Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Obras Públicas de
Edificação e Saneamento - Módulo Execução
Aula 5 – Principais aspectos da sanção contratual e da prestação de contas
INTRODUÇÃO | 3
CONSIDERAÇÕES FINAIS | 21
REFERÊNCIAS | 22
© Copyright 2020, Tribunal de Contas de União
portal.tcu.gov.br
Supervisão:
Clemens Soares dos Santos
Conteudistas:
Bruno Martinello Lima
Gustavo Ferreira Olkowski
Victor Hugo Moreira Ribeiro
Tratamento Pedagógico:
Marta Eliane S. da Costa Bissacot
Este material tem função didática. A última atualização ocorreu em Maio de 2020.
As afirmações e opiniões são de responsabilidade exclusiva dos autores e podem
não expressar a posição oficial do Tribunal de Contas da União.
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5
INTRODUÇÃO
Vimos, na aula passada, as condições que devem ser atendidas para se fazer aditivos contratuais. Dentre
outros assuntos, também estudamos o passo a passo para o encerramento do contrato, inclusive os
documentos que devem ser entregues pela contratada à Administração Pública.
Por último, abordaremos dúvidas frequentes sobre prestação de contas, quais sejam:
• Qual a diferença entre desvio de objeto e desvio de finalidade? E quais as respectivas consequências?
3
ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO
1. SANÇÕES ADMINISTRATIVAS
Existem situações em que a Administração Pública tem que fazer uso de algumas prerrogativas para que
o objeto do contrato seja entregue de acordo com o que foi negociado. Isso ocorre, por exemplo, quando a
empresa contratada:
Antes de qualquer outra medida, deve-se tentar uma negociação junto à empresa contratada, para que ela
adote as providências necessárias para atender às exigências que estão sendo descumpridas.
Como será visto adiante, a legislação prevê uma gradação das possíveis sanções administrativas a serem
aplicadas. Essa gradação seria uma forma de estimular a empresa a retomar o curso normal de execução
do contrato, sem partir logo de início para penalidades mais gravosas.
A dosimetria das sanções depende de uma avaliação, por parte do gestor do contrato, sobre a gravidade das
condutas irregulares da contratada. Observe que, muitas vezes, a aplicação inoportuna de sanções poderá
resultar num relacionamento conflituoso, dentro do canteiro de obras, entre a equipe de fiscalização e a
contratada. E não é isso que se deseja, certo!
4
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5
No entanto, se o erro cometido pela contratada for considerado grave, a Administração deve iniciar o
processo de aplicação das sanções cabíveis.
Uma das falhas graves mais comuns cometidas pelas empresas é o descumprimento do prazo de execução
da obra. A fiscalização deve ser diligente e avaliar o grau de extensão do atraso e as justificativas para sua
ocorrência, nos termos do art. 40, inciso III, da Lei nº 8.666/1993.
Veja, nos casos descritos a seguir, quais as sanções administrativas que podem ser aplicadas ao contratado,
sempre garantindo a prévia defesa, combinado!
A Lei nº 8.666/1993 prevê, em seus arts. 81 a 88, as hipóteses e os tipos de sanção administrativa que
podem ser aplicados no âmbito de um contrato de obras públicas.
• recusa injustificada do adjudicatário em assinar o contrato dentro do prazo estipulado pelo edital;
• condenação definitiva por praticar, por meios dolosos, fraude fiscal no recolhimento de quaisquer
tributos em razão do contrato de execução de obra pública;
• não possuir idoneidade para contratar com a Administração, em virtude de atos ilícitos praticados.
5
ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO
No caso de atrasos injustificados na execução da obra, cabe aplicação de multa de mora, a qual deve ter
seu valor e gradação previstos em contrato e no edital. É uma boa prática que a multa seja proporcional ao
montante de atraso na execução. Quanto maior o atraso, maior o valor da multa.
Sua aplicação depende de prévia instauração de processo administrativo em que a empresa seja convocada
a se defender e se manifestar. Se a defesa da empresa for insuficiente para justificar os atrasos, caberá a
aplicação da multa.
