Você está na página 1de 32

Sumário

PARTE IX....................................................................................................................................3
PROCEDIMENTOS ESPECIAIS.............................................................................................3
I....................................................................................................................................................4
AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO....................................................................4
1.GENERALIDADES.............................................................................................................4
1.1Generalidades materiais.............................................................................................4
1.2Generalidades processuais........................................................................................5
2.COMPETÊNCIA14...............................................................................................................7
3.PRESTAÇÕES PERIÓDICAS17........................................................................................7
4.PETIÇÃO INICIAL20...........................................................................................................8
4.1Valor da causa..............................................................................................................9
5.CITAÇÃO E DIREITO DE ESCOLHA26...........................................................................9
6.CONSIGNAÇÃO EM CASO DE DÚVIDA27....................................................................9
7.RESPOSTA DO RÉU.......................................................................................................10
7.1Revelia.........................................................................................................................12
8.JULGAMENTO DO PEDIDO..........................................................................................12
II.................................................................................................................................................15
AÇÃO DE EXIGIR CONTAS..................................................................................................15
1.GENERALIDADES...........................................................................................................15
2.AÇÃO DE EXIGIR CONTAS...........................................................................................16
2.1A ação de dar contas.................................................................................................16
3.SALDO E EXECUÇÃO POR QUANTIA........................................................................17
4.PRESTAÇÃO DE CONTAS DO INVENTARIANTE, DO TUTOR, DO CURADOR,
DO DEPOSITÁRIO E DE OUTRO QUALQUER ADMINISTRADOR10........................17
III................................................................................................................................................18
AÇÕES POSSESSÓRIAS.....................................................................................................18
1.GENERALIDADES...........................................................................................................19
2.FUNGIBILIDADE DOS INTERDITOS POSSESSÓRIOS...........................................22
3.CUMULAÇÃO DE PEDIDOS12.......................................................................................23
4.DUPLICIDADE DOS INTERDITOS POSSESSÓRIOS17............................................23
5.JUÍZO PETITÓRIO E JUÍZO POSSESSÓRIO. EXCEÇÃO DE DOMÍNIO23............24
6.PROCEDIMENTO DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS DE FORÇA NOVA28................25
6.1Caução e tutela liminar antecipada31.......................................................................25
6.2Tutela específica na turbação e no esbulho32........................................................26
6.3Objeto da prova35.......................................................................................................26
6.4Citação e prazo para a resposta..............................................................................28
7.INTERDITO PROIBITÓRIO47..........................................................................................29
PARTE IX
PROCEDIMENTOS ESPECIAIS
I
AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

1.GENERALIDADES

1.1Generalidades materiais

Consoante dispõe o CC, a consignação em pagamento é modalidade extraordinária de extinção da obrigação,


mediante o depósito da coisa devida, seja em juízo, seja em estabelecimento bancário . O devedor exonera-se da
1

obrigação, desvinculando-se do credor quando este incorre em mora para receber a prestação ou se recusa
indevidamente a fazê-lo. A ação de consignação é, em suma, instrumento processual liberatório da obrigação e, neste
sentido, deve ser interpretado e aplicado restritivamente.
A lei material enumera, exemplificativamente, nos incisos do art. 335 do CC, outras hipóteses hábeis a ensejar
a solutio da obrigação pela via da consignação; a saber: (i) se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar
receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; (ii) se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar,
tempo e condição devidos; (iii) se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em
lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; (iv) se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto
do pagamento; (v) se pender litígio sobre o objeto do pagamento.
Prescreve, ainda, o art. 336 do CC , que a validade do depósito da res debita está condicionada à observância
2

dos requisitos objetivos e subjetivos exigíveis quando da extinção do vínculo obrigacional pelas vias “usuais”. É que
a consignação também é forma de pagamento, porém, peculiar, haja vista que não é o solvens quem deixa de quitar a
dívida, mas o credor que, de alguma forma, embaraça o recebimento da prestação.
Consectariamente, no pagamento por consignação, há que se obedecer às regras acerca de quem deve pagar,
quem deve receber, o local do pagamento etc., encontradiças no ordenamento civil. Portanto, a defesa que resiste ao
depósito pelo fato de o mesmo não ter sido realizado na forma e no lugar convencionados, como alude o dispositivo
em exame, em essência, sustenta-se na justeza da recusa e no cânone material que exige que, para que a consignação
tenha força de pagamento, mister concorram – em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo – todos os requisitos
sem os quais não deve ser considerado válido o pagamento.
Em consonância com a regra, um tanto coloquial, de que aquele que paga mal, paga duas vezes, dispõe a lei
material que o devedor de obrigação litigiosa que pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do
litígio, assumirá o risco do pagamento . Em outros termos, o que diz a lei é que, em havendo dúvida do devedor
3

acerca do verdadeiro credor, a cautela recomenda consignar a coisa. Se o devedor, portanto, equivocar-se e pagar ao
credor errado, não estará exonerado da obrigação, devendo pagá-la novamente, não obstante disponha o devedor,
nessa hipótese, do direito de regresso contra o falso credor, sob pena de a lei contemplar o enriquecimento sem
causa.
Em situação oposta, os que se entendem credores, no afã de impedir esse pagamento espontâneo pelo devedor,
podem instá-lo a fazê-lo sob o crivo jurisdicional . Por isso, se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que
4

se pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação.


Todas essas regras influem na solução do litígio e nos próprios pressupostos processuais e condições da ação,
por força do princípio de que a todo direito corresponde uma ação que o assegura.
Consequentemente, ao direito de consignar corresponde a denominada ação de consignação em pagamento,
submetida ao procedimento especial de jurisdição contenciosa traçado pelo CPC.

1.2Generalidades processuais

Dispõe o CPC, no art. 539, que, nos casos previstos na lei material, poderá o devedor ou terceiro requerer, com
efeito de pagamento, a consignação judicial da quantia ou da coisa devida. É que, para o ordenamento, considera-se
pagamento extintivo da obrigação o depósito judicial da coisa devida, nos casos e forma legais do já mencionado art.
335 do CC.
A essência da consignação, como forma de liberação, pressupõe, em linhas gerais, a injusta recusa de o credor
quitar o devedor. Este, impossibilitado de fazer justiça com as próprias mãos, recorre ao Poder Judiciário, capaz de
efetivar, a partir do uso dos instrumentos processuais adequados e previamente estabelecidos em lei, o direito
subjetivo do devedor à liberação.
Não obstante este escopo, tem-se admitido que o credor, via consignatória, postule, também, a declaração da
extensão de seu crédito, ao legitimar a prestação depositada.
O efeito do pagamento advém com a sentença declaratória de liberação da obrigação, quando a consignação é
judicial, ou da não instauração de demanda por parte do credor, após o depósito extrajudicial e respectivo
levantamento, o que revela inequívoco reconhecimento da justeza da prestação consignada intra muros.
A pretensão do consignante, portanto, é a declaração de liberação de uma obrigação existente, dissipando a
incerteza reinante acerca do estado de inadimplência. A vantagem prática da consignação reside no fato de que,
realizado o depósito no lugar do pagamento, cessam, tão logo se efetue, os juros da dívida e os riscos para o
depositante, salvo se o pleito for julgado improcedente. Por isso que, enquanto o credor não declarar que aceita o
depósito, ou não o impugnar, pode o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas,
remanescendo a obrigação para todas as consequências de direito.
Diversamente, se o credor afirmar em juízo que aceita em parte o depósito, esta a ele pertence, podendo, por
conseguinte, levantá-la, sem prejuízo, entretanto, da discussão quanto à parte controversa.
Na ação de consignação em pagamento, o devedor será parte legítima quando obedecer à regra de “quem deve
pagar” pode consignar, consoante o disposto nos arts. 304 a 307 do CC/2002. A outra parte, o credor, será legítima
quando seguir as regras sobre “a quem se deve pagar”, previstas nos arts. 308 a 312 do mesmo codex.
Nesse procedimento especial, o objeto material pode ser coisa ou quantia. Assim, v.g., a consignação em
pagamento é meio hábil a restituir imóvel locado, com depósito das chaves em juízo pelo locatário, ou, ainda,
dinheiro, bens móveis, coisa certa ou coisa incerta.
Em relação ao objeto, cumpre salientar que, tradicionalmente, indispensável tratar-se o objeto da consignatória
de obrigação líquida e certa, rejeitando-se o depósito de quantum incerto. Em verdade, a consignação em pagamento,
outrora, foi inflexivelmente encarada como uma espécie de execução invertida, tornando imprescindível a liquidez e
certeza da obrigação, posto processo de limites estreitos, sem margens para operar a apuração da coisa ou quantia
devida, havendo mister a prévia promoção da ação de acertamento.
Destarte, a pretensão declaratória negativa da existência de relação jurídica creditícia não pode ser vinculada
através da ação de consignação, devendo o autor promover ação de rito comum tout court, nos termos dos arts. 19 e
20 do CPC . 5

Não obstante, sem prejuízo das considerações esboçadas e em homenagem ao princípio da economicidade, no
afã de alcançar seu objetivo de liberação, é lícito ao devedor discutir cláusulas contratuais que, analisadas pelo juízo,
legitimem a prestação pretendida consignar. Assim, tratando-se de ação de conhecimento, ampla deve ser a cognição
do juiz, mitigando-se a versão ultrapassada de que a consignatória é “execução às avessas”, posto que, promovida
esta pelo devedor, podendo sua causa petendi gravitar acerca da relação contratual subjacente, sua extensão e
validade.
Nesse sentido, as lúcidas lições da prática judiciária que conspiram em favor do amplo debate na ação de
consignação em pagamento, acolhendo a discussão da existência da dívida e do seu valor - (art. 544, IV, do
6 7

CPC/2015 ). 8

1.2.1Depósito extrajudicial

Tratando-se, de obrigação em dinheiro, derivada de qualquer vínculo, poderá o devedor ou terceiro, na forma
do art. 539, § 1º, do CPC, optar pelo depósito da quantia devida em juízo ou fora dele. 9

Optando pelo depósito extrajudicial, deverá fazê-lo em estabelecimento bancário oficial, onde houver, situado
no lugar do pagamento, em conta com correção monetária, cientificando o credor por carta com aviso de recepção,
assinado o prazo de dez dias para a manifestação de recusa. Destaque-se que o alcance da expressão
“estabelecimento oficial” exige do intérprete o entendimento lógico de que, nos lugares onde há estabelecimento
oficial, somente neles poderá ser feito o depósito; onde, porém, não os houver, poderá o depósito ser realizado em
estabelecimento particular. Esta a ratio essendi da lei.
Quanto ao prazo acima mencionado, algumas premissas devem ser assentadas, a saber: (i) o prazo de dez dias
começa a correr da data do retorno do aviso de recebimento da carta pelo credor, cuja entrega lhe deve ser feita
pessoalmente, exigindo o carteiro que ele assine o recibo, por aplicação analógica do art. 248, § 1º, do CPC; (ii) a
carta, para cumprir o seu desígnio receptivo, deve explicitar o objeto do depósito e a expressa cominação do prazo de
dez dias para resposta, com o esclarecimento de que, se nesse lapso de tempo não houver impugnação, o devedor
ficará liberado da obrigação; (iii) a tempestividade da impugnação do credor, manifestada no prazo de dez dias,  torna
indiferente o fato de que a mesma chegue depois ao conhecimento do devedor; (iv) a aceitação extrajudicial do
credor libera o devedor, enquanto sua recusa inaugura o interesse processual na propositura da ação de consignação;
(v) a mora do devedor não é obstáculo à consignação , desde que sejam depositados, além da prestação principal,
10

seus consectários.
Cumpridos esses requisitos e realizado o depósito, é lícito ao credor a recusa motivada, aduzindo as suas razões
da rejeição, ainda que sucintamente, porém de maneira que o depositante possa examinar se procedem ou não as
mesmas, v.g., se entender o credor que o depósito não é integral, hipótese em que deverá especificar a importância
faltante.
Consectário deste depósito extrajudicial  e, portanto, não jurisdicional, é que, decorrido o prazo sem a
11

manifestação de recusa, reputar-se-á o devedor liberado da obrigação, ficando à disposição do credor a quantia
depositada.
Esta presunção de liberação, posto não jurisdicional, não impede que o credor promova em juízo a cobrança da
obrigação que entenda devida. A conexão entre a consignatória e a exigibilidade judicial do débito implicará
o simultaneus processus entre a consignatória e a demanda eleita pelo credor. Aliás, é comum, na prática judiciária, a
conexão entre consignatória e embargos de executado.
Outrossim, o depósito extrajudicial libera o devedor de promover o depósito em juízo, invertendo o ônus da
iniciativa da demanda. Assim, em princípio, pela impossibilidade de ocorrência de moras simultâneas, considera-se
liberado o devedor em face da mora do credor.
Diversamente, ocorrendo a recusa, manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, o devedor ou terceiro
poderão propor, dentro de um mês, a ação de consignação, instruindo a inicial com a prova do depósito e da recusa .12

