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INTENSIVO I

Mônica Queiroz
Direito Civil
Aula 14

ROTEIRO DE AULA

Tema: Direito das Obrigações

Credor Putatitvo
Relembrando:
A palavra “putativo” vem de putare, que significa imaginar. Credor putativo é o credor imaginário. Ele não é o credor
verdadeiro, é aquele que é capaz de iludir a outra pessoa de tal modo a fazer com que essa outra pessoa pague a ele.
O legislador, neste momento, protege o devedor e afirma que o pagamento feito a credor putativo deve ser considerado
válido.

Relembre o exemplo dado na aula anterior: um sujeito entra em uma loja, promove um assalto, amarra todos em um
quartinho nos fundos da loja e se dirige ao caixa. Posteriormente, ele coloca o uniforme do estabelecimento e recebe o
pagamento de uma vítima que nada sabia do assalto. Esse pagamento será considerado válido. Duas horas depois, esse
assaltante é preso e o dono da loja liga para aquele cliente, querendo receber o valor novamente. Contudo, essa pessoa
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pagou a um indivíduo que se apresentava perante a sociedade como o credor verdadeiro e esse pagamento deverá ser
considerado válido.

CC, art. 309: “O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor.”

A professora destaca que o art. 309 do CC funciona como uma exceção à regra que diz que “quem paga mal paga duas
vezes”.

Teoria da aparência: o art. 309 do CC se pauta nessa teoria. A teoria da aparência traz equilíbrio para as relações negociais.
Questão: Quando alguém vai pegar um táxi, ela faz sinal para o motorista, entra o carro, mas não pergunta àquele taxista
se ele é realmente motorista, se ele tem carteira de habilitação. Ela simplesmente entra, indica seu destino e é levada até
lá, com base na teoria da aparência. Da mesma forma, quando a pessoa está dentro de um banco e se dirige a um caixa
para fazer o pagamento, ela não pergunta para a pessoa que está ali naquele guichê se ela realmente trabalha na
instituição financeira.

Segundo o STJ, para que seja considerado credor putativo, é necessário que o erro seja escusável, ou seja, é necessário
que o erro seja desculpável.

“RECURSO ESPECIAL. CIVIL. SEGURO DPVAT. INDENIZAÇÃO. CREDOR PUTATIVO. TEORIA DA APARÊNCIA. 1. Pela aplicação
da teoria da aparência, é válido o pagamento realizado de boa-fé a credor putativo. 2. Para que o erro no pagamento seja
escusável, é necessária a existência de elementos suficientes para induzir e convencer o devedor diligente de que o
recebente é o verdadeiro credor. 3. É válido o pagamento de indenização do DPVAT aos pais do de cujus quando se
apresentam como únicos herdeiros mediante a entrega dos documentos exigidos pela lei que dispõe sobre seguro
obrigatório de danos pessoais, hipótese em que o pagamento aos credores putativos ocorreu de boa-fé. 4. Recurso
especial conhecido e provido.” (REsp 1.601.533/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado
em 14/06/2016, Dje 16/06/2016).

Atenção: O credor verdadeiro deverá se voltar contra o credor putativo, não mais podendo cobrar do devedor, porque
esse pagamento foi tido como válido.

Imagine que determinada pessoa precisa pagar um boleto de condomínio e, para tanto, entra no site da administradora,
imprime o boleto e promove o pagamento. Contudo, fraudadores entraram no sistema e alteraram o código de barras de
tal modo que essa pessoa pagou mal. Ele pagou a um credor putativo e o engano dele foi escusável.

