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CURSO A DISTÂNCIA

Obras Públicas de
Edificação e Saneamento - Módulo Execução
Aula 4 – Alterações contratuais e encerramento dos contratos

Este conteúdo está organizado nos seguintes tópicos:

INTRODUÇÃO | 3

PARTE I – COMO PROCEDER CASO HAJA NECESSIDADE DE


ALTERAR O CONTRATO ORIGINAL? | 5
1. MUDANÇAS NO PRAZO OU NO VALOR DA OBRA – TERMOS ADITIVOS | 5
1.1 Motivação para celebração de aditivos | 6
1.2 Aditivos de prazo decorrentes de atraso na obra | 7
1.3 Formalização do termo aditivo | 8
1.4 Limites para alterações contratuais – supressão e acréscimo | 11
1.5 Limites de aditivos por erros de projeto | 13
1.6 Exceções previstas na Decisão nº 215/1999-TCU-Plenário | 14
1.7 Manutenção do desconto concedido na proposta vencedora da licitação 16
1.8 Aditivos na Lei das Estatais – Lei nº 13.303/2016 | 22

PARTE II – COMO RECEBER CORRETAMENTE O OBJETO CONTRATADO? | 25


2. RECEBIMENTO DO OBJETO | 25
2.1 Recebimento provisório | 25
2.2 Recebimento definitivo | 26
3. DOCUMENTAÇÃO “COMO CONSTRUÍDO” (AS BUILT) | 27
4. MANUAL DO USUÁRIO | 28
5. PARALISAÇÃO DE OBRA | 29
5.1 Causas | 30
5.2 Retomada da obra | 33
6. COLETAR LIÇÕES APRENDIDAS | 34
7. RESCISÃO DO CONTRATO | 35
7.1 Tipos | 35
7.2 Hipóteses | 36
7.3 Formalização do processo de rescisão | 37
7.4 Contraditório e ampla defesa | 38

CONSIDERAÇÕES FINAIS | 40
REFERÊNCIAS | 41

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Secretaria Geral da Presidência
Instituto Serzedello Corrêa

Supervisão:
Clemens Soares dos Santos

Conteudistas:
Bruno Martinello Lima
Gustavo Ferreira Olkowski
Victor Hugo Moreira Ribeiro

Tratamento Pedagógico:
Marta Eliane S. da Costa Bissacot

Este material tem função didática. A última atualização ocorreu em Maio de 2020.
As afirmações e opiniões são de responsabilidade exclusiva dos autores e podem
não expressar a posição oficial do Tribunal de Contas da União.
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 4

INTRODUÇÃO

Fonte: Getty Images

Nas unidades anteriores, vimos como funciona o fluxo operacional de um convênio ou contrato de repasse
para execução de obras públicas com recursos federais. Vimos, ainda, os deveres e responsabilidades que
cabem aos principais agentes públicos e quais pontos requerem maior atenção do gestor do contrato e do
fiscal da obra.

Nesse contexto, após a licitação, a celebração do contrato e o início de sua execução, podem ocorrer eventos
que modificam o projeto da obra ou as condições do contrato. Em razão disso, é preciso entender como são
feitos os termos aditivos, que promovem as alterações no contrato, de modo a readequá-lo à nova realidade.

Em outras palavras, os contratos de obras públicas são mutáveis em algumas situações e condições. É
importante entender as hipóteses e os procedimentos de alteração de um contrato administrativo, a fim de
não incorrer em irregularidades. Aprenderemos tudo isso nesta aula!

Por enquanto, é bom você saber que, infelizmente, as auditorias do TCU costumam encontrar problemas
nas alterações contratuais, principalmente aquelas feitas com valores acima do permitido, ou fora das
hipóteses legais.

Outro ponto que abordaremos aqui trata dos procedimentos de recebimento da obra, após sua conclusão.
Essa é uma etapa importante e na qual são necessários alguns cuidados, principalmente no tocante ao
projeto as built, a fim de evitar irregularidades ou problemas futuros na manutenção da obra.

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Por isso, nesta aula, aprenderemos como usar os instrumentos de alteração contratual para a finalidade
prevista. Veremos, ainda, quais são os procedimentos de conclusão da obra a serem adotados.

Lembramos que nosso principal objetivo é que a obra seja concluída no prazo certo e com preço de
mercado, correto!

Para ajudar na sua reflexão sobre o tema, pense nas possíveis respostas a essas perguntas:

As hipóteses de alterações contratuais dependem do


regime de execução previsto na licitação?

Por que é importante haver limites para alteração contratual?

Como ocorre o procedimento de encerramento do contrato?

Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de:

a. adotar os principais aspectos para a realização de aditivos;

b. entender quais atividades devem ser realizadas para o recebimento provisório e definitivo da obra;

c. identificar o que é uma obra paralisada, quais as consequências dessa situação e quais medidas devem
ser adotadas; e

d. conhecer as possibilidades de rescisão contratual e as possíveis sanções aplicáveis à contratada.

Esperamos que seja um conteúdo útil para ajudar você no seu dia a dia. Então, vamos começar!

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 4

Parte I – Como proceder caso haja


necessidade de alterar o contrato original?

1. MUDANÇAS NO PRAZO OU NO VALOR


DA OBRA – TERMOS ADITIVOS

Em que situações é possível realizar aditivos em


contratos celebrados pela Administração Pública?

Via de regra, os contratos no âmbito da Administração Pública são celebrados para serem executados
sem modificações. Entretanto, como veremos nesta aula, a legislação permite que eles sejam alterados em
algumas hipóteses. Para isso, é necessário elaborar termos aditivos ou aditamentos contratuais (os termos
são sinônimos), onde são registradas eventuais modificações realizadas nas condições do contrato.

As alterações podem abarcar tanto o prazo de execução da obra quanto aspectos quantitativos ou
qualitativos. As mudanças quantitativas ou qualitativas, em geral, afetam o valor global da obra.

As alterações qualitativas são aquelas que modificam as especificações do projeto, para melhor adequação
técnica às necessidades do contratante, segundo a Decisão nº 215/1999-TCU-Plenário. Essas modificações
podem, eventualmente, impactar as quantidades de cada um dos serviços da planilha orçamentária. Ou
seja, as alterações qualitativas decorrem de mudanças de projeto ou de especificações técnicas.

Por sua vez, as alterações quantitativas são aquelas que aumentam ou diminuem os quantitativos de
serviços. Dessa maneira, de acordo com a mencionada decisão do TCU, as alterações quantitativas visam a
modificar a dimensão do objeto contratado, por meio dos acréscimos e supressões dos serviços contratados.

É possível haver casos em que ocorrem alterações qualitativas


e quantitativas ao mesmo tempo em um mesmo aditivo?

Sim, em alguns casos, é possível que ocorram alterações quantitativas e qualitativas ao mesmo tempo e
isso poderá ser feito no mesmo aditivo. De todo modo, o gestor poderá decidir fazer aditivos separados, a
depender do caso concreto.

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EXEMPLOS DE ALTERAÇÕES QUALITATIVAS OU QUANTITATIVAS:

Imagine uma obra de construção de um posto de saúde, com área total


de 100,00 m². Foi celebrado, no contrato dessa construção, a execução de
um determinado piso laminado, com custo unitário de R$ 80,00/m².

Caso o material fosse alterado de piso laminado, de R$ 80,00/m², para um determinado


tipo de cerâmica, de custo unitário de R$ 30,00/m², teríamos uma diminuição no
custo total do serviço, de R$ 8.000,00 para R$ 3.000,00. Essa alteração seria do
tipo qualitativa, haja vista que não houve mudança na quantidade do serviço.

Já se houvesse um aumento da área a ser construída, de 100,00 m² para 150,00 m²,


e fosse mantida a solução do piso laminado, de R$ 80,00/m², o custo total do serviço
aumentaria de R$ 8.000,00 para R$ 12.000,00. Essa alteração seria do tipo quantitativa.

1.1 MOTIVAÇÃO PARA CELEBRAÇÃO DE ADITIVOS

As alterações contratuais não podem estar fundamentadas apenas na vontade dos gestores. Antes de
serem realizadas, as modificações feitas no projeto e/ou na planilha orçamentária precisam ser justificadas,
de maneira técnica e formal. Portanto, essas justificativas devem ser registradas no processo de assinatura
do termo aditivo.

Isso significa que todo termo aditivo deve conter, de forma expressa, as razões que levaram à necessidade
de se alterar as cláusulas contratadas inicialmente.

Além disso, não é qualquer justificativa que permite a alteração do contrato, mas somente aquelas previstas
no art. 65 da Lei nº 8.666/1993, as quais são resumidas a seguir:

a. Unilateralmente pela Administração:

• modificação no projeto ou das especificações, para adequação técnica aos objetivos (alteração
qualitativa); ou

• acréscimo ou diminuição quantitativa do objeto, nos limites permitidos na lei (alteração


quantitativa).

b. Por acordo das partes:

• quando conveniente a substituição da garantia;

• quando necessária a modificação do regime de execução ou do modo de fornecimento;

• quando necessária a modificação na forma de pagamento, mantido o valor inicial atualizado; ou

• para manutenção do equilíbrio econômico-financeiro, na hipótese de fatos imprevisíveis ou


extraordinários.

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 4

No caso de aditivos consensuais de modificação de regime de execução, é essencial que a mudança


tenha justificativas pertinentes e não resulte em critérios de medição e pagamento que possam causar
prejuízos à Administração Pública, como, por exemplo, adiantamentos injustificáveis de pagamento.

Outro aspecto importante é verificar se a mudança não traz algum impacto negativo na isonomia
da licitação. Isto é, se a licitação foi feita prevendo empreitada por preço global (regime de execução
de maior risco para a contratada) ou empreitada por preço unitário (menor risco para a empresa),
isso tem impacto na formulação das propostas. As licitantes, provavelmente, devem ter abarcado ou
provisionado em suas propostas algum montante que possa remunerá-las do risco maior ou menor a
que estão submetidas.

Por exemplo, ao alterar o regime de execução de empreitada por preço global para empreitada por
preço unitário (que possui risco bem menor para a empresa), é possível que isso possa ferir a isonomia
da licitação, a depender do caso concreto (extensão e tamanho da alteração feita, bem como etapa
da obra em que foi feita a alteração). Em outras palavras, caso as licitantes soubessem que o regime
de execução seria alterado, elas teriam ofertado propostas com outros preços. Dessa maneira, é
importante checar com as empresas que não venceram a licitação se a eventual mudança do regime
de execução não afetaria suas propostas.

A jurisprudência do TCU também deixa clara a necessidade de justificar


tecnicamente a necessidade de realização de aditivos contratuais. Veja os
Acórdãos nº 4465/2011-TCU-2ª Câmara, 591/2011-TCU-Plenário, 2161/2011-TCU-
Plenário e 2053/2015-TCU-Plenário, disponíveis na Biblioteca do curso.

No caso do Regime Diferenciado de Contratações (RDC), as situações em que


pode ocorrer a celebração de termos aditivos são idênticas ao que prevê a Lei
nº 8.666/1993, tendo em vista o disposto no art. 39 da Lei nº 12.462/2011.

Já as Lei das Estatais – Lei nº 13.303/2016 – traz outras disposições


que serão vistas com mais detalhe adiante nesta aula.

Como exemplo de possível aditivo irregular, veja o caso a seguir:

EXEMPLO PRÁTICO:

Considere, por hipótese, que um município está executando uma obra de um


posto de saúde. O projeto da obra previa a utilização de forro de PVC (custo
unitário de R$ 20,00/m²) em toda a edificação. Entretanto, em razão de o
secretário municipal de saúde considerar o forro esteticamente feio, foi iniciado
o processo de alteração qualitativa da solução de forro para o forro em placas de
gesso acartonado (custo unitário de R$ 45,41/m²). A referida alteração importa
em mais de 100% de acréscimo de custos para o serviço de forros, sem que haja
justificativas técnicas razoáveis e objetivas para que seja efetuada a mudança.

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Entretanto, se por exemplo, a Secretaria Municipal de Saúde identificasse


que a solução de forro em PVC possui riscos relacionados a uma eventual
proliferação de agentes contaminantes no ambiente do posto de saúde, aí sim
haveria uma justificativa técnica robusta para efetuar a alteração contratual,
sem prejuízo de apurar porque o autor do projeto básico da edificação não
previu essa questão nas especificações técnicas do forro do posto de saúde.