Como o atraso na execução da obra é causa de aplicação de sanções, a fiscalização do órgão contratante deve:
• diante de eventual ocorrência de atrasos, verificar quais são as causas desses atrasos, sempre
registrando e reportando os fatos para sua chefia imediata; e
• se entender que as causas dos atrasos podem ser atribuídas à contratada, abrir processo
administrativo próprio para futura aplicação de multa de mora.
Os atrasos injustificados e causados pela empresa contratada não devem ser premiados
com a celebração de aditivos de prorrogação de prazo de execução da obra.
Destacamos esse ponto, porque, via de regra, em várias obras públicas brasileiras, a
Administração Pública responsável, ao invés de tomar medidas que visem a sancionar
a empresa contratada que incorreu em atrasos injustificados na execução da obra,
tem celebrado aditivo de prorrogação do prazo de execução do empreendimento.
A adoção desse procedimento trata-se, sem dúvida, de um erro grave!
6
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5
No que se refere à inexecução total ou parcial do contrato, convém comentar que essa hipótese, geralmente,
ocorre quando a empresa contratada abandona ou paralisa a obra sem justificativas, antes de sua conclusão
e recebimento. Essa é uma conduta irregular mais grave que o atraso na execução da obra.
Também pode ser caracterizada como inexecução parcial da obra a recusa da empresa em reparar algum
serviço com qualidade deficiente, após solicitação do órgão contratante, ou outras condutas similares.
Exemplo: recusa injustificada da empresa em seguir as especificações e os detalhes do projeto básico ou
executivo da obra aprovado pelo órgão contratante.
Uma outra hipótese de inexecução total da obra, por sua vez, consiste na recusa injustificada do licitante
vencedor em assinar ou retirar o respectivo contrato, dentro do prazo previsto pela Administração Pública,
conforme art. 81 da Lei nº 8.666/1993.
Para esses casos de inexecução parcial ou total da obra, a Lei de Licitações prevê a possibilidade de aplicar
as seguintes sanções:
7
ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO
Suspensão temporária É uma punição mais séria, aplicada na ocorrência de falhas graves.
de participação em O objetivo de suspender a empresa é resguardar a Administração
licitação e impedimento de contratar uma empresa sabidamente problemática, por um
de contratar com a determinado tempo.
Administração, por
prazo não superior a 2 De acordo com a jurisprudência do TCU (cf. Acórdãos nº 1.539/2010,
(dois) anos 2.962/2015, 3.243/2012, 3.439/2012, 1.064/2013, 504/2015, 1.003/2015,
todos do Plenário), essa penalidade incide somente em relação ao
órgão ou entidade contratante. Isso quer dizer que, caso o município A
aplique essa sanção a uma empresa, o município B poderá contratá-la.
Vale destacar que a Lei das Estatais (Lei 13.303/2016) não prevê esse tipo
de punição para empresas contratadas em licitações regidas por essa lei.
8
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5
Observe que as sanções são gradativamente mais fortes, começando em uma simples advertência por escrito
até uma eventual suspensão temporária de celebrar novos contratos com o município, União, DF ou Estado,
por até dois anos, ou uma declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração Pública.
É importante dizer que as mesmas regras atinentes a sanções administrativas previstas na Lei nº 8.666/1993
podem ser aplicadas em contratos celebrados no Regime Diferenciado de Contratações (RDC), por força
do art. 39 e do art. 47, § 2º, da Lei nº 12.462/2011, embora haja alguns detalhes adicionais em relação às
sanções previstas no RDC.
Além das hipóteses de atraso injustificado e de inexecução total ou parcial do contrato, também são
hipóteses de aplicação de sanção no RDC:
9
ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO
Perceba que o RDC ampliou o rol de possíveis condutas do licitante passíveis de serem enquadradas em
uma posterior sanção administrativa.