“É válido o pagamento realizado por meio de boleto bancário mesmo que o código de barras tenha sido alterado por
terceiros fraudadores. Na origem, os locatários requereram a declaração de inexistência da dívida de aluguel com base no

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comprovante de quitação juntado aos autos, entretanto, o locador alegou que o pagamento realizado não lhe foi revertido
porque terceiros fraudadores manipularam o código de barras do boleto. Diante desse cenário, a Turma se filiou ao
entendimento do STJ de que ’é válido o pagamento realizado de boa-fé a pessoa que se apresenta com aparência de ser
credor ou seu legítimo representante. Para que o erro no pagamento seja escusável, é necessária a existência de
elementos suficientes para induzir e convencer o devedor diligente de que quem recebe é o verdadeiro credor ou seu
legítimo representante.’ Para os Julgadores, se a impressão do boleto bancário foi feita por meio da página da internet do
próprio locador com o código de barras já alterado, como consta dos autos, o reconhecimento da fraude pelos locatários
demandaria diligência extraordinária que não se exige do homem médio. Desta feita, a Turma negou provimento ao
recurso do locador por entender que, realizado o pagamento válido a credor putativo, resta ao verdadeiro credor
perseguir o crédito daquele que indevidamente o recebeu.” (Acórdão n. 851718, 20140310233290ACJ, Relatora: EDI
MARIA COUTINHO BIZZI, 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Data de Julgamento: 24/02/2015,
Publicado no DJE: 02/03/2015. Pág.: 334).

Aspectos Subjetivos
a) Quem paga → solvens (devedor, terceiro interessado, terceiro não interessado).
b) A quem pagar → accipiens (credor, representante do credor).

Aspectos Objetivos

Já vimos que o art. 313 do CC traz a informação de que o credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é
devida, ainda que mais valiosa. Se o combinado foi X, deverá ser pago X. Assim, mesmo que aquilo que o devedor está
oferecendo ao credor seja muito valioso, o credor não é obrigado a receber. Algumas provas alteram o final do artigo
dizendo que “o credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, exceto se mais valiosa”. ERRADO.
Exemplo: X é devedor de um carro para Y. O carro vale R$ 100.000,00. No lugar do carro, o devedor quer dar uma vaca ao
credor porque ela vale R$ 150.000,00. Neste caso, Y evidentemente não é obrigado a aceitar (mas pode aceitar).

CC, art. 313: “O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.”

Na esteira do art. 313, nos deparamos com o artigo subsequente. No art. 314 do CC, há o princípio da prestação integral
ou da identidade física da prestação.
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Imagine que determinada prestação seja divisível, como o dinheiro. Neste caso, o credor não é obrigado a receber por
partes nem o devedor é obrigado a pagar por partes, se assim não foi convencionado. Para que haja parcelamento, é
importante que haja previsão contratual nesse sentido.

CC, art. 314: “Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem
o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou.”

Obs.: Quando a prestação for convencionada em dinheiro, é necessário utilizar o disposto no art. 115 do CC:

Inicialmente, é possível dividir o art. 315 do CC em três partes. A primeira parte vai nos informar que as dívidas em dinheiro
deverão ser pagas quando do vencimento, sendo o princípio da pontualidade. Na segunda parte, ele cita a moeda
corrente. De acordo com a Lei n. 9.069/95, a moeda corrente no nosso país é o Real. Na terceira parte, o artigo exige que
seja observado o valor nominal, sendo este o princípio do nominalismo. O valor nominal da moeda corrente significa dizer
que se deve obedecer ao valor que está estampado naquela cédula, cunhado na moeda.

Atenção: O art. 315 do CC não se esquece dos efeitos da inflação, porque ele faz uma ressalva importante dizendo “salvo
o disposto nos artigos subsequentes”, que são os arts. 316 e 317.

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CC, art. 316: “É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas.”

Cláusula de escala móvel ou cláusula de escalonamento → é a cláusula que prevê um reajustamento prévio e automático
das prestações.
Essa cláusula vai se traduzir nessas fórmulas para atualizar, de modo automático, o valor da moeda. Trata-se dos índices
oficiais para corrigir monetariamente o valor da moeda por conta da inflação (Exemplos: INPC, IGPM).

CC, art. 317: “Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e
o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o
valor real da prestação.”

