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ESQUEMA DE RESOLUÇÃO DE CASOS PRÁTICOS

Responsabilidade civil

RESPONSABILIDADE CIVIL DELITUAL


Fonte de obrigações baseada no princípio do ressarcimento do dano. O objetivo é eliminar o dano
ou prejuízo do lesado, colocar a pessoa na situação onde estaria se não houvesse dano. Ocorre
quando uma pessoa deve reparar um dano sofrido por outra. Trata-se de uma obrigação que
nasce diretamente da lei e não da vontade.
Tipos de responsabilidade civil.
 Responsabilidade obrigacional (artigos 798º ss CC). Pressupõe a existência de uma relação
obrigacional entre as partes. O princípio subjacente é o da autonomia privada.
 Responsabilidade civil extra-obrigacional (artigo 483º CC):
 Responsabilidade por culpa (artigo 483º, nº1 CC), a responsabilização do agente
pressupõe um juízo moral da sua conduta, que leve a efetuar censura ao seu
comportamento. Violação ilícita ou culposa de um direito ou de um interesse tutelado.
 Responsabilidade pelo risco (artigo 483º, nº2 e 499º e seguintes CC), não pressupõe
culpa, nem ilicitude, assim como, em regra, não há facto. No sentido em que, enquanto
ato consciente, com base na vontade humana- imputável ao agente. Efetua-se a
imputação de acordo com critérios objetivos de distribuição do risco.
 Responsabilidade pelo sacrifício, não pressupõe ilicitude. Há uma prática de um ato
voluntário que é danoso. A imputação baseia-se numa compensação ao lesado, justificada
pelo sacrifício suportado.

Pressupostos da responsabilidade civil.


FACTO VOLUNTÁRIO. Comportamento dominado pela vontade, imputável a um ser humano. O
comportamento não precisa de ser intencional, basta que exista uma conduta que possa sem
imputada, pois está sob o controlo da sua vontade. O facto voluntário não tem de ser
necessariamente intencional, o facto voluntário significa dominável pela vontade.
NOTA: a lei parte do princípio de que todo o ser humano será imputável, para o efeito de
responsabilidade civil. Presume-se, no entanto, a falta de imputabilidade nos menores de sete
anos e aqueles que estejam interditos por anomalia psíquica (artigo 288º, nº2 CC).
Existindo domínio da vontade já pode haver responsabilidade; é, por isso, um ato humano de
quem seja capaz de entender e de querer.
Pode revestir duas formas:
 Ação (artigo 483º CC)
 Omissão (artigo 486º CC), quando existe um dever jurídico de agir. Segundo o artigo
mencionado, este dever jurídico pode ser por contrato (negócio jurídico) ou lei (artigos 491º,
492º e 493º CC).

ILICITUDE. Juízo de desvalor sobre a conduta voluntária do agente que se traduz na inobservância
ou desrespeito de um dever jurídico sobre o comportamento em sie não pelo resultado.

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Modalidades de ilicitude.
Por violação de direitos subjetivos (artigo 483º, nº1 CC). A primeira variante de ilicitude prevista
no artigo 483º, nº1 CC, consiste na violação de direitos subjetivos. Esta modalidade de ilicitude
tem como característica especial o facto de, ao exigir uma lesão de um direito subjetivo específico,
se limitar indeminização à frustração das utilidades que lhe proporcionava esse direito, não se
admitindo assim nesta sede a tutela de danos puramente patrimoniais. Tutela das utilidades que
lhe proporcionava o direito subjetivo objeto da violação.
 Direitos de personalidade
 Direitos reais/ de propriedade
 Direitos familiares/ sucessórios patrimoniais
 Direitos de crédito (para alguns autores)
Por violação de normas de proteção (artigo 483º, nº1 CC), refere-se às disposições legais
destinadas a proteger interesses alheios. Tem que cumprir alguns pressupostos:
 Fim da norma seja dirigido à tutela de interesses particulares;
 O agente atue em desconformidade com a norma;
 Que da violação resulte um dano.
Por omissão (artigo 486º CC), a omissão só será qualificável como ilícita se, por lei ou por negócio
jurídico, havia o dever de praticar o ato omitido. Não existe o dever geral de evitar a ocorrência
de danos aos outros. A omissão, por isso, só pode ser ilícita quando existam um dever de agir
concretizado na esfera jurídica daquele que, inobservando-o, omite o ato devido.
Tipos específicos delituais:
 Abuso de Direito (artigo 334º CC)
 Não cedência em caso de colisão de direitos (artigo 335º CC)
 A ofensa ao crédito ou ao bom nome (artigo 484º CC)
 Responsabilidade por conselhos, recomendações e informações (artigo 485º CC)
NOTA: só há responsabilidade por conselho se houver um dever jurídico.