Um detalhe diferente das sanções previstas no RDC, em relação ao que consta na Lei nº 8.666/1993, é que o
prazo de suspensão de uma empresa para participar de licitações e contratos públicos é de até 5 anos e não
2 anos, como previsto na Lei de Licitações.
Já a Lei das Estatais – Lei nº 13.303/2016 – não traz previsão explícita de que a entidade contratante poderá
aplicar sanção ao licitante adjudicatário em caso de recusa em assinar o contrato da obra. Nesse caso, a lei
indica (art. 75) que o prazo de convocação para assinatura do contrato poderá ser prorrogado uma vez por
igual período ao que foi estabelecido originalmente, ou poderão ser convocados os licitantes remanescentes,
conforme ordem de classificação da licitação, para assinar o contrato nas mesmas condições do licitante
vencedor, ou ainda poderá ser revogada a licitação.
Após ter sido verificada a ocorrência de uma eventual conduta irregular por parte da empresa contratada,
é necessário que, antes da aplicação ou não da sanção, os fatos sejam apurados em um processo
administrativo, no qual seja concedida a oportunidade de a empresa se manifestar e se defender.
Dessa maneira, em termos práticos, caberá ao fiscal do contrato autuar um novo processo, em cujas peças
iniciais devem constar:
a. descrição dos fatos e das condutas irregulares da empresa e seu enquadramento na legislação e nas
cláusulas do edital e do contrato; e
b. evidências e provas acerca dos erros cometidos pela empresa – os tipos de evidências mais usuais são
ofícios de alerta à empresa e respectivas respostas da contratada, cronogramas descumpridos, diário
de obras com respectivas anotações da fiscalização atinentes às falhas, relatórios fotográficos, provas
de descumprimento das especificações do projeto ou do cronograma etc.
O próximo passo é enviar ofício à empresa, com a descrição resumida das condutas irregulares a
ela imputadas e a concessão de prazo de 5 dias úteis para defesa, conforme prevê o art. 87, § 2º, da
Lei nº 8.666/1993; ou de 10 dias, em caso de declaração de inidoneidade.
É importante que o ofício seja redigido de forma clara o suficiente para a compreensão da empresa acerca:
• do número do processo;
• do rito processual – informações acerca de prazos e eventuais consequências em caso de rejeição das
justificativas da empresa;
10
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5
• do endereço de protocolo, para envio da manifestação por escrito da empresa e de outras informações
consideradas essenciais para sua defesa.
Recebidas as alegações de defesa da empresa, essas devem ser analisadas tecnicamente pelo gestor
do contrato, com base nas evidências colhidas no contrato, no edital, no diário de obras e em outros
documentos produzidos pela fiscalização.
Caso as alegações da empresa sejam insuficientes, caberá recomendar a aplicação de uma das sanções
previstas em lei. A efetiva aplicação deverá ser realizada pela mesma autoridade responsável pela celebração
do contrato, exceto no caso de declaração de inidoneidade, conforme prevê a Orientação Normativa nº 48,
da Advocacia-Geral da União (AGU).
No caso específico de declaração de inidoneidade, o art. 87, § 3º, da Lei nº 8.666/1993 prevê que a autoridade
competente para a aplicação desse tipo de sanção é o Ministro de Estado, Secretário estadual ou municipal,
ou, ainda, autoridades de nível hierárquico equivalente.
Conforme aprendemos, as sanções devem ser proporcionais e razoáveis frente à gravidade da conduta
da empresa.
O princípio constitucional do contraditório e da ampla defesa é respeitado a partir do momento em que, antes
da aplicação da sanção, a empresa é chamada ao processo administrativo para se manifestar e se defender.
Aprendemos que isso ocorre por meio de envio de ofício, bem redigido e bastante claro acerca de qual é a
matéria tratada, concedendo prazo para que a empresa traga suas considerações.