Teoria da Imprevisão → essa teoria aparece no art. 317 do CC, na seara do Direito das Obrigações; e no art. 478 do CC1,
no âmbito da Teoria Geral dos Contratos.
O art. 317 do CC afirma que, quando se está diante de um contrato de execução futura (exemplo: compra de algo com
parcelas pagas em 24 meses), haverá uma obrigação que irá se protrair no tempo. Diante disso, se, futuramente, acontecer
algo extraordinário, superveniente e, com isso, o devedor for colocado em uma situação de ruína, será possível pleitear
a correção das prestações deste contrato.

Teoria da Imprevisão (art. 478, CC)


Requisitos:
a) Contrato de execução futura continuada ou diferida.
Obs.: O oposto de contrato de execução futura é o contrato de execução instantânea ou imediata.
Atenção: Somente é possível aplicar a teoria da imprevisão em contrato de execução futura. Não é possível aplicá-la
no contrato de execução instantânea.
b) Acontecimento de evento extraordinário e superveniente → onerosidade excessiva.
Neste caso, o acontecimento de evento extraordinário e superveniente tornou o contrato extremamente oneroso
para uma das partes.
c) Imprevisibilidade do evento.
A professora afirma que o juiz, no caso concreto, deverá avaliar o que é imprevisível e o que não é. Entretanto, a
doutrina traz algumas orientações sobre a chamada “imprevisibilidade”.

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CC, art. 478: “Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar
excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e
imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data
da citação.”
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Obs.1: Enunciado 175, CJF: “A menção à imprevisibilidade e à extraordinariedade, insertas no art. 478 do Código
Civil, deve ser interpretada não somente em relação ao fato que gere o desequilíbrio, mas também em relação às
consequências que ele produz.”
O Enunciado 175 do CJF preceitua que a imprevisibilidade do evento será avaliada do ponto de vista da parte (e não
do mercado). A professora afirma que, aos olhos do mercado, tudo é previsível.
Exemplo: “A” trabalha na mesma empresa há 25 anos e, nesse tempo todo, vive a mesma rotina. Para “A”, nem há a
cogitação da possibilidade de demissão. Entretanto, para o mercado, qualquer pessoa pode ser demitida.
Obs.2: Art. 7º, Lei nº 14.010/20. “Não se consideram fatos imprevisíveis, para os fins exclusivos dos arts. 317, 478, 479
e 480 do Código Civil, o aumento da inflação, a variação cambial, a desvalorização ou a substituição do padrão
monetário.”
✓ A Lei nº 14.010/20 é a lei da pandemia ou RJET. Tal lei traz um regime jurídico emergencial e transitório acerca
das relações jurídicas de direito privado.
✓ O RJET entrou em vigor em 12/06/2020 e valeu até 30/10/2020.
✓ Essa lei trouxe questões relevantes acerca do prazo prescricional, questões relativas às assembleias de
condomínios e sobre a teoria da imprevisão.
✓ O art. 7º, Lei nº 14.010/20, teve um curto período de vigência, mas o disposto nela já era algo consolidado na
jurisprudência. Assim sendo, o aumento da inflação, a variação cambial, a desvalorização ou a substituição do
padrão monetário não são considerados fatos imprevisíveis.
d) Que gere extrema vantagem para uma das partes.

Questão: Quais são os defeitos/problemas apresentados pela doutrina e que estão presentes no art. 478 do CC?
1º) O primeiro grande problema é o quarto requisito apresentado anteriormente: gerar extrema vantagem para uma das
partes. Isso porque, na maioria dos casos, uma das partes é conduzida à extrema ruína, mas a outra não teve uma
vantagem extrema. Assim sendo, o quarto requisito é, na verdade, uma falha do Código Civil, apresentado pela doutrina.
2º) Ao ler o caput do art. 478 do CC, é possível perceber que, em primeiro plano, ele traz o efeito da resolução (extinção)
do contrato. Trata-se de outra falha, pois, na grande maioria das vezes, a parte prejudicada não quer a resolução do
contrato, mas o reequilíbrio das prestações para manutenção do instrumento contratual.
✓ Obs.: O art. 479 do CC2 até traz a possibilidade de revisão do contrato, mas isso, segundo a professora, é feito de
modo muito tímido. Isso porque, nesse caso, a parte não prejudicada deverá mostrar interesse na revisão do
instrumento contratual.
✓ A professora destaca que o disposto no caput do art. 478 do CC é um problema, pois, um dos princípios que
inspira a contratualidade é o princípio da função social do contrato e o outro é o princípio da conservação dos