1.2 ADITIVOS DE PRAZO DECORRENTES DE ATRASO NA OBRA

O atraso decorre de culpa da Contratada ou da Administração?

Por exigência da lei, contratos de obras públicas devem prever o prazo final de conclusão da obra. Não raro,
ocorrem atrasos e a obra não termina na data originalmente prevista. O que fazer nesse tipo de situação?

A questão de atrasos em obras públicas é motivo de constante preocupação do TCU, conforme revela sua
jurisprudência (Acórdãos nº 2345/2017, 2714/2015, 890/2012, todos do Plenário). O conceito fundamental
para saber o que deve ser feito na situação em que foram verificados atrasos na execução da obra é
identificar a causa do atraso.

É importante saber quem deu causa ao atraso – a empresa contratada ou a Administração Pública? Caso
tenha sido a Administração Pública, é devida a celebração de aditivo prorrogando o prazo de execução da
obra, bem como remunerando os custos adicionais da empresa decorrentes da extensão do prazo da obra.

Não obstante, é importante que esses custos adicionais sejam avaliados a fim de evitar exageros ou
sobrepreços, principalmente na rubrica de Administração Local. Como já vimos, também é essencial
que esses custos adicionais de Administração Local não sejam pagos como valores fixos mensais, já
que isso estimula a empresa contratada a atrasar ao máximo a obra, configurando o que se chama de
“paradoxo lucro-incompetência” (quanto mais demorada e incompetente for a empresa, mais lucro ela
consegue auferir).

Já no caso em que a causa do atraso é atribuível à empresa, é de suma importância que o gestor aplique,
mediante processo administrativo próprio e assegurado o contraditório e a ampla defesa, as sanções
previstas em contrato e na lei (advertência por escrito, multas, suspensão de licitar, declaração de
inidoneidade). Nessa situação, não se deve pagar à empresa remuneração adicional relacionada ao atraso
da obra, inclusive reajustes de preços que sejam decorrentes do atraso praticado pela empresa.

Uma questão a ser avaliada é se, em caso de atrasos por culpa da contratada, cabe ou não prorrogar o prazo
de execução da obra e de vigência do contrato, com vistas a concluir o objeto. Isto é, vale realmente a pena
manter como contratada uma empresa que não teve capacidade técnica de executar a obra no prazo? A
obra está perto da conclusão? O erro da empresa foi relevante?

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Todas essas perguntas merecem ser ponderadas para ver se cabe ou não prolongar o prazo de vigência do
contrato, mesmo num cenário de atrasos praticados pela empresa. Caso a conclusão seja a de que o erro da
empresa foi relevante ou que a empresa realmente não tem capacidade técnica suficiente, a saída é buscar
a rescisão do contrato e realizar nova licitação.

Do contrário, seja porque a obra está perto do fim, seja porque o erro da empresa não foi relevante, é
possível uma extensão do prazo de vigência do contrato, sempre colocando com clareza que a extensão não
deve acarretar novos custos para a Administração (sobretudo administração local, manutenção do canteiro,
mobilização e reajustes contratuais), em razão de culpa da empresa nos atrasos da obra, sem prejuízo de
apurar, mediante processo administrativo, o erro da empresa e aplicar a sanção cabível e proporcional à
falha cometida.

Vale ressaltar que não se deve realizar reajuste de preços de contratos decorrentes de atrasos na execução
da obra de culpa da empresa contratada (Acórdão nº 1.569/2017-TCU-Plenário - Rel. Min. Subst. Augusto
Sherman Cavalcanti).

1.3 FORMALIZAÇÃO DO TERMO ADITIVO

Assim como ocorre com o contrato original, os termos aditivos devem ser formalizados, e suas cópias
precisam ser anexadas ao respectivo processo físico da contratação. Também deve ser dada a devida
publicidade, por meio da publicação de seu resumo na imprensa oficial (Diário Oficial da União ou do Estado),
exceto para contratos regidos pela Lei das Estatais, assunto que abordaremos um pouco mais adiante.

Em virtude da exigência mencionada, é vedado fazer contrato verbal com a Administração. Ou seja, se em
uma obra houver serviços novos ainda não contemplados em termos aditivos, os fiscais e gestores públicos
não podem autorizar a execução desses serviços, tampouco realizar qualquer pagamento, haja vista que
ainda não estão devidamente formalizadas as alterações contratuais por meio de termo aditivo.

Essa proibição visa a dar maior transparência aos contratos administrativos e maior segurança jurídica ao
gestor e ao contratado.

EXEMPLO PRÁTICO:

Caso um município necessite alterar um contrato de pavimentação de ruas


e deixe de formalizar essa modificação contratual, alegando que isso seria
“muito burocrático”, estamos diante de uma irregularidade grave. Pois, como
vimos, todas as alterações contratuais necessitam ser formalizadas.

1.3.1. CONTRATO VERBAL

A legislação deixa claro que nenhum contrato verbal celebrado com a Administração Pública possui
validade, o que inclui os termos aditivos.

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Leia o art. 60, parágrafo único, da Lei nº 8.666/1993

(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm).

Como rara exceção, a lei permite que sejam feitos contratos verbais para compras de pronto pagamento de
valor inferior a R$ 4.000,00 (quatro mil reais).

Mas, observe que contratos de obras de edificação ou saneamento, ainda que celebrados por pequenos
municípios, estão fora dessa exceção prevista em lei, ou seja, contratos atinentes a obras devem ser sempre
formalizados. E essa exigência inclui os termos aditivos. Portanto, é nulo o termo aditivo não formalizado.

Portanto, não se esqueça, toda e qualquer alteração nas cláusulas (inclusive o prazo de execução da obra)
ou no objeto (alterações quantitativas ou qualitativas) do contrato devem ser processadas mediante um
termo aditivo.

A jurisprudência do TCU demonstra inúmeros casos em que a existência de


termos aditivos não formalizados foi considerada uma irregularidade grave,
com possíveis consequências e sanções para os gestores e para a empresa
contratada. Confira nos Acórdãos nº 1678/2017-TCU-Plenário, 2504/2014-TCU-
1ª Câmara, 2380/2013-TCU-Plenário e 7206/2012-TCU-2ª Câmara.

(https://pesquisa.apps.tcu.gov.br/#/pesquisa/acordao-completo)

1.3.2. FALTA DE CELEBRAÇÃO DE ADITIVOS E PAGAMENTO POR “QUÍMICA”

O pagamento por “química” é a gíria utilizada no setor de obras públicas para denominar o pagamento
por serviços novos ou não, sem cobertura contratual, utilizando para fins de medição e pagamento outros
serviços constantes da planilha contratual, sem a respectiva execução destes últimos.

Ou seja, trata-se de uma compensação. A empresa executa o serviço A, porém, devido ao aludido serviço
não constar da planilha contratual no quantitativo executado, o serviço B é medido e pago, num valor
financeiro equivalente ao que seria devido à empresa pela execução do serviço A.

O pagamento por “química” é uma irregularidade grave e uma violação à lei de licitações e contratos (Lei nº
8.666/1993), conforme mostra o Acórdão nº 1606/2008-TCU-Plenário.

Leia o julgado abaixo e observe como o pagamento por “química” é uma irregularidade muito séria.

29. A obra real baseada em um projeto diferente do licitado, inacabado e sem se ter, ainda, a
noção exata de seus custos, estava sendo paga de forma irregular, com faturamento de serviços
da obra licitada, como constatado pela Unidade Técnica do TCU. Tal prática, conhecida no jargão
da engenharia como “química”, consiste em realizarem-se pagamentos de serviços novos, sem
cobertura contratual, fora do projeto originalmente licitado, utilizando-se para faturamento

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outros serviços, estes sim, constantes da planilha de preços original, sem a respectiva execução
destes últimos, para futura compensação. Trata-se, evidentemente, de irregularidade gravíssima.

(Trecho do Voto Condutor do Acórdão nº 1606/2008-TCU-Plenário, Relator Ministro Raimundo


Carreiro – grifo nosso)

EXEMPLO PRÁTICO: (Adaptado de OLKOWSKI et al, 2019)

Considere a planilha orçamentária de uma obra que possui os seguintes serviços:

Execução de piso em cerâmica: Área 120,00 m²; Custo


Unitário R$ 30,00/m²; Custo Total R$ 3.600,00;

Execução de alvenaria em tijolo cerâmico: Área 100 m²; Custo


Unitário R$ 40,00/m²; Custo Total R$ 4.000,00.

Serviço Quantidade inicial (m²) Preço unitário (R$) Preço total inicial (R$)

Piso cerâmico 120 30,00 3.600,00


Alvenaria em tijolo 100 40,00 4.000,00

PREÇO TOTAL (R$) 7.600,00

Agora considere que, durante a execução da obra, haja uma mudança no projeto,
de forma que seja necessário reduzir a área de piso em 20 m², reduzir a área
de alvenaria em 25 m² e incluir um serviço novo (não constante da planilha)
– 40 m² de parede de gesso acartonado, de custo unitário R$ 40,00/m².

Assim, o novo custo total de piso será de R$ 3.000,00 (redução de R$ 600,00); o novo
custo de alvenaria, de R$ 3.000,00 (redução de R$ 1.000,00); e o custo total da parede
de gesso, de R$ 1.600,00 (inclusão de R$ 1.600,00), de acordo com a tabela seguinte.

Serviço Quantidade Quantidade após Preço Preço total Preço total após
inicial (m²) alterações (m²) unitário (R$) inicial (R$) alterações (R$)
Piso cerâmico 120 100 30,00 3.600,00 3.000,00
Alvenaria em 100 75 40,00 4.000,00 3.000,00
tijolo
Parede de gesso - 40 40,00 - 1.600,00
PREÇO TOTAL 7.600,00
(R$)

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ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO

Nesse caso, como aprendemos nesta aula, o gestor deve formalizar as alterações
ocorridas, de acordo com a tabela acima, por meio de um termo aditivo ao contrato, que
deve conter e ser precedido de documento que registre as justificativas técnicas para as
alterações, ser publicado na imprensa oficial e anexado ao processo físico da contratação.

Caso não faça isso e resolva executar a inclusão da parede de gesso,


de R$ 1.600,00, utilizando o saldo dos serviços de piso cerâmico e
alvenaria para faturamento, diante da compensação financeira (R$ 600
+ R$ 1.000,00), estaria cometendo a mencionada “química”.

1.4 LIMITES PARA ALTERAÇÕES CONTRATUAIS – SUPRESSÃO E ACRÉSCIMO

É comum um contrato de obra pública, especialmente aquele executado por regime de empreitada por
preço unitário, necessitar de alterações qualitativas ou quantitativas, para que o objeto seja readequado
para as necessidades que demandam sua construção. Porém, essas alterações, seja para acréscimo, seja
para supressão, possuem um limite estabelecido pela Lei nº 8.666/1993.

As mesmas regras que limitam a alteração de contratos administrativos


também se aplicam ao Regime Diferenciado de Contratação
(RDC), conforme consta no art. 39 da Lei nº 12.462/2011.

Já a Lei das Estatais – Lei nº 13.303/2016 – possui algumas


particularidades que serão abordadas mais adiante.

A limitação trazida pela lei tem por finalidade evitar que os projetos licitados sejam desvirtuados de seus
propósitos iniciais. Busca-se evitar que, durante a execução do contrato, o objeto inicialmente licitado e
contratado seja transformado em outro objeto completamente diferente.

Perceba que a transmutação de objeto ou, em outras palavras, uma transformação radical do
empreendimento pode vir a caracterizar uma fuga ao procedimento licitatório. A razão para isso é que
uma mudança profunda na concepção do empreendimento afeta as cláusulas de habilitação previstas no
edital, bem como os preços do orçamento da Administração e a formulação das propostas pelas licitantes.

EXEMPLO PRÁTICO:

Uma prefeitura contratou uma obra de pavimentação asfáltica. Porém, por conta de
promessas feitas pelo Prefeito à comunidade, pretende-se transformar a pavimentação
asfáltica em pavimentação rígida em concreto, mediante termo aditivo ao contrato.

Trata-se de uma mudança radical na concepção da obra. A pavimentação rígida em concreto


requer técnicas e equipamentos muito diferentes da pavimentação asfáltica. Tendo em vista
que o projeto original da obra previa pavimentação asfáltica, é bastante provável que o
edital de licitação tenha incluído exigências de habilitação técnica para esse serviço, e que o
orçamento da obra tenha sido elaborado com preços e serviços para pavimentação asfáltica.