Outro detalhe importante é que esse ofício deve ser enviado com Aviso de Recebimento (AR), conforme
determina o art. 26, § 3º, da Lei nº 9.784/1999, de modo a:
• obter uma prova de que a empresa recebeu a comunicação e da data em que isso ocorreu;
• evitar relatos de que a empresa não recebeu o documento convocando-lhe para se defender, caso, por
exemplo, a empresa não protocole sua defesa dentro do prazo estipulado.
Além disso, caso haja evidências de que a empresa recebeu o ofício, como o aviso de recebimento dos
Correios, e de que o prazo concedido expirou, o processo de aplicação de sanções pode prosseguir
11
ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO
normalmente. Nessa situação, considera-se que a empresa foi revel, isto é, embora tenha sido chamada a se
defender, não o fez dentro do prazo. Esse é mais um motivo para que o prazo seja razoável.
Outro ponto importante é que eventuais pedidos de prorrogação de prazo, solicitados pela empresa para
sua defesa, devem ser examinados, e após exame fundamentado, concedidos ou não. Em qualquer caso,
a empresa deve ser comunicada a respeito da concessão ou não da prorrogação de prazo para sua defesa.
Em caso de aplicação de sanções pecuniárias à empresa contratada (multas), a legislação define que o
pagamento das sanções deverá ser descontado das garantias fornecidas na assinatura do contrato, seja
elas: caução em dinheiro ou títulos da dívida pública, fiança bancária ou seguro-garantia (art. 86, § 2º, da
Lei nº 8.666/1993).
Caso a garantia do contratado tenha sido na modalidade de seguro-garantia, o gestor deverá buscar
caracterizar o sinistro, junto à seguradora, nos termos da apólice, e imediatamente obter o valor
correspondente ao da multa.
Se a multa for de valor superior ao valor da garantia prestada, além da perda desta, a diferença deverá ser
descontada dos pagamentos eventualmente devidos pela Administração (medições vencidas, por exemplo),
ou ainda, quando for o caso, cobrada judicialmente.
12
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5
Aprendemos, aqui, como funciona o processo de aplicação de penalidades contratuais a uma empresa que
tenha cometido falhas ou irregularidades na execução de uma obra pública. A seguir, passaremos a estudar
aspectos atinentes à prestação de contas de um convênio ou contrato de repasse.
13
ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO
Examinaremos a seguir o entendimento do TCU sobre as principais dúvidas relacionadas à essa fase de
prestação de contas.
A legislação e a jurisprudência do TCU indicam que o prefeito sucessor, ainda que não tenha assinado
o convênio originalmente, é o responsável por prestar contas dos recursos federais recebidos por
seu antecessor. Caso seja impossível efetuar a prestação de contas no prazo legal, é importante que
o prefeito sucessor adote as medidas necessárias para ressarcir o patrimônio público, sobretudo a
instauração de Tomada de Contas Especial, bem como comunicação ao Ministério Público competente
para as apurações cabíveis.
Não raro a documentação referente aos recursos federais recebidos encontra-se extraviada ou inutilizada.
Nessas circunstâncias, é importante que o prefeito sucessor reúna provas do ocorrido, e instaure a
14
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5
competente Tomada de Contas Especial. Em casos de potencial crime (incêndios, furtos etc.), deve comunicar
ao Ministério Público.
A seguir, trazemos alguns trechos da jurisprudência do TCU que aborda esse tema:
• Compete ao prefeito sucessor apresentar as contas referentes aos recursos federais recebidos por
seu antecessor, quando este não o tiver feito ou, na impossibilidade de fazê-lo, adotar as medidas
legais visando ao resguardo do patrimônio público com a instauração da competente tomada de
contas especial, sob pena de corresponsabilidade. (Súmula TCU nº 230)
• Constitui irregularidade grave a não apresentação de prestação de contas, pelo prefeito sucessor,
de convênio cuja vigência encerrou-se em seu mandato ou, no caso de o prefeito antecessor não ter
deixado a documentação correlata, a falta de adoção de medidas tendentes a resguardar o erário.