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CC, art. 479: “A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do
contrato.”
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contratos. De acordo com eles, se um contrato possui desequilíbrio, as partes e o juiz devem se esforçar para
mantê-lo em vigor.
✓ A doutrina afirma que, como o art. 478 do CC possui tantos problemas, é melhor a parte se valer do art. 317 do
CC para aplicar a teoria da imprevisão. Desse modo, as partes conseguirão se manter em conformidade com os
princípios da função social do contrato e com o princípio da conservação dos contratos.

Curso forçado da moeda nacional:

A professora explica que a moeda nacional é a expressão da soberania de um país. Assim sendo, se a lei admitisse a
utilização de outras moedas, o Real se enfraqueceria.
Assim o que justifica o curso forçado da moeda nacional é que, se deixarmos de lado a nossa moeda corrente, estaríamos
atacando a soberania do nosso país ou enfraquecendo-a, o que significa dizer que são nulas as convenções de pagamento
em ouro ou em moeda estrangeira.

CC, art. 318: “São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a
diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial.”

✓ São nulas a cláusula-ouro e a cláusula em moeda estrangeira.

Existem contratos baseados no dólar, por exemplo. Essa situação adentrou nos limites da excepcionalidade porque, na
parte final do art. 318 do CC, constam situações em que podem existir leis especiais. Exemplo: contrato de importação.

Para o STJ:
“as dívidas fixadas em moeda estrangeira deverão, no ato de quitação, ser convertidas para a moeda nacional, com base
na cotação da data da contratação, e, a partir daí, atualizadas com base em índice oficial de correção monetária" (STJ,
AgRg no REsp 1.342.000 – PR, 3ª T, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 04.02.2014).

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PROVA DO PAGAMENTO → Quitação (arts. 319/320)

A prova do pagamento é feita pela quitação.


Quitação é aquele documento assinado pelo credor no sentido de que ele recebeu o pagamento (recibo).

CC, art. 319: “O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada.”

O devedor que paga (ou o terceiro interessado ou não interessado) tem direito à quitação regular, que é o recibo.
A quitação é, antes de tudo, um direito daquele que paga. Assim, imagine que o devedor quer pagar e o credor, por
qualquer motivo, se recusa a dar essa quitação. Neste caso, o devedor pode reter esse pagamento até que lhe seja
oferecida a quitação (recibo).

✓ Ocorre que, muitas vezes, ao recusar a quitação, o devedor não paga e, posteriormente, tem problemas para
provar que apenas reteve a quitação por uma conduta do devedor e, portanto, não é justa a imposição de juros e
multa. Assim sendo, o Código Civil traz o instituto da consignação em pagamento (depósito da coisa devida). Esse
tema será estudado posteriormente.

Esse dispositivo do CC/2002 coloca fim a uma discussão que existia no velho CC/1916. No Código Civil revogado, havia a
seguinte dúvida: uma obrigação constituída por escritura pública poderia ser quitada por meio de instrumento particular?
O CC/1916 não respondia tal questão. O CC/2002 responde essa dúvida, porque essa quitação sempre pode ser dada por
instrumento particular, ainda que a obrigação tenha sido constituída por instrumento público.

Obs.: O comprovante de uma transferência bancária vale como quitação, porque dele se extrai as informações no sentido
de que houve o pagamento.

