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CURSO A DISTÂNCIA

Obras Públicas de
Edificação e Saneamento - Módulo Execução
Aula 5 – Principais aspectos da sanção contratual e da prestação de contas

Este conteúdo está organizado nos seguintes tópicos:

INTRODUÇÃO | 3

PARTE I – QUANDO E COMO APLICAR SANÇÕES ADMINISTRATIVAS? | 4


1. SANÇÕES ADMINISTRATIVAS | 4
1.1 Hipóteses e tipos de sanção | 5
1.2 Formalização do processo de sanção | 9
1.3 Pagamento das penalidades aplicadas | 11

PARTE II – QUAIS DETALHES DEVO OBSERVAR NA HORA DE PRESTAR CONTAS? | 13


2. PRINCIPAIS ASPECTOS SOBRE A PRESTAÇÃO DE CONTAS | 13
2.1 De quem é a responsabilidade para prestar contas? | 13
2.2 No caso de um convênio/contrato de repasse que ultrapasse o mandato do
prefeito, como fica a responsabilidade pela prestação de contas? | 13
2.3 O que acontece se o prefeito deixar de prestar contas de um convênio/contrato de repasse? | 15
2.4 Como proceder se o responsável não conseguir obter os
documentos necessários à prestação de contas? | 15
2.5 Para a prestação de contas basta comprovar que o objeto foi executado? | 16
2.6 Quais documentos devem ser apresentados na prestação de contas? | 16
2.7 Qual a diferença entre desvio de objeto e desvio de finalidade? | 19

CONSIDERAÇÕES FINAIS | 21
REFERÊNCIAS | 22
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Instituto Serzedello Corrêa

Supervisão:
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Conteudistas:
Bruno Martinello Lima
Gustavo Ferreira Olkowski
Victor Hugo Moreira Ribeiro

Tratamento Pedagógico:
Marta Eliane S. da Costa Bissacot

Este material tem função didática. A última atualização ocorreu em Maio de 2020.
As afirmações e opiniões são de responsabilidade exclusiva dos autores e podem
não expressar a posição oficial do Tribunal de Contas da União.
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5

INTRODUÇÃO

Chegamos à última aula do nosso curso!

Vimos, na aula passada, as condições que devem ser atendidas para se fazer aditivos contratuais. Dentre
outros assuntos, também estudamos o passo a passo para o encerramento do contrato, inclusive os
documentos que devem ser entregues pela contratada à Administração Pública.

Nesta aula, aprenderemos sobre sanção contratual, detalhando:

• as situações que determinam a aplicação de sanção ao contratado; e

• os procedimentos e cuidados que devem ser praticados.

Por último, abordaremos dúvidas frequentes sobre prestação de contas, quais sejam:

• Quais são as etapas na elaboração de uma prestação de contas?

• De quem é a responsabilidade para prestar contas?

• Como deve ser essa prestação de contas?

• Quais documentos devem ser apresentados?

• Qual a diferença entre desvio de objeto e desvio de finalidade? E quais as respectivas consequências?

Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de:

• compreender os principais aspectos a serem observados na aplicação de sanções administrativas;

• compreender a importância de manter registros da obra, relacionando prazos, orçamento, projeto,


cronograma e prestações de contas parciais e final; e

• compreender as etapas necessárias à elaboração das prestações de contas.

Então vamos começar!

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ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO

Parte I – Quando e como aplicar


sanções administrativas?

1. SANÇÕES ADMINISTRATIVAS
Existem situações em que a Administração Pública tem que fazer uso de algumas prerrogativas para que
o objeto do contrato seja entregue de acordo com o que foi negociado. Isso ocorre, por exemplo, quando a
empresa contratada:

• não cumpre o prazo para conclusão da obra;

• não cumpre alguma exigência de segurança do trabalho; ou

• executa algum serviço com má qualidade.

Na sua opinião, diante de situações como essas, quais seriam as


providências a serem adotadas pela Administração Pública responsável?

Antes de qualquer outra medida, deve-se tentar uma negociação junto à empresa contratada, para que ela
adote as providências necessárias para atender às exigências que estão sendo descumpridas.

Caso as irregularidades permaneçam, o fiscal e o gestor do contrato, conjuntamente, considerando cada


caso concreto, poderão decidir sobre a aplicação de sanções administrativas, de forma gradativa ou não.

A sanção administrativa, portanto, consiste na aplicação de penalidades ao contratado no caso de eventual


descumprimento de cláusulas do edital de licitação ou do contrato. Essas penalidades podem estar previstas
no contrato ou na legislação.

Como será visto adiante, a legislação prevê uma gradação das possíveis sanções administrativas a serem
aplicadas. Essa gradação seria uma forma de estimular a empresa a retomar o curso normal de execução
do contrato, sem partir logo de início para penalidades mais gravosas.

A dosimetria das sanções depende de uma avaliação, por parte do gestor do contrato, sobre a gravidade das
condutas irregulares da contratada. Observe que, muitas vezes, a aplicação inoportuna de sanções poderá
resultar num relacionamento conflituoso, dentro do canteiro de obras, entre a equipe de fiscalização e a
contratada. E não é isso que se deseja, certo!

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5

A falha da contratada sempre deve ser avaliada pelos critérios de razoabilidade,


conveniência e oportunidade, antes que seja iniciado um processo de aplicação de sanções.

Razoabilidade – verifique se o erro cometido pela empresa foi


grave ou teve impacto relevante na execução da obra.

Conveniência – observe se a empresa reconhece o erro e o corrige por sua própria


atuação, sem necessidade de iniciar procedimento de aplicação de penalidades.

Oportunidade – verifique se a aplicação das sanções não trará


maiores dificuldades para a conclusão da obra.

No entanto, se o erro cometido pela contratada for considerado grave, a Administração deve iniciar o
processo de aplicação das sanções cabíveis.

Uma das falhas graves mais comuns cometidas pelas empresas é o descumprimento do prazo de execução
da obra. A fiscalização deve ser diligente e avaliar o grau de extensão do atraso e as justificativas para sua
ocorrência, nos termos do art. 40, inciso III, da Lei nº 8.666/1993.

De acordo com a Lei nº 8.666/1993, os valores das multas e as hipóteses


em que serão aplicadas devem estar detalhados, conforme a gravidade
das ocorrências detectadas, tanto no edital quanto no contrato.