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 4

Dessa maneira, as licitantes participaram do certame e formularam suas


propostas sempre visando a execução de pavimentação asfáltica.

A mudança para pavimentação rígida em concreto altera esse cenário. É possível


que empresas especializadas em pavimentação rígida em concreto não tenham
participado da licitação em razão das exigências de habilitação técnica e/ou do
orçamento da obra. Caso soubessem que a obra seria transformada radicalmente
para pavimentação rígida, poderiam ter algum interesse em participar e formular
propostas potencialmente mais vantajosas para a Administração Pública.

Portanto, esse exemplo hipotético mostra como a transmutação de objeto constitui


fuga ao procedimento licitatório, já que quebra a isonomia entre as licitantes.

No caso de construções, a Lei nº 8.666/1993 estabeleceu, no art. 65, §1º, o limite de 25% para acréscimos ou
supressões. No caso de reformas, o limite é de 50%, apenas para acréscimos. Esses limites legais ocorrem
para alterações unilaterais, as quais o contratado é obrigado a aceitar, uma vez que se inserem dentro das
chamadas cláusulas exorbitantes do contrato administrativo.

Ou seja, num contrato administrativo, diferentemente de um contrato entre particulares, a Administração


Pública possui poderes de efetuar alterações unilaterais ao contrato, porém dentro de alguns limites,
conforme prevê o art. 65, § 1º, da Lei nº 8.666/1993.

Vale lembrar que a Lei das Estatais, diferentemente da Lei nº 8.666/1993, não prevê a possibilidade de
alterações unilaterais ao contrato.

O limite para supressões de 25% pode ser extrapolado, desde que haja acordo
entre as partes. Mas, essa regra não é válida para acréscimos. As exceções
para extrapolação desse limite, no caso de acréscimos, serão estudadas quando
tratarmos das exceções previstas na Decisão nº 215/1999-TCU-Plenário.

É importante também conhecer como funciona a aplicação desses limites, pois eles devem ser considerados
de maneira isolada. Ou seja, todos os acréscimos só podem somar o montante de 25% do contrato inicial e,
da mesma forma, ocorre com as supressões.

Desse modo, não se pode fazer a conta subtraindo as supressões dos acréscimos para se chegar no limite
de 25%. Os percentuais de acréscimos e de supressões devem ser calculados isoladamente. Para explicar
melhor como se calcula isoladamente esses limites, veja o exemplo a seguir.

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EXEMPLO PRÁTICO:

Uma prefeitura contratou uma obra pelo valor total de R$ 200.000,00.


Caso tenha que realizar alguma alteração no projeto, o município só poderá
aumentar, de forma unilateral, os quantitativos de serviços existentes ou
acrescer novos serviços até R$ 50.000,00. Mesmo que a contratada concorde
formalmente com modificações que, por exemplo, reduzam em R$ 100.000,00
(50%) o valor do contrato, o valor máximo que poderá ser acrescido ao
contrato permanece sendo de R$ 50.000,00 em quantidades de serviços.

Irregularidade: No exemplo acima, se o gestor tivesse feito, por decisão unilateral,


acréscimos de R$ 70.000,00 e decréscimos de R$ 30.000,00, o valor final
do contrato ficaria em R$ 240.000,00 (20% de aumento no valor original do
contrato). Observe que, ainda assim, ele estaria cometendo uma irregularidade,
pois, como estudamos aqui, os limites devem ser calculados de modo separado,
sendo até 25% para acréscimos e até 25% para supressões. Portanto, os 35%
de acréscimo e 15% de supressão, aqui exemplificados, afrontam a lei.

É importante dizer que a jurisprudência do TCU indica o entendimento de que esses limites são aplicáveis
para acréscimos e supressões em caso de alterações qualitativas e quantitativas (vide Acórdão nº
1.826/2016-TCU-Plenário - Rel. Min. Subst. Augusto Sherman Calvacanti).

1.5 LIMITES DE ADITIVOS POR ERROS DE PROJETO

É importante dizer que a Lei nº 8.666/1993 prevê mecanismos em que, caso sejam constatadas falhas de
projeto durante a execução da obra, é possível corrigir o contrato com vistas a sanar esses erros.

Para tanto, o art. 65, inciso I, alínea “a”, da Lei nº 8.666/1993, permite fazer modificações no contrato da
obra decorrentes de alterações de projeto ou nas especificações da obra, para melhor adequação técnica aos
seus objetivos.

Essas alterações se sujeitam aos mesmos limites de 25% para o caso de construções, e de 50% para o caso
de reformas.

No caso específico de empreitadas por preço global, o Decreto nº 7.983/2013 exige que os aditivos
contratuais relacionados à correção de eventuais erros, falhas ou omissões do projeto, do orçamento, das
especificações, dos memoriais ou dos estudos técnicos não podem ultrapassar, no seu conjunto, 10% do
valor total do contrato. Trata-se, portanto, de um percentual menor.

É importante dizer que esse percentual menor, para aditivos relacionados a erros de projeto em contratos
de empreitada por preço global, deve ser também computado para a verificação se os limites de 25%
(construção) ou 50% (reforma), previstos na Lei nº 8.666/1993, foram respeitados.

Vale dizer que o Decreto nº 7.983/2013 coloca que todas as alterações contratuais decorrentes de falhas
ou omissões não podem ultrapassar, no seu conjunto, 10% do valor total da obra. Isso significa que, na

14
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 4

análise do aditivo, deverá ser verificado, além do atendimento aos limites previstos na Lei nº 8.666/1993, se
o conjunto das modificações não supera 10% do valor total do contrato.

Nesse contexto, o total de acréscimos contratuais referentes a falhas ou omissões de projeto, em casos de
obras executadas em regime de empreitada por preço global, não poderá, ao final do contrato, ser maior do
que 10% do valor originalmente contratado.

EXEMPLO PRÁTICO:

Em uma obra cujo contrato foi firmado em regime de empreitada por preço global e na
qual alguns erros de projeto importaram num aditivo de acréscimo de 9% do valor total
original do empreendimento, o contrato poderá sofrer outros acréscimos, decorrentes
de outras causas que não aquelas relacionadas a erros de projeto, de até 16% do valor
total original, se construção; ou de até 41%, se reforma. Ou seja, o aditivo de 9% não
deve ser excluído do cálculo de verificação de respeito ao limite da Lei nº 8.666/1993.

Os motivos pelos quais a empreitada por preço global deve ter limites mais rígidos de alteração contratual
relacionada a erros de projetos são:

a. em empreitadas por preço global, o risco da empresa contratada é maior do que em empreitadas por
preço unitário;

b. a legislação exige que, em empreitadas por preço global, o projeto e as informações técnicas da
obra devem ser ainda mais detalhados e bem elaborados, conforme se depreende do art. 47 da Lei
nº 8.666/1993 e do Acórdão nº 1977/2013-TCU-Plenário.

1.6 EXCEÇÕES PREVISTAS NA DECISÃO Nº 215/1999-TCU-PLENÁRIO

Em relação aos limites para alterações contratuais, o TCU tem um importante precedente no qual foi
permitido que um contrato de obra extrapolasse os limites de 25% para aditivo contratual.

Trata-se da Decisão nº 215/1999-TCU-Plenário. Nesse julgamento, o Tribunal estipulou que, em casos


excepcionalíssimos e extraordinários, mediante algumas condições e hipóteses, é possível celebrar aditivos
que extrapolem esse limite.

As seis condições, nas quais o TCU deliberou que uma obra pode ter aditivo que supere o limite de
modificação contratual, são as seguintes:

I não acarretar para a Administração encargos contratuais superiores aos


oriundos de uma eventual rescisão contratual por razões de interesse público,
acrescidos aos custos da elaboração de um novo procedimento licitatório;

II não possibilitar a inexecução contratual, à vista do nível de capacidade técnica e


econômico-financeira do contratado, ou seja, a contratada deve possuir qualificação
técnica e econômico-financeira suficiente para a continuidade do objeto;

15
ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO

III decorrer de fatos supervenientes que impliquem dificuldades não


previstas ou imprevisíveis por ocasião da contratação inicial;

IV não ocasionar a transfiguração do objeto originalmente contratado


em outro de natureza e propósito diversos;

V ser necessárias à completa execução do objeto original do contrato, à otimização do


cronograma de execução e à antecipação dos benefícios sociais e econômicos decorrentes;

VI demonstrar - na motivação do ato que autorizar o aditamento contratual que extrapole


os limites legais - que as consequências da outra alternativa (rescisão contratual,
seguida de nova licitação e contratação) importam sacrifício insuportável ao interesse
público primário (interesse coletivo) a ser atendido pela obra ou serviço, ou sejam
gravíssimas a esse interesse; inclusive quanto à sua urgência e emergência.

É importante dizer que todas essas seis condições devem ser atendidas ao mesmo tempo.

Observa-se, a partir das seis condições descritas, que caso uma obra tenha necessidade de alterações
contratuais superiores a 25%, a conduta mais indicada pela legislação é a de rescindir o contrato e realizar
novo procedimento licitatório para a conclusão da obra, haja vista que a realização de licitação é a regra legal.

Deve-se considerar, ainda, que contratos com modificações superiores a 25% de seu valor podem representar
condição muito diversa daquela que foi objeto do certame original, e possivelmente atrairia propostas mais
vantajosas, caso a licitação para a conclusão do empreendimento fosse refeita.

Entretanto, há situações em que esse caminho (rescisão do contrato acompanhada de nova licitação) resulta
em custos sociais, econômicos e financeiros desarrazoados para a Administração Pública. Também há
contextos em que, associados aos custos financeiros e sociais elevados decorrentes de uma nova licitação, as
necessidades de alterações do contrato foram acarretadas por fator superveniente, imprevisto ou imprevisível.

Além disso, verifica-se a seguinte combinação de fatores: a) o contratado possui capacidade de executar a
parcela do objeto a ser acrescida, embora a habilitação técnica exigida na licitação não tenha previsto esse
objeto maior; b) o aditivo não representa transfiguração do objeto; e c) as alterações são necessárias para a
conclusão do objeto.

Por último, é necessário demonstrar que as consequências da outra alternativa (rescisão contratual, seguida
de nova licitação e contratação) “importam sacrifício insuportável ao interesse público primário (interesse
coletivo) a ser atendido pela obra ou serviço, ou sejam gravíssimas a esse interesse; inclusive quanto à sua
urgência e emergência”.

Em outras palavras, é necessário comprovar que a obra não pode esperar a realização de nova licitação,
sob pena de sacrificar o interesse público primário (interesse coletivo). Vale também esclarecer que a
jurisprudência do TCU considera que há “transfiguração do objeto” quando ocorre modificação relevante
na obra ou desfiguração significativa do projeto original (Acórdão nº 591/2011-TCU-Plenário).

Além do mais, cabe comentar que o Acórdão nº 89/2013-TCU-Plenário (Rel. Min. Valmir Campelo) coloca
que, para fins de enquadramento na hipótese de excepcionalidade prevista na Decisão nº 215/1999-TCU-

16
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 4

Plenário (acréscimos contratuais acima dos limites estabelecidos pela Lei nº 8.666/1993), as alterações
qualitativas não podem decorrer de culpa do contratante, nem da empresa contratada.

EXEMPLO PRÁTICO:

Por exemplo, uma obra de pavimentação de ruas de um município previu, em seu


edital de licitação, que a técnica de pavimentação a ser utilizada seria a de pavimento
flexível (revestimento com capa asfáltica). Entretanto, durante a execução da obra, o
prefeito municipal, com a finalidade de tornar a obra mais durável, decidiu modificar
a técnica de execução para pavimento rígido (pavimento em concreto armado).

Ocorre que, no edital de licitação, foi exigido que as empresas tivessem atestado
de capacidade técnico-operacional referente a obras de pavimento flexível,
comprovando sua experiência nesse tipo de serviço. Por isso, todas as licitantes
ofertaram preços e condições para o objeto de pavimento flexível.

Na nova configuração da obra (pavimento rígido), as exigências do edital de licitação


provavelmente seriam distintas, e outras empresas do mercado poderiam ter se
interessado e apresentado proposta caso soubessem que a obra, na realidade, seria
executada em pavimento rígido. O universo de empresas potencialmente participantes
da licitação seria outro. Ou seja, nesse caso hipotético, houve transfiguração
do objeto, considerando que a técnica de execução da obra mudou de forma
radical, ainda que o resultado esperado (pavimentação da rua) seja o mesmo.

