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Fiscal Aulas Práticas do ano letivo 2021/22

Direito Fiscal (Universidade de Lisboa)

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Fiscal

1.Espécies de Tributos
Farto dos garridos reclamos e anúncios luminosos na cobertura de prédios
lisboetas, que segundo o presidente da CML desarmonizavam a estética da cidade e
afastavam os turistas, o executivo camarário de Lisboa apresentou à respetiva
Assembleia Municipal uma proposta de criação de uma Taxa Especial a incidir sobre
todo e qualquer objeto e estrutura publicitária colocado na cobertura ou telhado dos
imóveis sitos nos bairros históricos do Castelo, Mouraria, Príncipe Real e Chiado. Ainda
de acordo com a proposta, o tributo deveria assentar sobre (i) o valor tributário dos
prédios e, sempre que este valor se revele manifestamente desatualizado, (ii) sobre uma
ponderação da média dos rendimentos sujeitos a IRS declarados pelos proprietários
desses imóveis. A referida proposta propunha também a criação de isenções específicas
para (i) os imóveis cujo valor patrimonial não excedesse os € 2500 e para (ii) as sedes
dos partidos políticos.
Quid iuris?

Pode a CML criar esta taxa especial? Sim, segundo o art.º8/1 RGTAL ( Regime Geral
das Taxas das Autarquias Locais)

Estamos perante uma taxa ou um imposto? O Acórdão 117/2010 TC analisou um caso


muito parecido relacionado com uma “ taxa de publicidade” . O TC considerou que não
haveria qualquer inconstitucionalidade orgânica das normas do artigo 2.º do
Regulamento de Taxas e Licenças e do artigo 31.º da Tabela de Taxas do Município de
Guimarães por violação dos arts.º 103/2 e 165/1/ alíena i) , uma vez que o art.º4/1 da
LGT veio explicitar que “ as taxas assentam na prestação concreta de um serviço
público, na utilização de um bem do domínio público ou não remoção de um obstáculo
jurídico ao comportamento dos particulares”. Consequentemente, o TC considerou que
o legislador considerou a remoção de um obstáculo jurídico como pressuposto
autossuficiente da figura. Acrescenta o TC que “ a adoção pelo legislador, deste
conceito de taxa, posto que não deva ser desconsiderada, não resolve a questão da
constitucionalidade. O TC considerou que nem a doutrina , nem a jurisprudência,
teriam avançado qualquer argumento no sentido de que a noção de taxa, tal como

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estabelecida no art.º4/1 LGT e art.º 3 RGTAL , fosse contrário ao principio da


legalidade no domínio fiscal.

Ora, no caso em concreto, cumpre analisar o seguinte: estamos perante um tributo ad


valorem , uma vez que incide sobre o valor dos prédios, consequentemente, não
podemos estar perante uma taxa.

É patente que o tributo tem uma finalidade pública/ interesse público: uma vez que
pretende melhorar a estética da cidade e resolver a problemática do afastamento de
turistas – tributo extrafiscal

Conclusões:

1) Tributo extrafiscal
2) Diz-se taxa, mas é ad valorem, logo não é taxa.
3) Estamos perante um imposto extrafiscal. Tem em conta a capacidade
contributiva, logo, é imposto ( art.º 165 CRP e 254/2 , arts.º 3 e 4 LGT)
4) Tanto os impostos como as contribuições não podem ser criadas por autarquias
locais – art.º 165/1/ alínea i) CRP e 165/1/ alínea g) CRP , art.º 8/1 RGTAL,
logo, estaríamos perante uma inconstitucionalidade orgânica.

Sobre a questão dos benefícios fiscais: Art.º 2/1 EBF ( Estatuto Benefícios Fiscais) –
estamos perante uma exceção às normas de incidência tributária, os benefícios fiscais
são sempre uma exceção ao princípio da igualdade ( art.º 13 CRP)- são consideradas
despesas fiscais ( art.º 2/3 EBF).

Os benefícios fiscais prosseguem sempre finalidades extrafiscais. Como é que


prosseguem estas finalidades ? O art.º 2/2 EBF dá-nos a resposta ( através de isenções,
reduções de taxas, etc).

Por serem exceções às normas de incidência , os benefícios fiscais violam o princípio da


igualdade . Assim, eles têm de ser justificados por princípios que se sobreponham à
igualdade e, em regra, devem ter duração limitada.

Os princípios materiais legitimadores dos benefícios fiscais são o princípio do bem-


estar social, o princípio da proporcionalidade em sentido amplo ( abrangendo os

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princípios da necessidade, adequação e proporcionalidade) e o princípio do ganho ou


do mérito

i) Isenção para imóveis cujo valor não exceda os 2500 € - eventual direito à
habitação ou proteção das famílias de rendimento e património
Juízo de proporcionalidade – não passa na adequação , uma vez que não
existem imóveis com o valor de 2500 € em Lisboa, logo, a isenção não teria
qualquer utilidade.

ii) Isenção às sedes dos partidos políticos – interesse público que os partidos
prosseguem ( art.º 10/2 CRP)
É possível argumentar que o principio do ganho ou do mérito é respeitado,
na medida em que se pretende premiar quem se envolve na política.

Caso 2

Deolinda Nunes, gerente da empresa “Lagoas e Mares, Lda”, com sede em Faro, está
muito apreensiva relativamente aos meses de setembro e outubro, já que a empresa
suportou um valor elevado de juros para financiar a sua sucursal em Loulé e pagou
diversas coimas por infrações cometidas no trânsito com as viaturas da empresa. Nesse
período, o departamento financeiro da empresa não efetuou sequer as retenções na fonte
aos trabalhadores da empresa em relação aos seus salários. E, por outro lado, em face
das graves dificuldades financeiras da empresa, não foram entregues as quotizações dos
trabalhadores para a Segurança Social.

Quid iuris?

Primeiramente, é pertinente analisar o conceito de relação jurídica tributária. Esta pode


ser definida como a relação de Direito Público que se estabelece entre sujeito passivo e
sujeito ativo. Nos termos do art.º 18 LGT, é sujeito ativo da relação jurídico-tributária a
entidade de Direito Público, titular do direito de exigir o cumprimento das obrigações
tributárias, quer diretamente, quer através de representante. Por isso, o sujeito ativo é
titular do crédito tributário e de outras prestações tributárias. Por outro lado, o sujeito
passivo é , nos termos do art.º18/3 LGT “ a pessoa singular ou coletiva, o património
ou a organização de facto ou de direito que, nos termos da lei, está vinculado ao

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cumprimento da prestação tributária, seja como contribuinte direto, substituto ou


responsável”.

Dito isto, analisando o caso prático, podemos retirar as seguintes conclusões:

Sujeitos Ativos: Segundo art.º 18/1 LGT - Fisco/ Autoridade Tributária; são titulares das
retenções na fonte dos salários dos trabalhadores ( IRS);

Segurança Social – é titular das quotizações


dos trabalhadores;

Sujeito passivos: Segundo o art.º 18/3 LGT – Trabalhadores ( contribuintes e


substituídos) e Lagoas e Mares, LDA ( a título de substituto , vide art.º 20 LGT);

A retenção opera por retenção na fonte, segundo os arts.º 20/2 e 34 LGT . Contudo, as
retenções na fonte não são todas iguais ( neste caso, a retenção iria varia consoante o
escalão de IRS).

No caso em concreto, não há retenção na fonte nem entrega por parte do substituto da
respetiva retenção.

No que diz respeito à substituição tributária, nos termos do art.º 20 LGT “ a


substituição tributária verifica-se quando, por imposição da lei, a prestação tributária for
exigida a pessoa diferente do contribuinte, sendo a mesma “ efetivada através do
mecanismo da retenção na fonte do imposto devido”.

IRS: não houve retenção, nem entrega – a entidade empregadora não efetuou nem
sequer a retenção, pelo que , logicamente, também não houve entrega. Segundo o art.º
28/2 LGT, responde em primeiro lugar o substituído e só subsidiariamente o substituto.

Se o património do devedor principal for inexistente ou insuficiente , pode haver


reversão fiscal ( art.º 23/1 e 23/2).

Quotizações: houve retenção, mas não houve entrega. Neste caso, temos de aplicar o
art.º 28/1, ou seja, é responsável a entidade obrigada à retenção, ficando o substituído
desonerado de qualquer responsabilidade.

RGIT: possível crime de abuso de confiança no que diz respeito à retenção e não
entrega das quotizações ( art.º 105, 107 e

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A extinção da Relação Jurídica Tributária

A relação jurídica tributária extingue-se através:

1. Cobrança ( 2 modalidades: pagamento voluntário ou coercivo, vide arts.º 78


CPPT e 40 LGT)
2. Caducidade da liquidação ( art.º 45 LGT)
3. Prescrição da dívida tributária ( art.º 49 LGT)

Cobrança

A forma comum de extinção da relação jurídica tributária é o pagamento voluntário do


imposto ( art.º 84/1 CPPT), dentro do prazo e segundo as demais regras definidas em
cada Código de imposto.

Embora a lei só se refira a duas modalidades de pagamento, a falta de pagamento dentro


do prazo legal não implica necessária e imediatamente a coerciva. Para que esta seja
desencadeada , é preciso um título executivo: certidão de dívida ou outro título
enunciado no art.º 162 CPPT. A certidão de dívida é extraída findo o prazo legal de
pagamento voluntário, e contém todos os elementos identificadores necessários à
cobrança da dívida (art.º 88 CPPT).

A cobrança coerciva está associada à execução do património do sujeito passivo


( processo de execução fiscal), ou seja, à penhora e alienação dos bens apreendidos. A
cobrança coerciva deve ser excecional e se não o for, revela um sistema fiscal injusto
( inadequado à realidade económica do ordenamento jurídico) e ineficiente.

Embora tenha inicio com a extração do título da dívida e citação do executado ( art.º
188 CPPT), a execução fiscal materializa-se com a penhora ( art.º 215 CPPT) e a venda
da totalidade ou parte do património do sujeito passivo

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Caducidade

A notificação da liquidação é necessária para tornar a dívida de imposto certa e exigível.


O poder de liquidação caduca, se a notificação da mesma não ocorrer ou não for válida (
por exemplo, se não contiver a fundamentação do ato), dentro do prazo determinado na
lei. Quatro anos é apresentado como prazo regra da caducidade do poder de liquidar
( art.º 45/1 LGT), mas há vários prazos especiais, muitos deles introduzidos em
sucessivas alterações ao art.º 45 LGT, e trazendo mais desvantagens pela complexidade
associada, do que vantagens.

A caducidade do poder de liquidar por decurso do prazo, decorre dos princípios gerais
de Direito, destinados a assegurar que as situações de incumprimento de obrigações não
fiquem eternamente pendentes. A segurança e a paz jurídica recomendam harmonização
de prazos de caducidade e que estes não sejam demasiado longos.

Prescrição

A formação da dívida tributária após a liquidação validamente notificada faz correr o


prazo de pagamento voluntário e também o prazo de prescrição. Este é o limite temporal
para a possibilidade de cobrança de dívida por parte da Administração Tributária. A
finalidade da prescrição é, tal como a da caducidade, atingir a segurança e a paz
jurídica.

O prazo da prescrição começa a correr a partir do momento em que tem lugar o facto
tributário, e quando atingido o limite do prazo, a prescrição abrange a dívida, juros
compensatórios e juros de mora. Segundo o art.º 48 LGT “ As dívidas tributárias
prescrevem, salvo o disposto em lei especial, no prazo de oito anos…”

O principio da legalidade fiscal

O princípio da legalidade fiscal é um princípio fiscal formal, assegurando que a


interferência na propriedade privada resulta de discussão e aprovação parlamentar. A lei
é o ponto de partida para garantir a segurança jurídica, uma vez que é aprovada pelos

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representantes parlamentares. A lei também serve a igualdade, por ser geral e abstrata,
embora não seja suficiente para garanti-la. Na CRP de 1976, o princípio da legalidade
fiscal é objeto de cinco artigos que abrangem:

1) Vertente das competências e divisão vertical de poderes tributários que inclui a


distribuição de competências entre AR e Governo e competências das RA e das AL
em matéria fiscal – arts. 165º/1 i), 165º/2 para Governo; 227º/1 i) para as RA, e
238º/4 para as AL.

A aprovação final deverá passar pelo plenário ou então a autorização legislativa deverá
passar pelo plenário.

2) O objeto da reserva de lei, que inclui a criação de impostos e sistema fiscal (de que
fazem parte os elementos essenciais dos impostos, benefícios fiscais e garantias dos
contribuintes), e o regime geral das taxas e demais contribuições financeiras a favor
das entidades públicas (arts. 165º/1 i) e 103º/2).

3) A vertente material, no sentido das exigências de densificação da lei fiscal quanto aos
elementos essenciais de imposto – exigências estabelecidas na primeira parte do art.
103º/2 (incidência e taxa), garantindo um princípio de legalidade substancial ou
princípio da tipicidade fiscal.

4) Um princípio de preferência ou precedência de lei, no art. 103º/3, e a consagração de


um direito de resistência à tributação que viole a CRP ou a lei, exprimindo uma
conceção garantista da legalidade fiscal (art. 103º/3).

Lembrem-se aqui ainda o art. 2º que caracteriza a República Portuguesa como um


Estado de Direito democrático, e o art. 3º/2, segundo o qual o Estado se subordina à
CRP e se funda na legalidade democrática.

Direito de Resistência

O art. 103º/3 CRP consagra um direito de resistência aos contribuintes, em caso de


impostos inconstitucionais, retroativos ou cuja liquidação e cobrança não se faça nos
termos da lei (violação da preferência de lei). Este direito consiste numa forma de
autotutela de direitos e por isso reveste sempre caráter subsidiário e excecional. O
pressuposto é o de que o reconhecimento e afirmação dos direitos individuais é
concretizado através do recurso aos tribunais. Por conseguinte, o direito de resistência

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em matéria tributária apenas poderá ser utilizado quando e se se frustrarem todos os


controlos internos do Estado, i.e.:

i. Quando não seja possível recorrer à autoridade pública (art. 21º CRP);
ii. ii. Em situações de impossibilidade de recurso às autoridades em tempo útil
para evitar a lesão de direitos. Este direito pressupõe ainda a gravidade e a
evidência da ofensa.

Este direito pressupõe ainda a gravidade e a evidência da ofensa.

Reserva de Lei Fiscal e a sua Justificação

A reserva de lei parlamentar é justificada através de preocupações garantistas, da função


parlamentar de orientação política e do princípio democrático, acentuado ora um ora
outro destes aspetos:

i. A função garantista tem ainda hoje razão de ser, pois está associada à
previsibilidade e calculabilidade da obrigação de imposto e dos seus elementos
essenciais, e assim também à segurança jurídica. Esta exige discussão,
desacordo e consentimento parlamentares em plenário. Postula ainda uma
densificação normativa progressiva, para a qual contribuem Parlamento,
Governo, administração e tribunais.
ii. É o princípio democrático que fundamenta e postula a reserva de lei
parlamentar, não sendo suficiente a reserva de lei formal (no sentido de ato
legislativo). Manifestação deste princípio é o procedimento legislativo
parlamentar, que permite a discussão pública da lei e o contributo da oposição
(desacordo ou consentimento).

A reserva de lei competencial Art. 165º/1 i) CRP:

i. Quanto aos impostos, a criação ou alteração dos elementos essenciais de cada


imposto tem de estar prevista na lei (lei em sentido formal, abrangendo lei da
AR ou DL autorizado). A própria extinção do imposto tem de ser aprovada pelo
Parlamento, por causa do princípio da igualdade.
ii. ii. Quanto às taxas, que são tributos bilaterais e quanto às contribuições
financeiras, basta a aprovação do regime geral por lei; ou seja, os elementos
essenciais das taxas e das contribuições financeiras devem ser previstos por lei
da AR ou DL autorizado, mas dentro desse quadro, a criação de cada taxa ou de

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cada contribuição financeira pode ser feita por lei em sentido material (ex:
através de regulamentos).

