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EXAME TGDC II NR 1

Para fazer face a várias dívidas, Anacleto decidiu vender o seu automóvel. Assim, no dia 1,
Anacleto escreveu uma carta a Birmínio, oferecendo-lhe a aquisição do veículo (cujas
características indicou), por 15.000 euros e a pronto pagamento.
Sucedeu que, por lapso dos CTT, esta carta só foi recebida por Birminio no dia 8. No dia 10,
Birmínio respondeu, por e-mail.
"Compro, mas queria pagar em duas prestações; todavia, para mim, este não é um ponto
essencial". Anacleto não respondeu.
Passados dias, Cláudio incumbiu o seu empregado Damião de telefonar a Anacleto,
oferecendo-lhe 17.000 euros pelo carro.
Porém, Damião esqueceu-se do valor e comunicou que Cláudio comprava por 18.000 euros, o
que mereceu a concordância de Anacleto, que, de imediato, enviou as chaves do veículo a
Cláudio.
Depois, Anacleto, notificado para pagar mais dívidas fiscais, dirigiu-se a casa de seu pai,
Elmano, a quem pediu emprestados vários milhares de euros, dizendo-lhe que, se não os
obtivesse, iria fugir para o estrangeiro. Apenas para evitar esse desfecho, Elmano assegurou
que lhe entregaria o dinheiro no final da semana, o que, todavia, não veio a acontecer.
Entretanto, Birmínio adquiriu, no estabelecimento comercial de Flávio, um moderno auto-
rádio, que decidiu experimentar, de imediato, no carro que já possuía. Porém, assim que
ligou o aparelho, ocorreu um curto-circuito, na sequência do qual Birmínio veio a sofrer
ligeiras queimaduras. Por isso, Birmínio voltou à loja, pretendendo ser indemnizado por
Flávio; este limitou-se a apontar para um pequeno dístico afixado na parede, onde se podia
ler: "Não se aceitam reclamações. Não nos responsabilizamos por quaisquer danos".

1. Birmínio reclama a entrega do carro, que considera ter adquirido, o que Anacleto recusa,
alegando que, entre ambos, não foi celebrado qualquer contrato.

Quid juris?

A carta enviada de A para B, corresponde a uma proposta contratual. A proposta contratual é


uma declaração negocial que manifesta a vontade de contratar do seu autor. A proposta tem
alguns requisitos para ser válida: tem de ser completa, ou seja, tem de possuir todos os
elementos essenciais, como estão estabelecidos na lei, no caso do contrato de compra e venda
tem de lá estar o bem e o preço e as eventuais cláusulas acessórias. Outro dos requisitos é que
tem de ser firme e inequívoca, sendo isto que a proposta tem de ter caráter inequívoco quanto
ao seu propósito de contratar, ou seja, não pode existir margem de dúvida quanto à vontade
do autor (“A gostava de vender” não é aceite, tem de ser “A vende quadro a B”). Por fim, o
último requisito é que tem de ser formal, isto é, a forma tem de corresponder aos requisitos
formais do contrato em questão, havendo contratos consensuais em que as partes podem
adotar a forma que querem ou contratos formais, onde a forma é imposta pela lei.

Estes requisitos da proposta são cumulativos, se faltar um, desqualifica-se a declaração


negocial como proposta, estando perante uma declaração intermédia como por exemplo, um
convite a contratar.

B recebeu a carta, estando aqui fixada o início da eficácia da proposta (artigo 224º, 1ª parte,
Código Civil, que daqui para a frente será referido como “CC”). Com a receção da carta, B passa
a ser titular de um direito potestativo (situação ativa que se carateriza pelo poder de alterar
unilateralmente a esfera jurídica de outrem), ou seja, A fica sujeito à resposta de B. Este direito
potestativo mantém-se enquanto a proposta for eficaz. A proposta é eficaz de acordo com os
prazos que a lei fixa que estão presentes no artigo 228º, CC.

Analisando o artigo 228º, CC, entendemos que as partes não estabeleceram prazo e a proposta
é dirigida a um ausente ou a um presente, se tiver forma escrita (artigo 228º, nº1, alínea c),
CC). Não existindo um prazo estipulado, nem sendo exigida resposta imediata, sabemos através
do artigo 228º, CC, que se a proposta for enviada por correio, a resposta tem de chegar em 11
dias e se for por fax em 6 dias.

