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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

GLADSON SANTOS INGRACINDO

ERROS NA CONCEPÇÃO E DETALHAMENTO EM


ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO E SUAS
CORREÇÕES

São Cristóvão
2009
GLADSON SANTOS INGRACINDO

ERROS NA CONCEPÇÃO E DETALHAMENTO EM


ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO E SUAS
CORREÇÕES

Trabalho Acadêmico Orientado, apresentado à


Universidade Federal de Sergipe – UFS, para
encerramento do componente curricular e conclusão
da Graduação em Engenharia Civil.

ORIENTADOR:
Prof. Esp. Fernando Luiz de Bragança Ferro

São Cristóvão
2009
GLADSON SANTOS INGRACINDO

ERROS NA CONCEPÇÃO E DETALHAMENTO EM


ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO E SUAS CORREÇÕES

Trabalho Acadêmico Orientado, apresentado à


Universidade Federal de Sergipe – UFS, para
encerramento do componente curricular e conclusão
da Graduação em Engenharia Civil..

DATA ____/______/______

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________
Prof. Esp. Fernando Luiz de Bragança Ferro
Universidade Federal de Sergipe - UFS

____________________________________
Prof. Esp. Jorge Roberto Silveira
Universidade Federal de Sergipe - UFS

____________________________________
Prof. Dr. Josafá de Oliveira Filho
Universidade Federal de Sergipe - UFS
Aos meus pais Fátima e João, que não
mediram esforços para a concretização deste
sonho, e a todos aqueles que de uma forma ou
de outra contribuíram para esse momento.
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus, por ter me dado fé, força e coragem para concluir mais
um desafio em minha vida.
Aos meus queridos pais Fátima e João, por todo incentivo, carinho, fé, amizade,
cumplicidade em toda essa trajetória, amo muito vocês. Obrigado pela realização
desse sonho, essa vitória é tão minha quanto de vocês.
Aos meus amigos. Obrigado pela amizade!
Ao meu orientador Prof. Esp. Fernando Luiz de Bragança Ferro, pela compreensão
e ajuda para conclusão deste trabalho.
Aos colegas da G4 ENGENHARIA LTDA e CASANOVA HAB. E
CONSTRUÇÃO LTDA, onde aprendi na prática alguns de muitos ensinamentos
de minha vida acadêmica.
Aos Engenheiros Carlos Alberto dos Santos Araújo e Wellington Fernandes
Meneses, pelas as informações de grande valia para construção deste trabalho.
Enfim, a todos aqueles que contribuíram de alguma forma para minha formação
acadêmica, o meu muito OBRIGADO.
“Há pessoas que transformam o sol
numa simples mancha amarela, mas há
também aquelas que fazem de uma
simples mancha amarela o próprio sol."
Pablo Picasso
RESUMO

Este trabalho aborda, de maneira geral, as várias causas de formação de fissuras nos edifícios:
deflexões de componentes estruturais, atuação de sobrecargas. Tentando analisar os
mecanismos de formação de fissuras, assim como fornecer alguns elementos indispensáveis
para sua previsão. Apresentam-se alguns detalhes visando à prevenção das fissuras, acidentes
estruturais e mostrando alguns métodos empregados na recuperação das edificações com
patologias devido a erros de concepção e detalhamento.
PALAVRAS-CHAVE: Detalhamento, Erros, Fissuras, Recuperação.
.
ABSTRACT

This work addresses, in general, the various causes of formation of cracks in buildings:
deflections of structural components, performance of overload. Trying to analyze the
mechanisms of formation of cracks, as well as provide some elements essential to its forecast.
There are some details to prevent the cracks, structural accidents and showing some methods
used in the rehabilitation of buildings with diseases due to errors in design and detail.
KEYWORDS: Drilldown, Errors, Fissures, Recovery.
LISTA DE QUADROS

1 Classificação das causas dos processos de deterioração das estruturas ........... 25


2 Causas intrínsecas aos processos de deterioração devido a falhas
humanas durante construção ................................................................................ 26
3 Deslocamentos dos pilares em cm ....................................................................... 38
LISTA DE FIGURAS

1 Viga isostática submetida à flexão ....................................................................... 17


2 Fissuração típica em viga subarmada solicitada à flexão..................................... 17
3 Fissuras de flexão em viga de concreto armado descimbrada e
carregada precocemente.......................................................................................... 18
4 Fissura de cisalhamento em viga alta, prevista no projeto como “parede de
vedação”................................................................................................................. .19
5 Prédio de concreto armado...................................................................................20
6 Flechas.................................................................................................................. 21
7 Detalhe da armadura do pendural....................................................................... 22
8 Detalhe pingadeira.............................................................................................. 23
9 Trinca na alvenaria da sala - aptº 103................................................................. 28
10 Trinca na alvenaria da sala - aptº 104............................................................... 29
11 Detalhe da laje nervurada................................................................................. 30
12 Planta-baixa aptºs. 103 e 104 ........................................................................... 30
13 Fôrmas laje L7 ................................................................................................... 31
14 Armação laje L7............................................................................................... .32
15 Armadura detalhada erroneamente .................................................................. 34
16 Esquema da estrutura ....................................................................................... 35
17 Esquema da estrutura ....................................................................................... 36
18 Planta-baixa .......................................................................................................37
19 Esquema geral da estrutura .............................................................................. 41
20 Vista de uma das vigas V103 0u V203 cortada para remoção dos escombros.. 44
21 Vista do pilar P9 e parte da estrutura remanescente ......................................... 45
22 Vista do pilar P4 que também apóia parte da estrutura remanescente ............ 46
23 Vista do pilar P 5 após o desabamento ............................................................. 47
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 13
1.1 Objetivo ...................................................................................................................... 14
1.2 Metodologia ................................................................................................................ 15

2 FISSURAS CAUSADAS PELA ATUAÇÃO DE SOBRECARGAS:


MECANISMOS DE FORMAÇÃO ECONFIGURAÇÕES TIPICAS ........................ 16

3 PATOLOGIAS GERADAS NA ETAPA DE CONCEPÇÃO


DA ESTRUTURA .............................................................................................................. 24

4 TRINCAS EM ALVENARIA DE PRÉDIO RESIDENCIAL........................................ 28


4.1 Introdução ................................................................................................................. 28
4.2 Prováveis causas observadas .................................................................................... 29
4.3 Soluções Propostas .................................................................................................... 34

5 INSTABILIDADE DE PILARES EM UM GALPÃO COMERCIAL........................ 36


5.1 Introdução ................................................................................................................... 36
5.2 Descrição da Estrutura ............................................................................................... 36
5.3 Descrição do Problema .............................................................................................. 37
5.4 Análise da Estrutura ................................................................................................... 38
5.5 Conclusão .................................................................................................................... 38

6 ESTUDO DO CASO PAVILHÃO GAMELEIRA ...................................................... 40


6.1 Introdução ................................................................................................................. 40
6.2 Projeto ........................................................................................................................ 40
6.3 O Acidente ................................................................................................................. 42
6.4 A Vistoria ................................................................................................................... 43
6.5 Análise do projeto ...................................................................................................... 48

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 50


REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 53
2009
É concedida à Universidade Federal de Sergipe permissão para reproduzir cópias desta
monografia e emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e
científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte deste trabalho
acadêmico pode ser reproduzida sem autorização por escrito do autor.

Gladson Santos Ingracindo

Ingracindo, Gladson Santos


Erros na Concepção e Detalhamento de Estruturas de Concreto
Armado e suas Correções/ Gladson Santos Ingracindo.
São Cristóvão – SE, 2008.
53 p.: il.

Trabalho Acadêmico Orientado. Centro de Ciências Exatas e


Tecnologia, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão.