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➢ E a quitação que se opera por meios eletrônicos? Temos um enunciado que cuida dessa quitação.
Enunciado nº 18, CJF: “A ‘quitação regular’ referida no art. 319 do novo Código Civil engloba a quitação dada por meios
eletrônicos ou por quaisquer formas de ‘comunicação a distância’, assim entendida aquela que permite ajustar negócios
jurídicos e praticar atos jurídicos sem a presença corpórea simultânea das partes ou de seus representantes.”

Presunções de pagamento:
Há dispositivos do CC/2002 que beneficiam o devedor, pois aceitam presunções de pagamento. Nestes casos, há a
inversão do ônus da prova e o credor deverá comprovar que não recebeu.

1ª) CC, art. 322: “Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário,
a presunção de estarem solvidas as anteriores.”

Tal dispositivo traz a ideia de pagamento que se traduz em quotas periódicas, ou seja, em parcelas. A presunção favorável
ao devedor que esse art. 322 do CC traz é de que o pagamento de uma parcela faz presumir o pagamento das anteriores.
Exemplo: Imagine um devedor que paga somente a terceira parcela, sem pagar a primeira ou a segunda. Apesar dessa
presunção de pagamento que beneficia o devedor, o que ocorre, na verdade, é uma inversão do ônus da prova. Neste
caso, não é mais o devedor que tem que provar que pagou e sim o credor que deve provar que não recebeu, gerando
grandes dificuldades probatórias.
Assim, na maioria dos casos, o art. 322 do CC é afastado porque geralmente se coloca no contrato ou no boleto que “o
pagamento da parcela X não implica o pagamento das anteriores”. Essa informação é colocada exatamente para afastar
a presunção legal do dispositivo.

➢ Uma regra que surge de um acordo feito entre as partes tem o condão de afastar esse art. 322 do CC? Sim,
porque esse artigo é norma de natureza privada, que pode ser perfeitamente afastada por acordo feito entre as
partes.

Em um caso que chegou ao STJ, o indivíduo não pagou várias parcelas da taxa condominial, pagando apenas a última
(atual). Quando o condomínio foi cobrar dele as taxas condominiais anteriores, ele alegou o art. 322 do CC. Nesse caso,
questiona-se: o art. 322 do CC se aplica às taxas condominiais?
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O STJ se manifestou dizendo que esse art. 322 do CC não se aplica ao pagamento de taxa condominial porque cada quota
goza de autonomia:
“COTA. CONDOMÍNIO. PRESUNÇÃO. QUITAÇÃO. A jurisprudência das Turmas que compõem a Segunda Seção deste
Superior Tribunal pacificou-se no sentido de que as cotas condominiais são imprescindíveis à manutenção do condomínio,
que sobrevive da contribuição de todos em benefício da propriedade comum de que usufruem. Elas representam os gastos
efetuados mês a mês, de sorte que gozam de autonomia umas das outras, não prevalecendo a presunção contida no art.
322 do CC/2002 (correspondente ao art. 943 do CC/1916), de que a mais antiga parcela estaria paga se as subsequentes
o estivessem. Diante disso, a Seção deu provimento aos embargos. Precedente citado: REsp 852.417-SP, DJ 18/12/2006.
(EREsp 712.106-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgados em 9/12/2009.)”

2ª) CC, art. 323: “Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos.”
Se houve a quitação do capital, sem haver algum esclarecimento quanto à ideia de que os juros foram pagos ou não,
devemos presumir que os juros foram pagos.
✓ O acessório segue o principal.

3ª) CC, art. 324: “A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento.”
Se João deve a Mônica R$ 1.000,00 e assinou uma nota promissória, assim que João chega com o dinheiro para promover
o pagamento, Mônica não precisa fazer uma quitação por escrito, podendo simplesmente devolver a nota promissória ao
João, que é o devedor.

✓ Claro que todas essas presunções analisadas até agora são presunções relativas, que admitem prova em sentido
contrário.
CC, art. 324, p.ú.: “Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do
pagamento.”