Causas de exclusão da ilicitude.


 Exercício de um direito, esta desresponsabilização só ocorre quando o exercício do direito
seja legítimo
Se alguém tem um direito subjetivo e o exerce, não deve responder pelos danos dai resultantes
para outrem. Por exemplo. Se alguém tiver uma licença de caça e caçar num determinado terreno
(que foi permitido), o dono desse terreno não o pode responsabilizar por balas espalhadas pelo
terreno. No entanto, o caçador não deixará de responder pelos danos em coisas ou pessoas que
provocar em virtude de não ter tomado as devidas precauções.

 Cumprimento de um dever
No fundo é um conflito de deveres. Por exemplo. O médico que apenas dispõe de um número
limitado de unidades para efetuar transfusões de sangue pode, em caso de excesso de lesados,
optar por privilegiar os doentes de maior risco, sem que atue ilicitamente.
Para haver exclusão de ilicitude, é, porém, necessário que o dever seja efetivamente cumprido.
Assim, se o agente em caso de conflito de deveres opta por não cumprir nenhuma, naturalmente

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que será responsável pelo incumprimento dos dois. É para além disso, necessário que a
impossibilidade não resulte de uma culpa anterior do agente, já que nesse caso ele não deixará
de ser responsabilizado.
 Legítima defesa (artigo 337º CC)
Pressupostos: 1. Existência de uma agressão, contra a pessoa ou património do agente ou de
terceiro; 2. Atualidade; 3. Contrariedade à lei dessa agressão; 4. Impossibilidade de recurso aos
meios normas; 5. Prejuízo causado pelo ato não seja manifestamente superior ao que pode
resultar da agressão.
 Ação direta (artigo 336º CC)
 Estado de necessidade (artigo 339º CC)
 Consentimento do lesado (artigo 340º CC)

CULPA. Juízo de censura ao agente por ter adotado a conduta que adotou, quando de acordo com
o comando legal estaria obrigado a adotar uma conduta diferente.
Imputabilidade. Para que o agente possa ser efetivamente censurado pelo seu comportamento é
sempre necessário que ele conhecesse ou devesse conhecer o desvalor do seu comportamento
e que tivesse podido escolher a sua conduta. (NOTA: a falta de imputabilidade está regulada no
artigo 488º CC)
Modalidades de culpa. Artigo 483º CC (“Dolo e mera culpa”)
Dolo, intenção do agente praticar o facto, aquele que atua voluntariamente contra a norma jurídica:
 Dolo direto – o agente atua diretamente contra a norma, com intenção de causar o dano/ de
atingir o resultado ilícito.
 Dolo necessário – o agente atua em determinado sentido que, não sendo o sentido da norma
violada, implica ainda assim, a violação da norma (violar a norma para atingir um determinado
fim).
 Dolo eventual – o agente representa a verificação como consequência possível da sua
conduta, e atua, conformando-se com a sua verificação.
Negligência, não se verifica intenção de praticar o ato, mas o comportamento do agente não deixa
de ser censurável em virtude de ter omitido a diligência a que estava legalmente obrigado. O
resultado ilícito deve-se a falta de cuidado.
 Negligência consciente – o agente tem consciência da existência de deveres de cuidado, mas
apesar disso, não os acata, esperando que não haja danos.
 Negligência inconsciente – o agente não tem conhecimento dos deveres de cuidado.

