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MANUAL DE PROCEDIMENTO

REEQUILÍBRIO FINANCEIRO DOS CONTRATOS

METODOLOGIA DE REVISÃO DE PREÇOS PARA FINS DE ANÁLISE DA


REPOSIÇÃO DO EQUILÍBRIO FINANCEIRO DOS CONTRATOS DE
EMPREITADA

O aumento dos custos das matérias-primas e logísticos, a crise na energia e a falta


de mão de obra, afetou os valores das empreitadas contratadas pelos Municípios
e outras entidades adjudicantes, cuja composição dos preços (mão-de-obra,
materiais, equipamentos, encargos e outras despesas) pode ter sofrido
alterações de valor para - mais ou para menos - conforme a natureza dos
trabalhos e os itens constantes dos mapas de quantidades dos trabalhos.

O Observatório tem recebido muitas solicitações de Municípios, entidades do


Estado Central e de empresas a solicitar ajuda técnica nesse âmbito, o que nos
levou a contactar especialistas nacionais e internacionais, para se instruir um
Manual que leve à adoção de uma Metodologia para preparação e avaliação
relativamente a pedidos de reequilíbrio financeiro dos seus contratos.

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De facto, já foram apresentados muitos pedidos de reequilíbrio financeiro
(formais e informais) por parte das empresas privadas aos Municípios e outras
entidades adjudicantes, constituindo este Manual - um “mapa metodológico de
procedimento” para as entidades - que rececionaram esses pedidos de
reequilíbrio nas suas empreitadas.

Outro objetivo do Manual é o de padronizar as análises aos pedidos de


reequilíbrio e as soluções a adotar, porque os recursos públicos têm de ser
aplicados de acordo com regras da boa gestão, incrementando mecanismos de
controlo e accountability.

As análises devem assegurar o equilíbrio entre a necessidade de responder às


alterações das circunstâncias e à resolução dos desequilíbrios dos contratos de
forma célere, mas salvaguardando os princípios de transparência, integridade e
responsabilidade inerentes à utilização dos recursos públicos, tentando evitar
riscos acrescidos de desperdícios que podem agravar (ainda mais) a pressão
sofrida nos orçamentos.

Quanto aos pedidos recebidos pelo Observatório para se adotar uma


“metodologia única”, entende-se a sua pertinência, porque - quanto maior for o
número de aderentes ao Manual/Metodologia - possibilita-se uma
uniformização das soluções a adotar, que a todos beneficia.

METODOLOGIA SEQUENCIAL

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A – Regras de apresentação do pedido de reequilíbrio financeiro pela empresa.

Metodologia sugerida:

1 - A responsabilidade da notificação do evento e da preparação do pedido de


reequilíbrio financeiro do contrato é do requerente (empresa), com a
obrigatoriedade de apresentar a respetiva fundamentação jurídica, técnica e
financeira por escrito, a qual deverá comprovar a relação de causalidade entre o
evento extraordinário e imprevisível e o agravamento de encargos,
demonstrando detalhadamente e justificadamente a necessidade do reequilíbrio
requerido.

2 - No pedido de reequilíbrio devem constar os custos unitários que,


comprovadamente, representem ou tenham sofrido impactos exorbitantes no
contrato.

3 - Os itens que não tenham impactos relevantes no contrato não serão objeto
de reequilíbrio.

4 - O pedido de reequilíbrio financeiro não é motivo para a suspensão da


execução do contrato.

5 - A comprovação da necessidade do reajustamento do preço ou o direito a uma


compensação pecuniária resultante do suposto aumento anormal dos custos,
deve ser objeto de demonstração exaustiva, mediante a apresentação das folhas
de cálculo de composição dos preços contratados em todas as componentes, e
deverá incluir um quadro comparativo com o cálculo da revisão de preços
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ordinária (sempre que esteja contratualmente prevista) que permita
compreender os encargos não absorvidos por este mecanismo.

6 - O pedido deve ser acompanhado por um conjunto de informações adicionais,


designadamente quanto à fundamentação das propostas de preço, métodos de
cálculo, variações, demonstrações de impacto reais, descritivos dos métodos
composição, etc…

7 - Sem essa informação, será impossível ao Município estabelecer a regularidade


de um eventual reajustamento e reequilíbrio financeiro, dada a necessidade dos
valores de parâmetro para esse efeito.

B – Resposta do Município /confirmação dos valores

Metodologia sugerida:

1 – Após a receção do pedido de reequilíbrio, é da competência exclusiva do


Município (através dos seus serviços técnicos, equipas de fiscalização ou de
técnicos contratados para o efeito), confirmar os valores peticionados, mediante
uma análise global do contrato, que não é uma avaliação (apenas) estática, mas
sim válida para todo o período do contrato.

2 – O Município deverá confirmar - caso a caso - as mudanças ocorridas no quadro


da estrutura de preços dos fornecimentos e da mão-de-obra, geradas pelas
alterações das circunstâncias, dada a variação “para cima ou para baixo” durante
o “ciclo de vida do contrato”.
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3 – O Município deverá avaliar - caso a caso - o impacto da Revisão de Preços
ordinária, e outros impactos positivos para a empresa, para aferir o impacto real
das alterações de circunstâncias e eventual reposição do equilíbrio financeiro.

