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Termo Aditivo, Apostilamento, Alteração e Rescisão

Contratual

1. Introdução

Considerando o processo de licitação, nenhuma disposição (cláusula) do instrumento


convocatório (edital, convite, chamada pública) pode ser alterada. Entretanto, o
contrato pode ser alterado em algumas  situações  específicas  (art.  65  da Lei
8.666/93).

Mas essa alteração contratual não pode ser realizada para corrigir eventual falha do 
processo licitatório (ex.: erro na especificação das quantidades do objeto, do prazo para
fornecimento, etc.), ainda que a Administração entenda  que  esta  medida  atenderia  ao
interesse  público.  Caso a falha seja descoberta ainda durante a licitação, o  correto  é 
cancelar o processo,  por mais oneroso e moroso que isto represente.

Por exemplo, no Acórdão nº 1.736/2009, o Tribunal de Contas da União determinou à


Universidade Federal do Rio Grande do Sul que se abstivesse  de  promover  alteração 
contratual  para acrescer obras,  serviços ou compras  não  contemplados no  objeto 
inicialmente contratado.

2. Termo aditivo e termo de apostilamento

Termo aditivo (ou Termo de Aditamento) é o instrumento utilizado para formalizar as


alterações contratuais. Importante dizer que uma vez verificada a necessidade de
modificação contratual o termo aditivo torna-se obrigatório (Acórdão 820/1997/TCU).

O termo aditivo deve ser assinado pelas partes contraentes (contratante e contratado),
observando o mesmo padrão formal do contrato. Na UFS, o Reitor é a autoridade
competente para subscrever termos de aditamento contratual, conforme o estatuto da
Instituição. Logo, um pró-reitor não pode assinar um termo aditivo, porque ele não
firmou o contrato.

Os termos aditivos devem ser registrados, numerados sequencialmente e publicados.


Detalhe importante: os procedimentos para a alteração contratual devem ser realizados
no próprio processo da licitação. Ou seja, não é preciso gerar um novo processo
administrativo para que seja formalizado um termo de aditamento. Vejamos um
exemplo:

Suponhamos que um determinado contrato de prestação de serviços precise de


prorrogação de prazo. Nesse caso, o pedido de alteração do prazo deve ser juntado
(anexado) ao processo original da licitação. Desta forma, será possível a todos os
setores envolvidos na gestão e fiscalização do contrato (jurídico, planejamento,
financeiro, contabilidade, pessoal, auditorias, etc.) analisar a pertinência ou não do
pedido.

 Na UFS, o setor que registra os contratos e termos aditivos é a Coordenação


Programas, Convênios e Contratos  (COPEC/PROPLAN). Registrar significa
numerar o instrumento (ex.: Contrato nº 01/2015/UFS ou Termo Aditivo nº
02). A publicação é feita no Diário Oficial da União.

 A propósito, vale comentar algo que acontecia com muita frequência na UFS. Em
várias situações, alguns fiscais de contrato solicitavam a abertura de novo processo
administrativo para que um termo aditivo fosse produzido. Já sabemos que isto é
incorreto, porquanto o fiscal deve realizar o pedido de aditamento no próprio processo
da licitação.

E quais são os setores envolvidos fundamentais na tramitação de um termo aditivo na


UFS? Normalmente, o fiscal do contrato examina o pedido do aditivo feito pela
empresa, ou ele mesmo, ao perceber a necessidade, solicita o aditamento. A COPEC é
responsável por elaborar a minuta do instrumento e a Procuradoria Jurídica por analisa-
la. Já a Coordenação de Programação Orçamentária (COPRO/PROPLAN) checa as
questões de orçamento, a  PróReitoria  de Administração (PROAD) os aspectos
financeiros e, finalmente, o Gabinete do Reitor, onde ocorre a assinatura.

Excepcionalmente, algumas modificações contratuais podem ser realizadas mediante 


apostila ou termo  de apostilamento. Este procedimento é menos complexo que o
termo aditivo  e  ocorre  em  alguns  casos  específicos, tais como:  variação  do  valor 
contratual  em  decorrência  de reajuste  de  preços,  além  de  atualizações,
compensações  ou  penalizações  financeiras  decorrentes das  condições  de 
pagamento  nele  previstas  (Acórdão 1.321/2004/TCU).  Estes eventos não 
caracterizam alteração  do  contrato,  e,  portanto,  não  precisam necessariamente  de 
termo  aditivo  (art.  65,  §  8º  da  Lei 8.666/93).