Tendo sido por correio, sendo enviada dia 11, desde que a carta chegue a A com a resposta de
B até dia 12, o contrato é válido, mesmo com o atraso dos CTT, esta não constitui uma receção
tardia (artigo 229º, CC).

B respondeu dia 10, via e-mail, e este e-mail corresponde a uma aceitação, que é uma
declaração formulada pelo destinatário dizendo que aceita a proposta. É uma declaração que
segue as normas do artigo 224º, CC e os prazos do artigo 228º, CC. Para ser válida, a aceitação
tem de preencher alguns requisitos como: formalidade, tem de ser completa, inequívoca,
tempestiva (emitida em tempo útil de acordo com os prazos do artigo 228º CC) e pode ser
tácita ou expressa. O facto de ter sido feita via e-mail, não é nenhum obstáculo, como decorre
do artigo 25º, nº1, do Decreto-Lei nº 7 de 2004, pois não há exigência de forma legal (artigo
219º, CC). Portanto, a declaração negocial torna-se eficaz no dia 10, (artigo 224º, nº1, CC) e
dentro dos prazos da eficácia de proposta (artigo 228º, nº1, alínea c), CC).

Concluindo, celebrou-se um contrato de compra e venda entre A e B, tornando-se B,


automaticamente (artigo 408º, nº1, CC), proprietário do carro desde essa data. B tem razão na
sua pretensão.

2.Anacleto exige os 18.000 euros a Cláudio. Este (que, entretanto, soube do sucedido)
recusa-se a pagar, invocando - além do engano do seu empregado - que, de qualquer modo,
não foi concluído um contrato válido e que Anacleto o deverá indemnizar dos prejuízos
sofridos. Quid juris?

Há a formação de um novo contrato de compra e venda do carro entre A e C, visto que estão
verificados os requisitos da proposta e de aceitação.

Quanto ao engano do empregado a dizer o preço há uma divergência não intencional entre a
vontade e a declaração negocial (erro-obstáculo). Há um erro na transmissão da declaração
(artigo 250º, nº1, CC). Perante os dados fornecidos, não estará verificado, pelo menos um dos
requisitos de relevância do erro para efeitos de anulabilidade do negócio, pois não há
conhecimento por parte de A (artigo 250º, nº1 e artigo 247º, CC).

Independentemente do mencionado supra, tendo A vendido o carro a B, esta venda com C é


uma venda de bem alheio. De acordo com o artigo 892º, CC, a venda de bens alheios é nula e
não produz efeitos, nomeadamente a obrigação de pagar o preço. O regime da nulidade
encontra-se nos artigos 286º e 289º, CC.

Por fim, temos ainda uma situação de culpa in contrahendo (artigo 227º, CC), por celebração
de um contrato nulo, por culpa de uma das partes (A), que violou deveres pré-contratuais,
impostos pela boa-fé, em especial o dever de lealdade, com a consequente obrigação de
indemnizar os danos sofridos por C.
3.Anacleto pretende receber a quantia prometida por Elmano, ao que este contrapõe não ter
sido celebrado, entre ambos, qualquer negócio jurídico válido. Quid juris?

Há uma divergência intencional entre a vontade e a declaração negocial: há reserva mental, um


vício de da declaração intencional. Presente no artigo 244º, nº1, CC, entendemos que a reserva
mental acontece quando é emitida uma declaração contrária à vontade real com o intuito de
enganar o destinatário. No entanto, a reserva seria válida, pois Anacleto não sabia da reserva
(artigo 244º, nº2, CC). As declarações entre A e E resultam num negócio de mútuo (artigo
1142º, CC), que é um negócio real quoad constituitionem, ou seja, para ser válido, é necessário
que haja a entrega da coisa, que não aconteceu.

4.Birmínio considera que o dístico na parede não tem qualquer valor e exige de Flávio uma
indemnização, que este se recusa a satisfazer. Quid juris?

Estamos perante uma situação de aplicação da matéria das cláusulas contratuais gerais, que se
encontra regulada pelo Decreto-Lei nº446/85, de 25 de outubro, de agora em diante referido
como “LCCG”.