Antes de prosseguirmos, cabe explicar em que consiste a expressão “sacrifício insuportável ao interesse
público primário (interesse coletivo) a ser atendido pela obra ou serviço”. De modo geral, situações que se
enquadram nessa descrição envolvem obras que visam a amparar necessidades urgentes e de primeira
ordem da população local a ser atendida, a exemplo de respostas a desastres naturais.

1.7 MANUTENÇÃO DO DESCONTO CONCEDIDO NA


PROPOSTA VENCEDORA DA LICITAÇÃO

Lembramos que toda licitação tem por objetivo maior selecionar a proposta mais vantajosa para a
Administração, sendo que a proposta vencedora nunca poderá ter preços superiores aos de mercado.

Dessa maneira, além de respeitar os limites percentuais de acréscimos e supressões estabelecidos em lei, o
gestor municipal também deve ter o cuidado de manter as condições iniciais que favorecem a Administração,
de modo que a proposta contratada continue a ser a mais vantajosa e esteja abaixo dos preços de mercado.

As Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO), desde o exercício de 2010 (Lei nº 12.017/2009), vêm trazendo
disposições quanto à manutenção do desconto ao longo de toda a execução do contrato. O Decreto nº

17
ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO

7.983/2013 também dispôs em seu art. 14 que o desconto obtido na proposta da licitação não pode ser
reduzido em desfavor da Administração. Ou seja, o desconto obtido durante a licitação deve ser mantido
em todos os termos aditivos que venham a ser realizados. O objetivo dessa regra é manter o equilíbrio
econômico-financeiro do contrato e evitar que o procedimento licitatório realizado seja descaracterizado,
em desfavor do órgão público.

Nesse ponto, é importante lembrar a importância do desconto concedido no momento das propostas da
licitação. De acordo com o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal de 1988, as condições de preço da
proposta apresentada pelo licitante vencedor devem ser mantidas até o final do contrato, uma vez que a
oferta do licitante, numa licitação competitiva, deve representar a competição do mercado para aquele objeto.

A irregularidade mais frequente relacionada à falta de manutenção do desconto percentual é o chamado


“jogo de planilha”. Essa irregularidade ocorre quando as quantidades dos itens/serviços com maiores
descontos são diminuídas, enquanto as quantidades dos itens/serviços com menores descontos ou com
sobrepreços são acrescidas.

EXEMPLO PRÁTICO: (Adaptado de OLKOWSKI et al. 2019)

Considere que um município elaborou o orçamento base de uma


licitação com base nos custos referenciais do Sinapi.

Depois de vencida a licitação por uma empresa X, o contrato foi celebrado


de acordo com a planilha orçamentária resumida a seguir:

Preço Preço Desconto


Preço total Preço total
unitário da unitário do total /
Serviço Quantidade da Licitação do contrato
licitação/ contrato2 Sobrepreço
/ Sinapi (R$) (R$)
Sinapi1 (R$) (R$) (R$)
Piso
120 30,00 30,00 3.600,00 3.600,00 -
cerâmico
Alvenaria Desconto de
160 40,00 25,00 6.400,00 4.000,00
em tijolo 2.400,00
Parede de
20 10,00 10,00 200,00 200,00 -
gesso
Pintura 180 10,00 10,00 1.800,00 1.800,00 -
Desconto de
TOTAL 12.000,00 9.600,00
2.400,00

Notas:
1 Para a formação do Preço unitário Sinapi ou preço unitário paradigma, deve ser utilizado o
BDI paradigma calculado conforme orientações do Acórdão nº 2622/2013-TCU-Plenário.
2 Para a formação do preço unitário do contrato, deve ser utilizado o custo unitário do contrato
(proposta vencedora da licitação) associado ao BDI indicado pelo licitante vencedor em sua proposta.

18
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 4

Observe que, no momento da licitação, a empresa vencedora deu um desconto global


de R$ 2.000,00 (16,7%), em relação ao orçamento-base da licitação. Esse desconto
foi o que permitiu à empresa vencer o certame e celebrar o contrato da obra.

Imagine agora que, no meio da execução da obra, haja uma


mudança nos projetos, de modo que uma área de 140 m² das
paredes de alvenaria seja substituída por paredes de gesso.

Desse modo, haverá a diminuição da área de parede em alvenaria, de 160 m²


para 20 m², e acréscimo da área de paredes em gesso, de 20 m² para 160 m².

Preço Preço Desconto


Preço total Preço total
unitário da unitário do total /
Serviço Quantidade da Licitação do contrato
licitação/ contrato2 Sobrepreço
/ Sinapi (R$) (R$)
Sinapi1 (R$) (R$) (R$)
Piso
120 30,00 30,00 3.600,00 3.600,00 -
cerâmico
Alvenaria Desconto de
20 40,00 25,00 800,00 500,00
em tijolo 300,00
Parede de
160 10,00 10,00 1.600,00 1.600,00 -
gesso
Pintura 180 10,00 10,00 1.800,00 1.800,00 -
Desconto de
TOTAL 7.800,00 7.500,00
300,00

Perceba como, por meio de uma simples alteração entre serviços de uma obra, sem
que nenhum serviço novo tenha sido acrescentado ao contrato, a obra passou de
um desconto global de R$ 2.000,00 para um desconto global de R$ 300,00.

Se os preços do contrato forem mantidos, o termo aditivo mudaria uma


situação de desconto, em favor da Administração, de 16,7% do orçamento-base
da licitação para um desconto de 2,5% em relação ao mesmo montante.

Essa alteração na situação do desconto global do contrato é chamada de


“jogo de planilha”. É uma irregularidade gravíssima, que pode representar
superfaturamento, caso seja materializado esse aditivo irregular.

O “jogo de planilha” diminui o desconto dado pelo licitante vencedor,


tornando o contrato desvantajoso para a Administração Pública.

Não é por outra razão que a legislação, principalmente o Decreto nº 7.983/2013, prevê que, ao longo da
vigência de um contrato de obras públicas, o desconto percentual original concedido pelo licitante em
relação ao orçamento de referência deve ser mantido ao longo de todos os aditivos contratuais.

19
ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO

A maneira de verificar se o desconto foi mantido ou não envolve a definição de um orçamento de


referência da obra, também chamado de orçamento paradigma. No caso de modificações de quantitativos,
sem acréscimo ou supressão de serviços novos, esse orçamento paradigma pode ser considerado como o
orçamento-base da licitação.

É essencial que o orçamento-base da licitação seja elaborado com fundamento nos preços
de mercado dos serviços extraídos dos sistemas referenciais de preços (Sinapi, Sicro etc.).

Para maiores informações sobre como elaborar um orçamento com base nos
sistemas referenciais de preço, sugerimos que você faça o curso Obras Públicas
de Edificação e Saneamento – Módulo Planejamento, que está disponível on
line na plataforma educacional do ISC/TCU (https://contas.tcu.gov.br/ead/).

Já no caso de acréscimos ou supressões de serviços, o orçamento paradigma para verificar se o desconto foi
mantido necessita ser modificado, de modo a incluir esses serviços novos. Os preços unitários paradigma devem
ser obtidos a partir dos sistemas referenciais de preços (Sinapi, Sicro etc.). É importante que essa verificação seja
feita antes da assinatura do aditivo. Caso os preços propostos pela contratada para os novos serviços modifiquem
o desconto percentual ofertado, deverá ser rejeitado o pleito da empresa e solicitada nova proposta.

O cálculo para verificar se o desconto foi ou não mantido deve ser sempre feito em relação ao valor global, conforme
mostram os Acórdãos nº 1200/2010, 1514/2015, 1302/2015, 467/2015, entre outros, todos do Plenário do TCU.

Se a empresa mantiver seus preços para os novos serviços, de forma que o desconto de sua proposta não possa
ser preservado, a jurisprudência do TCU, notadamente o Acórdão nº 1200/2010-TCU-Plenário, indica que deve
ser inserido no contrato algum tipo de “parcela compensatória negativa”, de modo a manter o desconto global.
Essa parcela funciona como um percentual de abatimento do valor de cada futura medição, ajustando-a de
maneira que o desconto original da proposta seja mantido no valor global contratual pós aditivos.

Esse tema foi consolidado no Acórdão nº 2699/2019-TCU-Plenário.

O Acórdão nº 2440/2014-TCU-Plenário também indica outra possível solução para essa situação,
consubstanciada na inclusão de regra no edital de licitação, que, em caso de aditivos contratuais para a inclusão
de novos serviços, o preço destes últimos deverá ser calculado considerando o custo de referência (oriundo do
sistema referencial) e a taxa de BDI de referência especificada no orçamento-base da licitação, subtraindo-se
desse preço de referência o desconto percentual global ofertado na proposta da empresa contratada.

Nesse caso, dificilmente a empresa contratada terá a possibilidade de incluir serviços com valores que
distorçam o desconto da proposta em prejuízo à Administração.

Se, ainda assim, a empresa não concordar com as regras do edital ou rejeitar a inclusão de parcela
compensatória negativa, deve-se rescindir o contrato e realizar novo procedimento licitatório.

É importante fazer uma última ressalva acerca da manutenção do desconto original oferecido na proposta
pelo licitante vencedor. Em caso de o contrato ter sido firmado pelo regime de empreitada por preço

20
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 4

unitário, o Decreto nº 7.983/2013 traz uma relevante exceção, permitindo que o desconto percentual seja
reduzido em casos excepcionais e justificados.

Essa situação poderá ocorrer em duas hipóteses:

a. Os custos unitários dos aditivos contratuais não poderão ser maiores que os custos unitários do
sistema de referência de preços (Sicro, Sinapi etc.); e

b. A vantagem da proposta vencedora ante a da segunda colocada na licitação deve ser mantida,
considerando os novos serviços e as modificações de quantitativos.

Ou seja, é preciso verificar se os preços dos novos serviços não ultrapassam os preços de referência e se
a proposta vencedora da licitação ainda se mantém vantajosa frente à da licitante segunda colocada. Isso
porque, considerando as modificações de quantitativos no contrato, é possível que a proposta da segunda
colocada possa se tornar mais vantajosa que a da empresa contratada.

EXEMPLO PRÁTICO:

Um município contratou, em regime de empreitada por preço unitário,


uma empresa para construir uma creche em um processo licitatório. A
proposta da empresa vencedora contemplou um desconto de 10% em relação
ao orçamento-base da licitação, enquanto a segunda colocada ofertou um
desconto de 7%, conforme planilha abaixo, onde constam alguns serviços:

Preço Preço Preço


Total Total (1ª Total ((2ª
Item Descrição Und Qtd Unit Unit (1ª Unit (2ª
(orç ref) col) col licit)
(orç ref) col licit) col licit)

Forma em chapa de
4.1.1 madeira compensada m² 393,40 15,00 5.901,00 15,00 5.901,00 11,00 4.327,4
resinada - Pilares

Armação aço CA-


50, Diam. 6,3 (1/4)
á 12,5mm(1/2) –
4.1.2 kg 1.331,40 7,00 9.319,80 7,00 9.319,80 6,80 9.053,52
Fornecimento / corte
(perda de 10%) / dobra /
colocação.

Armação de aço CA-60


Diam. 3,4 a 6,0mm –
4.1.3 (Fornecimento / corte kg 563,10 7,80 4.392,18 7,80 4.392,18 7,50 4.223,25
perda de 10%) / dobra /
colocação.

Concreto Bombeado
fck=25MPa, incluindo
4.1.4 m³ 22,00 350,00 7.700,00 225,85 4.968,70 354,41 7.797,02
preparo, lançamento e
adensamento.

24.581,68 25.401,19
TOTAL 27.312,98
(desc. glob de 10%) (desc. glob de 7%)

21
ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO

Agora, considere que seja necessário modificar os quantitativos desses


serviços, por meio de um aditivo contratual, da seguinte forma:

a. aumento de formas de 393,40 m² para 500 m²; e


b. diminuição de concreto usinado bombeado de 22 m³ para 11 m³.