Veja, nos casos descritos a seguir, quais as sanções administrativas que podem ser aplicadas ao contratado,
sempre garantindo a prévia defesa, combinado!

1.1 HIPÓTESES E TIPOS DE SANÇÃO

A Lei nº 8.666/1993 prevê, em seus arts. 81 a 88, as hipóteses e os tipos de sanção administrativa que
podem ser aplicados no âmbito de um contrato de obras públicas.

As hipóteses previstas em lei são:

• recusa injustificada do adjudicatário em assinar o contrato dentro do prazo estipulado pelo edital;

• atrasos injustificados na execução da obra;

• inexecução total ou parcial do contrato;

• condenação definitiva por praticar, por meios dolosos, fraude fiscal no recolhimento de quaisquer
tributos em razão do contrato de execução de obra pública;

• prática de atos ilícitos visando a frustrar os objetivos da licitação; ou

• não possuir idoneidade para contratar com a Administração, em virtude de atos ilícitos praticados.

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1. A hipótese de aplicação de sanção baseada na recusa injustificada do adjudicatário


em assinar o contrato não se aplica para os licitantes classificados em segundo lugar
ou subsequentes, convocados a aceitarem a contratação nas mesmas condições
ofertadas na proposta do licitante vencedor primeiro colocado. No RDC e na Lei
das Estatais, essa questão é tratada de forma diferente, como será visto adiante.

2. A recusa da empresa em corrigir serviços executados com má qualidade


caracteriza inexecução parcial do contrato, já que a execução somente é certificada
e caracterizada com o atendimento das especificações técnicas do projeto.

No caso de atrasos injustificados na execução da obra, cabe aplicação de multa de mora, a qual deve ter
seu valor e gradação previstos em contrato e no edital. É uma boa prática que a multa seja proporcional ao
montante de atraso na execução. Quanto maior o atraso, maior o valor da multa.

Sua aplicação depende de prévia instauração de processo administrativo em que a empresa seja convocada
a se defender e se manifestar. Se a defesa da empresa for insuficiente para justificar os atrasos, caberá a
aplicação da multa.

A eventual aplicação de multa por atraso não impede, em situações de


atrasos muito graves, que sejam tomadas outras providências, a exemplo
da rescisão unilateral do contrato e da aplicação de outras sanções.

Como o atraso na execução da obra é causa de aplicação de sanções, a fiscalização do órgão contratante deve:

• acompanhar com atenção o cronograma físico-financeiro previsto, observando se os prazos estão


sendo respeitados;

• diante de eventual ocorrência de atrasos, verificar quais são as causas desses atrasos, sempre
registrando e reportando os fatos para sua chefia imediata; e

• se entender que as causas dos atrasos podem ser atribuídas à contratada, abrir processo
administrativo próprio para futura aplicação de multa de mora.

Os atrasos injustificados e causados pela empresa contratada não devem ser premiados
com a celebração de aditivos de prorrogação de prazo de execução da obra.

Destacamos esse ponto, porque, via de regra, em várias obras públicas brasileiras, a
Administração Pública responsável, ao invés de tomar medidas que visem a sancionar
a empresa contratada que incorreu em atrasos injustificados na execução da obra,
tem celebrado aditivo de prorrogação do prazo de execução do empreendimento.
A adoção desse procedimento trata-se, sem dúvida, de um erro grave!

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5

No que se refere à inexecução total ou parcial do contrato, convém comentar que essa hipótese, geralmente,
ocorre quando a empresa contratada abandona ou paralisa a obra sem justificativas, antes de sua conclusão
e recebimento. Essa é uma conduta irregular mais grave que o atraso na execução da obra.

Também pode ser caracterizada como inexecução parcial da obra a recusa da empresa em reparar algum
serviço com qualidade deficiente, após solicitação do órgão contratante, ou outras condutas similares.
Exemplo: recusa injustificada da empresa em seguir as especificações e os detalhes do projeto básico ou
executivo da obra aprovado pelo órgão contratante.

Uma outra hipótese de inexecução total da obra, por sua vez, consiste na recusa injustificada do licitante
vencedor em assinar ou retirar o respectivo contrato, dentro do prazo previsto pela Administração Pública,
conforme art. 81 da Lei nº 8.666/1993.

Para esses casos de inexecução parcial ou total da obra, a Lei de Licitações prevê a possibilidade de aplicar
as seguintes sanções:

Advertência É a sanção mais leve, destinada a falhas de pouca gravidade.

Consiste em uma notificação por escrito enviada à empresa contratada,


visando a alertá-la acerca da falha cometida e mostrar a necessidade
de evitar a reincidência no mesmo problema. Por isso, a advertência
serve como um aviso à empresa para que, caso os mesmos problemas
se repitam, uma sanção mais severa possa ser aplicada.
Multa, na forma Diferente da multa por atraso na execução (multa por mora), essa
prevista no edital ou no multa pode ser aplicada como uma punição referente a eventuais
contrato outras faltas graves cometidas pela contratada e não sanadas
tempestivamente.

Exemplo: baixa qualidade de execução dos serviços da obra.

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Suspensão temporária É uma punição mais séria, aplicada na ocorrência de falhas graves.
de participação em O objetivo de suspender a empresa é resguardar a Administração
licitação e impedimento de contratar uma empresa sabidamente problemática, por um
de contratar com a determinado tempo.
Administração, por
prazo não superior a 2 De acordo com a jurisprudência do TCU (cf. Acórdãos nº 1.539/2010,
(dois) anos 2.962/2015, 3.243/2012, 3.439/2012, 1.064/2013, 504/2015, 1.003/2015,
todos do Plenário), essa penalidade incide somente em relação ao
órgão ou entidade contratante. Isso quer dizer que, caso o município A
aplique essa sanção a uma empresa, o município B poderá contratá-la.

