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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

COECI - COORDENAÇÃO DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL


CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

MARIA CAROLINE DALLABRIDA BRUSTOLIN

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO TIPO DE ESTACA NO


DIMENSIONAMENTO DE BLOCOS DE COROAMENTO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

TOLEDO
2016
1

MARIA CAROLINE DALLABRIDA BRUSTOLIN

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO TIPO DE ESTACA NO


DIMENSIONAMENTO DE BLOCOS DE COROAMENTO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel, do curso de Engenharia Civil, da
Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Gustavo Savaris

TOLEDO
2016
2

Ministério da Educação
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Câmpus Toledo
Coordenação do Curso de Engenharia Civil

TERMO DE APROVAÇÃO

Título do Trabalho de Conclusão de Curso de Nº 048

Estudo da influência do tipo de estaca no dimensionamento de


blocos de coroamento

por

Maria Caroline Dallabrida Brustolin

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado às 13:50 h do dia 10 de


Novembro de 2016 como requisito parcial para a obtenção do título Bacharel em
Engenharia Civil. Após deliberação da Banca Examinadora, composta pelos
professores abaixo assinados, o trabalho foi considerado APROVADO.

Prof Dr. Sérgio Antônio Brum Junior Prof Dr. Maurício do Espírito Santo Andrade
(UTFPR – SH) (UTFPR – TD)

Prof Dr. Gustavo Savaris


(UTFPR – TD)
Orientador

Visto da Coordenação
Profª Ma. Silvana da Silva
Coordenador da COECI

A Folha de Aprovação assinada encontra-se na Coordenação do Curso.


3

À minha família, por todo o apoio, incentivo,


carinho e compreensão.
4

RESUMO

A fundação é um dos elementos mais importantes da estrutura de uma


edificação. Uma escolha mal avaliada, mal dimensionada ou mal executada pode
gerar graves danos à construção. Para a determinação do tipo de fundação a ser
utilizada, devem ser conhecidos e analisados diversos parâmetros. De posse de todas
as informações, tecnicamente mais de um tipo de fundação pode atender as
condições exigidas. Quando há a possibilidade de se executar mais de uma
alternativa, o segundo ponto a ser analisado é o fator econômico. A melhor opção de
fundação é sempre a que alia os dois fatores, trazendo o melhor custo-benefício para
a obra. Desta forma, este trabalho teve como objetivos, por meio de um estudo de
caso, analisar dois pontos principais: qual a melhor opção técnica para o perfil
geotécnico e o carregamento em questão; e qual, entre as opções pré-determinadas
no primeiro ponto, se mostra a mais econômica. A fim de atingir o propósito, foram
dimensionadas alternativas de blocos sobre duas estacas utilizando estaca tipo hélice
contínua, metálica e pré-moldada de concreto, estimados os recalques e comparadas
as estimativas de custo para cada uma das opções propostas. Dentre as alternativas
analisadas, a que se apresentou a mais vantajosa dos pontos de vista técnico e
econômico foi a estaca metálica.

Palavras chave: Estacas. Bloco sobre duas estacas. Custo-benefício.


5

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Etapas da execução da estaca tipo hélice contínua monitorada .............. 14


Figura 2 - Seções típicas de estacas metálicas ........................................................ 15
Figura 3 - Seções típicas para estacas pré-moldadas de concreto ........................... 17
Figura 4 - Eficiência de grupos de estacas ............................................................... 26
Figura 5 – Propagação de tensões devido à reação de ponta .................................. 32
Figura 6 – Propagação de tensões devido às cargas laterais ................................... 33
Figura 7 - O problema analisado e suas dimensões e parâmetros ........................... 35
Figura 8 - Fatores para o cálculo de recalque das estacas ....................................... 36
Figura 9 - Fatores de correção para base ou ponta em solo mais rígido: (a) para
L/B=75; (b) para L/B=50; (c) para L/B=25; (d) para L/B=10; (e) para L/B=5 ............. 37
Figura 10 - Dimensões do bloco sobre duas estacas................................................ 40
Figura 11 - Dimensões e forças aplicadas no bloco sobre duas estacas .................. 41
Figura 12 - Execução do ensaio SPT ........................................................................ 46
Figura 13 - Disposição dos furos de sondagem no terreno ....................................... 48
Figura 14 - Dimensões e combinação dos perfis metálicos ...................................... 52
6

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Espessura de sacrifício em função do tipo de solo .................................. 17


Tabela 2 - Coeficiente K e razão de atrito ∝.............................................................. 21
Tabela 3 - Fatores de correlação F1 e F2 ................................................................. 21
Tabela 4 - Fatores de correção F1 e F2 atualizados .................................................. 22
Tabela 5 - Coeficiente característico do solo C ......................................................... 23
Tabela 6 - Valores do fator ∝ em função do tipo de estaca e do tipo de solo ........... 23
Tabela 7 - Valores do fator β em função do tipo de estaca e do tipo de solo ............ 24
Tabela 8 - Valores sugeridos como orientação para cravação.................................. 26
Tabela 9 - Valores limites de NSPT para parada das estacas .................................... 28
Tabela 10 - Parâmetros para dimensionamento de estacas moldadas in loco ......... 38
Tabela 11 - Qadm para estaca tipo hélice contínua monitorada pelo método Aoki-
Velloso ...................................................................................................................... 50
Tabela 12 - Qadm para estaca tipo hélice contínua monitorada pelo método Décourt-
Quaresma.................................................................................................................. 51
Tabela 13 - Dimensões do perfil metálico ................................................................. 52
Tabela 14 - Qadm para estaca metálica pelo método Aoki-Velloso ............................ 52
Tabela 15 - Qadm para estaca metálica pelo método Décourt-Quaresma .................. 53
Tabela 16 - Qadm para estaca pré-moldada de concreto pelo método Aoki-Velloso .. 53
Tabela 17 - Qadm para estaca pré-moldada de concreto pelo método Décourt-
Quaresma.................................................................................................................. 54
Tabela 18 - Valor de nega para satisfazer a capacidade de carga necessária ......... 55
Tabela 19 - Estimativas de recalque para estaca tipo hélice contínua monitorada ... 55
Tabela 20 - Estimativas de recalque para estaca metálica ....................................... 56
Tabela 21 - Tensão atuante e armadura adotada para a estaca tipo hélice contínua
monitorada ................................................................................................................ 56
Tabela 22 - Dimensões e tensões do bloco sobre duas estacas original .................. 57
Tabela 23 - Dimensões e tensões do bloco sobre estacas tipo hélice contínua
monitorada 01 ........................................................................................................... 57
Tabela 24 - Armaduras do bloco sobre estacas tipo hélice contínua monitorada 01 57
Tabela 25 - Dimensões e tensões do bloco sobre estacas tipo hélice contínua
monitorada 02 ........................................................................................................... 58
Tabela 26 - Armaduras do bloco sobre estacas tipo hélice contínua monitorada 02 58
Tabela 27 - Dimensões e tensões do bloco sobre estacas metálicas ....................... 58
Tabela 28 - Armaduras do bloco sobre estacas metálicas ........................................ 59
Tabela 29 - Estimativas de custos para estaca tipo hélice contínua monitorada + bloco
01 .............................................................................................................................. 60
7

Tabela 30 - Estimativas de custos para estaca tipo hélice contínua monitorada + bloco
02 .............................................................................................................................. 61
Tabela 31 - Estimativas de custos para estaca metálica + bloco .............................. 62
8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 10
1.1 JUSTIFICATIVA................................................................................................... 10
1.2 OBJETIVO GERAL...............................................................................................11
1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................ 11
1.4 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA............................................................................ 12
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................... 13
2.1 ESCOLHA DO TIPO DE FUNDAÇÃO................................................................. 13
2.2 FUNDAÇÕES PROFUNDAS............................................................................... 13
2.3 CAPACIDADE DE CARGA EM FUNDAÇÕES PROFUNDAS............................. 18
2.3.1 Métodos estáticos..............................................................................................18
2.3.1.1 Métodos empíricos......................................................................................... 19
2.3.1.2 Métodos racionais ou teóricos........................................................................ 19
2.3.1.3 Métodos semiempíricos..................................................................................19
2.3.1.3.1 Método Aoki-Velloso (1975)........................................................................ 20
2.3.1.3.2 Método Décourt-Quaresma (1978)..............................................................22
2.3.2 Métodos dinâmicos............................................................................................24
2.3.2.1 Equação da Onda...........................................................................................24
2.3.2.2 Fórmulas dinâmicas....................................................................................... 25
2.3.3 Efeito de grupo.................................................................................................. 26
2.3.4 Carga admissível............................................................................................... 27
2.3.5 Critério de parada das estacas..........................................................................27
2.4 PREVISÃO DE RECALQUE EM FUNDAÇÕES PROFUNDAS........................... 28
2.4.1 Métodos semiempíricos.....................................................................................29
2.4.2 Métodos racionais............................................................................................. 29
2.4.2.1 Encurtamento elástico.................................................................................... 29
2.4.2.2 Recalque do solo............................................................................................ 31
2.4.2.3 Método de Poulos e Davis (1980).................................................................. 34
2.5 DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL DAS ESTACAS.......................................37
2.6 DIMENSIONAMENTO DE BLOCOS DE COROAMENTO...................................39
2.6.1 Dimensionamento de bloco sobre duas estacas............................................... 39
2.7 STANDARD PENETRATION TEST (SPT)...........................................................44
3 MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................................47
3.1 DESCRIÇÃO DA OBRA....................................................................................... 47
3.1.1 Caracterização do solo local............................................................................. 47
3.2 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA................................................................... 48
3.3 MÉTODO DE ANÁLISE DOS DADOS................................................................. 48
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................................ 50
4.1 NÚMERO DE SONDAGENS................................................................................50
4.2 CAPACIDADE DE CARGA POR MÉTODOS ESTÁTICOS................................. 50
9

4.3 CAPACIDADE DE CARGA POR MÉTODOS DINÂMICOS................................. 54


4.4 ESTIMATIVA DE RECALQUES........................................................................... 55
4.5 ARMADURA DA ESTACA TIPO HÉLICE CONTÍNUA MONITORADA............... 56
4.6 DIMENSIONAMENTO DOS BLOCOS SOBRE DUAS ESTACAS.......................57
4.7 ESTIMATIVA DE CUSTOS.................................................................................. 59
5 CONCLUSÕES....................................................................................................... 64
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 65
ANEXO A – PERFIS DE SONDAGEM DO SOLO..................................................... 68
APÊNDICE A – DETALHAMENTO DOS BLOCOS E ARMADURAS........................ 72
10

1 INTRODUÇÃO

De acordo com Alonso (1991), um bom projeto de fundação deve atender a


condições mínimas de segurança, funcionalidade e durabilidade. Quanto à segurança,
entende-se que ele deve respeitar os fatores de segurança determinados no que diz
respeito aos elementos estruturais e ao solo. Já a funcionalidade garante que os
recalques ocorridos na fundação sejam compatíveis aos admissíveis para a finalidade
da obra. Por fim, a durabilidade determina que o projeto de fundação tenha vida útil,
no mínimo, igual ao resto da estrutura.
Existem variados tipos de fundações, rasas e profundas, disponíveis no
mercado. Para a determinação do tipo de fundação a ser utilizada, devem ser
conhecidos e analisados: perfis geotécnicos; carregamento; estrutura da obra a ser
construída e das obras vizinhas; métodos acessíveis na região; entre outros
parâmetros que precisam ser levados em consideração.
De posse de todas essas informações, tecnicamente mais de um tipo de
fundação pode atender as condições exigidas. Quando há a possibilidade de se
executar mais de uma alternativa, o segundo ponto a ser analisado é o fator
econômico. A melhor opção de fundação é sempre a que alia os dois fatores, trazendo
o melhor custo-benefício para a obra.
Neste trabalho, após dimensionar blocos sobre duas estacas utilizando estaca
escavada tipo hélice contínua monitorada e cravadas tipo metálica e pré-moldada de
concreto, busca-se determinar qual dos três tipos de estaca se mostra o mais
vantajoso técnica e economicamente para as condições de perfil geotécnico e
carregamento determinadas, levando em consideração os custos e as estimativas de
recalque para cada alternativa.