Pagamento por medida ou peso


Não há dúvidas de que vivemos em um país com enorme extensão territorial. Exatamente por isso, o sistema de pesos e
medidas pode variar de uma região para outra. O alqueire de Minas Gerais tem um valor diferente do alqueire de São
Paulo.
Exemplo: Imagine que exista uma fazenda no interior de São Paulo de XXXX alqueires e alguém foi comprar essa fazenda.
Acontece que o contrato de compra e venda dessa fazenda foi feito em Minas Gerais, em que a medida do alqueire é
diferente da medida do alqueire paulista.
Questão: Neste exemplo, vamos considerar a medida do alqueire mineiro ou a medida do alqueire paulista? Nesse caso,
deve ser analisado o contrato, que pode informar qual alqueire será aplicado. Se o contrato for omisso, será aplicado o
art. 326 do CC:

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CC, art. 326: “Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das partes, que
aceitaram os do lugar da execução.”

O lugar da execução é o lugar em que aquela obrigação será cumprida. Nesse exemplo, estamos falando da fazenda e o
lugar do cumprimento é onde está situado o imóvel. Assim sendo, será considerado o alqueire paulista.

LUGAR DO PAGAMENTO

Uma obrigação poderá ser quesível (é aquela em que o pagamento deverá ocorrer no domicílio do devedor) ou portável
(é aquela em que o pagamento ocorrerá no domicílio do credor).
• Na obrigação portável, há um devedor que porta o pagamento até o seu credor (pagamento no domicílio do
credor).
• Na obrigação quesível, o pagamento ocorre no domicílio do devedor.

Questão: Como saber onde ocorrerá o pagamento no caso concreto? Primeiramente, é necessário analisar o disposto no
contrato. Se o contrato for omisso nesse ponto, é necessário se valer da regra do art. 327 do CC, ou seja, o pagamento
deverá ocorrer no domicílio do devedor.
Portanto, a conclusão a que chegamos é que a regra no ordenamento jurídico brasileiro é que as obrigações são quesíveis
ou quérables. Somente será portável se houver disposição contratual.

CC, art. 327: “Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou
se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles.”

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Exemplo: imagine que o contrato designou dois lugares para o pagamento, que poderá ocorrer no lugar A ou no lugar B.
Quem irá escolher? Segundo o parágrafo único do art. 327, caberá ao credor escolher entre eles.
Nesse ponto, a professora pede para o aluno tomar cuidado, pois, até então, as aulas de direito das obrigações traziam
regras que beneficiavam o devedor. Entretanto, no caso do art. 327 do CC, o benefício é do credor.

➢ E se o pagamento consistir na entrega de um imóvel (ou prestações relativas a um imóvel)? Neste caso, há uma
regra específica.

CC, art. 328: “Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar
onde situado o bem.”

Exemplo: Imagine que “A” tenha pegado R$ 10.000,00 emprestados de “B” e estipulem que o pagamento ocorrerá em
10x de R$ 1.000,00, no dia 5 de cada mês. As partes também estabeleceram um lugar para o pagamento: ambos moram
em Belo Horizonte/MG e combinaram um ponto específico na cidade, na beirada da Lagoa da Pampulha, em frente ao nº
X. Nas três primeiras parcelas, o pagamento foi realizado no local convencionado.
Entretanto, da quarta parcela em diante, as partes começaram a se encontrar em local diverso da cidade para efetuar os
pagamentos e o credor recebeu tranquilamente em local diverso, fornecendo a quitação. Quando chegou na oitava
parcela, o credor (“B”) lembrou da disposição do contrato e percebeu que o devedor estava violando aquela cláusula do
lugar do pagamento. Como “A” violou uma cláusula do contrato e há previsão de multa para o descumprimento, “B” pode
cobrá-la? Não. Pela boa-fé objetiva, “B” não pode cobrar multa alguma de “A”, pois ele aceitou pagamentos reiterados
em lugares diversos.
✓ À medida que esse credor vai aceitando receber os pagamentos em local diverso e isso vai acontecendo de forma
reiterada, ele gera na cabeça do devedor a expectativa de que ele não vai exercitar aquele direito que ele tinha
de cobrar naquele lugar X antes estipulado.