Essa questão da amplitude da sanção de suspensão temporária é


um pouco controversa. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem o
entendimento de que a sanção de suspensão do direito de licitar vale
para todos os órgãos e entidades da Administração Pública do ente
federativo (União, Estado, DF ou município) que aplicou a sanção (STJ
RMS 32628/SP, Rel. Min. Mauro Campbell, STJ REsp 151.567/RJ, Rel.
Min. Francisco Peçanha Martins, entre outros).
Declaração de Essa punição, que pode ser aplicada apenas por Ministro de Estado,
inidoneidade para Secretário estadual ou municipal, ou autoridades de nível hierárquico
licitar ou contratar equivalente, é reservada para os casos em que a empresa tenha
com a Administração causado prejuízos graves ao município.
Pública, enquanto
perdurarem os motivos A reabilitação da empresa será concedida sempre que o contratado
determinantes da ressarcir a Administração pelos prejuízos e após decorrido o prazo da
punição ou até que sanção aplicada de suspensão temporária de participação em licitações.
seja promovida a
reabilitação perante a Essa sanção tem alcance muito mais amplo que a de suspensão
própria autoridade que temporária de participação em licitação e impedimento de contratar
aplicou a penalidade com a Administração, visto que a empresa fica impossibilitada
de celebrar contratos ou participar de licitações com qualquer
entidade pública de qualquer esfera, conforme explica o Acórdão nº
2530/2015-TCU-Plenário.

Vale destacar que a Lei das Estatais (Lei 13.303/2016) não prevê esse tipo
de punição para empresas contratadas em licitações regidas por essa lei.

Caso uma empresa pública ou sociedade de economia mista verifique


um caso grave que requeira aplicação de declaração de inidoneidade,
deverá submeter a questão para o respectivo Ministro de Estado ou
Secretário estadual, distrital ou municipal que seja seu surpevisor, e
esta autoridade poderá aplicar a sanção.

Vale comentar que empresas declaradas inidôneas não podem


participar de licitações promovidas por empresas estatais, conforme
art. 38, inciso III, da Lei das Estatais.

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5

Observe que as sanções são gradativamente mais fortes, começando em uma simples advertência por escrito
até uma eventual suspensão temporária de celebrar novos contratos com o município, União, DF ou Estado,
por até dois anos, ou uma declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração Pública.

A forma e os valores a serem aplicados como multa devem


estar previstos no edital e no contrato.

É importante dizer que a sanção de multa e de suspensão temporária de licitar ou de declaração de


inidoneidade podem ser cumulativamente aplicadas. Isto é, para uma mesma irregularidade, o gestor pode
aplicar simultaneamente a penalidade de multa e a de suspensão de licitar ou de declaração de inidoneidade.

Será que há alguma diferença no Regime Diferenciado de Contratações?

É importante dizer que as mesmas regras atinentes a sanções administrativas previstas na Lei nº 8.666/1993
podem ser aplicadas em contratos celebrados no Regime Diferenciado de Contratações (RDC), por força
do art. 39 e do art. 47, § 2º, da Lei nº 12.462/2011, embora haja alguns detalhes adicionais em relação às
sanções previstas no RDC.

Além das hipóteses de atraso injustificado e de inexecução total ou parcial do contrato, também são
hipóteses de aplicação de sanção no RDC:

I - a recusa do licitante adjudicatário em celebrar o contrato da obra, embora convocado


dentro do prazo de validade da sua proposta, inclusive nos casos em que o licitante segundo
colocado for convocado para assinar contrato nas condições de sua proposta (hipótese em
que nenhum dos licitantes classificados aceitou firmar contrato nas condições da proposta do
licitante vencedor – vide art. 40, parágrafo único, da Lei nº 12.462/2011) ou para contratação
de remanescente de obra – veja que essa hipótese do RDC é diferente da Lei nº 8.666/1993;

II - a não entrega pelo licitante da documentação exigida para


o certame ou a apresentação de documento falso;

III - o retardamento da execução ou da entrega do


objeto da licitação sem motivo justificado;

IV - o licitante não manter a proposta, salvo se em decorrência


de fato superveniente, devidamente justificado;

V - o licitante fraudar a licitação ou praticar atos


fraudulentos na execução do contrato; ou

VI - o licitante comportar-se de modo inidôneo ou cometer fraude fiscal.

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Perceba que o RDC ampliou o rol de possíveis condutas do licitante passíveis de serem enquadradas em
uma posterior sanção administrativa.

Um detalhe diferente das sanções previstas no RDC, em relação ao que consta na Lei nº 8.666/1993, é que o
prazo de suspensão de uma empresa para participar de licitações e contratos públicos é de até 5 anos e não
2 anos, como previsto na Lei de Licitações.

Já a Lei das Estatais – Lei nº 13.303/2016 – não traz previsão explícita de que a entidade contratante poderá
aplicar sanção ao licitante adjudicatário em caso de recusa em assinar o contrato da obra. Nesse caso, a lei
indica (art. 75) que o prazo de convocação para assinatura do contrato poderá ser prorrogado uma vez por
igual período ao que foi estabelecido originalmente, ou poderão ser convocados os licitantes remanescentes,
conforme ordem de classificação da licitação, para assinar o contrato nas mesmas condições do licitante
vencedor, ou ainda poderá ser revogada a licitação.

1.2 FORMALIZAÇÃO DO PROCESSO DE SANÇÃO

Após ter sido verificada a ocorrência de uma eventual conduta irregular por parte da empresa contratada,
é necessário que, antes da aplicação ou não da sanção, os fatos sejam apurados em um processo
administrativo, no qual seja concedida a oportunidade de a empresa se manifestar e se defender.

Dessa maneira, em termos práticos, caberá ao fiscal do contrato autuar um novo processo, em cujas peças
iniciais devem constar:

a. descrição dos fatos e das condutas irregulares da empresa e seu enquadramento na legislação e nas
cláusulas do edital e do contrato; e

b. evidências e provas acerca dos erros cometidos pela empresa – os tipos de evidências mais usuais são
ofícios de alerta à empresa e respectivas respostas da contratada, cronogramas descumpridos, diário
de obras com respectivas anotações da fiscalização atinentes às falhas, relatórios fotográficos, provas
de descumprimento das especificações do projeto ou do cronograma etc.

O próximo passo é enviar ofício à empresa, com a descrição resumida das condutas irregulares a
ela imputadas e a concessão de prazo de 5 dias úteis para defesa, conforme prevê o art. 87, § 2º, da
Lei nº 8.666/1993; ou de 10 dias, em caso de declaração de inidoneidade.

É importante que o ofício seja redigido de forma clara o suficiente para a compreensão da empresa acerca:

• de quais são os pontos a que ela está sendo chamada a se manifestar;

• do número do processo;

• das fases processuais seguintes;

• do rito processual – informações acerca de prazos e eventuais consequências em caso de rejeição das
justificativas da empresa;

• das formas de acessar e obter cópias dos autos; e

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5

• do endereço de protocolo, para envio da manifestação por escrito da empresa e de outras informações
consideradas essenciais para sua defesa.