Orientador: Prof. Esp. Fernando Luís de Bragança Ferro

1. Erros na Concepção e Detalhamento de Estruturas de Concreto e


suas Correções. Universidade Federal de Sergipe. Centro de Ciências
Exatas e Tecnologia/Departamento de Engenharia Civil.
II. Título.
13

1 INTRODUÇÃO

Apesar do avanço tecnológico no campo das técnicas e dos materiais de


construção, tem-se observado um grande número de edificações envelhecidas e relativamente
jovens apresentando patologias de toda sorte. O uso inadequado de materiais, aliado à falta de
cuidados na execução e mesmo adaptações quando do seu uso, casos de imperícia, tudo isto
somado à falta de manutenção, tem criado, além de despesas extras as quais consomem
recursos financeiros em reparações que poderiam ser inteiramente evitadas, um novo campo
no aspecto da identificação e conhecimento das anomalias, envolvendo suas origens,
manifestações, conseqüências, mecanismos de ocorrência e degradação das estruturas.
Referindo-se também à concepção e ao projeto estrutural, em termos de segurança,
desempenho ideal e vida útil, tornando-se de fundamental importância.
Segundo Thomaz (2007), a incompatibilidade entre projetos de arquitetura,
estrutura e fundações normalmente conduzem a tensões que sobrepujam a resistência dos
materiais em seções particularmente desfavoráveis, originando problemas de fissuras. No
Brasil é ainda muito comum a falta de diálogo entre os autores dos projetos mencionados e os
fabricantes dos materiais e componentes da construção. Assim, projetam-se fundações sem
levar-se em conta se a estrutura é rígida ou flexível, calculam-se estruturas sem considerarem
os sistemas de vinculação e as propriedades elásticas dos componentes de vedação, projetam-
se vedações e sistemas de piso sem a consideração da ocorrência de recalques diferenciados e
das acomodações da estrutura.
Para RIPPER (1998), a patologia na construção civil pode ser entendida como o
baixo, ou fim, do desempenho da estrutura em si, no que diz respeito à estabilidade, estética,
servicibilidade e, principalmente, durabilidade da mesma com relação às condições a que está
submetida. Segundo HELENE (2002), os fenômenos patológicos geralmente apresentam
manifestações externas característica, a partir da qual se pode deduzir a natureza, a origem e
os mecanismos dos fenômenos envolvidos. Certas manifestações têm maior incidência,
devido à necessidade de cuidados que freqüentemente são ignorados, seja no projeto, na
execução ou até mesmo na utilização. Pode-se dizer que os problemas patológicos de maior
gravidade nas estruturas em concreto armado, notadamente pelo seu evidente risco à
integridade da estrutura, são a corrosão da armadura do concreto, as flechas excessivas das
peças estruturais e as fissuras patológicas nestas.
14

Neste trabalho, faz-se uma análise das patologias ocorridas em estruturas civis e
industriais. Com base em relatórios técnicos de vistorias realizadas, análises de projetos na
concepção e detalhamento foram identificadas as principais patologias ocorridas nessas
edificações. Procurou-se verificar suas causas e estabelecer se elas tiveram origem na fase de
projeto, de execução ou de utilização. Dando ênfase as que tiveram erros na concepção e
detalhamento, projeto.
As patologias podem ter sua origem por falha humana na fase de projeto, na fase
de execução ou na fase de utilização. As patologias quanto a erros na concepção e
detalhamento de estruturas civis e industriais e suas devidas correções são a seguir discutidas.
Como resultado final a monografia acadêmico apresentará os seguintes capítulos:
1.INTRODUÇÃO
2.FISSURAS CAUSADAS PELA ATUAÇÃO DE SOBRECARGAS:
MECANISMOS E CONFIGURAÇÕES TÍPICAS
3.PATOLOGIAS GERADAS NA ETAPA DE CONCEPÇÃO DA
ESTRUTURA
4.TRINCAS EM ALVENARIA DE PRÉDIO RESIDENCIAL
5.INSTABILIDADE DE PILARES DE UM GALPÃO COMERCIAL
6.ESTUDO DO CASO PAVILHÃO GAMELEIRA
7.CONSIDERAÇÕES FINAIS

1.1 Objetivos

Partindo-se do interesse que nos dias de hoje alguns fatores contribuem


decisivamente para aumentar a possibilidade de ocorrência de acidentes estruturais, propõe-se
no presente trabalho os seguintes objetivos:
De forma geral a finalidade deste trabalho é a abordagem de erros quanto à
concepção e detalhamento de estruturas, consequentemente causas patológicas devido aos
mesmos e algumas características presentes intensamente nesses erros, como as fissuras.
De forma específica a abordagem deste trabalho é evitar a repetição de
acidentes que ocorreram no país – em muitos casos com vítimas fatais – no Brasil
esses acidentes a não serem pelos casos noticiados nos meios de comunicação,
poucas pessoas, incluindo profissionais da área, que tem conhecimento destas ocorrências.
Avaliando alguns casos ocorridos e dando soluções para os mesmos.
15

1.2 Metodologia

O presente trabalho foi desenvolvido segundo o enfoque do método de pesquisa,


compreendendo essencialmente o levantamento bibliográfico e/ou documental, como bem
ensinam Souza e Cunha, (2006).
Para a sua construção, foi realizado o levantamento bibliográfico acerca do assunto
em livros, artigos, periódicos e normas, com o fim de dispor dos elementos para a realização
de uma abordagem sobre o conhecimento e à prática quanto a erros de concepção e
detalhamento em estruturas.
16

2 FISSURAS CAUSADAS PELA ATUAÇÃO DE


SOBRECARGAS: MECANISMOS DE FORMAÇÃO
E CONFIGURAÇÕES TÍPICAS

A atuação de sobrecargas pode produzir a fissuração de componentes estruturais,


tais como pilares, vigas e paredes (alvenaria estrutural, paredes portantes). Essas sobrecargas
atuantes podem ter sido consideradas no projeto estrutural, caso em que a falha ocorre da
execução da peça ou do próprio cálculo estrutural, como podem também estar ocorrendo à
solicitação da peça por uma sobrecarga superior á prevista. Há casos em que presenciamos a
atuação de sobrecargas em componentes não-estruturais, ou melhor, sem função estrutural,
geralmente pela deformação da estrutura resistente, componentes estruturais de uma
edificação ou pela sua má utilização. Assim sendo, uma solicitação externa, sobrecarga,
prevista ou não em projeto, pode ser capaz de provocar fissuras, trincas de componentes com
ou sem função estrutural e até mesmo o colapso de edificações (THOMAZ, 2007).
Para os casos comuns de concreto armado, os componentes fletidos são em geral
dimensionados prevendo-se a fissuração do concreto na região tracionada da peça, limitando
essa fissuração a estética, a deformação e a durabilidade da peça e consequentemente da
estrutura. De acordo com a NBR 6118 considera-se que “a solicitação resistente com a qual
haverá uma grande probabilidade de iniciar-se a formação de fissuras normais à armadura
longitudinal poderá ser calculada com as seguintes hipóteses”:
• deformação de ruptura à tração do concreto é igual a 2,7ftk /Ec (ftk = resistência
característica do concreto à tração; Ec = módulo de deformação longitudinal do
concreto à compressão);
• na flexão, o diagrama de tensões de compressão no concreto é triangular
(regime elástico); a tensão na zona tracionada é uniforme e igual à ftk,
multiplicando-se a deformação da ruptura especificada na alínea anterior por
1,5;
• as seções transversais planas permanecem planas;
• deverá ser sempre levado em conta o efeito da retração do concreto. Como
simplificação, nas condições correntes, este efeito pode ser considerado
supondo-se a tensão de tração igual a 0,75 ftk e desprezando-se a armadura.
As fissuras que ocorrem em peças de concreto armado geralmente apresentam
aberturas bastante reduzidas; o cálculo no Estádio III, ruptura, de peças fletidas leva em conta
17

o aparecimento dessas fissuras. Segundo NORONHA ed. (1980), várias são as formas dessas
manifestações; a seguir serão analisados alguns casos típicos:
• Flexão de vigas. Os esforços numa viga isostática submetida à flexão
desenvolvem-se conforme o esquema a seguir:

Figura 1 - Viga isostática submetida à flexão.


- - - - - - - arco de compressão
___________
isostáticas de tração
Fonte: Thomaz (2007).

As fissuras ocorrem perpendicularmente às trajetórias dos esforços principais de


tração. São praticamente verticais no terço médio do vão e apresentam aberturas maiores em
direção à face inferior da viga onde estão tracionadas. Junto aos apoios as fissuras inclinam-se
aproximadamente a 45° com a horizontal, devido à influência de esforços cortantes, ver figura
abaixo. Em vigas altas esta inclinação chega a ser na ordem de 60°. (THOMAZ,..., 2007, p.
50)

Figura 2 – Fissuração típica em viga subarmada solicitada à flexão.