A apostila é caracterizada como uma anotação, um registro que se faz no termo de


contrato. Isso dispensa algumas formalidades do termo aditivo, como assinatura do
contratado. 

Por exemplo: o valor de um contrato de terceirização precisa ser acrescido porque


houve alteração do piso salarial dos empregados terceirizados, implicando no aumento
dos custos da empresa contratada. Logo, o valor do contrato deve ser alterado, para que
a empresa não seja injustamente prejudicada. Esse tipo de alteração pode ser realizada
mediante termo de apostilamento, porque não envolve maiores análises.

Entretanto, os fiscais devem ficar atentos para uma questão. O TCU já emitiu diversos
julgamentos nos quais reconheceu a irregularidade de se realizar apostilamento quando
se deveria ter feito termo aditivo. Em alguns casos, disse o Tribunal que houve
entendimento inadequado do que fosse uma apostila. Em outros, o TCU entendeu que
teria havido má fé dos gestores, que pretendiam efetuar modificações contratuais que
demandariam termo aditivo (portanto publicação), mediante apostilas. Nesses casos,
pessoas foram multadas.
Por esse motivo, uma observação é importante: se houver dúvida entre apostila ou
termo aditivo, que se faça o segundo.

Por fim, como se pode depreender do que já foi dito, o processo de solicitação de termo
aditivo ou apostilamento deve conter a fundamentação do fiscal e a análise de todos os
setores competentes do Órgão. Sem essas formalidades, o processo tornase irregular.
Ex.: se o fiscal pretende a prorrogação de um contrato, o seu despacho deve explicar
que o serviço está adequadamente sendo prestado e que financeiramente prorrogar não é
prejudicial ao Órgão.

3. Possibilidades de alteração contratual

Vimos que um contrato pode ser alterado, tanto por termo aditivo, como por
apostilamento. Mas quais são as alterações que podem ser realizadas num contrato?

Inicialmente, é preciso compreender que as modificações contratuais podem ser 


unilaterais (somente por iniciativa da Administração) ou acordadas com o contratado
(bilaterais). As alterações unilaterais têm relação direta com as cláusulas exorbitantes,
que estudamos na Unidade 1. Já as modificações acordadas com o contratado
pressupõem, além do interesse público, um prévio ajuste entre as partes.

A seguir, sintetizamos as hipóteses em que se permite ou não a modificação dos


termos contratados.

3.1 Partes

As partes não podem ser alteradas. O contratante e o contratado permanecem os


mesmos. Se houver alteração, haverá burla ao processo licitatório.

Entretanto, a Lei 8.666/93 permite a subcontratação, conforme seu artigo 72:

 Art. 72. O contratado, na execução do contrato, sem prejuízo das


responsabilidades contratuais e legais, poderá subcontratar partes da obra, serviço
ou fornecimento, até o limite admitido, em cada caso, pela Administração.

 Como se vê, eventual subcontratação de outra firma pela empresa contratada não
importa em  tornar a subcontratada parte no contrato original. A subcontratação é muito
comum em contratos de obra. Uma empreiteira contratada para construir um prédio
pode subcontratar empresas para realizar serviços de fundação, ou serviços com
madeira, instalação de piso, etc.

O que a Lei 8.666/03 veda e o TCU tem combatido é a subcontratação da maior parte
do objeto contratado. Isto acontece quando uma empresa ganha uma licitação e
pretende repassar para outra a maior parcela do objeto licitado. É como se houvesse
uma fraude ao processo licitatório.
Por esta razão, o TCU tem determinado que os editais de licitação informem se é
possível a subcontratação e quais os seus limites (Acórdão nº 1.045/2006, Plenário,
processo nº TC-011.764/2001-1): 

“9.2.2.4.estabeleça nos instrumentos convocatórios, em cada caso, os limites


para subcontratação de obra, serviço ou fornecimento, de modo a evitar
riscos para a Administração Pública, conforme disciplina o art. 72 da Lei n.
8.666/93”.