A nova configuração da planilha de comparação entre as


propostas das licitantes torna-se a seguinte:

Item Descrição Und Qtd Preço Total Preço Total Preço Unit Total (2ª
Unit (orç ref) Unit (1ª (1ª col) (2ª col licit) col licit)
(orç ref) col licit)

4.1.1 Forma em chapa m² 500,00 15,00 7.500,00 15,00 7.500,00 11,00 5.500,00
de madeira
compensada
resinada - Pilares

4.1.2 Armação aço kg 1.331,40 7,00 9.319,80 7,00 9.319,80 6,80 9.053,52
CA-50, Diam. 6,3
(1/4) á 12,5mm(1/2)
–(Fornecimento /
corte perda de 10%)
/ dobra / colocação.

4.1.3 Armação de aço kg 563,10 7,80 4.392,18 7,80 4.392,18 7,50 4.223,25
CA-60 Diam.
3,4 a 6,0mm –
(Fornecimento /
corte perda de 10%)
/ dobra / colocação.

4.1.4 Concreto m³ 11,00 350,00 3.850,00 225,85 2.484,35 354,41 3.898,51


Bombeado
fck=25MPa,
incluindo preparo,
lançamento e
adensamento.

TOTAL 25.061,98 23.696,33 22.675,28 (preço total


da 2ª coloc -mais
vantajoso)

O exemplo hipotético mostra dois fatos interessantes:

a. o desconto global da proposta vencedora foi reduzido


de 10% para aproximadamente 6%; e
b. o preço global da licitante 2ª colocada torna-se mais
vantajoso na nova configuração do contrato.

Portanto, esse seria um caso em que as condições do Decreto nº 7.983/2013 não estão sendo atendidas.
Por isso, esse aditivo não deveria ser assinado, cabendo à Administração incluir parcela compensatória

22
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 4

negativa, ou estipular no edital de licitação regras de cálculo de preços para novos serviços, conforme
dispõem, respectivamente, os Acórdãos nº 1200/2010, 2440/2014 e 2699/2019, todos do Plenário do TCU.
Se, ainda assim, a empresa rejeitar essas soluções, caberá à Administração buscar renegociar, junto ao
contratado, mudanças nos preços unitários, de modo a tornar o aditivo válido.

1.8 ADITIVOS NA LEI DAS ESTATAIS – LEI Nº 13.303/2016

Este curso se dedica igualmente a obras de saneamento, as quais, por vezes, são executadas por empresas
públicas ou sociedades de economia mista concessionárias do serviço de saneamento.

Por isso, é importante trazer, ainda que de forma sintética, as principais mudanças promovidas pela Lei das
Estatais – Lei nº 13.303/2016 nos critérios para celebração de aditivos contratuais. Vale lembrar que a Lei
das Estatais é válida apenas para obras executadas por empresas estatais.

As regras para celebração de aditivos contratuais encontram-se descritas no art. 81 da lei. Um primeiro
ponto de diferença marcante entre aditivos em contratos regidos pela Lei das Estatais e as disposições da
Lei nº 8.666/1993 é que naquela não há previsão explícita de alterações unilaterais no contrato.

De acordo com a Lei das Estatais, os aditivos contratuais devem sempre ser oriundos de acordo entre
as partes. Outra particularidade da Lei das Estatais é que ela não requer que os extratos dos aditivos
contratuais sejam publicados no Diário Oficial (DO) da União, do Estado ou do Município, apenas o extrato
dos editais e dos contratos precisam de publicação no DO.

As hipóteses em que cabem aditivos para os regimes de execução de empreitada por preço global,
empreitada por preço unitário, empreitada integral e contratação semi-integrada são similares às da Lei nº
8.666/1993, a saber:

a. modificação do projeto ou das especificações, para melhor adequação técnica aos seus objetivos;

b. modificação do valor contratual em decorrência de acréscimo ou diminuição quantitativa de seu


objeto, nos limites permitidos pela lei (25% do valor global do contrato para obras, serviços ou compras
e 50% para acréscimos em reformas);

c. substituição da garantia de execução;

d. modificação do regime de execução da obra ou serviço, bem como do modo de fornecimento, em face
de verificação técnica da inaplicabilidade dos termos contratuais originários; ou

e. modificação da forma de pagamento, por imposição de circunstâncias supervenientes, mantido o valor


inicial atualizado, vedada a antecipação do pagamento, com relação ao cronograma financeiro fixado,
sem a correspondente contraprestação de fornecimento de bens ou execução de obra ou serviço.

A Lei das Estatais também prevê que os casos ensejadores de reequilíbrio econômico-financeiro do contrato
devem resultar na celebração de termo aditivo, principalmente na hipótese de ocorrerem:

• fatos imprevisíveis;

23
ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO

• fatos previsíveis, porém, de consequências incalculáveis, retardadores ou impeditivos da execução do


ajustado; ou

• situações de força maior, caso fortuito ou fato do príncipe, configurando álea econômica
extraordinária e extracontratual.

É importante dizer que este último caso de aditivo de reequilíbrio econômico-financeiro deve ser resultado
de fatos que não estejam alocados na matriz de riscos para a empresa, e para os quais a construtora
contratada não haja tido culpa ou participação. Conforme preceitua a lei, devem ser circunstâncias
extraordinárias e extracontratuais.

Essas hipóteses de aditivos da Lei das Estatais não valem para


o regime de execução de Contratação Integrada.

O regime de execução da Contratação Integrada, na Lei das Estatais, possui


hipóteses de aditivos bastante restritas. Vale destacar, ainda, que os riscos
associados à escolha da solução de projeto básico pela contratante deverão
ser alocados, na matriz de riscos, como de sua responsabilidade.

Os limites para aditivos na Lei das Estatais não podem ser superados ou excedidos, exceto no caso de
supressões derivadas de acordo entre contratante e contratado.

Caso haja aditivo para serviços novos, os preços unitários destes deverão ser fixados por acordo entre as
partes, sempre respeitando os limites de modificação do contrato (25% para obras, compras e serviços; e
50% para acréscimos em reformas).

A mencionada lei também prevê que, caso ocorra supressão de serviços no contrato, e a construtora já
tenha comprado e posto na obra os materiais correspondentes à parte suprimida, esses materiais deverão
ser pagos pelos custos de aquisição regularmente comprovados.

Alterações tributárias ou de quaisquer encargos legais sobre o custo dos insumos (materiais, mão de obra
e equipamentos), que tenham ocorrido após a data de apresentação das propostas e que tenham impacto
relevante nos preços contratados, implicam revisão dos preços para mais ou menos, com a necessária
assinatura de aditivo contratual incluindo os novos preços.

Os eventos de reajustamento de preços não requerem assinatura de aditivos, podendo ser assinados simples
apostilamentos ao contrato.

De todo modo, é importante destacar que os aditivos na Lei das Estatais sempre ocorrem por acordo entre
as partes. Não há a possibilidade de aditivos unilaterais como ocorre com a Lei nº 8.666/1993.

Estamos finalizando a primeira parte da nossa aula. Então,


vamos revisar o que aprendemos até aqui?

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 4

• Eventuais modificações nas condições de um contrato de obra pública devem ser


realizadas por meio de termo aditivo ou aditamento contratual. Essas alterações
podem abarcar aspectos qualitativos ou quantitativos, bem como prazo de execução.

• Modificações feitas no projeto e/ou na planilha orçamentária


precisam ser justificadas, de maneira técnica e formal.

• Sempre que houver atraso na execução da obra é necessário identificar quem


deu causa ao atraso. Se foi a Administração Pública, custos adicionais devem
ser avaliados. Se foi a Contratada, é necessário assegurar contraditório e
ampla defesa e devem ser aplicadas as sanções previstas em contrato.

• Pagamento por “química” constitui irregularidade grave.

• Limites legais para alterações contratuais unilaterais: no caso de construções, 25%


para acréscimos e supressões; no caso de reformas, 50% apenas para acréscimos.

• No caso de empreitadas por preço global, os aditivos contratuais


relacionados à correção de eventuais erros, falhas ou omissões do projeto,
do orçamento, das especificações, dos memoriais ou dos estudos técnicos
não podem ultrapassar, no seu conjunto, 10% do valor total do contrato.

• Ao longo da vigência de um contrato de obras públicas, o desconto


percentual original concedido pelo licitante em relação ao orçamento de
referência deve ser mantido ao longo de todos os aditivos contratuais.

• Na hipótese de celebração de aditivos contratuais para a inclusão de novos


serviços, o preço desses serviços deve ser calculado considerando o custo
de referência e a taxa de BDI de referência especificada no orçamento-base
da licitação, subtraindo desse preço de referência a diferença percentual
entre o valor do orçamento-base e o valor global do contrato obtido na
licitação, com vistas a garantir o equilíbrio econômico-financeiro do contrato
e a manutenção do percentual de desconto ofertado pelo contratado;

• Nas situações em que, em virtude do aditivo, houver diminuição do desconto


originalmente concedido, pode-se incluir parcela compensatória negativa como
forma de preservar o desconto ofertado pelo contratado em sua proposta;

• Caso o contratado não esteja de acordo com a inclusão de parcela


compensatória negativa em suas medições, cabe realizar a
rescisão do contrato e novo procedimento licitatório.

• De acordo com a Lei das Estatais, os aditivos contratuais devem sempre


ser oriundos de acordo entre as partes, ou seja, não são permitidas
alterações unilaterais no caso de contratação de empresas estatais.

• Os limites para aditivos na Lei das Estatais não podem ser superados ou excedidos,
exceto no caso de supressões derivadas de acordo entre contratante e contratado.

Na próxima parte desta aula, iremos tratar da conclusão da obra e veremos quais procedimentos e cuidados
são necessários para seu recebimento. Vamos lá!

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ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO

Parte II – Como receber corretamente


o objeto contratado?
Na primeira parte da nossa aula, falamos sobre as modificações contratuais ou os chamados termos aditivos.
Vimos as hipóteses e condições em que eles devem ser celebrados, e ressaltamos os limites determinados
por lei para realizar essas modificações. A partir deste ponto, vamos tratar sobre o recebimento da obra.

2. RECEBIMENTO DO OBJETO
Após a conclusão da obra, a legislação estipula que devem ser iniciados os procedimentos para seu
recebimento. Embora, via de regra, não seja dada muita atenção a essa etapa do contrato, vale destacar que
esses procedimentos são muito importantes, pois o recebimento atesta que a obra foi executada conforme o
previsto no projeto, no contrato e no edital.

O recebimento da obra se desdobra em duas etapas:

a. o recebimento provisório; e

b. o recebimento definitivo.

Veremos mais detalhes sobre cada uma delas a seguir.

2.1 RECEBIMENTO PROVISÓRIO

O recebimento provisório é realizado pelo fiscal do órgão público contratante. Ele deve ocorrer após
comunicação escrita do contratado, informando que a obra foi concluída. Ou seja, é necessário que a
empresa comunique a conclusão da obra por escrito, para que o procedimento de recebimento provisório
possa ser iniciado.

É importante que, após o recebimento provisório, sejam tomadas medidas de início de ocupação ou
operação da obra, com a chegada de mobiliário, equipamentos e servidores para a sua utilização. Caso isso
não seja possível ao longo do período de recebimento provisório, é essencial que sejam tomadas medidas
de vigilância e proteção da obra, a fim de evitar ocorrências de vandalismo ou depredação, de modo que a
obra possa ser conservada e mantida.

Um ponto importante acerca do recebimento provisório é exposto nos Acórdãos nº 1238/2013 e 853/2013,
ambos do Plenário. Nesses julgados, o TCU esclareceu que o fato de haver duas etapas de recebimento: i)
provisório; e ii) definitivo, não torna válida a entrega provisória de obra inconclusa, mas visa a resguardar
a Administração do aparecimento de vícios ocultos.

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 4

Ou seja, não se deve efetuar o recebimento provisório de obra ainda não concluída. O recebimento provisório
somente deve ser realizado quando a execução estiver realmente terminada. O intuito de haver duas etapas
de recebimento é poder verificar se, no período entre os dois recebimentos, não surgem vícios construtivos.

2.2 RECEBIMENTO DEFINITIVO

O recebimento definitivo, por sua vez, é feito por servidor ou comissão de servidores especialmente
designado/designada pela autoridade competente, após ter passado o prazo de observação da obra, e ter
sido realizada vistoria que comprove que a obra está de acordo com o projeto, o contrato e o edital.

Mas, o fiscal da obra e o gestor do contrato podem


participar da comissão de recebimento definitivo?