Fonte: Thomaz (2007).

Segundo Thomaz (2007, p. 49) em alguns casos as fissuras imperceptíveis a olho


nu, existentes na parte inferior de uma viga, ou melhor, na parte tracionada de uma viga
fletida. Podem até mesmo ser fotografadas à distância, sendo tais situações anormais,
causadas mais freqüentemente por falhas na construção da viga, erro de bitola, no número de
18

barras de aço, mau uso da obra, aplicação de sobrecarga não prevista em projeto,
descimbramento, retirada do escoramento e/ou carregamento precoce da estrutura.

Figura 3 - Fissuras de flexão em viga de concreto armado descimbrada e carregada precocemente.


Fonte: Thomaz (2007).

A próxima figura exemplifica fissuras causadas por erros de concepção estrutural,


o comportamento real da estrutura difere daquele idealizado no projeto. No qual numa
estrutura “pilar-laje” foram projetadas para as fachadas, paredes de vedação de 7 cm de
espessura em concreto armado, com armaduras ancoradas nas lajes. Como as lajes não foram
devidamente “avisadas” de que não poderiam descarregar suas cargas nas “paredes de
vedação”, estas acabaram na realidade trabalhando como vigas altas sem que estivessem
dimensionadas para essa situação (THOMAZ ..., 2007, p. 51 e 52)
19

Figura 4 - Fissura de cisalhamento em viga alta, prevista no projeto como “parede de vedação”.
Fonte: Thomaz (2007).

ESTUDO DE CASO:

ESTRUTURAS: Prédios de concreto armado.


OBSERVAÇÃO: Fissuras na interface das alvenarias com as vigas.
CAUSAS:
• Com o uso de concretos com resistências mais altas, fck ≥ 35 MPa, os vãos das
vigas se tornam cada vez maiores (THOMAZ ..., 2008, p. 1).
• Vãos maiores que 5m são usuais atualmente, o que não ocorria com concretos de
fck = 20 MPa (THOMAZ ..., 2008, p. 1).
• A conseqüência imediata é o surgimento, nas vigas, de grandes flechas imediatas
e lentas, pois o módulo de elasticidade do concreto não aumenta na mesma proporção que a
resistência à compressão (THOMAZ ..., 2008, p. 1).
• Daí resulta o surgimento de grandes fissuras nas alvenarias, principalmente no
último pavimento, pois a cobertura tem menos carga de paredes e se deforma menos. Nos
andares intermediários também surgem grande fissuras devidas às diferenças de sobrecarga
nos diversos pisos (THOMAZ ..., 2008, p. 1).
20

Figura 5 - Prédio de concreto armado


Fonte - Thomaz (2008)

• É difícil evitar essas fissuras nas alvenarias a não ser que sejam usadas vigas com
grande altura e grande rigidez. Nesse caso não se aproveita a boa resistência do concreto à
compressão (THOMAZ..., 2008, p. 1).
• As flechas imediatas devidas à carga permanente não têm tantas conseqüências,
pois os revestimentos da parede, ainda na fase de execução, cobrem as eventuais fissuras entre
as alvenarias e as vigas.As flechas lentas, sim, geram problemas. As flechas causadas pelas
sobrecargas variáveis também (THOMAZ ..., 2008, p. 1).
• As fissuras nas paredes externas dão lugar a grandes infiltrações de água da
chuva, com grandes transtornos para o morador. (THOMAZ, 2008)
• As fissuras nas paredes divisórias, entre dois apartamentos, ou entre duas lojas,
além da sensação de insegurança, geram conflitos. Quem deve reparar os danos (THOMAZ
..., 2008, p. 1).
21

SOLUÇÃO PROPOSTA:
Projetar e executar “pendurais” de concreto armado entre todos os pavimentos, nas
paredes internas e externas, de modo a ter “painéis” de paredes menores que 3m.

Figura 6 - Flechas
Fonte - Thomaz (2008)

Com o projeto de pendurais, as flechas diferenciais entre os pisos desaparecem e


as fissuras não se formam, ou as fissuras que se formam são imperceptíveis (THOMAZ ...,
2008, p. 2).
De acordo com Thomaz (2008, p. 2) as forças normais nos pendurais são
pequenas, pois esses pendurais não se apóiam nas fundações. Alguns pavimentos, mais
carregados, tendem a se deformar mais que os outros. Os pendurais “penduram” as diferenças
das cargas. Como os pendurais ligam todos os pavimentos, surgem pequenas trações ou
pequenas compressões. As dimensões dos pendurais podem ser mínimas:
Exemplo: 15cm x 20cm
Esse tipo de solução estrutural tem sido muito usado nos novos prédios em
concreto armado com grandes vãos, e o resultado é a eliminação das indesejáveis fissuras nas
alvenarias, nas interfaces com as vigas. Com o uso dos programas correntes de análise
estrutural 3D, com modelos globais das edificações, o dimensionamento dos pendurais é
imediato e não há qualquer dúvida quanto ao comportamento dos mesmos. É só carregar
22

aleatoriamente os diferentes pavimentos com suas sobrecargas e obter as forças normais e as


armaduras nos pendurais.
SOLUÇÃO: Segundo Thomaz (2008, p. 3) uma solução possível é a execução de
“pendurais” de concreto armado entre todos os pavimentos.
SUGESTÃO: Detalhe da armadura dos pendurais:
As armaduras tracionadas devem ser dimensionadas e detalhadas prevendo boa
ancoragem das barras (THOMAZ ..., 2008, p. 3).

Figura 7 - Detalhe da armadura do pendural


Fonte - Thomaz (2008)

Segundo Thomaz (2008), esse tipo de “pendural” tem sido usado com bons
resultados pelos engenheiros que usam os programas tipo TQS, Eberick, Cypecad, etc..., nos
projetos das edificações. O eng. Lívio Rios, da TQS ( liviorios@uol.com.br), tem
desenvolvido essa técnica dos “pendurais”, obtendo edificações sem fissuras nas alvenarias.
Também se usa esse tipo de “pendural” em lajes lisas, quando são construídas paredes sobre
essas lajes. Nessas lajes lisas, sem vigas, esse tipo de fissuração é ainda mais freqüente. As
fissuras têm abertura ainda maior do que em estruturas com vigas. Os pequenos painéis de
alvenaria, totalmente emoldurados por vigas, pilares e pendurais, funcionam como
23

enrijecedores da estrutura para esforços horizontais como o vento, embora não se possa
considerar no cálculo das estruturas.

RECOMENDAÇÃO ADICIONAL
Também é aconselhável o uso de pingadeiras nas alvenarias
externas, exatamente na interface alvenaria × viga, como mostrado na figura. Isso evita
infiltrações de água nesses ”pontos fracos” (THOMAZ ..., 2008, p. 4)

Figura 8 - Detalhe pingadeira


Fonte - Thomaz (2008)

COMENTÁRIOS:
É crescente o número de problemas causados por fissuras e mesmo por grandes
trincas nas alvenarias. O uso de um concreto com grande resistência torna as vigas e as lajes
muito deformáveis, pois elas têm menores espessuras. Daí surgirem fissuras nas alvenarias.
Esses problemas devem ser evitados pelo calculista da estrutura, pois cabe a ele o controle da
deformabilidade das vigas e lajes. O uso de “pendurais” é uma boa solução para evitar essas
fissuras nas alvenarias (THOMAZ ..., 2008, p. 4)
24