A constatação de que a totalidade dos recursos foi gerida pelo prefeito antecessor permite que o
débito seja imputado somente a esse responsável. (Acórdão nº 2796/2010-Segunda Câmara | Relator:
Augusto Sherman)
• O prefeito sucessor responde, solidariamente com o seu antecessor, por dano causado ao erário,
diante da falta de evidências que comprovem ter ele adotado medidas para resguardar o patrimônio
público, por meio de ajuizamento de ação tendente a reaver os recursos de ajuste, cujo prazo para
prestar contas encerrou-se em seu mandato. (Acórdão nº 2715/2009-Primeira Câmara | Relator:
Augusto Nardes)
• É regular a conduta do prefeito sucessor que, ante justificativa plausível sobre a impossibilidade
de prestar contas dos recursos federais geridos por seu antecessor, comunica o fato ao órgão ou
à entidade concedente e lhe solicita a instauração da tomada de contas especial, ainda que, em
nome da municipalidade, deixe de ajuizar ação judicial em desfavor daquele, tendo em vista a
regra disposta no art. 26-A, § 8º, da Lei nº 10.522/2002. (Acórdão nº 12533/2019-Segunda Câmara |
Relator: Ana Arraes)
15
ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO
Quando o prefeito deixa de prestar contas, há uma série de consequências e potenciais sanções, uma vez
que a omissão no dever de prestar contas significa descumprimento da Constituição e da legislação. Em
razão disso, via de regra, a omissão no dever de prestar contas resulta na presunção de que a totalidade dos
recursos transferidos tenha sido desviada.
Essa é a importância de prestar contas. Prestar contas significa cumprir a Constituição, bem como exercer
o dever de transparência para a sociedade, esclarecendo-a de que forma foram empregados os recursos
que são de todos nós, certo!
A ideia de prestar contas dos recursos públicos é um conceito que vem desde os tempos do Império Romano. Os
gestores públicos daquela época, há mais de 2.000 anos, já tinham a obrigação de prestar contas à sociedade.
Por isso, lembre-se, caso seu munícipio tenha recebido recursos federais, organize a documentação
pertinente que comprova a correta aplicação desses recursos no objeto pactuado, pois somente assim estará
garantida uma adequada prestação de contas.
• No caso de omissão injustificada no dever de prestar contas de convênio celebrado com município,
responde pelo débito o gestor municipal. (Acórdão nº 9907/2011-Segunda Câmara | Relator: André
De Carvalho)
• No caso de omissão no dever de prestar contas, não cabe imputar débito ao gestor sucessor se a
aplicação dos recursos transferidos, a vigência do convênio e o fim do prazo para prestação de contas
tiverem ocorrido na gestão do antecessor. Contudo, o sucessor não se exime da responsabilidade de
tomar providências judiciais no sentido de recompor o débito e de obter os documentos necessários
à prestação de contas ou à instauração da tomada de contas especial, conforme o caso. (Acórdão
nº 3912/2016-Primeira Câmara | Relator: Bruno Dantas)
16
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5
Caso haja qualquer dificuldade em reunir a documentação pertinente à prestação de contas, seja por qual
razão for (ex.: o prefeito antecessor extraviou ou queimou a documentação etc.), é importante que o prefeito
sucessor tome as medidas cabíveis e faça as comunicações devidas, a saber, a instauração de Tomada de
Contas Especial, a comunicação ao Ministério Público, bem como possíveis ajuizamentos de medidas judiciais.
Isto é, o prefeito sucessor deverá pedir à assessoria jurídica do município que entre com um pedido, perante
o Judiciário, para que o(s) prefeito(s) antecessor(es), ou quem quer que seja o responsável, seja(m) obrigado(s)
a entregar ao município a documentação que estiver em seu poder.
• Eventuais dificuldades do gestor na obtenção dos documentos necessários à prestação de contas dos
recursos geridos, inclusive as derivadas de ordem política, se não resolvidas administrativamente,
devem ser por ele levadas ao conhecimento do Poder Judiciário por meio de ação própria, uma vez
que a responsabilidade pela comprovação da boa e regular aplicação dos recursos públicos é pessoal.