Essa é uma dúvida recorrente! A Lei nº 8.666/1993 não veda que o fiscal do contrato participe também
dessa etapa, de modo que é possível isso ocorrer. Por outro lado, entende-se como boa prática estipular
algum tipo de segregação de funções entre o fiscal e a comissão de recebimento, isto é, o recebimento
definitivo da obra deve ser efetuado por pessoa(s) que não seja(m) fiscal da obra a ser entregue.

É imprescindível que a comissão de recebimento definitivo efetue uma


vistoria completa e aprofundada, para verificar eventuais falhas de execução.
Caso alguma falha seja identificada, a empresa é obrigada a corrigi-la, com
os próprios recursos, conforme estipula o art. 69 da Lei nº 8.666/1993.

Portanto, os servidores designados para realizar o recebimento definitivo do objeto devem realizar vistoria
e análise detalhada com o intuito de verificar se a obra foi executada conforme o projeto e as especificações
técnicas previstas no contrato, devendo exigir que a empresa refaça serviços que não tenham sido
executados devidamente. Em último caso, a comissão de recebimento definitivo deverá rejeitar, parcial ou
totalmente, o serviço da obra que tenha alguma falha em sua execução.

Por isso, caso sejam detectadas falhas de execução, antes de elaborar e assinar o termo de recebimento
definitivo da obra, a comissão deverá apontar para a empresa quais são os reparos ou serviços necessários.
Somente após comprovação de que todas as falhas foram sanadas, deverá ser assinado termo de
recebimento definitivo da obra por parte dos servidores ou da comissão designada para esse fim e da
empresa contratada.

O recebimento definitivo da obra tem impacto na liberação ou não da garantia contratual. Caso a obra
seja recebida definitivamente, a garantia poderá ser liberada.

Por fim, mesmo após o recebimento definitivo, o autor do projeto e a empresa contratada continuam
responsáveis pela solidez e segurança da obra por um prazo de 5 anos, conforme prevê o Código Civil (art.
618, da Lei nº 10.406/2002).

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Entendidos os procedimentos de recebimento da obra e a necessidade de que a Administração Pública tome


algumas cautelas nessa etapa, passaremos a tratar do as built – importante documentação para a memória
e manutenção da obra, especialmente em obras de saneamento.

3. DOCUMENTAÇÃO “COMO CONSTRUÍDO” (AS BUILT)


As built é uma expressão em inglês que significa “como construído”. Portanto, projeto as built é a
documentação técnica (desenhos, memoriais, especificações etc.) que reflete exatamente o que foi
construído e executado na obra.

A necessidade de elaborar um projeto as built vem do fato de que, durante a execução da obra, nem sempre
todos os detalhes do projeto executivo são seguidos à risca, pois podem ocorrer pequenas alterações, como
por exemplo: no posicionamento das tubulações elétricas e/ou das prumadas de água e esgoto de uma
edificação; ou na utilização de materiais com especificações divergentes das previstas; além de outras.

Tais situações, se não forem registradas, dificultam a manutenção do empreendimento, bem como a
realização de futuras intervenções. Todas essas alterações devem ser documentadas durante a execução
para que, ao final da obra, possa ser elaborado o As Built, que indicará com clareza a solução que foi
construída.

No caso de obras de saneamento básico e drenagem, é fundamental que, após sua execução, seja entregue
o projeto As Built contendo informações precisas a respeito do posicionamento e da profundidade das
redes instaladas sob as vias, bem como a localização exata das válvulas de abertura e fechamento da rede
(quando houver), poços de visita, caixas de passagem e demais elementos acessórios.

Entre outras finalidades, esse projeto deve ser incorporado ao cadastro municipal de interferências. Dessa
maneira, no futuro, antes da execução de novas obras públicas ou privadas na região de implantação da
rede de saneamento ou de drenagem, essa documentação poderá ser consultada, a fim de evitar danos às
redes existentes ou para um adequado planejamento de remanejamento dessas redes.

O registro das alterações dos projetos, incorporando todas as adaptações feitas durante a execução, com
a finalidade de espelhar fielmente o que foi de fato construído, constitui a documentação As Built (“Como
construído”).

Caso nenhuma alteração tenha sido feita em relação ao que consta do projeto executivo, o As Built será o
próprio projeto executivo. Nesse caso, na documentação do projeto executivo, deverá constar, do carimbo
das peças técnicas, a indicação “como construído” e a data atualizada.

De todo modo, o projeto executivo não deve ser confundido com o As Built, pois, como já sabemos, a
documentação As Built registra alterações que possam ter ocorrido durante ou após a execução da obra.

Os registros de todas as alterações são de responsabilidade da Contratada, devendo ser realizados durante
o período da execução da obra e entregues quando do Recebimento Definitivo da Obra. De todo modo, é
importante que a fiscalização do órgão público esteja atenta às modificações que forem sendo feitas, para
garantir que elas sejam registradas no As Built.

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 4

A exigência para a entrega do As Built deve constar do edital de licitação e do contrato. Também deve ser
remunerada na planilha orçamentária.

Cientes da necessidade de se obter, ao final da obra, um registro técnico de todas as modificações


eventualmente realizadas, o que chamamos de documentação as built, ou “como construído”, passaremos
para temas mais afetos à manutenção da obra, a exemplo do manual do usuário.

4. MANUAL DO USUÁRIO
Junto com a documentação, há um documento essencial para a posterior operação da obra, qual seja: o
“manual do usuário” ou “manual do proprietário”.

Após a conclusão da obra, começa uma fase importante – a fase de operação. Nessa fase, deve ser realizada
uma série de procedimentos de manutenção e de conservação da obra.

Em obras particulares, é bastante comum que seja distribuído aos proprietários um “manual do proprietário”
ou um “manual de uso, operação e manutenção da edificação”. Esse documento costuma trazer as principais
informações sobre a obra, em linguagem acessível, de modo que mesmo pessoas sem formação específica
em engenharia consigam gerenciar a construção.

O manual deve trazer a indicação detalhada de marcas, modelos e cores dos materiais utilizados na
obra, o que torna mais fáceis possíveis serviços futuros de reparos e manutenção ou mesmo ampliação
e reforma. Outra informação importante do manual são os procedimentos de limpeza e conservação,
atendendo às indicações dos fabricantes dos materiais, principalmente dos pisos, pintura, revestimentos
e reservatórios de água.

A elaboração e entrega desse manual pode ser prevista no edital de contratação da obra, devendo ser
especificados seus objetivos e parâmetros gerais, e considerados os custos para sua produção.

A NBR 14.037, de março de 1998, estabelece algumas recomendações para a elaboração dos manuais do
proprietário de edificações, fazendo referência aos seguintes tópicos:

a. finalidade do manual;

b. linguagem acessível;

c. ordem lógica das informações;

d. conteúdo mínimo: descrição da edificação, procedimentos de uso, operação, manutenção, emergência,


inspeção técnica e informações sobre responsabilidades e garantias;

e. elaboração e entrega do manual; e

f. atualização de seu conteúdo.

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Na biblioteca virtual deste curso, você vai encontrar o manual do proprietário


fornecido no Programa Minha Casa Minha Vida, a título de exemplo.

Você também pode encontrar esse material no seguinte link: https://www.caixa.


gov.br/Downloads/habitacao-minha-casa-minha-vida/Guia_do_proprietario.pdf

Aprendemos aqui a importância do manual do usuário para a manutenção da obra. Passaremos, em seguida,
a abordar questões afetas a eventuais paralisações da obra, bem como aos procedimentos para sua retomada.

5. PARALISAÇÃO DE OBRA
Um dos principais problemas relativos à execução de uma obra é a sua paralisação. E a primeira coisa que
precisamos ter em mente, quando falamos desse assunto, é que nenhuma obra, seja pública ou privada,
está imune a esse problema.

Isso porque as variáveis são muitas e muitas delas são imprevisíveis, como preço dos insumos, economia
do País, alterações climáticas, saúde econômica da empresa, e motivação dos trabalhadores. A boa notícia é
que, em alguns casos, essas variáveis podem ser mitigadas.

CASO PRÁTICO:

De acordo com auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União, em 2019 (Acórdão
nº 1079/2019-TCU-Plenário), cerca de 14 mil obras financiadas com recursos federais
estavam paralisadas à época. Essas milhares de obras representavam cerca de 37% das
obras iniciadas e não concluídas. Esses dados foram extraídos das seguintes bases de
dados: PAC, Caixa, Dnit, Funasa e MEC.

Até aquele momento, já haviam sido gastos mais de 10 bilhões de reais, que acabaram
não gerando qualquer benefício para a população em termos de funcionalidade da
obra. No total, os contratos das obras paralisadas somavam mais de R$ 144 bilhões.

Quando há paralisação de obras, um dos principais problemas é a necessidade de preservar os serviços


executados. As ações da natureza, como chuva, calor e vento, podem deteriorar os serviços, a depender do
estágio em que eles foram paralisados. Além disso, como já estudamos, existe a necessidade de preservar
a obra contra a ação de vândalos, seja por meio de fechamento do local ou até mesmo de contratação de
equipe de segurança.

Observe que a obra quando parada traz, por si só, aumento dos custos e no valor global da obra, na medida
em que favorece que haja: alta probabilidade de serviços precisarem de refazimento; necessidade de gastos
com segurança; e custos adicionais, relacionados à atualização dos preços contratados.

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 4

Voltando ao nosso caso prático, além do prejuízo econômico, pela falta de injeção do saldo desses contratos,
no valor de mais de R$ 132 bilhões, vale ressaltar os prejuízos sociais advindos da falta de entrega desses
empreendimentos.

Por exemplo, as cerca de 300 creches paralisadas representavam mais de 70 mil vagas que deixaram de
ser disponibilizadas. Podemos citar, ainda: unidades de saúde que poderiam oferecer melhores condições
de atendimento aos doentes; rodovias com melhores condições, evitando acidentes e, até mesmo, mortes no
trânsito; e portos e ferrovias que poderiam colaborar para o aumento da competitividade e a diminuição do
custo brasil.

Com isso, queremos dizer que a conclusão de uma obra pública é um meio para a entrega da política pública
relacionada e para a melhoria na vida das pessoas que ela poderá proporcionar. Por isso, é importante que
encaremos nossas obras como um meio para atingir um objetivo maior.

Conforme já sabemos, a paralisação de obras é uma consequência indesejada causada por vários motivos,
dentre eles, a gestão e a fiscalização deficiente do empreendimento.

Neste tópico, vamos trabalhar com o tema da paralisação de obras sob dois aspectos:

1º) preventivo, que está relacionado à mitigação de riscos, para


evitar que uma obra venha a ser paralisada; e

2º) prospectivo, no sentido de avaliar as providências e possibilidades


existentes para a retomada da obra que se encontra paralisada.

5.1 CAUSAS

Vamos falar, primeiramente, sobre como evitar que essa situação tão indesejada aconteça.

Quais são os principais riscos que os gestores e fiscais


precisam estar atentos de modo a tomar providências para
mitigar a ocorrência de um evento indesejado?

5.1.1. PROJETO DEFICIENTE

De acordo com a mencionada auditoria do TCU, constatou-se que a maior causa de paralisação de obras
está relacionada a deficiências no projeto básico. Isso quer dizer que a realização adequada das atividades
de contratação, desenvolvimento e aprovação dos projetos é de suma importância para que a obra não
venha a ser paralisada.

Quando falamos da contratação do projeto, não podemos pensar que o único objetivo, ou o mais relevante,
seja somente conseguir obter o menor preço possível para a Administração Pública. Com isso, não estamos

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sugerindo ou incentivando a contratação de projetos a qualquer preço. Pelo contrário, realizar uma licitação
competitiva e com economicidade é adequado e regular, mas é essencial que sejam estabelecidos critérios
mínimos e suficientes, capazes de afastar empresas inidôneas ou incapazes de executar o serviço a contento.

O que queremos destacar é que o estabelecimento de critérios objetivos deve ser uma preocupação daqueles
que elaboram editais de licitação para contratar projetos de engenharia. A utilização de julgamento
por técnica e preço é possível de ser utilizada. Mas, recomendamos que sempre sejam formalizadas as
justificativas e as razões que levaram ao estabelecimento dos critérios, pois eles precisam estar relacionados
justamente à qualidade da contratação.