3 PATOLOGIAS GERADAS NA ETAPA DE CONCEPÇÃO


DA ESTRUTURA

Durante a etapa de concepção da estrutura várias falhas, erros são possíveis de


acontecerem, essas imperícias podem se originar durante o estudo preliminar da estrutura
(lançamento da estrutura), na execução do anteprojeto fase a qual compatibilizaremos o
projeto estrutural com o arquitetônico entre outros, e durante a elaboração do projeto final de
engenharia, ou melhor, dizendo projeto executivo, nessa fase a qual compatibilizaremos o
projeto estrutural com o arquitetônico entre outros (RIPPER..., 2007, p. 24).
Quanto mais cedo uma falha de projeto é detectada menor serão as dificuldades
técnicas e o custo para solucionar o problema patológico originado da mesma. De acordo com
RIPPER (2007), o custo e as dificuldades técnicas para solucionar um problema patológico
são diretamente proporcionais a “antiguidade da falha”.
Segundo RIPPER (2007, p. 26), constata-se que as falhas originadas de um estudo
preliminar deficiente, ou de anteprojetos equivocados, são responsáveis, principalmente, pelo
encarecimento do processo de construção, ou por transtornos relacionados à utilização da
obra, enquanto as falhas geradas durante a realização do projeto final de engenharia
geralmente são as responsáveis pela implantação de problemas patológicos sérios e podem ser
tão diversas como:
• Elementos de projetos inadequados, ou seja, má definição das ações atuantes
ou da combinação mais desfavorável das mesmas, escolha infeliz do modelo analítico,
deficiência no cálculo da estrutura ou na avaliação da resistência do solo, etc.
• Falta de compatibilização entre a estrutura e a arquitetura, bem como os
demais projetos civis;
• Especificação inadequada de materiais;
• Detalhamento insuficiente ou errado;
• Detalhes construtivos inexeqüíveis;
• Falta de padronização das representações (convenções);
• Erros de dimensionamento.
“Ao se analisar uma estrutura de concreto “doente” é absolutamente necessário
entender-se o porquê do surgimento e do desenvolvimento da doença, buscando esclarecer as
25

causas, antes da prescrição e conseqüente aplicação do remédio necessário” (RIPPER, 2007,


p. 24).
Sendo assim é indispensável o conhecimento das origens da deterioração das
estruturas não apenas para que se possa proceder aos reparos exigidos, mas também para se
garantir que, depois de reparada, a estrutura não volte a se deteriorar.
Segundo (Ripper 2007, p. 28), “as causas de deterioração das estruturas
apresentam classificações que por interagirem entre si são apresentadas segundo uma única
abordagem.” (ver Quadro 1)

• Causas intrínsecas
• Falhas humanas

(inerentes às estruturas) CAUSAS DOS


PROCESSOS DE • Causas naturais
DETERIORAÇÃO DAS próprias ao material
• Causas extrínsecas
ESTRUTURAS
(externas ao corpo • Ações externas
estrutural)

Quadro 1 - Classificação das causas dos processos de deterioração das estruturas


Fonte: Ripper (2007).

Classificam-se como causas intrínsecas aos processos de deterioração das


estruturas as que são inerentes às próprias estruturas, ou seja, todas as causas que têm sua
origem nos materiais e peças estruturais durante as fases de execução e/ou de utilização das
obras, por falhas humanas tais como a falta de capacitação técnica do pessoal envolvido, por
questões próprias ao material, utilização de materiais de baixa qualidade, causas naturais de
envelhecimento dos materiais componentes das estruturas e por ações externas, tais como
choques, ataques químicos, ataques físicos relativos ao meio ambiente e ataques biológicos,
inclusive acidentes, detalhe a seguir, conforme (Ripper..., 2007, p. 29).
Segundo (Ripper ..., 2007, p. 35) relacionar causas intrínsecas da estrutura com a
sua fase de utilização implica restrição a um único aspecto, a ausência de manutenção, posto
que todos os demais serão fatores extrínsecos. Entendendo-se que interessará a manutenção
programada, ou seja, o conjunto de medidas que vise manter materiais e peças estruturais
atendendo as condições para as quais foram projetadas e construídas.
26

transporte
lançamento
juntas de
DEFICIÊNCIA DE CONCRETAGEM concretagem
adensamento
cura

INADEQUAÇÃO DE ESCORAMENTOS E FORMAS

má interpretação dos
projetos
insuficiência das
armaduras
DEFICIÊNCIAS NAS ARMADURAS
FALHAS mau posicionamento das armaduras
HUMANAS cobrimento de concreto insuficiente
DURANTE A dobramento inadequado das barras
CONSTRUÇÃO deficiência nas
ancoragens
deficiência nas emendas

fck inferior ao especificado


aço diferente do
especificado
UTILIZAÇÃO INCORRETA DE MATERIAIS
solo com características diferentes
DE CONSTRUÇÃO utilização inadequada de
aditivos
dosagem inadequada do
concreto

INEXISTÊNCIA DE CONTROLE DE
QUALIDADE

Quadro 2 – Causas intrínsecas aos processos de deterioração devido a falhas humanas durante construção
Fonte: Ripper (2007).

As causas extrínsecas de deterioração das estruturas são as que independem do


corpo estrutural em si, assim como da composição interna do material, ou de falhas inerentes
ao processo de execução, podendo, de outra forma, ser vistas como os fatores que atacam a
estrutura “de fora para dentro”, durante as faces de concepção ou ao longo da vida útil desta
(Ripper ..., 2007, p. 40), sejam elas:
• Falhas humanas durante a concepção da estrutura, projeto:
• existem, em projeto estrutural, vários pontos de fundamental importância para
o futuro do desempenho da estrutura, cuja não observância implicará certamente, problemas
de relativa gravidade.
• Modelização estrutural inadequada:
• no seu conceito mais amplo, o modelo a ser adotado para uma determinada
construção – preocupação primeira da etapa de concepção – deve considerar o conjunto de
27

condicionantes composto pelas ações, os materiais constituintes, o comportamento da


estrutura, em termos de resistência e de serviço e os critérios de segurança (RIPPER, 2007).
Sendo assim nesse item na fase de elaboração do projeto analisaremos as questões
relativas quanto à segurança, ao comportamento das estruturas e muito particularmente, à
escolha do modelo estrutural a ser adotado o qual melhor interprete uma obra. Segundo
(CUSTÓDIO, 2007), embora este ponto pareça óbvio, não são poucos os problemas
patológicos decorrentes da incorreta observação das condições de equilíbrio e das leis da
estática, que são simplesmente reguladas por:

De acordo com CUSTÓDIO (2007), em termos de esquematização estrutural de


edifícios, um erro bastante comum está na consideração das condições de engastamento, total
ou parcial, das lajes e vigas, questões que podem ser agravadas no caso de edifícios altos ou
com peças de inércia muito diferentes entre si. Para o engastamento parcial de vigas, deve-se
considerar o que recomenda o item 3.2.3 da NBR 6118 para apoios extremos.
28

4 TRINCAS EM ALVENARIA DE PRÉDIO RESIDENCIAL

4.1 Introdução

Conforme (Cunha ..., 2006, p. 31) o prédio, localizado no bairro de Villa Isabel –
Rio de Janeiro é constituído de dois pavimentos de garagem, um pavimento de uso comum e
10 pavimentos-tipo projetados no centro do terreno. Estava em fase de acabamento quando
apresentou trincas inclinadas nas paredes de alvenaria que separavam a sala do quarto, cujas
aberturas evoluíram com o tempo, chegando a atingir cerca de 6 mm (figuras 9 e 10). Dentre
os seis apartamentos existentes em cada pavimento, as trincas observadas surgiram nos quatro
apartamentos que se situavam nas extremidades do prédio. Estas trincas apresentaram maiores
aberturas nas paredes do 1º pavimento-tipo, diminuindo de intensidade à medida que se subia
para os andares mais elevados. No 4º pavimento-tipo, praticamente já não eram observadas.

Figura 9 - Trinca na alvenaria da sala - aptº 103


Fonte: Cunha (2006).
29

Figura 10 - Trinca na alvenaria da sala - aptº 104


Fonte: Cunha (2006).

4.2 Prováveis Causas Observadas

Segundo Cunha (2006, p.31) vistoriada a obra, verificados o projeto estrutural e os


valores da resistência a compressão do concreto, obtidos nos corpos de prova rompidos
durante a execução da estrutura, constatou-se que alguns fatores teriam contribuído para o
aparecimento e evolução das trincas observadas nas paredes, os quais são relatados em
seguida.
Os quatro apartamentos do pavimento-tipo onde as trincas foram observadas são
idênticos, face a dupla simetria do prédio, simetria esta que foi acompanhada pelo projeto de
estrutura. No projeto estrutural foram previstas, dentre outras, quatro lajes nervuradas
armadas nas duas direções com 16 cm de espessura total – sendo os vazios entre as nervuras
preenchidos com tijolos deitados de 10x20x20 cm (ver detalhe no desenho da figura 7)
(CUNHA, 2006).
Conforme (Cunha ..., 2006, p. 32) possuiam estas lajes dimensões em planta de
7,29 m x 8,67 (vãos livres), com uma área portanto de 63, 24 m² cada (laje L7 – figura 13, na
pág.: 31).
30

Figura 11 - Detalhe da laje nervurada


Fonte: Cunha (2006).