De acordo com o artigo 1º, nº1, LCCG, temos de verificar se estão presentes os três requisitos
necessários como a pré-elaboração, ou seja, as clausulas contratuais gerais preposições
negociais previamente feitas e apresentadas em bloco, aos destinatários. Outro requisito é o da
rigidez, pois elas não permitem quaisquer alterações, são rígidas quanto ao seu conteúdo. Por
fim, o último requisito é o da generalidade ou indeterminação de sujeitos que as queiram
subscrever.

É aplicável ao caso concreto de concreto de acordo com o artigo 2º, LCCG, e não é aplicável
nenhuma exceção decorrente do artigo 3º, LCCG.

Lendo-se “pequeno dístico” no enunciado do caso prático, é questionável se a cláusula é válida,


pois parece haver uma violação do dever/encargo de adequada comunicação nos termos do
artigo 5º e artigo 8º, alínea a), LCCG.

No entanto, mesmo que se considerasse válida, entenderíamos que pelo seu conteúdo se trata
de uma exclusão de responsabilidade, sendo proibida pelo artigo 18º, alíneas a) e b) e artigo
20º, LCCG. Como tal, é nula, nos termos dos artigos 12º e ss e 24º, LCCG.

EXAME TGCDII NR 2

Asdrúbal decidiu vender a sua vivenda no Algarve, tendo, para isso, colocado um anúncio
num jornal, de 1 de Junho, do qual constavam as características e localização da casa e o
seguinte texto:

"Vende-se. Bom estado, excepto o ar condicionado. Preço:

200.000 euros'

Berto deparou com o anúncio e, muito interessado na aquisição da casa pelo valor
anunciado, escreveu uma carta a Asdrúbal, na qual, por lapso, escreveu:

"Compro por 220.000 euros; mas ficará tudo sem efeito se o ar condicionado não for
substituido até 8 dias após a escritura. Por razões fiscais, desta deverá constar apenas o valor
de 100.000 euros"
Em 5 de Junho, Asdrúbal recebeu a carta e, radiante com o valor que iria receber, telefonou,
de imediato, a Berto, dizendo-lhe que estava de acordo.

De seguida, Asdrúbal dirigiu-se ao estabelecimento comercial de Célio e, por escrito -


mediante a assinatura de um formulário sempre utilizado por este -, comprou-lhe um
moderno aparelho de ar condicionado. Depois, em conversa, ambos combinaram ainda que
a entrega e a montagem ocorreriam até ao final de Junho.

Entretanto, perante inesperados problemas financeiros, Berto arrependeu-se e comunicou a


Asdrúbal que desistia do negócio.

Todavia, Asdrúbal não se conformou e contratou Dimas, um delinquente seu conhecido, para
"convencer" Berto a comparecer no cartório notarial. Em 30 de Junho, Dimas dirigiu-se a
casa de Berto e, explicando-lhe o motivo da sua presença, agrediu-o com violência.

Assim, em 1 de Julho, Asdrúbal e Berto outorgaram a escritura, por 100.000 euros.

1. Asdrúbal exige o pagamento de 220.000 euros a Berto, o que este recusa, contrapondo
que da escritura consta o preço de 100.000 euros e que, mesmo que assim não fosse, só teria
de pagar 200.000 euros, dado ter indicado o valor de 220.000 euros por mero lapso.

Ouid juris?

O contrato entre A e B só é formado dia 1 de Julho, com a escritura, assim, as outras