Apreciação da culpa. Artigo 487º, nº2 CC – critério tradicional da apreciação em abstrato da culpa,
segundo a diligência do Homem médio. Esse padrão abstrato não deixa de exigir, no entanto, uma
análise das circunstâncias do caso.
Prova da culpa. Artigo 487º, nº1 CC – incumbe ao lesado a prova de culpa do autor da lesão, salvo
havendo presunção legal de culpa. O código civil prevê as seguintes:
 Danos causados por incapazes (artigo 491º CC)
Neste caso presume-se a não vigilância. Estabelece uma presunção de culpa das pessoas a quem,
por lei ou negócio jurídico, tinham o dever jurídico de vigilância. Esta presunção, pode, no entanto,

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ser ilidida, através da demonstração de que cumpriram o dever de vigilância. Esta
responsabilização parte da presunção de não cumprimento do dever de vigilância.
NOTA: A responsabilidade do vigilante não pressupõe a inimputabilidade do vigiado, mas apenas
a sua incapacidade natural. Pode assim, o vigiado ser considerado imputável (artigo 488º CC) e
continuar a existir a responsabilidade do vigilante, caso em que ambos responderão
solidariamente (artigo 497º CC). Se o vigiado for inimputável, em princípio só o vigilante
responderá (artigo 491º CC), só se admitindo ação contra o vigiado, por motivos de equidade, no
caso de ser impossível exigir a responsabilidade ao vigilante (artigo 489º CC).
 Danos causados por edifícios (artigo 492º CC)
Este artigo contempla a situação da responsabilização pelos danos causados pela ruína de edifícios
ou de outras obras, devido a vicio de construção ou defeito de conservação, estabelecendo nesse
caso uma presunção de culpa que recai sobre o proprietário ou possuidor do edifício, presunção
essa que no caso de danos devidos exclusivamente a defeitos de conservação, se transfere para
a pessoa obrigada, por lei ou negócio jurídico, a conservar o edifício ou obra (nº2).
 Danos causados por coisas ou animais (artigo 493º, nº1 CC)
Dever de vigilância.
 Danos resultantes de atividades perigosas (artigo 493º, nº2 CC)
Ónus da prova (artigo. 342º CC)

Causas de exclusão da culpa. A culpa pode ser excluída sempre que o agente se encontre em
determinada situação que afaste a possibilidade de a ordem jurídica estabelecer um juízo de
censura em relação ao seu comportamento.
 Erro desculpável
Ocorre erro desculpável sempre que a atuação do agente resulte de uma falsa representação da
realidade, que não lhe possa, em face das circunstâncias ser censurada. Por outras palavras, se
a atuação do agente é o resultado de um erro, de uma falsa representação da realidade que
determinou o seu comportamento, o juízo de desvalor não ocorre.
A lei prevê uma hipótese de erro desculpável no artigo 338º CC. Por exemplo. Imagine-se que
alguém anda a ser perseguido numa florestas por um grupo de assaltantes e na fuga se depara
com dois homens armados que julga fazerem parte do grupo e atinge-os a tiro, vindo mais tarde
a descobrir que esses dois homens eram simples caçadores. Neste caso ocorrerá a exclusão de
culpa do agente, uma vez que a sua reação é compreensível naquelas circunstâncias.
 Medo invencível
 Desculpabilidade
Para além das causas de exclusão de culpa anteriores admite-se ainda genericamente a exclusão
de culpa do agente, sempre que, embora não se verificando medo nem erro, em face das
circunstâncias do caso não lhe fosse exigível comportamento diferente.
Deve destacar-se que, na Desculpabilidade, não se trata de erro desculpável, nem,
consequentemente, de falta de consciência da ilicitude não censurável. Haverá, até, a consciência
da ilicitude, mas as circunstâncias do caso são tais, que são desculpabilizantes, excluem a culpa.
Por exemplo. Imagine-se a situação de um médico que causa danos ao doente numa intervenção
cirúrgica de emergência, em virtude de um estado de emergência geral provocado por uma
catástrofe ter sido obrigado a trabalhar 18 horas seguidas. Neste caso, não obstante o erro

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médico, as circunstâncias concretas em que ele ocorreu tornam-no desculpável, excluindo assim
a indemnização.