1.1 JUSTIFICATIVA

A fundação é um dos elementos mais importantes da estrutura de uma


edificação. A estabilidade da obra tem total dependência dela, visto que a fundação é
o ponto de partida de onde se ergue toda a estrutura. Uma escolha mal avaliada, mal
11

dimensionada ou mal executada pode gerar graves danos à construção, que nos
casos mais sérios pode chegar ao colapso.
Em um projeto de fundação, devem ser avaliados diversos parâmetros
geotécnicos e estruturais para então chegar a uma solução que apresente as
melhores características técnicas e econômicas para a obra em questão.
Na prática, nem sempre o fator técnica-economia é levado em conta, muitas
vezes optando-se apenas pelo fator econômico, ou pelas técnicas culturalmente
executadas na região, não se analisando profundamente as diferentes opções
possíveis e chegando a que melhor se enquadra.
Desta forma, este trabalho busca analisar dois pontos principais: comparando-
se estaca tipo hélice contínua monitorada, metálica e pré-moldada de concreto, qual
a melhor opção técnica para o perfil geotécnico e o carregamento em questão; e qual,
entre as opções pré-determinadas no primeiro ponto, se mostra a mais econômica.

1.2 OBJETIVO GERAL

Determinar qual tipo de estaca (comparando-se estaca tipo hélice contínua


monitorada, metálica e pré-moldada de concreto) é o mais vantajoso técnica e
economicamente para as mesmas condições de perfil geotécnico e carregamento no
dimensionamento de um bloco sobre duas estacas.

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Para alcançar o objetivo geral proposto, foram determinados os seguintes


objetivos específicos:
· Dimensionar alternativas de bloco sobre duas estacas, utilizando estaca
escavada tipo hélice contínua e estacas cravadas tipo metálica e pré-moldada de
concreto;
· Estimar os recalques para cada alternativa;
· Elaborar uma estimativa de custo para as soluções adotadas;
12

· Efetuar um comparativo entre as opções.

1.4 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

O presente trabalho trata-se de um estudo de caso, onde foram dimensionadas


alternativas de fundação profunda (utilizando blocos sobre duas estacas) para as
mesmas condições de perfil geotécnico e carregamento para um edifício comercial de
Toledo – PR.
13

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 ESCOLHA DO TIPO DE FUNDAÇÃO

De acordo com Alonso (2010), a fundação escolhida para determinada obra


deve ser aquela que melhor atenda às condições técnicas e econômicas envolvidas.
Para isso, devem ser analisadas:
· a proximidade dos edifícios circundantes, bem como o tipo e o estado da
fundação dos mesmos;
· as características do solo local e o nível do lençol freático;
· a grandeza das cargas a serem transmitidas;
· e a limitação dos tipos de fundações existentes no mercado.
Moraes (1976) acrescenta que também devem ser observadas as
características da edificação, e os recalques provocados no solo de apoio e os
impactos que podem causar na superestrutura.
Mais de um tipo de fundação pode atender tecnicamente uma determinada
obra. Desta forma, a escolha final é feita comparando os custos dos diferentes
métodos, para então adotar o que se mostrar mais econômico.

2.2 FUNDAÇÕES PROFUNDAS

As estruturas de fundações são divididas em dois grupos principais: fundações


superficiais (ou rasas) e fundações profundas. A NBR 6122 (ABNT, 2010) determina
que se encaixam no segundo grupo as fundações em que a ponta ou base das
mesmas está assente a uma profundidade superior a duas vezes a sua menor
dimensão em planta, e a no mínimo três metros. São incluídas nesse grupo, portanto,
as estacas e os tubulões.
Existem diversos tipos de estacas disponíveis no mercado, porém, para este
estudo serão avaliadas estacas escavada tipo hélice contínua monitorada e cravadas
metálica e pré-moldada de concreto, sendo suas características descritas a seguir:
14

a) Estaca tipo hélice contínua monitorada

As estacas tipo hélice contínua monitorada são executadas utilizando máquinas


perfuratrizes equipadas com trado contínuo. Este trado possui comprimento entre 18
e 24 metros, e pode executar estacas com diâmetros variando entre 25 e 120 cm,
dependendo do torque do equipamento. Na perfuração, o solo é escavado por uma
haste constituída por um tubo central envolto por uma hélice espiral, introduzida no
solo por meio de rotação e das forças verticais geradas pelo peso próprio da hélice e
do solo contido nela (JOPPERT JUNIOR, 2007).
Atingida a profundidade almejada em projeto, a concretagem da estaca é feita
simultaneamente a extração da hélice. A não retirada do trado antes da concretagem
é a principal característica deste método. Deste modo, a hélice não permite o alívio
das tensões do solo, o que possibilita a execução em solos argilosos e arenosos,
independentemente do nível do lençol freático. A armação é inserida na estaca após
a concretagem, por meio da gravidade ou com auxílio de pilão de pequena carga ou
vibrador (ANTUNES E TAROZZO, 1998).
A Figura 1 mostra como ocorre a execução da estaca tipo hélice continua
monitorada nas suas três etapas: perfuração, concretagem e armação.

Figura 1 - Etapas da execução da estaca tipo hélice contínua monitorada


Fonte: Geofund, 2016
15

De acordo com Joppert Junior (2007), as estacas tipo hélice contínua


monitorada ganharam espaço devido as vantagens que elas apresentam em relação
aos outros métodos, como a rapidez na execução, ausência de vibrações e ruídos em
excesso, e custo de mão de obra competitivo.
Segundo Rebello (2008), o monitoramento eletrônico a que é submetida a
execução da estaca é outra grande vantagem, pois possibilita obter, a qualquer
momento, informações a respeito da inclinação e profundidade da haste, velocidade
de rotação e torque da hélice, e pressão do bombeamento, consumo e perdas de
concreto. Outros benefícios são a possibilidade de execução próxima à divisa,
diminuindo excentricidades entre as cargas dos pilares e as estacas, e em qualquer
tipo de solo, exceto solos com presença de matacões ou rocha sã.
As desvantagens das estacas tipo hélice contínua monitorada estão
relacionadas ao porte do equipamento, que exige áreas de trabalho planas e que
possibilitem a movimentação da máquina, assim como às limitações de comprimento
das estacas e das armaduras impostas pelo método. Também por conta do tamanho
do equipamento, é necessário um número mínimo de estacas a serem executadas
que compense o custo do deslocamento da perfuratriz e demais máquinas auxiliares
(ANTUNES E TAROZZO, 1998).

b) Estaca metálica

As estacas metálicas são encontradas em diversas formas, desde perfis


laminados ou soldados até tubos. Uma prática adotada na execução de fundações
por estacas metálicas é a reutilização de trilhos depois de retirados da ferrovia. Os
perfis podem ser utilizados sozinhos ou associados a outras peças. A Figura 2
apresenta alguns perfis e associações comumente utilizados. Os tipos de aço mais
utilizados são ASTM 36 e A572 Grau 50 (VELLOSO E LOPES, 2010).

Figura 2 - Seções típicas de estacas metálicas


Fonte: Velloso e Lopes, 2010
16

De acordo com Joppert Junior (2007), as estacas metálicas apresentam


diversas vantagens, principalmente se comparadas às estacas pré-moldadas de
concreto. No mercado, existem inúmeras opções de perfis e bitolas, o que possibilita
otimizar a relação entre a carga atuante e a carga resistente. Os perfis de aço, em
geral, não sofrem com quebras e danos durante a cravação, e podem ser cravados
até profundidades inatingíveis pelas estacas pré-moldadas de concreto, o que reduz
significativamente as perdas e permite que eles trabalhem, em geral, com a totalidade
de sua capacidade estrutural. Além disso, as estacas metálicas garantem a utilização
de um material de qualidade e grande resistência, leve e de fácil manipulação, com
ausência de vibração durante sua cravação.
Rebello (2008) cita que as estacas metálicas são facilmente soldadas e, por
este motivo, as emendas necessárias podem ser executadas na própria obra. Isso
possibilita que elas sejam cravadas em pequenas parcelas, limitadas apenas pela
altura do equipamento de cravação, o bate-estaca.
O principal ponto negativo, e que restringe muitas vezes a utilização dos perfis
metálicos nas estruturas de fundação, é o fato de que essas estacas ainda
apresentam custo elevado no Brasil, embora nos últimos anos algumas têm
apresentado condições de concorrer com as pré-moldadas de concreto (VELLOSO E
LOPES, 2010).
Um problema muito questionado a respeito das estacas metálicas é a corrosão
a qual estão sujeitas, e quanto esse processo afeta a vida útil da estrutura de
fundação. Cornfield (1974 apud VELLOSO E LOPES, 2010), afirma que estacas
totalmente enterradas no solo, independentemente do nível do lençol d´água, não
necessitam de proteção especial contra corrosão, sendo necessário apenas descontar
a espessura de sacrifício estabelecida pela NBR 6122 (ABNT, 2010). A Tabela 1 exibe
os valores das espessuras de sacrifício em função do tipo de solo.
17

Tabela 1 - Espessura de sacrifício em função do tipo de solo

Classe do solo Espessura mínima de sacrifício (mm)


Solos naturais e aterros controlados 1,0
Argila orgânica; solos porosos não saturados 1,5
Turfa 3,0
Aterros não controlados 2,0
Solos contaminados* 3,2
* Casos de solos agressivos deverão ser estudados especificamente
Fonte: NBR 6122 (ABNT 2010).

c) Estaca pré-moldada de concreto

Devido ao controle rígido a que são submetidas durante sua fabricação e


cravação, as estacas pré-moldadas de concreto são consideradas ótimas opções de
fundação. As estacas podem apresentar seção quadrada ou retangular, cheia ou
vazada, de acordo com o fornecedor e o método de fabricação, e são confeccionadas
em concreto armado ou protendido (JOPPERT JUNIOR, 2007). A Figura 3 apresenta
algumas seções transversais típicas das estacas pré-moldadas de concreto.

