
havia admissibilidade de reconvenção. atualmente uma vez que desapareçam as formas de
processos comuns de declaração ordinária, sumária e sumaríssimo, e o processo comum de
declaração segue forma única, deixou de haver esta circunstância relacionada com o valor.
Podemos ter a dedução de uma reconvenção mesmo que nos casos em que o valor não exceda
o tribunal da primeira instância.

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4.1 Requisitos da contestação reconvencional


Mas então quais são os requisitos? Dentro dos requisitos convém operar uma distinção entre
os requisitos de ordem adjetiva/processual e os requisitos de ordem substantiva/material.

Relativamente ao primeiro: 1) Requisito da competência absoluta: que perpassa claramente


do artigo 93º/1- significa que se não tivermos esta competência absoluta, a reconvenção não
pode ser admitida. Ex: se tivermos a dedução de um pedido por parte do autor de 15 mil euros
e se, eventualmente, o réu vem deduzir um pedido reconvencional de 7500 euros, mas que
teve a sua origem numa relação jurídica subjacente distinta daquela que está a ser alegada
pelo autor, ou seja, se o réu tendo trabalhador do autor vai alegar um contra crédito laboral,
nós tivermos a ação instaurada num juízo central cível, se temos um contra crédito de origem
laboral, nós já temos a competência de um juízo do trabalho. Como há aqui uma competência
absoluta, furto do facto de não estarmos perante a mesma competência em razão da matéria
não há admissibilidade de reconvenção nesta situação.

Segundo requisito: identidade da forma de processo- artigo 266º- como sabemos que a forma
de processo segue forma única, nós só podemos ter esta diversidade de formas processuais,
quando, por exemplo, relativamente ao pedido formulado pelo autor contra o réu, nós temos
uma forma de processo comum e relativamente ao pedido formulado pelo reconvinte contra o
reconvindo, nós temos uma forma de processo especial, ou então quando temos 2 processos
especiais distintos, isso invalida a reconvenção.

Terceiro requisito: Identidade subjetiva- artigo 266º1: significa que temos de ter numa ação,
onde se encontra uma situação de legitimidade singular em que o A instaurou uma ação contra
o B, nós para termos admissibilidade de reconvenção, temos de ter a dedução do pedido
reconvencional do B contra o A. no entanto, o numero 4 surge como uma exceção deste
número 1, permitindo que em certas circunstâncias o pedido reconvencional seja deduzido
não contra as partes que figuram contra as partes da ação, mas contra outrem,
designadamente nas situações de pluralidade de partes, eventualmente, situações de
incidentes de intervenções de terceiros.

Os requisitos substantivos/substanciais estão previstos no número 2 do artigo 266º, nas suas


alíneas. Estes requisitos são cumulativos, no que diz respeito à necessidade de estarem
preenchidos os requisitos processuais, os 3 anteriores que fazem parte dos requisitos
processuais, e têm de estar verificado 1 requisito substantivo.

Quando se fala em cumulação ao nível da reconvenção, nós não temos uma cumulação no que
diz respeitos ao requisitos substantivos, ou seja, não têm de estar verificado a alínea a),b),c) e
d). Basta que se verifique 1 das situações.

Primeiro requisito substantivo: alínea a)- ex: se temos uma ação de responsabilidade civil
extracontratual que teve a sua origem no âmbito de uma acidente de automóvel e se o autor
deduz um pedido contra o réu pedindo que lhe seja paga uma indemnização por danos que
sofreu fruto desse incidente, há admissibilidade de haver uma reconvenção se o réu também
vier alegar que sofreu danos no âmbito desse acidente e, portanto, deduz um pedido
reconvencional perante o autor.

Quando falamos do principio da economia processual, a reconvenção encaixa perfeitamente.

B), segundo requisito: ex: o caso de uma ação de revendição de propriedade onde o ocupante,
que está ocupar abusivamente o prédio que esta a ser ocupado, diz que durante essa

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ocupação realizou determinadas obras de melhoramento desse prédio e quer ser ressarcido
dessas obras. Ex2: No âmbito da resolução de um contrato de arrendamento, em que o
arrendatário não questiona de facto, ou que deixou de pagar as rendas ou que usou o locando
para fim diverso, mas vem pedir o direito às benfeitorias, e poderá fazê-lo no que decorre
desta alínea b).

c), terceiro requisito: quando estamos perante a situação de Compensação de crédito. Temos
uma compensação de créditos quando o autor tem um crédito sobre o réu/devedor e este
ultimo tem também um crédito sobre o primeiro e nessa situação não faz sentido que estejam
a pagar mutuamente um valor que pode ser anulado por via deste mecanismo da
compensação de crédito. Ex: o autor ver a reclamar do pagamento da quantia de 7500 euros e
o réu vem reclamar do autor exatamente a mesma quantia. Que sentido faria condenar ambos
a pagar o mesmo valor um ao outro? Nenhum. Opera a compensação de crédito. Isto ocorre
quando temos uma identidade dos valores que estão em causa, por exemplo, se temos um
crédito do autor para com o réu de 10000 euros e o réu tem um crédito para com o autor de 5
mil euros, há um valor subjante que pode dar à condenação de réu a pagar 5 mil euros.