O concurso da culpa do lesado e do lesante. A culpa do lesante pode concorrer com a existência
simultânea de culpa do lesado, entendendo-se essa, nos termos do artigo 487º, nº2 CC como, a
omissão da diligência que teria levado um bom pai de família, nas circunstâncias do caso, a reduzir
ou evitar os danos sofridos. Tendo sido demonstrada a culpa do lesante, aplica-se o disposto no
artigo 570º, nº1 CC.
No caso da responsabilidade por culpa caberá ao tribunal apreciar, se, e em que medida a
concorrência de culpa do lesante com a do lesado deve relevar para efeitos de indemnização.
Para este regime se aplicar é necessário que a atuação do lesado seja subjetivamente censurável
em termos de culpa, não bastando assim a mera causalidade da sua conduta em relação aos
danos.

DANO. O dano consiste na frustração de uma utilidade que era objeto de tutela jurídica.
Dano patrimonial. Corresponde à avaliação concreta dos efeitos da lesão no âmbito do património
do lesado, constituindo assim a indemnização na compensação da diminuição desse património,
em virtude da lesão. Alterações que se verificam no património do lesado, consequência do dano.
Relativamente à indemnização: o princípio geral está estabelecido no artigo 562º CC, este princípio
dá primazia à reconstituição natural do dano ou à indemnização em espécie.
Quando não é possível aplicar o artigo 562º CC, ou seja, não é possível reparar o bem ou entregar
outro equivalente, ou quando se torna excessivamente onerosa para o devedor, aplica-se o artigo
566º CC – neste caso a indemnização fixa-se em dinheiro (nº1).
 Cálculo do dano (artigo 566º, nº2 CC) – teoria da diferença. Deve confrontar-se a situação
em que o património do credor da indemnização foi posta pela conduta lesiva (situação real),
com a situação em que se encontraria se a mesma conduta não houvesse ocorrido (situação
hipotética), referindo-se os dois valores ao momento (atual) em que se oferece essa
diferença.

Dano não patrimonial. São aqueles que correspondem à frustração de utilidades não suscetíveis
de avaliação pecuniária, como o desgosto resultante da perda de um ente querido. Estes danos
são indemnizáveis, consoante permite o artigo 496, nº1 CC. Esta indemnização não elimina o dano
sofrido, mas permite ao lesado determinadas utilidades que lhe permitirão alguma compensação
pela lesão.
Dano emergente e dano cessante. O dano emergente corresponde à situação em que alguém
em consequência da lesão, vê frustrada uma utilidade que já tinha adquirido; lucro (ou dano)
cessante corresponde àquela situação em que o lesado iria adquirir se não fosse a lesão. Ambos
são indemnizáveis (artigo 564º, nº1 CC).
Dano presente e o dano futuro. Os danos consideram-se presentes, se já se encontram
verificados no momento da fixação da indemnização, sendo futuros no caso contrário.
Dano morte. O dano que está aqui em causa, é o dano da perda de vida do lesado como dano ao
próprio. A indemnização a este dano tem feito a doutrina divergir:

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 ANTUNES VARELA E OLIVEIRA DE ASCENÇÃO. Estes entendem que o dano morte não é
indemnizável. Eles justificam esta posição com o argumento de que a morte implica a
cessação da personalidade jurídica (artigo 68º, nº1 CC). Pelo que nenhum direito seria
adquirível por quem já faleceu.
 MENEZES CORDEIRO E MENEZES LEITÃO. Estes entendem que a vida é o bem mais
importante de todos, pelo que seria sem sentido não ser tutelado, em termos de
suscetibilidade de indemnização pelo dano morte: (Leite Campos) o direito a indemnização
pelo dano morte nasceria em vida do lesado, enquanto indemnização pelo dano futuro da
morte (artigo 564º, nº2 CC), nele sucedendo os seus herdeiros (artigos 483º, nº1 e 496, nº1
CC).
Os artigos 496º, nº 2 e 3 CC, tratam dos danos não patrimoniais em caso de morte. O nº2, dano
não patrimoniais sofridos pelos aí indicados familiares.
NEXO DE CAUSALIDADE. Ver livro do Prof. Santos Júnior.