Logo, o fiscal precisa estar atento em caso de a empresa pretender, durante a execução
do contrato, repassar ou pretender repassar parte essencial do objeto licitado a terceiros.
Caso isso ocorra, a empresa poderá ser advertida, multada ou o contrato poderá ser
rescindido.

3.2 Objeto

Sob nenhuma hipótese o objeto por ser modificado. O que pode acontecer, por
exemplo, é uma pequena mudança no projeto inicial para atender ao interesse do Órgão.
Qualquer outra alteração seria irregular. Se a UFS, por exemplo, realiza licitação para
instalar serviço de vigilância especificamente no Campus de São Cristóvão, não poderá,
posteriormente, alterar o objeto do contrato para inserir postos de vigilância no Campus
de Laranjeiras. Nesse caso, será necessária nova licitação para o outro campus, por mais
custoso que isto seja.

3.3 Cláusulas exorbitantes

Temos visto ao longo do curso que as cláusulas exorbitantes são prerrogativas 


conferidas  por  lei,  com  objetivo  de garantir  privilégios  à  Administração, a exemplo
da possibilidade  de  rescisão  unilateral  do  contrato.  Portanto, o Órgão Público não
pode abrir  mão  desta  condição especial, tampouco alterá-las.

3.4 Forma de pagamento

O contrato pode prever que o pagamento total do serviço somente aconteça após ele ser
realizado. Ou, de outra forma, que seja feito mediante parcelas. Estas condições,
normalmente, não podem ser modificadas.

Entretanto, em caso de interesse público devidamente justificado pelo fiscal, as


condições iniciais poderão ser alteradas. Como exemplo, podemos citar a antecipação
de parte do pagamento, para evitar demora na prestação do serviço, em caso de ter
acontecido um fato não previsto que prejudicou a empresa contratada.
3.5 Garantia

Caso seja do seu interesse, a Administração pode alterar a garantia contratual (caução 
em  dinheiro, caução  em  títulos  da  dívida  pública,  seguro-garantia  ou fiança 
bancária)  lançada  no  edital.  Todavia, entendemos que essa alteração somente  pode 
ocorrer para garantir a prestação do objeto ou assegurar futura indenização ao Órgão
Público,  nunca  apenas  para  favorecer  a condição do contratado. Ou seja, o que vale é
o interesse público.

3.6 Prazo

O prazo pode ser alterado, tanto nos contratos  de entrega  ou  fornecimento  unitário, 
assim  como  nos contratos  de  prestação  de  serviços  continuados. Lembrando que
apenas  estes  últimos  podem ultrapassar o exercício financeiro (Unidade 2).

Ocorre que problemas podem acontecer na tramitação do termo aditivo de prorrogação.


Considerando o grande volume de processos administrativos em alguns órgãos, a falta
de planejamento do gestor ou  alguma outra razão imprevista,  muitas  vezes  o  termo 
de  prorrogação é encaminhado para assinatura  somente após  o  término  do  prazo  do
contrato.  Apesar da irregularidade, alguns acreditam que não se trata de um grave
problema, uma vez que o contrato irá ser prorrogado de qualquer modo.

Todavia, o TCU pensa de forma bem diferente. No Acórdão nº 1.180/2007, por


exemplo, o Tribunal determinou à Universidade Federal do Piauí que, nas prorrogações
contratuais, promovesse a assinatura dos respectivos termos  aditivos até o término da
vigência  do  contrato, uma  vez  que,  transposta  a  data  final  da  vigência, o contrato
é considerado  extinto,  não  sendo juridicamente  cabível  a  sua  prorrogação  ou  a
continuidade da execução.

3.7 Preço

O preço do contrato merecerá maior atenção. É que se trata de ponto fundamental para a
execução e fiscalização dos contratos.

Conforme o artigo 65 §1º e § 2º, II, o objeto do contrato pode sofrer:

a) acréscimo ou supressão em até 25% do valor inicial, no caso de obras, serviços e 


compras;

b) acréscimo de 50% do valor inicial, no caso de reforma de prédio ou


equipamento;

c) supressão, além desses limites, desde que haja acordo entre as partes.

 
Como se percebe, os dois primeiros casos referem-se à alteração unilateral pela
Administração e o contratado tem que aceitar. Na terceira situação, a  supressão  deve
ser acordada.