Recebidas as alegações de defesa da empresa, essas devem ser analisadas tecnicamente pelo gestor
do contrato, com base nas evidências colhidas no contrato, no edital, no diário de obras e em outros
documentos produzidos pela fiscalização.

Caso as alegações da empresa sejam insuficientes, caberá recomendar a aplicação de uma das sanções
previstas em lei. A efetiva aplicação deverá ser realizada pela mesma autoridade responsável pela celebração
do contrato, exceto no caso de declaração de inidoneidade, conforme prevê a Orientação Normativa nº 48,
da Advocacia-Geral da União (AGU).

No caso específico de declaração de inidoneidade, o art. 87, § 3º, da Lei nº 8.666/1993 prevê que a autoridade
competente para a aplicação desse tipo de sanção é o Ministro de Estado, Secretário estadual ou municipal,
ou, ainda, autoridades de nível hierárquico equivalente.

Um ponto importante acerca da aplicação de sanções é a necessidade de registro desse acontecimento no


Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores (SICAF), do Governo Federal, acessível em www.
comprasnet.gov.br. O SICAF possui campos específicos de registro de aplicação de sanções às empresas.
Mais detalhes acerca de como realizar o registro no SICAF das sanções aplicadas podem ser obtidos em
manuais constantes do sistema Comprasnet.

Conforme aprendemos, as sanções devem ser proporcionais e razoáveis frente à gravidade da conduta
da empresa.

1.2.1. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA

O princípio constitucional do contraditório e da ampla defesa é respeitado a partir do momento em que, antes
da aplicação da sanção, a empresa é chamada ao processo administrativo para se manifestar e se defender.

Aprendemos que isso ocorre por meio de envio de ofício, bem redigido e bastante claro acerca de qual é a
matéria tratada, concedendo prazo para que a empresa traga suas considerações.

Outro detalhe importante é que esse ofício deve ser enviado com Aviso de Recebimento (AR), conforme
determina o art. 26, § 3º, da Lei nº 9.784/1999, de modo a:

• obter uma prova de que a empresa recebeu a comunicação e da data em que isso ocorreu;

• evitar posteriores questionamentos de cerceamento de defesa; e

• evitar relatos de que a empresa não recebeu o documento convocando-lhe para se defender, caso, por
exemplo, a empresa não protocole sua defesa dentro do prazo estipulado.

Além disso, caso haja evidências de que a empresa recebeu o ofício, como o aviso de recebimento dos
Correios, e de que o prazo concedido expirou, o processo de aplicação de sanções pode prosseguir

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normalmente. Nessa situação, considera-se que a empresa foi revel, isto é, embora tenha sido chamada a se
defender, não o fez dentro do prazo. Esse é mais um motivo para que o prazo seja razoável.

Outro ponto importante é que eventuais pedidos de prorrogação de prazo, solicitados pela empresa para
sua defesa, devem ser examinados, e após exame fundamentado, concedidos ou não. Em qualquer caso,
a empresa deve ser comunicada a respeito da concessão ou não da prorrogação de prazo para sua defesa.

Finalizados os prazos de defesa e diante da decisão


pela aplicação de multa, como proceder?

1.3 PAGAMENTO DAS PENALIDADES APLICADAS

Em caso de aplicação de sanções pecuniárias à empresa contratada (multas), a legislação define que o
pagamento das sanções deverá ser descontado das garantias fornecidas na assinatura do contrato, seja
elas: caução em dinheiro ou títulos da dívida pública, fiança bancária ou seguro-garantia (art. 86, § 2º, da
Lei nº 8.666/1993).

Caso a garantia do contratado tenha sido na modalidade de seguro-garantia, o gestor deverá buscar
caracterizar o sinistro, junto à seguradora, nos termos da apólice, e imediatamente obter o valor
correspondente ao da multa.

É fundamental que o gestor e o fiscal estudem a apólice de seguros para verificar


as condições que devem ser observadas quando houver a necessidade de acionar
o seguro, em especial o prazo para comunicação do sinistro. A comunicação
do sinistro fora do prazo ocasionará o não pagamento pela seguradora.

Se a multa for de valor superior ao valor da garantia prestada, além da perda desta, a diferença deverá ser
descontada dos pagamentos eventualmente devidos pela Administração (medições vencidas, por exemplo),
ou ainda, quando for o caso, cobrada judicialmente.

No caso do RDC, as regras são idênticas.

Finalizamos a primeira parte desta aula. Vamos revisar


alguns aspectos que aprendemos nesta aula?

• A sanção administrativa consiste na aplicação de penalidades ao contratado no caso


de eventual descumprimento de cláusulas do edital de licitação ou do contrato.

• As penalidades podem estar previstas tanto no contrato como na legislação.

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5

• A decisão sobre a aplicação de sanções pode ser tomada pelo gestor do


contrato, no caso de advertência, multa ou suspensão temporária de licitar.
Já a sanção de declaração de inidoneidade é de competência exclusiva
de Ministros de Estado, Secretários Estaduais ou Municipais.

• A dosimetria das sanções depende de uma avaliação, por parte do


gestor, sobre a gravidade das condutas irregulares da contratada.

• A aplicação de sanções deve ser registrada no SICAF.

Aprendemos, aqui, como funciona o processo de aplicação de penalidades contratuais a uma empresa que
tenha cometido falhas ou irregularidades na execução de uma obra pública. A seguir, passaremos a estudar
aspectos atinentes à prestação de contas de um convênio ou contrato de repasse.

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ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO

Parte II – Quais detalhes devo observar


na hora de prestar contas?

2. PRINCIPAIS ASPECTOS SOBRE A


PRESTAÇÃO DE CONTAS
A prestação de contas é obrigatória para qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize,
arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos (veja art. 70, § único, da CF/88,
art. 93 do Decreto-Lei nº 200/67 e art. 66 do Decreto nº 93.872/86). Seu objetivo é demonstrar a correta
aplicação dos recursos transferidos.

Examinaremos a seguir o entendimento do TCU sobre as principais dúvidas relacionadas à essa fase de
prestação de contas.