4 – O Município vai confirmar se os valores indicados nas folhas de cálculo e os


prazos estão corretos e correspondem aos critérios adequados, mediante a
adoção de critérios objetivos para demonstração da confirmação, ou não, do
desequilíbrio peticionado e do apuramento do valor da pretensão.

C – Divergência ou confirmação dos valores peticionados de reequilíbrio pelas


empresas. Como proceder?

Metodologia sugerida:

Confirmação dos valores pelo Município:


Se a análise do Município confirmar os valores justificados técnica, contratual e
legalmente peticionados pela empresa, ou se a empresa concordar com a análise
objetiva e justificada do Município, formaliza-se o acordo celebrado entre as
Partes, que não pode revestir forma menos solene do que a do contrato, nos
termos da al a) do n.º 1 do artigo 311.º do Código dos Contratos Públicos, o qual
deve ser publicitado pelo Município no portal dos contratos públicos até 5 dias
após a sua concretização (artigo 315.º do CCP).

Não confirmação/desacordo entre as Partes: A divergência pode recair sobre os


valores totais, ou apenas sobre valores parciais:

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1 - Inicia-se um Processo de Mediação entre as Partes sob assistência de um CPAL
- Comité de Prevenção e de Acompanhamento de Litígios.

2 - O CPAL tem por função o acompanhamento e a assistência às Partes para


resolução das divergências/diferendos/litígios, relativos aos valores desse pedido
de reequilíbrio.

3 - Os CPAL são constituídos e operam nos termos previstos pelas Partes, visando
a instituição de um processo justo e equitativo, mas também simplificado de
forma a garantir a necessária celeridade na resolução das
divergências/diferendos/litígios relativos ao valor do pedido do reequilíbrio
através de acordo.

4 - Caso as Partes concordem, podem recorrer aos Regulamento específico dos


CPAL - Comités de Prevenção e de Acompanhamento de Litígios para os
processos de reequilíbrio financeiro dos contratos.

5 - O procedimento de mediação do CPAL termina quando:


➢ Se obtenha acordo entre as Partes;
➢ Se verifique desistência de qualquer das Partes;
➢ O CPAL, fundamentadamente, assim o decida;
➢ Se verifique a impossibilidade de obtenção de acordo;
➢ Se atinja o prazo máximo de duração do procedimento, incluindo
eventuais prorrogações do mesmo.

6 - Em caso de acordo:

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O conteúdo do acordo é fixado pelas Partes e deve ser reduzido a escrito, sendo
assinado pelas Partes e pelo(s) membro(s) do CPAL.

7 - Caso não se alcance um acordo:

Hipótese 1:
➢ Poderá celebrar-se um acordo parcial sobre alguns dos valores
peticionados, resolvendo-se o diferendo;
➢ Quanto aos restantes valores em divergência, serão dirimidos nos
tribunais administrativos ou por arbitragem;

Hipótese 2:
“Desacordo total” - os valores em divergência serão dirimidos nos tribunais
administrativos ou por arbitragem;

8 - Para resolver as divergências das Hipóteses 1 e 2, também se pode recorrer


a uma solução excecional, utilizada noutros países, mas sem tradição em
Portugal, mas dado o período excecionalíssimo que vivemos, poderá constituir
uma solução a ter conta, dadas as constatações das suas mais valias noutras
geografias:

O recurso a um “Árbitro de Obra”, que no final do processo,


fundamentadamente, irá proferir uma sentença final.

Conforme referido, este mecanismo é excecional, dado que existem poucas


pessoas com estas competências em Portugal, mas o Observatório já elaborou
uma lista de “Árbitros de Obra” para o exercício destas funções.
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As soluções apresentadas podem ser incluídas nos novos contratos e nos
aditamentos nos contratos em execução.

D - Apoios que o Observatório pode prestar nas diversas componentes dos


procedimentos de reequilíbrio financeiro dos contratos:

1 - Indicação dos nomes e contactos dos especialistas nas áreas de engenharia,


jurídica e financeira, que nos demonstraram a sua experiência profissional no
âmbito dos reequilíbrios financeiros dos contratos e respetivos contactos;

2 - Esclarecimento de dúvidas aos técnicos dos Municípios e outras entidades


públicas, sobre a metodologia apresentada;

3 – Apoio na nomeação e instalação dos CPAL - Comités de Prevenção e de


Acompanhamento de Litígios;

4 - Indicação de nomes de “Árbitros de Obra” e respetivos contactos;

5 - Sessões públicas de esclarecimento.

Coordenação da elaboração do Manual:


• Dr. Bartolomeu Noronha (Presidente do Conselho Científico do OAL)
• Dra. Rosário Coimbra
• Eng. Hugo Fonseca
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Para mais informações, contactos via telefónica e marcações de reuniões está
disponível o email geral@oal.pt

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