Figura 3 - Seções típicas para estacas pré-moldadas de concreto


Fonte: Velloso e Lopes, 2010

De acordo com Alonso (1998), o comprimento dos elementos pré-moldados de


concreto é limitado a 12 metros por questões relacionadas ao transporte dos
elementos das fábricas aos canteiros de obra. Se fossem maiores, necessitariam de
licença especial para a realização do transporte, o que acarretaria em ônus ao custo.
Desta forma, caso sejam necessárias estacas maiores, as peças devem ser
emendadas. A NBR 6122 (ABNT, 2010) recomenda que sejam utilizadas emendas do
tipo soldável, sendo toleradas emendas por luvas de encaixe quando não há esforço
de tração ou flexão atuando.
18

Segundo Velloso e Lopes (2010), se comparadas às estacas moldadas in loco


(como as tipo hélice contínua monitorada), as pré-moldadas apresentam vantagens
na qualidade dos processos da cura e da pega do concreto, pois não estão sujeitas
aos agentes agressivos ocasionalmente presentes no solo. Em contrapartida, a
principal desvantagem deste método são as variações de profundidade que a camada
resistente pode apresentar em toda a extensão do terreno, e a dificuldade de
adaptação a esse fato, o que pode acarretar alguns problemas se os comprimentos
não forem previstos.
Alonso (2010), diz que este tipo de estaca não é indicado para casos onde há
a presença de matacões ou camadas de pedregulhos no subsolo, ou quando as
edificações vizinhas se encontram em estado “precário”, e a cravação das estacas
pode gerar danos às estruturas.
A cravação das estacas pode ser realizada por prensagem, vibração ou
percussão. A primeira delas é utilizada quando é necessário evitar vibrações e
barulhos. Para a cravação por prensagem são utilizados macacos hidráulicos, e a
grande vantagem deste método é que em cada estaca cravada é realizada uma prova
de carga. A segunda forma, por vibração, caiu em desuso devido a alguns problemas
operacionais e às vibrações transmitidas. O terceiro, por percussão, é o método mais
utilizado e nele são empregados martelos, de queda livre ou automáticos, que
desferem golpes na estaca para sua cravação (ALONSO, 1998).

2.3 CAPACIDADE DE CARGA EM FUNDAÇÕES PROFUNDAS

2.3.1 Métodos estáticos

As estacas resistem às cargas da superestrutura por meio do atrito lateral entre


o fuste e o solo e por meio da resistência da ponta. Na estrutura pode atuar apenas
uma dessas forças resistentes, ou ainda a combinação entre as duas (REBELLO,
2008).
19

Os métodos estáticos para calcular a capacidade de carga das fundações


profundas são divididos em: métodos empíricos, métodos racionais ou teóricos e
métodos semiempíricos.

2.3.1.1 Métodos empíricos

Os métodos empíricos são utilizados para realizar uma estimativa grosseira da


capacidade de carga de uma estaca, pois levam em conta apenas a classificação das
camadas atravessadas, projetando um equilíbrio entre a resistência do solo, o peso
próprio da estaca e a carga aplicada (VELLOSO E LOPES, 2010).

2.3.1.2 Métodos racionais ou teóricos

Cintra (2010) comenta que embora existam diversas pesquisas e uma


variedade grande de fórmulas que se propõe a fornecer a capacidade de carga de
uma estaca por modelos teóricos, essas alternativas ainda não se mostram totalmente
eficazes. Por esse motivo, na prática, este método tem pouca utilização para o cálculo
da capacidade de carga, sendo os métodos semiempíricos os mais utilizados.

2.3.1.3 Métodos semiempíricos

Estes métodos correlacionam empiricamente ensaios realizados in situ, como


CPT (Cone Penetration Test) e SPT (Standard Penetration Test), para a determinação
da capacidade de carga.
Dentre os métodos semiempíricos destacam-se os métodos Aoki-Velloso e
Décourt-Quaresma, descritos a seguir.
20

2.3.1.3.1 Método Aoki-Velloso (1975)

O método Aoki-Velloso surgiu a partir de estudos comparativos entre resultados


de provas de carga em estacas, ensaios de cone CPT e ensaios SPT, sendo possível
utilizá-lo tanto com dados do ensaio SPT como do ensaio CPT, adotando correlações
entre os dois. Para o SPT, a capacidade de carga última em estacas pode ser obtida
pela seguinte equação:

 ∑ ∝ ∆ (1)

Onde:
Qult: capacidade de carga última da estaca;
K e ∝: coeficientes que dependem do tipo de solo;
NP: valor de NSPT na camada onde a ponta da estaca está apoiada;
AP: área de ponta da estaca;
U: perímetro da estaca;
NL: valor de NSPT médio na camada de solo de espessura ∆L;
∆L: comprimento da estaca na camada analisada;
F1 e F2: fatores de correlação que dependem do tipo da estaca.
A Tabela 2 apresenta os valores dos coeficientes K e ∝ para diferentes solos:
21

Tabela 2 - Coeficiente K e razão de atrito ∝

Tipo de solo K (MPa) ∝ (%)


Areia 1,00 1,40
Areia siltosa 0,80 2,00
Areia siltoargilosa 0,70 2,40
Areia argilosa 0,60 3,00
Areia argilossiltosa 0,50 2,80
Silte 0,40 3,00
Silte arenoso 0,55 2,20
Silte arenoargiloso 0,45 2,80
Silte argiloso 0,23 3,40
Silte argiloarenoso 0,25 3,00
Argila 0,20 6,00
Argila arenosa 0,35 2,40
Argila arenossiltosa 0,30 2,80
Argila siltosa 0,22 4,00
Argila siltoarenosa 0,33 3,00
Fonte: Cintra (2010).

Os fatores de correlação F1 e F2 propostos pelo método encontram-se na


Tabela 3.

Tabela 3 - Fatores de correlação F1 e F2

Tipo de estaca F1 F2
Franki 2,50 5,0
Metálica 1,75 3,5
Pré-moldada 1,75 3,5
Escavada 3,00 6,0
Fonte: Velloso e Lopes (2010).

De acordo com Cintra (2010), após a publicação do método, foram propostos


aprimoramentos para esses fatores. Para estacas pré-moldadas, por exemplo,
constatou-se que os fatores originais eram muito conservadores, sendo sugeridos
22

novos valores. A Tabela 4 apresenta essa atualização dos valores de F1 e F2 das


estacas pré-moldadas e inclui valores para as estacas raiz, hélice contínua e ômega.

Tabela 4 - Fatores de correção F1 e F2 atualizados

Tipo de estaca F1 F2
Franki 2,50 2 F1
Metálica 1,75 2 F1
Pré-moldada 1+D/0,80 2 F1
Escavada 3,00 2 F1
Raiz, Hélice contínua e Ômega 2,00 2 F1
Fonte: Cintra (2010).

2.3.1.3.2 Método Décourt-Quaresma (1978)

A capacidade de carga última de uma estaca pelo método semiempírico de


Décourt-Quaresma pode ser obtida pela Equação 2.

 ∝ 10 1 (2)

Onde:
Qult: capacidade de carga última da estaca;
∝ e : coeficientes que dependem do tipo de estaca e do tipo de solo;
C: coeficiente que depende do tipo de solo;
NP: média obtida a partir de três valores: NSPT da cota de apoio, NSPT imediatamente
acima da cota de apoio, e NSPT imediatamente abaixo da cota de apoio;
AP: área de ponta da estaca;
NL: valor médio de NSPT ao longo do fuste, desconsiderando os utilizados no cálculo
de NP;
U: perímetro da estaca;
L: comprimento do fuste.
Para os valores de NSPT utilizados no cálculo de NL, o método determina que
valores menores que 3 sejam considerados iguais a 3, e valores maiores que 50 sejam
23

considerados iguais a 50 (3≤NSPT≤50), exceto para estacas Strauss e tubulões a céu


aberto, onde o limite superior de NSPT deve ser considerado igual a 15 (3≤NSPT≤15). A
Tabela 5 fornece o coeficiente característico C para diferentes tipos de solo.

Tabela 5 - Coeficiente característico do solo C

Tipo de solo C (KPa)


Argila 120
Silte argiloso 200
Silte arenoso 250
Areia 400
Fonte: Cintra (2010).

Originalmente, os fatores ∝ e ficavam implícitos na Equação 2, pois eram


considerados todos iguais a 1. Décourt (1996) adicionou os fatores para aplicação do
método nas estacas escavadas em geral, com lama bentonítica, tipo hélice continua,
raiz e injetadas sob altas pressões. Os valores de ∝ e para estas estacas são
apresentados nas Tabelas 6 e 7, respectivamente. Os valores de ∝ e = 1, do método
original, permanecem para as estacas pré-moldadas, metálicas e tipo Franki.

Tabela 6 - Valores do fator ∝ em função do tipo de estaca e do tipo de solo

Tipo de estaca

Tipo de solo Injetada sob


Escavadas Escavadas Hélice
Raiz altas
em geral (bentonita) contínua
pressões
Argilas 0,85 0,85 0,30* 0,85* 1,00*
Solos
0.60 0,60 0,30* 0,60* 1,00*
intermediários
Areias 0,50 0,50 0,30* 0,50* 1,00*
* valores apenas orientativos diante do reduzido número de dados disponíveis.
Fonte: Cintra (2010).
24

Tabela 7 - Valores do fator β em função do tipo de estaca e do tipo de solo

Tipo de estaca

Tipo de solo Injetada sob


Escavadas Escavadas Hélice
Raiz altas
em geral (bentonita) contínua
pressões
Argilas 0,80* 0,90* 1,00* 1,50* 3,00*
Solos
0.65* 0,75* 1,00* 1,50* 3,00*
intermediários
Areias 0,50* 0,60* 1,00* 1,50* 3,00*
* valores apenas orientativos diante do reduzido número de dados disponíveis.
Fonte: Cintra (2010).

2.3.2 Métodos dinâmicos

São chamados de métodos dinâmicos aqueles que levam em consideração a


resposta da estaca à cravação para determinar a estimativa da capacidade de carga.
Esses métodos podem ser divididos em duas categorias: soluções da “Equação da
Onda” e fórmulas dinâmicas.