O art. 330 do CC tem como base a Teoria da Supressio (Verwirkung). Por essa teoria, a longa omissão de uma das partes
resulta na supressão de um direito que ela possuía. Essa teoria é uma das decorrentes do princípio da boa-fé objetiva.

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✓ Obs.: Na Parte Geral do Direito Civil, o aluno estuda que a prescrição extingue a pretensão e a decadência extingue
o direito potestativo. Ambos os institutos não podem ser confundidos com a supressio.
✓ Prescrição e decadência são institutos perfeitamente delimitados no ordenamento jurídico brasileiro. A supressio,
por sua vez, não está delimitada no ordenamento jurídico brasileiro, sendo uma teoria decorrente do princípio da
boa-fé objetiva.
✓ A supressio não ocorre apenas na situação do art. 330 do CC, podendo ser aplicada a diversas situações.
✓ A professora explica que, em relação ao disposto no art. 330 do CC, o juiz, no caso concreto, definirá o que se
considera como “reiteradamente”.

Atenção: Todas as vezes em que há a supressio (extinção de um direito), há a surrectio (nascimento de um direito).
Assim, quando uma das partes tem um direito extinto pela supressio, há a consequente surrectio, ou seja, o nascimento
do direito para uma das partes em virtude da longa omissão da outra parte.

TEMPO DO PAGAMENTO
A importância de saber o tempo do pagamento é para se saber a partir de quando surge a exigibilidade para o credor.
✓ O devedor não pode pagar de forma atrasada, pois, neste caso, haverá sanção. Do mesmo modo, o credor não
pode pedir o pagamento antecipado da dívida.

As obrigações poderão ser de execução imediata/instantânea (é aquela em que o cumprimento deverá ocorrer logo após
a sua constituição, como ocorre em uma compra à vista) ou de execução futura (é aquela em que o cumprimento da
obrigação ocorrerá no futuro). Neste último caso, tal obrigação se subdivide em continuada (é aquela em que o
cumprimento ocorre no futuro, por meio do pagamento de parcelas, subvenções periódicas) e diferida (é aquela em que
o cumprimento ocorrerá no futuro, porém de uma só vez, como na emissão de um cheque para daqui 40 dias apenas para
a compra de uma geladeira).

Atenção: No silêncio do contrato sobre o tempo do pagamento, as dívidas deverão ser cumpridas de forma imediata.

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CC, art. 331: “Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-
lo imediatamente.”
✓ Portanto, a regra no nosso país é de que as obrigações são de execução instantânea ou imediata.

Obrigações condicionais
CC, art. 332: “As obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento da condição, cabendo ao credor a prova de
que deste teve ciência o devedor.”

Condição é aquela cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina os efeitos ou o fim dos efeitos
do negócio a evento futuro e incerto.

Exemplo: Mônica dará um carro a João se Maria se casar. Hoje, João não pode exigir a entrega do carro porque não tem
direito adquirido, tem apenas uma expectativa de direito. Surge a necessidade da entrega do carro se, no futuro, houver
o implemento da condição.

Com isso, o art. 332 do CC informa que as obrigações condicionais, subordinadas a uma condição, cumprem-se na data do
implemento da condição, isto é, no dia em que a condição acontecer, se ela acontecer, cabendo ao credor a prova de que
deste teve ciência o devedor.

O tempo do pagamento é importante para que saibamos a partir de quando surge a exigibilidade do credor. Do mesmo
modo que o devedor não pode pagar atrasado, porque ele pode ser punido por isso, o credor não pode se precipitar e
cobrar antes da hora, porque, se o credor fizer isso, também existe punição para ele, nos moldes do art. 939 do CC.

CC, art. 939: “O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora dos casos em que a lei o permita, ficará
obrigado a esperar o tempo que faltava para o vencimento, a descontar os juros correspondentes, embora estipulados, e
a pagar as custas em dobro.”