Problema: atualmente, em Portugal, em relação às taxas, existe uma lei geral das taxas
quanto às autarquias locais (taxas municipais), mas não foi aprovada mais nenhuma lei
geral das taxas; e também não existe nenhuma lei geral das contribuições financeiras.
Isto significa que, na ausência de intervenção do legislador, o TC deveria aplicar um
crivo de constitucionalidade com base nos elementos substantivos destes tributos. Ou
seja, há duas opções constitucionais quanto à criação das taxas e contribuições
financeiras:

(i) Submete-las a reserva de lei;


(ii) Não submete-las a reserva de lei, mas sim ao crivo relacionado com os
elementos substantivos: por exemplo, como vimos, as taxas são sinalagmáticas;
assim, teríamos de ver se existe realmente um sinalagma entre o montante a
cobrar e o benefício auferido pelo contribuinte, se o bem é presente, etc. Assim,
por exemplo, não se pode exigir aos alunos atuais da FDL uma propina para as
obras de alargamento da biblioteca, uma vez que esse é um bem futuro.

A situação portuguesa é a da exigência da reserva de lei para a criação de regimes


gerais, mas não temos regimes gerais. Assim, o TC tem de fazer um controlo através dos
elementos substantivos. O problema é o seguinte: o TC deixou praticamente de fazer o
juízo de compatibilidade entre as taxas e contribuições financeiras e a CRP; como não
há lei, não faz e depois, estranhamente, abstém-se de verificar se os elementos
essenciais estão preenchidos. Assim, qualquer entidade reguladora pode criar estes
instrumentos sem nenhum crivo constitucional.

Art. 165º/2 CRP – autorizações legislativas:

O art. 165º/2 CRP é uma densificação do art. 165º/1: prevê o conteúdo da autorização
legislativa para que esta não consubstancie um “cheque em branco”. A autorização
legislativa deve assim definir o objeto, o sentido, a extensão e a duração da autorização,
a qual pode ser prorrogada:

(i) Objeto – sobre o que é que o Governo pode legislar.


(ii) Extensão – o que pode fazer dentro da matéria (por exemplo, alterar o número
de escalões do IRS – art. 68º CIRS).

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(iii) Duração – período dentro do qual o Governo poderá legislar ao abrigo da


autorização legislativa. Em regra, quando feitas com aprovação do orçamento
do Estado que caduca dia 31 de Dez, a duração não tem de vir expressa, porque
já sabemos que quando findar o orçamento de Estado, acaba a autorização (art.
165º/5 CRP).

O Ac. do TC n.º 358/92 veio densificar o conceito de sentido (para que não haja um
“cheque em branco”) afirmando que o preceito autorizador tem de cumprir uma tripla
função:

i) Conteúdo material bastante da lei de autorização – tem a ver com o fim da


delegação, na ótica do delegante. Prende-se com a função de indirizzo, da qual
decorre que o Parlamento, unilateralmente ou com a colaboração do Governo,
através de lei ou de autorização legislativa, deve definir sempre as linhas de
orientação política;
ii) Linha de orientação do legislador delegado – fins genéricos;
iii) Elemento de informação genérica das inovações a introduzir no ordenamento
para os particulares – ótica dos particulares. A lei de autorização legislativa
não é a lei final, mas, ainda assim, deve permitir fazer no mínimo um juízo de
prognose de quais são as inovações que vão ser introduzidas.

Na prática, esta tripla função serve para os benefícios fiscais e garantias dos
contribuintes, uma vez que, no caso dos impostos, tem-se por cumprida esta tripla
vertente se se cumprir com os requisitos do art. 103º/2 1ª parte (incidência e
taxa/alíquota que é o quantum).

No nosso ordenamento, o DL autorizado contém uma normação primária e não


secundária, o que significa, desde logo, que as autorizações legislativas têm um objeto
muito mais vasto. No nosso ordenamento, as leis de autorização são “linhas de
conduta”, não criando uma fonte de Direito aplicável às relações que pretende reger.

Art. 227º/1 i) CRP – poder tributário das Regiões Autónomas:

Este artigo diz respeito à competência legislativa das assembleias legislativas das RA.
Foi a revisão constitucional de 1982 que introduziu o poder tributário próprio das RA, e
a revisão de 1989 desdobrou as competências legislativas regionais em matéria fiscal:

i. Num poder tributário próprio;

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ii. Num poder de adaptação do sistema fiscal às especificidades regionais;

Trata-se de um poder ou soberania tributária originária, pois é atribuída pela CRP.


Seguindo a definição de CASALTA NABAIS, o poder tributário estadual é soberano e
originário e o poder tributário autonómico regional é apenas originário.

Nos anos 80 foi muito discutido o alcance do poder tributário próprio das RA, e havia
duas posições que correspondiam à Escola de Coimbra e à Escola de Lisboa:

a) Alguns autores (como SALDANHA SANCHES) defendiam que o poder tributário


próprio das RA não podia significar o poder de criar impostos; poderia significar, no
máximo, um poder de adaptação dos impostos nacionais. Apenas poderão fazer aquilo
que a AR lhes permitam que façam. O Estado é unitário e a reserva de lei tinha de ser da
AR, não podendo as RA criar impostos – centralistas.

b) Outros (PAZ FERREIRA, SOUSA FRANCO) defendiam que o poder tributário


próprio existia, em termos eventualmente de criação de impostos; a condição seria a de
o poder tributário ser definido nos estatutos regionais e de não contrariar a CRP e aquilo
que tivesse sido criado pela AR, uma vez que a AR é um órgão de soberania e as ALR
não – regionalistas. APD defende esta posição:

i. O poder tributário próprio existe e é um verdadeiro poder de criar impostos;

ii. Coloca em causa a reserva de lei? Não. O facto de as RA poderem criar impostos não
põe em causa a reserva de lei. A reserva de lei está relacionada com o princípio da
representatividade. Um Parlamento nacional representa os nossos interesses (de cada
um de nós) e, por isso, votamos no programa de governo que mais se aproxima das
nossas preferências (em relação às despesas orçamentais). Este argumento também é
aplicável às RA dado que elas têm parlamentos que são eleitos direta e
democraticamente. Assim, sempre que existe uma representação popular, o princípio da
legalidade fiscal encontra-se preenchido. Há ainda um argumento de política fiscal que
explica que não temos que ter receio que as RA criem impostos, porque a tendência
relativamente às regiões infraestaduais não é a de aumentar a carga fiscal, antes pelo
contrário: tendem a entrar em concorrência com o Estado fiscal para atraírem residentes
e investimentos.

Assim, o receio que muitos autores, nos anos 80, demonstraram quanto à possibilidade
de as RA criarem impostos, mostrou-se infundado.

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O art. 57º/3 LFR (Lei das Finanças Regionais) veio resolver a controvérsia,
estabelecendo quais os tributos que as ALR podem criar: contribuições de melhoria e
tributos extrafiscais de caráter ambiental. Em teoria, as RA podem criar quaisquer tipos
de impostos, desde que não incidam sobre matéria objeto de incidência por impostos
nacionais; ou seja, se conseguirem descobrir uma manifestação de riqueza que ainda
não seja tributada pela AR, podem criar o tributo. Mas na prática isto é muito difícil,
dada a amplitude da panóplia de tributos criados pela AR. Além disso, as RA podem
dispor das receitas provenientes de impostos nacionais e que tenham conexão com o
território daquelas.

NOTA: é no poder de adaptação que reside o grande poder tributário das regiões
autónomas, porque podem adaptar praticamente todos os tributos da AR.

Acrescente-se que o poder tributário próprio das RA não abrange o poder de extinguir
impostos nacionais

O poder tributário das RA é originário? Art. 227º CRP – quer o poder tributário da AR,
do Governo e das RA é originário, porque resulta diretamente da CRP. Em
contraposição, as autarquias locais têm poder derivado, na medida em que o seu poder
deriva de lei da AR ou do Governo (art. 238º/4).

O que acontece se, no caso português, as receitas das RA forem inferiores àquilo que é
recomendável?

Pode haver transferências de orçamento estadual para as RA mais desfavorecidas. Mas


estas transferências só podem ocorrer dentro dos parâmetros da UE, uma vez que os
auxílios de Estado são proibidos (arts. 107º e 108º TFUE).

Mas o TJUE veio dizer que se a RA em causa decidiu diminuir os impostos, não pode
depois vir a beneficiar de uma parcela do orçamento geral (orçamento de Estado), pois
nesse caso já estaria em causa um auxílio de Estado.

Art. 238º/4 CRP – poder tributário das Autarquias Locais:

Como já se referiu, o poder tributário das autarquias locais é um poder derivado.

No âmbito da CRP de 1976, tem sido reconhecido aos municípios o poder de criar taxas,
mas já não poderes em matéria de impostos – seja de criação seja de adaptação. Ainda
assim, lembre-se que os municípios têm alguns poderes em matéria fiscal:

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i. Fixam as taxas do IMI relativamente aos prédios urbanos, embora a moldura


seja fixada na lei (0,3% a 0,5 %) – art. 112º/1 c);
ii. Fixam a taxa da derrama até um limite máximo de 1,5% sobre o lucro
tributável sujeito e não isento de IRC (art. 18º Lei das Finanças Locais)

Lei das finanças locais nº 13/2013 – ainda pode ser dado algum grau de
discricionariedade às autarquias locais. Mas essa margem tem de ser estreita sob pena
de descaracterização da reserva de lei.

O art. 238º/4 CRP consagrou expressamente um poder tributário dos municípios a


exercer nos termos da lei, cujo alcance ainda não está delimitado. Não se tratará aqui de
um poder de criar e de adaptar impostos nacionais, pelo menos com a amplitude que
resulta para as RA do art. 227º/1 i) CRP.

Em termos gerais, o art. 238º/4 CRP legitima a atribuição legal de discricionariedade


aos municípios, quanto a elementos essenciais dos impostos. Mas na verdade, como
refere CASALTA NABAIS, o art. 234º/4 não acrescenta nada de novo à adequada
compatibilização ou concordância prática do princípio da legalidade fiscal com o
princípio da autonomia local, pois o princípio da autonomia local sempre permitiu que o
legislador concedesse tais poderes tributários.

Caso pratico 3 -Tributos e princípio da legalidade

Visando aproveitar o crescente afluxo de turistas ao país, o Governo cria, através


de decreto-lei simples, uma “Taxa sobre Turismo de Luxo”, que incide sobre o preço das
refeições e das estadias, respetivamente, em restaurantes e estabelecimentos hoteleiros
de luxo.
Poucos dias depois, uma Portaria:
i) define os critérios para a classificação de restaurantes e estabelecimentos
hoteleiros como “de luxo”, para efeitos da “Taxa sobre Turismo de Luxo”; e
ii) isenta da aludida taxa as refeições em restaurantes que se revistam de
“manifesto interesse para a preservação do património gastronómico
português”.
Quid iuris?

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Neste caso, apesar de se referir a existência de uma “taxa sobre turismo de luxo”, temos
de analisar se estão preenchidos os elementos caracterizadores da taxa: desde logo
considero que não está preenchido um primeiro aspeto:

1. Não estamos perante um serviço público, ou seja, a restauração é um serviço


privado (art.º 4 /2LGT), o que significa que estamos perante um imposto oculto,
tendo em conta que não se verifica aqui a bilateralidade resultante da existência
de uma contraprestação, pois o valor da taxa acaba por ser superior ao da
utilidade prestada, e porque aqui existe um elemento ad valorem, que é o preço
das refeições e das estadias.
2. Se estivéssemos perante uma taxa , não haveria qualquer problema no que
respeita ao desrespeito pelo principio da legalidade, contudo, estamos perante
um imposto oculto, imposto esse que está sujeito ao principio da legalidade e
que só pode ser criado por lei da AR ou Decreto-lei do Governo autorizado
( art.º 165/1/ alínea i).

A “ taxa” que nos é apresentada no caso em apreço, é na verdade um IEC ( imposto


especial sobre o consumo). Difere do IVA, uma vez que este último incide sobre todos
os atos de consumo, sobre o consumo geral de bens e serviços. Pelo contrário, os IECS
incidem sobre o consumo específico de um determinado bem ou serviço.

O Governo, ao criar este IEC, por decreto-lei simples, está a violar o principio da
legalidade fiscal, na sua vertente de reserva de lei, uma vez que a AR tem , nos termos
do disposto no art.º 165/1/alínea i), a reserva de competência relativa na criação de
impostos e sistema fiscal e regime geral das taxas e demais contribuições financeiras a
favor das entidades públicas.

No entanto, a AR pode delegar a sua competência ao Governo, passando assim a existir


uma competência partilhada. Sendo esse o caso , o Governo poderia criar este IEC
através de decreto-lei autorizado.

Convém , a este respeito, fazer referencia ao art.º 165/2 CRP, que refere a necessidade
de a autorização legislativa definir o objeto, a extensão , a duração e o sentido da
mesma, ou seja, as leis de autorização legislativa devem ter uma determinação mínima,
sob pena de não se passar um “ cheque em branco “ ao Governo.

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Quanto a estas exigências relativamente à autorização legislativa , é pertinente dar nota


do acórdão do TC n.º 358/92, que considerou inconstitucional a autorização legislativa
dada ao Governo para este aprovar o Código das Avaliações da Contribuição
Autárquica. O TC considerou que, dado que a matéria que ia ser regulada era
especialmente sensível aos particulares , justificava-se plenamente que a lei de
autorização legislativa fosse mais rigorosa e precisa na determinação do seu sentido . De
outra forma, estaríamos perante uma autorização legislativa em branco, esvaziando-se a
função habilitante que à AR cabe assumir num processo legislativo especial como é o
das autorizações legislativas ( art.º 169 CRP).

No caso em análise, nada disto é cumprido: não existe autorização legislativa por parte
da AR, porque o decreto-lei não é autorizado, mas simples, o que se consubstancia
numa inconstitucionalidade orgânica.

Para estarmos perante uma taxa, esta teria que ter um sinalagma ( que não tem), ter uma
contraprestação ( que não tem), ser divisível e ser presente.

Sobre a questão da portaria:

O facto de ter sido posteriormente emitida uma portaria onde se definem os critérios
para a classificação de restaurantes e estabelecimentos hoteleiros como de “luxo”, para
efeitos da “ Taxa sobre Turismo de Luxo “levanta a questão do principio da tipicidade
fiscal.

O relevante a saber é se os órgãos que aplicam estes conceitos vagos e indeterminados


exercem uma função de interpretação, ou se vão mais longe, e exercem uma verdadeira
função de inovação. O principio da tipicidade fiscal não é violado com a vaguidade da
lei, desde que a orientação política quanto aos elementos essenciais do imposto seja
dada pela AR, e o Governo-legislador concretizes as autorizações parlamentares quanto
a esses elementos essenciais: mais uma vez, no caso em concreto, não é isso que sucede.
Efetivamente , os elementos essenciais do imposto não foram dados pela AR, uma vez
que o Governo nem sequer pediu autorização à AR para legislar sobre esta matéria.

Diga-se, contudo, que densificar por portaria ou regulamento um conceito vago e


abstrato que conste de uma lei fiscal , não viola o principio da legalidade quando está
em causa uma densificação progressiva dos elementos que constem da lei/ decreto-lei.
No caso em análise, em abstrato, era possível que a densificação do conceito vago e

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indeterminado fosse feita por portaria, regulamento, etc, sem violar o principio da
legalidade.

É consensual na doutrina e na jurisprudência que a mera densificação de conceitos


vagos e indeterminados não viola a reserva de lei nem o principio da tipicidade fiscal.

Tudo o que tenha um caráter meramente técnico não viola a reserva de lei e pode
constar de portaria, regulamento, ou decreto-lei simples. Por outro lado, tudo o que
contribua para a quantificação do imposto ou tenha caráter material viola a reserva de
lei.

Questão do beneficio fiscal:

O facto de se isentar da taxa em causa as refeições nos restaurantes que se revistam de “


manifesto interesse para a preservação do património gastronómico português”,
constitui um beneficio fiscal, que é uma norma extrafiscal, não prosseguindo o objetivo
primário ou secundário de arrecadar receita. Os benefícios fiscais constituem exceções
às normas de incidência ( art.º 2/1 EBF). Os benefícios fiscais procedem de acordo com
o art.º 2/2 EBF ( através de isenções).

A CRP submete os benefícios fiscais a reserva de lei no art.º 103/2 CRP, por opção do
legislador constituinte: tal justifica-se, uma vez que a reserva de lei nos estados sociais
de Direito não se deve limitar à administração ablativa, mas também evitar equívocos
ou dificuldades de interpretação, sobretudo se se tiver em contra que os benefícios
fiscais são, em regra, medidas extrafiscais, às quais se recusa a aplicação pura e simples
da constituição fiscal. No caso em análise, o beneficio fiscal não foi criado por lei ou
decreto-lei autorizado, mas sim por portaria.

