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Tópicos do Exame de Direito Constitucional I

Turma B
(2007/2008)
I
(cotação: 2 vals. x 3 = 6 vals)
Responda a três das seguintes questões:
1) Em que medida a designada “questão dos Índios das Américas” é ainda hoje uma
temática com actualidade?
• A admissibilidade de imposição de uma determinada concepção política a
diferentes civilizações: a tolerância e o respeito mútuo entre diferentes povos – as
relações entre a Europa e os índios das Américas nos séculos XVI e XVII (cfr.
Instituições Políticas e Constitucionais, I, pp. 121 ss.) e hoje, nos séculos XX e
XXI, as relações entre o mundo Ocidental e o mundo islâmico ou a China.
• O problema da universalidade espacial dos direitos humanos (cfr.
Instituições…, I, pp. 568 ss.): há direitos que por todos devem ser respeitados?
• A Declaração Universal dos Direitos do Homem: uma visão Ocidental imposta a
todas as civilizações ou, pelo contrário, uma questão civilizacional de dimensão
universal?
• O respeito pela liberdade, pela propriedade e pela pessoa humana: uma identidade
temática que une os séculos XVI e XXI?

2) Como se compatibiliza a proibição de retrocesso da protecção de direitos


fundamentais com o princípio democrático ou a reversibilidade decisória de
Zagrebelsky?
• A proibição do retrocesso normativo na garantia da dignidade da pessoa humana
(cfr. Instituições…, I, pp. 595 ss.) e a margem de liberdade conformadora do
legislador, enquanto expressão do princípio democrático (ou maioritário) ou da
susceptibilidade de serem sempre revistas ou modificadas as decisões numa
democracia (cfr. Instituições…, I, pp. 421 ss.).
• O respeito, a garantia e o aprofundamento da dignidade humana como limites à
democracia (cfr. Instituições…, I, pp. 503 ss.): a subordinação da vontade popular
ao respeito pela dignidade humana.
• A margem de liberdade conformadora do legislador ordinário fora das áreas sem
uma conexão íntima com a dignidade humana (cfr. Instituições…, I, pp. 595 ss.):
o dever de fundamentação.

3) Será que existe uma dicotomia rígida entre funções jurídicas e funções não jurídicas
do Estado?
• Ao contrário dos postulados de Kelsen, nem todas as funções do Estado se
traduzem ou envolvem a prática de actos jurídicos: ao lado das funções jurídicas,
existem também funções não jurídicas.
• Identificação das respectivas funções.
• A presença das componentes política e técnica nas funções jurídicas:
exemplificação no âmbito legislativo, administrativo e judicial.
• A presença da componente jurídica nas funções técnicas e política: o pressuposto e
os possíveis efeitos jurídicos.
4) Quais os principais contributos da experiência constitucional norte-americana para a
ciência do Direito Constitucional ?
• Forma de Estado: federação
• A ideia de Constituição formal e a interpretação constitucional evolutiva
• Separação e interdependência de poderes
• Sistema de governo: presidencial
• A fiscalização judicial difusa da inconstitucionalidade

II
(cotação: 1,5 vals. x 5 = 7,5 vals)
Num máximo de dez linhas por resposta, estabeleça as seguintes diferenças:

1) Estado antiliberal / democracia totalitária


Estado antiliberal é contrário aos postulados políticos e
filosóficos do liberalismo, identificando-se com modelos
totalitários (cfr. Instituições…, I, pp. 303 ss.), enquanto a
democracia totalitária, sendo herdeira política e filosófica do
Estado liberal, integra em si elementos que lhe vão conferindo uma componente
totalitária (cfr. Instituições…, I, pp. 615 ss.)