2.3.2.1 Equação da Onda

De acordo com Velloso e Lopes (2010), a equação da propagação de ondas de


tensão em barras homogêneas foi deduzida por Saint-Venant, a partir da 2ª Lei de
Newton. Esse método, além de servir como uma simulação da cravação, serve
também para a análise de dados obtidos em ensaios de carregamento dinâmico e
monitoração da cravação.
25

2.3.2.2 Fórmulas dinâmicas

Por ser um fenômeno dinâmico, no processo de cravação de uma estaca, além


da resistência estática, há também a mobilização da resistência dinâmica do solo, e o
eventual aparecimento de forças inerciais. Desta forma, há que se considerar que a
resistência oferecida pelo solo à cravação pode não corresponder a capacidade de
carga estimada pelos métodos estáticos. Por conseguinte, para estacas cravadas há
a necessidade de verificar a capacidade de carga também por fórmulas dinâmicas
(VELLOSO E LOPES, 2010). Dentre as fórmulas dinâmicas, destaca-se a fórmula dos
Dinamarqueses, apresentada a seguir:

a) Fórmula dos Dinamarqueses (1957)

Desenvolvida por Sorensen e Hansen, a fórmula dos Dinamarqueses parte da


lei de Newton para o choque entre dois corpos, e considera a perda de energia na
compressão elástica da estaca. Por esse método, a capacidade de carga de uma
estaca pode ser estimada pela Equação 3.


 ! "$%&'
(3)
 "# ()
*

Onde:
R: resistência oferecida pelo solo à cravação da estaca;
+: fator de eficiência do sistema de cravação (0,7 para martelos de queda livre e 0,9
para martelos automáticos);
W: peso do martelo;
h: altura de queda do martelo;
s: deslocamento da estaca por golpe (nega);
L: comprimento da estaca;
A: área da seção transversal da estaca;
Ep: módulo de elasticidade da estaca.
26

Recomenda-se utilizar um fator de segurança igual a 2, assim como orienta-se


para cravação as relações apresentadas na Tabela 8.

Tabela 8 - Valores sugeridos como orientação para cravação

Estaca ( h)máx (W / Peso da estaca)mín


Pré-moldada de concreto 1m 0,50
Aço 2m 1,50
Madeira 4m 0,75
Fonte: Velloso e Lopes (2010).

2.3.3 Efeito de grupo

Os métodos semiempíricos para cálculo da capacidade de carga de Aoki-


Velloso e Décourt-Quaresma referem-se a elementos isolados. Quando utilizadas em
grupo, as estacas podem ter sua eficiência reduzida. Quanto maior o grupo, maior a
perda.
Rebello (2008) apresenta o critério de Feld para determinar a perda de
eficiência do grupo. O critério diz que cada estaca do conjunto tem sua capacidade de
carga reduzida em 1/16 para cada estaca vizinha localizada na mesma fila, seja na
vertical, horizontal ou diagonal. A Figura 4 exemplifica a eficiência do grupo para
blocos de 2 a 6 estacas.

Figura 4 - Eficiência de grupos de estacas


Fonte: Rebello, 2008
27

2.3.4 Carga admissível

A carga admissível em fundações profundas (Qadm) pode ser obtida dividindo a


capacidade de carga (Qult) por um fator de segurança (FS). A NBR 6122 (ABNT, 2010)
adota para estacas um fator de segurança global igual a 2. Décourt e Quaresma
indicam fatores de segurança próprios para o método, sendo 4 para a parcela de
resistência de ponta e 1,3 para a resistência de atrito lateral. Para métodos que
possuem fatores de segurança particulares, continua sendo necessário realizar a
verificação pelo fator global, adotando-se para critérios de dimensionamento a menor
carga admissível encontrada.
Consta também na NBR 6122 (ABNT, 2010) que, para estacas escavadas, a
carga admissível deve ser menor ou igual a 1,25 vezes a resistência do atrito lateral.
Desta forma, a parcela de resistência de ponta pode suportar no máximo 20% da
carga admissível. Tratando-se de um grupo de estacas, a carga admissível do grupo
não deve ser superior à de uma sapata hipotética de mesma projeção assente a uma
profundidade acima da ponta das estacas igual a 1/3 do comprimento de cravação na
camada de suporte.

2.3.5 Critério de parada das estacas

Cintra (2010) apresenta valores limites de NSPT para o comprimento das


estacas de acordo com o método de execução, que se encontram na Tabela 9.
28

Tabela 9 - Valores limites de NSPT para parada das estacas

Tipo de estaca Nlim


∅<30cm 15<NSPT<25
Pré-moldada de concreto
∅≥30cm 25<NSPT≤35
Perfil metálico 25<NSPT≤55
Tubada (oca, ponta fechada) 20<NSPT≤40
Strauss 10<NSPT≤25
em solos arenosos 8<NSPT≤15
Franki
em solos argilosos 20<NSPT≤40
Estação e diafragma, com
30<NSPT≤80
lama bentonítica
Hélice contínua 20<NSPT≤45
Ômega 20<NSPT≤40
Raiz NSPT≥60
Fonte: Cintra (2010).

2.4 PREVISÃO DE RECALQUE EM FUNDAÇÕES PROFUNDAS

De acordo com Alonso (1991), uma das condições mínimas que um projeto de
fundação deve atender é a funcionalidade, ou seja, ele deve garantir deslocamentos
compatíveis com a finalidade e o tipo da edificação. Por este motivo os recalques
devem ser estimados na fase de projeto, para verificar se eles se enquadram na ordem
de grandeza esperada.
Não existem regras específicas que fixem os valores admissíveis para
recalques. Estes valores podem variar de acordo com a função da obra e devem ser
analisados caso a caso. Entretanto, segundo Terzaghi e Peck (apud CAPUTO, 2008),
a regra usual para recalques admissíveis em uma estrutura comum é de 1” para
recalque total e 3/4" para recalque diferencial, o que equivale a 25 mm e 19 mm,
respectivamente. Skempton e MacDonald (1956, apud MILITITSKY et al., 2015)
estabelecem 40 mm como limite para recalque total, e 25 mm para recalque
diferencial.
O recalque de um grupo de estacas, assim como a capacidade de carga,
também pode sofrer o chamado “efeito de grupo”, causado pela interação entre as
29

estacas próximas através do solo que as circunda, que faz com que o comportamento
do grupo seja diferente de uma estaca isolada (VELLOSO e LOPES, 2010).
Os métodos de previsão de recalques podem ser classificados de diversas
formas, Velloso e Lopes (2010) citam que uma das opções consiste em classificá-los
em métodos semiempíricos e métodos racionais.

2.4.1 Métodos semiempíricos

Métodos semiempíricos são aqueles que correlacionam os resultados de


ensaios de investigação do subsolo, como SPT e CPT, para determinação das
estimativas de recalque das fundações.

2.4.2 Métodos racionais

Métodos que utilizam soluções teóricas baseadas em parâmetros que explicam


o comportamento tensão-deformação do solo são classificados como racionais.
Dentro desta classificação, os métodos podem ser subdivididos em métodos
numéricos, usualmente utilizados em métodos computacionais, e métodos baseados
na Teoria da Elasticidade (VELLOSO E LOPES, 2010).

2.4.2.1 Encurtamento elástico

O encurtamento elástico é a redução de comprimento que a estaca sofre


quando submetida a compressão, considerando que o recalque aconteça na cabeça
da estaca e sua base seja mantida imóvel. Se for desconsiderada a existência de solo,
tem-se o encurtamento elástico da estaca como o de um pilar. Para calculá-lo, Cintra
(2010) apresenta uma metodologia adaptada de Aoki (1979).
30

Para a utilização deste método, admite-se que a carga vertical aplicada na


cabeça da estaca é superior a resistência lateral e inferior a capacidade de carga, ou
seja, existe uma parcela da carga vertical sendo resistida pela ponta. O esforço normal
a que a estaca é submetida diminui ao longo do fuste devido à resistência lateral que
o solo oferece, desta forma, o esforço normal em cada parcela da estaca pode ser
obtido pela Equação 4.

⋯ (4)

Onde:
Pi: esforço normal na parcela analisada;
P: carga aplicada na cabeça da estaca;
RLi: resistência lateral nas parcelas.
O recalque por encurtamento é calculado pela Equação 5, derivada da lei de
Hooke.

∑ (5)

Onde:
: recalque por encurtamento da estaca;
Li: comprimento da estaca no segmento analisado;
A: área da seção transversal do fuste da estaca;
Ee: módulo de elasticidade do material da estaca.
Quando não há valor específico para o módulo de elasticidade, Cintra (2010)
diz que se pode considerar:
· Ee: 28 a 30 GPa para estaca pré-moldada;
· Ee: 21 GPa para hélice contínua, Franki e estacão;
· Ee: 210 GPa para metálica.
31

2.4.2.2 Recalque do solo

De acordo com Cintra (2010), as cargas transmitidas pelo fuste e pela ponta da
estaca ao solo, resultam em deformações da camada compressível entre a base da
estaca e o indeslocável. Essas deformações têm como resultado o recalque do solo,
que pode ter seu valor obtido em duas parcelas: relativas a reação de ponta e relativas
a reação às cargas laterais. Para calcular o recalque, primeiramente é preciso
encontrar o acréscimo de tensões no meio da camada.
Considerando o ângulo de espraiamento do solo igual a 30º, o acréscimo de
tensões geradas pela carga de ponta pode ser obtido pela Equação 6.

∆ (6)

Onde:
∆ : acréscimo de tensões gerado pela reação de ponta;
PP: parcela de carga aplicada sobre a base;
D: diâmetro da base;
h: distância do ponto de aplicação da carga ao topo da camada;
H: espessura da camada.
A Figura 5 ilustra a propagação das tensões devido à reação de ponta.
32

Figura 5 – Propagação de tensões devido à reação de ponta


Fonte: Cintra, 2010

Para calcular o acréscimo de tensões devido à resistência lateral, também para


um ângulo de espraiamento do solo igual a 30º, é utilizada a Equação 7.

 !
∆   ' (
(7)
"#$%&% )
(

Onde:
∆  : acréscimo de tensões gerado pela reação à resistência lateral;
RL: resistência lateral no segmento;
D: diâmetro do fuste.
A Figura 6 ilustra a propagação de tensões devido às cargas laterais.
33

Figura 6 – Propagação de tensões devido às cargas laterais


Fonte: Cintra, 2010

O acréscimo total de tensões na camada é dado por:

∆ ∆ ∑∆ (8)

O procedimento é repetido para todas as camadas a partir da ponta da estaca


até o indeslocável. Através da Teoria da Elasticidade Linear, o recalque do solo ( )
pode ser estimado pela Equação 9.