Consoante se observa, ainda na hipótese de recusa textual, o depósito extrajudicial exonera o devedor de
renová-lo em juízo acaso pretenda promover a consignação judicial animado pela resistência do credor. É que a lei
utiliza a expressão “poderá”, uma vez que a mora do credor exclui a do devedor, advindo daí a facultatividade da
propositura da consignatória, sujeita à discricionariedade do devedor.
Pode ocorrer que, mesmo diante da recusa, o devedor não promova a demanda no prazo de um mês. Nesta
hipótese, ficará sem efeito o depósito, podendo o depositante levantá-lo . Por isso é que, a eventual demanda futura
13

que venha a ser promovida, exigirá como pressuposto de constituição um novo depósito, agora, judicial, sendo
destituído de qualquer eficácia aquele outro, objeto do levantamento.

2.COMPETÊNCIA 14

A primeira preocupação que assoma ao profissional, no momento inicial da propositura da ação, é a escolha do
“foro competente”. A consignatória é inegavelmente ação de natureza pessoal, devendo, por isto, via de regra, ser
proposta no foro do domicílio do réu. Entretanto, por se tratar de forma de liberação do devedor, constituindo-se em
modo indireto de pagamento, estatui o Código que a consignação requer-se no lugar do pagamento, cessando para o
devedor, desde que se efetue o depósito, os juros e os riscos, salvo se for julgada improcedente. O lugar do
pagamento vem previsto no CC/2002, nos arts. 327 a 330.
Conforme é sabido, a regra de competência de foro admite derrogação pela vontade das partes, através do “foro
de eleição”, tão corriqueiro nos contratos. Desta forma, por se tratar de competência relativa, não poderá o juízo
denunciá-la ex officio. Esses preceitos aplicam-se integralmente à consignatória, cujas prestações, em regra, vêm
previstas em contratos nos quais não falece a regra do pacto de foro, que prevalece sobre a regra geral (arts. 62 e 63
do CPC) . Entretanto, à míngua do foro de eleição, prevalece o foro do pagamento ou, à sua falta, o foro do
15

domicílio do réu.
Deveras, por força da norma material, o pagamento e, a fortiori, a consignação, efetuam-se no domicílio do
devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação
ou das circunstâncias. Sendo certo que, designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles.
Quando o pagamento consistir na tradição de um imóvel ou em prestações relativas a imóvel, impõe-se realizar
a consignação no lugar onde se situe o bem. Essa competência é funcional (art. 47 do CPC ) e, portanto, inderrogável
16

pelo foro de eleição.


3.PRESTAÇÕES PERIÓDICAS 17

Há obrigações que não se esgotam em uma só prestação, v.g., a referente aos aluguéis devidos mês a mês; ou
um contrato cujo preço do negócio é dividido em várias parcelas. Esses vínculos categorizam-se como de “trato
sucessivo”. Tratando-se desta espécie de negócio jurídico, carecendo o devedor recorrer a juízo para consignar uma
prestação, é-lhe lícito aproveitar-se do processo para depositar todas as demais parcelas que se forem vencendo no
curso do mesmo, em face da influência do princípio da economia processual, o qual se efetiva através da obtenção de
um máximo de resultado com um mínimo de esforço processual.
Por outro ângulo, mutatis mutandis, da mesma forma como não se exige do credor instaurar um novo processo
condenatório quando iniciado um feito acerca de obrigação com prestações sucessivas, admitindo-se que a sentença
consagre, na condenação, tanto a parcela vencida como também as vincendas (art. 323 do CPC) , não se exige do
18

devedor instaurar outra consignatória para depositar as parcelas que se vençam durante o processo.
Assim é que, tratando-se de prestações periódicas, uma vez consignada a primeira, pode o devedor continuar a
consignar, no mesmo processo e sem maiores formalidades, as que se forem vencendo, desde que os depósitos sejam
efetuados até cinco (5) dias, contados da data do vencimento. A razão reside no fato de que, até a sentença, o juiz
afere a legitimidade dos depósitos, por isso que, após definição do litígio, não mais se admite o depósito das
prestações vincendas. Não há uniformidade quanto a esse termo ad quem, havendo quem admita que o autor faça
esse depósito até o trânsito em julgado da decisão final, o que contraria a finalidade da regra.
A exigência da consignação no prazo consagra, por via oblíqua, a mora intercorrente, evitando que o depósito
judicial libere o devedor consignante dos riscos do atraso. Assim como, no plano extrajudicial, a quitação pode ser
parcial, o mesmo sucede em juízo. Destarte, a falta de depósito oportuno das prestações subsequentes não influi
naquelas que foram realizadas tempestivamente.  Nesses casos, impõe-se ao juiz, como regra in procedendo, julgar
19

parcialmente procedente o pedido. Nada obsta, entretanto, que o autor promova novel ação consignatória,
depositando a prestação subsequente faltante com os consectários da mora.

4.PETIÇÃO INICIAL 20

O processo começa por iniciativa da parte através da demanda, cujo instrumento é a petição inicial (ne
procedat iudex ex officio). Cada procedimento reclama a inclusão de determinados requisitos na peça inicial que os
inaugura, como ocorre com a execução, cujo procedimento exige a apresentação do título executivo e o pedido de
citação para pagamento.
A consignatória, por seu turno, impõe ao autor que requeira na petição inicial: (i) o depósito da quantia ou da
coisa devida, a ser efetivado no prazo de cinco dias, contado do deferimento, ressalvada a hipótese da ação movida
após recusa do depósito extrajudicial; e (ii) a citação do réu para levantar o depósito ou oferecer resposta (art. 542 do
CPC).
O depósito é pressuposto processual de desenvolvimento válido e regular do processo. Inimaginável, portanto,
que se inicie uma ação de consignação sem o depósito da prestação, haja vista que o fundamento primeiro é a recusa
do credor em recebê-la. Ao consignante cumpre, ao efetuá-lo, depositar o valor atualizado do crédito recusado. É que
pode ter havido, e sempre há, um espaço de tempo que medeia entre o vencimento da obrigação recusada e o
depósito em si. Considerando que a correção é apenas o mesmo capital com o plus que se acrescenta, sem representar
penalidade, o depósito deve refletir a sua atualidade econômica .21
A jurisprudência é firme no sentido da necessidade de o depósito ser integral: o depósito parcial leva à extinção
sem resolução do feito . Ademais, o pedido deve ser certo e incondicional, vedando-se, v.g., que o autor consigne
22

sob a condição de o credor realizar determinada contraprestação.

4.1Valor da causa

É assente que a toda causa corresponde um valor, o qual representa o benefício econômico a ser auferido pela
parte vencedora com a prestação jurisdicional.
Sob essa ótica, sedimentou-se o entendimento de que, nas ações de consignação em pagamento, o valor da
causa, quando se trata de uma única prestação vencida, corresponde à quantia que o depositante entende devida.
Entretanto, pleiteando o autor, além da prestação devida, a consignação de prestações vincendas, o valor da ação
equivale ao da primeira prestação multiplicada por uma anuidade, como positivou o Código (art. 292, §2º ) . Esta,
23 24

aliás, é a ratio da súmula 449 do STF .


25

5.CITAÇÃO E DIREITO DE ESCOLHA 26

O devedor pode ser compelido ao cumprimento de obrigação de dar coisa incerta. Hipótese em que, cabendo ao
credor a escolha, ele primeiramente é citado para exercer o seu direito de eleição ou para permitir que o devedor o
faça, iniciando-se, após, o prazo para o cumprimento da obrigação. Observa-se que, neste caso, o procedimento não
se inicia com um depósito, senão com a individualização da coisa, seguindo-se a esta, a colocação do bem à
disposição do juízo.
Realizada a escolha, o juiz deve fixar o lugar, dia e hora para a entrega, respeitando as condições eventualmente
especificadas no contrato. Em não as havendo, estabelecerá as mesmas de forma mais propícia a gerar a exoneração
da obrigação.
O credor, após a escolha, pode recusar-se a receber, posto que o ius eligendi em si em nada interfere nas
escusas possíveis, v.g. a rejeição da coisa escolhida posto danificada. Nessa hipótese de rejeição de recebimento na
data judicialmente aprazada, impõe-se o “depósito da coisa”, no aguardo da liberação quanto ao dever de entrega
com a sentença final.

6.CONSIGNAÇÃO EM CASO DE DÚVIDA 27

O devedor nem sempre se exonera ao realizar o pagamento. É que a lei material enumera uma série de situações
que podem ensejar um pagamento ineficaz, resultando no dever de pagar novamente. Destarte, se o devedor pagar ao
credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiro, o pagamento
não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe, entretanto, salvo o regresso
contra o credor.
Essas hipóteses, exemplificativamente enunciadas, denotam que o devedor pode ter dúvidas sobre quem deva
receber, como ocorre com certa frequência na prática judiciária, v.g.; quando a esposa e a companheira disputam o
seguro deixado pelo de cujus, hipótese em que a seguradora vale-se da ação de consignação.
Persistindo a incerteza sobre quem deva legitimamente receber, cumpre ao devedor promover a demanda,
convocando em litisconsórcio necessário todos os disputantes, para que um deles recolha, ao final, a importância
depositada. A dúvida ensejadora do interesse de agir deve ser objetiva e jurídica, inatendível aquela que é fruto da
imaginação do autor.
Evidente que os réus, ao ingressarem no processo, tanto podem impugnar a dúvida suscitada pelo devedor,
como o próprio quantum consignado. Na primeira hipótese, concluindo-se pela inexistência de dúvida, extingue-se o
processo sem julgamento do mérito e autoriza-se o levantamento da importância, por medida de economia
processual, arcando o consignante com as custas e os honorários dos supostos disputantes convocados. Havendo a
dúvida e insuficiente o depósito, o juiz declara-lhe a insubsistência, mas autoriza o verdadeiro credor a levantar a
parte incontroversa.
Acrescente-se, ainda, que, quando a consignação se fundar em dúvida sobre quem deva legitimamente receber,
não comparecendo nenhum pretendente, converte-se o depósito em arrecadação de bens de ausentes; comparecendo
apenas um, o juiz deve decidir de plano; comparecendo mais de um, o juiz deve declarar efetuado o depósito e
extinta a obrigação, continuando o processo a correr unicamente entre os credores, caso em que se observará o
procedimento comum (art. 548 do CPC).
Nos casos de dúvida sobre quem deva receber, é mister ao devedor ingressar em juízo, o que arrasta a questão
da sucumbência. O juiz ao declarar procedente o depósito, ao final, deve imputar ao adversário daquele que foi
autorizado a levantar o depósito, os honorários de ambos; vale dizer: daquele que foi obrigado a recorrer ao
Judiciário e daquele que com ele disputou o valor consignado.
Suficiente o depósito, cumprirá ao juiz exonerar o devedor. Esta sua decisão incidente tem natureza
interlocutória e o recurso cabível é o de agravo de instrumento .
28