Embora estes vão não sejam surpreendentes por sua grandeza, cada uma destas
lajes suportava todas as cargas de um apartamento de sala, dois quartos e demais
dependências, com suas respectivas paredes de alvenaria que dividem os vários cômodos
(figura 12), estando assim sujeita a carregamento de grande intensidade. A maior flecha
observada nestas lajes foi de 4,5 cm, sendo constatadas flechas de menor intensidade nas
demais

Figura 12 - Planta-baixa aptºs. 103 e 104


Fonte: Cunha (2006).
31

Segundo Cunha (2006), dois bordos destas lajes eram de apoio simples e nos
outros dois havia lajes engastadas. O desenho de armação destas lajes previa armadura
negativa de barras de diâmetro 10 mm espaçadas a cada 10 cm ao longo do bordo engastado
mais solicitado, que é realmente, a quantidade necessária pelo cálculo supondo-se a laje com
16 cm de concreto e maciço.
No entanto a planta de fôrma (figura 13) não previa como deveria uma faixa
maciça de laje junto aos apoios considerados engastados e, por falta deste detalhe, durante a
execução da estrutura os tijolos foram colocados em toda área de laje, inclusive nas regiões de
momentos fletores negativos (CUNHA, 2006).

Figura 13 - Fôrmas laje L7


Fonte: Cunha (2006).
32

Figura 14 - Armação laje L7


Fonte: Cunha (2006).

Neste caso, embora a armadura negativa estivesse em quantidade suficiente,


faltava concreto nas fibras inferiores, comprimidas, onde havia nervuras e tijolos comuns,
diminuindo assim a capacidade resistente da laje. Este fato, com certeza, contribuiu para o
aumento das flechas nestas lajes e as conseqüentes trincas nas paredes. Poderia inclusive,
quando do carregamento definitivo do prédio ao final da construção, conduzir a um acidente
mais grave, pois, de acordo com a verificação estrutural efetivada, a seção de engaste
encontrava-se superarmada, passível de ocasionar a ruptura da seção sem aviso. Caso o
engenheiro responsável pela execução tivesse uma maior noção de comportamento estrutural,
poderia ter detectado o problema da falta da faixa maciça de laje junto aos engastes e alertado
a tempo, o que não ocorreu neste caso (CUNHA, 2006).
33

Associado a isto, as paredes divisórias entre as salas e os quartos, nestes


apartamentos, encontravam-se uma situação desfavorável, o que possivelmente também
contribuiu possivelmente para o aparecimento de trincas inclinadas. Estas paredes, com
extensão total cerca de 2 m, tinham em uma das extremidades um pilar (P15), ponto
indeslocável verticalmente. Estando a outra extremidade praticamente no centro da laje, onde
são máximas as flechas, tais deflexões foram excessivas para a rigidez da parede, provocando
o aparecimento de trincas já anteriormente descritas. Este de ser o motivo para as trincas
observadas nas alvenarias de alguns apartamentos do 1º pavimento-tipo, onde as flechas
observadas nas respectivas lajes estavam dentro dos limites máximos preconizados pela NBR-
6118.
O fato descrito no parágrafo anterior, em que são observadas trincas indesejáveis
nas paredes, embora com valores de flechas nas lajes que as apóiam atendendo os limites da
Norma. Não são raros, como seria de se supor, ocorrendo com alguma freqüência nas
edificações em geral, especialmente naqueles cujo esquema estrutural escolhido é o de lajes
cogumelo. Isto tem chamado a atenção de alguns engenheiros da área de estruturas, os quais
têm procurado alertar para a necessidade da Norma Brasileira prever limites de flechas e
deflexões mais rígidos quando do projeto de lajes suportando diretamente paredes de
alvenaria (CUNHA e SOUZA, 2006).
Segundo (Cunha ..., 2006, p. 34) quanto maior a magnitude das trincas observadas
nas paredes do 1º pavimento-tipo, a explicação encontrada seria por conta do pavimento
imediatamente abaixo (pavimento de uso comum) ser desprovido de paredes sob as lajes
críticas, o que ocasionou flechas maiores nestas lajes e, consequentemente, maior abertura nas
trincas. Já nos pavimentos superiores, a presença de paredes de alvenaria sob as lajes
contribuiu para a progressiva diminuição das flechas nestas lajes e, consequentemente, nas
trincas das paredes.
Na figura a seguir, pode-se ainda detectar um erro de detalhamento. Trata-se da
armadura de canto (no lado inferior esquerdo da figura), cuja direção é acertada para a
armadura positiva, porém foi desenhada com convenção de armadura negativa. Na vistoriada
obra, constatou-se que essa armadura não estava no fundo das nervuras (caso estivesse, parte
das barras estariam sem concreto de envolvimento, sob os tijolos). Possivelmente foi colocada
na mesa – na face superior ou inferior e, neste caso, esta armadura negativa não estava
colaborando na resistência da laje (CUNHA, 2006).
34

Figura 15 - Armadura detalhada erroneamente


Fonte: Cunha (2006).

4.3 Soluções Propostas

Tendo em vista o problema de estabilidade existente nas regiões de momento


fletor negativo das lajes, comprometendo a segurança da estrutura, foi recomendada a
elaboração de projeto de reforço da estrutura. Essas poderiam ser:

• inclusão de armaduras “cruzadas” na ponta da laje, para assim então combater


o momento torçor ali exercido, ver detalhamento na figura 16, a seguir:
35

Figura 5 - Esquema da estrutura


Fonte: Cunha (2006).

• preenchimento dos espaços vazios da laje nervurada junto a viga V13, com
material resistente a compressão com o dimensionamento correto para a
mesma, já que os vazios preenchidos com cerâmica, lajota, não resistem à
compressão.
36

5 INSTABILIDADE DE PILARES EM UM GALPÃO


COMERCIAL

5.1 Introdução

Segundo (Souza ..., 2006, p. 37), o caso em questão ocorreu em junho de 1988,
tendo sido constado quando da tentativa da colocação de uma cobertura tipo “roll-on”,
cobertura metálica, em um galpão em construção. A edificação em si é dividida em 3 partes,
sendo que as partes 2 e 3 tem têm 2 pavimentos, e a parte 1 tem apenas o pavimento térreo,
com pé-direito duplo de 6 m e cobertura metálica, tipo “roll-on”. Aqui tratarar-se apenas do
problema ocorrido na parte 1 da edificação, já que o mesmo problema não ocorreu com as
partes 2 e 3, por estarem os pilares contraventados por vigas e lajes.

5.2 Descrição da Estrutura

O esquema geral da estrutura, em corte e em planta, da parte 1 do edifício, está


mostrado nas figuras 17 e 18, respectivamente. Entre vigas ao nível do aterro e a viga de 3,0
m de altura, e entre esta viga de 6,0 m de altura, foi colocada alvenaria, tijolo em pé, foi
empregado também consolo com a finalidade de fazer a ligação viga-pilar (SOUZA, 2006).

Figura 17 - Esquema da estrutura


Fonte: Souza (2006).
37

Figura 186 - Planta-baixa


Fonte: Souza (2006).