Com isto temos uma resposta que apaixonou a doutrina durante muito tempo, relativamente
à compensação de crédito. Antes de termos esta alínea c), que vem clarificar esta questão da
compensação, dizendo que a compensação é sempre invocada em sede processual por via da
reconvenção, afastando a possibilidade por ser deduzida por exceção perentória. O que
tínhamos antes do CPC2013? Tínhamos de separar duas questões, a primeira dizia respeito
àqueles casos em que o contra crédito era igual ou inferior ao crédito que estava a ser
reclamado pelo autor e uma segunda situação que dizia respeito ao facto de o contra credito
ter um valor superior ao crédito invocado pelo autor. Nesta segunda situação estavam
clarificadas, porque havia praticamente uma unanimidade a nível da doutrina, no sentido, de
considerar que se o contra credito fosse superior ele tinha que estar a ser deduzido por via da
reconvenção. porém, quando o contra crédito era igual ou inferior, nessa situação havia uma
divergência, porque os professores Manuel Domingues de Andrade e Antunes varela,
consideravam que estávamos perante uma reconvenção, mas os professores Vaz Serra e
Anselmo de castro, consideravam que estávamos perante uma defesa por exceção perentória.
Na prática, a compensação deveria ser invocava no âmbito do processo a titulo de exceção
perentória e não a titulo reconvencional.

Em 2013, a questão ficou ultrapassada, porque o legislador decidiu clarificar uma vez por
todas que quer numa situação quer noutra nós estamos sempre perante uma reconvenção.
sempre que se invoca uma compensação de credito, nós estamos perante uma reconvenção.

O Professor Teixeira, Miguel de Sousa, levantou um problema. Em todas as situações que


consideramos, equacionamos partimos do prossuposto que havia uma compensação judiciaria,
isto é, a compensação de créditos estava a ser invocada depois de um processo judicial ter sido
instaurado. Relativamente a esta, à compensação judiciária, não há qualquer duvida com base
nesta alínea.

O problema coloca-se quanto à compensação de créditos que é invocada pelo devedor, não no
âmbito do processo, mas fora do processo. Ex: quando estamos perante a compensação
extrajudicial. Aí, se esta compensação extrajudicial necessitar de ser invocada a posteriori no
âmbito do processo ela já não o vai ser por via da reconvenção, mas por via da exceção
perentória. Na pratica temos uma diversidade ao nível da compensação se estivermos perante
uma compensação judiciaria ou perante uma compensação extrajudicial.

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Alínea d), quarto requisito: ex. ação de divorcio sem consentimento do outro cônjuge, em que
ambos têm razoes de queixa e na prática um vem instaurar a ação de divórcio sobre a violação
de um dever conjugal e o outro vem pedir exatamente o mesmo, mas com base de uma
violação de outro dever conjugal.

4.2 Falta de contestação e revelia


Até agora vimos todas as hipóteses que o réu tem ao seu alcance para contraditar o direito do
autor, mas por vezes, o réu quando é citado, existe uma expressão contida na citação,
«querendo», porque caso o réu não corresponda a esse convite e estando o direito processual
civil assente na figura do ónus, ele sabe que vai sofrer determinadas consequências jurídico
processuais desfavoráveis devido a esta atitude de inercia e esta atitude vai assumir a
designação de Revelia, artigo 563º. Na prática, o efeito imediato da falta de contestação, a
revelia, é considerarem-se confessados os factos articulados pelo autor.

Separação entre as duas situações de revelia, artigos 566º a 568º e revelia absoluta/agravada e
revelia relativa.

4.2.1 Revelia absoluta


Quando é que as temos? No que diz respeito à revelia absoluta/agravada, artigo 566º, na
prática temos por parte do réu, uma ausência total de qualquer comportamento jurídico
processual, é aquilo que se diz «o reu não dá qualquer sinal de si nos autos». O tribunal verifica
se a citação foi feita nos moldes corretos e volta a repeti-la se encontrar irregularidades.

E efeitos? Temos um efeito imediato e um efeito mediato.

Qual é o efeito imediato da revelia? É o que decorre do 567º/1- na prática temos a confissão
tácita. O simples facto de o réu não contestar, de não impugnar (574º), a consequência é que
se tem por confessado os factos que foram articulados pelo autor no âmbito da sua petição
inicial.

Por vezes, há a ideia que basta que haja a falta de contestação e uma revelia para que a ação
seja julgada improcedente. Porque se na Petição inicial existem determinados factos essenciais
que deveriam estar a ser alegados pelo autor e não o foram, a revelia não irá conduzir à
procedência da ação. Uma coisa é considerar-se confessado os factos articulados pelo autor,
outra é dizer imediatamente que a ação vai ser julgada improcedente. Não é essa a
consequência que decorre do 567º/1.