7.RESPOSTA DO RÉU

O procedimento da consignatória ordinarizou-se com a eliminação da data da oferta, a partir da qual iniciava-se
o prazo para defesa. Em consequência, tem-se admitido os incidentes inerentes a essa forma genérica ritual,  v.g., a
intervenção de terceiros, a reconvenção etc.  Aliás, convém recordar, que na consignação em pagamento de aluguéis,
29

admite-se reconvenção, pleiteando-se o despejo e a cobrança de aluguéis. 30

A defesa de mérito, nesta espécie de ação, não pode diferenciar-se das demais consagradas às ações de
conhecimento. Entretanto, parte da doutrina, seduzida pela afirmação de que a consignatória é uma execução às
avessas, posto colocar o devedor na iniciativa de se liberar, ostenta que o quantum deva ser líquido e certo. Afirmam
não ser possível discutir a razão de ser da dívida para consignar, mas apenas depositar uma quantia desde sempre
definida. Assim, segundo essa linha de pensamento, se o devedor pretende, calcado em premissa qualquer, apontar
um quantum consignável diverso daquele que deflui certo de um contrato, não poderá fazê-lo através da
consignatória.
Positivamente colocamo-nos em posição oposta a essa tese, porquanto entendemos que a controvérsia quanto
ao valor da importância devida não inviabiliza o uso da ação de consignação em pagamento. Isto porque a recusa
pode operar-se exatamente por força desse dissenso. Deveras, uma das hipóteses de defesa é exatamente essa
divergência, ex vi do disposto no art. 544, IV, do CPC .
31

A primeira atitude do credor que autoriza a consignação é a recusa. Ora, inexistindo a recusa não há
necessidade de intervenção judicial e, portanto, interesse de agir. Nessa hipótese, deverá o juiz extinguir o processo
sem análise do mérito.
Circunstância diversa é a de ter havido a recusa reputada justa pelo credor. Sob esse ângulo, a justiça ou a
injustiça da recusa compõe o mérito da causa, implicando a procedência ou improcedência do pedido. No ato de
decidir, é lícito ao juiz valer-se de todos os meios de prova aferidores da recusa (art. 369 do CPC ). Muito embora a
32
doutrina considere justa a recusa da prestação antes do vencimento, é imperioso flexibilizar essa exegese, haja vista
que, o depósito não carreia nenhum prejuízo para o credor.
A insuficiência do depósito é uma das alegações possíveis de defesa , encerrando exceção dilatória, posto que o
33

autor-devedor pode complementar a diferença apontada pelo credor réu. A lei veda a referida complementação acaso
o não pagamento integral da prestação dê causa à rescisão contratual. Nessa hipótese, o quantum vencido terá gerado
essa consequência, aliás, por isso que o credor recusou-se a receber. Assim, v.g., se não paga uma prestação que
implica ruptura do vínculo, por expressa disposição contratual, não se poderá pretender adimpli-la em juízo, nem
mesmo complementando a quantia que o credor aponte como insuficiente.
A complementação, em princípio, deve obedecer ao que o réu indica. Entretanto, se o autor tiver depositado
inicialmente quantia estimada por não saber exatamente a importância do débito, deve declarar expressamente em
seu pedido inicial que se compromete a completar o total, atualizado, dentro do prazo previsto de dez dias (art. 545
do CPC).
Apontando o réu que o montante não é suficiente a liquidar a obrigação, ainda assim, poderá o autor promover
uma complementação diversa daquela pretendida pelo contestante, pronunciando-se o juiz acerca da procedência, ou
não, da insuficiência do montante depositado na sentença final . Este prazo de complementação é preclusivo e tem
34

como termo a quo a data em que o autor é intimado da contestação. A sua concessão, em princípio, deriva de decisão
monocrática, da qual não cabe recurso algum, salvo se deferido nos casos vedados pela lei processual .35

A complementação do depósito implica o reconhecimento da procedência da contestação, devendo, pois, o juiz


proferir sentença de mérito, declarando extinta a obrigação, mas condenando, em honorários de advogado e custas, o
autor.
Magnífica modificação operou-se com a reforma processual, ao conceder natureza dúplice à ação de
consignação. Isto porque, no regime ancião, o juiz, ao reputar insuficiente o depósito, limitava-se a julgar
improcedente o pedido liberatório e remetia o credor à outra demanda, em que poderia exigir a parte que lhe pareceu
faltante. No regime atual, diferentemente, o credor pode levantar o incontroverso e a sentença que dispõe sobre a
parte faltante serve de condenação ao pagamento do resíduo e, como tal, constitui título executivo judicial. É
evidente que, com a remodelação do instrumento processual, o credor obtém com menor esforço um máximo de
resultado, aumentando a efetividade da prestação jurisdicional. Nos próprios autos, pode promover a execução por
quantia certa da diferença entendida devida pelo juízo consignatório, por força da duplicidade ora emprestada.
A inovação é tanto mais arrojada na medida em que o legislador não exige que o credor, na contestação, tenha
formulado esse pedido explicitamente. Analogicamente, há que se aplicar o preceito a todas as ações de consignação,
inclusive a de alugueres.
Resumidamente, a segunda causa excipiendi consistente na “insuficiência do depósito”, mutatis mutandis,
comprova que a recusa extrajudicial era justa, posto pretendia o devedor liberar-se com quantum aquém do devido,
na visão do credor.
Nesse sentido, é que se afirma que, na ação in foco, não será admitida a alegação de insuficiência do depósito se
o réu não especificar, na contestação, qual a importância que entende devida (art. 544, parágrafo único, do CPC ), 36

possibilitando assim ao autor complementar o depósito (art. 545 ). Outrossim, qualquer diferença é suficiente não só
37

para a complementação obstativa da sentença de improcedência como autorizativa da mesma . 38

Destarte, a improcedência da ação pela insuficiência, à luz do disposto no art. 503  do CPC, não impede a
39

repropositura, com pleito de consignação de toda a prestação que deveria ter sido desde o início consignada,
inclusive com as eventuais diferenças. Em contrapartida, o réu pode levantar, desde logo, a parte da quantia
depositada sobre a qual não houver controvérsia (art. 545, § 1º do CPC ). 40

A defesa que resiste ao depósito pelo fato de ele não ter sido realizado na forma e no lugar convencionados, em
essência, sustenta-se na justeza da recusa e no cânone material que exige que, para que a consignação tenha força de
pagamento, concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não deve
ser considerado válido o pagamento.
Anote-se, por fim, que, embora o litisconsórcio passivo no campo obrigacional seja, em regra, facultativo,
aplica-se o regime da unitariedade, quando a resposta aproveita a todos os réus.

7.1Revelia

Em regra, a ação de consignação gravita em torno de interesses disponíveis, de forma que, se o réu tornar-se
revel, declarará o juiz extinta a obrigação. Afirma-se “em regra”, porquanto a revelia não induz inexoravelmente à
procedência do pedido.
A lei equipara a ação à omissão, ao sugerir a mesma solução para a revelia e para o reconhecimento da
procedência do pedido, que se engendra com o pleito do credor no simples levantamento da quantia ou da coisa
depositadas, sem ressalvas.
Destaque-se, a diferença notória entre o pedido de levantamento com a quitação sem ressalvas; o que autoriza o
juiz a declarar extinta a obrigação, do pedido de levantamento da quantia incontroversa. Nesse último caso, resta
julgar o pedido remanescente.
Sob esse ângulo, inolvidável o preceito material, segundo o qual, o credor que, depois de contestar a lide ou
aceitar o depósito, aquiescer no levantamento, perderá a preferência e garantia que lhe competiam com respeito à
coisa consignada, ficando desde logo desobrigados os codevedores e fiadores que não anuíram . 41

8.JULGAMENTO DO PEDIDO

O juiz há de julgar procedente o pedido quando, apesar de contestado, reconhecer a suficiência do quantum e a
injusta recusa do credor. Obedecido o limite do pedido e, a fortiori, da coisa julgada que a ele se adstringe, a decisão
limitar-se-á a liberar o devedor daquela obrigação específica, provenha de onde provier. Por outro lado, os efeitos da
improcedência só podem ser declarados pelo juiz, v.g., a rescisão do vínculo pela insuficiência do depósito, acaso
haja cumulação de pedidos.
Diferentemente do que ocorria outrora e considerando sempre a possibilidade de levantamento da parte
incontroversa, a extinção terminativa do feito, isto é, sem análise do mérito, não impede o levantamento do depósito.

1
“CC/2002: Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa
devida, nos casos e forma legais.”
2
“CC/2002: Art. 336. Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto,
modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento.”
3
“CC/2002: Art. 344. O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas, se pagar a qualquer dos pretendidos
credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento.”
4
“CC/2002: Art. 345. Se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer
deles requerer a consignação.”
5
“CPC/2015: Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I – da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma
relação jurídica; II – da autenticidade ou falsidade de documento.
Art. 20. É admissível a ação declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito.”
6
Admite-se a cumulação dos pedidos de revisão de cláusulas do contrato e de consignação em pagamento das parcelas tidas como
devidas por força do mesmo negócio jurídico. Quando o autor opta por cumular pedidos que possuem procedimentos judiciais diversos,
implicitamente requer o emprego do procedimento ordinário. Recurso especial não conhecido. (REsp 464.439/GO, Rel. Min. Nancy
Andrighi, 3ª Turma, j. 15.05.2003).
7
Acerca da amplitude necessária da consignatória para o fim de liberar o devedor, consultem-se as razões didaticamente expostas In
STJ -4ª Turma, REsp 2.454-RS, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo; DJU 04.06.1990, p. 5.063. A única dificuldade entrevista nessa assertiva
é a possibilidade de análise de cláusula contratual à luz do óbice da Súmula 5 do STJ.
8
“CPC/2015: Art. 544. Na contestação, o réu poderá alegar que: (...) IV – o depósito não é integral. Parágrafo único. No caso do inciso
IV, a alegação será admissível se o réu indicar o montante que entende devido.”
9
“CPC/2015: Art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de pagamento, a consignação da
quantia ou da coisa devida.
§ 1º Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o valor ser depositado em estabelecimento bancário, oficial onde houver, situado no
lugar do pagamento, cientificando-se o credor por carta com aviso de recebimento, assinado o prazo de 10 (dez) dias para a
manifestação de recusa.”
10
Destaca-se que a mora do devedor não obsta a ação de consignação quando: (i) o devedor não souber a quem realizar o pagamento,
pois há casos em que mais de um credor alega ser o titular do direito de receber o pagamento, e (ii) o credor alegar algo diverso do
pactuado com o devedor.
11
O depósito bancário do art. 539 do CPC tem natureza material e é servil a toda e qualquer modalidade de consignação, desde a
prestação de mútuo hipotecário até a consignação de aluguéis.
12
“CPC/2015: Art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de pagamento, a consignação da
quantia ou da coisa devida. (...) § 3º Ocorrendo a recusa, manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, poderá ser proposta,
dentro de 1 (um) mês, a ação de consignação, instruindo-se a inicial com a prova do depósito e da recusa.”
13
“CPC/2015: Art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de pagamento, a consignação da
quantia ou da coisa devida. (...) § 4º Não proposta a ação no prazo do § 3º, ficará sem efeito o depósito, podendo levantá-lo o
depositante.”
14
“CPC/2015: Art. 540. Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento, cessando para o devedor, à data do depósito, os juros e os
riscos, salvo se a demanda for julgada improcedente.”
15
“CPC/2015: Art. 62. A competência determinada em razão da matéria, da pessoa ou da função é inderrogável por convenção das
partes.
Art. 63. As partes podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de
direitos e obrigações.”
16
“CPC/2015: Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa.
§ 1º O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade,
vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova.”
17
“CPC/2015: Art. 541. Tratando-se de prestações sucessivas, consignada uma delas, pode o devedor continuar a depositar, no mesmo
processo e sem mais formalidades, as que se forem vencendo, desde que o faça em até 5 (cinco) dias contados da data do respectivo
vencimento.”
18
“CPC/2015: Art. 323. Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas, essas serão consideradas
incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor, e serão incluídas na condenação, enquanto durar a
obrigação, se o devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las.”
19
RT 546/147.
“CPC/2015: Art. 542. Na petição inicial, o autor requererá:
20

I – o depósito da quantia ou da coisa devida, a ser efetivado no prazo de 5 (cinco) dias contados do deferimento, ressalvada a hipótese
do art. 539, § 3º ;
II – a citação do réu para levantar o depósito ou oferecer contestação.
Parágrafo único. Não realizado o depósito no prazo do inciso I, o processo será extinto sem resolução do mérito.”
STJ, 4ª Turma, Ag 48.450-5-SP- AgRg, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, DJU 30.05.1994, p. 13.490.
21

REsp 1.108.058-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF da 5ª Região), Rel. Acd. Min. Maria Isabel
22

Gallotti, Segunda Seção, por maioria, j. 10.10.2018, DJe 23.10.2018 (Tema 967).