5.3 Descrição do Problema

Como já foi dito na introdução, segundo (Souza ..., 2006, p. 37) o problema com a
estrutura só foi notado quando da colocação da cobertura do galpão. O que ocorreu foi que os
pilares P2 a P4 e P27 a P29 sofreram uma rotação, e assim as distâncias entre cada par de
pilares (P1-P26; P2-P27; P3-P28; P4-P29; P5A-P30A) não eram constantes, já que entre os
pilares P1 e P26 e P5A e P30A havia vigas de amarração, e o mesmo não ocorria entre os
outros pares de pilares. Por causa disto, não foi possível a colocação da cobertura.
Os deslocamentos sofridos pelos pilares são mostrados no quadro 3. Neste quadro,
deve-se observar que (SOUZA, 2006):
• como a medida foi tomada com o auxílio de um fio de prumo, considerou-se
como referência o topo da viga superior;
• as medidas foram arredondadas para cm mais próximo.
38

Quadro 3 – Deslocamentos dos pilares em cm


PILAR/posição de
medida Viga superior Viga intermediária Viga inferior
P1 0,0 0,0 0,0
P2 0,0 3,0 6,0
P3 0,0 3,0 8,5
P4 0,0 2,0 6,0
P5A 0,0 0,0 0,0
P26 0,0 0,0 0,0
P27 0,0 4,0 6,0
P28 0,0 5,0 8,0
P29 0,0 2,0 5,0
P30 0,0 0,0 0,0
Fonte: Souza (2006).

5.4 Análise da Estrutura

Seguindo o que foi apresentado acima se supõe as seguintes conclusões (SOUZA,


2006, p. 38):
• a armadura dos pilares não era suficiente, seguindo os preceitos da NBR
6118/82;
• as fundações da estrutura não eram apropriadas ou estavam sub-dimensionadas.
Em virtude disto, houve uma rotação da fundação e consequentemente dos pilares;
• em decorrência da rotação pilar-fundação, a tendência era que o deslocamento
continuasse progredindo, o que, poderia levar os pilares a ruptura. Além disto, para o tipo de
cobertura utilizado, era absolutamente necessário que não só as distâncias entre os pares de
pilares fossem constantes, mas também que a distância entre as vigas superiores não sofresse
qualquer variação.

5.5 Conclusão

• como os pilares estavam com armaduras insuficientes, opta-se por reduzir os


seus carregamentos, aí compreendidos a força normal e momento fletor. Para isto,
39

recomenda-se a utilização de tijolos de concreto celular, de peso específico sensivelmente


inferior ao dos tijolos cerâmicos (Souza ..., 2006, p. 39);
• para corrigir os deslocamentos dos pilares, e impedir a tendência de giro dos
mesmos recomenda-se, reposicionamento dos topos dos pilares, ou seja, aprumá-los, colocá-
los na vertical (Souza ..., 2006, p. 39).
• executar um projeto de reforço criando blocos de concreto ciclópico, usando
matacões ou outros agregados os quais são usados na execução de muros de arrimo. Este
bloco deverá ter dimensões de 1,20 m x 1,20 m x 0,90 m, afastados dos pilares (para fora da
edificação) de 2,5 m, eixo a eixo, e a eles ligados por vigas de equilíbrio, de forma a gerar um
momento fletor igual e em sentido contrário aos que atuava nos pilares. Essa recomendação
também ajudará a corrigir os deslocamentos dos pilares (Souza ..., 2006, p. 39). e ligando-os
por uma viga de equilíbrio, de forma atentar combater o momento fletor gerado pelo erro ou
seja tentar criar um momento fletor igual e em sentido contrário ao que atuava nos pilares.
40

6 ESTUDO DO CASO PAVILHÃO GAMELEIRA

6.1 Introdução

O desastre da Gameleira foi um dos mais espetaculares do Brasil e dos mais


comentados pela imprensa. Falaremos das causas do desastre com imparcialidade, procurando
enfocar principalmente os aspectos estruturais.
O acidente ocorreu dia 4 de Fevereiro de 1971 em Belo Horizonte, durante o
intervalo do almoço, quando a maioria dos operários descansavam no setor livre de
escoramentos, recém removidos. Sessenta e quatro, 64, operários ficaram esmagados sob os
escombros e o acidente levantou as mais discordantes opiniões de técnicos e de leigos
(VASCONCELOS, 1971).
Segundo Dr. Engº Augusto Carlos de Vasconcelos, autor dessa descrição,
juntamente com os professores Milton Vargas e Oscar Costa, esses formaram a comissão
oficial nomeada pelo Instituto de Engenharia de São Paulo com o alvo de esclarecer o
problema, sem vínculos políticos, comerciais ou judiciais. O trabalho da comissão foi um
serviço gratuito oferecido pelos três signatários do laudo, com finalidade única de fornecer
subsídios para os peritos nomeados pelo juiz e eventualmente para a própria Justiça para
poderem julgar o caso sem interferências de pessoas diretas ou indiretamente interessadas

6.2 Projeto

Segundo Custódio (2006, p. 23) a construção destinava-se à exposição de produtos


industrializados e era constituída em planta por uma laje nervurada de 30,5 x 240 m sobre 10
pilares. Ao longo dos 240 m, vigas de 9,80 m de altura formavam a parte visível da estrutura.
Internamente, com pé-direito de 3,50 m existiam duas lajes parciais, abrangendo a largura
total de 30,5 m e na direção longitudinal 40 e 35 m, respectivamente. Na parte superior dessas
lajes, com pé-direito de 2,80 m estava a cobertura constituída por nervuras isoladas de 1,5 m
de altura com o total de 30,5 m. Essa cobertura era constituída de “fiber-glass”, elementos
translúcidos, entre as nervuras, que se estendia pelos 240 m da construção sempre no topo das
vigas perimetrais de 9,80 m.
41

Os 10 pilares, de forma tronco-cônica, serviam de apoio às vigas perimetrais, todas


isostáticas. As vigas da extremidade esquerda (V100 e V200) possuiam 20 m de balanço e um
tramo de 40 m. As duas vigas em continuação (V101 e V102 de um lado, V201 e V202 do
outro) eram simplesmente apoiadas, respectivamente com 30 e 65 m de vão. A construção
terminava com vigas (V103 e V203) com um vão de 65 m seguido de um balanço de 20 m
como as da esquerda. Resultava o comprimento total de 240 m entre as extremidades dos
balanços. As faces de extremidades não eram fechadas, mas eram protegidas da luz excessiva
por grandes lâminas em balanço, que funcionavam como “brise-soleil”, um tipo de “quebra-
sol” (CUSTÓDIO, 2006, p. 25).

Figura 19 - Esquema geral da estrutura


Fonte: Custódio (2006)

Segundo Souza (2006, p. 24) os pilares do térreo, com altura de 3 m, eram livres e
visíveis de qualquer ponto, pois não estavam previstas paredes de fechamento. Havia sido
prevista um tubulão de ar comprimido para cada pilar, pois a natureza do solo assim o
justificava e que transmitia a pressão de 10 Kgf/cm² na camada do solo residual. A
superestrutura foi projetada em concreto aparente, tanto na parte interna como na externa.
42

As vigas longitudinais com 9,80 de altura possuem 40 cm de largura em sua maior


parte. No trecho em que encontra a laje do piso (1,5 m de altura) a largura se torna bem maior,
para o alojamento da armadura longitudinal (CUSTÓDIO, 2006, p. 23).
O projeto constava de 68 pranchas de desenho e 13 folhas manuscritas de cálculo
com poucas informações. Não existia qualquer projeto ou mesmo esquema do cimbramento
ou de sua remoção. O esquema do descimbramento foi fornecido posteriormente pelo
projetista da estrutura, mas não fazia parte do projeto inicial. Previa a retirada das escoras dos
apoios dos vãos (CUSTÓDIO, 2006).