RESPONSABILIDADE PELO RISCO


Na responsabilidade pelo risco, o título de imputação dos danos é outro que não a prática de um
ato ilícito-culposo. Neste caso, o dano sofrido por uma pessoa é imputado a outra, que por ele
deve responder em razão de risco. Segundo o Prof. Menezes Leitão, a imputação de risco pode
ocorrer da consideração cumulativa ou não de certas situações: ou porque 1. Esse risco foi
simplesmente criado pela pessoa que por ele deva responder (risco criado); ou 2. Porque resulta
de atividades de uma pessoa que tira proveito, devendo assim, essa pessoa responder, segundo
o princípio de que quem retira vantagens de uma atividade deve suportar também as desvantagens
que dela decorram (risco proveito); ou 3. Porque é um risco que resulta de atividades que uma
pessoa controla, devendo, por isso, essa pessoa responder por ele (risco de autoridade).
O nosso Direito veio adotar uma conceção restritiva da responsabilidade pelo risco, consagrado
taxativamente a sua admissibilidade apenas nos casos previstos na lei (artigo 483º, nº2 CC). São
consideradas, pelo CC, as seguintes situações de responsabilidade pelo risco:
RESPONSABILIDADE DO COMITENTE. Artigo 500º CC, este artigo vem estabelecer que “aquele
que encarregar outrem de qualquer comissão responde, independentemente de culpa pelos danos
que o comissário causar, desde que sobre este recaia também a obrigação de indemnização”, no
entanto, “a responsabilidade do comitente só existe se o facto danoso for praticado pelo
comissário, ainda que intencionalmente ou contra as instruções daquele, no exercício da função
que lhe estava confiada.” (nº1 e 2)
A responsabilidade do comitente é uma responsabilidade objetiva, no entanto, essa
responsabilidade apenas funciona na relação com o lesado (relação externa), já que,
posteriormente, o comitente terá na relação com o comissário (relação interna), o direito de exigir
a restituição de tudo quanto pagou ao lesado, salvo se ele próprio tiver culpa, em que se aplicará
o regime da pluralidade de responsáveis pelo dano (nº3).
Comissão. Toda e qualquer atividade, duradoura ou ocasional, material ou traduzida na prática de
atos jurídicos, que alguém (comissário) exerce no interesse e por conta de outrem (comitente).
Conceito de comissão – divergência doutrinária:
 ANTUNES VARELA. Subordinação do comissário ao comitente, podendo o comitente dar
ordens e instruções ao comissário. Só assim se justifica a responsabilidade do comitente
pelos atos do comissário.

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 MENEZES CORDEIRO. Não reconhece a exigência de Antunes varela, considerando que tem
de haver um mínimo de liberdade de escolha do comissário por parte do comitente.
 MENEZES LEITÃO. Vai mesmo mais longe e entende que o conceito de comissão não exige
nem o nexo de subordinação, nem a referida liberdade de escolha.

Pressupostos para que haja responsabilidade do comitente:


Existência de uma relação de comissão. Esta relação de comissão pode abranger qualquer tarefa
ou função realizada no interesse e por conta de outrem, podendo abranger tanto uma atividade
duradoura como atos de carácter isolado e tanto atos materiais. A relação de comissão tem de
preencher duas características: 1. liberdade de escolha do comissão pelo comitente; 2. existência
de um nexo de subordinação do comissário ao comitente; 3. Aceitação livre de comissão; 4.
Relação entre a comissão e a atuação do comissário. A responsabilidade do comitente não pode
surgir em relação a toda e qualquer prestação de serviços em sentido amplo – a função praticada
pelo comissário tem de poder ser imputada ao comitente (esta situação acontecerá no âmbito do
contrato de trabalho – artigo 1152º e 1157º CC).
Prática de factos danosos pelo comissário no exercício da função que lhe foi confiada. Impõe-
se que haja um nexo entre a prática do ato danoso e o exercício da função. Não se compreenderia
que o comitente houvesse de responder por factos que não tivessem nexo algum com a função
que, no âmbito da comissão, confiou ao comissário. A doutrina maioritária tem entendido, numa
interpretação restritiva, que a prática do ato no exercício da função de comissão abrange os danos
causados em razão dessa função, mas não os que só tenham um nexo meramente temporal
(realizados por ocasião da função, mas não no exercício da função. Menezes Cordeiro e Menezes
Leitão discordam desta doutrina – tiraria responsabilidade ao comitente – não se vê por que não
haja o comitente de responder pelos danos causados enquanto o comissário exerce a função:
assim o pressuposto verificado, estará verificado. Tirando o comitente proveito da função exercida
pelo comissário, é justo que responda por todos os danos que o comissário causa a outrem
enquanto exerce essa função.
Desde que sobre o comissário recaia também a obrigação de indemnização. A doutrina divide-
se a este respeito:

 ANTUNES VARELA E MENEZES LEITÃO. Para estes a lei não exige uma demonstração efetiva
da culpa do comissário, bastando-se o artigo 500º, nº1 CC, com uma culpa presumida. Estes
entendem, restritivamente, que é necessário, para que o comitente responda objetivamente
que o comissário seja também responsável pelo dano, mas desde que o seja por
responsabilidade por facto ilícito-culposo, pelo que, se o comissário responder pelos danos
apenas objetivamente (não tendo culpa), então o comitente não seria responsabilizado.
 ALMEIDA COSTA E MENEZES CORDEIRO. Entendem que ocorre a responsabilidade objetiva
do comitente sempre que, a qualquer título, o comissário também seja responsável pelo dano,
portanto, mesmo que esta responda objetivamente, quando atue, pois, no âmbito de uma
atividade em que a lei preveja a responsabilidade objetiva do agente.
NOTA. A letra da lei, no nº1, não faz qualquer restrição, mas é verdade que o artigo 500º, nº3 CC,
ao estabelecer o direito de regresso do comitente, parece pressupor a culpa do comissário, ao
excluir esse mesmo direito de regresso se também houver culpa do comitente.
DANOS CAUSADOS POR VEÍCULOS. Artigo 503º a 508º CC. Antes de tudo a responsabilidade pelo
risco recaia sobre aquele que tiver a direção efetiva do veículo de circulação terrestre e o utilizar
no seu próprio interesse, ainda que por intermédio do comissário.

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Ter “direção efetiva do veículo” significa ter um poder de facto, ou exercer controle sobre o
veículo, independentemente da titularidade ou não. Sempre que falta este “poder de facto”,
excluir-se-á a direção efetiva. Os não imputáveis respondem nos termos do artigo 489º CC (artigo
503º, nº2 CC).
A expressão “utilizar no próprio interesse, ainda que por intermédio de comissário”, destina-se a
excluir da responsabilidade objetiva, aqueles que conduzem o veículo por conta de outrem
(comissários), esclarecendo que nesses casos essa responsabilidade objetiva recai antes sobre o
comitente.
Causas de exclusão de responsabilidade. Artigo 505º CC – em primeiro lugar, a responsabilidade
pelo risco é excluída sempre que o acidente seja imputável ao próprio lesado. A expressão
imputável não significa neste caso que seja exigível a culpa do lesado, sendo, porém necessário
que a sua conduta tenha sido a única causa do dano. Assim, os comportamentos automáticos,
ditados por medo invencível, ou seja, os atos inimputáveis relativos ao lesado serão também
determinantes da exclusão da responsabilidade pelo risco, uma vez que nesse caso o acidente
deixa de se poder considerar como risco próprio do veículo e passa a ser devido exclusivamente
a outros fatores. No fundo e simplificando, os lesados e terceiros não causaram o acidente. Ou
seja, se o lesado tiver atuado sem culpa, parece que a responsabilidade pelo risco do condutor
do veículo não é excluída.
NOTA: !!! artigo 570º CC !!!
Em segundo lugar, a responsabilidade pelo risco será excluída sempre que o acidente resulte de
causa de força maior estranha ao funcionamento do veículo. Por “força maior” entende-se aqui
um acontecimento imprevisível, cujas consequências não podem ser evitadas, exigindo-se, porem
que esse acontecimento seja exterior ao funcionamento desse veículo. Assim, circunstâncias
relativas ao funcionamento do veículo, ainda que provocados por um facto externo, como a
derrapagem, a quebra da direção, ou incêndio por curto-circuito não excluem a responsabilidade
pelo risco
!!!! Essa exclusão, porém, ocorre se o veículo for projetado por um ciclone ou arrastado por uma
inundação, uma vez que essas circunstâncias não se podem considerar riscos de utilização do
veículo !!!!
Beneficiários da responsabilidade. Artigo 504º CC – nos termos do nº1 da referida disposição, a
responsabilidade objetiva aproveita a todos os que sofram danos pelo acidente: terceiros e
pessoas transportadas. Para Antunes Varela, terceiros serão todos os que não forem pessoas
transportadas em razão de um contrato de transporte.
O artigo 504º, nº1 e 2 vêm estabelecer uma limitação de responsabilidade quanto às pessoas e
coisas transportadas: respetivamente no caso de transporte por virtude de contrato e no caso de
transporte gratuito.
No caso de transporte por virtude de contrato de transporte autónomo (passageiros de autocarro
ou comboio. Contrato de transporte entre eles e a respetiva entidade transportadora) – a
responsabilidade pelo risco apenas abrange os danos que atinjam a própria pessoa e as coisas
que esta mesma transportava consigo, as quais apenas terão direito de indemnização pelo
condutor no caso de culpa deste.
No caso de transporte gratuito, mas também nos casos de transporte por mera cortesia, a
responsabilidade objetiva abrange apenas os danos pessoais sofridos pela pessoa transportada.
Por exemplo, se a mala de mão, que a transportada gratuitamente trazia na mão, ficar danifica em
consequência do acidente, a responsabilidade objetiva não abrange este dano.
Limites máximos de indemnização. Artigo 508º CC