2.1 DE QUEM É A RESPONSABILIDADE PARA PRESTAR CONTAS?

“A obrigação primária de prestar contas dos recursos transferidos ao município


recai sobre o prefeito em cuja gestão se enquadra a data prevista para fazê-lo.”
(Acórdão nº 3576/2019-TCU-Segunda Câmara | Relatora: Ana Arraes)

Perceba que a elaboração da prestação de contas é sempre responsabilidade


do gestor que está em exercício na data definida para sua apresentação,
quer ele tenha assinado ou não o termo de convênio.

2.2 NO CASO DE UM CONVÊNIO/CONTRATO DE REPASSE QUE


ULTRAPASSE O MANDATO DO PREFEITO, COMO FICA A
RESPONSABILIDADE PELA PRESTAÇÃO DE CONTAS?

A legislação e a jurisprudência do TCU indicam que o prefeito sucessor, ainda que não tenha assinado
o convênio originalmente, é o responsável por prestar contas dos recursos federais recebidos por
seu antecessor. Caso seja impossível efetuar a prestação de contas no prazo legal, é importante que
o prefeito sucessor adote as medidas necessárias para ressarcir o patrimônio público, sobretudo a
instauração de Tomada de Contas Especial, bem como comunicação ao Ministério Público competente
para as apurações cabíveis.

Não raro a documentação referente aos recursos federais recebidos encontra-se extraviada ou inutilizada.
Nessas circunstâncias, é importante que o prefeito sucessor reúna provas do ocorrido, e instaure a

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5

competente Tomada de Contas Especial. Em casos de potencial crime (incêndios, furtos etc.), deve comunicar
ao Ministério Público.

Para aprender sobre instauração de Tomada de Contas Especial,


sugerimos os cursos do ISC/TCU referentes ao tema.

A jurisprudência do TCU indica que a omissão do prefeito sucessor em adotar


as medidas cabíveis de apuração dos débitos e responsáveis pode levar a que
ele também seja responsabilizado juntamente com seus antecessores.

A seguir, trazemos alguns trechos da jurisprudência do TCU que aborda esse tema:

• Compete ao prefeito sucessor apresentar as contas referentes aos recursos federais recebidos por
seu antecessor, quando este não o tiver feito ou, na impossibilidade de fazê-lo, adotar as medidas
legais visando ao resguardo do patrimônio público com a instauração da competente tomada de
contas especial, sob pena de corresponsabilidade. (Súmula TCU nº 230)

• Cabe ao prefeito sucessor a apresentação da prestação de contas de convênios com prazo


estabelecido para tal ao longo da sua gestão, mesmo que os recursos tenham sido aplicados pelo
prefeito antecessor. (Acórdão nº 598/2010-Segunda Câmara | Relator: Aroldo Cedraz)

• Constitui irregularidade grave a não apresentação de prestação de contas, pelo prefeito sucessor,
de convênio cuja vigência encerrou-se em seu mandato ou, no caso de o prefeito antecessor não ter
deixado a documentação correlata, a falta de adoção de medidas tendentes a resguardar o erário.
A constatação de que a totalidade dos recursos foi gerida pelo prefeito antecessor permite que o
débito seja imputado somente a esse responsável. (Acórdão nº 2796/2010-Segunda Câmara | Relator:
Augusto Sherman)

• O prefeito sucessor responde, solidariamente com o seu antecessor, por dano causado ao erário,
diante da falta de evidências que comprovem ter ele adotado medidas para resguardar o patrimônio
público, por meio de ajuizamento de ação tendente a reaver os recursos de ajuste, cujo prazo para
prestar contas encerrou-se em seu mandato. (Acórdão nº 2715/2009-Primeira Câmara | Relator:
Augusto Nardes)

• É regular a conduta do prefeito sucessor que, ante justificativa plausível sobre a impossibilidade
de prestar contas dos recursos federais geridos por seu antecessor, comunica o fato ao órgão ou
à entidade concedente e lhe solicita a instauração da tomada de contas especial, ainda que, em
nome da municipalidade, deixe de ajuizar ação judicial em desfavor daquele, tendo em vista a
regra disposta no art. 26-A, § 8º, da Lei nº 10.522/2002. (Acórdão nº 12533/2019-Segunda Câmara |
Relator: Ana Arraes)

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• É afastada a responsabilidade do prefeito sucessor se este, na impossibilidade de apresentação das


contas do prefeito anterior que se encerram na sua gestão, adota medidas visando ao resguardo do
patrimônio público e a instauração de tomada de contas especial. (Acórdão nº 1514/2015-Primeira
Câmara | Relator: Bruno Dantas)

2.3 O QUE ACONTECE SE O PREFEITO DEIXAR DE PRESTAR


CONTAS DE UM CONVÊNIO/CONTRATO DE REPASSE?

Quando o prefeito deixa de prestar contas, há uma série de consequências e potenciais sanções, uma vez
que a omissão no dever de prestar contas significa descumprimento da Constituição e da legislação. Em
razão disso, via de regra, a omissão no dever de prestar contas resulta na presunção de que a totalidade dos
recursos transferidos tenha sido desviada.

Essa é a importância de prestar contas. Prestar contas significa cumprir a Constituição, bem como exercer
o dever de transparência para a sociedade, esclarecendo-a de que forma foram empregados os recursos
que são de todos nós, certo!

A ideia de prestar contas dos recursos públicos é um conceito que vem desde os tempos do Império Romano. Os
gestores públicos daquela época, há mais de 2.000 anos, já tinham a obrigação de prestar contas à sociedade.

Por isso, lembre-se, caso seu munícipio tenha recebido recursos federais, organize a documentação
pertinente que comprova a correta aplicação desses recursos no objeto pactuado, pois somente assim estará
garantida uma adequada prestação de contas.