declarações negociais não valem como proposta e aceitação válidas por insuficiência de forma,
pois uma casa é um bem imóvel e só é valido o contrato de compra e venda que seja realizado
por escritura ou documento particular autenticado, sob pena de nulidade (artigo 875º e artigo
220º, CC). A proposta tem alguns requisitos para ser válida: tem de ser completa, ou seja, tem
de possuir todos os elementos essenciais, como estão estabelecidos na lei, no caso do contrato
de compra e venda tem de lá estar o bem e o preço e as eventuais cláusulas acessórias. Outro
dos requisitos é que tem de ser firme e inequívoca, sendo isto que a proposta tem de ter
caráter inequívoco quanto ao seu propósito de contratar, ou seja, não pode existir margem de
dúvida quanto à vontade do autor (“A gostava de vender” não é aceite, tem de ser “A vende
quadro a B”). Por fim, o último requisito é que tem de ser formal, isto é, a forma tem de
corresponder aos requisitos formais do contrato em questão, havendo contratos consensuais
em que as partes podem adotar a forma que querem ou contratos formais, onde a forma é
imposta pela lei. Estes requisitos da proposta são cumulativos, se faltar um, desqualifica-se a
declaração negocial como proposta, estando perante uma declaração intermédia como por
exemplo, um convite a contratar. A aceitação, que é uma declaração formulada pelo
destinatário dizendo que aceita a proposta. É uma declaração que segue as normas do artigo
224º, CC e os prazos do artigo 228º, CC. Para ser válida, a aceitação tem de preencher alguns
requisitos como: formalidade, tem de ser completa, inequívoca, tempestiva (emitida em tempo
útil de acordo com os prazos do artigo 228º CC) e pode ser tácita ou expressa.

De seguida, estamos perante uma simulação, uma simulação (artigo 240º, CC), ocorre quando
há um acordo um acordo entre as partes com o intuito de enganar terceiros, havendo uma
divergência entre a vontade das partes e a declaração. A simulação é fraudulenta, relativa e
objetiva e o regime aplicado é o da nulidade do negócio simulado (artigo 240º, nº2, CC), que
pode ser invocável por A (artigo 242º, nº1 CC) e passa a ser válido o negócio dissimulado, ou
seja, o da venda por 220.000€ (artigo 241º, nº1, CC), com a forma exigida (artigo 241º, nº2,
CC). Por fim, em relação ao lapso de B, que escreveu 220.000 em vez de 200.000€ estamos
perante um erro-obstáculo (artigo 247º, CC), nomeadamente um erro de escrita, artigo 249º,
CC que não dá lugar à retificação.

2. De todo o modo, Berto sustenta que a nada está vinculado, invocando que até hoje o ar
condicionado não foi substituído e, ainda, a agressão de Dimas.

Ouid juris?

Quando B, responde que só compra o imóvel se o ar condicionado for instalado, estamos


perante uma cláusula acessória (artigo 270º, CC), mais precisamente como uma cláusula
resolutiva, pois esta vem determinar o fim do negócio caso se venha a verificar, ou seja, se o ar
condicionado não for colocado 8 dias após a escritura, há extinção do negócio com eficácia
retroativa (artigo 276º, CC).

Por fim, a agressão de D a B, falamos de coação moral (artigo 255º, CC), há uma força exercida
sobre o psicológico do declarante e a sua consequência é a anulabilidade (artigo 256º, CC), este
vício só pode ser emitido pelo coagido e não por terceiro. Não é coação física pois não foi no
momento de escritura que ele foi agredido, ninguém lhe pegou na mão com força para ele
assinar, é moral pois a agressão e as ameaças resultam de dias antes da escritura. Se houvesse
coação física o vício seria a nulidade.

3. Alegando atraso na instalação do ar condicionado, Asdrúbal exige de Célio uma


indemnização, que este se recusa a satisfazer, invocando uma cláusula constante do
formulário, segundo a qual a entrega seria efectuada no prazo de 6 meses.

Quid juris?

Estamos perante uma situação de aplicação da matéria das cláusulas contratuais gerais, que se
encontra regulada pelo Decreto-Lei nº446/85, de 25 de outubro, de agora em diante referido
como “LCCG”.

De acordo com o artigo 1º, nº1, LCCG, temos de verificar se estão presentes os três requisitos
necessários como a pré-elaboração, ou seja, as clausulas contratuais gerais preposições
negociais previamente feitas e apresentadas em bloco, aos destinatários. Outro requisito é o da
rigidez, pois elas não permitem quaisquer alterações, são rígidas quanto ao seu conteúdo. Por
fim, o último requisito é o da generalidade ou indeterminação de sujeitos que as queiram
subscrever.

É aplicável ao caso concreto de concreto de acordo com o artigo 2º, LCCG, e não é aplicável
nenhuma exceção decorrente do artigo 3º, LCCG.