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A culpa presumida do comissário. Como é evidente, um acidente pode ter sido dolosa ou
negligentemente causado, pelo que, também no domínio dos acidentes de viação, se pode
responder por facto ilícito-culposo.
O artigo 503º, nº3, 1ª parte, determina uma presunção de culpa do comissário, ilidível por prova
em contrário. Se o comissário ilidir a presunção de culpa, não será responsável, respondendo
apenas, pelo risco, o seu comitente, na medida em que tenha a direção efetiva do veículo e o
utilize por intermédio do comissário, no seu próprio interesse (artigo 503º, nº1). Se o comissário
não ilidir a presunção de culpa, então responde a título de responsabilidade por facto ilícito-
culposo.
NOTA: (artigo 503º, nº3, 2ª parte) – se o comissário conduzir o veículo fora do exercício das suas
funções (por exemplo, o motorista fora das horas de serviço, conduz o carro de serviço para se
deslocar ao cinema), se, portanto conduz o carro já no seu próprio interesse, responderá pelo
risco (portanto, responde mesmo sem culpa, objetivamente; já não se eximirá a responsabilidade,
como no caso da culpa presumida, se provar que não teve culpa). Naturalmente, se tiver tido
culpa no acidente, responderá por facto ilícito-culposo, mas nesse caso, como a culpa não é
presumida, compete ao lesado demonstrá-la.
Colisão de veículos. Um acidente de viação pode assumir a forma de colisão de veículos. Havendo
uma colisão, se só um dos condutores é culpado (seja por ser presumido culpado (artigo 503º,
nº3 CC), seja porque se provou a sua culpa, dos demais casos) é ele que responderá pelos danos
causados (suportando, também, naturalmente, os próprios danos que haja sofrido) porque: 1.
Causou danos culposamente (artigo 483º, nº1 CC); 2. Porque o acidente é-lhe imputável, o que
exclui a responsabilidade pelo risco do outro condutor (artigo 505º CC) – artigo 506º CC.
Se ambos são culpados, cada um responderá pelos danos que causar, mas, em relação aos danos
causado por cada um deles, como, à culpa de cada um, corresponde a contribuição causal do
outro, lesado, para a verificação dos danos causados por cada um deles. A respetiva indemnização
terá de ser fixada tendo em conta o artigo 570º CC. No caso de dúvida, manda o artigo 506º, nº2
CC “in fine”, que se considera igual a contribuição de culpa de cada um dos condutores.
Pode, no entanto, acontecer que não haja culpa de qualquer dos condutores, estando apenas em
causa a responsabilidade pelo risco. Decorre do artigo 506º CC que se apenas um dos veículos
“causou” os danos, isto é, se foi só o risco de um veículo que contribuiu para os danos, só o
detentor desse veículo é responsável; se o acidente for “causado” por ambos os veículos, isto é,
se o risco de cada um dos veículos tiver contribuído para os danos, a responsabilidade é repartida
na medida da respetiva contribuição para os danos (considerados na sua totalidade), havendo que
ter em conta que o risco de cada veículo contribui quer para os danos do outro, quer para os
próprios danos.