Seguem algumas jurisprudências do TCU sobre esse assunto:

• A omissão no dever de prestar contas significa não somente descumprimento da Constituição


e da legislação em vigor, mas também violação da transparência na prática dos atos de gestão,
ausência de comprovação da lisura no trato com a coisa pública e presunção de que a totalidade dos
recursos públicos federais transferidos ao convenente tenha sido integralmente desviada. (Acórdão
nº 2256/2017-Primeira Câmara | Relator: Walton Alencar Rodrigues)

• A ausência de comprovação da aplicação dos recursos, em decorrência da omissão no dever de prestar


contas do responsável, acarreta julgamento pela irregularidade das contas, condenação em débito e
aplicação de multa. (Acórdão nº 1616/2015-Primeira Câmara | Relator: Augusto Sherman)

• No caso de omissão injustificada no dever de prestar contas de convênio celebrado com município,
responde pelo débito o gestor municipal. (Acórdão nº 9907/2011-Segunda Câmara | Relator: André
De Carvalho)

• No caso de omissão no dever de prestar contas, não cabe imputar débito ao gestor sucessor se a
aplicação dos recursos transferidos, a vigência do convênio e o fim do prazo para prestação de contas
tiverem ocorrido na gestão do antecessor. Contudo, o sucessor não se exime da responsabilidade de
tomar providências judiciais no sentido de recompor o débito e de obter os documentos necessários
à prestação de contas ou à instauração da tomada de contas especial, conforme o caso. (Acórdão
nº 3912/2016-Primeira Câmara | Relator: Bruno Dantas)

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5

2.4 COMO PROCEDER SE O RESPONSÁVEL NÃO CONSEGUIR OBTER


OS DOCUMENTOS NECESSÁRIOS À PRESTAÇÃO DE CONTAS?

Caso haja qualquer dificuldade em reunir a documentação pertinente à prestação de contas, seja por qual
razão for (ex.: o prefeito antecessor extraviou ou queimou a documentação etc.), é importante que o prefeito
sucessor tome as medidas cabíveis e faça as comunicações devidas, a saber, a instauração de Tomada de
Contas Especial, a comunicação ao Ministério Público, bem como possíveis ajuizamentos de medidas judiciais.

Isto é, o prefeito sucessor deverá pedir à assessoria jurídica do município que entre com um pedido, perante
o Judiciário, para que o(s) prefeito(s) antecessor(es), ou quem quer que seja o responsável, seja(m) obrigado(s)
a entregar ao município a documentação que estiver em seu poder.

• Eventuais dificuldades do gestor na obtenção dos documentos necessários à prestação de contas dos
recursos geridos, inclusive as derivadas de ordem política, se não resolvidas administrativamente,
devem ser por ele levadas ao conhecimento do Poder Judiciário por meio de ação própria, uma vez
que a responsabilidade pela comprovação da boa e regular aplicação dos recursos públicos é pessoal.
(Acórdão nº 437/2018-Segunda Câmara | Relator: Augusto Nardes)

2.5 PARA A PRESTAÇÃO DE CONTAS BASTA COMPROVAR


QUE O OBJETO FOI EXECUTADO?

Não! Além de comprovar que o objeto foi executado, é de suma importância que a documentação da
prestação de contas consiga provar que os recursos federais transferidos foram, de fato, aplicados na obra.

Por exemplo, se o município recebeu recursos para a pavimentação de uma rua, é importante comprovar
que os valores foram destinados a essa obra e não ao pagamento de pessoal, por exemplo, ainda que a obra
tenha sido executada com outros recursos.

Não pode haver confusão no trato dos recursos federais transferidos ao município. É necessário que eles
sejam aplicados na exata destinação que se referem.

Confira algumas jurisprudências do TCU sobre esse tema:

• Para a comprovação da regular aplicação dos recursos recebidos mediante convênio ou contrato de
repasse, não basta a demonstração de que o objeto pactuado foi executado, mas que foi realizado com os
recursos repassados para esse fim. (Acórdão nº 9580/2015-Segunda Câmara | Relator: Vital Do Rêgo)

• A prestação de contas deve demonstrar não só a execução do objeto pactuado no convênio, mas
também o nexo de causalidade, por meio do vínculo estrito entre os recursos federais repassados e as
despesas incorridas para a consecução do objeto conveniado, sem o que não há comprovação da boa e
regular aplicação dos recursos públicos. (Acórdão nº 997/2015-Plenário | Relator: Benjamin Zymler)

• A existência física do objeto pactuado, por si só, não constitui elemento apto a comprovar a regular
aplicação dos recursos federais repassados, quando não ficar caracterizado o nexo de causalidade.
(Acórdão nº 852/2014-Segunda Câmara | Relator: André De Carvalho)

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2.6 QUAIS DOCUMENTOS DEVEM SER APRESENTADOS


NA PRESTAÇÃO DE CONTAS?

É importante que a documentação da prestação de contas esteja organizada e seja apresentada conforme
exige a legislação, principalmente o Decreto nº 6.170/2007.

Entre os principais documentos, encontram-se, conforme o art. 62 da Portaria Interministerial nº 424/2016:

a. Relatório de cumprimento do objeto – acompanhado de provas de que o objeto foi executado;

b. Declaração de realização dos objetivos a que se propunha o instrumento;

c. Comprovante de recolhimento do saldo de recursos, quando houver;

d. Termo de compromisso por meio do qual o município será obrigado a manter os documentos
relacionados ao instrumento; e

e. Extratos bancários da conta específica do convênio e demais documentos relativos à execução


financeira do convênio (ex.: notas fiscais etc.).

A Portaria Interministerial nº 424/2016 previu que convênios de


baixo valor têm modelos mais simplificados de prestação de contas.
Para maiores detalhes, sugerimos a leitura desse normativo.

Conheça, a seguir, alguns conceitos extraídos da jurisprudência do TCU:

• Para comprovar a boa e regular aplicação de recursos públicos transferidos por força de convênios
celebrados com a União, não basta a simples apresentação da prestação de contas do ajuste. É
imprescindível que o responsável evidencie, por meio de documentos idôneos, que o objeto do
convênio foi efetivamente executado com os valores recebidos. Tal evidenciação só se dá mediante
inequívoca comprovação da existência de nexo de causalidade entre a fonte de receita e os gastos para
consecução do objeto do ajuste. Assim, é imperioso que, com os documentos apresentados com vistas
a comprovar o bom emprego dos valores públicos, seja possível constatar que eles foram efetivamente
utilizados no objeto pactuado, de acordo com os normativos legais e regulamentares vigentes.
(Acórdão nº 6098/2017-Primeira Câmara | Relator: Benjamin Zymler)

• A existência física do objeto, por si só, não constitui elemento apto a comprovar a regular aplicação
dos recursos federais repassados por meio de convênio, deve o gestor demonstrar, por meio de
notas fiscais, recibos, procedimentos licitatórios, contratos, extratos bancários, cópias de cheques
e ordens de pagamento, que a obra foi executada com os recursos destinados pelo ajuste. (Acórdão
nº 1395/2015-Primeira Câmara | Relator: Augusto Sherman)