(Acórdão nº 437/2018-Segunda Câmara | Relator: Augusto Nardes)
Não! Além de comprovar que o objeto foi executado, é de suma importância que a documentação da
prestação de contas consiga provar que os recursos federais transferidos foram, de fato, aplicados na obra.
Por exemplo, se o município recebeu recursos para a pavimentação de uma rua, é importante comprovar
que os valores foram destinados a essa obra e não ao pagamento de pessoal, por exemplo, ainda que a obra
tenha sido executada com outros recursos.
Não pode haver confusão no trato dos recursos federais transferidos ao município. É necessário que eles
sejam aplicados na exata destinação que se referem.
• Para a comprovação da regular aplicação dos recursos recebidos mediante convênio ou contrato de
repasse, não basta a demonstração de que o objeto pactuado foi executado, mas que foi realizado com os
recursos repassados para esse fim. (Acórdão nº 9580/2015-Segunda Câmara | Relator: Vital Do Rêgo)
• A prestação de contas deve demonstrar não só a execução do objeto pactuado no convênio, mas
também o nexo de causalidade, por meio do vínculo estrito entre os recursos federais repassados e as
despesas incorridas para a consecução do objeto conveniado, sem o que não há comprovação da boa e
regular aplicação dos recursos públicos. (Acórdão nº 997/2015-Plenário | Relator: Benjamin Zymler)
• A existência física do objeto pactuado, por si só, não constitui elemento apto a comprovar a regular
aplicação dos recursos federais repassados, quando não ficar caracterizado o nexo de causalidade.
(Acórdão nº 852/2014-Segunda Câmara | Relator: André De Carvalho)
17
ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO
É importante que a documentação da prestação de contas esteja organizada e seja apresentada conforme
exige a legislação, principalmente o Decreto nº 6.170/2007.
d. Termo de compromisso por meio do qual o município será obrigado a manter os documentos
relacionados ao instrumento; e
• Para comprovar a boa e regular aplicação de recursos públicos transferidos por força de convênios
celebrados com a União, não basta a simples apresentação da prestação de contas do ajuste. É
imprescindível que o responsável evidencie, por meio de documentos idôneos, que o objeto do
convênio foi efetivamente executado com os valores recebidos. Tal evidenciação só se dá mediante
inequívoca comprovação da existência de nexo de causalidade entre a fonte de receita e os gastos para
consecução do objeto do ajuste. Assim, é imperioso que, com os documentos apresentados com vistas
a comprovar o bom emprego dos valores públicos, seja possível constatar que eles foram efetivamente
utilizados no objeto pactuado, de acordo com os normativos legais e regulamentares vigentes.
(Acórdão nº 6098/2017-Primeira Câmara | Relator: Benjamin Zymler)
• A existência física do objeto, por si só, não constitui elemento apto a comprovar a regular aplicação
dos recursos federais repassados por meio de convênio, deve o gestor demonstrar, por meio de
notas fiscais, recibos, procedimentos licitatórios, contratos, extratos bancários, cópias de cheques
e ordens de pagamento, que a obra foi executada com os recursos destinados pelo ajuste. (Acórdão
nº 1395/2015-Primeira Câmara | Relator: Augusto Sherman)
18
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5
• Não é suficiente para estabelecer o nexo de causalidade entre os recursos recebidos e a execução do
objeto conveniado a apresentação de documentos produzidos somente pela prefeitura, chancelados
ou não pelo próprio gestor municipal, ainda que o concedente ateste a execução parcial do objeto.
(Acórdão nº 5486/2011-Segunda Câmara | Relator: André De Carvalho)
2.6.2. FOTOGRAFIAS
• Fotografias não são meio de prova suficiente para comprovar a regularidade da aplicação de recursos
públicos transferidos, pois, no máximo, podem comprovar a existência do objeto conveniado, mas não
são capazes de demonstrar, efetivamente, o nexo entre os recursos federais e as despesas efetuadas.