2) Nação / Estado / Pátria


• Tratam-se de realidades autónomas e que adoptam ópticas diferente de análise: a
nação envolve uma dimensão cultural ou espiritual (cfr. Instituições…, I, pp. 492 ss.);
o Estado, pelo contrário, é uma realidade política, síntese traduzida pela existência de
um povo, num determinado território e dotado de poder político; enquanto que a
Pátria é uma relação afectiva de alguém (que pode bem ser um estrangeiro) com um
Estado.
• Um Estado pode conter diversas nações e uma pessoa, apesar de integrar o povo de
um Estado, pode ter como sua Pátria um Estado diferente.

3) Quorum / voto de desempate


• O quorum é pressuposto de funcionamento de um órgão colegial, enquanto o voto de
desempate traduz um mecanismo que permite ao presidente de um órgão colegial
apurar um sentido deliberativo verificando-se um empate.
• Conceito de quorum e pressuposto do voto de desempate.
4) Poder constituinte formal / Constituição “não oficial”
• Poder constituinte formal respeita à autoria do texto constitucional, pressupondo
intencionalidade e a produção de
um acto escrito, enquanto que a Constituição “não oficial” é o produto de um poder
constituinte informal.
• Os actos jurídicos do poder constituinte formal estão sujeitos à “força corrosiva” da
Constituição não oficial, tal como esta última pode ser “paralisada” na sua força pela
intervenção do poder constituinte formal, desde que as normas deste último tenham
eficácia.

5) Locke / Rousseau
• Confronto entre os principais traços do contributo de Locke (cfr. Instituições…, I, pp.
186 ss.) e Rousseau (cfr. Instituições…, I, pp. 198 ss. e 262 ss.).
• A questão ao nível dos direitos, da separação e limitação do poder.

III
(cotação: 6,5 vals.)
Comente uma das seguintes afirmações:
A) “O sistema de governo orleanista é ponto de chegada e, simultaneamente, ponto de
partida de outros sistemas de governo dos séculos XIX e XX”.
• O sistema orleanista: origem e caracterização.
• Ponto de chegada da monarquia limitada: o executivo não depende da vontade do
monarca.
• Ponto de partida: para o sistema parlamentar (o governo exclusivamente
dependente da confiança política do parlamento, sem intervenção da vontade
política autónoma do monarca) e para o sistema semipresidencial (dualidade do
executivo e dupla responsabilidade política do governo).
• Componente pessoal do comentário do aluno.

B) “O Estado liberal traduz um modelo egoísta de sociedade, herdeiro das preocupações


de Hobbes, enquanto que o moderno Estado social revela preocupações de
solidariedade, próximas do contributo judaico-cristão”.
• O individualismo e os direitos liberais são manifestações de uma sociedade
egoísta, ainda dominada pelas preocupações de segurança e de direitos inalienáveis
de raiz hobbesiana (cfr. Instituições…, I, pp. 164 ss.).
• O Estado social, desenvolvendo a ideia de direitos sociais e a cláusula
constitucional de bem-estar (cfr. Instituições…, I, pp. 339 ss.), faz cada um de nós
responsável pela sorte dos restantes, num modelo de justiça social cuja raiz radica
no pensamento judaico-cristão (cfr. Instituições…, I, pp. 456 ss.).
• Hoje, porém, a moderna sociedade, apesar de ser herdeira política do Estado
liberal e se afirmar solidária, regressou a uma valorização da segurança, tornando-
se também, paradoxalmente, mais egoísta: estes são alguns desafios da
modernidade ao Estado de direitos humanos (cfr. Instituições…, I, pp. 609 ss.) e
existem mesmo vozes críticas ao propósito de redistribuição social de rendimentos
(cfr. Instituições…, I, pp. 453 ss.) e uma certa crise da cláusula de bem-estar
social (cfr. Instituições…, I, pp. 459 ss.).
• Componente pessoal do comentário do aluno.

FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA


Frequência de Direito Constitucional II- Turma da Noite- 2ª
época

I
Responda sucintamente a apenas três das seguintes questões ( 3 valores por
questão):
a) Quais os limites ao exercício da competência legislativa comum das regiões autónomas
? b) Explique a incidência do princípio da especialidade no âmbito das relações entre
actos legislativos dos órgãos de soberania e leis regionais. c) Distinga
inconstitucionalidade formal de inconstitucionalidade orgânica. d) Qual o órgão
constitucional que dispõe da última palavra em sede da fiscalização preventiva de leis da
Assembleia da República e dos decretos-leis do Governo. e) Em que consistem as leis
reforçadas em razão da sua parametricidade material ?
Exemplifique.

II
Atente no seguinte caso prático:
1. No dia 10 de Janeiro de 2008 o Governo aprovou um Decreto-lei A que procedia à
alteração da lei de bases do ensino superior ( LB).
Este determinou no artº 12º-A aditado á LB , a necessidade de o “processo relativo à
criação dos novos órgãos de gestão das unidades orgânicas das universidades” dever
estar concluído até ao termo do ano de 2008, podendo o Ministro do Ensino Superior,
depois de ouvidos os estabelecimentos de ensino, fixar mediante Portaria a criação de
novos órgãos de gestão, no caso de não ser cumprido o referido prazo, e estabelecer a
sanção de suspensão de actividades aos estabelecimentos de ensino cujos docentes não se
disponibilizassem a integrar os mesmos órgãos de modo a assegurar o seu
funcionamento.
2. No dia 12 de Fevereiro de 2009, o Ministro do Ensino Superior aprovou a Portaria X,
a qual, no desenvolvimento do artº 12º da LB aprovou os novos órgãos de governação da
faculdade de Direito de Lisboa.
Pela circunstância de os docentes da Faculdade de Direito de Lisboa se terem recusado a
integrar os novos órgãos da Escola, em nome da garantia fundamental da autonomia
universitária, o Ministro do Ensino Superior aprovou, em 2 de Abril de 2009, um
Despacho Y por força do qual determinou a suspensão de actividades “sine die” do
estabelecimento, até que fosse cumprida a Portaria X.
3. A Faculdade de Direito de Lisboa formulou, no dia 14 de Abril uma queixa ao
Provedor de Justiça, que interpôs, 15 dias depois um pedido de fiscalização abstracta da
constitucionalidade do artº 12º -A da LB, bem como da Portaria X. O Ministro,
antevendo um desfecho processual desfavorável, revogou o Despacho Y e aprovou a
Portaria Z, dotada de eficácia externa, através da qual procurou interpretar o artº 12º da
LB, no sentido de que a criação de novos órgãos de gestão nas unidades orgânicas, no
caso de não ser cumprido o prazo fixado no mesmo artigo, tinha uma eficácia transitória
de 120 dias.
4. O Tribunal Constitucional, depois de o Provedor ter determinado o encurtamento do
prazo de decisão, declarou no dia 1 de Junho a inconstitucionalidade com força
obrigatória geral tanto das normas impugnadas, como a Portaria Z.
Responda às seguintes questões:
a) Aprecie a constitucionalidade : - do artº 12º da LB na redacção que lhe foi dada pelo
Decreto-Lei A; da Portaria X; do Despacho Y e da Portaria Z ( 5 valores).
b) Examine as condutas do Provedor de Justiça e do Tribunal Constitucional expressas
no nº 4 da hipótese ( 2,5 valores).
c) Quais os efeitos da sentença do Tribunal Constitucional ( 1,5 valores) ?

Redacção e sistematização 2 valores


Grelha de Correcção
Frequência de Direito Constitucional II- Turma da Noite- 2ª época

I
a) Carlos Blanco de Morais “Curso de Direito Constitucional-I- Coimbra-2008-p.488-
501.
b) Carlos Blanco de Morais “Curso de Direito Constitucional-I- Coimbra-2008-p. 213 -
216
c) Jorge Miranda “Manual de Direito Constitucional-VI-Coimbra-2008-p.40 e seg.
d) Carlos Blanco de Morais “Justiça Constitucional-II-Coimbra-2005-p. 94 a 103.
e) Carlos Blanco de Morais “Curso de Direito Constitucional-I- Coimbra-2008- p. 271 e
seg, p. 278 e 279 e p. 296