Os benefícios fiscais restringem a aplicação dos princípios matérias fiscais, pelo que
devem estar sujeitos à reserva de lei da AR, ou seja, a sujeição à reserva de lei justifica-
se, porque os benefícios fiscais restringem o principio do Estado Fiscal e desviam-se do
principio da igualdade.

Se o beneficio fiscal tivesse sido criado por lei era admissível? O afastamento dos
limites materiais constitucionais carece de justificação com base em princípios
orientadores, os quais devem sempre ser ponderados com os princípios materiais fiscais
a restringir.

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Concluindo, no caso em análise, não foi respeitada a reserva de lei da AR que consta no
art.º 103/2 CRP. Para além disso, a existência deste beneficio constitui uma violação ao
principio da igualdade, tendo em conta que os princípios que poderiam ser superiores a
este principio, tais como o principio do bem-estar social, o principio da
proporcionalidade em sentido amplo ( principio da necessidade, adequação e
proporcionalidade) e o principio do ganho ou do mérito- não se encontram aqui
preenchidos.

Caso 4

Em primeiro lugar, temos de classificar o tributo que está aqui presente: estamos perante
um imposto que incide sobre a venda de imóveis ( art.º 3/2 e 4 LGT), também
designado de Imposto Municipal Sobre Imóveis ( IMI) . Os impostos caracterizam-se
por ser ad valorem, ou seja, estão associados a uma percentagem, a um valor de
tributação, que aumenta ou diminui consoante o “ valor objetivo” de cada imóvel, valor
esse que depende da sua localização, equipamentos e antiguidade.

Portanto, quanto mais o imóvel tiver essas características, maior será o valor do IMI.
Para além disso, o imposto caracteriza-se pela unilateralidade, ou seja, não se sabe
exatamente quais os bens ou serviços que a receita obtida com o pagamento deste
imóvel vai beneficiar.

Temos agora de considerar que o Governo, através de decreto-lei, alterou o IMI:

1. Em primeiro lugar, temos de considerar que tem de ser respeitada o disposto no


art.º 165/1/ alínea i) CRP , que refere que “ A criação de impostos e sistema
fiscal e regime geral das taxas e demais contribuições financeiras a favor das
entidades públicas são da competência relativa da AR, podendo o Governo
legislar sobre estas matérias, mediante autorização legislativa da AR;
2. Portanto, estamos perante uma inconstitucionalidade orgânica , por violação do
disposto no art.º165/1/ alínea i) e 2, uma vez que , pese embora tenha havido lei
de autorização legislativa, não foi respeitada o seu objeto.

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Quando se refere que o imposto passa a ser calculado segundo o valor objetivo de cada
imóvel , que é fixado pelos serviços das finanças atendendo à sua localização ,
equipamentos e antiguidade, bem como a outros fatores relevantes, estamos no âmbito
da incidência do imposto.

A incidência consta do art.º 1 CIMI, que refere, no seu n.º 1, que o imposto incide sobre
o valor patrimonial tributário dos prédios rústicos e urbanos situados no território
português.

Esta incidência é um elemento essencial do imposto, estando sujeito ao principio da


legalidade, na sua vertente material, de acordo com o disposto no art.º 103/2 CRP.

A portaria do Ministro das Finanças pretenderia precisar os elementos e peso relativo de


cada elemento no cálculo do valor do imposto.

A localização e a antiguidade são determináveis, pelo que não é possível que, por
portaria, se densifiquem estes elementos, sob pena de violação do disposto no art.º
103/2 CRP e consequente inconstitucionalidade material ( art.º 103/2 CRP).

No que diz respeito ao peso relativo de cada um dos elementos objetivos de incidência
do imposto , a portaria não pode determinar qual a quantificação que deve ser atribuída
a cada elemento, porque não se trata aqui de critérios técnicos ou da determinação de
conceitos vagos ou indeterminados, mas determináveis, pelo que há uma violação do
disposto no art.º 103/2 CRP e consequente inconstitucionalidade material ( art.º 103/2
CRP).

Finalmente, no que diz respeito aos equipamentos, deve-se entender que a remissão não
é possível, uma vez que estamos perante um conceito que é vago, mas que não é
determinável, mas sim indeterminável.

Em relação à taxa única de 2% nas grandes cidades etc: Segundo o disposto no art.º 238
e 254/2 CRP, as autárquicas locais gozam de autonomia fiscal e financeira.

É pertinente chamar à colação, em especial, o art.º 238/4 CRP que refere “ As


autarquias locais podem dispor de poderes tributários, nos casos e nos termos previstos
na lei”. Este artigo legitima às autárquicas locais a atribuição legal de discricionariedade
aos municípios, quanto a elementos essenciais dos impostos.

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Contudo, convém não esquecer que os poderes tributários das autarquias locais não é
originário, mas sim derivado, ou seja, surgem da lei e não da CRP. A AR e o Governo
com autorização legislativa podem atribuir aos municípios este poder, contudo, estamos
perante uma inconstitucionalidade orgânica , porque o Governo não tinha poderes para
autorizar isto.

Em todo o caso, não havendo inconstitucionalidade orgânica, seria possível os


municípios definirem as taxas nestes termos?

O IMI é uma receita própria das Autarquias, de acordo com o disposto no art.º 14/ alínea
a) da LFL . Contudo, a margem de discricionariedade atribuída às autarquias, não pode
ser muita ampla, sob pena de descaracterização do principio da reserva de lei ( tem sido
este o entendimento da doutrina e do TC).

Ora, ao determinar-se que a taxa que se ia aplicar nas grandes cidades iria ser 2%, não
há qualquer problema com a questão da discricionariedade. Contudo, ao determinar-se
que a taxa que se ia aplicar fora das grandes cidades poderia oscilar entre 0,8% e 1%,
não se concede uma margem grande de discricionariedade , respeitando-se deste modo,
o principio da reserva de lei.

No que diz respeito à proposta da Federação dos Municípios Portugueses: a taxa oscilar
entre 0,5% e 5%: é evidente que a margem de discricionariedade é demasiado ampla e
para haver o respeito pela reserva de lei a margem de discricionariedade tem de ser mais
restrita.

Em relação à isenção do imposto a todos os imóveis situados em “ zonas degradadas”


por deliberação das assembleias municipais, há que referir o seguinte: O IMI é uma
receita própria das Autarquias, de acordo com o disposto no art.º 14/ alínea a) da LFL .
O art.º16/2 LFL refere que “ A assembleia municipal, mediante proposta da câmara
municipal, aprova regulamento contendo os critérios e condições para o reconhecimento
de isenções totais ou parciais, objetivas ou subjetivas, relativamente aos impostos e
outros tributos próprios”, portanto, podem ser reconhecidas isenções fiscais a respeito
de tributos próprios.

Os benefícios fiscais são regulados pelo Estatuto dos Benefícios Fiscais. O Art.º 2/1
EBF ( Estatuto Benefícios Fiscais) – refere que estamos perante uma exceção às
normas de incidência tributária, os benefícios fiscais são sempre uma exceção ao

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princípio da igualdade ( art.º 13 CRP)- são consideradas despesas fiscais ( art.º 2/3
EBF).

Os benefícios fiscais prosseguem sempre finalidades extrafiscais. Como é que


prosseguem estas finalidades ? O art.º 2/2 EBF dá-nos a resposta ( através de isenções,
reduções de taxas, etc).

Por serem exceções às normas de incidência , os benefícios fiscais violam o princípio da


igualdade . Assim, eles têm de ser justificados por princípios que se sobreponham à
igualdade e, em regra, devem ter duração limitada.

Os princípios materiais legitimadores dos benefícios fiscais são o princípio do bem-


estar social, o princípio da proporcionalidade em sentido amplo ( abrangendo os
princípios da necessidade, adequação e proporcionalidade) e o princípio do ganho ou
do mérito.

Portanto, cumpre verificar se no caso concreto, este beneficio fiscal é justificado. Em


sede de IMI, é comum que se concedam isenções para determinados imoveis situados
em zonas degradadas invocando-se, para este efeito, o facto de a requalificação urbana
implicar um aumento do bem estar geral da população . Contudo, estes benefícios
apresentam a particularidade de serem condicionais, ou seja, concedem-se estes
benefícios se os proprietários reabilitarem os imóveis.

Caso 5

1 - A regra no Direito Fiscal, é a de que a lei nova só se aplica para o futuro. A


aplicação a factos passado é proibida ( art.º 103/3 CRP). O IVA é um imposto que é
suportado pelo consumidor final, deste modo, a aplicação da LN no tempo não pode
colocar em causa o imposto já pago pelo consumidor final. O aumento do IVA, a meio
do ano fiscal, só se pode aplicar a factos tributários futuros. Não há retroatividade , uma
vez que o consumo só se realizará depois. O disposto no art.º 12/1 LGT foi respeitado,
uma vez que só se vão aplicar aos factos posteriores à sua entrada em vigor. Portanto,
não qualquer problema de ilegalidade ou de inconstitucionalidade, dado que a lei só se
aplica a partir de 1 de maio de 2015.

2- No caso dos impostos periódicos , a proibição da retroatividade assume contornos


próprios relacionados com a formação sucessiva do facto tributário e com a existência

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de anos ou períodos fiscais que separam as obrigações tributarias por períodos.


Exemplos de impostos periódicos são o IRS e o IRC. A existência de factos tributários
de formação sucessiva, que só estão concluídos quando termina o ano ou período fiscal,
faz do ano ou período fiscal o parâmetro para aferirmos o próprio conceito de
retroatividade. Desde que o ano fiscal esteja em curso, a entrada em vigor de LN aplica-
se desde 1 de janeiro. Contudo, no IRS, nos rendimentos sujeitos a englobamento, a
tributação incide sobre o acréscimo patrimonial ( diferença entre o património no final
do não e no início desse ano, por isso o facto tributário só está concluído no final do
ano.

Neste caso está em causa uma retroatividade inautêntica/ retrospetividade, uma vez que
o facto tributário ( rendimentos do ano em curso), ainda se está a formar. Estando o
facto tributário ainda em formação, resta aos contribuintes ainda alguma margem para
compensar o sacrifício adicional que a lei inesperadamente lhes impõe.

O TC recorre ao principio da proteção da confiança para verificar se a norma é ou não


conforme a CRP. Para a norma ser inconstitucional é necessário que se reúnam dois
pressupostos essenciais e cumulativos:

 Afetação de expectativas em sentido desfavorável – mutação da ordem jurídica


que os destinatários da norma não podiam contar ( neste caso, verifica-se este
requisito);
 A alteração tem de ser ditada pela necessidade de salvaguardar direitos e
interesses constitucionalmente protegidos que devam considerar-se
prevalecentes, atendendo ao principio da proporcionalidade ( art.º 18/2 CRP)

Os dois critérios enunciados são densificados através de quatro requisitos ou testes:

 É necessário que o Estado ( mormente o legislador) tenha encetado


comportamentos capazes de gerar nos privados “ expectativas “ de continuidade;
 Essas expectativas de continuidade devem ser legitimas, justificadas e fundadas
em boas razoes;
 Os privados devem ter feito planos de vida tenho em conta a perspetiva de
continuidade do “ comportamento” estadual;
 Não ocorram razões de interesse público que justifiquem, em ponderação, a não
continuidade do comportamento que gerou a situação de expectativa . Nas
palavras do TC, o interesse publico relevante é um “ fundamento material …

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capaz de justificar a mutação operada na ordem jurídica – uma mutação que…


(na ausência desse fundamento material)…, se apresentaria como imprevisível e
injustificada, não podendo os cidadãos contar com ela;

Para a professora Ana Paula Dourado, o 1.º e o 4.º requisito conjugados têm tornado
rara a probabilidade de aplicação do principio da proteção da confiança e a proibição de
retrospetividade, portanto, na prática, o TC não tem aceite como relevante o principio da
proteção da confiança para julgar inconstitucional a retrospetividade.

No caso em apreço, o Governo decidiu aumentar a taxa máxima de IRS para as duas
categorias mais elevadas em 5% com efeitos nos rendimentos pessoais de 2015 na
sequencia de uma grave crise financeira e tendo em vista a cumprir as obrigações de
redução do défice publico , pelo que estando em causa um estado grave das finanças
públicas, parece que ocorreram razoes de interesse público que justificam e legitimam a
retrospetividade.

Contudo, importa verificar que o último escalão de IRS tem uma alíquota de 48%,
querendo o Governo aumentar este escalão em 5%, o ultimo escalão de IRS ficaria com
uma alíquota de 53%.

A alíquota de 53% poderá configurar uma situação de confisco, que contende com o
direito à livre iniciativa económica privada e com o direito de propriedade, cfr. os
artigos 61.º e 62 da CRP, bem como o Acórdão do TEDH Gáll vs Hungria.

3- No caso dos impostos periódicos , a proibição da retroatividade assume contornos


próprios relacionados com a formação sucessiva do facto tributário e com a existência
de anos ou períodos fiscais que separam as obrigações tributarias por períodos.
Exemplos de impostos periódicos são o IRS e o IRC. A existência de factos tributários
de formação sucessiva, que só estão concluídos quando termina o ano ou período fiscal,
faz do ano ou período fiscal o parâmetro para aferirmos o próprio conceito de
retroatividade. Desde que o ano fiscal esteja em curso, a entrada em vigor de LN aplica-
se desde 1 de janeiro. Contudo, no IRS, nos rendimentos sujeitos a englobamento, a
tributação incide sobre o acréscimo patrimonial ( diferença entre o património no final
do não e no início desse ano, por isso o facto tributário só está concluído no final do
ano.

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Neste caso está em causa uma retroatividade inautêntica/ retrospetividade, uma vez que
o facto tributário ( rendimentos do ano em curso), ainda se está a formar. Estando o
facto tributário ainda em formação, resta aos contribuintes ainda alguma margem para
compensar o sacrifício adicional que a lei inesperadamente lhes impõe.

O TC recorre ao principio da proteção da confiança para verificar se a norma é ou não


conforme a CRP. Para a norma ser inconstitucional é necessário que se reúnam dois
pressupostos essenciais e cumulativos:

 Afetação de expectativas em sentido desfavorável – mutação da ordem jurídica


que os destinatários da norma não podiam contar ( neste caso, verifica-se este
requisito);
 A alteração tem de ser ditada pela necessidade de salvaguardar direitos e
interesses constitucionalmente protegidos que devam considerar-se
prevalecentes, atendendo ao principio da proporcionalidade ( art.º 18/2 CRP)

Os dois critérios enunciados são densificados através de quatro requisitos ou testes:

 É necessário que o Estado ( mormente o legislador) tenha encetado


comportamentos capazes de gerar nos privados “ expectativas “ de continuidade;
 Essas expectativas de continuidade devem ser legitimas, justificadas e fundadas
em boas razoes;
 Os privados devem ter feito planos de vida tenho em conta a perspetiva de
continuidade do “ comportamento” estadual;
 Não ocorram razões de interesse público que justifiquem, em ponderação, a não
continuidade do comportamento que gerou a situação de expectativa . Nas
palavras do TC, o interesse publico relevante é um “ fundamento material …
capaz de justificar a mutação operada na ordem jurídica – uma mutação que…
(na ausência desse fundamento material)…, se apresentaria como imprevisível e
injustificada, não podendo os cidadãos contar com ela;

Para a professora Ana Paula Dourado, o 1.º e o 4.º requisito conjugados têm tornado
rara a probabilidade de aplicação do principio da proteção da confiança e a proibição de
retrospetividade, portanto, na prática, o TC não tem aceite como relevante o principio da
proteção da confiança para julgar inconstitucional a retrospetividade.

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No caso em apreço, o Governo decidiu aumentar a taxa de IRC para 27% para os
rendimentos das pessoas coletivas com efeitos no lucro tributável de 2015 ,na sequencia
de uma grave crise financeira e tendo em vista a cumprir as obrigações de redução do
défice publico , pelo que estando em causa um estado grave das finanças públicas,
parece que ocorreram razoes de interesse público que justificam e legitimam a
retrospetividade.