A lei, portanto, estabeleceu limites rígidos. Não poderá o fiscal do contrato permitir que
tais fronteiras sejam ultrapassadas. Caso isso ocorra, a auditoria pode entender, por
exemplo: a) que houve falta de planejamento (o órgão licitou em quantidades bem
menores ou maiores do que precisava); b) que se pretende beneficiar o fornecedor ou
prestador de serviços; c) que houve falha na fiscalização (isso ocorre muito quando o
fiscal não percebe que os limites foram atingidos e permite a continuidade do
fornecimento do produto ou serviço, necessitando aumentar os quantitativos do contrato
para justificar o erro).

Todavia, o próprio Tribunal de Contas da União já flexibilizou tais limites. Através do


“polêmico” Acórdão 215/99 - Plenário (reiterado pelo Acórdão 448/2011), o TCU
permitiu que o valor  do  contrato  de  obras,  serviços  e  compras seja  acrescido  em 
mais  de  25%. Para isso, devem existir todas seguintes condições:

a) não acarretar para a Administração encargos contratuais superiores aos oriundos de


uma eventual rescisão contratual, acrescidos aos custos de uma nova licitação;

b) não possibilitar a inexecução contratual, considerando o nível de capacidade técnica


e econômico-financeira do contratado;

c) decorrer de fatos supervenientes (posteriores à celebração do contrato) que


impliquem em dificuldades não previstas ou imprevisíveis por ocasião da contratação
inicial;

d) não ocasionar a mudança do objeto;

e) ser necessário à completa execução do objeto original do contrato, à otimização do 


cronograma  de execução e  à  antecipação  dos  benefícios  sociais  e econômicos
decorrentes.

O preço também pode ser modificado quando  há necessidade de reajuste, 


repactuação e reequilíbrio  econômico-financeiro do contrato. Além disso, conforme
o TCU, poderá haver compensação financeira em  favor  do  contratado  em caso  de 
atraso  no  pagamento.

3.7.1 Reajuste, repactuação e reequilíbrio econômico-financeiro

Em sua obra  Licitações e  Contratos,  o  Tribunal  de Contas  da  União  trata  de 
reajuste,  repactuação  e equilíbrio  econômico-financeiro  em  tópicos  distintos.
Seguiremos  esta  distinção  de  modo  didático,  embora veremos  a  seguir  que 
somente  existe  diferença  prática entre reajuste e repactuação.

 
a) Reajuste de preços do contrato

Conforme a Lei nº 10.172/01, a cláusula de reajuste de preços ocorre somente nos


contratos continuados (duração igual ou superior a um ano). Trata-se de um índice que
objetiva refletir de algum modo as variações setoriais de custos do serviço contratado
(Acórdão 1.061/05 – Plenário TCU).

Isto nada mais é senão a correção do preço praticado à época da licitação, evitando que
haja um prejuízo ao fornecedor. É uma cláusula obrigatória, conforme o Acórdão nº
1.159/08/TCU. A propósito, nessa decisão, o Tribunal de Contas da União determinou à
Gerência Regional do Ministério da Fazenda que fizesse  constar em  seus  contratos 
os  critérios,  data-base  e periodicidade  do  reajustamento  do  preço,  informando
expressamente o índice utilizado.

Sobre o índice de correção, um dos mais utilizados, inclusive na UFS, é o Índice


Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

 O INPC é calculado pelo IBGE. Ele é muito utilizado no serviço público. Mas outros


também são empregados, como o IPCA – índice de preços ao consumidor amplo,
o INCC  –  índice  nacional  de  custos  da construção e o IGPDI – que também mede o
índice geral de preços.

 Importante ressaltar que o índice de reajuste já deve estar consignado no edital e na


minuta do contrato. A efetivação do reajuste somente se dará  após  um  ano de 
vigência  do  contrato  e  poderá  ser  formalizada tanto por termo aditivo como por
apostilamento. 

b) Repactuação de Preços

De acordo como TCU, repactuação é uma forma de negociação  entre  a 


Administração  e  o  contratado, com objetivo de adequar os preços contratuais aos
novos preços de mercado. Normalmente, é empregada nos contratos de prestação de
serviço continuado, que envolvem custos com mão de obra.

É preciso haver cláusula expressa prevendo a repactuação de preços. Deve a


Administração indicar claramente no edital, além  da data base e da periodicidade,
outros critérios para repactuação dos contratos.