(Acórdão nº 2986/2016-Primeira Câmara | Relator: Bruno Dantas)
• Declarações de terceiros, fotos e informações sobre a regularização da obra não são elementos que
permitem a identificação da origem dos recursos aplicados nem o necessário nexo causal entre
as despesas realizadas e os recursos federais transferidos pelo convênio, ainda que se prestem a
comprovar a realização do objeto. (Acórdão nº 8938/2015-Segunda Câmara | Relator: André De
Carvalho)
• Configura irregularidade grave a falta de identificação do convênio nas notas fiscais, porquanto
tal prática permite a utilização do mesmo documento fiscal para justificar a realização da
despesa perante variados convênios e, até mesmo, em face da contabilidade municipal. (Acórdão
nº 2430/2017-Primeira Câmara | Relator: Walton Alencar Rodrigues)
• A ausência de indicação do número do ajuste nas notas fiscais não é mera falha formal, mas constitui
forte indício da ausência de nexo de causalidade entre os recursos recebidos e as despesas realizadas
para a execução do objeto. (Acórdão nº 6098/2017-Primeira Câmara | Relator: Benjamin Zymler)
19
ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO
• O desvio de objeto se configura quando o convenente, sem autorização prévia do concedente, executa
ações não previstas no plano de trabalho da avença, mas, em alguma medida, preserva o fim a que se
destinam os recursos. O desvio de finalidade ocorre quando os recursos são aplicados em finalidade
diversa daquela anteriormente pactuada ou ainda quando o escopo específico da avença não é
atendido em decorrência de irregularidades na execução do ajuste. (Acórdão nº 1798/2016-Primeira
Câmara | Relator: Marcos Bemquerer)
• É caracterizado como desvio de objeto a aplicação de recursos públicos dentro da finalidade prevista
no ajuste, mas em objeto distinto que atingiu a finalidade. (Acórdão nº 5514/2011-Primeira Câmara |
Relator: Marcos Bemquerer)
• Constitui desvio de objeto, e não desvio de finalidade na aplicação dos recursos, a alteração dos
logradouros em que deveriam ser realizadas as obras. (Acórdão nº 2065/2011-Primeira Câmara |
Relator: Ubiratan Aguiar)
• O desvio de objeto, mas não de finalidade, na execução de despesas não enseja a restituição
dos valores empregados, mas sujeita o responsável à pena prevista no art. 58, inciso II, da Lei
nº 8.443/1992, por descumprimento do ajustado. (Acórdão nº 4374/2014-Primeira Câmara | Relator:
José Mucio Monteiro)
20
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5
• O desvio de objeto na aplicação dos recursos, desde que mantida a finalidade avençada do gasto,
não leva necessariamente à imputação de débito. Conforme o caso, a ocorrência pode levar ao
julgamento pela irregularidade das contas, com aplicação de multa aos responsáveis. (Acórdão
nº 5304/2013-Primeira Câmara | Relator: Valmir Campelo)
• Comprovado que o estado, o Distrito Federal, o município ou a entidade a eles vinculada se beneficiou
pela aplicação irregular, com desvio de finalidade, de recursos federais, o ente federado será
condenado ao pagamento do débito, e o agente público responsável, apenado com multa. (Acórdão
nº 249/2014-Plenário | Relator: Raimundo Carreiro)
21
ISC // EAD // OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E SANEAMENTO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta aula, aprendemos sobre a aplicação de sanções a uma empresa que tenha praticado irregularidades
na execução da obra.
Vimos também que a aplicação de sanções deve ser vista sob um prisma de proporcionalidade e
racionalidade. Isto é, deve-se avaliar qual é a gravidade da falha cometida pela empresa. Falhas graves
requerem sanções mais fortes, enquanto falhas formais ou de baixo potencial ofensivo podem ser tratadas
com outros instrumentos.
Estudamos que as sanções só podem ser aplicadas mediante processo administrativo instaurado para esse
fim e sempre respeitando o direito de a empresa se defender. A empresa deve ser comunicada dos fatos que
estiverem em apuração e ser chamada a trazer suas alegações de defesa.