Frequência de Direito Constitucional II - Noite


Grelha de Correcção
Regência: Prof. Doutor Carlos Blanco de Morais
I
As respostas às questões formuladas recolhem-se nas páginas assinaladas da obra citada
infra. a) Carlos Blanco de Morais “Curso de Direito Constitucional”-I-Coimbra- 2008.
p. 167-168. b)
Carlos Blanco de Morais “Curso de Direito Constitucional”-I-Coimbra- 2008,
p.198-200
c) Carlos Blanco de Morais “Curso de Direito Constitucional”-I-Coimbra- 2008, p.
218-219.
d) Carlos Blanco de Morais “Curso de Direito Constitucional”-I-Coimbra- 2008,p. 220.
e) Carlos Blanco de Morais “Curso de Direito Constitucional”-I-Coimbra- 2008, p.333-
334 e 346-347.
f) Carlos Blanco de Morais “Curso de Direito Constitucional”-I-Coimbra- 2008,p. 329-
331.

II
Tópicos

a) O artº 5º da lei de bases X é inconstitucional, porque:


i) A Constituição não consente a emissão de lei de bases numa matéria da reserva da
Assembleia da República , na qual a lei parlamentar tem de esgotar toda a disciplina
da reserva, não sendo admissíveis nessa sede decretos-leis ou decretos legislativos
regionais de desenvolvimento ( alínea l) do artº 164º da CRP); cfr. Carlos Blanco de
Morais “Curso de Direito Constitucional”-I-Coimbra- 2008,p. 326.
ii) A iniciativa é vedada às assembleias legislativas regionais pois a eleição dos titulares
de órgãos de poder local não constitui matéria que respeite ás regiões autónomas ( nº 1
do artº 167º da CRP);
iii)A norma deveria ser, em qualquer caso, titulada como lei orgânica ( nº 2 do artº 166º
da CRP);
2
iv)O conteúdo do artº 5º viola o nº 3 do artº 239º da CRP;
v) Não existe menção na hipótese à votação na generalidade ( nº 2 do artº 168º da CRP).

b) No que Respeita ao Presidente da República, este:


i) Excedeu o prazo constitucional para a promulgação ou veto ( nº 1 do artº 136º da
CRP);
ii) O Presidente não deveria fundar o veto político com razões de constitucionalidade
( artº 136º da CRP e nº 1 do artº 278º da CRP; Carlos Blanco de Morais “Curso de
Direito Constitucional”-I-Coimbra- 2008 ( p.420-421);
Não existem objecções à conduta da Assembleia da República. c)

Lei R
i) A matéria de lei orgânica inscreve-se na reserva absoluta de competência da
Assembleia da República ( alínea l) do artº 164º e nº 2 do artº 166º da CRP), pelo que
não poderia ser conferida qualquer autorização legislativa incidente sobre a eleição de
titulares de órgãos autárquicos;
ii) A ser válida [que não era, pelas razões expressas em a)], a Lei de bases X não carecia
de autorização da lei R para ser concretizada, podendo o Governo e os órgãos
legislativos regionais proceder directamente ao desenvolvimento de bases gerais;
iii)Em qualquer caso, uma lei de autorização para ser válida deve definir, também, a
extensão e a duração da autorização ( nº2 do artº 165º da CRP);
Decreto-Lei Y
i) O diploma é organicamente inconstitucional por invadir a reserva absoluta do
Parlamento (alínea l) do artº 164º da CRP);
ii) O seu artº 8º viola, quer o artº 5º da Lei X ( ilegalidade) quer o nº 3 do artº 239º da
CRP ( inconstitucionalidade). Decreto legislativo regional Z
O diploma era organicamente inconstitucional por incidir sobre matéria da reserva dos
órgãos de soberania ( nº 4 do artº112º) não sendo possível descortinar no seu objecto,
âmbito regional.

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