O aumento do salário de uma categoria, como a vigilância, por exemplo, permite a


repactuação de preços.

Para que exista a repactuação de preços é imprescindível anexar ao processo de


contratação (licitação) uma planilha de custos que demonstre exatamente a variação
dos custos,  bem  como  as  causas que  justifiquem  a  repactuação  (Acórdão  893/08  –
Plenário  TCU).  Além disso, é necessário juntar comprovantes (tabela  de  preços 
oficial,  orçamentos etc.) que fundamentem o pedido.

Mas, então, qual a diferença entre  reajuste  e  repactuação de preços? Segundo o 


TCU,  a  diferença  entre  o  reajustamento  de preços  e  a  repactuação  reside  no 
critério  empregado para  a  sua  execução. O reajuste de preços é vinculado a um índice
estabelecido  contratualmente. Já a repactuação refere-se à demonstração  analítica  da 
variação  dos componentes dos  custos  decorrente de um fato imprevisto (Acórdão 
1.563/04  – Plenário).

Dito de outra forma: o reajuste é automático e deve ser realizado periodicamente,


mediante a simples aplicação de um índice de preço, que deve, dentro do possível,
refletir os custos setoriais; a repactuação, embora decorra da periodicidade anual do
contrato, depende da demonstração da variação dos custos do serviço (Acórdão
1105/2008 Plenário). 

c) Reequilíbrio econômico-financeiro do contrato 

Também é chamado de revisão de preços e recomposição de preços.  É um


mecanismo utilizado para manter as condições contratuais semelhantes as que existiam
na celebração do contrato. Normalmente é um requerimento feito pelo contratado à
Administração, com justificativas, que será analisado pelo fiscal do contrato e
eventualmente por outros setores da Instituição (na UFS: Copec, PGE, Proad, Digesc
(Divisão de Gestão de Custos), etc.). 

É bom que se diga que os fatos que merecem revisão contratual devem ser imprevistos e
significativos. Isto porque o empresário que contrata com a Administração deve correr
os riscos naturais do mercado (é o risco do negócio). Isso significa que o simples
aumento de despesa inerente à execução contratual, como a variação normal dos preços
na economia, não possibilita aos contratantes se socorrerem deste mecanismo.

O reequilíbrio econômico-financeiro, por ser decorrente de fato imprevisível, poderá ser


solicitado a qualquer tempo. Não se exige uma periodicidade mínima para o seu
reconhecimento e respectiva concessão.

Se, por exemplo, um fornecedor de feijão (contrato celebrado dentro do mesmo


exercício financeiro) não pode manter o preço inicial porque houve uma catástrofe
natural, que alterou os custos da produção, o valor da contratação pode ser revisto, para
atingir o equilíbrio econômico-financeiro original.

Na prática, uma das maiores dificuldades do gestor público é identificar se o pedido de


reequilíbrio decorre de uma causa justa, ou se da necessidade da empresa de mais lucro
(oportunismo); ou porque o objeto do contrato está sendo mal executado e por isto
causa  prejuízo à empresa; ou, se a  empresa está,  por  má  gestão, com dificuldades
financeiras. Em todos os casos, a concessão de aumento do valor contratual sem a
devida justificativa gera prejuízo à Administração.

De qualquer forma, vejamos outra situação. É possível que uma modificação imprevista
na economia (fato do príncipe) incida sobre a relação contratual, de modo que o preço
se torne inviável, tanto para o contratado, como para  a Administração. Esta situação, o
fato do príncipe, também autoriza o reequilíbrio econômico-financeiro do contrato. 

 Uma ação estatal de ordem geral (como uma nova política de impostos) que de alguma
forma incida sobre o equilíbrio econômico-financeiro de um contrato administrativo é
chamada de Fato do Príncipe. Essa designação “estranha” serve para resumir condição
que autorizadora a alteração do contrato celebrado pelo ente público.
 Neste caso, o valor ajustado será majorado ou diminuído. Em regra, o fato do príncipe é
sempre utilizado pelo particular. 

Relembrando: vimos, pois, o pedido de reajuste, de repactuação e de reequilíbrio


econômico-financeiro. Importa saber que todos eles serão inicialmente analisados
pelo fiscal do contrato. Em seguida, o fiscal tramitará o processo para os demais
setores realizarem análises próprias, como a Pró-Reitoria de Planejamento (custos,
orçamento), a PróReitoria de Administração  (aspectos  financeiros) e a Procuradoria 
Geral.  Com o deferimento do pleito, faz-se um termo aditivo ou apostilamento.