“Art. 292. (...) § 2º O valor das prestações vincendas será igual a uma prestação anual, se a obrigação for por tempo indeterminado ou
23

por tempo superior a 1 (um) ano, e, se por tempo inferior, será igual à soma das prestações.”
RT 648/99.
24

STF Súmula nº 449: O valor da causa, na consignatória de aluguel, corresponde a uma anuidade.
25

“CPC/2015: Art. 543. Se o objeto da prestação for coisa indeterminada e a escolha couber ao credor, será este citado para exercer o
26

direito dentro de cinco (5) dias, se outro prazo não constar de lei ou do contrato, ou para aceitar que o devedor o faça, devendo o juiz, ao
despachar a petição inicial, fixar lugar, dia e hora em que se fará a entrega, sob pena de depósito.”
“CPC/2015: Art. 547. Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o pagamento, o autor requererá o depósito e a citação
27

dos possíveis titulares do crédito para provarem o seu direito.”


STF-2ª Turma, RE 199.274-3, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 16.12.1997, deram provimento, v.u., DJU 17.04.1998.
28

STJ, 4ª Turma, Ag 17.386-0-GO- AgRg, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, DJU 08.03.1993, p. 3.12.


29

“Lei de Locações (Lei nº 8.245/1991): Art. 67. Na ação que objetivar o pagamento dos aluguéis e acessórios da locação mediante
30

consignação, será observado o seguinte: (...) VI – além de contestar, o réu poderá, em reconvenção, pedir o despejo e a cobrança dos
valores objeto da consignatória ou da diferença do depósito inicial, na hipótese de ter sido alegado não ser o mesmo integral; VIII –
havendo, na reconvenção, cumulação dos pedidos de rescisão da locação e cobrança dos valores objeto da consignatória, a execução
desta somente poderá ter início após obtida a desocupação do imóvel, caso ambos tenham sido acolhidos.”
“CPC/2015: Art. 544. Na contestação, o réu poderá alegar que: (...) IV – o depósito não é integral. Parágrafo único. No caso do inciso
31

IV, a alegação somente será admissível se o réu indicar o montante que entende devido.”
“CPC/2015: Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não
32

especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção
do juiz.”
“CPC/2015: Art. 545. Alegada a insuficiência do depósito, é lícito ao autor completá-lo, em 10 (dez) dias, salvo se corresponder a
33

prestação cujo inadimplemento acarrete a rescisão do contrato.


§ 1º No caso do caput, poderá o réu levantar, desde logo, a quantia ou a coisa depositada, com a consequente liberação parcial do
autor, prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida.
§ 2º A sentença que concluir pela insuficiência do depósito determinará, sempre que possível, o montante devido e valerá como título
executivo, facultado ao credor promover-lhe o cumprimento nos mesmos autos, após liquidação, se necessária.”
Diferentemente concluiu o E. STJ In 3ª Turma, REsp 31.566-2-MG, Rel. Min. Cláudio Santos, DJU 15.08.1994, p. 20.332.
34

STJ – RT 699/210.
35

“CPC/2015: Art. 544. Na contestação, o réu poderá alegar que:


36

(...)
IV – o depósito não é integral.
Parágrafo único. No caso do inciso IV, a alegação somente será admissível se o réu indicar o montante que entende devido.”
“CPC/2015: Art. 545. Alegada a insuficiência do depósito, é lícito ao autor completá-lo, em 10 (dez) dias, salvo se corresponder a
37

prestação cujo inadimplemento acarrete a rescisão do contrato.”


RT 605/222.
38

“CPC/2015: Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal
39

expressamente decidida.”
“CPC/2015: Art. 545. Alegada a insuficiência do depósito, é lícito ao autor completá-lo, em 10 (dez) dias, salvo se corresponder a
40

prestação cujo inadimplemento acarrete a rescisão do contrato.


§ 1º No caso do caput, poderá o réu levantar, desde logo, a quantia ou a coisa depositada, com a consequente liberação parcial do
autor, prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida.”
“CC/2002: Art. 340. O credor que, depois de contestar a lide ou aceitar o depósito, aquiescer no levantamento, perderá a preferência e
41

a garantia que lhe competiam com respeito à coisa consignada, ficando para logo desobrigados os codevedores e fiadores que não
tenham anuído.”

II
AÇÃO DE EXIGIR CONTAS

1.GENERALIDADES

Consoante assente, a prestação de contas é devida por tantos quantos administram bens de terceiros, quer haja
lei material dispondo acerca desse dever, quer inexista dever contratual. 1

Em consequência, pode-se entrever esse dever em inúmeras situações da vida prática,  v.g.; o consorciado pedir
contas à administradora; o correntista que, ao receber extratos bancários, discorde dos lançamentos deles constantes,
ainda que essa remessa seja habitual.
O objetivo primacial da ação é acertar, em face de um negócio jurídico, a existência de um débito ou de um
crédito, daí a cognominada duplicidade da ação em face do “saldo credor” que pode ser em prol de quem moveu a
ação ou sujeitou-se à postulabilidade dela.
É inegável que o objetivo de prestar contas ou exigi-las consiste num fazer, mas a finalidade última é de
apuração de um saldo, por isso incabível, por falta de interesse de agir, a simples propositura de mera ação
cominatória.
Em consonância com seu desígnio maior da verificação de um saldo, torna-se a ação de exigir contas
desnecessária caso o autor tenha um valor que entenda devido segundo seus próprios cálculos. Nessas hipóteses, a
ação in casu é desnecessária, podendo o credor desde logo mover ação de cobrança, indicando o quantum
debeatur do seu crédito.
Do mesmo modo, reputa-se desnecessária a ação se algum órgão da pessoa jurídica ou formal encarregado da
aprovação das contas assim já procedeu, v.g.; a assembleia geral ordinária de condôminos, ou o conselho fiscal de
uma sociedade etc. Nessas hipóteses, deve anteceder à ação de prestação de contas, a nulificação judicial da
aprovação anterior.
Destarte, pouco importa que o réu instado a prestar contas tenha um saldo favorável, porquanto a ação tem por
escopo central jurisdicionalizar a relação de débitos e créditos. Dissipando incertezas, revelando nítido caráter
declaratório, com a feição que hoje se reconhece à sentença que consagra obrigação passível de cumprimento.

2.AÇÃO DE EXIGIR CONTAS

Sob o enfoque do direito de exigir contas, o art. 550 do CPC  trata da ação daquele que exige contas em face de
2

quem tem o dever pessoal de prestá-las, v.g.; o sócio-administrador ou gerente da sociedade limitada.


Destaque-se que o procedimento desta ação é bifásico. Vale dizer, passa por duas fases distintas: a primeira, na
qual o juiz decide acerca da obrigação de prestar contas; e a segunda, que depende de um juízo positivo quanto ao
dever de prestá-las, é destinada à verificação do saldo a favor de qualquer das partes. Diz-se, assim, que o
procedimento é bifásico e a ação dúplice em razão desta possibilidade de o saldo favorecer a qualquer dos litigantes:
autor ou réu. Consequentemente, dada a sua natureza dúplice, não há interesse processual no manejo da reconvenção,
para esse fim específico.
Consectário desta bipartição do rito em fases, com o julgamento anterior do dever material de prestar contas, é
que o ato que põe termo à fase primeira é a decisão parcial de mérito, na qual deve constar a decretação da
sucumbência. Desafiando, portanto, o recurso de agravo de instrumento . 3

Neste primeiro momento em que o réu é citado para prestar contas, variam as consequências conforme a sua
atitude. Em primeiro lugar, ele pode contestar o dever de prestar as contas, podendo o juiz concluir pelo
descabimento da pretensão de prestar as contas – hipótese em que extinguirá o processo declarando a ilegitimidade
da pretensão do autor, impondo-lhe sucumbência. No caso de improcedência do pedido de exigir contas, o processo
será extinto por sentença, logo, atacável por apelação .
4

Concluindo, diversamente, pelo dever de prestar contas, o juiz, na sentença que julgar procedente a ação,
condenará o réu a prestá-las no prazo de quinze dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor
apresentar, e impor-lhe-á sucumbência.
Pode ocorrer que o réu, não obstante conteste o pedido, apresente as contas. Nessa hipótese, se o réu, embora
contestando a obrigação de prestar contas, desde logo as apresente na contestação, segue-se o procedimento do § 1º e
não o dos §§ 2º e 3º, ou seja, o juiz deve apreciar o dever de prestar, verificando se estão bem prestadas.
Pode, ainda, o réu, em vez de impugnar esse dever, prestar as contas, caso em que terá o autor quinze dias para
dizer sobre elas. De toda sorte, com a exibição das contas, supera-se a primeira fase. Adstringindo-se a discussão não
mais ao dever de prestá-las, mas ao seu conteúdo.
Quedando-se inerte o réu e sendo cabível a prestação de contas, posto que a inatividade do demandado não faz
gerar efeitos legais, apresentá-las-á o autor dentro em quinze dias, sendo as contas julgadas segundo o prudente
arbítrio do juiz, que poderá determinar, se necessário, a realização do exame pericial contábil.
Isso porque o juiz, mesmo diante da inatividade do réu que perde a oportunidade de impugnar as contas
exibidas pelo autor, pode determinar perícia que lhe assegure um resultado mais justo do qual poderá participar o
revel, que assume o processo no estado que se encontra.
2.1A ação de dar contas

Já sob o enfoque de quem tem a obrigação de prestar contas, o artigo 916 do CPC/1973  previa a denominada
5

“ação de dar contas”, permitindo que aquele que estiver obrigado a prestar contas possa requerer a citação do réu
para aceitá-las ou contestar a ação. No atual Código, no entanto, não há mais o procedimento especial da ação de dar
contas, logo, deve ser seguido o procedimento comum.
O procedimento, na hipótese da ação de dar contas, simplifica-se, porquanto não se divide o processo em duas
fases . Não há a discussão sobre a obrigatoriedade de prestação de contas, visto que o responsável pela prestação já se
6

dispôs a fazê-lo. Seguindo o procedimento comum, apenas se discute a justeza das contas apresentadas pelo autor
para que a decisão judicial estabeleça o saldo credor.