2.6.1. BOLETINS DE MEDIÇÃO E/OU OUTROS DOCUMENTOS


EMITIDOS PELA PREFEITURA

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5

• Não é suficiente para estabelecer o nexo de causalidade entre os recursos recebidos e a execução do
objeto conveniado a apresentação de documentos produzidos somente pela prefeitura, chancelados
ou não pelo próprio gestor municipal, ainda que o concedente ateste a execução parcial do objeto.
(Acórdão nº 5486/2011-Segunda Câmara | Relator: André De Carvalho)

• Não há comprovação do nexo de causalidade entre as despesas realizadas e os recursos federais


recebidos quando as despesas não foram comprovadas mediante documentos originais fiscais (recibos,
notas fiscais, faturas, dentre outros) emitidos em nome do convenente ou executor, devidamente
identificados - nome e número do convênio. Testemunhos e fotografias, por si sós, não servem como
prova do referido nexo causal. (Acórdão nº 1477/2012-Segunda Câmara | Relator: Ana Arraes)

2.6.2. FOTOGRAFIAS

• Fotografias não são meio de prova suficiente para comprovar a regularidade da aplicação de recursos
públicos transferidos, pois, no máximo, podem comprovar a existência do objeto conveniado, mas não
são capazes de demonstrar, efetivamente, o nexo entre os recursos federais e as despesas efetuadas.
(Acórdão nº 2986/2016-Primeira Câmara | Relator: Bruno Dantas)

• A apresentação de fotografias e declarações, desacompanhadas de provas mais consistentes, é insuficiente


para comprovar a regularidade da aplicação dos recursos públicos transferidos por meio de convênio,
porque, embora possam, eventualmente, demonstrar a realização do objeto, não revelam, efetivamente, a
origem dos recursos aplicados. (Acórdão nº 3882/2014-Segunda Câmara | Relator: Ana Arraes)

• Declarações de terceiros, fotos e informações sobre a regularização da obra não são elementos que
permitem a identificação da origem dos recursos aplicados nem o necessário nexo causal entre
as despesas realizadas e os recursos federais transferidos pelo convênio, ainda que se prestem a
comprovar a realização do objeto. (Acórdão nº 8938/2015-Segunda Câmara | Relator: André De
Carvalho)

2.6.3. NOTAS FISCAIS

• Configura irregularidade grave a falta de identificação do convênio nas notas fiscais, porquanto
tal prática permite a utilização do mesmo documento fiscal para justificar a realização da
despesa perante variados convênios e, até mesmo, em face da contabilidade municipal. (Acórdão
nº 2430/2017-Primeira Câmara | Relator: Walton Alencar Rodrigues)

• A ausência de indicação do número do ajuste nas notas fiscais não é mera falha formal, mas constitui
forte indício da ausência de nexo de causalidade entre os recursos recebidos e as despesas realizadas
para a execução do objeto. (Acórdão nº 6098/2017-Primeira Câmara | Relator: Benjamin Zymler)

2.6.4. EXTRATO BANCÁRIO

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• É obrigatória a manutenção das importâncias voluntariamente transferidas em conta bancária


específica, para controle da aplicação dos recursos. E nas prestações de contas é exigida a apresentação
do extrato bancário da conta corrente específica. (Acórdão nº 5609/2012-Primeira Câmara | Relator:
Marcos Bemquerer)

• A ausência do extrato da conta bancária específica do convênio impede o estabelecimento do nexo


de causalidade entre os recursos repassados e a execução do objeto. (Acórdão nº 774/2012-Primeira
Câmara | Relator: Weder De Oliveira)

2.7 QUAL A DIFERENÇA ENTRE DESVIO DE OBJETO E DESVIO DE FINALIDADE?

• O desvio de objeto se configura quando o convenente, sem autorização prévia do concedente, executa
ações não previstas no plano de trabalho da avença, mas, em alguma medida, preserva o fim a que se
destinam os recursos. O desvio de finalidade ocorre quando os recursos são aplicados em finalidade
diversa daquela anteriormente pactuada ou ainda quando o escopo específico da avença não é
atendido em decorrência de irregularidades na execução do ajuste. (Acórdão nº 1798/2016-Primeira
Câmara | Relator: Marcos Bemquerer)

• É caracterizado como desvio de objeto a aplicação de recursos públicos dentro da finalidade prevista
no ajuste, mas em objeto distinto que atingiu a finalidade. (Acórdão nº 5514/2011-Primeira Câmara |
Relator: Marcos Bemquerer)

• Constitui desvio de objeto, e não desvio de finalidade na aplicação dos recursos, a alteração dos
logradouros em que deveriam ser realizadas as obras. (Acórdão nº 2065/2011-Primeira Câmara |
Relator: Ubiratan Aguiar)

• A alteração de beneficiários de convênios celebrados para construção ou reforma de unidades


habitacionais, sem prévia permissão do órgão concedente, é considerada desvio de finalidade e não
mero desvio de objeto, pois a situação de vulnerabilidade dos beneficiários nominalmente relacionados
no plano de trabalho aprovado não pode ser ignorada pelo município sem a anuência do órgão
repassador. (Acórdão nº 7469/2015-Segunda Câmara | Relator: Augusto Nardes)

• É caracterizado como desvio de finalidade na execução de convênio a hipótese de construção de


unidades habitacionais em local diverso do acordado e com entrega a pessoas não originalmente
contempladas no ajuste. (Acórdão nº 4590/2010-Segunda Câmara | Relator: José Jorge)

2.7.1. O QUE ACONTECE SE VIER A OCORRER O DESVIO DO OBJETO?

• O desvio de objeto, mas não de finalidade, na execução de despesas não enseja a restituição
dos valores empregados, mas sujeita o responsável à pena prevista no art. 58, inciso II, da Lei
nº 8.443/1992, por descumprimento do ajustado. (Acórdão nº 4374/2014-Primeira Câmara | Relator:
José Mucio Monteiro)

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5

• O desvio de objeto na aplicação dos recursos, desde que mantida a finalidade avençada do gasto,
não leva necessariamente à imputação de débito. Conforme o caso, a ocorrência pode levar ao
julgamento pela irregularidade das contas, com aplicação de multa aos responsáveis. (Acórdão
nº 5304/2013-Primeira Câmara | Relator: Valmir Campelo)

2.7.2. O QUE ACONTECE SE VIER A OCORRER O DESVIO DE FINALIDADE?

• Comprovado que o estado, o Distrito Federal, o município ou a entidade a eles vinculada se beneficiou
pela aplicação irregular, com desvio de finalidade, de recursos federais, o ente federado será
condenado ao pagamento do débito, e o agente público responsável, apenado com multa. (Acórdão
nº 249/2014-Plenário | Relator: Raimundo Carreiro)

Vamos revisar alguns aspectos que aprendemos nesta aula?