Em abstrato, a cláusula em causa, seria relativamente proibida, de acordo com o artigo 19º,
alínea b), LCCG, pois 6 meses parece um prazo bastante excessivo para a montagem do ar
condicionado (artigo 20º, LCCG), logo sendo relativamente proibida seria nula (artigo 12º e 24º,
LCCG). Porém entre A e C foi combinado um prazo bem menor para o cumprimento, “até ao
final de junho”, sendo que é este que prevalece (artigo 7º, LCCG), mesmo tendo sido verbal, a
cláusula permanece válida (artigo 222º, nº2, CC).

EXAME TGDC II NR 3

No dia 1, Artur enviou a Bruno uma carta, com o seguinte teor


"Venho oferecer-te a compra do meu Fiat, que conheces, por 10.000,00 euros; reservo-me,
porém, o direito de mudar de ideias a qualquer momento. Responde-me até dia 10º.

Por atraso dos correios, só no dia 7 esta carta só foi entregue a Bruno. Este respondeu a
Artur, também por carta, concordando.

No dia 10, a carta de Bruno foi depositada na caixa de correio da casa de Artur, que falecera,
subitamente, no dia anterior.

Assim, apenas no dia 13, Celso - irmão e único familiar de Artur - leu a carta subscrita por
Bruno e, nessa noite, enviou a este um e-mail, dizendo-lhe que a declaração feita por seu
irmão ficava sem efeito.

Bruno desconsiderou totalmente o e-mail recebido e, de imediato, contactou Dimas, que


sempre dissera que aquele Fiat já pertencera ao seu pai e que "tudo faria para o adquirir".
Dias depois, por documento escrito, Bruno vendeu o carro a Dimas, por 20.000,00 euros, a
pagar até ao final do mês; ficou ainda convencionado que o acordo ficava sem efeito se
Dimas não "convencesse" _ se necessário, pela força - Élio a perdoar uma vultuosa dívida
que Bruno tinha para com este.

Passado o fim do mês, Bruno telefonou a Dimas advertindo-o de que, se não pagasse o preço
de imediato, instauraria contra ele uma acção judicial; perante esta ameaça, Dimas entregou-
lhe os 20.000,00 euros.

1. Celso recusa-se a entregar o Fiat, invocando que Bruno não o chegou a adquirir, tendo em
conta a morte de Artur, para além do teor da carta deste e do e-mail por si enviado.

Bruno discorda.

Quid juris?

A carta enviada de A para B, corresponde a uma proposta contratual. A proposta contratual é


uma declaração negocial que manifesta a vontade de contratar do seu autor. A proposta tem
alguns requisitos para ser válida: tem de ser completa, ou seja, tem de possuir todos os
elementos essenciais, como estão estabelecidos na lei, no caso do contrato de compra e venda
tem de lá estar o bem e o preço e as eventuais cláusulas acessórias. Outro dos requisitos é que
tem de ser firme e inequívoca, sendo isto que a proposta tem de ter caráter inequívoco quanto
ao seu propósito de contratar, ou seja, não pode existir margem de dúvida quanto à vontade
do autor (“A gostava de vender” não é aceite, tem de ser “A vende quadro a B”). Por fim, o
último requisito é que tem de ser formal, isto é, a forma tem de corresponder aos requisitos
formais do contrato em questão, havendo contratos consensuais em que as partes podem
adotar a forma que querem ou contratos formais, onde a forma é imposta pela lei. Esta
proposta é composta também por uma cláusula de revogabilidade (artigo 230º, nº1, 1ª parte,
CC).

Estes requisitos da proposta são cumulativos, se faltar um, desqualifica-se a declaração


negocial como proposta, estando perante uma declaração intermédia como por exemplo, um
convite a contratar.

B recebeu a carta, estando aqui fixada o início da eficácia da proposta (artigo 224º, 1ª parte,
Código Civil, que daqui para a frente será referido como “CC”). Com a receção da carta, B passa
a ser titular de um direito potestativo (situação ativa que se carateriza pelo poder de alterar
unilateralmente a esfera jurídica de outrem), ou seja, A fica sujeito à resposta de B. Este direito
potestativo mantém-se enquanto a proposta for eficaz. A proposta é eficaz de acordo com os
prazos que a lei fixa que estão presentes no artigo 228º, CC.