 Segunda parte do caso : As tributações autónomas são de difícil caracterização e


qualificação. Para efeitos de aplicação da lei no tempo, deve entender-se que os
factos tributários objeto de tributação autonoma constituem factos tributários de
obrigação única, pois a tributação autonoma incide sobre despesas avulsas e não
sobre o rendimento acréscimo. Isto significa que uma LN só deve ser aplicada a
factos tributários que ocorram após a sua entrada em vigor, sob pena de ser
retroativa e, por conseguinte, inconstitucional. Este entendimento é confirmado
por jurisprudência do TC e do STA.
Na tributação autonoma, o facto tributário que da origem ao imposto é
instantâneo, pois “ esgota-se no ato de realização de determinada despesa que
esta sujeita a tributação. Mas o facto de a liquidação do imposto ser efetuada no
fim de um determinado período não transforma o mesmo num imposto
periódico, de formação sucessiva ou de carater duradouro. Essa operação de
liquidação traduz-se apenas na agregação, para efeito de cobrança, do conjunto
de operações sujeitas a essa tributação autónoma, cuja taxa é aplicada a cada
despesa, não havendo qualquer influencia do volume das despesas efetuadas na
determinação da taxa. E esta distinção tem relevância, designadamente, para
efeitos de aplicação da lei no tempo e para a análise da questão da proibição da
retroatividade da lei fiscal desfavorável prevista no art.º103/3 CRP”.
A professora Ana Paula Dourado entende que a nossa legislação fiscal consagra
as tributações autónomas como factos tributários de obrigação única, uma vez
que a tributação incide sobre cada ato de despesa, e o facto de a tributação
autónoma estar sistematicamente incluída nos códigos do IRS e do IRC não a
torna numa tributação de factos de formação sucessiva. Assim sendo, as leis
novas mais onerosas devem aplicar-se a factos tributários futuros.
Deste modo, tendo em conta os dados do caso concreto, uma vez que a
tributação autónoma tem como facto tributário uma obrigação única, se os

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veículos automóveis forem sujeitos a tributação autónoma de 60% com efeitos


desde 1 de janeiro de 2015, estamos perante uma inconstitucionalidade por
violação do disposto no art.º 103/3 CRP. Pelo contrario, se a LN só se aplicar
para o futuro, não há qualquer inconstitucionalidade ou ilegalidade.

4- O IRS trata-se de um imposto periódico, cujo facto tributário tem normalmente inicio
no primeiro dia do ano ou período fiscal e que só está concluído no último dia desse ano
ou periódico (factos tributários de formação sucessiva). No caso dos IMPOSTOS
PERIÓDICOS (EX: IRS e IRC quando se trate de residentes tributados sobre o
rendimento acréscimo) a proibição da retroatividade assume contornos próprios
relacionados com a formação sucessiva do facto tributário e com a existência de anos ou
períodos fiscais que separam as obrigações tributárias por períodos. A existência de
factos tributários de formação sucessiva, que só estão incluídos quando termina o ano
ou período fiscal, faz do ano ou período fiscal o parâmetro para ferirmos o próprio
conceito de retroatividade. Assim, desde que o ano fiscal esteja em curso, a entrada em
vigor de lei nova aplica-se desde 1 de janeiro.

Todavia, neste caso, pretende-se aplicar ao ano de 2014, ou seja, não se trata da
retrospetividade permitida pelo art. 13.º/2 aos impostos periódicos, mas sim uma
retroatividade autêntica proibida por lei nos termos do art. 13.º/1 e 103.º/3 CRP.

Será que para esta retroatividade existe algum juízo valorativo? TC diz que não. Mas a
APD diz que o TC ao considerar a retroatividade autêntica mais gravosa,
verdadeiramente já esta a fazer o juízo valorativo que noa faz, e em casos mais difíceis
continua-se a recorrer ao princípio da confiança. A posição da regente é diferente da do
TC, que afirma em jurisprudência constante que o art. 103º/3CRP introduziu novidades,
argumentando que a proibição da retroatividade está isenta de quaisquer análises
valorativas e aproveitou essa alteração constitucional para construir uma jurisprudência
mais sistematizada sobre o assunto. No ac. 129/09 do TC, o tribunal estabeleceu uma
dicotomia entre a retroatividade autêntica ou própria de normas fiscais novas mais
gravosas e a retrospetividade. A interpretação constante do TC é a de que o art.
103º/3CRP apenas consagrou a proibição da retroatividade autêntica ou própria da lei
fiscal (retroatividade forte). Como o TC entende que a retroatividade autêntica é
proibida pela constituição, sem ser necessário avaliar se a proteção da confiança foi ou

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não violada, a análise da proteção da confiança é relegada para as situações de


retrospetividade.

Neste sentido, existe uma inconstitucionalidade material por violação do princípio da


não retroatividade autentica do art 103.º/3 CRP e 12.º/1 LGT.

5- No que concerne ao princípio da proibição da retroatividade das normas fiscais é


necessária a determinação do tipo de normas fiscais que não podem ser retroativas: uma
vez que a proibição da retroatividade visa proteger a segurança jurídica e a confiança do
sujeito passivo, só as normas fiscais oneradas do sujeito passivo é que não podem ser
retroativas e pelo contrário as normas desoneradas podem sê-lo porque favorecem os
sujeitos passivos e a segurança jurídica não é afetada.

As normas oneradoras afetam negativamente a posição do sujeito passivo, sendo


aplicáveis os princípios da proteção da confiança e a proteção da retroatividade. As
normas desoneradas, por serem mais favoráveis, não podem, por definição, colocar
questões de proteção da confiança. Isto é, se a lei nova desoneradora não era esperada, a
confiança existente não precisa de ser protegida, as razões subjacentes aos princípios da
proteção da confiança e proibição da retroatividade não se aplica, e o sujeito passivo
agradece ser surpreendido pela lei nova.

Neste caso há a extinção de um benefício fiscal, o que consubstancia um agravamento


para os jovens desempregados, que iriam passar a pagar impostos. Neste sentido, por
estarmos perante uma oneração, a lei nova só pode produzir efeitos para o futuro, sob
pena de ser inconstitucional nos termos do art. 103º/3CRP e 12º/1LGT, pelo que
consubstancia uma retroatividade autêntica ou em sentido forte.

Contudo, se ainda estiver em vigor o período de aplicação do benefício fiscal,


estaríamos perante um caso de retrospetividade.

O TC recorre ao principio da proteção da confiança para verificar se a norma é ou não


conforme a CRP. Para a norma ser inconstitucional é necessário que se reúnam dois
pressupostos essenciais e cumulativos:

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 Afetação de expectativas em sentido desfavorável – mutação da ordem jurídica


que os destinatários da norma não podiam contar ( neste caso, verifica-se este
requisito);
 A alteração tem de ser ditada pela necessidade de salvaguardar direitos e
interesses constitucionalmente protegidos que devam considerar-se
prevalecentes, atendendo ao principio da proporcionalidade ( art.º 18/2 CRP)

Os dois critérios enunciados são densificados através de quatro requisitos ou testes:

 É necessário que o Estado ( mormente o legislador) tenha encetado


comportamentos capazes de gerar nos privados “ expectativas “ de continuidade;
 Essas expectativas de continuidade devem ser legitimas, justificadas e fundadas
em boas razoes;
 Os privados devem ter feito planos de vida tenho em conta a perspetiva de
continuidade do “ comportamento” estadual;
 Não ocorram razões de interesse público que justifiquem, em ponderação, a não
continuidade do comportamento que gerou a situação de expectativa . Nas
palavras do TC, o interesse publico relevante é um “ fundamento material …
capaz de justificar a mutação operada na ordem jurídica – uma mutação que…
(na ausência desse fundamento material)…, se apresentaria como imprevisível e
injustificada, não podendo os cidadãos contar com ela;

Para a professora Ana Paula Dourado, o 1.º e o 4.º requisito conjugados têm tornado
rara a probabilidade de aplicação do principio da proteção da confiança e a proibição de
retrospetividade, portanto, na prática, o TC não tem aceite como relevante o principio da
proteção da confiança para julgar inconstitucional a retrospetividade.

No caso em apreço, o Governo decidiu eliminar, com efeitos ao dia 1 de janeiro de


2014, os benefícios fiscais relativos à contratação de jovens desempregados, ,na
sequencia de uma grave crise financeira e tendo em vista a cumprir as obrigações de
redução do défice publico , pelo que estando em causa um estado grave das finanças
públicas, parece que ocorreram razoes de interesse público que justificam e legitimam a
retrospetividade.

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6- As mais valias fazem parte do CIRS, logo, teríamos um imposto sobre o rendimento,
e, portanto, em termos de aplicação da lei no tempo é um imposto periódico. Se houver
uma alteração a meio do ano, estamos perante uma situação de retroatividade em
sentido próprio. Apesar de ser um imposto periódico, temos de distinguir alguns dos
regimes contidos dentro do CIRS: o IRS não é um imposto unitário, embora a CRP diga
que o imposto pessoal deva ser único e progressivo. Na verdade, temos um imposto
dual. Temos que olhar para os factos tributários para poder concluir se estamos perante
tributações periódicas ou não.

Temos de distinguir 2 tipos de mais valias:

 Mobiliárias: é o caso das obrigações de cupão zero.

 Imobiliárias.

Exemplo 1: mais-valia potenciais- o valor das ações está a subir no mercado, ou seja,
elas valem mais do que o montante por que as comprámos. Para efeitos fiscais,
tributam-se as mais valias realizadas. Comprámos as ações numa empresa, comprámos
por 100 e vendemos por 140, no ano em que aumentou a tributação das mais valias.
Vendemos as ações hoje e entra em vigor a nova lei mais onerosa daqui a 5 dias,
passando a abranger o facto tributário decorrente da nossa alienação.

Exemplo 2: há um acórdão de uniformização de jurisprudência em que havia isenção e


depois as mais valias começaram a ser tributadas. Em ambos os casos, há uma
agravação de regime e temos de saber se esta constitui retroatividade ou
retrospetividade. Não há retroatividade se estivermos perante imposto periódico. 2
argumentos em sentido oposto:

 Mais valias no CIRS são de formação sucessiva, logo, há retrospetividade.

 Trata-se de um facto tributário único porque vendemos as ações, realizámos as mais


valias e, portanto, o facto tributário ficou concluído.

Neste caso seria retroatividade. Estes dois argumentos foram discutidos no nosso
tribunal e há um acórdão recente que fez a uniformização da jurisprudência dizendo que
as mais valias são factos tributários de obrigação única: na norma de incidência, o que o
IRS nos diz é que há uma tributação quando a mais valia ocorre. As dificuldades
relativamente a este assunto são: o nosso CIRS diz-nos, no momento da liquidação, que
as mais valias são tributadas pela diferença entre as mais e as menos valias, ou seja,

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tributa-se o saldo apurado entre as mais valias que realizámos e se tivermos menos
valias estas serão deduzidas. Perante esta forma de tributação, a regente entende que as
mais valias, para efeitos do CIRS, constituem, tal como a maior parte dos rendimentos
do IRS, factos tributários de formação sucessiva. Se temos uma mais valia de 20 mas
uma menos valia de 30, temos direito ao reembolso de 10: só no fim do ano é que é
apurado o saldo. Podemos não ter menos valias ou não termos mais ações. A questão
não é clara, existindo vários litígios à volta da introdução de normas de incidência sobre
as mais valias. A regente discorda do acórdão de uniformização de jurisprudência. Havia
acórdãos anteriores do STA a dizer que havia retroatividade mas houve vários acórdãos
do CAT (tribunal arbitral) no sentido oposto, e como houve jurisprudência contraditória,
sempre que isso acontece tem de haver recurso para o STA para este uniformizar a
jurisprudência. O STA diz que a liquidação em si não interessa: o argumento para dizer
que as mais valias são de formação sucessiva por causa do saldo está relacionado com a
forma de liquidação, que não é o que determina a existência de um facto tributária de
obrigação única ou sucessiva, o importante é olharmos para a norma de incidência (art.
10ºCIRS). A regente não concorda: se olharmos para as outras categorias de
rendimentos, como rendimentos de trabalho dependente- contrato de trabalho em que a
remuneração é mensal: em cada remuneração mensal há um facto tributário e retenção
na fonte. Para o STA, também no caso de rendimentos de trabalho dependente, cada vez
que é pago o montante, tinha havido um facto tributário de obrigação única. O caso da
retenção na fonte, o saldo é feito no fim do ano. Por exemplo, há uma pessoa que
trabalha por conta de outrem de janeiro a abril, e durante esses 4 meses foi feita uma
retenção por conta. O sujeito passivo, no fim do ano, tem de apresentar a declaração, e
se não houve mais rendimentos até dezembro, a retenção que lhe foi feita muito
provavelmente vai ser reembolsada. Na lógica do STA, as retenções feitas mês a mês
deviam ter caráter definitivo e não haver reembolso. A regente acha que não basta olhar
para a lógica de incidência: não basta a norma dizer que o facto tributário é, por
exemplo, a prestação de serviços ou o CT. Isto é uma parte do tatbestand sistemático
mas depois temos de ver como é apurado o rendimento, e se este é apurado até ao fim
do ano, então o facto tributário só se constituiu até 31 de dezembro. Antes disso não
sabemos se vai haver reembolso. No caso das mais valias, pode já ter havido pagamento
mas só no fim do ano é que temos a certeza disso. Temos depois duas situações
diferentes das mais valias, para a regente: No quadro do IRS, temos dois factos de
obrigação única: 1. Retenções na fonte a titulo definitivo: constam do art. 71ºCIRS e

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aplicam-se a várias situações:  Aplicam-se aos não residentes que não desenvolvam a
sua atividade com grau de permanência em território português. Por exemplo, um
professor de uma universidade estrangeira que vem dar uma semana de aulas à nossa
faculdade. Neste caso, quando a faculdade lhe pagar, vai fazer uma retenção na fonte
sobre a sua remuneração e como ele não e residente, a retenção é a titulo definitivo,
portanto, ele fica desobrigado de qualquer obrigação em Portugal, pelo que a faculdade
retém e entrega ao estado. Apesar de ser IRS, trata-se de uma obrigação única. Portanto,
um facto tributário que se constituiu e extinguiu naquela semana.  Residentes em
Portugal: quando ao pagamento de rendimentos de capitais (ex: juros), quando são
pagos a um residente são retidos na fonte pela instituição financeira e são retenções a
titulo definitivo. Há uma opção dada ao sujeito passivo para englobar mas a maior parte
dos aforradores não tem vantagens em englobar. Se ele não exerceu a opção de
englobamento, a retenção foi a titulo definitivo e, portanto, é única. No caso das mais
valias, também há uma opção de englobamento, mas o problema não é ser uma retenção
a titulo definitivo ou por conta, mas sim a questão do saldo, porque pode não haver
rendimento. O significado de rendimento coincide com o conceito de acréscimo
patrimonial (diferença de património entre o dia 31 de dezembro e 1 de janeiro).

As mais-valias tributáveis em IRS, cuja matéria tributável resulta da diferença entre as


maisvalias e as menos-valias no ano fiscal, apesar de as mais-valias não serem
englobadas e de a taxa de imposto ser proporcional (o saldo positivo entre as mais-
valias e as menos-valias- art. 72.º/4 CIRS) Pelo contrário, se as mais-valias forem
tributadas autonomamente, em relação a cada ganho realizado, isto é, se não se tributar
o saldo positivo entre as mais e as menos-valias, não se tributa o rendimento acréscimo
num determinado ano fiscal, mas o rendimento acréscimo respeitante a cada realização,
o que significa que se trata de uma obrigação única.

Em suma, o TC entende que a violação da proteção da confiança ocorre se foi


“inadmissível, arbitrária e demasiado onerosa”. Neste caso, considero que existe uma
violação da proteção da confiança, tendo em conta que esta lei, ao referir que a
tributação imediata deve ocorrer independentemente do momento da aquisição
demonstra uma forte arbitrariedade, pelo que neste caso não há a proteção da confiança
e a retrospetividade é proibida. Para o STA, após o acórdão de uniformização de júris, a
mais valia deve ser tratado como um facto de obirgaçao única que ocorre aquando do
momento da alienação, ou seja, é quando se vende que há a mais valia. A lei nova não se

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poderá aplicar a alienações que já tenham ocorrido. Somente se aplica a alienações


futuras. Logo, no entender do STA temos duas possibilidades. Ou há aplicação da lei
para o futuro- 12.º/2 LGT, se for para o passado há sempre uma situação de
retroatividade autentica proibida constitucionalmente no art. 103.º/3 CRP. Em
contraposição, a nossa regente e do professor Nuno Oliveira Garcia diz que o saldo das
mais valias tem lugar no final do ano. Ou seja, só sei se tenho mais valias ou não, no
final do ano. Posso ir vendendo coisas, e há um saldo que e feito no final. Se o saldo for
negativo, não tenho que me preocupar com as mais valias porque estas não têm de ser
tributadas. Só há mais valias se houver um incremente patrimonial. A diferença desta
raciocínio, é que as mais valias nem sempre se aplicam ao ano civil. Necessário aplicar
os critérios de violação do princípio da confiança, visto que se trata de uma
retrospetividade.