∑ (9)

Onde:
∆ : acréscimo total de tensões na camada;
ES: módulo de deformabilidade do solo.
O valor do módulo de deformabilidade do solo pode ser obtido pela Equação
10:


(10)
34

Onde:
E0: módulo de deformabilidade do solo antes da execução da estaca;
: tensão geostática no centro da camada;
n: 0,5 para materiais granulares e 0 para argilas duras e rijas.
O módulo de deformabilidade do solo antes da execução da estaca pode ser
considerado como:
· E0: 6 x K x NSPT, para estacas cravadas
· E0: 4 x K x NSPT, para estaca tipo hélice contínua.
Em que K é o coeficiente empírico utilizado no método Aoki-Velloso para o
cálculo da capacidade de carga (Tabela 02).

2.4.2.3 Método de Poulos e Davis (1980)

Segundo Russo Neto (2005), a metodologia de Poulos e Davis (1980)


considera que não há deslizamento no contato entre a estaca e o solo, portanto, o
deslocamento da estaca e do solo adjacente são os mesmos. A compressibilidade da
estaca é expressa por um fator de rigidez (K), que pode ser obtido pela Equação 11.

(11)

Sendo:

(12)
/

Onde:
EP: módulo de elasticidade da estaca;
E: módulo de elasticidade do solo;
B: diâmetro da estaca;
Ap: área da seção transversal da estaca (RA: 1 para estacas maciças).
35

O recalque para uma estaca compressível, assente em solo finito, com ponta
em solo mais rígido e coeficiente de Poisson variável, pode ser calculado por:


 (13)


Sendo:

 ! "# "$ "% "& (14)


Onde:
: recalque da estaca;
Q: carga a que a estaca está submetida;
I0: fator de influência para estacas incompressíveis;
Rk: fator de correção para a compressibilidade da estaca;
Rh: fator de correção para a espessura h (finita) de solo compressível;
Rv: fator de correção para o coeficiente de Poisson do solo;
Rb: fator de correção para a base ou ponta em solo mais rígido.
A Figura 7 exemplifica o problema analisado e ilustra algumas das dimensões
e parâmetros utilizados para o cálculo da estimativa de recalque pelo método de
Poulos e Davis.

Figura 7 - O problema analisado e suas dimensões e parâmetros


Fonte: Velloso e Lopes, 2010
36

Os fatores necessários para o cálculo do fator de influência (I) podem ser


obtidos nos ábacos apresentados nas Figuras 8 e 9. São necessários alguns dados
para entrar nos ábacos, sendo eles: Bb/B (razão entre o diâmetro da base da estaca
e o diâmetro do fuste), L (comprimento da estaca), h (espessura da camada
compressível), Eb/E (razão entre o módulo de elasticidade do solo sob a base e o
módulo de elasticidade da camada de solo) e ν (coeficiente de Poisson do solo).

Figura 8 - Fatores para o cálculo de recalque das estacas


Fonte: Velloso e Lopes, 2010
37

Figura 9 - Fatores de correção para base ou ponta em solo mais rígido: (a) para L/B=75; (b)
para L/B=50; (c) para L/B=25; (d) para L/B=10; (e) para L/B=5
Fonte: Velloso e Lopes, 2010

2.5 DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL DAS ESTACAS

De acordo com a NBR 6122 (ABNT, 2010), estacas escavadas submetidas a


tensões maiores que as encontradas na Tabela 10 devem ser dimensionadas
conforme as especificações da NBR 6118 (ABNT, 2014), para o trecho em que a
38

tensão for maior que o valor estipulado. Para estacas sujeitas a tensões menores, é
necessária apenas a armadura de ligação com o bloco.

Tabela 10 - Parâmetros para dimensionamento de estacas moldadas in loco

Comprimento útil mínimo Tensão média


fck (incluindo trecho de atuante abaixo
máximo ligação com o bloco) e % da qual não é
Tipo de
de f c s de armadura mínima necessário armar
estaca
projeto (exceto ligação
MPa Comprimento com o bloco)
Armadura %
m MPa
Hélice/hélice
de 20 1,4 1,8 1,15 0,5 4,0 6,0
deslocamento
Escavadas
15 1,4 1,9 1,15 0,5 2,0 5,0
sem fluido
Escavadas
20 1,4 1,8 1,15 0,5 4,0 6,0
com fluido
Strauss 15 1,4 1,9 1,15 0,5 2,0 5,0
Armadura
Franki 20 1,4 1,8 1,15 0,5 -
integral
Tubulões não
20 1,4 1,8 1,15 0,5 3,0 5,0
encamisados
Armadura
Raiz 20 1,4 1,6 1,15 0,5 -
integral
Armadura
Microestacas 20 1,4 1,8 1,15 0,5 -
integral
Estaca trado
Armadura
vazado 20 1,4 1,8 1,15 0,5 -
integral
segmentado
Fonte: NBR 6122 (ABNT, 2010)

Quando totalmente enterrada, não é preciso verificar a estaca quanto a


flambagem. Para estacas submetidas apenas a compressão, o cálculo pode ser feito
pela Equação 15, majorando a carga de compressão em (1+6/h), não menor que 1,1,
onde h é o menor lado de um retângulo circunscrito à seção da estaca, em cm
(ALONSO, 2012).

1 0,85 ´ (15)
39

Onde:
Nd: carga de compressão x f;

Ac: área da seção;


A´s: área de aço da seção;
fcd: resistência característica do concreto à compressão / c;

fyd: resistência característica ao escoamento do aço / s.

2.6 DIMENSIONAMENTO DE BLOCOS DE COROAMENTO

Diferentemente das fundações diretas, onde a transmissão das cargas da


superestrutura ao solo é feita diretamente pelo elemento de fundação, as fundações
profundas necessitam de um elemento que ligue a superestrutura às estacas,
permitindo assim a transmissão da carga do pilar para a fundação. Estes elementos
são chamados de blocos de fundação, ou blocos de coroamento, que são elementos
prismáticos rígidos ou flexíveis de concreto armado (REBELLO, 2008).
Para fundações em blocos sobre estacas, em geral, não se considera nenhuma
contribuição do solo como fundação direta. A geometria do bloco a ser utilizado é
definida em função das dimensões do pilar e do número de estacas necessárias
(CARVALHO E PINHEIRO, 2009).

2.6.1 Dimensionamento de bloco sobre duas estacas

Os blocos devem ter dimensão tal que possibilite envolver tanto o pilar como
as estacas que compõe o bloco. A Figura 10 apresenta algumas das dimensões que
serão consideradas para o dimensionamento do bloco sobre duas estacas.
40

Figura 10 - Dimensões do bloco sobre duas estacas

Carvalho e Pinheiro (2009), indicam a utilização das seguintes distâncias


mínimas (L), de acordo com o método de execução e a geometria da estaca:
· 2,5 vezes o diâmetro para estacas pré-moldadas;
· 3,0 vezes o diâmetro para estacas moldadas in loco;
· 1,75 vezes a diagonal para estacas de seção quadrada.
A largura (B) e o comprimento (A) do bloco podem ser obtidos pelas Equações
16 e 17, respectivamente.

∅ 2 15
(16)
1,5∅

∅ 2 15 (17)

Onde:
∅: diâmetro da estaca;
L: distância entre os eixos das estacas.
Os blocos podem ser classificados em rígidos ou flexíveis, sendo blocos rígidos
aqueles em que a altura respeita a relação da Equação 18. Entretanto, recomenda-se
que a altura (h) do bloco não seja inferior a 30 cm.

(18)
41

Onde:
h: altura do bloco;
ap: dimensão do pilar no lado (A) do bloco.
Usualmente são utilizados blocos rígidos para blocos sobre estacas. Segundo
Carvalho e Pinheiro (2009), o modelo biela-tirante é o mais utilizado para o
dimensionamento desses elementos. A adoção deste método para o cálculo também
é recomendação da NBR 6118 (ABNT, 2014). Neste modelo, considera-se que no
caminho de transferência até as estacas, a força proveniente do pilar se concentra em
algumas regiões do bloco, formando zonas de concreto comprimidas, denominadas
bielas. Para garantir o equilíbrio, é necessária uma barra horizontal inferior tracionada,
denominada tirante. Desta forma, a execução do método consiste em determinar a
área de aço necessária para suportar a tração do tirante, e verificar a tensão de
compressão nas bielas. A Figura 11 demonstra a atuação da força nas bielas.

Figura 11 - Dimensões e forças aplicadas no bloco sobre duas estacas

O ângulo de inclinação da biela é dado pela Equação 19.

(19)
42

Alva (2007) recomenda limitar o ângulo de inclinação das bielas a valores entre
45o e 55o (45o ≤ θ ≤ 55o). Desta forma, a altura útil do bloco (d) deve estar entre os
valores definidos pela Equação 20.

0,5 0,714 (20)

a) Determinação da armadura de tração

A força de tração atuante no tirante é dada pela Equação 21.

(21)

Onde:
Rt: tração atuante no tirante;
Nd: carga proveniente do pilar x c.

Segundo Blévot (1967, apud OLIVEIRA, 2009) a força Rt deve ser majorada em
15% a favor da segurança. Desta forma, a área de aço necessária para suportar a
tração do tirante é calculada pela Equação 22.

,
(22)

Onde:
As: área de aço necessária;
fyd: resistência característica ao escoamento do aço / s.

O valor da ancoragem da armadura principal é fornecido pela Equação 23.


0,7 (23)

Sendo:

(24)
43

Onde:
Ascalc: área de aço obtida na Equação 22;
Asef: área de aço efetivamente utilizada no bloco;
 : 1,0 para barras lisas; 1,4 para barras entalhadas e 2,25 para barras nervuradas;
 : 1,0 para situações de boa aderência e 0,7 para situações de má aderência;
 : 1,0 para ∅< 32 mm e (132-∅)/100 para ∅ ≥ 32 mm;
fctd: 0,15fck2/3

b) Verificação da biela a compressão

Para evitar o esmagamento do concreto das bielas, é necessário verificar a


tensão atuante junto à estaca e junto ao pilar, que é fornecida pelas Equações 25 e
26, respectivamente.

(25)

(26)

Onde:
: tensão atuante junto à estaca;
: tensão atuante junto ao pilar;
Ae: área da seção da estaca;
Ap: área da seção do pilar.
O valor limite para as tensões junto ao pilar e à estaca é dado pela Equação
27.

1,4 0,85 (27)

Onde:
: valor limite para as tensões atuantes junto à estaca e ao pilar;
fcd: fck / c.
44

c) Armaduras complementares

A armadura de pele é obrigatória quando a altura do bloco é maior ou igual a


60 cm. A área de aço para a armadura de pele e os estribos verticais, em cm2/m, é
dada pela Equação 28.