É importante ressaltar que qualquer inobservância do rito pode ensejar a anulação da sanção que vier
a ser aplicada. Por isso, deve-se ter atenção aos procedimentos e documentos que devem ser juntados ao
processo administrativo sancionatório.
Caso as alegações de defesa sejam insuficientes, podem ser aplicadas sanções proporcionais à gravidade
da irregularidade. Vale destacar que algumas sanções só podem ser aplicadas por autoridades de nível
hierárquico superior, caso da declaração de inidoneidade.
Para finalizar, vimos as principais dúvidas sobre a fase da prestação de contas. Conforme estudamos, não
basta demonstrar que o objeto (obra) foi executado, sendo essencial demonstrar que este foi executado com
os recursos do convênio ou contrato de repasse.
Para tanto, deve-se juntar na prestação de contas os seguintes documentos essenciais: boletins de medição,
fotografias que demonstram sua execução, notas fiscais pagas contendo a identificação do contrato/
convênio, extrato bancário da conta específica do convênio/contrato de repasse, entre outros documentos
que possam demonstrar o nexo de causalidade entre as despesas e o objeto executado.
E assim encerramos nosso curso... Esperamos que tenha sido proveitoso para você e que tenha agregado
conhecimentos importantes, que venham a contribuir para o aprimoramento de sua forma de atuação
como fiscal ou gestor e para a melhor entrega das obras públicas em seu município, dentro do prazo e com
custo e qualidade previstos.
22
MÓDULO EXECUÇÃO // AULA 5
REFERÊNCIAS
ALTOUNIAN, C. S. Obras Públicas, licitação, contratação, fiscalização e utilização. 3. Ed. Belo Horizonte:
Fórum, 2012.
BAETA, A. P. Curso de Auditoria de Obras Públicas. Tribunal de Contas da União; Brasília: TCU, Instituto
Serzedello Corrêa, 2011.
BAETA, A. P. Orçamento e controle de preços de obras públicas. São Paulo: Editora Pini, 2012.
BRASIL. Decreto nº 7.983, de 8 de abril de 2013. Estabelece regras e critérios para elaboração do orçamento
de referência de obras e serviços de engenharia, contratados e executados com recursos dos orçamentos
da União, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 abr. 2013. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2013/Decreto/D7983.htm>. Acesso em: 21 set. 2019.
BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal,
institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 22 jun. 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/
L8666compilado.htm>. Acesso em: 21 set. 2019.
BRASIL. Lei nº 12.462, de 4 de agosto de 2011. Institui o Regime Diferenciado de Contratações Públicas
- RDC; altera a Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da
República e dos Ministérios, a legislação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a legislação da
Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero); cria a Secretaria de Aviação Civil, cargos de
Ministro de Estado, cargos em comissão e cargos de Controlador de Tráfego Aéreo; autoriza a contratação
de controladores de tráfego aéreo temporários; altera as Leis nº 11.18/2005, 5.862/1972, 8.399/1992,
11.526/2007, 11.458/2007, e 12.350/2010, e a Medida Provisória nº 2.185-35/2001; e revoga dispositivos da
Lei nº 9.649/1998. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 ago. 2011. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12462.htm>. Acesso em: 21 set. 2019.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 151.567-RJ. Rel. Min. Francisco Peçanha Martins.
Data de Julgamento: 25/02/2003, T2 - Segunda Turma, Data de Publicação: Diário da Justiça 14/04/2003 p. 208.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Mandado de Segurança nº 32.628-SP. Rel. Min. Mauro
Campbell Marques. Data de julgamento: 06/09/2011, T2 - Segunda Turma, Data de Publicação: Diário da
Justiça Eletrônico 14/09/2011.
CAMPELO, V.; CAVALCANTE, R. J. Obras públicas: comentários à jurisprudência do TCU. 2. Ed. Belo
Horizonte: Fórum, 2013.
23