EX: dia 1 de Janeiro, e dia 31 de Dezembro. A alienação ocorre a meio do ano (compra
e venda de ações ou de imovel). Seguindo a opinião do STA (acórdão 5/2017) e
entrando a lei nova em vigor após a alienação, não e permitido aplicar-se ao passado por
haver retroatividade autentica, mas para o futuro, o resto do ano é permitido- 12.º/1
LGT. A professora diz que ao olhar para o art. 43.º percebemos que só no final do ano é
que se faz a subtração, e nesse sentido a mais valia só é apurada no final do ano.

Imaginemos que no dia 25 de dezembro terei que pagar mais valias de 50 mil euros a
28% do Estado. O que eu faço então é gastar os 50 mil para o meu saldo ser zero e não
ter mais-valias para pagar. Ao seguir o entendimento da professora, a lei nova pode-se
aplicar ao ano em curso. Porque o saldo só é apurado no final do ano, e assim sendo,
temos uma situação de retrospetividadeart. 2.º CRP e há que aferir a violação do
princípio da confiança. Para o assistente faz mais sentido a posição da professora
regente

. O problema do STA é que aplico a lei antiga a um determinado período do ano, e a


nova ao restante período, o que pode se injusto porque sendo mais benéfica então posso
ficar a espera que a lei mude, se for mais prejudicial então deveria ter feito os meus
investimentos logo no inicio do ano. Mas no caso concreto, há uma desconsideração
quer da doutrina do STA quer da doutrina da regente, dado que nem atendem quando se
a lei se aplica ou não retroativamente, apenas diz que vai logo se aplicar as mais valias e
assim sendo trata-se de uma retroatividade autentica proibida pelo art 103.º/3 CRP.

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Princípio da retroatividade fiscal

Ponto de partida- Art.º 103/3 CRP “ Ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que
não hajam sido criados nos termos da Constituição , que tenham natureza retroativa
ou cuja liquidação e cobrança se não façam nos termos da lei.

Retroatividade VS Retrospetividade

Caso 6

Por entre mais uma “crise das instituições democráticas”, a Assembleia da


República aprova um novo pacote de medidas de luta contra a fraude e a
evasão fiscais.

Nos termos do disposto no artigo.º 165/1/ alínea i) da CRP, é da exclusiva competência


da Assembleia da República , salvo autorização legislativa ao Governo, legislar sobre a
criação de impostos e sistema fiscal e regime geral das taxas e demais contribuições
financeiras a favor das entidades públicas.

Quanto a este ponto, portanto, não qualquer ilegalidade ou inconstitucionalidade, pois


foi a própria Assembleia da República que decidiu legislar sobre impostos.

Antes do mais, todas as empresas passam a estar sujeitas a uma coleta


mínima no valor anual de mil euros,.

Segundo o disposto no artigo.º 104/2 da CRP, a tributação das empresas incide


fundamentalmente sobre o seu rendimento real. O rendimento real é o rendimento que
resulta da diferença entre proveitos e gastos e é apurado segundo métodos diretos.

No que diz respeito a estes métodos diretos, estes estão previstos no artigo.º 83/1 da
LGT, que refere que a avaliação direta visa a determinação real dos rendimentos ou
bens sujeitos a tributação .

No que diz respeito ao IRC, importa atentar ao disposto no artigo.º 17/1 do CIRC, que
acaba por ser uma concretização do artigo.º 104/2 da CRP, que refere que o lucro

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tributável é constituído pela soma algébrica do resultado líquido do período e das


variações patrimoniais positivas e negativas não refletidas naquele resultado.

O principio da tributação do rendimento real é uma expressão do princípio da


capacidade contributiva e do direito de propriedade e iniciativa privada .

No caso em apreço, está-se a fazer uma tributação de rendimento presumido, uma


tributação feita desta forma pode levar a tributos confiscatórios, isto porquê, ao
presumir-se um valor anual de 1000 euros, independentemente dos lucros que resultem
da atividade das empresas, pode levar a um tributo que não tenha em consideração a
capacidade contributiva.

Questão da coleta mínima: estamos perante um valor fixo igual e a pagar por todas as
empresas, que não tributa o rendimento real como refere o artigo.º 17/1 do CIRC.

Acrescente-se que, no caso em apreço, o IRC passaria a ser um imposto regressivo,


dado que há uma redução da alíquota a ser paga pelo contribuinte conforme ele tem um
aumento do seu rendimento.

Dito isto, estaríamos perante uma inconstitucionalidade material por violação do


disposto no artigo.º 104/2 CRP ( violação do princípio da igualdade e da capacidade
contributiva).

A aplicar já relativamente ao ano em curso

Retrospetividade: estamos perante um imposto período, o IRC, que não se conclui nem
se extingue com um único facto jurídico, tem como parâmetro o ano fiscal ( que só
termina em 31 de dezembro).

O TC recorre ao principio da proteção da confiança para verificar se a norma é ou não


conforme a CRP. Para a norma ser inconstitucional é necessário que se reúnam dois
pressupostos essenciais e cumulativos:

 Afetação de expectativas em sentido desfavorável – mutação da ordem jurídica


que os destinatários da norma não podiam contar ( neste caso, verifica-se este
requisito);
 A alteração tem de ser ditada pela necessidade de salvaguardar direitos e
interesses constitucionalmente protegidos que devam considerar-se
prevalecentes, atendendo ao principio da proporcionalidade ( art.º 18/2 CRP)

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Os dois critérios enunciados são densificados através de quatro requisitos ou testes:

 É necessário que o Estado ( mormente o legislador) tenha encetado


comportamentos capazes de gerar nos privados “ expectativas “ de continuidade;
 Essas expectativas de continuidade devem ser legitimas, justificadas e fundadas
em boas razoes;
 Os privados devem ter feito planos de vida tenho em conta a perspetiva de
continuidade do “ comportamento” estadual;
 Não ocorram razões de interesse público que justifiquem, em ponderação, a não
continuidade do comportamento que gerou a situação de expectativa . Nas
palavras do TC, o interesse publico relevante é um “ fundamento material …
capaz de justificar a mutação operada na ordem jurídica – uma mutação que…
(na ausência desse fundamento material)…, se apresentaria como imprevisível e
injustificada, não podendo os cidadãos contar com ela;

Para a professora Ana Paula Dourado, o 1.º e o 4.º requisito conjugados têm tornado
rara a probabilidade de aplicação do principio da proteção da confiança e a proibição de
retrospetividade, portanto, na prática, o TC não tem aceite como relevante o principio da
proteção da confiança para julgar inconstitucional a retrospetividade.

No caso em concreto, não temos dados suficientes para concluir pela


constitucionalidade ou inconstitucionalidade da retrospetividade.

Trata-se de uma medida com um propósito elementar de moralização a que


se soma a eliminação de todos os benefícios fiscais relativos a
cooperativas, fundações e instituições de utilidade pública, dados os abusos
que nesta matéria têm vindo a ser constatados pela Administração.

A tributação do rendimento real encontra a medida certa que resulta da ponderação do


dever de contribuir para as despesas gerais da comunidade e o respeito pelo princípio da
propriedade privada.

Tal significa que os gastos relacionados com a obtenção de rendimentos pelas empresas,
sejam gastos para obter ou garantir os rendimentos, ou gastos indispensáveis para obter

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esses rendimentos podem ser dedutíveis ( artigo.º 23 do CIRC), a não ser que haja
outros princípios fiscais que exijam ou recomendem o oposto ( como por exemplo, o
princípio do abuso fiscal).

Os artigos 9.º e 10.º do CIRC isentam de IRC algumas entidades: as pessoas coletivas
de utilidade pública, onde se podem incluir as cooperativas, fundações e instituições de
utilidade pública.

Estamos perante, portanto, um beneficio fiscal que era concedido a estas entidades e que
agora foi revogado.

Neste caso há a extinção de um benefício fiscal, o que consubstancia um agravamento


para estas entidades , que iriam passar a pagar impostos. Neste sentido, por estarmos
perante uma oneração, a lei nova só pode produzir efeitos para o futuro, sob pena de ser
inconstitucional nos termos do art. 103º/3CRP e 12º/1LGT, pelo que consubstancia uma
retroatividade autêntica ou em sentido forte.

Contudo, se ainda estiver em vigor o período de aplicação do benefício fiscal,


estaríamos perante um caso de retrospetividade.

O TC recorre ao principio da proteção da confiança para verificar se a norma é ou não


conforme a CRP. Para a norma ser inconstitucional é necessário que se reúnam dois
pressupostos essenciais e cumulativos:

 Afetação de expectativas em sentido desfavorável – mutação da ordem jurídica


que os destinatários da norma não podiam contar ( neste caso, verifica-se este
requisito);
 A alteração tem de ser ditada pela necessidade de salvaguardar direitos e
interesses constitucionalmente protegidos que devam considerar-se
prevalecentes, atendendo ao principio da proporcionalidade ( art.º 18/2 CRP)

Os dois critérios enunciados são densificados através de quatro requisitos ou testes:

 É necessário que o Estado ( mormente o legislador) tenha encetado


comportamentos capazes de gerar nos privados “ expectativas “ de continuidade;
 Essas expectativas de continuidade devem ser legitimas, justificadas e fundadas
em boas razoes;
 Os privados devem ter feito planos de vida tenho em conta a perspetiva de
continuidade do “ comportamento” estadual;

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 Não ocorram razões de interesse público que justifiquem, em ponderação, a não


continuidade do comportamento que gerou a situação de expectativa . Nas
palavras do TC, o interesse publico relevante é um “ fundamento material …
capaz de justificar a mutação operada na ordem jurídica – uma mutação que…
(na ausência desse fundamento material)…, se apresentaria como imprevisível e
injustificada, não podendo os cidadãos contar com ela;

Para a professora Ana Paula Dourado, o 1.º e o 4.º requisito conjugados têm tornado
rara a probabilidade de aplicação do principio da proteção da confiança e a proibição de
retrospetividade, portanto, na prática, o TC não tem aceite como relevante o principio da
proteção da confiança para julgar inconstitucional a retrospetividade.

No caso em apreço, a AR decidiu eliminar os benefícios fiscais relativos a cooperativas,


fundações e instituições de utilidade pública dado os abusos que nesta matéria têm
vindo a ser constatados pela Administração , pelo que estando em causa uma crise das
instituições democráticas e tendo em conta o abusos , não há uma expectativa.

Depois, estabelece-se que sempre que os contribuintes singulares possuam


determinados sinais exteriores de riqueza se presuma, para efeitos de IRS,
que são titulares de um determinado rendimento, a menos que façam prova
do contrário. A tabela a usar para o cálculo deste rendimento presumido é a
seguinte:

Viagens 10 vezes o valor

Cartões de crédito 20 vezes o plafond

Telemóvel 20 vezes o valor

Despesas em discotecas 10 vezes o consumo mensal

Estamos perante um método indireto de determinação da matéria tributável.

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Segundo o disposto no artigo 104.º/2 CRP a tributação das empresas incide


fundamentalmente sobre o rendimento real, este artigo também se aplica às pessoas
singulares, por uma questão de igualdade.

O artigo 81.º LGT refere que a matéria coletável é avaliada ou calculada diretamente
segundo os critérios de cada tributo. A avaliação indireta por parte da Autoridade
Tributária só deve ocorrer nos casos e condições expressamente previstos na lei.

Segundo o disposto nos artigos 83.º/1 e 2 LGT a avaliação direta visa a determinação do
valor real dos rendimentos ou bens sujeitos a tributação e a avaliação indireta visa a
determinação do valor dos rendimentos ou bens tributáveis a partir de indícios,
presunções ou outros elementos que a administração tributária disponha.

Importa chamar à colação o artigo 85.º/1 LGT, pois este artigo estabelece como
subsidiária a avaliação indireta.

A determinação da matéria coletável segundo métodos indiretos é feita com base em


critérios fixados na lei e que correspondem ao tipo médio de rendimentos por sujeitos
passivos que estão em situação comparável.

Para não serem inconstitucionais, quer os coeficientes escolhidos para o regime


simplificado quer os termos comparáveis escolhidos para aplicação dos restantes
métodos indiretos devem aproximar-se, tanto quanto possível, do que seria a situação
individual, isto é, da situação tributada segundo o rendimento real.

No caso em concreto, estamos perante uma manifestação de fortuna ( artigos 87.º/1/


alíneas d) e f) e 89-A LGT).

Nos termos do artigo 89.º-A /1 LGT , há lugar a avaliação indireta da matéria coletável
quando falte a declaração de rendimentos e o contribuinte evidencie as manifestações de
fortuna constantes da tabela prevista no artigo 89.º- A/4 LGT ou quando o rendimento
liquido declarado mostre uma desproporção superior a 30%, para menos, em relação ao
rendimento padrão resultante da referida tabela.

Estas manifestações de fortuna e desvios do rendimento padrão são indícios legais que
há uma ocultação material de informações.

A aplicação do artigo 89.º- A LGT não pode ocorrer sempre que os contribuintes
possuam determinados sinais exteriores de riqueza, só se pode recorrer ao rendimento

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presumido quando não seja possível recorrer à avaliação direta, visto que a avaliação
indireta é subsidiária. Para além do mais, é necessário que exista uma falta de
declaração de rendimentos e ainda é necessário que haja uma violação dos deveres de
contabilidade e declaração.

Quanto ao conteúdo da tabela em si:

O segundo problema tem que ver com a própria determinabilidade de alguns conceitos ,
tais como o conceito de viagens ou de telemóvel

Enfim, por modo a reforçar a moralização do sistema, determina-se que


todos os rendimentos provenientes de práticas ilícitas fiquem sujeitos a uma
taxa agravada de IRS ou de IRC de 60% e que as despesas suportadas com
práticas ilícitas não sejam dedutíveis ao rendimento de empresas e
profissionais.
O artigo.º 1/1 do CIRS refere que “ O imposto sobre o rendimento das pessoas
coletivas ( IRC) incide sobre os rendimentos obtidos, mesmo quando provenientes de
atos ilícitos...”

O legislador entendeu que se há capacidade contributiva, não há razão de ser para que
os rendimentos provenientes ilícitos não sejam tributados. Se os rendimentos
provenientes de atos ilícitos não fossem tributados seria quase como conferir uma
vantagem a quem obtenha rendimentos de forma ilícita.

A taxa agravada de IRS ou IRC leva-nos a chamar à colação para a temática do


confisco, por violação do disposto nos artigos 61.º e 62.º da CRP ( violação da livre
iniciativa económica e da propriedade privada).

Alíquotas superiores a 50% normalmente consubstanciam uma situação de confisco


(Acórdão do TEDH Gáll vs Hungria).

Há partida, as despesas suportadas com práticas ilícitas não serão despesas


documentadas. Sabemos que há despesas não documentadas porque a contabilidade
reflete uma diminuição do resultado líquido.

A lei distinguia entre despesas documentadas e despesas não confidenciais, contudo, a


nossa lei eliminou esta distinção e optou unicamente pela categoria das despesas não
documentadas.

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No caso em apreço, como a esmagadora maioria das despesas ilícitas não são
documentadas, o caso prático não acrescenta nada de novo. Deste modo, não podem ser
deduzidas ( artigo 23.º- A/ alínea b) CIRC)

No nosso regime fiscal , a ausência de prova documental que é exigida para efeitos
fiscais implica não apenas a sua indedutibilidade , mas também a sua tributação
autónoma.

A tributação autónoma consiste num imposto cedular, de taxas proporcionais ou


progressivas, incidindo sobre despesas do sujeito passivo.

Caso 7

A Maria e o António são sujeitos passivos de IRS, pois não só residem em território
português como aqui obtêm rendimentos, cf. os artigos 13.º, n.º 1 e 16.º, n.º 1, alínea a)
do CIRS (pois trabalhando ambos em Portugal, também aqui terão residência), sendo
então tributados pelo seu rendimento mundial (“worlwide income”), cf. o artigo 15.º, n.º
1 do CIRS.

Segundo o disposto no artigo 13.º/2 CIRS, em regra , a tributação é apurada


individualmente em relação a cada cônjuge ou unido de facto.

Em relação ao agregado familiar , este é constituído pelas pessoas referidas no artigo


13.º/4. Tendo em conta os elementos do caso prático, o agregado familiar será
constituído por Maria e António e pelos filhos com menos de 25 anos ( artigo 13.º/5/
alíneas a e b). Resulta da análise do artigo 13.º que o pai da António não faz parte do
agregado familiar.