• A responsabilidade por prestar contas de recursos federais recebidos cabe


ao prefeito em que se encerrar a vigência do instrumento de repasse,
ainda que não seja o prefeito que tenha assinado o instrumento.

• A prestação de contas deve trazer evidências de que o objeto foi


executado e que os recursos federais transferidos foram utilizados
na obra e não foram aplicados em outro objeto ou finalidade.

• O desvio de objeto ocorre quando o convenente, sem autorização prévia


do concedente, executa ações não previstas no plano de trabalho, mas,
em alguma medida, preserva o fim a que se destinam os recursos.

• O desvio de finalidade ocorre quando os recursos são aplicados em finalidade


diversa daquela anteriormente pactuada ou ainda quando o escopo específico da
avença não é atendido em decorrência de irregularidades na execução do ajuste.

• É importante que a prestação de contas contemple elementos


comprobatórios de forma organizada, incluindo documentação
técnica, fiscal, bancária, financeira e administrativa.

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ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos à nossa última aula deste curso!

Nesta aula, aprendemos sobre a aplicação de sanções a uma empresa que tenha praticado irregularidades
na execução da obra.

Vimos também que a aplicação de sanções deve ser vista sob um prisma de proporcionalidade e
racionalidade. Isto é, deve-se avaliar qual é a gravidade da falha cometida pela empresa. Falhas graves
requerem sanções mais fortes, enquanto falhas formais ou de baixo potencial ofensivo podem ser tratadas
com outros instrumentos.

Estudamos que as sanções só podem ser aplicadas mediante processo administrativo instaurado para esse
fim e sempre respeitando o direito de a empresa se defender. A empresa deve ser comunicada dos fatos que
estiverem em apuração e ser chamada a trazer suas alegações de defesa.

É importante ressaltar que qualquer inobservância do rito pode ensejar a anulação da sanção que vier
a ser aplicada. Por isso, deve-se ter atenção aos procedimentos e documentos que devem ser juntados ao
processo administrativo sancionatório.

Caso as alegações de defesa sejam insuficientes, podem ser aplicadas sanções proporcionais à gravidade
da irregularidade. Vale destacar que algumas sanções só podem ser aplicadas por autoridades de nível
hierárquico superior, caso da declaração de inidoneidade.

Para finalizar, vimos as principais dúvidas sobre a fase da prestação de contas. Conforme estudamos, não
basta demonstrar que o objeto (obra) foi executado, sendo essencial demonstrar que este foi executado com
os recursos do convênio ou contrato de repasse.

Para tanto, deve-se juntar na prestação de contas os seguintes documentos essenciais: boletins de medição,
fotografias que demonstram sua execução, notas fiscais pagas contendo a identificação do contrato/
convênio, extrato bancário da conta específica do convênio/contrato de repasse, entre outros documentos
que possam demonstrar o nexo de causalidade entre as despesas e o objeto executado.

E assim encerramos nosso curso... Esperamos que tenha sido proveitoso para você e que tenha agregado
conhecimentos importantes, que venham a contribuir para o aprimoramento de sua forma de atuação
como fiscal ou gestor e para a melhor entrega das obras públicas em seu município, dentro do prazo e com
custo e qualidade previstos.

Parabéns pela sua dedicação! E sucesso!

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MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5

REFERÊNCIAS

ALTOUNIAN, C. S. Obras Públicas, licitação, contratação, fiscalização e utilização. 3. Ed. Belo Horizonte:
Fórum, 2012.

BAETA, A. P. Curso de Auditoria de Obras Públicas. Tribunal de Contas da União; Brasília: TCU, Instituto
Serzedello Corrêa, 2011.

BAETA, A. P. Orçamento e controle de preços de obras públicas. São Paulo: Editora Pini, 2012.

BRASIL. Decreto nº 7.983, de 8 de abril de 2013. Estabelece regras e critérios para elaboração do orçamento
de referência de obras e serviços de engenharia, contratados e executados com recursos dos orçamentos
da União, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 abr. 2013. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2013/Decreto/D7983.htm>. Acesso em: 21 set. 2019.

BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal,
institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Diário
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L8666compilado.htm>. Acesso em: 21 set. 2019.

BRASIL. Lei nº 12.462, de 4 de agosto de 2011. Institui o Regime Diferenciado de Contratações Públicas
- RDC; altera a Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da
República e dos Ministérios, a legislação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a legislação da
Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero); cria a Secretaria de Aviação Civil, cargos de
Ministro de Estado, cargos em comissão e cargos de Controlador de Tráfego Aéreo; autoriza a contratação
de controladores de tráfego aéreo temporários; altera as Leis nº 11.18/2005, 5.862/1972, 8.399/1992,
11.526/2007, 11.458/2007, e 12.350/2010, e a Medida Provisória nº 2.185-35/2001; e revoga dispositivos da
Lei nº 9.649/1998. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 ago. 2011. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12462.htm>. Acesso em: 21 set. 2019.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 151.567-RJ. Rel. Min. Francisco Peçanha Martins.
Data de Julgamento: 25/02/2003, T2 - Segunda Turma, Data de Publicação: Diário da Justiça 14/04/2003 p. 208.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Mandado de Segurança nº 32.628-SP. Rel. Min. Mauro
Campbell Marques. Data de julgamento: 06/09/2011, T2 - Segunda Turma, Data de Publicação: Diário da
Justiça Eletrônico 14/09/2011.

CAMPELO, V.; CAVALCANTE, R. J. Obras públicas: comentários à jurisprudência do TCU. 2. Ed. Belo
Horizonte: Fórum, 2013.

OLKOWSKI, G. F. (Coord.) LIMA, B. M. et al. Planejamento da Licitação de Obras Públicas de Edificação e


Saneamento. Belo Horizonte: Fórum, 2019. 247 p.

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