Obs.: O que há no art. 939 do CC são as sanções que o credor irá enfrentar caso ele demande o devedor antes do
vencimento. Todavia, a parte destacada traz a ressalva de permissão legal. Existem situações excepcionalíssimas
(vencimento antecipado da dívida) em que o credor pode cobrar do devedor antes do vencimento. Nessas situações, caso
o credor demande antes do vencimento, não haverá problema nenhum e essas sanções do art. 939 do CC não incidirão
sobre esse credor.

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Em todas essas situações excepcionais do art. 333, que é o dispositivo que justifica o vencimento antecipado da dívida, o
que ocorre é um risco para o crédito, para o credor. Há um risco de que o credor não receberá a dívida. Por isso, o legislador
protege o credor nesse momento e faz a dívida se vencer antecipadamente, de forma que o credor poderá cobrar sem as
sanções.

Hipóteses:
CC, art. 333: “Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado
neste Código:
I - No caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;”

➢ No caso de falência do devedor, se o credor de dívida vincenda for esperar ocorrer o vencimento da obrigação,
todos os credores de dívidas vencidas já terão habilitado seus respectivos créditos e recebido, nada sobrando
para aquela que ainda venceria.

“II - Se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor;”

• Hipoteca é um direito real de garantia em que, em regra, um imóvel é dado para garantir o cumprimento da dívida.
Exemplo: “A” está precisando de dinheiro e pede dinheiro emprestado a “B”. Para garantir o pagamento, “A”
hipoteca a sua fazenda.
• Penhor também é um direito real de garantia. Entretanto, o penhor se refere a um bem móvel. Exemplo: “A” está
precisando de dinheiro, vai até o banco e empenha um anel em troca de empréstimo de dinheiro.
• Penhora, por sua vez, é instituto do direito processual civil. Trata-se de ato de constrição judicial.

➢ Esse inciso II está se referindo à hipoteca e ao penhor, institutos do Direito Real de Garantia. Imagine “A”
emprestou R$ 1 milhão de “B” e, como garantia, foi feita uma hipoteca da fazenda. O vencimento da dívida
ocorrerá em 2 anos. Diante disso, imagine que a fazenda que foi hipotecada no exemplo foi penhorada em
execução judicial por outro credor. O credor titular daquela garantia real pode se manifestar dizendo que o

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vencimento de sua dívida pode se antecipar, de modo a viabilizar o direito de preferência do credor hipotecário
(ou do credor pignoratício, a depender do caso).

“III - Se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado,
se negar a reforçá-las.”

➢ Exemplo: “A” pegou R$ 1 milhão emprestado com “B” e fez uma hipoteca da fazenda para garantir o pagamento.
Posteriormente, foi construída uma grande penitenciária ao lado da fazenda e essa passou a valer R$ 100 mil.
Neste exemplo, a garantia foi enfraquecida. O credor procura o devedor e pede um reforço da garantia, mas este
nada faz. Nesta situação, a obrigação é considerada vencida de modo antecipado.

➢ Em um caso de solidariedade passiva, com vários devedores e qualquer devedor podendo ser cobrado pela
dívida toda, se houver o vencimento antecipado em relação a um dos devedores solidários, haverá o
vencimento em relação aos demais devedores também? Havendo vencimento antecipado em relação a um dos
devedores, isso não se estende em relação aos demais devedores. Vejamos:

CC, art. 333, Parágrafo único: “os casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido
quanto aos outros devedores solventes.”

Obs.: A professora destaca que o estudo do pagamento está inserido no gênero “adimplemento das obrigações”.

FORMAS ESPECIAIS DE CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO (arts. 334 a 388 do CC) – (Pagamento indireto)

1) Consignação em pagamento
2) Pagamento com sub-rogação.
3) Imputação de pagamento;
4) Dação em pagamento;
5) Novação;
6) Compensação;
7) Confusão;
8) Remissão de dívida.

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