Em relação aos rendimentos de António: O salário de A é considerado um rendimento


da Categoria A ( rendimento de trabalho dependente), segundo o disposto nos artigos
1.º/1, 2.º/1 e 2.º/2 do CIRS).

De acordo com o plasmado no artigo 25.º/1 do CIRS , aos rendimentos brutos da


categoria A deduzem-se, até à sua concorrência, e por cada titular que os tenha auferido,
os seguintes montantes: alínea a) 4104 euros

O próximo passo , será o englobamento, de acordo com o disposto no artigo 22.º do


CIRS.

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Posteriormente, temos de ver a taxa a aplicar na tabela do artigo 68.º CIRS.

Quanto à retenção na fonte, é a entidade empregadora que é obrigada a reter, nos termos
dos artigos 98.º, 99.º - C e 99.º -F

Por fim , teríamos de ver as deduções à coleta constantes dos artigos 78.º e seguintes do
CIRS.

Quanto aos rendimentos de Maria: M, advogada, a mesma não tem propriamente um


salário proveniente de um trabalho subordinado, pelo que tendo em conta os dados do
caso prático, os seus rendimentos vão-se enquadrar na categoria B ( Rendimentos
empresariais e profissionais), segundo o disposto nos artigos 1.º/1, 3.º /1/ alínea b) do
CIRS, com as deduções previstas nos artigos 28.º e seguintes.

De acordo com o disposto no artigo 28.º 1/ alíneas a e b ) do CIRS, a determinação dos


rendimentos empresariais e profissionais, faz-se :

1. Com base na aplicação das regras decorrentes do regime simplificado;


2. Com base na contabilidade;

Portanto, Maria pode optar pelo regime simplificado, que está regulado no artigo 31.º do
CIRS. De acordo com o disposto neste artigo, a alínea b) do seu número 1 referem que a
determinação do rendimento tributável obtém-se através da aplicação dos seguintes
coeficientes: 0,75 aos rendimentos das atividades profissionais especificamente
previstas na tabela a que se refere o artigo 151.º do CIRS. Da conjugação do artigo
151.º do CIRS e da Portaria n.º 1011/2001, de 21 de agosto, resulta que o código de
atividade será o 6010.

Convém referir que, de acordo com o disposto no artigo 28,º/8 do CIRS, reunidas
determinadas condições, Maria pode optar pela tributação de acordo com as regras
estabelecidas para a categoria A:

- reúnam as condições para ser tributados pelo regime simplificado;

- não tenham optado por contabilidade organizada;

- tenham prestado serviços a uma única entidade;

- os serviços não tenham sido prestados pelo sócio a sociedade de profissionais sujeita
ao regime da transparência fiscal.

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Nesse caso, de acordo com o plasmado no artigo 25.º/1 do CIRS , aos rendimentos
brutos da categoria A deduzem-se, até à sua concorrência, e por cada titular que os tenha
auferido, os seguintes montantes: alínea a) 4104 euros.

Caso contrário, a determinação do rendimento tributável, será aferida através do já


referido artigo 31.º/1/ alínea b) do CIRS, com o coeficiente de 0,75

Por outro lado, se Maria tiver contabilidade organizada, de acordo com o disposto nos
artigos 28.º/1/ alínea b) e 32.º do CIRS, o rendimento líquido da Categoria B será
determinado nos termos do CIRC.

Em principio, Maria é livre de optar por um regime ou pelo outro, salvo se auferir um
rendimento igual ou superior a 200 mil euros ( artigo 28.º/2 CIRS).

O passo seguinte, será o englobamento, de acordo com o disposto no artigo 22/1.ºdo


CIRS.

Em relação à taxa a aplicar, esta seria, nos termos do artigo 68.º do CIRS, a taxa geral.

Em relação a retenção na fonte, nos termos do disposto no artigo 101.º/1/ alínea b) do


CIRS, as entidades que disponha ou devam dispor de contabilidade organizada estão
sujeitas a uma taxa de 25%.

As deduções à coleta de Maria e António seriam averiguadas de acordo com o disposto


no artigo 78.º do CIRS.

Em relação, às despesas ,o artigo 33.º/1 do CIRS refere que as remunerações titulares do


rendimento da categoria B, assim como as outras prestações a titulo de ajudas do custo,
utilização de viaturas própria ao serviço da atividade, subsídios das refeições e outras
prestações de natureza remuneratórias, não são dedutíveis para se aferir o rendimento
desta categoria. E depois, temos o artigo 29º nº1, que nos diz que na determinação do
rendimento só são considerados proveitos e custos os relativos aos bens ou valores que
façam parte do ativo da empresa individual do sujeito passivo ou que estejam afetos às
atividades empresariais e profissionais por ele desenvolvidas, nesta categoria há a
dedução das despesas relativas à atividade. Este rendimento não é tributado por uma
taxa especial, não se aplicando nem os artigos 71, 72 e 73. Em termos do englobamento,
este encontra-se no art.22º, sendo que o nº1 nos diz que o rendimento coletável em IRS
é o que resulta do englobamento dos rendimentos das várias categorias auferidas em
cada ano, depois de feitas as deduções e os abatimentos previstos nas secções seguintes.

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Aqui estava em causa, o 22º nº2 a), que nos diz que tratando-se de rendimentos da
categoria B, cada contitular engloba a parte do rendimento que lhe couber, na proporção
das respetivas quotas. Neste caso, segundo o artigo 68º fala-nos das taxas gerais do IRS.
Mas, aqui parece-me estar em causa o art.69º, presumindo que A e M são casados pelo
nº1, tratando-se de sujeitos passivos casados e não separados judicialmente de pessoas e
bens ou unidos de facto, nos casos em que haja opção pela tributação conjunta as taxas
aplicáveis são as correspondentes ao rendimento coletável dividido pelos 2. E como diz
o nº3, deste artigo, as taxas fixadas, no art.68º, aplicam-se ao quociente de rendimento
coletável, multiplicando-se por 2 o resultado obtido para se apurar a coleta do IRS.
Sendo que a taxa seria de 68% (?). Quanto as formas de pagamento, temos o art.98º nº1
que nos diz que 1 - Nos casos previstos nos artigos 99.º a 101.º e noutros estabelecidos
na lei, a entidade devedora dos rendimentos sujeitos a retenção na fonte, as entidades
registadoras ou depositárias, consoante o caso, são obrigadas, no ato do pagamento, do
vencimento, ainda que presumido, da sua colocação à disposição, da sua liquidação ou
do apuramento do respetivo quantitativo, consoante os casos, a deduzir- lhes as
importâncias correspondentes à aplicação das taxas neles previstas por conta do imposto
respeitante ao ano em que esses atos ocorrem. 3 - As quantias retidas nos termos dos
artigos 99.º a 101.º devem ser entregues até ao dia 20 do mês seguinte àquele em que
foram deduzidas. 6 - Os titulares dos rendimentos das categorias A, B e H podem optar
pela retenção do IRS mediante taxa inteira superior à que lhes é legalmente aplicável em
declaração para o efeito a apresentar à entidade pagadora dos rendimentos. E também,
estamos perante o art.101º nº1 b) e c) 1ª parte, 1 - As entidades que disponham ou
devam dispor de contabilidade organizada são obrigadas a reter o imposto, mediante a
aplicação, aos rendimentos ilíquidos de que sejam devedoras e sem prejuízo do disposto
nos números seguintes, das seguintes taxas: b) 25 %, tratando-se de rendimentos
decorrentes das atividades profissionais especificamente previstas na tabela a que se
refere o artigo 151.º; c) 11,5 %, tratando-se de rendimentos da categoria B referidos na
alínea b) do n.º 1.
(ii)Em relação aos juros de um depósito a prazo e dividendos de ações da PT que
compraram há alguns anos: estes são rendimentos de Categoria E ( rendimentos de
capitais), de acordo com o disposto nos artigos 1.º/1 e 5.º/1/2/ alínea b) e 4 do CIRS.

Os artigos 40.º e ss do CIRS contêm deduções específicas a esta categoria de


rendimentos.

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Procede-se, posteriormente, ao respetivo englobamento, de acordo com o disposto no


artigo 22.º do CIRS.

No que diz respeito à taxa a aplicar, esta será uma taxa liberatória de 28%, de acordo
com o disposto no artigo 71º/1 alínea a) do CIRS.

Se os juros fossem provenientes de um paraíso fiscal: artigo 71.º/ 16/ alínea b) do CIRS
– sujeitos a retenção na fonte a título definitivo, à taxa liberatória de 35%.

(iii) Em relação à mais-valia, estamos perante rendimentos da categoria G, pelo disposto


no artigo 1.º/1 , artigo 9.º/1/ alínea a) e artigo 10.º/1/ alínea b) do CIRS.
Segundo a definição legal, constituem mais-valias os ganhos obtidos que não são
considerados rendimentos empresariais e profissionais, e que constem desta
enumeração.
Quanto a deduções, nos incrementos patrimoniais , a regrar geral, é não existirem, nos
termos do artigo 42.º do CIRS.
Teremos, no entanto, de atender ao regime do artigo 43º, em especial, ao seu número 1.
No seu nº1 este determina que o valor dos rendimentos qualificados como mais-valias é
o correspondente ao saldo apurado entre as mais-valias e as menos-valias realizadas no
mesmo ano. 3 - O saldo referido no n.º 1, respeitante às operações previstas na alínea b)
do n.º 1 do artigo 10.º, relativo a micro e pequenas empresas não cotadas nos mercados
regulamentado ou não regulamentado da bolsa de valores, quando positivo, é
igualmente considerado em 50 % do seu valor. 5 - Para apuramento do saldo positivo ou
negativo referido no n.º 1, respeitante às operações efetuadas por residentes previstas
nas alíneas b), e), f) e g) do n.º 1 do artigo 10.º, não relevam as perdas apuradas quando
a contraparte da operação estiver sujeita a um regime fiscal a que se referem o n.º 1 ou 5
do artigo 63.º-D da Lei Geral Tributária.

Os rendimentos provenientes da Categoria G são sujeitos a uma tributação autónoma de


28%, de acordo com o disposto no artigo 72.º/1/ alínea c) do CIRS. Contudo, de acordo
com o disposto no artigo 72.º/12 do CIRS, os sujeitos passivos podem optar por
englobar as mais valias. Para além do mais, não há qualquer retenção na fonte.

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Deduções à coleta: Os 3 filhos de António e Maria, à partida, fazem parte do Agregado


Familiar , segundo o disposto no artigo 13.º/4 e 13.º/5 CIRS. Os ascendentes, ou seja, o
pai de António, não fazem parte do agregado familiar ( interpretação a contrario do
artigo.º 13/5 do CIRS).

No que diz respeito às despesas de saúde dos filhos, estas , podem ser deduzidas à
coleta, nos termos do artigo 78.º/1/ alínea c) que refere que podem ser deduzidas as
despesas de saúde e com seguros de saúde. Contudo, esta dedução tem limites, pois, de
acordo com o disposto no artigo 78.º - C/ 1 “ À coleta de IRS devido pelos sujeitos
passivos é dedutível um montante correspondente a 15% do valor suportado a título de
despesas de saúde por qualquer membro do agregado familiar, com o limite global de
1000 euros”.

No que diz respeito às despesas de educação dos filhos, estas, podem ser deduzidas à
coleta, nos termos do artigo 78.º/1/ alínea d) que refere que podem ser deduzidas as
despesas de educação e formação. Contudo, esta dedução tem limites ,pois, de acordo
com o disposto no artigo 78.º - D /1 do CIRS “ “ À coleta de IRS devido pelos sujeitos
passivos é dedutível um montante correspondente a 30% do valor suportado a título de
despesas de formação e educação por qualquer membro do agregado familiar, com o
limite global de 800 euros.

Cumpre analisar o disposto no artigo 78.º - A/ alínea a) que refere que será deduzido à
coleta devida pelos sujeitos passivos residentes em território português o montante fixo
de 600 euros por cada filho, salvo o disposto na alínea b) do mesmo artigo

No que diz respeito às despesas com o pai de António, o artigo 78.º/1/ alínea do CIRS
refere que podem ser deduzidas à coleta as despesas com os ascendentes que vivam em
comunhão de habitação com o sujeito passivo. Portanto, embora os ascendentes não
pertençam ao agregado familiar ( artigo 13.º do CIRS), as regras constantes do CIRS
sobre deduções à coleta permitem deduzir as despesas de um ascendente não
pertencente ao agregado familiar, se este não auferir um rendimento superior à pensão
mínima ( artigo 78.º - A/ 1/ alínea c) do CIRS). Logo, tendo em conta que o pai de

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António apenas recebe a pensão mínima, é deduzível à coleta o montante fixo de 525
euros.

Caso 9 - Métodos diretos e métodos indiretos de avaliação

A sociedade anónima H, que vende veículos automóveis, recebeu a visita de uma


equipa de inspeção tributária.

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A equipa fez as seguintes correções ao balanço fiscal, que apresentava um resultado


líquido positivo de 10 milhões de euros no ano de 2008 e um valor bruto de vendas de
100 milhões de euros:
– Desconsideração, como custo, das multas pagas por contra-ordenação
rodoviária, no valor de 50 mil euros;
– Desconsideração, como custo, das rendas pagas ao senhorio no valor de 500
mil euros, por não existir fatura, mas um mero recibo;
– Desconsideração de uma despesa de 1 milhão de euros, apenas identificada
por um talão justificativo que dizia “luvas e subornos”;
– Tributação autónoma a 50% das verbas por “luvas e subornos”
– Desconsideração de 50 mil euros em almoços e jantares suportados pela
sociedade, relativos à representação da empresa junto de clientes e
fornecedores, por ser considerado um valor excessivo.
A equipa de inspecção defende ainda a desconsideração da contabilidade por
(a) ser inviável em face do número de correcções detectadas, (b) por haver sociedades
concorrente no mesmo sector de actividade a facturar 50% mais do que a sociedade H
e (c) por ter ocorrido uma redução em 35% do volume de receitas face ao ano anterior.
Por conseguinte, a equipa decidiu-se pela aplicação de uma margem de 30%
sobre o valor bruto das vendas registado em empresas concorrentes nesse ano – que
se situavam, em média, em 200 milhões de euros. Apurou-se, assim, um resultado
líquido de 60 milhões e a subsequente liquidação de IRC no valor de 12 milhões de
euros.
Quid iuris?

A sociedade H é um sujeito passivo de IRC, de acordo com o disposto nos artigos 1.º e
2.º/1/ alínea a) do CIRC. O IRC incide sobre os rendimentos obtidos, mesmo quando
provenientes de atos ilícitos (artigo 1.º do CIRC).

No enunciado não se refere onde é a sede da sociedade H. Portanto, se a sociedade H


tiver sede ou direção efetiva em território português, o IRC incide sobre a totalidade dos
seus rendimentos, incluindo os obtidos fora desse território, de acordo com o disposto
no artigo 4.º/1 do CIRC. Caso contrário, se a sociedade H não tiver sede ou direção
efetiva em território português, o IRC incide apenas quanto aos obtidos em Portugal
( artigo 4.º/2 do CIRC).

Tendo em conta que a Sociedade H é uma sociedade anónima, o IRC vai incidir sobre o
seu lucro (artigo 3.º/1/ alínea a). A determinação do lucro tributável vai ser aferido
através da soma algébrica do resultado líquido do período e das variações patrimoniais

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positivas e negativas verificadas no mesmo período e não refletidas naquele resultado,


de acordo com o disposto no artigo 17.º/1 do CIRC. Este artigo respeita e concretiza o
disposto no artigo 104.º/2 da CRP que refere “A tributação das empresas incide
fundamentalmente sobre o seu rendimento real”.

No que diz respeito ao período de tributação, refere o artigo 8.º/1 do CIRC que o IRC é
devido por cada período de tributação, que coincide com o ano civil, sem prejuízo das
exceções previstas neste artigo. Em relação à definição da matéria coletável, nos termos
do disposto no artigo 15.º/1/ alínea a) do CIRC, relativamente às pessoas coletivas e
entidades referidas na alínea a) do n.º1 do artigo 3.º, a matéria coletável obtém-se pela
dedução ao lucro tributável , determinado nos termos dos artigos 17.º e seguintes, dos
montantes correspondentes a:

Relativamente à desconsideração do custo das multas, de acordo com o plasmado no


artigo 23.º - A /1/ alínea e), as multas, coimas e demais encargos não são dedutíveis para
efeitos da determinação do lucro tributável.