De acordo com o artigo 228º, alínea a), CC, a proposta é válida até dia 10, pois foi fixado um
prazo. O contrato é válido, mesmo com o atraso dos CTT, esta não constitui uma receção tardia
(artigo 229º, CC). A resposta de Bruno constitui uma aceitação que é uma declaração
formulada pelo destinatário dizendo que aceita a proposta. É uma declaração que segue as
normas do artigo 224º, CC e os prazos do artigo 228º, CC. Para ser válida, a aceitação tem de
preencher alguns requisitos como: formalidade, tem de ser completa, inequívoca, tempestiva
(emitida em tempo útil de acordo com os prazos do artigo 228º CC) e pode ser tácita ou
expressa. Dia 10, quando A recebe a aceitação de B, fica então formado um contrato válido de
compra e venda entre A e B.

Quando Celso, dia 13, vê a carta e envia um e-mail, o contrato já tinha sido formado. Trata-se
de um negócio real quoad effectum, ou seja, B é proprietário do carro, desde dia 10 (artigo
408º, nº1, CC) independentemente da entrega do carro.

2. Dimas reclama a devolução do preço pago, alegando que, entretanto, descobriu que,
afinal, o Fiat não pertencera ao seu pai, circunstância que Bruno considera irrelevante.

Quid juris?

Estamos perante um erro da vontade, um erro-vício, mais especificamente um erro sobre os


motivos (artigo 252º, nº1, CC). Neste erro, objeto não está errado, mas sim, os motivos. É um
acordo tácito para a relevância dos motivos em que ambas as partes associam a sua vontade à
essencialidade do motivo. O regime é a anulabilidade. Mesmo tendo sido por forma escrita,
não há problema que a forma é voluntária (artigo 222º, CC). O negócio é anulável, pois o
regime da anulabilidade tem dois requisitos do elemento sobre o qual incidiu o erro – 1.
Essencialidade (sem esse elemento não emitiria a declaração de vontade com o sentido que
veio a ser exteriorizada) e 2. Cognoscibilidade (caráter essencial do elemento do negócio tem
que ser conhecido, ou não ignorado), encontram-se os dois preenchidos.

3. Para sustentar a sua pretensão, Dimas invoca ainda o conteúdo do negócio e a ameaça
sofrida. Bruno recusa-se a restituir o preço, afirmando não existir qualquer causa de
invalidade.

Quid juris?

A cláusula acessória colocada no contrato é uma cláusula de caráter resolutivo, ou seja,


determina o fim, os efeitos deixam de se produzir se a condição se verificar (artigo 270º, CC),
no entanto esta condição é contrária à lei (artigo 271º, nº1, CC) logo é nula (289º, nº1, CC). No
entanto, importa também esclarecer que não houve coação moral entre Dimas e Bruno (artigo
255º, nº3, 1ª parte, CC).
EXAME TGDC NR 4

No dia D Alfredo enviou uma carta a Bruno, dizendo:


"Talvez venha a vender o meu Mercedes, que conheces, por 25.00 veros; "estarás
interessado?" Esta carta foi recebida, no dia/3, por Bruno, que - pretendendo o carro, para
usar no transporte de contrabando - no dia seguinte, deixou a seguinte mensagem no
gravador de telefone de Alfredo: “Temos negócio fechado.”

De imediato, com vista à recolha do veículo, Bruno contratou o empreiteiro César, que,
mediante determinada quantia, se comprometeu a reparar a garagem da vivenda de Bruno,
no prazo de 15 dias; o acordo foi celebrado mediante a assinatura de um formulário, sempre
utilizado por César, que, naquele momento, se encontrava ligeiramente embriagado.

No dia 5, Alfredo foi contactado por Dino, que - invocando razões sentimentais: convicto de
que o Mercedes, em tempos, pertencera a seu pai - lhe propôs a aquisição do veículo, por
35.000 euros. Alfredo aceitou de imediato e entregou-lhe, logo, as chaves do veículo, ficando
combinado o pagamento para dia 20. O acordo foi reduzido a escrito, ficando inscrito no
respetivo documento o preço de 20.000 euros, para evitar que dino tivesse problemas com a
mulher, que frequentemente o acusava de gastar demasiado dinheiro.

