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Curso: Direito Civil - Obrigações

Aula: Obrigações: Teoria do Adimplemento - Parte 4


Professor: Rafael da Mota Mendonça

Resumo

LUGAR DO PAGAMENTO
As partes podem, no momento da celebração do contrato, convencionar o local do pagamento. Todavia,
quando não fazem isso, é imprescindível analisar se a dívida é quesível ou portável.

Dívidas quesíveis devem ser pagas no domicílio do devedor. Por sua vez, dívidas portáveis devem ser pagas
no domicílio do credor.

A regra, de acordo com o artigo 327 do CC é que as dívidas são quesíveis. Nesse particular, não esquecer da
presunção do art. 330 do CC. Adverte-se que é uma presunção relativa.

Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente,
ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.

Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao
previsto no contrato.

Ora, por mais que se tenha sido convencionado que o pagamento ocorrerá no lugar X, se reiteradamente
está ocorrendo no lugar Y, presume-se que então, que a parte renunciou ao lugar X em detrimento do lugar
Y.

A título de exemplo, veja notório julgado do Tribunal de Justiça do Paraná:

“Obrigação propter rem. Natureza obrigacional. Competência do lugar do pagamento. Pagamento


reiteradamente realizado no foro de Curitiba. Renúncia ao foro previsto em convenção de condomínio.
Incidência, por analogia, do art. 330 do Código Civil. Recurso conhecido e provido” (TJPR, Agravo de Instrumento
1337258-0, Curitiba, 9.ª Câmara Cível, Rel. Juiz Conv. Rafael Vieira de Vasconcellos Pedroso, j. 16.04.2015, DJPR
07.05.2015, p. 216). (grifo nosso).

Note, portando, que não se pode esquecer do art. 78 do CC, o estabelece o domicílio especial, aquele que é
ajustado contratualmente.

Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os
direitos e obrigações deles resultantes.

Mas porque alguém irá ajustar no contrato o lugar do domicílio? Pelas mais diversas razões, por exemplo,
fins de pagamento, fins de cumprimento das obrigações decorrentes do contrato (clausula de eleição de
foro).

Superada essas premissas, necessário pontuar algumas observações:

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Obs. 1: análise do art. 307 do CC.

Este artigo estabelece o pagamento consubstanciado na transferência de uma propriedade. Fora dito que o
pagamento é o cumprimento voluntário da obrigação, independentemente de sua natureza (obrigação de
fazer, não fazer, entrega de coisa, dinheiro ou mesmo uma transferência de propriedade).

Quando o pagamento envolve transferência de propriedade, é necessário ler o art. 307 do CC:

Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem possa
alienar o objeto em que ele consistiu.

Exemplo: alienante e adquirente na compra e venda de um carro. A obrigação que a compra e venda faz
surgir para o adquirente é o pagamento do preço, enquanto a obrigação do alienante é a transferência de
propriedade. (obs: a compra e venda não transfere propriedade, apenas gera direito a aquisição da
propriedade. Por isso que é importante atentar ao primeiro artigo da compra e venda (o art.481 do CC) e
combiná-lo com os artigos 1.227 e 1.267 do CC, ou seja, o que transfere a compra e venda é para bens
moveis a tradição e para imóveis o registro!).

Logo, se a compra e venda gera direito a aquisição, quando a obrigação de alienante estará cumprida?
Quando ele transfere a propriedade do bem.

Voltando ao exemplo da compra e venda de um veículo (bem móvel), suponhamos que seja descoberto que
o alienante não era dono do veículo, ele era filho do dono. Um dos pressupostos que nós temos é que o
alienante tem que ser o dono/proprietário, ele somente poderá transferir se for o proprietário, logo, no
exemplo, o pagamento realizado é ineficaz, nos termos do art. 307 do CC, pois compra e venda feita por
quem não era dono, não produz efeito.

Todavia, suponhamos que posteriormente a esse negócio ineficaz celebrado pelo seu filho, o pai vem a
falecer. Ora, pelo princípio da saisine, o alienante como único herdeiro, na data do óbito, tem transferidos
todos os direitos patrimoniais de seu pai. Então, o alienante se torna proprietário em uma data posterior a
celebração do negócio que efetivamente ocorreu. Esse negócio produz efeitos?

Para responder, é preciso combinar o artigo 307 do CC com o artigo 1.268, § 1º do CC, situado no capítulo da
tradição:

§ 1 o Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade, considera-se realizada a


transferência desde o momento em que ocorreu a tradição.

Logo, para todos os efeitos, no exemplo citado, iremos considerar que o pagamento se deu na data da
celebração do negócio (quando o pai ainda era vivo). A aquisição posterior da propriedade produz efeitos ex
tunc, ou seja, retroagem a data da tradição. Isso se chama de “pós eficacização do pagamento”

Obs. 2: análise do art. 316 do CC:

Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas.

Portanto, nada impede que as partes, na data de celebração do contrato convencionem o aumento
progressivo de prestações sucessivas.

Mas como essa cláusula que convenciona o aumento progressivo de prestações sucessivas é denominada?
“cláusula de escala móvel”.

Referida cláusula é convencionada na data da celebração do contrato.

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Por vezes o examinador faz a seguinte afirmação: a cláusula de escala móvel não é admitida no direito
brasileiro ou é ilícita. Está errado, esta cláusula é admitida sim!

Mas atenção para não confundir com a famosa cláusula de “hardship”, é uma cláusula comum em contratos
internacionais, segundo explica a jurista Judith Martins Costa, é uma cláusula em que as partes podem
convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas, todavia, para convencionar, as partes
devem celebrar um novo acordo de vontade, como se fosse um aditamento, e nesse novo acordo, provar o
desequilíbrio do contrato.

Resumindo: durante a execução de um contrato, uma das partes prova o desequilíbrio do contrato, por uma
razão qualquer, e desse desequilíbrio surge uma nova convenção, na qual se permite o aumento progressivo
de prestações sucessivas.

Logo, na cláusula de escala móvel, já está estabelecido previamente a possibilidade do aumento


progressivo. Ao contrário, na cláusula hardship, essa possibilidade somente surge após uma nova
convenção contratual, depois de estar provado ter ocorrido um desequilíbrio contratual. A primeira muito
comum nos contratos internos e a outra frequentemente encontrada em contratos internacionais.

CLÁUSULA DE ESCALA MÓVEL CLÁUSULA HARDSHIP

Previamente estabelecida no contrato Estabelecida por aditamento, em razão do


surgimento de desequilíbrio contratual

Contratos internos Contratos internacionais

A modalidade de pagamento que tem o maior índice de cobranças em provas é o pagamento direto, do qual
se deve ter mais atenção no estudo. Nas próximas modalidades que serão estudadas, o nível de incidência é
pequeno, motivo pelo qual o estudo será mais pontual e dogmático.

No próximo bloco será abordada a modalidade da consignação em pagamento, até lá!

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