4. Rescisão Contratual (Parte 1)

A legislação determina que os contratos que estejam em desacordo com a legislação


devem ser rescindidos. A forma desse rompimento pode ser via decisão unilateral da
Administração, por solicitação do contratado ou por decisão judicial.  O fato é que
todo  contrato prejudicial não deve prosseguir.

Por outro lado, quando ocorre retardamento, má execução ou inexecução do contrato


pela parte contratada, caberá à Administração, além de rescindir o instrumento, aplicar
as sanções cabíveis.

4.1 Hipóteses de rescisão contratual

A rescisão do  contato  pode  ser  realizada  por  ato unilateral  da  Administração,  por 
acordo  amigável  ou por decisão judicial (art. 79 da Lei 8.666/93).

Rescisão por ato unilateral

 O artigo 78 da Lei 8.666/93 prevê as hipóteses de rescisão por ato unilateral, ou seja,
por decisão única da Administração. Esta forma de extinção do contrato acontece em
razão do descumprimento de cláusula contratual pelo contratado ou por interesse
público. Entretanto, em ambos os casos, é necessário que seja permitido à empresa o
direito de ampla defesa e manifestação, em processo administrativo fundamentado.

Ou seja, mesmo sendo a decisão unicamente da Administração, ela precisa ouvir o que a
empresa contratada tem a dizer, antes de efetivamente romper o vínculo. Caso isso não
ocorra, a rescisão poderá ser anulada pelo Poder Judiciário, ou mesmo poderá ser
concedida indenização material e moral à empresa pelo ato (que será tido por arbitrário)
da Administração.

No processo de rescisão unilateral deve haver a manifestação do fiscal do contrato,


dos órgãos de gestão, do setor jurídico, a defesa da empresa, bem como as provas que
demonstrem as eventuais irregularidades alegadas ou o interesse público envolvido.
Como se disse, caso as razões para a decisão unilateral não sejam cabalmente
demonstradas pela Administração, há o risco de a empresa recorrer ao Judiciário e obter
indenização por perdas  e  danos,  gerando prejuízo  ao  erário  público  e  eventual 
responsabilização dos  servidores  públicos envolvidos  (TRF5    Apelação  Cível:  AC
400665 AL 2003.80.00.0052810). Nesse caso, o fiscal do contrato será o primeiro a ter
que responder por uma suposta irregularidade na rescisão do contrato.

A seguir, listamos as razões para a rescisão unilateral do contrato administrativo. Essas


causas deverão ser caracterizadas ou levadas em consideração pelo fiscal do contrato,
quando da emissão de seu parecer. São elas:

 a) Descumprimento de cláusulas contratuais, especificações, projetos ou prazos;

Trata-se de disposição elementar. Entretanto, convém entender que a gestão do contrato


envolve bom senso.

Nem todos os descumprimentos contratuais devem ocasionar rescisão contratual. Em


algumas situações é melhor notificar o contratado para que ele corrija o problema. Isto
evitará, por exemplo, a necessidade de novo processo licitatório. Entretanto, em casos
de reincidência ou falta grave, a única opção adequada é mesmo a rescisão.

Uma empresa que atrase a entrega de um produto e se justifique alegando problemas no


seu transporte poderá somente ser advertida (sanção  mais  branda). Todavia, em se
repetindo o  fato por culpa da firma, o contrato deverá ser rescindido, a bem do serviço
público, com a aplicação das sanções cabíveis.

 b) Cumprimento irregular de cláusulas contratuais, especificações, projetos e


prazos;

Trata-se de situação quase idêntica a anterior. A diferença é que se trata de evento


menos grave, porquanto o descumprimento do contrato é parcial. Entretanto, em caso de
reincidência, caberá o ato rescisório.

 c) Lentidão no cumprimento das obrigações, levando a Administração a


comprovar  a impossibilidade da conclusão da obra, do serviço ou do
fornecimento, nos prazos estipulados;

Suponha-se a construção de um posto de saúde, com prazo inicial previsto para 200 dias
e metas parciais fixadas a partir do trigésimo dia. Ocorre que a empresa deixou de
cumprir os  dois  primeiros  prazos  e  suas justificativas  não  são  mais  convincentes. 
Tal situação autoriza rescisão unilateral e aplicação de a penalidade cabível.