1. Bruno reclama, de Alfredo, a entrega do Mercedes ou o pagamento de uma indenização,


correspondente à quantia gasta na empreitada; Alfredo recusa, contrapondo que não
contratou com Bruno e que, mesmo que assim não fosse, o acordo seria inválido, nada
devendo indemnizar.

Quid juris?

A declaração negocial enviada por Alfredo a Bruno, por carta no dia 1, não constitui uma
proposta contratual, mas sim um convite a contratar. Pois, com a palavra “Talvez”, mostra que a
declaração não é firme, ou inequívoca, pois há abertura para dúvidas, logo faltando um os
requisitos cumulativos da proposta, não podemos considerar como tal. Estamos perante,
então, um convite a contratar. Logo, a declaração de B, não vale como uma aceitação, mas sim
como uma proposta (artigo 217º, nº1 e artigo 236º, CC), que deixa B no dia 3, em estado de
sujeição. A não responde, não há uma aceitação, logo A e B não celebraram nenhum contrato.

Convém também referir, que o facto de o carro ser usado no transporte do contrabando, se
houvesse contrato não afetaria a validade do mesmo. A ilicitude do fim não afeta a validade do
contrato proposto (artigo 281º, CC).

Por fim, em relação ao pedido de indemnização por parte B, este não deve ser completado por
A, pois não há razão de culpa imputável a A, não há quebra de boa-fé, nem motivos para ser
aplicada a culpa in contrahendo, perante os requisitos do artigo 227º, CC.

2. Passados 15 dias, sem que a obra tivesse sido, sequer, iniciada, Bruno exige uma
indenização de César, que este se recusa a satisfazer, invocando a embriaguez, para sustentar
a invalidade do contrato, e ainda uma cláusula constante do formulário, segundo a qual "não
há responsabilidade do empreiteiro por quaisquer atrasos na realização da obra".

Quid juris?
O facto de César estar ligeiramente embriagado, faz com que estejamos perante uma
incapacidade acidental (artigo 257º, CC), que é uma declaração emitida por alguém que no
momento pontual não é capaz de a entender. Esta declaração é anulável se a situação for
notória e cognoscível, e a anulabilidade pode ser requisitada pelo declarante ou pelo
declaratário. De seguida, em relação ao formulário, estamos perante uma situação de aplicação
da matéria das cláusulas contratuais gerais, que se encontra regulada pelo Decreto-Lei
nº446/85, de 25 de outubro, de agora em diante referido como “LCCG”.

De acordo com o artigo 1º, nº1, LCCG, temos de verificar se estão presentes os três requisitos
necessários como a pré-elaboração, ou seja, as clausulas contratuais gerais preposições
negociais previamente feitas e apresentadas em bloco, aos destinatários. Outro requisito é o da
rigidez, pois elas não permitem quaisquer alterações, são rígidas quanto ao seu conteúdo. Por
fim, o último requisito é o da generalidade ou indeterminação de sujeitos que as queiram
subscrever.

É aplicável ao caso concreto de concreto de acordo com o artigo 2º, LCCG e 3º, LCCG, e não é
aplicável nenhuma exceção decorrente do artigo 3º, LCCG. Trata-se de uma cláusula de
exclusão de responsabilidade que é proibida (artigo 18º, nº1, alínea c), LCCG e artigo 20º,
LCCG) e como tal é nula nos termos dos artigos 12º e ss e artigo 24º, LCCG.

3. Hoje Alfredo exige 35.000 euros a Dino, que se recusa a paga, alegando a invalidade do
contrato, pois, entretanto, a euro descobriu que o Mercedes não pertencera a seu pai, e que,
de todo o modo, do acordo por escrito consta o preço de 20.000 euros. Quid Juris?

Estamos perante um erro-vício, mais precisamente um erro sobre os motivos (252º, nº1, CC).

O negócio é uma simulação (artigo 240º, nº1, CC), objetiva, inocente e relativa. O negócio
simulado é nulo (artigo 240º, nº2, CC), sendo a nulidade invocável por A (242º, nº1, CC) e
prevalece o negócio dissimulado (241º, CC), com forma voluntária (222º).

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