3.SALDO E EXECUÇÃO POR QUANTIA

O verdadeiro escopo da ação de prestação de contas é constituir um saldo credor que, declarado na sentença,
poderá ser cobrado em execução forçada . 7

A lei, neste passo, indica que a sentença “declaratória cível” é título executivo judicial, consoante a novel
ideologia do cumprimento de sentença. A fixação do saldo é da substância deste ato decisório, sendo nula a sentença
que não o declara.
Não se decreta nulidade de decisão que, embora sem consignar expressamente o saldo devedor, contém
elementos que permitem a sua aferição por meio de interpretação integrativa e raciocínio dedutivo . 8

Outrossim, é possível a sentença declarar que, na relação de débito e crédito, não há saldo favorável a qualquer
das partes, desafiando o recurso de apelação.
Admite-se que o pedido, na ação de prestação de contas, seja “genérico”. É clássico o exemplo de pleito desta
espécie cujo valor não é fixado de imediato na petição inicial porque depende de ato a ser praticado pelo réu , qual
9

seja a prestação de contas em si. Entretanto, nos casos em que o pedido é certo – isto é, a parte indica o saldo que
pretende – a sentença fica limitada ao saldo indicado pelo autor, não podendo ir além do consignado na inicial, se a
ele favorável, nem ficar aquém, se desfavorável.
Esclareça-se, por fim, que a sucumbência da primeira fase não interfere nesta segunda etapa. Assim é que, se o
réu foi condenado a prestar contas e a ela se opôs, sujeita-se aos honorários. Nesta segunda etapa, suportará a
sucumbência quem mais se afastar do saldo fixado pelo juiz, cujo quantum poderá indicar, inclusive, a “sucumbência
recíproca” para este momento processual.

4.PRESTAÇÃO DE CONTAS DO INVENTARIANTE, DO TUTOR, DO CURADOR, DO DEPOSITÁRIO E DE


OUTRO QUALQUER ADMINISTRADOR 10

A afinidade da administração de bens de terceiro com o dever dos administradores judiciais de patrimônio de
seus dependentes fez com que o legislador inserisse, no capítulo, um dispositivo que poderia ser encartado em cada
um dos procedimentos mencionados, a saber: o inventário e partilha, o pedido de tutela e curatela e nas regras que
disciplinam as funções do depositário e do administrador judiciais.
A inserção sinaliza para a aplicação subsidiária destas regras procedimentais à prestação de contas destes
auxiliares do juízo. Entretanto, o juízo da ação em que exerceram as suas funções é o competente para a análise das
contas.
Considere-se, por fim, que, além das sanções previstas no artigo supra, normas específicas dos procedimentos
mencionados exacerbam as consequências da não prestação de contas, v.g. no inventário, em que se dá a remoção do
inventariante sem prejuízo da execução do saldo credor em favor do espólio.

1
STJ – 3ª Turma, Ag. 33.211-6-SP AgRg., Rel. Min. Eduardo Ribeiro.
2
“CPC/2015: Art. 550. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a citação do réu para que as preste ou ofereça
contestação no prazo de 15 (quinze) dias.”
3
REsp 1680168/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. p/ Acórdão Ministro Raul Araújo, 4ª Turma, j. 09.04.2019.
4
STJ-3ª Turma, REsp 1.746.337-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 09.04.2019: “Em síntese, conclui-se que: (i) se o julgamento na primeira
fase da ação de exigir contas for de procedência do pedido, o pronunciamento jurisdicional terá natureza de decisão parcial de mérito e
será impugnável por agravo de instrumento com base no art. 1.015, II, do CPC/2015; se, contudo, o julgamento da primeira fase da ação
de exigir contas for de improcedência do pedido ou de extinção do processo sem resolução de mérito, o pronunciamento jurisdicional
terá natureza de sentença e será impugnável por apelação”.
5
“CPC/1973: Art. 916. Aquele que estiver obrigado a prestar contas requererá a citação do réu para, no prazo de cinco (5) dias, aceitá-
las ou contestar a ação. § 1º Se o réu não contestar a ação ou se declarar que aceita as contas oferecidas, serão estas julgadas dentro
de dez (10) dias. § 2º Se o réu contestar a ação ou impugnar as contas e houver necessidade de produzir provas, o juiz designará
audiência de instrução e julgamento.”
6
STJ-3ª Turma, REsp 2.779-MA, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 05.06.1990, não conheceram, v.u., DJU 25.06.1990, p. 6.039.
7
“Art. 552. A sentença apurará o saldo e constituirá título executivo judicial.”
8
STJ-4ª Turma, REsp 10.022-SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo.
9
“CPC/2015: Art. 324. O pedido deve ser determinado.
§ 1º É lícito, porém, formular pedido genérico:
(...)
III – quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu.”
10
“CPC/2015: Art. 553. As contas do inventariante, do tutor, do curador, do depositário e de qualquer outro administrador serão prestadas
em apenso aos autos do processo em que tiver sido nomeado.
Parágrafo único. Se qualquer dos referidos no caput for condenado a pagar o saldo e não o fizer no prazo legal, o juiz poderá destituí-lo,
sequestrar os bens sob sua guarda, glosar o prêmio ou a gratificação a que teria direito e determinar as medidas executivas necessárias
à recomposição do prejuízo.”

CPC/1973: Art. 991 – Incumbe ao inventariante:
VII – prestar contas de sua gestão ao deixar o cargo ou sempre que o juiz lhe determinar;
Art. 995 – O inventariante será removido:
(...)
V – se não prestar contas ou as que prestar não forem julgadas boas;”
III
AÇÕES POSSESSÓRIAS

1.GENERALIDADES

A posse é um fenômeno de magnífica expressão jurídica porquanto encerra a proteção legal a uma situação de
fato que se convola em direito. O fundamento da posse é híbrido, vale dizer: protege-se a paz social pela manutenção
da situação fática da posse ou a sua reversão diante de uma lesão, bem como se protege a ordem jurídica pelo amparo
dos direitos decorrentes dela.
Essa dupla conotação do fenômeno possessório contamina a singularidade das ações correspondentes,
porquanto a tutela judicial da posse efetiva-se através das denominadas ações possessórias, que variam consoante a
moléstia causada ao possuidor. Essas ações, entretanto, guardam entre si o ponto afim de conjurar a lesão ao estado
de fato possessório pelo expressivo abalo à ordem social que a mesma representa. Esta preocupação constante
justifica algumas características marcantes, v.g., a fungibilidade e a duplicidade das ações possessórias, bem como a
possibilidade de concessão de tutela antecipada em qualquer modalidade de interdito.
A posse não é definida por lei, mas é definida pelo sujeito que a exerce. Considerando possuidor todo aquele
que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes ao domínio ou à propriedade.
O estado de fato pode estar calcado numa apreensão originária da coisa ou derivada de vínculo jurídico. No
primeiro caso, o possuidor não guarda dependência com quem quer que seja. No segundo, quando, por força de
obrigação ou de direito, exerce-se temporariamente a posse direta, a posse indireta de terceiros não é anulada.
O direito material explicita que não é qualquer vínculo que transmuda aquele que está de fato de posse da coisa
em “possuidor”. Por isso que não é possuidor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro,
conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas, v.g.; o caseiro de uma propriedade
de veraneio, etc.
A posse, em princípio, pode ser exercida por mais de uma pessoa. Nesse caso, se duas ou mais pessoas
possuírem coisa indivisa ou estiverem no gozo do mesmo direito, poderá cada uma exercer sobre o objeto comum
atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores. Trata-se do fenômeno da “composse”,
que retrata a cotitularidade de direitos tão constantes em nosso ordenamento, como por exemplo a solidariedade. Isto
não significa que o compossuidor com posse certa e determinada não tenha possibilidade jurídica de propor ação
possessória contra possuidor comum . 1

Na defesa da posse em juízo, insta analisar a sua origem visto que o juiz há de proteger sempre a denominada
“melhor posse”. Destarte, há de se aferir o modo de sua aquisição bem como os meios de sua manutenção por parte
do jurisdicionado. Sob esse ângulo, considera-se “justa” a posse que não for adquirida de forma violenta, clandestina,
ou precária e de “boa-fé” se o possuidor ignora o vício ou o obstáculo que lhe impede a aquisição da coisa ou do
direito.
Assim, se alguém, por justo título, adquire uma posse ciente de seus vícios, tem posse justa, porém despida de
boa-fé. Os dois elementos, justeza e boa-fé são importantes porquanto há efeitos da posse que somente se produzem
concorrendo ambos os requisitos, v.g.; a usucapião ordinária.
Assente-se que em princípio, o possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em
contrário ou quando a lei expressamente não admita esta presunção. Por seu turno, a posse de boa-fé só perde este
caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui
indevidamente. Desta sorte, é razoável entender-se que a posse perde o caráter de boa-fé com a oposição judicial à
sua legitimação .
2

A transmissão da posse a outrem faz presumir que, salvo prova em contrário, entende-se manter a posse com o
mesmo caráter com que foi adquirida, por isso que ela se transmite com os mesmos caracteres aos herdeiros e
legatários do possuidor por força do denominado direito de saisine.
Cumpre destacar que, ao juízo, impende averiguar a aquisição e a perda da posse no julgamento dos interditos
possessórios, haja vista que a forma de uma ou de outra influirá na decisão quanto à procedência ou improcedência
do pedido.
Deveras, é cediço que se adquire a posse: I – pela apreensão da coisa, ou pelo exercício do direito; II – pelo fato
de se dispor da coisa, ou do direito; III – por qualquer dos modos de aquisição em geral. O preceito baseia-se, em
princípio, na doutrina objetiva de Ihering que exigia a apreensão da coisa (corpus) para se caracterizar a posse.
A nossa lei – ao considerar possuidor aquele que de fato exerce poderes inerentes ao domínio, vale dizer, usa,
goza e dispõe da coisa – incluiu as formas de aquisição que se conciliam com a sua definição. A posse pode ser
adquirida pela própria pessoa que a pretende; por seu representante ou procurador; por terceiro sem mandato,
dependendo de ratificação; pelo constituto possessório.
No que pertine a essa última possibilidade, uma vez inserida em escritura pública de compra e venda de imóvel,
faz as vezes da posse fática transmitida. Logo, autoriza a propositura dos interditos possessórios pelo adquirente,
mesmo que nunca tenha exercido atos de posse direta sobre o bem. 3

Considerando que a posse pode ser adquirida por apreensão imediata da coisa (posse natural) ou por força de
negócio jurídico (posse civil), justificam-se os modos impessoais de sua integração ao patrimônio de alguém que, ato
contínuo, a exercerá por si ou por prepostos.
Adquirida a posse de outrem, por ato inter vivos ou mortis causa, o sucessor universal continua de direito a
posse do seu antecessor (drôit de saisine) e, ao sucessor singular, é facultado unir sua posse à do antecessor para os
efeitos legais (acessio temporis).
Superadas essas formas de aquisição, tem-se que os atos de mera permissão ou tolerância não induzem posse,
assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a
clandestinidade. É que a posse, não obstante situação meramente fática, não significa ser estado fático antijurídico.
Por seu turno, o possuidor há de se comportar como se proprietário fosse. Isso não ocorre com quem recebe a
coisa por mera tolerância ou permissão, como quem ocupa o bem por mais tempo após escoado o comodato por
condescendência do comodante. Por essa razão que a ação correspondente ao comodatário que, constituído em mora,
não entrega a coisa, é a de reintegração de posse.
Na defesa da posse, subentende-se que a posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a dos móveis e
objetos que nele estiverem, posto que acessorium seguntur principale.
Uma vez adquirida, cumpre-nos enunciar os efeitos da posse que podem ser exigíveis em juízo juntamente com
a tutela judicial possessória ou em ação autônoma.
Em primeiro lugar, destaque-se que o possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação ou
ameaça, e, restituído em caso de esbulho. Este é o primeiro efeito marcante do fenômeno possessório: garantir ao
possuidor a inteireza de sua situação em relação à coisa. Assim é que, se alguém o despoja parcialmente da posse por
meio antijurídico, cabe-lhe pleitear em juízo a manutenção do estado de fato. Acaso seja despojado por completo da
apreensão física que exercia, compete-lhe pedir a “reintegração de posse”.
A posse, conforme observado, é tutelável mesmo contra o titular do domínio, porquanto estado de fato capaz de
gerar, dentre os seus efeitos, o de apagar o domínio anterior pela usucapião superveniente. Aliás, a lei distingue com
muita nitidez os dois aspectos dos direitos inerentes às coisas, o domínio e a posse, ao dispor que não obsta à
manutenção ou à reintegração na posse a alegação de domínio ou de outro direito sobre a coisa.
Uma das características a que nos referimos de início, como decorrente de a posse pertencer à ordem da paz, é a
possibilidade de autodefesa antes mesmo do ingresso no Judiciário. Trata-se de exceção à regra do monopólio da
jurisdição. Desta sorte, o possuidor turbado ou esbulhado poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força,
contanto que o faça logo. É a denominada legítima defesa da posse, que não passa pelo referendo judicial a não ser
que se discuta que a apreensão originária deu-se por força desta faculdade legal. Nesse caso, o juiz há de averiguar se
os atos de defesa, ou de desforço, não foram além do indispensável à manutenção ou restituição da posse. Além da
reposição ao estado anterior, o possuidor manutenido ou reintegrado na posse tem direito à indenização dos prejuízos
sofridos, operando-se a reintegração à custa do esbulhador, no mesmo lugar do esbulho, admitindo-se a cumulação
de pedidos, conforme veremos.
A ação possessória pode ser intentada tanto contra o transmitente que alienou a posse viciosa, como contra o
terceiro que recebeu a coisa esbulhada, sabendo que o era. É que este adquire a posse antes do domínio por força da
cláusula constituti .
4