6.3 O Acidente

Segundo Custódio (2006), “já havia sido concluído o descimbramento da estrutura,


faltando apenas os das vigas finais V103 e V203.”
Na ocasião do final do descimbramento, em 4 de fevereiro de 1971, uma surpresa:
houve grande dificuldade na retirada das escoras centrais do cimbre pois elas se achavam
submetidas a enormes esforços de compressão e não haviam sido previstos dispositivos para
alívio de cargas. A justificativa imaginada na época foi a de existência de recalques de apoio
ocorridos nas fundações (que ainda estavam descarregadas!). As escoras foram retiradas na
ordem inversa da usual: dos apoios para o centro. Isto justificava por si só o aperto das
escoras, independentemente da existência ou não de recalques (CUSTÓDIO, 2006).
De acordo com Pimenta da Cunha (2006, p. 24) o engenheiro da empresa
responsável pelas fundações deu por escrito no caderno de obra a informação de que os
cimbres deveriam ser retirados do centro para os apoios. Ainda que pareça incrível, essa
sugestão, que não foi seguida, foi suficiente para incriminá-lo no processo.
O representante da firma projetista fez uma vistoria da obra no dia 4 de fevereiro e
logo depois, julgando não existirem anormalidades, mesmo na presença de fissuras nas vigas
V103 e V203, autorizou o prosseguimento da retirada das escoras, sempre dos apoios para o
vão. Pouco tempo depois ocorreu o desabamento, quando os operários ainda almoçavam sob a
laje (PIMENTA DA CUNHA, 2006).
As fissuras e as flechas não foram consideradas anormais e, mesmo sem uma
análise criteriosa do comportamento da superestrutura, foi autorizado o prosseguimento da
operação de descimbramento. Havia sido pressuposto na idéia de todos que as fissuras eram
decorrentes de recalques, não obstante tratar-se de estrutura isostática. Esses recalques,
medidos e analisados, foram considerados insignificantes (CUSTÓDIO, 2006). Haviam
43

alcançado o valor máximo de em toda a estrutura de 6 cm e na parte a ser descimbrada era


apenas de 2,7 cm. Daí o alívio após a vistoria e a tranqüilidade sobre a continuação do
descimbramento. A estrutura já estava atingindo o estado limite último, independentemente
do recalque, apenas com a atuação do peso próprio do concreto. Mesmo assim predominou a
tranqüilidade na suposição de que as fissuras observadas eram decorrentes de recalques. Os
maiores recalques diferenciais na parte que ruiu, ocorreram entre os pilares P4 e P9, no vão
transversal de 30,5 m (ARAÚJO LIMA, 2006, p. 22).
Segundo Araújo Lima (2006, p. 22) esses recalques atingiram apenas 2,7 cm, ou
seja, 1/1130 do vão. Isto foi considerado insignificante na ocasião, menos da metade do
máximo observado na parte já descimbrada. Este recalque entretanto, posteriormente ao
acidente, foi o suporte para incriminação da firma responsável pelas fundações. Foi motivo
suficiente para o indiciamento do possível culpado pelo acidente, não obstante ter sido
considerado normal no momento crucial de autorizar ou não o prosseguimento da operação de
descimbramento. Naquela ocasião, o recalque nada significava. Depois do acidente, o mesmo
recalque foi considerado a causa de tudo.
“O desabamento das vigas V103 e V203 ocorreu repentinamente, sem qualquer
aviso prévio (PIMENTA DA CUNHA ..., 2006, p. 24).”
“Não houve tempo para a fuga e apenas os que estavam na periferia conseguiram
escapar, com muitos ferimentos. Foi uma verdadeira catástrofe! Nunca se viu nada igual no
Brasil!” (JORNAL “ENGENHARIA E ARQUITETURA”, 1971, ANO III, p. 14)
44

6.4 A Vistoria

Segundo Custódio (2006, p. 25) a vistoria feita pela comissão realizou-se em 11 de


fevereiro de 1972, cerca de um ano após o acidente. A parte remanescente da estrutura havia
sido toda reescorada e os escombros já estavam cortados e acumulados para sua remoção.
Este trabalho havia sido iniciado imediatamente após o desastre na tentativa de encontrar
sobreviventes. Foi possível examinar na seção transversal das vigas principais a disposição da
armadura reunida em feixes de 3 barras, para possibilitar maior facilidade de concretagem.
Essa armadura era constituída de aço torcido de diâmetro de 28 mm.

Figura 20 - Vista de uma das vigas V103 0u V203 cortada para remoção dos escombros. Nota-se que a armadura
de flexão está reunida em feixes de 3 para obtenção de maior facilidade de concretagem
Fonte: Custódio (2006)

Essa armadura era constituída de aço torcido de diâmetro 28 mm


Constatou-se nos topos dos pilares P4-5-9-10 que apoiavam as vigas V103 e V203
as quais ruíram, grande concentração de barras grossas, a nosso ver, causa principal do
acidente. Essas barras, como se pode ver nas fotografias 21 e 22 a seguir, estão praticamente
limpas, sem concreto aderente. Concreto esmigalhado, prendido entre as barras, ainda pode
45

ser visto, mostrado claramente que os dois materiais não tinham condições de um trabalho em
conjunto, premissa fundamental para o funcionamento do “concreto armado” (CUSTÓDIO,
2006).
Segundo Custódio (2006, p. 25) pela fotografia 17 logo a seguir pode-se adivinhar
que a viga que ali se apoiava, V203, foi esmigalhada numa região triangular sobre o apoio, e
desceu quebrando as arestas do pilar. As barras de ligação simplesmente escorregaram sobre o
concreto da viga e voltaram um pouco por recuperação elástica. Na fotografia 20,
anteriormente, nota-se que apenas numa barra um torrão de concreto permaneceu aderente ao
aço.

Figura 21 - Vista do pilar P9 e parte da estrutura remanescente. A V203 que se apoiava neste pilar teve um canto
triangular do apoio esmigalhado e desceu destruindo as arestas de P9. Nota-se que as 100 barras de ligação sem
concreto aderente
Fonte: Custódio (2006)
46

Figura 22 - Vista do pilar P4 que também apóia parte da estrutura remanescente.


Somente uma das 100 barras de ligação possui torrão de concreto aderente. Entre
as demais

De acordo com Custódio ( 2006, p. 27), na verdade existiam 100 barras grossas
dispostas em 10 camadas de 10 num quadriculado regular. Por entre as barras deveriam passar
as barras horizontais que vinham das vigas V103 e V203, que não haviam sido dobradas. Não
sobrava espaço para a entrada de concreto. Além disso, a ausência de ferros de cunhagem do
bloco parcialmente carregado acarretava grandes trações no concreto. Essas trações eram
agravadas pelo efeito térmico no vão de 65 m. Seguindo um raciocínio de que o abaixamento
de temperatura a partir da temperatura sob a qual se processou o endurecimento do concreto
até a temperatura ambiente de uma noite fria pode atingir facilmente 20 °C. A esta variação
correspondente uma deformação imposta de 0,20 mm/m que, 65 m acarreta um deslocamento
global de 13 mm. A força horizontal que corresponde a este efeito é imensa.
O Prof. Jayme Ferreira da Silva Jr. (1971), estimou valores máximos desta força e
encontrou e encontrou uma ação de 960 tf.
Segundo Custódio (2006, p. 26), assumindo que sob a ação de forças tão elevadas,
as fundações dos pilares extremos P5 e P10 deveriam ceder algo, determinou valores mais
realistas desta força, para diversos valores do coeficiente de deformação horizontal do solo.
Chegou a valores da ordem da terça parte, mesmo assim muito elevados. Com fissuração do
concreto essa força ficaria reduzida ainda mais. O remanescente desta força seria suficiente
para “rasgar” o concreto da região de apoio das vigas. Esse concreto ao arrastar a viga sobre o
47

apoio produziu nos ferros de ligação com o pilar o efeito de corte puro. Pela quantidade de
barras, 100, seriam suficientes para resistir a este esforço e isto foi o mal. Se as barras
tivessem cisalhado antes do concreto romper, haveria apenas um deslocamento da viga sobre
o apoio. Entretanto as 100 barras nem chegaram a ser solicitadas pela ação cortante: a ruína
ocorreu antes no concreto cheio de falhas de adensamento. Estranhamente, no vão de 65m que
não ruiu, talvez pela enorme quantidade de fissuras finas, não houve esse tipo de ruína.
Se não tivesse sido colocada nenhuma barra de ligação entre super e meso
estrutura, como se costuma fazer nas pontes, com previsão de apenas um aparelho de apoio de
elastômero cintado, conhecido popularmente como “neoprene”, provavelmente nada teria
acontecido na ocasião do descimbramento. Poderia entretanto acontecer mais tarde, com a
estrutura em serviço, como se verá mais adiante (CUSTÓDIO, 2006).
Os pilares P5 e P10 sofreram com o acidente grandes deslocamentos. Isto pode ser
visto na fotografia 22 onde se vê o P10 deslocado para o lado de P9. Pode-se, portanto
imaginar o valor descomunal da força horizontal aplicada pela viga no pilar em relação a
fundação. Deve ter havido uma separação entre o bloco de fundação e a cabeça do pilar, pois,
segundo os cálculos apresentados, só foram consideradas nas fundações verticais axiais
(CUSTÓDIO, 2006, p. 27)

Figura 23 - Vista do pilar P 5 após o desabamento. Nota-se que a quantidade de barras da viga V103 que
atravessavam o apoio entre os ferros de ligação escondidos no concreto que sobrou da viga. A inclina ção sofrida
pelo pilar é prova do enorme esforço horizontal
Fonte: Custódio (2006)
48

6.5 Análise do projeto

A verificação do projeto revelou um defeito da maior importância nas vigas


principais, considerado causa principal do desabamento: tensões excessivas em serviço no
concreto na região dos apoios em P4-5. Não existia nem concreto nem armadura adequada
para absorver essas tensões (PIMENTA DA CUNHA,..., 2006, p. 30).