0,075 (28)
í ,

O espaçamento (S) para a armadura de pele deve ser menor ou igual aos
valores fornecidos pela Equação 29. Bastos (2013) cita que, na prática, é
recomendado que o valor do espaçamento seja maior ou igual a 8 cm.

/3
(29)
20

Para os estribos verticais, o espaçamento (S) deve ser:


· Sobre as estacas:

15
(30)
0,25∅√

· Nas demais posições:

20 (31)

2.7 STANDARD PENETRATION TEST (SPT)

Em quase todo o mundo, o Standard Penetration Test (SPT) é o procedimento


mais utilizado, conhecido e econômico para a realização da investigação geotécnica.
A simplicidade do equipamento, baixo custo, e a possibilidade da utilização dos
valores obtidos em regras empíricas de projeto, são reconhecidas vantagens que este
45

método apresenta quando comparado aos demais. O ensaio SPT foi normatizado
primeiramente pela American Society for Testing and Materials (ASTM), em 1988, mas
o Brasil possui sua própria normatização, conferida pela NBR 6484 (ABNT, 2001).
(SCHNAID, 2012)
O ensaio consiste em cravar no solo um tubo de aço, chamado de amostrador
Terzaghi. Para isso, é utilizado um equipamento composto por um “tripé”, a partir do
qual cai sobre o tubo, de uma altura de 75 cm, um peso (martelo) de 65 kg. Para iniciar
o ensaio é aberto por trado um furo de 1 metro de profundidade. Posicionado o
amostrador na cota inferior do furo, o peso é derrubado sobre o tubo até que este
penetre no solo 45 cm, contando o número de golpes necessários para a penetração
e agrupando-os a cada 15 cm. O valor NSPT é dado pela soma do número de golpes
dos últimos 30 cm de cada metro. (REBELLO, 2008)
A cada metro, quando o amostrador é retirado do furo, também é recolhida a
amostra de solo contida no tubo, que possibilita classificar o tipo de solo atravessado.
Os critérios mínimos de parada do ensaio estão contidos na NBR 6484 (ABNT, 2001),
e dependem do porte da obra e das cargas que serão transmitidas ao solo. Porém,
recomenda-se consultar o profissional responsável pelo projeto de fundações, pois
alguns projetos específicos podem exigir que o ensaio seja feito a profundidades
maiores que as determinadas pela norma. (QUARESMA et al., 1998)
De acordo com a NBR 8036 (ABNT, 1983), o número mínimo de sondagens a
serem realizadas para um edifício com área de projeção em planta de até 1200 m² é
de uma a cada 200 m². Entre 1200 m² e 2400 m², deve ser realizada pelo menos uma
sondagem a cada 400 m². Acima de 2400 m² o número de sondagens deve ser
definido e fixado seguindo o plano de construção. Além disso, em quaisquer
circunstâncias, para edifícios com área de projeção em planta de até 200 m² o número
mínimo de sondagens deve ser igual a dois, e para edifícios com área entre 200 m² e
400 m², o número mínimo é estipulado como três sondagens. A Figura 12 ilustra a
execução do ensaio SPT.
46

Figura 12 - Execução do ensaio SPT


Fonte: Schnaid, 2000
47

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 DESCRIÇÃO DA OBRA

A obra estudada neste trabalho trata-se de uma edificação comercial localizada


em Toledo – PR. O edifício possui, ao todo, 8 pavimentos, divididos em subsolo, térreo
e mais seis pavimentos tipo. A área total da obra é de 5.899,92 m2. A área do terreno
onde será construída a edificação é de 2.664,25 m², sendo a área da projeção em
planta do edifício igual a 1.063,80 m²
O pilar para o qual serão dimensionados os blocos sobre duas estacas possui
35 x 80 cm2, e recebe um carregamento vertical e centralizado de 301 tf.

3.1.1 Caracterização do solo local

Para obter a caracterização do solo, foram realizados no local da obra quatro


furos de sondagem pelo método Standard Penetration Test (SPT). A Figura 11 mostra
a disposição dos furos no terreno. O solo mostrou-se predominantemente argiloso,
com tonalidades variando entre marrom avermelhado e roxo nas diferentes camadas.
Quanto à consistência, a argila apresentou-se, no geral, de mole a média nos
primeiros metros e de média a dura a partir dos 7 metros, com algumas variações
entre os furos. A sondagem foi limitada a 15 metros, em média, devido a presença de
matacão ou rocha sã. O nível d´água foi encontrado variando entre 1,50 a 1,70 metros
de profundidade. Os perfis de sondagem se encontram no Anexo A.
48

Figura 13 - Disposição dos furos de sondagem no terreno


Fonte: FUNGEO, 2015

3.2 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa exploratória que envolveu, para


seu desenvolvimento, pesquisa bibliográfica e estudo de caso. A pesquisa
bibliográfica teve como objetivo o conhecimento dos métodos existentes para
dimensionamento de fundações, para então determinar quais se encaixam melhor
neste trabalho. O estudo de caso visou aplicar os métodos determinados na pesquisa
bibliográfica no problema em questão, a fim de atingir os objetivos propostos.

3.3 MÉTODO DE ANÁLISE DOS DADOS

De acordo com as determinações da NBR 8036 (ABNT, 1983), primeiramente


foi verificado se o número de sondagens realizadas no terreno da obra estudada
atende a quantidade necessária, de acordo com a área de projeção da edificação.
49

A capacidade de carga das estacas foi determinada pelos métodos


semiempíricos Aoki-Velloso e Décourt-Quaresma, apresentados nos itens 2.3.1.3.1 e
2.3.1.3.2, respectivamente, obedecendo os fatores de segurança e a minoração da
capacidade de carga causada pelo efeito de grupo. O perfil metálico foi definido de
acordo com as opções apresentadas no catálogo da Gerdau (2015), e a seção da
estaca pré-moldada de concreto foi determinada conforme dimensões existentes em
catálogos e bibliografias. A estaca hélice contínua foi dimensionada estruturalmente
de acordo com o item 2.5.
Para a estaca metálica determinou-se também, pela Fórmula dos
Dinamarqueses (Equação 3), o deslocamento da estaca por golpe (nega) que
atenderia a capacidade de carga solicitada, respeitando o fator de segurança indicado
para o método.
As estimativas de recalque para cada opção foram calculadas através dos
métodos baseados na Teoria da Elasticidade e foram comparados os resultados
obtidos pela soma do encurtamento elástico e do recalque do solo apresentados nos
itens 2 4.2.1 e 2.4.2.2, e do valor encontrado pelo método de Poulos e Davis, do item
2.4.2.3, com o valor de recalque admissível proposto por Terzaghi e Peck para
recalque total de uma estrutura.
Para as estacas escolhidas foram dimensionadas alternativas de blocos sobre
duas estacas, para um pilar de 35 x 80 cm2, que recebe um carregamento de 301 tf,
vertical e centralizado.
Os blocos foram dimensionados pelo método de bielas e tirantes, respeitando
as dimensões mínimas e utilizando as armaduras complementares citadas no item
2.6.1. Foi considerado o uso de concreto com fck mínimo igual a 25 MPa, aumentando
o fck onde necessário, e aço CA 50. O cobrimento nominal das armaduras utilizado foi
de 45 mm (conforme especificações da NBR 6122 (ABNT,2010) para estruturas em
contato com o solo), e os coeficientes de ponderação da resistência dos materiais
utilizados foram os especificados pela NBR 6118 (ABNT, 2014) para combinações
normais, sendo c igual a 1,4, para o concreto, e s igual a 1,15 para o aço.
Por fim foi realizada uma estimativa de custos das opções propostas levando
em conta material e mão de obra, utilizando as tabelas de composições de preços
para orçamento da TCPO (2014) e os preços dos insumos e composições do SINAPI
de agosto de 2016, e foram comparados os resultados a fim de determinar qual das
soluções se apresenta a mais econômica.
50

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 NÚMERO DE SONDAGENS

A área de projeção em planta do edifício estudado é de 1.063,80 m², a qual se


enquadra, pela NBR 8036 (ABNT, 1983), no grupo que exige no mínimo uma
sondagem a cada 200 m², o que totaliza 6 sondagens necessárias. Foram realizados
no local 4 furos de sondagem, sendo assim, a quantidade de sondagens executadas
foi insuficiente para o tamanho da edificação.

4.2 CAPACIDADE DE CARGA POR MÉTODOS ESTÁTICOS

a) Estaca tipo hélice contínua monitorada

Para estaca tipo hélice contínua monitorada adotou-se o mesmo diâmetro


utilizado no projeto real da edificação, de 0,80 m. O comprimento da estaca limitou-se
a 14 metros de profundidade, pois os valores de NSPT abaixo eram maiores que o
critério de parada apresentado na Tabela 9. O primeiro metro de solo foi
desconsiderado, adotando-se então uma estaca de 13 m. Foram obtidas as
capacidades de cargas admissíveis apresentadas na Tabela 11, pelo método Aoki-
Velloso, e na Tabela 12, pelo método Décourt-Quaresma.

Tabela 11 - Qadm para estaca tipo hélice contínua monitorada pelo método Aoki-Velloso

Sondagem Qadm (tf) Qadm após efeito de grupo (tf)


SPT 01 163,74 153,92
SPT 02 190,63 179,19
SPT 03 184,85 173,76
SPT 04 224,56 211,09
51

Tabela 12 - Qadm para estaca tipo hélice contínua monitorada pelo método Décourt-Quaresma

FS Global FS Método
Sondagem Qadm (tf) Qadm após efeito Qadm (tf) Qadm após efeito
de grupo(tf) de grupo (tf)
SPT 01 116,47 109,48 147,24 138,41
SPT 02 120,54 113,31 150,68 141,64
SPT 03 126,41 118,83 155,96 146,60
SPT 04 130,50 122,67 150,98 141,92

Observou-se que os valores de capacidade de carga admissível pelo método


Décourt-Quaresma não atenderam a necessidade (150,5 tf). Já os do método Aoki-
Velloso, apesar de atingirem a capacidade de carga necessária, não respeitam a
determinação da NBR 6122 (ABNT, 2010), de que para estacas escavadas a
resistência de ponta pode suportar no máximo 20% da carga admissível.
No solo da sondagem SPT 01, por exemplo, que apresentou uma capacidade
de carga admissível de 153,92 tf, a parcela suportada pela resistência de ponta é de
58,32%. Considerando a resistência de ponta suportando apenas os 20%
determinados, a capacidade de carga admissível seria de 112,22 tf. Fazendo ainda
uma outra análise, para atingir a capacidade de carga necessária (150,5 tf) mantendo
a resistência lateral suportando 80% da carga admissível, o fator de segurança (FS)
utilizado seria igual a 1,49.
Constatou-se que mesmo para uma estaca tipo hélice contínua monitorada com
diâmetro de 1,2 m (o maior disponível para a execução do método), a determinação
de que a resistência lateral deve suportar mais de 80% da carga não é respeitada.
Para fins de comparação, apesar de não atender a capacidade de carga
necessária determinada pelos métodos propostos, seguiu-se com a utilização da
estaca empregada no projeto original, de 0,8 m de diâmetro com 13 metros de
comprimento.

b) Estaca pré-moldada metálica

Para o dimensionamento das estacas metálicas foram testados os perfis


disponíveis no manual da Gerdau (2015), e por fim, adotou-se o perfil W 610 x 174,0
combinado, como pode ser observado na Figura 12.
52

Figura 14 - Dimensões e combinação dos perfis metálicos

As dimensões do perfil utilizado são apresentadas na Tabela 13.