Outra particularidade da defesa da posse é a possibilidade de provimento judicial imediato, pois a moléstia
possessória resulta em enérgico abalo à paz social. Como consectário, o possuidor esbulhado poderá ser
reintegrado na posse, desde que o requeira, sem ser ouvido o autor do esbulho antes da reintegração. É a
denominada tutela liminar inaudita et altera pars, hodiernamente cognominada tutela antecipada.
É que as ações possessórias seguem o procedimento especial quando intentadas dentro em ano e dia da turbação
ou esbulho. Passado esse prazo, elas são ordinárias, não perdendo, contudo, o caráter possessório, isto é: contém
peculiaridades decorrentes do objeto litigioso que é a posse, v.g.; a duplicidade, fungibilidade etc.  Impende
5

esclarecer que esse prazo de ano e dia não corre enquanto o possuidor defende a posse extrajudicialmente,
restabelecendo a situação de fato anterior à turbação, ou ao esbulho.
Outro efeito marcante da posse, além da tutela possessória, é o direito à percepção dos frutos. O possuidor de
boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé
devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio. Devem ser também restituídos os
frutos colhidos com antecipação. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos logo que são
separados. Os civis, como o aluguel, reputam-se percebidos dia por dia.
O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua,
deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito, porém, às despesas da produção e
custeio. Sem prejuízo, ainda, o possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que
acidentais, salvo se provar que do mesmo modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante.
Em contrapartida, o possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa a que não der causa e
tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem
pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa. Ademais, pelo valor das benfeitorias necessárias e
úteis, poderá exercer o direito de retenção. Nesse particular, ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as
benfeitorias necessárias, mas não lhe assiste o direito de retenção (ius retentiones) pela importância destas, nem o de
levantar as voluptuárias.
Considerando, porém, que o possuidor utiliza coisa alheio de quem detém o domínio, permite a lei que as
benfeitorias compensem-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se, ao tempo da evicção, ainda existirem.
Ademais, o reivindicante obrigado a indenizar as benfeitorias tem direito de optar entre o seu valor atual e o seu
custo, critério calcado em notória regra de equidade.
Os efeitos acima decorrem da aquisição da posse através dos meios considerados aptos a esse fim.
Conforme afirmamos, no litígio possessório, é forçoso analisar a aquisição da posse pelo demandado e a perda
pelo autor para verificar se houve realmente moléstia à posse reparável pelos interditos. Convém, assim, mantermos
presente a noção de que perde-se a posse das coisas: I – pelo abandono; II – pela tradição; III – pela perda, ou
destruição delas, ou por serem postas fora do comércio; IV – pela posse de outrem, ainda contra a vontade do
possuidor, se este não foi manutenido, ou reintegrado em tempo competente; V – pelo constituto possessório.
Em todos esses casos, a perda da posse é legal, não se podendo acoimar de lesiva a forma como o seu atual
detentor a adquiriu.
O objeto das ações possessórias são os bens tangíveis sobre os quais é possível o exercício do  corpus inerente à
posse. Além de seus efeitos terem como pressuposto esta natureza de bens, porquanto seria incabível falar-se em
benfeitorias e acessões em relação aos direitos pessoais.
Travou-se certa época discussão a esse respeito principalmente porque os interditos eram remédios expeditos e
pretendia-se aplicá-los, com a sua celeridade, à tutela dos direitos pessoais. Hodiernamente, a jurisprudência e a
doutrina são pacíficas no sentido de que, no direito brasileiro, não há posse de direitos pessoais e, a fortiori, quanto a
eles, não cabe possessória. Assim, é juridicamente impossível o pedido, comumente verificável na  praxis, de tutela
possessória para  proteção de direito autoral , proteção da propriedade industrial  ou manutenção de cargo eletivo.
6 7 8

Noutro ângulo, os direitos reais que pressupõem apreensão física da coisa reclamam exercício fático, como a
servidão, a enfiteuse etc. Em relação a esses direitos, perde-se a posse quando se torna impossível exercê-los ou
quando não os exercem por tempo que baste para prescreverem.
A perda da posse para quem está “ausente” obedece a um regime especial. Vale dizer, só se considera perdida a
posse para o ausente, quando, tendo notícia da ocupação, abstém-se de retomar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é
violentamente repelido.
Observados esses princípios marcantemente materiais cumpre-nos examinar as particularidades do
procedimento possessório.

2.FUNGIBILIDADE DOS INTERDITOS POSSESSÓRIOS

A fungibilidade dos interditos prevista no art. 554 do CPC  supera o preceito tradicional de que o juiz ao
9

sentenciar deve adstringir-se ao pedido e à causa de pedir constantes da inicial.


A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obsta que o juiz conheça do pedido e outorgue a
proteção legal correspondente àquela cujos requisitos estejam provados. Isto significa que, se o autor tiver proposto
uma ação de manutenção de posse alegando turbação e o juiz verificar que a hipótese é de esbulho, poderá conceder
o interdito de reintegração de posse muito embora o pedido tenha sido outro. Trata-se do fenômeno da fungibilidade
dos interditos possessórios, característica que se anima da ideia de que o importante é fazer cessar a lesão à posse,
decorrendo, ainda, da rápida mutabilidade da situação de agressão.
A jurisprudência tem emprestado variada exegese a essa valiosa regra processual. Assim é que o juiz pode
converter o interdito proibitório em manutenção, no entanto, é vedada a conversão em ação de imissão de posse, por
ser esta notoriamente petitória . Essa conversão ocorre in itinere. Consequentemente, ajuizada a ação de manutenção,
10

não é possível convolá-la em interdito proibitório, por falta de interesse processual .


11

Cumpre observar que, na conversibilidade de um interdito em outro initio litis, é lícito ao juiz determinar ao
autor algumas adaptações formais. Assim, a transmudação da ação de reintegração em interdito proibitório implica a
inserção na petição inicial do pedido de multa para a hipótese de transgressão ao preceito.

3.CUMULAÇÃO DE PEDIDOS 12

A ação possessória é ação de cognição e, como tal, insere-se na regra do art. 327 do CPC  com algumas
13

peculiaridades, a saber: a lesão à posse pode vir acompanhada de outras consequências, como danos à propriedade e
invasão da área através de plantações ilegais. Nessas hipóteses, são os prejuízos reparáveis mediante indenização,
pedido a ser cumulado ao pleito possessório . Na análise dos prejuízos, a exegese do que abarque a expressão
14

“perdas e danos” é a mais ampla possível .15

O autor pode temer que o réu reincida na prática do ato lesivo. Por essa razão, admite a lei ser lícito ao autor
(facultas agendi) cumular ao pedido possessório o de condenação em perdas e danos e cominação de pena para caso
de nova turbação ou esbulho e desfazimento de construção ou plantação feita em detrimento de sua posse. A
cumulação nesse caso obedece ao princípio da compatibilidade e conexidade entre os pedidos.
Ademais, o regime de fungibilidade inerente ao rito especial possessório permite concluir que ao juiz é lícito
deferir indenização em lugar da demolição do prédio em respeito à máxima de tutela social da função da
propriedade .
16

4.DUPLICIDADE DOS INTERDITOS POSSESSÓRIOS 17

Uma das características das ações possessórias é a sua “duplicidade” no sentido de que o réu, na contestação,
pode formular pedido de proteção possessória em seu favor, não se limitando a pleitear a improcedência do pedido.
Nesse caso, conforme o resultado, a coisa julgada se opera em favor de qualquer das partes, sendo certo que, sem
pedido, não há essa aplicação .
18

Assim sendo, o juiz, diferentemente do que ocorre nas ações em geral, pode emitir um provimento possessório
em favor do autor ou do réu, inclusive em nível de “antecipação de tutela”. Consectário da duplicidade é a
desnecessidade de o réu utilizar-se da reconvenção para formular pedido de proteção possessória .
19

Isso não implica inadmissibilidade da reconvenção para veicular outras pretensões conexas não possessórias.
Assim, por exemplo, se o réu pretende desconstituir o título jurídico no qual o autor baseia a sua posse, cabível é a
reconvenção.
Comum nas ações possessórias é a defesa calcada em usucapião, porquanto o acolhimento desta exceção
material implica a improcedência do pedido do autor. É preciso, portanto, distinguir a alegação de usucapião como
meio de defesa da alegação como causa de pedir servil ao contra-ataque através de reconvenção com o escopo de
declarar-se a prescrição aquisitiva. Neste último caso, interdita-se a pretensão do reconvinte uma vez que o rito é
diverso da ação possessória principal, além de convocar para o processo de usucapião pessoas diversas daquelas que
litigavam originariamente . Isso significa que a alegação incidenter tantum da usucapião não faz coisa julgada, pois a
20

especialidade procedimental da ação possessória implica restrição probatória a respeito de questões atinentes à
discussão sobre usucapião.
Além da proteção possessória, é lícito ao réu pleitear indenização, tal como o autor. Com a diferença de que o
demandado pode postulá-la não só como decorrência da violação da sua posse, mas, isoladamente, como recompensa
pelas benfeitorias indenizáveis realizadas na coisa. É que o possuidor de boa-fé tem direito à indenização das
benfeitorias necessárias e úteis. Quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, o réu tem direito a levantá-las,
quando o puder sem detrimento da coisa.
Ademais, pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis, poderá exercer o direito de retenção desde que o
formule na contestação, sob pena de preclusão naquele feito. No entanto, não resta impedido de postulá-lo em ação
autônoma. É que as exceções materiais servem à defesa como à causa petendi de ação futura.
Por fim, recorde-se ser lícito, ainda, ao réu, no prazo da resposta, apontar a legitimidade do verdadeiro
proprietário ou possuidor na hipótese do art. 339 do CPC  ou denunciar à lide o transmitente da posse (art. 125,
21

inciso I, do CPC ) para haver deste aquilo que desembolsar por força da evicção que vier a suportar.
22