Observe que a própria Lei de Licitações (Lei nº 8.666/1993) recomenda a preferência pela modalidade
concurso, no caso de contratação de serviços técnicos especializados, como a elaboração de projetos. Assim,
vale a pena considerar essa modalidade, por meio da qual uma comissão deve julgar o melhor projeto,
de acordo com critérios pré-estabelecidos, o que contribui muito para a contratação de um produto de
qualidade, em vez de contratar uma empresa que em tese seria capaz de fazer algo de qualidade.

Na etapa de desenvolvimento do projeto, para garantir a sua qualidade, é necessário atentar para a
concessão de um prazo razoável para sua elaboração. De acordo com o triângulo da Gestão de Projetos,
existem três fatores que afetam diretamente a qualidade de seu produto: escopo, tempo e custo.

Figura 01: Triângulo da Gestão de Projetos

Legenda:
Time = Tempo
Cost = Custo
Quality = Qualidade

Fonte: Getty Images

O triângulo acima nos mostra que toda vez que alteramos apenas um dos componentes, a qualidade será
afetada. Por exemplo, quando a Administração Pública lança um edital para contratação de projeto básico
de uma edificação, ela já tem um escopo definido, que é o conjunto de todas as disciplinas que deverão ser
elaboradas. O tempo (prazo de entrega) do produto também já é estabelecido no edital de licitação.

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 4

Assim, existe um custo adequado para se fazer o projeto com o escopo e o tempo dados. Quando se reduz
muito esse componente, a qualidade certamente será afetada.

Também, pode acontecer de uma empresa projetista ter sido contratada por um valor justo (custo), de
acordo com o escopo previsto. Mas, o tempo estimado ser indevido, por ser muito curto, por exemplo, o que
impactará diretamente na qualidade do projeto, conforme se pode notar no triângulo da gestão.

Dessa maneira, convidamos você a buscar sempre a qualidade, por meio do estabelecimento correto de
tempo, escopo e custo, a fim de obter bons projetos.

5.1.2. NÃO APLICAÇÃO DA CONTRAPARTIDA

Outra grande causa, registrada por gestores, diz respeito à ausência de aplicação dos recursos da
contrapartida no convênio.

Relembrando, a contrapartida é a parcela do convênio de responsabilidade do convenente. Mesmo sendo


de percentual bastante inferior ao da União, quando os recursos pactuados da contrapartida não são
aplicados, há grandes chances de a obra ser paralisada pela falta de pagamento, uma vez que a União não
arca com esta parcela, no caso de o convenente falhar.

Como já aprendemos, não basta apenas fazer a previsão dos recursos na LOA municipal, é necessário que
os recursos financeiros sejam aportados na conta do convênio de acordo com o cronograma acordado.

Para um bom andamento da obra, espera-se que tanto o concedente quanto o convenente arquem com
suas obrigações e não deixem faltar ou atrasar os pagamentos pelos serviços executados, a fim de não
gerar a paralisação.

5.1.3. ABANDONO DE EMPRESA

Algo que também ocorre com bastante frequência é o abandono da obra pela empresa contratada, o que
consequentemente gera sua paralisação. Dentre as possíveis causas para essa ocorrência estão os atrasos e,
até mesmo, a falta de pagamentos à empresa, após a execução e medição dos serviços.

Embora haja sistemas de informações que classifiquem essa situação como uma causa, entendemos que o
abandono de empresa é uma consequência e não uma causa. Nesse sentido, é primordial que o gestor e o
fiscal do contrato adotem providências para minimizar essa ocorrência, bem como para não a incentivar.

Por exemplo, conforme já estudamos, em regra, é importante que não sejam antecipados recursos
financeiros antes da execução dos serviços, pois isso pode levar ao abandono da obra por parte da empresa
e, consequentemente, vir a causar danos ao erário.

Também não se deve permitir a alteração do cronograma da obra, de forma que a empresa possa executar
as frentes de serviços mais lucrativas para ela em detrimento daquilo que viria a ser a execução regular
do empreendimento. Isso traria um incentivo velado ao abandono da obra pela empresa, já que a parte
favorável teria sido usufruída e só restaria a parte menos lucrativa ou mais custosa.

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Outro fator que pode levar ao abandono da obra pela empresa é a falta de capacidade econômica que
eventualmente ela pode encontrar para executar um empreendimento de porte mais elevado. Ou seja, a
licitação pode não ter estabelecido critérios adequados de habilitação econômico-financeira, o que, durante
o contrato, pode resultar na falência ou na insuficiência logística e econômica da empresa para tocar a obra.

O gestor e o fiscal devem tomar os devidos cuidados com relação às situações


narradas. Além delas, existem outras causas para paralisação de obra, mas
todas estão relacionadas a esses alertas aqui comentados, especialmente
sobre a necessidade de planejar bem e de tomar cuidado com as situações
que fogem ao rito previsto originalmente no edital de licitação. Essas
quebras nos contratos públicos sem justificativas, em algumas ocasiões,
podem acabar gerando a responsabilização de alguns agentes públicos.

5.2 RETOMADA DA OBRA

Passemos a falar, então, da obra que já se encontra paralisada.

O que fazer nessas ocasiões?

Uma das primeiras e mais urgentes providências a ser adotada é a segurança da obra e a prevenção quanto
à deterioração dos serviços executados.

EXEMPLO PRÁTICO:

Imagine que uma creche esteja sendo construída e sua obra venha a ser paralisada
quando seu avanço físico está em 90%. Resta apenas 10% dos serviços da obra
a serem realizados, o que indica que instalações elétricas, esquadrias, metais e
materiais de acabamento já podem ter sido instalados em sua completude.

Nesse caso, a obra deve ser protegida por tapumes e serviço de vigilância,
que impeçam a entrada de pessoas não autorizadas, as quais podem vir a
danificar os serviços realizados ou furtar materiais já empregados.

Além disso, se houver materiais dispostos no local, eles precisam


ser armazenados adequadamente, para que não sofram
estragos pela ação do clima, como sol, chuva, vento.

Outra ação a ser adotada pelo gestor do contrato da obra é avaliar qual foi o motivo da paralisação. Essa
informação é de extrema relevância tanto para a retomada da obra quanto para não incorrer no mesmo erro.

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 4

De posse do motivo da paralisação, a Administração passará à avaliar se o caso é motivo para rescisão
contratual. Vamos falar um pouco mais sobre rescisão contratual ao final desta aula. Neste momento,
é importante que você saiba apenas que a paralisação das obras pode ser um motivo para rescisão do
contrato, conforme o art. 78 da Lei nº 8.666/1993.

Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato:

[...]

V – a paralisação da obra, do serviço ou do fornecimento, sem justa causa e prévia comunicação à


Administração;

Por outro lado, saiba que a paralisação da obra não gera a obrigação imediata de rescisão do contrato. Então,
essa medida deve ser avaliada, pelo gestor, com cuidado, sob o ponto de vista da viabilidade de retomada
das obras.

Por exemplo, se a obra foi paralisada pelo atraso superior a 90 dias nos pagamentos pelos serviços já
executados, a responsabilidade pela paralisação recai sobre a própria Administração Pública. Nesse caso,
a empresa contratada tem o direto de rescindir o contrato, mas ela pode optar apenas pela suspensão do
cumprimento de suas obrigações, enquanto a situação não for normalizada.

De toda forma, se o contrato chegar a ser rescindido, seja por causa da Administração, seja por culpa da
empresa contratada, os gestores precisam fazer um inventário de todos os serviços executados e de todos
os pagamentos realizados, a fim de levantar a diferença e realizar o acerto de contas.

Nos casos em que o particular contratado der causa à paralisação, deverão ser tomadas providências
para execução da garantia e retenção dos créditos da empresa, que porventura ainda existam, a fim de
resguardar a Administração dos prejuízos a ela causados.

Haverá também a necessidade de aplicar sanções e penalidades, mas abordaremos essa questão em outra aula.

Neste tópico, aprendemos algumas causas que levam à paralisação de obras públicas. Vimos, também,
algumas medidas que podemos adotar para evitar que a paralisação se concretize ou para minimizar suas
consequências, caso ela ocorra. No tópico seguinte, trataremos das lições aprendidas.

6. COLETAR LIÇÕES APRENDIDAS


Todo projeto/obra apresenta erros, acertos e lições a serem aprendidas. A prática de explicitar essas
situações por meio de registros bem estruturados propicia ganhos de conhecimento para o contratante.

Para que isso seja possível, há o momento de registrar as lições aprendidas, que são todos os conhecimentos
adquiridos durante a realização de um projeto ou uma obra. Independentemente do resultado final, é de suma
importância catalogar os pontos positivos e os negativos, em cada etapa vencida ou em cada entrega realizada.

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Uma boa forma de coletar informações sobre as lições aprendidas é reunir as pessoas que participaram
da execução do projeto ou da obra, para que compartilhem as percepções e reflitam sobre o que foi bem-
sucedido e o que precisa ser aperfeiçoado.

Uma maneira simples e estruturada para coletar as lições aprendidas é seguir um modelo constituído pelas
seguintes perguntas:

• Quais expectativas foram cumpridas e quais não foram?

• Em que aspecto o projeto/obra foi bem-sucedido?

• Onde houve falhas e quais foram as consequências?

• Quais situações relevantes aconteceram durante o projeto?

• Por que ocorreram essas situações?

• Quais foram as consequências de cada situação?

• O que é possível fazer para evitar que essas situações se repitam?

Com esse ganho de conhecimento, o órgão tenderá a realizar contratações cada vez melhores e poderá
evitar a recorrência de problemas que estão impactando a adequada entrega das obras.

Agora, que já sabemos a importância de fazer o registro das lições aprendidas, vamos examinar um pouco
mais a questão da rescisão contratual?

7. RESCISÃO DO CONTRATO
Os contratos de obras públicas podem ser rescindidos antes de sua conclusão, embora essa não seja a opção
preferencial. O ideal de um contrato de obra pública, proveniente de um procedimento licitatório regular e
realizado conforme a legislação, é ser executado até o final.

Porém, nem sempre isso é possível, não é mesmo? Em vista dessa possibilidade, a legislação prevê a opção
da rescisão contratual.

7.1 TIPOS

Conforme o art. 79 da Lei nº 8.666/1993, existem três tipos de rescisão de um contrato de obra pública:

a. administrativa – quando a rescisão do contrato é feita por meio de um ato unilateral e escrito da
Administração Pública;

b. consensual ou amigável – quando há acordo entre a Administração e o contratado para a rescisão do


contrato, formalizado por escrito, desde que isso seja conveniente para a Administração; ou

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 4

c. judicial – quando o contrato é rescindido em decorrência de uma ordem ou sentença judicial.

Tanto para a rescisão administrativa quanto para a rescisão amigável, é necessário que haja, previamente,
uma autorização fundamentada por escrito da autoridade do órgão contratante. É necessário que a
autoridade administrativa autorize o início do processo de rescisão, em qualquer uma das vias.

A autoridade competente para essa tarefa deve ser definida no regimento interno ou nos normativos
internos do órgão contratante. Em geral, por se tratar de uma decisão de graves consequências, ela fica a
cargo do secretário municipal ou de outra autoridade de nível hierárquico equivalente.

7.2 HIPÓTESES

A rescisão administrativa é sempre uma medida extrema que deve ser tomada com cautelas. O gestor
deverá avaliar os impactos da rescisão unilateral do contrato, examinando se há outras opções de menor
impacto que atendam ao interesse público.

Entretanto, caso não haja outra alternativa, não se deve ter receio de aplicar a rescisão unilateral do
contrato. Pois, algumas vezes, essa é a única solução para que a obra possa ser concluída adequadamente.

De forma resumida, as hipóteses em que a Administração pode rescindir os contratos unilateralmente


são aquelas que representam o não cumprimento pelo contratado das cláusulas contratuais, especificações,
projetos ou prazo, que causem ou possam causar prejuízos à Administração.

Além disso, dificuldades de operação da empresa, a exemplo de decretação de falência, ou insolvência,


a dissolução da sociedade, a alteração social ou de finalidade que prejudique a execução do contrato, ou
ainda a fusão, incorporação ou cisão não admitidas no edital ou no contrato também são motivos de
rescisão unilateral.

Três importantes hipóteses de rescisão unilateral do contrato são:

a. a paralisação injustificada da obra, sem prévia comunicação à Administração;

b. o atraso injustificado no início da obra; e

c. a subcontratação total ou parcial da obra, ou ainda a associação do contratado com um terceiro, que
não seja admitida no edital ou no contrato.