Relativamente à desconsideração, como custo, das rendas pagas ao senhorio no valor de


500 mil euros, por não existir fatura, mas um mero recibo, à partida, as mesmas seriam
dedutíveis, de acordo com o disposto no artigo 23.º/2/ alínea d) do CIRC. Contudo, o
artigo 23.º/3 do CIRC refere que os gastos dedutíveis nos termos dos números anteriores
devem estar comprovados documentalmente, independentemente da natureza ou suporte
dos documentos utilizados para esse feito. Acrescenta o artigo 23.º/4 do CIRC que no
caso de gastos incorridos ou suportados pelo sujeito passivo com a aquisição de bens e
serviços, o documento comprovativo a que se refere o número anterior deve conter, pelo
menos, os seguintes elementos:

1. Nome ou denominação social do fornecedor dos bens ou prestador dos serviços


e do adquirente ou destinatário;
2. NIF do fornecedor dos bens ou prestador dos serviços e do adquirente ou do
destinatário, sempre que se tratem de entidades com residência ou
estabelecimento estável no território nacional;
3. Quantidade e denominação usual dos bens adquiridos ou dos serviços prestados;
4. Valor da contraprestação, designadamente o preço;
5. Data em que os bens foram adquiridos ou em que os serviços foram realizados;

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Mais ainda, o artigo 23.º/6 do CIRC refere que quando o fornecedor de serviços ou
prestador dos serviços esteja obrigado à emissão de fatura ou documento legalmente
equiparado nos termos do Código do IVA, o documento comprovativo das aquisições de
bens ou serviços previstos no número 4 deve obrigatoriamente assumir essa forma.

Ora, o recibo é uma quitação, nos termos do artigo 787.º do CC. Nesse artigo, não são
previstos requisitos nenhuns, tais como o NIF, data em que as rendas foram pagas, etc.

Portanto, o recibo só será suficiente para efeitos de dedutibilidade, se tiver os elementos


previstos nos artigos 23.º/ 3 e 4 do CIRC.

Relativamente à desconsideração de uma despesa de 1 milhão de euros, apenas


identificada por um talão justificativo que dizia “luvas e subornos”, a mesma vai ser
considerada uma despesa não documentada, de acordo com o disposto no artigo 23.º - A
/1/ alínea b) do CIRC, logo, não são dedutíveis para efeitos de determinação do lucro
tributável. Quanto à tributação autónoma a 50% das verbas por “luvas e subornos “, as
mesmas tinham de ser tributadas autonomamente à taxa de 50%, ainda que não se
considerem como gastos, de acordo com o disposto no artigo 88.º/1 do CIRC.

Relativamente à desconsideração de 50 mil euros em almoços e jantares suportados pela


sociedade, relativos à representação da empresa junto de clientes e fornecedores, por ser
considerado um valor excessivo, as mesmas são tributadas autonomamente à taxa de
10%, de acordo com o disposto no artigo 88.º/7 do CIRC. Assim sendo, não são
dedutíveis (os tais 10%/), para efeitos da determinação do lucro tributável. Logo, 10%
dos 50 mil euros, ou seja, 5 mil euros não serão dedutíveis. Quanto ao valor restante, os
45 mil euros, poderão ser dedutíveis, de acordo com o disposto no artigo 23.º1 do
CIRC. As despesãs só serão dedutíveis se as mesmas tiverem em conta o interesse da
Sociedade H. Este interesse é concretizado através dos critérios da essencialidade e da
indispensabilidade. Tendo em conta que a Sociedade H apresenta um valor bruto de
vendas na ordem dos 100 milhões de euros e um resultado líquido positivo de 10
milhões de euros, parece que as despesas podem ser dedutíveis, uma vez que parece que
se mostram indispensáveis para a gestão da Sociedade H. Por fim, a Autoridade
Tributária não pode considerar o valor excessivo, não pode realizar este tipo de juízos
de mérito, sob pena de se intrometer na autonomia de gestão da sociedade.

Quanto à desconsideração da contabilidade da Sociedade H, há que referir que, em


regra, a matéria coletável é determinada com base em declaração do sujeito fiscal (no

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caso o modelo 22), sem prejuízo do controlo pela administração fiscal, de acordo com o
disposto no artigo 16.º/1 do CIRC.

De acordo com o disposto no artigo 16.º/4 do CIRC, a determinação do lucro por


métodos indiretos só pode efetuar-se nos termos e condições referidos na secção V.

O artigo 57.º/1 do CIRC refere que a aplicação de métodos indiretos efetua-se nos casos
e condições previstos nos artigos 87.º a 89.º da LGT.

A avaliação indireta é subsidiária em relação à avaliação direta (artigo 85.º/1 da LGT).

Tendo em conta os elementos do caso, poderia aplicar-se o disposto nos artigos 87.º/1/
alínea b) e 88.º/1/ alínea a) do CIRC, em virtude do número de correções detetadas, o
que nos remeteria para a determinação da matéria tributável por métodos indiretos
previsto no artigo 90.º da LGT.

Também se poderia aplicar os artigos 87.º/1/ alínea c) e 89.º da LGT, uma vez que a
matéria tributável do sujeito passivo se afasta, sem razão justificada, mais de 30% para
menos do volume de receitas face ao ano anterior.

Quanto à aplicação da margem de 30%, há que dizer o seguinte:

Ora, de acordo com o disposto no artigo 87.º/1/ alínea b) da LGT, a Autoridade


Tributária pode recorrer aos métodos indiretos para determinar a matéria tributável, nos
casos de impossibilidade de comprovação e quantificação direta da matéria tributável.
Essa impossibilidade de determinação direta e exata da matéria tributável, no caso em
concreto, resulta do disposto no artigo 88.º/ alínea a) da LGT.

Poderia eventualmente aplicar-se o artigo 90.º/1/ alínea a) da LGT, para efeitos da


determinação da matéria tributável por métodos indiretos.

A margem aplicada pela AT corresponde a 30% sobre o valor bruto das vendas
registadas em empresas concorrentes nesse ano, que se situavam, em média, em 200
milhões de euros. Se a margem da Sociedade H for, efetivamente, 30% e o seu resultado
líquido corresponder a 60 milhões de euros não há qualquer ilegalidade. Contudo, se a
margem for maximalista, estaremos perante uma situação de confisco, passível de
pedido de revisão da matéria tributável, nos termos dos artigos 91.º e seguintes da LGT.

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Pelo contrário, se a margem for minimalista, estaremos perante uma violação do


princípio da igualdade.

Caso 10

A sociedade anónima X prevê apresentar um resultado líquido do exercício positivo de


200 milhões de euros, em 2014, pretendendo ainda distribuir o máximo do lucro
possível aos cinco sócios.
Face à possibilidade de se ver confrontada com uma elevada coleta de IRC, além do IRS
dos respetivos sócios pela distribuição de dividendos, a sociedade X resolve consultar
um Técnico Oficial de Contas (TOC), conhecido do sócio.
O TOC fez uma análise fiscal da situação e apresenta uma proposta de poupança fiscal,
onde se pode ler:
Sem qualquer intervenção, a carga fiscal global ascenderia a 46 milhões de euros em
IRC (23% x 200 milhões) e a cerca de 77 milhões de euros em IRS (aprox. 53% x [200
milhões – 50 milhões]).
No mesmo documento, como proposta de otimização fiscal, o TOC sugeriu à sociedade
X:
 Pagamento de 50 milhões de Euros a uma sociedade situada na República de
Vanuatu, por prestação de serviços de consultoria geral, criando assim custos;
 Venda à sociedade Z – que é detida em 55% pela empresa X – ao valor de
mercado, de acções que detém na sociedade Y, gerando uma menos- valia
mobiliária de 50 milhões;
 Compra de maquinaria industrial pelo dobro do seu preço de mercado à
sociedade Z, permitindo assim deduzir uma quota de amortização de 25 milhões
de euros já em 2014;
 Compra de joias para as esposas dos 3 administradores, no valor de 50 milhões
de euros, deduzindo assim o respetivo valor em IRC e evitando a tributação dos
administradores em IRS;
 Compra aos sócios de parte das ações que estes têm na própria sociedade,
pagando esta pelas ações próprias o valor de 150 milhões de euros. A sociedade
comprometer- se-á, ainda, a revender as mesmas aos sócios pelo valor de mil
euros logo no ano de 2014, enquanto os sócios financiarão gratuitamente a
sociedade em 150 milhões de euros em 2014 e 2015.

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Os administradores da sociedade não sabem o que pensar de tudo isto, enquanto o


Revisor Oficial de Contas (ROC) da sociedade, por seu lado, não está minimamente
convencido com a análise. Em particular, o ROC acha que a proposta não vai resultar e
que vai trazer até mais encargos em IRS e IRC do que se nada se fizesse.

Quid iuris? (Quem tem razão?)

Ponto 3 - Nos termos do disposto no artigo 63.º/1 do CIRC, nas operações efetuadas
entre um sujeito passivo e qualquer outra entidade, sujeita ou não a IRC, com a qual
esteja em situação de relações especiais, devem ser contratados, aceites e praticados
termos ou condições substancialmente idênticas aos que normalmente seriam
contratados, aceites e praticados entre entidades independentes em operações
comparáveis.

Estamos perante duas sociedades que se encontram numa situação de relação especial,
mais especificamente, sociedades que se encontram em relação de domínio, nos termos
do artigo 486.º do CSC (segundo o disposto no artigo 63.º 4/ alínea f) do CIRC).

As operações a que se referem o artigo 63.º/1 do CIRC, abrangem, entre outras, nos
termos do artigo 63.º/2 do CIRC, operações que tenham por objeto bens tangíveis (é o
caso, dado que a maquinaria industrial é um bem tangível).

Conjugando o disposto nos artigos 63.º/1, 62.º/2 e 63.º/3 do CIRC, podemos retirar que
nas operações financeiras ou comerciais efetuadas pelo sujeito passivo a qualquer outra
entidade, com o qual esteja em relação de domínio, devem ser contratados, aceites e
praticados termos ou condições idênticas aos que normalmente seriam contratados, ora,
no caso em apreço, a maquinaria industrial foi adquirida pelo dobro do preço de
mercado.

Posto isto, nos termos do artigo 63.º/9 do CIRC, a Autoridade Tributária pode efetuar as
correções na determinação do lucro tributável, pelo montante correspondente ao que
teria sido obtido se as operações se tivessem efetuado numa situação normal de
mercado.

Ponto 4 – Quanto a compra de joias, temos que atender ao disposto no artigo 23.º/1 do
CIRC, que refere que para a determinação do lucro tributável, são dedutíveis todos os
gastos e perdas incorridos ou suportados pelo sujeito passivo para obter ou garantir os

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rendimentos sujeitos a IRC. O artigo 23.º/2 do CIRC dispõe que se consideram


abrangidos pelo número anterior, nomeadamente, os seguintes gastos e perdas: (sendo
meramente exemplificativos, pois também diz “nomeadamente”).

Uma vez que a compra de joias não está expressamente prevista em nenhuma das
alíneas do artigo 23.º/2 do CIRC, teremos que recorrer ao requisito do business purpose
test. O critério hoje relevante é, portanto, o da exigência de uma relação entre o gasto e
a atividade societária. Assim, a generalidade dos gastos, ainda que não obrigatórios,
excessivos, desrazoáveis e improdutivos podem ser fiscalmente aceites, desde que
motivados pela prossecução do fim empresarial. Na atual redação da lei fica, por isso,
essencialmente excluído um grande conjunto de despesas: aquelas cuja efetivação não
se pode imputar aos interesses societários, mas aos interesses pessoais dos sócios ou de
terceiros. E isso implica que, quanto a um conjunto muito vasto de despesas, onde se dá
a interseção entre a esfera pessoal e a societária ou entre diversas esferas societárias, se
deva concluir que, em regra, não existe um interesse coletivo da empresa. No caso em
apreço, este requisito não está preenchido, dado que oferecer joias às esposas de 3
administradores, não tem conta a vida da sociedade, nem os interesses societário, nem a
prossecução do fim empresarial, mas sim meramente em conta os interesses pessoais
dos sócios ou de terceiros.

Conclui-se, assim, que a despesa relativa às joias não será dedutível.

Em relação à tributação das joias, segundo o disposto nos artigos 1º e 2.º/3/ alínea b) do
CIRS, as mesmas poderiam ser consideradas rendimentos da Categoria A (Rendimentos
do Trabalho dependente) , uma vez que são consideradas remunerações acessórias, dado
que são auferidas devido à prestação de trabalho ou em conexão com esta e constituem
para o respetivo beneficiário uma vantagem económica, mais especificamente, nos
termos do artigo 2.º/11 do CIRS, para efeitos da alínea b) do n.º 3, consideram-se
rendimentos do trabalho do sujeito passivo os benefícios ou regalias atribuídos pela
respetiva entidade patronal a qualquer outra pessoa do seu agregado familiar ou que a
ele esteja ligado por vínculo de parentesco ou afinidade até ao 3.º grau da linha
colateral, ao qual se equipara a relação de cada um dos unidos de facto com os parentes
do outro.

As joias são consideradas uma remuneração em espécie, uma vez que não
correspondem a um pagamento ou colocação à disposição de numerário, mas sim à

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oferta de um bem. Neste caso, é necessário recorrer ao artigo 24.º do CIRS, para efeitos
da determinação da respetiva equivalência pecuniária.

Contudo, analisando o artigo 2.º/3 do CIRS, não encontramos nenhum número ou alínea
em que seja subsumível as joias para efeitos de tributação.

Portanto, cabe analisar o artigo 38.º/2 da LGT a fim de verificarmos se estamos perante
um abuso fiscal.

No entendimento da professora Ana Paula Dourado, os requisitos para a aplicação do


artigo 38.º/2 da LGT são:

 A existência de uma vantagem fiscal, o que no caso em apreço se verifica, dado


que as joias não iam ser tributadas;
 A obtenção dessa vantagem fiscal é contrária à finalidade da lei fiscal (através de
uma redução, eliminação ou diferimento temporal de impostos que seriam
devidos). Teremos de averiguar se negócio praticado merece um juízo de
reprovação pelo ordenamento fiscal. No caso em concreto, atendendo à ratio do
artigo 2.º do CIRS, que é tributar todos os rendimentos provenientes de trabalho
dependente, conclui-se que a obtenção desta vantagem fiscal é contrária à
finalidade da lei;
 A obtenção da vantagem fiscal é uma das finalidades essenciais das transações,
que também se verifica no caso, dado que os administradores com este negócio
pretendem evitar a sua tributação em sede de IRS;
 A utilização de meios ou esquemas artificiosos ou fraudulentos cuja verificação
concretiza objetivamente a intenção, que também se verifica no caso, dado que
as joias não iam ser tributadas;

Assim, a ineficácia, para efeitos fiscais, dos atos ou negócios praticados é acompanhada
pela requalificação segundo a norma que seria aplicada se não tivessem sido adotados
os esquemas artificiosos ou fraudulentos (artigo 38.º/2 da LGT).

Logo, requalifica-se o negócio em causa e aplica-se a regra que seria aplicada se não
fosse aquele negócio artificioso, neste caso, aplica-se o disposto no artigo 2.º do CIRS e
as joias são sujeitas a tributação.

Ponto 5 - Artigo 38.º/2 LGT clausula geral anti abuso

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Nos termos do disposto no artigo 63.º/1 do CIRC, nas operações efetuadas entre um
sujeito passivo e qualquer outra entidade, sujeita ou não a IRC, com a qual esteja em
situação de relações especiais, devem ser contratados, aceites e praticados termos ou
condições substancialmente idênticas aos que normalmente seriam contratados, aceites e
praticados entre entidades independentes em operações comparáveis.

Estamos perante uma sociedade que compra aos seus sócios, ações próprias pelo valor
de 150 milhões de euros. Nos termos do disposto no artigo 63.º/ 4/ alínea c) do CIRC,
considera-se que existem relações especiais entre uma entidade e os membros dos seus
órgãos sociais.

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As operações a que se referem o artigo 63.º/1 do CIRC, abrangem, entre outras, nos
termos do artigo 63.º/2 do CIRC, operações financeiras (é o que sucede no caso em
apreço, dado que a compra de ações é considerada uma operação financeira).