Tabela 13 - Dimensões do perfil metálico

Designação (mm x kg/m) d (mm) bf (mm) tw (mm) tf (mm) h (mm)


W 610 x 174,0 616 325 14,0 21,6 573
Fonte: Gerdau (2015).

Conforme determinações da NBR 6122 (ABNT, 2010), foi descontada do perfil


uma espessura de sacrifício de 1 mm, equivalente a solos naturais e aterros
controlados. Para uma estaca com comprimento de 13 m, considerando a utilização
de uma estaca com a ponta fechada e descontando o primeiro metro de solo, foram
obtidas as capacidades de carga apresentadas na Tabela 14, pelo método Aoki-
Velloso, e na Tabela 15, pelo método Décourt-Quaresma.

Tabela 14 - Qadm para estaca metálica pelo método Aoki-Velloso

Sondagem Qadm (tf) Qadm após efeito de grupo (tf)


SPT 01 183,01 172,03
SPT 02 206,80 194,39
SPT 03 205,16 192,85
SPT 04 239,29 224,93
53

Tabela 15 - Qadm para estaca metálica pelo método Décourt-Quaresma

FS Global FS Método
Sondagem Qadm (tf) Qadm após efeito Qadm (tf) Qadm após efeito
de grupo(tf) de grupo (tf)
SPT 01 187,43 176,19 204,56 192,29
SPT 02 196,24 184,46 210,72 198,07
SPT 03 208,54 196,03 219,78 206,60
SPT 04 228,59 214,88 221,06 207,80

Desta forma, certificou-se que o perfil W 610 x 174,0 combinado atende a


capacidade de carga necessária (150,5 tf) tanto pelo método Aoki-Velloso, como
também pelo método Décourt-Quaresma.

c) Estaca pré-moldada de concreto

Para o dimensionamento da estaca pré-moldada de concreto, foi utilizada uma


estaca circular com diâmetro de 0,60 m, habitualmente o maior disponível em
catálogos e referências bibliográficas. O comprimento da estaca limitou-se a 13
metros de profundidade, pois os valores de NSPT abaixo eram maiores que o critério
de parada apresentado na Tabela 9. O primeiro metro de solo foi desconsiderado,
adotando-se então uma estaca de 12 m. Foram obtidas as capacidades de cargas
admissíveis apresentadas na Tabela 16, pelo método Aoki-Velloso, e na Tabela 17,
pelo método Décourt-Quaresma.

Tabela 16 - Qadm para estaca pré-moldada de concreto pelo método Aoki-Velloso

Sondagem Qadm (tf) Qadm após efeito de grupo (tf)


SPT 01 97,26 91,43
SPT 02 90,15 84,75
SPT 03 112,77 106,01
SPT 04 119,24 112,08
54

Tabela 17 - Qadm para estaca pré-moldada de concreto pelo método Décourt-Quaresma

FS Global FS Método
Sondagem Qadm (tf) Qadm após efeito Qadm (tf) Qadm após efeito
de grupo(tf) de grupo (tf)
SPT 01 109,30 102,74 109,43 102,87
SPT 02 111,69 104,99 114,87 107,98
SPT 03 120,39 113,17 117,10 110,07
SPT 04 125,71 118,16 119,40 112,24

Observou-se que para os diâmetros usualmente disponíveis no mercado, a


estaca pré-moldada de concreto não atinge a capacidade de carga necessária (150,5
tf). Verificou-se também que para atingir a resistência requerida, seria preciso adotar
uma estaca com diâmetro maior que 1 m, o que tornaria inviável a utilização da
mesma. Desta forma, por fatores técnicos e econômicos, para um bloco sobre duas
estacas descartou-se a utilização das estacas pré-moldadas de concreto.

4.3 CAPACIDADE DE CARGA POR MÉTODOS DINÂMICOS

Em geral, o procedimento para utilização das fórmulas dinâmicas é


primeiramente a realização de um ensaio para determinação do deslocamento da
estaca por golpe (nega), para posterior entrada dos dados na equação e conseguinte
obtenção da resistência oferecida pelo solo à cravação da estaca. Não tendo posse
dos valores de nega para o solo e a estaca estudados, optou-se por entrar na fórmula
com a capacidade de carga requerida, para obter o valor de nega que satisfaria essa
condição.
Foi considerada a utilização de um martelo de queda livre, e valores de altura
de queda do martelo e peso do martelo seguindo as orientações da Tabela 8. O
resultado do deslocamento da estaca por golpe necessária para satisfazer a
capacidade de carga de 150,5 tf encontra-se na Tabela 18.
55

Tabela 18 - Valor de nega para satisfazer a capacidade de carga necessária

h (m) W (kg)  s (cm)


2,86 6786,00 0,70 0,41

Deste modo, constatou-se que para atender a capacidade de carga requerida,


a estaca metálica deve penetrar no solo, em 10 golpes, a média de 4,1 mm por golpe.

4.4 ESTIMATIVA DE RECALQUES

Considerou-se, para o cálculo da estimativa de recalque das estacas, que o


recalque do grupo seria igual ao de uma estaca isolada. Para o desenvolvimento dos
métodos do encurtamento elástico e do recalque do solo, foram utilizadas as
resistências laterais obtidas pelo método de Aoki-Velloso para estimativa da
capacidade de carga das estacas. Para a estimativa por Poulos e Davis adotou-se
coeficiente de Poisson do solo igual a 0,4, e módulo de elasticidade (E) do solo de 15
MPa (para argilas rijas, com NSPT de 11 a 19), e módulo de elasticidade do solo da
ponta (Eb) de 41 MPa (para argilas duras, com NSPT > 19) (SOUZA PINTO, 2006).
Para o cálculo da estimativa de recalque da estaca metálica foi considerado
que a mesma possuía espraiamento em forma circular partindo do diâmetro de 0,62
m (considerando a situação mais conservadora). As estimativas de recalque são
apresentadas na Tabela 19 para a estaca tipo hélice contínua monitorada, e na Tabela
20 para a estaca metálica.

Tabela 19 - Estimativas de recalque para estaca tipo hélice contínua monitorada

Hélice Contínua Monitorada


SPT 01 SPT 02 SPT 03 SPT 04
Encurtamento Elástico (mm) 1,53 1,49 1,52 1,50
Recalque do Solo (mm) 21,87 17,02 18,04 9,24
Recalque total (mm) 23,40 18,51 19,56 10,74
Poulos e Davis (mm) 7,72
Recalque Limite (mm) 25,00
56

Tabela 20 - Estimativas de recalque para estaca metálica

Metálica
SPT 01 SPT 02 SPT 03 SPT 04
Encurtamento Elástico (mm) 0,14 0,14 0,14 0,14
Recalque do Solo (mm) 14,97 11,76 12,72 3,42
Recalque total (mm) 15,11 11,90 12,86 3,56
Poulos e Davis (mm) 10,07
Recalque Limite (mm) 25,00

Observou-se, portanto, que as estimativas de recalque para ambos os métodos


respeitaram os limites de recalque total estipulado por Terzaghi e Peck, de 25 mm.

4.5 ARMADURA DA ESTACA TIPO HÉLICE CONTÍNUA MONITORADA

Como consta na Tabela 10, é necessário armar a estaca tipo hélice contínua
monitorada caso a mesma esteja submetida a uma tensão maior do que 6 MPa. Como
pode ser observado na Tabela 21, a tensão média atuante na estaca adotada é menor,
portanto, não é necessário armá-la. Foram adotadas, para fins construtivos, 20 barras
de ø 12,5 mm com 4 metros de comprimento, de acordo com a porcentagem de
armadura mínima para estaca tipo hélice contínua (0,5%).

Tabela 21 - Tensão atuante e armadura adotada para a estaca tipo hélice contínua monitorada

Tensão atuante (MPa) Barras adotadas


4,11 20ø12,5 mm
57

4.6 DIMENSIONAMENTO DOS BLOCOS SOBRE DUAS ESTACAS

a) Estaca tipo hélice contínua monitorada

Para a estaca tipo hélice contínua foram dimensionadas duas alternativas de


blocos sobre duas estacas. O projeto original contava com um bloco com as
dimensões apresentadas na Tabela 22.

Tabela 22 - Dimensões e tensões do bloco sobre duas estacas original

A (m) B (m) L (m) d (m) h (m) fck (MPa) σbe (MPa) σbp (MPa) σlim (MPa)
4,00 1,60 2,40 1,35 1,45 25,00 6,90 24,79 21,25

Observa-se que com o valor de resistência característica do concreto à


compressão (fck) adotado inicialmente, de 25 MPa, a tensão atuante junto ao pilar
excede a tensão limite. Desta forma, mantendo as dimensões originais, foi aumentado
o valor de fck a fim de atender as determinações do método de bielas e tirantes. As
tensões após a mudança de fck encontram-se na Tabela 23 e as armaduras do bloco
estão na Tabela 24.

Tabela 23 - Dimensões e tensões do bloco sobre estacas tipo hélice contínua monitorada 01

A (m) B (m) L (m) d (m) h (m) fck (MPa) σbe (MPa) σbp (MPa) σlim (MPa)
4,00 1,60 2,40 1,35 1,45 30,00 6,90 24,79 25,50

Tabela 24 - Armaduras do bloco sobre estacas tipo hélice contínua monitorada 01

Armadura Principal Armaduras Complementares


Barras Barras
Ascalc Asef
Ascalc (cm²) Asef (cm²) Barras Armadura Estribos
(cm²/m) (cm²/m)
de pele Verticais
45,05 45,60 12ø22mm 12,00 12,27 13ø12,5mm 39ø12,5mm
58

A segunda alternativa foi dimensionada reduzindo-se o tamanho do bloco, mas


ainda assim atendendo as condições do método. As dimensões, fck do concreto e
tensões atuantes no bloco encontram-se na Tabela 25 e as armaduras principal e
complementares do bloco encontram-se na Tabela 26.