Nesses casos, a Administração deve executar a garantia contratual, reter os créditos existentes, até o limite
de seus prejuízos, bem como instaurar processo administrativo para aplicação de sanções, a exemplo de
multas ou declaração de inidoneidade.

Entretanto, nem todas as rescisões são causadas por irregularidades do contratado. Há também a
possibilidade de haver rescisão amigável, quando é interesse de ambas as partes e conveniente para a
Administração.

Além disso, é possível que a Administração também dê causa à rescisão do contrato. Por exemplo, quando:

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a. os pagamentos devidos ao contratado atrasarem por mais de 90 (noventa) dias;

b. a Administração ordenar a suspensão da execução do contrato por prazo superior a 120 (cento e
vinte) dias; ou

c. a área destinada à execução da obra não tiver sido liberada pela Administração, exceto em casos
justificados.

Caso a rescisão tenha sido causada pela Administração, caberá a ela efetuar a
liberação das garantias e pagar os serviços efetuados pela empresa até a rescisão.

7.3 FORMALIZAÇÃO DO PROCESSO DE RESCISÃO

Assim como no caso da aplicação de sanções administrativas, antes de realizar a rescisão contratual,
é necessário autuar um processo administrativo, a fim de que os fatos sejam apurados, e para que seja
concedida oportunidade à empresa de manifestar-se e defender-se.

Dessa maneira, em termos práticos, caberá ao fiscal do contrato autuar um novo processo, no qual, em suas
peças iniciais, sejam descritos os fatos que poderiam ensejar a rescisão administrativa ou amigável.

Em seguida, na hipótese de ser uma rescisão administrativa, deve ser enviado ofício à empresa, descrevendo,
resumidamente, as condutas irregulares a ela imputadas, e concedendo-lhe prazo razoável para defesa.

Assim como no caso da aplicação das sanções, é importante que esse ofício seja redigido de forma clara o
suficiente para a compreensão da empresa acerca de quais são os pontos a que ela está sendo chamada a
se manifestar. Também é necessário que sejam fornecidas informações essenciais à contratada, tais como:

a. número do processo;

b. fases processuais seguintes;

c. rito processual (informações acerca de prazos e das eventuais consequências em caso de rejeição das
justificativas da empresa);

d. formas de acessar e obter cópias dos autos;

e. endereço de protocolo para envio da defesa; e

f. outras informações consideradas essenciais para a defesa da empresa.

Recebidas as alegações de defesa da empresa, o gestor do contrato deve examiná-las tecnicamente, à luz
das evidências colhidas no contrato, no edital, no diário de obras e em outros documentos produzidos pela
fiscalização. Caso as alegações da empresa sejam insuficientes, caberá propor à autoridade competente
que rescinda unilateralmente o contrato. Quem pode rescindir unilateralmente o contrato é a mesma
autoridade que possui competência para celebrá-lo.

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Já no caso da rescisão amigável, deverá ser feita uma minuta de acordo, que será proposta à contratada.
É importante que seja feito um encontro de contas das medições pagas e dos serviços efetivamente
executados, verificando se não há algum valor indevidamente pago à empresa.

Se os saldos financeiros do contrato estiverem corretos, a minuta de acordo para rescisão amigável do
contrato deverá ser enviada à empresa, mediante ofício, para posterior assinatura de termo de rescisão
amigável. Nesses casos, o termo de rescisão deverá contemplar alguma cláusula de quitação das obrigações
da Administração Pública em face da empresa contratada.

7.4 CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA

Da mesma forma que ocorre na aplicação de sanções, o princípio do contraditório e da ampla defesa deve
ser observado na rescisão unilateral de contratos de obras públicas.

A forma de respeitar esse princípio consiste no envio de ofício à empresa contratada, chamando-a a se
manifestar e a se defender.

O ofício deve ser bem redigido e bastante claro acerca de qual é a matéria tratada, concedendo prazo para
que a empresa traga suas considerações. Aqui também se aplicam os mesmos princípios e as mesmas regras
do caso de aplicação de sanções, já estudados neste curso.

É importante que o ofício seja enviado com Aviso de Recebimento (AR), conforme já aprendemos também.

Chegamos ao final desta aula. Vamos revisar o que aprendemos nesta segunda parte?

• Após a conclusão da obra, a legislação estipula que devem ser


iniciados os procedimentos para seu recebimento.

• O recebimento provisório é realizado pelo fiscal do órgão público


contratante e deve ocorrer após comunicação escrita do contratado,
informando que a obra foi concluída. Sua finalidade é resguardar
a Administração do aparecimento de vícios ocultos.

• É fundamental que o recebimento provisório da obra não seja feito


antes de sua efetiva conclusão. Também é essencial evitar que a
obra, após concluída, sofra depredação ou vandalismo, devendo
ocorrer o quanto antes a ocupação da obra recém-concluída.

• O recebimento definitivo da obra é feito por servidor/comissão de


servidores especialmente designado pela autoridade competente, e
ocorre após prazo de observação da obra e vistoria que comprove
que a obra está de acordo com o projeto, o contrato e o edital.

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• O projeto as built ou “como construído” é a documentação técnica


(desenhos, memoriais, especificações etc.) que reflete exatamente
o que foi construído e executado na obra. Esse projeto deve ser
incorporado ao cadastro municipal de interferências.

• Particularmente, em obras de saneamento (água, esgoto ou drenagem), a


documentação as built é de suma importância para posterior manutenção e/
ou intervenções de vizinhos ou edificações nas proximidades da obra.

• Caso nenhuma alteração tenha sido feita em relação ao que consta do


projeto executivo, o As Built será o próprio projeto executivo.

• Junto com a documentação As Built deve ser entregue o manual do usuário,


que trará especificação detalhada de marcas, modelos e cores dos materiais
utilizados na obra. É importante haver esse registro arquivado na Prefeitura, de
modo que gestores municipais posteriores tenham conhecimento e informação
suficiente para planejar a manutenção das obras públicas já executadas.

• Estão entre as principais causas de paralisação de obras públicas:


elaboração de projeto básico deficiente, ausência de aplicação dos recursos
da contrapartida, e abandono da obra pela empresa contratada.

• Caso uma obra venha a ser paralisada, cabe à Administração adotar as seguintes
providências: garantir segurança da obra e prevenção quanto à deterioração
dos serviços executados; identificar o motivo da paralisação; avaliar se cabe
rescisão contratual; e se for o caso de rescisão, realizar inventário dos serviços
executados e dos pagamentos realizados, bem como aplicar as sanções cabíveis.

• Ao final de cada projeto/obra, deve-se registrar as lições aprendidas.

• A rescisão contratual deve ser sempre precedida de contraditório e ampla defesa.

• É importante que a empresa contratada seja chamada a se explicar


em relação a potenciais irregularidades que tenha cometido.

• Embora a rescisão unilateral seja um procedimento de alto custo, o que requer


parcimônia em sua utilização, não se deve deixar de aplica-la em caso de
grave descumprimento do contrato por parte da empresa contratada.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estamos concluindo nossa penúltima aula!

Nela, aprendemos inicialmente sobre as modificações de um contrato de obra pública, o que também é
chamado de termo aditivo. Vimos em que situações o contrato deve ser modificado e a maneira como isso
deve ser feito.

É essencial que os aditivos sejam formalizados e justificados tecnicamente. Também observamos que
existem limites definidos em lei para a modificação de um contrato de obra pública. É importante notar que
esses limites visam a evitar a situação de transmutação do objeto do contrato, o que, na prática, significaria
burlar a licitação.

Conhecemos os casos em que eventuais atrasos na obra acarretam aditivos de extensão do prazo da obra.
Nesses casos, o ponto fundamental a ser investigado é a causa do atraso da obra, se ela foi decorrente de
inércia da Administração Pública ou se a culpa é da empresa contratada. Nessa segunda situação, cabe a
aplicação das sanções definidas em contrato e na legislação.

Em seguida, aprendemos os procedimentos de recebimento da obra, tanto o provisório como o definitivo.


Vimos que é importante evitar a situação de recebimento provisório de obra ainda inconclusa. Também
conhecemos a documentação que deve ser fornecida e guardada pela Administração Pública ao término
da obra, a exemplo de manual do usuário e documentação as built. Esses documentos são importantes para
etapas posteriores de operação e manutenção da obra, particularmente em obras de saneamento.

Também aprendemos conceitos e informações sobre a indesejável paralisação da obra. Vimos que
a paralisação pode ter sido motivada por várias causas. As mais comuns são falhas de projeto, falta de
recursos para pagamento de contrapartidas ou abandono de empresa. Aprendemos que, a depender da
causa, as providências a serem tomadas pelo gestor são diferentes visando à retomada da obra.

Por fim, observamos as situações que resultam na rescisão contratual. Conhecemos os tipos de rescisão
– amigável, administrativa e judicial, e observamos em quais situações cada uma delas se aplica.
Aprendemos ainda que, embora a rescisão unilateral de um contrato de obra pública implique alto custo
para a Administração Pública, o que requer parcimônia em sua aplicação, não se deve deixar de rescindir
um contrato caso ocorra grave descumprimento do contrato por parte da empresa contratada.

Na próxima aula, falaremos sobre as sanções administrativas e as prestações de contas. Até lá!

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REFERÊNCIAS

ALTOUNIAN, C. S. Obras Públicas, licitação, contratação, fiscalização e utilização. 3. Ed. Belo Horizonte:
Fórum, 2012.

BAETA, A. P. Curso de Auditoria de Obras Públicas. Tribunal de Contas da União; Brasília: TCU, Instituto
Serzedello Correa, 2011.

BAETA, A. P. Orçamento e controle de preços de obras públicas. São Paulo: Editora Pini, 2012.

BRASIL. Decreto nº 7.983, de 8 de abril de 2013. Estabelece regras e critérios para elaboração do orçamento
de referência de obras e serviços de engenharia, contratados e executados com recursos dos orçamentos
da União, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 abr. 2013. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2013/Decreto/D7983.htm>. Acesso em: 21 set. 2019.

BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal,
institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 22 jun. 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/
L8666compilado.htm>. Acesso em: 21 set. 2019.

BRASIL. Lei nº 12.462, de 4 de agosto de 2011. Institui o Regime Diferenciado de Contratações Públicas
- RDC; altera a Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da
República e dos Ministérios, a legislação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a legislação da
Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero); cria a Secretaria de Aviação Civil, cargos de
Ministro de Estado, cargos em comissão e cargos de Controlador de Tráfego Aéreo; autoriza a contratação
de controladores de tráfego aéreo temporários; altera as Leis nº 11.182/2005, 5.862/1972, 8.399/1992,
11.526/2007, 11.458/2007, e 12.350/2010, e a Medida Provisória nº 2.185-35/2001; e revoga dispositivos da
Lei nº 9.649/1998. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 ago. 2011. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12462.htm>. Acesso em: 21 set. 2019.

BRASIL. Lei nº 13.303, de 30 de junho de 2016. Dispõe sobre o estatuto jurídico da empresa pública, da
sociedade de economia mista e de suas subsidiárias, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1º jul. 2016. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
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BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 4465/2011. Segunda Câmara. Rel. Min. Raimundo
Carreiro.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 591/2011. Plenário. Rel. Min. Augusto Nardes.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 2161/2011. Plenário. Rel. Min. Raimundo Carreiro.

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BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 89/2013. Plenário. Rel. Min. Valmir Campelo.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 2622/2013. Plenário. Rel. Min. Marcos Bemquerer Costa.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 2440/2014. Plenário. Rel. Min. Marcos Bemquerer Costa.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 2053/2015. Plenário. Rel. Min. Benjamin Zymler.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 1826/2016. Plenário. Rel. Min. Augusto Sherman
Cavalcanti.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 1569/2017. Plenário. Rel. Min. Augusto Sherman
Cavalcanti.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 2345/2017. Plenário. Rel. Min. Benjamin Zymler.

CAMPELO, V.; CAVALCANTE, R. J. Obras públicas: comentários à jurisprudência do TCU. 2. Ed. Belo
Horizonte: Fórum, 2013.

OLKOWSKI, G. F. (Coord.) LIMA, B. M. et al. Planejamento da Licitação de Obras Públicas de Edificação e


Saneamento. Belo Horizonte: Fórum, 2019. 247 p.

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