No entanto, a lentidão da execução do contrato por parte da empresa pode acontecer em


decorrência de caso fortuito ou força maior (ou seja, sem culpa da empresa). Logo, em
tais condições a empresa pode não aceitar a rescisão unilateral. Consequentemente, a
rescisão unilateral  até  poder ocorrer (por interesse público), mas  sem punição à
contratada.

 CASO FORTUITO e FORÇA MAIOR.


Os autores se dividem sobre a classificação de fatos como caso fortuito ou foça maior.
Às vezes as definições são invertidas. Por esta razão, vamos nos limitar a dizer que caso
fortuito e caso de força maior correspondem a situações não previstas ou, mesmo que
previstas, fogem ao controle das partes quando da execução do contrato. Por exemplo:
um caminhão de terceiro, desgovernado, que derruba um prédio em construção,
atrasando a entrega de obra pública. Esse é um evento que justifica eventual atraso a
prestação do serviço.

 d) Paralisação da obra, do serviço ou do fornecimento, sem justa causa e prévia


comunicação à Administração;

A obra, o serviço ou o fornecimento podem ser paralisados. Mas, para que isso ocorra é
imprescindível uma causa justa. Além disso, mesmo havendo uma justa causa, é
necessária prévia comunicação ao Órgão Público.  A propósito: quando a norma fala em
comunicação, não significa que a Administração irá aceitar a justificativa. Se ela não
acatar (em regra, é o fiscal quem decide sobre a paralisação ou não), entendendo não
haver justa causa, o contrato deve continuar sem paralisação.

 e) Subcontratação total ou parcial do seu objeto contratado

A subcontratação ocorre quando a licitante vencedora contrata serviços de terceiros para


atuar no contrato. Essa situação só pode ser realizada se prevista no contrato. Do
contrário, seria permitir a existência de um “jogo” de interesses paralelos em detrimento
da Administração.

No caso de poder haver a subcontratação (previsão no contrato), o subcontratado não


pode ser incumbido de executar a maior parte das tarefas que são do contratado, sob
pena de se caracterizar verdadeira terceirização do contrato.

 f) Desatendimento das determinações regulares da autoridade designada para 


acompanhar  e fiscalizar  a  sua  execução,  assim  como  as  de  seus superiores;

Aqui se nota a importância do fiscal do contrato. Ele é realmente a autoridade na


questão.  A empresa deve atender às suas determinações, que deverão ser sempre
fundamentadas.

 g) Cometimento reiterado de faltas na execução do contrato;

O §1º do art. 67 da Lei 8.666/93 trata do registro habitual que o fiscal realiza com
relação às “pequenas” irregularidades existentes no contrato. Ou seja, o fiscal deve
anotar no processo de contratação ou em um processo à parte, todas as falhas existentes
na execução do contrato. Detalha importante é que todas elas devem ser informadas à
contratada. Caso os erros sejam repetidos seguidamente, sem solução por parte da
empresa, caberá a rescisão unilateral do contrato.

 h) Decretação de falência ou a instauração de insolvência civil;


Em síntese, a falência é a incapacidade da pessoa jurídica em saldar os seus
compromissos e gerir os seus bens (Lei 11.101/05). Já a insolvência civil possui o
mesmo sentido, mas se refere às pessoas físicas (conforme dispõe o Código Civil
Brasileiro). Em ambos os casos não poderá existir contrato com a Administração
Pública.

 i) Dissolução da sociedade ou o falecimento  do contratado;

A dissolução da sociedade ocorre quando a pessoa jurídica deixa de existir. Com relação
à pessoa física, tratase de falecimento.

 j) Alteração social ou a modificação da finalidade ou da estrutura da empresa, que


prejudique a execução do contrato;

Estas causas referem-se à descaracterização da pessoa jurídica contratada. Todavia, a


alteração da estrutura da empresa somente será causa para rescisão unilateral se houver
prejuízo à execução do contrato.

 l) Razões de interesse público, de alta relevância e amplo conhecimento, 


justificadas  e  determinadas pela  máxima  autoridade  administrativa;