Conjugando o disposto nos artigos 63.º/1, 62.º/2 e 63.º/3/ alínea a) do CIRC, podemos
retirar que nas operações financeiras ou comerciais efetuadas pelo sujeito passivo a
qualquer outra entidade, com o qual exista uma especial relação , devem ser
contratados, aceites e praticados termos ou condições idênticas aos que normalmente
seriam contratados, ora, no caso em apreço, num primeiro momento a Sociedade
compra as ações aos sócios pelo preço de 150 milhões de euros e no mesmo ano
compromete-se a vender as mesmas pelo valor de mil euros, o que dá entender que não
foi praticado em nenhuma das operações financeiras o preço de mercado.

Posto isto, nos termos do artigo 63.º/9 do CIRC, a Autoridade Tributária pode efetuar as
correções na determinação do lucro tributável, pelo montante correspondente ao que
teria sido obtido se as operações se tivessem efetuado numa situação normal de
mercado.

Caso 11- IVA

Arnaldo é um humilde apanhador de trufas (túberas) no Alto Alentejo. A sua atividade


consiste em apanhar trufas, com a ajuda de dois suínos treinados para o efeito, para
posteriormente as vender a vários restaurantes em Lisboa.
No início de 2020, atendendo à sua crescente profissionalização, Arnaldo submeteu uma
declaração de início de atividade para efeitos de IVA e, posteriormente, deduziu o
imposto incorrido nas seguintes despesas:

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- Aquisição de uma mota para fazer entregas em tempo recorde, assegurando a


frescura das trufas;
- Aquisição de várias sessões de treino para os seus porcos, ministradas em
Toulouse por um especialista de renome;
- Aquisição de um pointer treinado para farejar trufa branca, diretamente a um
criador britânico, tendo o animal sido expedido por via aérea e desalfandegado na
Alfândega do Aeroporto de Lisboa.
Na sequência de um pedido de reembolso de IVA, Arnaldo foi alvo de uma inspeção
tributária, tendo-lhe sido negado o direito à dedução com base no argumento de que
“apanhar trufas não pode ser uma profissão”. Nessa medida, a Administração Fiscal
entendeu que se encontrava verificada a qualidade de sujeito passivo do imposto.
Em outubro de 2021, num início de Outono atípico, Arnaldo, com o apoio do seu
pointer, encontrou uma trufa branca de 1,3 kg, avaliada em 900.000 Euros. Não
obstante, Arnaldo decidiu não vendê-la: preferiu organizar um banquete e servir a trufa
em vários pratos da gastronomia regional. O Presidente da República participou no
referido banquete, o qual surtiu o efeito pretendido por Arnaldo: colocar a sua região no
mapa internacional da trufa.
No entanto, a Administração Fiscal, que havia tomado conhecimento do sucedido
através dos meios de comunicação social, resolveu iniciar uma nova inspeção tributária,
tendo liquidado a Arnaldo imposto em falta no montante de 207.000 Euros a título de
IVA devido (23%) pela afetação da famosa trufa a um fim alheio à sua atividade
económica.

De acordo com o disposto no artigo 2.º/1/ alínea a) do CIVA “ São sujeitos passivos do
imposto, as pessoas singulares ou coletivas que, de um modo independente e com
caráter de habitualidade , exerçam atividades de produção, comércio ou prestação de
serviços, incluindo as atividades extrativas, agrícolas e as das profissões livres, e, bem
assim, as que, do mesmo modo independente, pratiquem uma só operação tributável,
desde que essa operação seja conexa com o exercício das referidas atividades, onde quer
que este ocorra, ou quando, independentemente dessa conexão, tal operação preencha os
pressupostos de incidência real do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares
(IRS) ou do imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas (IRC)”. Ora, tendo em

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conta que Arnaldo apanhava as trufas para posteriormente as vender a vários


restaurantes, o mesmo pode ser considerado sujeito passivo de IVA.

De acordo com o disposto no artigo 3.º/1 do CIVA, considera-se, em geral, transmissão


de bens a transferência onerosa de bens corpóreos por forma correspondente ao
exercício do direito de propriedade. Este artigo tem de ser articulado com o artigo 1.º/1/
alínea a) do CIVA, que trata da incidência objetiva.

Dedução das seguintes despesas:

O IVA é um imposto plurifásico (intervém nas várias fases da atividade produtiva).

Incide sobre as transmissões de bens, as prestações de bens e as importações.

Diferentes taxas para o IVA (taxas reduzidas, taxas medias e taxa geral de 23%).

A questão das deduções! Artigos 19.º e seguintes do CIVA.

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Teresa e Tiago são casados e têm três filhos que estudam num colégio luso-francês
no Porto. Este ano, e em plena pandemia, Teresa foi nomeada pelo Estado
Português para o exercício de funções no Consulado Geral de Portugal em
Zurique. Já Tiago, um advogado de sucesso, permaneceu em Portugal, tendo
auferido rendimentos da sua atividade profissional no montante de 300 mil euros.
Teresa e Tiago receberam ainda rendas de uma casa que têm em Menorca, bem
como juros de um depósito a prazo que fizeram num banco em Santa Lúcia e
ainda venderam a sua casa de férias em São Martinho do Porto, tendo reinvestido
na aquisição de outra casa de férias na Ericeira.
Maria Ana, irmã de Tiago, trabalha no Departamento Financeiro de uma editora
que está a passar por fortes dificuldades financeiras e não tem como pagar aos seus
fornecedores. Como tal, Maria Ana decidiu que as contribuições para a Segurança
Social retidas aos trabalhadores deveriam ser canalizadas para o pagamento das
dívidas aos fornecedores.
Não bastando o cenário de pandemia que está a assolar o País, o Governo decidiu
ainda por Decreto-Lei simples o aumento imediato da taxa de IRC de 21% para
55% para o corrente ano e também para o ano de 2019, bem como a tributação de
todas as mais-valias mobiliárias à taxa de 50% com efeitos a 1 de janeiro
independentemente da data da sua obtenção. O Governo decidiu ainda aumentar
as propinas de frequência nas universidades para valores que oscilam entre três a
oito vezes o valor anteriormente pago, tendo em conta a capacidade contributiva
de cada agregado familiar.

Resolução:
Tiago é sujeito passivo de IRS, pois não só reside em território português como aqui
obtém rendimentos (artigos 13.º/1 e 16.º/1/ alínea a) do CIRS). Tiago será tributado pelo
seu rendimento mundial (“worldwide income”), de acordo com o disposto no artigo
15.º/1 do CIRS.
Teresa é sujeito passivo de IRS, pois de acordo com o disposto no artigo 16.º/1/ alínea
d) do CIRS, considera-se residente em território português. Posto isto, aplica-se também
o artigo 13.º/1 do CIRS. Teresa será tributado pelo seu rendimento mundial
(“worldwide income”), de acordo com o disposto no artigo 15.º/1 do CIRS.

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Uma vez que Tiago e Teresa são casados podes efetivamente optar pela “entrega
conjunta da sua declaração de IRS” (artigo 13.º/2 e 3 do CIRS), caso em que se aplicará
o quociente familiar do artigo 69.º/1 e 3 do CRIS, fazendo ambos parte do mesmo
agregado familiar ( artigo 13.º/4/ alínea a) do CIRS.
Teresa, no exercício de funções no Consulado Geral de Portugal em Zurique, aufere um
rendimento da Categoria A ( Rendimentos de Trabalho Dependente), de acordo com o
artigo 1.º/1 e 2.º/1 alínea c) do CIRS, cujo rendimento líquido da Categoria será
determinado nos termos do artigo 25.º/1/ alínea a), rendimento esse que se encontra
sujeito a englobamento , de acordo com o disposto no artigo 22.º/1 do CIRS, bem como
cometido à alíquota que resultar da aplicação da tabela do artigo 68.º do CIRS, estando
igualmente sujeito a retenção na fonte ( artigo 99.º/1/ alínea a do CIRS).
Tiago, enquanto advogado, aufere um rendimento da Categoria B, cf. o artigo 3.º, n.º 1,
alínea b), bem como o CAE 6010 «da tabela de atividades do artigo 151.º», todos do
CIRS. O rendimento líquido da Categoria será determinado nos termos do artigo 28.º e
ss. do CIRS, com base no «regime simplificado» em que se aplicará um coeficiente de
despesa de 0,75, cf. o artigo 28.º, n.º 1, alínea a) e 31.º, n.º 1, alínea b) do CIRS, ou por
opção, «com base na contabilidade» e uma vez que auferiu «no período de tributação
imediatamente anterior um montante anual ilíquido de rendimentos desta categoria» de
300.000,00 €, caso em que se vai aplicar as regras do CIRC e por remissão do artigo
32.º do CIRS, cf. o artigo 28.º, n.º 1, alínea b) e n.º 2 do CIRS. O rendimento em causa
encontra-se sujeito a englobamento, cf. o artigo 22.º, n.º 1 do CIRS, bem como
cometido á alíquota que resultar da aplicação da tabela do artigo 68.º do CIRS, estando
também sujeito a retenção na fonte, ex vi artigo 101.º, n.º 1, alínea b) e ss. do CIRS.

Em relação às rendas de uma casa que têm em Menorca, as mesmas são consideradas
um rendimento da Categoria F (Rendimentos prediais), de acordo com o disposto no
artigo 1.º/1 e 8.º/2/ alínea a do CIRS), que pode estar sujeito às deduções previstas no
artigo 41.º do CIRS. Os rendimentos prediais estão sujeitos a uma taxa autónoma de
28%, de acordo com o disposto no artigo 72.º/1/ alínea e) do CIRS, podendo os sujeitos
passivos optar pelo seu englobamento, de acordo com o disposto no artigo 72.º/ 13 e
22.º/3/ alínea a) do CIRS.

Em relação aos juros de um depósito a prazo que fizeram num banco em Santa Lúcia, os
mesmo são considerados rendimentos da Categoria E (Rendimentos de Capitais), de

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acordo com o disposto no artigo 1.º/1 e 5.º/1 e 5.º/2/ alínea b) do CIRS. Uma vez que os
juros proveem de uma entidade com sede em Santa Lúcia (paraíso fiscal listada na
Portaria n.º 150/2004, de 13 de fevereiro, ex vi artigo 63.º - D /1 da LGT, os mesmos
estão sujeitos a uma alíquota agravada de 35%, de acordo com o disposto no artigo
72.º/17/ alínea a) do CIRS. Neste caso, não há possibilidade de opção pelo
englobamento (a contrário do artigo 72.º/13 do CIRS).

No que diz respeito à venda da casa de férias em São Martinho do Porto, a mesma é
considerada um rendimento da Categoria G (Incrementos Patrimoniais), de acordo com o
disposto nos artigos 1.º/1, 9.º/1/ alínea a) e 10.º/1/ alínea a) do CIRS. O ganho sujeito a
IRS é constituído pela diferença entre o valor de realização (valor da venda) e o valor de
aquisição do imóvel, aplicando-se, se for o caso, a correção monetária ao valor de
aquisição, prevista no artigo 50.º do CIRS. Quando o valor de aquisição é superior ao
valor da realização não há lugar a uma mais-valia, mas sim a uma menos valia. As
menos-valias não são, per si, tributadas, salvo se o saldo entre as mais-valias e menos-
valias apurado no final do ano for positivo (artigo 10.º/4 / alínea a e artigo 43.º/1 do
CIRS).
Uma vez que Tiago e Teresa são residentes em Portugal, o saldo positivo entre as mais
valias e as menos valias apenas será considerado em 50% do seu valor (artigo 43.º/2 do
CIRS), encontrando-se sujeito a englobamento (artigo 22.º/3 do CIRS), aplicando-se as
taxas gerais previstas no Artigo 68.º do CIRS.
No que diz respeito à posterior aquisição de outra casa de férias na Ericeira, a mesma
não pode servir para excluir de tributação os ganhos provenientes da transmissão
onerosa de imóveis, uma vez que não se trata de imoveis destinados a habitação própria
e permanente (artigo 9.º/ 5 do CIRS).

Em relação a Maria Ana, trabalhadora no Departamento Financeiro de uma editora que


está a passar por fortes dificuldades financeiras e não tem como pagar aos seus
fornecedores. Como tal, Maria Ana decidiu que as contribuições para a Segurança
Social retidas aos trabalhadores deveriam ser canalizadas para o pagamento das dívidas
aos fornecedores.
Sujeitos Ativos: Segundo art.º 18/1 LGT - Segurança Social é titular das quotizações
dos trabalhadores;

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Sujeito passivos: Segundo o art.º 18/3 LGT – Trabalhadores (contribuintes e


substituídos) e editora (a título de substituto, vide art.º 20 LGT);

A retenção opera por retenção na fonte, segundo os arts. º 20/2 e 34 LGT

No que diz respeito à substituição tributária, nos termos do art.º 20 LGT “a substituição
tributária verifica-se quando, por imposição da lei, a prestação tributária for exigida a
pessoa diferente do contribuinte, sendo a mesma “efetivada através do mecanismo da
retenção na fonte do imposto devido”.

Quotizações: houve retenção, mas não houve entrega. Neste caso, temos de aplicar o
art.º 28/1, ou seja, é responsável a entidade obrigada à retenção, ficando o substituído
desonerado de qualquer responsabilidade.

Possível aplicação do artigo 24.º/1/ alínea b) da LGT.

RGIT: possível crime de abuso de confiança no que diz respeito à retenção e não
entrega das quotizações (artigo 107.º e 105.º/1 e 5 do do RGIT).

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II

A sociedade agrícola SVG Lda. dedica-se à criação de gado, sendo parte integrante de
um grupo de sociedades agrícolas. No âmbito da sua atividade, disponibiliza
automóveis aos seus trabalhadores, ora para uso pessoal, ora para uso profissional. Os
administradores da sociedade gostam muito de iates à vela e este ano resolveram alugar
um para oferecer aos seus melhores clientes um passeio pelas margens do Rio Douro.
Este passeio incluiu ainda uma simpática estadia num hotel para os clientes.
Como a sociedade SVG Lda. teve muito proveitos este ano, decidiu celebrar um
contrato de prestação de serviços com uma sociedade no Belize por 250 mil euros.
Aproveitou ainda para vender máquinas agrícolas a uma das sociedades do grupo por
metade do preço de mercado das mesmas.
Por outro lado, e como pretende continuar a desenvolver a sua atividade agrícola, a
sociedade SVG Lda. decidiu fundir-se com outra sociedade agrícola do Grupo que tinha
um conjunto de terrenos bons para pastagem, mas que apresentava prejuízos fiscais
elevadíssimos.

Resolução:

Prestação de serviços com uma sociedade no Belize – O Belize é um país com um


regime fiscal mais favorável, de acordo com o disposto na Portaria 150/2004.
Segundo o disposto no artigo 23.º - A/1/ alínea r) do CIRC, não são encargos dedutíveis
para efeitos da determinação do lucro tributável, salvo se o sujeito passivo provar que
tais encargos correspondem a operações efetivamente realizadas e não têm um caráter
anormal ou um montante exagerado.
Tributação autónoma à taxa de 35%, nos termos do artigo 88.º/8 do CIRC.

Nos termos do disposto no artigo 63.º/1 do CIRC, nas operações efetuadas entre um
sujeito passivo e qualquer outra entidade, sujeita ou não a IRC, com a qual esteja em
situação de relações especiais, devem ser contratados, aceites e praticados termos ou
condições substancialmente idênticas aos que normalmente seriam contratados, aceites e
praticados entre entidades independentes em operações comparáveis.

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Estamos perante duas sociedades que se encontram numa situação de relação especial,
mais especificamente, sociedades que se encontram em relação de domínio, nos termos
do artigo 486.º do CSC (segundo o disposto no artigo 63.º 4/ alínea f) do CIRC).

As operações a que se referem o artigo 63.º/1 do CIRC, abrangem, entre outras, nos
termos do artigo 63.º/2 do CIRC, operações que tenham por objeto bens tangíveis (é o
caso, dado que a maquinaria industrial é um bem tangível).

Conjugando o disposto nos artigos 63.º/1, 62.º/2 e 63.º/3 do CIRC, podemos retirar que
nas operações financeiras ou comerciais efetuadas pelo sujeito passivo a qualquer outra
entidade, com o qual esteja em relação de domínio, devem ser contratados, aceites e
praticados termos ou condições idênticas aos que normalmente seriam contratados, ora,
no caso em apreço, a maquinaria industrial foi adquirida pelo dobro do preço de
mercado.

Posto isto, nos termos do artigo 63.º/9 do CIRC, a Autoridade Tributária pode efetuar as
correções na determinação do lucro tributável, pelo montante correspondente ao que
teria sido obtido se as operações se tivessem efetuado numa situação normal de mercado

Artigos 73.º/1/ alínea a) do CIRC e artigo 75.º/1 e 4 do CIRC

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