Segundo Pimenta da cunha (2006, p. 30) o exame do projeto mostrou uma série
muito grande de falhas de detalhamento e de disposições construtivas que não contribuíram de
maneira significativa para provocar a ruína. Por isso deixam de ser aqui mencionadas. Não se
pode entretanto deixar de mencionar que a armadura de flexão efetivamente colocada era o
dobro da exigida pelo cálculo. Isto ocorreu porque a empresa construtora tendo solicitado a
mudança da armadura de aço CA-25, como havia sido inicialmente projetada a estrutura, para
aço CA-50, assim o fez sem que a projetista tivesse modificado as quantidades.

O exame do estado de fissuração das vigas principais remanescentes, apenas sob


ação do peso próprio só do concreto, evidencia a falta de armadura transversal adequada para
as tensões principais de tração. As fissuras que aparecem próximas aos pilares indicam pela
sua abertura, sua disposição e sua orientação, a aproximação de um estado de ruptura por
cisalhamento nunca se abrem muito antes da ruptura. O que sobreviveu já estava bastante
próximo ao estado limite último, com carregamento inferior ao da carga permanente total
(CUSTÓDIO ..., 2006, p. 27).
Segundo Custódio (2006), as vigas V100 e V200 apresentam um estado de
fissuração em correspondência aos pilares P1 e P6 que deve ter sido idêntico ao que teria
existido nas vigas que ruíram V103 e V203 junto aos pilares P9 e P10. Teria sido fácil
constatar isto antes da retirada final do cimbramento. Explica-se que o desabamento não tenha
iniciado pelas vigas V100 e V200 porque o vão é menor (40 contra 65) para o mesmo em
balanço, e porque o travamento proporcionado pela sobreloja atingiu o vão todo de 40 m.
Não existindo indicações nas folhas de cálculo do projeto apresentado, as flechas
foram calculadas no Estádio 1 com módulo de elasticidade do concreto de 275 tf/cm², das
vigas com vão de 65 m. Os resultados foram comparados com os valores medidos na véspera
do acidente. Os valores calculados foram de 71 mm para as vigas sem balanços (V102 e
V202) e 68 mm para as vigas com balanços (V103 e V203). Os valores medidos foram muito
maiores, indicando a influência importante da fissuração existente: respectivamente 140, 85,
49

125 e 116 mm. Na viga V202, cuja flecha medida foi apenas 85 mm, foi feita depois do
acidente uma nova medida de flecha em 6 de fevereiro de 1971 e o resultado foi de 125 mm.
A flecha aumentou nessa viga de 85 para 125 mm, cerca de 50 % em apenas 3 dias. Isto
mostra a aproximação do estado limite último nessa viga, que foi logo reescorada
(CUSTÓDIO ..., 2006, p. 28).
Segundo Milton Vargas (1971), o recalque diferencial máximo de 2,7 cm entre P4
e P9, valendo 1/1130 do vão de 30,5 m não constituiu causa suficiente para o desabamento.
Assim também o recalque diferencial máximo de 6 cm em toda a estrutura corresponde a
1/500 do vão de 30,5 m e também não é causa para justificar um desabamento, que de fato
não ocorreu entre P2 e P3.
Somente na hipótese de ruptura do solo de fundação dos pilares P5 ou P10 é que as
fundações poderiam ser responsabilizadas pelo desabamento. O exame minucioso do terreno
em volta de P5 ou P10 não revelou o menor sinal de ruptura, quer por afundamento, quer por
deslocamento lateral dos tubulões. A conclusão final é que as fundações não foram,
definitivamente, responsáveis pelo acidente (VASCONCELOS, 1971).
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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em virtude dos fatos mencionados, conclui-se da importância de analisar os


desastres de forma que se tire de maneira racional e coerente algum conhecimento que possa
contribuir com o desenvolvimento da engenharia estrutural.
Segunda Custódio (2006, p. 28) “o progresso resulta muito mais dos erros do que
dos acertos.”
O caso Gameleira como os outros citados nos traz uma série enorme de
ensinamentos que procuramos enumerar:
• A concepção da estrutura é fundamental no projeto;
• É preferível deixar a estrutura solta sobre os apoios e mais livre para a
movimentação do que ligá-la fortemente, restringindo dilatações (CUSTÓDIO, 2006);
• O detalhamento das armaduras é tão importante, ou até mesmo mais importante
do que seu dimensionamento. É preferível alguma escassez de armadura, porém dando
condições ao construtor uma execução perfeita (CUSTÓDIO, 2006);
• A retirada do escoramento, assim como o processo construtivo devem ser
pensados com muito cuidado na fase de projeto. Os desenhos devem conter instruções
indispensáveis para o construtor. Nunca retirar as escoras dos apoios para o vão. A estrutura
deve se deformar aos poucos ao ser descimbrada. Devem ser previstos dispositivos para o
abaixamento gradual das escoras (CUSTÓDIO..., 2006, p. 28);
• Não se deve deixar nada no projeto para ser resolvido no canteiro (CUNHA...,
2006, p. 39);
• O travamento lateral de uma estrutura também faz parte do projeto
(CUSTÓDIO..., 2006, p. 28);
• Não adianta colocar ferro em excesso nos pontos de maiores solicitações e
esquecer as ancoragens, os alojamentos (CUNHA..., 2006, p. 35);
• Flechas excessivas, incluindo as de longo prazo, podem invalidar uma estrutura
pela concentração de tensões nos apoios (CUNHA..., 2006, p. 35);

• As normas devem ser usadas como orientação e fornecimento de limitações


para quem não tem experiência suficiente para julgamento próprio (CUSTÓDIO..., 2006, p.
29);.
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• Em qualquer construção, mesmo com subdivisão de tarefas, deve sempre


existir um responsável técnico pelo conjunto de todos os serviços (CUNHA, 2006).
• Fissuras de cisalhamento nunca abrem excessivamente como as de flexão e
podem levar uma estrutura ao Estado limite último sem aviso prévio (THOMAZ, 2007);
• Vigas simplesmente apoiadas não servem para travamento estrutural (CUNHA,
2006).
• Nem sempre a resistência do concreto, corretamente especificada, é suficiente
como parâmetro de construção. Pode ser feito um concreto de boa resistência que apresente
deformação excessiva ou que não tenha durabilidade. O módulo de elasticidade não aumenta
quase nada nos 5 primeiros dias, ainda que haja resistência (THOMAZ, 2007);
• Nunca confiar cegamente nos resultados do computador. Se os dados de
entrada forem errados (unidades, avaliações, omissões de carregamentos, etc.) os de saída
serão falsos.
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REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas, Projeto de Estruturas de Concreto Armado, Rio


de Janeiro, NBR 6118/2003.

Associação Brasileira de Normas Técnicas, Projeto e execução de Estruturas de Concreto


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Pavilhão Gameleira – PINI, São Paulo, 2006.

DA CUNHA, Albino Joaquim Pimenta – Acidentes Estruturais – Trincas em Alvenaria de


Prédio Residencial – PINI, São Paulo, 2006.

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Universidade de São Paulo, São Paulo, 1982.

Filho, Jasson Rodrigues de Figueiredo & CARVALHO, Roberto Chust – Cálculo e


detalhamento de Estruturas de Concreto Armado – segundo a NBR 6118:2003, São
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SOUZA, V. CUSTÓDIO. – Inspeção, recuperação e reforço de estruturas de concreto – um


caso real, ANAIS 32ª REIBRAC, v.2 , São Paulo 1989.

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