5.JUÍZO PETITÓRIO E JUÍZO POSSESSÓRIO. EXCEÇÃO DE DOMÍNIO 23

O direito brasileiro inadmite que o proprietário sobreponha-se ao possuidor pelo só fato de ser titular do
domínio. Isto porque, se fosse possível alegar o domínio na ação possessória, o possuidor sempre sucumbiria diante
do direito mais forte do dono e não teria defesa contra o arrebatamento de sua posse. Por outro lado, esta franquia
conferida ao proprietário permitir-lhe-ia arrebatar a posse e defender a sua atitude ilícita e abrupta com o escudo da
propriedade, exercendo arbitrariamente as próprias razões.
Este é o fundamento básico da “impossibilidade jurídica” encartada no dispositivo em exame. O proprietário
que, depois de perder a posse, a retoma não pode legitimar a sua apreensão marginal sob os auspícios de seu direito
de propriedade. Ele deve, primeiramente, devolver a coisa para depois reivindicar, sob pena de fazer justiça pelas
próprias mãos.
Afirma-se, assim, que o direito brasileiro veda a “exceção de domínio” não só no sentido de impedir a defesa
do proprietário com base neste argumento, mas também interditando-lhe qualquer possibilidade jurídica de formular
pedido petitório no curso de pleito possessório. A transgressão a esse preceito implica extinção da ação petitória
enquanto em curso ação possessória.
A matéria encontra-se pacificada na jurisprudência, como se depreende da súmula 487 do STF, in verbis: “Será
deferida a posse a quem, evidentemente, tiver o domínio, se com base neste for ela disputada”. Diversamente, se, na
ação possessória, ambos os contendores discutem as respectivas posses com base nos títulos dominiais que ostentam,
o juiz deve decidir a favor de quem evidentemente pertencer o domínio.
Sob esse enfoque tem-se que: a) a Súmula 487 só se aplica nas hipóteses em que ambos os litigantes pretendem
a posse a título de domínio; b) deve ser deferida a posse a quem evidentemente tiver domínio, apenas se com base
neste for a posse disputada ; c) não se aplica a Súmula 487/ STF quando não se disputa a posse com base no
24

domínio; d) diante da dúvida existente sobre o domínio, defere-se a posse a quem a detém .25
O dispositivo não tem merecido aplicação uniforme, havendo quem entenda de sua inconstitucionalidade por
vedar o acesso à justiça do proprietário que pretenda, no curso da ação possessória, pleitear o domínio, mas a higidez
da regra não restou maculada pelo E. STF. Ao revés, o Supremo entendeu não ser inconstitucional a 1ª parte do art.
557, nem a interpretação literal que interdita ao réu na possessória de propor ação reivindicatória . Tem-se 26

prevalecido o entendimento de que o art. 557, 1ª parte, só se refere a ações possessórias em que a posse seja
disputada a título de domínio .
27

Tendo em vista que a ratio essendi do dispositivo visa a evitar que o proprietário solidifique a sua posse obtida
de forma ilícita com a alegação de domínio, não há incompatibilidade entre a reintegração de posse e a ação de
usucapião, porquanto ambas fundarem-se no fenômeno possessório.
Uma última palavra acerca da distinção entre o possessório e o petitório reclama que se aduza à denominada
“ação de imissão na posse”.
Trata-se de ação através da qual o proprietário a quem não foi transferida a posse, mas que a ela faz jus por
força de negócio jurídico persegue a apreensão do bem. A referida demanda tem como causa de pedir o direito à
posse (ius possidentis) e não o ius possessionis característico das possessórias estrito senso. Conclui-se, portanto que
a ação de imissão de posse é petitória e não foi banida do nosso sistema, ao revés sobrevive como ação de
conhecimento, hoje coadjuvada pela possibilidade de concessão de tutela antecipada.

6.PROCEDIMENTO DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS DE FORÇA NOVA 28

Coerente com o princípio de que se perde a posse pela posse de outrem e pela não manutenção ou reintegração
do possuidor molestado dentro de ano e dia, o código de processo estabelece uma correspondência entre o direito e a
ação que o assegura, conforme a lesão à posse seja antiga ou recente.
Aduz-se, assim, à “ação de força nova”, como aquela intentada dentro de ano e dia da lesão à posse, e à “ação
de força velha”, proposta após esse prazo, mas sem perder, contudo, o caráter possessório. O tempo, sempre
importante para a vida das relações jurídicas em geral, exerce, neste caso, mais uma vez a sua influência, in casu, na
eleição da via processual especial ou comum.
A principal diferença entre a ação de força nova e a de força velha, embora tênue, resta na probabilidade do
direito a ser invocado para obter a liminar. No procedimento especial, via de regra, a devida instrução da petição
inicial leva ao deferimento da liminar inaudita altera pars. No procedimento comum, a concessão da liminar fica
condicionada à demonstração dos standards de periculum in mora e fumus boni iuris, como leciona o art. 300 do
CPC .
29

O prazo de ano e dia é contado da data da moléstia à posse até o ingresso em juízo. Entretanto, nada obsta, à luz
do art. 493 do CPC , computá-lo até a data da realização da audiência de justificação.
30

Destarte, superada a fase da cognição liminar, tudo o mais se passa como rito ordinário com a manifestação do
autor sobre preliminares, nulidades, fatos extintivos, modificativos ou impeditivos do direito do autor (réplica),
eventualmente a declaração incidente e a necessária ou não produção de provas.
A subsidiariedade do procedimento comum decorre da regra de que o procedimento especial rege-se pelas
regras que lhe são próprias, aplicando-se, subsidiariamente o rito comum.
6.1Caução e tutela liminar antecipada 31

A concessão da tutela antecipada coloca o autor na posse provisória do bem porquanto a liminar é revogável
por sua própria natureza. Em razão desta possibilidade de revogação, o réu pode provar que, se o autor decair da ação
(vier a perdê-la), ele não terá condições financeiras de suportar os prejuízos causados pelo tempo em que o
demandado ficar privado da coisa. Nesse caso, o juiz pode determinar que o autor preste uma garantia (caução)
desses eventuais prejuízos, sob pena de “depositar” a coisa, ou seja: o bem não ficar nem com um nem com outro
litigante, mas com terceiro depositário.
É trivial no nosso direito exigir-se uma “caução de contracautela” nos provimentos liminares, porquanto a
medida tranquiliza o juízo na concessão do provimento antecipado.
O importante, numa moderna visão do acesso à justiça, é que essa caução não seja onerosa a ponto de impedir
que o juízo defira a liminar a quem faz jus, mas que não apresenta condições financeiras de suportar o ônus da
garantia.
O requerimento de prestação caução, quando exigido, deve se processar nos próprios autos, posto requisito para
a concessão liminar, e a sua suficiência submete-se a diminuto contraditório resolvido por decisão interlocutória
agravável, regimental ou de instrumento, conforme eventual prejuízo iminente e irreparável que cause.

6.2Tutela específica na turbação e no esbulho 32

Seguindo a regra de que a todo direito corresponde uma ação que o assegura, a lei distingue os interditos
possessórios conforme a espécie de lesão. Assim, para a turbação, a ação correspondente é a de “manutenção de
posse” e, para o esbulho, o remédio adequado é a ação de “reintegração de posse”. Não obstante, mantenha-se
presente a “fungibilidade dos interditos”, que permite ao juiz deferir uma medida diversa da pretendida desde que
adequada à lesão efetivamente comprovada nos autos.
Questão elegante gravita em torno da ação de rescisão de contrato resultante em retomada da posse do imóvel.
É que, em regra, os contratos contêm cláusula resolutória expressa. Nesses casos, o promitente vendedor pode propor
ação de reintegração de posse, independentemente da propositura, prévia ou concomitante, da ação de rescisão do
contrato uma vez que pode alegar incidenter tantum a rescindibilidade do vínculo . Quanto à reivindicação, não se
33

opera o mesmo porquanto a posse exercida antes da rescisão é legítima .


34

Anote-se, por fim, que a ação possessória (reintegração) é própria para reaver a posse do bem, extinto o
comodato. Entretanto, o rito dependerá do transcurso do prazo após o término do vínculo gratuito. Assim é que,
desfeito o comodato há mais de ano e dia, o procedimento cabível será o comum.

6.3Objeto da prova 35

Em regra, o objeto inicial da prova consiste no fato constitutivo do direito do autor. No caso presente, visando
eclipsar a cognição do juiz à posse e evitando questões outras – v.g.; a petitória no bojo dos interditos – a lei
circunscreve a atividade probatória do réu, assim como o faz em algumas ações ao estabelecer um grau sumário de
cognição, limitando as matérias de defesa, como na contestação na consignatória ou na ação de renovação de
contrato de locação comercial ou industrial.
Considerando que o juiz não julga o mérito sem a oitiva da parte contrária, não se poderia imaginar que a prova
do próprio direito representasse requisito de admissibilidade da ação, posto que “improcedência” do pedido e
“carência da ação” são fenômenos completamente diversos. Resultaria ilógico decretar a carência da ação porque o
autor não comprovara a sua posse. Nesta hipótese, o resultado não pode ser outro que não a rejeição do pedido. Desta
sorte, há de entender-se o preceito como limitador da matéria de prova, evitando que o litígio desborde para o campo
petitório.
Assim, o autor, ao elaborar a sua petição inicial, há de alegar e provar com um mínimo de verossimilhança: a
sua posse; a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; a data da turbação ou do esbulho; e a continuação da posse,
embora turbada, na ação de manutenção ou a perda da posse, na ação de reintegração.
Acaso promova a ação possessória alegando domínio, a petição revelar-se-á inepta, posto não decorrer da
narrativa do fenômeno possessório a conclusão lógica do pedido possessório, salvo se, na forma do art. 321 do CPC , 36

o demandante acudir o pleito de emenda.

6.3.1A prova inequívoca e a tutela antecipatória 37

A lesão à posse exige imediata remoção, por isso que é da essência destas ações o provimento liminar que não é
senão tutela antecipada.
O autor, para obter um provimento prático que confira a ele aquilo que somente obteria com a sentença final, há
de municiar o juízo de elementos de convicção no início do procedimento. A isso é que a lei se refere ao aduzir à
“petição inicial em termos”, assim considerada a que individua a área litigiosa, indica as pessoas, mesmo
indeterminadas, mas “determináveis” no momento da efetivação da sentença executiva lato sensu.
Nesse particular, tenha-se presente que a prova eventualmente emprestada deve ter sido obtida, desde sua
origem, sob o contraditório, vigorando o art. 369  do CPC. Além da prova pré-constituída como fonte informadora
38

da tutela antecipada, o juízo pode determinar a realização de uma audiência de constituição desta prova que se
denomina de “justificação”, onde serão ouvidas testemunhas do autor. Destarte, como consectário do poder de
indeferir diligências protelatórias e formar livremente a sua convicção (arts. 370 e 371 do CPC), o juiz pode
substituir ou dispensar as provas indicadas pelo autor.
O réu é convocado para esta audiência, podendo questionar as testemunhas do autor, sem, contudo, levar prova
oral para o ato que antecede qualquer manifestação sua de defesa. É que a parte prova o alegado e o réu ainda nada
alegou. A sua convocação tem o efeito prático de cientificá-lo da decisão que, na audiência, é proferida, iniciando-se
o prazo para oferecimento de defesa e da impugnação recursal através de agravo de instrumento, posto o provimento
ser de urgência.
A lei erige mais uma prerrogativa da Fazenda Pública assim considerada pelo parágrafo único do art. 562 do
CPC, qual seja, a de não ser destinatária de liminar sem antes ser ouvida, isto é, ter vista dos autos. Assim, se o juízo
convence-se pela inicial que é caso de conceder a liminar, antes de deferi-la, deverá ouvir a Fazenda ou então
convocá-la para a justificação quando for o caso.
A liminar, como antecipação do provimento final, vigora, em regra, até o advento deste, sendo vedado ao juiz
revogá-la sem provocação. Aliás, o agravo é o meio próprio para tentar a retratação do juízo, quer conceda, quer
denegue a liminar, sendo certo que, nessa última hipótese, o efeito ativo do recurso faz às vezes da sonegação
judicial da decisão. No que pertine ao prazo para a interposição do recurso, a regra é a da ciência inequívoca pelo réu
da decisão lesiva aos seus interesses.
Outrossim, apresentada a prova inequívoca pelo autor, sob o prisma subjetivo, é um direito seu a obtenção da
liminar, representando lamentável equívoco o entendimento de que concessão ou denegação da liminar fica ao
prudente arbítrio do juiz ou que o provimento deve necessariamente ser antecedido de justificação, sem a qual o juiz
pode indeferir a medida liminar.
Debalde, há casos de impossibilidade jurídica de concessão de liminar e a isso sujeita-se o juízo, como prevê a
súmula 262 do STF: “Não cabe medida possessória liminar para liberação alfandegária de automóvel”. Por outro
lado, a prova inequívoca do autor serve de sustentáculo à fundamentação do juízo quanto à concessão de antecipação
de tutela, sob pena de nulidade.
Considerando que a tutela liminar é adiantamento da sentença, torna-se inconcebível que o provimento
originário antecipado prevaleça sobre a sentença. Assim, deferida a liminar e advinda sentença de improcedência do
pedido possessório cai por terra o provimento inicial e vice e versa.
Similar é a hipótese em que, concedida liminar, vem a ser decretada a carência da ação, ocasião em que deve
ser expedido mandado de levantamento da manutenção ou da reintegração revogada.
Uma vez deferida a liminar, o provimento perdura até a decisão final da causa possessória, por isso é cediço
que o autor pode pedir revigoramento do mandado liminar se desobedecido. Entretanto, o descumprimento, no curso
da execução, revela atentado.