RESOLUÇÃO DE CASOS PRÁTICOS – R. PELO RISCO – DANOS CAUSADOS POR VEÍCULOS


(PRESSUPOSTOS)
 Quem tem o poder de facto? (artigo 503º, nº1 CC)
 Interesse – Quem tem o interesse? (artigo 503º, nº1 CC)
 Riscos que o veículo engloba – corresponde a todos os danos que sejam risco inerentes ao
veículo. (por ex. atropelamento de pessoa, explosão do veículo). Explicitar os danos. (artigo
503º, nº1 CC)
 Veículo terrestre.
 Causas de exclusão da responsabilidade. 1. Quando o acidente é imputado ao lesado ou
terceiro; 2. Quando resulta de uma causa de força maior estranha ao funcionamento do veículo
– pressupõe um facto imprevisível, inevitável e exterior ao funcionamento do veículo. Por

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exemplo: o veículo embater noutro, por força de um abalo sísmico, de uma enxurrada ou de
um ciclone. (nem sempre acontece!!)
 Beneficiários. Artigo 504º CC
 Limites máximos de indemnização. Artigo 508º CC
 Responsabilidade presumida. Artigo 503º CC

RESPONSABILIDADE PELO SACRIFÍCIO


Há responsabilidade pelo sacrifício sempre que a lei permita o sacrifício, em maior ou menor
medida, de direitos alheios, estabelecendo, no entanto, uma compensação ao titular desses
direitos. No direito civil não existe uma norma geral de responsabilidade pelo sacrifício. Há, no
entanto, vários casos legalmente previstos que constituem manifestações de responsabilidade
pelo sacrifício. A mais conhecida e talvez mais importante previsão de responsabilidade pelo
sacrifício é a respeitante ao Estado de necessidade (artigo 339º CC): é justificada a conduta
daquele que sacrifica bens patrimoniais de outrem para remover o perigo atual de um dano
manifestamente superior, do agente ou de terceiro (artigo 339º, nº1 CC).

OBRIGAÇÃO DE INDEMNIZAÇÃO
A obrigação de indemnização vem prevista no artigo 562º a 572º CC. O lesado tem o direito de
ser indemnizado, o lesante o dever de indemnizar. O princípio fundamental nesta matéria é o de
que devem ser indemnizados todos os danos causados pelo responsável (artigo 562º CC).
Segundo o artigo 566º, nº1 e 2 CC, a obrigação de indemnizar abrange tanto danos emergentes
quanto os lucros cessantes, podendo o tribunal, na fixação de indemnização, atender aos danos
futuros. Também são indemnizáveis os danos não patrimoniais ou morais, com efeito, nos termos
do artigo 496º, nº1 na fixação da indemnização, deve atender-se aos danos não patrimoniais que
pela sua gravidade mereçam tutela do direito.
Artigo 566, nº1. Primazia à reconstituição natural: repor o bem do lesado. Contudo, a indemnização
é fixado por equivalente, em dinheiro, ou por compensação em dinheiro, quando não seja
excessivamente onerosa para o lesante.
O critério para a determinação da reparação em dinheiro é, em princípio estabelecida os termos
da chama, teoria da diferença (artigo 566, nº2 CC).
Obrigação de indemnizar quando haja “culpa do lesado”. Artigo 570º CC – código anotado. !!!
VER ARTIGO 570, Nº2 !!!!
Prescrição da obrigação de indemnização. A obrigação de indemnização, em rigor, o crédito de
indemnização, prescreve pelo seu não exercício com decurso do tempo (passa a ser uma
obrigação natural – deixa de ser juridicamente exigível).
O prazo de prescrição ordinária é de 20 anos (artigo 309º CC). Há que ter em conta, no entanto,
o artigo 227º CC, que remete para o artigo 498º CC. O artigo 498º CC, rege o domínio da
responsabilidade delitual. Nos termos deste artigo, o direito de indemnização prescreve no prazo
de 3 anos a contar da data que o lesado teve conhecimento do direito que lhe compete, mesmo
que desconheça a pessoa responsável ou a extensão integral dos danos, sem prejuízo da
prescrição ordinária, se tiver ocorrido o respetivo prazo a contar da data o facto danoso.

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