O interesse público que justifique a rescisão unilateral deve ser grave. O simples
desinteresse da Administração não fundamenta o rompimento. A falta de orçamento, a
ocorrência de greve, problemas na economia, entre outros, podem se constituir causa
para a rescisão. Na UFS, caberá ao Reitor, após o parecer do fiscal, endossar as razões
apresentadas no processo. Eventualmente e mediante pedido fundamentado, a empresa
poderá ser indenizada.

 m) Ocorrência de caso fortuito ou força maior, regularmente comprovados, 


impeditivos  da execução do contrato;

São situações extremas que, por serem imprevistas, ensejam a impossibilidade da 
execução e a subsequente rescisão contratual.

 n) Descumprimento do artigo 7º,  inciso XXXIII da Constituição Federal; 

A referida norma constitucional determina a “proibição de trabalho noturno, perigoso


ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos,
salvo na  condição  de aprendiz, a partir de quatorze anos.”

A infringência deste direito social do trabalhador é causa para rescisão unilateral.

5. Efeitos da Rescisão por Ato Unilateral

Conforme o artigo 80 da Lei 8.666/93, a rescisão por ato unilateral acarreta as seguintes
consequências, sem prejuízo das sanções cabíveis:
 a) Retomada do objeto do contrato, no estado e local em que se encontrar, por ato
próprio da Administração;

Por exemplo: havendo um contrato de obra, cuja execução esteja paralisada por culpa da
empresa contratada, a Administração pode assumir provisoriamente ou definitivamente
a execução do serviço.

 b) Ocupação e utilização do local, instalações, equipamentos, material e pessoal 


empregados  na execução do contrato, necessários à sua continuidade;

No exemplo anterior, a Administração poderia se utilizar da estrutura montada pela


empresa, para facilitar a continuidade da obra.

 c) Execução da garantia contratual e das multas aplicadas, para ressarcimento da


Administração;

A maior parte dos contratos prevê garantia (fiança, caução, seguro) que poderão ser
executadas em benefício da Administração se a rescisão ocorreu por culpa da empresa.

 d) Retenção dos créditos (pagamentos pendentes) decorrentes do contrato até o


limite dos prejuízos causados à Administração.

A Administração reterá os valores que ainda teria de repassar a empresa, para que possa,
por exemplo, descontar as multas aplicadas e outros prejuízos verificáveis durante a
execução.

Por fim, lembramos que em todas as situações é assegurado ao contratado o direito de se


defender e se manifestar.

6. Considerações Finais

As variações durante a execução de um contrato podem acontecer naturalmente. Quer


em função de um desarranjo da economia ou em razão da modificação das condições do
objeto contratado. O fato é que um contrato, sobretudo aqueles de longa duração, sofre
com a imprevisibilidade durante sua execução.

Por essa razão, a Administração deve utilizar as mais amplas formas de manter a
execução do contrato, sem que haja  prejuízo  financeiro  ao  Órgão.  Para isso, é preciso
uma  análise  técnica  detida,  para  que  as decisões  não aconteçam precipitadamente e
sem o respaldo jurídico.

As diversas motivações para a rescisão do contrato administrativo demonstram que a


gestão de contratos não é simples. Embora exista uma legislação rica em detalhes, as
situações práticas que se apresentam impõem que os servidores envolvidos na gestão e
fiscalização de contratos públicos possam decidir dentre várias possibilidades previstas
na lei.
Mas o fato é que a Administração não pode tolerar aos maus prestadores de serviços. 
No máximo, quando o interesse público prevalecer, permite-se a correção de um
problema de execução contratual (sem rescisão), mas com a aplicação da sanção devida
a quem for o responsável.

Uma postura diferente pode ser entendida como omissiva (omissão) ou, pior, dolosa
(intenção de prejudicar) frente aos interesses públicos. Nesse sentido, as hipóteses de
rescisão unilateral devem ser observas sem tergiversação, assim como os tipos de
sanções. Por outro lado, evidentemente, a gestão e fiscalização do contrato não devem
ser arbitrárias. É necessário garantir ao contratado o amplo direito de defesa. 
Entretanto, caso as justificativas não sejam  acolhidas,  não  resta  outra  alternativa ao
Órgão Público senão aplicar exatamente o que prescreve a lei.

7. Referência Bibliográfica

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