6.3.2Justificação de posse 39

A justificação é um instrumento de constituição de prova consistente em audiência preliminar e visa a conceder


ao juiz elementos de convicção para que ele proveja acerca da liminar. Assim, a expressão legal “considerada
suficiente a justificação”, significa que o juiz concluiu positivamente sobre o grau de convencimento quanto à prova
oral produzida, sentindo-se habilitado a deferir a medida antecipatória.
Diversamente, se a considerar insuficiente, não significa que, diante do malogro de prova, o magistrado possa
encerrar antecipadamente o procedimento em primeiro grau de jurisdição. Nesta hipótese, o processo prossegue com
a contestação cujo prazo inicia-se desta data, se o réu for convocado para a justificação como determina a lei.
A expedição imediata do “mandado”, julgada justificada a posse, timbra a ação em exame como executiva  lato
sensu, aliás, como regra geral após a reforma de 2005. Isto significa que o juízo, na mesma sentença, define e realiza
o direito sem necessidade de execução ex intervallo.
Não há processo executivo subsequente e, consequentemente, não há lugar para embargos à execução, salvo a
impugnação interinal por retenção de benfeitorias (art. 917, inciso IV, do CPC ) se a sentença consagrou-as e o
40

vencedor pretende imitir-se na posse do bem sem consigná-las, sem prejuízo de eventuais embargos de terceiro, se a
efetivação do comando judicial atingir quem não foi parte no processo.
Destarte, assente em doutrina que a executividade lato sensu não se concilia com a suspensividade da decisão.
A sentença concessiva da tutela possessória não deve ser apelável por recurso recebido no efeito suspensivo. Regra,
aliás, que hodiernamente se impõe, após a reforma da execução judicial que se transmudou em cumprimento de
sentença.

6.4Citação e prazo para a resposta

Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor deve promover, nos cinco dias
subsequentes, a citação do réu para contestar a ação, nas hipóteses em que não há justificação prévia. Diversamente,
ordenada a justificação prévia, o prazo para contestar contar-se-á da intimação da decisão que deferir ou não a
medida liminar .
41
A primeira hipótese versa sobre pedido liminar analisado pelo juiz à luz da petição inicial em termos,
independente de justificação. Nesse caso, ou o juiz defere a liminar ou a indefere. Em qualquer hipótese, proferida a
decisão interlocutória, cumprirá ao autor promover, nos cinco dias subsequentes, a citação do réu para contestar a
ação. Ao revés, ordenada e realizada a justificação, o prazo para contestar tem como termo a quo a intimação da
decisão que deferir ou não a medida liminar.
Na redação do dispositivo, subjaz inocultável a pressuposição que o juiz decida na audiência de justificação,
estando presentes as partes, por isso que o prazo para a defesa do réu inicia-se da ciência naquele momento.
Entretanto, nada obsta que o juiz, após a audiência, faça conclusos os autos para decidir acerca da liminar.
Nessa hipótese, publicada a decisão denegatória no diário oficial ou intimada a parte da concessão da liminar,
isto é, da juntada aos autos do mandado de intimação (art. 231, II, do CPC ), disporá a parte prejudicada, a partir daí,
42

do prazo legal para contestar . Tendo em vista que esta intimação faz as vezes da citação, deve ser feita pessoalmente
43

e conter a expressa menção ao prazo de defesa e a advertência dos efeitos da revelia .


44

A ratio essendi do art. 73 do CPC  legitima o cônjuge do réu a contestar a ação pela potencial perda da posse e
45

quiçá da propriedade, considerando-se a natureza declaratória da usucapião . 46

7.INTERDITO PROIBITÓRIO 47

O recurso ao Judiciário é admitido não só diante da efetiva lesão ao direito, mas também frente a uma ameaça
de lesão, que, por si só, já encerra a figura de uma moléstia à posse. A Constituição Federal, ao garantir o acesso à
justiça diante da ameaça a direito, consagrou as denominadas ações preventivas que ensejam a tutela inibitória à
transgressão.
No campo possessório, a “ameaça de turbação ou de esbulho” consagra esta espécie singular de lesão
configurada antes mesmo de qualquer efetivo prejuízo. Por seu turno, a ação correspondente para conjurá-la, que é o
interdito proibitório, consubstancia esta espécie de tutela jurisdicional da qual decorre uma ordem de não fazer
(tutela inibitória).
A ameaça que justifica o interdito há de ser objetiva porquanto exige-se que o justo receio seja jurídico e
verificável prima facie ainda que calcado em fatos notórios que independem de prova.
A defesa preventiva da posse pressupõe atos materiais potencialmente perpetráveis contra o estado de fato
tutelado pela ordem jurídica. Sendo assim, assente que a parte não seja obstada pelos interditos ao manejo de
medidas judiciais que entenda cabíveis. Obstar o manejo de medidas judiciais corresponderia a vedar o acesso à
justiça.
Caso utilizado o interdito proibitório e, da data da propositura da ação e apreciação do pedido liminar haja uma
transmudação da situação fática, de forma que a ameaça que figura como causa petendi do interdito se consume, a
solução será simples. Nesse caso, verificada a moléstia à posse e à luz da fungibilidade das ações possessórias, o
interdito proibitório converte-se em ação de manutenção ou de reintegração, mediante decisão do juiz, após a análise
dos fatos em juízo. A comunicação realizada antes da citação ou da intimação da liminar, permite, inclusive,
aumentar-se o objeto mediato do pedido.
O mandado liminar no interdito de não fazer, para ter eficácia, é acompanhado de “astreinte” ou multa, cujo
escopo é evitar que o preceito seja transgredido. Para esse fim, é deveras importante que uma severa cominação
pecuniária seja fixada com o fim de realmente inibir a conduta interdita. Transgredido o mandado, – com base na
moderna tutela das obrigações de não fazer (art. 497 do CPC ), inspirada no princípio da efetividade da prestação
48

jurisdicional – a multa incide e pode ser cobrada até que o transgressor reponha as coisas ao estado anterior.
Ademais, a regra da fungibilidade dos interditos, conforme visto acima, permite transmudá--los in itinere. Por
esta razão, transgredido o preceito, é possível a expedição do mandado de reintegração de posse.
O interdito proibitório é espécie de ação possessória e, portanto, submete-se às regras gerais na parte que não
gerar antinomia.
A compatibilidade está intimamente ligada à modalidade de lesão. Assim é que a simples ameaça de esbulho
difere-se deste, que efetivamente causa prejuízo e impõe desfazimentos. É evidente que, visando a obstar a
transgressão, não se pode, v.g.; pedir indenização pelos danos causados ou o desfazimento de obras, posto que o
interdito visa mesmo a que estas não se iniciem. A aplicação subsidiária recomendada deve ser engendrada  cum
grano salis.
Assim, por força da compatibilidade, aplicam-se ao interdito proibitório as regras da fungibilidade e
duplicidade das ações possessórias, a possibilidade de concessão de antecipação de tutela e todas as demais ínsitas no
processo de conhecimento sobre competência.

1
RT 578/218.
2
RSTJ 105/239.
3
RSTJ 106/357.
4
RSTJ 36/473.
5
“CPC/2015: Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando
a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório.”
6
Acerca do tema consulte-se RT. 748.206; e www.stj.gov.br “posse e direitos pessoais”.
7
STJ-RT 748/206; RJTAMG 26/169, 26/230, 56/267.
8
JTA 99/119.
9
“CPC/2015: Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a
proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados.”
10
In, RT 503/110 e 612/106.
11
TRF, AC. 99.242-RO.
12
“CPC/2015: Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de:
I – condenação em perdas e danos;
II – indenização dos frutos.”
13
“CPC/2015: Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não
haja conexão.”
14
STJ-3ª Turma, REsp 9.151-SP, Rel. Min. Dias Trindade.
15
RSTJ 22/252.
16
STJ-4ª Turma, REsp 77.712-MG, Rel. p. o Ac. Min. Ruy Rosado.
17
“CPC/2015: Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a
indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.”
REsp 1836846/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, j. 22.09.2020. No mesmo sentido: RT 615/187.
18

RT. 495/233 e RSTJ. 105/361.


19

RT. 503/106.
20

“CPC/2015: Art. 339. Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre
21

que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de
indicação.”
“CPC/2015: Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes:
22

I – ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa exercer os direitos
que da evicção lhe resultam;”
“CPC/2015: Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do
23

domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa.”


STJ-4ª Turma, REsp 6.012-PR, Rel. Min. Athos Carneiro.
24

Resp. 3.068 – RJ, Rel. Min. Dias trindade, j. 05.03.1991.


25

RTJ 91/59.
26

Conclusão do cognominado Simpósio de Curitiba In. RT. 482/273.


27

“CPC/2015: Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando
28

a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório.”
“CPC/2015: Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o
29

perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.”


“CPC/2015: Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento
30

do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a decisão.
Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele antes de decidir.”
“CPC/2015: Art. 559. Se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor provisoriamente mantido ou reintegrado na posse carece de
31

idoneidade financeira para, no caso de sucumbência, responder por perdas e danos, o juiz designar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias para
requerer caução, real ou fidejussória, sob pena de ser depositada a coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da parte
economicamente hipossuficiente.”
“CPC/2015: Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho.”
32

É o que se infere do julgado STF – RTJ. 72/87.


33

RSTJ 32/287.
34

“CPC/2015: Art. 561. Incumbe ao autor provar:


35

I – a sua posse;
II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III – a data da turbação ou do esbulho;
IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração.”
“CPC/2015: Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos
36

e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a
complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado.”
“CPC/2015: Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar
37

de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para
comparecer à audiência que for designada.
Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia
audiência dos respectivos representantes judiciais.”
“CPC/2015: Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não
38

especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção
do juiz.”
“CPC/2015: Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou de reintegração.”
39
“CPC/2015: Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:
40

(...)
IV – retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de coisa certa;”
“CPC/2015: Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos 5 (cinco) dias
41

subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias.
Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia, o prazo para contestar será contado da intimação da decisão que deferir ou
não a medida liminar.”
“CPC/2015: Art. 231. Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do começo do prazo:
42

(...)
II – a data de juntada aos autos do mandado cumprido, quando a citação ou a intimação for por oficial de justiça;”
Esta a exegese jurisprudencial, caso se colhe In. Resp. 59.599.
43

STJ – RT 660/218.
44

“CPC/2015: Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo
45

quando casados sob o regime de separação absoluta de bens.”


REsp 11.740/DF, Rel. Min. Athos Carneiro, 4ª Turma, j. 01.09.1992.
46

“CPC/2015: Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse poderá requerer ao juiz que o
47

segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso
transgrida o preceito.”
“CPC/2015: Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a
48

tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.”

Você também pode gostar