Tabela 25 - Dimensões e tensões do bloco sobre estacas tipo hélice contínua monitorada 02

A (m) B (m) L (m) d (m) h (m) fck (MPa) σbe (MPa) σbp (MPa) σlim (MPa)
3,50 1,20 2,40 1,35 1,45 30,00 6,90 24,79 25,50

Tabela 26 - Armaduras do bloco sobre estacas tipo hélice contínua monitorada 02

Armadura Principal Armaduras Complementares


Barras Barras
Ascalc Asef
Ascalc (cm²) Asef (cm²) Barras Armadura Estribos
(cm²/m) (cm²/m)
de pele Verticais
45,05 49,09 10ø25mm 9,00 9,44 10ø12,5mm 26ø12,5mm

A segunda alternativa de bloco apresentou uma redução de volume de 34% em


relação à primeira. O detalhamento dos blocos sobre duas estacas e das armaduras
encontra-se no Apêndice A.

b) Estaca pré-moldada metálica

Para o bloco sobre as duas estacas metálicas adotou-se o L igual a 1,75 vezes
a diagonal da estaca, por ser um elemento retangular. As dimensões, fck do concreto
e tensões atuantes no bloco encontram-se na Tabela 27 e as armaduras principal e
complementares do bloco encontram-se na Tabela 28.

Tabela 27 - Dimensões e tensões do bloco sobre estacas metálicas

A (m) B (m) L (m) d (m) h (m) fck (MPa) σbe (MPa) σbp (MPa) σlim (MPa)
2,50 1,20 1,57 0,90 1,00 30,00 8,25 23,60 25,50
59

Tabela 28 - Armaduras do bloco sobre estacas metálicas

Armadura Principal Armaduras Complementares


Barras Barras
Ascalc Asef
Ascalc (cm²) Asef (cm²) Barras Armadura Estribos
(cm²/m) (cm²/m)
de pele Verticais
35,24 38,01 12ø22mm 9,00 9,44 7ø12,5mm 18ø12,5mm

Comparado à segunda alternativa de bloco para estaca tipo hélice contínua


monitorada, o bloco sobre estacas metálicas apresentou redução de 50% no volume
de concreto e de 18% na área de aço. O detalhamento dos blocos sobre duas estacas
e das armaduras encontra-se no Apêndice A.

4.7 ESTIMATIVA DE CUSTOS

O custo das alternativas de fundação foi estimado utilizando as tabelas de


composições de preços para orçamentos (TCPO, 2014) e os valores dos insumos e
composições não desonerados disponíveis no SINAPI (Sistema Nacional de
Pesquisas de Custos e Índices da Construção Civil) de agosto de 2016. Os serviços
e materiais considerados, bem como a estimativa de custo total encontram-se na
Tabela 29 para a estaca tipo hélice contínua mais a primeira alternativa de bloco, na
Tabela 30 para a estaca tipo hélice contínua mais a segunda alternativa de bloco, e
na Tabela 31 para a estaca metálica. A estimativa de custos não considerou a
mobilização dos equipamentos até o local da obra.
60

Tabela 29 - Estimativas de custos para estaca tipo hélice contínua monitorada + bloco 01

Mão de Obra
Preço (R$)
Serviço Unidade Quantidade Unitário Total
Perfuração m 26,00 232,24 6.038,24
Estacas

Armador h 10,02 15,77 157,94


Ajudante de armador h 4,50 11,85 53,33
Escavação (servente) h 75,40 11,20 844,48
Armador h 81,01 15,77 1.237,40
Bloco

Ajudante de armador h 142,09 11,85 1.630,75


Carpinteiro h 52,00 15,77 820,05
Ajudante de carpinteiro h 12,99 11,85 153,96
Reaterro (servente) h 4,31 11,20 48,23
Materiais
Preço (R$)
Serviço Unidade Quantidade Unitário Total
Concreto 20 MPa (inclui
Estacas

m³ 13,07 255,00 3.332,60


lançamento)

Aço CA-50 12,5 mm kg 77,04 3,16 243,45

Concreto 30 MPa (inclui


m³ 9,28 274,68 2.549,03
lançamento)
Aço CA-50 12,5 mm kg 389,09 3,01 1.171,16
Bloco

Aço CA-50 22 mm kg 214,49 3,25 697,09


Chapa de madeira compensada
plastificada para fôrma de m² 16,24 18,25 296,38
concreto(12mm)
TOTAL R$ 19.274,09
61

Tabela 30 - Estimativas de custos para estaca tipo hélice contínua monitorada + bloco 02

Mão de Obra
Preço (R$)
Serviço Unidade Quantidade Unitário Total
Perfuração m 26,00 232,24 6.038,24
Estacas

Armador h 10,02 15,77 157,94


Ajudante de armador h 4,50 11,85 53,33
Escavação (servente) h 30,80 11,20 344,96
Armador h 50,58 15,77 797,69
Bloco

Ajudante de armador h 88,71 11,85 1.051,27


Carpinteiro h 43,64 15,77 688,25
Ajudante de carpinteiro h 10,90 11,85 129,21
Reaterro (servente) h 3,72 11,20 41,68
Materiais
Preço (R$)
Serviço Unidade Quantidade Unitário Total
Concreto 20 MPa (inclui
Estacas

m³ 13,07 255,00 3.332,60


lançamento)

Aço CA-50 12,5 mm kg 77,04 3,16 243,45

Concreto 30 MPa (inclui


m³ 6,09 274,68 1.672,80
lançamento)
Aço CA-50 12,5 mm kg 216,87 3,01 652,78
Bloco

Aço CA-50 22 mm kg 172,23 3,25 559,75


Chapa de madeira compensada
plastificada para fôrma de m² 13,63 18,25 248,75
concreto(12mm)
TOTAL R$ 16.012,71
62

Tabela 31 - Estimativas de custos para estaca metálica + bloco

Mão de Obra
Preço (R$)
Serviço Unidade Quantidade Unitário Total
Escavação (servente) h 30,80 11,20 344,96
Armador h 31,98 15,77 504,30
Bloco

Ajudante de armador h 56,09 11,85 664,62


Carpinteiro h 23,69 15,77 373,67
Ajudante de carpinteiro h 5,92 11,85 70,15
Reaterro (servente) h 2,12 11,20 23,69
Materiais
Preço (R$)
Serviço Unidade Quantidade Unitário Total
Perfil (inclusive cravação) m 26 748,40 19.458,40
Concreto 30 MPa (inclui
m³ 3,00 274,68 824,04
lançamento)
Aço CA-50 12,5 mm kg 121,74 3,01 366,44
Bloco

Aço CA-50 22 mm kg 124,25 3,25 403,81


Chapa de madeira compensada
plastificada para fôrma de m² 7,40 18,25 135,05
concreto(12mm)
TOTAL R$ 23.169,13

O Gráfico 1 apresenta a relação alternativa de fundação x estimativa de custo


das três soluções adotadas.
63

R$ 24.000,00

R$ 22.000,00

R$ 20.000,00

R$ 18.000,00

R$ 16.000,00

R$ 14.000,00

R$ 12.000,00

R$ 10.000,00
Estaca tipo Hélice Contínua Estaca tipo Hélice Contínua Estaca Metálica
Monitorada + Bloco 01 Monitorada + Bloco 02

Gráfico 1 – Alternativa de fundação x Estimativa de custo

A alternativa que se mostrou mais econômica foi a utilização da estaca tipo


hélice contínua monitorada com a segunda opção de bloco, seguida pela da estaca
tipo hélice contínua monitorada com a primeira opção de bloco e pela da estaca
metálica.
Na alternativa que emprega estacas tipo hélice contínua monitorada com a
segunda opção de bloco, o valor total da execução das estacas (perfuração, armadura
e concretagem) corresponde a 61,36% do custo total, enquanto que na alternativa que
utiliza estacas metálicas, o valor dos perfis mais cravação representa 83,98% do custo
total.
A adoção da estaca metálica se apresentou 44,69% mais cara que a alternativa
mais econômica, desta forma, observa-se que apesar de a utilização da estaca
metálica possibilitar a execução de um bloco bem menor do que o da hélice contínua
monitorada, o custo do perfil de aço ainda impacta bastante no valor final da fundação.
64

5 CONCLUSÕES

Com base nos métodos semi-empíricos analisados, observou-se que para um


bloco de duas estacas, a única alternativa que satisfaz as condições de segurança
determinadas pelas normas e pelos métodos é a estaca metálica. Tanto a estaca pré-
moldada de concreto quanto a tipo hélice contínua monitorada não conseguem chegar
na capacidade de carga necessária (150,5 tf) para nenhum dos diâmetros disponíveis
no mercado e em nenhum dos comprimentos que o solo permite.
Analisando pelos métodos dinâmicos, para chegar a uma conclusão precisa
seria necessário realizar ensaios em campo a fim de obter a média de penetração da
estaca por golpe (nega), para então garantir que o solo apresentaria a resistência
desejada para a estaca cravada metálica.
Quando são comparados os custos do bloco sobre estacas considerando o
diâmetro executado originalmente no projeto (0,80 m) com os do bloco sobre estacas
metálicas, há uma grande diferença, sendo que o primeiro se apresenta 30,89%
menor que o segundo. Levando em consideração apenas o fator econômico, há uma
grande vantagem na escolha da estaca tipo hélice contínua monitorada comparada à
estaca metálica.
Todavia, como relatado neste trabalho, a melhor escolha de fundação é aquela
que se apresenta a melhor solução técnica e econômica, assim gerando o melhor
custo-benefício para a obra. Do ponto de vista técnico, embora tenha sido executada,
a estaca tipo hélice contínua não é indicada, tendo em vista que não apresentou a
resistência necessária respeitando os fatores de segurança e demais normativas.
Desta forma, ainda que tenha apresentado um custo mais elevado na comparação, a
estaca metálica é a melhor solução técnica e econômica para um bloco de duas
estacas executado para o carregamento e perfil geotécnico analisados.
65

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Sondagens de simples reconhecimento com SPT – Método de ensaio. Rio de
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sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios.
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SOUZA PINTO, Carlos de. Curso básico de mecânica dos solos em 16 aulas. 3.
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de projeto, investigação de subsolo, fundações superficiais, fundações
profundas. São Paulo: Oficina de Textos, 2010.
68

ANEXO A – PERFIS DE SONDAGEM DO SOLO


69
70
71
72

APÊNDICE A – DETALHAMENTO DOS BLOCOS E ARMADURAS

a) Bloco 01 sobre estacas tipo hélice contínua monitorada


73

b) Bloco 02 sobre estacas tipo hélice contínua monitorada


74

c) Bloco sobre estacas metálicas

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