Há um efeito Mediato, que está patente no 567º/2, que se traduz num encurtamento, por
regra, da tramitação processual. Porquê? O processo vai passar pela fase dos articulados, na
pratica só terá a Petição inicial, e que passará para a fase da audiência final e da prolação
consequente da sentença porque apenas vai ser dada hipótese ao réu se ele tiver mandatário
constituído para que esse mandatário alegue de direito.

No caso da revelia absoluta nem vai haver esta possibilidade, porque o réu não deu sinal de si
nos autos.

4.2.2 Revelia operante e inoperante


Revelia operante e revelia inoperante: a revelia operante consiste na verificação do efeito
típico da revelia. Ou seja, a revelia diz-se operante quando ela opera o seu efeito jurídico
típico, isto é, quando temos a tal confissão dos factos articulados pelo autor. Só que há certas
situações que impedem a produção deste efeito imediato.

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Que situações são essas? Estão previstas no artigo 568º, que consistem na chamada revelia
inoperante. Porque não se pode operar o efeito jurídico típico da revelia. Nestes casos não se
podem considerar como confessados os factos articulados pelo autor.

Que situações são essas que impedem o efeito imediato?

a) Situação de pluralidade de réus. Ex: tenho uma ação que foi instaurada pelo A contra o B, C
e D. O B e C devidamente citados não contestam, quanto a eles estamos perante uma situação
de revelia, mas o D contesta. E contesta invocando determinados factos que lhe aproveita e
ele, mas que é aproveitado aos seus corréus. O legislador estabeleceu o aproveitamento deste
articulado de contestação relativamente aos réus que não contestaram, nessa situação não se
pode considerar confessados os factos alegados e articulados pelo autor, porque os réus não
contestantes vão beneficiar da contestação que foi apresentada pelo reu que decidiu
contestar.

b). Porque é que não temos a produção de efeito típico da revelia? Nas situações de
incapacidade, decorre da lei orgânica do Ministério publico. Quando temos situações de
incapazes nos autos e quando esses não estão devidamente representados, quem vai assumir
aqui o patrocínio é o ministério publico.

c). O caso da citação edital. Pode ser usada quando temos a situação do ausente em parte
incerta ou quando as pessoas a citar são incertas. Ou seja, não existe um grau de fiabilidade
quanto a essa citação. Portanto, por esse motivo, o legislador diz-nos que se estivermos
perante uma citação edital não se pode considerar confessados os factos articulados pelo
autor.

d). Existe a ineficácia porque em certas ações o que se está a discutir são direitos não
disponíveis, mas sim direitos indisponíveis. Se são direitos indisponíveis, eles subtraem-se às
vontades das partes. As partes não podem, p.e, transigir sobre o objeto da ação. No caso da
alínea c), temos as situações dos direitos indisponíveis. Ex: Acão de divórcio, ação de
separação de pessoas e bens, ação de impugnação de paternidade. Aqui vamos ter então a
revelia inoperante.

d). Quando se tratem de factos para cuja prova se exige documento escrito. Ex: ações onde
está em causa uma compra e venda de um bem imóvel.

Artigos 592º/1, a): existe uma diferença entre as situações prefiguradas no artigo 568º (alíneas
a) a d)). Existe diferença porque no 592º, a situação que é excluída por parte do legislador é
precisamente a situação da a). portanto se a contestação, que foi apresentada nos autos, vai
aproveitar aos demais, não faz sentido que estejamos a excluir a possibilidade de haver a
tramitação processual normal. Por isso é que estão previstas as alíneas b) a d), e em relação a
essas, estabelece-se que nas ações não contestadas que tenham prosseguido com observância
do disposto das alíneas b) a d), do 568º, a audiência previa não se realiza.

Nos termos do artigo 592º/2, se dever fazer apelo ao 593º/2, porque, pese embora, não haja
lugar à audiência previa, mesmo no caso das ações não contestadas, deverá proferir despacho
saneador, o despacho que determina a adequação formal, simplificação ou agilização
processual, o despacho de enunciação dos temas da prova e identificação do objeto do litigio,
596º/1, e, finalmente, o despacho programado a programar os atos a realizar na audiência
final, a estabelecer um numero de sessões e a sua provável duração e as respetivas datas, caso
haja necessidade para o fazer, porque fruto do efeito mediato, em grande parte da revelia, não

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há necessidade de levar a cabo a audiência final, pelo menos que diz respeito aos demais atos
que exorbitam a possibilidade de alegação de direito resultante, do artigo 567º/2.

AGRADECIMENTOS:
Adriana Borges

Ana Rita Alves

David Silva

Eduardo Leão

Érica Araújo

Gabriel Pinho

João Paulo Silva

Manuela

Marlene Ferreira

Matilde Campos

Miguel Ledo

Pedro Gomes

Apontamentos realizados por membros da CAD. Pedimos que qualquer erro de escrita ou de
direito verificado seja comunicado a um dos membros para posterior correção.

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